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731 estudos, Goiânia, v. 38, n. 4, p. 731-748, out./dez. 2011 Resumo: na pós-modernidade, o conhecimento so- bre a comunicação dos meios nos permite observar como se constrói a realidade social a partir das mediações. No limiar do processo político e econômico atual está a ma- nutenção da hegemonia discursivaepoder dos grandes im- périos. Este artigo analisa a principal revista brasileira Veja, com o propósito de entender as narrativas midiáticas capazes de formar identidade e cultura na América Latina. Palavras-chave: América Latina. Revista Veja. Meios de Comunicação ANTÔNIO SEBASTIÃO DA SILVA** A MENSAGEM DO MEIO: ANÁLISE DISCURSIVA DA REVISTA VEJA SOBRE GLOBALIZAÇÃO O objetivo deste texto é tentar abrir importante debate sobre a comunicação na América Latina, com aten- ção nos princípios sistêmicos globais, que se formam a partir dos enunciados das grandes redes de comunicação. Não há um lugar certo por onde surgem os diversos discursos da contemporaneidade, entretanto, os meios de comunicação, considerados tradicionais, como a Revista Veja, se transfor- * Recebido em: 09.11.2011. Aprovado em: 11.11.2011. ** Doutorando em Comunicação na UnB. Mestre em Semiótica pela PUC-SP. Professor nos cursos de Comunicação na PUC Goiás.Jornalista. E-mail: anto- [email protected]. NA ESFERA REGIONAL*

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Resumo: na pós-modernidade, o conhecimento so-bre a comunicação dos meios nos permite observar como se constrói a realidade social a partir das mediações. No limiar do processo político e econômico atual está a ma-nutenção da hegemonia discursivaepoder dos grandes im-périos. Este artigo analisa a principal revista brasileira Veja, com o propósito de entender as narrativas midiáticas capazes de formar identidade e cultura na América Latina.

Palavras-chave: América Latina. Revista Veja. Meios

de Comunicação

ANTÔNIO SEBASTIÃO DA SILVA**

A MENSAGEM DO MEIO:ANÁLISE DISCURSIVADA REVISTA VEJASOBRE GLOBALIZAÇÃO

O objetivo deste texto é tentar abrir importante debate sobre a comunicação na América Latina, com aten-ção nos princípios sistêmicos globais, que se formam

a partir dos enunciados das grandes redes de comunicação. Não há um lugar certo por onde surgem os diversos discursos da contemporaneidade, entretanto, os meios de comunicação, considerados tradicionais, como a Revista Veja, se transfor-

* Recebido em: 09.11.2011. Aprovado em: 11.11.2011.

** Doutorando em Comunicação na UnB. Mestre em Semiótica pela PUC-SP. Professor nos cursos de Comunicação na PUC Goiás.Jornalista. E-mail: [email protected].

NA ESFERA REGIONAL*

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mam em território amplo e importante de análise para se entender como a teia de mensagens se organiza em torno da informação, conhecimento, comportamentos ecultura.

A região ao sul da América do Norte, historicamente ligada a Europa, conhecida como o novo mundo, apesar da atenção de grupos estudos sobre o tema, ainda assim, continua carente de pesquisas para compreender,sobretudo, o processo comunicativo por certo a base de sua organização. Afinal, qual a importância dos meios na formação do pensamento latino americano, na era da globalização? Natural que grandes autores tergiversarem quando se trata de nações em desenvolvimento – apontadas por muito tempo, como de terceiro mundo -, pelo próprio desconhecimento cultural e econômico da região, a qual por séculos se manteve relativamente equidistante do modelo das tradicionais sociedades capitalistas, com desenvolvimento vinculado, fundamentalmente, às suas raízes culturais – em meio às amarras políticas de seus colonizadores.

A América Latina não pode ser analisada na sua extensão territorial, por um pesquisador solitário, portanto, para entendê-la será necessário um recorte que permita concebê-la a partir da comunicação, no contexto de suas narrativas, cuja visão deverá ter a referência o Brasil, pois se destaca entre as demais nações no desenvolvimento econômico, com influência importante sobre a sua formação e estruturação, especialmente na contem-poraneidade. Daí certamente, a preocupação com os meios de comunicação brasileiros, dentre eles o discurso de Veja, Revista com maior circulação nacional.

COMUNICAÇÃO, AMÉRICA LATINA E GLOBALIZAÇÃO

O pensamento sobre a civilização na era moderna levará aos

meios de comunicação, pois são eles os responsáveis pelo pro-cesso de mediação e formação de concepção do indivíduo sobre a realidade social, que se forma e torna-se cada vez mais complexa, exigindo interações permanentes. Neste contexto, a pesquisa sobre a mídia se revela um desafio que exige uma metodologia bem equilibrada, organizada de tal maneira que não permita perder de vista os limites da subjetividade. Por outro lado, seria um objeto que nos convida para sua análise, ao demonstrar sua significação na interferência do comportamento e ordem social, que culmina

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na formação de territórios, culturas, tradições, trocas econômicas e civilidade.

