27
A Mente de Cristo Título original: The Mind of Christ Por John Angell James (1785-1859) Traduzido, Adaptado e Editado por Silvio Dutra Dez/2016

A Mente de Cristo - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/6116791.pdf · A mente de Cristo / John Angell James. Tradução , adaptação e edição

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: A Mente de Cristo - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/6116791.pdf · A mente de Cristo / John Angell James. Tradução , adaptação e edição

A Mente de Cristo

Título original: The Mind of Christ

Por John Angell James (1785-1859)

Traduzido, Adaptado e

Editado por Silvio Dutra

Dez/2016

Page 2: A Mente de Cristo - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/6116791.pdf · A mente de Cristo / John Angell James. Tradução , adaptação e edição

2

J27

James, John Angell – 1785;1859

A mente de Cristo / John Angell James. Tradução , adaptação e edição por Silvio Dutra – Rio de Janeiro, 2016. 27p.; 14,8 x 21cm Título original: The Mind of Christ 1. Teologia. 2. Vida Cristã 2. Graça 3. Fé. 4. Alves, Silvio Dutra I. Título CDD 230

Page 3: A Mente de Cristo - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/6116791.pdf · A mente de Cristo / John Angell James. Tradução , adaptação e edição

3

Em sua autobiografia, Spurgeon escreveu:

"Em uma primeira parte de meu ministério,

enquanto era apenas um menino, fui tomado

por um intenso desejo de ouvir o Sr. John

Angell James, e, apesar de minhas finanças

serem um pouco escassas, realizei uma

peregrinação a Birmingham apenas com esse

objetivo em vista. Eu o ouvi proferir uma

palestra à noite, em sua grande sacristia, sobre

aquele precioso texto, "Estais perfeitos nEle." O

aroma daquele sermão muito doce permanece

comigo até hoje, e nunca vou ler a passagem

sem associar com ela os enunciados tranquilos

e sinceros daquele eminente homem de Deus ."

Page 4: A Mente de Cristo - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/6116791.pdf · A mente de Cristo / John Angell James. Tradução , adaptação e edição

4

"Que haja em vós, a mesma mente que havia em

Cristo Jesus." (Filipenses 2: 5)

(Nota do tradutor: as versões inglesas trazem

“mente” em vez de “sentimento”, como nas

versões portuguesas. A versão inglesa está mais

de acordo com o termo usado no original grego

“fronéo”, que significa ter a mesma mente, o

mesmo parecer, o mesmo pensamento.)

Vocês sabem muito bem que a sede de toda

religião verdadeira está na alma, que forma o

caráter e guia a conduta pelo poder de um

princípio interior da vida espiritual. A

verdadeira piedade é, em suma, ser de uma

mente correta. Uma questão, no entanto surge

sobre o que é realmente uma mente correta, e

que tipo de disposição predominante o

evangelho requer naqueles que professam nele

crer. Isto é respondido pelo apóstolo, onde diz:

"Que esta mente esteja em vós, a que também

estava em Cristo Jesus".

Então, ele vai mostrar o que era a mente de

Cristo. Toda esta passagem merece a sua maior

atenção, tanto pela sua verdade doutrinária

Page 5: A Mente de Cristo - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/6116791.pdf · A mente de Cristo / John Angell James. Tradução , adaptação e edição

5

como pela sua prática, pois mostra de forma

muito marcante a íntima conexão entre a

verdade e a prática cristãs; e como a verdade é

empregada pelos escritores sagrados para

impor a prática cristã. As doutrinas mais

sublimes de nossa santa religião cristã são

práticas em seu desígnio e tendência; não são

meras teorias ou acadêmicas, mas todas elas são

"a verdade que é de acordo com a piedade". Se há

algum mistério de religião que seja grande e

elevado acima dos pensamentos dos homens e

dos anjos, é sem dúvida, a encarnação do Filho

de Deus; e se há algum lugar onde esta

importante verdade é clara e magnificamente

representada é nesta passagem. Os termos são

ao mesmo tempo tão sublimes e majestosos,

que é impossível dizer algo mais sublime ou

majestoso; o significado é tão nobre e tão bem

estabelecido, que nada mais poderoso poderia

ser imaginado.

