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      Poder Judiciário da UniãoTribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

    Código de Verificação:

    Órgão 6ª Turma CívelProcesso N.  Apelação Cível 20110112055256APCApelante(s) CINTIA GABRIELA DOS SANTOSApelado(s) SANTANDER LEASING SA ARRENDAMENTO

    MERCANTILRelator Desembargador JOSÉ DIVINO DE OLIVEIRARevisora Desembargadora VERA ANDRIGHIAcórdão Nº 660.646

    E M E N T A

    DIREITO CIVIL. REVISÃO DE CONTRATO. ARRENDAMENTO

    MERCANTIL. “SPREAD” BANCÁRIO JUROS REMUNERATÓRIOS. VÍCIO

    DO NEGÓCIO JURÍDICO. LESÃO ENORME.

    I  –  O arrendamento mercantil distingue-se do financiamento bancário,

    porquanto não há prestações mensais visando amortização de débito, mas

    pagamento de contraprestação decorrente do arrendamento do bem objeto do

    contrato. Dessa forma, pela natureza do contrato, não se cogita da cobrança

    de juros remuneratórios e, consequentemente, de “spread” ou de limitação dos

     juros.

    II  –  O instituto da lesão enorme (art.157 do CC) é aplicável quando

    houver prova inequívoca de que um dos contratantes, aproveitando da

    inexperiência ou da premente necessidade do outro, aufere lucros

    exorbitantes. 

    III – Negou-se provimento ao recurso.

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     APELAÇÃO CÍVEL 2011 01 1 205525-6 APC

    Código de Verificação: 7L6A.2013.4XLF.ARSF.DXEY.1Q7I7L6A.2013.4XLF.ARSF.DXEY.1Q7I G ABINETE DO DESEMBARGADOR JOSÉ DIVINO DE OLIVEIRA 2

    A C Ó R D Ã O

     Acordam os Senhores Desembargadores da 6ª Turma Cível do Tribunal deJustiça do Distrito Federal e dos Territórios, JOSÉ DIVINO DE OLIVEIRA -Relator, VERA ANDRIGHI - Revisora, ANA MARIA DUARTE AMARANTE

    BRITO - Vogal, sob a Presidência da Senhora Desembargadora ANA MARIADUARTE AMARANTE BRITO, em proferir a seguinte decisão: CONHECIDO.DESPROVIDO. UNÂNIME, de acordo com a ata do julgamento e notastaquigráficas.

    Brasília (DF), 6 de março de 2013

    Certificado nº: 11 43 BF 99 00 04 00 00 0C EF11/03/2013 - 14:58 Desembargador JOSÉ DIVINO DE OLIVEIRA

    Relator

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     APELAÇÃO CÍVEL 2011 01 1 205525-6 APC

    Código de Verificação: 7L6A.2013.4XLF.ARSF.DXEY.1Q7I7L6A.2013.4XLF.ARSF.DXEY.1Q7I G ABINETE DO DESEMBARGADOR JOSÉ DIVINO DE OLIVEIRA 3

    R E L A T Ó R I O

    Trata-se de ação de conhecimento, subordinada ao procedimento

    comum de rito ordinário, ajuizada por CINTIA GABRIELA DOS SANTOS em facede AYMORÉ CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO S/A.

     A autora alega, em síntese, que celebrou com a ré contrato de

    arrendamento mercantil. Sustenta que o “spread”   bancário realizado pela

    instituição financeira é abusivo, ao argumento de que os juros praticados são

    exorbitantes. Aduz que a cobrança de juros, em patamar superior a 20% da

    maior taxa de mercado, configura vício do negócio jurídico denominado

    lesão enorme, consoante estabelece o art. 4º, alíneas “a” e “b” da Lei 1.521/51.Requer a antecipação dos efeitos da tutela para autorizar o depósito das parcelas

    incontroversas, proibindo a inclusão de seu nome em cadastro restritivo de

    crédito, bem como a decretação de nulidade das cláusulas impugnadas,

    repetindo-se em dobro o valor pago a maior.

     A ação foi julgada improcedente (fls.105/113).

    Inconformada, a autora apelou (fls.116/125). Suscita preliminar

    de cerceamento de defesa e de ausência de motivação. No mérito, repisa os

    argumentos constantes da petição inicial. Pede a anulação ou a reforma da

    sentença.

    O recurso é isento de preparo (fls.113).

