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    Preparao para o Exame Nacional de Filosofia do 11 ano,Porto Editora

    Pedro Galvo

    TIL A ALUNOS E PROFESSORES

    Resumos da matria da filosofia do 11 ano por captulos

    Captulo 1 - Instrumentos e competncias

    Problemas A Filosofia uma actividade de discusso de problemas. Sem compreender os problemas a dis-cutir, no se pode compreender as matrias estudadas. No que respeita aos problemas filosficos, preciso saber identific-los, formul-los, situ-losnas reas da Filosofia, mostrar a sua importncia e relacion-los entre si.

    Teses As teses so as respostas aos problemas. importante saber distinguir as diversas teses alter-nativas que constituem respostas possveis a um problema. As teses so proposies. As proposies so aquilo que expresso por uma frase declarativacom valor de verdade, isto , por uma frase que verdadeira ou falsa.- Duas frases exprimem a mesma proposio quando significam o mesmo.- Uma frase pode exprimir proposies diferentes quando pode ter significados diferentes. As proposies condicionais tm a forma 'Se P ento Q'. A antecedente 'P' e a consequente 'Q'.- A antecedente condio suficiente para a consequente.- A consequente condio necessria para a antecedente. As proposies bicondicionais tm a forma 'P se, e apenas se, Q'.- Numa proposio deste gnero afirma-se que 'P' condio necessria e suficiente para 'Q', ou

    seja, estabelece-se uma equivalncia entre 'P' e 'Q'. As proposies universaispodem ser afirmativas ou negativas.- A forma mais comum das primeiras Todos os A so B' e a forma mais comum das segundas 'Nenhum A B'. As proposies universais podem ser refutadas porcontra-exemplos. As proposies podem serconsistentes ou inconsistentes entre si. Se vrias proposies so consistentes entre si, ento possvel que sejam todas verdadeiras. Se vrias proposies so inconsistentes entre si, ento pelo menos uma delas falsa. No que respeita s teses filosficas, preciso saber identific-las, formul-las, compar-las eexplicar a sua pertinncia.

    Conceitos Os conceitos so aquilo que os termos significam. As definies explcitas so uma das formas principais de clarificar conceitos. Uma definio explcita satisfatria no demasiado lata nem demasiado restrita. Numa definio explcita aquilo que se pretende definir no pode ocorrer na expressodefinidora. Numa definio explcita a expresso definidora no pode ser mais obscura do que aquilo quese pretende definir. As caracterizaes so outra forma importante de clarificar conceitos. No que respeita aos conceitos filosficos, preciso saber identific-los, clarific-los, relacion-los entre si e aplic-los.

    Argumentos Um argumento um conjunto de proposies em que uma delas (a concluso) a tese defen-dida a partir das restantes (as premissas). Para avaliar um argumento preciso: determinar se as premissas so todas verdadeiras;

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    determinar se as premissas apoiam logicamente a concluso. Um argumento vlido aquele em que as premissas apoiam logicamente a concluso. Um argumento slido vlido e tem premissas verdadeiras. No que respeita aos argumentos filosficos, preciso saber us-los para defender e criticarteses, reconstitu-los, avali-los, confront-los e defender autonomamente posies tericas com

    base neles.

    Captulo 2 - Argumentao elgica formal

    Noes gerais Um argumento dedutivamente vlido se, e apenas se, impossvel que tenha uma conclusofalsa e premissas verdadeiras. Num argumento deste gnero as premissas implicam a concluso. Um argumento indutivamente vlido se, e apenas se, muito improvvel, mas no imposs-vel, que tenha uma concluso falsa e premissas verdadeiras. Num argumento deste gnero as

    premissas confirmam a concluso. A lgica formal determina a validade dedutiva dos argumentos unicamente a partir do estudoda sua forma, ignorando o seu contedo.

    Uma falcia um raciocnio enganador. Muitas falcias so argumento invlidos que podemparecer vlidos. As premissas e a concluso de um argumento podem ser verdadeiras ou falsas, mas no sovlidas nem invlidas. Um argumento pode ser vlido ou invlido, mas no pode ser verdadeiro nem falso.