O projeto da passagem é reforçar as frases dos

versos precedentes, ou seja, reprimir todas as

considerações egoístas de nossos próprios

direitos, interesses, dignidade, e no exercício de

uma consideração amável e condescendente

para o bem-estar dos outros, a fim de renunciar

Page 6: A Mente de Cristo - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/6116791.pdf · A mente de Cristo / John Angell James. Tradução , adaptação e edição

6

à vantagem, à qual poderíamos reivindicar

como sendo nossa. "Não olhe cada um somente

para o que é seu, mas cada qual também para o

que é dos outros." A disposição que o apóstolo

ordena é aquela espécie particular de virtude

cristã que se opõe a uma manutenção rígida e

tenaz de distinções externas, de direitos

pessoais, de posição social e precedência,

consistindo em uma mansa humildade e

benevolente condescendência para promover o

conforto e os interesses de nossos irmãos

cristãos. E porque esta é a lição mais difícil para

nossos corações orgulhosos e egoístas de

aprender na escola de Cristo, ele o impõe pelo

poder do exemplo mais convincente e

esplêndido que o universo contém, quero dizer,

o de nosso Senhor Jesus Cristo.

Seja qual for, portanto a visão correta da

passagem, deve necessariamente conter um

exemplo, por parte de Cristo, de grande e

marcante condescendência e de profunda

humildade, ou não seria relevante para a

ocasião. O que quer que seja, que deixe isto de

fora, não pode ser correto.

Quem quer que atentamente, e sem o

preconceito de noções ou sistemas

Page 7: A Mente de Cristo - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/6116791.pdf · A mente de Cristo / John Angell James. Tradução , adaptação e edição

7

preconcebidos considere esta passagem,

observará que o apóstolo aponta três estados ou

condições diferentes de nosso Senhor Jesus

Cristo;

1. O primeiro é um estado de dignidade e glória

antecedente infinita, expressado nas palavras:

"o qual, subsistindo em forma de Deus".

2. O segundo é um estado de humilhação

subsequente, descrito assim, "mas esvaziou-se a

si mesmo, tomando a forma de servo, tornando-

se semelhante aos homens".

3. O terceiro é um estado de exaltação

consequente, estabelecido no que se segue:

"Portanto, Deus o exaltou sobremaneira".

Agora, o desígnio óbvio do argumento do

apóstolo é provar a humildade benevolente e

condescendente de Cristo, descendo do

primeiro desses estados para o segundo. Se não

houvesse dignidade e glória anteriores, não

poderia haver nenhuma condescendência

subsequente, porque a condescendência

envolve necessariamente a ideia de uma

inclinação ou descida de alguma dignidade ou

Page 8: A Mente de Cristo - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/6116791.pdf · A mente de Cristo / John Angell James. Tradução , adaptação e edição

8

elevação anterior; uma renúncia de alguma

reivindicação a uma condição superior, um

precedente de alguma vantagem ou

preeminência. E, ao mesmo tempo, é necessário

que tal humilhação seja perfeitamente

voluntária. De modo que, no caso de nosso

Senhor, se houvesse alguma condescendência,

ele deveria ter tido uma existência anterior e

digna, da qual se inclinou para se tornar

homem, em que ele deve ter agido com perfeita

liberdade de escolha, sem estar sob qualquer

outra obrigação que a da restrição de sua

própria benevolência. Se não houvesse estado

de glória anterior; se ele estivesse sob qualquer

obrigação em fazer o que fez, quer de autoridade

ou justiça; não poderia ter havido nenhuma

benevolente condescendência.

