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CHRISTIANE MARIA AZEVEDO DE ALMEIDA ABORDAGEM ERGONÔMICA DA CONTRIBUIÇÃO DA FISIOTERAPIA PARA A MELHORIA DA EXECUÇÃO DAS ATIVIDADES DA VIDA DIÁRIA PELOS IDOSOS PORTADORES DA DOENÇA DE PARKINSON Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Profissional em Sistemas de Gestão da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para a obtenção do Grau de Mestre em Sistemas de Gestão. Área de Concentração: Segurança do Trabalho. Orientador: Professor Fernando Toledo Ferraz, D.Sc. Niterói 2005

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CHRISTIANE MARIA AZEVEDO DE ALMEIDA

ABORDAGEM ERGONÔMICA DA CONTRIBUIÇÃO DA FISIOTERAPIA

PARA A MELHORIA DA EXECUÇÃO DAS ATIVIDADES DA VIDA DIÁRIA

PELOS IDOSOS PORTADORES DA DOENÇA DE PARKINSON

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Profissional em Sistemas de Gestão da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para a obtenção do Grau de Mestre em Sistemas de Gestão. Área de Concentração: Segurança do Trabalho.

Orientador: Professor Fernando Toledo Ferraz, D.Sc.

Niterói

2005

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CHRISTIANE MARIA AZEVEDO DE ALMEIDA

ABORDAGEM ERGONÔMICA DA CONTRIBUIÇÃO DA FISIOTERAPIA

PARA A MELHORIA DA EXECUÇÃO DAS ATIVIDADES DA VIDA DIÁRIA

PELOS IDOSOS PORTADORES DA DOENÇA DE PARKINSON

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissional em Sistema de Gestão da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para a obtenção do Grau de Mestre em Sistemas de Gestão. Área de Concentração: Segurança do Trabalho.

Aprovada em:

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________ Prof. Dr. Fernando Toledo Ferraz - orientador

Universidade Federal Fluminense

_________________________________

Universidade Federal Fluminense

_________________________________ Prof. Dr. Renato Bonfatti

Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ

Niterói

2005

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AGRADECIMENTOS

A Deus, presente em tudo e em todos.

À minha avó, inspiradora de todas as horas.

Aos meus pais, meu irmão, minha cunhada, minha irmã, meu cunhado e minhas sobrinhas,

pelo amor incondicional.

A Dr. Salvador Borges Filho, pelos cuidados, apoio e amor demonstrado.

Aos meus pacientes.

À querida Mariza Abunaman, pela demostração de coragem e pelo amor que suscitou o

presente trabalho.

Ao Dr Sérgio Abunaman, por acreditar no meu trabalho.

À Dona Maura, pelo amor e dedicação demonstrados a Sr. Adriano.

À Sr. Adriano, pela força de vontade e alegria.

Aos amigos.

Ao Orientador Fernando, por todo apoio, ajuda e compreensão.

Ao LATEC pela oportunidade.

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RETRATO

Eu não tinha este rosto de hoje,

Assim calmo, assim triste, assim magro,

Nem estes olhos tão vazios,

Nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,

Tão paradas e frias e mortas;

Eu não tinha este coração

Que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,

Tão simples, tão certa, tão fácil:

- Em que espelho ficou perdida

A minha face?

Cecília Meireles

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RESUMO

Tratou-se na presente pesquisa do tema envelhecimento e as principais doenças degenerativas

advindas desse processo, em especial a Doença de Parkinson, tendo como foco principal

investigar através de uma abordagem ergonômica, a contribuição da fisioterapia para a

melhoria da execução das atividades da vida diária pelos idosos portadores da Doença de

Parkinson. O trabalho se baseia na pesquisa aplicada, através do estudo realizado em

referenciais teóricos e da aplicação de técnicas fisioterápicas, com utilização do Método de

Pilates, em idosos parkinsonianos. Buscou-se também investigar a importância da ambiência

na manutenção da funcionalidade e da qualidade de vida desses idosos. Com base no estudo

realizado conclui-se que a fisioterapia pode contribuir para que o idoso portador da Doença de

Parkinson realize suas atividades da vida diária com maior facilidade, mantendo assim sua

autonomia por um maior tempo possível. Ficou evidenciado o benefício trazido pelo

Ambiente de Pilates e pela utilização de suas técnicas na execução dos trabalhos

fisioterápicos, com vistas à melhoria nas atividades da vida diária dos idosos parkinsonianos.

Espera-se que esse estudo possa servir de estímulo a novas investigações que venham

contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos idosos portadores da Doença de

Parkinson.

Palavras-chave: Doença de Parkinson, ergonomia, atividades da vida diária, qualidade de

vida.

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ABSTRACT

The subject of this research is aging and the main degenerative diseases from the process with

focus on Parkinson´s Disease. Through an ergonomic approach the contribution of

physiotherapy in the improvement of daily life activities in elderly people with Parkinson is

investigated. The importance of the environment in the maintenance of the functionality and

the life quality of those old people was also studied. Using applied research theoretical

referential and field observations one come to the conclusion that physiotherapy should

contribute to ease the performance of daily life activities by old people with Parkinson´s

Disease keeping their autonomy during a longer period of time. It become clear the benefit

brought by the Pilates environment and the use of its techniques in the physiotherapeutic

works aiming the improvement of daily life activities of elderly people. We hope that this

study stimulates new researches which may contribute to the improvement of life quality of

old people with Parkinson´s Disease.

Key words: Parkinson´s Diseas, daily life activities, life quality.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – O ambiente Pilates 104Figura 2 – Simulação de movimentos funcionais – exercícios de alongamento e

fortalecimento 106

Figura 3 - Simulação de movimentos funcionais – Deslocamento consciente 107

Figura 4 - Simulação de movimentos funcionais – Articulação da coluna 107

Quadro 1 Dano físico: retrações musculares 111

Quadro 2 Dano físico: rigidez diafragmática 112

Quadro 3 Dano físico: imobilidade 112

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Evolução da expectativa de vida ao nascer de acordo com o grau de

desenvolvimento das regiões do mundo, por período ........................... 13

Tabela 2 Escala de graduação dos sintomas e incapacidades............................... 61

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LISTA DE SIGLAS

ARDA: Alzheimer Disease and Related Disorders Association

AVD’s: Atividades da Vida Diária

COMT: Catecol-O-Metiltransferase

DA: Doença de Alzheimer

DDC: Dopa-Decarboxilase Periférica

DP: Doença de Parkinson

EPDA: Associação Européia de Doença de Parkinson

GABA: Gama-Aminubutírico

IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPEA: Instituto de Pesquisa Estatística Aplicada

OMS: Organização Mundial da Saúde ou (WHO World Health Organization)

ONU: Organização das Nações Unidas

UPDRS: Unified Parkinson Disease Rating Scale

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 13

1.1 O CONTEXTO DO TEMA 13

1.2 APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA 15

1.3 OBJETIVOS 17

1.3.1 Objetivo geral 17

1.3.2 Objetivos específicos 17

1.4 QUESTÕES DE PESQUISA 18

1.5 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO 19

1.6 RELEVÂNCIA DO TEMA 19

1.7 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO 21

2 REVISÃO DA LITERATURA 23

2.1 A CONCEITUAÇÃO DE ENVELHECIMENTO 23

2.2 CAUSAS E CONSEQÜÊNCIAS DO ENVELHECIMENTO 26

2.2.1 O processo de envelhecimento 29

2.2.2 A ascensão e o declínio do ser humano em sua saúde corporal 32

2.2.3 O significado da “Terceira Idade” 33

2.2.4 Aspectos biopsicossociais do envelhecimento 37

3 METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO 41

3.1 OS TIPOS DE PESQUISA 44

3.1.1 Quanto aos fins 44

3.1.2 Quanto aos meios 45

3.2 A TIPOLOGIA SEGUIDA 46

3.3 COLETA E TRATAMENTO DOS DADOS 47

3.4 LIMITAÇÕES DO MÉTODO 48

4 AS PRINCIPAIS DOENÇAS DEGENERATIVAS QUE AFETAM

A TERCEIRA IDADE 49

4.1 CONCEITOS E CONTEXTUALIZAÇÃO DAS DOENÇAS

DEGENERATIVAS 49

4.2 AS PRINCIPAIS DOENÇAS DEGENERATIVAS QUE PODEM

LEVAR À DEMÊNCIA 51

4.2.1 A Doença de Alzheimer 54

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4.2.2 A Doença de Parkinson 56

4.2.2.1 Breve histórico da Doença de Parkinson 58

4.2.2.2 Incidência da DP 59

4.2.2.3 Sintomatologia da DP 60

4.2.2.4 As principais manifestações clínicas da DP 64

4.2.2.5 Considerações farmacológicas para a DP 68

5 OS TRATAMENTOS DISPONÍVEIS PARA A DOENÇA DE

PARKINSON 77

5.1 A AJUDA TERAPÊUTICA 78

5.2 A FISIOTERAPIA E O TRABALHO CORPORAL 79

5.3 A CONTRIBUIÇÃO DOS FATORES ERGONÔMICOS 86

5.3.1 Ambiente físico 87

5.3.2 Iluminação 88

5.3.3 Mobiliário 89

5.3.4 Ruídos 91

5.3.5 O banheiro 92

5.3.6 Temperatura 92

5.3.7 Psicodinâmica das cores 93

5.3.8 A cozinha 94

5.4 A AJUDA DAS PESSOAS E ENTIDADES 95

5.4.1 A família 95

5.4.2 O cuidador 96

5.4.3 As instituições especializadas 98

6 ENFOQUE ERGONÔMICO SOBRE A APLICAÇÃO DE

TÉCNICAS FISIOTERÁPICAS PARA PACIENTES DE

PARKINSON – O MÉTODO DE PILATES 100

6.1 O CORPO E A VIDA NAS PRÓPRIAS MÃOS 100

6.2 BREVE HISTÓRICO SOBRE O MÉTODO DE PILATES 101

6.3 COMPREENDENDO O MÉTODO DE PILATES 102

6.4 O AMBIENTE PILATES: UM AMBIENTE ERGONÔMICO 103

6.5 A APLICAÇÃO DO MÉTODO DE PILATES NA REABILITAÇÃO

DOS PARKINSONIANOS 105

6.6 OBSERVAÇÕES REALIZADAS SOB O ENFOQUE ERGONÔMICO 108

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS 114

7.1 OS OBJETIVOS QUE SE PROCUROU ALCANÇAR 114

7.2 RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS 115

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 117

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1 INTRODUÇÃO

1.1 O CONTEXTO DO TEMA

O aumento da expectativa de vida e a redução das taxas de natalidade podem ser considerados

como os fatores demográficos mais importantes dos nossos dias, transformando os conceitos,

os hábitos e padrão de vida da sociedade como um todo. O relatório World Population

Prospects (UNITED..., 2005) considera o declínio da fertilidade como conseqüência

demográfica primária, especialmente quando associada ao aumento da expectativa de vida da

população. O documento destaca que em 1950 cerca de 8% da população mundial excedia os

60 anos de idade. No ano de 2004, que corresponde ao período mais recente mensurado pelos

pesquisadores, a proporção de pessoas acima dessa faixa etária chegava a 10% da população

mundial, estimada em 6,7 bilhões de habitantes. A expectativa para os próximos 45 anos, é

que o contingente de idosos alcance a proporção de 22%, o que representaria, considerando as

taxas de crescimento populacional projetadas, um número próximo de 2 bilhões de habitantes

no planeta.

Tabela 1 – Evolução da expectativa de vida ao nascer de acordo com o grau de desenvolvimento das regiões do mundo, por período

Área / Região 2000-2005 2045-2050 Variação %Planeta 65,4 75,1 14,8%

Regiões mais desenvolvidas 75,6 82,1 8,6%Regiões menos desenvolvidas 63,4 74,0 16,7% Países com menor desenvolvimento 51,0 66,5 30,4% Outros menos desenvolvidos 66,1 76,3 15,4%

África 49,1 65,4 33,2%Ásia 67,3 77,2 14,7%Europa 73,7 80,6 9,4%América Latina e Caribe 71,5 79,5 11,2%América do Norte 77,6 82,7 6,6%Oceania 74,0 81,2 9,7%

Fonte: World Population Prospects: the 2004 revision highlights (UNITED…, 2005)

No Século XX presenciou-se o mais rápido declínio das taxas de mortalidade de toda a

história humana. Enquanto que na década de 50 a esperança de vida não ultrapassava os 47

anos de vida, no final dos anos 90 já havia ultrapassado a média de 65 anos considerando toda

a população do planeta. Conforme se depreende da Tabela 1, ainda segundo pesquisas

patrocinadas pelas Nações Unidas, espera-se que essa expectativa ultrapasse os 75 anos em

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meados deste Século, o que ampliaria em cerca de 14,8% a esperança de vida dos habitantes

do mundo.

Especificamente em relação ao Brasil, nas últimas décadas ocorreram profundas

transformações demográficas, especialmente em razão de alterações na estrutura etária da

população brasileira. Estudos da ONU (ORGANIZAÇÃO..., 2005) e do IBGE

(INSTITUTO..., 2005) indicam que, como conseqüência da redução das taxas de fecundidade,

entre os anos de 1980 e 2000 deixaram de nascer cerca de 35 milhões de crianças no País e

que provavelmente o mesmo número de pessoas nasceriam entre o inicio deste Século e o ano

de 2010, caso os níveis de fecundidade que existiam no inicio dos anos 80 tivessem sido

constantes.

Por sua vez, o contingente de idosos brasileiros, aqui entendido como a população acima de

65 anos cresceu aproximadamente 3,7 milhões de pessoas entre 1980 e 2000, alcançando um

total de 8,7 milhões de pessoas. Entre 2000 e 2010, um lapso correspondente à metade do

período anterior e sinalizando a aceleração do processo de mudança, o número absoluto de

idosos poderá crescer quase o mesmo montante, isto é, 3,3 milhões de pessoas. Com isso,

segundo essas estimativas, no espaço de cem anos (entre 1950 e 2050), o número de idosos

crescerá de uma proporção inicial de 3% para cerca de 25% ao final do período, sendo que já

em 2025 a expectativa é de que o Brasil tenha a sexta população de idosos em termos

absolutos.

Também no caso brasileiro, as causas para o fenômeno do envelhecimento populacional estão

associadas ao aumento da expectativa de vida como efeito do melhor controle de doenças

características da terceira idade, de doenças potencialmente fatais, e na diminuição das taxas

de fecundidade e mortalidade. De acordo com Kalache et al (1987), o crescimento da

proporção de indivíduos idosos no Brasil requer uma atenção diferenciada dos diversos

setores da sociedade, em particular das atividades profissionais envolvidas nos cuidados com

a saúde desse grupo etário.

Normalmente se evita tratar o processo de envelhecimento como doença. Contudo, não se

pode ignorar o fato de que o crescimento da proporção de idosos representa maiores

problemas, que demandam recursos adequados e gastos maiores com tratamentos

prolongados, especialmente aqueles associados ao acompanhamento da demência, que se

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caracteriza, de acordo com Mattos (2000), pela existência de pelo menos dois déficits

cognitivos, tendo como efeito o comprometimento do funcionamento cotidiano do indivíduo.

Os déficits cognitivos podem comprometer a capacidade ocupacional e representar um

declínio em relação ao nível que anteriormente detinha o indivíduo, podendo se transformar

em um quadro de natureza crônica e progressiva.

O envelhecimento é um fenômeno natural que se verifica com todos os membros de uma

população, e se caracteriza, segundo Vellas et al (1992), pelo declínio fisiológico e é

geralmente acompanhado por doenças, acidentes e estresse. No ano de 1980 as Nações Unidas

definiram a faixa a partir dos 60 anos como “velhice” ou “terceira idade”. No Brasil, através

da Lei n° 10.741, de 1º. de outubro de 2003, definiu-se como idoso todo indivíduo com idade

igual ou superior a 60 anos. Alguns pesquisadores utilizam a faixa etária acima de 65 anos

como ponto inicial para caracterizar a terceira idade.

Pretende-se, com tais informações, apenas ilustrar como a classificação etária pode ser

utilizada em distintos estudos, mesmo porque não se pretende aprofundar a discussão sobre

essa diversidade de critérios. Procurou-se, com este estudo, tratar do tema envelhecimento sob

a perspectiva do acompanhamento e do tratamento alternativo para idosos acometidos da

Doença de Parkinson através da aplicação do Método de Pilates. Nas seções a seguir, são

abordados os problemas específicos desta pesquisa, os objetivos que se pretende alcançar, as

questões a serem respondidas ao final do estudo e, ainda, as justificativas a propósito da

relevância do tema.

1.2 APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA

Feldenkrais (1977) considera que o Ocidente sucumbiu ao poderoso tabu de que a carne supera

em importância o espírito, e que as deficiências do corpo transformam o indivíduo em uma

pessoa carente de significância e mesmo de respeito. Assim, em que pese o fato de os avanços

da medicina ocidental ter proporcionado à humanidade uma longevidade maior, em função não

somente da diminuição da taxa de natalidade, como também devido às constantes pesquisas na

direção da cura de doenças, acredita-se existir ainda um longo caminho a ser percorrido entre o

aumento da expectativa de vida e a verdadeira saúde dos seres humanos em idade avançada.

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Muito embora o crescente aumento da expectativa de vida esteja presente em quase todas as

regiões do planeta, em particular nos países mais desenvolvidos, entre o final do século

passado e o início deste novo milênio surgiram, simultaneamente, doenças degenerativas

provocadoras de limitações fundamentais nas funções vitais do homem.

O homem contemporâneo, que pode contar com aparatos tecnológicos capazes de tornar mais

fáceis várias atividades, trabalha em velocidade superior quando comparada àquela dos seus

antepassados, exigência que se impõe para que acompanhe o ritmo globalizado e a acirrada

competitividade predominante. Com isso adquire, através dos anos de vida ativa,

comportamentos estressantes que o levam, em muitos casos, ao aparecimento de transtornos e

distúrbios que podem, mais tarde, transformarem-se em doenças degenerativas.

A Doença de Parkinson constitui-se em um desses males degenerativos, classificada como

enfermidade da terceira idade, ao lado da Doença de Alzheimer, a Demência em Corpos de

Lewy, as Demências Vasculares Associadas e as Demências por Múltiplos Infartos. James

Parkinson, médico inglês, foi o responsável pela descoberta desse mal, cujo conjunto de

sintomas e sinais reúne distúrbios de movimentos e de impulsos, não apenas do corpo, mas

também da fala e dos pensamentos, estando o doente sujeito a distorções perceptuais acerca

do mundo à sua volta, que comprometem, sobremaneira, sua qualidade de vida. (TIENGO,

2002).

Levando em consideração tal contexto, por meio da formulação da situação problema, que

vem a ser a mola propulsora de todo o estudo e para o qual procura-se oferecer respostas,

foram criados os seguintes questionamentos visando definir a abrangência da investigação, a

saber:

− O tratamento fisioterápico contribui de forma eficaz para melhoria da execução das

AVDs (atividades de vida diária)pelo idoso parkinsoniano?

− O entorno (família, cuidadores, profissionais de saúde, ambiente, objetos,

entretenimento) do idoso portador da DP auxilia no tratamento da doença e na

conquista de padrões aceitáveis de qualidade de vida?

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1.3 OBJETIVOS

A investigação realizada se propôs abordar a contribuição do trabalho corporal e

fisioterápico na busca da melhoria da qualidade de vida das pessoas idosas portadoras da

Doença de Parkinson. Os objetivos central e específicos encontram-se descritos nas subseções

seguintes.

1.3.1 Objetivo geral

O objetivo principal do presente estudo foi realizar uma investigação, a partir de uma

abordagem ergonômica, das possíveis contribuições da fisioterapia na melhoria da qualidade

de vida dos idosos portadores da doença de Parkinson. A aplicação das técnicas fisioterápicas,

com ênfase no Método de Pilates, procura, que através de um melhor condicionamento físico

e uma melhor percepção corporal, o paciente possa ser capaz de executar suas tarefas com

maior eficiência, adquirindo assim uma maior independência em suas atividades da vida

diária. Estudos sugerem ainda a importância da adequação do ambiente no sentido de facilitar

seus movimentos e incentivá-los nas chamadas Atividades da Vida Diária (AVD’s).

1.3.2 Objetivos específicos

Como desdobramento do objetivo geral, o estudo visou a investigação dos seguintes

aspectos relacionados ao tema:

− elencar as principais manifestações clínicas da DP;

− discorrer, com base na literatura pesquisada, os benefícios da orientação aos

familiares e cuidadores sobre a doença;

− identificar os sintomas e características comportamentais limitadoras das

atividades cotidianas do portador da DP, através da pesquisa e abordagem teórica

na literatura disponível sobre o assunto;

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− analisar e apontar os fatores físicos e ambientais que podem facilitar, de modo

expressivo, a prática, pelo paciente parkinsoniano, de suas AVD’s, a fim de torná-

lo o mais independente possível da ajuda familiar ou de cuidadores, de forma a

trazer, para este doente, a recuperação da auto-estima e a valorização de suas

capacidades cognitivas;

− descrever o estado da arte a respeito das técnicas fisioterápicas utilizadas na

reabilitação dos pacientes portadores da DP; e,

− verificar os benefícios da utilização do método de Pilates na melhoria das AVD’s.

1.4 QUESTÕES DE PESQUISA

Para Huberman e Miles (1994) as questões de pesquisa devem estar relacionadas de forma

intrínseca ao modelo conceitual desenvolvido na revisão bibliográfica, devendo manter o foco

no problema de pesquisa e nos objetivos do estudo, para permitir o desenvolvimento lógico de

conjecturas teóricas, constructos, hipóteses ou generalizações empíricas. De acordo com

Vergara (2003), a formulação de questões associadas ao problema de pesquisa que se

pretende elucidar serve como um norte para o trabalho do pesquisador. Na realidade, com a

identificação do problema a ser investigado, a formulação de questões poderia ser feita

simultaneamente. Como lembra a autora, quando o pesquisador decide pela elaboração de

questões, poder-se-ia dispensar a formulação de objetivos intermediários, hipótese em que se

procuraria correlacionar as questões com a maneira pela qual se pretende respondê-las.

Sopesados tais critérios e com o propósito de elucidar o problema tratado e atender a

expectativa do presente trabalho, buscou-se oferecer respostas às questões a seguir:

− O aumento da expectativa de vida requer o desenvolvimento de métodos de

tratamentos para as doenças degenerativas típicas da terceira idade?

− A utilização do Método de Pilates, como técnica fisioterápica, se configura em

alternativa complementar eficaz para beneficiar o idoso parkinsoniano na execução

de suas AVDs?

− A ambiência proporcionada ao indivíduo da Terceira Idade é capaz de provocar

melhorias no processo de tratamento da doença e no oferecimento de melhores

condições de vida ao portador da DP?

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1.5 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO

O estudo encontra-se estruturado levando em conta as dimensões “setorial” e “tipo”, a

saber:

− Setorial: foi abordado o estado da arte a respeito do tratamento complementar aos

idosos parkinsonianos, sob o prisma da utilização do Método de Pilates.

− Tipo: a pesquisa utilizou-se de conhecimentos consagrados através dos referenciais

teóricos, listados ao final desta dissertação. Foram utilizados dados secundários

compilados de instituições oficiais (ONU, IBGE e IPEA) que serviram de base para

desenvolver a avaliação do processo de envelhecimento populacional e das novas

demandas dele decorrentes e dados primários decorrentes das observações

realizadas pela pesquisadora.

As sessões de fisioterapia foram realizadas de forma individual em um consultório com

equipamentos e acessórios do Método de Pilates, situado em Niterói-RJ, no período de março

de 2004 a setembro de 2005.

1.6 RELEVÂNCIA DO TEMA

Acreditando que a pesquisa acadêmica tenha a capacidade de contribuir para o

aperfeiçoamento dos modelos vigentes – seja na gestão de processos, seja no setor de saúde,

conforme se propõe este trabalho –, a relevância do tema abordado encontra-se na crescente

evolução da expectativa de vida da população brasileira, a exemplo que se verifica em todas

as regiões do planeta, conforme demonstrado na Tabela 1.

As projeções dos pesquisadores das Nações Unidas e do IBGE, que estimam que a população

de idosos deverá se equivaler aos habitantes com até 14 anos até num prazo de 45 anos,

realçam a importância cada vez maior das políticas públicas de saúde voltadas à Terceira

Idade. Se essas mesmas estimativas projetam para aquele ano cerca de 13 milhões de pessoas

acima de 80 anos no Brasil, é factível pensar em atividades que favoreçam a manutenção da

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qualidade de vida desse contingente de idosos na razão direta das enfermidades características

dessa faixa etária.

Pascale (2002) ratifica, em seu estudo sobre o envelhecimento, o crescimento vertiginoso da

população mundial que vem sendo registrado neste novo milênio, conforme estatísticas

oficiais. Segundo ela, esse avanço está relacionado ao aumento da expectativa de vida, a

redução da taxa de natalidade e o desenvolvimento constante das pesquisas médicas no

sentido de prolongar a vida humana.

Como complemento ao que foi contextualizado na seção 1.1 deste Capítulo, registre-se que os

Estados Unidos, na mesma linha de atuação de outros países desenvolvidos, têm dedicado

especial tempo e montantes consideráveis de recursos orçamentários para a pesquisa e o

tratamento de doenças da era contemporânea, entre elas a Doença de Parkinson. A título de

ilustração a respeito dos casos mais comentados, ao longo das últimas décadas, de pessoas

acometidas dessa doença, podem ser citados o dos ditadores Adolf Hitler e Saddam Hussein,

o do ex-presidente norte-americano Harry Truman, e, mais recentemente, a DP do Michael J.

Fox (ainda em atividade) e do Papa João Paulo II.

Ao chamarem a atenção mundial para o problema, especialmente entre a crescente população

de idosos, pode-se chegar ao julgamento da relevância do tema abordado na presente

pesquisa, estimulando a que mais profissionais possam contribuir com dados e conclusões

importantes sobre as opções para a elevação da qualidade de vida do paciente parkinsoniano.

Associado a estes aspectos, através deste estudo pretendeu-se abordar as possibilidades que a

terapia fisioterápica pode oferecer ao doente de Parkinson, partindo da pesquisa teórica sobre

a enfermidade até o estudo de adaptações ergonômicas e a aplicação de métodos e exercícios

corporais, entre eles o Método de Pilates, disponíveis para aplicação nestes pacientes.

Com isso, através das investigações feitas e da expectativa do crescente aumento da

população de idosos nos próximos 45 anos, espera-se chegar a conclusões significativas

acerca da capacidade de ajuda que o trabalho fisioterápico pode conferir aos parkinsonianos, a

fim de se ratificar a importância destas técnicas para a melhoria da qualidade de vida do

indivíduo acometido da doença.

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1.7 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

A dissertação foi elaborada de forma a oferecer ao leitor uma abordagem de natureza

reflexiva, seguindo a orientação de Lakatos e Markoni (2002), ordenando a seqüência dos

capítulos, seções e subseções, de forma que as idéias sobre o tema abordado tenham a

desejada compreensão. Assim, o trabalho foi organizado em sete capítulos, onde são

apresentadas informações sobre o contexto que envolve a evolução da expectativa de vida em

todo o mundo, bem como o aparecimento das doenças contemporâneas que se agregaram ao

aumento da longevidade, e que se constituem, basicamente, nas doenças crônicas

degenerativas. A estruturação do texto encontra-se assim distribuída:

− Buscou-se, no capítulo introdutório, demonstrar o cenário do aumento da

esperança de vida no novo milênio, e as conseqüências que os avanços

tecnológicos e a pressão sofrida pela população economicamente ativa provocam

o surgimento de doenças, que não tinham grande significado, ou mesmo

inexistiam, em épocas passadas.

− O segundo capítulo aborda o estado da arte da literatura mundial sobre os

processos de envelhecimento, compreendendo os conceitos, as contextualizações,

e os aspectos biopsicossociais do processo de envelhecimento, em contraponto

com os benefícios que, concomitantemente, o avanço da medicina tem oferecido

para que a chamada “terceira idade” viva mais e melhor. O propósito deste

capítulo foi também abordar a atividade física desenvolvida pelo idoso em geral, e

mostrar os múltiplos benefícios que uma vida ativa pode oferecer a todos aqueles

que atingiram a terceira idade, tanto os sãos como os doentes, além de enfatizar as

variadas vantagens que o exercício físico traz para todo e qualquer idoso, na

recuperação e mesmo no aumento de sua auto-estima.

− O terceiro capítulo discorre sobre a metodologia da pesquisa, explicitando os

aspectos que foram observados na realização do estudo.

