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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES Pós- Graduação “Lato Sensu” Projeto A Vez do Mestre A RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO NAS CIRUGIAS PLÁSTICAS Cláudia Ruybal de Lacerda RIO DE JANEIRO 2005

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

Pós- Graduação “Lato Sensu”

Projeto A Vez do Mestre

A RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO NAS

CIRUGIAS PLÁSTICAS

Cláudia Ruybal de Lacerda

RIO DE JANEIRO

2005

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

Pós- Graduação “Lato Sensu”

Projeto A Vez do Mestre

A RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO NAS

CIRUGIAS PLÁSTICAS

Cláudia Ruybal de Lacerda

Monográfica apresentada ao Curso de Pós-Graduação da Universidade Candido Mendes, Projeto A Vez do Mestre, como parte dos requisitos para obtenção do título de Pós-graduado Orientador: Prof. Sergio

RIO DE JANEIRO

2005

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AGRADECIMENTOS

À Deus que se faz presente em todos os momentos da minha vida, mostrando o caminho, a verdade, a fé e me fazendo herdeira da Esperança.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao meu marido, Rubens, que teve muita paciência e compreensão com minha ausência. Também dedico aos meus filhos, Júlia, Rodrigo e Pedro que são a razão do meu viver. À meus pais, Luiz e Sônia, que tanto me ajudaram até aqui.

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RESUMO

A pesquisa que se segue, teve por objetivo esclarecer acerca da

temática multifacetaria da Responsabilidade Civil. Um dos temas que ainda é

objeto de controvérsias é o da Responsabilidade Civil dos Médicos, talvez

deflagrada por ocasião do surgimento e aplicação das normas constantes do

Código de Defesa do Consumidor uma vez que, sua justificativa principal está

no campo de reparação dos danos causados ao consumidor. Trata-se de

trabalho acerca da Responsabilidade Civil do Médico nas Cirurgias Plásticas.

Em relação ao enquadramento jurídico da Responsabilidade Civil, qualquer que

seja a forma de obrigação de meios ou de resultado, diante do dano, o que se

vai apurar é a Responsabilidade levando em conta principalmente o grau da

culpa, o nexo de causalidade e a dimensão do dano. Em sentido geral, o termo

Responsabilidade exprime a obrigação de alguém responder por alguma coisa

que fez ou deixou de fazer em prejuízo de terceiros. O objetivo deste trabalho é

ressaltar as diferenças da natureza da obrigação nas cirurgias plásticas

reparadoras e cirurgias plásticas meramente estéticas e a questão da

obrigação de resultado quando se tratar desta última.

METODOLOGIA

O estudo realiza-se através da análise dos textos existentes no Brasil acerca

do tema, levando-se em conta a doutrina estrangeira, nas figuras dos constitucionalistas

contemporâneos, como também por meio da coleta e análise da jurisprudência que seja

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10permitida detectar. As fontes puras e originais são reverenciadas, tornando esta

monografia uma investigação da própria teoria jurídica da pós-modernidade e suas

vinculações com as alterações históricas do Estado. Opta-se pela pesquisa bibliográfica

frente à necessidade de um maior aprofundamento e atualização teórica sobre o tema,

visto que o direito personalíssimo à saúde e a conseqüente aplicação dos princípios da

dignidade da pessoa humana e da proporcionalidade, aos casos conflitantes, possuem

forte mutabilidade. Paralelamente, traz-se a verificação das mudanças ocorridas nas

decisões proferidas, decorrentes dos fenômenos aqui estudados. Neste momento,

resultados são escassos apresentando-se ainda como possíveis resultados. Desde já é

inegável a constatação que nas últimas décadas vários conflitos inusitados, envolvendo

o direito à saúde, surgiram nos tribunais. Sentenças inéditas decorreram de fatos até

então inexistentes, e a responsabilidade civil por dano moral recebeu uma interpretação

extensiva alargando-se consideravelmente.

SUMÁRIO

INTRODUÇAO...................................................................................................00

CAPÍTULO I – RESPONSABILIDADE CIVIL ....................................................00

1.1 Evolução Histórica do Instituto ....................................................................00

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111.2 Ordenamento Jurídico .................................................................................00

1.3 O Novo Código Civil ....................................................................................00

1.4 Generalidades da Responsabilidade Civil do Médico .................................00

CAPÍTULO II – CIRURGIA PLÁSTICA .............................................................00

2.1 Conceito - Espécies ....................................................................................00

2.2 Obrigação de meio e de resultado .............................................................00

CAPÍTULO III – ERRO MÉDICO ......................................................................00

3.1 Generalidades ............................................................................................00

CAPÍTULO IV – A RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO NA CIRURGIA

PLÁSTICA ESTÉTICA ......................................................................................00

4.1 A estética como paradigma social ..............................................................00

4.2 A obrigação de resultado ............................................................................00

4.3 O dever de indenizar ..................................................................................00

4.4 Dano estético e dano moral ........................................................................00

CONCLUSÃO ...................................................................................................00

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................00

INTRODUÇÃO

O objetivo da presente pesquisa é perquirir acerca da

responsabilidade do médico nas cirurgias plásticas, tendo por premissa, a

natureza da obrigação.

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12A metodologia adotada baseou-se em pesquisa doutrinária, não só

no âmbito do direito, mas também em literatura médica para as busca de

conceitos tais como o de cirurgia plástica reparadora e sua distinção da cirurgia

meramente estética.

Fez-se necessária a pesquisa na esfera da sociologia, tendo em vista

a obsessão pelo paradigma de beleza inatingível que comanda a sociedade

atual.

Os aspectos subjetivos e objetivos que norteiam a escolha pela

cirurgia plástica influem diretamente na polêmica de sua conceituação como

obrigação de meio ou de resultado.

O presente trabalho não tem a pretensão de esgotar o assunto,

limitando-se à esboçar considerações necessárias ao enquadramento jurídico

de um fenômeno social de grande repercussão em nossos dias.

O dever do médico é agrupado em três ordens: o dever de

informação e aconselhamento, o dever de assistência constante e o dever de

prudência.

A responsabilidade médica, muito embora siga os ditames da

responsabilidade civil geral, apresenta características próprias por lidar

diretamente com a saúde e a vida do homem, dois alicerces fundamentais para

a existência plena e digna do ser humano.

A antiga concepção calcada em tratar a atividade do médico como

algo não sujeito às regras padrão da responsabilidade civil começou a ceder

lugar as novas idéias que procuraram regular e controlar tal atividade como

qualquer outra.

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13E, procurando enriquecer esta discussão em torno da

responsabilidade médica, o presente trabalho irá questionar o cabimento ou

não da obrigação de resultado na responsabilidade civil do médico em cirurgias

plásticas estéticas.

Para a estruturação desta discussão, o trabalho foi dividido em três

capítulos com as seguintes temáticas bases: Responsabilidade Civil, Cirurgia

Plástica e Responsabilidade Civil do Médico nas cirurgias Plásticas.

No capítulo primeiro, serão abordados pontos como a evolução

história do instituto da Responsabilidade Civil, o ordenamento jurídico acerca

do assunto e as questões relevantes do Novo Código Civil.

Já no capítulo segundo, serão abordados pontos como o conceito e

as espécies de cirurgias plásticas e a questão da obrigação de meio e de

resultado.

Por último, o capítulo terceiro vai adentrar pontualmente na hipótese

levantada pelo trabalho. Para isto, será feita uma explanação sociológica

acerca da estética como paradigma social e a busca incondicional pela beleza.

Após isto, analisar-se-á obrigação de resultado como natureza da

Responsabilidade Civil do médico na cirurgia plástica estética, juntamente com

o dever de indenizar e aspectos relevantes do dano estético e dano moral.

E, por fim, como ponto conclusivo será referenciada a caracterização

da obrigação de resultado na cirurgia plástica estética a fim de esclarecer sobre

o assunto.

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CAPÍTULO I

Responsabilidade Civil

1.1 - Evolução Histórica do Instituto

Etimologicamente, a palavra responsabilidade se origina do latim

“respondere”, responder à alguma coisa. Segundo o dicionário ilustrado da

Língua Portuguesa MICHAELLIS (ed. Melhoramentos), responsabilidade

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15significa “a qualidade de responsável que responde por atos próprios ou de

outrem, que deve satisfazer os seus compromissos ou de outrem”. O conceito

de responsabilidade civil na doutrina jurídica, encontra definições como a do

insigne Rui Stocco (Responsabilidade Civil e sua Interpretação Jurisprudencial

– 1997) que afirma que “a responsabilidade encontra seu fundamento no

princípio milenar de que deve reparar o dano aquele que causa-lo, dever

reparar o prejuízo”. Já o ilustre Desembargador Sérgio Cavalieri Filho conceitua

responsabilidade civil dizendo que:

“Responsabilidade é um dever jurídico sucessivo que surge para recompor o dano decorrente da violação de um dever jurídico originário. É possível dizer então que toda conduta humana que, violando dever jurídico originário, causa prejuízo a outrem é fonte geradora de responsabilidade civil”. (Programa de Responsabilidade Civil – 2000)

Segundo Alvino Lima (Da culpa e do risco – São Paulo – 1938), “a

responsabilidade civil se assenta, segundo a teoria clássica, em três

pressupostos: um dano, a culpa do autor do dano e a relação de causalidade

entre o fato culposo e o mesmo dano”.

