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30 Caminhoneiro Por: Francisco Reis Fotos: Francisco Reis e divulgação Saúde Por: Graziela Potenza Foto: Roberto Silva Vibrações que geram doenças Quais os efeitos das vibrações veiculares na saúde do caminhoneiro? O Dr. Dirceu Rodrigues fala, com propriedade, sobre o assunto que muitas vezes é ignorado pelos motoristas profissionais. O s movimentos vibratórios produzidos por motores em geral, por desajustes de funilaria, suspensão, rodas sobre superfícies irregulares, paralele- pípedos, asfalto, buracos e outros são responsáveis no fim do dia trabalhado, por uma gama de queixas de todos os motoristas. Queixam-se de dores musculares, articulares, fadiga, insônia, indisposições digestivas e uma série de outros sintomas que quase sempre o profissional de saúde, por serem queixas comuns de outras patologias, não corre- laciona à atividade desenvolvida. Segundo Dr. Dirceu Rodrigues, di- retor do Departamento de Medicina Ocupacional da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), si- tuações de componentes que tremem e ocasionam vibrações submetem esses trabalhadores à sobrecarga de múlti- plas partes do seu organismo. Podem provocar sinais e sintomas, doenças, des- gastes neuromuscular, osteoarticular, circulatório e até alterações hormonais e do metabolismo. Ele explica que cada corpo como um todo, tem uma frequência natural de vibração. Toda vez que outro corpo atinge essa freqüência, faz com que o primeiro entre em ressonância com o segundo, isto é, passe a absorver energia do segundo com grande intensidade. “Este é o mecanismo que vai gerar alte- rações estruturais e, consequentemente, doenças degenerativas”, diz. Precisamos entender que a vibra- ção segmentar e de corpo inteiro, somada à busca permanente do equi- líbrio nesta atividade exigem reações do organismo caracterizadas por reflexos rápidos e contraturas mus- culares permanentes. Só manter-se em posição já exige esforço muscular que, somada à vibração, produzirão contraturas de fibras musculares frequentes que levarão o indivíduo em curto prazo sentir-se como se estivesse carpindo, trabalhando no campo. Tais fibras são levadas ao

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Quais os efeitos das vibrações veiculares na saúde do caminhoneiro? O Dr. Dirceu Rodrigues fala, com propriedade, sobre o assunto que muitas vezes é ignorado pelos motoristas profissionais. 30 Caminhoneiro Por: Francisco Reis Fotos: Francisco Reis e divulgação Por: Graziela Potenza Foto: Roberto Silva

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Por: Francisco ReisFotos: Francisco Reis e divulgaçãoSaúde Por: Graziela Potenza

Foto: Roberto Silva

Vibraçõesque geram doençasQuais os efeitos das vibrações veiculares na saúde do caminhoneiro? O Dr. Dirceu Rodrigues fala, com propriedade, sobre o assunto que muitas vezes é ignorado pelos motoristas profissionais.

Os movimentos vibratórios produzidos por motores em geral, por desajustes de funilaria, suspensão, rodas

sobre superfícies irregulares, paralele-pípedos, asfalto, buracos e outros são responsáveis no fim do dia trabalhado, por uma gama de queixas de todos os motoristas. Queixam-se de dores musculares, articulares, fadiga, insônia, indisposições digestivas e uma série de outros sintomas que quase sempre o profissional de saúde, por serem queixas comuns de outras patologias, não corre-laciona à atividade desenvolvida.

Segundo Dr. Dirceu Rodrigues, di-retor do Departamento de Medicina

Ocupacional da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), si-tuações de componentes que tremem e ocasionam vibrações submetem esses trabalhadores à sobrecarga de múlti-plas partes do seu organismo. Podem provocar sinais e sintomas, doenças, des-gastes neuromuscular, osteoarticular, circulatório e até alterações hormonais e do metabolismo.

Ele explica que cada corpo como um todo, tem uma frequência natural de vibração. Toda vez que outro corpo atinge essa freqüência, faz com que o primeiro entre em ressonância com o segundo, isto é, passe a absorver energia do segundo com grande intensidade.

“Este é o mecanismo que vai gerar alte-rações estruturais e, consequentemente, doenças degenerativas”, diz.