− O capítulo seguinte trata das principais doenças degenerativas que afetam a

terceira idade, com destaque para a Doença de Alzheimer e a Doença de

Parkinson, esta última objeto maior do estudo, observando a sintomatologia, a

história, as pesquisas que vêm sendo realizadas, os métodos de tratamento, o

desenvolvimento das doençaS e suas conseqüências, o acompanhamento por

observação, as principais manifestações clínicas e considerações farmacológicas,

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juntamente com uma análise das respostas obtidas pelos doentes aos

medicamentos aplicados.

− O quinto capítulo aborda os tratamentos disponíveis, nacional e

internacionalmente, para o auxílio ao paciente de DP na conquista por uma vida de

qualidade. Assim são mostrados os recursos e a importância da ergonomia e da

fisioterapia, bem como a importância do apoio da família, dos cuidadores e/ou

instituições onde o doente possa estar asilado.

− Na seqüência, a dissertação aborda a aplicação de técnicas fisioterápicas, com

ênfase no Método de Pilates, e a observação feita sob a perspectiva ergonômica,

momento onde se avalia as reações positivas de um trabalho corporal bem

orientado junto aos idosos parkinsonianos.

− O sétimo e último capítulo é dedicado às considerações finais sobre a investigação

realizada, onde são considerados o problema pesquisado, os objetivos que se

procurou alcançar, as respostas às questões formuladas e as sugestões para a

continuidade dos estudos na busca de uma permanente atenção da pesquisa

científica, voltada para a qualidade de vida do idoso parkinsoniano.

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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 A CONCEITUAÇÃO DE ENVELHECIMENTO

Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu: há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de colher; tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derribar, e tempo de edificar; tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de saltar de alegria. (ECLESIASTES 3:1-4)

Ramírez (1981) enfatiza que, em uma mesma pessoa, podem existir diversas idades distintas

“a psicológica (idade do espírito), a mental (idade do critério e do entendimento), a social

(idade imposta pela comunidade), a cultural (idade dos conhecimentos), e a econômica (idade

dos recursos para satisfazer necessidades)”.

Para médicos e demais profissionais da área de Saúde, porém, ainda que seja vasto o universo

conceitual da velhice, são denominadores comuns três critérios básicos de conceituação da

idade avançada: o cronológico, o biológico e o pessoal:

− O conceito cronológico:

Este é, sem dúvida, o conceito de mais simples definição. A idade cronológica se

inicia a partir do nascimento, da saída do ventre da mãe e, para a maioria dos

estudiosos, médicos e gerontólogos, em particular, é a idade que menos importa

para a análise de um indivíduo como um todo dentro do gênero humano. Néri

(2001. p.45) lembra que os idosos são universalmente definidos como populações

com mais de 60 anos, nos países em desenvolvimento, e de mais de 65, nos países

desenvolvidos.

− O conceito biológico:

É a idade que o corpo biológico estabelece. Está intimamente relacionado com a

trajetória de vida do indivíduo, como viveu sua infância, adolescência e idade

adulta. Vários fatores influenciam a idade biológica de uma pessoa. Costa (1998)

exemplifica um indivíduo de 60 anos que, apesar de perceber em si mesmo

limitações e mudanças corporais, pode sentir-se bem fisicamente, às vezes até

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melhor do que um jovem, e deslocar-se com notável agilidade. Néri (2001, p.45)

aponta a heterogeneidade entre os idosos como fenômeno que se prolonga de

acordo com a extensão da própria vida biológica de cada um, embora isto não

signifique que o médico e o pesquisador devam deixar de olhar a idade biológica

em seu aspecto também cronológico. Porém, a autora destaca o sexo, a classe

social, as condições de saúde, educação, a personalidade, a história da pessoa e o

contexto sócio-econômico em que vive como fatores de importância vital na

avaliação da idade biológica de cada um.

− O conceito pessoal:

Para Costa (1998, p.33) este é um conceito totalmente individual, ligado às

vivências internas de cada um. É, portanto,

(...) aquela que a própria pessoa determina, que o seu “espírito” “sente”, em que a sensação de “estar” com uma idade respectiva é mais forte do que qualquer ruga na face. Não existe, por conseguinte, a avaliação ou impressão do outro, isto é, nessa situação ela não é relevada. Somos nós que prescrevemos a nossa idade, segundo aquilo que sentimos interiormente.

Este conceito é freqüentemente associado à chamada “idade psicológica” do indivíduo, pois

se relaciona com sua maturação psíquica. Néri (2001) explica que, segundo o ponto de vista

sociológico, as idades do homem são, atualmente, socialmente discriminadas. Há um

paradigma, no meio sociológico e psicológico, de que idades ou etapas da vida são

convenções sociais, que atuam como meros pontos de convergência relativos à evolução, e

que foram gerados pela interação de fatores genético-biológicos, sócio-históricos e culturais.

Moragas (1991 apud PASCALE, 2002, p.20) elenca os três conceitos que, para ele, definem a

natureza da velhice:

− A velhice cronológica: assim chamada para toda e qualquer pessoa que atinge a

idade de 65 anos, e cujo impacto pode variar de acordo com a trajetória de sua vida

e o ambiente em que vive.

− A velhice funcional: quando o elemento perde capacidades e adquire limitações

em função de deficiências reais. Quando isto acontece a pessoa passa a enfrentar

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dificuldades que barram sua capacidade de ir e vir, e suas condições de viver

independentemente dos cuidados de outros.

− A velhice é mais uma etapa da vida: este terceiro conceito, e que deve ser

priorizado através do respeito ao idoso e da contribuição ininterrupta da medicina,

é o de que a velhice é mais uma fase da vida, e que, ainda que seja a última, não

deve ser salientada neste aspecto, mas sim nas vantagens que ela proporciona,

como o equilíbrio emocional, a maturidade conquistada depois de passados os

percalços de cada fase anterior, e a serenidade alcançada por esta maturidade, que

em muito pode ser útil para a criação, para o aconselhamento aos mais jovens e

para o conforto de se sentir realizado, além de disponível para novos planos de

atividades, como viagens, passeios e integração em grupos sociais afins.

Birren (1990 apud Néri, 2001) conceituam a idade psicológica como o que se refere à

relação entre a idade cronológica e as capacidades individuais, como a percepção, a memória

e a aprendizagem. Tais variantes, afirmam os autores, acusam o potencial de funcionamento

no futuro de uma pessoa. Néri (2001) aponta um segundo conceito para a idade psicológica,

relacionado com o senso subjetivo da idade, ou seja, como cada indivíduo se vê,

intimamente, através da avaliação de sua própria percepção das coisas, da agilidade nos

afazeres cotidianos, e de sua capacidade de interagir com o meio social em que vive.

Estranhamente, reconhece a autora, “os dados da literatura internacional têm mostrado que os

idosos possuem uma perspectiva mais positiva em relação à velhice do que a que os adultos

têm dos idosos.” Para ela, na verdade, nem a idade cronológica, que é um referencial

concreto, nem os estágios do desenvolvimento do indivíduo podem ser considerados causas

fundamentais das mudanças evolutivas que determinam a trajetória de vida de cada ser

humano.

Segundo Papaléo Netto(1996, p.12) a conceituação sobre velhice não pode ser unânime, uma

vez que as variantes sociais e geográficas são fundamentais para a avaliação das condições

globais de saúde em indivíduos de diferentes comunidades. Esse autor afirma:

Começamos a envelhecer no dia em que nascemos. A velhice, no entanto, não se conta só pelo calendário. Não é um processo somente biológico, que transparece nas

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rugas do rosto, pelo andar mais inseguro, pela vista imperfeita e assim por diante. Há quem envelheça biologicamente, mas rejuvenesce interiormente e transmite vitalidade. E há quem aparente ser jovem e robusto, mas já é velho, gasto e cansado interiormente. Podemos falar, portanto, de um envelhecimento mental e de um envelhecimento espiritual. A idade, em última análise, mede-se não tanto pelo número de anos que se tem, mas pelo que a pessoa sente, como vive, como se relaciona com a vida e com os outros.

Néri (2001, p.22) exemplifica alguns dos muitos termos utilizados para definir o idoso

e a velhice:

A variedade de termos existentes em várias línguas para designar um período da vida humana cada vez mais extenso talvez seja um indicador de desconhecimento, de crenças negativas, de preconceitos e de práticas discriminativas exercidas pelas pessoas, pelas instituições sociais e pela ciência em relação aos adultos mais velhos. Butler, em 1969, criou o neologismo ageism, para referir-se ao tratamento preconceituoso dos idosos e da velhice.

Guedes (1994 apud SOCIEDADE..., 1994) considera que a antropologia pode contribuir de

forma imediata para a gerontologia, questionando as nossas próprias conceituações sobre as

categorias de idade, no caso, mais específico, da velhice. Obviamente, segundo a autora, “não

se trata de negar o processo biológico do envelhecimento progressivo de cada ser, mas de

chamar a atenção para o fato de que este processo, sem dúvida universal, pode ser vivido de

muitas e diferentes maneiras.”

2.2 CAUSAS E CONSEQÜÊNCIAS DO ENVELHECIMENTO

Como já foi mencionado anteriormente, estamos no terceiro milênio, e o mundo caminha para

um crescimento acelerado do envelhecimento. Em todo o planeta observa-se que a proporção

de idosos(as) está aumentando.

Desejo que você, sendo jovem, não amadureça depressa demais e, sendo maduro, não insistia em rejuvenescer, e que sendo velho, não se dedique ao desespero. Porque cada idade tem o seu prazer e sua dor e é preciso que eles escorram entre nós. (VICTOR HUGO, 1802-1885)

Hoje, a população mundial é de aproximadamente seis bilhões de pessoas, das quais cerca de

580 milhões, (9,8%), tem mais de sessenta anos. Até o ano de 2025, perto de 14% da

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população será considerada velha, e a proporção de pessoas muito idosas (75 anos ou mais)

representará um grupo em constante crescimento. (UNITED..., 2001). Este envelhecimento

populacional ocorre devido a dois fatores principais:

− o declínio da mortalidade, principalmente a infantil; − e a queda da natalidade.

O avanço vertiginoso das pesquisas médicas e das possibilidades apresentadas para a cura de

diversas doenças, os tratamentos que aumentam a sobrevida de pacientes até bem pouco

tempo atrás desenganados, além de um acesso mais fácil a serviços de educação e saúde,

antibióticos, vacinas, nutrição adequada e saneamento, têm trazido como conseqüência natural

o aumento da expectativa de vida do ser humano.

De acordo com o Relatório Nacional sobre o Envelhecimento da População Brasileira, a

população com mais de 60 anos no Brasil subiu de 4% em 1940 para 9% em 2000. Além

disso, a proporção da população acima de 80 anos também tem aumentando, o que tem

acarretado uma heterogeneidade dentro do próprio grupo preconcebido como “idoso”.

O Relatório explica ainda que o aumento da sobrevida da população idosa deveu-se a uma

redução vertiginosa das taxas de mortalidade no período de 1980-1998, em ambos os sexos.

Em 1998 foi feita uma pesquisa sobre o estado de saúde do idoso brasileiro, relativa ao

período de 1981 a 1998. Como resultado, cerca de 83% dos idosos entrevistados

consideraram seu estado de saúde regular ou bom. Não obstante essa proporção crescer com

a idade, ainda assim, 75% da população acima dos 80 anos considerava-se bem ou regular em

termos de sua saúde. As mulheres se declararam um pouco mais prejudicadas do que os

homens em suas condições físicas, sendo as principais queixas as artrites, ou reumatismo,

enquanto os homens se sentem abalados, principalmente, por problemas de coluna e

hipertensão arterial.

Herrera Júnior et al. (2001 apud PASCALE, 2002, p.19) declara que “no Brasil, o aumento da

população idosa será da ordem de quinze vezes entre 1950 e 2025, enquanto se estima que o

aumento populacional como um todo será da ordem de cinco vezes”. O prognóstico, portanto,

é de que o Brasil, em 2025, terá a sexta maior população de idosos do mundo, em torno de 32

milhões de pessoas maiores de sessenta anos.

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Paralelamente a este novo fenômeno, há muito tempo o termo “idoso”, para alguns, ainda

vincula a imagem do velho incapaz, dependente, senil e doente, prostrado em uma cadeira,

esquecido do mundo. A mídia ainda difunde a imagem do idoso como tradicionalmente, de

uma pessoa encurvada (submissa), de bengala, quase cega, surda e “gagá”, embora esta

tendência venha mostrando um gradual reposicionamento, na medida em que o mercado volta

seus olhos para o público idoso, muitas vezes financeiramente bem sucedido, e seu potencial

de consumo.

Assim, pode-se considerar a velhice sob três aspectos: o cronológico, quando a pessoa atinge

65 anos, o funcional, referente às limitações e incapacidades, e o vital, considerado um

conceito mais moderno, que coloca que, nesta etapa da vida, as potencialidades são únicas e

distintas. Deve-se levar em conta também a serenidade, a experiência, a maturidade, a

perspectiva de vida pessoal e social.

No entanto, segundo a literatura disponível, considerar velha uma pessoa com mais de 60

anos tem uma explicação pouco racional: em muitos países é a fronteira para a aposentadoria.

Atualmente, consideram-se outros aspectos pessoais como estado físico, doenças, história

pessoal e profissional, equilíbrio familiar e social, sendo avaliada a pessoa como um todo.

A idade cronológica e a idade biológica estão longe de coincidir obrigatoriamente. Com os

atuais recursos estéticos, consegue-se obter uma diferença de dez a vinte anos entre a idade

cronológica e a biológica. A verdade é que a velhice não é igual para todos, não é uma ladeira

que todos descem na mesma hora e com a mesma velocidade, mas “uma sucessão de degraus

irregulares onde alguns despencam mais depressa que os outros” (BEAUVOIR, 1990).

Para Guedes (1994 apud SOCIEDADE..., 1994, p.7) “desnaturalizar” a velhice que os

cientistas utilizam nas suas concepções e práticas pode ser uma importante atitude que leve à

população mundial uma compreensão acerca do modo através do qual os processos físicos de

envelhecimento são sentidos, vivenciados e, individual e coletivamente, transformados por

pessoas de diversas culturas.

O fato de que a idade biológica não mais caminha lado a lado com a cronológica fez com que

a imagem do idoso ficasse desatualizada. O que mais se costuma hoje em dia ouvir é que as

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pessoas parecem ser bem mais jovens do que realmente são. Tal quadro demonstra que o

desenvolvimento da Ciência e da Medicina, em muito, tem ajudado a estender o bem-estar

geral das pessoas, ainda que já tenham atingido a “terceira idade.”

Os jovens, em geral, ainda precisam reciclar sua visão do velho, acostumando-se com a nova

realidade de que a qualidade de vida do idoso vem se incrementando a cada dia, e que o mais

velho, com certeza, não precisa mais ser um fardo para eles, antes, e até pelo contrário, vem

conquistando cada vez mais condições físicas e psicológicas satisfatórias o bastante para

acompanhar as mudanças do tempo e permanecer no mercado de trabalho por mais tempo.

Dessa forma, a velhice tende a ser apreciada como mais uma etapa da vida e que, a despeito

do grande fantasma da proximidade da morte, pode (e deve) ser povoada de realizações.

Agindo dessa maneira, os indivíduos alcançam maior equilíbrio psicológico e emocional,

passam a se admirar mais, estimulam sua auto-estima, e fazem mudar a imagem que os mais

jovens fazem deles. “Para um homem que está satisfeito consigo mesmo e com sua condição,

e que tem boas relações com os que o cercam, a idade permanece abstrata”. (BEAUVOIR,

1990).

2.2.1 O processo de envelhecimento

O envelhecimento é um fenômeno biológico e psicológico que gera influência a nível familiar

e social. O processo de envelhecimento caracterizado pela perda gradual das funções

orgânicas, onde o idoso preserva sua capacidade intelectual e física em níveis aceitáveis, é

chamado de senescência, ao passo que, quando os sinais de degeneração muito intensos

aparecem, ocorre o envelhecimento patológico, que recebe a denominação de senilidade.

O ciclo da vida humana é uma dinâmica comportamental, em que cada indivíduo, em

condições de vida normais de satisfação de suas necessidades básicas, passa fase a fase, de

formas variadas de pessoa para pessoa, dependendo de diversos fatores que contribuem

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positiva ou negativamente para a chegada à terceira idade ou ao óbito prematuro. A

concepção de ser humano, sua constituição e estruturação física e psicológica, seus limites e

capacidades, aliado aos hábitos cultivados (positivos e/ou negativos) por cada um ao longo da

vida, e do grau de desenvolvimento de cada país, determinam, em grande parte, o estado geral

de saúde que o indivíduo terá enquanto eleva sua idade cronológica.

Assim, a qualidade de vida durante o processo do avanço em dias pode ser influenciada por

diversos aspectos, tais como:

− o aspecto físico, que é caracterizado pelo crescente declínio das funções dos

sistemas fisiológicos, comprometendo a saúde do indivíduo como um todo;

− o aspecto psicológico, caracterizado por perdas na auto-imagem e na auto-estima.

Essas perdas são significativas devido ao envelhecimento, tornando os idosos,

muitas vezes, deprimidos e com sentimentos negativos de inutilidade, seja por

maus tratos provocados pelos próprios familiares, seja pela inatividade decorrente

da aposentadoria;

− este processo de perda de auto-estima é altamente nocivo para a qualidade de vida

do idoso, e deve ser evitado, não só no seio familiar, mas em todas as vertentes da

sociedade; e,

− no aspecto social, quando a sociedade aliena o idoso do processo contínuo da vida

comunitária e das relações humanas, acelerando nele o sentimento de inutilidade e

autodesvalorização de sua pessoa.

É durante o caminho para o envelhecimento e a senilidade que acontecem as alterações

provocadas por afecções ou doenças que acometem o idoso. Costa (1998), explica que, de um

modo geral, o processo de envelhecimento biológico caracteriza-se por transformações

progressivas e irreversíveis, e da decadência gradual da capacidade de adaptação ao meio

ambiente. A autora elenca uma série de elementos que diferenciam o envelhecimento de um

indivíduo para o outro:

− aumento do tecido conjuntivo no organismo;

− perda gradual das propriedades elásticas do tecido conjuntivo;

− desaparecimento de elementos celulares do sistema nervoso;

− perdas celulares;

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− aumento da quantidade de gordura;

− diminuição do consumo de oxigênio;

− redução da freqüência cardíaca basal;

− processo respiratório mais lento;

− redução da força muscular;

− diminuição da produção hormonal;

− perda óssea;

− perdas hídricas;

− aumento da espessura dos tecidos dos vasos das cápsulas articulares;

− redução da capacidade de coordenação e equilíbrio;

− deficiência auditiva e visual;

− decréscimo do número e tamanho das fibras musculares;

− alterações degenerativas arterioescleróticas;

− menor elasticidade pulmonar, número de alvéolos e capilares pulmonares;

− aparelho locomotor mais frágil e articulações com menos líquido sinovial;

− diminuição da ação e reação do sistema nervoso;

− modificações a níveis celulares comprometendo o metabolismo; e,

− insuficiência cardíaca.

O sistema neuromuscular no homem alcança sua maturidade plena entre 20 e 30 anos de

idade. Entre a terceira e quarta décadas a força máxima permanece estável ou com reduções

pouco significativas. Em torno dos 60 anos é observada uma redução da força máxima

muscular entre 30 e 40%, o que corresponde a uma perda de cerca de 6% a cada 5 anos, no

período entre os 35 e os 50 anos de idade. A partir daí ocorre uma queda de 10% por década,

observada tanto em homens quanto em mulheres sadias. Entre os 60 e os 70 anos de idade,

aproximadamente, a redução da força muscular é de 15% por década, e a partir dessa faixa

etária o declínio é muito mais acentuado (AMERICAN..., 1998).

Monteiro (1992) relata que, no idoso, esta perda brusca de massa muscular magra ocorre

devido à sua inatividade. Isso representa uma perda considerável da força muscular,

importante para as tarefas da vida diária, tornando o idoso dependente de auxílio. Píraí (2003)

reafirma que a força é o componente mais importante da aptidão física na terceira idade

porque, à medida que diminui, o idoso vai perdendo a capacidade de realizar movimentos

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básicos, como se levantar da cadeira, entrar e sair do carro, subir um degrau mais alto, enfim,

tarefas inerentes ao seu cotidiano. A dificuldade de realizar essas funções simples do dia a dia

torna o idoso mais dependente, mais inativo e, conseqüentemente, mais fraco fisicamente,

criando um círculo vicioso infinito.

No idoso ocorre também redução da massa óssea, mais freqüentemente entre as mulheres.

Esta perda de massa óssea, quando em níveis acentuados, caracteriza a osteoporose, o que

pode predispor à ocorrência de fraturas. Após os 35 anos de idade há alteração natural da

cartilagem articular que, associada às alterações biomecânicas adquiridas ou não, provoca, ao

longo da vida, degenerações diversas que podem levar à diminuição da função locomotora e

da flexibilidade, acarretando maior risco de lesões (PAPALÉO NETTO, 1996).

Nem todas as funções orgânicas declinam no mesmo ritmo e na forma durante o processo de

envelhecimento. A força máxima de homens e mulheres, em geral, é alcançada entre os 20 e

os 30 anos de idade. Após este período começa o lento, porém progressivo, declínio da força

muscular, observando-se uma perda de 16% até os sessenta anos. Acima dos 65 anos a força

muscular diminui de 25 a 45%.

A perda da massa muscular constitui-se no principal fator de contribuição para a redução da

força do idoso. A redução da massa muscular está relacionada com a inatividade e o erro da

ingestão de aminoácidos e proteínas.

2.2.2 A ascensão e o declínio do ser humano em sua saúde corporal

Como já foi dito, as capacidades fisiológicas e o desempenho do ser humano evoluem durante

a infância, alcançando pico máximo entre a adolescência e os 30 anos de idade, e entrando em

declínio a partir daí.

O envelhecimento cronológico é diferente do biológico. Pode-se obter uma condição de vida

muito mais saudável e com um significativo aumento de longevidade se as pessoas investirem

em uma vida com dieta balanceada, evitar o consumo excessivo de álcool, o vício do

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tabagismo e, principalmente, incorporar, desde cedo, a atividade física regular e constante em

sua rotina.

Papaléo Netto (1996, p.32) afirma que “o aumento da expectativa de vida de uma população é

naturalmente decorrente da melhoria das condições de vida e de trabalho, do nível

educacional de escolaridade e do atendimento às necessidades de saúde dessa mesma

população.” O idoso necessita uma reposição de certos elementos nutricionais como: cálcio,

vitamina D, zinco, proteína, ferro, ácido fólico, vitamina B12, administrados de forma regular

em uma complementação alimentar. Além disso, o treinamento físico habitual promove uma

retenção protéica significativa, o que provoca um retardamento da redução da massa muscular

observada no envelhecimento.

Em diversos países do mundo vivem, atualmente, homens sadios, de 60 a 72 anos de idade,

realizando treinamento orientado de resistência muscular semelhante a de um adulto jovem.

Talbott (1992 apud COSTA, 1998, p.40) cita que “50% dos indivíduos com 65 anos ou mais

não apresentam impedimento nos movimentos corporais; mais de 80% conseguem dar conta,

sozinhas, da sua rotina diária e pelo menos 90% estão intelectualmente sadios.” Porém, não há

dúvidas de que o desempenho físico das pessoas idosas está abaixo do desempenho dos

jovens. O que não se conhece é até que ponto estas diferenças são conseqüências do

envelhecimento biológico ou se são decorrentes de fatores ambientais e da falta de atividades

físicas, resultante do estilo de vida sedentário de grande parte dos idosos.

2.2.3 O significado da “Terceira Idade”

A chamada “terceira idade”, para muitos, tem início a partir dos 60 anos de idade. É uma

expressão que, com muita rapidez, popularizou-se no vocabulário brasileiro e mundial. Seu

uso entre os pesquisadores não é explicado pela referência a uma idade cronológica precisa,

mas por ser essa uma forma de tratamento das pessoas de mais idade. O termo “terceira

idade”, no Brasil, parece ainda não ter adquirido uma conotação depreciativa, embora já

sejam observadas várias expressões de divulgação de eventos direcionados diretamente a este

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público como “Baile da terceira idade”, Concurso “Miss terceira idade”, e outras expressões

desaconselháveis no meio social, pois acabam por restringir o idoso à convivência com

pessoas somente de sua idade.

A velhice é, na verdade, apenas mais uma etapa da vida, e por isso a aceitação do termo

“troisième age”, que quer dizer “terceira idade”, e foi proposta pelo gerontologista francês

Huet, significa que algumas pessoas estariam vivendo a terceira etapa de suas vidas. A

expressão “terceira idade”, portanto, teria se originado na França, com a implantação, nos

anos 70, das Universités de Troisième Âge (Universidades da Terceira Idade). De acordo com

Trindade et al (1999 apud PASCALE, 2002, p.21), a “terceira idade” está sendo reclassificada

em três novas categorias: são elas o “idoso-jovem”, aquele se encontra na faixa etária entre

sessenta e cinco e setenta e seis anos; o “idoso-idoso”, acima de 76 anos: e os centenários que,

na verdade, já se enquadrariam na categoria “quarta idade”. Para efeitos de estudo, porém,

considera-se o padrão estabelecido pela ONU, aceito mundialmente, de que o idoso é aquele

que atingiu os sessenta anos.

O depoimento de Silene Mattos Bulhões, representante dos Idosos da Comunidade de Niterói,

é uma declaração de amor à vida em todas as suas etapas:

Cada ano que completamos deve ser um testemunho de amor e aprendizado. O idoso pode manifestar o seu talento em benefício de alguém, usando a habilidade adquirida na profissão ou lazer para ser útil ao amigo ou até ao desconhecido. Os preconceitos foram cimentados em nossa existência por anos a fio. E a nossa tendência é nos apegar a eles na velhice. Venho lutando contra isso e hoje vejo que por trás de um rapaz de rabo de cavalo e brinco, pode estar um excelente pesquisador, um filho dedicado, um pai atento ou um cidadão preocupado com o futuro do planeta, quando anos atrás eu me deteria na sua aparência, nas calças desbotadas e nos tênis sem cadarço para emitir todo tipo de julgamento.

Pesquisas recentes demonstraram que, se for mantido um estilo de vida ativo por parte do

idoso, um nível relativamente elevado de funções vitais se conservam por mais tempo e até

mesmo atividades intensas podem ser desempenhadas com segurança e sucesso. O

condicionamento físico e muscular, induzido por treinamentos de resistência, pode ainda

prevenir ou reduzir a incidência de lesões nos indivíduos mais idosos.

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O organismo humano se adapta de forma surpreendente a novos comportamentos alimentares

e atividades físicas. Indivíduos que mantém atividades físicas por toda a vida têm um risco

três vezes menor de sofrer infarto do que o sedentário. Além disso, a chance de sobreviver a

um infarto são muito maiores no idoso ativo que no sedentário.

Historicamente, o homem sempre foi muito ativo, podendo-se se afirmar que, desde o seu

aparecimento, há dois milhões de anos, viveu mais de 99% deste tempo como nômade,

sobrevivendo da caça e da agricultura. Somente há pouco mais de um século sua atividade

física passou a apresentar mudanças muito importantes. Pelo exposto, Pascale (2002, p. 21)

explica que:

[...] a qualidade de vida na terceira idade, que já é um processo dinâmico e circunstancial, pode ser vista no Brasil da mesma forma que já é vista em países onde as condições sociais já atingiram seu ápice, ou seja, onde há a preservação da dignidade e o respeito ao idoso como pessoa [...]

No entanto, lembra a autora, embora no Brasil, como em todo o mundo, o idoso venha

conquistando cada vez mais espaço e respeito à sua condição, não se pode esquecer que esse

indivíduo corre, potencialmente, maiores possibilidades de ser afetado por diferentes e

variados tipos de doenças, entre as quais a doença de Parkinson , objeto maior deste estudo.

Uma atividade física incorporada à vida de forma regular pode também modificar os fatores

de risco para diversas doenças. Há exemplos de pacientes cardiopatas que se recuperam

completamente de um ataque cardíaco e que, por meio de um programa de adequação

alimentar e treinamento planejado, são capazes até de completar uma maratona em quatro

horas.

Assim, tem-se como certo que o corpo responde em qualquer idade. As pesquisas mostram

que os idosos podem adquirir melhoras impressionantes em suas características estruturais e

em seu desempenho físico, mesmo começando tarde a atividade física regular. Melhorias

notáveis e rápidas podem ocorrer com o treinamento físico, até mesmo aos noventa anos de

idade. Um estilo de vida ativo, conjugado a uma dieta saudável e à eliminação total do hábito

de fumar, são providências suficientes para aliviar os efeitos acumulativos do colesterol nas

artérias e, conseqüentemente, diminuir os riscos de doenças cardiovasculares, aumentando

sensivelmente a possibilidade de desfrutar de uma vida sadia e prolongada. A atividade física

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realizada com regularidade é uma das principais bases para a manutenção da saúde em

qualquer idade, juntamente com uma alimentação correta e um estado emocional equilibrado.

