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A SOCIE Manuel Caste Prefac10 de Fernando Henri PAZ E TERRA

A SOCIEDADE - WordPress.com...COme90 nem firn.Na d6cada de 1920,Andrey PlatonOv enfatizou cssa id6ia arai― gada da R`ssia como uma sociedade intemporalo No entanto,aR`ssia era perio―

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A SOCIEDADE

Manuel CastellsPrefac10 de Fernando Henrique Cardoso

4・R

③PAZ E TERRA

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ノr∫

“ieふac ι″た&busca csclarecer a di―

narnlca cconollnlca c soclal da nova era da

繁1蹴ぶ鴛;胤盤 湯摯na c EuroPa,procura formular uma tco―

五a qucと ,onta dOS efeitos indamentals

■tCnO10gia da infOm"ぉ nO mundoCOnlemporねё6.‐A econё mia global se caracteriza

hOiC P¨ fluxO e tFO,a quaSC instanぬ―

nёos dc infOrm等 ,o,capltal c cOmunica―

,お Cultural.Esses nuxos rcram e con_

diciOnam a um sl tempo o consumo c a

produ9お .As Propnas rcdes re■etem c

■am Culmas dislntお .TantO elぉ quan―

tO SC●‐屁血

"9Stう

0,em gra,dc parte,

やra daS‐ regulamenれ ,6es naciontts.NossidcPen(おncia cmlrela9お aOs novos

modoS de nuxo informacional di um

enormo Poder de c6ntrOle sobrc n6s

aqucles eふ Posi9¨ de contro14-los.

ルlanud Castcns descreve o ritmo ca―

da vett mais aceleradO de dcscObё rtas e

suaS ap五こa,Oes.Examina os processosde g10baliz等 ,O quc marglnalizavam c

agOra am,a,aFn tOrnar insigniflcantes

pぼses c PovoS inteirOs cxcl面 おs das redes

de infO.111等お.MO率a quc,nas∝ono―

mi∞ ,vm9adas,a produφ o Se cOncentra

httc ett uma Pl甲:11,Struidad,popu―la9¨ 06m idadさ entrc 25‐ 0 40 ano年

轟Чitas ec6五 6mitt POdem abii ttaO dc

Vtt ter9o 6u ttaiS de sua populttao.Slgere qic o rcsultado desta tcttdencia

prOgrc6siva po4。 nお SCr o d,,,,P,goem masta ml,sim a flexib■ηa9ぉ extre―

:茫 :話 l灘跳第車中 ёヽこⅢ‐ⅢⅢn"ttⅢ ,ntダa.

O autOr cOnclui examinand。 ‐。s efei■|l t impliCa,611 da transfOrha,お tecl

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Manuel Castells

A SOCIEDADE EM REDEVolume I

6a edi9ao totalmente revista e ampliada

ルαグ"fα

θf Roneide Venancio Mttercom a colabora91o de Klauss Brandini Gerhardt

A″

αJjzαfαθ′αrα 6α ιグjgαθf Jussara Siln6es

PAZ E TERRA

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◎ Manucl Castclls

TraduzidO do origina1 7乃 ′麻′グ励′″′初θル″ルク

CIP― Brasil.CatalogagttO na FOntc

(Sindicato Nacional dos Editorcs dc L市 ros,RJ,BraSil)

Castells,Manucl,1942-

A sOcicdade cm rede/ManucI Castells tradu91o:Roncidc Vcmncio Mづ Cち

atualizagttO para 6ユ ediclo:JuSSara Sim6cs

――lA era da infOrm霧五0:eCOnomia,sociedadc c cultural v.1)

Slo Paulo:Paz c Tcrra,1999.

ISBN 85-219-0329-4

Indui bibliOgrafla

C344s

l.Tccno10gia da infOrma910-― Aspcctos sociaiS.2.Tccn010gia da infOrma910__

AsPcctOS CCOn6nlicos.3.Socicdadc da inforinaclo.4.Rcdcs dc infOrinaglo。

5。 Tccn010gia c civiliZa910。

99-0358 CDD-303.483CDU-316.422.44

EDITORA PAZ E TERRA S/ARua do TriunfO,177

Santa EFlgenia,slo Pau10,SP― 一 CEP:01212-010Tcl.:(011)3337-8399

Rua Gcncral Vcnancio Flores, 305,sala 904

RIo dc JancirO,RJ―― CEP:22441-090

Tel.:(021)2512-8744

E―maiL vendas@Pazetcrraocomobr

HOmc Page: …

。Pazeterraocomobr

2002・ ImprcssO no Brasi1/1り ″κ〃ノ″Br品

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0 1inliar do etemo:tempo intemporal

