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Diversidade microbiana utilizada na biorremediação de solos contaminados
por petróleo e derivados
Oliveira, Rosiane Martins*, Alves, Fabiana**1
Trabalho apresentado ao Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix, como requisito para
obtenção de Título de Licenciatura em Ciências Biológicas.
RESUMO: A Biorremediação é uma tecnologia segura e eficiente quando comparada aos
processos físicos e químicos convencionais utilizados no tratamento de locais contaminados.
O petróleo e seus derivados, quando no ambiente, ocasionam grande impacto ecológico, além
de infringirem a legislação ambiental. No entanto, o petróleo é uma fonte com alto teor de
carbono e, por isso, seus hidrocarbonetos são atacados por micro-organismos quando entra em
contato com o ar e umidade. O objetivo do presente estudo foi inventariar os produtos
orgânicos de origem petrolífera e os principais micro-organismos utilizados na
biorremediação de solos contaminados por petróleo e derivados. Foi realizada uma revisão
bibliográfica em trabalhos publicados entre os anos de 1998 e 2013. Em seguida, os dados
foram tabulados e foram construídos quadros correlacionando o produto de origem petrolífera
e os respectivos micro-organismos biorremediadores. Dentre os trabalhos analisados foi
possível constatar que os principais gêneros de fungos e bactérias citados com capacidade de
degradação dos derivados de petróleo foram: Aspergillus, Penicillium, Fusarium, e
Pseudomonas, Sphingomonas, Mycobacterium, Microbacterium, Gordonia, respectivamente.
De acordo com os dados obtidos foi possível verificar que a biodegradação do petróleo em
ambientes naturais ou em laboratório, não pode ser realizada por uma única espécie
microbiana, uma vez que os poluentes são constituídos por vários tipos de hidrocarbonetos e
nenhum micro-organismo é capaz de degradar sozinho todos os componentes presentes no
ambiente contaminado. O conhecimento da biodiversidade e da pesquisa de novos
microrganismos tornam-se um dos focos principais da era biotecnológica e vem auxiliando
positivamente nos programas relacionados à gestão de áreas contaminadas.
Palavras chave: Hidrocarbonetos. Biodegradação. Contaminação ambiental. Qualidade dos
solos. Micro-organismos.
* Graduanda em Ciências Biológicas pelo Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix – Belo
Horizonte/MG. E-mail: [email protected]
** Professora do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix. Doutoranda em Fisiologia pelo Departamento
de Fisiologia e Farmacologia da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Mestre em Ciência Animal,
UFMG.
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Microbial diversity used in the bioremediation of soils contaminated by
petroleum and oil products
ABSTRACT: The Bioremediation is a safe and efficient technology when compared to
conventional physical and chemical processes used in the treatment of contaminated sites. Oil
and its derivatives, when in the environment, cause great ecological impact, addition to
violating environmental laws. However, oil is a source with a high carbon content and
therefore its hydrocarbons are attacked by micro-organisms when it comes into contact with
air and moisture.The main objective of this study was to inventory the organic products of
petroleum origin and the main micro-organisms used in bioremediation of soils contaminated
by oil and oil products.Was performed a literature review published between the years 1998
and 2013. Then the data were tabulated and tables were constructed correlating the product of
petroleum and its micro-organisms bioremediators. Among the works analyzed it was
established that the main kind of fungi and bacteria cited capacity degradation of petroleum
were: Aspergillus, Penicillium, Fusarium, and Pseudomonas, Sphingomonas, Mycobacterium,
Microbacterium, Gordonia, respectively. According to the data obtained it was possible to
verify that the biodegradation of oil in natural environments or in the laboratory can’t be
performed by a single microbial species, since the pollutants are composed of various types of
hydrocarbons and no micro-organism is capable degrade by yourself all components present
in the contaminated environment. The biodiversity knowledge and research of new
microorganisms becomes a major focus of biotechnological era and has helped in the
programs positively related to the management of contaminated places.
Keywords: Hydrocarbons. Biodegradation. Environmental contamination. Soil quality.
Micro-organisms.
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INTRODUÇÃO
A poluição tornou-se uma preocupação global devido à contaminação do ambiente
com compostos indesejáveis e ao efeito negativo que esses poluentes causam não somente no
ambiente, mas também na saúde humana (MARTINS & AZEVEDO, 2012). Atualmente,
inúmeras pesquisas relacionadas à remediação de áreas atingidas por acidentes envolvendo
produtos petroquímicos são realizadas com a finalidade de restaurar a qualidade dos solos
(COSTA, 2011).
