7
Trends Psychiatry Psychother. 2012;34(2) – 73-79 Artigo de Revisão rends in Psychiatry and Psychotherapy T © APRS Tarcísio Gomes Dutra 1 , Laila da Camara Lima Kurtinaitis 1 , Amaury Cantilino 2 , Maria Carolina Souto de Vasconcelos 3 , Izabel Hazin 4 , Everton Botelho Sougey 5 Overgeneral autobiographical memory in depressive disorders A supergeneralização da memória autobiográfica nos transtornos depressivos Resumo Este artigo tem como objetivo revisar estudos que possuíram como temática a relação entre o fenômeno da supergenerali- zação da memória autobiográfica e os transtornos depressivos. Tal característica tem chamado a atenção por sua relação com uma pobre habilidade de resolução de problemas e imaginação do futuro, bem como pela manutenção e pior prognóstico da de- pressão. Para o acesso das informações, foi realizada uma busca sistematizada nos bancos de dados LILACS, SciELO, MEDLINE, IBECS e nas bases de ciências da saúde do Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Su- perior (CAPES), com foco em artigos publicados entre 2000 e 2010, usando os seguintes descritores: memória autobiográfica, supergeneralização da memória autobiográfica e memória auto- biográfica e depressão, em português; e autobiographical me- mory, overgeneral autobiographical memory e autobiographical memory and depression em inglês. Após a aplicação dos critérios de exclusão, 27 estudos foram revisados. A supergeneralização tem sido investigada em diversos transtornos depressivos. En- tretanto, mais estudos longitudinais são necessários para funda- mentar tal característica cognitiva como um aspecto relevante na anamnese e no tratamento de distúrbios do humor. Descritores: Memória autobiográfica, depressão, cognição. Abstract This article aims to review studies focusing on the relationship between overgeneral autobiographical memory and depressive disorders. Such characteristic has attracted attention because of its relationship with a poor ability to solve problems and to imagine the future, as well as with the maintenance and a poor prognosis of depression. Data were collected through a systema- tic search on LILACS, SciELO, MEDLINE, and IBECS databases, and also on the health sciences records of Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Supe- rior (CAPES), a Brazilian journal database, focusing on articles published between 2000 and 2010. The following keywords were used: memória autobiográfica, supergeneralização da memória autobiográfica, and memória autobiográfica e depressão in Por- tuguese; and autobiographical memory, overgeneral autobiogra- phical memory, and autobiographical memory and depression in English. Following application of exclusion criteria, a total of 27 studies were reviewed. Overgeneral autobiographical memory has been investigated in several depressive disorders. However, further longitudinal studies are required to confirm the relevant role of this cognitive characteristic in anamnesis and in the tre- atment of mood disorders. Keywords: Autobiographical memory, depression, cognition. 1 Psicólogo(a). Mestre, Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife, PE. 2 Psiquiatra. Doutor. Coordenador, Programa de Saúde Mental da Mulher, UFPE. 3 Acadêmica de Psicologia, UFPE. 4 Psicóloga. Pós-doutora. Professora adjunta, Departamento de Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Natal, RN. 5 Psiquiatra. Pós-doutor. Professor associado, Departamento de Neuropsiquiatria e Programa de Pós-Graduação em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento, UFPE. Recebido em 22/11/2010, aceito em 24/08/2011. Não foram declarados conflitos de interesse associados à publicação deste artigo. Como citar: Dutra TG, Kurtinaitis LC, Cantilino A, Vasconcelos MC, Hazin I, Sougey EB. A supergeneralização da memória autobiográfica nos transtornos depressivos. Trends Psychiatry Psychother. 2012;34(2):73-9.

A Supergeneralização Da Memória Autobiográfica Nos Transtornos Depressivos

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Memória autobiográfica.

Citation preview

  • Trends Psychiatry Psychother. 2012;34(2) 73-79

    Artigo de Revisorendsin Psychiatry and PsychotherapyT

    APRS

    Tarcsio Gomes Dutra1, Laila da Camara Lima Kurtinaitis1, Amaury Cantilino2, Maria Carolina Souto de Vasconcelos3, Izabel Hazin4, Everton Botelho Sougey5

    Overgeneral autobiographical memory in depressive disorders

    A supergeneralizao da memria autobiogrfica nos transtornos depressivos

    Resumo

    Este artigo tem como objetivo revisar estudos que possuram como temtica a relao entre o fenmeno da supergenerali-zao da memria autobiogrfica e os transtornos depressivos. Tal caracterstica tem chamado a ateno por sua relao com uma pobre habilidade de resoluo de problemas e imaginao do futuro, bem como pela manuteno e pior prognstico da de-presso. Para o acesso das informaes, foi realizada uma busca sistematizada nos bancos de dados LILACS, SciELO, MEDLINE, IBECS e nas bases de cincias da sade do Portal de Peridicos da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Su-perior (CAPES), com foco em artigos publicados entre 2000 e 2010, usando os seguintes descritores: memriaautobiogrfica, supergeneralizaodamemriaautobiogrficaememriaauto-biogrficaedepresso, em portugus; e autobiographical me-mory, overgeneral autobiographical memory e autobiographical memory and depression em ingls. Aps a aplicao dos critrios de excluso, 27 estudos foram revisados. A supergeneralizao tem sido investigada em diversos transtornos depressivos. En-tretanto, mais estudos longitudinais so necessrios para funda-mentar tal caracterstica cognitiva como um aspecto relevante na anamnese e no tratamento de distrbios do humor.Descritores: Memria autobiogrfica, depresso, cognio.