Deve-se observar também, que seu estado de

glória anterior e de exaltação adquirido

posteriormente são dois estados perfeitamente

distintos e separados. Os oponentes da

divindade verdadeira de nosso Senhor pensam

o suficiente para dizer em resposta a todos os

argumentos para essa verdade trazida da glória,

e poder atribuídos a ele, que recebeu tudo isso

em sua ressurreição e ascensão, e que este

Page 9: A Mente de Cristo - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/6116791.pdf · A mente de Cristo / John Angell James. Tradução , adaptação e edição

9

poder e glória não são as suas perfeições

naturais, mas suas honras adquiridas, de data

não mais antiga do que a obra da redenção.

"Mas, isso é para confundir os distintos estados

de glória que lhe pertencem; a glória que ele

teve com o Pai antes do mundo era e a glória que

recebeu do Pai na redenção do homem; uma, a

glória da natureza, a glória do eterno Logos ou

Palavra; que deve ser considerada juntamente

com a glória do Filho do Homem, em suma, a

glória de sua eterna Divindade; e a outra a glória

de sua Pessoa mediadora, Deus-homem. "

Vejamos agora uma breve exposição das

diferentes partes desta maravilhosa passagem.

"Quem está na forma de Deus." O que significa a

forma de Deus? Não, como alguns afirmam, seu

poder de fazer milagres. Este poder não é em

parte alguma mais assim chamado; se este era o

seu significado, os apóstolos estariam tão

verdadeiramente na forma de Deus como o

próprio Cristo, pois eles também fizeram

milagres, assim como ele. O que quer que

signifique, era possuído antes de assumir a

semelhança dos homens, e foi deixado de lado

quando se tornou na forma como homem, mas

Cristo estava na semelhança dos homens trinta

Page 10: A Mente de Cristo - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/6116791.pdf · A mente de Cristo / John Angell James. Tradução , adaptação e edição

10

anos antes de fazer qualquer milagre. Além

disso, como a "forma de servo" e "a forma de um

servo e a semelhança de homens", significam a

verdadeira humanidade; a forma de Deus, à qual

essas expressões são colocadas em contraste,

deve significar a própria Divindade verdadeira.

Refere-se, então, à manifestação visível da

glória Divina no céu, similar, mas

transcendentemente superior, à Shekiná, ou

símbolo da Divina presença, no Lugar

Santíssimo, no propiciatório, entre os

querubins.

"Não considerou o ser igual a Deus coisa a que se

devia aferrar" - não considerou usurpação

receber as honras, e exercer os direitos da

Deidade. Esta expressão é dada por alguns

expositores assim: "Ele não cobiçou aparecer

como Deus". Se esta é a verdadeira

interpretação, ela fortalece mais do que

enfraquece o argumento para a Divindade de

Cristo, pois se ele não era Deus, que

condescendência estaria nele, como homem,

para não cobiçar aparecer como Deus?

"Mas se fez sem reputação", ou como as palavras

literalmente traduzidas significam, "ele se

esvaziou ou se despojou" dessa manifestação de

Page 11: A Mente de Cristo - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/6116791.pdf · A mente de Cristo / John Angell James. Tradução , adaptação e edição

11

sua glória; ele o colocou de lado, como um

monarca poria as vestes e regalia de seu estado,

como um soberano. De sua natureza Divina,

Cristo não poderia se despojar de si mesmo; de

seu estado ou manifestação Divina, ele poderia.

"E tomou sobre ele a forma de um servo",

servindo não só a Deus, mas a outros.

"Ele foi feito à semelhança dos homens". Em vez

de aparecer como Deus, ele veio como homem;

ser feito à semelhança dos homens significa que

ele era verdadeiramente humano.

E ser encontrado na forma de homem. De que

maneira deveria, ou poderia ser encontrado, se

ele fosse apenas homem? O que havia de

maravilhoso, ou digno de observação nisso, se

não poderia ter aparecido de alguma outra

forma?

