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78ª Promotoria de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público 1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA __ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA ESTADUAL DA COMARCA DE GOIÂNIA-GO. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, pela Promotora de Justiça que a presente subscreve, com fundamento nos artigos 37, caput e § 4º, e 129, inciso III, da Constituição da República Federativa do Brasil, na Lei nº 7.347/85, nas Leis nº 8.625/93 e 8.429/92 e com base no Inquérito Civil Público nº 013/2017 (Atena nº 201600505009), vem à presença de Vossa Excelência ajuizar a presente AÇÃO de IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA c/c PEDIDO DE TUTELA CAUTELAR em desfavor de: 1. JARDEL SEBBA, brasileiro, casado, prefeito de Catalão/GO, ex-Presidente da ALEGO Assembleia Legislativa do Estado de Goiás, inscrito no CPF sob o nº 039.682.271-15, residente e domiciliado na Rua Jovina Silva Leão, número 173, Loteamento Leão, CEP: 75707- 101, Catalão GO;

78ª Promotoria de Justiça de Goiânia Defesa do Patrimônio ...§ão... · Na época da entrevista à Rádio 730, se tem notícia de que o Requerido LEONARDO COSTA BUENO, que é

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78ª Promotoria de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA __ª VARA DA

FAZENDA PÚBLICA ESTADUAL DA COMARCA DE GOIÂNIA-GO.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, pela

Promotora de Justiça que a presente subscreve, com fundamento nos artigos 37,

caput e § 4º, e 129, inciso III, da Constituição da República Federativa do Brasil, na

Lei nº 7.347/85, nas Leis nº 8.625/93 e 8.429/92 e com base no Inquérito Civil Público

nº 013/2017 (Atena nº 201600505009), vem à presença de Vossa Excelência ajuizar

a presente

AÇÃO de IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA c/c

PEDIDO DE TUTELA CAUTELAR

em desfavor de:

1. JARDEL SEBBA, brasileiro, casado, prefeito de

Catalão/GO, ex-Presidente da ALEGO – Assembleia

Legislativa do Estado de Goiás, inscrito no CPF sob o nº

039.682.271-15, residente e domiciliado na Rua Jovina

Silva Leão, número 173, Loteamento Leão, CEP: 75707-

101, Catalão – GO;

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2. LEONARDO COSTA BUENO, brasileiro, solteiro,

vereador do Município de Catalão, inscrito no CPF sob o nº

889.953.561-20, residente e domiciliado na Rua Posse, nº

77, Bairro Nossa Senhora de Fátima, Catalão/GO;

pelas razões de fato e direito a seguir expostas:

I – DOS FATOS:

O Ministério Público do Estado de Goiás instaurou o

Inquérito Civil Público nº 013/2017 para apurar supostas irregularidades no âmbito da

ALEGO – Assembleia Legislativa do Estado de Goiás, especificamente se o

Requerido LEONARDO COSTA BUENO teria recebido remuneração daquela Casa

sem ter prestado nenhum tipo de contraprestação, ou seja, se seria “funcionário

fantasma”.

A investigação teve início a partir de denúncia apócrifa, que

encaminhou matéria jornalística veiculada no Portal da Rádio 730, em que o

Requerido LEONARDO COSTA BUENO afirmou que ele próprio havia sido contratado

por JARDEL SEBBA, à época em que este ocupou o cargo de Presidente da ALEGO,

para ocupar cargo comissionado naquela Casa, mas que nunca compareceu a seu

local de trabalho.

Na referida matéria jornalística, o Requerido LEONARDO

COSTA BUENO declarou o seguinte: “Leonardo afirma que ele próprio foi

contratado por Jardel, sempre recebeu em dia, mas depois de quatro anos, não

sabe nem onde fica a Assembleia Legislativa. Eu era funcionário do deputado

(Jardel Sebba) e nunca fui na Assembleia. Não sei nem onde fica, eu era

fantasma”.

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Na época da entrevista à Rádio 730, se tem notícia de que

o Requerido LEONARDO COSTA BUENO, que é político influente na cidade de

Catalão e atualmente ocupa o cargo de Vereador, havia rompido politicamente com

JARDEL SEBBA e, por isso, resolveu declarar publicamente que era “funcionário

fantasma” da ALEGO.