    Abstract

    This article aims to review studies focusing on the relationship between overgeneral autobiographical memory and depressive disorders. Such characteristic has attracted attention because of its relationship with a poor ability to solve problems and to imagine the future, as well as with the maintenance and a poor prognosis of depression. Data were collected through a systema-tic search on LILACS, SciELO, MEDLINE, and IBECS databases, and also on the health sciences records of Portal de Peridicos da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Supe-rior (CAPES), a Brazilian journal database, focusing on articles published between 2000 and 2010. The following keywords were used: memriaautobiogrfica, supergeneralizao da memria autobiogrfica, and memriaautobiogrficaedepresso in Por-tuguese; and autobiographical memory, overgeneral autobiogra-phical memory, and autobiographical memory and depression in English. Following application of exclusion criteria, a total of 27 studies were reviewed. Overgeneral autobiographical memory has been investigated in several depressive disorders. However, further longitudinal studies are required to confirm the relevant role of this cognitive characteristic in anamnesis and in the tre-atment of mood disorders.Keywords: Autobiographical memory, depression, cognition.

    1 Psiclogo(a). Mestre, Neuropsiquiatria e Cincias do Comportamento, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife, PE. 2 Psiquiatra. Doutor. Coordenador, Programa de Sade Mental da Mulher, UFPE. 3 Acadmica de Psicologia, UFPE. 4 Psicloga. Ps-doutora. Professora adjunta, Departamento de Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Natal, RN. 5 Psiquiatra. Ps-doutor. Professor associado, Departamento de Neuropsiquiatria e Programa de Ps-Graduao em Neuropsiquiatria e Cincias do Comportamento, UFPE.

    Recebido em 22/11/2010, aceito em 24/08/2011. No foram declarados conflitos de interesse associados publicao deste artigo.

    Como citar: Dutra TG, Kurtinaitis LC, Cantilino A, Vasconcelos MC, Hazin I, Sougey EB. A supergeneralizao da memria autobiogrfica nos transtornos depressivos. Trends Psychiatry Psychother. 2012;34(2):73-9.

  • Supergeneralizao da memria autobiogrfica Dutra et al.

    Introduo

    A memria autobiogrfica relaciona-se capacidade que as pessoas tm de recordar eventos pessoais e fatos de suas vidas1. Pode ser conceituada como um processo reconstrutivo que relaciona a memria episdica e sua caracterstica sensrio-perceptual com seu contexto, ou ainda como uma evocao episdica de datas, eventos e acontecimentos pessoais considerando-se a relao temporal e espacial entre eles2. A memria autobiogrfi-ca tambm pode ser referida como um processo de me-mria que combina elementos de memria semntica, pelo fato de que necessrio um conhecimento de si prprio para que os fatos ocorridos sejam significados como pertencentes ao indivduo, com memria episdi-ca, por serem narrativas pessoais conhecidas pelo sujei-to como fazendo parte do seu passado3.

    Apesar das vrias formas de se expressar o concei-to de memria autobiogrfica, um aspecto peculiar diz respeito ao fato de que a evocao traz consigo a cons-cincia de que um determinado fato ou acontecimento ocorreu anteriormente consigo prprio, fazendo parte de sua histria pessoal2. Alm disso, a evocao apresenta como caracterstica a sensao de reviver o fato, de fazer uma viagem de volta ao passado4, chamada por Tulving5 de conscincia autonotica. Desta forma, a memria autobiogrfica acompanha um senso de re-experincia do evento original e da crena de que ele aconteceu6.

    Estudos discutem que o desempenho da memria autobiogrfica em indivduos com transtorno depres-sivo aparece prejudicado em comparao a indivduos controle sem depresso. Indivduos com transtornos emocionais especialmente pacientes com histria de depresso parecem apresentar uma inabilidade de recordar eventos vividos de forma especfica, tendendo a uma recuperao supergeneralizada com descries categricas7. Quando tentam recuperar eventos espe-cficos, os indivduos primeiro acessam descries de eventos gerais, na formao da hierarquia de memrias, utilizando-se de estgios intermedirios para seguir sua pesquisa at chegar aos eventos especficos. Administrar essa hierarquia para encontrar o nvel de especificidade requerido no representa um problema para a maioria das pessoas. Em alguns casos, todavia, a pesquisa para em estgios intermedirios, resultando em uma mem-ria geral em vez de especfica, fenmeno que denomi-nado de memria supergeneralizada.

    Conway & Pleydell-Pearce1 propuseram um modelo terico para a memria autobiogrfica, caracterizado por um sistema hierrquico que abrange todos os nveis de conhecimento autobiogrfico: perodos de vida, even-tos gerais e conhecimentos especficos de eventos. Tais instncias funcionariam como um banco de dados que

    estaria modulando a construo das memrias, tanto na codificao quanto na recuperao, e representariam n-veis distintos que vo da generalizao especificidade. Num processo de busca, descries genricas podem ser inibidas para alcanar um evento especfico. Entretanto, se, durante esse processo, no houver recursos execu-tivos suficientes, a recordao especfica ser prema-turamente interrompida, levando recordao de uma memria geral, com menor grau de especificidade8.