Nos primórdios da humanidade, entretanto, não se cogitava o fator

culpa. O dano provocava reações imediatas, instintivas e brutais do ofendido

não havendo regras nem limitações. Dominava a chamada “vingança privada”

que seria uma forma primitiva, mas humana, de reação espontânea e natural

contra o mal sofrido. Combatia-se o mal com o mal e se a reação não pudesse

acontecer desde logo, sobrevinha a vingança mediata, posteriormente

regulamentada e que resultou na pena de talião; “Olho por olho, dente por

dente”.

Sucede-se o período da composição. O prejudicado passa a

perceber as vantagens e conveniência da substituição da vindita pela

composição econômica. Conforme Alvino Lima (Da culpa e do risco – São

Paulo – 1938), “a vingança é substituição pela composição a critério da vítima

mas, subsiste como fundamento ou forma de reintegração do dano sofrido.”

Ainda não se cogitava a culpa.

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Em um estágio mais avançado, quando já existe uma soberana

autoridade, o legislador veda à vítima fazer justiça com as próprias mãos. A

respeito disto preconiza Wilson Melo da Silva:

“A composição econômica, de voluntária que era, passa a ser obrigatória, e, ao demais disso, tarifada. É quando, então, o ofensor paga um tanto por morte de um homem livre ou de um escravo, surgindo, em conseqüência, as mais esdrúxulas tarifações. É a época do código de Manu e da Lei das XII Tábuas”. (Responsabilidade sem culpa e socialização do risco – Belo Horizonte - 1962)

Mais do que a definitiva oficialização da Justiça, a Lei das XII Tábuas

representa a consolidação história da indenização pecuniária como forma de

compensação pelo dano. A diferenciação entre a “pena” e a “reparação”,

entretanto, somente começou a ser esboçada ao tempo dos romanos, com a

distinção entre os delitos públicos e os delitos privados. Nos delitos públicos, a

pena econômica imposta ao réu deveria ser recolhida aos cofres públicos, e ,

nos delitos privados, a pena em dinheiro cabia à vítima. O Estado assumiu

assim, ele só, a função de punir sendo chamado de período da aplicação da

Justiça Estatal, surgindo a ação de indenização. O Prof. Antonio Montenegro

observa que:

“A teoria da indenização de danos só começou a ter uma colocação em bases racionais quando os juristas constataram, após quase um século de estéreis discussões em torno da culpa, que o verdadeiro fundamento da responsabilidade civil devia-se buscar na quebra do equilíbrio econômico-jurídico provocada pelo dano. A partir daí, conclui, a tese de Ihering de que a obrigação de reparar nascia da culpa, e não do dano, foi-se desmoronando paulatinamente”. (Ressarcimento de danos, 4ª.; p. 11)

No dizer de Aguiar Dias temos:

“A noção de culpa in abstracto e a distinção entre culpa delitual e culpa contratual foram inseridas no Código de Napoleão, inspirando a redação dos artigos 1382 e 1383 do Código Civil. A responsabilidade civil se funda na culpa – foi a definição que partiu daí para inserir-se na legislação de todo mundo”. (Da Responsabilidade , 4ª ed.; p.37, n.11)

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17 A tendência atualmente é de não se deixar irressarcida a vítima de

atos ilícitos gerando assim, ações de indenização das mais variadas espécies.

No regime do Código Civil de 1916, as atividades perigosas eram somente

aquelas assim definidas em lei especial. As que não o fosse, enquadravam-se

na norma geral do Código Civil, que consagrava a responsabilidade subjetiva.

O parágrafo único do artigo 927 do Novo Código Civil reflete a moderna

tendência dispondo, in verbis:

“Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, o risco para os direitos de outrem”

Adotou assim, solução mais avançada e rigorosa acolhendo a teoria

do exercício de atividade perigosa e o princípio da responsabilidade

independentemente de culpa nos casos especificados em lei, a para da

responsabilidade subjetiva como regra geral, não prevendo, porém, a

possibilidade do agente, mediante inversão do ônus da prova, exonerar-se da

responsabilidade de se provar que adotou todas as medidas aptas a evitar o

dano.

Uma das características do nosso sistema jurídico é a certeza

ordenadora do Direito vigente, que deve observância a certos princípios

fundamentais em defesa da vida e do patrimônio das pessoas, ou seja, a

segurança jurídica, correspondendo ao ideal de dar a cada homem o que lhe

pertence.

A Constituição Federal de 1988 veio consagrar um dos princípios

elementares da segurança jurídica que é o princípio relativo aos direito

fundamentais que consiste na garantia constitucional de um conjunto de direito

vitais à dignidade da pessoa humana, diretamente aplicáveis e que vinculam o

poder público e a sociedade. O princípio da dignidade da pessoa humana que

é a base de todos os valores morais está previsto na Constituição Federal em

seu artigo 1º, inciso III.

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Portanto, a Constituição Federal veio trazer a previsão inequívoca do

dano moral uma vez que este se configura pela violação do direito à dignidade.

Esta dignidade humana deve ser respeitada sob pena de uma vez violada

gerar obrigação de indenizar.

1.2 – Ordenamento Jurídico

O artigo 159 do Código Civil de 1916 regulamentava de forma

abrangente acerca da complexidade do conceito de responsabilidade civil

descrevendo em seu conteúdo, os pontos fundamentais para a imputação de

uma sanção. Com o passar do tempo se fez imprescindível a inclusão de novos

maiôs para respaldar o universo da responsabilidade. O artigo mencionado

preceituava, in verbis:

“Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou imprudência violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano”

A regra do artigo acima mencionado denominava, através de sua

definição, alguns pressupostos essencialmente necessários para que a

responsabilidade civil se manifestasse. Estes pressupostos são determinados

em 4 (quatro) categorias: ação ou omissão do agente, culpa do agente; relação

de causalidade e dano experimentado pela vítima.

Entendia, pois o nosso Código Civil de 1916 que a responsabilidade

surgiria a partir da constatação de culpa, atingindo a todos que de uma maneira

ou outra estivessem vinculados ao prejuízo, ao dano causado, filiando-se assim

à teoria subjetiva que exige a culpa como fundamento para obrigação de

reparar o dano. Admitia O Código Civil de 1916 a responsabilidade sem culpa

apenas em questões restritas, raras e especiais.

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19 A culpa apresentava três modalidades: culpa in vigilando que seria a

responsabilidade específica dos pais e tutores que tem o dever de orientar e

acompanhar os filhos; a culpa in eligendo seria a responsabilidade dos patrões

em relação aos atos praticados por seus empregados ou seja, se caracteriza

pela má escolha do preposto e por último; e a culpa in custodiando que seria a

responsabilidade assumida pelo dono de um animal ou de coisa inominada, de

cuja força resulta um fato considerado ilícito, se funda na falta de diligência do

proprietário quanto ao controle e fiscalização de seus pertences.

Considerava-se que a culpa era grave quando o autor do ilícito falta

com os cuidados adotados amplamente pela sociedade. O ilícito era praticado

diante de um quadro em que o simples homem do povo seria capaz de indicar

conduta adequada. A culpa era leve quando o agente não revelava a prudência

comum aos homens de capacidade mediana e, era levíssima quando a

conduta exigida pelas circunstâncias se revelava ao alcance de uma minoria,

dotada de grande discernimento.

Diferentemente do Direito Penal, o Código Civil de 1916 equiparava a

culpa ao dolo para fins de reparação do dano e não fazia distinção entre os

graus de culpa. Ainda que levíssima, a culpa obrigava a indenizar, pois se

levava em consideração a extensão do dano, salvo em casos excepcionais.

De acordo com o artigo 159 do Código Civil de 1916, além do ato

lesivo do agente causador da lesão, do dano estar presente no lesado e do

nexo causal estar estabelecido entre o ato lesivo e o dano ao lesado, deveria

estar presente a culpa do agente causador do dano.

Com o advento da Constituição da República Federativa do Brasil de

1988 e a inserção em seu texto de normas que tutelam os valores humanos,

surge o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana criando assim

a base para indenizações por dano moral e material.

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20 A Constituição em seu parágrafo 6º do artigo 37 diz que, in verbis:

“As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadores de serviço públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa”

Estabelece, portanto, um regime único da responsabilidade civil da

administração pública, sendo esta, objetiva pelo risco, quer se trate de conduta

comissiva ou omissiva do agente ou servidor.

No direito vigente é inadmissível a consideração da culpa,

responsabilidade subjetiva, para afirmar-se o dever do Estado indenizar.

A Teoria objetiva da responsabilidade tem como base e fundamento

o risco. Esta teoria surgiu por entender que a culpa é insuficiente para regular

todos os casos de responsabilidade ante aos fenômenos sociais dos dias de

hoje.

A Constituição Federal determinou em seu artigo 5º, XXXII que: “O

Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do Consumidor”. Com base nesta

determinação criou-se o Código de Defesa do Consumidor que entrou em vigor

em março de 1991, trazendo inovações e tendo como princípio fundamental o

da boa fé objetiva. Seus princípios e normas são de ordem pública e interesse

social, vale dizer, de aplicação necessária, conforme expressamente disposto

logo em seu primeiro artigo.

Ocorre então uma ampliação da responsabilidade civil surgindo a

responsabilidade pelo fato do produto ou serviço, ambas de natureza objetiva,

prescindido do elemento culpa a obrigação de indenizar atribuída ao fornecedor

respondendo independentemente da existência de culpa, pela reparação dos

danos causados aos consumidores e, equiparando-se à estes, todas as vítimas

do evento.

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21 No conceito de fornecedor enquadra-se o médico, pois este é a

pessoa que desenvolve atividades de prestação de serviços. Já como

consumidor enquadra-se o paciente que se utiliza dos serviços prestados pelo

médico.

