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Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
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A INTEGRAÇÃO DOS RECURSOS TECNOLÓGICOS NO ENSINO DE JOVENS E ADULTOS: DESAFIOS E PERSPECTIVAS
Maria Francilene Câmara SANTIAGO (SEEC-RN)1 Francisca Otília NETA (UERN)2
Resumo: O objetivo deste trabalho é apresentar como os professores de educação de jovens e adultos (EJA) de uma escola estadual em Apodi/RN, estão trabalhando em sala de aula com as novas tecnologias da informação e comunicação existente na escola. Nesta realidade, constatamos que existe a necessidade da efetivação de novas praticas docentes que dinamizem os processos de aprendizagem com a incorporação das mídias educacionais. A pesquisa foi desenvolvida com quatro professores e o gestor escolar, partindo de relatos de como os recursos midiáticos estão sendo utilizados na EJA. A investigação nos mostrou que inexiste um trabalho consistente nesse sentido, seja pela despreparação dos professores, pela carência de apoio técnico ou pedagógico. Palavras-chave: Educação de Jovens e Adultos; Novas Tecnologias da
informação e Comunicação; Formação Continuada de professores.
Abstract: The objective of this paper is to present how teachers education for youth and adults (EJA) a state school Apodi/ RN, are working in the classroom with the new technologies of information and communication existing in school. In this reality, we find that there is a need of effective new teaching practices that streamline the learning process with the incorporation of educational media. The research was conducted with four teachers and school management, from accounts of how the media resources are being used in the EJA. Research has shown us that no overall consistent work in this direction, either by despreparação teachers, the lack of technical support or teaching. Keywords: Youth and Adults; New Technologies of Information and Communication, Continuing Education of Teachers. Keywords: Youth and Adults; New Technologies of Information and
Communication, Continuing Education for Teachers
1 Secretaria Estadual de Educação do Rio Grande do Norte.
2 Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.
Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
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Introdução
No mundo de hoje, novos desafios se apresentam ao cenário educacional,
entre estes o uso das diversas ferramentas tecnológicas denominadas de
tecnologias da informação e comunicação – NTIC’s, que apontam novas
possibilidades para que o ensino e aprendizagem percorram caminhos até então
desconhecidos por muitos atores escolares.
A introdução das NTIC’s no processo ensino aprendizagem de Educação de
Jovens e Adultos cria possibilidades para um novo fazer pedagógico, baseado na
elaboração de novas propostas educacionais que promovam o desenvolvimento de
uma disposição reflexiva sobre novas formas de construir os conhecimentos e os
usos tecnológicos como também o processo de argumentação, produção,
construção e autonomia dos estudantes enquanto seres ativos dessa construção do
saber sistematizado.
Desse modo os objetivos desse trabalho são: investigar se as mídias
educacionais existentes na escola estão sendo trabalhadas pedagogicamente no
ensino de EJA especificamente e se não estão quais seriam as razões relevantes
que impedem ou possibilitam o uso das mídias nas práticas escolares.
A pesquisa em foco tem como objetivos específicos, constatar as razões pelas
quais os professores não utilizam com frequência as novas tecnologias em sala de
aula, analisar as condições de funcionamento dos recursos tecnológicos existentes
na escola e colaborar para a melhoria da escolaridade dos jovens e adultos através
das mídias educacionais.
A problemática do estudo consiste em analisar como os professores da EJA
utilizam as novas tecnologias – NTICs no processo de ensinar e de aprender e como
estas podem contribuir nesse processo. Esse questionamento é relevante, pois o
conhecimento produzido deve auxiliar e instrumentalizar os profissionais da área
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de educação a trabalharem pedagogicamente com as novas tecnologias da
informação e comunicação.
Cada docente pode encontrar sua forma mais adequada de integrar as várias
tecnologias e os muitos procedimentos metodológicos. Mas também é importante
que amplie, que aprenda a dominar as formas de comunicação interpessoal/grupal e
as de comunicação audiovisual/telemática (MORRAN,MASETTO e
BEHRENS,2000, p.32).
Mediante o grande avanço das novas tecnologias educacionais os professores
precisam se apropriar desse novo conhecimento, dessa forma de comunicação, para
que possa encontrar maneiras eficientes de adequar esses recursos a sua prática
docente de forma que favoreça aprendizagens significativas.
A partir desse diagnóstico pensamos em numa proposta de ação a ser
desenvolvida na escola com o tema: “A Integração dos Recursos Tecnológicos no
Ensino de Jovens e Adultos: Desafios e Perspectivas” e que tem como pergunta
inicial: As novas tecnologias contribuem para a aprendizagem dos alunos da EJA?
Essa investigação acontecerá numa escola estadual.
Para desenvolver esse trabalho de pesquisa, utilizamos a seguinte
metodologia: coleta de dados, aplicação de questionários, entrevistas, observação
e pesquisa bibliográfica e empírica. Com esses instrumentos esperamos fazer
descobertas importantes que possam contribuir para a utilização das NTIC’s na EJA.
Esse trabalho de pesquisa da temática em foco foi organizado em partes.
Na primeira apresentamos a história da EJA em Apodi, na segunda estão os
apontamentos teóricos que discutem a utilização da tecnologia como estratégia
pedagógica. Na terceira parte constam os procedimentos metodológicos da
pesquisa, como e onde os dados foram coletados e analisados. Para finalizar
faremos as considerações dos resultados alcançados nesse estudo e as possíveis
possibilidades de intervenções para redimensionar a prática docente mediante a o
uso das NTIC’s,
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Pretendemos com esse trabalho um resultado que possa sensibilizar os
professores para incorporar nas propostas curriculares a introdução das NTIC’s,
uma vez que alguns atores escolares se sentem desmotivados e desinteressados
para utilizar essas ferramentas no seu trabalho didático.