    A supergeneralizao definida como a propenso a recordar o prprio passado de maneira demasiadamen-te sinttica, genrica e inespecfica9,10. Tal fenmeno, no entanto, no est relacionado ao contedo da mem-ria, e sim falta de especificidade espao-temporal11. De forma pioneira, Williams & Broadbent12 investigaram a associao entre recordao congruente e humor em indivduos que tentaram suicdio. Os autores observa-ram que, quando comparados com controles, os casos apresentaram uma grande proporo de memrias no especficas e maior latncia de resposta em relao a palavras positivas. Uma memria especfica foi definida como uma ocasio ou um evento experimentado pesso-almente que aconteceu num espao de tempo inferior a 1 dia (Williams JM, Autobiographical memory test, ma-nuscrito no publicado)5. Um exemplo de memria espe-cfica seria o dia em que minha me morreu. As me-mrias no especficas ou generalizadas que dizem res-peito a eventos repetidos e sem referncia a um tempo especfico so chamadas de memrias categricas; j as memrias que remetem a um perodo de tempo maior, superior a 1 dia, so chamadas de memrias estendidas (Williams JM, Autobiographical memory test, manuscrito no publicado).Um exemplo de memria categrica seria quando amamentava meu beb, e um exemplo de me-mria estendida seria o tempo que passei em Braslia.

    Passados mais de 20 anos, a supergeneralizao da memria autobiogrfica continua sendo estudada, uma vez que essa tendncia de recordao parece estar re-lacionada a aspectos cognitivos clinicamente importan-tes, tais como dficits nas habilidades de resoluo de problemas13, dificuldades para imaginar o futuro14 e vul-nerabilidade a atos suicidas e parassuicidas15,16. O fen-meno da supergeneralizao pode ainda estar implicado num pior prognstico e ser um fator de vulnerabilidade para depresso9,17. Estudiosos apontam que o fenmeno pode ser associado a um trao marcador que pode per-durar mesmo aps a remisso dos sintomas. Nesse caso, o fenmeno das memrias autobiogrficas supergenera-lizadas no seria um estado dependente do humor, e sim um trao estvel que tornaria indivduos mais vulner-veis depresso ou recada18.

    Dessa forma, tal caracterstica compreendida por alguns pesquisadores como um confivel preditor do

    74 Trends Psychiatry Psychother. 2012;34(2)

  • Supergeneralizao da memria autobiogrfica Dutra et al.

    curso da depresso: pacientes que so mais superge-neralizados em suas evocaes parecem continuar pre-enchendo os critrios para depresso quando testados algumas semanas aps o incio do tratamento19. O pri-meiro estudo nesse sentido acompanhou pacientes com depresso maior e observou uma relao entre o padro de evocao supergeneralizado no Teste de Memria Autobiogrfica (TMA) e um pior prognstico, sugerindo que o nvel de especificidade permanece estvel mesmo quando a gravidade dos sintomas depressivos declina17. O TMA12 consiste em uma srie de palavras-estmulo de diferentes valncias emocionais (positiva, neutra e ne-gativa) que so apresentadas a um determinado indiv-duo. Para cada palavra apresentada, o entrevistado deve procurar recordar eventos especficos de sua histria de vida. No Brasil, o teste foi adaptado por Pergher20 e sub-sequentemente avaliado por Pergher & Stein21.

    Em pouco mais de 20 anos, desde o estudo inicial de Williams & Broadbent12, o interesse pela relao entre a especificidade da memria autobiogrfica e a psiquia-tria tem aumentado, uma vez que a supergeneralizao parece apresentar-se como uma caracterstica de alta relevncia clnica e terica no que concerne vulnerabi-lidade para a depresso e para outros transtornos emo-cionais. Desta forma, a investigao de tal fenmeno contribui para a elucidao de mecanismos neurocog-nitivos subjacentes que podem potencializar o carter crnico de certas psicopatologias22.

    Diante do exposto, o objetivo deste trabalho foi revi-sar estudos que focaram a temtica da supergeneraliza-o da memria autobiogrfica e discutir seus principais achados relacionados supergeneralizao e aos trans-tornos depressivos.

    Mtodo

    Foi realizada um reviso sistematizada em busca de artigos nas bases de dados LILACS, SciELO, MEDLINE, IBECS e nas bases de cincias da sade do Portal de Peridicos da Coordenao de Aperfeioamento de Pes-soal de Nvel Superior (CAPES). A pesquisa focou artigos publicados entre os anos de 2000 e 2010. Os seguin-tes descritores foram utilizados: memria autobiogr-fica, supergeneralizao da memria autobiogrfica e memriaautobiogrficaedepresso, em portugus; e autobiographical memory, overgeneral autobiographical memory e autobiographical memory and depression em ingls. Foram considerados tambm os seguintes crit-rios de incluso: artigos originais, que usassem o TMA como instrumento de investigao, e que tivessem como interesse o estudo da relao entre a supergeneralizao da memria autobiogrfica e os transtornos depressivos.

    Foram captados 86 artigos, dos quais 59 foram excludos por no cumprirem os critrios de incluso propostos. Assim, no total, 27 estudos foram analisados.

    Resultados e discusso

    Os dados principais dos estudos revisados so apre-sentados na Tabela 1.

