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40 Anos a APRENDER

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Histórias de um Professor de Educação Física de 40 anos...

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40 Anos a APRENDER

Histórias de um Professor de Educação Física de 40 anos…

Tiago Soares Carneiro

“As minhas lições são os reflexos das vivências passadas. Alunos, colegas, treinadores, jogadores, amigos, pais, filhas. A vida sem desporto não faz sentido. Ensinar é um (des)porto de abrigo. Correr, saltar, ir mais além, subir, empurrar, bater, suar, cair, sangrar, sofrer. DESPORTO!!! Educação para o desporto. EDUCAÇÃO FÍSICA.”

Tiago Soares Carneiro

O autor do livro não usa o acordo ortográfico porque acha-o uma treta!

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Este livro é o reflexo de todas as aprendizagens que consegui adquirir ao longo da minha vida enquanto criança, enquanto adulto, enquanto filho, enquanto pai, enquanto amigo, enquanto cidadão, enquanto aluno e especialmente enquanto professor.

Todas as partes do livro são verídicas mas em algumas as personagens e os lugares serão substituídos por imaginários para não ferir a honra e a glória dos mesmos. Comecei o livro no dia em que acreditei que todos somos capazes de mudar. Obrigado Mafarrica. Foste tu que me ensinaste isso.

Nele vão surgindo as pessoas que mais me marcaram a vida em algum momento ou no sempre.

Aos meus pais, que me ensinaram a palavra não e me contagiaram com esta doença terrível que é a Educação. A minha mãe pelo conteúdo e o meu pai pela forma.

Às minhas filhas que fazem todos os dias, desde que nasceram, com que o amor da natureza seja cada vez mais algo inexplicável mas impressionante e monstruoso. Sou um pai muito orgulhoso. Ensinaram-me que há sempre alguém pelo qual daríamos a vida se necessário sem hesitar. Amo-vos sempre e para sempre.

Aos meus alunos que me ensinam e fazem crescer todos os dias. Tudo o que sou é por eles. Sem eles nada faria sentido.

Á minha companheira, parceira, maior professora. Por me ter dado o que de melhor pode haver na vida humana: filhos. Por aturar o meu mau feitio e os meus muitos defeitos. És a minha rainha guerreira Xana.

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AMIZADE

Surge bem suave

Quando os seres se conhecem

Se persistente ninguém esquece

O verdadeiro amigo ajuda a viver

Suporta com os seus braços o nosso medo

Dá a força e a confiança

E com esmero guarda segredos

Na tristeza do olhar nos acalenta

Nas horas de frio nos aconchega

Acompanha-nos nos bons e maus momentos

Na vida nos alegra

Com ternura sempre nos sustém

Com alguma coisa boa nos faz inquietação

Ajuda-nos nas dificuldades

E está connosco no júbilo e na melancolia

Por isso nunca devemos feri-lo

Se isso acontecer devemos pedir desculpa

Pois uma amizade assim deve-se respeitar

Cuida-se no fundo do coração

“Sara” – capítulo 12

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Capítulo 1 – A infância

Sou o irmão do meio, filho de um gerente industrial e de uma comerciante. Nasci na Sé do Porto, logo sou tripeiro de gema, e morei em Custóias até aos 9 anos. Ao lado do nosso pequeno T2+1 alugado havia um parque infantil, o jardim da feira, o coreto e a casa do meu primo mais velho Mingos. Éramos só quatro na época. Eu, a minha irmã Ana, o meu Pai e a minha Mãe.

Sempre fui reguila, muito aliás. Lembro-me de a minha mãe contar de eu fazer uma rasteira a um cego que passava com a sua bengala. Lembro-me de ir à mercearia em frente a casa, daquelas antigas com o feijão e o grão em cestos, e roubar um chupa. Lembro-me de correr pelo passeio fora em direcção à casa do Mingos e deitar ao chão, de propósito, as bicicletas que o pessoal estacionava à porta do café da esquina. Era em casa deste meu primo que eu mais gostava de brincar. Tinha um quintal muito grande, vários cães e como ele era mais velho protegia-me e ensinava-me coisas loucas. Por trás de casa dele havia um acampamento de ciganos e tinham lá uns cavalos rafeirotes. Nós eramos destemidos e com uma manta e umas rédeas improvisadas com uma corda, montávamos os animais. Era cair e levantar. Sozinho ou dois a dois. Eu, a minha irmã, o Mingos e a Cristina que era a irmã dele e nossa prima também.

Aos três anos entrei para o Colégio Luso-Francês. Só não fui aos dois porque não admitiam dessa idade e tive que andar no Grande Colégio Universal durante um ano. Na infantil (chamava-se assim) era só brincadeira pegada. Os rapazes usavam uma bata azul e as meninas uma cor-de-rosa. O que melhor recordo dessa altura dos meus 3 ou 4 anos era a Raquel. Uma menina surda que era a minha melhor amiga. Depois foi embora, talvez para algum lugar que lhe proporcionasse melhores condições para as suas

dificuldades. Penso nela de vez em quando.

Foi também aos quatro anos que tive uma experiência brutal. No recreio de areia havia um baloiço ao qual chamávamos combóio. Era uma tábua de madeira pendurada em dois apoios que balançava e permitia levar 3 ou 4 crianças. Andávamos às vezes 15 em cima dele. Havia duas brincadeiras que eram as mais radicais no combóio. Uma era dar tanto laço que se batia com a madeira em cima nos ferros. A outra era, enquanto uns andavam, outros atravessavam à frente. Quanto mais perto melhor. Certo dia venci a competição! Tenho 3 pontos junto ao olho direito que o provam. Quase ceguei.

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A minha Professora Primária foi a Dona Albertina que agora é minha amiga no Facebook. Sempre actual. Era uma querida. Recordo-me de sempre ter a sensação que as reguadas que me dava doíam-lhe mais a ela do que a mim. Foi excelente. Recordá-la-ei para sempre com muito amor e carinho.

As minhas férias eram passadas em casa com a Albina que era a nossa empregada doméstica. “Forte” e rude mas com um amor de mãe por nós. Na altura das férias juntava-se a mim o Quinel que era o filho mais novo da Albina. Ainda hoje sinto remorsos das sovas que levou por minha causa. Às vezes fazíamos os dois as asneiras mas só ele é que apanhava. Outras vezes era eu só que as fazia mas também aí era ele que apanhava. Quanto ouvíamos a voz dela gritar “Joaquim Manuel!!!!” pronto, o pobre já ia comer. Era um bom amigo.

Também ia muitas vezes para casa da minha avó paterna que era viúva desde que o meu pai tinha sete anos. Cuidou de 6 filhos sozinha e com mestria. Mulher de armas. Espanhola! A minha abuelita era um amor. Rija mas carinhosa. Adorava ir para casa dela porque era grande, com muitas divisões para fazer brincadeiras, jardim para brincar e correr e tinha animais. Tinha coelhos, galinhas, porcos, cães… Era ao lado da cadeia de Custóias. A 1ª casa. A minha avozinha dava-nos banhos de mangueira e chamava-me cerdo e cochinero quando fazia chichi na cama.

Nas férias de Verão também íamos para Lisboa para casa dos avós maternos. O meu avô era coronel e veterinário e a minha avó dona de casa. Mãe de sete filhos a minha avó não era para brincadeiras. Era a generala lá de casa. O avô era para os passeios, as idas à praia e ao ZOO onde trabalhava. Era espectacular! Como sempre adorei animais, andar pelo ZOO com a Cloe (uma leoa) de trela era magnífico. Com o meu avô aprendi a jogar ténis de mesa e ainda aos 90 anos jogámos pela última vez e fê-lo muito bem. Tem agora 97.

Também íamos de vez em quando até Chaves. A minha avó nasceu e viveu lá na Casa de Samaiões até casar. Era a quinta da família. Adorava. Era uma casa brasonada com

capela e um terreno enormíssimo de muitos hectares. Lá é que havia espaço e sítios para brincar. E vacas! Acordava cedo para ir levar as vacas pro monte. Tinha um jardim que parecia um labirinto. Tinha um cão Serra da Estrela que parecia dez vezes o meu tamanho. Passava horas com ele.

Há tanta coisa que me recordo da minha infância. O Renault 4L branco da

minha mãe onde cresciam cogumelos no tapete. Ir de férias para o Sul de Espanha e ver a

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cidade dos cowboys. Os cães que se punham na chapeleira dos carros que com o andamento abanavam a cabeça. Ir à Serra da Estrela e descer por lá baixo num saco de plástico. Aprender a andar de bicicleta na Foz do Douro com o meu pai a correr atrás de mim fazendo de conta que ainda estava a agarrar o assento. Fumar os primeiros cigarros (roubados à minha mãe) debaixo da cama do quarto. Apanhar um choque eléctrico no interruptor do meio da minha cama e da minha irmã. Abrir a gaiola dos canários para eles fugirem por não gostar de ver animais presos.

Capítulo 2 – A rua

Quando fiz nove anos mudámos para um T4 no centro da Maia. Foi nessa altura que nasceu o meu irmão Ricardo (9 anos mais novo).

