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Revista de Economia Fluminense Estratégias para o desenvolvimento Ano V - Número 10 - Maio de 2011 Municípios do Conleste e as transformações socioeconômicas na região Importância e declínio da atividade açucareira no Norte Fluminense Perspectivas e pujança do Rio advindas da exploração do pré-sal Reflexão das mudanças econômicas e sociais com as Olimpíadas de 2016 Os impactos do Comperj no cotidiano e futuro do Rio de Janeiro

Ano V - Número 10 - Maio de 2011 Os impactos do … · Ano V - Número 10 - Maio de 2011 ... Consulte quem tem experiência e trabalha por você! A Escola de Governo, ... capazes

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Revista deEconomia FluminenseEstratégias para o desenvolvimento

Ano V - Número 10 - Maio de 2011

Municípios do Conleste e as transformações socioeconômicas na região

Importância e declínio da atividade açucareira no Norte Fluminense

Perspectivas e pujança do Rio advindas da exploração do pré-sal

Reflexão das mudanças econômicas e sociais com as Olimpíadas de 2016

Os impactos do Comperj no cotidiano e futuro

do Rio de Janeiro

Consulte quem tem experiência e trabalha por você!

A Escola de Governo, que há 50 anos, trabalha com excelência junto à diversas entidades de

Governo, Prefeituras, Universidades, ONGs, Empresas, Pesquisadores e Investidores.

Produção de Indicadores EstatísticosAtividades de Estudos e PesquisasRealização de Concursos PúblicosCapacitação e FormaçãoConsultoria para Estudos EspecializadosReestruturação Organizacional

Fundação CeperjO raio X em alta resoluçãodo Estado do Rio de Janeiro

www.ceperj.rj.gov.br

ExpedienteGoverno do Estado do Rio de JaneiroGovernador: Sérgio Cabral

Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão - SEPLAGSecretário: Sérgio Ruy Barbosa Guerra Martins

Fundação Centro Estadual de Estatísticas,Pesquisas e Formação de Servidores Públicosdo Estado do Rio de Janeiro - CEPERJ

PresidenteJorge Guilherme de Mello Barreto

Vice presidenteRonaldo Reis Braga

Chefe de GabineteSandra Maria Arueira Liporaci

Centro de Estatísticas, Estudos e PesquisasEpitácio José Brunet Paes

Escola de Gestão e Políticas PúblicasMaria Auxiliadora Trindade Carmo

Diretoria Administrativa e FinanceiraMarco Agostini

Diretoria de Concursos e Processos SeletivosMarcus Vinicius de São Thiago

Diretoria de Cooperação Técnica e Desenvolvimento InstitucionalJoão Carlos de Carvalho

Conselho EditorialEpitácio Brunet, Glaucio Marafon, Jorge Brito, Luiz Martins, Marieta Ferreira, Mauro Osório, Paulo Knauss, Renata La Rovere e Sérgio Magalhães

Assessoria de ComunicaçãoEloisa Leandro

Jornalista ResponsávelEloisa Leandro

CoordenaçãoIvone Ferreira

RevisãoEloisa Leandro, Franklin Campos e Mariléa Miranda

Diagramação Paloma Oliveira

Colaboração Franklin Campos, Mariléa Miranda e Thaís Farias

FotosBanco de Imagens Ceperj, Agência Petrobras, Alexandre Simões, Bruno de Lima, Denilson Santos e Gilberto Azevedo.

Tiragem: 1000 exemplares

O raio X em alta resoluçãodo Estado do Rio de Janeiro

Fundação CeperjFundação Centro Estadual de Estatísticas, Pesquisas e Formação dos Servidores Públicos do Rio de JaneiroAv. Carlos Peixoto, 54 - BotafogoCEP 22290-090 Rio de Janeiro RJwww.ceperj.rj.gov.br

Assessoria de ComunicaçãoTel : 21 - 23347311/[email protected]

CEEP - Centro de Estatística Estudos e PesquisasTel: 21 - 2334-7314/[email protected]

Voltamos neste número com foco nos impactos do petróleo no Rio de Janeiro. O tema precisa ser debatido sempre, pois a cada momento um balanço é preciso ser feito do que positivo se faz para o desenvolvimento do Estado, mas também para nos alertar das chagas que poderão ser abertas se a população e seus legítimos representantes não atuarem de perto defendendo os mais diversos direitos sociais.