    Uma discusso relevante em relao supergenera-lizao da memria autobiogrfica diz respeito questo de que o fenmeno parece estar relacionado depres-so, sua manuteno e prognstico. Verificou-se, por exemplo, que estudantes que se apresentaram super-generalizados em suas respostas e estavam submetidos a eventos estressantes de vida relataram mais sintomas depressivos num perodo de 4 a 6 semanas. Isso sugere que a supergeneralizao da memria constitui um fa-tor de vulnerabilidade cognitiva que predispe indivdu-os ao desenvolvimento de transtorno emocional quando expostos a eventos de vida difceis9. Em outro estudo, indivduos que foram testados ao iniciar o tratamento da depresso e mostraram mais supergeneralizao ti-veram uma significativa chance de preencher os critrios diagnsticos quando retestados aps algumas semanas de tratamento, mostrando que a investigao da me-mria autobiogrfica pode ser um preditor de resposta ao tratamento19. Na mesma linha, quando a depresso foi controlada em indivduos diagnosticados, a reduo da especificidade para estmulos negativos predisse um prognstico pior, levando-se em considerao tambm que a relao entre um estilo de pensamento ruminativo e a supergeneralizao pode representar aspectos dife-rentes de um processo cognitivo comum subjacente, e que tais caractersticas exerceriam efeito negativo sobre o curso do transtorno34.

    Em outro estudo, pacientes em estado eutmico tam-bm apresentaram prejuzo na especificidade, sugerindo que tal caracterstica no seria apenas um epifenmeno cognitivo dependente do humor, e sim um dficit neuro-cognitivo geral de indivduos que j passaram por epis-dio de depresso maior, mesmo que no haja uma asso-ciao entre tal caracterstica e o nmero de recadas, de episdios prvios ou sintomas residuais37. Em se tratan-do de indivduos portadores de depresso sazonal e de-primidos durante o inverno, observou-se que o aumento da supergeneralizao para palavras-estmulo positivas relacionou-se com a intensidade de sintomas no vero, em estado de remisso. Os resultados sugeriram tam-bm que a gerao das memrias generalizadas parece apresentar-se como um processo psicolgico importante no que diz respeito ao curso da depresso47. A superge-neralizao tambm foi verificada na depresso aps o

    Trends Psychiatry Psychother. 2012;34(2) 75

  • * Artigos que no explicitam o nmero de participantes separados por gnero. Artigos que incluem dois estudos no seu texto.

    Mdia Total de participantes Estudo Ano Tema de idade (homem/mulher)

    Croll & Bryant23 2000 Depresso ps-parto 31,85 0/26

    Mackinger et al.24 2000 Mudanas afetivas no ps-parto 29,3 0/50

    Watkins et al.25 2000 Depresso maior 39,5 16/32

    Williams et al.26 2000 Depresso maior 44,0 22/33

    Barnhofer et al.27 2002 Depresso maior 29,4 3/12

    Burnside et al.28 2004 Depresso maior/trauma 36,74 0/50

    Gibbs & Rude9 2004 Depresso maior 21,23 32/49

    Iqbal et al.29 2004 Depresso ps-psictica 25,0 29*

    Kremers et al.30 2004 Depresso maior/transtorno de personalidade borderline 37,1 17/122

    Kaviani et al.15 2005 Depresso maior/comportamento suicida 27,85 40*

    Renneberg et al.31 2005 Depresso maior/transtorno de personalidade borderline 32,0 0/87

    Drummond et al.32 2006 Disforia infantil 9,23 35/35

    Kuyken et al.33 2006 Depresso maior/trauma - 62*

    Raes et al.34 2006 Depresso maior 40,2 9/19

    Rekart et al.35 2006 Disforia - 17/39

    Roberts et al.36 2006 Sintomas depressivos/autoestima 19,8 92/112

    Spinhoven et al.37 2006 Depresso maior 44,7 122*

    Crane et al.38 2007 Ruminao depressiva/depresso maior 31,0 11/23

    Heidenreich et al.39 2007 Depresso maior/fobia social 34,8 24/30

    Serrano et al.40 2007 Sintomas depressivos 72,32 77.85

    Spinhoven et al.41 2007 Atitudes disfuncionais/depresso 44,4 111*

    Transtorno de personalidade borderline 30,8 82*

    Sutherland & Bryant42 2007 Ruminao depressiva/depresso maior 20,82 19/35

    Vrielynck et al.43 2007 Depresso infantil 11,5 27/13

    Bessell et al.44 2008 Ruminao de depressiva/dano cerebral adquirido - 42/16

    Hermans et al.19 2008 Depresso maior 39,9 6/14

    Rasmussen et al.45 2008 Comportamento suicida 38,0 17/23

    Schlosser et al.46 2010 Depresso maior 34,1 16/16

    Tabela 1 Caractersticas dos artigos includos na reviso

    Supergeneralizao da memria autobiogrfica Dutra et al.

    76 Trends Psychiatry Psychother. 2012;34(2)

    primeiro episdio psictico, verificando-se que pacientes deprimidos recordaram mais memrias generalizadas do que pacientes no deprimidos, particularmente em re-lao s evocaes com palavras-estmulo positivas; no entanto, no houve diferenas entre os grupos quanto latncia de recordao29.