Diante da análise dos meios é possível imaginar que na con-temporaneidade as grandes narrativas e relatos intelectuais descor-tinados, sobretudo, no século passado, fazem parte dos movimentos sociais históricos, e o olhar sobre conceito como grandes fábricas, mais-valia, operários vai cedendo lugar outras análises dos tempos da imaterialidade, comunicação, mediações – um movimento inexo-rável. Não seria exagero afirmar que chegamos finalmente à era da comunicação, num sistema em que emissor e receptor nunca estive-ram tão próximos e distantes, no tempo e no espaço. A comunicação se transforma em essencial e insistente para o pertencimento do indivíduo à sociedade, que, graças às novas tecnologias, o faz emer-gir como uma espécie de comunicador por inteiro

1, interagindo-se

culturalmente com diversos lugares, portanto, num ritmo frenético, mas dependente de mediações, pois na modernidade não se pode presenciar os acontecimentos de maneira direta, porém visíveis permanentemente. Cabendo, portanto, aos meios organizá-los e revelá-los aos inúmeros espectadores, leitores. A rigor, analisa John B. Thompson que chegamos à “mudanidade mediada: nossa com-preensão do mundo fora do alcance de nossa experiência pessoal, e de nosso lugar dentro dele, está sendo modelada cada vez mais pela mediação de formas simbólicas” (THOMPSON, 1998, p.38).

Desta forma, os impérios globais se estruturam, conforme sua competência em difundir informações e formar consciência em torno de suas causas e necessidades. Sem dúvida, se for con-siderado as variadas formas de mensagens que se espalham por diferentes espaços, a manutenção de uma ordem em torno de um grupo de países ou de uma única nação hegemônica seria uma tarefa, pensada rapidamente, impossível. Entretanto, ao considerar a globalização, possivelmente não seria ingênuo conceber o con-trole político e econômico, concernente a uma ordem consensual, certamente, fomentada por exímios comunicadores. Desta forma, grupos culturais com identidade e experiências diferenciadas estariam submetidos à dinâmica comunicativa global, recebendo fluxos de informações que ligam a todos, cujas mensagens são reproduzidas insistentemente. Contudo, a globalização deste sé-culo, em especial, não poderia ser pensada fora da comunicação simbólica (BOURDIEU, 2010).

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A priori seria exagerado o conceito de massa a partir dos pensadores das primeiras análises da pesquisa em comunica-ção, a começar pela Teoria Hipodérmica, pois nesta concepção, Ortega Y Gasset(apud WOLF, 2001, p. 24)destaca que “massa é a jurisdição dos incompetentes, representa o triunfo de uma espécie antropológica que existe em todas as classes sociais e que se baseia a sua acção no saber especializado à técnica e à ciência”. Mesmo considerando em essência que o desenvolvimento industrial surgido no Séc. XVIII tenha provocado um processo de alienação, não é possível entender que simples estímulos levariam a resposta pas-siva da mensagem (E > R). Neste século, para uma sociedade da comunicação, certamente a concepção de conhecimento avançou ao ponto de conceber a capacidade dos indivíduos de interagirem em um mundo formado pelas ideias, mesmo que mediadas. Entre-tanto, os meios fazem mais do que gerar simplesmente estímulos na espera de uma resposta, a semelhança de um comercial de televisão, que comercializa bens de consumo imediato.

Depois das várias pesquisas da comunicação nos Estados Uni-dos, passando pela persuasão, efeitos limitados, usos e satisfações, seria pertinente avaliar, num contexto social, que

A teoria funcionalista ocupa uma posição muito precisa que consiste na definição da problemática dos mass media a partir do ponto de vista da sociedade e do seu equilíbrio, da pers-pectiva do funcionamento do sistema social no seu conjunto e do contributo que as suas componentes (mass media - grifo do autor - incluídos) dão a esse funcionamento. Já não é a dinâmica interna dos processos comunicativos (como é típico, sobretudo, da teoria psicológica-experimental) que define o campo de interesse de uma teoria dos mass media (grifo do autor), é a dinâmica do sistema social e o papel que nela de-sempenham as comunicações de massa (WOLF, 2001, p. 63).