Para apurar os fatos, inicialmente, o Ministério Público

oficiou à ALEGO solicitando as informações funcionais do Requerido LEONARDO

COSTA BUENO (fls. 30/31). Em resposta, a ALEGO informou que “não consta em

nossos registros que o Sr. Leonardo Bueno é ou foi servidor desta Casa de Leis” (fl.

35).

Expediu-se carta precatória ministerial à Promotoria de

Justiça de Catalão, solicitando a oitiva do Requerido LEONARDO COSTA BUENO

(fls. 36/70).

Em suas declarações, LEONARDO modificou

integralmente a versão dos fatos. Ao contrário do que LEONARDO COSTA BUENO

havia declarado à Rádio 730, no Ministério Público disse que trabalhou na ALEGO de

2007 a 2010, lotado na “extensão do Gabinete” do Deputado JARDEL SEBBA na

cidade de Catalão, e desempenhava atividades diversas, como marcar reuniões,

montar tendas, etc., e que esporadicamente comparecia à sede da ALEGO para

participar de reuniões.

LEONARDO afirmou que “além do vínculo profissional e

partidário declarante tem vínculos de amizade com JARDEL SEBBA”,

demonstrando que aquele rompimento que houve entre eles à época em que se dirigiu

à Rádio 730 já foi superado e voltaram a ser “amigos”.

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Os autos do Inquérito Civil Público que haviam sido

instaurados e tramitavam na 78ª Promotoria de Justiça foram redistribuídos à 73ª

Promotoria de Justiça, cujo titular é o Dr. Geibson Cândido Martins Rezende.

Recebidos os autos pela 73ª Promotoria de Justiça, fora

oficiado novamente à ALEGO solicitando informações acerca do Requerido

LEONARDO COSTA BUENO. Desta vez, fora informado que ele trabalhou naquela

Casa de 2007 a 2011, tendo ocupado diversos cargos comissionados, com

remuneração que variou de R$ 1.000,00 a R$ 5.900,00, conforme abaixo

demonstrado (fls. 82/83):

Posteriormente, a ALEGO encaminhou cópia integral do

dossiê funcional (fls. 93/207) de LEONARDO COSTA BUENO, e informou que apenas

no período de 1º/02/2009 a 31/01/2011 é que há registro de sua frequência, mas não

encaminhou nenhum documento comprobatório.

Período Cargo Remuneração

02/2007 a 08/2007 Motorista da Presidência

- FEC-3 R$ 1.000,00

09/2007 a 01/2008 Assessor 3 - DAS-3 R$ 2.000,00

02/2008 a 12/2008 Assessor - 4 - DAS-4 R$ 2.500,00

jan/09 Assessor Nível VII - ANI-

7 R$ 5.900,00

02/2009 a 01/2011 Função Gratificada de Secretário Parlamentar

FGSP-07 R$ 1.590,00

02/2011 a 09/2011 Assessor Nível I - ANI 1 R$ 1.500,00

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As fichas financeiras do Requerido LEONARDO informam

que ele recebeu os seguintes valores, a título de remuneração, da ALEGO (fls.

115/124):

Ano Valor

2007 R$ 15.000,00

2008 R$ 7.000,00

2009 R$ 18.947,49

2010 R$ 21.320,57

2011 R$ 16.745,00

Total R$ 79.013,06

Informam, ainda, que LEONARDO recebeu R$ 100.560,00

(cem mil, quinhentos e sessenta reais) a título de gratificação, totalizando, portanto,

R$ 179.573,06 (cento e setenta e nove mil, quinhentos e setenta e três reais, e seis

centavos).

Na sequência, os autos do Inquérito Civil Público

retornaram à 78ª Promotoria de Justiça, por conexão à Ação Civil Pública por Ato de

Improbidade Administrativa nº 0101196.72.2016.8.09.0051, proposta por este Órgão

do Ministério Público.

De todo apurado, não restam dúvidas que o Requerido

LEONARDO COSTA BUENO era “funcionário fantasma” da ALEGO.