    Deprimidos tambm foram comparados com indivdu-os que possuam transtorno de personalidade borderline e controles. Os resultados corroboraram a literatura no tocante relao entre depresso e supergeneralizao31. Os deprimidos apresentaram dificuldade em recordar me-mrias especficas, maior latncia para a recuperao e alta proporo de recordaes categricas. Os indivduos borderline no diferiram dos controles na especificidade, e observou-se que, em relao aos deprimidos, aqueles apresentaram um acesso relativamente fcil e rpido a memrias com valncia negativa. Tal caracterstica pode ser especfica para esse grupo e oposta aos achados na depresso36, que parece instalar nos processos cognitivos dos indivduos dificuldades para atingir a especificidade, recuperando consecutivamente memrias categricas27. Ao se compararem pacientes borderline depressivos, pa-cientes borderline no depressivos e controles, tambm

    se verificou que os borderline no depressivos no di-feriram dos controles, enquanto que os borderline com depresso recordaram menos memrias especficas30. Contrariamente ao estudo de Renneberg et al.31, tanto in-divduos depressivos quanto borderline recuperaram me-nos memrias especficas, encontrando-se uma relao entre palavras-estmulo e esquemas cognitivos/atitudes disfuncionais41. Em divergncia com o corpo de estudos que enfocam a depresso, uma comparao entre pa-cientes deprimidos, pacientes com fobia social e contro-les no demonstrou diferenas significativas em relao habilidade de recuperar memrias especficas entre os trs grupos distintos, destacando-se apenas que, quanto maior o nvel de educao dos participantes, mais mem-rias especficas foram recuperadas39.

    Diante da hiptese de regulao do afeto de Willia-ms7, na qual a supergeneralizao se desenvolveria como um mecanismo de evitao de memrias dolorosas, a relao entre abuso sexual, desenvolvimento da depres-so e supergeneralizao j foi estudada28,33. Observou--se um maior nmero de respostas categricas dadas por mulheres que tinham experimentado abuso em uma idade menor ou por maior durao de tempo. No entan-

  • Supergeneralizao da memria autobiogrfica Dutra et al.

    Trends Psychiatry Psychother. 2012;34(2) 77

    to, mulheres que no relataram depresso foram mais categricas em relao quelas que reportaram episdio depressivo na idade adulta, levantando a questo de que a supergeneralizao pode estar mais associada a um fa-tor de proteo do que de vulnerabilidade, sendo, mes-mo assim, um mecanismo de regulao afetiva28. Entre adolescentes que foram expostos a diferentes formas de abuso, observou-se, entre aqueles que atingiram o ponto de corte para depresso, maior produo de memrias genricas ou supergeneralizadas quando comparados aos adolescentes no deprimidos. Os mais velhos foram me-nos especficos do que os mais novos, particularmente em resposta a estmulos neutros e negativos33.

    Os estudos de supergeneralizao tambm alcana-ram as crianas. Vrielynch et al.43 observaram que, ao se comparar crianas deprimidas com no deprimidas, a recordao das primeiras foi menos especfica. As me-mrias apresentaram-se estendidas, e as omisses foram mais frequentes, independentemente da valncia do es-tmulo proposto. Alm disso, quando crianas deprimidas foram comparadas com as que possuam outros transtor-nos psiquitricos e sem histrico de qualquer dificuldade no desenvolvimento, as deprimidas tambm recuperaram significativamente menos memrias especficas. Isso le-vantou a discusso de que o fenmeno da supergenera-lizao no deve ser explicado por um status psiquitrico geral ou histrico de dificuldades no desenvolvimento.

    Os resultados tambm indicaram que o humor depri-mido no media o efeito da supergeneralizao, coadu-nando-se com a viso de que a recuperao supergene-ralizada pode representar um trao estvel de vulnerabi-lidade para a depresso, independentemente do curso do transtorno. Crianas mais velhas tambm pareceram ser mais especficas que as mais novas, independentemente da valncia dos estmulos. A disforia na infncia tambm se relacionou com a diminuio da especificidade de me-mrias a estmulos positivos32. Da mesma forma, a dis-foria foi relacionada supergeneralizao em mulheres jovens submetidas a repetidas tentativas de recuperao mnemnica, destacando-se como fatores relacionados os sintomas somticos e a baixa autoestima36. Outra investi-gao, comparando estudantes disfricos com controles, indicou que a ocorrncia de um padro de respostas ca-tegricas tambm se encontra presente em nveis subcl-nicos de depresso35. Por outro lado, avaliando-se adul-tos idosos, verificou-se que tanto os deprimidos quanto os no deprimidos tenderam a responder com memrias no especficas; entretanto, observou-se que os deprimi-dos apresentaram mais supergeneralizao para palavras negativas do que para palavras positivas, alm de maior latncia de respostas. O aumento na latncia ocorreu em relao a todos os tipos de evocao, e no apenas s evocaes especficas40.

    Mulheres foram investigadas tambm quando por-tadoras de depresso ou alteraes afetivas no perodo ps-parto23,24. Os achados apoiam a hiptese de que a supergeneralizao pode ser um preditor de alteraes afetivas em mulheres grvidas avaliadas durante a 25 e a 40 semana de gestao e reavaliadas aps o nas-cimento dos seus filhos24. Alm disso, investigando-se mulheres com depresso ps-parto e comparando-as com controles, encontrou-se que as deprimidas recor-daram menos memrias especficas, tiveram latncia maior de respostas e uma associao entre a gravidade do transtorno e o dficit no acesso especificidade23.