Somos tempo personifiCado,e tamb6m o stto nossas SOCiedades,fOmadas

pela hist6五 ao Mas a simplicidade desSa afima9'o escondc a complexidade do

conceito de tempo,uma das catego五as rnais controversas enl ciencias naturals e

tamb6m em ciencias sociais,ctta centralidade 6 salientada pelos debates atuais

de teoria social.l De fato,atransfoma92o dO tempo sob O paradigma da tecno10-

gia da infoma910,delineado pelas praticas sociais,6 um dos fundamentos de

nossa nova sociedade,ilTemediavellnente ligada ao surgilnento do espa9o de flu―

xOs.A16m disso,de acordo com o ensaio elucidativo de Barbara Adanl sobre

tempo e teo五a social,as pesquisas en■ ffSica e bio10gia parecenl converglr para

as ciencias sociais na ado910 de ulrl conceito contextual do tempo humano.2 Tod。

tempo,na natureza como na sociedade,parece ser especffico a um detellllinado

contexto:o temp0 61ocal.Enfocando a cstrutura social emergente,afi■11lo,basea―

do em Harold lnnis,que“ a inente da atualidade 6 a lnente que nega o tempo'',3e

que esse novo“ SiStema temporal''est`ligado ao desenvolViinento das tecnolo―

gias de comuniCa95oo Assinl,para avaliar a transfoma91o dO tempo humano no

novo contexto social SOciot6cnico talvez saa`til apresentar uma breve perspec―

tiva hist6rica das mudan9as da rela910 entre tempo e sociedade。

Tempo,hist6五a e sociedade

EIn uma Obra cllssica,Whitrow moStrou como as concep95es de tempo

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524 0 1imiar do etemo

da no910 exata de tempo.5 comO ilustra9ao da imensa variagao cOntextual desse

fato cOtidiano aparentemente tao simples,usemos alguns par`grafos para nos

lembrar da lransforma910 dO Conceito de tempo na cultura lussa,em dois peゴo―

dos hist6ricos cruciais:as refomas dc Pedro,o Grande,c a ascensaO e queda da

uniaO sovi6tica。 6

A cultura popular tradicional lussa achava quc o tempo era ctemo,sem

COme90 nem firn.Na d6cada de 1920,Andrey PlatonOv enfatizou cssa id6ia arai―

gada da R`ssia como uma sociedade intemporalo No entanto,aR`ssia era perio―

dicamente sacudida por esfOr9os estatistas de modemiza9aO cOm O o切 et市O deorganizar a vida em tOmo do tempO.A primeira tentat市 a deliberada de ttuSte da

vida ao tempo originou― se com Pedro,o Grande.Ao voltar de uma longa viagem

ao exterior para instmir― se sobre rnodos e rneios dos paFses lnais desenvolvidOs,o

czar decidiu levar a R`ssia,literalinente,a um novo infcio,Inudando para o ca―

lend血do europeu ocidental GulianO)e come9ando o novo ano emjanciro enl vez

de setembro,cOmo fora at6 entaoo Nos dias 19 e 20 de dezembro de 1699,Pedro,

o Grande,enlitiu dois decretos quc inicia五 am o s6culo XVIII na R`ssia alguns

dias depois.Foram prescritas instru96es l[linuciosas sobre a celebra9aO dO an。

novo,inclusive conl a ado91o da jttvore de Natal e acr6scimo de unl novO fe五 adopara seduzir os tradicionalistaso E〕 Inbora unl grande n`mero de pessoas estivesse

maravilhado cOnl o poder dO czar dc alterar o curso dO sol,muitas outras preocu―

pavam― se conl a ofensa a lDeus:afinal lQ de setembro nao era O dia da C五a91o noano 5508 aoC.?E nao deveria ser assinl porquc o ousado ato da Cria910 tinha de

ocorer em 6poca de calo■ fato muitO improv`vel na R`ssia emjaneiro?Pedro,o

Grande,respondeu pessoalinente aos crtticos,elrl seu rnodo pedag6gico habitual,

ensinando-lhes a geografia do tempo global.Sua teimosia fundamentava― se namotiva9ao ref。 .11lista para igualar a R`ssia)Europa c enfatizar as ob五 ga95eS daspessoas em rela9,o ao Estado sob a perspectiva do tempO.I〕 Inbora csses decretos

se concentrassenlrigorosamente nas mudangas do calend丘 do,as refo■ 11las dc Pedro,

o Grande,cn■ te■ 11los mais amplos introduziram a distin91o entre o tempo do

dever religioso e o tempo secular a ser dedicado aO Estadoo Medindo e tributando

o tempo das pessoas,bem como dando seu exemplo pessoal con■ intensocronograma de trabalho bascado no tempo,csse czar inaugurou uma tradi9ao

secular de associa91o de servi9o ao pafs,sublrlissaO aO Estado e ttuste da vida ao

tempo.