    Lgica aristotlica Na lgica aristotlica reconhecem-se quatro tipos de proposies:A - Universais afirmativas /// Todos os homens so mortais.E - Universais negativas /// Nenhum homem mortal.I - Particulares afirmativas /// Alguns homens so mortais.O - Particulares negativas /// Alguns homens no so mortais. Nas proposies de tipo A, E, I e O, o primeiro termo o termo sujeito; o segundo termo otermo predicado.

    Estes termos podem estar ou no distribudos.- O termo sujeito est distribudo nas proposies universais.- O termo predicado est distribudo nas proposies negativas. Um silogismo um argumento constitudo por trs termos e trs proposies em que ambas as

    premissas e a concluso so proposies de tipo A, E, l ou O.- O termo maior de um silogismo o predicado da concluso e ocorre uma nica vez numa das

    premissas (a premissa maior).- O termo menor de um silogismo o sujeito da concluso e ocorre uma nica vez numa das

    premissas (a premissa menor).- O termo mdio aquele que ocorre em ambas as premissas. Um silogismo vlido se, e apenas se, satisfaz todas as regras de validade silogstica, que sedistribuem por regras para termos e regras para proposies. Existem quatro falcias associadas infraco das regras para termos.

    Regras de validade silogstica para termos1. Um silogismo tem de ter exactamente trs termos. Infraco: falcia dos quatro termos.2. O termo mdio tem de estar distribudo pelo menos uma vez. Infraco: falcia do mdio nodistribudo.3. Se um termo est distribudo na concluso, tem de estar distribudo tambm na premissa emque ocorre. Infraco: falcia da ilcita menor; falcia da ilcita maior.4. O termo mdio no entra na concluso.

    Regras de validade silogstica para proposies4. Um silogismo no pode ter duas premissas particulares5. Um silogismo no pode ter duas premissas negativas.6. Se ambas as premissas de um silogismo so afirmativas, a concluso no pode ser negativa.7. A concluso tem de seguir a parte mais fraca:- Se uma das premissas particular, a concluso tambm tem de ser particular;

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    - Se uma das premissas negativa, a concluso tambm tem de ser negativa.

    Lgica proposicional A lgica proposicional ocupa-se de argumentos cuja validade dedutiva depende de conectivasproposicionais. Reconhecem-se cinco conectivas:- Negao, Conjuno, Disjuno, Condicional, Bicondicional

    - A negao a nica conectiva unria; todas as outras so conectivas binrias, pois ligam duasproposies. Uma proposio simples no tem conectivas. Uma proposio complexa tem pelo menos umaconectiva. As letras maisculas A, B, C... so letras proposicionais. Designam proposies simples. As letras P,Q, R... so variveis de frmula. So lugares que podem ser ocupados por qualquer proposio. Uma tabela de verdade um dispositivo grfico que apresenta todas as combinaes possveis devalores de verdade para as letras de uma frmula da lgica proposicional e nos diz qual o valor deverdade dessa frmula em cada caso. As conectivas proposicionais so definidas por tabelas.

    (Tabela da negao, tabela da implicao, etc.) O mbito de uma conectiva numa dada frmula a parte dessa frmula a que ela se aplica. Sempreque necessrio, utilizam-se parntesis para indicar o mbito das conectivas.

    A conectiva principal de uma frmula aplica-se a toda a frmula. Na construo de tabelas de verdade com mais do que uma conectiva, avana-se das conectivas demenor mbito para as de maior mbito. O resultado final da tabela surge na coluna da conectiva principal. Um inspector de circunstncias uma tabela em que se calculam os valores de verdade das premissase da concluso de um argumento. Para determinar se um argumento vlido, realizam-se os seguintes passos:- constri-se um dicionrio, atribuindo uma letra proposicional a cada proposio simples;- formaliza-se o argumento;- constri-se o inspector de circunstncias;- analisa-se o inspector de circunstncias, concluindo-se que o argumento vlido se, e apenas se, emnenhum caso possvel tiver todas as premissas verdadeiras e a concluso falsa. preciso distinguir duas formas vlidas que se confundem facilmente com duas falciasproposicionais.