A cidade era quase toda rural. Nós morávamos numa urbanização (falida) composta por alguns prédios e muitas moradias. As lojas debaixo dos prédios estavam quase todas por acabar e fechadas. Eram nossas! Eram a nossa discoteca das festas para dançar slow agarradinhos, com luzes e bola de cristais. Eram a nossa clinica de acolhimento de cães abandonados. Eram os nossos locais de guerrilha armada com fisgas. Eram onde jogávamos ténis de mesa e sueca. Era onde íamos dar uns beijos.

Nos fins-de-semana e nas férias de Verão comecei aqui a aprender o que é a vida. A liberdade de viver.

Subíamos pela janela junto à caixa do elevador para o telhado do prédio e apanhávamos banhos de sol. Espiávamos os vizinhos com binóculos.

Jogávamos futebol na rua onde quase não passavam carros. Motas e bicicletas não impediam o jogo de continuar. O gordinho ia pra baliza e o melhor jogador tirava-o de lá se houvesse um penalti. Só não se podia chatear o dono da bola senão acabava o jogo. Às vezes acabava também quando se partia um vidro e fugíamos todos. Só ficava o dono da bola.

Tínhamos também um campo na bouça. Balizas feitas com troncos de eucalipto. Ganhava sempre a equipa que jogava para baixo. Tínhamos equipamentos feitos na Maipex. De vez em quando jogávamos contra a malta do bairro do Sobreiro. Eles também tinham campo.

Fazíamos quilómetros e quilómetros por dia de bicicleta. Íamos para a praia nela. Íamos até Vila do Conde nela. Às vezes furava um pneu e tínhamos que vir dois na mesma com a outra às costas.

Roubávamos milho e fugíamos dos lavradores. Fazíamos fogueiras e assávamo-lo e era demais.

Para ir para a piscina do Castelo da Maia íamos à boleia que assim o dinheiro que as mães davam, gastávamos em gelados. Os camiões paravam na Via Norte e lá entrávamos

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às resmas. Pra Praia de Leça íamos de camioneta mas para cá tinha que ser de boleia pois o dinheiro já tinha ido nos bolos da Dona Piedade.

Andávamos de skate. Aqueles pequeninos de plástico. O meu era vermelho e tinha sido do meu tio Manel. Fazíamos corridas. Na Rua de Rochdale que era a mais larga e inclinada e das poucas em alcatrão. Era em pé, era deitados, era dois no mesmo, era lado a lado. Sempre com muitas quedas e arranhões. A rua acabava em terra. De patins era bem pior. Mas nós não tínhamos medo!

Rachei a cabeça aí umas dez vezes mas a minha mãe não soube de nenhuma. Estávamos sempre finos.

Lembro-me do Ricardo atirar raivoso a raquete de ping pong e abrir a cabeça ao Mesquita que correu uns 5 quilómetros a gritar e nós todos atrás dele. Lembro-me de ter tido num Natal uma espingarda de chumbos que fez terror na vizinhança. Eu e o Pedro (eu morava no 4º e ele no 3º) atirávamos a tudo que mexia. Colocávamos latas à entrada da mata que havia em frente ao nosso prédio e fazíamos competições das janelas. Eram uns bons 100m…..vá 50m. Devíamos ter ido às Olimpíadas.

Capítulo 3 – O Voleibol

No Colégio havia um professor de Educação Física chamado Martinho. Ele estava ligado à modalidade de voleibol e criou uma equipa federada connosco. Lembro-me de irmos a torneios de Minis. Quem ganhava sempre na altura era a Associação Académica de S. Mamede.

No Colégio, mesmo depois da equipa acabar, o voleibol era o desporto mais jogado. Nos intervalos faziam-se rodas e jogava-se ao “meio”.

Aos 14 anos disse ao meu pai que queria jogar federado. Ele perguntou onde já que na Maia havia voleibol no Castelo, no Gueifães e no Maia. Como é óbvio, sendo morador na Maia, eu disse que queria jogar na Académica de S. Mamede (que não é lá!!!). O meu pai foi jogador de andebol e conhecia gente de lá pois também havia essa modalidade no clube. No 1º dia de treino, abrimos a porta e, era treino de andebol. “Podias experimentar” dizia o aldrabão. Nem pensar. Só voleibol! E assim foi. Era o gajo estranho com cabelo à surfista que vinha da Maia quando todos moravam ali.

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Mais tarde fomos Campeões Nacionais de Juvenis. Eu fazia

saídas. Era o caceteiro.

O número 3sou eu.

Houve treinadores que marcaram o clube e a mim. O Vieira Monteiro pela sua paixão pelo jogo e pelos seus atletas. O Mané pelo rigor no trabalho e boa disposição. O Arlindo pelas palavras difíceis (de dicionário mesmo) e pelo cumprimento “olááá amigos”. Companheiros de equipa foram tantos e bons que não vale a pena descrever. A maioria perdura a amizade.

Em idade de Júnior foi complicado pois fui chamado à Selecção Nacional e fiz uma ruptura de ligamentos no pé direito. Nunca parei. Ia todos os dias às 07:00 horas às Antas à Clinica do Dr. Domingos Gomes fazer fisioterapia e uma ligadura funcional. À noite, depois do treino tirava-a para tomar banho e no dia seguinte lá estava. Sábados e Domingos ia ter com a fisioterapeuta.

Foi também nessa altura que cometi a burrice que mais me arrependo na vida.

Abandonei a Académica.

Por motivos parvos que tem a ver com o ego dos jovens, as hormonas e a vontade de ser livre fui jogar, ainda com idade de júnior, para os seniores do Custóias. Foram bons anos de convívio e lazer. Mas o voleibol em mim morreu. Depois fui para o Aldeia Nova na 2ª Divisão. Um desastre não fosse alguns amigos que lá fiz. Quinta Seca seguiu-se e nada de novo. Tentei então voltar ao meu clube do coração e onde tudo aprendi. Fui rejeitado dois ou três anos seguidos. Parei de jogar!

Comecei a ser treinador de equipas de formação. Passei em todos os escalões. Ganhei muitos jogos e ajudei a criar muitos bons jogadores. Mas não era para mim igual. Apesar de ter nascido uma nova paixão, a de ensinar Voleibol, faltava o bichinho do jogo.

O bichinho de jogar era maior e voltei. A equipa B do Gueifães recebeu-me de braços abertos. Malta porreira. Joguei lá dois anos na 3ª Divisão.

Entretanto quem me tinha recusado na Académica saiu e tentei de novo. Voltei de novo à minha casa. Voltei à Académica. Foi um ano diferente. Estive sempre feliz porque tinha voltado ao meu clube mas já não era o mesmo jogador. Estava gordo. Voltei a parar.

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Passados mais uns dois ou três anos um dos meus amigos de infância na Académica disse-me que estava a jogar na Académica na equipa dos Veteranos. Quem eram os velhos? Helder Teixeira, João Jesus, José Eduardo… Os meus ídolos de infância da Académica. Tinha que ir jogar com eles……………..e fui. E jogo.

Capítulo 4 – A adolescência

Mudámos para uma moradia na mesma urbanização.

Acho que esta fase passou por mim rápido. Não me lembro de ter borbulhas. Não me lembro de ter sido muito chato para os meus pais.

Mas…

No Colégio sempre fui dos mais indisciplinados. O meu pai era chamado várias vezes ao ano. Ora porque esvaziei os pneus do Mini do Professor Fonseca. Ora porque cuspi papéis pelo tubo da caneta bic. Ora porque saí pela janela da sala do 2º andar…

Era um bardino.

Mas um bardino pequenino. Éramos 13 rapares na turma. Eu era o 12º maior! Só o Nuninho me batia na pequenez. Mas durante as férias do 8º para o 9º ano alguma fada mágica passou lá por casa e eu cheguei sendo o 2º maior. E agora ainda sou maior!

Aos 13 comecei a conduzir. Um dia a chegar a casa com o meu pai ele disse “já tinhas obrigação de saber conduzir para a tua mãe não ter trabalho a pôr o carro na garagem” ao que eu respondi “eu sei”. Carrinha Peugeot 504 de 5m de comprimento e 8 lugares parada e troca de lugares! Nunca tinha conduzido! Engoli em seco, arranquei e foi impecável. A partir desse momento o Volkswagen Golf da minha mãe ficava sempre à porta para eu dar umas voltas ao quarteirão, e às vezes à cidade toda, e o estacionar na garagem.

Sempre fomos muitos nas turmas do Colégio. Eu normalmente era o nº 32. Mas como havia educação e disciplina tudo se aprendia. Tive excelentes Professores. Alguns tinham as suas alcunhas mas foram marcantes pela qualidade e princípios. Fonseca, Careca, Coruja, Paula, Irmã Helena, Cândida, Julieta, Queirós… A que mais me marcou foi a Cláudia. Chamava-nos abóboras. Era de Inglês. Era louca. Sentava-se de pernas à chinês em sima da secretária. Mexia no nariz por fora e por dentro. Mas era tão boa tão boa. Nas aulas dela eu era o Jack Burton. Fazia a chamada com nomes ingleses. Aprendi muito com ela. De tal forma que nunca mais estudei a língua e sempre me senti confiante a usá-la em qualquer situação.