    Estudos tambm focaram a contribuio do pensa-mento ruminativo na depresso e sua relao com a per-da de especificidade19,25,38,42,44, embora nem todos os re-sultados apontem uma relao significativa19. Indivduos com histrico depressivo, quando induzidos experimen-talmente a um modo analtico de processamento e testa-dos antes e 8 minutos aps a manipulao experimental, apresentaram um declnio na especificidade da memria e nveis mais altos de ruminao. Isso levantou a ques-to de que indivduos assintomticos podem reinstalar um estilo analtico e ruminativo focado em si mesmos, e a baixa especificidade pode ser uma funo desse tipo de processamento cognitivo, aumentando a vulnerabilidade a uma subsequente recada38. Outro estudo que com-parou pacientes com altos e baixos nveis de depresso observou que, diante da induo a um estilo ruminativo, houve um aumento nas memrias supergeneralizadas em relao aos participantes com alto nvel de depres-so, no se verificando o mesmo naqueles com baixos nveis depressivos. Em outra etapa do mesmo estudo, os participantes foram induzidos a uma tarefa de ruminao que possuiu diferentes valncias positiva, neutra e ne-gativa , e observou-se que a induo ruminao com valncia negativa levou a mais memrias supergenera-lizadas nos indivduos com altos nveis de depresso. O efeito no foi observado nos indivduos com baixos nveis de sintomatologia, sugerindo-se que estes podem ter respondido ruminao negativa com mais estratgias adaptativas e, consequentemente, menor supergenerali-zao. De forma geral, a ruminao negativa foi entendi-da como um mecanismo mediador entre a recordao de memrias supergeneralizadas e a depresso42.

    Resultados nessa mesma linha foram encontrados tambm ao se investigar indivduos que possuam dano cerebral adquirido e eram vulnerveis depresso. Indu-zidos a condies de ruminao e distrao, e reavaliados em relao evocao de memrias especficas, a rumi-nao significativamente aumentou a proporo de mem-rias supergeneralizadas, comparando-se os estados pr e ps-interveno44. Padro semelhante foi encontrado em indivduos depressivos ou disfricos submetidos a manipu

  • Supergeneralizao da memria autobiogrfica Dutra et al.

    78 Trends Psychiatry Psychother. 2012;34(2)

    lao com o mesmo fim25. Quando pacientes depressivos foram testados em relao a vrias tarefas de memria e ruminao, encontrou-se tambm que a supergeneraliza-o esteve relacionada diminuio da capacidade de me-mria de trabalho e ruminao, mas no ao desempenho de memria semntica e episdica. Tais dados sugerem que a supergeneralizao no meramente um dficit de memria geral vinculado depresso19.

    Em consonncia com os estudos que possuem como foco os aspectos cognitivos, foram investigados indivdu-os que apresentaram comportamento suicida e a relao dessa caracterstica com traos perfeccionistas. Observou--se que indivduos que tinham investido contra si mesmos repetidas vezes foram mais supergeneralizados em suas recordaes para os estmulos positivos, e um padro de perfeccionismo social esteve relacionado com a supergene-ralizao e altos nveis de ideao suicida. Nesse sentido, a integrao de traos de personalidade e caractersticas cognitivas parece proporcionar um melhor conhecimento sobre o suicdio e comportamentos autodestrutivos45. Em outro estudo, pacientes que tentaram suicdio e preenche-ram os critrios para depresso maior tambm produziram mais memrias supergeneralizadas, apresentando maior latncia para palavras-estmulo positivas quando compa-rados com controles e mais estratgias de resoluo de problemas escassas e menos efetivas15.

    Dentro de uma perspectiva neuroendcrina, a especifi-cidade da memria autobiogrfica foi observada em relao ao nvel de cortisol em pacientes com depresso maior46,48. Contrariamente expectativa do estudo, encontrou-se que o aumento do nvel de cortisol esteve relacionado a um melhor desempenho de evocao em relao especifici-dade, enquanto que a reduo foi associada com respos-tas mais categricas48. De outra forma, examinando-se o impacto da administrao aguda de cortisol sobre o de-sempenho da memria autobiogrfica em pacientes com depresso maior comparados com controles, observou-se que o cortisol no reduziu o desempenho da evocao nos deprimidos, como verificado nos controles. possvel que uma reduo da sensibilidade do receptor do glicocorticoi-de nos deprimidos esteja associada a tal resultado46.

    Diante da relao estudada entre a supergeneraliza-o e a depresso, outra vertente procurou investigar se a memria autobiogrfica poderia ser sensvel a tratamento psicolgico. Indivduos que j tinham passado por episdio depressivo foram avaliados antes e depois de passar por um protocolo de terapia cognitiva com o objetivo de inter-vir sobre as memrias autobiogrficas. Os resultados des-tacaram uma diminuio da generalidade em suas respos-tas em relao a um grupo com igual diagnstico que no foram submetidos ao protocolo. Nesse sentido, embora tal dficit de memria possa ser um estilo cognitivo constru-do, ele se apresentou como passvel de modificao26.

    Concluso

    A reviso realizada apresenta um conjunto de pes-quisas que tm estudado o fenmeno da supergenera-lizao da memria autobiogrfica e sua relao com transtornos depressivos. O interesse pela supergenerali-zao da memria autobiogrfica vem adquirindo maior interesse da comunidade cientfica, principalmente no que diz respeito investigao de sua relao com trans-tornos do humor. No que concerne investigao de in-divduos depressivos, a maior parte dos estudos enfoca o dficit de especificidade em comparao a controles, mesmo quando a sintomatologia depressiva apresenta remisso, sugerindo que tal estilo cognitivo parece se tornar uma caracterstica estvel, o que pode ter impli-caes no prognstico dos transtornos afetivos e estar relacionado a caractersticas psicopatolgicas como o fluxo ruminativo de pensamentos na depresso.