O petróleo é um composto orgânico, formado por processos biogeoquímicos,
constituído em sua maior parte por uma mistura complexa de hidrocarbonetos (USBERCO &
SALVADOR, 2002). Melo et al. (2008) definiram que o petróleo é constituído por centenas
de compostos orgânicos que podem ser divididos em hidrocarbonetos alifáticos (alcanos,
alcenos e cíclicos), hidrocarbonetos aromáticos (mono e poli aromáticos), asfaltenos (fenóis,
ácidos graxos, cetanos e esteres) e compostos polares que incluem as resinas (piridina,
quinolinas, carbazóleo, amidas, tiofeno, entre outros). Usberco & Salvador (2002)
acrescentaram que o petróleo (bruto ou derivado) também pode conter quantidades pequenas
de nitrogênio, oxigênio, compostos de enxofre e íons metálicos, principalmente níquel e
vanádio. A indústria de petróleo, em suas diversas atividades – produção, refino, transporte e
comercialização, apresenta risco ambiental inerente que precisa ser constantemente
gerenciado. Os vazamentos acidentais de petróleo e derivados em dutos, embarcações e
unidades industriais, são exemplos desses impactos ao ambiente (COSTA, 2011).
Diante desse cenário, a contaminação do solo e água por hidrocarbonetos derivados de
petróleo, mesmo em pequenas concentrações podem constituir um grande perigo à saúde
humana e ao meio ambiente (COSTA, 2011). A legislação brasileira exige que áreas
contaminadas devam ser remediadas, para minimizar a interferência ambiental e restaurar os
ecossistemas. Para isto, são necessários o diagnóstico, a análise e o monitoramento do
impacto e medidas remediadoras (CETESB, 2010). A Resolução do CONAMA 273/2000,
define que toda instalação e sistemas de armazenamento de derivados de petróleo configuram-
se como empreendimentos potencialmente ou parcialmente poluidores e geradores de
acidentes ambientais, considerando que os vazamentos de derivados de petróleo e outros
combustíveis podem causar contaminação de corpos d’água subterrâneos e superficiais, do
solo e do ar.
Diversas técnicas que envolvem métodos físicos e químicos podem ser empregadas
para remover os contaminantes do solo ou reduzir a concentração destes poluentes como:
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diluição, dispersão, sorção, bombeamento, incineração e biorremediação (COSTA, 2011).
Porém, as técnicas relacionadas à biorremediação são consideradas de baixo custo em
comparação com o de processos convencionais. As técnicas de biorremediação utilizam
micro-organismos vivos, apresentam baixo consumo de energia e causam poucas mudanças
nas características físicas, químicas e biológicas do ambiente (TONINI et al., 2010).
A biorremediação é uma opção que oferece a possibilidade de eliminar ou transformar
diversos contaminantes em compostos menos prejudiciais usando a atividade biológica dos
micro-organismos que possuem capacidade de decompor poluentes, como os hidrocarbonetos
aromáticos policíclicos do petróleo, conhecidos como HAP’s (VIDALLI, 2002; MARIANO,
2007).
Conforme Desai & Desai (1993), bactérias e fungos são agentes transformadores
eficazes, visto sua habilidade em degradar uma ampla diversidade de substâncias orgânicas.
Mariano (2007) ressaltou que a estrutura química dos poluentes orgânicos tem uma profunda
influência na habilidade dos micro-organismos metabolizarem estas moléculas, especialmente
com respeito às taxas e extensão da biodegradação, sendo que alguns compostos orgânicos
são rapidamente biodegradados enquanto outros são recalcitrantes.
