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GUIA DE PREPARAÇÃO PARA O EXAME NACIONAL DE HISTÓRIA A O SÉCULO XX PORTUGUÊS E A ENTRADA NO TERCEIRO MILÉNIO Elaborado por: ALFREDO COSTA [email protected] VILA MEÃ 2010/2011

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GUIA DE PREPARAÇÃO PARA O EXAME

NACIONAL DE HISTÓRIA A

O SÉCULO XX PORTUGUÊS E A ENTRADA NO TERCEIRO MILÉNIO

Elaborado por:

ALFREDO COSTA

[email protected]

VILA MEÃ

2010/2011

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EXAME NACIONAL 2010

Ano Lectivo: 2010/2011

Turma: 12.º D

Disciplina: História A

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Índice

1. Introdução 3

2. O SÉCULO XX PORTUGUÊS E A ENTRADA NO TERCEIRO MILÉNIO

2.1. Da 1.ª República ao fim do Estado Novo 4

2.2. Política económica do Estado Novo 12

2.3. Da política colonial do Estado Novo à descolonização 14

2.4. Da Revolução à estabilização da democracia 17

2.5. Portugal no novo quadro internacional 18

3. Conclusão 21

4. Bibliografia 22

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1. Introdução

O presente guia de preparação para o Exame Nacional de História A incide nos conteúdos de

aprofundamento e nos conceitos estruturantes relacionados com a História de Portugal, desde a Primeira

República até à actualidade.

O principal objectivo foi condensar conteúdos que estão dispersos pelos três volumes do manual do

12.º ano e conferir-lhes um fio condutor.

Há, no entanto, algumas advertências a fazer:

a leitura deste guia não dispensa o estudo do manual e dos apontamentos fornecidos pelo

professor ao longo do ano lectivo;

devem ser estudados todos os outros conteúdos que constam da Informação n.º 12.10 do

GAVE;

é fundamental a realização de exercícios (por exemplo, questões de exame e testes realizados

ao longo do ano) e a elaboração de apontamentos.

Em seguida, apresenta-se a estrutura deste guia de estudo.

Numa primeira parte, são explicados os principais momentos que marcaram o panorama político

português, desde a implantação da República, a 5 de Outubro de 1910, até ao fim do Estado Novo, a 25 de

Abril de 1974.

Na segunda parte, aborda-se a política económica do Estado Novo, destacando-se o seu carácter

corporativo e a autárcico.

Seguidamente, desenvolve-se o tema da política colonial do Estado Novo e a descolonização, com

especial incidência para o isolamento do Estado português no panorama internacional durante a guerra

colonial.

Na quarta parte, concentram-se as atenções no período sensível que se seguiu à Revolução de 25 de

Abril, com destaque para o ano de 1975, e evidencia-se a estabilidade da democracia com a promulgação

da Constituição de 1976.

Finalmente, tecem-se considerações sobre a adesão de Portugal à CEE e sobre os desafios que o país

está a travar com a entrada no terceiro milénio.

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2. O SÉCULO XX PORTUGUÊS E A ENTRADA NO TERCEIRO MILÉNIO

2.1. Da 1.ª República ao fim do Estado Novo

Em 5 de Outubro de 1910 é proclamada a República em Portugal.

Cedo começaram, porém, as dificuldades do novo regime: muitas das medidas tomadas provocaram a

oposição de alguns estratos da população, nomeadamente da Igreja Católica e do operariado que não via

os seus problemas resolvidos e levava a cabo movimentos grevistas; o próprio Partido Republicano dividiu-

se em vários partidos rivais; os monárquicos conspiravam contra o novo regime. A entrada de Portugal na

Primeira Guerra Mundial veio agravar as dificuldades.

Vejamos, então, as razões que conduziram ao insucesso da primeira experiência republicana

portuguesa:

Instabilidade política

As divisões entre os vencedores conduziram às primeiras grandes cisões internas (o Partido

Democrático encabeçado por Afonso Costa; o Evolucionista de António José de Almeida; a União

Republicana de Brito Camacho).

A Constituição de 1911 consignou a doutrina dos três poderes, acentuando o legislativo que, de facto,

se tornou o mais importante para todos os efeitos. Uma característica geral da vida política portuguesa

desde 1910 encontramo-la sem dúvida na instabilidade: parlamentar, presidencial e governamental. Em

dezasseis anos houve sete eleições gerais para o Parlamento, oito para a Presidência da República e 45

ministérios. Múltiplas razões a causavam. O excessivo peso do Congresso na vida política da Nação foi,

sem dúvida, uma delas. O Congresso interferia em todos os aspectos da vida governativa, exigindo

explicações constantes aos membros do Governo. Os governos dependiam totalmente das maiorias

parlamentares, caindo ao sabor de ninharias.

Apenas quatro anos após a implantação da República, teve início a Primeira Guerra Mundial. A

discussão política sobre o papel de Portugal no conflito saldou-se pela decisão de intervir. Nos começos de

1917, desembarcavam em França os primeiros contingentes do C.E.P. (Corpo Expedicionário Português).

Dificuldades económicas

Nos inícios do século XX, a economia portuguesa continuava a assentar numa actividade agrícola que

não evidenciava grandes desenvolvimentos técnicos (no Norte, mantinha-se o tradicional

emparcelamento da propriedade; no Centro e no Sul, a pobreza dos solos não atraía o investimento do débil

sector empresarial português que preferia investir na especulação financeira).

A revolução industrial dos séculos XVIII e XIX só moderadamente tocou o país, aliás mal provido de

ferro, carvão e outras matérias-primas de base, que tinham sempre de se importar. O número de fábricas, a

produção de artigos manufacturados, o pessoal operário empregado atingiam números muito baixos nos

começos do século XX, sobretudo em comparação com outros países da Europa. Os problemas da

indústria e do comércio assentavam na infra-estrutura dos transportes e comunicações, nem sempre

satisfatória para ocorrer às necessidades do País. A rede de estradas estagnara em extensão e decaíra em

qualidade desde o tempo de Fontes Pereira de Melo.

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A primeira Grande Guerra causou graves perturbações económicas e sociais, motivadas pela

escassez de géneros alimentares, pela inflação, pela actividade revolucionária, etc.

Para compensar a falta de meios de pagamento, os governos republicanos aumentaram a

quantidade de massa monetária em circulação. Em consequência, a moeda desvalorizou, o que

provocou a inflação e a perda do poder de compra dos assalariados. Quanto mais o escudo

desvalorizava, maior era o custo de vida, o qual aumentou continuamente entre 1910 e 1926.

Instabilidade social

Conjugando os quadros económico e financeiro com o quadro político, estavam criadas as condições

para a afirmação de um quadro social explosivo.

A subida do custo de vida provocou o descontentamento social, em particular das classes médias e

do operariado (as bases de apoio da república).

A agitação social, patente em manifestações e greves, ocorre de forma cada vez mais violenta. O

exemplo da Revolução Russa de 1917 intensificou o movimento operário (1919 – criação da Confederação

Geral do Trabalho).

Num país maioritariamente católico, as medidas anticlericais promulgadas pelo ministro Afonso

Costa tiveram efeitos catastróficos sobre a opinião pública (1915 – criação do Centro Católico

Português, que reuniu apoios contra a República).

A progressiva desagregação da República fez-se sentir em diversas investidas políticas de cariz

autoritário, nas seguintes datas:

de 1911 a 1913 – Paiva Couceiro tentou, por diversas vezes, restaurar a monarquia portuguesa;

1915 – ditadura militar do general Pimenta de Castro;

1917-1918 – ditadura do major Sidónio Pais (a chamada “República Nova”);

1919 – proclamação da “Monarquia do Norte”, na sequência da guerra civil de Janeiro e Fevereiro do

mesmo ano.