O Código de Defesa do Consumidor prevê a responsabilidade pela

teoria do risco, pois estabelece que os produtores ou fornecedores

responderão independentemente da existência de culpa (arts. 12 e 14), tanto

quanto pelo defeito do produto, quanto do serviço. Não existe a divisão entre

culpa contratual ou extracontratual.

Também para vício do produto ou serviço é reconhecida a

responsabilidade objetiva. Assim, a doutrina fundamenta que a

responsabilidade objetiva nas relações de consumo não é absoluta, uma vez

que permite a comprovação das excludentes mencionadas. Contudo, o Código

de Defesa do Consumidor seguiu a doutrina objetiva na tentativa de assegurar

a reparação dos danos, levando em consideração que o consumidor é sempre

a parte mais fraca da relação jurídica de consumo.

Em que pese às várias teorias que originaram a doutrina objetiva,

prevalece a idéia do risco criado, isto é, aquele que controla o perigo e seus

riscos inerentes em razão de uma determinada atividade é o responsável pelos

danos que vier a causar.

Mas, a principal mudança que o referido Código trouxe, foi a inversão

do ônus da prova, previsto em seu art 6ª, para facilitar a defesa dos direitos do

consumidor/paciente, o juiz ao entender cabível o dispositivo, poderá

determinar que a prova de que não agiu com culpa, seja produzida pelo

profissional da área médica.

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22 Um dos direitos básicos do consumidor está previsto no artigo 6º,

inciso VI do Código de Defesa do Consumidor, in verbis: “A efetiva prevenção e

reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos.”

Em 1995 com o advento da Lei 9099, foram criados os Juizados

Especiais, por força do artigo 98, inciso I da CRFB/88 garantindo a ampliação

no acesso à justiça.

1.4 Responsabilidade civil do médico

.

A responsabilidade civil estabelece em nosso país, via de regra, que

aquele que causar dano a outrem deve ressarci-lo por estes prejuízos. A

responsabilidade civil do médico advém, também, desta disposição existente

em nosso ordenamento jurídico. Deve, pois, ser indenizado, caso isso postule

em juízo, aquele que submetido à tratamento médico, venha, por causa deste

tratamento, a sofrer um prejuízo, seja de ordem material ou imaterial -

patrimonial ou não patrimonial.

Para o entendimento do mecanismo jurídico da necessidade desta

indenização, que pode o médico, judicialmente, ser compelido a fazer, há que

se analisar conceituações que vão ser utilizadas como base, no manejo dessa

situação jurídica que se estabelece entre o médico e o paciente lesado. Os

primeiros conceitos são os de responsabilidade subjetiva e responsabilidade

objetiva. Após, os de relação contratual e relação extracontratual. Em terceiro

lugar, os conceitos de obrigação de meios e obrigação de resultado.

A responsabilidade subjetiva (teoria da culpa) é aquela em que além

do ato lesivo do agente causador de lesão, do dano estar presente no lesado e

do nexo causal estar estabelecido entre o ato lesivo e o dano ao lesado, tem

que se achar presente, nesta relação, a culpa do agente causador do dano. E,

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23esta culpa, caracteriza-se pela presença no agir deste de dolo ou pela presença

só de culpa no sentido estrito, ou seja, de imprudência ou negligência ou

imperícia. A responsabilidade objetiva é aquela em que presentes na relação

entre o agente causador do dano e o lesado o ato lesivo, o dano no lesado e o

nexo de causalidade entre este ato e este dano, não há que se falar em culpa

para que fique caracterizada a necessidade de indenizar o lesado pelos

prejuízos, de qualquer ordem, que porventura tenha sofrido. A presença de

culpa no agir do agente causador do dano, enfatizamos, é desnecessária para

que se caracterize, juridicamente, a necessidade de indenizar o lesado pelos

prejuízos de que tenha sido vítima, em caso de responsabilidade objetiva.

A relação contratual é aquela que se estabelece entre as partes

baseada na autonomia da vontade de ambas. Decorre de uma convenção entre

as partes, tornando-se lei entre elas aquilo que for acordado pelas mesmas. A

relação extracontratual é aquela que se estabelece entre as partes decorrente

de disposições legais presentes em nosso ordenamento. Independe da vontade

das partes. É regida por dispositivos que vigoram erga omnis.

A obrigação de meios é aquela em que aquele que é contratado não

se compromete com um objetivo específico – determinado. Obriga-se o

contratado a utilizar no cumprimento da obrigação que tem com o contratante

toda a sua diligência e prudência, de acordo com as técnicas usuais, naquele

momento, para o procedimento pelo qual se comprometeu. A obrigação de

resultado é, pelo contrário, aquela em que há um compromisso do contratado

com um resultado específico – determinado. Compromete-se o contratado a

atingir um objetivo delimitado – um resultado certo - para satisfazer o que se

obrigou com o contratante. Quando não atinge este resultado pré-determinado

presume-se que o contratado agiu com culpa. – há presunção de culpa.

Quando se tratar de obrigações de meio o ônus da prova cabe ao que acusa (o

que é a regra geral em nosso ordenamento jurídico). Nas situações em que

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24tratar-se de obrigações de resultado, devido à presunção de culpa, há inversão

do ônus da prova, cabendo provar a inverdade do que lhe é imputado ao

acusado.

Cabe aqui comentar que sendo um contrato a relação que se

estabelece entre médico e paciente, em caso de não cumprir o médico com a

sua obrigação. Só se eximiria disso se provasse – fizesse prova – de que não o

fez por motivo de caso fortuito ou força maior. No entanto, a doutrina e a

jurisprudência, como regra, determinam a necessidade de que o paciente

prove que o médico agiu com culpa. Portanto, trata-se de um contrato sui

generis e seu inadimplemento, quando este se configurar, caracteriza a

presença de um tipo especial de culpa do médico. Esta culpa é especial pois,

mesmo se tratando de um contrato não cumprido pelo contratado, a culpa do

médico deve ser provada pelo paciente, não havendo a presunção de culpa do

contratado – o médico – presunção esta característica dos contratos, em nosso

ordenamento jurídico, quando a obrigação contratual não for satisfeita pelo

contratado. Prevalece, na relação contratual não adimplida, no caso de médico

e paciente, a necessidade do paciente que acusa provar a culpa do médico, o

que, via de regra, é o que predomina nas demais relações jurídicas em nosso

ordenamento.

No direito brasileiro a doutrina e a jurisprudência são unânimes em

estabelecer que a atividade médica é regida pela responsabilidade subjetiva. O

Código de Defesa do Consumidor estabeleceu o mesmo no parágrafo 4° ("A

responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a

verificação de culpa") do seu artigo 14 . Os casos de responsabilidade objetiva

do médico não existem pois, mesmo tratando-se de cirurgião plástico, quando

por ocasião de cirurgia estética, por tratar-se de uma obrigação de resultado o

que ocorre é uma presunção de culpa, devendo o médico, se for o caso, fazer

prova em contrário. Ou seja, cabe ao médico em juízo provar que não agiu

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25com imprudência ou negligência ou imperícia (até mesmo dolo) – há uma

inversão do ônus de provar.

Essa responsabilização do médico, nestes termos referidos, decorre

do vínculo que se estabelece entre este e o paciente. Este vínculo, é o que

predomina na doutrina e jurisprudência, caracteriza um contrato – uma relação

contratual. Há poucas vozes em contrário. Pode se caracterizar uma relação

extracontratual com o paciente em casos, por exemplo, de atendimento de

emergência ou, até mesmo, em caso de atendimento a um paciente já

encontrado em estado de inconsciência, quando do primeiro contato com o

médico. No caso da relação contratual o contrato que se estabelece, entre o

médico e o paciente, não encontra uma colocação definida dentro dos

contratos típicos – nominados. Pode-se considerá-lo um contrato atípico -

inominado, já que seria um contrato de serviço intelectual, com características

especiais, até de aleatoriedade, visto não se quantificar com precisão o seu

objetivo – obrigação de meios que é. É um contrato livre, tácito quase sempre,

até por que, geralmente, não é feito por escrito. Celebra-se este contrato pela

simples comunhão de vontade entre as partes – médico e paciente, daí a sua

informalidade, na maior parte das vezes.

E, não resta dúvida, sendo uma obrigação de meios (é a

unanimidade na doutrina e jurisprudência brasileiras) aquela através da qual o

médico contratou com o paciente, cabe ao médico agir com diligência e

prudência, dentro da lex artis, para que tenha adimplido com aquilo pelo qual

se obrigou. Ou seja, deve atuar dentro da melhor técnica compatível ("estado

da arte") com o local e tempo do atendimento médico que realizar. A cura não

pode ser o objetivo maior devido à característica de imprevisibilidade do

organismo humano – mormente em estado de doença, o que se reflete em

limitações no exercício da medicina. Já não se pode dizer o mesmo quando

estivermos frente a um atendimento médico por ocasião de uma cirurgia

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26plástica estética (para os casos de cirurgia plástica reparadora cabe a

afirmação de caracterizar-se como uma obrigação de meios). A doutrina e a

jurisprudência brasileira são unânimes, pelo menos até o presente momento,

em considerar os casos de cirurgia plástica estética como um contrato cujo

objeto é uma obrigação de resultado. Assim, há presunção de culpa, se o

médico cirurgião plástico não adimplir integralmente a sua obrigação (o

adimplemento parcial é considerado uma não execução da obrigação pela qual

se comprometeu com o paciente contratante). Cabe, pois, devido à presunção

de culpa, ao médico, nos casos de cirurgia plástica estética, fazer prova de que

agiu na execução da tarefa com prudência, zelo e perícia .