Os cargos ocupados pelo Requerido LEONARDO COSTA

BUENO na ALEGO foram concedidos a ele por JARDEL SEBBA, que à época

ocupava a Presidência daquela Casa, como agraciamento ou verdadeira “compra” de

apoio político, não tendo sido exigido de LEONARDO a execução de nenhuma

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atividade proveito do órgão que o remunerava, mas somente em benefício de JARDEL

SEBBA e de suas candidaturas a Deputado Estadual e Prefeito de Catalão.

Ouvido no Ministério Público, o Requerido sequer soube

enumerar as atividades que desempenhava, dizendo genericamente que era

responsável por agendar reuniões e montar tendas, tarefas que os outros 34

Requeridos da Ação de Improbidade Administrativa nº 0101196.72.2016.8.09.0051

também diziam desempenhar, quando na verdade, nenhum fazia nada e sequer

compareciam à ALEGO para trabalhar.

Observa-se, ademais, que um dos cargos ocupados por

LEONARDO na ALEGO foi o de motorista da Presidência, mas ele mesmo disse que

raramente ia à sede da Assembleia e, quando inquirido sobre as funções que

desempenhava, não disse que tinha a função de dirigir, comprovando que ele nem

mesmo sabia qual o cargo que ocupava.

JARDEL SEBBA utilizou o cargo de Presidência da ALEGO

de maneira absolutamente abusiva e imoral, contratando diversos parentes e

correligionários para ocuparem cargos comissionados sem que nenhum prestasse

qualquer atividade de interesse público ou fossem obrigados à comparecerem

regularmente ao local de trabalho, sendo exigido deles apenas que votassem e

fizessem campanha política em seu favor.

O Ministério Público comprovou na Ação de Improbidade

Administrativa nº 0101196.72.2016.8.09.0051 que foram nomeados por JARDEL

SEBBA no mínimo 34 “funcionários fantasmas” para ocuparem cargos comissionados

na ALEGO, todos residentes na cidade de Catalão/GO, que nunca compareceram à

sede da Assembleia Legislativa ou prestaram qualquer atividade de interesse público,

mas se tem a notícia de que JARDEL SEBBA chegou a nomear mais de 300

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“funcionários fantasmas”, que tudo indica que o Requerido LEONARDO COSTA

BUENO é um deles, já que ele próprio assumiu isso publicamente.

II – DO DIREITO:

Os atos praticados pelos Requeridos JARDEL SEBBA e

LEONARDO COSTA BUENO amoldam-se às três modalidades de atos de

improbidade administrativa descritos pela Lei nº 8.429/92, quais sejam:

enriquecimento ilícito (art. 9º), dano ao erário (art. 10º) e violação aos princípios

constitucionais da Administração Pública (art. 11).

O Requerido LEONARDO COSTA BUENO, em ato

voluntário, declarou publicamente em entrevista que concedera à Rádio 730, que era

“funcionário fantasma” da ALEGO e que sequer sabia onde ficava a Assembleia

Legislativa.

Disse, ainda, conhecer muitas pessoas que estavam ou

estiveram na mesma condição de “funcionário fantasma” da ALEGO, que recebiam

suas remunerações sem nenhum tipo de contraprestação.

Detalhe importante é o de que LEONARDO é político

influente no Município de Catalão, atualmente Vereador daquele Município, que na

época da referida entrevista, concedida no ano de 2011, havia rompido politicamente

com JARDEL SEBBA, o que somente reforça a veracidade do que declarou, pois

sabe-se que é nesse momento de briga e ânimos exaltados que a verdade é

revelada.

Mas não é somente pela “confissão” de LEONARDO

COSTA BUENO que se tem certeza de que ele era “funcionário fantasma”. Como já

adiantado, o Ministério Público comprovou na Ação de Improbidade Administrativa nº

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0101196.72.2016.8.09.0051 que a nomeação de “funcionários fantasmas” era prática

costumeira de JARDEL SEBBA à época que esteve na Presidência da ALEGO.

Comprovou-se que JARDEL SEBBA chegou a nomear 34

pessoas, dentre parentes e correligionários, mas acredita-se que esse número chegue

a 300 pessoas, para ocuparem cargos comissionados na ALEGO, todos residentes

na cidade de Catalão, que nunca foram à sede da ALEGO, e que nunca prestaram

qualquer atividade inerente aos cargos que ocupavam.