No p」irneiro est`gio da Uniao Sovi6tica,Lenin compartilhou cOm Henry

Ford a admira910 pe10 tay10rismo e pela“ organiza9ao cientffica do lrabalho",

conl base na rnedi91o dO tempo de trabalho para o lnenor rnovilnentO da linha de

montagemo Mas a compressao do tempo sob o comunismo surgiu conl uma gui―

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O limiar do etemo 525

nada ideo16gica decisiva.7 Enquanto no fordismo a acelera9ao do trabalho estava

associada a dinheiro conl aumento de pagamento,no stalinismo naO s6 o dinheiro

era unl mal segundo a tradi91o mssa,Inas o tempo deveria ser acelerado por

motiva91o ideo16gica.Portanto,“ stakhanovismo''significava trabalhar rnais por

unidade de tempo como unl servi9o para o pafs,e planos de cinco anos eram

cump五dos em quatro como prova da capacidade da nova sociedade para a revo―

lu91o temporalo Em maio de 1929,no QuintO Congresso dos Sovietes da Uniao,

quc lnarcou o lriunfo de Stalin,tentou― se uma acelera91o ainda lnaior do tempo:

jornada de trabalho sem direito a descanso semanal(んη″り“たa)。 Embora o ob―

jet市o explfcito da reforma fossc o aumento da produ95o na tradi9'o da Revolu―

91o Francesa,a destrui9五o do ritmo semanal da pr`tica religiosa representava

uma rnotiva9,o ainda rnaior.Entao,cnl nOvembro de 1931,introduziu― sc unl dia

de descanso a cada seis dias,Inas o ciclo tradicional de sete dias ainda cra nega―

doo Protestos de famnias separadas por diferen9as dc hor血 直os entre seus lnem―

bros lnotivaranl a volta da semana de sete dias elr1 1940,particularrnente ap6s ter―

se percebido quc as cidades adotavanl o lnodelo de seis dias,mas a rnaior parte do

interior ainda seguia a semana tradicional,intrOduzindo uma divisao cultural pe―

rigosa cntre os camponeses e os trabalhadores industriaiso Na verdade,embora a

coletiviza9五o for9ada da agricultura visassc a elilrlina91o do conceito comunal de

tempo elrl ritmo lento,cllraizado na natureza,fam■ ia c hist6五 a,difundiu… sc uma

resistencia social e cultural a essa imposi91o,demostrando a profundidade do

fundamento temporal da vida socialo Mas,embora o tempo fosse reduzido no

local de trabalho,o horizonte temporal do comunismo sempre era considerado no

longo prazo e,cnl certa lnedida,ctemo,como foi expresso na imortalidade per―

sonificada de Lenin e na tentativa de Stalin tornar― se um fdolo enl vida.Assiln,na

d6cada de 1990,a queda do comunismo deslocou os russos,en■ especial as novas

classes profissionais,do horizonte de longo prazo do tempo hist6rico para o curto

prazo do tempo rnonetizado caracte」 〔stico do capitalismo,dessa folllla pondo um

finl)separa91o eStatista secular entre tempo e dinheiroo Com isso,aR`ssia uniu―

sc ao Ocidente no exato momento enl quc o capitalismo desenvolvido revolucio―

nava sua estrutura temporal.