     A apelação foi contrariada (fls.130/143). Requer a apelada a

    alteração do pólo passivo da demanda para que conste como ré a SANTANDER

    LEASING S/A ARRENDAMENTO MERCANTIL. Refuta, ainda, os argumentos

    apresentados na apelação.

    É o relatório.

    V O T O S

    O Senhor Desembargador JOSÉ DIVINO DE OLIVEIRA - Relator

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     APELAÇÃO CÍVEL 2011 01 1 205525-6 APC

    Código de Verificação: 7L6A.2013.4XLF.ARSF.DXEY.1Q7I7L6A.2013.4XLF.ARSF.DXEY.1Q7I G ABINETE DO DESEMBARGADOR JOSÉ DIVINO DE OLIVEIRA 4

    Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do

    recurso.

    RETIFICAÇÃO DO PÓLO PASSIVO:

     A apelada requer a alteração do pólo passivo da demanda para

    que conste como ré a SANTANDER LEASING S/A ARRENDAMENTO

    MERCANTIL.

    Embora a demanda tenha sido ajuizada em face de AYMORÉ

    CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO S/A verifica-se que o contrato

    de arrendamento mercantil foi celebrado com pessoa jurídica diversa, qual seja,REAL LEASING S.A. ARRENDAMENTO MERCANTIL, que foi sucedida pela

    SANTANDER LEASING S/A ARRENDAMENTO MERCANTIL, conforme fls.26/28

    e 92-v.

    Esclareça-se, ainda, que a SANTANDER LEASING S/A

     ARRENDAMENTO MERCANTIL se deu por citada na presente demanda, a

    contestou e a sua representação processual esta devidamente regularizada

    (fls.53/90 e 91/94).

     Assim, retifique-se o pólo passivo da demanda para que conste

    como ré a pessoa jurídica, SANTANDER LEASING S/A ARRENDAMENTO

    MERCANTIL.

    PRELIMINAR: CERCEAMENTO DE DEFESA E AUSÊNCIA DE

    MOTIVAÇÃO

    Suscita a autora preliminar de cerceamento de defesa ao

    argumento de que não lhe foi oportunizado a produção de prova pericial.

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     APELAÇÃO CÍVEL 2011 01 1 205525-6 APC

    Código de Verificação: 7L6A.2013.4XLF.ARSF.DXEY.1Q7I7L6A.2013.4XLF.ARSF.DXEY.1Q7I G ABINETE DO DESEMBARGADOR JOSÉ DIVINO DE OLIVEIRA 5

    O juiz é o destinatário da prova (art. 131 do CPC1), motivo pelo

    qual pode indeferir a realização de outras provas quando constatar que os

    elementos constantes dos autos são suficientes à formação de sua convicção,

    caso em que poderá indeferir as provas reputadas impertinentes e conhecerdiretamente do pedido e proferir sentença (art. 330, I, CPC2), sem que essa

    providência caracterize cerceamento de defesa.

    Nesse sentido:

    “CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. CERCEAMENTO DE DEFESA

    REVISÃO DE CONTRATO. CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO.

    CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. AUSÊNCIA DE

    PREVISÃO. TAXA DE ABERTURA DE CRÉDITO E EMISSÃO DE BOLETO.

    TARIFA DE LIQUIDAÇÃO ANTECIPADA. ILEGALIDADE. REPETIÇÃO.

    SIMPLES.

    I - O juiz é o destinatário da prova (art. 131 do CPC), motivo pelo

    qual pode indeferir a realização de outras provas quando constatar que os

    elementos constantes dos autos são suficientes à formação de sua convicção,

    caso em que poderá indeferir as provas reputadas impertinentes e conhecer

    diretamente do pedido e proferir sentença (art. 330, I, CPC)

    (...)