Sociedades médicas no Brasil e em todo o mundo ressaltam a atividade física como excelente

instrumento para a manutenção da saúde em qualquer idade, mas principalmente no idoso,

cujos benefícios incluem:

− aumento do volume de oxigênio (Vo2 máx );

− maiores benefícios circulatórios periféricos;

− aumento da massa muscular;

− melhor controle da glicemia;

− melhora do perfil lipídico;

− redução do peso corporal;

− melhor controle da pressão arterial em repouso;

− melhora da função pulmonar;

− melhora do equilíbrio e da marcha;

− melhora da auto-estima e da autoconfiança;

− menor dependência para a realização das tarefas diárias; e,

− significativa melhora na qualidade de vida.

Disto depreende-se que a saúde do homem está diretamente relacionada à atividade física.

Pessoas com hábitos sedentários possuem menor aptidão física, isto é, menor capacidade para

executar exercícios físicos.

Vicente (2003) salienta que estudos epidemiológicos e experimentais indicam uma relação

notavelmente produtiva entre o exercício físico e a diminuição da mortalidade provocada por

patologias degenerativas que atingem o homem. Para a autora, a população idosa precisa,

mais do que nunca, do incentivo para a prática da atividade física. Tanto indivíduos que

possuem moléstias controladas quanto os absolutamente saudáveis devem ser estimulados

para a prática de alguma atividade motora. Existem claras evidências de que a mesma exerce

influência direta na saúde e no bem-estar do indivíduo, principalmente no que diz respeito à

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satisfação advinda do movimentar do corpo e na interação social que a atividade física

também proporciona.

É sabido em toda a comunidade médica, bem como entre as pessoas relativamente bem

informadas, que o exercício tem uma relação direta com a melhoria da qualidade de vida.

Aspectos físicos e psicológicos são largamente estimulados quando da execução de atividades

físicas bem programadas. Segundo a literatura relacionada à saúde, o indivíduo idoso

sedentário apresenta uma série de alterações, como o decréscimo da massa muscular e o

aumento do acúmulo de tecido adiposo, modificando sua composição corporal. Estas

alterações contribuem diretamente para a perda de força e flexibilidade, queda na captação de

oxigênio e, por conseqüência natural, queda do condicionamento físico geral.

Toda atividade física realizada na terceira idade deve ser feita sob o controle de profissionais,

principalmente naquelas pessoas não habituadas a exercícios regulares. Muitas vezes, há

necessidade de se realizar testes cardíacos para avaliação da função cardiovascular, como o

teste ergométrico. Vicente (2003, p.25) lembra que:

Durante a atividade física (treinamento resistido ou aeróbio) o idoso deve estar atento para a realização precisa do ato motor, conferindo ao Sistema Nervoso Central a assimilação de um estímulo externo para sua interpretação e, finalmente, resultando na execução de tal gesto exigido. Com isso, as funções cognitivas são continuamente estimuladas, o que, a longo prazo, proporciona o aprimoramento dos sistemas superiores, conferindo melhor qualidade emocional e mental para o praticante. A partir destas aquisições, o idoso sente-se independente e seguro para a realização de suas atividades de vida diária.

2.2.4 Aspectos biopsicossociais do envelhecimento

Néri (2201, p.33) enumera alguns dos sinais visualmente perceptíveis, e outros não tanto, que

apontam o envelhecimento funcional humano:

Cabelos brancos, rugas, flacidez muscular e déficits sensoriais são indicadores inequívocos do processo de envelhecimento normal. Outras alterações afetam as capacidades funcionais energéticas (metabolismo, circulação e respiração) e biomecânicas (diminuição de força, mobilidade e resistência). Ocorre diminuição da resistência ao frio e ao calor e da capacidade de adaptação a mudanças de temperatura. Também se reduz a tolerância ao stress físico e psicológico. As perdas

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psicomotoras estão intimamente relacionadas com a aprendizagem, a memória e a cognição, motivo pelo qual exercem um papel capital na adaptação psicossocial das pessoas. As perdas da instrumentalidade podem afetar a auto-estima e o senso de controle pessoal, com reflexos sobre a motivação e o funcionamento psicossocial.

Costa (1998) aborda os aspectos biopsicossociais do processo de envelhecimento sob três

vertentes: os aspectos biológicos, os psicológicos e os sociais. Ela ressalta o lado bom do

envelhecimento, que implica a maturidade, a aquisição de experiências. Pensando por este

lado, é também significativo citar outras grandes vantagens que a maturidade, e mesmo a

idade avançada, trazem para o indivíduo satisfeito com sua trajetória: o orgulho da conquista

de tantas coisas e pessoas através dos anos, as histórias engraçadas para lembrar, a parcimônia

diante dos sofrimentos que já passaram e que, agora pode ver, trouxeram-lhe a capacidade de

aprender com a dor, de esperar, de se reconciliar com a realidade imutável, que ainda inexiste

no jovem, a segurança do saber-se quem é, seus gostos, desgostos, interesses; a sensação

tranqüila de estar vendo tudo do alto de uma montanha, de onde já reconhece todas as

paisagens, e, principalmente, a autoridade garantida para recusar fazer, ver ou ouvir o que não

lhe agrada.

Entretanto, lembra Costa (1998, p.39) que, para muitos:

[...] envelhecer representa ameaçadoramente para o indivíduo um desgaste das suas capacidades fisiológicas globais, seja de um modo progressivo, discreto ou grave. Essa ameaça implica não somente modificações somáticas, como também mudanças psicossociais, incluindo aqui aquelas no nível da memória, do intelecto, do comportamento, da personalidade, das relações sociofamiliares, das finanças, etc., que podem desembocar na velhice patológica, interceptando a caminhada saudável da existência. Muito embora se saiba que essa velhice patológica não representa regra única para todos, o medo e o preconceito existem, e isso acaba dificultando a aceitação do envelhecimento como processo natural da vida.

Rocha (1998), declara que “o corpo pode ser tomado como um texto em que se lêem os sinais

e as marcas que singularizam as experiências de vida de um indivíduo, assim como os códigos

e símbolos de uma gramática corporal socialmente instituída.” Por esta razão, conclui o autor

que a aparência física é um dos mais sérios estigmas no imaginário da velhice. A imagem que

o idoso nutre sobre seu corpo representa, sob muitos aspectos, um fardo, e a negação do corpo

implica a negação do próprio eu, provocando no indivíduo sentimentos de depressão.

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Meirelles (1997) ressalta que “as circunstâncias favorecedoras da senescência têm a ver com

fatores genéticos, estilo de vida, trabalho e ambiente, condicionantes biopsicossociais que

concorrem para um envelhecimento com melhor ou pior qualidade de vida”. Néri (2001, p.18)

remete-se à psicanálise e às teorias de aprendizagem social para explicar a intensa relação

entre sabedoria e virtude, que “transcende épocas e contextos sócio-culturais”. Assim, a

autora cita o pensamento de teóricos como Staudinger, Smith e Baltes (1992), e Baltes e

Smiths (1990 apud NÉRI, 2001, p.19):

Adultos mais velhos e idosos podem apresentar padrões de comportamento que permitem que eles sejam apontados como sábios, graças à sua capacidade de lembrar de fatos e procedimentos, de fazer novas associações, de aventar hipóteses explicativas, de fazer análises éticas e morais, e de oferecer alternativas de solução baseadas na experiência acumulada. Idosos sábios são culturalmente importantes, porque são depositários da herança cultural do grupo e, como tal, atuam como fontes de conhecimento, educadores, modelos e mentores, de modo especial em grupos que valorizam a continuidade de conhecimentos, crenças e valores mantidos e transmitidos pelos mais velhos.

Para o psicanalista Erikson (1998 apud NÉRI, 2001, p.19), “a sabedoria é virtude que emerge

como resultado da resolução do conflito entre geratividade e estagnação implicando a

realização de tarefas evolutivas que significam adaptação individual e contribuição aos

semelhantes.” Assim, pode-se inferir que, do ponto de vista biopsicossocial, muitas vezes a

maturidade tem plenas condições de ser vivida com qualidade, e que a velhice biológica que a

acompanha nem sempre precisa ser sinônimo de degradação da consciência. Porém, é também

notável a influência que cada cultura exerce sobre como o “velho” é visto socialmente. Países

de cultura oriental costumam valorizar muito mais a sabedoria e a maturidade do que países

de cultura ocidental, onde impera o capitalismo, onde os bens materiais que uma família

possui funcionam como indicadores de seu respaldo junto à sociedade e, principalmente, onde

a beleza estética e a juventude se associam para conceituar poder e sucesso na vida.

Não obstante as alterações patológicas que naturalmente caracterizam o envelhecimento

biológico, observa-se que vários fatores, como exemplifica Costa (1998, p.40) : os genéticos

(compleição física, temperamento, caráter), os adquiridos (stress, fumo, álcool, atividade

sexual, estilo de vida intelectual, condições financeiras, etc), os gerais (tendência à obesidade,

embranquecimento dos cabelos, apagamento do brilho dos olhos, entre outros),

comprometem também os aspectos psicológicos e sociais, que em muito podem contribuir

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para o incremento da qualidade de vida na terceira idade. A autora complementa seu

pensamento acrescentando que:

O velho não comprometido psicologicamente é aquele que ainda “vive” e quer continuar vivendo a vida em toda a sua plenitude, usufruindo daquilo que ela ainda pode lhe oferecer e para a qual ele pode responder. O velho que não vive à sombra das perdas ou à sombra do que não pode mais atingir, em razão de sua idade, ainda tem, mesmo com medo, desejos de realização pessoal. (COSTA, 1998, p.43)

Para Birren e Schroots (1984 apud NÉRI, 2001), o envelhecimento social está relacionado ao

processo de mudanças em papéis e comportamentos ligados ao avanço dos dias de vida, de

acordo com a maneira como se dá esta adequação ao que é, normalmente, esperado das

pessoas que já atingiram a “terceira idade”. Como exemplo eles citam as atitudes das

empresas em relação a empregados com mais de 60 anos. Estas atitudes variam bastante nos

países mais desenvolvidos, enquanto que, em países em desenvolvimento, é notória a

exclusão desta faixa etária do mercado profissional, o que, muitas vezes, traz conseqüências

psicológicas desastrosas para o indivíduo.

Costa (1998, p.50) diz que o idoso sempre existiu, em todas as sociedades humanas e em

todas as épocas da história da humanidade, sempre foi “velho”. Cada um deles, portanto,

vivencia a experiência de ser avançado em dias conforme suas características biológicas,

psicológicas e o contexto social em que está inserido. Dessa forma, a afirmativa de que viver

a velhice é “viver de lembranças” não se justifica, de modo algum, como uma assertiva

genérica. Néri (2001, p.41) acredita que a “revisão da vida é uma forma de lembrança

intencional, estruturada em torno de eventos de transição e aplicada à avaliação de si mesmo e

da própria existência.” Quando se refere a Ziegler (1977 apud NÉRI, 2001, p.145). o autor

afirma que:

[...] o homem ocidental é hoje mercadoria [...] mercadoria suprema, o corpo humano, vivo ou morto, integra agora o circuito vazio de sentido das coisas produzidas, consumidas, reproduzidas e reconsumidas. O percurso deste circuito devastador e sua progressiva aceleração parecem ter-se tornado a finalidade única de uma sociedade privada de consciência de sua própria finitude.

Exatamente neste sentido afirma Jung (1971 apud NÉRI, 2001, p.41), que “a revisão

da vida cumpre a função evolutiva de restaurar o equilíbrio psicológico quando, na meia-

idade e na velhice, a pessoa reconhece a própria finitude.”

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3 METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO

O advento das ciências humanas ocorre no século XIX, época em que, para assegurar o status

científico, os pesquisadores sociais seguiram o método empírico, o mesmo das ciências

naturais, orientado pelo positivismo, o qual pregava a unidade objetiva das ciências em torno

de um único princípio de pesquisa, o experimental-quantitativo-explicativo. Esse princípio

começou a ser questionado entre o final do século XIX e o início do século XX, fruto da

desconfiança da comunidade acadêmica sobre os dogmas positivistas, provocando um

realinhamento das ciências ao permitir a migração da explicação para a compreensão e

interpretação com responsabilidade social e ética. Paralelamente, as ciências humanas

buscaram um novo direcionamento ao admitir um outro princípio de pesquisa, o

interpretativo-qualitativo-crítico.

Desde então, especialmente a partir das últimas três décadas, presencia-se um considerável

crescimento de interesse na chamada pesquisa qualitativa, ou interpretativa. Mesmo que num

primeiro momento se possa entender que a diferença entre pesquisa quantitativa e qualitativa

esteja no tratamento das informações – quantificação ou não dos dados da pesquisa –, a rigor

isso não corresponde à verdade. Na pesquisa qualitativa procura-se diminuir a distância entre

a teoria e os dados, entre o contexto e a ação, fazendo-se uso da análise fenomenológica, isto

é, da compreensão dos fenômenos pela sua descrição e interpretação.

A escolha pelo método qualitativo enseja dificuldades adicionais ao pesquisador em razão do

exaustivo trabalho demandado para a coleta de dados, dada a quantidade e diversidade, e,

especialmente, pela possibilidade de ter que ser desenvolvida metodologia própria para o

tratamento dos dados coletados. Independentemente desses aspectos, o enfoque qualitativo

continua estimulando pesquisadores pelo seu caráter rico, holístico e mais próximo da

realidade, pois na pesquisa qualitativa o social é analisado como um conjunto de significados

passível de investigação, a linguagem dos atores sociais e as suas práticas servem como

matérias primas para essa abordagem.

Este breve histórico procura situar os dois modelos de pesquisa em ciências humanas e

sociais: o quantitativo, baseado no paradigma positivista; e, o qualitativo, com a visão

fenomenológica. Esses modelos servem para ilustrar o caminho percorrido pelas ciências

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sociais e humanas. A distinção entre ambos, sob o prisma epistemológico, porém

complementares no que se refere ao estudo dos fenômenos, sugere ao pesquisador a

possibilidade de utilizá-los de forma isolada ou complementar. O que deve ser observado na

escolha é a adequação do modelo para responder as questões de pesquisa. Gamboa (1995, p.

52) acompanha essa linha de pensamento:

No presente estágio da discussão do dilema abordagem quantitativa versus abordagem qualitativa, em pesquisa nas ciências humanas e da educação, entendemos que é epistemologicamente mais defensável a tese da unidade dos paradigmas.

A literatura sobre a investigação em ciências sociais permite adicionar à compreensão da

metodologia científica o conceito da “repetição”, introduzido por Bunge (1992), que defende

que o método representa um procedimento regular, explícito e capaz de ser repetido para se

conseguir algo, seja material ou conceitual. Grawitz (1975) contribui para ampliar o conceito,

ao defender que a principal característica que torna distinto o método é a sua capacidade de

auxiliar a compreensão do processo de investigação científica, e não os resultados desse

processo. Tais definições permitem entender a função do emprego da metodologia, como

meio para a compreensão do processo investigativo, na medida que retrata os procedimentos

seguidos pelo pesquisador até alcançar um determinado resultado. Também permite que se

aprenda que a comprovação de um resultado não deve ser única, eis que em outras pesquisas,

com a repetição dos mesmos procedimentos, se deverá chegar à mesma verdade.

Essa condição científica representa, provavelmente, uma das dificuldades encontradas pelo

pesquisador social, além de questionar o próprio mérito do método. Os valores do

pesquisador, ou mesmo sua experiência sobre o tema em estudo, podem, eventualmente,

interferir na condução do estudo, na análise dos dados e, conseqüentemente, nas conclusões.

Como ensinam Selltiz et al (1975, p.37):

O cientista social que sabe quais as suas preferências pessoais que entraram na escolha de seu assunto, será mais capaz de evitar o viés que poderiam introduzir em sua pesquisa do que aquele que trabalha com a ilusão de ser orientado apenas por considerações científicas. Como os valores pessoais inevitavelmente influem na escolha de um assunto, o único meio de manter a racionalidade do processo científico e ter consciência de como e onde interferem tais valores.

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Esse alerta é particularmente importante para o pesquisador que se propõe estudar temas

relacionados à sua área de atuação profissional, pois pode confundi-lo com a técnica adotada e

resultar em conclusões que reflitam mais a sua predisposição, ou prejulgamento, do que

propriamente o objeto do estudo. Porém, as experiências do pesquisador podem se constituir

em fator importante na análise e na compreensão dos fenômenos, mesmo porque a pesquisa

qualitativa apresenta as seguintes características:

− o pesquisador observa os fatos sob a óptica de alguém interno à organização;

− a pesquisa busca uma profunda compreensão do contexto da situação;

− a pesquisa enfatiza o processo dos acontecimentos, isto é, a seqüência dos fatos ao

longo do tempo;

− o enfoque da pesquisa é mais desestruturado, não há hipóteses fortes no início da

pesquisa. Isso confere à pesquisa bastante flexibilidade; e,

− a pesquisa geralmente emprega mais de uma fonte de dados.

Segundo Lakatos e Marconi (2002), a seleção da metodologia está relacionada de forma

intrínseca ao problema a ser estudado, dependendo de fatores como a natureza do fenômeno,

do objeto da pesquisa e de outros elementos encontrados no campo investigativo. Na mesma

linha conceitual se encontram Remenyi et al (1995), que acreditam que a essência do

conhecimento científico deriva das observações realizadas num determinado contexto; o que

estiver fora dele e que não pode ser observado, direta ou indiretamente, através dos seus

efeitos ou conseqüências, estaria fora do domínio da ciência. Essa linha teórica defende que

não existe ciência sem o emprego de métodos científicos, servindo como uma orientação de

como deve se proceder para atingir a verdade, ou seja, sem o uso do método na atividade

científica não se chega à verdade. Representa, além disso, segurança e economia para se

alcançar um objetivo, facilitando a detectação de erros. Contudo, acrescentam que o emprego

de uma metodologia não deve eliminar a inteligência, a improvisação e o talento

investigativo, o que reforça a importância da experiência do pesquisador no tema objeto do

estudo.

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3.1 OS TIPOS DE PESQUISA

Para Vergara (2003), cabe ao investigador escolher o tipo de estudo a ser realizado entre as

várias classificações para a pesquisa científica, justificando a escolha a partir dos objetivos

que se pretende alcançar. De acordo com a autora, dentre as taxionomias dos tipos de pesquisa

existem dois critérios básicos a serem observados, a saber:

3.1.1 Quanto aos fins

Sob a perspectiva dos objetivos a serem alcançados, segundo a autora o método de pesquisa

pode ser classificado como:

− Exploratório: orienta a pesquisa em áreas nas quais há pouco conhecimento

acumulado e sistematizado.

− Descritivo: expõe características de uma determinada população ou fenômeno,

sendo possível correlacionar variáveis e definir a natureza das mesmas. Contudo,

não objetiva esclarecer os fenômenos descritos, servindo como fundamento para a

explicação dos mesmos. Entre as principais características principais do método

encontra-se a coleta padronizada de dados, com uso de questionários e observação

sistemática.

− Metodológico: conduz estudos sobre a captação ou a manipulação da realidade,

associando-se, de tal sorte, a caminhos, formas, maneiras e procedimentos para se

alcançar determinado objetivo.

− Aplicado: orientado pela premência de resolver problemas concretos. Ao contrário

da pesquisa pura, onde o pesquisador se encontra motivado pela curiosidade

intelectual, o método de pesquisa aplicada busca objetivos práticos.

− Intervencionista: procura interferir na realidade estudada com o objetivo de

modificá-la.

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3.1.2 Quanto aos meios

Ponderados os meios que o investigador se utilizará, segundo Vergara (2003) a pesquisa pode

ser classificada como:

− Pesquisa de campo: investigação empírica realizada no local onde ocorre ou tenha

ocorrido o fenômeno, ou, ainda, que disponha de elementos para explicá-lo.

− Pesquisa de laboratório: realizada em local delimitado, eis que no campo

ofereceria grandes dificuldades ao pesquisador.

− Documental: feita com base na análise de documentos de entidades públicas e/ou

privadas, ou mesmo pessoas, podendo compreender registros, anais, regulamentos,

circulares, ofícios, memorandos, balanços contábeis, comunicações informais,

filmes, fotografias, papéis micro-filmados ou digitalizados, cartas pessoais e

outros.

− Bibliográfica: estudo que é desenvolvido com base em material de acesso público.

Assim, pode ser feita através de consulta a livros, revistas, jornais, Internet e

outros meios. As fontes de investigação podem ser primárias ou secundárias.

− Experimental: pesquisa de natureza empírica, por meio da qual se manipulam e se

controlam variáveis independentes, observando-se as variações que a manipulação

e o controle produzem nas variáveis dependentes.

− Investigação ex post facto: pesquisa desenvolvida “a partir de fato ocorrido,

retrospectivo” (tradução literal da expressão latina).

− Participante: investigação que não se limita ao pesquisador, tomando parte do

estudo pessoas envolvidas no problema. A principal característica deste tipo de

investigação reside na produção de conhecimentos a partir da participação e

cooperação de todos os envolvidos na situação pesquisada.

− Pesquisa-ação: quando ocorre uma ação por parte dos pesquisadores que mereça a

elaboração e a condução de uma investigação. Trata-se, pois, de uma forma de

experimento em situação real, no qual o investigador intervém conscientemente,

sendo que os participantes não são meras cobaias do estudo, eis que desempenham

papeis ativos na experimentação.

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− Estudo de caso: limita-se a uma ou poucas unidades, assim entendido como

pessoa, família, produto, empresa, entidade pública, comunidade ou até mesmo um

país, possuindo caráter de profundidade e detalhamento.

A mesma autora acrescenta que esses tipos de pesquisa não são mutuamente excludentes.

Assim, uma pesquisa pode ser, simultaneamente, bibliográfica, descritiva, de campo e estudo

de caso. Com base na descrição das tipologias de pesquisa elencadas nesta seção, justificar, a

seguir, a escolha do método que foi observado e com o qual pretendeu-se alcançar os

objetivos do estudo.

3.2 A TIPOLOGIA SEGUIDA

Entre os diversos autores que se dedicam ao estudo dos métodos de pesquisa, Gil (2002)

defende que a escolha adequada do tipo de pesquisa pelo investigador representa uma

ferramenta de grande utilidade para possibilitar a aproximação conceitual sobre o problema

investigado. Nesse sentido, torna-se necessário traçar um modelo conceitual e operativo para

a pesquisa, de forma a facilitar a confrontação da teoria com as observações sobre os dados

reais.

Como este trabalho trata como questão principal as contribuições da fisioterapia para a

melhora da qualidade de vida de indivíduos idosos portadores da Doença de Parkinson e

ponderando-se, adicionalmente, o problema identificado e a delimitação do estudo, o método

escolhido para orientar a presente pesquisa, de acordo com a taxionomia proposta por Vergara

(2003), classifica-se como:

− Quanto aos fins: utilizou-se o método de “pesquisa aplicada”, tencionando-se

aprofundar as idéias que envolvem a utilização de técnicas fisioterápicas, em

especial o Método de Pilates, como tratamento complementar aos idosos

parkinsonianos, com foco na melhoria das AVDs.

− Quanto aos meios ou quanto às técnicas e instrumentos de observação: optou-se

pela “pesquisa bibliográfica” combinada com “pesquisa de campo”. Seu

desenvolvimento ocorre com base em documentos públicos consultados em livros,

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revistas, jornais especializados e sites da Internet, aliado às observações feitas

através da prática fisioterápica com o Método de Pilates.

3.3 COLETA E TRATAMENTO DOS DADOS

Lakatos e Marconi (2002) definem a pesquisa como “um procedimento formal com método

de pensamento reflexivo que requer um trabalho científico, e se constitui no caminho para se

conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais.” Seguindo esta linha de pensamento

buscou-se, após as fases de conhecimento dos sintomas e das investigações acerca das

aplicações de técnicas fisioterápicas existentes, utilizando-se da metodologia definida na

seção anterior, chegar à conclusão e tecer considerações finais que possam levar os

interessados à atentar para novos recursos que possam trazer benefícios aos indivíduos

acometidos da doença de Parkinson.

Inicialmente, a pesquisa levantou, através de dados secundários extraídos da literatura

consultada, o problema do envelhecimento procurando identificar fatores relevantes na

definição da qualidade de vida e dos problemas relacionados às AVDs.

Numa segunda fase, também em fontes secundárias, procedeu-se o estudo das principais

doenças degenerativas características da terceira idade, com ênfase particular no

conhecimento dos sintomas e limitações decorrentes da Doença de Parkinson. Nesta etapa

relata-se alguns trabalhos corporais aplicados na prática junto a alguns pacientes

parkinsonianos, incluindo as técnicas de Pilates, para a melhoria de sua qualidade de vida.

Como continuidade metodológica buscou-se identificar as possíveis soluções ou ferramentas

para melhoria das AVDs dos idosos com Parkinson nas teorias e práticas da fisioterapia.

A partir desse ponto a pesquisa voltou-se à observação das reações dos pacientes às práticas

fisioterápicas realizadas em um consultório com equipamentos e acessórios do Método de

Pilates, onde procurou-se adequar os exercícios, para que através de sua prática pudessem ser

treinados gestos necessários às realizações das AVDs.

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Foram observados seis pacientes portadores da Doença de Parkinson com idade entre 65 e 80

anos, sendo 4 do sexo feminino e 2 do sexo masculino. Dois dos pacientes observados se

encontravam no estágio 3 da doença e o restante no estágio 4, conforme escala de graduação

de sintomas e incapacidades (tabela 2) .

3.4 LIMITAÇÕES DO MÉTODO

Toda pesquisa científica impõe limitações que não podem deixar de ser citadas. No

que diz respeito ao caráter bibliográfico da pesquisa, a principal limitação encontrada foi a

obtenção, na literatura disponível, de dados referentes ao tema. Não se pode deixar de citar

que os relatos dessa pesquisadora são circunscritos à observação da mesma e limitados ao

público observado, conforme abordado na secção 6.6 dessa dissertação.

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4 AS PRINCIPAIS DOENÇAS DEGENERATIVAS QUE AFETAM A TERCEIRA

IDADE

Pássaro

Aquilo que ontem cantava já não canta. Morreu de uma flor na boca:

não do espinho na garganta. Ele amava a água sem sede, e, em verdade,tendo asas, fitava o tempo,

livre de necessidade. Não foi desejo ou imprudência: não foi nada. E o dia toca em silêncio a desventura causada. Se acaso isso é desventura:

ir-se a vida sobre uma rosa tão bela, por uma tênue ferida.

Pablo Neruda

4.1 CONCEITOS E CONTEXTUALIZAÇÃO DAS DOENÇAS DEGENERATIVAS

Como já visto na exposição anterior acerca dos processos de envelhecimento e da qualidade

de vida hoje observada na “terceira idade”, o crescimento da população idosa, ao mesmo

tempo em que aponta para tratamentos mais eficazes das doenças, descobertas de curas e de

modos de vida mais saudáveis, trouxe também, o aumento no registro de casos das doenças

degenerativas. Os processos degenerativos envolvem a deteriorização do funcionamento

cerebral, resultando na perda de capacidades adquiridas.

Nos Estados Unidos, berço das grandes pesquisas e investigações a respeito das patologias

crônicas ocorrentes nos idosos, a “terceira idade” representa a maioria dos portadores de pelo

menos uma doença crônica não transmissível, chegando este percentual a 80%. Daí concluir-

se que, a despeito da melhoria da qualidade de vida oferecida ao idoso, um outro lado obscuro

da natureza humana foi atingido de forma negativa pela evolução tecnológica, pelo caos

urbano, pela degradação da família, pela corrida desenfreada ao “sucesso” profissional e

financeiro, ou seja, a dialética da evolução da humanidade, ao mesmo tempo em que oferece

hoje tantas facilidades a mais a um contingente cada vez maior de pessoas (facilidades essas,

em grande parte, totalmente supérfluas), o estresse provocado pelos tempos modernos trouxe,

para grande parte dos idosos, um resultado infeliz: a doença crônica degenerativa.

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As doenças crônicas degenerativas, invariavelmente, são progressivas, não têm cura ainda

descoberta pelos cientistas; em que pesem as pesquisas, de cunho significativo, que os países

mais ricos realizam; e trazem conseqüências graves para o indivíduo e seus familiares, na

medida em que produzem, dia após dia, mais uma limitação, mais uma incapacidade física,

mais um “defeito” no cérebro, se é que assim se pode desenhar o quadro evolutivo das

mesmas. Todo este processo implica sofrimento fundamental para o paciente, para seus

familiares que, de certa forma, “adoecem” junto, muitos se tornando co-dependentes do

enfermo. Além de demandar, na maior parte das vezes, tratamentos caros e prolongados,

podem levar à demência.