Ele se humilhou. Como? Ao tornar-se

"obediente até a morte". Aqui está a prova e a

demonstração da sua humildade, do seu ser

obediente até à morte, do seu querer morrer e

submeter-se ao golpe da mortalidade. Sua

morte foi um ato voluntário; ele escolheu

Page 12: A Mente de Cristo - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/6116791.pdf · A mente de Cristo / John Angell James. Tradução , adaptação e edição

12

morrer, e havia condescendência nele para

assim fazer. Mas, pode ser perguntado "Se ele

não fosse nada além de homem, que escolha ele

tinha no assunto, ou que condescendência

exibiu em se submeter ao Pai?"

Se ele fosse apenas homem, a mortalidade era

sua sorte, sua condição, e em nenhum sentido

sua escolha, portanto não poderia ser qualquer

humildade voluntária. Como isso poderia ser

humildade em Cristo, já que é uma condição

comum do ser humano? Somente no

fundamento, de que enquanto em uma visão de

sua Pessoa ele é verdadeiramente e

propriamente homem, em outro ponto de vista

ele é mais do que homem.

Até a morte da cruz. A crucificação era o método

de execução mais torturante e degradante,

sendo amaldiçoado pela lei dos judeus, e

ignominioso pela dos gentios; o castigo dos mais

baixos escravos, e do pior dos criminosos.

Agora, então, olhe para a mente de Cristo como

estabelecido nesta transação mais maravilhosa.

Aquele que era verdadeiramente Deus, que se

manifestou por uma luz gloriosa e visível no céu,

Page 13: A Mente de Cristo - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/6116791.pdf · A mente de Cristo / John Angell James. Tradução , adaptação e edição

13

e recebeu a adoração das hostes celestiais, em

vez de descer sobre a Terra para nossa redenção

no esplendor da Divina Majestade, tomou sobre

si uma condição servil, e mostrou sua

condescendência tornando-se homem, mas

embora fosse homem, sendo ainda o Senhor de

todas as coisas, ele era superior à necessidade

de morrer, e ficou sujeito à morte apenas

porque escolheu morrer. Morrer era, portanto

uma humildade espantosa, mas o clímax de toda

esta estupenda condescendência foi a sua

submissão à morte da cruz. Se levarmos em

consideração, então a Deidade de Cristo, o

argumento do apóstolo é conclusivo, e seu

exemplo completo, mas sem isso você

dificilmente encontrará seu argumento, ou a

humildade de Cristo Jesus.

"A divindade de Jesus Cristo é no sistema da

graça, o sol, ao qual todas as suas partes estão

subordinadas e todas as suas estações da graça

estão relacionadas, o que as une em concórdia

sagrada e lhes transmite resplendor, vida e

vigor; da qual se este luminar central, e sua

glória fossem embora, suas harmonias santas

seriam quebradas, os elementos se

Page 14: A Mente de Cristo - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/6116791.pdf · A mente de Cristo / John Angell James. Tradução , adaptação e edição

14

precipitariam para o caos, e a luz da salvação se

extinguiria para sempre ". (Mason)

Antes de chegar à aplicação prática da

passagem, vou apresentar um resumo das

evidências bíblicas do fato da verdadeira e

apropriada Divindade de Cristo. O argumento é

este; visto que todos os títulos, atributos, obras e

honras pertencentes à Divindade são sem

limitação ou reserva atribuídos a Cristo na

Escritura, ele, além de seu ser em uma visão

verdadeira e propriamente humana, deve ser

verdadeira e propriamente Deus. Ele é, portanto

Deus e homem em uma Pessoa misteriosa.

TÍTULOS da Deidade atribuídos a Cristo:

Jeová - Isaías 6 comparado com João 12:41. Isaías

45: 22-25, em comparação com Romanos 14: 10-

12; Jer. 23: 6.

Deus - João 1: 1-4.

Deus conosco - Isaías 7:14.

Poderoso Deus - Isaías 9: 6.

Deus sobre tudo - Romanos 9: 4.

Page 15: A Mente de Cristo - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/6116791.pdf · A mente de Cristo / John Angell James. Tradução , adaptação e edição

15

Deus manifestado na carne - 1 Tim 3:16.

Bom Deus - Tito 2:13.