    1. Modus ponens 2. Modus Tollens1. Afirmao da consequente 2. Negao da antecedente

    preciso conhecer tambm as seguintes formas vlidas:

    3. Silogismo disjuntivo 4. Silogismo hipottico

    5, Contraposio 6. Leis de De Morgan

    Cada uma destas formas argumentativas, vlidas e invlidas, tem inmeras instncias.

    Captulo 3 Argumentao, retrica e filosofia

    Argumentos informais As generalizaes e as previses so duas espcies de induo. Em ambos os casos, parte-se de

    premissas que dizem respeito a casos particulares, os quais constituem uma amostra. A partir dessaamostra, pode-se extrair uma concluso geral, o que acontece nas generalizaes, ou inferir que algoocorrer no futuro, o que acontece nas previses. Quanto maior a amostra, quanto maior o nmero de casos particulares, melhor ser a induo.Quando mais diversificada a amostra, tambm melhor ser a induo. Os argumentos por analogiabaseiam-se numa comparao. Afirma-se nas premissas que duas coisasso anlogas e que uma delas tem uma certa propriedade. Por analogia, conclui-se que a outra tambm

    tem essa propriedade. Uma analogia no vlida se os objectos comparados no forem semelhantes nos aspectos relevantes. Equanto maiores forem as semelhanas relevantes entre os objectos comparados, melhor ser o argumento.

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    Nos argumentos de autoridade conclui-se que uma proposio verdadeira invocando uma autoridadeque declara que essa proposio verdadeira. Estes argumentos so satisfatrios apenas se: a autoridade invocada for competente; no existirem autoridades igualmente competentes que a contradigam; a autoridade invocada for imparcial.

    Os entimemas so argumentos invlidos se tomados letra, mas que se tornam vlidos casoacrescentemos as premissas em falta. os entimemas so teis quando seria desnecessrio explicitar todas as premissas; os entimemas so enganadores quando as premissas suprimidas ou implcitas so controversas.

    Falcias informais As falcias ad hominem consistem em ataques pessoais. Argumenta-se que uma certa proposio falsa descrevendo de uma forma depreciativa aquele que a defende. As falcias ad misercordiam consistem em apelos piedade. Argumenta-se a favor de uma certa

    proposio tentando despertar os sentimentos de compaixo daqueles que se pretende persuadir. As falcias post hoc consistem em inferncias causais precipitadas. Infere-se que A a causa de B a

    partir de premissas que dizem apenas que A se deu antes de B. Nas falcias de apelo ignorncia afirma-se que no se sabe se uma certa proposio verdadeira,

    inferindo-se da que ela falsa, ou ento afirma-se que no se sabe se uma certa proposio falsa,inferindo-se da que ela verdadeira. Nas falcias de apelo fora tenta-se levar algum a aceitar uma certa concluso a partir de ameaas. Os falsos dilemas so argumentos em que se parte de uma disjuno enganadora. Sugere-se queexistem apenas duas hipteses, quando na verdade essas duas hipteses no esgotam todas as

    possibilidades. Nas peties de princpio pressupe-se indevidamente nas premissas aquilo que se pretende provarcom o argumento. As peties de princpio geram circularidades lgicas, pelo que tambm soconhecidas porfalcias de circularidade.

    Discurso argumentativo A retrica a arte de persuadir atravs do discurso. O retor ou orador recorre s tcnicas da retrica

    para obter a adeso de um certo auditrio s suas perspectivas.