Várias vias metabólicas de degradação dos HAP’s já foram identificadas em diferentes
microrganismos, porém as mais estudadas são do metabolismo aeróbico realizado pelas
bactérias, pelos fungos lignolíticos e pelos fungos não-lignilíticos (JACQUES, 2007). A
possibilidade de utilização integral das vias bioquímicas permite a algumas bactérias
crescerem utilizando os HAP’s como única fonte de carbono e energia para o seu crescimento,
resultando na degradação destes compostos e na sua eliminação do ambiente. O mesmo autor
afirmou que foram isoladas bactérias do gênero Pseudomonas que degradaram em média 51%
do antraceno presente no meio de cultura mineral. Para o caso dos fungos lignolíticos, estes
oxidam a lignina extracelularmente pela ação de lignina peroxidases, peroxidases dependentes
de manganês e lacases. Estas são enzimas não específicas que podem oxidar HAP’s
As estratégias de biorremediação incluem: a utilização de microrganismos autóctones,
ou seja, do próprio local, sem qualquer interferência de tecnologias ativas de remediação
(biorremediação intrínseca ou natural); a adição de agentes estimulantes (bioestimulação)
como: oxigênio e biossurfactantes; e a inoculação de consórcios microbianos enriquecidos
(bioaumento) (BENTO et al., 2003). Os produtos finais de uma biorremediação efetiva são
nitratos, sulfatos, fosfatos, formas amoniacais, água, gás carbônico e outros compostos
inorgânicos resultantes do processo de mineralização. Estes compostos não apresentam
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toxicidade e podem ser incorporados ao ambiente sem prejuízo aos organismos vivos
(MARIANO, 2006).
Segundo Melo et al. (2008), a biorremediação é um conjunto de processos de
tratamento que utiliza organismos (bactérias, fungos, vegetais) para biodegradar, reduzir ou
eliminar o risco de compostos orgânicos perigosos ao meio ambiente e à saúde humana. A
capacidade dos micro-organismos em degradar petróleo e derivados, utilizando-os como fonte
de carbono, esteve bem reportado na literatura pesquisada. Para ressaltar esta eficiência, uma
dada população microbiana necessita de condições ambientais específicas para realizar a
biodegradação do contaminante, pois, caso contrário, esta população entrará em latência até
que as condições ideais sejam disponibilizadas.
Biorremediação é a aceleração do processo de biodegradação e por isso pode estar
limitada à disponibilidade de nutrientes, a umidade, a temperatura, ao pH, a concentração de
minerais, ao potencial redox, a natureza do contaminante e as características físicas e
químicas dos ambientes contaminados (ROSA & TRIGUIS, 2005).
A biorremediação é baseada em três princípios básicos: a presença do micro-
organismo com capacidade metabólica, a disponibilidade do contaminante e as condições
ambientais adequadas para o crescimento e atividade microbiana (MENEGHETTI, 2007).
O sucesso desta técnica está relacionado diretamente a uma ampla compreensão das
condições físicas, químicas, biológicas e de uma minuciosa avaliação da aplicabilidade das
técnicas in situ e ex situ (SANTOS, et al., 2007). As técnicas de remediação in situ são
aquelas em que não há necessidade de remoção do material, sendo a biorremediação realizada
no próprio local contaminado. Isso evita custos e distúrbios ambientais associados ao
movimento do material contaminado para o local de tratamento (JACQUES et al., 2005;
MARIANO, 2006).
Na tecnologia ex situ o material contaminado é retirado do local de origem e
encaminhado para outro adequado, esta técnica é necessária para evitar o alastramento do
contaminante e é muito utilizada em contaminações de cursos de água e lençóis freáticos
(SANTOS et al., 2007). Esta técnica produz um resultado mais rápido, pois são mais fáceis de
serem controladas e apresenta uma maior versatilidade para o tratamento de vários tipos de
contaminantes (ABBAS, 2003). Entre as técnicas mais utilizadas nos processos ex situ
encontram-se o Landfarming, a compostagem e os biorreatores.
No momento em que um contaminante ou poluente atinge a superfície do solo, vários
mecanismos estão envolvidos, dentre eles a adsorção, a fixação química, a precipitação, a
oxidação, a troca iônica, a neutralização, ou o poluente pode ser arrastado pelas águas através
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do escoamento superficial, ou lixiviado pelas águas de infiltração, passando para as camadas
inferiores e atingindo as águas subterrâneas. Uma vez atingindo as águas subterrâneas, esse
poluente será então carreado para outras regiões, através do fluxo dessas águas (CETESB,
2009).
A persistência de um contaminante no solo depende de suas propriedades físico-
químicas, das propriedades do solo, da interação com o solo e mudanças estruturais as quais
determinam sua degradação (LAVORENTI, 1996). Sabaté et al. (2004) observaram que os
solos possuem diferenças nas atividades metabólicas dos microrganismos naturais, afetadas
pela sua estrutura, composição e características.