As sociedades contemporaneas ainda estao en.grande parte donunadas pelo

conceito do tempo crono16gico,descoberta categ6五 ca/1necanica quc Eo R Thomp―

son,8 entre outros,considera importantfssilna para a constitui9五 o do capitalismo

industrialo Ern termos lnate五 ais,a modemidade pode ser concebida como o do―

lrlfnio do tempo crono16gico sobre o espa9o c a sociedade,tema desenvolvido por

Giddens,Lash e UIy,c Harvey。 (〕 tempo一―como repeti91o da rotina d髭 静ia,de

acordo com Giddens,9ou como``o domfnio da natureza,quando todos os tipos de

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526 0 1imiar do etemo

fenOmenos,priticas e lugares fican■ suJeitos a lrlarcha centralizadora c universa―

lizante do tempo'',nas palavras de Lash e Uny,10-― esti no amagO dO capitalismo

industrial e do estatismo.O maquinismo industrial trouxe o cronOmetro para as

linhas de montagem das fibricas fordistas e leninistas quasc ao lnesmo tempo.H

As viagens para lugares distantes do(Dcidente no final do s6culo XIX passaranl a

ser organizadas com base no Hor血戯o M6diO dc Greenwich,como materializa9ao

da hegemonia do lmp6rio Britanic。。No entanto,um s6culo depois,a constitui91o

da Uniao Sovi6tica fOi inarcada pela organiza9ao de ulrl imenso tenrit6rio com

base na hora de Moscou e fusos horttrios decididos de forma arbitrttria pela con―

veniencia dos burocratas,ignorando a distancia geogr`fica.Ё impOrtante notar

quc o p五rneiro ato de rebeldia das Rep`blicas B`lticas durante a ρ`r`s′

・句 たα de

Gorbachov foi votar pela ado9aO dO fuso horttrio finlandes para a hora oficial de

seus te」rit6rios.

Esse tempo linear,ileversfvel,mensurivel e previsfvel esti sendo frag―

mentado na sociedade em rede,enl um movilnento de extraordin`ria importancia

hist6ricao No entanto,nao estamOs apenas testemunhando uma relativiza91o dO

tempo de acordO cOm Os cOntextos sociaiS Ou,de forma alternativa,o retorno)

reversibilidade temporal,como se a realidade pudesse ser inteiramente captada

CIII InitOS cfclicos.A transfo■ 11la91o 6 mais profunda:6 a mistura de tempos para

criar unl universo eterno que nao se expande sozinho,Inas que se rnant6nl por si

s6,nao cfclico,Inas aleat6rio,nao recursivo,Inas incursor:tempo intempOral,

utilizando a tecnologia para fugir dos contextos de sua cxistencia e para apropri―

ar,de maneira seletiva,qualquer valor quc cada contexto possa oferecer ao pre―

sente eteコnoo James Gleick documentou a acelera910 de``praticamente tudo"nas

nossas sociedades,nunl empenho incans`vel de comp」 irnir o tempo em todos os

dottnios da atividades humanas.12 comprirlllir o tempo at6 o lilrlite equivale a

fazer conl quc a sequencia temporal,c,por conseguinte,o tempo,desapare9a.

Afirmo quc isso est`acontecendo agora nao apenas porque o capitalismo

se esfor9a para libertar― se de todas as restri95es,j`quc,apesar de naO cOnseguir

mate五 aliz`-la totallnente,essa telrl sido a tendencia do sistema capitalista。 13 Nem

6 suficiente rnencionar as revoltas culturais e sociais contra o tempo crono16gico,

visto quc caracterizaram a hist6五 a do`ltimo s6culo senl realmente reverter seu

dottnio,na verdade desenvolvendo sua 16gica lnediante a inclusao da distribui¨

91o da vida no contrato social conl base no tempo crono16gico.14 A liberta9ao dO

capital enl rela91o ao tempo e a fuga da cultura ao re16gio saO decisivamente

facilitadas pelas novas tecnologias da infolllla91o c embutidas na estl■ ltura da

socledade elrl rede.

Feitas essas considera95es,prosseguirei com a especificagao de scu signi¨

ficado,de fo■ 1lla que no fim deste capttulo a anllise socio16gica possa substituir

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O linliar do etemo 527

as afirma95eS metaf6ricaso Para faze-1。 sem uma repeti91o aborecida,contarei

conl as observa95eS empfricas apresentadas em outros cap■ ulos deste livro sobre

a transformagao dOs vaOs domfnios da estrutura social e acrescentarei as ilustra―