Segundo a Classificação Internacional das Doenças – CID-10, a demência é definida como:

Síndrome decorrente de uma doença cerebral, usualmente de natureza crônica ou progressiva, na qual há perturbação de múltiplas funções corticais superiores, a começar pela memória, incluindo distúrbios do pensamento, orientação, compreensão, cálculo, capacidade de aprendizagem, linguagem e julgamento. (PASCALE, 2002, p.23)

O mesmo autor (PASCALE, 2002, p.23) acrescenta que:

A demência é uma doença relativamente rara em indivíduos abaixo de sessenta e cinco anos, porém atinge proporções de epidemia nos muito idosos. Investigações realizadas na última década, a maioria em países desenvolvidos, confirmam que a demência atinge até 1% de indivíduos entre sessenta e sessenta e quatro anos, e aumenta para 42 a 68% em indivíduos com mais de noventa e cinco anos, significando, portanto, que a prevalência das demências em indivíduos da “terceira idade” quase duplica a cada cinco anos.

Calkins (1998 apud PASCALE, 2002), salienta que a demência não é propriamente uma

doença, mas uma descrição de um grupo de sintomas, que inclui, basicamente, perda

progressiva e gradual das capacidades cognitivas, confusão mental, mudança de

personalidade, redução da capacidade de raciocínio e julgamento, e, principalmente,

depressão. Papaléo Netto (1996) afirma que “o sistema nervoso se constitui no principal fator

de integração das atividades orgânicas”, sendo, assim, imprescindível para a manutenção da

homeostase. No homem de 70 anos, observa-se uma redução de 5% do seu peso, enquanto

que, aos 90, de 20%. Ocorrem ainda alterações degenerativas da pele, que determinam

redução dos receptores cutâneos. Como conseqüência, os idosos têm uma percepção reduzida

da temperatura ambiente e suas variações, bem como da sensibilidade táctil.

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Meirelles (1997 apud SARAMAGO, 2003), acredita que se formos contar o número de

neurônios em cada idade, notaremos que em todas elas ocorre um processo de perda contínua,

particularmente no córtex dos giros pré-centrais, ou giros temporais de córtex do cerebelo,

que se constitui na área motora voluntária. Estes dados são esclarecedores no sentido de

entender o declínio do equilíbrio e da coordenação motora do idoso, uma vez que os sistemas

sensorial e motor, que recebem, interpretam e transmitem as informações ao sistema nervoso

central, são tremendamente afetados pelo envelhecimento.

Segundo Papaléo Netto (1996, p.146):

O declínio das funções cognitivas ocorre em conseqüência do processo de envelhecimento, sendo este fenômeno de ocorrência universal. As condições responsáveis por estas mudanças são agrupadas como “distúrbios cognitivos adquiridos” e, embora seja conhecido há séculos, pouco progresso foi feito em relação ao diagnóstico e à abordagem clínica das diversas entidades patológicas que lhes deram origem.

Em sua conceituação sobre o quadro de demência, esse autor explica que esta se constitui em

uma síndrome clínica, na qual observa-se o declínio da função cognitiva, manifestando-se

através dos chamados popularmente de “atos falhos”, a exemplo de:

− Déficit da memória;

− Falhas na função da linguagem;

− Falhas nas funções de julgamento e discernimento;

− Distúrbio do pensamento abstrato;

− Manifestações de alteração da personalidade; e,

− Outros distúrbios das funções corticais superiores.

4.2 AS PRINCIPAIS DOENÇAS DEGENERATIVAS QUE PODEM LEVAR À

DEMÊNCIA

Muitas doenças degenerativas levam à demência. Entre as principais, a literatura moderna

cita, em primeiro lugar, a Doença de Alzheimer (demência primária), seguida da Demência

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Vascular Cerebral (lesões cerebrais advindas de acidentes vasculares cerebrais), a Demência

Mista (Doença de Alzheimer + Doença Vascular Cerebral), a Demência Fronto-Temporal

(por degeneração do lobo frontal), a Demência por múltiplos infartos e a Demência dos

Corpos de Lewy.

Papaléo Netto (1996, p.149) cita que:

Quadros demenciais menos comuns podem estar presentes nas formas mistas com (achados de alteração neuronal e vascular), doença de Pick, doença de Parkinson, esclerose múltipla, doença de Creudtzfeld-Jakob, doença de Huntington e paralisia supranuclear progressiva.

Não obstante as particularidades de cada uma das demências, Calkins (1988 apud PASCALE,

2002, p.24) alerta para o fato de existirem perdas e comportamentos padrões na grande

maioria delas. Entre essas perdas, uma das mais significativas, inegavelmente, é a da

memória. Pascale (2002, p.24) observa que “a essência da demência é a deterioração das

capacidades intelectuais e mentais.” A autora explica que existe uma grande diferença entre o

simples esquecimento e a perda de memória. A perda de memória, encontrada em pacientes

com qualquer tipo de demência, tem caráter progressivo e irreversível.

Papaléo Netto (1996, p.174) relata que é comum, durante o processo de envelhecimento, o

surgimento de queixas de esquecimento, ou “falhas de memória”. Estes sintomas, segundo o

autor, podem ser sinais de várias doenças, desde estresse, depressão, ansiedade crônica, até as

demências. Ele lembra que:

A importância de um diagnóstico correto em cada caso é fundamental para se realizar uma abordagem adequada do paciente em relação à orientação que seria dada a ele, tanto em termos terapêuticos como prognósticos. (...) Por todos estes motivos, é de fundamental importância, frente a um idoso com queixa de esquecimento, que se faça uma abordagem que permita, na medida do possível, um diagnóstico precoce e preciso, pois só assim a nossa intervenção poderá trazer algum benefício para o idoso e sua família.

Novaes (2003 apud NEGREIROS, 2003, p.102), salienta que:

As novas tendências dos estudos destacam mais a memória como processo constitutivo da realidade, o que assegura a continuidade social, sendo construída e desenvolvida através da linguagem e das práticas sociais, uma vez que é um presente que reconstrói um passado em evolução para um futuro. Várias pesquisas sobre a dimensão pragmática da memória e dos seus vínculos com a ação social estão sendo desenvolvidas em nível internacional, relacionando-a com o imaginário social.

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Ramos e Macedo (2001 apud PASCALE, 2002) concordam que a perda progressiva da

memória é o sintoma mais precoce das demências em geral, e que este déficit afeta,

primeiramente, a memória de fatos recentes, para depois acometer os outros tipos de

memória. Novaes (2003 apud NEGREIROS, 2003) ressalta que, freqüentemente, a sociedade

como um todo, inclusive a própria comunidade médica, caracteriza como uma boa memória

aquela pertencente ao indivíduo que possui boa capacidade de memorizar, no sentido de

cumprir a função de estocar dados e informações. Porém, segundo a autora, a verdade é que

toda boa memória é suspeita em seu sentido absoluto, tendo em vista que, por exemplo, ela

também exerce uma função de dissolver lembranças desagradáveis ou doloridas para partes

psicológicas e emocionais que, para nós, são intoleráveis.

Dessa forma contínua, conceber memória e esquecimento como realizações sociais leva a

reconhecer um caráter de produções dialéticas e dilemáticas. Na memória-viva estão

armazenados os componentes de ordem afetivo-emocional, moral, estética, além de

sentimentos e fatos que impactaram o indivíduo. Assim, Novaes (2003 apud NEGREIROS,

2003, p.104) traduz a memória como uma função que “assim como a vida, está em evolução

permanente, aberta à dialética da lembrança e da amnésia inconsciente de suas deformações

sucessivas, sendo vulnerável a todas as utilizações e manipulações, além de suscetível a

amplas e repentinas revitalizações.”

Para Pascale (2002), além da perda progressiva da memória, há outros sintomas comuns às

principais demências conhecidas pela medicina moderna, entre eles:

− Desorientação: fenômeno comum em indivíduos com demência. Essa

desorientação é, normalmente, manifestada através de ansiedade, tédio, ociosidade

e falta de clareza de pensamento. Calkins (1988, apud PASCALE, 2002) conta

que o doente quer voltar para o seu quarto mas não encontra o caminho e, às vezes,

passa por diversos cômodos até chegar àquela que é “a sua casa”.

− Tarefas cotidianas: alguns portadores de demências vão se tornando

progressivamente incapazes de realizar tarefas banais, como se vestir, abotoar a

camisa ou levantar o zíper da calça. Nestes casos, é interessante que o ambiente

esteja preparado para propiciar ao indivíduo facilidades na execução de funções

simples, como saber onde está o interruptor de seu quarto.

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− Níveis de atividade física: pesquisas indicam que o idoso com demência, mas que

fazia exercícios físicos quando saudável, continua sendo altamente ativo, mesmo

ao longo da evolução da doença. Isto acontece, segundo Calkins (1988, apud

PASCALE, 2002) porque este indivíduo fica, particularmente, ansioso diante das

limitações que se lhe apresentam e, assim, ele insiste em caminhar, ainda que

tortuosamente, e realizar tarefas ao longo do caminho, lutando com mais energia

contra a degradação de suas funções.

− Agitação: esta é uma outra reação que alguns portadores de demências manifestam

quando se deparam com dificuldades para executar atividades antes consideradas

banais. A deficiência cognitiva faz, muitas vezes, com que o doente reaja de

maneira exageradamente assustada, sentindo-se oprimido, perdido ou abandonado.

Quando ocorrem estas reações, Calkins (1988, apud PASCALE, 2002) aconselha

que se adote para o idoso um ambiente pequeno, aconchegante, sem muitos

estímulos.

4.2.1 A Doença de Alzheimer

A mais conhecida das demências, que acometem milhões e milhões de idosos em todo o

mundo moderno, o Mal de Alzheimer foi descoberto e descrito, primeiramente, pelo neuro-

patologista e psiquiatra alemão Alois Alzheimer, em 1907, através de avaliação pós-morte no

tecido cerebral de uma paciente de cinqüenta e cinco anos que portava demência progressiva.

(PASCALE, 2002).

Coons (1991 apud PASCALE, 2002) lembra que a DA era relativamente desconhecida da

sociedade em geral até meados dos anos 80, no final do século passado. Hoje, diz ele, a

enfermidade se tornou tão falada que qualquer falha de memória já provoca nas pessoas o

receio de que venha a ser um portador da demência no futuro.

Papaléo Netto (1996, p.148) conceitua a DA como:

Um declínio insidioso, progressivo da memória e de outras funções corticais como linguagem, conceito, julgamento e habilidades visuo-espaciais. Por ser de

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progressão lenta, muitas vezes os pacientes são encaminhados aos médicos anos após a instalação do processo mórbido. Deve-se enfatizar ao paciente e à família que existe vida após o diagnóstico e que, na medida do possível, o paciente deve exercer alguma atividade apropriada e ter boa qualidade de vida. Na maioria das vezes a doença segue um curso clínico característico. Modalidades motoras e sensitivas primárias são preservadas até tarde, no decorrer da doença. O paciente perde a capacidade de interpretar o que vê, ouve ou sente, que se entende por agnosia. A linguagem se torna desordenada – afasia -, o indivíduo tem dificuldade em dar nome aos objetos – anomia – sendo comum a substituição do termo desejado por “isto”, “coisa” ou “aquilo”.

Já a Organização Mundial de Saúde (PASCALE, 2002, p.28) define assim a DA:

Uma doença cerebral degenerativa primária, de etiologia desconhecida, com aspectos neuropatológicos e neuroquímicos característicos. Instala-se, usualmente, de modo insidioso e desenvolve-se lenta, mas continuamente por um período de anos, e este pode ser tão curto, como dois ou três anos, mas ocasionalmente, pode ser consideravelmente mais prolongado. O início pode ser na meia-idade ou até mais cedo (início pré-senil), mas a incidência é maior na idade avançada (início senil). Em casos com início antes da idade dos sessenta e cinco a setenta anos, há a probabilidade de uma história familiar de uma demência semelhante, tendo um curso mais rápido e predominância de aspectos de dano do lobo-temporal e parietal, incluindo disfasia ou dispraxia. Em casos com início mais tardio, o curso tende a ser mais lento e caracterizado por um comprometimento mais geral das funções corticais superiores. Os indivíduos com Síndrome de Down têm um grande risco de desenvolver a Doença de Alzheimer.

Gwyther (1987 apud PASCALE, 2002), é enfático ao lembrar que, ainda que esta seja uma

doença degenerativa, progressiva, que ataca o cérebro e resulta em perda de memória, o

Alzheimer é uma doença do cérebro, e não uma conseqüência normal do envelhecimento.

Pascale (2002, p.26), relata que, segundo dados do Alzheimer Disease and Related Disorders

Association (ARDA), nos Estados Unidos, cerca de 10% da população acima de sessenta e

cinco anos e 47,2% dos idosos acima de oitenta e cinco são portadores de Alzheimer. Os

dados mostram também que a DA é, atualmente, a quarta causa de morte entre os adultos

americanos, tendo à frente somente as doenças cardíacas, o câncer e os derrames. Juntas estas

doenças tiram, no país norte-americano, mais de cem mil vidas por ano.

Apesar desse quadro, os Estados Unidos vêm alocando fundos para pesquisa nesta área, tendo

aumentado os investimentos na cura das demências senis, particularmente o Alzheimer, de 3,8

milhões de dólares em 1976 e 5,1 milhões de dólares em 1978 para 50, 8 milhões em 1985 e

123, 4 milhões de dólares em 1989. Até agora, embora ainda não haja cura ou tratamento

efetivo para o problema, as autoridades americanas continuam trabalhando exaustivamente, e

o governo liberando bilhões de dólares para pesquisa.

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4.2.2 A Doença de Parkinson

A DP é uma doença crônica degenerativa do sistema nervoso central, de caráter progressivo e

lento, deve ser diferenciada das síndromes parkinsonianas que surgem de uma variedade de

etiologias. Afeta uma região do cérebro chamada “sistema extrapiramidal”. Caracteriza-se

esta região como sendo responsável pela maestria dos movimentos. No cérebro, a transmissão

dos impulsos elétricos entre um neurônio e outro é mediada por substâncias químicas

chamadas neurotransmissores. A dopamina é um exemplo de um importante

neurotransmissor. Na DP, a redução da quantidade de dopamina reflete-se de maneira

decisiva, pois a doença se desenvolve quando neurônios de uma área do cérebro denominada

“substância negra”, morrem ou deixam de funcionar. Esta região do cérebro recebeu a

denominação citada em função de sua cor escura, proveniente da grande concentração de um

pigmento chamado neuromelanina existente nessa estrutura.

São estes os neurônios responsáveis pela produção de dopamina. A redução da quantidade de

dopamina no cérebro resulta em falhas na transmissão de sinais entre importantes estruturas

cerebrais determinantes da parte motora, resultando em perda da capacidade de o paciente

controlar seus movimentos de maneira normal. É importante lembrar que a DP, assim como

outras doenças degenerativas, não tem cura e é irreversível. A DP normalmente é lenta e

progressiva, podendo evoluir durante anos. Durante este período, é inquestionável que o grau

de independência do parkinsoniano vai diminuindo, levando-o a uma carência de cuidados

externos cada vez maior. A fisioterapia e o acompanhamento dos familiares e cuidadores é

fundamental para a estabilização da sintomatologia da doença e, conseqüentemente, para a

conquista gradativa de autoconfiança e recuperação da auto-estima do paciente.

Tiengo (2002) acrescenta que a DP se manifesta por distúrbios dos movimentos e dos

“impulsos”, e que estes movimentos não incluem somente os corporais, mas também a fala e

os pensamentos, trazendo para o parkinsoniano uma forma diferente de ver a vida e perceber

o mundo à sua volta, podendo variar da mais completa incapacidade e falta de vontade para

iniciar uma trajetória até uma aceleração disrítmica. O doente de Parkinson tem suas “réguas”

e “relógios” internos quebrados, e isto lhe causa distorções perceptuais. Por isso, na opinião

da autora, o tratamento deve incluir trabalhos corporais baseados no treinamento de escala e

de ritmo.

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Limongi (2001, p.13) define a DP como:

Uma afecção degenerativa do sistema nervoso central que acomete principalmente o sistema motor. É uma das condições neurológicas mais freqüentes e sua causa permanece desconhecida. Os sintomas mais comuns são: tremor, rigidez muscular, lentidão de movimentos e alterações posturais. Entretanto, manifestações não motoras também podem ocorrer, tais como comprometimento da memória, depressão, alterações do sono e distúrbios do sistema nervoso autônomo.

Bittencourt (2004, p.2) afirma que a DP é uma doença crônica e progressiva do sistema

nervoso central, envolvendo os gânglios da base e, conseqüentemente, resultando em uma

disfunção dos padrões de movimento. O autor entende que:

Sua etiologia é desconhecida, porém costuma-se classificar a doença de Parkinson entre as afecções degenerativas do sistema nervoso central, que levam ao envelhecimento precoce e a degeneração de certas estruturas. Admite-se a existência de predisposição hereditária, apesar de casos familiares não serem muito freqüentes, somando apenas 10%.

Campos (2000, p.2) descreve de maneira bastante sucinta a DP:

A falta de dopamina, substância química produzida pelos neurônios (células nervosas) da região cerebral chamada “substância negra”, pela excessiva morte ou degeneração desses neurônios provoca, em um última instância, a hiperatividade dos neurônios do núcleo subtalânico e do globo pálico medial, núcleos estes fundamentais no controle dos movimentos.

A Associação Européia da Doença de Parkinson (EPDA) explica que a DP é um distúrbio

neurológico comum, lentamente progressivo, que altera de maneira crucial as condições de

vida, embora não represente risco de morte. A DP, segundo ainda a EPDA, é causada pela

perda ou degeneração das células nervosas responsáveis pela produção de dopamina, que é

um importante mensageiro químico, ou “neurotransmissor”. A morte de células que contém

dopamina, portanto, afeta sobremaneira a capacidade do organismo de controlar seus

movimentos normais. É quando os níveis cerebrais de dopamina chegam a um percentual

abaixo de 20% que os primeiros sintomas da DP começam a aparecer.

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4.2.2.1 Breve histórico da Doença de Parkinson

A DP foi descrita pela primeira vez, de forma científica, em 1817, por um médico

inglês. O Dr. James Parkinson registrou os sintomas, sinais e a evolução da doença

observados em um grupo de pacientes, e publicou suas observações em um artigo intitulado

“Ensaio sobre a Paralisia Agitante”. Sua obra despertou grande interesse nos meios médicos e,

desde então, ele teve seu nome associado à doença.

Entretanto, segundo Limonge (2001), foi apenas no final do século XIX e no início do século

XX, entre 1860 e 1890, que os estudos de Charcot impulsionaram os conhecimentos clínicos

sobre a doença, conhecida como Paralisia Agitante. Jean Martin Charcot, nascido em 1825, é

considerado o pioneiro da neurologia moderna. Ao focalizar a Paralisia Agitante, discordou

dessa denominação, pois, para ele, os pacientes não estavam de fato paralisados e nem todos

apresentavam tremor. Rebatizou então a doença com o nome de seu primeiro observador, o

que foi unanimemente aceito pela comunidade científica. Charcot foi o primeiro a propor

tratamento para a moléstia à base de plantas ricas em alcalóides, as quais, mais tarde, se

constituiriam na única possibilidade de tratamento.

Sacks (1997 apud TIENGO, 2002) lembra que James Parkinson foi o primeiro a descrever

com maior clareza o que ele chamou, na época, de Síndrome da Paralisia Agitante. Foi ele o

primeiro a considerar o “ser parkinsoniano” com uma forma diferente de comportamento e a

descrever, com maior propriedade, as palavras de intenção e ação do indivíduo acometido por

esta síndrome. Acrescentou Sacks (1997 apud TIENGO, 2002, p.3), que “a DP foi, no século

XX, considerada idiopática e reflexo de um processo degenerativo, nunca antes observada

antes dos 50 anos de idade.”

Em 1929, outro cientista que se destacou, descrevendo a acinesia, o mais curioso dos sintomas

parkinsonianos, foi Kinnier Wilson. Ele distinguiu a acinesia da rigidez com a qual antes era

confundida. Muitas outras descobertas foram feitas desde então: a observação das

modificações anatômicas da substância negra (1919), o desenvolvimento dos primeiros

medicamentos antiparkinsonianos e da neurocirurgia estereotáxica (entre 1950 e 1960); a

identificação da falta de dopamina como a principal responsável pelos sintomas (início dos

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anos 60), a introdução da levodopa (1967) e dos agonistas da dopamina (1974), e a descoberta

de modelos experimentais mais adequados (a partir da década de 80).

Limonge (2001) observa que, para reconhecer a doença, basta, ainda hoje, uma atenção maior

ao olhar, à escuta e a alguns gestos simples por parte do doente, para que, até mesmo um

leigo, conhecedor primário da matéria, reconheça um parkinsoniano, ou um portador de

parkinsionismos (sintomas da DP, que também aparecem em outras doenças).

4.2.2.2 Incidência da DP

As estatísticas disponíveis revelam que a prevalência da DP na população geral é de 100 a

150 casos por 100 mil habitantes, e a cada ano ocorrem 20 novos casos por 100 mil

habitantes. Para Limongi (2001) a DP ocorre em cerca de 1% da população acima dos 50

anos, tornando-se crescentemente mais comum com o avanço da idade, chegando às

proporções de 2,6% da população com 85 ou mais. A idade média de surgimento da doença

situa-se entre 58 e 60 anos, embora uma pequena porcentagem possa ser acometida pela

doença na faixa dos 40, e até dos 30 anos. Os homens apresentam uma incidência maior da

doença que as mulheres, numa proporção 3 de para 2 (SULLIVAN e SCHMITZ, 1993).

A EPDA estima em quatro milhões de pessoas em todo o mundo afetadas, hoje, pela DP e

acrescenta que, ainda que a média de idade na época do diagnóstico seja em torno dos 60

anos, uma em cada 20 pessoas com DP desenvolve a doença com menos de 40 anos. Quando

a DP atinge pessoas entre 21 e 40 anos ela é chamada de “Doença de Parkinson de início

precoce”.

Segundo Brodal (1979), não existe diferença significativa na incidência de DP entre homens e

mulheres. O autor entende que seu início se dá, em média, entre 35 e 60 anos, tendo sido

observado, ainda, um tipo mais raro da doença, identificado como juvenil, que ocorre antes

dos trinta anos de idade. No entanto, enfatiza ele, as razões pelas quais a perda de dopamina

e de células dopaminérgicas leva à DP permanecem em parcial entendimento pela

comunidade médica.

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4.2.2.3 Sintomatologia da DP

Limonge (2001, p.15) destaca que os primeiros sintomas da DP se apresentam de forma quase

imperceptível, progredindo lentamente. Tal processo faz com que o próprio paciente, ou seus

familiares, não se apercebam dos sinais ou manifestações iniciais. Assim, diz o autor que:

[...] um dos primeiros sinais pode ser uma sensação de cansaço ou mal-estar no fim do dia. A caligrafia pode se tornar menos legível ou diminuir de tamanho, e a fala pode se tornar monótona ou menos articulada. O paciente freqüentemente se torna deprimido sem motivo aparente. Podem ocorrer lapsos de memória , dificuldade de concentração e irritabilidade, Dores musculares são comuns, principalmente na região lombar.

Umphred (1994 apud TIENGO, 2002, p.4) diz que o sinais e sintomas da DP são o tremor de

repouso, a rigidez, a bradicinesia ou acinesia, micrografia, face inexpressiva e alterações

posturais (que consistem em uma postura em flexão com escassez de rotação no tronco e

reações de equilíbrio ineficientes). O autor explica que a rigidez do parkinsoniano é do tipo

“plástica”, isto é, como tentar dobrar um cano de chumbo, ou do tipo “roda dentada”, quando

se combinam num mesmo paciente os sintomas de rigidez e tremor ao mesmo tempo. Pode

ser ainda observada uma resistência exagerada ao movimento passivo e em todo o “arco” do

movimento. Os reflexos de estiramento e alongamento ficam hiperativos. A bradicinesia ou

acinesia são definidas por Tiengo (2002, p.5) como:

[...] uma dificuldade, ou incapacidade em iniciar e realizar movimentos, e são exatamente o oposto do que ocorre na festinação e pulsão. Há uma dificuldade de movimentar-se, de falar e pensar, que os aprisiona. A bradicinesida não é causada pela rigidez. Existe uma “contraforça” e uma “contravontade” em relação à sua própria força e vontade, que os leva a um conflito. Talvez o tremor, a rigidez e a bradicinesia sejam o resultado deste conflito.

Goldwin (apud EPDA, 2005) afirma que mais de 50% dos pacientes portadores de DP não

apresentam tremor: os sintomas apresentados, para ele, são muito mais diversos, a exemplo a

lentidão da marcha, acompanhada de perturbações de equilíbrio, com quedas ocasionais ou

dificuldades de execução de movimentos suaves, como se vestir ou barbear-se.

King (apud EPDA, 2005) é uma paciente que aconselha seus semelhantes a lidar com seus

sintomas diariamente e tentar assim viver dentro de suas possibilidades sem perder o

otimismo. Ela diz que o parkinsoniano deve descobrir-se e adaptar-se aos seus sintomas a

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cada dia, aceitando as mudanças no seu ritmo diário como parte de sua vida. A autora revela

que o segredo está em compreender que os sintomas provavelmente mudarão com o tempo à

medida que a condição do doente progride e que, dentro deste processo, ele deve tentar não se

alarmar tanto com as mudanças.

A escala de Hoehn e Yahr (1967), médicos idealizadores do método, baseia-se na graduação

dos sintomas e das incapacidades observados nos pacientes para um melhor diagnóstico de

DP. Os estágios definidos pelos referidos cientistas encontram-se listados na Tabela 2.

Tabela 2 – Escala de graduação dos sintomas e incapacidades

Estágios Sintomas0 Sem sintomas visíveis da DP1 Sintomas em apenas um lado do corpo2 Sintomas nos dois lados do corpo e sem dificuldade para caminhar3 Sintomas nos dois lados do corpo e com uma dificuldade mínima para caminhar4 Sintomas nos dois lados do corpo e com uma dificuldade moderada para caminhar5 Sintomas nos dois lados do corpo e incapaz de caminhar

Fonte: Hoehn e Yahr (1967)

A EPDA esclarece que a DP, não necessariamente, evolui até os estágios mais avançados da

escala acima citada. E apresenta também uma escala mais detalhada (UPDRS - Unified

Parkinson Disease Rating Scale), que tem sido mais largamente utilizada por especialistas em

todo o mundo, particularmente nas pesquisas de novos medicamentos. A escala UPDRS,

segundo a EPDA, inclui uma variedade maior de avaliações e utiliza-se de 42 perguntas

divididas em quatro principais subseções, que são as abaixo descritas:

− Atividade mental (capacidade de processar pensamentos, comportamento e

humor);

− Atividades da vida diária ;

− Exame das funções motoras; e,

− Complicações do tratamento (ocorridas na última semana).

De acordo com a EPDA, além de avaliar a mobilidade, os médicos usam também várias

escalas de medida da qualidade de vida do parkinsoniano no momento em que ele se encontra,

a fim de compreender melhor a repercussão dos sintomas sobre a vida do paciente. O

questionário denominado PDQ-39, batizado assim porque é composto de 39 questões,

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investiga a qualidade de vida e foi desenvolvido especificamente para a DP. Somados todos

estes critérios e escalas de indagação a respeito da DP, é possível dimensionar suas

manifestações, o impacto que ela está causando sobre a qualidade de vida do paciente e as

possíveis respostas aos tratamentos.

A EPDA (2005) acredita que muitos parkinsonianos podem apresentar sintomas que não

necessariamente afetam os movimentos ou a mobilidade. Estes sintomas são conhecidos

como não-motores. Como exemplo são citados outros sintomas que também podem levar a

um diagnóstico de DP, após análise criteriosa da evolução dos mesmos em conjunto com os

sintomas mais conhecidos:

− Ansiedade;

− Depressão;

− Distúrbios do sono;

− Problemas de controle salivar;

− Sudorese;

− Dor;

− Constipação intestinal; e,

− Problemas de controle urinário.

Limonge (2001) entende que os sintomas acima citados variam de caso para caso, podendo ou

não aparecer em determinado paciente. No entanto, enfatiza o autor que cada um deles traz

para o doente um desconforto extremamente desagradável, devendo serem tratados, se

necessário, por médicos qualificados em cada especialidade relacionada, o que quer dizer que

o parkinsoniano nem sempre é tratado por apenas um médico, mas por uma equipe que

trabalhe em conjunto, e imbuída do mesmo objetivo: trazer conforto e maior qualidade de

vida para o paciente de DP. Segundo estudos do autor, a depressão aparece em 40 a 50% dos

casos de DP. Apesar de ser vista como conseqüência das limitações que acometem o paciente,

ela é mais freqüente em parkinsonianos do que em doentes de outras enfermidades. Alguns

pacientes de DP apresentam, em conjunto com a depressão, ansiedade e, mais raramente,

episódios de agitação.