O médico e o paciente são, pois, sujeitos de uma relação jurídica –

um contrato. Este contrato tem como seu objeto, via de regra, uma obrigação

de meios. E, esta relação médico-paciente em caso de necessidade de

indenização, em juízo, pelo médico ao paciente, de prejuízo que este

porventura venha a ter decorrente do atendimento que lhe foi prestado, é

regida pelos conceitos jurídicos da responsabilidade subjetiva (teoria da culpa).

.

1.3 – O Novo Código Civil

O Novo Código Civil, no que tange ao instituto da responsabilidade

civil, sistematizou os pontos mais relevantes e consagrados pela

jurisprudência, relativos à indenização pelo dano moral, a aplicação da teoria

do risco, e acolhimento da teoria do abuso de direito, nada mais do que o

determinado pelas inovações, em matéria civil, trazidas pela Constituição

Federal de 1988.

O artigo 186 do Novo Código Civil alterou a redação do artigo 159 do

Código Civil de 1916, incluindo a culpa no conceito de ato ilícito e não mais

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27como um dos pressupostos a responsabilidade subjetiva. Para o

desembargador e Professor Sérgio Cavalieri Filho, o ato ilícito:

“É sempre um comportamento voluntário que infringe um dever jurídico, e não que simplesmente prometa ou ameace infringi-lo, de tal sorte que, desde o momento em que um ato ilícito foi praticado. Está-se diante de um processo executivo, e não diante de uma simples manifestação de vontade. Em conclusão, o ato ilícito é o conjunto de pressupostos da responsabilidade” (Programa de Responsabilidade Civil – 2002)

Houve um alcance legislativo do que já se aplicava, principalmente

por estar estabelecido em outras legislações ordinárias, como é o caso da

responsabilidade objetiva, prevista para variadas situações, como para as

relativas aos direitos do consumidor, no entanto, não apresentou qualquer

inovação.

O novo Código Civil, contrariando a moderna tendência da

responsabilidade objetiva, privilegia a responsabilidade com culpa, repetindo no

artigo 186 o antigo artigo 159, ainda, no artigo 187, ao estabelecer que

“também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exerce-lo, excede

manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa

fé ou pelo bons costumes”, o que caracteriza a teoria da repressão ao abuso

do direito.

Ao reconhecer a responsabilidade em razão de ter havido abuso de

um direito, o novo Código Civil avançou em relação ao Código de 1916. Pela

sistemática apresentada pelo novo Código, que apenas reconhece a

responsabilidade objetiva acolhendo a teoria do risco, no parágrafo único do

artigo 927, destacando-o dos atos ilícitos, parece haver necessidade de apurar-

se a intenção do agente, pois descreve a prática do abuso de direito apenas

como um ato ilícito.

Em relação à teoria do risco, o Novo Código dedica norma genérica

no parágrafo único do artigo 927, estabelecendo que haverá obrigação de

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28reparar um dano independentemente da culpa, desde que esteja previsto em

lei, ou “quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano

implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem”.

Ademais, o Novo Código Civil, estabelece princípios aplicáveis a todo

e qualquer negócio jurídico. O princípio da boa fé objetiva tornou-se norma

cogente, não apenas para as relações de consumo, preconizando uma nova

era nas relações obrigacionais no Direito brasileiro.

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29

CAPÍTULO I I

Cirurgia Plástica

2.1 Conceito e espécies

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30A cirurgia plástica tem sido a especialidade médica que mais

rapidamente evoluiu nos últimos anos. Cada dia se passa a entender que a

opção por uma determinada intervenção no campo da cirurgia plástica não

significa apenas um procedimento mecânico ou a decisão de uma preferência

estética, mas uma questão eminentemente médica, cuja avaliação se dê caso

a caso.

Para tanto, é fundamental que se estabeleça a distinção entre a

cirurgia plástica estética e a cirurgia plástica reparadora.

No plano médico, a primeira tem seu objetivo limitado ao resultado

estético, visando unicamente a aperfeiçoar o aspecto externo de uma parte do

corpo, como por exemplo, uma lipoaspiração no abdômen.

Já na cirurgia plástica denominada de reconstrutora, reparadora ou

corretiva, o objetivo principal, ainda que promova melhoria estética, é o da

resolução de problemas de natureza médica como por exemplo, defeitos e

cicatrizes na pela causados por queimaduras sendo, portanto de indiscutível

legitimidade e da mais insuspeita necessidade quando o intuito é o de corrigir

condições deformadoras congênitas ou adquiridas e mutilações resultantes de

traumas. Assim, uma cirurgia reparadora para corrigir um lábio leporino ou uma

seqüela de câncer de mama e as lesões oriundas de um trauma de face, na

tentativa de restaurar o individuo às sua configuração habitual reintegrando-o

em suas possibilidades sociais, não há o que discutir: é ético, legal e

necessário. Não se pode esquecer que esta forma de cirurgia deve estar

alicerçada na justa necessidade das pessoas atendidas e dentro das normas

reguladas pelos ditames éticos e legais.

No plano jurídico a diferenciação entre cirurgia plástica estética e

reparadora tem semelhante importância. Existe uma forte corrente de

doutrinadores, que consideram as cirurgias plásticas meramente estéticas,

como uma obrigação assumida pelo cirurgião, sendo assim, obrigação de

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31resultado uma vez que a cirurgia geral existe mediante indicação indispensável

ou urgente, fato que não ocorre com a cirurgia de finalidade estética.

Segundo entendimento doutrinário majoritário, nas cirurgias plásticas

estéticas, o cirurgião assume uma obrigação de resultado devendo indenizar

pelo não cumprimento da obrigação, visto sobre ele cair uma presunção de

culpa, salvo prova de força maior ou caso fortuito.

Já nas cirurgias reparadores, a maioria dos doutrinadores defendem

que esta modalidade de cirurgia plástica é uma obrigação de meio, dado seu

caráter terapêutico, cabendo o ônus da prova ao paciente, devendo este provar

que o médico não teve o grau de diligência dele exigível. Neste sentido, a

orientação jurisprudencial:

“Indenização – Responsabilidade Civil – Ato Ilícito – Erro Médico – Deformação de seios decorrente de mamoplastia – culpa presumida do cirurgião – Cabimento – Hipótese de cirurgia plástica estética e não reparador – Obrigação de resultado – Negligencia, imprudência e imperícia, ademais, caracterizadas – Recurso não provido JTJ 157/105 Entende-se que a obrigação contratual assumida pelo médico é de resultado, e não de meio ou de prudência e diligência, como concorrente é referido. Não constitui objeto do contrato a cura do doente, mas a prestação de cuidados conscienciosos e atentos. Caracterizada assim a natureza da obrigação resultante desse contrato, que obviamente não tem necessidade de ser firmado, mas cujo vínculo se forma quando, chamado, o médico aceita a incumbência de tratar o doente, assume em conseqüência, a obrigação de dar a este, o tratamento adequado, isto é, conforme os dados atuais da ciência. “A atenção ao chamado, seguida da visita e do tratamento iniciado, estabelecem o contrato entre o médico e o cliente” (TJRS – 01ª C. – Ap. – j 21.10.76 – AJURIS 17/76)

Ao defender que a obrigação do médico na cirurgia plástica é de

resultado e não de meio, diz a melhor doutrina que ficará a cargo do médico o

ônus da prova, de que não laborou com imprudência, negligência e imperícia,

para não ser responsabilizado pelo dano ou prejuízo que causa.

Neste sentido, o entendimento do Professor Caio Mário da Silva

Pereira, que faz algumas considerações quanto a cirurgia plástica:

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32

“A primeira delas, tanto nas cirurgias plásticas reparadoras como estéticas, o médico tem o dever de alertar o paciente sobre os riscos da cirurgia, dever de assistência pré e pós-operatório, além dos cuidados com a própria intervenção cirúrgica; abster-se de abusos ou desvio de poder. A segunda, restringe-se à cirurgia estética, pois sendo uma obrigação de resultado e não de meio, o cliente quer ver corrigida uma imperfeição ou melhorar sua aparência. Não é ele portador de moléstia, sendo que o médico empenha-se para proporcionar o resultado pretendido e por ele prometido” (Responsabilidade civil – 1999)

2.2 Obrigação de meio e de resultado

Um aspecto a ser abordado determinante da responsabilidade civil

do profissional médico, é a caracterização da natureza jurídica da obrigação da

atividade médica e seu enquadramento jurídico, se esta seria de meio ou de

resultado.

Na obrigação de resultado o devedor assume o compromisso de

alcançar um objetivo ou conseguir um efeito sempre desejado. E, na obrigação

de meio, o devedor não assegura a realização de um feito esperado, todavia se

obriga a usar os meios necessários e indicados para a proposta esperada,

sendo o resultado secundário à obrigação e não integrante como objeto de

contrato.

O artigo 1545 do antigo Código civil de 1916 regulamentava a

responsabilidade dos médicos como extracontratual, apesar da doutrina ter

entendido que a responsabilidade civil do médico é sempre contratual uma vez

que a atividade do mesmo se caracteriza pala prestação de serviços de

natureza profissional.

A caracterização da responsabilidade civil do médico como contratual

significa que a culpa se evidencia pela simples inexecução da obrigação. Toda

doutrina também é unânime ao estabelecer que a obrigação do médico, em

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33sua relação contratual estabelecida é de meio, ou seja, não pode o médico

garantir o resultado dos serviços prestados.