95es ou anllises necessarias para completar nosso entendilnento.Dessa forma,exalrlinarei sequencialmente os efeitos que as transforma95es enl andamento nas

esferas econOmica,polftica,cultural e social telrl sobre o tempo e terlrlinarei com

uma tentativa de reintegra910 dO tempo e do espa9o elrl Sua nova rela91o contra―

dit6riao No estudo da atual transforma91o do tempo em esferas sociais muito

diversas,serei um tanto esquem`tico em minhas airma95es,j`que 6 material―

mente impossfvel apresentar,em poucas p`ginas,um desenvolvilnento total da

anilise de domfnios tao cOmplexos e diversos comO SiStema financeiro global,

tempo de servi9o,ciclo vital,morte,praticas de gucra e rnfdiao Contudo,ao lidar

colrl tantos assuntos diferentes,tento extrair,a16m dessa diversidade,a16gica

compartilhada da nova temporalidade que se rnanifesta em toda a gama da cxpe―

riencia humanao Portanto,oo可 et市O deste capttulo na。 6 resumir a transforma―

910 da Vida social em todas as suas diinens5es,mas,ao contrano,Inostrar a con―

sistencia dos padr5es no surgilnento de unl novo conceito de temporalidade,quc

chamo de′ιη θjκ′ιり θrα J.

Devo fazer outro alerta.A transfoma91o do tempo,confo■ 1lle foi pesquisada

neste cap■ ulo nao diz respeito a todos os processos,agmpamentos sociais e tenn―

t6rios de nossas sociedades,embora,sem d`vida,afete todo o planetao O quc

chamo de′`η

θ jκ′ιη θrαJ 6 apenas a forma dO″zjκακ′`emergente do tempo

social na sociedade en■ rede porquc o espa9o de fluxos nao anula a existencia de

lugares.Afi■ 11lo quc a dominagao sOcia1 6 exercida por rneio da inclusao seletiva

e da exclusaO de fun95es e pessoas em diferentes estruturas temporais e espa―

ciais.Voltarei a esse tema no final do cap■ ulo,ap6s ter analisado o perfil do

tempo elrl sua nova forma dominante.

Tempo como fonte de valor:o cassino global

David Harvey representa de forma aprop五 ada as transforma95es atuais do

capitalismo sob a f6mula de``compressao tempOral e espacial''。15 Em nenhum

l胤 :淵 富 謡 潟 :Ⅷ器 ξ糧 胤

C譜

犠 :呪 黒 靭 ltttlttI

menta91o global do sistema flnanceiro e a disponibilidade de novas tecnologias

da info■ 11la910 e novas t6cnicas de gerenciamento lransformaram a natureza dos

mercados de capitaiso Pela primeira vez na hist6ria,surgiu ulll rnercado de capi―

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528 O limiar do etemo

tais global unificado,メ ィ4θ jθ4αれグθι“

ρθ″αJ。

16 A cxplica91o do volume fe―

nomenal de fluxos financeiros transnacionais,como foi demonstrado no capttulo

2,est`naソθJθθJdαde das transa95es・ 17 0 meSIrlo capita1 6 transportadO de um

lado para outro entre as econolFliaS em questao de horas,nlinutos e,)s vezes,

segundos。 18 Beneficiados pela desregulamenta9ao,desintermedia95o c abertura

dos rnercados financeiros internos,poderosos programas computacionais c habi―

lidosos especialistas cIIl cOmputadores/analistas financeiros a postos nos n6s glo―

bais de uma rede selet市 a de telecomunica96es literalmente participam dejogOs

conl bilh5es de d61ares.19 A principal sala de carteado desse cassino eletrOnico 6

o rnercado rnonetttrio,quc explodiu na`ltilna d6cada,tirando vantagenl das taxas

de cambi。 ■utuantes.Em 1998,USS l,3 trilh5es foram movimentados todos osdias no mercado monetttio(ver igura 7.1)。 20 Esses jogadores globais nao sao

especuladores desconhecidos,rnas grandes bancos de investirnentos,fundos de

pensaO,empresas multinacionais(ClarO,inclusive ind`strias)e fundOS m`tuos

organizados exatamente para manipula91o financeira.21 Fran9oiS Chesnais iden―

tificou cerca de cinqiienta grandesjogadores nos lnercados financeiros globais.22

No entanto,como afirmei anteriormente,uma vez que se gerem turbulencias n。

mercado,os fluxos assumenl,li91o quc os bancos centrais aprenderanl)custa de

m鍬 ∵ :犠 蹴 l駕 尋 :,T椒 富 嵩 il獄 :群 器 :l』

autom`tica para tomadas de decisao quase instantaneas,que gera o ganho一 ―ou a

perdao Mas tamb6n1 6 a circularidade temporal do processo,uma seqiiencia im_

plac`vel de compras e vendas,que caracteriza o sistema.A arquitetura do siste―

ma financeiro global de fato 6 construfda conl base clrl fusos horttrios,com Lon―