Afinal, nesta visão estrutural-funcionalista Parsons (apud WOLF, 2001), numa relação de funcionalidade, é preciso pensar o sistema social a partir de quatro problemas: a) a manutenção do modelo e controle das tensões; b) a adaptação ao ambiente; c) a perseguição do objetivo; e d) a integração. O indivíduo teria uma sobrevivência autorregulada, conforme o sistema regulado pela

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sociedade, cuja abstração estaria em sintonia com os subsistemas. Sem querer ser insistente, o que dependeria dos meios de comuni-cação para fazer ligação entre indivíduo e sociedade, os quais, por consequência, estariam submetidos a essa regulação sistemática.

Não se trata de discutir aqui, de maneira subjetiva, a lógica do desenvolvimento a partir de lideranças, que tem na economia a base para obter o melhor resultado de indivíduos dispersos em diferentes territórios, sem conhecimento (incompetentes), para arre-gimentar a ordem e o progresso. Talvez a realidade seja concebida de maneira diferente em cada lugar. Como por exemplo, a cultura da população da América Latina é distinta daquela vivida pelos países da América do Norte. Sua relação com as nações do velho mundo passaram por outros caminhos – notória a percepção, pois na contemporaneidade há um processo político de resistência de alguns países da região, como Venezuela, Bolívia, Equador, Cuba. São politicamente os mais evidentes, que se posicionam contra interferências de nações desenvolvidas, especialmente europeias e norte-americanas.

A inserção do homem à evolução do processo comunicativo, possivelmente, não foi o único objetivo dos enunciados dos pen-sadores estadunidenses do começo do século passado, embora já tenham como base o mundo moderno, de conflitos, com avanço da ciência e novas descobertas, em especial dos meios de comunicação que se estruturam em torno da informação que percorrem territórios. Havia, a rigor, instabilidade do poder das elites em meio às duas grandes guerras mundiais, o que torna fundamental a propaganda política, como suporte para uma sociedade de mercado. Os novos veículos se mostram capazes de alterar as relações políticas e econômicas ao redor do mundo, então, instrumentalizá-los seria uma maneira eficiente para a manutenção do modelo social – para o seu controle e equilíbrio. Em jogo a troca de lideranças políticas e grupos econômicos.

ENUNCIADOS PARA A MASSA Não seria sem razão que os pensadores críticos, alavanca-

dos pela Escola de Frankfurt, na segunda parte da década de 40, perceberam a coesão do sistema na esteira da chamada indústria cultural, voltada para exploração da consciência dos indivíduos,

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sendo os meios de comunicação dirigidos (também grandes empre-sas capitalistas) para a formação da subjetividade da massa, cujo objetivo seria o aumento substancial da produção, que dependia sobremaneira do consumo. Um passo para formação dos grandes impérios econômicos que levam seus tentáculos para diferentes regiões, na busca da efetivação de uma globalização apoiada, sobretudo, nas novas tecnologias da comunicação, mas mantendo o controle dos discursos em fluxo, mesmo numa sociedade mais complexa e comunicativa como a contemporânea.

A transformação da cultura em mercadoria seria a concreti-zação do progresso técnico, o qual dependeria da democracia

2 da

comunicação.

Se, em nossa época, a tendência social objetiva se encarna nas obscuras intenções subjetivas dos diretores gerais, estas são basicamente as dos setores mais poderosos da indústria: aço, petróleo, eletricidade, química. Comparados a esses, os monopólios culturais são fracos e dependentes. Eles têm que se apressar em dar razão aos verdadeiros donos do poder, para que sua esfera na sociedade de massas [...] não seja submetida a uma série de expurgos. A dependência em que se encontra a mais poderosa sociedade radiofônica em face da indústria elétrica, ou a do cinema relativamente aos bancos, caracteriza a esfera inteira, cujos setores individuais por sua vez se interpenetram numa confusa trama econômica (ADORNO; HORKHEIMER, 1895, p. 115).

Portanto, Theodor Adorno e Max Horkheimer, da Escola de Frankfurt, revelam a grande ânsia dos meios de comunicação de massa, pela venda de mercadorias, numa “trama econômica”, na qual o indivíduo seria apenas a mão de obra e o consumidor des-ta produção esquizofrênica, que resultaria no bem-estar de uma minoria, dirigentes das normas do sistema, a partir das grandes empresas. A subjetividade, desta forma, não seria a do homem no seu cotidiano, mas a partir das mensagens veiculadas nos programas de grandes audiências, cuja linguagem estaria acessível a todos. O processo de alienação seria a pedra de toque da sistematização dos meios de comunicação e das fábricas, agora sob o ritmo das máquinas. A desigualdade social estaria na comunicação ordena-

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dora de conhecimento, conforme princípios previamente definidos, produzida por especialistas de mercado e das mídias. O papel da indústria seria transformar cultura em mercadoria, “Noutras palavras, a expressão designa uma prática social, através da qual a produção cultural e intelectual passa a ser orientada em função de sua possibilidade de consumo no mercado” (RÜDIGER, 2001, p.138).