Quando a obrigação for de meio, para haver uma responsabilização,

o paciente tem que provar que o profissional não agiu com a diligência

necessária no seu tratamento, não empregou a técnica adequada dele exigida

pela sua especialidade. Sendo a obrigação de meio, o profissional deve

empenhar-se de todas as maneiras segundo seus conhecimentos técnicos,

para atingir um resultado, sem, no entanto ficar vinculado a sua obtenção. O

dever de informação do médico se biparte no dever geral imposto a todos

aqueles que celebram um contrato, que é o de informar, e no dever específico

de aconselhamento. O dever geral de informação está relacionado com a

necessidade do médico, ao tratar seu cliente numa fase pré-contratual, de

estabelecer as condições contratuais para a utilização de seus serviços, como

por exemplo o preço da consulta, os elementos necessários à decisão do

cliente em contratar ou não seus serviços.

O dever de assistência imposta ao médico não decorre somente da

relação contratual estabelecida, mas se constitui num imperativo ético imposto

à todos os profissionais desta área. O dever de prudência consiste na ação do

médico de acordo com a pauta da boa-fé. Não obstante o fato de o

atendimento médico não se restringir ao contrato, nenhum tratamento arriscado

ou operação que oferece grandes riscos pode ser realizado, sem a devida

autorização do cliente ou de seus familiares, após a exposição de todos os

riscos que envolvem a situação.

Não pode o profissional abusar de sua situação de superioridade

técnica para decidir sobre condução da vida dos seus clientes.

Junto a esse dever a prudência pode-se acrescentar o dever do

aperfeiçoamento constante. Não basta ao médico o pleno domínio das

matérias ensinadas no curso de medicina, que lhe habilitou ao exercício da

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34profissão. Há necessidade de que acompanhe as modernas técnicas médicas

que se desenvolvem sem cessar, para a intervenção sobre o corpo humano.

A obrigação do cirurgião plástico na cirurgia reparadora ou

reconstrutora, é de meio porque o objeto do seu contrato é a própria

assistência ao seu paciente, uma vez que se compromete a empregar todos os

recursos ao seu alcance, sem, no entanto, poder garantir sempre um sucesso.

Contudo, esta regra não é aplicada em todos os casos. Neste

sentido, vale mencionar o acórdão RTJ nº 142/177:

“A responsabilidade civil do médico não é idêntica à dos outros profissionais, já que sua obrigação é de meio e não de resultado, exceção feita à cirurgia plástica. A vida e a as saúde humana são ditadas por conceitos não exatos” (Julgado na 7ª Câmara Cível em 11.11.92)

Em sendo a obrigação de resultado, recai sobre o profissional uma

presunção de culpa, ou seja, presume-se que agiu com negligência,

imprudência ou imperícia, incumbindo a ele provar a ocorrência de fato

excludente de culpa. A obrigação de resultado requer do profissional o alcance

de um fim, sem o qual ter-se-á o descumprimento contratual.

Quanto aos cirurgiões plásticos, em cirurgias estéticas, a obrigação

assumida é a de resultado uma vez que o objetivo do paciente é melhorar a

aparência. Ninguém se submete a uma operação plástica se não for para obter

um determinado resultado, isto é, a melhoria de uma situação que poder ser

até aquele momento, motivo de frustração e tristezas. Se não houver o

resultado esperado, há inadimplência e o devedor assume o ônus por não

satisfazer a obrigação que prometeu.

Na cirurgia plástica estética tem-se apenas a intenção de melhorar o

aspecto, mesmo estando sujeita a casos fortuitos como infecções, inflamações,

reações alérgicas, há uma tendência de se aceitar a obrigação de fim ou de

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35resultado, principalmente nos casos em que, irresponsavelmente, são feitas

promessas de resultados específicos.

Este entendimento se baseia no fato de que “alguém”, que está bem

de saúde, procura um médico somente para melhorar algum aspecto que

considera desagradável, querendo um resultado, específico e não apenas, que

aquele profissional desempenhe seu trabalho com diligência e conhecimento

científico, caso contrario, não arriscaria gastar tanto dinheiro por nada. Se o

médico não tem condições de proporcionar ao paciente o resultado pretendido,

ético seria, que o mesmo se recuse a realizar tal procedimento cirúrgico.

Tal característica da cirurgia estética deve-se ao fato que a

motivação para a sua realização, embora moral e socialmente aceita, não

tenha a mesma relevância da intervenção para o salvamento de vidas ou para

a eliminação da dor.

A partir daí, faz-se uma diferença entre a natureza jurídica da cirurgia

plástica estética, quando o paciente é saudável e apenas quer melhorar sua

aparência, e a cirurgia plástica reparadora ou reconstrutora que corrige

anomalias congênitas ou resultados de traumas.

Fica claro que a distinção da natureza da cirurgia plástica, estética ou

reparadora, reveste-se de grande importância no tocante à determinação do

ônus da prova. Na hipótese de responsabilidade médica decorrente de contrato

onde há obrigação de resultado, como nas cirurgias plásticas estéticas, basta

que o prejudicado demonstre que o resultado está em desacordo com o que foi

convencionado entre as partes, cabendo ao médico alegar e provar fato

impeditivo ou modificativo do direito do autor ou alguma excludente de

responsabilidade, como prevê o artigo 333 do Código de Processo Civil do

Brasil.

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36As cirurgias plásticas estéticas ou reparadoras nos tempos atuais

visam melhorar a aparência externa de alguém, e tem por objetivo o

embelezamento da pessoa humana. Tais intervenções foram muito combatidas

no passado e, hoje apesar de aceitas, a responsabilidade pelos danos

produzidos por elas é vista com maior rigor que nas operações necessárias à

saúde ou vida do paciente. Este rigor vem sendo enfatizado apenas com

reação às cirurgias meramente estéticas, pois a chamada cirurgia reparadora

plástica é considerada tão importante quanto qualquer outra intervenção

cirúrgica, pois possui caráter terapêutico, como as demais; tendo como objetivo

corrigir mutilações ou deformidades que diminuam sensivelmente o rendimento

do homem.

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37

CAPÍTULO I I I

Responsabilidade Civil do Médico Cirurgião na

Cirurgia Plástica Estética

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383.1 A estética como paradigma social

O que fazer para ser bonito? A resposta a esta pergunta sempre

agitou a humanidade. Desde a antiguidade, homens e mulheres, com suas

infinitas variações de atributos físicos, lutam para alcançarem ideais de beleza

e se tornarem mais atraentes aos olhos dos outros.

Em 1870, as mulheres conquistaram o direito ao ensino superior uma

vez que até então, a Escola Normal era o destino certo, pois o magistério era

considerado um trabalho “próprio para as mulheres”.

Sem direito a voto e totalmente dependentes dos maridos em 1900,

as mulheres viam suas vidas serem comandadas e seus anseios reprimidos,

mas, nem todas aceitaram e corajosamente rebelaram-se e decidiram mudar a

própria historia.

Em 1932, as mulheres brasileiras enfim, conseguiram a grande

vitória do direito ao voto.

Dentre as diversas barreiras que as mulheres tiveram que

atravessar, o direito a escolher com quem casar foi uma das grandes

conquistas, deixando de existir os casamentos arranjados, por conveniência e

interesse, ocorrendo a modernização e a emancipação feminina dentro e fora

de casa. Em 1962, o direito civil brasileiro deu um grande passo em direção à

emancipação feminina ao instituir o Estatuto da Mulher Casada.

Antigamente a mulher era vista como um ser social sem importância,

educada para casar, procriar e cuidar do lar. O movimento feminista e a

conquista do voto foram o ponto de partida para um período de transformações

no que diz respeito à posição da mulher na sociedade. A luta feminina trouxe

certamente a perspectiva de um mundo mais igualitário. A partir daí, a mulher

passou a participar da vida social e política. Com a Revolução Industrial, a

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39mulher começou a ter destaque e crescimento no mercado de trabalho com a

conseqüente valorização da mão de obra feminina.

Acontece que durante séculos as mulheres lutaram por uma

liberdade que agora está sendo aprisionada pela ditadura da beleza.

O problema é que muitas mulheres entram em uma clínica de

cirurgia plástica em busca da realização do sonho da beleza perfeita. Acham

que mudando aquela parte do corpo que consideram feia, a vida delas irá

mudar.

Com o aumento da tecnologia relacionada a medicina estética, as

cirurgias menos agressivas e a influência da mídia, vem aumentando o acesso

da população masculina aos temas relacionados à beleza.

Esse mito de que através do bisturi a vida de uma pessoa pode

mudar, acaba conduzindo milhares de mulheres a cada ano para as mesas de

cirurgias. Elas não fazem plástica apenas pela estética, fazem também por

uma realização psicológica. O Presidente da Sociedade Brasileira de Laser e

titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Dr. Cláudio Roncatti, acha

que os conceitos de beleza estão cada vez mais amplos e irrestritos:

“Hoje o belo não tem cor, sexo nem condição social. Não existem padrões a seguir, mas uma condição racial, real e geral de uma pessoa que com um pouco disso ou daquilo, pode se sentir mais bela e de bem consigo mesma”

Nas observações e considerações do Professor Aguiar Dias:

“Aspecto eminentemente moderno na medicina é a cirurgia estética. Esta aplicação da ciência não tem sido encarada com muita benevolência pelos nossos tribunais, naturalmente impressionados pela feição menos nobre da cirurgia estética posta a serviço da vaidade de fútil ou dos até hoje inexeqüíveis processos de rejuvenescimento, mas esquecidos das assombrosas possibilidades que ela pode abrir à humanidade, dentro das altas finalidades da arte médica”. (Da Responsabilidade Civil – 1995)

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40Os números de cirurgias plásticas crescem a cada dia por vários

motivos, dentre os quais o padrão de beleza cada vez mais exigente que a

sociedade moderna impõe às pessoas. Como a mídia e a sociedade

globalizada aponta para um ideal de beleza e perfeição, encarnado pelas

“maravilhosas”top-models e a propaganda mais atual promete que se a mulher

tiver seios grandes, nariz afilado, etc., será bem sucedida, terá poder, será

enfim reconhecida.