Precisamos entender que a vibra-ção segmentar e de corpo inteiro, somada à busca permanente do equi-líbrio nesta atividade exigem reações do organismo caracterizadas por reflexos rápidos e contraturas mus-culares permanentes. Só manter-se em posição já exige esforço muscular que, somada à vibração, produzirão contraturas de fibras musculares frequentes que levarão o indivíduo em curto prazo sentir-se como se estivesse carpindo, trabalhando no campo. Tais fibras são levadas ao

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esgotamento que conduz o indivíduo à fadiga intensa. Este fato somado aos movimentos repetitivos desenvolvidos durante a atividade irá acelerar os pro-cessos degenerativos neuromuscular e osteomuscular. As pequenas e grandes articulações poderão ser comprometi-das assim como toda coluna vertebral. “A susceptibilidade é individual. Uns são mais resistentes, outros não. Al-guns, em curto prazo evoluem para processos degenerativos irreversíveis”, fala Rodrigues.

Sobre o sistema circulatório, a vi-bração produz verdadeira expressão, massagem sobre veias e artérias e é capaz de destacar e deslocar trombos (coágulos de sangue), ateromas (placas de gordura), levando-os através da corrente sangüínea a outras áreas do corpo onde produzirão entupimento e doença circulatória aguda e grave.

De acordo com a Norma ISO 2.631, o valor limite de aceleração que corres-ponde à unidade de medida da vibra-ção é de 0,63m/s² (somatório vetorial de aceleração) para uma jornada de 8 horas. “Sabemos que o trabalho desen-volvido na direção veicular submete o motorista à vibração bem acima do que está previsto na ISO e que ainda não temos norma regulamentadora para essa atividade”, diz Rodrigues.

Ele complementa que acima daque-le índice é excesso. “Passando desse limite, temos que reduzir tempo de exposição à condição insalubre do trabalho. Esse é outro motivo para sugerirmos jornada de trabalho não superior a 6 horas. Operadores do transporte portadores de patologias crônicas e progressivas terão precipi-tação e aceleração de seus processos degenerativos”, adverte o médico.

Ele cita como exemplo, um portador de varizes de membros inferiores que terá exacerbação das queixas localiza-das e que poderá evoluir para trombo-se venosa profunda (TVP), liberação de um trombo (coágulo) e conseqüente acidente vascular.

Um portador de insuficiência cardía-ca com fibrilação atrial que sob ação da vibração pode precipitar um trombo-embolismo, é outro exemplo.

Reduzir o riscoSegundo Dr. Rodrigues, abolir a vibra-

ção não tem como, mas pode se atuar de maneira preventiva reduzindo-a e muito. Ele sugere as montadoras e aos serviços de manutenção, em geral, melhora dos efeitos dinâmicos, das condições mecâ-nicas, principalmente no que concerne à suspensão, folgas, contatos, atrito, em-borrachamento de vidrarias, funilaria, etc. Atuação permanente nessa manutenção.

Por outro lado, os órgãos governamen-tais devem zelar pela manutenção das vias públicas, evitando os desnivelamentos, buracos, paralelepípedos, etc.

Outras dicas é manter postura correta sobre a máquina obedecendo à norma ergonômica. É fator essencial. Reposição de vitaminas e sais minerais, através da boa alimentação, bem como ingestão de boa quantidade de líquidos, supre a neces-sidade do consumo. Exercício de alonga-mento antes, durante e após o trabalho irá melhorar a condição osteoneuromuscular, permitindo melhor resistência ao risco físico apresentado.

A redução do tempo de exposição será fator essencial para redução dos sinais e sintomas bem como das doenças ocupacionais.

Manifestaçõesmais observadas

Perda do equilíbrioSimula um quadro labiríntico.

Ocorre comprometimento e turbilho-

namento da linfa dentro dos canais

semicirculares.

Lentidão de reflexosReações tardias por inibição do

sistema nervoso central e por efeito

psicológico.

TaquicardiaA energia vibratória absorvida pelo

organismo produz contraturas de

fibras musculares acelerando o pro-

cesso circulatório, além de ações

enzimáticas e hormonais resultantes

do mesmo estímulo.

VasoconstricçãoLeva a isquemia (falta de circulação).

Alterações na liberação de enzimas

e de hormônios. Dor localizada ou

difusa, entre outros.

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