Entretanto, entre os frankfurtianos surge uma voz discordante na afirmação de que na indústria cultural nem tudo se transforma em mercadoria, embora cujo fim em essência seja a alienação da massa de indivíduos. Para Walter Benjamin a perda da aura

3 é ine-

vitável, quando se produz simplesmente com objetivos comerciais e o homem se distancia da finalidade do produto produzido. Neste sentido, até mesmo a concepção de realidade se esvairia com o bem (que carrega consigo símbolos) posto no mercado, vale mais ter do que ser, num universo do capitalismo. No entanto, analisa o autor

na medida em que multiplicam a reprodução, substituem a existência única da obra por uma existência serial. E na medi-da que essas técnicas permitem à reprodução vir ao encontro do espectador, em todas as situações, elas atualizam o objeto reproduzido. Esses dois processos resultam em um violento abalo da tradição, que constitui o reverso da crise atual e a renovação da humanidade (BENJAMIN apud RÜDIGER, 2001, p. 136).

O receptor, por sua vez, encontraria meios para se desvincular do domínio absoluto dos conglomerados de comunicação que se espa-lham definitivamente nos diferentes países, agora globalizados pela tecnologia da informação. Embora Benjamin não tenha estudado o fenômeno globalização, aponta para a não sujeição completa dos espectadores aos produtos midiáticos, mesmo diante do poderio da indústria cultural para formação de subjetividades, pois o contato com as produções comercializadas levariam ao conhecimento e transformações dos próprios indivíduos em sociedade.

Com o desenvolvimento das tecnologias da comunicação diante das novas formas de transmissão de mensagem, a manu-tenção do modelo econômico exige novas técnicas para informar, pois à medida que se formam redes é preciso avaliar a difusão de

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enunciados e discursos. Devemos manter nosso olhar na América Latina que também está submetida a esta lógica comunicacional, numa clara referência aos meios de comunicação europeus e da América do Norte, prioritariamente Estados Unidos, que se esme-ram nas estratégias política e economia para se manter como o grande império mundial, apesar de sofrer abalos regulares diante das sucessivas crises do capitalismo moderno.

O MEIO PARA FORMAÇÃO DOS IMPÉRIOS Para entender os meios de comunicação na sua relação eco-

nômica e política para formação de grandes impérios, se faz indis-pensável à leitura do professor de Economia política da Escola de Toronto, o canadense Harold Innis, pois, conforme Janara Sousa, ao analisar o pensador, destaca que

os meios de comunicação tem uma enorme influência na pro-dução, controle e disseminação do conhecimento e, portanto, é de se prever que as características de um determinado meio interfiram diretamente na organização cultural, social, eco-nômica e psicológica de uma sociedade. Até mesmo o conhe-cimento que temos das sociedades, por exemplo, depende do meio de comunicação utilizado por ela, que também determina a característica do conhecimento a ser repassado em uma da cultura. [...] o que se pode facilmente perceber na literatura de Innis é que os impérios utilizavam meios de comunicação para manter o controle sobre o tempo e o espaço. Segundo o autor, os impérios tinham que se organizar para administrar vastas áreas. Para se manter era crucial lançar mão de meios de comunicação ‘eficientes’ (SOUSA, 2009, p. 34-5). Embora Innis não tenha estudado o fenômeno da globalização

de maneira efetiva, nos aponta caminhos para entender as estraté-gias de países de economia hegemônica para estruturarem com a intenção de administrar regiões como a América Latina, formadas por países e culturas distintas. A determinação de conhecimento e cultura seria lapidar para a manutenção da ordem social, o que demandaria fluxo de informação contínuo, percorrendo as nações a que se quer estabelecer modelos. Neste sentido, a indústria

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cultural, formada pelos meios de comunicação que perseguem resultados financeiros para seu negócio, faria parte da definição das mensagens que estariam ao alcance das populações locais.

A imprensa brasileira, que por séculos reproduz tecnologias e enunciados dos países desenvolvidos, seriam também agentes nesta proposta de manter sob controle e equilíbrio os movimentos sociais capazes de promover mudanças estruturais, que trariam prejuízos para as grandes nações da ordem global. Em essência, impedir forças globais emergentes que possam mesmo inviabilizar o poder hegemônico dos centros econômicos mundiais, servindo inclusive como modelo para outras regiões.

Neste sentido,Silva (2002), ao analisar os discursos dos edito-riais do Jornal paulista Folha de S. Paulo, descreve que “O Brasil está a mercê de discursos vindos de autoridades intelectuais inter-nacionais, numa concepção de um país entregue as dificuldades peculiares em uma estrutura definida a partir dos movimentos econômicos”. Desta forma, complementa: “há uma relação entre diversas autoridades que delimitam a discursividade que vai pa-vimentando o caminho a ser seguido pelo leitor”.