É imprescindível atrair investimentos do setor de petróleo que com muita alegria recebe a grande empresa brasileira, a Petrobras. Mas a geração de empregos de melhores salários, a defesa de patrimônios naturais e básicos como água potável barata para todos, educação universal de qualidade, entre outras questões impor-tantes, precisam de soluções que atendam o conjunto de trabalhadores e mora-dores do Rio de Janeiro. Já se fala em apagão de mão de obra, em falta de água nos 13 municípios do Consórcio Intermunicipal do Leste Fluminense (Conleste), cidades que podem sofrer efeitos urbanos negativos, como os vistos em Macaé.

O momento é extremamente positivo e o entusiasmo deve ser mantido. O pa-pel da Revista Economia Fluminense, no entanto, sempre se manterá no campo da crítica construtiva, aquela que aponta novos caminhos e novas estratégias para problemas que surgem em todo grande ciclo de desenvolvimento que se dá de forma acelerada.

A Revista analisa também questões chaves dos grandes eventos esportivos que se avizinham e já alteram nossas cidades. Não podemos perder oportunidades para melhorarmos a condição de vida de centenas de milhares de cariocas e fluminenses, que ainda vivem com pouca ou nenhuma perspectiva de ter uma vida digna. Serão milhões em obras e milhares de empregos que mudarão a vida no Estado para alguma direção. Mas qual direção?

Está claro que Olimpíadas, Pré-Sal, Comperj e Copa do Mundo geram grandes movimentos e investimentos. É o momento de o Rio de Janeiro se tornar, se não o melhor, mais um dos Estados de melhor qualidade de vida, de índice de desenvolvi-mento humano, de distribuição de renda, riqueza e outros avanços nos próximos 10, 15 anos.

Tenham uma boa leitura e nos enviem suas opiniões. Nós precisamos delas para aprimorar cada vez mais nossa visão de futuro para o nosso querido e generoso Rio de Janeiro!

Editorial

Jorge Guilherme de Mello Barretopresidente da Fundação Ceperj

Um novo horizonte desponta para o Rio de Janeiro

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2 Revista de Economia Fluminense

Sumário

Pág.4 O Norte Fluminense como espaço açucareiroPedro Paulo Biazzo

Pág.10 Instalação do Comperj: Impactos previstos

Comperj: Reflexos e oportunidades para os municípios do ConlestePág.18

Pág.26 O legado dos mega eventos esportivosLuiz Martins de Melo

Pág.32 A atividade petrolífera no Norte FluminenseAlex Pereira de Morais

Pág.38 O Rio de Janeiro e o Pré-sal

Pág.44 Indicadores Econômicos

Jorge Britto

Jorge Britto

Adilson de Oliveira

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3Revista de Economia Fluminense

N a porção nordeste do estado do Rio de Janeiro, a canavi-cultura e a produção açucarei-

ra foram fundadoras desde o século XVI-II, de um conjunto de formas e funções no espaço, na acepção de Santos (1996), a compor uma estrutura sócioespacial em abrangência regional. Tais formas e funções - fazendas, usinas e fluxos que as animam - serviram como referencial para definir os municípios participantes de uma região historicamente cana-vieira, o atual Norte Fluminense. Seja através do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - , seja pela antiga Cide - Centro de Informações e Dados do Rio de Janeiro - (atual Ceperj), diferentes critérios de regionalização adotados na segunda metade do século XX levaram ao agrupamento de Campos, Macaé e unidades municipais adjacentes, em unidades regionais caracterizadas, so-bretudo, por seus espaços “canavieiros” e pela territorialidade relativa às empresas do setor açucareiro e alcooleiro.

