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8/19/2019 A Questão Da Transitividade Dos Verbos Estativos No Perfectum
http://slidepdf.com/reader/full/a-questao-da-transitividade-dos-verbos-estativos-no-perfectum 1/6
Luiz Pedro da Silva Barbosa
Mestrando em Estudos da Linguagem pela Universidade Federal Fluminense
Orientadora: Profª Drª Lívia Lindóia Paes Barreto
V Jornada de Estudos Clássicos UFES
A questão da transitividade dos verbos estativos no perfectum
Este trabalho é produto da pesquisa que desenvolvemos e dá continuidade a uma série
de estudos centrados no sufixo –ē formador de verbos com valor de estado em Latim
(daí estativos). Assumindo que o referido morfema/sufixo tem influência direta na
transitividade desses verbos, a presente etapa dos estudos de transitividade focaliza os
temas de perfectum dos verbos estativos. O corpus de análise consiste em duas
comédias de Plauto: Mostellaria e Persa. Os exemplos de construções com perfectum
de verbos estativos foram retirados e submetidos à análise de transitividade, segundo os
parâmetros de Hopper & Thompson (1980) que abordam a transitividade como uma
propriedade da oração, o que chamam transitividade oracional. Assim, os resultados
dessa análise são comparados a estudos anteriores semelhantes, que observaram aquelas
construções mais prototípicas de verbos estativos, a fim de mostrar os parâmetros que
foram mantidos e quais se alteraram.
Palavras – chave : verbos estativos , transitividade , perfectum, funcionalismo, vogal
temárica
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1- Introdução
Dentre os vários tipos de derivação sufixal formadora de verbos em Latim,
destacamos aqui os verbos estativos, formados pelo sufixo –ē, pertencentes à segunda
conjugação. São verbos do tipo areo, caleo, frigeo (estar seco, estar quente, estar frio).
O seu sufixo formador possui uma história relativamente complexa, desde o estágio
indoeuropeu até o Latim, cuja trajetória apresentamos a seguir.
A conjugação verbal indoeuropeia se baseia em uma oposição aspectual. Isso
quer dizer que cada verbo possui diferentes temas aspectuais, cada um com seus
processos de formação peculiares; a conjugação de tempo, modo, pessoa número e de
voz se dava sobre cada um desses temas. Assim, a variação aspectual precedia as
demais, sendo, portanto, mais importante. Como explica Monteil (1974, p. 266-7), o
indoeuropeu possuía um aspecto dinâmico e progressivo, correspondente ao presente;
um aspecto estático e concluído, correspondente ao perfeito; e, um aspecto nem
dinâmico nem estático, um aspecto “zero” correspondente ao aoristo.
Nesse paradigma, o nosso sufixo –ē servia para formar temas de aoristo, que, em
Grego, idioma no qual esse aspecto se perpetuou, expressava um passado genérico, sem
noção de conclusão. A aproximação da noção aorística ao valor de estado,
semanticamente, se devia pelo aoristo exprimir uma ação que atingiu determinado
estado (cf. MEILLET, 1949, p184). O Grego manteve o tema de aoristo, bem como o
sufixo –ē, que passou a utilizar sistematicamente para for mar aoristos passivos, fazendo
parte da composição da desinência –θη (thē) de aoristo passivo, que depois se estende
ao perfeito e ao futuro.
No Latim, não há tema de aoristo, apenas uma oposição entre infectum e
perfectum, este que guarda os vestígios das formações de aoristo. No entanto, o sufixo
estativo –ē aparece no Latim apenas nos temas de infectum (presente), o que, por um
lado, morfologicamente, constitui uma grande inovação (cf. MONTEIL, 1974, p. 293),
mas por outro, semanticamente, constitui a permanência de um prolongamento do
referido estado no tempo.
Esses verbos são prototipicamente intransitivos, aliás, o são desde o indoeuropeu
(cf. CHANTRAINE, 1984, p.161). Então, o morfema estativo parece estar diretamente
relacionado à intransitividade verbal. Contudo, o Latim apresenta alguns usos
transitivos desses verbos, especialmente de um restrito grupo de verbos, cujos principais
representantes são habeo e teneo (que, em sua origem, significam „estar contido‟), que
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não só foram perdendo seu uso estativo intransitivo original, como também passaram
por processos bastante peculiares de mudança.
3. Pressupostos teórico-metodológicos
A teoria que nos orienta é a do Funcionalismo. Entre os principais fundamentos,
está aquele que postula que a gramática da língua possui certa mobilidade, que pode
sofrer influências de diversos fatores, tanto da forma da língua (Fonética, Morfologia,
Sintaxe), quanto da função (Semântica, Pragmática, Discurso).
Para a análise da transitividade verbal, os pressupostos utilizados serão os de
Hopper & Thompson (1980), que abordam a transitividade como uma propriedade da
oração, o que chamam transitividade oracional. São listados 10 parâmetros de
transitividade:
1- Participantes
2- Cinese
3- Aspecto
4- Pontualidade
5- Intencionalidade
6- Afirmação
7- Modo
8- Agentividade
9- Afetamento do objeto
10- Individuação do objeto
Esses parâmetros estão descritos também em Cunha e Souza (2007) e, em
(BARBOSA, 2014). Assim, na apresentação dos resultados da análise, faremos as
considerações sobre cada um desses parâmetros. As orações coletadas dos textos serão
submetidas à análise de acordo com esses mesmos parâmetros.
Paralelamente, esses critérios serão concebidos juntamente com a teoria dos
protótipos, de Talmy Givón (apud BRITO, 1999). Segundo ele, cada categoria
lingüística possui um uso mais esperado, ao qual chama protótipo, além de usos menos
esperados – menos prototípicos. A prototipicidade de uma categoria é definida por um
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Amostras Coletadas
Mostellaria
TR. At te Iuppiter
dique omnes perdant, fu, oboluisti alium. 38-39
SC. Vt speculum tenuisti, metuo ne olant argentum manus: 268
quibus anus domi sunt uxores, quae vos dote meruerunt. 281
praeceptis paruisti 420
O Theopropides,
ere, salve, salvom te advenisse gaudeo.
usquin valuisti? 449
nihil ego commerui, neque istas percussi fores. 516
TH. Scio. quid modo igitur? cur tanto opere extimueras? 525
TR. At tu isto ad vos optuere, quoniam cornicem nequis
conspicari, si volturios forte possis contui. 838
TR. Factum iam esse oportuit. 1093
TH. Non enim ibis. ego ferare faxo, ut meruisti, in crucem. 1133
adveniens perterruit me. loquere nunc quid fecerim: 1136
CALL. Sine me dum istuc iudicare. surge, ego isti adsedero. 1143
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Persa
SAG. Satin tu usque valuisti? 23
VIR. Non captus, sed quod habuit perdidit. 644
DOR. Quoius modi is <suo> in populo habitust? 648