Para outro estudioso do pensador canadense, Tremblay (2003, p. 17), “segundo Innis, o funcionamento das mídias dominantes suscita a criação de monopólios do saber exercido por uma casta ou um grupo de padres, de escribas, de sábios a quem o poder concede um certo número de privilégios”. Aqui nos leva a pensar nas tradi-cionais fontes do jornalismo contemporâneo, que continua com os sábios, na voz dos cientistas, dos escribas dos grandes escritores, jornalistas editores, empresários, banqueiros, etc. Um conjunto de vozes que no final formam pensamento e conhecimento favoráveis a um sistema de concepções, que está na base para a existência ou manutenção de grandes conglomerados, que formam nações.

Considerando, sobretudo, que há resistências locais na acei-tação passiva dos discursos midiáticos, o que pode servir de base para a criação de meios que sirvam aos propósitos das culturais autóctones, a formação de discurso não ocorre de maneira soli-tária por uma mídia. Conforme Machado “quando o sistema de circulação de notícias atua sobre o espaço, não o faz através de um meio isolado, mas como conjunto de meios, em que as forma e os conteúdos de uns são determinados pelas articulações com os demais” (2002). Em essência, as mesmas vozes reproduzem em

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diferentes empresas de comunicação o mesmo pensamento, num processo de reprodução permanente e constante, sendo a economia o tema central da discursividade dos meios no seu conjunto.

A revista Veja, por sua vez, ganha importância na busca de consenso com vozes que organizam o pensamento de uma socie-dade globalizada, com bases nas lógicas econômicas e culturais que sustentam discursos hegemônicos, ou seja, de nações com forte presença nas diversas regiões do mundo

4, prioritariamente

na América Latina, na qual o Brasil é o país que se destaca em população e poder econômico.

Contudo, as novas tecnologias para a informação poderiam ser pensadas como um elemento importante para a democratização dos discursos, permitindo o surgimento de variados meios com fontes que se propagam de diferentes lugares, afinal, entramos na era da Aldeia Global. Entretanto, conforme Geraldes e Souza

5,

o tempo para apuração das notícias, que deve ser feito muito rapidamente, quase em tempo real, deixa o editor dos sites no-ticiosos a mercê das vozes oficiais. Neste sentido, muitas vezes reproduzindo as informações dos veículos tradicionais. Neste interim está o valor-notícia definido substancialmente pelas grandes organizações de comunicação.

Entretanto, para o Canadense Marshall Mcluhan (2006) des-de a eletricidade o homem vai estendendo seus membros, de tal ordem que englobaria todo o planeta, formando uma verdadeira aldeia global, num processo que se inicia na tribo primitiva (da oralidade), passando pelos meios impressos (da racionalidade, industrialização) e finalmente as novas tecnologias – embora não tenha sido o seu objeto de estudos, a internet. Uma referência a retribalizam (volta à aldeia) do homem moderno, ou pós-moderno. Seguidor do pensamento de Innis, “Mcluhan pensava que as novas tecnologias de informação e de comunicação transformariam o mundo em uma enorme aldeia,” analisa Tremblay (2003, p. 18).

DISCURSO GLOBALIZANTE DE VEJA

Para entender o discurso da revista Veja, publicação da editora

Abril6, com sede em São Paulo, principal cidade da economia

nacional, pesquisa das capas do semanário nos anos de 2009 e 2010, dimensiona suas análises temáticas, cuja proposta leva-nos

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compreender os referenciais de seus enunciados. O período envolve um ano sem eleições e outro com a efervescência das campanhas presidenciais, que elegeram a petista

7 Dilma Rousseff.

Assim, em 2009 o Brasil aparece como destaque 51,02% das edições, sendo que em seguida vem global

8 com 18,37%. Entre-

tanto, considerando que há temas que fazem referência ao Brasil, numa perspectiva global, formamos um novo grupo chamado Brasil/Global, que perfaz um total de 16,33% de citações.

Os Estados Unidos, por sua vez, é assunto para 6,12% dos temas tratados. Assim, Brasil vem com 51,02%, enquanto que global obtém 48,98%. Possível afirmar a disposição do veículo em se apresentar com temas referentes aos grandes discursos re-produzidos sobre o princípio da globalização. Assim, o seu leitor se submete ao agendamento de grandes temáticas internacionais, que se estende para outras mídias, inclusive dos países da América Latina, portanto, reproduzindo as mesmas fontes.