    Segundo Aristteles, a retrica uma arte que no tem um objecto ou assunto determinado. As suastcnicas permitem que se persuada um auditrio a respeito de qualquer assunto. Mas a retrica exerce-senum mbito especfico: o do discurso pblico. Aristteles distingue trs meios de persuaso na retrica. A persuaso pode assentar:- no carcter do orador(ethos);- no estado emocional do auditrio (pathos)',- na prpria argumentao (logos). A argumentao retrica difere significativamente da demonstrao.-As demonstraes so argumentos dedutivamente vlidos cujas premissas so verdades estabelecidas.- Na argumentao retrica aceitam-se premissas meramente provveis, desde que paream verosmeis aoauditrio. Alm disso, a concluso dos argumentos retricos no deduzida explicitamente das

    premissas. De modo a facilitar a adeso do auditrio, recorre-se a exemplos isolados e concebem-seentimemas.

    Um auditrio constitudo por pessoas cuja racionalidade imperfeita ou limitada. O orador deveconhecer as limitaes do auditrio que visa persuadir. A retrica pode ser usada para manipular as pessoas. Quando faz este uso da retrica, o orador tenta tirar

    partido das fraquezas do auditrio de modo a persuadi-lo de uma forma enganadora. Mas a retrica pode tambm ser usada para facilitar a persuaso racional. Quando faz este uso daretrica, o orador tenta suplantar as limitaes do auditrio, argumentando com clareza e esforando-se

    por persuadi-lo com base em razes, sem manobras enganadoras. Nas democracias da Grcia Antiga as decises polticas eram tomadas publicamente. Por isso, eravantajoso dominar as tcnicas da retrica. Os sofistas ensinavam essas tcnicas aos seus alunos,

    preparando-os para a vida poltica. Plato criticou a retrica. Denunciou o seu uso manipulador e op-la filosofia. A filosofia tem em vista o conhecimento. Ao filsofo interessa saber a verdade, saber como as coisasso. Por isso, na actividade filosfica a argumentao subordina-se a este fim.

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    Captulo 4 A actividade cognoscitiva

    Estrutura do acto de conhecimento O conhecimento envolve uma relao entre sujeito e objecto. O primeiro aquele que conhece; osegundo aquilo que conhecido. Existem trs gneros ou conceitos de conhecimento:

    - o conhecimento por contacto, que consiste numa experincia directa dos objectos;- o conhecimento prtico (saber fazer), que consiste em aptides para realizar tarefas;- o conhecimento preposicional (saber que), que consiste em conhecer proposies, em saber queestas so verdadeiras. A anlise ou definio tradicional do conceito de conhecimento preposicional tem a sua origem nodilogo Teeteto, de Plato. De acordo com esta anlise, o conhecimento consiste em crenas verdadeiras justificadas. Mais

    precisamente, um sujeito S sabe que uma proposiop verdadeira se, e apenas se:- S acredita que p;-p verdadeira;- S tem uma justificao para acreditar quep. Existem contra-exemplos a esta anlise que sugerem que ter uma crena verdadeira justificada no

    suficientepara ter conhecimento.

    O problema de Gettier surge desses contra-exemplos. Este o problema de descobrir o que, alm deter uma crena verdadeira justificada, necessrio para ter conhecimento. O problema de Gettier coloca-se apenas se admitirmos que a justificao pode ser falvel. Se exigirmosque a justificao seja infalvel, os contra-exemplos deixaro de existir e esse problema no se colocar.Porm, a aceitao desta exigncia leva concluso implausvel de que qualquer crena que tenha menor

    possibilidade de ser falsa nunca est justificada. O conhecimento a posteriori aquele que depende da experincia. Consiste em crenas verdadeirasque no podem ser justificadas sem dados empricos. O conhecimento a priori aquele que independente da experincia. Consiste em crenas verdadeirasque podem ser justificadas pelo pensamento puro, sem o recurso a dados empricos. Os empiristas defendem que todo o conhecimento dos factos do mundo a posteriori. Os racionalistasdefendem que algum desse conhecimento apriori.

    A teoria explicativa do conhecimento de Descartes A teoria racionalista de Descartes baseia-se na dvida metdica. De modo a encontrar um fundamentoabsolutamente seguro para o conhecimento, devemos comear por rejeitar todas as crenas que admitam amenor dvida. Existem vrias razes para pr em dvida muitas das nossas crenas: os sentidos no so completamente fiveis; podemos estar a sonhar quando nos julgamos acordados; pode existir um gnio maligno que esteja a enganar-nos sistematicamente. Mas algo sobrevive at hiptese do gnio maligno: o cogito, a crena de que eu penso, logo existo. Esta crena uma certeza fundamental, pois compreendemos com toda a clareza e distino que no

    podemos pensar sem existir.