Os distúrbios do sono, segundo Limonge (2001), constituem-se em um dos problemas mais

comuns do paciente de DP. Estes compreendem uma gama de sintomas, tais como dificuldade

em conciliar o sono, despertares freqüentes durante a noite, sonhos “reais” (quando o doente

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não consegue distinguir o sonho da realidade), e pesadelos. Um fato também muito comum,

que, aliás, coincide com o depressivo comum, é a troca do dia pela noite, ou seja, a inversão

do ciclo normal vigília-sono. Algumas vezes acontecem movimentos bruscos chamados de

mioclonias, que se constituem em pequenos pulos ou movimentos rápidos com os membros.

Na DP as mioclonias aparecem com freqüência, acarretando, muitas vezes, no despertar do

cônjuge ou do próprio paciente.

Apesar de a maioria dos doentes de Parkinson não apresentar distúrbios cognitivos,

mantendo-se preservada a consciência intelectual e a capacidade de falar, algumas vezes

notam-se alterações no processo da fala, quando, de acordo com Limonge (2001) a voz se

torna mais fraca, o volume diminui e pode aparecer alguma rouquidão. O sintoma mais

freqüente, nestes casos, é a dificuldade de articular as palavras, o que pode ser bastante

prejudicial para pessoas que trabalham com a fala, como professores e atores, entre outros.

Observa-se em alguns casos a fala monótona, ou seja, emitida de maneira monótona,

cadenciada e sem entonação, enquanto que em outros casos, os pacientes aceleram o ritmo de

sua fala de modo descoordenado. Tencionando diminuir o tempo da fala, acabam

embaralhando as palavras e dificultando a compreensão por parte do interlocutor.

A sialorréia (maior quantidade de saliva) no paciente de DP acontece por sua dificuldade

maior em degluti-la, podendo acontecer ainda o escorrimento pelo canto da boca. Nestes

casos as medicações anticolinérgicas (que inibem a acetilcolina), em geral trazem grande

alívio ao paciente.

As disfunções urinárias, em geral, ocorrem como resultado da própria doença ou também por

efeitos colaterais de medicamentos. Estas podem se manifestar de várias formas: necessidade

urgente de urinar, muitas vezes sem conseguir “segurar” até chegar ao banheiro, aumento da

freqüência das micções, esvaziamento incompleto da bexiga, ou dificuldade para iniciar a

micção. Estes são sintomas agravados ainda pelo próprio avanço da idade, ou seja, pelo

aumento da próstata no homem e pela flacidez dos músculos pélvicos nas mulheres.

Limonge (2001), tratando ainda dos sintomas colaterais que se apresentam na DP, justifica

que, apesar de ser a DP um transtorno essencialmente motor, é comum o aparecimento de

dores musculares em várias regiões do corpo. Ombros, braços, membros inferiores e a região

lombar são as áreas mais afetadas. Normalmente explicam-se estas dores pela manutenção de

uma postura inadequada por muito tempo e pela disfunção motora inerente à doença, o que

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faz com que o parkinsoniano precise fazer um esforço maior para conter ou realizar

corretamente seus movimentos. Entretanto, registra-se o aparecimento de algumas dores

mesmo antes do diagnóstico preciso da DP.

No âmbito das dores, algumas das mais freqüentes são as cãibras. As cãibras nos pés ocorrem

mais no período da manhã (são as chamadas “cãibras matinais”), podendo também incomodar

o paciente durante a noite, a ponto de acordá-lo. Estas cãibras também acontecem durante o

caminhar e comprometem bastante a marcha, uma vez que causam espasmos nos músculos da

panturrilha e dos pés, curvando os mesmos em arco, e posicionando os tornozelos em garra.

Outras sensações desagradáveis, tais como frio nas extremidades, ou queimação, também em

uma ou mais extremidades do corpo, são também sintomas que trazem desconforto e

incômodo para o doente de DP. Estas sensações térmicas anormais podem desaparecer por

longos períodos de tempo, para depois reaparecerem. Observa-se uma coincidência entre o

aparecimento desses sintomas e os períodos em que as dificuldades motoras também estão

mais graves. Mais adiante serão abordados, entre os diversos tipos de tratamento, a

fisioterapia e a reeducação postural como grandes aliados no combate às dores musculares dos

parkinsonianos.

4.2.2.4 As principais manifestações clínicas da DP

Ao provocar a morte progressiva de células nervosas da chamada “substância negra”, região

do cérebro que integra o “disco rígido” da memória processual, a DP estraga os arquivos auto-

executáveis (ativados automaticamente). Movimentos simples como levantar da cama,

caminhar, abotoar uma camisa, que normalmente são executados de forma automática, no

entanto, não conseguem ser executados pelos doentes de Parkinson. De uma maneira geral, o

mal de Parkinson pode ser comparado a um vírus de computador. Um vírus poderoso e

desconhecido, que tem uma predileção pelos arquivos da memória processual. (PIEMONT,

2001).

Piemont (2001, p.1) explica ainda que, “com o acesso aos arquivos negados, o paciente

desaprende como se mexer. O programa vai ficando mais lento, até que emperra e, às vezes,

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o paciente não consegue selecionar a informação.” O paciente de Parkinson, portanto, perde a

memória que armazena as informações dos movimentos automáticos, como os movimentos

das Atividades de Vida Diária. Tiengo (2002) concorda em que o movimento é alterado em

todos os seus aspectos: início, mudança de direção e capacidade para parar e reiniciar o

movimento, além do aspecto de sua espontaneidade, como o balançar dos braços ao caminhar.

As atividades automáticas, como exemplificado pela autora, passam a depender de constante

atenção e a serem controladas pelo córtex, e não mais por estruturas subcorticais havendo,

assim, maior demanda energética para iniciar e manter o movimento.

Segundo Umphred (1994), existe uma hipótese de que as alterações posturais da DP

[...] sejam resultado de déficits nos sistemas vestibular e proprioceptivo, ou que sejam conseqüentes à bradicinesia. Quando seu próprio corpo não está alinhado verticalmente, estes indivíduos não conseguem distinguir uma linha vertical, e não conseguem falar com o corpo alinhado verticalmente e olhos fechados. Apesar disso, testes que avaliam a propriocepção e o sistema vestibular costumam obter resultados normais, talvez por não haver uma avaliação específica para o tronco.

Entre as manifestações clínicas, ainda conforme Limonge (2001, p.16), o tremor é o que

chama maior atenção, apesar de não ser o mais incapacitante. O autor enfatiza que ele este se

manifesta de forma característica:

[...] é rítmico, relativamente lento quando comparado com outros tipos de tremores ( de quatro a sete ciclos por segundo) e ocorre principalmente quando o membro está em repouso. Quando o paciente movimenta um membro, o tremor ali presente cessa de imediato para retornar logo após o fim do movimento. No início da doença, o tremor ocorre em um lado e assim permanece por intervalos variáveis de tempo. Após certo período, o outro lado também é acometido ou ele pode surgir na cabeça, mandíbula, no lábio, queixo e nos membros inferiores. Situações de estresse emocional ou a sensação de ser observado aumentam visivelmente a intensidade do tremor. Por outro lado, durante o estado de relaxamento ou durante o sono, o tremor tende a desaparecer por completo.

As alterações posturais apresentam-se, tipicamente, com uma postura flexionada. Os

músculos flexores e adutores tornam-se seletivamente mais contraídos, tanto nos membros

superiores quanto nos inferiores. Estão envolvidos também os pronadores, flexores plantares e

flexores cervicais e torácicos. Reflexos posturais (reações de endireitamento, equilíbrio e

extensão protetora) tornam-se sensivelmente diminuídos. Quando o equilíbrio se perde, os

ajustes compensatórios imediatos, necessários para que seja recuperado o equilíbrio, ficam

reduzidos. As respostas posturais automáticas ficam particularmente prejudicadas. Os

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movimentos de rolar em torno do eixo longitudinal também estão comprometidos. Por isso o

paciente tem dificuldades para executar os movimentos de girar e rolar, às vezes tornando-se

até impossíveis. As deficiências na rotação axial são, particularmente, incapacitantes,

prejudicando muitas atividades funcionais simples, como rolar e sair da cama (SULLIVAN;

SCHMITZ, 1993).

O padrão de marcha do paciente com mal de Parkinson é altamente estereotipado, e

caracterizado por um empobrecimento dos movimentos. Nos membros inferiores os

movimentos de quadris, joelhos e tornozelos estão reduzidos, com falta generalizada de

extensão em todas as três articulações. Os movimentos do tronco e da pélvis também estão

prejudicados, resultando numa diminuição do comprimento dos passos e da oscilação

recíproca dos braços. Os pacientes, caracteristicamente, andam com uma marcha lenta e

arrastada. O posicionamento da cabeça e do tronco para frente, tipicamente, desloca o centro

de gravidade para adiante, podendo implicar um padrão de marcha apressado. O paciente dá

múltiplos passos curtos, para evitar que caia para frente, podendo eventualmente chegar a

uma corrida ou trote. Pacientes que andam na ponta dos dedos, devido a contraturas em flexão

plantar, têm uma instabilidade postural que se deve a um estreitamento de sua base de

sustentação. Os movimentos que envolvem giros ou alterações de direção são particularmente

de difícil concretização.

Limonge (2001) discorre também sobre a rigidez muscular, introduzindo-a como uma

decorrência da resistência que os músculos apresentam quando um segmento do corpo é

movido, passivamente, pelo fisioterapeuta ou médico examinador. Exemplifica o autor que,

para cada grupo de músculos existem outros, que possuem finalidades opostas, e são

chamados de “músculos antagonistas”. Assim, de acordo com o mesmo autor (p.16):

[...] quando um músculo é ativado para realizar determinado movimento, em condições normais, seu antagonista é inibido para facilitar esse movimento. Na DP, essa inibição não é feita de modo eficaz, pois alguns comandos originados do cérebro chegam aos músculos de modo alterado. Como conseqüência, os músculos se tornam mais tensos e contraídos, e o paciente sente-se rígido e com pouca mobilidade. Quando determinado membro é deslocado passivamente pelo examinador, pode-se sentir, superpostos à rigidez, curtos períodos de liberação rítmicos e intermitentes, fenômeno que recebe o nome de sinal da roda denteada. (LIMONGE, 2001)

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Tiengo (2002) diz que o tremor ocorre no repouso e até cessa com o movimento. A autora

explica que o tremor se apresenta, comumente, na mão e parece com o movimento de rolar

uma pílula ou “contar dinheiro”, com o polegar e o indicador em um ritmo de,

aproximadamente, 4 a 7 batimentos por segundo. Somente em casos extremos, como os pós

encefalíticos, acontece um tremor excessivo, podendo acometer qualquer parte do corpo ou

todo ele, e que aumenta com o stress, esforço ou fadiga.

Brodal (1979, p.219) explica que:

[...] este tremor é bem distinto do tipo grosseiro intencional visto em doenças cerebelares. Este último aparece em movimentos voluntários, mas o tremor da paralisia agitante também pode, algumas vezes, aumentar em movimentos intencionais, estáticos ou fásicos. Desaparece durante o sono, mas exagera com a tensão emocional.

A EPDA lembra que vários sintomas não motores podem aumentar ou tornarem-se mais

graves se o paciente mostrar evolução para complicações maiores a longo prazo, tais como o

wearing-off (expressão que indica as flutuações motoras, ou ainda, quando o paciente

apresenta melhoras com a administração inicial de medicamentos e, depois de um tempo,

mesmo usando os remédios, começa a piorar novamente).

Limonge (2001) relaciona as demais manifestações clínicas observadas no parkinsoniano, de

forma detalhada e julgada interessante para uma abordagem mais aprofundada da DP,

proposta maior deste estudo. Assim, o autor ensina que o termo acinesia se refere à

quantidade de movimento, enquanto que bradicinesia aponta para uma lentidão na execução

do mesmo. Estes “erros motores” fazem com que o paciente demonstre uma redução da

movimentação espontânea em todos os seus aspectos fundamentais. Para o autor:

A mímica facial torna-se menos expressiva, transmitindo com menor intensidade sentimentos e emoções que, por sua vez, mantêm-se preservados. A caligrafia torna-se menos legível e de tamanho reduzido, fenômeno conhecido como micrografia. As atividades diárias, antes feitas com rapidez e desembaraço, são agora realizadas com vagar e à custa de muito esforço. O paciente anda com passos mais lentos e pode apresentar alguma dificuldade para equilibrar-se. A postura geral do paciente modifica-se: existe predominância dos músculos flexores, de modo que a cabeça permanece fletida sobre o tronco, este sobre o abdômen, e os membros superiores são mantidos ligeiramente à frente, com os antebraços semifletidos na altura do cotovelo. (LIMONGE, 2001,P.17)

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Conforme Tiengo (2002), as alterações da marcha foram relatadas, inicialmente como

festinação e pulsão. Umphred (1994 apud TIENGO, 2002) relata que, na festinação, o que

acontece é uma aceleração da marcha, quando os passos e movimentos se tornam mais curtos.

O autor descreve a festinação para frente como propulsão e para trás como retropulsão, e diz

que este tipo de marcha, talvez, seja conseqüência de um déficit no equilíbrio do indivíduo.

Em contrapartida, Sacks (1997 apud TIENGO, 2002), caracteriza a festinação como pressa,

ou uma abreviação dos movimentos, enquanto considera a pulsão como um impulso. Além

disso, o autor afirma que a festinação ocorre também na fala e nos pensamentos, atingindo a

consciência do paciente. A festinação, portanto, é vista pelo estudioso como a caracterização

de uma pressa excessiva, podendo estar associada ao que ele chama de “impaciência motora”,

ou acatisia.

4.2.2.5 Considerações farmacológicas para a DP

O fato de que há diminuição nas concentrações de dopamina na “substância negra” dos

parkinsonianos é conhecido de toda a comunidade científica que estuda o assunto. A

dopamina, que é um neurotransmissor, não é capaz de ultrapassar a barreira hematoencefálica,

que determina quais as substâncias que podem penetrá-la para agir em estruturas encefálicas.

A aplicação de doses necessárias de dopamina, ultrapassando a barreira hematoencefálica, só

foi possível após o advento da levo-didroxifenilalanina, ou levodopa, um precursor da

dopamina que, já no corpo, pode ser convertida em dopamina. É utilizada com maior sucesso

junto à carbidopa, uma substância que retarda sua descarboxilação, permitindo que uma

quantidade eficaz de levodopa penetre a barreira hematoencefálica. Além disso, a carbidopa

permite uma dosagem menor de levodopa, prevenindo efeitos nocivos ao coração e ao

aparelho digestivo.

Limonge (2001) explica que a comunicação entre as células cerebrais se realiza através de

mensageiros químicos batizados de neurotransmissores. Ele simplifica a abordagem dizendo

que existem duas classes de neurotransmissores: os excitatórios (como o glutamato) e os

inibitórios (como o ácido gama-amino-butírico-GABA). Existem ainda outros tipos de

neurotransmissores que podem ser excitatórios ou inibitórios, dependendo do tipo de receptor

que responde ao estímulo. A dopamina, no caso, tem essas características mistas. Esse

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mesmo autor atribui a importância da dopamina na DP em função da responsabilidade que

esse neurotransmissor tem no funcionamento dos gânglios da base. Explica o autor que os

gânglios da base são formados por estruturas cerebrais que influenciam as funções motoras

complexas e o planejamento de estratégias motoras. Os principais elementos dos gânglios da

base são:

− O estriado – caudado e putâmen;

− O globo pálido externo e interno (Gpe, Gpi);

− O núcleo subtalâmico; e,

− A substância negra.

Determinadas situações podem desencadear uma atividade exacerbada de vias excitatórias,

levando ao aumento da quantidade de cálcio dentro da célula – o que pode provocar o

surgimento de um processo químico que leva à morte de células. Esses fenômenos,

conhecidos como excitotoxicidade, não parecem ser os desencadeores da DP,

especificamente. Entretanto, há alguma chance de que a mesma seja determinada por

combinações de vários processos semelhantes, ou de ainda outros não conhecidos até o

momento.

De acordo com Sacks (1997), o primeiro a utilizar a levodopa foi George Cotzias, e ele

mesmo a considerou uma droga “milagrosa”. Daí pode-se imaginar o efeito impressionante

que essa droga produziu, revertendo a acinesia dos pacientes com parkinsonismo grave e

crônico. A levodopa não foi a primeira droga empregada no parkinsonismo, mas foi ela quem

diminuiu, ou (quase) acabou, com a acinesia dos pacientes que se adaptaram à droga

satisfatoriamente. Outras drogas foram utilizadas, já em 1869, por Charcot, como as

anticolinérgicas (a primeira foi a hiosciamina), mas estas só agiram na diminuição do tremor e

da rigidez, enquanto a levodopa age de forma muito satisfatória na redução da bradicinesia ou

acinesia. A amantadina, um medicamento anti-viral que geralmente é utilizado em associação

à levodopa, tem seu mecanismo de ação no parkinsonismo por meio da inibição da reabsorção

de dopamina ou aumento de sua liberação. Parece que atua facilitando a liberação de

catecolaminas (a dopamina é uma catecolamina).

Entretanto, o tratamento com a levodopa apresenta uma complicação. São os chamados

efeitos colaterais, movimentos involuntários, e o efeito “on-off”, que é uma breve melhora

seguida por um retorno repentino dos sintomas. É comum que, com a continuidade do

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tratamento, o efeito “on” seja cada vez mais breve. Inibidores da monoaminoxidase (Imao- B)

como selegilina são utilizados quando existe resposta diminuída à levodopa e parecem

retardar a evolução da doença.

A EPDA define como “período on” o tempo em que o medicamento contendo levodopa (L-

Dopa) está trazendo efeitos positivos para o doente de DP, e seus sintomas sendo controlados.

Já o “período off” é chamado aquele intervalo em que a medicação que contém levodopa já

não está surtindo o mesmo efeito favorável de semanas atrás, e os sintomas reaparecem, como

a acinesia e a bradicinesia. Neste momento, quando o “período off” acontece, o paciente entra

na fase de wearing-off, definido pela EPDA como a deterioração do efeito do final da dose.

É quando o paciente começa a sentir que a melhora obtida com a ingestão de levedopa

diminui, gradualmente, e já não dura até a hora em que ele tomará outra dose. Nestes

momentos o paciente começa a sentir que necessita da próxima dose mais cedo.

O atraso no “período on” é explicado pela Associação Européia de Doença de Parkinson

como o fenômeno que acarreta em uma demora maior até que o paciente perceba os efeitos

benéficos que a administração da levodopa o traz. Este processo é mais comum nas

preparações de liberação lenta da levodopa, que levam um tempo maior até que a droga se

dissolva no estômago, entre na corrente sangüínea e chegue ao cérebro em quantidades

suficientes para repor a falta comprometedora de dopamina. Já o fenômeno “on-off”, também

observado, apresenta alterações súbitas, às vezes imprevisíveis, nos sintomas, variando entre a

mobilidade (usualmente com discinesia) e a imobilidade decorrente do retorno aos sintomas

da DP. Estas flutuações súbitas podem não ter relação aparente com os horários em que é

aplicada a medicação.

A discinesia é uma terminologia utilizada pelos pesquisadores para descrever os movimentos

anormais, de torção e giro do corpo, que em alguns momentos lembram passos de dança, e

que aparecem após tratamento prolongado com levodopa. Tais movimentos involuntários

são, freqüentemente, associados aos picos de efeito da levodopa e geralmente aparecem

concomitantemente com o wearing-off. Já a distonia é descrita como contrações musculares

involuntárias que se mantém por algum tempo, trazendo como conseqüências posições ou

posturas anormais, mais comuns nos pés. A distonia tanto pode ocorrer nos períodos “ligado”,

quando a pessoa está tendo mobilidade, como nos períodos “desligado”, quando ela está

relativamente imóvel, ou mesmo em ambos. A distonia matinal está relacionada às cãibras

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musculares que acontecem nas primeiras horas da manhã, antes da primeira dose da

medicação.

Limonge (2001) diz que, seja qual for a causa primária da DP, sabe-se que ela ocorre quando

há perda de, pelo menos, 50% das células da “substância negra”, o que corresponde à perda de

80% da dopamina que chega ao estriado. A dopamina influencia de modo fundamental no

funcionamento desse circuito, facilitando a via direta e inibindo a indireta. Na medida em que,

na DP, ocorre a deficiência de dopamina, a direta, que normalmente facilita o movimento, fica

inibida e a via indireta, que é por natureza inibitória, torna-se ativada. O resultado desse

desequilíbrio se manifesta, clinicamente, na dificuldade em iniciar movimentos – acinesia –

lentidão na execução dos movimentos – bradicinesia – incapacidade de executar movimentos

automáticos, dificuldade para realizar seqüências motoras complexas, entre outras

ocorrências.

De acordo com a EPDA, as flutuações motoras que levam e trazem, periodicamente, o

wearing-of”, estão relacionadas a uma combinação de fatores. Nos estágios iniciais da DP, a

capacidade do cérebro de armazenar levodopa e dopamina permite uma liberação mais

constante de dopamina, fazendo com que o cérebro funcione de maneira adequada, e surtindo

um efeito clínico mais estável. Neste estágio, tanto o doente como sua família crêem que a

patologia está sob controle. No entanto, na medida em que a DP evolui, o número de células

de dopamina entra em processo de diminuição, limitando cada vez mais o cérebro no trabalho

de captação de levodopa e armazenamento de dopamina. Quando isso acontece, os médicos

dizem que o cérebro perdeu sua capacidade de armazenamento.

Diante deste quadro, as variações dos níveis sanguíneos de levodopa são, comumente,

associadas a uma variação no controle dos sintomas – é quando começa a acontecer o

fenômeno denominado wearing-off. Assim, a atual capacidade medicamentosa demonstra que

os benefícios a longo prazo do tratamento com levodopa só podem ser intensificados com a

manutenção de níveis mais estáveis de levodopa na corrente sangüínea, permitindo a

conseqüente redução das variações de levodopa e de dopamina, a fim de proporcionar ao

cérebro uma “estimulação dopaminérgica contínua”.

A EPDA identifica o interesse da comunidade médica pelo tratamento cirúrgico da DP, como

tendo sido renovado nos últimos anos. Tal interesse se explica pelo desenvolvimento do

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aparelhamento técnico avançado, que vem permitindo uma visualização cada vez maior das

imagens do cérebro, assim como técnicas cirúrgicas mais avançadas. A estimulação cerebral

profunda continua a ser, nos dias de hoje, o principal tratamento cirúrgico para a DP. Em

alguns casos, pode produzir resultados impressionantemente bons, não obstante a necessidade

de serem os candidatos cuidadosamente selecionados, uma vez que nem todos são adequados

para a estimulação cerebral profunda. De qualquer forma, os que mais se beneficiam são os

mais jovens e os que apresentam flutuações motoras após um tratamento de vários anos com

levodopa, mas que ainda demonstram boa resposta à levodopa durante pelo menos uma parte

do dia.

Para Limonge (2001), a levodopa ainda é a droga mais eficaz para o alívio dos sintomas

parkinsonianos, embora ela nem sempre seja indicada para aplicação nos estágios iniciais da

doença. Nesta fase, a maioria dos especialistas dá preferência ao tratamento com drogas

menos potentes, a fim de reservar a levodopa para os estágios mais avançados da

enfermidade. A levodopa é um aminoácido, precursora da dopamina que, quando sofre a ação

da enzima dopa-descarboxilase, dá origem à dopamina. Assim, o princípio básico do

tratamento da DP está na ingestão extra de levodopa, o que aumenta os níveis de dopamina no

cérebro.

Geralmente, continua Limonge (2001), nos primeiros quatro ou cinco anos de tratamento com

levodopa, o paciente de DP tem os seus sintomas controlados com relativa facilidade. Porém,

depois deste tempo alguns pacientes apresentam complicações no tratamento. À medida que a

doença progride, e mais células cerebrais degeneram, o cérebro começa a perder a capacidade

de armazenar dopamina em níveis satisfatórios, tornando o efeito da levodopa

progressivamente menor. É chegada, então, a hora em que se manifesta o fenômeno de

“deterioração do fim da dose”, ou, como chama a comunidade americana, o wearing-off. Este

é o momento em que o médico reduz o intervalo entre as doses de levodopa. No entanto, esta

não é a única providência a ser tomada. Os níveis de dopamina vão diminuindo em intervalos

cada vez menores, o que leva o médico a introduzir outras medicações, além da levodopa.

Entre outras complicações que, com o tempo de aplicação de levodopa, o organismo começa a

manifestar, está a discinesia, descrito por Limongi (2001), como movimentos involuntários

anormais de natureza contínua, que podem atingir os membros, o tronco ou a face, e lembram

os movimentos da Coréia. As discinesias podem ocorrer em várias situações, sendo que a

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mais fácil de ser corrigida é quando elas são provenientes do excesso de levodopa, o que

ocasiona a estimulação excessiva dos receptores de dopamina. Nestes casos, basta reduzir a

ingestão de levodopa para superar a manifestação indesejável.

Entretanto, na maioria dos casos, a situação é mais complicada, quando as discinesias

decorrem de alterações na forma como os receptores reagem à dopamina. Nestas ocorrências,

a resolução dependerá de ajustes mais complexos que envolvem a reorganização total da

medicação, da quantidade de levodopa ingerida diariamente, e da associação com outros

medicamentos. Esta é uma fase muito difícil do tratamento, sendo necessário o contato quase

que diário com o neurologista, em razão de serem necessários, invariavelmente, ajustes

constantes na posologia da medicação.

Para explicar melhor o que acontece quando o organismo já está “acostumado” com a

ingestão freqüente de levodopa, os pesquisadores mostram que, uma vez no organismo, ela

começa a ser degradada por duas enzimas, a dopa-decarboxilase periférica (DDC), e a

catecol-O-metiltransferase (COMT). A aplicação de um inibidor da DDC, em conjunto com

doses de levodopa, tem sido realizada com sucesso na conversão de levodopa em dopamina

na corrente sanguínea, permitindo que maiores quantidades de levodopa cruzem a barreira

entre o sangue e o cérebro e sejam convertidas em dopamina no cérebro (ASSOCIAÇÃO...,

2005).

A ingestão de um inibidor da DDC vem obtendo sucesso na intenção de garantir a chegada de

uma quantidade maior de levodopa ao cérebro, e ainda reduz alguns efeitos colaterais, tais

como náuseas, e vômitos, que eventualmente ocorrem quando o paciente está com dopamina

em altos níveis na corrente sangüínea. Os inibidores da COMT bloqueiam a caminhada da

outra enzima que remove a levodopa antes que ela chegue ao cérebro. Esses inibidores foram

desenvolvidos nos anos 90, e proporcionam, por algum tempo, uma exposição mais natural e

estável do cérebro à levodopa, aumentando assim o tempo de duração dos efeitos da

medicação para um melhor e maior controle dos sintomas da DP.

Entretanto, o que acontece é que as limitações, já conhecidas, do uso prolongado à base de

levodopa levam os médicos, em alguns casos, a adotar outros medicamentos desde o início do

tratamento da DP, que são chamados de agonistas da dopamina São exemplos destes

medicamentos a selegilina e a amantadina, entre outros agonistas da dopamina, cuja utilização

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geralmente não se associa a estes problemas. Porém, é preciso lembrar que os agonistas da

dopamina somente surtem efeito nos estágios iniciais da doença, ou conjugados para o

tratamento dos movimentos involuntários, as discinesias.

Novos agonistas da dopamina têm surgido no meio farmacológico, representando outras

opções terapêuticas. No entanto, na medida em que a levodopa continua sendo,

indiscutivelmente, a melhor droga para o controle dos sintomas da DP, o tratamento com ela

permanece necessário, ainda que em adição a um agonista da dopamina ou como um

substituto deste. Nos pacientes mais idosos, por exemplo, os agonistas da dopamina não

surtem efeito, assim como nas pessoas com problemas de memória ou distúrbios

psiquiátricos, ou ainda quando já existe um comprometimento fundamental das funções

motoras, tornando absolutamente necessária a prescrição da levedopa.

Outros tratamentos para a DP que não afetam diretamente a dopamina incluem as drogas

“anticolinérgicas”, que inibem a ação de um outro neurotransmissor, chamado acetilcolina,

existente em equilíbrio com a dopamina no cérebro sadio. Na DP, a acetilcolina entra em

processo de maior ação, em função da perda de dopamina. Os anticolinérgicos podem ajudar

a restabelecer este equilíbrio, mas são menos efetivos do que os tratamentos dopaminérgicos

(os que repõem dopamina no cérebro).