Verdadeiro Deus - 1 João 5:20.

ATRIBUTOS da Deidade em Cristo:

Eternidade - Isaías 9: 6. João 8:58. Heb 1:12; 13: 8;

Apo 1: 8.

Onipresença - Mateus 18:20.

Onipotência - Mateus 28:18; Heb 1: 3; Apo 1: 8.

Onisciência - Apocalipse 2:23, comparado com

Jeremias 17:10.

OBRAS da Divindade em Cristo:

Criação - João 1: 3-10; Col 1:16; Heb 1: 2.

Preservação de todas as coisas - Heb. 1: 3.

Page 16: A Mente de Cristo - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/6116791.pdf · A mente de Cristo / John Angell James. Tradução , adaptação e edição

16

Governo do universo - Dan. 2: 9-14; Mat 28:18. 1

Cor. 15: 24-27; Efésios 1:20 23; Filipenses 2: 9-11.

Regeneração - João 5:25, 26.

Ressurreição dos mortos - João 5:28; 11:25.

Sentença Geral - João 5:22; Atos 17:31; Rom 14: 9-

10. 2; Cor. 5:10.

HONRAS da Deidade em Cristo:

Chefe final da Criação - Col 1:15.

Adoração, Oração - Atos 7:59; 2 Cor. 13: 8; Rom 1:

7; e as bênçãos e saudações, no início e

conclusão da maioria das epístolas.

Louvor e Adoração - Apocalipse 5.

Estas são apenas uma seleção das passagens da

Escritura que afirmam e provam a Divindade de

nosso Senhor. De fato, esta grande verdade está

tão entrelaçada com a própria textura da

revelação, e ocorre incidentalmente em tantos

lugares, que me parece impossível separá-la

Page 17: A Mente de Cristo - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/6116791.pdf · A mente de Cristo / John Angell James. Tradução , adaptação e edição

17

sem destruir o todo. Que essas passagens sejam

bem estudadas e armazenadas com precisão na

mente, tanto em suas próprias palavras quanto

em seu significado. Volto agora à passagem que

foi o assunto da observação anterior; "Que haja

em vós, a mesma mente que havia em Cristo

Jesus".

Jesus Cristo é o único Mestre que sempre fez de

uma similaridade de disposição em relação a si

mesmo; um teste distintivo de discipulado. Ele

não é apenas o professor, mas o padrão de sua

própria religião. Seu exemplo é uma parte

essencial de seu sistema. Um homem pode ser

um filósofo de qualquer escola, se apenas

abraça os princípios de seu mestre, embora com

temperamento e espírito ele possa ser o oposto

em relação ao seu líder, como o leste é do oeste.

Mas isso não é suficiente para constituir um

homem cristão, pois não só deve receber as

doutrinas de nosso Senhor, mas deve se revestir

do seu próprio espírito. Ele não deve apenas

acreditar em tudo o que ele ensinou, mas deve

viver como ele viveu, pensar como pensava e

sentir como sentia. A mente de Cristo deve estar

na sua mente, tanto quanto possa contê-la, e o

coração de Cristo deve estar em seu coração. Eu

Page 18: A Mente de Cristo - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/6116791.pdf · A mente de Cristo / John Angell James. Tradução , adaptação e edição

18

realmente não conheço nada mais instrutivo,

ou mais solenemente impressionante do que

isso. Para ser cristão, não só é necessário adotar

as doutrinas de Cristo, cumprir com suas

ordenanças, observar seus sacramentos,

associar-se à sua igreja e abraçar sua causa; não,

nem mesmo se conformar externamente à sua

conduta, mas devemos ter sua própria mente

em nós. O espírito prevalecente e disposição de

sua mente, deve ser o nosso também; e a menos

que o olho do homem veja a imagem de Cristo

em nosso caráter, e o olho de Deus veja a mente

de Cristo em nossa alma, não somos

reconhecidos como verdadeiros cristãos.