Em 28 de Maio de 1926, o general Gomes das Costa, um dos mais prestigiados heróis da guerra,

revoltou-se em Braga e iniciou uma marcha sobre Lisboa. A maioria do Exército, depois de algumas

hesitações, juntou-se-lhe ou manteve-se neutral. Em Lisboa, o Governo pediu a demissão (30 de Maio) e o

Presidente confiou a um dos chefes revolucionários, o comandante Mendes Cabeçadas, o encargo de

formar ministério. No dia seguinte, o próprio Presidente renunciava ao seu mandato, entregando todos os

poderes a Cabeçadas. Nos começos de Junho, o Parlamento era dissolvido. A revolução triunfara.

O governo presidido pelo Comandante Cabeçadas, compromisso entre a opinião pública republicana e

os grupos militares de tendência direitista, não tinha condições de perdurar. Apoiado pelo grosso do

Exército, o general Gomes da Costa deu um golpe de estado e impôs a sua autoridade plena a novo

gabinete. Contudo, nem os seus princípios inspiravam confiança às Direitas, nem a sua total incapacidade

política lhe permitiria manter-se muito tempo no poder. Em 9 de Julho de 1926, novo golpe de estado militar,

dirigido principalmente pelo monárquico general Sinel de Cordes, despachou Gomes da Costa para um

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exílio dourado nos Açores e substituiu-o pelo general Óscar Carmona, homem de confiança das Direitas, e

oficial respeitado, mas de escasso prestígio militar.

Até 1928, Sinel de Cordes e Carmona governaram o País em típica ditadura militar.

No entretanto, alguns decretos ditatoriais haviam mudado a Constituição (que, teoricamente, permanecia

em vigor), estabelecendo a eleição presidencial por voto directo dos cidadãos. Carmona foi o único

candidato, sendo portanto eleito Presidente da República (Abril de 1928). O coronel Vicente de Freitas

formou novo ministério, com a inclusão de Oliveira Salazar no elenco governativo, à testa das Finanças.

Oliveira Salazar, de 39 anos, professor de Economia na Universidade de Coimbra, tinha já um passado

político de certa relevância, ligado aos grupos católicos. Longe de desconhecido, Salazar era considerado

um representante ideal dos interesses da Extrema-Direita católica, simpatizante da Monarquia. Salazar só

aceitou a pasta das Finanças com a condição de supervisar os orçamentos de todos os ministérios e de ter

direito de veto nos aumentos de despesa respectivos. O sucesso da sua política financeira granjeou-lhe

imenso prestígio e converteu-o em «salvador» da Nação. De facto, o orçamento para 1928-29 previa um

saldo positivo que pôde ser efectivado e era o primeiro desde havia quinze anos.

A pouco e pouco, o controlo do governo por Salazar atingiu os problemas políticos e militares. Já em

1929 ele se dirigia à Nação sobre assuntos não financeiros, sugerindo lemas governativos em que o

nacionalismo direitista era realçado. Atrás de Salazar, claro está, achavam-se poderosas forças: o capital e

a banca, que desejavam pulso livre para se expandirem sem restrições, protegidos contra movimentos

grevistas e a contínua agitação social; a Igreja, proclamando vitória sobre o ateísmo republicano; a maioria

do Exército, constantemente louvado pelo próprio Salazar; os intelectuais das Direitas; e maior parte dos

Monárquicos firmemente convencidos de que Salazar lhes acabaria por devolver o seu rei.

O chamado Estado Novo, assim como a União Nacional, foram igualmente definidos entre 1930 e

1931. A política da ditadura em relação à África portuguesa teve, também, a sua expressão escrita pela

mesma época, numa espécie de código intitulado Acto Colonial.

No decorrer de 1932 e 1933, deram-se os últimos passos para a modelação do Estado autoritário e

corporativo. Salazar rejeitou todo e qualquer acordo ou plataforma de entendimento com os grupos

oposicionistas e apelou para uma congregação política do País em torno da União Nacional, de que se

tornou chefe. Em Fevereiro de 1933, foi publicado o texto da nova Constituição, sujeita a plebiscito em 19

de Março seguinte e aprovada por grande maioria, onde se encontravam as próprias abstenções. À

Constituição seguiu-se o Estatuto do Trabalho Nacional e, posteriormente, toda uma série de medidas de

organização do Estado Corporativo.

O Estado Novo, cujos princípios foram descritos no Decálogo do Estado Novo (da autoria de António

Ferro) e à semelhança do fascismo italiano, apresentava as seguintes características:

Autoritário e dirigista

Rejeitou os princípios liberais que constituíam os fundamentos do regime democrático e, por

conseguinte, repudiou o sistema parlamentar pluripartidário. Existia apenas um partido político

autorizado (a União Nacional) desde 1930. O poder era partilhado entre o presidente do Conselho (o

equivalente a um primeiro-ministro) – Salazar, desde 1932 até 1968 – e o presidente das República

(“presidencialismo bicéfalo”).

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Personalizado no chefe – o culto da personalidade

Figura central da governação, interveniente em todos os sectores da vida nacional, era venerado pelas

multidões e só não era efusivamente aclamado, porque era avesso às multidões. Com efeito, Salazar

nunca assumiu o carácter militar dos seus inspiradores ideológicos.

Conservador – a consagração da tradição e da ruralidade

Salazar procurou incutir na Nação portuguesa os valores do passado glorioso da nossa História.

Radicalmente adverso à ideologia marxista e ao seu carácter urbano e industrial, Salazar consagrou a

tradição e a ruralidade como imagem de todas as virtudes.

A família rural, tradicional e conservadora devia ser a imagem da sociedade portuguesa.

A hierarquia católica era protegida e a religião era o primeiro dos pilares da “educação nacional”,

resumida no lema “Deus, Pátria, Família”.

Nacionalista

O Estado empreendeu uma intensa campanha de exaltação dos valores nacionais, através da

consagração dos heróis e do passado glorioso de Portugal e de valorização das produções culturais

nacionais. A inculcação destes valores fazia-se numa escola que visava a formação de consciências

identificadas com a tradição, obediência, o respeito pela autoridade, o patriotismo e a aversão à

modernidade estrangeira.

Corporativo – a concórdia na organização económica e social

À semelhança do fascismo italiano, o Estado Novo também pretendeu que toda a vida económica e

social do país se organizasse em corporações.

Grémios (organização dos patrões) e sindicatos nacionais (organização dos trabalhadores

portugueses), estabelecidos pelo Estatuto do Trabalho Nacional, entender-se-iam na negociação das

matérias laborais, com o Estado na superintendência e intermediação.

A Câmara Corporativa, composta por delegados das corporações e municípios, desempenhava

funções consultivas junto da Assembleia Nacional.

Repressivo – a liberdade amordaçada

Através da instituição da Censura Prévia, era exercida uma rigorosa vigilância sobre todas as

produções intelectuais (a imprensa era controlada pelo famoso “lápis azul” dos censores).

Uma polícia política, a PVDE – Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (mais tarde a PIDE), perseguia

os opositores políticos e encerrava-os em prisões políticas (como o forte de Peniche) ou em campos de

concentração (o Tarrafal, em Cabo Verde).

Assente em estruturas de enquadramento das massas – a inculcação de valores

Existiam milícias nacionalistas de enquadramento das massas, como a Mocidade Portuguesa, de

inscrição obrigatória para os jovens, e a Legião Portuguesa, para adultos.

Para a organização e ocupação dos tempos livres foi criado um organismo do Estado – a FNAT,

Federação Nacional para a Alegria no Trabalho.