A história da educação de jovens e adultos em apodi
A história da EJA no município de Apodi/RN teve inicio com o ensino do
Movimento Brasileiro de Alfabetização, no ano de 1972, na Escola Estadual Ferreira
Pinto. As informações ora aqui apresentadas estão expressas no Plano Estratégico
de Implantação de Jovens e Adultos, documento oficial elaborado pela Secretaria
Municipal de Educação de Apodi/RN em 2010.
O MOBRAL surgiu como um prosseguimento das campanhas de alfabetização de
adultos iniciadas com Lourenço Filho. O programa foi criado pela Lei n° 5.379, de
15 de dezembro de 1967, propondo a alfabetização funcional de jovens e adultos,
visando “conduzir a pessoa humana (sic) a adquirir técnicas de leitura, escrita e
cálculo como meio de integrá-la a sua comunidade, permitindo melhores condições
de vida”.
Apesar da ênfase na pessoa, ressaltando-a, numa redundância, como humana
(como se a pessoa pudesse não ser humana), nessa concepção de reprodução
ideológica vê que o objetivo do MOBRAL relaciona a ascensão escolar, deixando à
margem a análise das contradições sociais inerentes ao sistema capitalista.
A efetivação deste Programa ocorreu em nível municipal promovendo várias
atividades dos programas: Programa de Alfabetização Funcional e Programa de
Educação Integrada. O PAF tinha como objetivo alfabetizar o jovem e o adulto,
enquanto o PEI atendia à clientela já alfabetizada.
O PEI foi implantado no município de Apodi/RN em abril de 1980, na Escola
Estadual Ferreira Pinto. Este programa foi criado para dar continuidade ao PAF. O
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aluno considerado aprovado recebia uma espécie de promoção passando para uma
fase na qual teria a continuidade e progressividade das condições educativas além
de proporcionar conhecimentos básicos relativos aos conteúdos das referentes
áreas, correspondentes ao núcleo comum das quatro primeiras séries do primeiro
grau, o atual Ensino Fundamental.
Em abril de 1981 teve início o Supletivo de Primeiro Grau- SPG, desenvolvido
através do Ministério da Educação e Cultura, também chamado de Projeto Minerva,
cujo objetivo seria unificar a identidade visual e cultural, através de um padrão
exclusivo de acordo com a flexibilidade necessária para atender a sua clientela. As
aulas do Projeto Minerva eram ministradas através do serviço de radiodifusão do
MEC, com o objetivo de atender a clientela das séries iniciais do curso primário,
que se encontrava fora da faixa etária para o ingresso no ensino regular.
Além de funcionar o Projeto Minerva, em 1986 passou a funcionar o Supletivo
de Primeiro Grau, que tinha como objetivo proporcionar condições de escolarização
às pessoas “fora de faixa escolar”, para concluírem o antigo curso primário, sendo
que as aulas do SPG não eram ministradas via radiodifusão, eram aulas presenciais.
A Escola Estadual Ferreira Pinto também sediou o SPG no turno noturno, atendendo
alunos da zona urbana.
A expansão da EJA, essa modalidade de ensino foi implantada na Escola
Estadual Professora Alvani de Freitas Dias, em março de 1994, com a denominação
de Supletivo de Educação Básica, organizado por etapas para atender aos alunos
das séries iniciais (alfabetização e 1º ao 5º ano) hoje com faixa etária a partir dos
12 anos de idade.
Posteriormente em 1997, essa modalidade de ensino recebe uma nova
classificação sendo chamada de Educação de Jovens e Adultos, essa nova definição
passou a ser dividida em quatro níveis: 1º, 2º, 3º e 4º.
Ressaltando que esses níveis foram criados de forma gradativa transcorrendo
o seguinte percurso: em 1997 foram criados o 1º e 2º níveis (2º ao 5º ano), em
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1998, o 3º nível (6º E 7º anos) com 03 turmas e em 1999, o 4º nível com uma turma
(8º e 9º anos).
No documento pesquisado e nas entrevistas realizadas constata-se que o
conteúdo era ministrado de forma mecânica e descontextualizada. Os textos eram
fragmentados e baseados em cartilhas que apenas objetivava a decodificação de
signos linguísticos. O planejamento era realizado individualmente, onde cada
docente desenvolvia sua prática de sala de aula isoladamente sem considerar a
importância do trabalho coletivo.
No que concerne aos recursos didáticos e financeiros, estes eram escassos e
provenientes de outros segmentos de ensino. Não existia livro didático nem para o
aluno, nem para o professor. O único recurso disponível era o giz e o quadro negro.
Tratando-se da mudança de concepção do processo ensino-aprendizagem
com relação ao professor, esse fato teve início a partir de 1996, quando os
docentes começaram a participar dos cursos de capacitação promovidos pela
Secretaria Estadual de Educação do Rio Grande no Norte, concedendo informações
sobre os avanços, os limites, as possibilidades e as dificuldades pedagógicas a partir
das novas teorias de ensino, baseadas nos escritos de Paulo Freire e Emília
Ferreiro.
O quadro a seguir apresenta os programas de alfabetização desenvolvidos no
município de Apodi/RN de 2002 a 2011 ao atendimento de alunos de Jovens e
Adultos.
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QUADRO 01 – Programas de Alfabetização desenvolvidos em Apodi/RN
PROGRAMAS ANO
Nº DE TURMAS TOTAL DE TURMAS
TOTAL DE ALUNOS
ATENDIDOS ZONA RURAL
ZONA URBANA
PROEJA 2002 15 06 21 428
ALFABETIZAÇÃO SOLIDÁRIA
2002 05 05 10 275
BB EDUCAR 2003 10 05 15 301
BB EDUCAR 2004 13 05 18 365
ALFABETIZAÇÃO SOLIDÁRIA
2004
18
10
28
668 EJA – FAZENDO
ESCOLA
2004
10
07
17
353 ALFABETIZAÇÃO
SOLIDÁRIA
2005
49
13
62
852 LENDO E
APRENDENDO
2006
97
114
211
4.687 LENDO E
APRENDENDO
2007
107
23
130
7.548 LENDO E
APRENDENDO
2008
63
35
98
2.872 BRASIL
ALFABETIZADO
2009
15
-
15
300 BRASIL
ALFBETIZADO
2010
03
35
38
400
Fonte: Plano Estratégico de Implantação da Educação de Jovens e Adultos da Secretaria Municipal de Educação de Apodi-RN, 2011.