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No 10º ano saí do Colégio porque não tinha opção de Desporto que era o que eu queria. Fui para o Externato D. Duarte.

Acabadinho de sair de um colégio de freiras foi como se tivessem soltado um gato faminto numa sala com ratos. Comecei a fumar, a faltar às aulas, a estudar muito pouco, a namorar cada vez mais, a sair à noite, a beber, a andar de moto e a achar que os pais dos outros é que eram fixes.

Nessa altura era um atleta. Além do voleibol tinha as aulas da opção de desporto e fazia musculação. As meninas não largavam e eu gostava. Era um convencido.

Saía da escola e apanhava o 07 para S. Mamede para ir treinar na minha Académica. Terminava às 23:30 4x por semana. Apanhava o autocarro das 00:00 horas. O 07 ou o 54. Quando perdia esse já só havia outro às 01:00 horas. Levava o Discman e sentava-me a ouvir Metallica/Sepultura/Pantera/Cult… na beira do passeio. Certo dia o autocarro da 01:00 hora nunca mais chegava. Já perto das 02:00 horas fui a um café e perguntei o porquê do atraso. Greve! Ui… “posso ligar para casa?”…”tou pai, há greve de autocarros”……………………….”a esta hora? Vem a pé!” E fui!

O Verão passava-o a jogar Voleibol de Praia na praia com as meninas e a treinar no ginásio e no pavilhão. Comecei nessa altura também a praticar Bodyboard. Era um vício! Ia aos fins de semana de autocarro cedinho para Leça ou Matosinhos surfar. Chuva, sol, vento, trovoada, frio… nada nos parava.

Capítulo 5 – Faculdade

Entrei no ISMAI em Desporto. Quer dizer……….. ainda não tinha entrado, nem sequer feito as provas e já tinha ido à praxe! Foi fantástico. Fiz lá alguns dos meus amigos para a vida. O gang do jipe UMM. Éramos uns 8 sempre lá dentro. Às vezes só em duas rodas (mesmo). Só fazíamos asneiras. Os professores não nos conseguiam aturar mas gostavam de nós. Todos tínhamos carta e carro mas era sempre naquele jipe todo roto que íamos. Todos juntos. A partir tudo. Aquele jipe, se falasse…

As aulas práticas eram duras. Muitas horas mais os treinos de voleibol. Natação com a Teresa eram as melhores. Foi a melhor do curso. Ela passava-se connosco mas ao mesmo tempo gostava da turma E pois nadávamos 3x mais que as outras. Era só atletas. Mas quase todos loucos! A famosa turma E ganhou fama. De tal forma que fomos todos chumbados pelo prof. Arsene de Basquetebol e noutras disciplinas muito queimados nas notas.

Nas noites das Praxes e Queimas era só “água”. Às vezes nem sabia como tinha chegado a casa ou às vezes nem sabia de quem era a casa.

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O meu pai não podia permitir que eu saísse muito pois como não queria que a minha irmã mais velha saísse por ser menina eu tinha que ser mais ou menos igual. Só aos 30 e tal anos é que ele me disse que sabia que eu saía pela janela do quarto. Ele sabia.

No ISMAI joguei Rugby. Adorei. Era um dos desportos que gostaria de ter conhecido mais cedo. E de ter jogado mais a sério. É fantástico.

Participei em torneios de tudo e mais alguma coisa em representação do nosso curso.

Fui às Garraiadas e peguei Touros! Às vezes eles é que nos pegavam a nós. Mas normalmente já estávamos anestesiados e nem sentíamos.

Foi no 1º ano da faculdade que conheci a minha Rainha. Ela era (e é) bela, exótica, atlética… muito “atlética”… Não dava grande confiança a palermas como eu. Tive que pedalar um bom bocado para conseguir que me achasse piada. Ganhei-a!

Capítulo 6 – 1º Emprego

O meu primeiro emprego foi a dar aulas. Tinha que ser.

Estava no 2º ano da faculdade. Precisava de dinheiro para as festas.

Foi a dar Educação Física numa Escola Primária no Freixieiro. Ganhava 15 contos por mês (75€). Não tinha condições nenhumas. Não tinha quase material nenhum. Eram imensos alunos e dava aulas numa sala. Afastavam-se as carteiras e todo o material escolar e depois era a confusão total. Tinha experiência zero e não eram fáceis os pequenos. Havia dias em que saia de lá doido. Louco.

Recebia pela Associação de Pais. Foi o meu primeiro emprego. Não estive lá muito tempo pois arranjei outro melhor e passei esse para o Zé.

Capítulo 7 – Estágio Profissional

Foi um ano terrível. Trabalhava de sol a sol. Tinha 4 ou 5 empregos. Ganhava mais nesse ano de 1998 do que hoje.

Fiz estágio na Escola EB 2,3 de Pedrouços. Uma escola com muitos alunos problemáticos onde aprendi pela primeira vez a resolver conflitos e lutas. Tinha duas turmas. Uma de 7º ano que gostei bastante e outra de 8º ano que detestei.

No estágio só aprendi que duas coisas: pouco sabia do que era dar verdadeiramente aulas e que dependemos de nós próprios para aprender. O (des)orientador era um ignorante e incompetente treinador da bola. Só me arrependo de não ter seguido o meu primeiro impulso e ter repetido o estágio. Fui muito prejudicado na nota final. Isso estragou-me a vida.

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Casei nesse Verão com a minha Rainha.

Capítulo 8 – Aprender a dar aulas

No ano seguinte ao estágio também trabalhava como um Mouro. Ginásios, Câmaras, Eventos, tudo o que desse dinheiro lá estava. Foi também a altura que mais formações fiz. Ia a todos os cursos, seminários, palestras. Eu e o meu gangue.

A meio do ano fui substituir uma professora grávida em Joane, Famalicão. No dia em que me apresentei na escola fiz a minha 1ª burrada na estrada: marcha-a-trás na auto-estrada. Ups. Apanhado! Eles estavam em cima da ponte à minha espera.

Foram uns meses muito bons. Aprendi ali a ser professor. Um grupo fantástico de colegas. Muito organizados e amantes da disciplina de Educação Física. Era o Amílcar doido das bicicletas, o grande chefe e amigo Paulo, o Manuel Machado (sim o Treinador do Nacional), entre outros. Naquela escola não faltava nada para se dar aulas perfeitas de Educação Física. Tínhamos o material todo que necessitávamos e os alunos já tinham um ritmo de trabalho e gosto pela disciplina que ajudava muito.

Muitas actividades, convívios e grandes recordações. O ano culminou com um acampamento com os alunos no Gerês. Assim valia a pena ser Professor!

Aprendi muito nesta escola com os colegas e com os alunos.

Capítulo 9 – Uma nova paixão

Sempre adorei desporto. Todos os desportos. Estive sempre disponível para experimentar e aprender novos. Quanto mais radicais e com adrenalina melhor.

Foi então em 1998 que conheci o snowboard. Já tinha feito ski várias vezes e gostava. Mas nesse Inverno fomos um grupo grande de amigos (os loucos da faculdade e mais alguns) para San Isidro. Todos faziam snowboard. Então tive que experimentar também. No 1º dia foi horrível. Apetecia-me partir a prancha em mil pedaços. Levantava-me e caía. Vezes sem conta. E todos a rirem! No 2º dia lá consegui dominar o bicho e a partir daí foi amor para sempre.

Recordo um momento que me fica para sempre. Pelo tipo de amizade que caracterizava o nosso grupo. Ia eu e a Xana sentados a subir nas cadeiras pela 1ª vez. (para quem não sabe, no snowboard está sempre um pé preso e o outro solto na altura de andar nos meios mecânicos) Ao chegarmos ao topo da montanha avistamos os nossos

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amigos. Um grupo à volta de 20. Todos alinhados sentados no chão. A bater palmas. A gritar “Ei, ei, ei”. Sem percebermos o que se passava… (tinha chovido e o nível da neve tinha baixado. A saída das cadeiras ficava praí a uns 2m do chão contra tudo o que é normal)… “Salta, salta…” Riam os doidos. E nós saltámos! Tombo certo. Para quem não sabia andar com uma prancha agarrada a um pé era fatal. Embrulhados no chão a tentar levantar… vêm os das cadeiras seguintes e catrapum em cima de nós. Ninguém se magoou. Só o meu ego é que ficou algo ferido. Mas isso passou ao jantar a rir todos juntos e a comer e beber bem.

Snowboard é algo que não consigo descrever.

Aquele ambiente que envolve a neve. Aquela paz. A destruição que fazemos nas pistas. A camaradagem. Os tombos. Em grupos grandes é fantástico o convívio. Em família é muito bom.

Relaxante, anti-stress, duro, bonito, radical, excitante. Tem tudo!

É indescritível a paixão.

Capítulo 10 – O papa quilómetros

Nos anos que se seguiram fiz mais quilómetros do que muita gente faz numa vida. Sempre fui dormir a casa pois não conseguia sustentar duas. Assim ainda ia trabalhar para o ginásio para cobrir as despesas que tinha. Era novo.