Entretanto, mesmo em temas que destacam questões que dizem respeito aos brasileiros, a revista ataca de conselhos, trazendo fontes internacionais, ou grandes clássicos da literatura econômica como Adam Smith, quando destaca no título, como exemplo

9, “Como

não ser o pato da vez”, com material publicado em 14 de janeiro de 2009. Na página interna, numa espécie de conselho sentencia:

O pai da economia moderna, o escocês Adam Smith (1723-1790), enxergava um mundo ordenado em que cada indiví-duo agia sempre no interesse pessoal e da família e, assim, acabava contribuindo para a prosperidade geral da nação. Disse Smith:Não é da benevolência do padeiro, do açougueiro ou do cervejeiro que eu espero que saia o meu jantar, mas sim do empenho deles em promover o próprio autointeresse (VEJA, 2009).

No discurso do semanário está a voz de um dos consagrados autores do capitalismo, o qual define como meta o progresso assen-tado no individualismo, o que permitirá o enriquecimento da nação, arrastado pelos indivíduos dedicados ao trabalho que gera retorno diante de sua eficiência, com vistas aos seus interesses. Na página aparece entre duas folhas abertas a imagem do pensador escocês, o pão, o trigo e a uma garrafa de cerveja. O mundo se resume nas

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lógicas de uma sociedade voltada para a eficiência e consumo. Como se vê o destaque não é para pensadores brasileiros ou latino americano, o que demonstra a linha de pensamento do magazine. Não se observa as questões culturais e as condições de vida de uma sociedade que está distante da realidade vivida pela Europa, onde nasceram os ideais desenvolvimentistas. Esticando a corda, poderia se afirmar que a revista reproduz as referências discursivas do co-lonizador, portanto, que perduraria no imaginário da população da América Latina, mesmo no século XXI, mais de 500 anos depois.

Já em 2010, período de acirrada guerra eleitoral, houve mudança substancial nos números sobre temas específicos que envolvem personagens internacionais. Brasil tem destaque em 78% das matérias, enquanto global aparece em 22%, sendo que um terremoto que abalou o Haiti ganhou duas edições na capa; e, destacou em outra o Chile, que conviveu por dias com grupo de mineiros soterrados a uma grande profundidade, isolados do mundo, o que gerou expectativas sobre o resgate, promovendo um espetáculo midiático, não somente no brasileiro, mas mundial.

O foco do semanário, contudo, foi para a campanha eleitoral, pois, as publicações entre os dias 8 de setembro e 27 de outubro foram dedicadas, exclusivamente à campanha eleitoral, no total de oito edições em sequência, entretanto, sem desprezar suas referências enunciativas.

Pois, com foco no princípio da globalização, que se apresenta discursivamente na revista, conforme valores estabelecidos dos grandes centros econômicos, torna-se importante destacar que,

na verdade, com que não seja sequer percebida – é o fato de que a revista e seus leitores compartilham de um mesmo universo mental, no qual a modernidade (o oposto do atraso) e a democracia (o oposto do autoritarismo) correspondem aos países capitalistas centrais, nos quais, por sua vez, todo o jogo político se dá sob o signo da moderação (o oposto do radicalismo). Qualquer ideia que fuja da conformidade com um modelo, aliás bastante estrito, de ordenamento econômi-co e político liberal é ‘radical’, logo atrasada e autoritária. Qualquer inconformidade com o padrão dado de gestão dos meios de comunicação de massa é censura (BIROLI; MIGUEL, 2010, p. 15).

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No processo eleitoral, os argumentos do meio se posicionam contra o governo petista de Luiz Inácio Lula da Silva, com a de-núncia sobre o poder de dominação do polvo (uma metáfora para se referir com dubiedade ao povo e a Lula)

10; o questionamento

da candidata Dilma Rousseff11

, que ora afirma ser favorável ao direito da mulher ao aborto, ora, para atender os religiosos, volta atrás; destaca o mineiro Aécio Neves

12, com discurso liberal, e seu

poder de tirar votos dos petistas em Minas Gerais; à liberdade de imprensa que estaria correndo perigo de censura pelo governo pe-tista

13 – surge o risco da perda do domínio discursivo; e finalmente

as denuncias sobre dossiês feitos pelo PT, contra o candidato de oposição José Serra do PSDB, com proposta de governo mais próxima do pensamento empresarial brasileiro e global.

Na efetivação discursiva, se a revista paulista por um lado reproduz vozes do espaço global, por outro descontrói pensamentos e impõe discursos de negação sobre determinados personagens históricos, como é o caso da matéria publica na editoria Brasil com edição de 22 de setembro de 2010. No texto não apresenta diretamente qualquer fonte, mas que aparecem no processo de enunciação, pois repete pensamento que segue a linha de perso-nagens com enunciados ao longo de suas narrativas – portanto, um discurso insistente e constante, sobre o qual pode pressupor uma matriz discursiva.