    VI - Deu-se parcial provimento ao recurso.” 3 

    1 “Art. 131. O juiz apreciará livremente a prova, atendendo aos fatos e circunstâncias constantes dos autos;

    ainda que não alegados pelas partes; mas deverá indicar, na sentença, os motivos que lhe formaram o

    convencimento”. 2 “Art. 330. O juiz conhecerá diretamente do pedido, proferindo sentença: I - quando a questão de mérito for

    unicamente de direito, ou, sendo de direito e de fato, não houver necessidade e produzir prova em audiência;

    II –  (...)”. 3  Acórdão n.636852, 20120910093674APC, Relator: JOSE DIVINO DE OLIVEIRA, Revisor: VERA

    ANDRIGHI, 6ª Turma Civel, Publicado no DJE: 04/12/2012. Pág.: 196

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     APELAÇÃO CÍVEL 2011 01 1 205525-6 APC

    Código de Verificação: 7L6A.2013.4XLF.ARSF.DXEY.1Q7I7L6A.2013.4XLF.ARSF.DXEY.1Q7I G ABINETE DO DESEMBARGADOR JOSÉ DIVINO DE OLIVEIRA 6

     A recorrente suscita, também, preliminar de ausência de

    motivação, sob o fundamento de que as razões utilizadas na sentença são

    específicas para contrato de financiamento, que não é o caso dos autos.

    Compulsando os autos, verifica-se que o contrato a ser revisadoé de arrendamento mercantil.

     A sentença bem analisou a questão ao motivar que, nos

    contratos de arrendamento mercantil, não incidem juros remuneratórios e

    capitalização, porquanto não adequados à natureza deste tipo de avença

    (fls.109).

     Assim, não há se falar que a sentença é desprovida de

    fundamentação.

    Rejeitos as preliminares.

    MÉRITO:

     ARRENDAMENTO MERCANTIL  –  (SPREAD   BANCÁRIO:

    JUROS REMUNERATÓRIOS:

    Sustenta a autora que o “spread”   bancário realizado pela

    instituição financeira é abusivo, ao argumento de que os juros praticados são

    exorbitantes.

    O negócio jurídico objeto da demanda constitui pacto de

    arrendamento mercantil.

     Acerca do tema, destaca-se abalizada doutrina:

    “Pelo contrato de leasing uma instituição financeira, especializada

    ou não, concede a um industrial, por longo prazo, o direito de utilizar máquinas

    que adquiriu para esse fim, cobrando-lhe aluguel por esse uso temporário e

    admitindo que, a certo tempo, declare opção de compra, pagando o preço

    residual, isto é, o que fica após a dedução das prestações até então pagas.

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     APELAÇÃO CÍVEL 2011 01 1 205525-6 APC

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    (...).

    Para a sua configuração, necessários são os seguintes

    elementos jurídicos: a) a compra de equipamentos e máquinas por uma

    instituição financeira para arrendá-los a longo prazo; b) a concessão do usodesses bens contra o pagamento de um aluguel (renda); c) a faculdade

    assegurada ao concessionário do uso das máquinas de adquiri-las, na totalidade

    ou em parte, mediante preço convencionado no próprio contrato, deduzidos os

     pagamentos feitos a título de aluguel.

    (...).

    O elemento essencial de caracterização do leasing é a faculdade

    reservada ao arrendatário de adquirir, no fim do contrato, os bens que alugou.” 4 

    No contrato de leasing, o preço pago pelo aluguel do bem

    corresponde à soma das contraprestações e do valor residual, cujos recursos

    devem retornar em montante suficiente para cobrir o preço de aquisição, os

    custos financeiros da captação de recursos no mercado, os impostos incidentes

    na operação, além dos custos administrativos, bem como proporcionar àarrendadora a renda própria da atividade.

    O arrendamento mercantil se distingue do financiamento bancário

    por não haver prestações mensais visando amortização de débito, mas

    pagamento de contraprestação decorrente do arrendamento do bem.

    Conforme orientação emanada do egrégio Superior Tribunal de

    Justiça:

    “Diversamente do que ocorre nos financiamentos em geral, no

    arrendamento mercantil, o custo do dinheiro não é identificado por institutos

     jurídicos, v.g., juros remuneratórios ou capitalização de juros. No empréstimo de

    4 GOMES, Orlando. Contratos. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 462.

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    dinheiro, pode-se discutir a taxa de juros (se limitada ou não) e a sua

    capitalização (se permitida, ou não).

    No arrendamento mercantil, o custo do dinheiro, aí não incluída a

    correção monetária, está embutido nas contraprestações, sendo impossível, porexemplo, discutir juros e capitalização de juros - estranhos ao contrato, que só

     prevê o montante das prestações, o respectivo número, o valor residual

    garantido, a correção monetária e, no caso de inadimplemento, comissão de

     permanência, multa e juros moratórios.