Dessa forma, inúmeras pesquisas relacionadas à remediação biológica de áreas
atingidas por derivados de petróleo são realizadas com a finalidade de restaurar a qualidade
dos solos (LOVLEY, 2003). Percebe-se que a técnica de biorremediação revela-se como uma
técnica eficiente, promissora e interessante devido, principalmente, aos baixos custos e por ser
uma técnica com mínima intervenção, na maioria das vezes, na recuperação dos ambientes
contaminados.
Assim, o objetivo do presente estudo foi inventariar os produtos orgânicos de origem
petrolífera e os principais micro-organismos utilizados na biorremediação de solos
contaminados por petróleo e derivados.
METODOLOGIA
Para inventariar os produtos orgânicos de origem petrolífera e os principais micro-
organismos foram utilizados 45 trabalhos, publicados em revistas brasileiras e estrangeiras no
período entre os anos de 1998 e 2013. Esses trabalhos foram selecionados por meio de buscas
nos bancos de dados Pubic Medline (PUBMED), Scientific Eletronic Library On Line
(SCIELO), Google acadêmico, utilizando os seguintes descritores: descontaminação, petróleo,
qualidade dos solos, micro-organismos. Em seguida, os dados foram tabulados em planilhas
do programa Excel e foram construídos quadros correlacionando os respectivos micro-
organismos biorremediadores com suas capacidades de degradar os produtos de origem
petrolífera.
.
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RESULTADOS
A partir da análise dos trabalhos pesquisados foi possível inventariar alguns produtos
orgânicos de origem petrolífera e relacionar os gêneros de micro-organismos com a
capacidade de degradar compostos orgânicos poluentes derivados do petróleo (Quadro 1).
Os trabalhos analisados indicam que os principais gêneros de fungos e bactérias que
apresentam capacidade de degradação dos produtos orgânicos de origem petrolífera são:
Aspergillus, Penicillium, Fusarium, e Pseudomonas, Sphingomonas, Mycobacterium,
Microbacterium, Gordonia, respectivamente.
Quadro 1: Relação dos produtos de origem petrolífera e respectivos micro-organismos biorremediadores em
trabalhos publicados no período de 1998 a 2013.
Produto Micro-organismo - Gênero Alvo de degradação Autores
Hidrocarbonetos
Aromáticos
Policíclicos
(HAP’s)
Mucor, Gliocadium,
Penicillium, Phialophora,
Trichoderma, Scopulariopsis e
Coniothyrium
Cladosporium, Fusarium,
Penicillium, Aspergillus e
Pleorotus
Phanerochaete
Degradação do pireno
Biodegradação de HAP’s
Ravelet et al.
(2000)
Mollea et al. (2005)
Mollea et al. (2005)
Hidrocarbonetos
Aspergillus, Penicillium,
Paecilomyces e Fusarium
Aspergillus, Penicillium,
Fusarium, Amorphoteca,
Neosartorya, Paecilomyces
Talaromyces e Graphium
Paecilomyces
Aspergillus, Cladosporium.,
Penicilium sp. e Phoma sp.
Aspergillus sp. LEBM2
Metabolizar hidrocarbonetos
aromáticos
Capazes de degradar compostos
fenólicos
Araújo et al (2002)
Chaillan e et al.
(2004)
Conceição et al.
(2005)
Silvia et al. (2007)
Passos et al. (2009)
Hidrocarbonetos
aromáticos
BTEX (benzeno,
tolueno, etilbezeno
e xileno)
Microbacterium. e
Rhodococcus
Cladophialophora e
Ccladosporium
Pseudomonas, Rhodococcus
Capazes de catabolizar benzeno,
tolueno, etilbezeno xilenos
(BTEX).
Kang et al. (2005);
Nikolova e Nenov
(2005)
Nagarajan e Loh
(2009)
Teixeira e Bento
(2007)
Tolueno e Xileno
Pseudomonas
Degradação de tolueno e xileno Otenio et al. (2005)
n- hexadecano Bacillus e Ochrobactrum
Biodegradação de
hidrocarbonetos de cadeias
longas
Costa (2006)
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Atrazine +
simazine
Aspergillus, Penicillium e
Trichoderma
Apresentam maior velocidade
de crescimento radial a partir de
solo contaminado com Atrazine
+ simazine
Colla et al. (2008)
Alcanos Rhodococcus
Capazes de degradar alcanos
normais (C10-36 alcanos) e
alcanos ramificados (pristano,
fitano)
Makiko et al.