E qual era a mente de Cristo? Quem o

descreverá? Somente os apóstolos que

escreveram sua vida. Quão santa era sua mente!

Nem uma sombra do pecado, nem a menor

mancha de mal moral passaram por ela para

envenenar ou poluir sua imaculada pureza. Sua

mente era o assento da benevolência mais

inefável. Seu coração era o próprio templo do

amor; nada malévolo, vingativo ou cruel jamais

encontrou um lugar lá. Todas as suas ações,

palavras e sentimentos eram o funcionamento

de um amor incomparável. Sua humildade era

Page 19: A Mente de Cristo - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/6116791.pdf · A mente de Cristo / John Angell James. Tradução , adaptação e edição

19

igual à sua pureza e benevolência; e é mais

especialmente a estas últimas características

que o apóstolo se refere quando diz "Que esta

mente também esteja em você". É a

condescendência do Salvador que é

especialmente recomendada à nossa atenção e

imitação. E ninguém deve ser tão distinto por

essa virtude como os defensores da Divindade

de Cristo, pois vem sobre eles com o peso de

uma obrigação peculiar. É seu dever apropriado,

e deve ser sua distinção.

Vejam meus queridos amigos, o que é a

verdadeira religião; não, como tive ocasião

frequente de observar, mera igreja ou

dissidência; nem episcopado, presbiterianismo,

independência, metodismo ou batista; nem

ortodoxia de credo, ou magnificência de

cerimônia; nem uma questão de governo da

igreja, ou de organização espiritual. Não! Não! A

verdadeira religião é ter a mente de Cristo.

Alguma vez lhe ocorreu examinar o pouco que é

dito pelos escritores sagrados sobre a

observação do sábado e dos sacramentos, sobre

adoração pública e cerimônias religiosas,

comparado com o que é dito sobre santidade,

benevolência e humildade?

Page 20: A Mente de Cristo - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/6116791.pdf · A mente de Cristo / John Angell James. Tradução , adaptação e edição

20

Mas, infelizmente! Ai! Quanto mais ávidas são

as multidões de professantes sobre uma coisa

do que sobre a outra, invadindo a ordem de

Cristo e estabelecendo formas acima do

espírito, só porque é muito mais fácil e

agradável com todos os sentimentos de nossa

natureza orgulhosa e corrupta ouvir um

sermão, observar um sacramento e descansar

para a segurança sobre a veracidade da nossa

igreja, do que mortificar as corrupções de nossa

própria mente, e transplantar nela as virtudes e

as graças da mente de Cristo.

Para o quê quatro canetas diferentes foram

empregadas pela mão da inspiração,

escrevendo os Evangelhos, senão para nos

mostrar a mente de Cristo para nossa imitação,

bem como sua obra expiatória para a nossa

salvação, e por essa delimitação quádrupla de

sua bela Pessoa, nos impressionar não só com

seus encantos, mas com a necessidade de nos

assemelharmos a ele?

Veja como a vida de piedade deve ser

promovida; lendo os Evangelhos e não só para

aprender como o pecado deve ser perdoado,

mas o que é a santidade e como ela deve ser

Page 21: A Mente de Cristo - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/6116791.pdf · A mente de Cristo / John Angell James. Tradução , adaptação e edição

21

promovida. A religião em nós não é um esboço

extravagante, nenhuma imagem original, mas

uma cópia, pois Cristo é o original. A isso

devemos nos sentar, com a determinação e a

esperança de produzir, com a ajuda da graça

Divina, algo semelhante a ele em nós mesmos; e

como artistas que mantêm seus olhos

constantemente sobre o original que estão

copiando, não para o propósito de admirá-lo

meramente, embora façam isso, e sua

admiração ajuda seu objetivo em copiar, mas

com o propósito de produzir uma semelhança

tão perfeita quanto possível. Assim, ao ler os

Evangelhos devemos manter nossa mente fixa

na conduta e no espírito de Jesus, não apenas

para ver e dizer "Como é belo!" Mas para copiá-

lo!