    Tambm a existncia de Deus uma ideia clara e distinta. Deus existe porque:- a ideia de um ser perfeito tem de ter sido causada por um ser perfeito;- um ser perfeito no pode deixar de ter a perfeio de existir. Como Deus existe e no um ser enganador, podemos estar certos de que, se usarmos bem as nossasfaculdades, confiando apenas naquilo que compreendemos com clareza e distino, obteremosconhecimento genuno. O crculo cartesiano representa uma das objeces mais fortes teoria de Descartes. Afirmar que Deusexiste porque concebemos a sua existncia com clareza e distino, e dizer depois que podemos confiarnaquilo que concebemos com clareza e distino porque Deus existe, parece constituir uma falcia decircularidade.

    A teoria explicativa do conhecimento de Hume A teoria empirista de Hume parte de uma distino entre dois tipos de percepes ou contedosmentais: as impresses, que so as percepes mais vvidas, e as ideias, que so as percepes maistnues.

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    De acordo com o princpio da cpia, todas as nossas ideias tm a sua origem em impresses externas(dados dos sentidos) ou internas (sentimentos e desejos). Existem dois gneros de investigao: a investigao de relaes de ideias e a investigao de questesde facto. O conhecimento de relaes de ideias a priori e corresponde a proposies que tm as seguintescaractersticas:

    so verdades necessrias (no podemos neg-las sem nos contradizermos); nada dizem sobre o que existe no mundo. O conhecimento de questes de facto a posteriori e corresponde a proposies que tm as seguintescaractersticas: so verdades contingentes (podemos neg-las sem nos contradizermos); dizem respeito quilo que existe no mundo. Raciocinar sobre relaes de ideias fazerdemonstraes, as quais tm um carcter dedutivo. Raciocinar sobre questes de facto fazerinferncias causais, as quais tm um carcter indutivo. O nosso conhecimento das relaes causais baseia-se na experincia. A causalidade consiste apenas na conjuno constante entre gneros de objectos ou acontecimentosobservveis. Nunca observamos qualquer conexo necessria entre causa e efeito. A ideia de conexo necessriatem origem num sentimento interno produzido pelo hbito.

    Todas as formas de cepticismo radical so indefensveis: O cepticismo cartesiano incurvel. Se comearmos por desconfiar totalmente das nossas faculdades,nunca conseguiremos estabelecer qualquer concluso a partir do cogito. O cepticismo pirrnico impraticvel. Deixar de acreditar em tudo o que no consigamos justificar,vivendo permanentemente na dvida, algo que est fora do nosso alcance e que tornaria impossvel aaco. Devemos adoptar um cepticismo mitigado. O cepticismo resulta das seguintes concluses: Somos incapazes de justificar a crena de que a Natureza uniforme, a qual subjaz s nossas infernciascausais. Somos incapazes de justificar a crena de que o mundo exterior real, pois no conseguimos mostrarque as nossas percepes so causadas por objectos reais. O cptico mitigado ou moderado no reage a estas concluses como o pirrnico. No passa a duvidar detudo aquilo que no consegue justificar, mas toma conscincia dos limites do entendimento humano. Isso

    leva-o a no ser dogmtico e a evitar questes demasiado especulativas.

    Captulo 5 Estatuto do conhecimento cientfico

    Senso comum e cincia O conhecimento vulgar ou de senso comum abrange as crenas amplamente partilhadas plos sereshumanos. A justificao dessas crenas resulta da experincia colectiva e acumulada ao longo de muitasgeraes. O senso comum assistemtico, isto , no constitui um corpo organizado de conhecimento. O conhecimento cientfico, alm de ser sistemtico, tem outras caractersticas que o distinguem dosenso comum:- Proporciona explicaes dos factos.- Resulta de uma atitude crtica, pelo que est permanentemente sujeito a mudanas radicais.- Envolve uma linguagem rigorosa que torna possvel uma avaliao cuidada das teorias. As explicaes cientficas so obtidas a partir de teorias que unificam os fenmenos e que socontrolveis pela experincia.