Para incutir na vida familiar os valores do Estado Novo, criou-se a Obra das Mães para a Educação

Nacional que visava a formação das futuras mulheres e mães.

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A eclosão da segunda Grande Guerra (1939) deu a Salazar alguns anos de trégua interna. Portugal

declarou-se neutral desde os começos e pôde manter esta atitude devido à conjunção de uma série de

factores, nomeadamente o hábil jogo diplomático realizado pelo próprio Salazar.

1940 representou, para o Estado Novo em toda a sua pureza, o ponto máximo de apogeu. A fim de

comemorar o oitavo centenário da nacionalidade e o terceiro centenário da Restauração, o regime

organizou um conjunto de cerimónias, exposições, congressos e publicações, de que a súmula gloriosa foi a

Exposição do Mundo Português.

Esta iniciativa insere-se no âmbito da “política de espírito” delineada por António Ferro, que ocupou o

cargo de director do Secretariado de Propaganda Nacional (SPN), desde 1933 até 1949. O SPN

empreendeu esforços múltiplos em todos os campos artísticos, muitas vezes com fins de propaganda, mas

muitas outras, também, com características do maior interesse na promoção das artes. Eram objectivos da

acção deste secretariado colocar toda a produção cultural ao serviço do engrandecimento e exaltação do

Estado Novo. Esta exaltação é bem evidenciada na organização de concursos e prémios literários. O

carácter propagandístico das actividades culturais e artísticas não podia permitir as liberdades criativas que

eram apanágio dos artistas e homens de letras, sobretudo se essa liberdade fosse colocada ao serviço dos

ideais contrários aos propagandeados por Salazar, pondo em causa a coesão nacional. Por isso, era

também objectivo do SPN submeter a produção cultural e artística a padrões definidos pelo regime e

controlar a actividade criativa de artistas e intelectuais. Finalmente, a acção do SPN visava a inculcação de

valores políticos e morais do Estado Novo, como o amor à Pátria, o culto do passado glorioso e dos heróis

nacionais, a consagração da ruralidade e da tradição, entre outros.

Os problemas internos só verdadeiramente recomeçaram com o fim da segunda Grande Guerra. Em

1943, todavia, fora constituída, entre os elementos oposicionistas, uma primeira frente unida, o chamado

M.U.N.A.F. (Movimento de Unidade Nacional Anti-Fascista), cuja actividade não se mostrou nem podia

mostrar grande.

A vitória aliada na Europa (Maio de 1945) trouxe o desmantelamento das estruturas do fascismo na

Europa. Porém, em Portugal, permanecia vigente a ditadura salazarista, de tipo fascista. Salazar encenou,

então, uma viragem política, aparentando uma maior abertura, a fim de preservar o poder.

Assim, em Setembro de 1945, a Assembleia Nacional foi dissolvida, anunciando o Governo eleições

livres para Novembro, com a possibilidade de participação de outros grupos políticos. Dezenas de milhar de

pessoas aderiram ao recém-criado M.U.D. (Movimento de Unidade Democrática), espécie de Frente

Popular contra o Estado Novo.

A Oposição depressa se deu conta, todavia, de que a liberdade concedida não permitia ir muito além das

declarações na imprensa. Também verificou que precisava de muito mais tempo para se organizar e poder

lutar eficazmente contra o regime. Só o clandestino Partido Comunista tinha quadros e possibilidades de

acção, o que lhe concedia grande força e capacidade de manobra. Assim, os oposicionistas responsáveis

pela marcha da campanha solicitaram ao Governo o adiamento do acto eleitoral. Quando Salazar recusou,

a Oposição decidiu abster-se de participar. Todos os candidatos propostos pela União Nacional foram,

consequentemente, eleitos sem contestação, como antes. Pouco tempo depois, uma vasta perseguição,

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visando todos aqueles que haviam subscrito as listas de apoio ao M.U.D., mandou para a cadeia algumas

centenas de pessoas, demitiu outras de cargos públicos e colocou sob vigilância policial outras muitas.

O principal reflexo da oposição ao regime, todavia, verificou-se de quatro em quatro anos, sempre que

se realizavam eleições legislativas, ou nos períodos de escolha do chefe do Estado. As campanhas

eleitorais tornaram-se uma questão de estratégia para a Oposição e sua própria razão de existência; mas

tornaram-se também uma hábil válvula de escape para Salazar e o regime poderem dominar o País, e uma

excelente arma de propaganda para convencerem as nações estrangeiras de que a situação política

portuguesa nada tinha de fascista e contava com o apoio popular.

Às eleições presidenciais de 1949 a Oposição (o M.U.D. fora ilegalizado) propôs o idoso general Norton

de Matos como candidato oposicionista. Contrariamente ao que muitos pensavam, Norton levou a efeito

uma campanha vigorosa, denunciando todos os fracassos e contradições do Salazarismo. Porém, sem

quaisquer garantias de que houvesse liberdade de votar e sem conseguir a reforma dos cadernos eleitorais,

o candidato da Oposição retirou-se da corrida alguns dias antes da votação. Carmona foi, nestes termos,

reeleito uma vez mais.

Com o ano de 1958 teve início a segunda grande crise política do regime. As eleições presidenciais

revelaram, sem sombra de engano, as dissensões no seio do regime. O presidente Craveiro Lopes que não

se mostrara dócil quanto se esperava, foi vetado pela Comissão Central da União Nacional. Em vez dele,

Salazar fez escolher o almirante Américo Tomás, seu ministro da Marinha desde havia 14 anos. A oposição

centro-esquerda escolheu o general Humberto Delgado. Delgado fora outrora um partidário acérrimo da

Ditadura e admirador de Salazar.

Delgado mostrou ser o homem adequado às circunstâncias. Demagogo e exaltado, contactou facilmente

com as massas populacionais, suscitando enorme entusiasmo em todo o país. Embora sem garantias de

liberdade de voto e sem possibilidade de controlo de todas as urnas, Humberto Delgado decidiu ir até ao

fim. Os números oficiais deram-lhe um quarto do total dos votos, mas o general sempre alegou ter triunfado

nas eleições e ser ele, portanto, o legítimo chefe dos Portugueses.

Findo o acto eleitoral, a repressão intensificou-se uma vez mais. Delgado foi demitido, não tardando a ter

de solicitar asilo político na Embaixada do Brasil. Muitos dos seus partidários foram igualmente demitidos,

presos ou julgados. O bispo do Porto, que escrevera uma carta a Salazar insistindo sobre mudanças de

método e política governamentais, teve de deixar o País também.

O período de agitação política prosseguiu durante algum tempo. Parte dos Católicos mais progressistas

passou a intervir activamente em questões políticas e a lutar contra um regime que – segundo diziam –

prejudicava a Igreja. Em Janeiro de 1961, a situação complicou-se com a captura do paquete Santa Maria

por exilados políticos luso-espanhóis, chefiados por Delgado e Henrique Galvão. A captura tinha ligações

com uma revolta que eclodiu, de facto, em Angola, em Fevereiro do mesmo ano.

Contudo, foi ainda possível a Salazar emergir vitorioso de toda esta crise e iniciar novo – e último –

período de estabilização. Medidas repressivas multiplicaram-se sobre estudantes e professores, na

sequência de manifestações dos mesmos entre Março e Maio de 1962.

Em 1965, o almirante Américo Tomás foi reeleito presidente, sem oposição. Decidido a não correr mais

riscos, Salazar fizera alterar a Constituição, tornando a eleição presidencial indirecta e entregando-a a um

corpo disciplinado de eleitores.