Resende foi a etapa que se seguiu. Fiquei lá colocado no antigo concurso da 2ª parte e o Rui nos miniconcursos. Como eramos amigos inseparáveis da faculdade e morávamos ambos na Maia pedimos para nos fazerem um horário parecido. Foram compreensivos e andámos sempre à boleia um do outro o ano todo.

A escola era pacata, os alunos típicos aldeões sem maneiras mas respeitadores. Ali ser Professor ainda tinha peso. Um dos Vice-directores tinha o bigode à Hitler e era o homem que “malhava” nos indisciplinados. Havia um banco em L à entrada da direcção onde eles esperavam a vez. “Já vais?” Gozávamos nós quando passávamos por eles. Fui o primeiro licenciado em Educação Física a ficar lá colocado. Foi desbravar terreno no que concerne à disciplina a aos métodos anteriormente usados.

O desporto rei era ténis de mesa. Todos sabiam jogar. E bem. Tínhamos umas trinta mesas na escola. Aprendi muito com os meus alunos. Fomos Campeões Distritais e fomos ao Campeonato Regional a Bragança.

Foi o ano em que apanhei mais frio em toda a minha vida. No Inverno só tirava as luvas para almoçar e escrever sumários.

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Foi o ano em que engordei 20 kg. Comia-se bem e barato em Resende.

Foi a primeira vez que me senti intimidado e “galado” por alunas. Tinha 24 anos e era bonitinho. Algumas alunas do secundário eram terríveis. Provocavam fortemente com aqueles corpinhos de 20 aninhos. Um homem tem mesmo que ser de ferro.

Foi também nesse ano que deixei de enjoar a andar de carro. Nunca mais na vida! Andar de carro com o Rui a descer e subir serras em estradinhas e sempre atrasados. Nunca mais enjoarei! Ao fim de uma ou duas semanas já estávamos habituados à condução louca um do outro e já levávamos almofada para dormir. Que rica companhia fazíamos nas viagens. Não sei como não morremos nesse ano. Não estava destinado. Fizemos tantas asneiras. Acordei várias fazes com o Rui a guinar o carro pra valeta ou a soltar um palavrão. Ultrapassar carroças pela berma da esquerda com carros a cruzar em sentido contrário, rodas a roçar as ribanceiras…

Eram só 220 km por dia para ir e vir para a escola.

Depois veio Viseu. Viriato era a escola e odiei. Odiei tudo. Pronto, tudo não. Gostei dos alunos. Eram simpáticos. Mas tinha um horário horrível. A IP5 era uma estrada péssima. Adormecia várias vezes na viagem de volta a casa. Fui parar à valeta várias vezes. Parava outras tantas vezes para dormir a meio. À segunda ficava a dormir em casa da minha tia Becas que mora em Viseu pois tinha aulas até às 18:30 e às terças entrava às 08:30. Ia sempre ao Palácio do Gelo ao cinema à sessão das 19:30. Era quase sempre só eu na sala.

Eram só 300 km por dia para ir e vir para a escola.

Santa Comba Dão foi a próxima. Nesse anos a IP5 ruiu e ficou com uns desvios brutais. Então eu tinha que ir na A1 até à Mealhada e depois fazer a maravilhosa e sinuosa estrada do Luso. Curvas, curvas, curvas.

Conheci nesse ano o Pedro e o Cavaleiro. O 1º era novinho e pacato. Sempre pronto para a borga comigo. O 2º foi alguém como eu nunca tinha visto dar aulas. Nas 1ªs aulas do ano, enquanto os nossos alunos já buliam e suavam, os dele estavam sempre sentados com o caderninho na mão. Depois quase não falava. Gesticulava para eles e eles já sabiam o que fazer. Falava baixinho e eles nem pestanejavam.

Foi nesta escola que dei pela primeira vez um “carinho” num aluno. Tinham-me dado uma turma do 5º e uma do 6º para completar horário. No 5º tinha dois cromos de 15 anos (!!!) que pintavam a manta. Um dia passei-me e levei um de cada vez ao gabinete e… Nunca mais piaram.

Eram só 340 km por dia para ir e vir para a escola.

Seguiu-se um ano destacado num sindicato. Foi um ano de trabalho de secretária, burocrático e a enganar. Desde aí que me desindicalizei pois deixei de acreditar no funcionamento desse supostos defensores da classe docente.

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Campo de Besteiros foi a nova etapa escolar. Conheci o Paulo e o Machado. O Paulo era neto de dois padres, tinha um humor incrível e era excelente professor do 2º ciclo. O Machado foi o Professor mais velho com que trabalhei em Educação Física mas me fez ver que a paixão pela escola e pelos alunos nos faz excelentes profissionais para sempre. Era uma alma pura. Deixava o carro aberto e com chave à porta da escola. Um Opel Corsa. Certo dia pusemos um papel a dizer que era uma multa e tinha que se apresentar no posto da GNR e ele foi.

Lembro-me de chegar sempre mais cedo meia hora. Dormir 15 minutos no carro e ir tomar o pequeno-almoço a um tasco em frente à porta da escola onde normalmente encontrava um Professor de Português alcoólico que habitualmente a essa hora já estava “entornado”. Quando assim era o porteiro tinha ordens para já nem o deixar entrar. Não dava aulas.

Nessa escola tive, pela primeira vez, ódio de um aluno. Um selvagem repetente dum CEF tentou violar uma pequenita do 5º ano. Os pais não permitiram que ele fosse castigado e brevemente voltou à escola após uma suspensão. Se ela fosse minha aluna acho que não me tinha conseguido conter e tinha acabado com o sorriso cínico do anormal.

Eram só 320 km por dia para ir e vir para a escola.

Entretanto entrei nos Quadros de Zona Pedagógica de Viseu. Era efectivo!

Tondela foi a seguir. Fiquei lá eu, a minha Rainha e o Luís. Este moço foi um amigo que ganhei para a vida! Doido como eu. Com paixões iguais às minhas. Bodyboard e Snowboard. Era ele que tirava os garrafões de óleo vegetal da mala da minha carrinha Opel Vectra e os colocava no depósito a sorrir aos olhares incrédulos de muitos. Parecia uma fritadeira. Mas andava! Fiz cerca de 40.000km nesse ano com a fritadeira a 50%.

Escola impecável. Direcção impecável. Óptimas condições de trabalho. Alguns excelentes colegas. O Pedro de Campo de Besteiros outra vez. Agora casado. Três turmas Profissionais. Uma de secretariado com tipas “espertas” que só pensavam em pintar unhas e batom. Outra de electricidade com miúdos humildes e muito trabalhadores. A terceira de mecânica. Uma cambada de marginais! Roubavam ferramentas, insultavam tudo e todos, partiam as aulas todas menos duas: a minha e a da DT que os tratava como filhos, não lhes admitia nada e lhes batia. Eu dava as aulas com palavrões e ameaças. Um dia dei um murro num deles. Acabavam muitas aulas à pancada uns com os outros.

Tinha na minha equipa de Desporto Escolar de Atletismo duas irmãs fantásticas. Uma excelente lançadora do peso apesar de franzina e a outra muito boa saltadora. Ambas foram Campeãs Distritais.

Foi um ano difícil em termos conjugais. 24 horas juntos. Eu doido na escola. Ela certinha. Não dava para conciliar casamento e escola. Mas continuou bem.

Eram só 320 km por dia para ir e vir para a escola.

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Na Escola Secundária de S. Pedro do Sul foi o reencontro com dois amigos do passado. A Marta, antiga namorada de infância e colega de escola e da faculdade. O Esperança, que abandonou a faculdade no 1º ano por morte da mãe voltando depois e se revelou ser das melhores pessoas com que se pode conviver em todas as situações. Excelente professor. Todos os alunos o adoram. Sempre alegre e a fazer partidas aos outros tornava os dias pequenos. Risota em todos os momentos. Com ele aprendi a enviar os alunos chatos a irem ao Sr. Jorge (reprografia) buscar as fotocópias do banco sueco. O homem já estava dentro do esquema e perguntava se em A4 ou A3. Eles voltavam. Nós dizíamos A3. Eles voltavam. Ele dizia que só tinha as do trampolim. Eles voltavam. Nós dizíamos que podia ser. Eles voltavam. A3 ou A4?... Andávamos nisto até se cansarem.

Bananas ou batatas no tubo de escape!

Colar cartazes a dizer “vende-se barato e urgente” nos carros de colegas chatas!

Eram só 300 km por dia para ir e vir para a escola.

Aí veio um concurso por 3 anos. E fiquei em…

…S. Pedro do Sul outra vez. Desta vez na Escola EB 2,3. Gente muito boa. A Vice Ana era uma maravilha de simpática e humana. O Paulo (neto dos 2 padres) esteve comigo de novo.

No 1º ano que lá estive fui operado ao apêndice em Outubro. Quase morri. Mesmo. Faltei um mês e meio à escola.

No 2º ano trouxe de volta o Desporto Escolar à escola. Fui o coordenador. Comprei material que não havia. Criei um gabinete que não tínhamos. Pintei os campos exteriores. Limpei a caixa de saltos de areia que estava inutilizada até então.

