2
rascunho Segundo teorema da incompletude de G¨ odel Fernando Ferreira Defini¸c˜ ao 1. Seja T uma teoria que contenha J. Uma f´ormula Ded T (x) satisfaz as condi¸c˜ oes de dedutibilidade de Hilbert-Bernays se, para todas as f´ormulas fechadas α e β, 1. Se T α ent˜ao T Ded T (pαq). 2. T Ded T (pα βq) (Ded T (pαq) Ded T (pβq)). 3. T Ded T (pαq) Ded T (pDed T (pαq)q). Lema 1. Considere-se T uma teoria que contenha J e Ded T (x) uma f´ormula que satisfa¸ ca as condi¸ c˜oes de dedutibilidade de Hilbert-Bernays para T. Seja α umaf´ormulafechada.Ent˜ao, T Ded T (pαq) (Ded T (p¬αq) Ded T (p 0= 1q)). Demonstra¸c˜ ao. Como T α (¬α 0= 1), pela primeira condi¸c˜ ao de dedutibilidade tem-se, T Ded T (pα (¬α 0= 1)q). O resultado sai agora utilizando a segunda condi¸c˜ ao de dedutibilidade duas vezes. Segundo Teorema da Incompletude de G¨ odel. Seja T uma teoria consistente que contenha J e Ded T (x) uma f´ormula que satisfa¸ ca as condi¸ c˜oes de dedutibilidade de Hilbert-Bernays para T. Ent˜ao, T 6Cons T , onde Cons T ´ eaf´ormula ¬Ded T (p 0= 1q). Demonstra¸c˜ ao. Pelo Lema da diagonaliza¸ ao, seja G T uma f´ ormula fechada tal que J G T ¬Ded T (pG T q). Vamos mostrar que T Cons T →¬Ded T (pG T q). O teorema sai deste resultado. Com efeito, se se tivesse T Cons T concluir-se-ia T ‘¬Ded T (pG T q) e, portanto, T G T . Pela primeira condi¸ ao de dedutibilidade ter-se-ia T Ded T (pG T q), o que contradiz a consistˆ encia de T. Resta provar o resultado (o seguinte argumento ´ e a formaliza¸ ao do argumento de (1) da vers˜ ao original do Primeiro Teorema da Incompletude de G¨ odel). Em primeiro lugar, observamos que T Ded T (pDed T (pG T q) →¬G T q), ´ e consequˆ encia da primeira condi¸c˜ ao de dedutibilidade. Pela terceira condi¸c˜ ao de dedutibilidade, tem-se T ∪{Ded T (pG T q)}‘ Ded T (pDed T (pG T q)q). Ora, pela observa¸ ao acima e a segunda condi¸c˜ ao de dedutibilidade, pode concluir-se T ∪{Ded T (pG T q)}‘ Ded T (p¬G T q). Logo, pelo lema anterior, vem T ∪{Ded T (pG T q)}‘ Ded T (p 0= 1q) e, portanto, T Ded T (pG T q) Ded T (p 0= 1q). O resultado desejado ´ e o contra-rec´ ıproco deste. 1

31_SegundoIncompletude

  • Upload
    ndrja

  • View
    212

  • Download
    0

Embed Size (px)

DESCRIPTION

31_SegundoIncompletude

Citation preview

  • rascunho

    Segundo teorema da incompletude de Godel

    Fernando Ferreira

    Definicao 1. Seja T uma teoria que contenha J. Uma formula DedT(x) satisfaz as condicoes dededutibilidade de Hilbert-Bernays se, para todas as formulas fechadas e ,

    1. Se T ` entao T ` DedT(pq).2. T ` DedT(p q) (DedT(pq) DedT(pq)).3. T ` DedT(pq) DedT(pDedT(pq)q).

    Lema 1. Considere-se T uma teoria que contenha J e DedT(x) uma formula que satisfaca ascondicoes de dedutibilidade de Hilbert-Bernays para T. Seja uma formula fechada. Entao,

    T ` DedT(pq) (DedT(pq) DedT(p0 = 1q)).Demonstracao. Como T ` ( 0 = 1), pela primeira condicao de dedutibilidade tem-se,

    T ` DedT(p ( 0 = 1)q).O resultado sai agora utilizando a segunda condicao de dedutibilidade duas vezes.