O quadro a seguir apresenta os programas de alfabetização desenvolvidos no
município de Apodi/RN de 2002 a 2011 ao atendimento de alunos de Jovens e
Adultos.
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QUADRO 02
PROGRAMAS ANO Nº TOTAL DE TURMAS Nº DE ALUNOS ATENDIDOS NAS
ZONAS RURAL E URBANA
EJA FAZENDO ESCOLA 2004 17 353
2005 36 679
2006 35 672
2007 08 90
MOVA BRASIL 2010 45 500
Fonte: Plano Estratégico de Implantação da Educação de Jovens e Adultos da Secretaria Municipal
de Educação de Apodi-RN, 2011. Pesquisa feita através de documento: Plano Estratégico de Implantação da Educação de Jovens e Adultos, Secretaria Municipal de Educação. Janeiro de 2011.
A 13ª DIRED atendeu entre 2000 e 2006, aos alunos de EJA, ofertando
Exames Supletivos para o Ensino Fundamental e Médio, momento este que
oportunizou a muitos jovens adultos e idosos concluírem o Ensino Fundamental e
Médio e consequentemente o ingresso no mercado de trabalho, ou dar sequência
aos estudos em outras instâncias educacionais. Estes dados são evidenciados
quando essas pessoas procuram a 13º. DIRED para receberem certificados ou
declarações para levarem ao trabalho ou para universidades após sua aprovação.
Os Exames Supletivos foram substituídos pela Comissão Permanente dos
Exames Supletivos na Escola Estadual Professor Antônio Dantas desde abril de 2007,
com o objetivo de melhor atender a demanda que se encontrava fora da faixa
escolar e desejava concluir o ensino; beneficiando pessoas do município de Apodi e
região do Oeste Potiguar.
Mediante o contexto acima apresentado, percebemos que a modalidade de
ensino de Educação de Jovens e Adultos tem contribuído ao longo dos tempos para
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garantir a muitas pessoas que na idade regular de escolarização não tiveram a
oportunidade de estudar, novas possibilidades de aprendizagens.
A educação de jovens e adultos e as novas tecnologias
No atual contexto educacional, onde as informações se processam e se
transformam com muita rapidez, entendemos que, enquanto educadores, temos a
função de mediar o processo ensino aprendizagem de forma que essas informações
sejam transformadas em conhecimento num processo dialógico; para construção do
saber.
Nesse novo cenário educacional entendemos que o ensino de jovens e
adultos é uma modalidade que precisa estar atento às múltiplas necessidades de
aprendizagens que esta clientela apresenta, pois não é possível mais conduzir esse
processo de forma mecânica e descontextualizada do conhecimento do mundo
globalizado.
A escola não pode ignorar as NTICs educacionais e as novas formas de
sistematizar o saber escolar que estas possibilitam. Nesse contexto, os
conhecimentos são construídos e reconstruídos sob a dialética que o saber se
renova cotidianamente. O ensino de EJA e as novas mídias educacionais devem
favorecer novas possibilidades para conectar a escola ao mundo, com a informação
real que favoreça novas formas de ensinar e de aprender.
Refletindo sobre nossa realidade em EJA numa escola no município de Apodi-
RN no segmento do Ensino Fundamental do 2º ao 5º período onde realizamos a
pesquisa, percebemos que ainda existem muitos desafios a serem rompidos pelos
educadores para que possam atingir os objetivos propostos para essa modalidade
educacional no que se refere às suas funções: reparadora, equalizadora e
qualificadora.
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para que o processo de ensino e de aprendizagem na EJA aconteça de forma
eficiente e eficaz se faz necessário que a escola replaneje suas ações rompendo
com a linearidade da aprendizagem e com o estigma de que essa clientela não é
capaz de se apropriar dessas ferramentas de aprendizagem por terem uma história
de escolaridade diferenciadas a outros estudantes de idade regular.
As mudanças na educação dependem, em primeiro lugar, de termos educadores maduros intelectual e emocionalmente, pessoas curiosas, entusiasmadas, abertas, que saibam motivar e dialogar. Pessoas com as quais valha a pena entrar em contato, porque desse contato saímos enriquecidos. (MORAN, 2000:16).
Isso nos chama atenção para entendermos que a sociedade do conhecimento
exige que o educador esteja preparado para as mudanças do mundo
contemporâneo e que a contínua exigência de atualização profissional não deve ser
vista como uma opção no seu exercício docente, mas como uma questão de
sobrevivência do seu espaço em sala de aula, nesse universo onde o que está
predominando é a criatividade, a inovação e a renovação docente continuamente.
Professores e estudantes de EJA precisam conhecer as novas possibilidades
de enriquecer o processo de ensino e aprendizagem que a tecnologia oferece. Faz-
se necessário, que ao implantar a educação tecnológica, a escola precisa se dispor
a reformular suas propostas de ensino capaz de tornar flexível o currículo a que
venham contemplar: as especificidades multicultural, a relação entre os
conteúdos, objetivos e estratégias às questões culturais e tecnológicas, de acordo
com as necessidades que possam surgir ao longo da execução das atividades
didáticas.