Em dois anos passei a ter imensos miúdos a irem às provas de Atletismos. Vários Campeões Distritais em vários escalões. Lembro-me do Abel (nome fictício) que era um matulão negro cheio de força. Na 1ª prova, sem técnica nenhuma, lançou o peso, como se de um tijolo se tratasse, para bem longe da concorrência. Campeão Distrital e 3º no Regional. A Sara (nome fictício) era uma menina de uma família muito pobre. Tinha mais 2 irmãos na escola. Todos meus alunos. Sem pais, viviam os netos todos com a avó numa situação irreal e com uma história de vida que não sou capaz de divulgar. Como era possível ter cabeça para os estudos? Velocista nata. Uma máquina a correr! Campeã Distrital também.

Foram 3 anos em que voltei a sentir-me feliz a dar aulas. Não vendia aulas. Dava-as com gosto e orgulho em ajudar tantos meninos a crescer. Mas foi muito duro! Vivia em depressão (ver próximo capítulo).

Começou nessa altura a burocrática, ineficaz e injusta avaliação dos professores.

Foi nessa altura que, após os cortes e congelamentos nos ordenados, o gasóleo começou a subir. Gastava 35€ por dia nas viagens.

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Eram só 300 km por dia para ir e vir para a escola.

Capítulo 11 – Depressão

Estes anos todos a palmilhar as terras lusitanas para dar aulas foram, nos últimos anos, um suplício.

O corpo gordo com o qual não me identificava.

As longas horas perdidas nas viagens que me tiravam força.

As poucas horas de sono por me deitar tarde depois de chegar do 2º emprego.

As muitas faltas ao trabalho. Normalmente no fim de cada mês. Ou comiam as minhas filhas ou metia gasóleo.

O mau professor em que me tornara.

Não tinha vontade de trabalhar. Não gostava de trabalhar. Não me esforçava para ser melhor. Em casa as discussões eram constantes. Dinheiro era normalmente o tema. Chorei muitas vezes sozinho. Por uma vez passei-me e provoquei tal discussão que num momento de raiva parti uma cadeira e chorei à frente da Xana.

Cada vez estava mais gordo. Não me cuidava minimamente. Desleixo total. Já tinha dificuldades a apertar os cordões das sapatilhas. Uma vergonha.

Auto mediquei-me com antidepressivos Prozac e Tryptanol. Nunca ninguém soube. Misturava estas drogas com comprimidos para emagrecer. Tomava 5 ou 6 cafés por dia. Loucura total.

Não fazia nada que gostava. Não jogava voleibol. Não ia fazer bodyboard. Não ia pra neve. Não brincava com as minhas filhas. Não namorava com a minha Rainha.

Estive perto do abismo. Muito perto.

Capítulo 12 – Reaprender a ser professor

Novo concurso de professores. Efectivo em quadro de escola de Resende. Agora vinha o destacamento e era por 4 anos. Escola Secundária de Lousada foi a nova etapa. Apenas a 25 minutos de casa (35km). Parecia um sonho. Escola muito organizada. Às vezes com tiques de superioridade. Lá encontrei anteriores colegas da faculdade e um grupo de Educação Física trabalhador. Fui obrigado a adaptar-me rapidamente a esta nova realidade. Os dois primeiros anos não foram fáceis pois ainda não tinha adquirido o ritmo de trabalho que a depressão me tinha tirado. Tentei criar um grupo de Desporto Escolar de voleibol. Foi em vão. A minha motivação para motivar as alunas não foi suficiente e

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perdi essa batalha. A avaliação dos professores estava na ordem do dia e andava tudo louco na escola. Eu não. Não queria saber disso para nada. Não me movia a minha avaliação feita por outros. Apenas feita por mim e pelos meus alunos.

Mas com o tempo e com o grupo de pessoas/amigos fantásticas que conheci fui melhorando. Nos últimos 2 anos em Lousada já era a maioria das vezes o Professor que sempre idealizei ser. Tive então algumas turmas fantásticas e um grupo de alunos que nunca irei esquecer. Empenhados, bons ouvintes, com gosto pela aprendizagem. Fui confidente de vários e ajudei-os nos maus momentos. Estava sempre disponível.

No final do último ano estava finalmente motivado a dar aulas, empenhado, com gosto e paixão pelos meus alunos. Houve muito choro e abraços. Foi bom.

Entretanto, após estes anos todos, por causa de todas as medidas economicistas que estavam a ser implementadas ao país e à Educação… piorei na nova colocação.

O Ministério da Educação alterou as regras do jogo e de repente voltei a estar mais longe. 50 Quilómetros. Agrupamento de Escolas de Felgueiras. Eu e a Rainha de novo juntos na mesma escola.

Na capital das fábricas de sapatos. Uma em cada esquina.

Fui nomeado coordenador do grupo de Educação Física. Eu!

Parecia que me estavam a pregar uma partida. Eu a coordenar e organizar a disciplina e outros docentes. Éramos todos novos na escola.

Mas tudo começou a surgir com naturalidade. Parecia destino. A escola era nova. Iria organizar e estruturar tudo de acordo com as minhas ideias, ambições e motivações. Modernizei e transformei o nosso gabinete. Requisitei e foi comprado mais material. Fiz melhoramentos às estruturas desportivas.

Criei um grupo de voleibol de Desporto Escolar. Aliás, três grupos de voleibol em três escalões. Mas eu só fiquei responsável por um. Fiquei também responsável por um grupo de futsal masculino.

Os alunos eram, na generalidade, educados e empenhados. Tinha duas turmas de 8º ano e 4 de secundário.

Aí começou a surgir também mais profundamente uma nova faceta do meu papel de professor. O ouvinte. O confidente. O psicólogo. No início do ano surgiu uma menina do 11º ano que constantemente chorava. Não suportava vê-la assim. A Isabel (nome fictício) parecia frágil. Não conseguia fazer as aulas práticas. Tentava mas não conseguia. Era insuportável olhar para aquela cara doce que transmitia desespero e sofrimento. Tentei ouvi-la. Tentei que falasse. Após várias tentativas sem sucesso, começou a abrir-se. Pouco a pouco. Começámos então a falar constantemente e passei a ser seu confidente, seu Tutor na escola e seu amigo. Apenas eu sei realmente tudo o que se passou no seu passado e o que a faz estar constantemente perturbada e triste. Era acompanhada pela

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psicóloga escolar. Por uma psicóloga fora e uma pedopsiquiatra. Cortava-se. Chorava. Mas ajudava os outros. Estava sempre disponível para contribuir com o que fosse para aumentar a felicidade alheia. Não podia parar de tentar ajudá-la. Está agora a trabalhar e a tirar um curso daquilo que mais gosta: cavalos.

Como era visível por todos a minha aproximação com a Isabel, começaram a aparecer outros alunos interessados nos meus conselhos e com vontade de desabafarem os seus problemas. Surgiu então a Sara (nome fictício) que era adoptada e só o soube

recentemente. Tinha tendências suicidas e andava completamente desmotivada para a vida. Era brilhante a escrever. Nunca li nada com tanta qualidade escrito por alguém tão novo. E era música também. Uma artista. E adorava desporto. Jogava na minha equipa. E bem! A sua depressão fazia-me lembrar a minha. Também lutava contra o peso a mais, tinha dores num joelho, não tinha

motivações. Ofereci-lhe uma cadelinha. Tinha uma amiga que tinha ficado com três de dez órfãos bebés de uma cadela Castro Laboreiro. Foram todos para adopção. Lembrei-me logo da Sara. Foi uma alegria.

Sempre que tivemos uma batalha ganha sentia-me muito feliz por poder contribuir para o reaprender de viver destes alunos. Foi e tem sido muito duro. Cada batalha contra os sentimentos de morte, dor e solidão, é muito difícil. Por vezes senti-me impotente. Sem forças para ajudar. Mas tinha que as ter. Confiavam em mim para isso. É muito desgastante. Havia dias em que só dava uma aula mas saía da escola estourado como se tivesse dado 20 horas. As emoções fatigam muito.

No 2º ano em Felgueiras foi talvez a altura da minha vida em que mais trabalhei. Fiz muito. Tenho esse mérito. Criei, construí, ensinei, ajudei, varri, fiz de tudo por esta escola. E só tinha 2 turmas! Uma de um curso Vocacional e um 12º da qual era director de turma.

Quatro grupos de Voleibol de Desporto Escolar e realizei um dos meus sonhos: Criar um clube de Voleibol. O 1º clube de Voleibol em Felgueiras.

A 1ª equipa foi de Infantis Feminino. Grande evolução. Muitos treinos. Muitas horas. Muitos jogos. Muitas viagens. Excelente.

A meio do ano criámos também os Minis com a preciosa ajuda da grande Luísa. Uma aluna do 12º ano que me ensinou tanto…

Achava que iria ficar em Felgueiras para sempre…

Capítulo 13 – Ser professor

Sempre tive bons professores.

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Foi talvez por isso que fui ganhando esta paixão por ensinar.

Ensinar para mim nunca foi seguir um guião ou cumprir o programa do Ministério. Ensinar é chegar aos meus alunos, tocar-lhes. É fazer com que queiram aprender. Só quando isso acontece me sinto realizado na profissão. Não lhes imponho conhecimentos. Apenas lhes transmito nas minhas ideias tudo o que poderão ser ou fazer para a o fim das suas vidas. Sei que fujo ao padrão normal. Os meus métodos não são convencionais. Mas só consigo ensinar assim.