    Destaca-se, entretanto, que, apesar de algumas pes-quisas ressaltarem tal fenmeno como um trao cognitivo estvel, a utilizao de mtodos psicoterpicos focados na supergeneralizao pode proporcionar mudanas relacio-nadas ao aumento da especificidade. Uma vez que a super-generalizao tem sido associada a prejuzo na resoluo de problemas, na imaginao do futuro e na regulao afe-tiva, considerar tal caracterstica como implicada na esfera cognitiva dos transtornos afetivos pode gerar uma melhor compreenso de padres cognitivos que podem reforar um processamento disfuncional relacionado manuten-o de tais transtornos. No entanto, como alguns estudos apresentam resultados divergentes, faz-se necessrio o desenvolvimento de mais estudos, principalmente de car-ter longitudinal, que possibilitem dirimir ou tentar explicar mais claramente as inconsistncias ainda existentes.

    Referncias

    1. Conway MA, Pleydell-Pearce CW. The construction of auto-biographical memories in the self-memory system. Psychol Rev. 2000;107:261-88.

    2. Greenberg DL, Rubin DC. The neuropsychology of autobio-graphical memory. Cortex. 2003;39:687-728.

    3. Frank J, Landeira-Fernandez J. Rememorao, subjetividade e as bases neurais da memria autobiogrfica. Psic Clin. 2006;18:35-47.

    4. Wheeler MA, Stuss DT, Turving E. Toward a theory of episod-ic memory: the frontal lobes and autonoetic consciousness. Psychol Bull. 1997;121:331-54.

    5. Tulving E. Memory and consciousness. Can Psychol. 1985;26:1-10.

    6. Gauer G, Gomes WG. A experincia de recordar em estudos da memria autobiogrfica: aspectos fenomenais e cogniti-vos. Memorandum. 2006;11:102-12.

    7. Williams JM. Depression and the specificity of autobiographi-cal memory. In: Rubin DC, editor. Remembering our past: studies in autobiographical memory. Cambridge: Cambridge University Press; 1996. p. 244-67.

  • Trends Psychiatry Psychother. 2012;34(2) 79

    Correspondncia: Tarcsio Gomes DutraRua Sete de Setembro, 315, Boa Vista55644-150 - Gravat, PEE-mail: [email protected]

    Supergeneralizao da memria autobiogrfica Dutra et al.

    8. Haque S, Conway MA. Sampling the processes of autobiographi-cal memory construction. Eur J Cognit Psychol. 2001;13:529-47.

    9. Gibbs BR, Rude SS. Overgeneral autobiographical memory as depression vulnerability. Cognit Ther Res. 2004;28:511-26.

    10. Pergher, GK, Oliveira RG, De vila LM, Stein L M. Memria, humor e emoo. Rev Psiquiatr Rio Gd Sul. 2006;28:61-8.

    11. Peeters F, Merckelbach H, Boon-Vermeeren M. Autobiograph-ical memory specificity and the course of major depressive disorder. Compr Psychiatry. 2002;43:344-50.

    12. Williams JM, Broadbent K. Autobiographical memory in sui-cide attempters. J Abnorm Psychol. 1986;95:144-9.

    13. Goddard L, Drithchel B, Burton A. Role of autobiographical memory in social problem solving and depression. J Abnorm Psychol. 1996;105:609-16.

    14. Williams JM, Ellis NC, Tyers C, Healy H, Rose G, Macleod AK. The specificity of autobiographical memory and imageability of the future. Mem Cognit. 1996;24:116-25.

    15. Kaviani H, Rahimi-Darabad P, Naghavi HR. Autobiographical memory retrieval and problem-solving deficits of Iranian de-pressed patients attempting suicide. J Psychopathol Behav Assess. 2005;27:39-44.

    16. Pollock LR, Williams JM. Effective problem solving in suicide attempters depends on specificity autobiographical recall. Suicide Life Threat Behav. 2001;31:386-96

    17. Brittkebank JS, Williams JM, Ferrier IN. Autobiographical memory in depression: state or trait marker? Br J Clin Psy-chol. 1993;162:118-21.

    18. Raes F, Watkins E, Williams JM, Hermans D. Non-ruminative processing reduces autobiographical memory retrieval in students. Behav Res Ther. 2008;46:748-56.

    19. Hermans D, Vandromme H, Debeer E, Raes F, Demyttenaere K, Brunfaut E, et al. Overgeneral autobiographical memory predicts diagnostic status in depression. Behav Res Ther. 2008;46:668-77.

    20. Pergher GK. Avaliando a especificidade da memria autobi-ogrfica: o teste de memria autobiogrfica [dissertao]. Porto Alegre: Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul; 2005.

    21. Pergher GK, Stein LM. Recuperando memrias autobiogr-ficas: avaliao da verso brasileira do Teste de Memria Autobiogrfica. Psico. 2008;39:299-307.

    22. Raes F, Hermans D, Philippot, P, Kremers I. Autobiographi-cal memory specificity and psychopathology: the broader context of cognition and emotion research. Cogn Emot. 2006;20:324-27.