O professor precisa repensar a prática pedagógica, desafiar o aluno a criar,
desenvolver estratégias próprias para resolução de problemas. É preciso romper
com a acomodação das práticas tradicionais, currículos lineares limitados a
memorização. Essa forma de ensino não chama mais a atenção dos educandos que
deixaram a escola numa certa fase da sua vida e agora ao voltar, tudo continua da
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mesma forma. Esse cenário que um dia já pode ter contribuído de forma direta ou
indireta para a desistência desses estudantes.
Ao professor se faz necessário estudar conhecer as especificidades dos
recursos midiáticos para incorporá-los com objetivos claros, dando vazão à vivência
dos estudantes, suas histórias de vida, seus conhecimentos prévios. Assim, em
qualquer nível de aprendizagem que estes estejam serão contemplados nessa nova
prática pedagógica que terá como foco principal a modernização do saber que
busque novas formas criativas de conectar a escola as necessidades do mundo
moderno.
O papel do professor de EJA frente as NTICs é estudar e conhecer todas as
possibilidades de utilizar pedagogicamente as novas tecnologias de informação e
comunicação, deixando de lado a idéia de modismo, de obrigação, adaptação ou
reprodução de modelos estabelecidos. Cabe a esse educador de EJA dialogar,
repensar e redefinir seu papel na sociedade do conhecimento.
Nas discussões sobre EJA é necessário reportar-se às idéias de Paulo Freire
que tanto contribuíram e contribuem para entendermos como essa modalidade de
ensino precisa ser trabalhada numa perspectiva:
O diálogo não impõe, não maneja, não domestica, não sloganiza. Não significa isto que a teoria da ação dialógica conduza ao nada. Como também não significa deixar de ter o dialógico uma consciência clara do que quer, dos objetivos com os quais se comprometeu. (FREIRE, 1984:166).
O autor evidencia de forma clara que o diálogo acontece num processo
democrático, em que as pessoas envolvidas trocam experiências, discutem
problemas e tomam decisões coerentes com objetivos comuns, portanto num
processo dialógico não existem sujeitos que dominam e outros que são dominados.
Por essa razão defendemos a importância de uma educação para a
liberdade, onde os sujeitos possam dialogar coletivamente, expressar
individualmente suas dificuldades e prioridades necessárias a uma formação
baseada na qualidade, na autonomia e na sistematização do saber.
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Na busca desses resultados qualitativos deixamos evidente a importância da
incorporação das mídias educacionais como possibilidade de renovação pedagógica,
pois esses recursos oferecem diferentes possibilidades para o professor desenvolver
o processo formativo numa perspectiva de transformar informação em
conhecimento.
Tanto educadores como escola, enquanto estruturas organizacionais e educativas não podem perder de vista que a construção da identidade da escola passa, primeiramente, pela construção individual da identidade dos seus membros, que são sujeitos desses processos, como também do processo do conhecimento que nessa escola se desenvolve. (PETRAGLIA,
2010:62).
Nas palavras da autora podemos perceber que é enfatizada a importância da
reflexão na educação e que precisamos garantir nossa identidade, nossos valores e
que tipo de sujeito se quer formar no desenvolvimento das nossas propostas
educativas.
Precisamos entender que na sociedade da informação não podemos ficar no
caminho enquanto o conhecimento percorre altas velocidades, especificamente a
velocidade do desenvolvimento tecnológico que a todo instante exige novas
competências profissionais nas mais diversas áreas de atuação. Por essa razão os
professores de EJA precisam se apropriarem de processos permanentes de
aprendizagem, difundindo novos conhecimentos especificamente no manejo dos
sistemas de comunicação e informação.
A educação não pode permanecer alheia aos meios pelos quais os
conhecimentos são criados e transformados. A diversidade das novas tecnologias
nos apresenta formas de trabalhar com a sistematização dos conhecimentos, com
isso traz garantias de que podemos romper com as práticas fragmentadas se
dominarmos esses recursos em prol da nossa formação e atuação profissional.
O professor precisa refletir e realinhar sua prática pedagógica no sentido de criar possibilidades para instigar a aprendizagem do aluno. O foco passa da ênfase do ensinar para ênfase do aprender. O processo educativo em
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todos os níveis (...) deve propor o desenvolvimento de competências para atuar em relação às circunstâncias com que se possam se defrontar. (MORAN, 2000:72).
Moran nos faz refletir sobre a prática, onde poderemos identificar em
processos de formação continuada os aspectos que precisam ser renovados e
criados para que nos tornemos competentes no ofício docente
Entendemos que hoje, o papel da escola não se resume a desenvolver a
aprendizagem através da assimilação de conhecimentos, mas assegurar aos
estudantes uma formação global em que sejam efetivadas práticas que estimulem
apropriarem-se dessas tecnologias de forma critica ativa e significativa. Para isso
os professores precisam dominar esses recursos tecnológicos, explorando todas as
possibilidades que estes dispõem para qualificar o processo ensino aprendizagem
em EJA.
O ensino e aprendizagem na eja escola: ausência ou presença de
tecnologias
Na sociedade da informação educar se baseia no principio de ensinar e
aprender sistematicamente em processos permanentes de aprendizagem. Por essa
razão, é necessário desenvolvermos estratégias pedagógicas que favoreçam aos
professores de EJA saberes importantes sobre a incorporação das mídias em sala,
onde todos possam aprender a conhecer o outro, se comunicar dialogicamente no
processo de interação social e educativo.
O objeto estudado foi pesquisado especificamente através de coletas de
dados, entrevistas, observações e aplicação de questionários com quatro
professores e o gestor escolar do Ensino Fundamental da Educação de Jovens e
Adultos. Realizamos um levantamento inicial de todos os recursos tecnológicos
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existentes na escola, com o objetivo de sabermos como estes recursos estão sendo
utilizados e como podem favorecer novas aprendizagens.