Tento fazer no final de cada período uma auto-avaliação e hétero-avaliação do meu trabalho com os alunos. Faço-o com eles. Só assim tenho a noção exacta de como tenho que melhorar.

Normalmente no fim de cada ano só tenho dois tipos de alunos. Há os que me adoraram e muitos serão meus amigos para sempre. Há os que me odeiam. Normalmente são muito poucos mas gostaria que não fosse nenhum.

Às vezes perco a noção das horas e dou aulas intervalos a dentro.

Às vezes perco noção do quanto doida está a ser a aula e dou por mim e está a escola toda a olhar para mim.

Todos são meus amigos na escola. Professores, funcionários, alunos dos outros. Sou afável e cultivo a educação para com todos. Não admito má educação para ninguém. Dou tudo o que tenho pelos meus alunos. Daria a vida por eles.

Não sou excelente. Há muitos melhores que eu a ensinar. Em todas as escolas por onde passei havia muitos excelentes. A Escola Pública está cheia de gente muito empenhada. Gente que dá tudo por uma profissão. Uma profissão de vocação. Maravilhosos Professores.

Capítulo 14 – Primárias

Trabalhar em Escolas do 1º ciclo deve ser currículo obrigatório para todos os Professores de Educação Física.

Durante a minha jovem carreira fi-lo por diversas vezes. A primeira foi no Freixieiro. Passei por várias na Maia quando a Câmara Municipal era pioneira em oferecer actividade física às suas crianças. Em Resende também dei aulas numa escolinha.

Sandim foi a que melhores recordações me deixou. Tomava o cházinho com bolachas e doce no intervalo das 10:00 horas com as Professores Primárias. A Directora era também Professora do 4º ano e era daquelas à moda antiga. Fazia-me lembrar a minha

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querida Dona Albertina. A pequenada decorava a tabuada com canções e a marchar. Pintei muros com os miúdos, jogos da macaca no chão e marcações desportivas.

Em Campo de Besteiros tive também integrado num projecto a dar aulas no 1º ciclo.

A última vez que dei aulas aos pequenitos foi quando na Maia os alunos do 3º e 4º ano não tinha actividade física nas AECs. Dei essas aulas gratuitamente às turmas das minhas filhas.

Aprende-se muito com os pequeninos.

Não há tempo para preguiça.

Não se deixam aldrabar.

São honestos.

Ensinam-nos muito sobre os afectos e emoções da gratidão dos alunos.

Ensinam-nos a responsabilidade do que é fazer crescer crianças.

Capítulo 15 – Ensinar em casa

Ter filhos é a melhor coisa que é permitida ao ser humano. Sou pai orgulhoso de três raparigas. Babado.

Cada ano que passa sinto que a Mãe Natureza não deixa nada ao acaso e nos ensina que tudo na vida tem um propósito. Tudo o que fomos e tudo o que somos é um reflexo do futuro que mais não é do que o somatório de todas as aprendizagens vividas.

Ter filhos é viver numa aprendizagem constante. É querer ser cada dia melhor para lhes ensinar, para lhes transmitir, para ser um exemplo a seguir. Apesar de querer e sonhar que elas sejam muito melhores que eu alguma vez fui em alguma coisa.

Tentar ser em casa o Professor que somos na escola é um trabalho impossível. As emoções baralham-se e turvam os actos de uma forma insana. É muito mais fácil com os filhos dos outros.

Com as minhas filhas sinto que a minha função de professor é limitada, difícil e sempre incompleta. Aprendemos toda a vida. Uns com os outros. Sempre.

Elas são e serão sempre o meu orgulho. Todas têm defeitos mas têm muitas virtudes.

Apesar de tentarmos educar da mesma forma as três, há algo que já nasce connosco que nos faz diferentes uns dos outros. Chama-se personalidade.

Nocas, a nossa rebelde. Bibocas, a veterinária sensível. Carochinha, a peste.

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A mais velha é linda, doida como o pai e jeitosa como a mãe.

Busca a perfeição em tudo o que faz.

Matreira, meiga e prática. Não engole sapos de ninguém.

Capitulo 16 – Ensinar à paulada

Na Mãe Natureza há actos violentos que mais não são do que ensinamentos. Por muito que os pedagogos (dos gabinetes) digam o contrário, uma palmada na altura certa é mágica. Claro que há idade e medida para tudo.

HERESIA!!! Criminoso!!!

Pois. É assim que penso e fui educado. Felizmente.

Sou criador de cães Retriever do Labrador e gosto de apreciar o processo educacional dos cachorros. Quer uns com os outros na ninhada quer pela mãe cadela. É tudo à paulada! A hierarquia entre cachorros estabelece-se desde cedo à mordidela. A cadela disciplina-os e corrige-os com rosnadelas e mordidelas e encontrões. É tudo à paulada!

Graças a Deus que apanhei umas sovas do meu Pai. Obrigado.

Graças a Deus tive alguns Professores que me deram uns “carinhos”. Obrigado.

Para as asneiras que fiz e tentei fazer, escapei muitas vezes. Vezes demais.

Tive um Professor, que sempre admirei e adorei, que colava as pastilhas elásticas na nuca no meio do cabelo. Radical? Exagerado? O que é certo é que em cinco anos em que foi meu professor só vi duas colegas minhas esquecerem-se de cuspir a dita antes de entrar para a aula. Luísa e Cristina. Logo, resultava.

Hoje em dia não se pode tocar nos meninos. Há escolas até onde não se pode falar alto ou repreende-los.

Mas comigo não é assim? Tem dias.

Já houve alturas em que foi necessário um “carinho” especial nas escolas por onde passei. Nomeadamente com alguns mal-educados.

A minha primeira vez foi em Santa Comba Dão pois sabia que tinha as costas quentes por um director disciplinador e defensor dos bons costumes. Contam-se pelos dedos de uma mão as vezes que precisei de recorrer a tal.

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A vez que mais me marcou foi em S. Pedro do Sul. Certo dia saio do bloco onde era a sala dos professores e como era habitual os meus alunos rodearam-me para perguntar o que iriamos dar na aula, qual o desporto, como seria. Até que um aluno meu, de outra turma, se juntou à confusão e chegou perto de mim e me deu um cachaço. Virei-me e foi na hora. À frente de todos. Uma chapada bem dada com a mão toda. Pesadinha. Nem piou. Evaporou-se. Só passados uns minutos é que me apercebi o que tinha feito. Mas para meu espanto parecia que ninguém tinha visto. Parecia que tinha sido uma situação natural. E foi. Ali o Professor ainda era respeitado e tinha autoridade. Aquele aluno selvagem que se baldava, portava mal, faltoso, foi, a partir dali meu amigo. Voltou empenhado, cumpridor e respeitador.

Como Pai também já apliquei castigos corporais para educar. Acho inevitável. Sempre foi muito raro. E uma palmadita. Tenho as mãos grandes.

Gosto dos que dizem não ser pedagógico e humano. A esses respondo da mesma forma aos que dizem que os cães os passeiam a eles sempre que lhes põem a trela para ir à rua: as minhas cadelas passeiam sem trela. Livres. Educadas. Para isso levaram aos 6 meses uns puxões e aprenderam. Os vossos vão-vos andar a puxar a vida toda e a esganarem-se na coleira porque nunca aprenderam.

Capítulo 17 – A Educação Física actual

Como é sabido os professores têm um programa a cumprir todos os anos. Um plano traçado pelo Ministério da Educação. A disciplina de Educação Física não foge à regra.

No meu entender, a nossa disciplina torna-se, com o passar dos anos, repetitiva e aborrecida. Do 7º ano ao 12º ano os conteúdos repetem-se e apesar da complexidade teoricamente aumentar, na prática pouco muda. Quais os motivos?

Para mim o principal é que os alunos não são atletas e a carga horária semanal não permite que o “treino” produza melhorias significativas. Qual é o atleta que treina 50+100 minutos por semana? Ou apenas 100 minutos?

Outro erro crasso no sistema de ensino e nas mentalidades é querer que a componente prática seja o fundamental. Não concordo. Não concordo que se avalie os alunos pelo que conseguem fazer. O empenho e a motivação para mim é fundamental.

Se assim fosse a “gordinha” nunca poderia ter um 5 no fim do ano. E por vezes é essa que mais se esforça e mais evolui.

Para mim o objectivo da Educação Física é fazer com que os alunos conheçam as potencialidades do seu corpo, que sejam adeptos responsáveis e conhecedores das regras das modalidades desportivas e que sejam cidadãos activos e com hábitos de vida saudáveis. A melhoria de cada um deve ser o alvo da avaliação.

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Quando dou natação na escola não posso avaliar os alunos nadadores pelo que nadam. Dava 20 valores? Avalio-os pelo que se empenham nas aulas e pela ajuda e ensinamentos que dão aos seus colegas mais fracos. Desde que fui treinador de formação que aprendi que sabendo como ensinar consegue-se jogar muito melhor. Os alunos atletas capazes de corrigir e ensinar os outros serão muito melhores atletas eles próprios.