A atual divisão do estado do Rio de

Janeiro em regiões de governo utilizada pela Fundação Ceperj (2009) delimita a região Norte Fluminense como conjunto de nove municípios. Dentre os núcleos urbanos desta região, alguns cresceram como entroncamentos ferroviários (ca-sos de Campos, São Fidélis, Conceição de Macabú e Cardoso Moreira), alguns surgiram como portos e bases para a in-dústria naval (casos de São João da Barra e Macaé), e outros como núcleos de po-voamento de referência para prósperas

ARTIGO

Pedro Paulo BiazzoMestre em GeografiaUniversidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJProfessor do Colégio Pedro IIDoutourando em GeografiaUniversidade Federal Fluminense - UFFCoordenador do Núcleo de Estudos de Geografia Fluminense - (NEGEF / UERJ)

O Norte Fluminense como espaço açucareiro

Fazendas, usinas e fluxos que se animam serviram

como referencial para definir os municípios participantes de uma região historicamente

canavieira, o atual Norte Fluminense

fazendas canavieiras (casos de São Fran-cisco de Itabapoana, Carapebus e Quis-samã). Contudo, ao longo das últimas décadas, o mosaico de territorialidade no Norte Fluminense se tornou muito mais complexo e a “unidade regional” conferida pela outrora generalizada atividade canavieira começou a se di-luir. Estas bases produtivas materiais relativas uma infraestrutura regional foram, desde os anos 80, marcadas pela crescente importância da atividade petrolífera na região.

Neste artigo pretende-se apresen-tar, muito resumidamente, a trajetória de declínio da atividade açucareira e analisar a atual conjuntura da mesma, que continua a enfrentar dificuldades capazes de originar restrições aos pro-cessos econômicos ligados ao desen-volvimento regional. Trata-se de estudo fundamentado em pesquisas de campo e gabinete realizadas entre 2000 e 2009, que resultaram em trabalhos científi-cos diversos e em uma dissertação de mestrado (BIAZZO, 2009).

Trajetória e declínio da atividade açucareira na região e sua substituição pela exploração de petróleo nos anos 80

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4 Revista de Economia Fluminense

Implantada em meados do século XVIII, a canavicultura originou uma “Zona Nova do Açúcar” em parcela do atual Norte Fluminense. Desde então, e até meados do século XX, senhores de engenho, usineiros e fornecedores de cana, em conjunto com o poder público, foram os mais importantes agentes na produção do espaço regional.

Por volta de 1870, os engenhos de açúcar através da fusão de recursos públicos e privados concretizaram as expectativas para sua transformação nos primeiros engenhos centrais. Surgi-ram como marcos decisivos na história da agricultura brasileira os engenhos centrais de Quissamã (1877, no então município de Macaé), Barcelos (1878, em São João da Barra) e Pureza (1885, em São Fidélis). Senhores de engenho de Campos se transformaram em ver-dadeiros empresários do açúcar e a mo-agem ocorria, exclusivamente, a partir da recepção de canas de fornecedores (OSCAR, 1985). Paralelamente, nas duas últimas décadas do século XIX, foram criadas seis grandes usinas, que além de receber canas de fornecedores, territori-

alizavam diretamente seu capital, pos-suindo muitos hectares de terras própri-as. Estas também se localizavam no município de Campos: Limão, Queima-do, São José, São João, Outeiro e Sapu-caia. Ironicamente, naquele momento configuraram-se engenhos centrais na periferia e usinas localizadas mais ao centro da região, algo compreensível porque os primeiros cumpriam o papel de captar matéria-prima de fornece-dores mais distantes.

Data da passagem do século XIX para XX, a inauguração de um novo tipo de subvencionismo estatal que iria marcar a política nacional para o setor açuca-reiro e alcooleiro durante praticamente um século. Os crescentes subsídios aos usineiros culminaram com a criação, em 1933, do Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), quando a intervenção federal pas-sou a ter um caráter permanente. Para o Norte Fluminense a atuação do IAA, em conjunto com o Estatuto da Lavoura Ca-navieira, promulgado em 1941, ajudou fornecedores de cana a se manterem em atividade e criou condições para que a agroindústria regional continuasse

existindo ao longo dos anos 60 e 70, mesmo com atraso tecnológico e baixa produtividade. Em um contexto de “de-colagem” da industrialização brasileira, a grande expansão dos espaços cana-vieiros, marcados a partir da década de 50, em contraste com a “permanência e o atraso” do Norte Fluminense, pro-vocaram a perda de expressividade do mesmo em escalas nacional e macror-regional (BERNARDES, 1995).