    De fato, como distinguir o que, no custo do dinheiro, representa

     juros e o que corresponde à sua capitalização? À vista disso, não há juros nem

    sua respectiva capitalização.” 5 

    Dessa forma, pela natureza do contrato, não se cogita da

    cobrança de juros remuneratórios e, consequentemente, de “spread” ou de

    limitação dos juros.

     A propósito, destaco os seguintes precedentes:

    “ARRENDAMENTO MERCANTIL. REVISÃO. JUROS. TABELA

    PRICE. INOVAÇÃO. CAPITALIZAÇÃO MENSAL. IMPERTINÊNCIA. COMISSÃO

    DE PERMANÊNCIA. INSCRIÇÃO DO NOME EM CADASTRO DE

    INADIMPLENTES.

    1 - Nos contratos de arrendamento mercantil são impertinentes

    alegações referentes à limitação dos juros remuneratórios e à capitalização

    mensal desses, vez que não se trata de financiamento ou mútuo.

    (...)

    5 - Apelação não provida..” 6 

    5 RESP 197015 / RS, 3ª Turma, Relator Min. Ari Pargendler.

    6Acórdão n. 541529, 20110110540765APC, Relator JAIR SOARES, 6ª Turma Cível, julgado em

    10/10/2011, DJ 20/10/2011 p. 221

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    Código de Verificação: 7L6A.2013.4XLF.ARSF.DXEY.1Q7I7L6A.2013.4XLF.ARSF.DXEY.1Q7I G ABINETE DO DESEMBARGADOR JOSÉ DIVINO DE OLIVEIRA 9

    “PROCESSO CIVIL E CONSUMIDOR. REVELIA. CONTRATO

    DE ARRENDAMENTO MERCANTIL. EXISTÊNCIA DE EVENTUAIS

    CLÁUSULAS ABUSIVAS. NÃO COMPROVAÇÃO. [...]

    O contrato de arrendamento mercantil, também denominado

    leasing financeiro, é, em linhas gerais, "um negócio jurídico de financiamento,

    que toma a forma de uma locação de bens móveis ou imóveis, onde o locador

    atribui ao locatário o direito de opção entre renovar a locação, devolver o bem ou

    comprá-lo, pagando então apenas o valor residual nele previsto, findo o prazo

    contratual" (Aramy Dornelles da Luz, in Negócios Jurídicos Bancários - O Banco

    Múltiplo e seus Contratos, RT, p. 194). Nele, o arrendante ou arrendador adquire

    o bem de consumo no mercado e o coloca à disposição do arrendatário, para que

    este o use de acordo com suas necessidades e interesses.

     A priori, o valor a ser fixado a título de contraprestação não sofre

    qualquer influência em razão de capitalização de juros, aplicação de tabela price

    e tantos outros encargos, comuns aos contratos puro e simples de mútuo ou

    financiamento para aquisição de veículo. Somente em caso de mora é que

     passam a ser devidos os encargos moratórios correspondentes, nada mais.

    Prevalece a lei da oferta e da procura, oportunidade em que as partes é que

    deverão ajustar o valor do "aluguel" do bem. [...].” 7 

    VÍCIO DO NEGÓGIO JURÍDICO: LESÃO ENORME

     Aduz a autora que a cobrança de juros em patamar superior a

    20% da maior taxa de mercado configura vício do negócio jurídico denominadolesão enorme, consoante estabelece o art.4º, alíneas “a” e “b” da Lei 1.521/51.8 

    7  Acórdão n. 457908, 20090110477527APC, Relator ANA MARIA DUARTE AMARANTE BRITO, 6ª

    Turma Cível, julgado em 20/10/2010, DJ 28/10/2010 p. 1678  Lei 1.521/51 - dispõe sobre os crimes contra a economia popular - Art. 4º. Constitui crime da mesma

    natureza a usura pecuniária ou real, assim se considerando: a) cobrar juros, comissões ou descontos

     percentuais, sobre dívidas em dinheiro superiores à taxa permitida por lei; cobrar ágio superior à taxa oficial

    de câmbio, sobre quantia permutada por moeda estrangeira; ou, ainda, emprestar sob penhor que seja

     privativo de instituição oficial de crédito; b) obter, ou estipular, em qualquer contrato, abusando da premente

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     A lesão enorme é vício anulável do negócio jurídico estampado

    no art.157 e §§ do Código Civil que, assim, enuncia:

    “Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente

    necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente

    desproporcional ao valor da prestação oposta.

    § 1o  Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os

    valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico.