(2010)
De acordo com os dados obtidos foi possível verificar que a biodegradação do petróleo
em ambientes naturais ou em laboratório, não pode ser realizada por uma única espécie
microbiana, uma vez que os poluentes são constituídos por vários tipos de hidrocarbonetos e
nenhum micro-organismo é capaz de degradar sozinho todos os componentes presentes no
ambiente contaminado.
Algumas generalizações podem ser feitas quanto à susceptibilidade dos
hidrocarbonetos de petróleo ao ataque microbiano, quando analisado a composição do
hidrocarboneto, derivado encontrado e biodegradabilidade (Quadro 2).
Quadro 2: Estrutura química e biodegradabilidade.
Biodegradabilidade Exemplo de constituintes Derivados nos quais os constituintes
são usualmente encontrados
Mais degradável n-butano, n-pentano, n-octano Gasolina
Nonano Óleo diesel
Metilbutano, dimetilpentenos, metiloctanos Gasolina
Benzeno, tolueno, etilbenzeno, xilenos Gasolina
Propilbenzenos Óleo diesel, querosene
Decanos Óleo diesel
Dodecanos Querosene
Tridecanos Óleos combustíveis para aquecimento
Tetradecanos Óleos lubrificantes
Naftalenos Óleo diesel
Fluorantenos Querosene
Pirenos Óleos combustíveis para aquecimento
Menos degradável Acenaftenos Óleos lubrificantes
Fonte: U.S. Environmental Protection Agency (1995).
DISCUSSÃO
Os resultados obtidos neste estudo corroboram com os dados encontrados por Jacques
et al. (2007) e Alexander (1999) que descrevem que a complexidade dos processos
metabólicos leva à necessidade de consórcios microbianos de diferentes gêneros e espécies,
cada um especializado em degradar uma ou várias frações do composto. A degradação de
substâncias xenobióticas por micro-organismos presentes no solo depende da presença de
várias enzimas que realizam metabolismo para seu crescimento, e dessa forma conseguem
remediar os compostos químicos, reduzir as concentrações presentes no ambiente ou torná-los
menos tóxicos.
9
Micro-organismos com habilidade de biodegradar hidrocarbonetos de petróleo podem
ser encontrados em áreas poluídas ou até mesmo em áreas que não tiveram contato prévio
com hidrocarbonetos. No entanto, é mais fácil encontrá-los em ambientes já impactados, pois
os poluentes conferem auxilio na seleção de linhagens com habilidade em degradar esses
compostos (MORAIS, 2005).
A partir desta revisão, constatou-se que ambos, bactérias e fungos, são amplamente
utilizados para a remediação de derivados de petróleo (Quadro 1), sendo difícil inferir e
generalizar qual é mais utilizado. Segundo Silva et al. (2008), a maior parte do conhecimento
sobre rotas metabólicas de degradação desses compostos encontra-se fundamentada em
bactérias. No entanto, estudos têm mostrado que fungos atuam como decompositores de
compostos aromáticos, assim como de compostos fenólicos (SILVA, 2008). Segundo Balba et
al. (1998), as bactérias e leveduras apresentam-se como os principais responsáveis pela
degradação dos hidrocarbonetos em ambientes aquáticos, enquanto que fungos e bactérias são
dominantes no solo.
Os principais gêneros de fungos citados pelos autores analisados neste estudo foram
(Quadro 1): Cunnighamella, Phanerochaete, Fusarium, Candida, Penicillium, Pleorotus,
Trametes, Aspergillus, Bjerkandera e Chrysosporium. Contudo, Jacques et al. (2007);
Mutnuri et al. (2005) e Cerniglia (1997) relatam que as bactérias degradadoras de
hidrocarbonetos são pertencentes, principalmente, aos gêneros (Quadro 1): Pseudomonas,
Beijerinckia, Flavobacterium, Nocardia, Corynebacterium, Sphingomonas, Mycobacterium,
Stenotrophomonas, Paracoccus, Burkholderia, Microbacterium, Gordonia, entre outros.