É a ditadura da estética. Antigamente, não passava pela cabeça de

uma mulher de meia idade reconstituir a curva dos seios ou retirar gordurinhas

da barriga. A cirurgia plástica era vista como “coisa de dondoca fútil”. Hoje, ter

um rosto sem rugas, seios firmes e pernas bem torneadas se tornou quase

uma exigência de bom convívio social em certas rodas.

A plástica venceu a dupla barreira do preconceito e do preço e

ajudou muita gente a fazer as pazes com o espelho. Na maioria das vezes, as

pessoas saem da mesa do cirurgião mais satisfeitas com a própria aparência,

mais felizes. Como se isso fosse primordial para que os problemas emocionais

e sociais desapareçam de uma vez por todos com a aceitação por parte da

sociedade.

Tal problemática tem sido motivo de alerta em vários segmentos da

sociedade. O Presidente do Conselho Federal de Psicologia, Marco Silva,

afirma que “o aumento de cirúrgicas plásticas se deve à disseminação do

narcisismo e à visão do corpo como um objeto de comercio”. (Artigo extraído

do Jornal Folhas da Tarde, dia 28/07/2001, p. 15).

O paradoxo é que, na busca do corpo perfeito, o que muitas

mulheres encontram é a devastação pois há indicações de que algumas

mulheres que se submeteram a cirurgias plásticas estão desapontadas com os

resultados. Outras deprimidas por causa da mutilação feita por falsos

cirurgiões, que vêem nessa ilusão da mulher, uma oportunidade de aumentar

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41seus lucros, atendendo ao imperativo da lei do mercado que as coloca no lugar

de objetos de consumo, anulando a sua subjetividade. É aí que o analista é

convocado para este lugar onde a ciência parece não dar conta, pois se trata

da subjetividade do paciente.

As dificuldades psíquicas não podem ser sanadas pelo discurso da

ciência objetiva, já que inseridas no campo do desejo narcisista. É importante

lembrar que para Freud (Freud, Sigmund, “o Ego e o Id”, v.. XIX, 1923, Obras

completas, Ed. Imago, Rio de Janeiro, 1977), “a mulher sente-se inferiorizada

pois entende a castração como ferida narcisista”. Desta forma, diante do mito

do corpo perfeito ela sente-se privada no real de algo a que teria direito, ou

seja, um corpo sem faltas, sem falhas e assim não poupa sacrifícios para que

este sonho se realiza.

O mundo da globalização se revela carente e precisa se equilibrar. O

belo moral, a solidariedade, o respeito e a democracia de direitos humanos

precisam se fortalecer na espiritualidade e harmonia do indivíduo para

finalmente atuar no todo que está em constante movimento de construção e

perpetuação da beleza. É uma grave questão de paradigma humano e o seu

sentido de dignidade.

Um corpo perfeito não é a fórmula mágica para alcançar a felicidade.

Sentir-se bonito é importante para a auto-estima, mas é um erro pensar que só

isso é suficiente. Sentir-se bem consigo mesmo envolve uma série de outras

coisas. Colocar unicamente na beleza a saída para a resolução dos problemas,

é um caminho fácil para a frustração.

3.2 A busca do resultado – obrigação de resultado

De maneira geral, o contrato médico envolve obriga;ao de meio,

principalmente quando diante de cirurgias complicadas e com alto grau de

periculosidade.

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42Por outro lado, é crescente o movimento que afirma ser obrigação de

resultado o contrato médico que visa o melhoramento estético de determinada

pessoa. Neste caso, devido ao alto grau de avanço tecnológico, afirma-se

mínima a possibilidade de não alcançar o resultado de exclusão de

responsabilidade do médico, tem que ser obtido.

A existência fática do dano, sem indagar a existência de culpa, como

acontece na teoria subjetiva, é a característica da responsabilidade objetiva, ou

seja, não é necessária a presença da culpa para estabelecer o nexo causal

entre a conduta do agente e o prejuízo por ele causado. O agente responsável

por um ato lesivo que colocar em risco algum bem jurídico de outrem, através

deste ato, será considerado o elemento gerador de um dever de indenizar o

dano que porventura, causar ao lesado. Essa obrigação pela recomposição do

prejuízo independerá da verificação ou comprovação de culpa na conduta do

agente lesante.

Portanto, a responsabilidade objetiva se caracteriza por ser

independente da presença de culpa, no agir do que ocasionou a lesão, mas

não prescinde da presença dos demais elementos da responsabilidade civil. O

responsável pelo dano indenizará simplesmente pela existência de uma

prejuízo. Conforme jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado de São

Paulo:

“Nas cirurgias estéticas, procuradas por pessoas que pretendem ficar mais bonitas, por assim dizer, os Tribunais brasileiros, seguindo a orientação dos Tribunais franceses e americanos, entre outros, têm decidido que o profissional deve apresentar o resultado buscado pelo paciente. A responsabilidade civil do médico não é idêntica à dos outros profissionais, já que sua obrigação é de meio e não de resultado, exceção feita a cirurgia plástica. A vida e saúde humanas são ditadas por conceitos não exatos” (TJSP – 7ª C. – Ap. – Rel. Souza Lima – j. 11/11/92 – JTJ – LEX 142/117)

Portanto, o paciente lesado por uma falsa promessa de

embelezamento, seja ela qual for, dever reivindicar seus direitos perante o mau

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43profissional que prestou o serviço de cirurgia plástica estética que não

apresentou o resultado esperado.

3.3 O dever de indenizar

Para a caracterização do dever de indenizar devem estar presentes

os requisitos clássicos: ação ou omissão voluntária, relação de causalidade ou

nexo causal, dano e, finalmente, culpa. No tocante especificamente à culpa, a

tendência jurisprudencial cada vez mais marcante é de alargar seu conceito.

Surgiu, daí, a noção de culpa presumida, sob o prisma do dever genérico de

não prejudicar. Esse fundamento fez também nascer a teoria da

responsabilidade objetiva, presente na lei em várias oportunidades, que

desconsidera a culpabilidade, ainda que não se confunda a culpa presumida

com a responsabilidade objetiva.

Nesse aspecto há importante inovação no Novo Código Civil,

presente no parágrafo único do artigo 927. Por esse dispositivo, a

responsabilidade objetiva aplica-se, além dos casos descritos em lei, também

“quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por

sua natureza, risco para os direitos de outrem”. Esse alargamento da noção de

responsabilidade constitui, na verdade, a maior inovação do Novo Código em

matéria de responsabilidade e requererá, sem dúvida, um cuidado extremo da

nova jurisprudência.

A legislação do consumidor é exemplo mais recente de

responsabilidade objetiva no ordenamento. Portanto, no âmbito da

responsabilidade sem culpa aumenta significativamente em vários segmentos

dos fatos sociais. Nesse diapasão, acentuam-se, no direito ocidental, os

aspectos de causalidade e reparação do dano, em detrimento da

imputabilidade e culpabilidade de seu causador. Daí porque, por exemplo, o

Novo Código estampa a responsabilidade do incapaz; a possibilidade de seu

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44patrimônio responder por danos por ele causados, ainda que de forma mitigada

(artigo 928).

Pelo fato do paciente, estar interessado numa obrigação de

resultado, a cirurgia plástica estética tornou-se uma conduta ilícita, de acordo

com a opinião de alguns doutrinadores, ferindo frontalmente os postulados

éticos jurídicos; porém, atualmente, com a modernização da medicina, não há

como considerá-la uma pratica ilícita, pois esta intervenção traz ao paciente um

conforto ou reconforto estético. Mas, não alcançando o sucesso almejado em

tais operações, surgem sérias imputações penais e pesadas responsabilidades

civis. O dever de indenizar decorre da violação do que foi pactuado, em

critérios objetivos, descartada a subjetividade do ideal de beleza pretendido.

Há que se perquirir a clareza das informações no momento da

contratação. O dever de cuidado inerente a todo e qualquer procedimento

cirúrgico não pode ser banalizado por intervenções realizadas em clinicas e

consultórios sem o devido cuidado uma vez que os riscos de uma infecção,

parada cardíaca e complicações que podem advir de qualquer procedimento

cirúrgico. O médico deve estar preparado para adversidades que podem

acontecer. Na verdade, como pondera Silvio Rodrigues, “a idéia de tornar

indene a vitima se confunde com o anseio de devolvê-la ao estado em que se

encontrava antes do ato ilícito”. (Responsabilidade Civil, vol. IV, 12ª ed., Editora

Saraiva, 1992). Da mesma forma a ofensa ou violação que atinge os bens de

ordem moral, como aqueles que se referem à liberdade, à honra, à pessoa ou à

família que acabam produzindo o denominado “dinheiro do pranto”ou “preço

da dor”, encontram respaldo na genérica função satisfatória pois tanto o

sofrimento, a humilhação súbita, a angustia, a mágoa e a tristeza que

provocam o pranto e a dor merecem o reparo respectivo.