A priori, realizamos visitas na escola pesquisada e elencamos os seguintes
recursos midiáticos existentes: laboratório de informática com 10 computadores,
projetor de mídias, notebook, aparelhos de CD e DVD e TV digital, máquina
fotográfica e filmadora, telefone, caixa de som, acervos de discos e filmes
educacionais, projetor de mídias e microfones. A escola referida dispõe também de
um espaço multimídia para o desenvolvimento das atividades educacionais.
Mediante a apresentação dos artefatos tecnológicos nos foi informado ainda
que em 2010, quando algum professor faltava no horário de aula os alunos da EJA
frequentaram o laboratório de informática acompanhados da supervisora e
utilizaram softwares de jogos didáticos de um programa chamado Virtus
Letramento3 que a SEEC-RN disponibilizou para serem trabalhados com crianças do
Ensino Fundamental do 4º e 5º ano que abordavam conteúdos de português e
matemática.
Os professores também costumam levar os estudantes ao laboratório de
informática para digitar textos ou ditados de palavras. Outro recurso utilizado com
frequência é o projetor de multimídias, eles montam as aulas em slides e
trabalham os conteúdos de forma expositiva. A câmera digital para fazer registros
de eventos e o aparelho de som para trabalhar músicas variadas. Esses são os
recursos tecnológicos e a metodologia utilizada pelos professores de EJA segundo a
supervisora e gestora da escola acima referida.
A conclusão da pesquisa deu-se após uma semana com aplicação de um
questionário elaborado com doze questões e contamos com a participação de
quatro professores.
3 O projeto Virtus Letramento – Matemática foi desenvolvido por profissionais da Info Educacional em Belo Horizonte com a intenção de colaborar no desenvolvimento de competências e habilidades de cálculos, resoluções de problemas e na construção de atitude crítica, especialmente em ambiente digital para alunos em defasagem pedagógica do Ensino Fundamental, em escolas públicas: estaduais e municipais.
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Inicialmente perguntamos aos professores se eles conheciam os recursos
tecnológicos de que dispõe a escola e mediante as respostas verificamos que
nenhum professor referenciou todos os recursos que constatamos nas nossas
observações. Após o diagnóstico podemos verificar que nem todas as mídias
educacionais são percebidas pelos professores de EJA e se não são visualizadas
certamente não são utilizadas em toda plenitude na prática docente desses
profissionais.
No segundo questionamento, perguntamos se eles costumavam levar os
estudantes de EJA ao laboratório de informática e entre os entrevistados, apenas
um deles afirmou que os levava para digitar textos. Os demais entrevistados
enfatizaram que não levam os estudantes, porque o ambiente não está apto para
funcionar. Quando questionamos sobre o entendimento de que o laboratório não
estaria em condições de ser utilizados pelos estudantes, eles enfatizaram que como
os computadores não têm acesso a internet não seria interessante levá-los.
Perguntamos se eles conheciam os softwares que já vem nos computadores
tais como: domínio público, vídeos da TV escola e RIVED para os quais não
precisamos ter acesso à internet para utilizá-los, eles informaram que não tinham
conhecimento. Mediante a resposta acima podemos verificar que a equipe gestora
e pedagógica dessa escola precisam conhecer melhor a utilidade pedagógica de um
laboratório de informática e consequentemente orientarem melhor os professores,
uma vez que para esses profissionais precisam compreender que não é só através
da internet que esse espaço tem utilidade na produção de conhecimentos.
Ao indagarmos os professores sobre como utilizam os recursos tecnológicos
existentes na sala de aula com os alunos de EJA, dois dos entrevistados enfatizaram
que usam pontualmente, os outros disseram que não, pois sentem dificuldades e
que precisariam de conhecimentos didáticos e operacionais para iniciar o trabalho
com esses recursos. Ressaltaram ainda que os governos não favorecem condições
para estudem; mandam os recursos didáticos para as escolas sem uma formação
adequada para esse fim.
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No quarto item indagamos se quando eles planejam as aulas consideram os
recursos midiáticos existentes, estes responderam que não, eventualmente sentem
necessidade de incorporar alguma mídia, mas nos planejamentos não priorizam
esses recursos para enriquecer as aulas como algo indispensável.
No quinto item perguntamos o que mudaria no currículo de EJA se fossem
introduzidas as NTIC’s, eles responderam que as aulas poderiam se tornar mais
motivadoras e interessantes para os estudantes que estão cansados do uso
excessivo do quadro, pincel e livro didático ultrapassado e também para os
professores. Contudo enfatizaram que seria possível essa mudança curricular se
existissem cursos profissionalizantes para os estudantes se apropriarem desses
conhecimentos e formação continuada para os professores se tornarem eficientes
na utilização da tecnologia como recurso didático.
No sexto item questionamos que saberes seriam necessários aos professores
de EJA para trabalhar com as mídias educacionais de forma eficiente. Foi
enfatizada de forma unânime a necessidade de preparar os professores com
formações in loco ou à distância, coerentes com as necessidades da comunidade
escolar. Também abordaram que cada professor recebeu em 2010 um notebook
com o sistema operacional Linux Educacional e muitos continuam com os seus
encaixados por falta de conhecimento ou estão sendo utilizados por familiares, mas
que de fato não estão servindo com ferramenta de aprendizagem da prática
docente.
Na questão sete indagamos sobre que recurso tecnológico ele utiliza no fazer
docente. Eles enfatizaram que pesquisas de textos na internet e aquisição de
filmes que abordam temas educacionais que são exibidos no DVD e depois são
explorados em sala de aula. Percebemos que os professores utilizam as NTIC’s em
atividades pontuais e que estas são mais exploradas para exibição de filmes.
Na oitava questão perguntamos que dificuldades eles encontram para
introduzir as mídias educacionais no fazer docente. Eles falaram que é a falta de
um profissional qualificado para assessorá-los cada vez que precisassem usar as
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mídias, pois seria mais fácil para eles que não dispõem desses conhecimentos em
grande escala.