Chaillan et al. (2004) isolaram 61 linhagens, sendo 31 bactérias, 26 fungos
filamentosos e quatro leveduras de solos poluídos por petróleo na Indonésia. Foram
identificadas cepas bacterianas pertencentes aos gêneros Gordonia, Brevibacterium,
Aeromicrobium, Dietzia, Burkholderia e Mycobacterium, além de quatro espécies novas e
ainda não descritas. Já os fungos foram identificados os gêneros Aspergillus, Penicillium,
Fusarium, Amorphoteca, Neosartorya, Paecilomyces, Talaromyces e Graphium. As leveduras
foram Candida sp, Pichia sp e Yarrowia sp. Todas as cepas foram cultivadas em uma solução,
onde o petróleo era a única fonte de carbono e energia. As cepas foram avaliadas com relação
ao potencial de biodegradação. Foi observada uma degradação máxima por Rhodococcus nos
hidrocarbonetos saturados, sendo que o mesmo resultado foi citado por Makiko et al. (2006)
(Quadro 1). No entanto, para o caso dos hidrocarbonetos aromáticos o mesmo autor
apresentado uma menor degradação desses micro-organismos, ao contrário do encontrado
neste estudo.
10
Silva et al. (2007), demonstraram que: Aspergillus flavus, Cladosporium sp.,
Penicilium sp. e Phoma sp. são resistentes às condições adversas e capazes de degradar
compostos fenólicos a partir de águas residuárias de postos de gasolina. O gênero
Paecilomyces já foi descrito associado a processos de biorremediação com sucesso na
degradação de vários compostos tóxicos, em especial as espécies Paecilomyces variotti e
Paecilomyces niveus. Passos et al. (2009) isolaram de um solo, contaminado por
hidrocarbonetos derivados de petróleo, na região da Cidade do Rio Grande, RS, Brasil, uma
linhagem de Aspergillus sp. LEBM2 e avaliaram a taxa de biodegradação de fenol em
concentrações crescentes. Com os resultados, puderam concluir que Aspergillus sp. LEBM2
tem alta tolerância ao fenol, podendo degradá-lo efetivamente até uma concentração de 989 ±
15 mg L-1
, podendo ser empregado em processos de bioaumentação. Atagana et al. (2006) ao
avaliaram a capacidade dos gêneros Cladosporium, Fusarium, Penicillium, Aspergillus e
Pleorotus isolados de solos contaminados com creosoto na degradação de HPA’s, constatou
que os fungos constituem um grupo de micro-organismos atrativo e promissor para a
investigação como agentes degradadores, uma vez que avaliações de fungos em escala de
laboratório apresentam um potencial adequado para degradar HPA’s de alto peso molecular e
outros compostos orgânicos recalcitrantes por meio de sistemas enzimáticos extracelulares.
Colla et al. (2008), realizaram o isolamento de quinze fungos de solo contaminado
com atrazina + simazina. Destes, foram identificados os seguintes gêneros: Aspergillus,
Penicillium e Trichoderma, constatando que os dois primeiros gêneros apresentaram maior
velocidade de crescimento radial a partir de solo contaminado com atrazine + simazine, o que
indica que estes microrganismos apresentam potencial para serem utilizados em processos de
biorremediação. Já Otenio et al. (2005), estudaram a atividade degradativa da espécie
Pseudomonas putida CCMI 852, de componentes presentes na gasolina, o benzeno, tolueno e
xileno (BTX) e se mostrou eficiente na degradação de tolueno e xileno exceto do benzeno.
Esses resultados devem-se à adaptabilidade do gênero Pseudomonas a diversos substratos
(OTENIO et al., 2005; SILVA et al., 2007; SINHA e MUKHERJEE, 2009 ). Os autores
Araújo et al. (2002), realizaram o isolamento e identificação de fungos filamentosos com
capacidade de degradação do petróleo. A partir de um solo contaminado com petróleo foram
obtidas 80 linhagens, das quais 60 apresentaram capacidade para degradar hidrocarbonetos de
petróleo. Dentre estas, foram identificados quatro gêneros fúngicos: Aspergillus, Penicillium,
Paecilomyces e Fusarium.
Mollea et al. (2005), utilizaram linhagens fúngicas puras na otimização da
biodegradação de HPA’s. Os resultados mostraram que Phanerochaete chrysosporium
11
biodegradou os HPA’s até aproximadamente 600 mg/kg de solo. Entretanto Ravelete et al.