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453.4 Dano estético e dano moral

Dentre os danos advindos das cirurgias ou procedimentos médico-

cirúrgicos vale destacar aqueles de ordem estética e os oriundos da aflição

moral do paciente consumidor.

Para Maria Helena Diniz o dano estético é conceituado como:

“Toda alteração morfológica do indivíduo que além do aleijão, abrange as deformidades ou deformações, marcas e defeitos, ainda que mínimos, e que impliquem sob qualquer aspecto um afeiamento da vítima, consistindo numa simples lesão desgostante ou num permanente motivo de exposição ao ridículo ou de complexo de inferioridade, exercendo ou não influencia sobre sua capacidade laborativa”. (Responsabilidade Civil – v. 7 – 13ª ed.)

Para a referida civilista, “o dano moral vem a ser a lesão de

interesses não patrimoniais de pessoa física ou jurídica, provocada pelo fato

lesivo”. A lesão estética constitui então, um dano moral que poderá ou não

constituir um prejuízo patrimonial. Seguindo esta linha de raciocínio, o dano

moral sempre abrangerá o estético ou morfológico, quando o prejuízo for

extrapatrimonial, pois este ultimo, na doutrina de Maria Helena Diniz, é espécie

do primeiro.

A admissão expressa da indenização por dano moral na Constituição

de 1988, prevista no artigo 5º, V e X é tema que alargou os decisórios, o que

sobreleva a importância da constante consulta à jurisprudência nesse teme,

sobretudo do Superior Tribunal de Justiça, encarregado de uniformizar a

aplicação das leis.

A Constituição Federal de 1988 transformou os direitos do homem,

tutelando os valores humanos, no desencadeador de todos os ramos jurídicos.

“Dano moral, à luz da Constituição vigente, nada mais é do que violação do

direito à dignidade” (Programa de Responsabilidade Civil – Sérgio Cavalieri

Filho – 3ª ed.)

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46O dano moral se configura pela agressão humana, ou seja, afeta a

parte afetiva do patrimônio moral. Porém, para que o dano seja apreciado

juridicamente, deve decorrer da inobservância de uma norma. O dano moral é

algo intrínseco, interno da personalidade humana, difícil de ser mensurado, é

algo psicológico, humilhante só sendo sentido pela própria vitima. Está aí a sua

dificuldade em ser provado, demonstrado, pois não se trata de algo material,

palpável, mensurável.

Atualmente o dano moral se caracteriza pela dor, sofrimento e

humilhação que interferem no psicológico do individuo causando uma agressão

à dignidade humana. O arbitramento do dano moral caberá ao juiz que deverá

analisar caso a caso levando em consideração os princípios da razoabilidade e

da proporcionalidade.

O dano estético é uma espécie do dano moral como sabiamente

menciona o Ilustríssimo Desembargador Sérgio Cavalieri Filho: “Não se trata

de uma terceira espécie de dano, além do dano material e o moral, mas

apenas um aspecto deste último”. (Programa de Responsabilidade civil –

Sergio Cavalieri Filho – 3ª ed.)

Entretanto, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça entende

que o dano estético é algo distinto do dano moral devendo ser estipulado

separadamente.

O dano estético é a lesão à beleza física, à harmonia das formas

externas de alguém, sendo que o conceito de belo é muito relativo. Assim, o

prejuízo estético deve ser avaliado de acordo com a modificação sofrida pela

pessoa em relação ao que era antes; porém, esta lesão deve ser duradoura

para que seja caracterizado com dano. Não há dúvida que se o médico

acarretar dano estético ao paciente, deverá repará-lo.

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47O que indeniza a título de dano estético é a dor, o vexame, a

humilhação decorrente de deformidade física. Conforme jurisprudência do

Estado de São Paulo:

“O dano estético resultante de cirurgia plástica deve ser indenizado pelo médico em razão de inadimplemento contratual, já que assume ele, obrigação de resultado “(TJSP – 01º c. – Ap. – rel. Roque Komatsu – j. 25/10/88 – RT 638/89) “Responsabilidade Civil – dano à pessoa – dano estético – dano moral – cumulação. A amputação traumática das duas pernas causa dano estético que deve ser indenizado cumulativamente com o dano moral, neste considerados os demais danos à pessoa, resultantes do mesmo fato ilícito”. (STJ, Resp. 65393 – RJ – 4ª T., rel . Min Ruy Rosado de Aguiar)

O dano, revela-se elemento constitutivo da responsabilidade civil,

que não pode existir sem ele caso contrario, nada haveria a reparar.

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48

CAPÍTULO IV

Erro Médico e o Novo Código Civil

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49Com o advento do novo Código Civil, em 2003, as alterações na

legislação utilizada, quando da avaliação jurídica dos casos de erro médico em

nossos Tribunais, merece ter seu enfoque reavaliado. Isto porque, em relação

aos artigos deste novo Código, que devem ser utilizados quando da subsunção

do fato encarado como erro médico, face à nova norma jurídica material, no

campo do Direito Civil, há alterações no que se refere à responsabilidade civil

do médico, em caso de erro médico. Não que as repercussões doutrinárias, no

que se relacionam ao erro médico, sejam de monta. Mas, as mudanças

legislativas no direito positivo civil são evidentes e, em alguns casos, pode-se

dizer, de relevância, sendo necessária a identificação dos artigos, no Novo

Código Civil, que correspondem no Código Civil revogado àqueles artigos que

regem a responsabilidade civil no campo do erro médico. Deve-se analisar,

também, como a jurisprudência provavelmente se posicionará em relação ao

que está expresso em novas disposições (artigos novos e, além disso,

modificações e adições na redação dos artigos que se repetem no novo texto)

do Código Civil, que passou a vigorar em 2003, no que elas se referem à

responsabilização civil do médico por seus atos profissionais, na hipótese de

um erro médico.

Os artigos capitais que regiam a responsabilidade civil do médico no

Código Civil revogado eram o artigo 159: "Aquele que, por ação ou omissão

voluntária, negligência ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a

outrem, fica obrigado a reparar o dano." e o artigo 1545: "Os médicos,

cirurgiões, farmacêuticos, parteiras e dentistas são obrigados a satisfazer o

dano, sempre que da imprudência, negligência, ou imperícia, em atos

profissionais, resultar morte, inabilitação de servir, ou ferimento.". O primeiro

substituído, no Código vigente a partir de 11 de janeiro 2003, pelos artigos 186:

"Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,

violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete

ato ilícito." - com adição da referência ao dano "exclusivamente moral", e 927,

caput: "Aquele que por ato ilícito (arts. 185 e 187), causar dano a outrem, fica

obrigado a repará-lo.". O segundo artigo 1545 parece não ter correspondente

no Código atualmente em vigor.

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50No entanto, o artigo 1545, do Código Civil Brasileiro de 1916, é uma

norma que indica que o médico, nos casos em que agir com imprudência,

imperícia ou negligência, será responsabilizado pelos danos que, porventura,

vier a causar ao paciente. Portanto, é uma norma que incrimina, responsabiliza

o profissional de saúde – médico. É uma norma, pode-se dizer, que descreve

um ato "futuro" (se isto porventura ocorrer o médico será responsabilizado).

Havendo subsunção, por parte do julgador, do ato executado pelo médico à

norma jurídica referida – artigo 1545, o médico será responsabilizado pelos

danos que ocorrerem ao paciente. O julgador vai sentenciar motivando a

sentença baseado nesta norma. Por outro lado, o artigo 951:

"O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda nos casos de indenização devida por aquele que, no exercício de atividade profissional, por negligência, imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho." Novo Código Civil

É uma norma que pode ser entendida como expressa para ser

utilizada na liquidação da sentença. Ou seja, sendo o médico condenado, com

sentença motivada pelo artigo 186 e 927, caput, do Código Civil atual (2003) ou

imperícia, o artigo 951 deste Código, será utilizado, pois emite um comando

para que se utilize, também, os artigos de número 948, 949 e 950, na avaliação

do que deve ser ressarcido pelo médico àquele que foi lesado por seu ato. É

uma norma que se baseia, assim pode ser entendido, em ato "pretérito" – o

médico já foi responsabilizado (repita-se, com base no artigo 186 e 927, caput

ou por imperícia) – o que se quer saber é pelo que (repercussão material) ele

foi responsabilizado e, neste sentido o dispositivo em tela remete aos três

artigos citados, para que também sejam utilizados na estimativa dos danos

materiais que foram causados, pelo médico, ao paciente. Portanto, é

conveniente que seja considerada como norma nova a ser utilizada na

determinação do quantum debeatur quando da apreciação jurídica de

responsabilização civil em casos de erro médico. E, norma mais abrangente,

como nos diz Nestor Forster:

"No caso do artigo 951, igualmente do novo Código Civil, houve alguma ampliação na responsabilidade indenizatória. Se coincide

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51com o texto anterior para as hipóteses de morte, inabilitação para o trabalho e ferimento, trouxe como situação nova agravar o mal do paciente. E, no caso do ferimento, pode-se admitir também maior abrangência quando a responsabilidade refere-se também a causar lesão ao paciente, o que é mais amplo do que o ferimento. Essa lesão pode ser de qualquer ordem, já que não há restrição no texto mencionado." (ERRO MÉDICO, Coleção Aldus, São Leopoldo – RS: Editora Unisinos, 2002, p. 54).