Na nona questão perguntamos aos professores se eles acreditavam que as
novas tecnologias poderiam contribuir para aprendizagem na EJA. Eles
responderam que em parte, pois o sucesso depende de cursos para preparar os
professores como também capacitar os estudantes para usar nesses recursos. Nesse
item percebemos que os professores não conseguem ainda visualizar que muitos
estudantes têm domínios diversos sob as novas tecnologias da informação e
comunicação.
A décima questão investigou sobre a formação que os professores já teriam
passado sobre as novas tecnologias. Responderam que nenhum ainda se apropriou
desses novos conhecimentos em processos de formação continuada. Ressaltaram
que não tiveram disponibilidade de tempo para participar dessas formações
oferecidas nos Núcleos de Tecnologias Educacionais.
A décima primeira questão foi para sabermos se os professores tinham
notebook e todos os entrevistados dispõem desse artefato, porém não utilizam na
prática de sala de aula porque não tem internet e porque não dominam ainda esse
recurso com ferramenta didática.
Na última questão da entrevista perguntamos como as NTICs devem ser
usadas do ponto de vista pedagógico. Eles responderam que para isso acontecer
seria necessário cursos de formação continuada e que os governantes criassem
condições para que os professores estudem e se apropriem desses conhecimentos,
pois se isso não acontecer as TICs correm o risco de continuarem sem utilidade
dentro das instituições educacionais como muitas estão até hoje.
Às escolas cabe a introdução das novas tecnologias de comunicação e conduzir o processo de mudança da atuação do professor, que é o principal ator destas mudanças, capacitar o aluno a buscar corretamente a informação em fontes de diversos tipos. É necessário também, conscientizar toda a sociedade escolar, especificamente os alunos, da importância da tecnologia para o desenvolvimento social e cultural. (MERCADO, 1998:02).
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Considerando a resposta dos professores percebemos que estes ainda não
entenderam que esses recursos podem criar novas possibilidades de aprendizagem
e que se usados adequadamente, podem se tornar ferramentas pedagógicas
eficientes no processo de ensino e de aprendizagem em sala de aula.Vimos também
que estes reconhecem que os alguns recursos utilizados em sala de aula estão
ultrapassados e que não conseguem mais chamar atenção dos estudantes e essa
reflexão faz perceber que se acontecer um processo de formação continuada
coerente com as necessidades desses atores escolares poderemos colher bons
frutos na aprendizagem desses profissionais e consequentemente dos estudantes.
Na fala de alguns professores confirmamos a tese da possibilidade de existir
uma falha nas Políticas Públicas instituídas sobre a introdução das TICs no processo
educativo. Não basta equipar as escolas de novos artefatos tecnológicos, mas tem
que existir inicialmente uma formação eficiente que prepare os professores para
esse fim.
Ao terminarmos de abordar os aspectos que consideramos mais relevantes
nessa pesquisa, é perceptível a necessidade de um processo de formação
continuada para os professores da escola estadual pesquisada. Os apontamentos
dos professores, mesmo que de forma reduzida, apresentaram a falta de preparo
que enfrentam no trabalho com as mídias educacionais.
Compreendemos que a chave para dominar pedagogicamente os recursos
tecnológicos se baseia no processo de formação continuada dos docentes e pelos
processos metodológicos para os estudantes; por essa razão, vamos apresentar uma
proposta de formação para o uso pedagógico das mídias, onde os atores escolares
possam identificar no processo formativo as dificuldades circunstanciais ou
permanentes que possam surgir durante essa atividade de atualização profissional e
assim buscar alternativas distintas para usar com sucesso as mídias educacionais.
Nessa perspectiva a introdução das tecnologias educacionais deve ser vista
com sentido amplo de enriquecer os processos formativos dos atores escolares,
portanto, não devem ser vistas como finalidade de realização de atividades
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pontuais sem maiores possibilidades de enriquecer a prática pedagógica e
conseqüentemente melhorar os processos de aprendizagem.
Na nossa compreensão, está existindo no contexto educativo, uma troca de
papeis no que se refere aos domínios das tecnologias, de um lado temos os
professores acomodados na sua profissão, com práticas ultrapassadas com recursos
didáticos limitados e sem domínio pedagógico dos recursos midiáticos, trabalham
suas aulas numa concepção de transmissão e assimilação de conhecimentos, que
tem alcançados resultados frustrantes para a instituição escolar. Nesse parâmetro é
concebida aos estudantes a responsabilidade pelo desinteresse e incompetência
para aprender o que os professores superficialmente têm competência de ensinar.
Por outro lado, temos os estudantes, verdadeiros aprendizes e curiosos incessantes,
para dominar tudo que é novo na área tecnológica.
Como ensinar com as novas tecnologias na eja
Consideramos essencial o ensino que valoriza os saberes culturais dos
estudantes, partindo desse princípio podemos desenvolver estratégias de ensino
diferenciadas e específicas para as necessidades individuais e coletivas. Para que o
processo de ensino e de aprendizagem em EJA seja coerente com as necessidades
dos estudantes, os professores precisam estar preparados, assumindo nesse
processo, o papel de aprendizes e também de mediadores no desenvolvimento
desses novos saberes em sala de aula.
Para que os professores de EJA possam utilizar pedagogicamente os recursos
tecnológicos em sala de aula, precisam acontecer na escola estudos de formação
continuada sobre a incorporação das mídias nas atividades escolares, em que os
professores elaborem propostas concretas e coerentes para utilização desses
recursos existentes na escola, onde aprendam a manusear esses recursos na
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administração da sua própria formação profissional e conseqüentemente na sua
prática de sala de aula.