Ouvido no Ministério Público, LEONARDO COSTA BUENO

disse que suas funções na ALEGO eram as seguintes: “trabalhando com a

população, marcando as reuniões, ajudando a montar tendas, trabalhando no

Município da região, marcando reunião”.

Essas atividades desempenhadas por LEONARDO não

eram de interesse da ALEGO, mas sim eram atividades políticas privadas de

JARDEL SEBBA.

Veja-se: o Requerido trabalhou por mais de 4 (quatro) anos

na ALEGO e sequer sabe descrever com detalhes as suas funções, dizendo apenas

e genericamente que marcava reuniões, montava tendas e trabalhava nos municípios

da região, atividades que todos ou a grande maioria dos Requeridos da Ação de

Improbidade nº 0101196.72.2016.8.09.0051 também diziam desempenhar, mas

nenhum desempenhava de fato, ou quando faziam, era pelo interesse privado de

JARDEL SEBBA.

Além de não saber os cargos que ocupou na ALEGO e

quais eram suas funções, o Requerido LEONARDO também não conhecia nenhuma

pessoa que trabalhava no escritório político de JARDEL SEBBA em Catalão, tendo

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sido claro ao dizer que “não tem o nome das pessoas com quem trabalhou na

extensão do Gabinete do à época Deputado JARDEL SEBBA”.

E mais: não há nenhum registro de ponto de LEONARDO

COSTA BUENO na ALEGO, ele mesmo disse que “não lembra de assinar folha de

ponto; que trabalhava por tarefa e não tinha controle de horário” e, embora a

ALEGO tenha informado ao Ministério Público que no período de 1º/02/2009 a

31/01/2011 existe registro de sua frequência, aquela Casa não encaminhou nenhum

comprobatório do ponto do Requerido.

Por tudo isso, não há dúvidas que o Requerido

LEONARDO COSTA BUENO era “funcionário fantasma” da ALEGO, tendo sido

contratado por JARDEL SEBBA com a finalidade exclusiva de ampliar ou manter sua

base eleitoral, exigindo-se dele apenas comparecer a eventos políticos privados

promovidos pelo ex-Deputado.

Assim, por ter recebido da ALEGO valores a título de

remuneração sem prestar nenhum tipo de contraprestação, o Requerido LEONARDO

COSTA BUENO enriqueceu-se ilicitamente às expensas do Poder Público,

encontrando-se incurso na conduta descrita no art. 9º caput e inc. VIII, da Lei nº

8.429/92, verbis:

Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa

importando enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas

entidades mencionadas no art. 1° desta lei, e notadamente: [...] VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de

consultoria ou assessoramento para pessoa física ou jurídica que tenha interesse suscetível de ser atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições

do agente público, durante a atividade;

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O Requerido JARDEL SEBBA também enriqueceu-se

ilicitamente, na medida que utilizou para fins particulares de serviços pagos pela

ALEGO, pois o Requerido LEONARDO COSTA BUENO recebia salário para ser seu

cabo eleitoral, desempenhando atividades de seu interesse particular, logo, incorreu

na conduta descrita no caput do art. 9º da Lei nº 8.429/92.

O valor do enriquecimento ilícito dos Requeridos

corresponde ao valor recebido por LEONARDO COSTA BUENO da ALEGO,

LEONARDO por ter recebido sem trabalhar e JARDEL SEBBA por ter deixado de

pagar pessoalmente por serviços ou “compra” de apoio político de seu interesse

particular, devendo, portanto, responderem solidariamente.

As fichas financeiras do Requerido LEONARDO informam

que ele recebeu os seguintes valores a título de remuneração e gratificação da

ALEGO (fls. 115/124):

PARCELA VALOR DO PRINCIPAL

REMUNERAÇÃO R$ 79.013,06

GRATIFICAÇÃO R$ 100.560,00

TOTAL R$ 179.573,06

Saliente-se que esta modalidade de ato de improbidade

administrativa – enriquecimento ilícito – é necessário que a conduta do agente seja

praticada com dolo. In casu, o dolo está evidenciado, pois o Requerido JARDEL

SEBBA tinha plena consciência de que estava contratando LEONARDO COSTA

BUENO para ser seu cabo eleitoral, sem sequer exigir dele que comparecesse a seu

local de trabalho, e LEONARDO também tinha consciência disso, que seria

remunerado pela ALEGO sem nada ter de fazer, a não ser votar e dar apoio político a

JARDEL SEBBA.