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Em Fevereiro de 1965, o general Humberto Delgado caía assassinado, ao tentar entrar

clandestinamente no País pela fronteira espanhola. A responsabilidade do atentado, que desprestigiou o

regime dentro e fora de Portugal, atribuiu-se à Polícia portuguesa com a cumplicidade da espanhola. Em

1968, o chefe oposicionista Mário Soares era deportado para S. Tomé, facto sem precedentes desde a

década de Trinta.

A mudança ocorreu da maneira menos esperada. Nos primeiros dias de Setembro de 1968, Salazar,

quando se ia sentar numa cadeira baixa, caiu e bateu com a cabeça no chão. Resultou-lhe um coágulo de

sangue no cérebro que teve de ser operado. Em 16 do mesmo mês uma hemorragia cerebral punha fim às

esperanças dos seus partidários de o verem retomar funções de comando. Em 27 de Setembro, o

presidente Américo Tomás chamava ao poder Marcello Caetano. Chegara ao seu termo um período de

quarenta anos de governo quase absoluto, o mais longo da história portuguesa desde o reinado de D. João

V.

A nomeação de Marcello Caetano – respeitado professor e historiador, cuja carreira política se fizera

dentro do regime – foi recebida com um misto de esperança, de cepticismo e de medo.

A política de Marcello Caetano mostrou-se extremamente cautelosa. Consciente da difícil situação que

herdara, tentou, de uma maneira geral, manter as coisas tais como estavam, com apenas ligeiras e quase

imperceptíveis modificações. Sabia bem que forças poderosas – o Exército e a Marinha, as Polícias, o

grande capitalismo, parte da hierarquia eclesiástica – o vigiavam de perto. Por outro lado, contactando de

perto com intelectuais mais ou menos da Oposição, ele próprio sendo um intelectual e apercebendo-se sem

dificuldade da mudança dos tempos, sentiu que não podia repudiar totalmente uma abertura, por pequena

que fosse, à esquerda (este clima de abertura política moderada ficou conhecido por “Primavera

Marcelista”).

Assim, chamou do exílio Mário Soares e deixou regressar à pátria centenas ou milhares de outros,

incluindo comunistas confessos e o bispo do Porto, forçado a sair em 1958. Retirou à P.I.D.E., que passou a

chamar-se DGS (Direcção-Geral de Segurança), os seus quase plenos poderes e moderou um pouco a

actividade da censura, que passou a designar-se por Exame Prévio. Permitiu que elementos da Oposição

se reunissem em Aveiro num congresso dito republicano histórico.

Por outro lado, manteve a estrutura do Estado Novo na sua essência. Ministros nomeados por

Salazar foram conservados no novo governo, só muito gradualmente sendo substituídos. Tropas

portuguesas continuaram a seguir para África para lutar contra os rebeldes. Não foram permitidos partidos

políticos. Recusou-se liberdade de associação. A política estrangeira não sofreu alterações. Nada do

sistema corporativo foi modificado. Na verdade, nada de essencial mudara, dois anos após a queda de

Salazar.

As eleições legislativas de Novembro de 1949 constituíram a pedra de toque da política marcelista. Pela

primeira vez em 44 anos, a Oposição foi às urnas em quase todos os círculos de Portugal e Ilhas

Adjacentes. Porém, não havendo alteração nos cadernos eleitorais, milhares de votantes potenciais não

estavam registados e a Oposição perdeu espectacularmente em todos os distritos. Uma vez mais, a

Assembleia Nacional ficou composta por deputados de um só agrupamento político. Não obstante, o regime

começara a abrir brechas. Já na organização das listas de candidatos a deputados pela União Nacional se

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haviam escolhido algumas individualidades independentes ou de certa tendência centrista. Uns quantos

deputados (entre os quais Francisco Sá-Carneiro e Pinto Balsemão) – a chamada “ala liberal” da

Assembleia Nacional – julgaram possível opor-se ao regime dentro das suas próprias estruturas. A própria

União Nacional mudou de nome, passando a chamar-se Acção Nacional Popular.

Ao chegar ao fim o período eleitoral, assim também a «lua-de-mel» entre Marcello Caetano e os grupos

oposicionistas atingiu o seu termo. A guerra em África, como veremos, constituía o principal ponto de

divergência, visto o Governo não tolerar qualquer discussão sobre a permanência de Portugal no Ultramar

ou sobre a maneira de solucionar o conflito.

Durante os anos de 1972 e 1973, a situação do país agravou-se, como balanço final de uma longa época

de história que se aproximava do fim.

O desenlace de toda esta situação começou a esboçar-se através de alguns eventos plenos de

significado futuro. Em 1973, o governador da Guiné, general António de Spínola, figura de grande prestígio

como militar e como defensor de uma nova política de ampla participação indígena, foi substituído no seu

governo. Nos começos de 1974, foi nomeado vice-chefe do Estado Maior das Forças Armadas, cujo chefe

era o general Costa Gomes, outro militar que, já de havia muito, se exprimira também contrariamente à

manutenção do statu quo nas colónias.

Pela mesma ocasião desenhava-se um vasto movimento conspiratório entre um grupo de capitães do

Exército, a pretexto de uma questão mínima de promoções e abertura de quadros aos milicianos, mas que

rápido se transformou em contestação generalizada ao regime.

Em Fevereiro de 1974, o general Spínola conseguiu fazer publicar um livro de sua autoria, Portugal e o

Futuro, onde criticava sem disfarces a política interna e externa portuguesas, com a defesa de uma solução

federalista para o Ultramar, e se advogava, nas entrelinhas, a ideia de um golpe de Estado contra o

Governo.

A partir de então, os acontecimentos precipitaram-se. Em 14 de Março, Spínola e Costa Gomes eram

demitidos das suas funções. Em 16, eclodia nas Caldas da Rainha uma primeira revolta militar que, por falta

de organização e coordenação, pôde ser rapidamente controlada. Um mês depois, em 25 de Abril de 1974,

novo movimento militar, desta vez com a participação activa da maioria das unidades, e desenrolando-se

com maior rapidez e precisão, punha fim ao regime. Em pouco mais de doze horas, Lisboa, o Porto e as

principais cidades passaram para as mãos dos revoltosos. Não houve praticamente resistência e quase

nenhum derramamento de sangue. O Governo rendeu-se em Lisboa e Marcello Caetano, com Américo

Tomás e alguns ministros, foram presos e deportados para a ilha da Madeira. Constituiu-se uma Junta de

Salvação Nacional sob a presidência de Spínola, com Costa Gomes em segundo lugar. O Estado Novo

deixara de existir.

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2.2. Política económica do Estado Novo

Quando Salazar tomou conta do poder, em 1928, a questão financeira constituía preocupação

obsessiva. Como vimos, o primeiro orçamento de Salazar, o de 1928-29, pôde realizar o «milagre». Até à

eclosão da segunda Grande Guerra, as receitas mantiveram-se quase estacionárias. Por sua vez, as

despesas aumentaram um pouco, dando em resultado que os saldos positivos nunca voltaram a atingir o

nível do primeiro ano da administração de Salazar.

A Segunda Guerra Mundial trouxe alguma prosperidade para o País. Sendo neutro, Portugal pôde

vender os seus produtos muito favoravelmente, sem grandes necessidades de despesa com armamento ou

com defesa do território. As exportações de volfrâmio constituíam também receita apreciável para o Estado.

No ramo da agricultura, uma das principais preocupações consistiu em obter auto-suficiência na

produção de cereais. Em 1929, começou em Portugal a chamada campanha do trigo e, durante a década

de Trinta, realizou-se um esforço considerável visando alargar as áreas de produção, nomeadamente no

Sul. Os resultados pareceram notáveis a princípio: a área semeada aumentou e a produção do cereal nobre

subiu. Mas as consequências últimas estiveram longe de corresponder a estes auspiciosos começos. A

maioria dos solos não tinha condições para searas permanentes de trigo, esgotando-se em poucos anos.