Assim, em “As ideias são mais letais que armas”14

, Veja apre-senta a imagem de Wladimir Lenin, líder comunista da Revolução Russa de 1917, saindo de seu túmulo, e de pé se inclina para frente, com ar de prazer, tendo à sua frente o petista José Dirceu, também inclinado em uma posição que sugere envolvimento sexual ou espiritual. Conforme analisa: “a múmia fala pela boca de Dirceu e dos radicais. Petista adora um conselho. Em russo, ‘conselho’ é ‘soviet’, daí o nome da falida União Soviética”. No fechamento do texto, amarra o seu discurso ao afirmar que a proposta do político “consiste em calar a imprensa livre”.

Em resumo, ao analisar os enunciados das 99 capas, com publicações feitas ao longo dos dois anos, constata-se o distan-ciamento da objetividade defendida pelas grandes empresas de comunicação, no sentido se posicionar em favor da liberdade de expressão, com isenção e distanciamento político dos fatos. Contudo, como se pode observar não são prerrogativas essenciais,

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pois, afirma Biroli e Miguel (2010, p. 12), “o ideal da objetividade e a afirmação dos valores morais não são excludentes. [...] Mas o jornalismo não funciona como um espelho ou uma lente refra-tora. Ele colabora, ativamente, para a conformação dos valores e perspectivas socialmente hegemônicos”.

Considerando a complexidade da sociedade de massa, com o advento das novas tecnologias da comunicação que aproxima cada vez mais as pessoas no espaço global, contu-do, não se deve descartar a importância dos meios impressos, formadores de opinião, entre eles a revista veja, a qual possui mais de um milhão de leitores para cada tiragem do semanário, público formado por grupo de pessoas de poder aquisitivo e formador de opinião, que faz disseminar discurso, hegemonia e comportamento.

Torna-se forçoso entender que o mais importante neste século não são os bens materiais produzidos e consumidos, mas as media-ções e suas narrativas, que formam conhecimento e comportamento globalizado. A ordem sistêmica pode ser avaliada em função do grande fluxo de comunicação, que forma cultura e identidade e não se efetiva simplesmente nas estratégias econômicas, ao final, mas prioritariamente na reprodução de modelos discursivos, cuja base é formada por vozes a serviço das lógicas de países que defendem a manutenção da ordem global. Desta maneira, pensar a América Latina, requer entender os discursos dos meios de comunicação brasileiros, um dos países de ascendência econômica e cultural na região, que, sob a ótica dos princípios da globalização deve exercer influência sobre as várias nações latino-americanas, mas sem romper com a hegemonia de enunciados inquestionáveis, que eternizam, desde a colonização.

No entanto, este é um assunto a ser pesquisado detidamente.

CONCLUSÃO

Este artigo tem como objetivo contribuir para uma importante discussão sobre a América Latina, distanciando-se do crivo das dicotomias: dominante-dominado e centro-periferia, sem desprezar, no entanto, a criticidade peculiar e necessária das análises teóricas e científicas. Neste século, entender a região passa também pelos meios de comunicação, narrativas e personagens da enunciação,

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que não estão circunscritos a apenas um veículo como a Revista Veja, permanentemente contestada e criticada, sobretudo pela academia e partidos com visão socialista.

Não se deve discutir o posicionamento do semanário paulista, que tem sua importância nas discussões sociais ao apresentar seu posicionamento político, no sentido de influenciar as decisões sociais a partir de seus referenciais e missão. Trata-se de um meio de comunicação por onde passam vozes que formam a realidade social, as quais se inserem em outros meios, não so-mente da mídia impressa, como também o universo virtual. Desta forma, a atenção deve ser dada não as concepções de um órgão de imprensa, mas a capacidade dos meios de difundir conheci-mento e definir comportamento, os quais tem reflexo na política, economia e organização social. Pois, as narrativas reproduzem discursos sistematicamente para o pensamento latino americano, cuja referência está no princípio ordenador dos grandes centros irradiadores de culturas.

Assim, os enunciados midiáticos se fazem importantes para se chegar ao imaginário social de uma região historicamente de-pendente dos grandes centros econômicos, social e culturalmente. Conhecer seus referenciais discursivos que formam suas enuncia-ções, suas fontes selecionadas, conforme agendamento definido pelo conjunto dos canais de comunicação, permitirá compreender o pensamento latino americano, mais de 500 anos depois de sua colonização e de três séculos de independência política dos países colonizadores.