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A segunda modalidade de ato de improbidade

administrativa é o que causa prejuízo ao erário, tipificado no art. 10 da Lei nº

8.429/92.

Diferentemente do que ocorre no enriquecimento ilícito,

esta modalidade de ato ímprobo permite a responsabilização do agente público que

tenha agido com dolo ou culpa.

Em análise ao art. 10 da Lei nº 8.429/92, Emerson Garcia

e Rogério Pacheco Alves1 averbam que “qualquer diminuição do patrimônio público

advinda de ato inválido será ilícita, pois 'quod nullun est, nullum producit effectum',

culminando em caracterizar o dano e o dever de ressarcir”.

Deste modo, como o Requerido LEONARDO COSTA

BUENO recebeu indevidamente da ALEGO a quantia de R$ 179.573,06, sem ter

executado nenhuma atividade de interesse público ou inerente aos cargos que

ocupou, ele e JARDEL SEBBA, que foi o agente público que permitiu e executou o

ato, devem respondem solidariamente pelo dano sofrido pelos cofres da ALEGO,

encontrando-se incursos no caput do art. 10 da Lei nº 8.429/92:

Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que

causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou

haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente:

1 GARCIA, Emerson; ALVES, Rogério Pacheco. Improbidade Administrativa. 3ª Edição, 2006. Ed. Lumen Juris. p. 265.

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O Requerido JARDEL SEBBA, por ter permitido, facilitado

ou concorrido para que LEONARDO COSTA BUENO tenha se enriquecido

ilicitamente, também encontra-se incurso no inc. XII do supracitado artigo:

XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se

enriqueça ilicitamente;

Finalmente, a terceira classe dos atos de improbidade

administrativa contempla os atos que atentam contra os princípios da administração

pública. Esta classe encontra previsão no artigo 11 da Lei nº 8.429/92.

Por descumprirem os princípios regentes da atividade

administrativa insculpidos no art. 37, caput, da Constituição Federal, notadamente os

princípios da legalidade, moralidade, impessoalidade e eficiência, os Requeridos

também incorreram na prática de ato de improbidade administrativa tipificado no art.

11, caput, e inciso I, da Lei 8.429/92.

Nesse ponto, imperioso destacar as lições de Marino

Pazzaglini Filho2, que sustenta que violar um princípio “é a MODALIDADE MAIS

GRAVE E IGNÓBIL DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA, pois contempla o

comportamento torpe do agente público que desempenha funções públicas de

sua atribuição de forma desonesta e imoral”.

O primeiro princípio descrito no art. 37 da Constituição

Federal é o princípio da legalidade, o qual, segundo Celso Antônio Bandeira de

Mello3, “É o princípio basilar do regime jurídico-administrativo (...). É o fruto da

submissão do Estado à lei. É em suma: a consagração da ideia de que a

Administração Pública só pode ser exercida na conformidade da lei e que, de

2 MARINO PAZZAGLINI FILHO. Lei de Improbidade Administrativa Comentada, Atlas, 2002, p. 54. 3 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 9. ed. São Paulo: Malheiros, 1997, p. 58 e 59).

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conseguinte, a atividade administrativa é atividade sublegal, infralegal, consistente na

expedição de comandos complementares à lei”.

Hely Lopes Meirelles4, ao abordar o tema, lembra que “A

eficácia de toda atividade administrativa está condicionada ao atendimento da lei. (...)

As leis administrativas são, normalmente, de ordem pública e seus preceitos não

podem ser descumpridos, nem mesmo por acordo ou vontade conjunta de seus

aplicadores e destinatários, uma vez que contêm verdadeiros poderes-deveres,

irrelegáveis pelos agentes públicos. Por outras palavras, a natureza da função pública

e a finalidade do Estado impedem que seus agentes deixem de exercitar os poderes

e de cumprir os deveres que a lei lhes impõem”.