Levantaram-se desde logo problemas de como colocar os excedentes no mercado internacional a preços

compensadores. Para mais, o contínuo aumento demográfico anulava toda e qualquer perspectiva de fazer

de Portugal um país auto-suficiente em trigo.

Quando terminou a Segunda Guerra Mundial, a agricultura continuava a ser a actividade dominante em

Portugal. O principal problema radicava no desequilíbrio da estrutura fundiária que tornava difícil tirar

rendimento do cultivo: enquanto no Norte predominava o minifúndio, no Sul predominavam os latifúndios. O

II Plano de Fomento, de 1959, que apostava na mecanização de explorações de tamanho médio, não

contou com a adesão dos proprietários que, no Norte, preferiam continuar agarrados ao bocado que

herdaram e que garantia a sua subsistência e, no Sul, preferiam continuar a viver à custa da perpetuação

dos baixos salários e dos subsídios e outros apoios subaproveitados do Estado.

Relativamente à indústria, esta não mereceu, da parte do Estado Novo, o mesmo empenho que foi

devotado à ruralidade. Entre 1931 e 1937, a indústria foi alvo de uma política de combate à crise – o

condicionamento industrial – que acabaria por se prolongar no tempo, impedindo o desenvolvimento do

sector secundário. O condicionamento industrial consistia, em traços gerais, na limitação, pelo Estado, do

número de empresas existentes e do equipamento utilizado, pois a iniciativa privada dependia, em larga

medida, da autorização do Estado.

Em 1948, Portugal integrou a criação da OECE (Organização Europeia de Cooperação Económica),

beneficiando de algum auxílio financeiro proveniente do Plano Marshall, entre 1949 e 1951.

A partir de 1953, foram elaborados os Planos de Fomento para o desenvolvimento industrial. O I Plano

(1953-1958) e o II Plano (1959-1964) davam continuidade ao modelo de autarcia e à substituição de

importações. É só a partir de meados dos anos 60, com o Plano Intercalar de Fomento (1965-67) e o III

Plano (1968-1973), que o Estado Novo delineia uma nova política económica: defende-se a produção

industrial orientada para a exportação; dá-se a prioridade à industrialização em relação à agricultura;

estimula-se a concentração industrial; admite-se a necessidade de rever a lei do condicionamento industrial.

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Comparável em tantos aspectos ao Fontismo oitocentista, o Estado Novo levou a efeito um amplo

programa de obras públicas. Para além de todos os aspectos propagandísticos, esta política visava

desenvolver e melhorar as infra-estruturas consideradas fundamentais no surto da economia nacional. Mas,

enquanto o Fontismo assentara em investimentos particulares e na iniciativa privada, as obras públicas

durante o Estado Novo foram, acima de tudo, um empreendimento do Estado e um modo de evitar o

desemprego em épocas de depressão ou estagnação económica (durante a crise de 1929, por

exemplo).Em consequência, melhorou-se a rede de estradas, os portos marítimos, a rede telefónica

nacional; edificaram-se grandes complexos desportivos, complexos hidroeléctricos, edifícios de serviço

público; deu-se particular atenção aos monumentos históricos.

Parte de toda esta expansão industrial, comercial e agrícola resultou do grande surto demográfico que

caracterizou Portugal durante algumas décadas. De 1930 a 1968, a população aumentou em mais de um

terço. Havia para cima de nove milhões de portugueses em meados da década de Sessenta, quando a

crescente emigração os puxou bruscamente para trás.

Factor importante a explicar as modificações demográficas foi, sem dúvida, a emigração. Este

movimento migratório intenso prende-se com motivos de ordem demográfica e económica: a pobreza em

que algumas populações viviam, confrontadas com o conhecimento dos elevados níveis salariais praticados

nos países industrializados; a fuga de muitos jovens à incorporação militar obrigatória e consequente

avanço para as frentes de combate na guerra colonial (grande parte desta emigração era clandestina); a

promoção, por parte do poder político, da ocupação de territórios ultramarinos com população branca.

Abstraindo dos aspectos humanos do problema, a emigração traduziu-se em certas vantagens para o

País, tais como o envio permanente de somas avultadas em moeda estrangeira. Assim se compreende a

despenalização da emigração clandestina, a partir do momento em que Salazar entendeu a importância das

remessas enviadas pelos emigrantes para o equilíbrio da balança de pagamentos e aumento do consumo

interno.

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2.3. Da política colonial do Estado Novo à descolonização

A aprovação do Acto Colonial, logo em 1930, evidencia bem as preocupações de Salazar com a política

colonial. Com efeito, Portugal reafirmava a sua missão de “civilizar as populações indígenas”, justificando a

posse dos “domínios ultramarinos” através de uma “função histórica”.

Nestes termos, as colónias ultramarinas viriam a constituir um elemento fundamental na política de

nacionalismo económico do regime e um poderoso instrumento de fomento do orgulho nacionalista. No

primeiro caso, porque realizavam a tradicional vocação colonial de mercado para o escoamento de

população, capitais e produtos metropolitanos e de fornecimento de matérias-primas a baixo custo; no

segundo caso, porque constituíam um poderoso instrumento de propaganda nacionalista – ao integrar os

espaços ultramarinos no espaço geopolítico nacional, Portugal afirmava-se como um país pequeno na

Europa, mas grande no mundo.

Todavia, a partir de 1945, a questão colonial passa a constituir um problema complicado para o regime.

O fim da Segunda Guerra Mundial e a nova ordem internacional instituída com a Carta das Nações, em cujo

âmbito a ONU reconhece o direito à autodeterminação dos povos, criaram para Portugal um ambiente

nada favorável à manutenção da política colonial instituída com a publicação do Acto Colonial. A mística

imperial começava a revelar-se ultrapassada para explicar as posições colonialistas do Estado Novo.

É neste quadro que Salazar, em vez de acompanhar as grandes potências colónias na negociação de

processos independentistas com as suas colónias, inicia uma hábil tentativa de clarificação jurídica das

relações com os seus territórios ultramarinos. Neste sentido, em 1951, Salazar revoga o Acto Colonial e

insere o estatuto das colónias por ele abrangido na Constituição, de modo a que todo o território

nacional ficasse abrangido pela mesma lei fundamental. Para melhor concretizar esta integração,

desaparece o conceito de colónia e é instituído o conceito de província. Ao mesmo tempo, desaparece o

conceito de Império Português que é substituído pelo conceito de Ultramar Português. Na prática, a

Constituição portuguesa passava a apresentar os espaços ultramarinos como legítimas extensões do

território nacional que, desta forma, se apresentava como um Estado pluricontinental e multirracial “do

Minho a Timor”. À luz do Direito, Portugal deixava de ter áreas de ocupação colonial e, sempre que

interpelado nos fóruns internacionais sobre questões coloniais, era esta a resposta da diplomacia

portuguesa.

Uma maneira de assegurar o império consistia em mostrar ao mundo como a presença portuguesa era

essencial para o desenvolvimento económico desses territórios. Nos anos 50 e 60, as colónias foram alvo

de uma atenção redobrada por parte de Estado através de medidas como: criação de infra-estruturas

(barragens, por exemplo); integração dos gastos com as colónias nos Planos de Fomento; incentivos ao

investimento privado nas colónias; criação do EEP (Espaço Económico Português) em 1961, com vista à

abolição de entraves entre Portugal e as colónias; desenvolvimento dos sectores agrícola, extractivo e

industrial; afluxo de colonos brancos; investimento de capital americano (proveniente do plano Marshall) no

desenvolvimento das colónias.