Principalmente no ensino secundário não faz sentido mantermos a rigidez a que o programa nos obriga. Se o fizermos perdemos os alunos. Prefiro aproveitar as modalidades alternativas (basebol, luta, rugby, acrobática, dança, ténis de mesa, etc.) para motivar os alunos para a prática desportiva. Como são modalidades menos abordadas anteriormente são mais interessantes para os alunos. As modalidades tradicionais (futebol, basquetebol, ginástica, voleibol, andebol, atletismo) abordo normalmente em situação prática para o futuro. O que significa isto? Não aplico exercícios técnicos de forma analítica. Fomento a pesquisa, a autonomia, a dinâmica, a obrigatoriedade de serem os alunos a ensinarem uns aos outros.

Exemplos:

Voleibol: Divido a turma em grupos de um mínimo de 6 alunos. Cada grupo tem um treinador, um árbitro, um capitão de equipa, um secretário. Podem mudar ao longo da aula. Em cada aula há um período de treino e um período de torneio. Não ganha o torneio a equipa com mais vitórias. Ganha a que tiver mais pontos obtidos nas diversas acções do jogo que considero importantes. Comunicação de quem dá o 1º toque na bola pode valer 1 ponto. Festejar um ponto ganho pela equipa pode valer 1 ponto. Fair-play pode valer 1 ponto. Tudo o que eu quiser. Os secretários durante os torneios ficam junto a mim a preencher uma grelha a pontuarem essas diversas acções de jogo. Eu avalio as acções dos árbitros e treinadores. No final somando tudo isso aos resultados dos jogos dá o vencedor. A grande diferença deste tipo de abordagem é a motivação que leva ao empenho. Os alunos das aulas vizinhas até vêm espreitar a ver o que se passa nos meus campos. Enquanto eles jogam como alunos, os meus parecem jogadores profissionais. Motivados, a incentivarem-se uns aos outros, a festejar, a cantar, a suar.

Atletismo: Crio um ranking de recordes absolutos dos meus alunos nas provas de velocidade, lançamento do peso, salto em comprimento e salto em altura. Afixo os resultados com foto do recordista. E esses recordes passam de ano para ano. Todos os anos eles vêm quais os meus melhores de sempre e tentam subir no ranking ou bater os recordes.

Dança: Começo sempre pelo Folclore Tradicional Português. Normalmente o Corridinho e o Malhão. Há pouco contacto físico e assim não há muitas vergonhas. 1º estranha-se, depois entranha-se. Querem mais! Gostaram. Então passo para o Tchá-tchá-tchá, a Valsa, o Rock and Roll… tudo de uma forma muito simples pois também não sou um especialista. Tenho é pouca vergonha na cara e muita estupidez natural.

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Capitulo 18 – Desporto

Desde que me lembro de alguma coisa sobre a minha vida me lembro de praticar desporto. Natação no F.C.P. deve ter sido o primeiro. Karaté na Foz ainda muito novinho. Depois novamente Karaté no Colégio. Voleibol no Colégio. No Colégio participava em todas as actividades lúdicas e desportivas. Ficava sempre nos primeiros lugares.

Na rua patins, skate ou bicicleta era diário.

Lembro-me de ganhar um primeiro e um segundo lugar num torneio de natação organizado nas piscinas da Quinta da Gruta, no Castêlo da Maia. Também um terceiro lugar num concurso de saltos para a água (prancha de 5m) na mesma piscina.

Fiquei em 2º lugar no Corta-Mato do Externato.

Nas idas a Lisboa a casa dos avós ia de manhã até ao Estádio Nacional jogar ténis com o meu pai e correr nos circuitos de manutenção. Mais tarde joguei muito ténis com amigos. Agora menos pois o tempo é pouco. Mas gosto muito.

Fiz muita musculação em ginásios.

Treinava muito sozinho em casa. Também treinava muito na praia e na rua com amigos.

Joguei rugby na faculdade. Tínhamos 2 equipas e ficámos em 1º e 2º em Carcavelos.

Pela faculdade também participei em provas de atletismo, voleibol de praia, futsal e voleibol.

Futebol com os amigos também joguei muito. Houve alturas que era de forma regular mas depois… passou a ser de longe a longe.

Entrei e fiquei em 2º lugar num concurso de levantamento de supino com 120kg.

Voleibol, Bodyboard e Snowboard muito muito muito e para sempre!

Nunca fez para mim sentido viver sem praticar desporto. Competir está-me no sangue. Nem que seja de uma forma mais tranquila tenho que competir. Gosto de experimentar sempre mais um desporto novo.

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Adoro ver desporto. Vejo tudo! Nos dias dos Jogos Olímpicos quase não saio de casa pois quero ver tudo! E a Volta a França… E Bilhar… E o Rali Paris Dakar… E Sumo… E Curling…

TUDO TUDO. Adoro desporto.

Capitulo 19 – As minhas amigas de 4 patas

Sempre adorei animais. Avô veterinário ajuda. Deve ter passado alguns genes. Ser veterinário era uma das minhas opções mas escolhi ser Professor.

Adoro Cães. Desde pequeno que tive uma paixão especial por estes animais.

A minha primeira cadela foi a Lassie. Uma cadela rafeira acolhida por nós na rua. Foi para casa da minha avó em Custóias. Ainda me lembro do seu cheiro. Tenho o olfacto muito apurado (quase canino) e distingo quase tudo e todos pelos cheiros. Recordo-a. Claro que um dia o meu pai me disse que ela tinha ido para uma casa nova com muitos cães para brincar. Pois! Agora percebo essas desculpas dos pais. Também já as dei quando algum animal de estimação faleceu cá em casa.

Tive depois uma cadela Husky Siberiano chamada Tweety. Doida! Deixava-me louco. Corri tantos quilómetros atrás dela. Era selvagem. Andei com ela na escola de cães. Era artista. Quando a Xana engravidou achámos melhor ir para um novo lar pois tínhamos receio. Foi para casa de um tio meu.

Quando nasceu a segunda filha optámos por voltar a ter um cão. Cadela claro! Sempre gostei mais. São mais meigas, fieis, sociáveis, limpas e menos territoriais e excitadas. Fui a Ovar a casa de um criador. A que fugiu do canil quando o abriram foi a que escolhi. Becky. Retriever do Labrador Preta. Acertei na raça. Apaixonei-me. Cresceu com as minhas filhas, brincaram juntas, dormiram juntas, partilharam comida… É a minha velhota! Tem 14 anos.

Doida por comida. Come tudo. Tudo mesmo.

Inteligente como nunca vi. Passeava sozinha nos dias de chuva. Eu ficava à porta do prédio e ela ia. Só atravessava as ruas quando eu mandava. Ia e vinha tranquila. Adora água. Adora mergulhar nas ondas do mar. Adora mimos.

Passados uns anos resolvemos aumentar a família. Como já eramos 6 cá em casa e todos adorávamos a Becky nada melhor que a reproduzir e ficar com uma herdeira dela. Tivemos então uma criação de Labradores. Foi uma lavoura cá em casa! 9 pequerruchos dois meses e meio num apartamento foi o fim da macacada. Apetecia-me ficar com todos. Eram lindos. Todos.

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Ficamos com a Khim. Khimpossible como nuns desenhos animados que na altura as minhas filhas gostavam. Grande, branca como o cal, muito meiga e “tótó”. Apesar de não ser astuta e brilhante como a mãe, é super meiga e enérgica.

Em Baião (casa do sogro) andou fugida dois ou três dias, com o cio! Voltou grávida e teve treze (!!!) bebés lindos. Demos todos a gente boa.

Sempre pronta para brincar. Adora as miúdas. Jogava às cartas com a carolina. Morreu no dia em que resolvi acabar este livro (28/08/2015). Tinha 11 anos.

Como tínhamos uma cadela preta e uma amarela, faltava o Labrador Castanho. Fui então buscar a Miley a Coimbra.

Mais pequena do que as outras duas, uma linha mais britânica. Muito dependente. Hiper-super-meiga. A única das três que nunca fez uma asneira. Nunca roeu nada ao contrário das outras que me remodelaram a cozinha.

Raramente uso trela com ela pois ela só tem olhos para mim. Não vai ter com outras pessoas nem com outros cães. Não se afasta mais de 5 a 10m. Foi mãe duas vezes. Duas ninhadas de chocolatinhos. O meu pai tem dois machos filhos dela.

Recentemente arrendei juntamente com um amigo um terreno para fazermos uma quintinha com horta, pomar e, claro, animais. A Becky e a Khim vieram de Baião para lá. Roubaram a Khim…

Andou desaparecida meio ano. Que desespero.

Apareceu magra e infestada de pulgas.

Não voltou para lá. Vive agora em casa de uma amiga e vizinha nossa que tinha um Labrador que morreu.

Para a Becky não ficar só fui a um canil e adoptei uma rafeirota louca. A Diva. Parece o diabo da Tasmânia. Rebenta com tudo, e galinhas… bem… gosta muito…

Adoro as minhas cadelas.

Eu nem sempre, mas elas são realmente as minhas melhores amigas.

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Perfeitas.