Assim, com amparo nos ensinamentos da melhor doutrina,

resta sobejamente demonstrado que os Requeridos violaram o princípio da legalidade,

pois, foram arquitetaram um “esquema” de obterem vantagem econômica indevida e

favorecerem politicamente, sem prestarem nenhuma atividade de interesse público.

O princípio da impessoalidade, por sua vez, tem

recebido diversas interpretações. Segundo Maria Sylvia Zanella di Pietro5:

Exigir impessoalidade da Administração tanto pode

significar que esse atributo deve ser observado em relação aos administrados como à própria Administração. No

primeiro sentido, o principio estaria relacionado com a

finalidade pública que deve nortear toda a atividade administrativa. Significa que a Administração não pode atuar com vistas a prejudicar ou beneficiar pessoas

determinadas, uma vez que é sempre o interesse público que tem que nortear o seu comportamento. No segundo sentido, o princípio significa, segundo José

Afonso da Silva baseado na lição de Gordillo que os atos e

4 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 22. ed. São Paulo: Malheiros, 1997. p. 82). 5 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2004, p. 71.

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provimentos administrativos são imputáveis não ao

funcionário que os pratica, mas ao órgão ou entidade administrativa da Administração Pública, de sorte que ele é o autor institucional do ato. Ele é apenas o órgão que

formalmente manifesta a vontade estatal."

Os Requeridos agiram com pessoalidade, praticando atos

visando interesses próprios, LEONARDO COSTA BUENO de ser remunerado com

dinheiro público sem ter de trabalhar, e JARDEL SEBBA em manter ou ampliar sua

base eleitoral.

O princípio da moralidade administrativa também não

foi respeitado.

Para Celso Antônio Bandeira de Mello6, de acordo com o

princípio da moralidade administrativa, “a Administração e seus agentes têm de atuar

na conformidade de princípios óticos. Violá-los implicará violação ao próprio Direito,

configurando ilicitude que assujeita a conduta viciada a invalidação, porquanto tal

princípio assumiu foros de pauta jurídica, na conformidade do art. 37 da Constituição.

Compreendem-se em seu âmbito, como é evidente, os chamados princípios da

lealdade e boa-fé”.

A imoralidade decorre das próprias condutas dos

Requeridos, contrárias aos valores éticos e morais e sobretudo, contrárias à lei.

Os Requeridos também agiram contrários aos interesses

da Instituição que representavam, especialmente JARDEL SEBBA, que na qualidade

de Presidente do Legislativo Goiano, deveria ser o agente com a maior qualificação

possível, diligente em seus atos, compromissado incondicionalmente com a lei, mas

6 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 9. ed. São Paulo: Malheiros, 1997. p. 72 e 73.)

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como não tem nenhum respeito com o povo, preferiu utilizar do cargo para obter

vantagem indevida e praticar atos ilícitos.

Por fim, quanto ao princípio da eficiência, Hely Lopes

Meirelles7 ensina o seguinte:

Dever de eficiência é o que se impõe a toda agente público

de realizar suas atribuições com presteza, perfeição e rendimento funcional. É o mais moderno princípio da função administrativa, que já não se contenta em ser

desempenhada apenas com legalidade, exigindo resultados positivos para o serviço público e satisfatório atendimento das necessidades da comunidade e de seus

membros.

Assim, é inegável que os Requeridos JARDEL SEBBA e

LEONARDO COSTA BUENO não agiram com presteza, perfeição ou rendimento

funcional, eles agiram ardilosamente para auferirem benefícios às expensas do Poder

Público, sendo absolutamente ineficientes e incapazes de desempenharem qualquer

função ou cargo público.

Com efeito, pelos atos que importaram enriquecimento

ilícito, lesão ao patrimônio público e que atentaram contra os princípios da

administração pública, JARDEL SEBBA e LEONARDO COSTA BUENO estão sujeitos

às penalidades do art. 12, I, II e III, da Lei 8.429/92.

III – DA TUTELA DE URGÊNCIA

A Lei n.º 7.347/85 prevê expressamente no seu art. 12 a

possibilidade de concessão de liminar com ou sem justificação prévia para evitar dano

7 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 22ª ed. São Paulo: Malheiros, 1997.p. 90.