A EPDA considera que os níveis flutuantes de levodopa no sangue, bem como no cérebro,

que são examinados nos estágios mais avançados da DP, alteram os circuitos internos do

cérebro. Tais alterações mudam o modo como o cérebro processa as informações e termina

por provocar o desenvolvimento de movimentos anormais. A discinesia, por exemplo, pode

ser melhorada através da manutenção de níveis estáveis de levodopa na corrente sangüínea, de

modo a reduzir as variações, tanto de levodopa, como de dopamina no cérebro,

proporcionando uma “estimulação dopaminérgica mais contínua” (ASSOCIAÇÃO..., 2005,

p.9).

Dessa forma, os pesquisadores entendem que, proporcionando-se uma estimulação

dopaminérgica mais contínua, o desenvolvimento de complicações do tratamento a longo

prazo, a exemplo do wearing- off e da discinesia, possam ser adiados. Este é o método de

conseguir uma melhoria do tratamento com levedopa através da prescrição de níveis mais

estáveis da droga, em doses menores de cada vez. Esta medida é conhecida como

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fracionamento, ou utilização de liberações da levedopa de forma mais controlada, a fim de

conseguir uma duração mais longa de sua permanência no cérebro. Entretanto, a estratégia de

ingestão da levedopa em doses menores não atingiu o resultado esperado no tratamento

rotineiro, verificando-se uma produção dopaminérgica indiferente ao modo diferenciado de

tratamento com a levedopa, bem como uma indiferença nos registros de retardo do

desenvolvimento de flutuações e discinesias.

Por todos estes aspectos, de acordo com a EPDA, é muito importante que o paciente seja

informado, através de seu médico, sobre a influência que a dieta pode exercer sobre a

levodopa. Apesar da absorção da levodopa se dar melhor no estômago vazio, alguns pacientes

se queixam de incômodo gástrico, razão pela qual os médicos passam a recomendar a ingestão

do medicamento associado a algum alimento, mesmo que seja somente um copo de leite.

Entre as razões que determinam a interferência da levedopa no funcionamento do organismo,

uma delas refere-se ao fato de que a proteína dos alimentos pode retardar a chegada da

levodopa ao cérebro. Isto acontece porque as proteínas são quebradas em moléculas menores

chamadas de aminoácidos, que podem “competir” com a levodopa, uma vez que esta também

é um aminoácido, no caminho do interior do tubo digestivo até a corrente sangüínea e da

corrente sangüínea até o cérebro.

A EPDA investe ainda na pesquisa sobre a aplicação de infusão contínua da levedopa no

organismo (como por exemplo, por via intravenosa ou parenteral). Esta ainda é uma forma

experimental de proporcionar níveis sanguíneos mais suaves e uma liberação progressiva da

medicação no cérebro. Tal técnica já está sendo considerada bem-sucedida em um pequeno

número de pacientes experimentados, o que indica que uma estimulação dopaminérgica a

contento é possível com a levedopa, embora não seja uma abordagem muito prática. Alguns

estudos focalizaram, indiretamente, os efeitos dos antagonistas da dopamina ropinirol e

pramipexol sobre o cérebro de pacientes com DP. Tais técnicas de exame por imagem têm

condições de analisar, indiretamente, aspectos funcionais das células de dopamina no cérebro,

trazendo “luz” para a porção do cérebro conhecida como corpo estriado. No cérebro sadio, o

corpo estriado se apresenta bastante luminoso, enquanto na DP o paciente vê imagens mais

apagadas.

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Surpreendentemente, as imagens do cérebro de pacientes tratados com agonistas da dopamina

como ropinirol e pramiexol pareceram acender mais intensamente do que nos pacientes que

tomam levodopa. A verdade é que não há, até o momento, evidências suficientes que

demonstrem se as diferenças citadas estão relacionadas com a mobilidade, qualidade de vida

ou expectativa de vida na DP. Novas pesquisas estão sendo realizadas a fim de que médicos e

pesquisadores consigam confirmar se os agonistas da dopamina realmente protegem o

cérebro, com resultados efetivamente benéficos para o paciente. Apesar desses obstáculos, é

mister destacar que os tratamentos para a DP vêm sendo, continuamente, aperfeiçoados.

Novas informações vêm sendo disponibilizadas para médicos e pesquisadores e, na medida

em que os estudos evoluem, como conseqüência natural surgem novas formas de tratamento.

As substâncias químicas presentes no cérebro que recebem a denominação de “fatores de

crescimento”, e que têm como função ativar o crescimento ou proliferação das células, têm

também sido estudados para aplicação no tratamento da DP. Estudos preliminares com um

desses fatores de crescimento, chamado de fator neurotrófico (relacionados aos distúrbios de

nutrição dos tecidos nervosos), feitos com cinco pacientes parkinsonianos, foram

recentemente divulgados e demonstraram resultados promissores. Neste momento, tais

resultados estão sendo confirmados em um estudo experimental maior e controlado (EPDA,

2005). Assim, as pesquisas têm sido intensificadas no sentido de identificar outros

medicamentos que previnam ou, pelo menos, desacelerem o processo de degeneração das

células nervosas, não obstante o fato de que estas pesquisas ainda não têm alcançado

resultados a contento.

De posse do conhecimento de que os primeiros sintomas da DP aparecem somente quando os

níveis de dopamina no cérebro caem abaixo de 20% do normal, os pesquisadores procuram

também identificar potentes portadores da doença, antes que os sintomas efetivamente se

manifestem, a fim de interromper ou tornar, o mais lento possível, a degeneração motora

nesses indivíduos, ainda antes que ela comece a aparecer.

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5 OS TRATAMENTOS DISPONÍVEIS PARA A DOENÇA DE PARKINSON

Ah, se, como levas as folhas e a areia,

A alma que tenho pudesses levar - Fosse pr'onde fosse, pra longe da idéia

De eu ter que pensar! Meu coração triste, meu coração ermo,

Tornado a substância dispersa e negada Do vento sem forma, da noite sem termo,

Do abismo e do nada!

Fernando Pessoa

O diagnóstico da Doença de Parkinson, para qualquer ser humano representa um momento de

dor e angústia agudas, seja qual for a estrutura emocional do paciente. Ele implica uma gama

de mudanças e providências a serem tomadas, em vários aspectos que, naturalmente trazem,

tanto para o enfermo, como para seus familiares, sentimentos difusos e complexos, aliados à

preocupação com o futuro. Questões como “quem vai cuidar”, “o que conseguirei fazer

sozinho”, “o quanto terei de depender de outros”, “quanto tempo ainda terei de vida”, e,

principalmente “como será a minha vida daqui para frente”, confrontam o parkinsoniano no

momento em que ele está sob o impacto da notícia. É justamente a partir desta hora que

diversas mudanças terão de ser feitas, que terapias, medicações e cuidados especiais terão de

ser introduzidos, e que o papel dos familiares se torna fundamental para a minimização do

sofrimento do paciente.

Segundo a EPDA (2005), o diagnóstico de DP traz para o paciente sensações e emoções

conflitantes, variando entre a descrença e negação até o medo, a ansiedade e a tristeza

profunda. Ao mesmo tempo em que alguns podem se sentir aliviados por ter sido identificada

a sua patologia, outros se desesperam com a expectativa do grau de dependência que terào de

outras pessoas, nos níveis das barreiras físicas, logísticas, emocionais e mesmo financeiras. A

Associação, por estes e outros motivos, recomenda que o parkinsoniano tenha o máximo de

conhecimento possível a respeito de sua doença, conversando bastante com sua equipe de

médicos, buscando informações na literatura e em sites da Internet, freqüentando grupos e

associações de portadores de Parkinson existentes em suas cidades, etc, a fim de que possa

atingir um nível ideal de controle e domínio sobre a questão, o que o tornará mais apto a lidar

com ela.

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5.1 A AJUDA TERAPÊUTICA

Esta é, sem dúvida, aliado à prescrição dos medicamentos necessários, uma das primeiras e

absolutamente necessárias experiências a serem vivenciadas pelo parkinsoniano, no sentido de

evitar a depressão, o sentimento de inutilidade, e as reações negativas a cada tentativa

frustrada de realizar uma AVD, o que é comum e que faz parte da realidade da doença.

A EPDA trabalha no sentido de fortalecer a auto-estima do parkinsoniano, através do

aconselhamento básico a respeito da psicologia a ser aplicada desde o diagnóstico, e durante

toda a evolução da patologia. Assim, alguns dos conselhos e dicas fundamentais, colhidos

diretamente por pacientes e publicados nos boletins da EPDA são os seguintes:

− “Procure não ficar obcecado com a doença e só pensar no que pode acontecer com

você no futuro” – declaração de um parkinsoniano inglês, Terry Kavanaug.

− “É realmente muito importante não se considerar um inválido somente porque

você tem a Doença de Parkinson. Tente manter o seu nível de independência em

todas as áreas da vida o maior tempo possível” – Paul King, Portugal.

− “A cada 3 ou 4 semanas eu faço uma anotação muito detalhada em um diário. Isso

ajuda a monitorar como eu me sinto e a identificar e afastar coisas que não ajudam

as minhas medicações” – David Jones – Reino Unido.

− “Descubra e adapte-se aos seus sintomas diariamente – aceite as mudanças no seu

ritmo diário como parte de sua vida. Compreenda que os seus sintomas

provavelmente mudarão com o tempo à medida que a sua condição progride e

tente não se alarmar com essas mudanças.” – Irma King, Portugal.

− “Não há segredos – você pode conviver bem com a Doença de Parkinson se

receber os cuidados e o tratamento correto, nas doses certas. É importante tomar

cuidado para garantir que suas medicações sejam ‘usadas’pelo seu corpo

corretamente” – Mats Lewander, Suécia.

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− “Os exercícios, a meditação e técnicas como a ioga, a técnica de Alexander1 e a

massagem com movimentos são muito importantes para o meu controle da doença.

Em particular, trabalhar com pessoas que tenham um conhecimento específico

sobre a forma como os músculos são afetados por doenças degenerativas, por

exemplo, a técnica de Alexander, realmente ajuda a saber como contrair e relaxar

os músculos” – June Hall, Reino Unido.

− “Procure manter o relacionamento com a sua família e amigos próximos o mais

natural possível e não deixe a Doença de Parkinson prevalecer – Mats Lewander,

Suécia”.

Julgou-se pertinente a citação de alguns depoimentos de enfermos de DP, no sentido de

mostrar à comunidade médica e acadêmica os limites e a tolerância que o ser humano é capaz

de suportar em relação à doença. Adiante, o trabalho continua a focalizar as vertentes

fisioterápicas disponíveis hoje no mundo para o tratamento da DP em seu sentido motor e,

conseqüentemente, psicológico, pois é evidente que, quanto mais tarefas o parkinsoniano

consegue realizar sozinho, maiores são as chances de proteger sua auto-estima contra o

comprometimento que a doença pode trazer.

5.2 A FISIOTERAPIA E O TRABALHO CORPORAL

Quando você anda junto comigo, sinto em mim o poder de andar que há em você. Eu compartilho do poder e da liberdade que você tem. Participo de sua capacidade de andar, de suas percepções, de seus sentimentos, de suas existência. Sem saber, você me dá um presente grandioso. (SACKS, 1997).

Tiengo (2002, p.12) relata que o fantasma da morte, que experimenta o parkinsoniano,

principalmente o pós-encefalítico, leva o indivíduo a uma necessidade de fusão, misturando-o

com outros e com o mundo. Segundo a autora:

Isto também nos remete ao sentido de pertinência e de comunhão de que o parkinsoniano necessita. O sujeito precisa do contato com outro ser humano, e isto é

1 Criada por Frederick Alexander, um ator australiano, baseia-se na crença fundamental de que os movimentos e a postura correta do corpo, levam ao bem estar físico e psicológico. A técnica possibilita diferenciar o esforço descontrolado e desnecessário da liberdade natural de movimentos, permitindo que o corpo funcione em condições mais favoráveis. (BROWN, 1997)

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essencial. O toque é necessário para que o movimento e a percepção ocorram , o contato com outra pessoa pode proporcionar o resgate não só do movimento, mas também do “eu” que se encontra regido pelo subcórtex, pelo impessoal. O contato, tomando para si o tônus, a emoção, as sensações, calor, o corpo do outro, pode possibilitar para o sujeito parkinsoniano libertar-se da escravidão subcortical e vivenciar a autonomia cortical. Desse modo, a fusão, para o parkinsoniano pode ter, no princípio, a sensação de perda de identidade e do “eu, e mais tarde, uma forma de resgate desse “eu” aprisionado. Portanto, quando chamamos o parkinsoniano de volta ao movimento, o chamamos de volta à vida.

Piemont (2001 apud ÂNGELO, 2001), fisioterapeuta e pesquisadora da USP vem

desenvolvendo um tratamento junto aos parkinsonianos baseado em uma estratégia

estranhamente “suicida” para qualquer especialista em computação: ela está reprogramando

os cérebros dos pacientes manualmente. A profissional está utilizando-se da chamada

“memória declarativa” (consciente) dos pacientes, e que não é afetada pela DP, para auxiliá-

los a “arquivar instruções para a realização de movimentos simples, como levantar da cama e

abotoar a camisa.” As pessoas “normais” executam essas atividades de forma quase que

inconsciente, de maneira automática, e o que acontece é que elas nem tomam conhecimento.

Para o paciente de DP, no entanto, passa a ser valorizado cada passo no sentido de completar

uma tarefa cotidiana, tal como levantar um zíper, justamente porque a DP interfere de modo

negativo na região do cérebro onde ficam guardadas as informações sobre a execução, ou a

memória “processual.”

Assim, em sua dissertação de mestrado, Piemont (apud ÂNGELO, 2001, p.1), também

utilizou a técnica de back-up das informações do arquivo das atividades cotidianas guardadas

na memória do parkinsoniano – no caso, a memória declarativa ou consciente. Na medida em

que regiões do cérebro como o córtex (responsável pela consciência cognitiva) não são

atingidas pela DP, Piemont experimentou lançar mão de técnicas auxiliadas pelo córtex para

permitir que o paciente de DP aprenda novamente, agora de forma verbal, os processos de

execução de atividades que, antes, eram armazenadas na memória processual. Assim, a

fisioterapeuta realizou uma experiência de dividir quatro tarefas (levantar da cama, vestir a

camisa, abotoar e andar) em unidades mínimas de movimento, fazendo com que os pacientes

decorassem cada uma delas.

O procedimento incluía passar uma lista de movimentos que compunham cada gesto, como

dobrar as pernas, virá-las para o lado, virar a cabeça e o tronco para o lado e, finalmente, jogar

as pernas para fora da cama. As sessões de fisioterapia promovidas por Piemont incluíam a

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verificação de que cada movimento, ensinado e passado para 17 pacientes, havia sido

decorado e que realmente tentavam executar os movimentos repetidas vezes. A pesquisadora,

através de sua técnica de repetição, pôde atestar as respostas de grande valia que a

memorização consciente de cada movimento pode representar na rotina do paciente de DP.

Ela é totalmente a favor do auxílio fisioterápico no tratamento da DP e diz que, embora ainda

não haja cura para a doença, a qualidade de vida e a independência dos pacientes podem ser,

em muito, aumentadas através da fisioterapia.

Sitta (2001 apud LIMONGE, 2001), atesta a importância de que o paciente tenha sua vida o

mais independente possível de outras pessoas, dependendo do estágio em que se encontra sua

doença, é absolutamente imperioso que o doente tenha persistência, que persevere nos

exercícios, que se conscientize de que cada passo dado por si mesmo, literalmente, representa

uma vitória sobre os obstáculos que a DP se lhe apresentam. Para a autora, isto significa

“manter o auto-respeito”.

A EPDA (ASSOCIAÇÃO...,2005) enfatiza que a fisioterapia, particularmente a técnica de

Alexander, a ioga ou o Tai Chi, são exercícios bastante benéficos para as pessoas com

distúrbios de mobilidade. As regiões do cérebro responsáveis pela memória consciente, como

o córtex, não são atingidas pela DP, por isso o aprendizado verbal é um excelente recurso para

lembrar ao paciente, por exemplo, como deve proceder para andar, se virar na cama,

executando o movimento de uma forma consciente. Sendo assim, ainda que ele não consiga

realizar funções banais de forma quase involuntária, como fazemos no dia a dia, pode ser

requerido ao paciente que pense a respeito de cada movimento, já que os automáticos ou

inconscientes estão prejudicados, ou se perderam. Desse modo, é possível conseguir dele um

conhecimento sedimentado através do exercício da repetição.

Sitta (2001 apud LIMONGI, 2001) diz que a fisioterapia é uma área de saúde fundamental,

tanto no campo da reabilitação como também na prevenção de várias doenças. A autora

exemplifica a cinesioterapia, ou terapia dos movimentos, como o melhor recurso para o

tratamento físico da DP. Existem ainda outros métodos que podem ser utilizados na melhoria

dos movimentos do parkinsoniano. Entre eles a Reeducação Postural Global- RPG, também

chamado de método do Campo Fechado, desenvolvido no início dos anos 70 pelo francês

Philippe Souchard. O método se baseia no princípio básico de reorganização das cadeias

musculares, visando o bom funcionamento do conjunto. O método de Pilates, objeto de

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pesquisa do presente estudo, mostrou-se uma alternativa no tratamento cinesioterápico do

idoso Parkinsoniano. Uma descrição mais detalhada do método será feita no capítulo seguinte.

O importante no tratamento fisioterápico do parkinsoniano é estimular seus movimentos que,

em graus variáveis, apresentam certa rigidez e/ou tremores. A lentidão dos movimentos

também se acentua com a doença, e o objetivo da fisioterapia é dar subsídios para que o

paciente possa fazer o máximo que puder de suas AVDs sozinho, mesmo que leve mais

tempo para isto.

Os fisioterapeutas são unânimes em afirmar que a única forma de garantir independência para

o doente de DP é utilizar os músculos e articulações. Quanto menor for a prática maiores as

chances de rigidez nas articulações, e de perda de força nos músculos, que também começam

a sofrer retração. É imperativo cercar-se de total segurança para a realização adequada dos

exercícios. Quando o paciente apresenta problemas de equilíbrio relevantes, ao realizar

exercícios de pé deve manter os pés bem separados. Se o comprometimento do equilíbrio for

mais significativo, é recomendável que os movimentos sejam feitos com o paciente sentado.

Sitta (2001 apud LIMONGE, 2001) transmite alguns conselhos básicos aos doentes e seus

fisioterapeutas. O primeiro, e básico, é o de que a fisioterapia deve começar imediatamente

após o diagnóstico. Não há tempo a perder. Assim, alguns procedimentos são recomendados,

como os descritos a seguir:

− Tentar relaxar antes e durante os exercícios e deixar tempo suficiente para

completá-los;

− Escolher o horário em que o paciente se sente melhor – geralmente pela manhã,

cerca de 40 minutos após o desjejum e a ingestão dos medicamentos prescritos

para este horário;

− O tempo reservado aos exercícios deve ficar em torno dos 15 a 30 minutos, sem

excessos, pois a fadiga pode prejudicar tanto quanto a falta de exercícios;

− Mister é prestar detalhada atenção ao procedimento fisioterápico indicado, a fim de

praticar o exercício de maneira correta;

− Começar os exercícios sempre do mais simples para o mais complicado,

dominando cada um deles completamente.

− Praticar cada exercício de duas a três vezes, até chegar a dez; e,

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− Ao final da sessão, é importante alongar e dedicar tempo para um relaxamento

total do corpo e da mente.

Limonge (2001) dedica especial atenção à marcha do parkinsoniano. Ele aconselha o paciente

de DP a caminhar diariamente, aumentando a distância de forma gradual. Embora o autor

reconheça que esta é uma das atividades mais difíceis para o parkinsoniano, reconhece

também que é exatamente por isso que caminhar é um dos melhores exercícios para o

mesmo. Porém, ele ressalta sobre os perigos de festinação, quando os passos vão-se tornando

menores e mais rápidos, e a postura corporal passa a tender para frente, ou o oposto, o

congelamento, que é quando o paciente sente os pés se prendendo no chão, impedindo-o de

prosseguir a marcha. Nestes casos, o fisioterapeuta deve auxiliá-lo e orientá-lo nas

providências a serem adotadas, a fim de que estas manifestações sejam evitadas.

O alongamento constante é também de suma importância, no sentido de melhorar, a cada dia,

a postura do parkinsoniano que, invariavelmente, está fletida. É preciso estar sempre se

policiando a respeito da própria postura, olhando-se no espelho de perfil, assumindo uma

postura ereta e então dando uma volta pela casa. Ao retornar para o mesmo espelho, notará

que a postura se flexionou para frente, de forma involuntária. Neste momento, é hora de

alongar-se. A negligência na prática de exercícios de alongamento pode levar ao

encurtamento dos músculos, o que, com o tempo, fazem com que as articulações percam a

amplitude dos movimentos. Dessa forma, é imprescindível que o trabalho corporal inclua uma

gama importante de movimentos de alongamento.

Outros dois fatores são de extrema importância dentro do trabalho corporal a que o doente de

DP deve atentar: a postura e o tremor. Quanto à postura, Sitta (2001 apud LIMONGE, 2001)

ressalta que, apesar de o paciente não perceber, sua família e/ou cuidadores notam que sua

postura está fletida, geralmente para frente. Este é um exercício que deve ser constante na

vida do parkinsoniano: estar atento o tempo todo para corrigir sua postura, tornando-a ereta

sempre que perceber que esta se flexionando para frente. O tremor é outro fator de grande

incômodo para o doente de DP: ele pode interferir em atividades básicas do dia-a-dia, como

segurar uma xícara, um garfo e uma faca, partir um bife, vestir-se, abotoar uma camisa ou

subir um zíper. Quanto a este problema, a autora sugere que o paciente exercite a técnica de

pressionar o cotovelo afetado do lado do corpo para estabilizar o braço. A partir daí, então,

ele deve fazer o movimento, com a maior rapidez possível, utilizando sua mão.

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Segundo Bittencourt (1999), a maior parte dos pacientes com DP apresenta uma interação

inadequada dos sistemas responsáveis pelo equilíbrio corporal, que são os sistemas

vestibulares, visuais e proprioceptivos. Estas alterações trazem como conseqüência a

necessidade que os pacientes manifestam de deslocar seu centro de gravidade para frente,

tornando-se inaptos a realizarem movimentos compensatórios para readquirir equilíbrio e,

assim, sofrendo quedas freqüentes. Para identificar o grau de festinação de um paciente o

autor, que é neurologista, recomenda a utilização, dentro de um trabalho fisioterápico, de

programas de mensuração dos desequilíbrios apresentados através de uma imagem

denominada de fotogrametria. Ele afirma que este recurso, de origem grega, expressa a

aplicação da fotografia à métrica. Muitos dos conceitos interpretativos e metodológicos

fundamentais da fotogrametria cartográfica, utilizadas na agrimensura, foram aos poucos

sendo adaptados para o estudo dos movimentos humanos, dentre os quais estão os da

restituição das imagens, para um melhor julgamento do quadro clínico de cada paciente.

Schwab e Doshay (2002) são categóricos ao enfatizar a necessidade de que o paciente de DP

exercite, diariamente, os movimentos de flexão e extensão dos membros inferiores, ainda que

sem a obrigatória presença de um fisioterapeuta. Os autores enfatizam que a rigidez dos

músculos interfere na circulação dos pés e que, por este motivo, os pacientes tendem a

permanecer sentados por horas, o que acaba por inchar os pés, e assim tem-se um novo

problema. Dessa forma, elevar os pés diversas vezes ao dia, totalizando pelo menos meia

hora, também é muito útil.

Para Schwab e Doshay (2002) o exercício e a atividade física são a base da vida para os

músculos. Os músculos que não se movem correm o risco de se desperdiçarem ou se

atrofiarem, sendo substituídos pelo tecido da cicatriz que encurta os músculos, torcem as

junções fora da forma e conduzem-nas progressivamente às deformidades, às enfermidades e

às inabilidades próprias de pessoas incapazes fisicamente. O intuito global do exercício e da

atividade física inclui ainda a diminuição da fadiga, do stress ou da ansiedade, através da

liberação de endorfina. Os autores aconselham familiares e amigos a auxiliarem os pacientes

de DP a prosseguirem a vida com satisfação, chamando-os ao ajuste na família através da

participação em atividades coletivas de lazer em repouso, como jogar cartas ou outros jogos.

O importante é que o doente esteja sentado em torno do círculo da família, participando de

conversas com amigos e visitantes que vêm à casa. Tal integração requer uma supervisão por

parte dos familiares e/ou cuidadores, a fim de assegurar o conforto necessário a cada situação

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de integração social enquanto ela ocorre. Por exemplo, em um jogo de cartas não deve ser

solicitado ao parkinsoniano que embaralhe as mesmas, a fim de não expô-lo a sensações de

embaraço e decepção por não conseguir executar tão “banal” (para quem não tem DP) tarefa.

Os pesquisadores lembram ainda que a demonstração de sentimentos como piedade podem

ser devastadores para o moral do paciente de DP. Eles, assim como seus familiares, devem

entender que a agitação da Doença de Parkinson por si só não causa fraqueza ou a perda de

muitas habilidades motoras, à exceção dos movimentos mais finos com os dedos. O problema

mais grave que a doença traz é a rigidez muscular, esta sim a barreira maior para a atividade

motora. No entanto, a agitação incomoda muitos pacientes, principalmente quando eles são

muito conscientes de suas limitações e se sentem envergonhados quando observados em

público.

Por este motivo, dizem os estudiosos, cada esforço deve ser feito para aceitar a agitação sem

embaraços psíquicos, procurando aceitá-la e mesmo “brincar” com ela quando estão à vontade

com amigos ou familiares. É claro que isto requer, muitas vezes, um trabalho de psicoterapia

conjugado ao trabalho corporal. Porém, quanto mais consciência e conhecimento o paciente

tem a respeito de sua doença, maiores são as chances de que, com o tempo, ele se aceite com

suas limitações. Os exercícios respiratórios também se constituem em parte fundamental do

trabalho fisioterápico, em geral, junto ao parkinsoniano.

Sitta (2001 apud LIMONGI, 2001) lembra que os exercícios respiratórios devem ser

utilizados a cada intervalo entre um movimento corporal e outro, como forma de descanso. A

respiração profunda entre os exercícios traz também relaxamento, paz e gozo ao executar o

trabalho, além de auxiliar constantemente o paciente na concentração e no impedimento da

dispersão para outros pensamentos, e mesmo ações, que possam atrapalhar a continuidade do

trabalho. As posições laterais ou de costas são as mais indicadas para um perfeito relaxamento

aliado aos movimentos lentos e profundos de inspiração e expiração. A autora aconselha

ainda que o ambiente seja munido de uma luz difusa e de uma música suave.

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5.3 A CONTRIBUIÇÃO DOS FATORES ERGONÔMICOS

De acordo com Serrano (1993 apud PASCALE, 2002, p.66) “a ergonomia é uma ciência

multidisciplinar, que envolve estudos relativos a outras ciências como Fisiologia, Psicologia,

Antropologia, Sociologia, Antropometria e Biomecânica.” Para Pascale (2002. p.66):

[...] o campo de atuação da ergonomia é vasto e vai além do estudo da cadeira ou da altura da mesa, e também não é somente a avaliação do posto de trabalho. O conhecimento atualmente já acumulado na área expandiu-se para os diversos fatores da vida humana.

Para Wisner (1987):

[...] a ergonomia é o conjunto de conhecimentos científicos relativos ao homem e necessários para a concepção de ferramentas, maquinarias e dispositivos que possam ser utilizados com o máximo de conforto, segurança e eficiência.

No caso da população idosa, afirma Pascale (2002, p.68), principalmente da população idosa

portadora de algum tipo de patologia:

[...] o declínio e a redução de fatores como psicomotricidade, visão, audição, estatura e flexibilidade muscular influenciam nos dados da Antropometria (...) a aplicação da ergonomia ao projeto dos objetos e ambientes requer um melhor conhecimento entre as pessoas idosas.

Moraes (1993 apud PASCALE, 2002) enfatiza que a criação de um produto, seja um

equipamento ou um item do mobiliário, é de responsabilidade do ergonomista, sendo o foco o

usuário e o principal objetivo da visão ergonômica garantir que os produtos sejam fáceis de

usar, manusear, apreender, segurar ou qualquer outra utilização que tenha. Ergonomia e

antropometria são estudos que devem ser realizados em conjunto, pois os fatores ergonômicos

levam em conta, invariavelmente, as características pessoais do usuário final do produto.

Sendo assim, a antropometria, definida por Serrano (1993 apud PASCALE, 2002, p.67) como

“o estudo das medidas das várias características do corpo humano”, atua como disciplina de

apoio para a ergonomia, na medida em que trata de medidas físicas do corpo humano e seus

segmentos.