Entretanto, na ONU, onde as alterações instituídas por Salazar para os territórios ultramarinos não são

reconhecidas, intensificam-se as pressões sobre o regime no sentido de dar início a um processo

descolonizador. Salazar responde com uma política de reforço da autoridade portuguesa e de indiscutível

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recusa de qualquer negociação que pudesse pôr em causa essa autoridade. Esta posição levaria a

comunidade internacional a condenar sucessivamente o colonialismo português e Salazar continuaria

teimosamente a responder com a chamada política do “orgulhosamente sós”, uma política de aceitação do

crescente isolamento internacional a que o país era votado.

Esta política de condenação sucessiva do regime, em particular a Resolução 1514, de Dezembro de

1960, que veio confirmar as possessões portuguesas plenamente inseridas no conceito de colónia previsto

pela Carta da ONU, acabaria por legitimar a eclosão da luta armada pela libertação em Angola, logo em

Fevereiro de 1961, levada a cabo por forças da UPA/FNLA. Mais tarde, a luta estender-se-ia a todo o

território angolano por acção do MPLA e da UNITA. Já em 1963, é o PAIGC que inicia a guerra pela

independência da Guiné e de Cabo Verde e, no ano seguinte, a guerra de libertação estende-se também a

Moçambique por acção da FRELIMO. E assim, Portugal vê-se envolvido, durante treze longos anos,

em três duras frentes de batalha com elevadíssimos custos materiais e humanos.

Claro que a manutenção da Guerra Colonial haveria de ter fortes implicações políticas, tanto a nível

interno como a nível externo. A nível interno, como acima se fez referência, foram elevadíssimos os custos

materiais, que chegaram a absorver 40% do orçamento do Estado, o que originou grandes dificuldades

orçamentais na administração pública com crescentes denúncias dessas dificuldades por parte dos

respectivos titulares. Os custos humanos, que, no final, se traduziram em mais de oito mil mortos e cerca de

cem mil mutilados, estiveram na origem do descontentamento crescente da população e, em particular, dos

jovens que engrossavam os movimentos de oposição e de fuga à incorporação militar. Grupos de católicos

progressistas, incluindo membros da alta hierarquia da Igreja como o bispo do Porto, D. António Ferreira

Gomes, dão nova consistência à oposição ao regime, levando a cabo manifestações públicas de

condenação da guerra e de reconhecimento do direito dos povos africanos à autodeterminação. Já em

finais de 1973, são os deputados da ala mais liberal da Assembleia Nacional que protestam contra a guerra,

abandonando o parlamento. Finalmente, em inícios de 1974, perante a iminência de uma derrota

vergonhosa, é a própria hierarquia militar, concretamente o general António de Spínola, que denuncia a

falência da solução militar.

A esta intensificação da oposição, o regime ia respondendo com a intensificação da repressão e da

recusa de uma abertura do regime às transformações democráticas que triunfavam na Europa, o que se

repercutia na intensificação das pressões internacionais, inclusivamente por parte da Santa Sé. Com efeito,

numa cabal expressão de repúdio da política colonial portuguesa, em 1970, o Papa Paulo VI recebe

aqueles que a diplomacia internacional reconhecia como legítimos representantes dos povos de Angola, de

Moçambique, da Guiné e de Cabo Verde, facto que acabaria por se tornar numa humilhação sem paralelo

na administração colonial portuguesa. Em 1973, Marcello Caetano seria vilipendiado publicamente numa

visita a Londres em consequência do conhecimento internacional dos massacres perpetrados em

Moçambique contra populações civis indefesas. E a humilhação do regime confirmar-se-ia ainda em 1973

com a declaração unilateral de independência da Guiné-Bissau prontamente reconhecida pela Assembleia-

Geral da ONU.

Sendo a questão colonial uma das principais causas da contestação política do regime, não admira que

a opção descolonizadora fosse imediatamente assumida pelos novos dirigentes políticos saídos da

revolução de 25 de Abril de 1974. Aliás, o direito à autodeterminação (evidenciado na lei 7/74) e a adopção

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acelerada de medidas tendentes à autonomia política e administrativa dos territórios ultramarinos era uma

clara opção do MFA (pelo contrário, António de Spínola, que assumira a Presidência da República,

defendia, ainda, um modelo federalista).

Ora, perante as pressões dos movimentos independentistas na exigência de uma solução rápida do

problema colonial e da comunidade internacional, sobretudo da ONU e da Organização da Unidade

Africana, que excluíam um processo de descolonização faseado, pela sua morosidade, não restava outra

alternativa aos governantes portugueses que não fosse o arranque imediato das negociações com os

movimento de libertação mais representativos das populações coloniais. Até porque também interessava às

novas estruturas do poder democrático mostrar à comunidade internacional que não restavam quaisquer

dúvidas sobre o carácter anticolonial do novo regime e responder imediatamente à vontade nacional de ver

resolvido o problema da guerra e do regresso dos militares.

É, portanto, neste contexto que se iniciam os processos políticos de reconhecimento da independência e

da entrega do poder ao PAIGC, na Guiné-Bissau, logo em Julho de 1974, em consequência da assinatura

do Acordo de Argel, e o reconhecimento da independência de cabo Verde, onde nem havia guerra, um ano

depois, numa demonstração de que o processo de independência era extensível a todas as parcelas do

império e não apenas àquelas onde havia guerra. O processo de S. Tomé e Príncipe também foi fácil, com

a entrega do poder, também em 1975, ao MLSTP, um movimento não militar organizado no exílio.

Os processos de Moçambique e de Angola foram mais complicados. No primeiro caso, porque surgiu um

movimento a contestar o reconhecimento da FRELIMO, pelo Acordo de Lusaca, em Setembro de 1974,

como único representante legítimo do povo moçambicano, tanto mais que esta força político-militar se

identificava com a ideologia comunista. Foi a RENAMO, que se organizou como movimento de resistência

armada e se envolveu em guerra aberta com a FRELIMO, até 1992, altura em que a paz foi aceite por

ambas as forças. O processo de Angola foi ainda mais complicado, porque o governo português teve de

negociar com três movimentos com legitimidade reconhecida: a FNLA, o MPLA e a UNITA. Tratava-se de

movimentos com diferentes opções ideológicas e representativos de etnias rivais dominantes na população

angolana. Depois de assinado o Acordo de Alvor, em inícios de 1975, em que os três movimentos aceitaram

um processo pacífico e democrático, nada se confirmou no terreno, acabando as respectivas forças

militares por se envolverem numa violenta guerra civil em que intervieram forças internacionais em apoio

dos contendores. Só em 2002, com a morte do dirigente da UNITA, Jonas Savimbi, é que o conflito chegou

a uma solução definitiva.

A falta de segurança desencadeou um movimento maciço de regresso de portugueses à metrópole,

dando início, a partir de Setembro de 1975, à ponte aérea que o Estado português disponibilizou para

evacuação dos cerca de 500 000 portugueses. Os “retornados”, como eram chamados, deram uma

contribuição demográfica e profissional importante para o desenvolvimento económico português.

O processo da independência de Timor revestiu-se também de aspectos trágicos. Perante as hesitações

do governo português em entregar o poder às forças representativas do povo maubere, a FRETILIN, um

movimento identificado com o comunismo internacional, tomou conta do poder pela força. Imediatamente, a

Indonésia invadiu o território que integrou na sua soberania. Perante a resistência dos nacionalistas, as

forças ocupantes, não reconhecidas pela ONU, iniciam um processo de integração forçada que passou pela

violação dos mais elementares direitos humanos. Portugal, enquanto potência administrante, iniciou um

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processo diplomático de contestação da ocupação que obteve êxito em finais de 1999 e terminou com a

independência de Timor-Leste, em Maio de 2002.