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irreparável ou de difícil reparação, presentes, claro, os requisitos do fumus boni iuris

e do periculum in mora.

No mesmo sentido, o art. 300 do CPC dispõe que:

Art. 300 - A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do

direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo”.

Na sequência, o art. 301 do CPC trata do poder geral de

cautela do juiz, que autoriza a ele adotar qualquer medida idônea para assegurar o

direito invocado pela parte, verbis:

Art. 301. A tutela de urgência de natureza cautelar pode ser efetivada mediante arresto, sequestro, arrolamento de

bens, registro de protesto contra alienação de bem e qualquer outra medida idônea para asseguração do direito.

A probabilidade do direito repousa na vasta prova

documental acostada autos, especialmente: a) na própria “confissão” do Requerido

LEONARDO COSTA BUENO que em 2011 declarou à Rádio 730 que era “funcionário

fantasma” da ALEGO, b) não há registro de frequência; c) o Requerido LEONARDO

não sabe descrever as atividades que executava no exercício dos cargos que ocupou;

d) o Requerido LEONARDO não conhece e nem soube dizer o nome de nenhuma

outra pessoa que trabalhava no escritório político de JARDEL SEBBA em Catalão.

Ademais, é bom registrar que o Ministério Público tenha

ciência que os Requeridos virão com força tentando demonstrar que LEONARDO

executava sim tarefas inerentes aos cargos que ocupava na ALEGO, a prática

78ª Promotoria de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público

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demonstra que os itens enumerados no parágrafo acima são típicos do “funcionário

fantasma”, daquele agente que não comparece ao seu local de trabalho.

O segundo requisito para concessão da tutela de urgência

- perigo de dano ou ao resultado útil do processo – também se encontra presente.

As provas ou, no mínimo, evidências de que os Requeridos JARDEL SEBBA e

LEONARDO COSTA BUENO praticaram atos que acarretaram seus enriquecimentos

ilícitos, causaram danos ao erário e atentaram contra os princípios constitucionais da

administração pública, exige, nesse momento, a contrição de seus bens para

assegurar o ressarcimento ao Poder Público, evitando que dilapidem seus patrimônios

ou pratiquem qualquer ato fraudulento.

Diante do exposto, presentes os requisitos autorizadores

para concessão da tutela de urgência previstos no artigo 300 do CPC, o Ministério

Público requer a concessão da indisponibilidade de bens dos Requeridos JARDEL

SEBBA e LEONARDO COSTA BUENO até o limite de R$ 1.792.245,81 (um milhão

setecentos e noventa e dois mil duzentos e quarenta e cinco reais e oitenta e um

centavos), que corresponde ao valor do dano ao erário, devidamente atualizado,

acrescido do valor da multa civil, que nos termos do art. 12, II, da Lei nº 8.429/92,

equivale a duas vezes o valor do dano.

VALOR TOTAL R$ 179.573,06

VALOR TOTAL ATUALIZADO R$ 597.415,27

MULTA CIVIL (art. 12, II, Lei nº 8.429/92)

R$ 1.194.830,54

TOTAL A SER BLOQUEADO R$ 1.794.245,81

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Acerca da possibilidade de constrição de bens

considerando o valor da multa civil elencada na Lei de Improbidade Administrativa,

confira-se a ementa do seguinte enunciado de jurisprudência do TJGO:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. INDISPONIBILIDADE DE BENS. 1- A concessão de medida liminar em ação civil pública por ato de improbidade administrativa, com a

decretação de indisponibilidade de bens da parte requerida, tem seu fundamento no artigo 7º, da Lei nº 8.429/1992, e reclama, para a sua concessão, a presença

concomitante do fumus boni iuris e do periculum in mora, em, juízo de cognição sumária. Cumpre ressaltar que, conforme precedente do STJ, o periculum in mora, nesse

caso, é presumido. INDISPONIBILIDADE DE BENS LIMITADA AO VALOR INDICADO NA INICIAL DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA ACRESCIDO DA MULTA LEGAL. 2-