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Segundo Negreiros (2003), o conforto ambiental é uma área de pesquisa dentro da Arquitetura

que estuda as condições de temperatura, umidade, iluminância, acústica e relações espaciais,

objetivando criar ambientes especificamente propícios para o homem, segundo cada tipo de

construção e uso. Considerando-se o envelhecimento da população, os projetos de arquitetura

e o planejamento urbano começam, embora ainda mais vagarosamente do que a demanda

atualmente exige, a adequar-se a estas novas realidades, tornando-se compatíveis às

limitações comuns do idoso. A autora (p.136) enfatiza ainda que:

[...] a tarefa do arquiteto diante dessa situação não é fácil. De início, implica um estudo interdisciplinar para se conhecer melhor as alterações no metabolismo, estatura, locomoção, visão e audição, relativas ao processo do envelhecimento. Além de conciliar as necessidades dos usuários em determinada edificação com as condições ambientais do terreno e ainda com os diversos aspectos construtivos, temos de pensar no seu funcionamento futuro.

Assim, focalizando os aspectos ergonômicos, procura-se dar ênfase nesta abordagem, aos

aspectos relacionados ao ambiente físico do idoso, em especial aos portadores de doenças

degenerativas, como a doença de Parkinson, a fim de satisfazer suas necessidades específicas.

5.3.1 Ambiente físico

De acordo com Pascale (2002, p.42), pacientes com doenças degenerativas, como a DA ou a

DP, requerem mais tempo em cuidados específicos, de forma que o ambiente físico onde ele

vive deve ser especialmente preparado para acolhê-lo com conforto e sem riscos de acidentes.

Este ambiente, afirma a autora, deve permitir ao indivíduo a preservação do senso de

contribuição que ele pode dar às AVDs domiciliares, ainda que tenha flutuações em suas

habilidades.

Cohen e Weismann (1991 apud PASCALE, 2002, p.43) destacam que:

As atividades e modificações ambientais que contribuam par minimizar disfunções e maximizar as capacidades remanescentes poderiam também ser implementadas. Em particular, é importante prevenir o desenvolvimento de problemas secundários, tais como problemas físicos e psiquiátricos.

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Estudos e pesquisas propõem que um ambiente adequado para o portador de DP deve ser

projetado para evitar acidentes que possam comprometer sua condição física, e uma filosofia

terapêutica humanista, no sentido de valorizar o ser humano, reconhecendo que todos os

elementos do ambiente físico em que o parkinsoniano vive podem ter efeito positivo sobre sua

condição, na medida em que estes elementos sejam adequados à mesma. Coons (1991 apud

PASCALE, 2002).

Para Tamalsky (1993 apud PASCALE, 2002, p. 49), ainda hoje os espaços físicos são

considerados pelos projetistas como elementos técnicos, e não como meios humanos. Esta é

uma razão pela qual estes espaços ainda são considerados pouco adaptados às condições

particulares de indivíduos acometidos por doenças degenerativas. Dessa forma, considera o

autor, os projetistas devem estar atentos às novas demandas que o mundo moderno se lhe

apresentam, e “incorporar uma visão mais psicossocial dos espaços, objetivando melhor

interpretar os fenômenos sociais que se processam nestes.”

Assim, Cohen e Weismann (1991 apud PASCALE, 2002, p.51), bem como outros autores

estudiosos do assunto, são unânimes na opinião de que:

[...] o ambiente habitado por indivíduos com doenças degenerativas e por aqueles que o cuidam constitui um complexo sistema formado por componentes organizacionais físicos e arquiteturais, que interagem das diversas formas e caminhos.

A partir destas definições, passa-se, adiante, a citar outros componentes do ambiente físico

que devem ser especialmente preparados e oferecidos de forma a facilitar a movimentação do

paciente de DP, bem como permitir oportunidades de execução de suas AVD’s, da melhor

forma possível, e de interagir com a família e os demais indivíduos que compartilham de seu

ambiente físico.

5.3.2 Iluminação

Pascale (2002, p.70) destaca que os avançados em idade necessitam de iluminação específica,

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relativamente diferentes daquelas feitas para indivíduos mais jovens. Assim, diz a autora, os

“projetistas têm pela frente um grande desafio no entendimento da iluminação apropriada para

cuidados de longa duração.” É fundamental, afirma a autora, que sejam concebidos espaços

de cuidados especiais continuados, incorporando o máximo possível de luz natural, e

estabelecendo um equilíbrio com a luz artificial, além de serem recomendados pátios,

alpendres, varandas e sacadas, para encorajar os residentes a passar mais tempo na residência,

ou na instituição.

Brawley (1997 apud PASCALE, 2002) afirma que uma pessoa de mais de 67 anos necessita

duas a três vezes mais iluminação do que aos vinte anos, quando então a necessidade de

iluminação dobra a cada treze anos que se passam. Para Pascale (2002, p.73) os idosos:

[...] detestam claridade, quando na realidade sua visão é que não tolera o reflexo do brilho. Sendo assim, o reflexo do brilho pode ser controlado por cuidadosa seleção de revestimentos de coberturas para as paredes, pisos e tetos, bem como outros matérias de acabamento.

Sendo assim, em razão da freqüente indistinção entre as diferenças entre brilho e claridade,

entende-se, ainda que de forma um tanto confusa, os idosos não toleram claridade, quando o

que acontece realmente é que eles não toleram o reflexo do brilho. Dessa forma, o reflexo do

brilho deve ser controlado através de uma seleção criteriosa dos revestimentos e coberturas

para as paredes, pisos e tetos, a fim de auxiliar o idoso na manutenção do seu bem-estar.

Registre-se, ainda, a importância ao acesso da luz natural para o idoso, particularmente o

portador de DP, pois o sol “estimula os sistemas circadianos e neuro-endócrinos que regulam

a homeostase do organismo” (PASCALE, 2002, p.73).

5.3.3 Mobiliário

Sitta (2001 apud LIMONGE, 2001) alerta que a casa deve ser mobiliada e decorada de forma

a eliminar quaisquer riscos de quedas e acidentes com os portadores de DP. Dessa forma, o

piso não deve ser liso demais ou encerado, nem conter tapetes soltos, fios soltos pela casa, e

qualquer outro elemento que possa representar perigo para o paciente. A mobília deve ser

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disposta de forma a que haja bastante espaço de movimentação para o parkinsoniano e as

escadas, se houverem, devem conter corrimões dentro e fora da casa. Objetos e aparelhos de

mais fácil manuseio são também recomendados, tais como maçanetas especiais para portas,

telefones de tecla, ou com acessórios para viva-voz, e outros.

A cama do paciente de DP deve conter algumas características para facilitar sua mobilidade e

proporcionar maior conforto. O colchão não deve ser muito macio, o ideal é um semi-

ortopédico ou com densidade adequada à altura do doente. Para facilitar o deslocamento, os

lençóis devem ser de seda ou de cetim. Recomenda-se ainda que as camas sejam de solteiro,

porém com largura acima do padrão de mercado (as chamadas “camas de viúvo”), e longas

em seu comprimento.

Segundo Pascale (2002), o processo de envelhecimento físico, que inclui artrites, perda de

coordenação motora, processos reumáticos, fadiga, flacidez muscular, entre outros fatores, faz

com que qualquer movimento físico que exija maior esforço seja desconfortável, produzindo

uma natural rejeição a insistir naquele movimento, e diminuindo gradativamente mais e mais

a flexibilidade do corpo. A deficiência das funções neurológicas e motoras, além dos órgãos

de sentido, faz com que o idoso comece, aos poucos, a modificar sua postura, afastando os

membros inferiores para conseguir melhor equilíbrio e flexionando-se involuntariamente para

frente.

Pickler (1998 apud PASCALE, 2002) afirma que o decréscimo da força realizada pelos

músculos do joelho interfere diretamente na flexibilidade física, refletindo nas capacidades de

sentar, deitar, levantar, etc. Por este motivo tem-se como preocupação essencial, em termos de

ergonomia, que sejam produzidos assentos ajustáveis à altura do indivíduo e à função que ele

exerce. Pascale (2002, p.78), dá especial atenção à postura do indivíduo quando sentado. A

autora recomenda a utilização de cadeiras com “assentos em altura correta, encosto adequado,

estabilidade nos pés, e com braços para facilitar o movimento de entrada e saída da mesma.”

As cadeiras de balanço são recomendadas por especialistas no assunto. Eles explicam que

estes modelos de cadeira auxiliam a redistribuição e circulação da pressão entre o assento e as

costas do paciente, estimulando a circulação sanguínea. Além disso, o movimento do balanço

propicia um efeito tranqüilizante, e estimula o canal vestibular do ouvido, fornecendo um bom

senso de equilíbrio.

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5.3.4 Ruídos

Os ruídos também têm importância fundamental para os idosos, na medida em que indivíduos

com perda auditiva ficam confusos e assustados quando ouvem um barulho mais forte,

embora possam reagir benéficamente ao identificar a origem do mesmo. Entretanto, é

relevante lembrar que os problemas crônicos de saúde de um idoso, que tem como exemplo,

no caso do foco do presente estudo, o paciente de DP, tornam-se mais graves à medida que

sintomas como fadiga, ansiedade, e efeitos colaterais dos medicamentos fazem-no ouvir cada

vez menos. A progressiva perda auditiva, aliada aos outros sintomas que os idosos têm de

administrar, traz para estes indivíduos níveis de estresse em nada comparados com o estresse

vivido pelos mais jovens, que são estresses de trabalho e acirrada competitividade, mas que

ainda não comprometeram suas funções vitais.

Assim, o nível excessivo de ruído pode causar irritação, frustração e mesmo agressividade por

parte do idoso, que deve ser levado em consideração por seus familiares e cuidadores como

reações naturais aos incômodos a eles submetidos, e que devem ser absolutamente evitados

para pessoas de idade avançada e portadoras de doenças como a de Parkinson. Como

conseqüência à resistência quase que impossível a estes incômodos, o idoso pode sofrer um

aumento progressivo de fadiga, ansiedade e outras doenças , levando-o a ouvir cada vez

menos. Pascale (2002, p.78) diz ainda que o nível de ruído pode ser reduzido, bem como uma

boa acústica ser alcançada, através da forração adequada de pisos, paredes, tetos e janelas. A

autora lembra que:

O carpete é útil para absorver sons provenientes da queda de objetos ou dos passos no piso.[...] Qualquer tipo de forração, podendo ser material térmico de paredes, pisos, quinas de pilares e paredes almofadadas, ou até cortinas em tecido para cobertura de vidro, contribuem para a absorção de ruídos, porém não devem ser consideradas como soluções definitivas para o problema.

O nível agressivo de ruídos ainda pode causar um nível de irritação, frustração e agressividade

comprometedores de suas funções vitais, e provocadores da elevação da pressão sangüínea e

do aumento das chances de ataques cardíacos e úlceras.

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5.3.5 O banheiro

Este é, talvez, o cômodo mais importante a ser abordado, devido aos vários perigos e riscos de

acidente que nele se encontram, por isso ele requer segurança prioritária. Sitta (2001 apud

LIMONGE, 2001) aconselha a colocação de tapetes antiderrapantes nas banheiras e no

chuveiro. Algumas banheiras modernas já existem, no mercado, dispondo de revestimentos

antiderrapantes. Para se levantar, a autora recomenda que seja colocada uma barra fixa na

parede mais próxima. O chuveiro é a melhor opção para o banho do paciente de DP, podendo

o mesmo utilizar-se de um banco para se sentar no box, cuidando para que este fique bem

apoiado em um piso antiderrapante. É também importante a colocação de barra fixa, de

preferência confeccionada de material aderente às mãos, no interior do Box.

No que se refere ao vaso sanitário, algumas pessoas apresentam dificuldade para sentar-se

e/ou levantar-se. Nestes casos, é aconselhável a fixação de outra barra para que o doente se

apóie, ou ainda que se disponha de um acessório, já existente no mercado brasileiro, que

aumenta a altura do vaso e já vem com barras de apoio anexas. Os barbeadores, para os

homens, devem ser, de preferência, elétricos e as AVDs que incluem a escovação de cabelos,

de dentes e o barbear-se, devem ser realizadas pelo paciente sentado em uma cadeira disposta

próxima à pia e ao espelho. Para a escovação dos cabelos, deve-se dar preferências às escovas

de cabo mais longo e com fixadores para as mãos, a fim de evitar a queda das mesmas. Os

sabonetes líquidos são mais recomendados que os sólidos, e os apetrechos como xampu e

escovas devem estar sempre dispostos em locais de fácil acesso para o paciente.

5.3.6 Temperatura

Pascale (2002) dá especial atenção a este fator, ao se buscar condições adequadas para o

parkinsoniano. Verdussen (1998 apud PASCALE, 2002) explica que a temperatura causa

sensações diversas conforme a idade, a raça, hábitos e estado geral da pessoa. No caso de um

doente, estes fatores devem ser avaliados de forma criteriosa, a fim de evitar desconforto e

risco para o mesmo. De acordo com Laville (1977 apud PASCALE, 2002, p.87):

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Em relação ao fator temperatura, a Ergonomia tem dois objetivos principais: definir os limites externos que não devem ser ultrapassados e determinar as características de um ambiente que possa ser considerado confortável.

A climatização somente deve ser utilizada com o objetivo de se atingir um ambiente térmico

confortável para o doente idoso. O uso de refrigeração, ou aquecimento, devem ser restritos

aos casos de frio ou calor intenso, a fim de evitar que um comprometimento da manutenção

desses aparelhos prejudique as vias respiratórias do paciente.

5.3.7 Psicodinâmica das cores

Evidências crescem a cada dia com relação à influência que as cores exercem sobre o sono, o

estado de vigília, as emoções e a saúde como um todo, e de que forma esta influência atua no

dia-a-dia das pessoas. É sabido que a idade traz um efeito negativo sobre a visão humana e a

capacidade de enxergar. Cooper (1993 apud PASCALE, 2002, p.22) diz que, após os sessenta

anos, “o endurecimento da lente ocular reduz a habilidade de perceber o tamanho e a

profundidade e, mais adiante, reduz também a percepção quanto à variação de distâncias.”

Sendo assim, e após várias investigações sobre a influência das cores sobre os estímulos

visuais dos idosos, Brawley (1997 apud PASCALE, 2002, p.90) certifica que a cor “é um

elemento importante em qualquer design ambiental, mas fica claro que, para os indivíduos

idosos, o contraste das cores no ambiente físico tem mais importância que a cor sozinha.”

Birren (1978 apud PASCALE, 2002, p.91) endossa a afirmativa de que “cores brilhantes em

tons vermelhos, laranja e amarelo, são as tonalidades mais visíveis, e seu uso pode aumentar a

visibilidade e encorajar a pessoa para a mobilidade e ação.” Dessa forma, Gwyther (1997

apud PASCALE, 2002, P.91) enfatiza que “as cores podem fornecer subsídios para a

orientação dos indivíduos limitados em sua cognição e que os ambientes mais adequados são

os que oferecem diferenças visuais quanto a elas.”

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5.3.8 A cozinha

Quem vive com um paciente de DP deve organizar sua cozinha pensando o tempo todo na

presença dele, de modo a que esta parte da casa possa ser a ele acessível. Assim, Sitta (2001

apud LIMONGE, 2001) relaciona os detalhes que considera como mais importantes:

− O chão precisa ficar livre de objetos soltos, para que o paciente não corra riscos de

tropeçar;

− Algumas AVDs, como descascar legumes e lavar pratos, podem ser feitas pelo

parkinsoniano na posição sentada;

− Cozinhar deve ser uma AVD feita, preferencialmente, quando o paciente estiver se

sentindo melhor. Por esta razão, caso ele não esteja bem, deve haver um estoque

de alimentos pré-preparados, ou mesmo já prontos na geladeira;

− Aconselha-se a instalação de uma superfície lisa entre o fogão e a pia, a fim de

permitir que panelas deslizem, e não precisem ser carregadas;

− A instalação de prateleiras próximas às áreas de trabalho, onde possam ser

colocados os objetos de uso constante, é também providência adequada para que o

paciente de DP tenha facilidade de realizar suas AVDs;

− Os utensílios devem ser inquebráveis e o doente deve trabalhar em cima de uma

superfície antiderrapante;

− Levantar jarras d’água pode ser evitado utilizando vasilhas pequenas e repetindo a

operação várias vezes, caso necessário, ou transportando a água através de uma

mangueira curta; e,

− Deve ser dada preferência aos supermercados que entregam em domicílio,

podendo ser as compras feitas em horário de menor movimento, ou mesmo pela

Internet.

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5.4 A AJUDA DAS PESSOAS E ENTIDADES

5.4.1 A família

O paciente com a Doença de Parkinson, ao receber seu diagnóstico, passa por uma mistura de

sensações e emoções naturalmente difíceis, e a influência da família é fundamental nesta hora.

O estresse e a angústia que o parkinsoniano sente, principalmente no início de sua consciência

da doença, se refletem automaticamente para todos os familiares que convivem com ele, bem

como em todo o contexto social à sua volta, como amigos, colegas de trabalho, companheiros

de outras atividades. Em geral, o cônjuge é a pessoa mais afetada psicologicamente, seguindo-

se os filhos, demais parentes e amigos. Por esta razão, a psicoterapia familiar é recomendada

durante todo o processo de evolução da doença, a fim de preservar o estado emocional

daqueles que convivem com o parkinsoniano e que, caso contrário, podem se tornar também

vítimas da doença.

Cohen e Weisman (1991, apud PASCALE, 2002, p.40) citam as declarações de uma esposa

cuidadora:

Eu estava sem energia, sem paciência [...] e com medo de não amá-lo mais, porque eu estava começando a gritar com ele [...] e ele me bateu uma vez. A cada dia ele está lentamente morrendo e parte de mim está morrendo com ele, e nosso casamento está morrendo também [...] eu não sou ainda viúva e nem mais casada [..] Quem sou eu?

Este relato é impressionante e mostra o quanto é importante um acompanhamento terapêutico

para toda a família envolvida com doenças degenerativas, seja ela o Mal de Alzheimer, a

Doença de Mal de Parkinson, ou outras que possam levar à demência. Infelizmente, no

Brasil, e mesmo em outros países mais desenvolvidos, ainda há poucos recursos, programas

ou serviços de orientação para ajudar famílias com estes problemas. Enquanto não existe cura

ou prevenção para estas doenças, os estudiosos têm se exaurido em divulgar, para as famílias,

cuidadores e instituições asilares, programas educacionais que ensinem técnicas mais efetivas

nos tratamentos junto a estes pacientes.

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No Brasil existe uma organização não governamental que pretende servir de apoio às famílias

(Associação Brasil Parkinson, www.parkinson.org.br), onde podem ser encontrados endereços

de grupos que se formam em várias localidades do país reunindo famílias e pacientes para

uma maior interação entre os envolvidos com estes graves problemas que acometem os seres

humanos ainda neste início de milênio. Estas associações, geralmente, promovem

publicações, eventos e outras formas de divulgação sobre as pesquisas que estão sendo

realizadas, os cuidados, e principalmente, a identificação de um grupo que sofre junto com os

pacientes. Outras instituições internacionais reconhecidas são:

− Associação Européia de Doença de Parkinson (www.epda.eu.com)

− Fundação Nacional de Parkinson dos Estados Unidos (NPF) (www.parkinson.org)

− Associação Mundial de Doença de Parkinson (www.wpda.org)

As famílias se constituem nos primeiros cuidadores, nas fases inicial e mediana da doença.

Porém, afirma Pascale (2002) que, nos países mais desenvolvidos, principalmente os Estados

Unidos, as famílias estão mais acostumadas a internar seus entes em instituições

especializadas, particularmente quando a doença atinge estágios mais avançados. Coons

(1991 apud PASCALE, 2002, p.42) afirma que “mais de 50% dos pacientes internados em

clínicas ou instituições geriátricas são portadores de doenças como o Mal de Alzheimer e a

Doença de Parkinson”.

5.4.2 O cuidador

A Associação Européia de Doenças de Parkinson - EPDA (ASSOCIAÇÃO..., 2005) relata o

papel do cuidador do doente de Parkinson de forma detalhada e abundante, enriquecendo o

conhecimento da matéria para esta figura tão importante na rotina do parkinsoniano. Assim, a

entidade ressalta que a DP afeta não somente o doente, mas também sua família, amigos e

todos aqueles que convivem com a doença. Neste sentido, o cuidador pode ser não somente

um profissional especializado, mas também o cônjuge, um filho adulto, ou um amigo, ou

outro parente. Porém, é fato que conviver com o doente de DP requer um preparo psíquico e

emocional que, muitas vezes, nenhum membro da família possui. Quando isto acontece, é

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recomendável a contratação de um profissional qualificado, quando o doente estiver em casa,

e não em instituição asilar.

Médicos recomendam que os pacientes com Doença de Parkinson fiquem, preferencialmente,

em suas casas, pois a mudança para instituições especializadas, normalmente, causam um

estresse significativo ao doente, que pode piorar seu estado de saúde até que se adapte à nova

realidade. Por isso, a melhor alternativa ainda é ter um cuidador na residência do doente. Ele

saberá estabelecer um relacionamento com o doente de parceria, cumplicidade, confiança e

apoio emocional.

Pesquisas realizadas nos Estados Unidos apontam que 73% dos cuidadores de DP são o

cônjuge ou companheiro. Em segundo lugar vem um filho adulto do paciente, geralmente

maior de 50 anos: 70% dos cuidadores são mulheres, e 60% deles têm mais de 60 anos,

enquanto que quase 25% têm mais de 75 anos. São idosos cuidando de idosos, esta é a

realidade que se apresenta. Em 78% dos casos o cuidador vive com o paciente de DP, sendo a

contribuição de cada um de forma variada: um quarto dos cuidadores ajudam o parkinsoniano

a tomar banho, vestir-se e despir-se, ir ao banheiro, virar-se na cama, comer e beber.

A afinidade entre o cuidador e o paciente é destacada pela EPDA como um elemento a ser

especialmente valorizado na relação – é preciso encontrar uma linguagem que funcione entre

os dois, ter intimidade e adquirir a confiança do doente. O cuidador também deve estar

sempre bem informado a respeito das últimas descobertas acerca da doença e seus

tratamentos, e interagir constantemente com a equipe médica que assiste o doente, como

médicos, fisioterapeutas, nutricionistas, fonoaudiólogos, psicólogos, entre outros. O cuidador

não deve esquecer de dar atenção a si mesmo, de ter tempo para si – tomar conta de alguém

com necessidades especiais é um trabalho física e emocionalmente exaustivo. Muitas vezes

acontece de o cuidador colocar o doente em primeiro lugar em sua vida, esquecendo-se de

suas próprias necessidades. Isto pode ser prejudicial tanto para o cuidador como para o

próprio paciente de DP, tendo em vista que o rendimento do cuidador cairá, mais cedo ou

mais tarde, se ele entrar em um estágio de exaustão total e mesmo depressão.

Assim, pode haver ocasiões em que o cuidador peça ajuda a familiares ou amigos do doente,

até para obter apoio emocional para si próprio. Ele deve ter folga para realizar suas atividades

de lazer e descanso, interagir com seu grupo relacional e fazer outras coisas de que gosta, a

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fim de reunir forças para voltar a cuidar do paciente de DP. É importante estar atento ao

estado psicológico do cuidador – muitas vezes ele também pode ficar deprimido em função do

envolvimento emocional com o doente – portanto, se ele apresentar tristeza, medo,

sentimentos de desânimo, choros constantes, alterações no apetite, é preciso dar ao cuidador

assistência médica e terapêutica, ou ele se tornará incapaz de continuar seu trabalho com o

parkinsoniano.

5.4.3 As instituições especializadas

Conforme já citado, muitas vezes o paciente de DP é internado em uma instituição

especializada, seja porque o processo degenerativo da doença atingiu níveis insuportáveis

para a família, seja pelo estresse que a família passa, e em que, para cada uma em particular,

há um limite, ou ainda por limitações físicas e logísticas para manter o paciente em casa. Para

Papaléo Netto (1996), fornecer as condições ideais para o tratamento e os cuidados

necessários aos pacientes com doenças degenerativas é um desafio permanente para as

instituições. É importante que se invista em infra-estrutura ergonômica, em equipes médicas e

paramédicas especializadas, a fim de passar para o paciente uma certeza de que ele não está

numa “antecâmera da morte”, mas sim num lugar onde sua vida é valorizada e sua dignidade

reconhecida.

A instituição, ainda segundo o autor, tem por obrigação oferecer um ambiente físico adequado

e preparado para receber o paciente, com todas as suas particularidades, além de garantir para

o doente também um ambiente humano, o respeito à sua individualidade e privacidade, o

reconhecimento de sua autonomia, e programas de estímulo à interação entre os internos

através de atividades físicas supervisionadas, eventos, comemorações, enfim, programas de

atividades as mais diversas, que exigem planejamento e conhecimento profissional

especializado de equipes bem preparadas. Saramago (2003) declara que, no Brasil, somente

são encontradas condições satisfatórias em clínicas particulares, geralmente muito caras e

somente acessíveis às famílias mais abastadas. Quanto às instituições públicas brasileiras, a

autora reconhece que as dificuldades são inúmeras, e bem maiores do que as instituições de

países desenvolvidos, em função de vários fatores negativos, como a falta de mão-de-obra

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com o mínimo de qualificação, dificuldades econômicas, desvio de verbas, falta de apoio

governamental, como têm sido visto diariamente na mídia nacional.

Lorda (1997) reforça a importância das atividades recreativas e de lazer na terceira idade. Ele

afirma que a recreação, para os pacientes internos em instituições, funciona como um

elemento de ressocialização para promover atividades em grupo e interação com os outros,

além de ser fonte de motivação, invertendo quadros de apatia e transformando-os em

interesse, interdependência, ajuda mútua e troca afetiva. Saramago (2003, p.39) considera

que:

A proposta de um trabalho corporal em asilos deve constar principalmente de atividades lúdicas, através de jogos recreativos, sensoriais, sensibilizações, danças, caminhadas ao ar livre, jogos psicomotores e cognitivos, que estimulem a socialização, a auto-aceitação e a aceitação do outro. Atividades que estimulem a memória, coordenação, equilíbrio, força e resistência aeróbia [...] mais especialmente atividades que estimulem o prazer, o contato, a troca, a criatividade, que tenham o compromisso de motivar e elevar a auto-estimo do idoso, a aceitar suas limitações e explorar suas potencialidades, a voltar a sentir prazer em viver.

Concluindo esta questão, considerou-se de grande significado o diagnóstico dado por Schwab

e Doshay (2002, p.10), através de seus quinze anos de observação do doente de Parkinson:

[...] quem nós vimos, [...] que é satisfeito, que prospera e se adapta o mais eficientemente possível, e que reage com mais coragem à sua doença, são aqueles que têm a compreensão, famílias cooperativas e adaptáveis. Mesmo mais importante do que um médico compreensivo é ter a compreensão de um esposo (a) adaptado (a) e companheiro (a). Esta situação, quando presente, encontra o paciente abençoado, certamente, por um dos recursos mais importantes para viver com esta doença.

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6 ENFOQUE ERGONÔMICO SOBRE A APLICAÇÃO DE TÉCNICAS

FISIOTERÁPICAS PARA PACIENTES DE PARKINSON – O MÉTODO DE

PILATES

As paredes que tudo ouviram e nada esqueceram são os músculos. Na rigidez, crispação, fraqueza e dores dos músculos das costas, pescoço, diafragma, coração e também do rosto e do sexo está escrita toda a sua história, do nascimento até hoje. Estar presente no corpo, para si e para os outros... morar no seu corpo..., mas antes será preciso admitir que temos um corpo, que somos corpo. E até que a nossa única verdade objetiva e concreta é de ser corpo. (THERESE BERTHERAT, 1987).

Após a abordagem sobre o processo de envelhecimento, as doenças, os tratamentos

disponíveis, e o estudo mais detalhado da Doença de Parkinson, sem deixar de citar a

importância da atividade física e do trabalho corporal, tanto para o idoso saudável quanto

mais ainda para o idoso portador de DP, chegou-se ao presente capítulo, que busca o

diferencial deste estudo, qual seja, demonstrar o enriquecimento que o método e o ambiente

de Pilates pode trazer ao trabalho fisioterápico, sob um olhar ergonômico.

6.1 O CORPO E A VIDA NAS PRÓPRIAS MÃOS

O indivíduo que reconhece seu corpo se apropria, em vários níveis de consciência, de sua

vida. Idosos saudáveis, com doenças controladas, assim como idosos com doenças

degenerativas como o Mal de Parkinson, devem ser estimulados à apropriação e ao

reconhecimento de seu próprio corpo. Esta é uma meta fundamental do fisioterapeuta junto

aos seus pacientes idosos, sejam eles saudáveis ou portadores de doenças. Assim, a aceitação

de seu corpo é o primeiro passo para lidar melhor com a nova realidade de sua vida, na

medida em que a idade avança e as mudanças corporais se tornam mais nítidas. A nova

realidade deve ser dominada pelo idoso, a fim de que ele se adapte e mantenha sua autonomia

de vida. A beleza estética, ainda que esteja comprometida pelos sinais do tempo, não obstante

os recursos cada vez mais avançados para retardar a aparência envelhecida, que denuncia a

idade real de uma pessoa, não pode ser parâmetro fundamental para a felicidade do idoso.