2.4. Da Revolução à estabilização da democracia

Como vimos anteriormente, perante a recusa de uma solução política para o problema da Guerra

Colonial, que se mantinha num impasse em Angola e Moçambique, denunciando claramente a falência da

solução militar, um grupo de capitães, considerando também ser intérprete da vontade nacional, entendeu

que se tornava urgente pôr fim à ditadura do Estado Novo pela via revolucionária.

Constituídos como Movimento das Forças Armadas em 1973, os oficiais revoltosos conseguem a adesão

das principais unidades militares e, em 25 de Abril de 1974, fazem triunfar a acção revolucionária que pôs

fim a 48 anos de ditadura.

Confirmada a total adesão popular, o novo poder, constituído como Junta de Salvação Nacional, onde

preponderavam os militares, inicia prontamente o desmantelamento dos instrumentos de poder do

regime deposto: o presidente da República e o presidente do Conselho foram presos e, mais tarde,

exilados; a Assembleia Nacional e o Conselho de Estado foram dissolvidos; os membros que integravam as

estruturas repressivas (PIDE e Censura) foram presos; as instituições de suporte do regime (Mocidade

Portuguesa, Legião Portuguesa, União Nacional, Câmara Corporativa) foram dissolvidas; os presos políticos

foram libertados e os exilados começaram a regressar ao país; iniciou-se a formação de novos partidos

políticos e de sindicatos livres; procedeu-se à formação de um Governo Provisório; iniciou-se a preparação

de eleições livres para eleger uma Assembleia Constituinte à qual incumbiria a redacção de uma nova

Constituição que viria a ser promulgada em 2 de Abril de 1976.

Porém, os tempos que se seguiram à Revolução não foram fáceis para as novas instituições. O

carácter ultraconservador do regime deposto e, sobretudo, a repressão da liberdade durante quase meio

século criaram um ambiente favorável à afirmação das forças de esquerda. Efectivamente, o

estabelecimento da nova ordem política fez-se num quadro de clara tendência de esquerda, sob pressão de

uma ala mais radical do MFA e do Partido Comunista, como evidencia a constituição dos primeiros

governos provisórios.

Entretanto, os sectores mais conservadores reuniram-se em torno do general Spínola, a quem foi

entregue a Presidência da República. O resultado traduziu-se no desenvolvimento de profundas

divergências sobre os rumos a empreender na evolução política do país.

Foi nesta conjuntura política que ocorreram os primeiros confrontos. O primeiro ainda em 1974, em 28

de Setembro, quando o MFA proíbe uma manifestação de apoio ao presidente da República. Fragilizado,

Spínola demitiu-se e confirmava-se a identificação da aliança Povo/MFA com a aliança Partido

Comunista/MFA, tão clara começava a ser a coincidência dos objectivos e das práticas. Em 11 de Março de

1975, os militares afectos a Spínola e sob sua tutela política, correspondendo aos anseios de importantes

sectores da vida pública preocupados com os rumos da revolução, tentam uma acção militar no sentido de

suster o ímpeto revolucionário das forças de esquerda. O golpe foi facilmente dominado pelo MFA e as

forças de esquerda saíram reforçadas com a imediata criação do Conselho da Revolução, que passou as

tutelar a acção dos órgãos de soberania, em particular do presidente da República. Procede-se a uma

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remodelação do Governo em consequência da qual os elementos mais moderados são afastados. O

Partido Socialista, vencedor das eleições para a Assembleia Constituinte, em Abril seguinte, reclama

uma maior intervenção na actividade governativa, mas as preponderância política continua a ser detida

pelo Partido Comunista com o apoio do sector mais radical do MFA e do Conselho da Revolução, que se

constituem como verdadeiros detentores do poder, provocando o abandono do Governo pelos socialistas.

Foram os tempos do PREC (Processo Revolucionário em Curso), em que ocorreu o desmantelamento

dos mais poderosos grupos económicos portugueses ligados aos sectores da indústria química, da banca,

dos seguros, dos transportes e comunicações, dos cimentos, das celuloses e da siderurgia, que foram

nacionalizados. No sector agrícola, procedeu-se à reforma agrária com a ocupação dos latifúndios do

Ribatejo e Alentejo e a organização da sua exploração em Unidades Colectivas de Produção (UCP) sob

controlo do Partido Comunista. Muitos empresários são presos e acusados de dificultar o desenvolvimento

económico do país. É o tempo dos saneamentos selvagens e da fuga de importantes quadros para o Brasil.

Este fervor revolucionário preocupava os sectores moderados do país, que não viam com bons olhos a

cada vez maior radicalização das posições políticas. Afirma-o claramente um grupo de oficiais que, em

Agosto (durante o denominado “Verão Quente”), publica a sua Oposição na comunicação social, alertando

para a necessidade de inverter o ímpeto revolucionário fazendo regressar a revolução aos princípios

pluralistas de Abril de 1974. Foi o chamado “Documento dos Nove”.

Em consequência, as tensões sociais e políticas recrudesceram com a formação de um novo governo de

cariz mais moderado e com a nomeação de Vasco Lourenço, um dos “nove”, para comando da Região

Militar de Lisboa, em substituição de Otelo Saraiva de Carvalho. É então que, em 25 de Novembro,

argumentando que se estava a preparar uma tentativa de golpe animado pela esquerda militar e pelo

Partido Comunista, um grupo de militares moderados, liderado por Ramalho Eanes, responde com um

contragolpe que obteve sucesso e pôs fim à fase extremista do processo revolucionário.

Este regresso ao pluralismo democrático foi consolidado com a promulgação da Constituição, em 2 de

Abril de 1976. Apesar de ter sido elaborada nos “quentes” tempos do PREC e de não esconder, por isso,

um forte carácter socializante, a Constituição consagra, sem qualquer reserva, o Estado português como

uma república democrática e pluralista, ao garantir as liberdades individuais e a alternância política através

da realização de eleições livres e universais que possibilitariam aos cidadãos a escolha dos seus

representantes para as várias instituições de poder.

Deste modo, a Constituição de 1976, ao conseguir conciliar as diferentes concepções ideológicas

subjacentes ao processo revolucionário, pode ser considerada o documento fundador da democracia

portuguesa. É, com efeito, pelos princípios nela definidos que se vão pautar os novos tempos e os novos

rumos da actividade política em Portugal, a começar imediatamente pela legitimação constitucional das

diversas instituições político-administrativas, ainda em 1976.

2.5. Portugal no novo quadro internacional

Passados os tempos conturbados do PREC, consolidada a democracia com a promulgação da

Constituição de 1976 e concluídos os processos de transferência de poderes em todas as antigas colónias

portuguesas, as portas da Europa ficavam incondicionalmente abertas para Portugal.

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Em 12 de Junho de 1985, no Mosteiro dos Jerónimos, era formalmente assinado o Tratado de Adesão e,

a partir do dia 1 de Janeiro de 1986, correspondendo aos anseios dos restantes estados-membros em

considerar a adesão peninsular como um todo, Portugal e Espanha passaram a integrar plenamente a CEE.

A adesão à CEE repercutiu-se inevitavelmente na profunda transformação por que Portugal viria a

passar nos anos subsequentes.

A nível político, a plena integração na Europa democrática facilitou a consolidação das instituições

democráticas em Portugal. Terminavam os conturbados tempos da revolução em que as dúvidas eram

mais do que as certezas. Com a maioria absoluta conseguida pelo Partido Social-Democrata de Cavaco

Silva, em 1987 e 1991, Portugal caminhava irreversivelmente para a democracia pluralista, moderna, de tipo

ocidental.