Considerando que, na inicial da presente ação de improbidade, o representante ministerial quantifica inicialmente o prejuízo ao erário na esfera de R$23.253,92

(vinte e três mil, duzentos e cinquenta e três reais e noventa e dois centavos), deve ser esta a quantia considerada na decretação de indisponibilidade dos bens, devendo ser

acrescentado o valor da multa civil, que nos termos do art. 12, II, da Lei nº 8.29/92, equivale à duas vezes o valor do dano. PLURALIDADE DE RÉUS. BLOQUEIO DO VALOR

INTEGRAL. POSSIBILIDADE. 3- Em caso de pluralidade de réus e não sendo possível quantificar, de plano, o montante do prejuízo atribuível a cada um deles, devem ser

mantidos bloqueados tanto quantos bens forem necessários para garantir a execução de eventual sentença condenatória, vez que somente após a formação do

contraditório e da instrução processual é que poderá ser exigido e emitido um juízo de certeza acerca do alcance da decisão com relação a cada réu. AGRAVO DE

INSTRUMENTO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. (TJGO, Agravo de Instrumento ( CPC ) 5179247-

34.2017.8.09.0000, Rel. Sebastião Luiz Fleury, 4ª Câmara Cível, julgado em 20/09/2017, DJe de 20/09/2017)

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A constrição deve ser realizada por meio do sistema

BacenJud 2.0, eis que possível o uso de penhora on line de forma cautelar e não

somente na fase de execução, o que inegavelmente geraria efetividade ao processo.

Se o bloqueio dos valores nas contas bancárias dos

Requeridos não alcançar a cifra referendada, requer seja decretada a

indisponibilidade de seus bens imóveis e veículos, com expedição de ofícios aos

quatro cartórios de registro de imóveis de Goiânia/GO e Catalão/GO, bem como a

expedição de ofícios ao DETRAN/GO para registrar a indisponibilidade nos cadastros

dos veículos de propriedade dos Requeridos.

IV – DOS PEDIDOS:

Ante o exposto, o Ministério Público requer:

1. o deferimento da medida cautelar incidental inaudita altera pars, consistente na

decretação de indisponibilidade de bens dos Requeridos JARDEL SEBBA e

LEONARDO COSTA BUENO até o limite de R$ 1.792.245,81 (um milhão

setecentos e noventa e dois mil duzentos e quarenta e cinco reais e

oitenta e um centavos), que corresponde ao valor do dano ao erário,

devidamente atualizado, acrescido do valor da multa civil, que nos termos do

art. 12, II, da Lei nº 8.429/92, equivale a duas vezes o valor do dano.

2. a notificação pessoal dos Requeridos, nos termos do artigo 17, § 7º, da Lei

8.429/92;

3. o recebimento da inicial, nos termos do artigo 17, § 9º, da Lei de Improbidade

Administrativa e posterior citação dos Requeridos;

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4. a citação do Estado de Goiás, na pessoa de seu Procurador-Geral, com

endereço na Praça Dr. Pedro Ludovico Teixeira, n.º 03, Centro, Goiânia/GO,

CEP 74003-010, nos termos do art. 17, § 3º, da Lei 8.429/92;

5. a procedência do pedido para condenar os Requeridos JARDEL SEBBA e

LEONARDO COSTA BUENO nas penas do art. 12, I, II e III, da Lei nº 8.429/92,

por JARDEL SEBBA ter incorrido nas condutas descritas no art. 9º, 10º, caput

e inc. XII e 11 caput e inc. I, da Lei nº 8.429/92, e LEONARDO COSTA BUENO,

nas condutas descritas no art. 9º, caput e inc. VIII, 10º caput e 11 caput, da

mesma Lei.

6. a condenação dos requeridos ao pagamento de custas e emolumentos

processuais e ônus de sucumbência;

7. a juntada do inquérito civil n.º 013/2017 (registro Atena n.º 201600505009),

bem como a produção de todas as provas legalmente admitidas.

Valor da causa: R$ 1.792.245,81 (um milhão setecentos

e noventa e dois mil duzentos e quarenta e cinco reais e oitenta e um centavos).

Goiânia, 07 de dezembro de 2017.

VILLIS MARRA Promotora de Justiça

Defesa do Patrimônio Público