Capitulo 20 – Para os meus alunos

Os meus alunos ensinam-me todos os dias um bocadinho. Mesmo os maus.

Para todos desejo que tenham um futuro brilhante.

Dou-vos aqui alguns últimos conselhos:

Sempre que não gostarem de um professor questionem.

Sempre que um professor vos parecer chato motivem-no.

Sempre que não vos apetecer aprender mudem o método. Vão aprender ao longo de

toda a vida.

Não precisamos de milhares de amigos. Poucos mas bons são suficientes.

Alcançar os nossos sonhos é o que realmente nos faz feliz. Mas dá trabalho. Nada cai do céu.

Isso é só nos filmes.

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Viver a felicidade dos outros é tão bom. E criá-la ainda sabe melhor.

Ajudem!

Evitar o conflito, por mais difícil que às vezes pareça, pode contribuir para

vencer as batalhas.

Quem nos odeia não nos merece, perda de tempo.

É um dever votar. Se fosse eu a mandar, era obrigatório. Quando não votamos por descontentamento alguém vota por nós e tudo pode continuar mau ou até piorar. E

mesmo que o nosso voto se revele mais tarde errado, não foi esse o nosso objectivo e podemos sempre lutar para mudar de novo.

Isto vale para tudo na vida.

Depois não vale a pena queixarem-se.

Façam por merecer o vosso futuro. Ninguém o

fará por vocês.

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Os melhores não chegam lá por acaso.

Só com muito trabalho se consegue utilizar o talento que cada um de nós tem e alcançar patamares de excelência.

Sem esforço não há recompensa.

É muito fácil ver os erros dos outros mas o que realmente interessa para o nosso futuro é cometermos cada vez menos erros nós

próprios.

Não basta dizer.

Tem que se fazer.

Aquele nerd que vocês gozam na escola, um dia mais tarde vão trabalhar para ele!

Tudo na vida pode mudar de repente. Vivam-na bem hoje mas sem hipotecar o futuro.

Esses, geralmente acabam sozinhos. Não é por calcarmos alguém que somos poderosos.

O verdadeiro poder vem da vontade que os outros têm em nos seguirem.

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Tentem ao máximo seguir o que realmente gostam. É muito mais fácil.

A vida é muito dura e torná-la um bocadinho mais fácil ajuda muito.

Fazer algumas asneiras ao longo da vida faz bem. Traz recordações e

aprendizagens.

Mas devemos saber distinguir o certo do errado.

Vencer o mais forte obstáculo, isso sim é glória.

Todos diferentes.

Não queiram ser iguais aos outros.

Queiram ser o melhor que cada um de vocês pode ser.

Há sempre forma de mudar para melhor. Pode ser difícil. Pode demorar. Mas é possível. Impossible is

nothing!

Este foi para mim o melhor atleta de sempre.

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O melhor de sempre.

Para lá chegar errou muito. Mas continuou a tentar até chegar ao topo. E um dia estava lá.

Sempre sem medo de errar.

Capitulo 21 – A Khim morreu

Ela iria fazer 11 anos no dia 26 de Dezembro de 2015 mas infelizmente foi embora no dia 28 de Agosto de 2015.

Era uma doida!

Super meiga. Pateta. Resmungona com outros cães. Afável para todas as pessoas.

Uma infecção no útero provocou-lhe uma insuficiência renal. Ao fim de uma semana internada…

Até um dia amiga.

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Capitulo 22 – Continuarei a dar aulas?

Hoje foi a dia do falecimento da Khim.

Foi também o dia em que saíram os resultados dos concursos dos Professores.

Não sei se repararam mas ao longo de todo o livro escrevi Professor sempre com maiúscula. Acho que é assim que esta classe deve ser tratada. Ser Professor é muito difícil. Em Portugal cada vez é mais. É necessário muito amor à profissão. Muita força e resistência.

Hoje soube que afinal não vou ter Mobilidade Interna (antigo destacamento) e tenho que ir para a escola onde estou efectivo. Resende. 100km de casa. E a Xana em Cinfães que são cerca de 90km.

É tão injusto.

Ver colegas (que não têm mínima culpa) com muito menos anos de serviço ficarem muito mais perto de casa do que eu e a Xana revolta. Não por eles. Por nós. Nós já fomos mais novos. Já estivemos muito longe. Agora que estávamos ano após ano a aproximarmo-nos aos pouquinhos de casa………..mudam as regras.

Vou explicar o que se passou, a meu ver, nestes últimos anos na Educação em Portugal:

(Há dois tipos de Professores efectivos = QE ou QA e QZP)

- Crise;

- Colégios a fechar;

- Amigos de gente importante a precisar de ser colocado na função pública;

- Abrem concursos extraordinários aos quais eu não posso concorrer;

- Efectiva-se os amigos importantes em QZP;

- Mudam-se as regras dos concursos. Antigamente a graduação profissional ordenava os candidatos no concurso. Agora Os QZP passam à frente nem que tenham 1 ano de serviço.

- Os amigos importantes ficam perto de casa;

- Os QE ou QA como eu voltam a ir para longe;

- Os Professores ficam cada vez mais desmotivados;

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- Os Professores metem mais baixas;

- As baixas agora cortam no ordenado = estado poupa;

- São contratados substitutos = menos desemprego e menos subsídios;

- Escola pública cada vez pior;

- Cada vez dão mais subsídios aos colégios privados (dos amigos)

QUE SE LIXE A EDUCAÇÃO

Vale a pena?

Eu nem queria estar ao lado de casa.

Numa escola a 50km tinha um projecto de vida que me satisfazia plenamente.

Era feliz. Era bom Professor.

Obrigado.

A nossa amizade consegue ser tão simples, mas ao mesmo tempo tão complexa. Uma amizade que surge numa escola e que de repente é transportada para fora daquele lugar, onde é o professor. Mas que fora dele é o amigo.

Posso estar em baixo, que tenta levantar sempre o moral para cima, sempre dando o seu máximo. Sempre preocupado com aqueles que conseguiram conquistar o coração deste professor, que parece ser o “durão” e que ninguém o consegue mover, mas é um grande coração, o grande ouvinte, o grande conselheiro, e acima de tudo o grande PROFESSOR.

É sem dúvida alguma uma pessoa que demorei muito a encontrar, uma pessoa que, sim, nos irá ajudar a tornar o nosso futuro melhor. Todas as palavras, todos os puxões de orelhas, todas as chamadas de atenção nunca serão esquecidas, pois ajudaram-me a crescer.

Uma amizade que permanecerá para sempre, apesar da distância.

Marta Moreira, 17 anos – Felgueiras

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Tiago Carneiro? Professor? Mais do que isso, um amigo. Nunca fui um aluno com grandes capacidades em certas actividades físicas e isso incomodava-me, pois sentia-me pressionado pelo facto de ser considerado o “menos bom” a Educação Física. Cada ano que passava, novas pessoas conhecia, mais preocupado ficava, uma vez que previa que certos comentários viriam ao de cima. Críticas relacionadas com a minha prestação em certas modalidades.

Até que há dois anos atrás, tive um professor que me fez sentir melhor, sem que me preocupasse se me criticavam ou não. Só sei que com o Professor Tiago aprendi a ser eu mesmo. Sem medo e preocupação acerca do que os outros pensam quando fracassava em alguma modalidade. Com a ajuda dele sentia-me melhor, mais descontraído e procurava dar sempre o meu melhor, pois sabia que estaria sempre a apoiar-nos, a mim e aos meus amigos, em momentos de vitória e de derrota.

Aprendi que o mais importante era o esforço, a força de vontade de fazer bem e cada vez melhor.

Obrigado por tudo, conselheiro, amigo, Professor Tiago

Rui Nunes, 17 anos - Lousada

ÍNDICE

Capítulo 1 – A infância…………………………………………………………………. 5

Capítulo 2 – A rua………………………………………………………………………… 7

Capítulo 3 – O Voleibol………………………………………………………………… 8

Capítulo 4 – A adolescência…………………………………………………………. 10

Capítulo 5 – Faculdade………………………………………………………………… 11

Capítulo 6 – 1º Emprego……………………………………………………………… 12

Capítulo 7 – Estágio Profissional………………………………………………….. 12

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Capítulo 8 – Aprender a dar aulas………………………………………………… 13

Capítulo 9 – Uma nova paixão……………………………………………………… 13

Capítulo 10 – O papa quilómetros……………………………………………….. 14

Capítulo 11 – Depressão………………………………………………………………. 18

Capítulo 12 – Reaprender a ser professor……………………………………. 18

Capítulo 13 – Ser professor………………………………………………………….. 21

Capítulo 14 – Primárias………………………………………………………………… 21

Capítulo 15 – Ensinar em casa……………………………………………………… 22

Capitulo 16 – Ensinar à paulada…………………………………………………… 23

Capítulo 17 – A Educação Física actual…………………………………………. 24

Capitulo 18 – Desporto………………………………………………………………… 26

Capitulo 19 – As minhas amigas de 4 patas………………………………….. 27

Capitulo 20 – Para os meus alunos………………………………………………. 29

Capitulo 21 – A Khim morreu………………………………………………………. 33

Capitulo 22 – Continuarei a dar aulas?............................................ 34

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