Não se devem trilhar caminhos reducionistas ao afirmar que a alienação de milhares de pessoas está relacionada à submissão aos diversos meios de comunicação-empresa, mas não se pode deixar de observar que, paralelamente às estratégias econômicas e políticas, existem enunciados que percorrem a América Latina em fluxo, sobretudo em tempos de tecnologia da informação, os quais estariam na base estrutural para a manutenção de uma cultura e comportamento social -embora deva considerar as transforma-ções políticas e econômicas que ocorrem na contemporaneidade. Antes, porém, é importante questionar se os tradicionais discursos não continuam hegemônicos para formação de conhecimento, cuja referência resulta na aceitação da pós-modernidade que a “colonializa”.

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A MESSAGE FROM THE MEDIA: DISCOURSE ANALYSIS OF VEJA MAGAZINE ABOUT GLOBALIZATION IN REGIO-NAL LEVEL

Abstract: in post-modern knowledge on the communication media allows us to observe how social reality is constructed from me-diations. On the threshold of the current political and economic process is the maintenance of hegemonic discourse and power of great empires. This paper analyzes the main Brazilian maga-zineVeja, in order to understand the media narratives capable of forming identity and culture in Latin America.

Keywords: LatinAmerica. Veja. Media.

Notas

1 Não um receptor simplesmente passivo diante dos grandes conglo-merados da informação, mas potencialmente ativo nas suas relações com os meios de comunicação, com o advento das novas tecnologias, inclusive com as redes sociais.

2 Democracia pensada como sinônimo de expansão, de estar ao alcance das massas, pois dela dependeria o resultado da estruturação do sis-tema econômica, sobretudo. A matriz de uma sociedade de classes.

3 O autor faz referência à obra de arte, que ao ser produzida e comer-cializada perderia sua aura, ou seja, de sua figura singular, composta de elementos espaciais e temporais, com aparição única de uma coisa distante vivenciado pela experiência. A técnica de reprodução permite o contato com a imagem de um lugar, mas não vivenciar o seu esplendor imediato.

4 Análise que será feita, de maneira mais abrangente, em outro espaço, pois este se apresenta limitado para ampliar a discussão. Entretanto, servirá como abertura de discussão sobre o tema proposto.

5 Conforme as autoras, “The Internet medium may impose boundaries on freedom of the press. But those limits are not definite, unquestionable impositions. There are alternatives, such as news blogs. Uniting agility and shortness, but at the same time allowing the reader to build a more complex view of happenings is one of the challenges posed for this medium. To meet it is to defend freedom of the press and the right to information in a network” (GERALDES; SOUZA, 2007).

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6 Conforme o próprio site da empresa, a Abril publicou 54 títulos em 2010 e é líder em 22 dos 26 segmentos em que atua. Suas publica-ções tiveram ao longo do ano uma circulação de 194,3 milhões de exemplares, em um universo de quase 28 milhões de leitores e 4,4 milhões de assinaturas. Sete das dez revistas mais lidas do país são da Abril, sendo Veja a terceira maior revista semanal de informação do mundo e a maior fora dos Estados Unidos (ABRIL, http://www.grupoabril.com.br/institucional/perfil.shtml acessado em 28 de maio de 2011).

7 Partido que tem como liderança, o ex-metalúrgico, sindicalista e presi-dente da república por dois mandatos, Luiz Inácio Lula da Silva, quem projetou, apoiou e passou o cargo para a sucessora Dilma Rousseff.

8 Global faz referência a matérias que dizem respeito a assunto que não tem um lugar específico, como por exemplo, aqueles ligados à tecnologia, saúde, comportamentos. No que se refere ao Brasil, embora seja uma parte da globalização, como ordem metodológica é separado deste todo. Portanto, sua referência é para assuntos que apresentam fontes e temas que cita o país em particular.

9 A escolha para análise foi aleatória, a segunda revista do mês de janeiro de 2009, o que será em essência o discurso do veículo ao longo das análises.

10 Neste sentido ao povo, por considerar o partido representante das massas, o qual estaria tomando o poder de maneira autoritária; e ao Lula ao fazer referência a um animal que poderia ser uma lula (animal) gigante. O mesmo tema e adjetivações aparecem nas edições de 8, 15, 22 e 29 de setembro de 2010.

11 Edição de Veja de 13 de outubro de 2010.

12 Edição de Veja de 20 de outubro de 2010.

13 Edição de Veja de 29 de Outubro de 2010.

14 No título fica evidente o lugar de fala da revista ao reconhecer o poder das ideias, as quais dependem das fontes que as geram e ganham es-paço no conhecimento social, nas narrativas. Desta forma, portanto, define sua posiciona discursiva.

Referências

ABRIL. A Abril está presente no dia a dia de milhões de brasileiros. http://www.grupoabril.com.br/institucional/perfil.shtml acessado em maio de 2011.

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