Outro artigo de fundamental importância na avaliação jurídica do erro

médico é o artigo 177 ("As ações pessoais prescrevem, ordinariamente, em 20

(vinte) anos,(...), contados da data em que poderiam ter sido propostas.") do

Código Civil revogado. O prazo geral de 20 (vinte) anos era o utilizado pelos

julgadores para determinar a prescrição do erro médico. Assim, a prescrição do

erro médico, em termos de jurisprudência, era vintenária, não acompanhando o

disposto no Código de Defesa do Consumidor – CDC – Lei n°8.078, de 11 de

setembro de 1990, em seu artigo 27, caput "Prescreve em cinco anos, a

pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou serviço

prevista na seção” (Seção II – DA RESPONSABILIDADE PELO FATO DO

PRODUTO OU DO SERVIÇO), iniciando-se a contagem do prazo a partir do

conhecimento do dano e de sua autoria.") que estabelece o prazo de 5 (cinco)

anos como prescrição para danos causados por produtos e serviços (incluídos

nestes os serviços executados por profissionais liberais). Com o advento, em

2003, do Novo Código Civil, determina este, em seu artigo 206 ("art. 206.

Prescreve: § 3°: Em três anos: V – a pretensão de reparação civil;") que a

pretensão de reparação civil prescreve em 3 (três) anos. Este, por

conseqüência, deverá ser o prazo adotado em nossos tribunais para avaliação

da prescrição da possibilidade de se impetrar uma ação de responsabilização

civil do médico, em casos de erro médico. Existe a hipótese, sempre é bom

lembrar, de que a jurisprudência se incline pelo prazo de 5 (cinco) anos,

previsto no artigo 27, caput, do Código de Defesa do Consumidor. O que seria

coerente, visto ser 5 (cinco) anos um prazo mais favorável ao consumidor e,

esta, sendo, a finalidade do CDC: a "Defesa do Consumidor".

Convém citar, novamente o artigo 927, do Código Civil vigente a

partir de 2003, mas, desta vez, em seu parágrafo único:

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52"(...) Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar por sua natureza, riscos para os direitos de outrem." Sem correspondente na Lei n° 3.071, de 1.°-1-1916" (CÓDIGO CIVIL COMPARADO, Obra coletiva de autoria da Editora saraiva com a colaboração Antônio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Livia Céspedes, São Paulo: Saraiva, 2002, p. 214).

Não é possível considerá-lo como um comando para tornar objetiva a

responsabilidade do médico, nos casos de erro médico, haja vista o risco não

ser criado pela sua atividade. Ou, pode vir a ser assim considerado pela

jurisprudência, nas decisões jurídicas de erro médico em cirurgia plástica

estética – embelezadora. Essa possibilidade, entretanto, não parece viável,

pois a própria jurisprudência – e a doutrina, mais ainda - já mostram tendência,

nestes casos, cirurgias plásticas estéticas, de também considerar a obrigação

do médico cirurgião-plástico como uma obrigação de meios. Aceitando, pois,

como decorrência deste enfoque, em termos doutrinários, no terreno das

obrigações, a responsabilidade subjetiva do médico por seu ato, na relação

jurídica que se estabelece entre o médico e o paciente. A atividade médica não

é a geradora do risco a que é exposto o paciente mas, isto sim, a atuação do

médico consiste em empregar os meios possíveis, num determinado local e

momento, para corrigir o desvio da sanidade física, ou mental, apresentado

pelo paciente, O responsável pelo risco é a entidade nosológica – a doença –

apresentada pelo paciente. Não há como transferir a responsabilidade pelo

risco ao médico. Não é este o gerador do estado patológico do paciente com a

prestação do seu serviço. O estado de doença, em que se encontra o paciente,

apresenta seus riscos inerentes – e próprios a cada entidade - em termos de

evolução e também riscos, igualmente decorrentes deste estado de doença,

das investigações e tratamentos. Não é pois, por evidente e óbvio, o médico o

criador destes riscos ao paciente. A jurisprudência deve se direcionar neste

sentido, permanecendo, bem definido, o caráter subjetivo da responsabilidade

médica na visão jurídica do erro médico.

Há necessidade de se concentrar a atenção na interpretação, criação

doutrinária e jurisprudencial, destes artigos, pois a interpretação dos mesmos

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53influirá, daqui para a frente, fundamentalmente na abordagem, pelos Tribunais,

do erro médico. Mas, não parece que os artigos mencionados neste trabalho

serão considerados, quando de sua aplicação pelos julgadores nas decisões

que tomarem, em casos de erro médico, de uma forma diversa – que se afaste

muito - do que foi aqui exposto.

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54CONCLUSÃO

Diante de todo o exposto, chega-se a conclusão que a

responsabilidade civil é limitada e, no campo da cirurgia estética, assume

maiores proporções.

O médico geralmente assume uma obrigação de meio e não uma

obrigação de resultado. Entende-se por obrigação de meio aquela em que a

prestação dos serviços médicos não consiste em um resultado certo e

determinado mas tão somente a usar de prudência e diligencia sem contudo

se vincular a obter determinado resultado. Não se pretende atribuir ao médico a

infalibilidade, mas sim fazer com que ele proceda de acordo com as regras de

sua arte e ciência, visando à saúde e a dignidade do paciente, dentro dos

princípios da lei e dos costumes.

Já na obrigação de resultado o paciente tem o direito de exigir do

médico a produção de um resultado específico, acordado anteriormente, sem o

qual se terá o inadimplemento da relação obrigacional. Como essa obrigação

requer um resultado útil ao paciente, o seu inadimplemento é suficiente para

determinar a responsabilidade do médico, já que basta que o resultado não

seja atingido para que o paciente seja indenizado pelo obrigado.

É o que ocorre nos casos de cirurgias plásticas meramente estéticas

onde geralmente, o médico se compromete a alcançar resultados específicos

muitas vezes demonstrados através de fotos de cirurgias já realizadas, modelo

a ser atingido utilizando como parâmetro uma foto de revista ou até mesmo

uma simulação realizada em computador demonstrando inclusive o antes e

depois. Ocorre que este resultado pretendido pela paciente e que está

idealizado em seu íntimo, muitas vezes não é exteriorizado de maneira

concreta caracterizando assim o aspecto subjetivo da obrigação uma vez que,

o médico não é capaz de realizar a real expectativa da paciente.

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55Na busca pela alteração estética, o paciente é movido por aspectos

objetivos e subjetivos.

O ideal de beleza pode ser materializado numa foto, num modelo a

ser alcançado. Por outro lado, o ideal de beleza internalizado pelo paciente

produz expectativas que fogem ao controle do cirurgião. Assim sendo, para

aquilatar o “resultado”, mister se faz a objetividade dos critérios de avaliação.

Com a banalização dos procedimentos estéticos devido a constante

busca pelo corpo perfeito, há que se alertar que além do erro médico, existem

outras causas que favorecem o mau resultado, como as péssimas condições

de trabalho e a penúria dos meios indispensáveis no tratamento das pessoas

uma vez que, as intervenções estéticas vêm sendo realizadas em pequenas

clinicas e até mesmo em consultórios dermatológicos, sem qualquer cuidado

para o caso de uma complicação.

Uma vez que os centros estéticos multiplicam-se assim com os

profissionais na especialidade de cirurgia plástica, é de se admitir a realização

de cirurgia plástica como uma atividade normal e acontecimento quotidiano. As

pessoas têm o direito de cuidar da aparência e o médico que a isto se dedica

como técnico, está sujeito aos princípios gerais da responsabilidade médica

como o dever de aconselhar, apontando os riscos do tratamento e os riscos

cirúrgicos, se for o caso, em razão das condições pessoais do cliente como

idade, estado de saúde, anomalias; o dever de assistência pré e pós-

operatórios além dos cuidados com a própria intervenção cirúrgica; abstenção

de abusos ou desvio de poder, deixando de praticar experiências ou de adotar

métodos não devidamente conhecidos.

A cirurgia estética gera uma obrigação de resultado e não de meios.

Com a cirurgia plástica estética, o cliente tem em vista corrigir uma imperfeição

ou melhorar a aparência. O profissional por sua vez está empenhado em

proporcionar o resultado pretendido e, se não tiver condições de realizá-lo, não

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56deve efetuar a intervenção uma vez que os riscos da cirurgia serão

desproporcionais às vantagens previsíveis. Cumpre ao médico o dever de

informação bem como a obrigação de vigilância.

Conclui-se que nas hipóteses em que o médico, se comprometeu a

realizar determinado resultado sem se preocupar em advertir sua cliente de

que o resultado pretendido poderia não ser alcançado de maneira esperado ou

até mesmo, ter a ética e o profissionalismo de ao verificar que não será

possível satisfazer os anseios de sua paciente, não realizar a cirurgia. Nestes

casos, o médico assume então a obrigação de resultado uma vês que a

prestação de serviços teve um fim definido. A sexualização extrema da figura

feminina desencadeia um conteúdo perverso na relação mulher e sociedade. É

certo que os corpos femininos, libertos recentemente da sociedade patriarcal,

estão sendo aprisionados de outras maneiras. Há uma total inversão dos

valores, uma substituição dos valores éticos por valores estéticos. Certos

princípios como a honra e a coragem que antes constituíam importante

representação da identidade, parecem ter cedido lugar ao corpo.

Após tantas revoluções e reivindicações, a mulher conseguiu galgar

importantes degraus na vida social, mas depara-se com uma realidade em que

as aparências ditam o rumo de tudo.

Nesse mundo de espelhos, o que esperar senão a busca por uma

boa imagem? Falta positividade, falta fé, amor pelas coisas simples do mundo.

Está faltando que o ser-humano se perpetue pelo que realmente tem de bom e

não por estereótipos de aparência.

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