Isto porque, por mais jovem que um idoso possa parecer, muitas vezes a saúde de seu corpo

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não acompanha a quantidade de cirurgias ou aplicações estéticas que ele ou ela já tenham

realizado, e a doença vem, mais cedo ou mais tarde.

O ideal, por conseguinte, é que o indivíduo aceite sua maturidade e, mesmo lançando mão de

técnicas cirúrgicas para parecer mais jovem, o que é um direito de todos, não basear sua

maturidade na estética, mas sim na sabedoria, nos valores sublimes que somente aquele que já

viveu mais tempo é capaz de reconhecer: a importância do amor, da amizade, do perdão, da

compreensão, da paciência. O indivíduo idoso, mesmo quando portador de alguma doença,

degenerativa ou não, pode ser admirado pelos mais jovens e ter sua presença desejada e

querida. Isto acontece quando ele atinge um nível de maturidade que lhe garante a segurança e

a auto-estima necessárias para uma velhice feliz. A cura para as doenças da terceira idade

passa não somente por um processo físico, mas também pela compreensão de que corpo e

mente caminham juntos, e que, na maioria das vezes, um corpo enrijecido é fruto de uma

mente rígida. Quando se trabalha o corpo, imediatamente há reflexos além do físico, que se

manifestam, e vice-versa.

É necessário falar da busca pela autonomia, não como uma forma incontestável de reduzir ou

eliminar os aspectos de dependência, pois isto não seria desejável. Bertherart (2001) cita que a

autonomia só tem sentido se for vivida na companhia dos outros, e que um forte desejo de

independência pode ser fruto do medo de perder a identidade. Logo, ao invés de autonomia,

seria melhor falar de interdependência, reconhecendo que, em toda relação, uma pessoa tanto

pode ser ajudada como ajudar.

6.2 BREVE HISTÓRICO SOBRE O MÉTODO DE PILATES

Josef Hubertus Pilates (1880-1967), atleta alemão pioneiro na área da terapia física, dedicou

sua vida a criar exercícios benéficos para a saúde mental e física das pessoas. Pilates baseou

seu trabalho na ioga, zen-budismo e ginásticas grega e romana antigas. Começou a

desenvolver sua técnica particular durante a Primeira Guerra Mundial, quando trabalhou

como enfermeiro num campo britânico, tratando de prisioneiros. Assim ele foi criando um

método, primeiro apenas com exercícios de solo, e, depois, com aparelhos que ele mesmo

construiu com molas em camas de hospital.

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Em 1926, Josef Pilates montou um estúdio de exercícios em Nova York, no mesmo prédio

onde mais tarde se estabeleceria o New York City Ballet. Ao longo dos anos ele criou mais

de 500 movimentos, cada um direcionado a alongar e fortalecer todos os grupamentos

musculares, com uma concentração que permite ao praticante desenvolver uma consciência

corporal muito maior do que a de outros tipos de exercícios. Atualmente, alguns especialistas

creditam ao Pilates a condição de ginástica mais eficiente de todos os tempos.

6.3 COMPREENDENDO O MÉTODO DE PILATES

O Pilates é um método de reeducação do movimento, utilizando uma técnica desenvolvida

através dos princípios das atividades físicas das civilizações antigas (gregos, romanos,

indianos e chineses). Há também uma íntima correlação com a ioga, que se constitui em uma

ciência oriunda da Índia, e que sofreu várias modificações e adaptações que resultaram em

diferentes modalidades. A essência e o objetivo dos exercícios de Pilates é de trazer

consciência para o movimento, dentre outras propostas, através da respiração.

Seu objetivo principal é fortalecer e alongar simultaneamente a musculatura, despertando a

consciência do corpo e destacando a importância da respiração. O Pilates visa desenvolver no

corpo os padrões de movimento que o indivíduo fez quando era um bebê aprendendo a se

movimentar. É um processo orgânico e precisa ser reforçado por toda a vida, a fim de

assegurar que cada pessoa possa conservar sua força, flexibilidade e equilíbrio. Dessa forma,

é um exercício excelente para todos aqueles que queiram melhorar sua agilidade, mobilidade

e autoconscientização de suas capacidades corporais e musculares.

Joseph Pilates gostava de dizer que tinha inventado uma técnica que estava anos à frente de

seu tempo. De fato, o método é comumente descrito por toda a área de saúde como “um

exercício pensante”, na medida em que ele exige uma sincronia incomum entre corpo e

mente, o que, por sua vez, resulta em um sentimento de completude e integração mais

comumente associados às técnicas orientais de movimento e meditação. A concentração é um

dos seis princípios básicos do método de Pilates: os outros são respiração (profunda e

compassada), o equilíbrio, o alongamento axial (alinhamento dos três pontos da coluna-

occiptal, dorsal e sacro, respeitando as curvaturas fisiológicas), controle de centro, fluxo do

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movimento( através da dissociação de movimentos). Através de exercícios em aparelhos

ergonômicamente confeccionados ou no solo (com molas, rolos de espuma rÍgida, barras,

faixas e bolas), geralmente feitos na posição horizontal, os músculos de todo o corpo são

alongados e tonificados sem causar lesões. Este método contribui muito para a melhora de

problema posturais ligados ao desequilíbrio muscular.

O exercício desenvolvido e ensinado por Joseph Pilates, há mais de 75 anos atrás, finalmente

está sendo reconhecido pela comunidade médica como um grande aliado ao bem-estar do

corpo e da mente humana, reconhecendo os benefícios que seus princípios incorporam ao

controle motor, ao desenvolvimento psiconeural e à ciência do exercício.

Mesmo antes do método de Pilates comemorar o seu 100º ano, já é reconhecido pelas pessoas,

em toda a parte do mundo, como uma das melhores formas de exercício disponíveis hoje em

dia, não somente para indivíduos saudáveis e jovens, como, e principalmente, para a

reabilitação de portadores de doenças degenerativas, musculares e articulares as mais

diversas, como os problemas posturais, as cefaléias e dores crônicas de coluna, além das

doenças degenerativas próprias da terceira idade, como o Mal de Parkinson, objeto mais

importante do presente estudo.

6.4 O AMBIENTE PILATES: UM AMBIENTE ERGONÔMICO

O ambiente Pilates é estruturado de forma a trazer aos usuários maior conforto e

funcionalidade possíveis. São levados em conta fatores como: forração do piso, iluminação

indireta, temperatura adequada, psicodinâmica da cores, ruídos (no ambiente de Pilates, a

música é sempre calma) e mobiliário. Os equipamentos e acessórios facilitam o trabalho

dinâmico numa postura correta. Todos os fatores são planejados de forma a estimular à prática

do trabalho corporal com concentração e qualidade dos movimentos executados.

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Figura 1 – O ambiente Pilates

Os equipamentos cumprem um papel muito importante, já que permitem desde a assistência

total ao movimento até a resistência (oferecida por molas ou gravidade), e o ajuste do

comprimento das alavancas (ao dobrar ou alongar os membros superiores ou inferiores com

relação ao tronco). Outro grande atributo do ambiente Pilates é a grande flexibilidade de

facilitar novos movimentos que simulam movimentos funcionais.

O equipamento considerado como o mais original criado por Pilates foi o reformer, ele é

como uma cama com um carrinho que corre internamente ao longo de sua estrutura e que tem

a resistência dada por molas. Este equipamento permite uma variedade de posições, além de

oferecer a possibilidade da simulação em diversas posições de movimentos que originalmente

seriam em pé, diminuindo assim o medo do paciente e facilitando a execução dos mesmos.

Outros equipamentos foram utilizados: o trapézio (cadillac) e a cadeira, além dos acessórios

(molas, bolas suiças, rolos de espuma rígida, suporte de madeira, almofada de espuma).

O O AmbienteAmbiente Pilates Pilates –– Um Um ambienteambiente ergonômicoergonômico

Os equipamentos permitemOs equipamentos permitemajustes no comprimento dasajustes no comprimento dasalavancas.alavancas.Facilitam o trabalho dinâmicoFacilitam o trabalho dinâmiconuma postura correta.numa postura correta.

Permitem controle daPermitem controle dacarga e da posicarga e da posiçção.ão.Permitem variedade dePermitem variedade deposiposiçções.ões.

Possuem molas que Possuem molas que oferecem assistência /oferecem assistência /resistência ao movimento.resistência ao movimento.Permitem simularPermitem simularmovimentos funcionais.movimentos funcionais.

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6.5 A APLICAÇÃO DO MÉTODO DE PILATES NA REABILITAÇÃO DOS

PARKINSONIANOS

A melhoria da qualidade de vida é o objetivo principal do Pilates, não só para os idosos como

para todos os que o praticam. A população idosa necessita cada vez mais do incentivo para a

prática do exercício físico. Idosos saudáveis, bem como idosos com Mal de Parkinson, devem

ser estimulados à prática de algum tipo de atividade motora. Há evidências de que este tipo

de exercício interfere na melhoria do bem estar do indivíduo. A memória declarativa, ou

consciente, localiza-se em regiões do cérebro que não são atingidas pelo Mal de Parkinson,

como o córtex, que é responsável, entre outras coisas, pelo aprendizado verbal. Portanto,

confirma-se também a importância de relacionar-se a linguagem verbal no tratamento da DP.

Desse modo, o tratamento induz o portador de DP a sair da forma automática de execução de

movimentos para a forma consciente de fazê-los.

Os exercícios de Pilates têm como base o deslocamento consciente. Procurou-se utilizar dicas

verbais, bem como a associação a imagens, para trazer consciência ao movimento. A

respiração ajuda a trazer o individuo para o momento presente. Durante a realização dos

exercícios, o idoso portador de DP precisa estar atento para a sensação e percepção do

estímulo recebido, seja ele verbal, tátil ou através de imagens .Conferindo ao Sistema

Nervoso Central a assimilação de um estímulo externo, ele o interpreta e finalmente, executa

o movimento exigido. Os exercícios, executados dessa forma, trazem uma contínua

estimulação cognitiva para o parkinsoniano.

Para o parkinsoniano é necessária uma constante estimulação cognitiva, a fim de que ele

possa realizar movimentos antes feitos de maneira simples, quase involuntária, como

caminhar, levantar da cama, amarrar o sapato. Para pessoas “normais”, essas ações são tão

automáticas que, dificilmente, tomam consciência delas. Doentes de Parkinson, no entanto,

não conseguem realizá-las porque a moléstia danifica justamente a região do cérebro onde as

informações sobre o que se faz de forma automática ficam guardadas.

Procurou-se dar ênfase a qualidade do movimento, trabalhando a musculatura de uma forma

sincrônica. Os exercícios de alongamento e força utilizados no método de Pilates são feitos

de forma ampla e lenta, sendo por este motivo ideais para auxiliar na recuperação e

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reorganização dos movimentos dos parkinsonianos, que pela característica da doença

executam a marcha de forma curta e rápida, tais exercícios auxiliam no desdobrar de

atividades cotidianas como caminhar ou levantar da cama, numa sessão de movimentos que

dão origem ao gesto pretendido. Utilizou-se, por exemplo, o rolamento no chão antes de

levantar-se; dobrar as pernas; virá-las para o lado; jogá-las para fora da cama.

Figura 2 – Simulação de movimentos funcionais – exercícios de alongamento e fortalecimento

A liA li ã d Md Mé dd dd PilPil

SimulaSimulaçção de movimentos funcionaisão de movimentos funcionaisPermite treinar a marcha Permite treinar a marcha

ExercExercíícios de alongamentocios de alongamentoe fortalecimentoe fortalecimento

AVDsAVDs beneficiadas: beneficiadas:

••caminharcaminhar••sentarsentar••levantarlevantar••subir e descer escadassubir e descer escadas

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Figura 3 - Simulação de movimentos funcionais – Deslocamento consciente Figura 4 - Simulação de movimentos funcionais – Deslocamento consciente – articulação da coluna

AVDsAVDs beneficiadas:beneficiadas:As que requerem mobilidade: abaixarAs que requerem mobilidade: abaixar--se,se,amarrar sapatos.amarrar sapatos.Ligadas a manutenLigadas a manutençção da postura ereta eão da postura ereta eforforçça abdominal.a abdominal.

ArticulaArticulaçção da coluna ão da coluna ForForçça de centroa de centroAlongamento da musculatura Alongamento da musculatura paravertebralparavertebralFlexibilidadeFlexibilidade

AVDsAVDs beneficiadas:beneficiadas:Ligadas ao equilLigadas ao equilííbriobrio--diminuidiminuiççãoãode quedasde quedas

AplicaAplicaççãoão do Mdo Méétodotodo dede PilatesPilates

Deslocamento conscienteDeslocamento conscienteDissociaDissociaçção de movimentosão de movimentosTrabalhando a musculatura de forma sincrônicaTrabalhando a musculatura de forma sincrônica

Ênfase na melhoria das Ênfase na melhoria das AVDsAVDsSimulaSimulaçção de movimentos funcionaisão de movimentos funcionais

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6.6 OBSERVAÇÕES REALIZADAS SOB O ENFOQUE ERGONÔMICO

A partir do treinamento consciente, foi observado que o portador de DP volta a confiar em sua

habilidade para a execução de tarefas práticas, como as AVD’s. A experiência da utilização

do ambiente de Pilates e da aplicação das técnicas do método, em pacientes parkinsonianos,

ratificou a importância da realização do presente estudo, no sentido de divulgar os benefícios

que este tipo de trabalho corporal pode trazer para o portador de DP, e incentivá-lo, assim

como à sua família, a buscar terapias corporais como o Pilates para a conquista de uma

melhor interação social e da diminuição da tensão emocional frente aos estímulos

desencadeados pela incapacidade de executar tarefas “banais”.

Durante as sessões de fisioterapia, que foram realizadas em média 2 vezes por semana,

utilizando o Método de Pilates em parkinsonianos, observou-se algumas particularidades em

relação à estrutura, posicionamento e percepção corporal dos pacientes:

− Ao solicitar que o paciente deitasse de “costas”, ou seja, no decúbito dorsal, pôde-

se observar que o mesmo não conseguia tocar boa parte do corpo no chão, como se

não pudesse ocupar o espaço de forma integral, ou não tivesse percepção das

dimensões do próprio corpo. Ofereceu-se um acessório muito utilizado nas terapias

de solo do método de Pilates, em forma cilíndrica (rolo de espuma), com uma

densidade alta, para que pudesse se deitar, uma base menor que o chão, com o

intuito de fazê-lo perceber a diferença da obrigatoriedade de “segurar” o corpo,

quando logo em seguida é solicitado ao paciente que volte ao chão, notou-se uma

grande diferença no espaço ocupado.

− Houve relatos do tipo “que bom ter todo este espaço para deitar”, “minhas costas

parecem mais largas”, “que bom não ter que ficar me equilibrando”. Pode-se

observar que o ambiente instável, no caso o rolo de espuma, fez com que o

paciente ao voltar para o chão confiasse a entrega do seu corpo, conseguindo assim

perceber melhor a dimensão do mesmo, sentindo tocar no chão pontos que não

tocava antes. Progrediu-se para exercícios no cadillac (também chamado de

trapézio, um dos aparelhos do Pilates) com ênfase na dissociação dos movimentos

dos ombros. Observou-se um relaxamento da musculatura, principamente de

trapézio e paravertebral a nível dorsal.

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− Foram relatadas melhoras das queixas relacionadas à tensão muscular, como dores

no pescoço e nos ombros, bem como a melhora da funcionalidade na execução de

movimentos com as mãos.

− Em alguns casos foram observadas contraturas da musculatura de trapézio

relacionadas a queixas de tensões emocionais, nestes casos observou-se uma

elevação do ombro, com possível compressão dos vasos que irrigam as fibras

musculares, possível causa das queixas de dor irradiada para os braços, com

comprometimento das mãos.

− Observou-se também que por seu padrão postural instável, causado pelo

desequilíbrio, o paciente de Parkinson tem sempre a cabeça voltada para baixo e

na tentativa de querer elevar a cabeça, exerce uma tração muito grande da

musculatura de trapézio, sendo também uma causa das dores e da acentuação da

cifose torácica, que por sua vez prejudica a manutenção da postura ereta , levando

a um prejuízo da marcha.

− Foram utilizadas técnicas de estabilização dinâmica, com vistas a trabalhar o

equilíbrio e a propriocepção (sensação e percepção da posição e movimentos do

corpo). Equipamentos do método Pilates (reformer e cadeira) e os acessórios

(molas, bolas suiças, rolos de espuma rígida, suporte de madeira, almofada de

espuma), facilitaram o trabalho.

− Foi utilizada a resistência das molas como forma de aumentar a amplitude do

movimento, treino da marcha em superfícies instáveis, colocação de obstáculos a

serem transpostos, dentre outras atividades. O reformer permitiu, mesmo na

posição horizontal, simular a marcha, observou-se uma diminuição do medo do

paciente, mostrando-se um grande aliado no treino da mesma. Os pacientes

referiram mais segurança para fazer caminhadas fora de casa: “Perdi o medo de

andar pelas calçadas e tropeçar”, “os buracos da rua já não mais me assustam”,

“quando piso na beira da calçada, consigo me endireitar e não cair”. Pôde-se,

assim, perceber o quanto é importante o treino do equilíbrio e da marcha na

autonomia destes pacientes.

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− Através dos exercícios respiratórios (inspiração e expiração forçadas), um dos

princípios básicos do método utilizado, foi observada uma melhora da rigidez

diafragmática. Movimentos de costelas que antes eram quase imperceptíveis foram

se tornando mais visíveis no decorrer do trabalho. O trabalho evoluiu para um

condicionamento aeróbico no reformer, respeitadas as devidas limitações do

paciente e a necessidade de controle com medidores de pressão arterial, freqüência

cardíaca e saturação de oxigênio.

− Pôde-se mensurar (através do oxímetro digital) uma saturação maior do percentual

de oxigênio no sangue, se comparado ao início do tratamento. Como resultado

disto foi relatada uma maior disposição para movimentar-se de forma geral, e a

execução de atividades como fazer compras, caminhar ao ar livre, ir ao cinema. É

comum aos indivíduos acometidos pela DP uma rigidez muscular intensa e uma

lentidão dos movimentos, às vezes resultando na ausência dos mesmos, levando a

uma paralisação.

− Uma observação importante foi o relato de um paciente sobre seu congelamento

(paralisação): “às vezes, quando congelo, imagino você me falando: vamos lá,

eleve o joelho, calcanhar, ponta do pé; e consigo sair marchando”.

− No treino da marcha, confirmou-se através dos relatos a importância da utilização

de recursos verbais para que o movimento feito pudesse ser vivenciado; foi

confirmada a afirmação de que se o paciente executa o movimento de forma

consciente, dificilmente tem paralisação; as pistas visuais também foram muito

utilizadas, como por exemplo, um obstáculo a transpor para que o paciente pudesse

ser capaz de elevar o joelho. O treino da marcha tem se mostrado um grande aliado

para enfrentar situações de congelamento.

− Os exercícios de rolamento, que são uma dificuldade para o parkinsoniano de

maneira geral, são muito benéficos, pois oferecem recursos para se levantarem da

cama ou do chão com facilidade. O recurso utilizado neste caso foi uma dica

verbal com utilização de uma imagem, na tentativa de trazê-los para a percepção

do movimento de uma forma mais prática possível, então foi feita uma brincadeira

com um deles, que deu certo, e passei a utilizá-la sempre. O exercício passou a ser

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“mineiro rolando na areia da praia”, ou seja, “quando eu me refiro a mineiro na

praia, eles rolam por toda a sala”.

− Com os exercícios de articulação da coluna, observou-se um ganho na mobilidade

e um alongamento da musculatura de paravertebral como um todo. Pode-se notar

também um bom resultado no fortalecimento da musculatura abdominal, e

conseqüente influência no equilíbrio do corpo, dentre outras coisas, pois a protusão

abdominal evidencia ainda mais a alteração do centro de gravidade do tronco,

levando além do desequilíbrio a dores lombares. Observou-se, ainda, benefícios na

manutenção da postura ereta e facilitação das atividades como amarrar sapatos.

− Também foram observadas melhoras nas mudanças de decúbito, como passar da

posição deitado para sentado, virar-se e também se notou uma melhora na

mobilidade ao sair do chão para se levantar. Com os exercícios de rolamento e

articulação da coluna referiram melhoras da mobilidade na cama, que dentre as

queixas de incapacidade das AVD’s é muito citada, inclusive pela independência

para ir ao banheiro durante a noite.

Nos quadros 1, 2 e 3 foram listadas resumidamente, as conseqüências relacionadas aos

principais danos físicos, limite funcional decorrente dos mesmos e as AVDs, onde se

relataram melhoras após o trabalho fisioterápico com o método de Pilates. O detalhamento e

demais registros realizados pela pesquisa, encontram-se contidos no apêndice 1 dessa

dissertação.

Conseqüências Limite funcional AVDs beneficiadas Projeção anterior e flexão da cabeça. Aumento da flexão do tronco. Aumento da cifose torácica. Pinçamento nervoso; dores na coluna cervical e lombar. Diminuição de amplitude de movimento. Diminuição da força muscular.

Não consegue levantar o braço acima da cabeça. Não consegue manter uma postura ereta.

Pentear o cabelo. Alcançar objetos na prateleira. Fazer trabalhos manuais. Maquiar-se. Permanecer em pé por muito tempo. Subir e descer escadas. Fazer caminhadas.

Quadro 1 – Dano físico: Retrações musculares.

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Conseqüências Limite funcional

AVDs beneficiadas

Diminuição da amplitude e força da caixa torácica. Não consegue oxigênio necessário

para produzir energia suficiente.

Cansaço freqüente.

Fraqueza geral.

Não consegue executar movimentos de costelas. Deitado em decúbito dorsal, movimento de costelas quase imperceptível.

Higiene pessoal e tomar banho sem ajuda. Ir ao banheiro sozinho. Vestir-se e alimentar-se sem auxílio.

Quadro 2 - Dano Físico: Rigidez diafragmática.

Conseqüências Limite funcional

AVDs beneficiadas

Diminuição da amplitude de movimento. Diminuição da força muscular. Diminuição das amplitudes articulares das vértebras.

Lentidão na execução dos movimentos. Dificuldade de iniciar o movimento. Dificuldade de manter o ritmo dos movimentos. Dificuldade de rolar. Dificuldade de articular a coluna.

Levantar-se sozinho da cama/cadeira e do chão em caso de quedas. Entrar e sair do carro sem auxílio. Amarrar os sapatos. Cuidar das plantas. Caminhar na rua, fazer compras, ir ao cinema, passear.

Quadro 3 - Dano Físico: Imobilidade. Vale lembrar que na Doença de Parkinson os sintomas e manifestações incapacitantes são

geralmente lentos, porém progressivos. Os estímulos cognitivos são de suma importância na

medida em que possibilitam uma constante ativação da memória relacionada ao movimento.

Como a perda da mesma para os movimentos automáticos é progressiva, deve-se basear todo

o trabalho no estímulo cognitivo, trazendo assim recursos para que o paciente não fique

paralisado. Os ganhos adquiridos com o trabalho fisioterápico são importantes na medida em

que conservam a atividade muscular e a flexibilidade, tornando os portadores da doença

capazes de realizar suas AVD’s com maior facilidade e por um maior tempo possível. Além

de sua ação sobre a motricidade, pode-se observar uma quantidade extensa de benefícios

psicológicos e cognitivos, dentre eles a diminuição da ansiedade e a melhoria no estado de

humor e auto-estima, incentivando atitudes e posturas positivas diante da vida.

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Quando se trata um indivíduo com um diagnóstico como a Doença de Parkinson, é bom

lembrar, que os exercícios não impedem a progressão da doença, mas mantém um estado

músculo-ósteo-articular conveniente. Um cuidado fundamental é incentivá-lo à vida, o

primeiro passo é a aceitação da doença, a cura, neste caso, é trazer o indivíduo para uma

realidade nova, onde suas perdas sejam aceitas. Quando a aceitação é conquistada pelo

doente, então é possível uma compensação e adaptação das perdas.

A família tem um papel fundamental, entendendo o processo de perdas e participando nas

compensações adequadas. A questão é como dar apoio ao paciente para que ele se adapte às

alterações necessárias. É importante que o mesmo se sinta seguro, que pratique suas AVDs e

que sejam respeitadas suas capacidades únicas.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

7.1 OS OBJETIVOS QUE SE PROCUROU ALCANÇAR

Procurou-se, através destas investigações, comprovar a importância do trabalho fisioterápico

como complemento indispensável ao tratamento médico da Doença de Parkinson. Através de

uma abordagem ergonômica, observou-se aspectos relacionados à funcionalidade dos idosos

com DP, dando ênfase a capacidade dos mesmos em realizar suas AVD’s.

Subsidiariamente, espera-se que o estudo adicione às práticas correntes, informações

relacionadas à melhoria do desempenho das AVD’s pelos idosos portadores da DP e sua

conseqüente interferência na qualidade de vida dos mesmos O principal objetivo a ser

atingido foi que através de um melhor desempenho de suas funções e, com a compreensão e o

amor de todos que o cercam, o idoso com DP tenha garantido seu lugar na sociedade de forma

a ser respeitado em limitações e capacidades únicas. Ao abordar os vários aspectos da Doença

de Parkinson, mostrando os processos por que passam os acometidos por esta doença, assim

como em outras doenças, em particular as doenças, muito comuns no processo de

envelhecimento, acredita-se que os objetivos central e específicos da pesquisa tenham sido

atendidos.

Para responder às questões de pesquisa formuladas para orientar o estudo, acredita-se tenha

sido demonstrado ao longo desta dissertação:

− Que a elevação da esperança de vida dos habitantes, especialmente quando

considerados os cenários traçados pela Organização das Nações Unidas (2005) no

espaço temporal compreendido até meados deste século, implicará no crescente

envelhecimento populacional. Como efeito, as doenças que normalmente

acometem os indivíduos que chegam à terceira idade devem receber permanente

atenção dos pesquisadores, dos governos e da sociedade em geral, com o propósito

de desenvolver métodos de tratamento que possam contribuir para uma melhor

qualidade de vida dos mesmos.

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− Foram identificados, no estudo, os principais tratamentos disponíveis para o

auxílio ao paciente com DP, visando a conquista por uma vida de qualidade, tendo

sido mostrados dentre outros os recursos e a importância da ergonomia. Neste

sentido, ficou evidenciado, através da literatura referenciada, e das observações

práticas da pesquisadora, a importância da aplicação das técnicas e exercícios

corporais e fisioterápicos, com ênfase no Método de Pilates. Acrescentou-se à

abordagem teórica, observações colhidas junto aos pacientes de Parkinson

submetidos à aplicação do método, com os quais se pôde comprovar a sua

eficiência e os fatores positivos decorrentes de um trabalho corporal orientado para

a melhoria da execução de suas atividades cotidianas.

− As questões relacionadas com o entorno do idoso parkinsoniano, tratadas nas

consultas bibliográficas que foram utilizadas para a orientação da pesquisa,

ficaram evidenciadas quanto à sua importância no tratamento da doença e na

conquista de melhores condições de vida por essas pessoas. Os fatores ambientais,

como se viu nesta dissertação, compreendem a iluminação, o mobiliário, ruídos, a

disposição do banheiro e da cozinha, a temperatura e a psicodinâmica das cores.

Da mesma forma, procurou-se responder à questão de pesquisa correlata

oferecendo a fundamentação sobre a importância da atuação da família, do

cuidador e das entidades especializadas no tratamento do doente parkinsoniano.

7.2 RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Considera-se que, dada a relevância do tema abordado, a investigação não se esgota nesta

pesquisa. Ao contrário, recomenda-se que os estudos a respeito de doenças próprias da

terceira idade, em especial a Doença de Parkinson, sejam exaustivamente analisadas e

aprofundadas para que suscitem novas idéias de utilização de métodos pela fisioterapia, e

novas formas, através de disciplinas como a ergonomia, que possam agregar valor ao

tratamento fisioterápico do idoso acometido desta doença, a fim de que a contribuição de

profissionais desta e de outras áreas afins possa ser cada vez maior , possibilitando assim que

os indivíduos possam vivenciar a última fase de sua vida de forma saudável e feliz, evitando

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o confronto negativo com o futuro e gozando das grandes vantagens que a maturidade pode

oferecer ao indivíduo saudável e mesmo ao enfermo capaz de adaptar-se e conviver com suas

limitações.

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