    Verificabilidade, confirmabilidade e falsificabilidade Uma proposio ou uma teoria verificvel se, e apenas se, for possvel comprov-la recorrendo experincia. A comprovao emprica de uma proposio ou de uma teoria consiste em deduzir a sua verdade a partirda experincia. Uma proposio ou uma teoria confirmvel se, e apenas se, for possvel confirm-la (isto , verific-la parcialmente) recorrendo experincia. A confirmao emprica de uma proposio ou de uma teoria consiste em mostrar a partir daexperincia, por induo, que provavelmente ela verdadeira.

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    Uma proposio ou uma teoria falsificvel se, e apenas se, possvel descobrir que ela falsa (isto ,refut-la) atravs da experincia.

    O problema da induo As inferncias indutivas pressupem o princpio da induo, segundo o qual a Natureza uniforme. O problema da induo o problema de justificar este princpio. Para o fazer, preciso refutar o

    argumento cptico de Hume que visa mostrar que ele injustificvel. Segundo Hume, o princpio da induo no pode ser justificado a prori, pois no uma verdadenecessria. E tambm no pode ser justificado a posteriori, pois qualquer tentativa de o justificar destaforma consistiria num argumento indutivo, o que conduziria a uma petio de princpio. Logo, o princpioda induo no pode ser justificado. Logo, as inferncias indutivas so injustificveis. Popper aceita o argumento de Hume. Mas pensa que, como a cincia no precisa de induo, esteargumento no afecta a credibilidade do conhecimento cientfico. Deste modo, o problema da induofica dissolvido.

    O problema da demarcao O problema da demarcao o problema de encontrar um critrio de cientificidade. Um critrio destegnero diz-nos o que demarca ou distingue as teorias cientficas das outras teorias. De acordo com o critrio da verificabilidade, uma teoria cientfica se, e apenas se, verificvel.

    De acordo com o critrio da confirmabilidade (ou verificabilidade parcial), uma teoria cientfica se,e apenas se, confirmvel.- Popper rejeita estes dois critrios, pois pensa que ambos excluem da cincia as leis que os cientistas

    propem nas suas teorias.- Como tm um carcter universal, essas leis no podem ser comprovadas pela experincia, j que

    podero sempre surgir contra-exemplos.- E as leis nem sequer podem ser confirmadas pela experincia. Como a induo sempre invlida, aexperincia nunca confirma seja o que for.- Para resolver o problema da demarcao, Popper sugere o critrio da falsificabilidade, segundo o qualuma teoria cientifica se, e apenas se, falsificvel. Uma teoria cientfica aquela que est sempresujeita possibilidade de refutao pela experincia.- O critrio da falsificabilidade no exclui as leis, pois estas podem ser refutadas pela experincia.- desejvel que as teorias cientficas sejam falsificveis num grau elevado, pois isso significa que so

    ricas em contedo emprico, isto , que nos dizem muito acerca do mundo que observamos.

    O mtodo cientfico: indutivismo- O indutivista defende a viso popular do mtodo cientfico:- O ponto de partida da investigao cientfica a observao isenta dos factos, realizada sem quaisquer

    pressupostos tericos.- As teorias cientficas so obtidas por induo a partir das premissas que descrevem os factosobservados.- Apresentada a teoria, o cientista procura depois encontrar confirmaes adicionais e toma-a como pontode partida para generalizaes indutivas mais vastas.- Esta perspectiva do mtodo cientfico enfrenta objeces fortes:- A observao depende sempre de expectativas, de suposies e de interesses tericos.- Como certas leis referem objectos que no podem ser observados, impossvel que elas tenham sido