    § 2 o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido

    suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito.”  

    Para que o instituto da lesão enorme seja aplicado deverá

    haver prova inequívoca de que um dos contratantes tenha se aproveitado

    da inexperiência ou da premente necessidade do outro para impor a

    avença, proporcionando lucros exorbitantes aquele.

    Confiram-se os precedentes:

    “APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÕES REVISIONAIS. EMPRÉSTIMOS

    CONSIGNADOS EM FOLHA DE PAGAMENTO. JUROS. CAPITALIZAÇÃO

    MENSAL. INCONSTITUCIONALIDADE. TEORIA DA LESÃO ENORME. NÃO

    INCIDÊNCIA. REPETIÇÃO DO INDÉBITO NA FORMA SIMPLES.

    (...)

    2. Não se aplica a teoria da lesão enorme quando inexistentes

     provas de que a instituição financeira tenha se aproveitado da inexperiência ou

    da premente necessidade da consumidora para impor-lhe as contratações sub

    necessidade, inexperiência ou leviandade de outra parte, lucro patrimonial que exceda o quinto do valor

    corrente ou justo da prestação feita ou prometida. Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa,

    de cinco mil a vinte mil cruzeiros.

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     judice, e que estas tenham proporcionado lucro exorbitante à instituição

    financeira.

    (...)” 9 

    “CDC. APLICAÇÃO. INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. ADI 2591/DF.

    REVISÃO CONTRATUAL. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. AUSÊNCIA DE

    IMPUGANAÇÃO ESPECÍFICA. VEDAÇÃO. ABUSIVA. MÁXIMA PROTEÇÃO AO

    CONSUMIDOR. PROCESSO CIVIL. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA.

    INDEFERIMENTO. RECURSO CABÍVEL. AGRAVO DE INSTRUMENTO.

    INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. JUROS NÃO LIMITADOS. SÚMULA 596 STF.

    MULTA CONTRATUAL DE 2%. TEORIA LESÃO ENORME. AFASTADA.

    REPETIÇÃO DE INDÉBITO. ACOLHIDA. LIQÜIDAÇÃO DE

    SENTENÇA.RECURSOS CONHECIDOS. PROVIDO PARCIALMENTE RECURO

    DO AUTOR. DESPROVIDO RECURSO DO RÉU.

    (...)

    10. Não se aplica a teoria da lesão enorme quando inexistentes

     provas de que os contratos foram celebrados pelo autor, premido pelanecessidade ou induzido pela inexperiência proporcionando à instituição

    financeira um lucro exorbitante.

    (...)” 10  

    No caso, não ficou provado que a autora celebrou contrato

    de arrendamento mercantil, sob pressão da necessidade ou induzida pela

    inexperiência, proporcionando à instituição financeira lucros vultosos.

    Dos autos, vislumbra-se que a celebração do contrato se deu

    de forma ordinária com a anuência das partes, tendo a autora tomado

    9 Acórdão n.600362, 20090710313789APC, Relator: SERGIO ROCHA, Revisor: CARMELITA BRASIL,

    2ª Turma Civel, Publicado no DJE: 03/07/2012. Pág.: 3610

      Acórdão n.267885, 20040110330932APC, Relator: NILSONI DE FREITAS, Revisor: VASQUEZ

    CRUXEN, 3ª Turma Civel, Publicado no DJU SECAO 3: 19/04/2007. Pág.: 81

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    Código de Verificação: 7L6A.2013.4XLF.ARSF.DXEY.1Q7I7L6A.2013.4XLF.ARSF.DXEY.1Q7I G ABINETE DO DESEMBARGADOR JOSÉ DIVINO DE OLIVEIRA 12

    ciência de todos os termos da avença, sem quaisquer indícios de que teria

    sido forçada a celebrá-lo sob as circunstâncias que configuram a lesão

    enorme.

    Por fim, assevera a recorrente que tem direito à repetição emdobro dos valores pagos indevidamente.

    Não há se falar em repetição de indébito, uma vez que não houve

    cobrança abusiva.

     Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao recurso.

    É como voto.

    A Senhora Desembargadora VERA ANDRIGHI - Revisora

    Com o Relator

    A Senhora Desembargadora ANA MARIA DUARTE AMARANTE BRITO -Vogal

    Com o Relator.

    D E C I S Ã O

    CONHECIDO. DESPROVIDO. UNÂNIME.