Se nada menos que isso é verdadeira religião,

quão comparativamente pouco dela existe em

nosso mundo. Se a mente de Cristo em nós for

necessária para fazer nossa reivindicação ao

caráter de um cristão, quantos devem renunciar

à honra? Isto nos tremer. Onde e em quem deve

ser vista a união de santidade, benevolência e

condescendência, que formou o caráter do

Salvador? Essa santidade deve ser encontrada

Page 22: A Mente de Cristo - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/6116791.pdf · A mente de Cristo / John Angell James. Tradução , adaptação e edição

22

naqueles professantes, que embora livres do

vício externo e da imoralidade permitem que as

corrupções de seu coração se irrompam, e

satisfazem, em vez de crucificar as paixões e

concupiscências da carne?

Sua benevolência é encontrada naqueles que

são tão apaixonados pelo mundo, tão agarrados,

que pouco ou nada pode ser tirado de suas mãos

relutantes para a salvação dos pecadores, e para

a glória de Deus? E então, onde está sua

humildade que deve ser vista em seus

seguidores?

Encontra-se naqueles que nunca renunciarão a

um único ponto de precedência, ou a um

pontilho de etiqueta; que terão todos os seus

direitos, a qualquer custo de princípio ou de paz;

que são tão aferrados a tudo o que lhes pertence,

não só em termos de propriedade, mas de

influência e respeito, que não irão ter o menor

ódio, ou ressentir-se da menor possível

negligência de suas reivindicações ou violação

de sua prerrogativa, ou oposição à sua vontade,

com todas as marcas de orgulho ferido, e

vaidade mortificada?

Page 23: A Mente de Cristo - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/6116791.pdf · A mente de Cristo / John Angell James. Tradução , adaptação e edição

23

Estão tão cheios de altas noções e admiração

excessiva de sua própria grandeza e excelência,

que, se não forem lisonjeados e acariciados

sentirão como se lhes fossem roubados seus

direitos e se afastariam com indignação e nojo.

Oh, esta é a mente que estava em Cristo? Não é

de surpreender que os povos do mundo não

demonstrem o temperamento cristão, mas que

os professantes discípulos de Cristo devem

estar tão faltosos nisto, é tão surpreendente

quanto doloroso. Podia-se esperar que na escola

de tal Mestre, a abnegação e a humildade

fossem consideradas por seus discípulos

virtudes cardeais; que todos começariam a

cultivar essas virtudes cristãs no momento em

que tomassem o seu lugar aos seus pés; e que o

cargo de honra e ambição com eles seria o mais

baixo, em vez do lugar mais alto. No entanto,

quão diferente é o caso. Pareceria como se os

homens tivessem ainda de aprender o que a

mente de Cristo realmente é, ou que esta mente

estava ligada a eles; e como se o projeto do

cristianismo fosse formar o professante

eclesiástico orgulhoso, intolerante e egoísta, em

vez do cristão santo, manso e humilde.

Page 24: A Mente de Cristo - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/6116791.pdf · A mente de Cristo / John Angell James. Tradução , adaptação e edição

24

Pareceria do espírito e da conduta de alguns,

como se fossem fanáticos de um credo ou de

uma igreja, que estes fossem os verdadeiros

sinais do discipulado, em vez do temperamento

de Jesus. E ainda um apóstolo nos disse, que "se

alguém não tem o Espírito de Cristo, ele não é

dele" (Rom 8: 9).

Muitos tinham necessidade de estudar de novo

os princípios elementares de nossa santa

religião, de aprender o que ela realmente

consiste. E se eles permitem que Cristo e seus

apóstolos os ensinem, em vez de pais e doutores,

conselhos e convocações, aprenderiam que os

credos e as cerimônias da igreja são substitutos

pobres para a mente de Cristo.