A diplomacia portuguesa passou a ocupar um lugar de prestígio na cena política internacional, podendo-

se destacar os seguintes momentos: convite feito ao então Primeiro-Ministro Durão Barroso para a

Presidência da Comissão Europeia, cargo que passou a exercer desde 29 de Novembro de 2005; exercício

do cargo de Alto-Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, desde Junho de 2005, pelo ex-

Primeiro-Ministro António Guterres.

Mas as transformações mais visíveis operaram-se a nível económico. Ora, apresentando a economia

portuguesa fracos níveis de desenvolvimento, a Comunidade Europeia transferiu para Portugal avultadas

verbas e apoios técnicos, no âmbito dos múltiplos programas de apoio económico e financeiro, tendo em

vista a aproximação do país aos níveis de desenvolvimento dos parceiros comunitários: no sector agrícola

(PEDAP), na indústria (PEDIP), no emprego e na formação profissional (PODAEEF), na educação

(PRODEP) e na criação de infra-estruturas viárias (PRODAC).

Este apoio material aliado à acentuada baixa do valor do dólar e do preço do petróleo fizeram com que a

economia portuguesa, na última década do século XX, crescesse a uma média superior à média

europeia. Os efeitos traduziram-se em notórios sinais de prosperidade económica do país: aumento do

investimento estrangeiro, baixa da inflação, aumento das exportações, diminuição da dívida externa.

A nível social, assistiu-se à perda de importância do sector primário a favor do sector terciário que

cresce extraordinariamente. O aumento das pequenas e médias empresas de serviços, onde

preponderam as telecomunicações e a informática e as grandes superfícies comerciais, cria novas

alternativas de emprego, enquanto o desafogo do Estado pode melhorar as regalias sociais e

proporcionar também o ingresso de maior número de empregados no sector público. O poder de compra

dos portugueses aumenta e a banca abre-se à concessão de crédito, numa concorrência desenfreada.

Mas a abertura económica de Portugal ao exterior não deixou de trazer novos problemas para a

economia portuguesa:

Portugal viu-se integrado num mercado altamente competitivo;

a liberdade do Governo nacional em questões orçamentais ficou condicionada pelas opções

políticas da União Europeia;

a abertura das fronteiras facilitou a deslocalização das empresas e de investimentos para

mercados mais competitivos;

acentuaram-se algumas assimetrias regionais;

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tornou-se mais diícil o controlo da imigração clandestina e o combate à criminalidade organizada;

o estreito relacionamento com a economia internacional, numa situação de notória dependência,

acentuou os efeitos negativos da conjuntura internacional, na entrada do terceiro milénio.

E à entrada deste terceiro milénio que se colocam grandes desafios ao desenvolvimento português,

como a educação para todos, a integração de uma franja de carenciados, o desemprego, a imigração

crescente e os baixos investimentos na Investigação e Desenvolvimento.

Apesar de se tornar difícil, pela proximidade cronológica, avaliar, historicamente, o período da última

trintena de anos, existem alguns indicadores que permitem esboçar linhas de força da evolução portuguesa:

o envelhecimento da população – pirâmide etária na forma de “cogumelo”; desertificação do interior;

encargos médicos e sociais com a terceira idade; encerramento de escolas e de maternidades; em

compensação, o país pode orgulhar-se de ter uma das mais baixas taxas de mortalidade infantil da

Europa:

o aumento do consumo – aumento geral dos salários, conciliado com a política de concessão de

crédito às famílias;

a maior igualdade entre homens e mulheres – política de protecção à maternidade; na maioria dos

casos, ambos os elementos do casal trabalham e as mulheres acedem, em maior número do que os

homens, ao ensino superior; no entanto, muito está ainda por fazer (por exemplo, uma em cada três

mulheres é vítima de agressões por parte do companheiro);

a terciarização da sociedade (já referida anteriormente);

a imigração – a descolonização, nos anos 70, trouxe consigo a vaga de residentes nas ex-colónias;

nos anos 80, a imigração brasileira conheceu uma acentuada expansão; desde os anos 90, imigrantes

da ex-União Soviética deslocam-se para Portugal aproveitando a livre circulação prevista no Acordo de

Schengen; a imigração oriunda da República Popular da China tem, igualmente, registado um maior

afluxo.

Para além das relações com a União Europeia, Portugal tem vindo a fomentar os contactos com os

territórios de maior afinidade histórico-cultural: os PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa),

o Brasil, Timor-Leste e os países ibero-americanos.

A memória histórica registou, com um travo de amargura, o desenlace da descolonização portuguesa:

guerras civis, fome endémica, doença, subdesenvolvimento. Passados 30 anos, o estreitamento de

relações com estes territórios significa a reconciliação possível com o passado (como se tornou claro

aquando do empenhamento dos portugueses na independência de Timor-Leste) e a crença na possibilidade

de relações económicas e culturais frutíferas.

O facto de Portugal ter beneficiado do desenvolvimento europeu é um factor de relevo, pois conseguiu,

em algumas ocasiões, fornecer ajuda financeira aos países africanos. Para melhor estabelecer os termos

da cooperação, foram criados organismos internacionais, tais como a CPLP (Comunidade dos países de

Língua Portuguesa, em 1996) e a CIA (Comunidade Ibero-Americana).

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GUIA DE PREPARAÇÃO

EXAME NACIONAL 2010

Ano Lectivo: 2010/2011

Turma: 12.º D

Disciplina: História A

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3. Conclusão

Aproxima-se uma fase importante no percurso como estudante de História do Ensino Secundário – o

Exame Nacional.

Prepara-te bem para este momento, estudando com antecedência e num local calmo. Tem um ritmo de

sono regular, respeitando o tempo necessário de descanso.

No dia do exame, usa os 120 minutos para ler todo o enunciado com atenção e depois destina um

tempo para as respostas de composição curta e outro tempo para as de composição desenvolvida, que

deve ser muito superior ao anterior. Deves ter ainda em atenção que dispões de mais 30 minutos de

tolerância. Reserva este tempo para uma nova leitura de todas as respostas e eventuais correcções a que

devas ainda proceder.

Eis algumas regras para uma boa apresentação das respostas:

lê e interpreta correctamente a questão;

responde objectivamente ao que é pedido;

não ajustes a questão aos teus conhecimentos;

privilegia as frases simples;

usa as conjunções e as locuções conjuncionais da nossa língua: conjunções adversativas (mas,

porém, todavia, contudo) e locuções adversativas (não obstante, ainda assim, apesar disso, ao

passo que) para indicar ideias contrárias; locuções conclusivas (com efeito, por conseguinte,

por consequência); e locuções copulativas (não só… mas também);

recorre a uma linguagem técnica e cientificamente rigorosa;

analisa os documentos como é pedido;

cuida a caligrafia e a apresentação.

Se tiveres alguma dúvida até ao dia do exame, contacta o teu professor no Externato ou através dos

contactos disponibilizados para o efeito.

Bom trabalho!

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EXAME NACIONAL 2010

Ano Lectivo: 2010/2011

Turma: 12.º D

Disciplina: História A

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4. Bibliografia

ANTÃO, António, 2009 – Preparação para o Exame Nacional 2010, Porto, Porto Editora.

COUTO, Célia e ROSAS, Maria Antónia Monterroso, 2009 – O Tempo da História, vol. 1, 2 e 3, Porto,

Porto Editora.

MARQUES, A. H. de Oliveira, 2001 – Breve História de Portugal, 4.ª ed., Lisboa, Editorial Presença.

NUNES, Sandra, 2008 – Guia de Estudo – História A, Porto, Porto Editora.