Considerando que a grande maioria dos alunos tem acesso garantido a
inúmeras tecnologias, enfatizamos a necessidade de a escola desenvolver projetos
pedagógicos que trabalhem esses recursos com alternativas didáticas para inserir as
praticas educativas no contexto tecnológico. “As mudanças na educação
dependem, em primeiro lugar, de termos educadores maduros intelectual e
emocionalmente, pessoas curiosas, entusiasmadas, abertas, que saibam motivar e
dialogar. Pessoas com as quais valha a pena entrar em contato, porque desse
contato saímos enriquecidos.” (MORAN, 2000:16).
Na nossa compreensão, está existindo no contexto educativo, uma troca de
papeis no que se refere aos domínios das tecnologias, de um lado temos os
professores acomodados na sua profissão, com práticas ultrapassadas com recursos
didáticos limitados e sem domínio pedagógico dos recursos midiáticos, trabalham
suas aulas numa concepção de transmissão e assimilação de conhecimentos, que
tem alcançados resultados frustrantes para a instituição escolar. Nesse parâmetro é
concebida aos estudantes a responsabilidade pelo desinteresse e incompetência
para aprender o que os professores superficialmente têm competência de ensinar.
Por outro lado, temos os estudantes, verdadeiros aprendizes e curiosos incessantes,
para dominar tudo que é novo na área tecnológica.
Nessa perspectiva, a introdução das tecnologias educacionais deve ser vista
no sentido amplo de enriquecer os processos formativos dos atores escolares,
portanto não devem ser vistas como finalidade de realização de atividades pontuais
sem maiores possibilidades de enriquecer a prática pedagógica e
conseqüentemente melhorar os processos de aprendizagem.
O professor da EJA necessita refletir sobre sua prática e para isso ele precisa
ser provocado pelos novos desafios que sua função lhe impõe.
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Uma prática reflexiva não é apenas uma competência à serviço dos interesses do professor, é uma expressão da consciência profissional. Os professores que só refletem por necessidade e que abandonam o processo de questionamento quando se sentem seguros não são profissionais reflexivos. (PERRENOUD, 2002: 50).
Não podemos fazer de conta que ensinamos e que nosso aluno está
aprendendo, nem tão pouco colocar a culpa somente nas políticas públicas pelo
fracasso que nossos alunos têm apresentado nas avaliações com baixos índices de
desempenho.
Muitas justificativas são apresentadas para tentar explicar esses resultados
que os estudantes vêm apresentando nas avaliações como: Prova Brasil, Enem,
olimpíadas de matemática, etc. Entre as justificativas podemos destacar: a falta de
valorização profissional, pouca disponibilidade de tempo para estudar, desinteresse
dos estudantes, ausência da família, entre outros. Porém dos itens apresentados
podemos observar que dificilmente os professores se vêem inseridos como
responsáveis, também, da falta de qualidade no ensino.
O que se propõe com essa integração tecnológica é provocar transformações
no processo educativo. A intenção, portanto, é favorecer discussões coletivas com
os professores nos momentos de formação continuada, sobre as tecnologias
educacionais, mais especificamente como estratégia pedagógica que venha
possibilitar novas aprendizagens para professores e estudantes..
Como diz Perrenoud, (2002), a formação deve lutar contra o individualismo
dos professores, contra a vontade de serem os “únicos capitães do barco”. O autor
nos faz refletir sobre a necessidade do trabalho coletivo nas atividades de
formação continuada.
Uma educação inovadora parte do pressuposto de que os atores envolvidos
no processo dialógico de troca de conhecimentos e experiências, precisam estar em
permanente processo de formação profissional, tornando-se assim capazes de
inovar as praticas docentes mediante os avanços envolventes no processo
educativo.
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Do ponto de vista metodológico, em todo processo de formação se faz
necessário compreender que a mudança de postura do educador não acontece de
forma isolada, mas que perpassa a elaboração de uma proposta coletiva na escola
que contemple todos os envolvidos num currículo integrado com as novas
tecnologias.
Essa situação nos faz refletir sobre as possibilidades reais que os processos
de formação continuada têm garantido a estes profissionais. Até quando vamos nos
encontrar, estudar, discutir, identificar os problemas existentes no processo de
ensino e de aprendizagem sem tomar consciência de que estes precisam de ação e
que o sentido da formação profissional se efetiva e toma sentido com mudanças
necessárias nesse processo.
A utilização das novas tecnologias educacionais deve centralizar o foco
pedagógico, pois entendemos que este aspecto deve ser baseado numa perspectiva
de intervenção pedagógica que valorize o trabalho coletivo, a dialogicidade, numa
perspectiva interdisciplinar. Queremos reafirmar que o foco principal da dimensão
pedagógica é a qualidade da aprendizagem dos estudantes.
A educação constitui-se em um ato coletivo, solidário, uma troca de
experiências, em que cada envolvido discute suas idéias e concepções. A dialogicidade constitui-se no princípio fundamental da relação entre educador e educando. O que importa é que os professores e os alunos se assumam epistemologicamente curiosos. (FREIRE, 1998:96).
O autor enfatiza a importância da interação entre professores e educando no
ato educativo, onde nenhum possa assumir o dono do saber ou responsável para
transmitir ao outro conhecimento. Os dois se completam na interatividade e nos
respeito às diferenças.
Provocar reflexões significativas que assegurem a introdução das tecnologias
educacionais efetivamente é o grande desafio enquanto mediador da
aprendizagem.
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A primeira reflexão se refere especificamente à formação dos docentes,
pretendemos apresentar as inúmeras possibilidades que estes recursos dispõem
como ferramenta de aprendizagem, a segunda sobre à importância destas
tecnologias no momento de pensar coletivamente na elaboração dos projetos de
ensino e a terceira alternativa é sobre o tratamento desses recursos em sala de
aula, considerando os princípios pedagógicos e didáticos dos professores.