Portanto, meus queridos amigos, imploro que

cultivem o temperamento cristão, procurem o

espírito de Cristo, e não se contentem com nada

menos que a mente que estava nele. Deixe-me

suplicar-lhes para contemplá-lo; primeiro sobre

o trono de glória, adorado por anjos; e depois

sobre a cruz do Calvário, desprezado, rejeitado,

insultado, assassinado pelos homens; e quando

se encherem de espanto diante da graça que o

induziu assim a humilhar-se, examinem-se a

Page 25: A Mente de Cristo - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/6116791.pdf · A mente de Cristo / John Angell James. Tradução , adaptação e edição

25

respeito do que sabem da santa e humilde

benevolência que ditou esta maravilhosa, sim,

esta condescendência inefavelmente

misteriosa. Limite sua atenção por um tempo a

este único ponto de indagação, deixe todo o

resto por uma temporada; os credos, os

sacramentos, os sábados, as ordenanças, as

esmolas, e foque diretamente para sua

consciência perguntando "O que eu tenho da

mente de Cristo?"

O meu coração responde e a minha disposição

corresponde à mente santa, mansa, humilde,

perdoadora, benevolente, paciente e abnegada

de Cristo?

Os homens que conhecem a beleza e a glória do

original, conforme está delineado na página do

evangelho, quando me veem, dizem "Esta é a

imagem de Cristo?" Ou olham com ceticismo, e

depois de ficarem em silêncio por algum tempo

professam que podem ver pouca ou nenhuma

semelhança? Você pode levantar seu espírito e

disposição para o mundo, e dizer "Eis a mente de

Cristo?" Cristo reconhecerá sua mente como

sendo sua mente?

Page 26: A Mente de Cristo - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/6116791.pdf · A mente de Cristo / John Angell James. Tradução , adaptação e edição

26

Oh, fique satisfeito com nada menos do que com

uma cópia do coração de Cristo no seu. Você

deve ir mais baixo, mais baixo, mais baixo ainda

no serviço abnegado para Deus e seus santos.

Preciso apenas lhe mostrar novamente a íntima

conexão entre os princípios práticos do

cristianismo e as grandes doutrinas do

cristianismo. Tire a encarnação de nosso

Senhor, seu sacrifício na cruz e sua morte

expiatória, e o evangelho perde suas gloriosas

peculiaridades. E se você apaga sua Divindade,

sua expiação perde a eficácia, e seu exemplo seu

poder. "Se tirarmos a sua divindade", diz Hall,

"este grande exemplo se reduz a nada, rouba-o

de sua divindade, e você o despoja de sua

humildade. É isso que torna seu sacrifício de

valor infinito, sua cruz tão terrível e

interessante, e ao seu povo, tão inefavelmente

precioso. A cruz de Jesus Cristo é encontro

apropriado, o encontro designado do céu e da

terra; o lugar de encontro entre Deus e o

pecador. Remova Jesus Cristo de sua divindade,

e todos estas importantes verdades se reduzem

a futilidades inexprimíveis... Doutrinas

destinadas a aquecer e acender nossos

corações, nos enchem de perplexidade...

Page 27: A Mente de Cristo - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/6116791.pdf · A mente de Cristo / John Angell James. Tradução , adaptação e edição

27

Quando procuramos um mistério glorioso, não

encontramos nada além da obscuridade que faz

com que os homens criem sua invenção para

descobrir o significado dessas passagens, em

que está claro que o apóstolo se derrama em um

fluxo de afeto e prazer requintado."

E nunca, nunca se esqueçam, meus amados

amigos, de que a Divindade de Cristo, por mais

firme que seja, nunca é devidamente sentida,

nunca melhorada, nem verdadeiramente

desfrutada, até ser experimentada como uma

doutrina que preenche a alma com uma viva

semelhança com aquela santidade,

benevolência e humildade, que foram tão

visivelmente exibidas por Ele "que, subsistindo

em forma de Deus, não considerou o ser igual a

Deus coisa a que se devia aferrar, mas esvaziou-

se a si mesmo, tomando a forma de servo,

tornando-se semelhante aos homens; e, achado

na forma de homem, humilhou-se a si mesmo,

tornando-se obediente até a morte, e morte de

cruz."