dres,Nova York e rr6quiO,ancorando os tres turnos do capital,e varios centros

financeiros nao― OrtOdoxos,influenciando as pequenas discrepancias entre os va―

lores de rnercado na hora da abertura e do fechamento.23A16nl disso,unl n`mero

significativO c crescente de transa95es financeiras baseia… se na gera95o de valor a

partir da capta9五o dO tempo futuro nas transa95es presentes,como nos lnercados

de futuros,op96es e outros lnercados de capitais de derivativos.24 JuntOs,esses

novos produtos financeiros aumentanl drasticamente a rnassa de capital nonlinal

ッjs_a_ッJs os dep6sitos e ativos banc血 五os,de fo■ 11la quc 6 aprop五ado dizer quc

tempo gera dinheiro,a medida que todos apostam no/e com o dinheiro futuro

previsto nas prqe96es dos computadores.25 0 pr6prio processo de negocia9ao do

desenv01vilnento futuro afeta esses desenvolvilnentos,de rnaneira quc a estrutu¨

ra temporal do capita1 6 constantemente dissolvida elrl sua rnanipula9,o preSente

ap6s receber unl valor fictfcio para rnonetarlz`-loo Portanto,o capital nao s6 com―

prilne o tempo:absorve― o e vive da(iSt0 6,gera renda econOnlica)digeStaO de

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0 1imiar do etemo 529

seus segundos e anos.As conseqiiencias lnateriais dessa digressao aparentemen―

te abstrata sobre tempo e capital saO cada vez lnais sentidas nas econoIIlias e na

vida diaria em todo o mundo:c」ises inonet`rias recorentes,introduzindo uma

era de instabilidade econOmica estl■ ltural e,sem d`vida,pondo elrl risco a inte―

gra9ao curOp6ia;a inabilidade de o investimento de capital prever o futuro,o que

preJudica os incentivos para investilnento produtivo;a destru19ao de empresas e

seus empregos一一independentemente do desempenho一一cIIl virtude de mudan―

9aS repentinas imprevistas no cenario financeiro em que operanl;a lacuna pro―gressiva cntre os lucros na produ9aO de bens e servi9os e as rendas geradas na

csfera de circula91o,dessa forma lransferindo uma parcela cada vez maior da

poupan9a mundial para ojogo financeiro;os riscos crescentes para os fundos de

pensao e passivos de seguros p五 vados,assim introduzindo um ponto de inte■ o―

ga95o na seguran9a(adquirida colrl sacriJttcios)dOS trabalhadores de todo o lrlun―

do;a depen“ ncia de econonlias inteiras一 e particularrnente as dos pafses em

desenvolvilrlento一―de rnovilnentos de capital enl grande parte deterlrlinados por

percep91o suttetiVa eturbulenciacspeculativa;a destrui91o,na cxperiencia cole―

tiva das sociedades,do padraO de cOmportamento de satisfa91o adiada,cnl benc―

icio da ideologia comunl do``dinheiro ficil''quc enfatiza ojogo individual com

a vida c a econolllia;e o prttufZO basilar a percep9五〇social da corespondencia

cntre produ91o e reCOmpensa,trabalho e significado,6tica e l■ quezao Parece quc

OpuritanismofoienteHadoemCingtturaem 1995juntocomovener`vel Barings

Bank.2613。 confucionismo perdurar`na nova economia apenas enquanto``o san―

gue for mais consistente quc a`gua'',27。 u Saa,enquanto os la9os familiares

continuarenl promovendo a coesao sOcial a16nl da pura especula91o no admir`vel

mundo novo do sistema dejogos financeiros.A invalida91o do cOnceito de telrl―

po c a lnanipula9,o do tempo por rnercados de capitais globais gerenciados ele―

tronicamente sao unl cOmponente da fonte de novas fO■ 11las de devastadoras cri―

ses econOmicas quc adentranl o s6culo XXI.

A■exibilidade dajomada de trabalho e a cmpresa em rede

A suplanta910 dO tempo tamb61rlesti no amago das novas fo■ 11las organiza―

cionais de atividade econOmica por rnim identificadas como a`“ ρ“θsα

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つ́ θグι.

Fomas flexfveis de gerenciamento,utiliza9ao cOntfnua de capital fixo,desempe―

nho intensificado de trabalhadores,alian9as eStrat6gicas e conex5es interorgani―

zacionais,tudo isso promove a compressaO dO tempo de cada opera9ao e a acele_

ra910 da mOvimenta91o de recursos.Na verdade,o sistema de gerenciamento de