    Segundo Teorema da Incompletude de Godel. Seja T uma teoria consistente que contenhaJ e DedT(x) uma formula que satisfaca as condicoes de dedutibilidade de Hilbert-Bernays para T.Entao,

    T 6` ConsT,onde ConsT e a formula DedT(p0 = 1q).Demonstracao. Pelo Lema da diagonalizacao, seja GT uma formula fechada tal que J ` GT DedT(pGTq). Vamos mostrar que

    T ` ConsT DedT(pGTq).O teorema sai deste resultado. Com efeito, se se tivesse T ` ConsT concluir-se-ia T ` DedT(pGTq)e, portanto, T ` GT. Pela primeira condicao de dedutibilidade ter-se-ia T ` DedT(pGTq), o quecontradiz a consistencia de T.

    Resta provar o resultado (o seguinte argumento e a formalizacao do argumento de (1) da versaooriginal do Primeiro Teorema da Incompletude de Godel). Em primeiro lugar, observamos que

    T ` DedT(pDedT(pGTq) GTq),e consequencia da primeira condicao de dedutibilidade. Pela terceira condicao de dedutibilidade,tem-se T {DedT(pGTq)} ` DedT(pDedT(pGTq)q). Ora, pela observacao acima e a segundacondicao de dedutibilidade, pode concluir-se T {DedT(pGTq)} ` DedT(pGTq). Logo, pelolema anterior, vem T {DedT(pGTq)} ` DedT(p0 = 1q) e, portanto,

    T ` DedT(pGTq) DedT(p0 = 1q).O resultado desejado e o contra-recproco deste.

    1

  • rascunho

    As condicoes de dedutibilidade desempenham um papel importante na demonstracao do se-gundo teorema da incompletude de Godel. Considere-se, por exemplo, a teoria PA. Para mostrarque PA 6` DedPA(p0 = 1q) nao basta considerar uma qualquer formula DedPA que defina aritmeti-camente a nocao de dedutibilidade formal duma formula fechada a partir de PA. Vejamos porque.Seja D(x, y) uma formula que represente em J a relacao R que vale entre numeros n e k exactamentequando k e o numero de Godel duma deducao formal (a partir de PA) da formula fechada cujonumero de Godel e n. Considere-se a formula DedPA(x) dada por y(D(x, y) x 6= p0 = 1q). Estaformula tambem define aritmeticamente a nocao de dedutibilidade formal duma formula fechada apartir de PA: deduz-se formalmente a partir dos axiomas de PA se, e somente se, DedPA(pq) everdadeira no modelo standard N (estamos, e claro, a usar o facto de que PA e consistente). Exten-sionalmente, DedPA(x) e y D(x, y) definem o mesmo subconjunto de numeros naturais. Porem,por construcao, PA ` DedPA(p0 = 1q). A formula DedPA em discussao expressa desonesta-mente a nocao de dedutibilidade: esta formula nao pode estar nas condicoes das hipoteses dosegundo teorema da incompletude (ela, de facto, nao satisfaz a segunda condicao de dedutibilidadede Hilbert-Bernays). Para ver que a formalizacao natural da nocao de ser dedutvel satisfazas condicoes de dedutibilidade de Hilbert-Bernays e necessario alguma inducao. A teoria PA ecertamente suficiente (ainda que os detalhes a verificar sejam bastantes e aborrecidos), mas nao enecessaria toda a inducao aritmetica. Um bom substracto para o segundo teorema da incompletudede Godel e a restricao da teoria PA a` inducao para formulas -rudimentares.

    O segundo teorema da incompletude de Godel mostra que a teoria PA{ConPA} e consistente.Este e mais um exemplo duma teoria consistente que nao e 1-fiel.

    2