    23. Croll S, Bryant R. Autobiographical memory in postnatal de-pression. Cognit Ther Res. 2000;24:419-26.

    24. Mackinger HF, Loschin GG, Leibetseder MM. Prediction of postnatal affective changes by autobiographical memories. Eur Psychol. 2000;5:52-61.

    25. Watkins E, Teasdale JD, Williams RM. Decentring and distrac-tion reduce overgeneral autobiographical memory in depres-sion. Psychol Med. 2000;30:911-20.

    26. Williams JM, Teasdale JD, Segal ZV, Soulsby J. Mindfulness-based cognitive therapy reduces overgeneral autobiographi-cal memory in formerly depressed patients. J Abnorm Psy-chol. 2000;109:150-5.

    27. Barnhofer T, Jong-Meyer R, Kleipab A, Nikesch S. Specificity of autobiographical memories in depression: an analysis of retrieval processes in a think-aloud task. Br J Clin Psychol. 2002;41:411-6.

    28. Burnside E, Startup M, Byatt M, Rollinson L, Hill J. The role of overgeneral memory in the development of adult depression following childhood trauma. Br J Clin Psychol. 2004;43:365-73.

    29. Iqbal Z, Birchwood M, Hemsley D, Jackson C, Morris E. Auto-biographical memory and post-psychotic depression in first episode psychosis. Br J Clin Psychol. 2004;43:97-104.

    30. Kremers IP, Spinhoven PH, Van der Does AJ. Autobiographical memory in depressed and non-depressed patients with bor-

    derline personality disorder. Br J Clin Psychol. 2004;43:17-29. 31. Renneberg B, Theobald E, Nobs M, Weisbrod M. Autobio-

    graphical memory in borderline personality disorder and de-pression. Cognit Ther Res. 2005;29:343-58.

    32. Drummond LE, Dritschel B, Astell A, O Carroll RE, Dalgleish T. Effects of age, dysphoria, and emotion-focusing on au-tobiographical memory specificity in children. Cogn Emot. 2006;20:488-505.

    33. Kuyken W, Howell R, Dagleish T. Overgeneral autobio-graphical memory in depressed adolescents with versus without a reported history of trauma. J Abnorm Psychol. 2006;115:387-96.

    34. Raes F, Hermans D, Williams JM, Beyers W, Brunfaunt E. Re-duced autobiographical memory specificity and rumination in predicting the course of depression. J Abnorm Psychol. 2006;115:699-704.

    35. Rekart KN, Mineka S, Zinbarg RE. Autobiographical memory in dysphoric and non-dysphoric college students using a com-puterized version of the AMT. Cogn Emot. 2006;20:506-15.

    36. Roberts JE, Carlos EL, Kashdan TB. Impact of depressive symptoms, self-esteem and neuroticism on trajectories of overgeneral autobiographical memory over repeated trials. Cogn Emot. 2006;20:383-401.

    37. Spinhoven P, Bockting CL, Koeter MW, Wekking EM, Williams JM. Autobiographical memory in the euthymic phase of re-current depression. J Abnorm Psychol. 2006;115:590-600.

    38. Crane C, Barnhofer T, Visser C, Nightingale H, Williams JM. The effects of analytical and experimental rumination on au-tobiographical memory specificity in individuals with a histo-ry of major depression. Behav Res Ther. 2007;45:3077-87.

    39. Heidenreich T, Jughanns-Royack K, Stangier U. Specificity of autobiographical memory in social phobia and major depres-sion. Br J Clin Psychol. 2007;46:19-33.

    40. Serrano JP, Latorre JM, Gatz M. Autobiographical memory in older adults with and without depressive symptoms. Int J Clin Health Psychol. 2007;7:41-57.

    41. Spinhoven P, Bockting CL, Kremers IP, Schene AH, Williams JM. The endorsement of dysfunctional attitudes is associated with an impaired retrieval of specific autobiographical memo-ries in response to matching cues. Memory. 2007;15:324-38.

    42. Sutherland K, Bryant RA. Rumination and overgeneral auto-biographical memory. Behav Res Ther. 2007;45:2407-16.

    43. Vrielynck N, Deplus S, Philippot P. Overgeneral autobio-graphical memory in depressive disorder in children. J Clin Adolesc Psychol. 2007;36:95-105.

    44. Bessel AL, Watkins ER, Williams WH. Depressive rumination reduces specificity of autobiographical memory recall in ac-quired brain injury. J Int Neuropsychol Soc. 2008;14:63-70.

    45. Rasmussen SA, OConnor RC, Brodie D. The role of perfec-tionism and autobiographical memory in a sample of para-suicide patients: an exploratory study. Crisis. 2008;29:64-7.

    46. Schlosser N, Wolf OT, Fernando SC, Riedsel K, Otte C, Muhtz C, et al. Effects of acute cortisol administration on autobiographi-cal memory in patients with major depression and healthy con-trols. Psychoneuroendocrinology. 2010;35:316-20.

    47. Dagleish T, Spinks H, Yiend J, Kuyken W. Autobiographical memory style in seasonal affective disorder and its rela-tionship to future symptom remission. J Abnorm Psychol. 2001;110:335-40.

    48. Banhofer T, Kuehn EM, Jong-Meyer R. Specificity of autobio-graphical memories and basal cortisol levels in patients with ma-jor depression. Psychoneuroendocrinology. 2005;30:403-11.