    descobertas mediante uma generalizao indutiva baseada na observao.O mtodo cientfico: falsificacionismo- Popper defende a viso falsificacionista do mtodo cientfico, segundo a qual o mtodo da cincia odas conjecturas e refutaes.- O ponto de partida da investigao cientfica a colocao de problemas.-O cientista prope depois uma teoria para resolver os problemas que lhe interessam. Essa teoria umaconjectura concebida criativamente.- De seguida, importa testar a teoria. Os testes srios consistem em tentativas de refutao e no na

    procura de confirmaes.- Para testar a teoria, deduzem-se delas certas previses empricas.- Se algumas das previses fracassarem, a teoria fica refutada e ser necessrio encontrar uma conjecturamelhor.- Se as previses se revelarem correctas, isso significa apenas que a teoria foi corroborada. Uma teoriacorroborada aquela que sobreviveu ao testes, mas este sucesso que teve no passado no nos permiteinferir que provvel que ela seja verdadeira.

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    - Segundo Popper, a cincia evolui atravs da proposta de conjecturas ousadas e da eliminao dos errospor tentativas de refutao. Esta evoluo traduz-se numa gradual aproximao verdade.- A teoria de Popper tambm enfrenta objeces:- Parece no estar de acordo com a prtica cientfica, pois os cientistas muitas vezes no rejeitam asteorias que conduziram a previses erradas.- Parece tornar irracional a confiana em quaisquer teorias cientficas. Afinal, se as teorias cientficas

    nunca so minimamente confirmadas pela experincia, ento nunca deixam de ser meras conjecturas, epor isso no temos razes para confiar nelas.

    A objectividade da cincia Quem, como Popper, acredita na objectividade da cincia, pensa que as teorias cientficas so descriesda realidade, ainda que imperfeitas, e que medida que o conhecimento cientfico avana vamo-nosaproximando da verdade, obtendo uma imagem cada vez mais correcta da realidade. Kuhn rejeita esta

    perspectiva. Kuhn entende a histria da cincia como uma sucesso de paradigmas.- Um paradigma centra-se numa teoria que proporciona problemas e solues exemplares a umacomunidade de investigadores.

    - Alm dessa teoria, um paradigma inclui pressupostos filosficos e regras de diversos gneros paradesenvolver a actividade cientfica.- Assim, a um paradigma corresponde toda uma forma de fazer cincia numa certa rea de investigao. A cincia normal a actividade cientfica conduzida sob um paradigma. Nos perodos de cincianormal os cientistas pretendem reforar o paradigma e no refut-lo. Para esse efeito, dedicam-se resoluo de enigmas, isto , a solucionar os problemas especializados que se colocam dentro do

    paradigma. As anomalias so os enigmas que resistem s tentativas de resoluo. A acumulao de anomalias gerauma crise. Surge um paradigma rival e a cincia normal d lugar cincia extraordinria. Quando osinvestigadores mudam para o novo paradigma, d-se uma revoluo cientfica. Kuhn defende que os paradigmas so incomensurveis.No podem ser comparados objectivamente demodo a se determinar qual o melhor ou qual est mais prximo da verdade.- A incomensurabilidade dos paradigmas uma consequncia de eles serem radicalmente diferentes: cada

    paradigma tem os seus prprios conceitos, problemas e regras.- No existem critrios de escolha de teorias que permitam avaliar objectivamente paradigmas rivais, peloque essa avaliao envolve sempre factores subjectivos. Kuhn reconhece alguns critrios objectivos para escolher teorias, como a exactido emprica e asimplicidade, mas defende que estes no so suficientes para ditar uma escolha objectiva.- Por um lado, esses critrios so vagos, pelo que a sua aplicao bastante subjectiva. Por outro lado, esses critrios podem entrar em conflito, e o modo como os conflitos so resolvidostambm subjectivo, pois depende daquilo que cada cientista valoriza mais. A tese da incomensurabilidade dos paradigmas parece ter consequncias implausveis, como a de que oheliocentrismo no est mais prximo da verdade do que o geocentrismo. Alm disso, Kuhn parece serincapaz de explicar satisfatoriamente o crescente sucesso terico e prtico da cincia.

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