Queremos com isso que esta proposta de formação com o uso das mídias
colocada em pratica se transforme num ambiente de aprendizagens coletivas,
pautadas em troca de idéias, na colaboração, no respeito aos ritmos de
aprendizagens e na diversidade que cada professor apresentar, pois
compreendemos que se faz necessário que estes repense suas ações e concepções
de ensino com segurança no grupo.
Entendemos que no contexto educacional existem competências que
precisamos desenvolver no aluno, mas também existem competências que os
professores precisam desenvolver para tornar-se capaz de trabalhar os processos de
ensino e de aprendizagem no sentido de perceber a individualidade e subjetividade
dos estudantes que se manifestam nas suas necessidades coletivas.
Considerações finais
A pesquisa realizada sobre a importância e possibilidades do uso das novas
tecnologias da informação e comunicação na EJA, resultou numa aprendizagem
muito significativa para alguém que tem dedicado a vida à educação e ao trabalho
com a EJA. O diálogo com os atores escolares, a observação do contexto escolar e a
fundamentação teórica estudada nos favoreceram ampliar nossa visão, de como
essas ferramentas devem ser utilizados no processo de ensino e de aprendizagem.
Os resultados foram importantes para mostrar que se deve avançar mais nas
Políticas Públicas de inclusão digital. Não é suficiente apenas disponibilizar os
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recursos tecnológicos para as escolas, antes de tudo, precisamos preparar os atores
escolares para utilizarem pedagogicamente esses recursos em sala de aula. Os
laboratórios de informática, na maioria não têm internet, não existe na escola um
profissional disponível para assessorar os professores com o uso das TIC’s; os
notebooks que os professores receberam, a grande maioria continuam encaixada ou
servindo para outros fins que não são educativos de sala de aula, entre outros
recursos que continuam trancados dentro da escola por falta de pessoas preparadas
para utilizá-los. Esta realidade se contradiz com o escrito nos documentos oficiais
que institucionalizaram as Políticas Públicas.
A escola necessita de mudanças, precisamos nos preocupar com a qualidade
educacional dos nossos serviços, investigar coletivamente se nossa prática
pedagógica está sendo eficiente para nosso crescimento e do estudante. As
mudanças desencadeadas nos fazem entender que novas metodologias de ensino
precisam ser desenvolvidas para atendermos as exigências da sociedade atual.
A pesquisa em foco nos fez perceber que gestores e professores não estão
preparados para utilizar esses recursos de forma global e contínua, tampouco
existe interesse para que esses novos saberes sejam inseridos nas novas propostas
curriculares.
O papel do gestor, articuladores pedagógicos e professores, só se efetiva pela
elaboração e desenvolvimento de propostas pedagógicas que possam inserir as
novas tecnologias no currículo escolar e que nesse processo também esteja
presente o desenvolvimento de uma proposta de formação continuada que favoreça
nova aprendizagem a essa clientela.
Assim, propomos nesse trabalho um plano de formação continuada in loco e
a distância para os professores da Escola pesquisada em Apodi- RN baseado no uso
das novas tecnologias da comunicação e informação, para que estes possam
entender que existe a necessidade de inovação no processo educativo e que ser
criativo e dinâmico é uma das possibilidades do professor inovar sua pratica em
sala de aula melhorando o processo de ensino e de aprendizagem. “A educação
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tecnológica acredito deve ser vivenciada em todos os segmentos de ensino,
guardando em cada um deles as peculiaridades que o currículo e o desenvolvimento
do aluno proporcionam.” (GRINSPUN, 2002:63).
O autor enfatiza que a introdução das novas tecnologias educacionais deve
acontecer mediante o contexto escolar como um todo, onde todos possam estar
envolvidos nesse processo de formação tornando esse conhecimento global.
A pesquisa ainda nos possibilitou investigar as razões pelas quais as mídias
existentes na escola não estão sendo trabalhadas pedagogicamente nessas
instituições de ensino e os fatores relevantes que vem impedindo o uso das mídias
nas salas de aula de EJA.
Esperamos que as reflexões expostas neste trabalho levantem reflexões e
possibilidades de ações efetivas nas escolas de Apodi- RN que trabalham com a
Educação de Jovens e Adultos, especialmente na escola pesquisada.
Referências Bibliográficas
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. 9. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005. ______. Pedagogia do Oprimido. 23. ed. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1984. MERCADO. Luís Paulo Leopoldo. Novas Tecnologias Na Educação: Novos Cenários De Aprendizagem e Formação De Professores, 1998. Departamento de Fundamentos da Educação. Universidade Federal de Alagoas. Disponível na internet http://www.cedu.ufal.br/projetos/internet/cenarios.htm. Acesso em: 18/05/2011. _______ Formação docente e novas tecnologias, Publicado nos anais em CD- ROM do Congresso Iberoamericano de Informática na Educação, realizado em Brasília- DF, no período de 20 a 23 de outubro de 1998. Disponível na internet http://Phoenix.sce.fct.unl.pt/ribie/cong. Acesso em 18/05/2011. MORAN, José Manuel. A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá – Campinas, SP: Papirus, 2007.
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______. Novas tecnologias e mediação pedagógica / José Manuel Moran, Marcos T. Masseto, Marilda Aparecida Behrens. Campinas, SP: Papirus, 2000. MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários a educação do futuro. 8. ed. São Paulo, Cortez, UNESCO, 2002. PERRENOUD, Philippe. A prática reflexiva no ofício de professor: profissionalização e razão pedagógica / Philippe Perrenoud; trad. Cláudia Schilling. - Porto Alegre: Artmed Editora, 2002. PETRAGLIA, Izabel. Edgar Morin: A educação e a complexidade do ser e do saber. 11. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010. GRINSPUN, Mirian P.S. Zippin. Educação tecnológica: desafios e perspectivas. (org).-3.ed- São Paulo: Cortez, 2002.