(2000) identificaram várias espécies de fungos com capacidade para degradar pireno. Os
isolados pertenciam aos gêneros Mucor, Gliocadium, Penicillium, Phialophora, Trichoderma,
Scopulariopsis e Coniothyrium.
Nikolova e Nenov (2005) estudaram o potencial de degradação de BTEX por fungos.
Os fungos foram isolados de locais contaminados com gasolina e foram identificados como
pertencentes aos gêneros Cladophialophora e Cladosporium. Na tentativa de inventar uma
cultura mista de um consórcio estável, Cao et al. (2010) testaram o potencial de
biodegradação de três culturas puras (Pseudomonas putida, Rhodococcus zopfii e
Pseudomonas stutzeri) e também, combinadas. O objetivo foi verificar se as três espécies
combinadas em uma cultura mista poderiam biodegradar mais eficazmente o BTEX. Estes
pesquisadores detectaram no sistema de substrato misto uma hierarquia de biodegradação,
sendo o tolueno o composto mais facilmente degradado, seguido pelo benzeno, etilbenzeno e
o-xileno.
Estudos realizados por Teixeira e Bento (2007) isolaram e caracterizaram 37 bactérias
de solos contaminados com gasolina. Foi determinada a degradação do etanol e do BTEX na
gasolina comercial, por meio de cromatografia gasosa, bem como a produção de surfactantes
para cinco destes isolados. Estes foram identificados como Pseudomonas putida e
Pseudomonas aeruginosa.
Costa (2006), selecionou duas linhagens com maior potencial para degradar n-
hexadecano, as quais foram identificadas como Bacillus pumilus e Ochrobactrum anthropi. O
n-hexadecano é um dos principais compostos do óleo diesel e é considerado um composto
modelo para a biodegradação de hidrocarbonetos de cadeia longa. Kang et al., (2005),
isolaram bactérias capazes de degradar hidrocarbonetos aromáticos do solo rizosférico de
cana na Baía de Sunchon pela cultura de enriquecimento usando o benzeno, tolueno,
etilbenzeno e xileno (BTEX) como única fonte de carbono. A identificação dos isolados com
base no sequenciamento do gene 16S rRNA, que é uma subunidade ribossomal revelou duas
linhagens capazes de catabolizar o BTEX, Microbacterium sp. e Rhodococcus sp. Entretanto,
Makiko et al., (2006) isolaram bactérias degradadoras de alcanos, a partir de amostras de solo
contaminado com petróleo. As bactérias do gênero Rhodococcus se mostraram capazes de
degradar alcanos normais (C10-C36 alcanos) e alcanos ramificados (pristano, fitano).
12
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa e o uso de micro-organismos selecionados naturalmente em áreas
contaminadas por hidrocarbonetos representam uma estratégia importante, a fim de obter
agentes para a biorremediação destas áreas. A remediação de áreas contaminadas é importante
porque, além do efeito visual e protetor, é geralmente, uma exigência legal e um compromisso
social que precisam ser executados.
Conforme os resultados apresentados e discutidos neste artigo foi possível verificar
que há uma grande diversidade de micro-organismos, contudo existe ainda poucos descritos
na literatura com potencial de uso in situ para a solução ou atenuação dos problemas de
contaminação de ambientes contaminados com petróleo e seus derivados.
Para que a biorremediação traga resultados satisfatórios, é de fundamental importância
o conhecimento dos princípios e das técnicas. Isso possibilita uma utilização e seleção correta
do micro-organismo de acordo com as condições específicas de cada local e de cada
contaminante presente.
Finalmente, o conhecimento da biodiversidade e da pesquisa de novos microrganismos
tornam-se um dos focos principais da era biotecnológica e vem auxiliando positivamente nos
programas relacionados à gestão de áreas contaminadas. As pesquisas nacionais e
internacionais já possibilitaram o isolamento e a identificação destes micro-organismos, assim
como o conhecimento das vias bioquímicas, que confirmam a capacidade de metabolização
destes compostos.
AGRADECIMENTOS
A professora D.Sc. Flávia C. de Paula e Silva pela orientação e pelos ensinamentos e a
professora M.Sc. Fabiana Alves pela prontidão em aceitar meu convite para ser minha
orientadora e conselhos para redação deste trabalho.
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REFERÊNCIAS
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