Entre o início do século XX e a dé-cada de 70 verificou-se na região a ma-nutenção dos principais aspectos da estrutura sócioespacial predominante-mente estabelecida a partir da canavi-cultura. Destacam-se, contudo, trans-formações como o desenvolvimento de uma malha rodoviária e a perda grada-tiva de importância da malha ferroviária, que, juntamente com as usinas, serviu de base para o surgimento de aglomera-dos humanos, que hoje são vilas ou mes-mo cidades. Segundo Limonad (1996), o padrão de urbanização historicamente verificado no Norte-Noroeste Fluminense é de esvaziamento demográfico dos distri-tos, com deslocamento das populações

Auge e Declínio Açucareiro no Norte Fluminense

Engenhos centrais de Quissamã marcaram a história do Norte Fluminense no século XIX e XX. Canavicultura era principal atividade econômica da região

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5Revista de Economia Fluminense

Revisitando a Geografia Canavieira no Norte Fluminense: síntese da conjuntura atual

do campo e de vilas para as sedes mu-nicipais, consideradas como um patamar migratório em direção a outras regiões, sobretudo, à região metropolitana. Por conseguinte, surge um reduzido núme-ro de sedes municipais, quase todas com baixo dinamismo econômico. Em relação a este padrão regional constitui-se exceção, até a década de 80, somente a cidade de Campos, durante muito tempo uma das mais dinâmicas do Interior Fluminense, por ser entroncamento rodo-ferroviário.

Nos anos 70, o Programa Nacional do Álcool (Proálcool) originou quadro de otimismo que acabou por se frustrar

na região, que então portava diversos aspectos infensos à modernização agrí-cola e industrial. Esta contínua crise na produção de cana, açúcar e álcool este-ve e está até hoje ligada a fatores como: a crescente escassez de matéria-prima em contraste com o aumento exagera-do do parque agroindustrial ocorrido nos anos 70 (eram 19 as usinas naquele momento); os parcos capitais investidos em destilarias à época da expansão do Proálcool, iníquos em relação aos enor-mes montantes paulista e paranaense; a concorrência e incorporação de usinas menores por unidades maiores (forte

tendência de oligopolização); e a dis-puta entre usinas por grandes fornece-dores de cana, exageradamente des-prendida do fator distância (da fazenda em relação à unidade agroindustrial), o que gera gastos e desperdícios. Mais recentemente se somam outros fatores agravantes de ordem diversa, como a di-ficuldade de adaptar novos cultivares de cana a solos com delicado balanço hídri-co, ou como as tendências neoliberais dos anos 90, que vieram a encerrar a tradição subvencionista estatal, por meio da liberação dos preços do açú-car e do álcool.

Em decorrência de todo o exposto, a expressividade da agroindústria canavieira do Norte Fluminense se tornou claramente diminuta quando comparada com outros espaços integrantes do complexo agroindustrial sucroalcooleiro nacional. Até o ano 2000, existiam nove usinas ativas na região. Elas eram Sapucaia, Santa Cruz, Cupim, São José e Paraíso (todas em Campos); Bar-celos em São João da Barra; Pureza, em São Fidélis; Quissamã e Carapebus, em seus respectivos municípios de mesmo nome. Entretanto, devido a fatores econômicos diversos, alguns deles já expostos, ao longo do último decênio, a moagem de cana em aproximadamente metade destas unidades agroindustriais se tornou intermitente.

Para compreender melhor este processo há que se considerar distintas situações empresariais. O grupo controlador da usina Sapucaia é o único originado em Campos. Já a Coagro (usina São José) funciona com base em uma cooperativa de fornecedores de cana que, nos anos 2000, passou a receber apoio financeiro e logístico da prefeitura de Campos. Mas existem, sobretudo, oligarquias locais sustentadas em vínculos financeiros com empresas de fora da região, cujos investimentos principais não estão aplicados no setor sucro-alcooleiro. São os casos de grupos como o Othon, dono das usinas Santa Cruz, Quissamã e Carapebus (as duas últimas desativadas) e como o J. Pessoa, proprietário das usinas Barcelos e Cupim. Há também o grupo Coutinho, de-tentor da usina Paraíso. São empresários originários do Nordeste que, por sua presença há gerações, criaram vínculos econômi-cos com o Norte Fluminense.

Usina de Barcelos, São João da Barra, uma das de maior capacidade nas safras de 2007 a 2009. Esta usina abriu e fechou várias vezes com o declínio da atividade

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Deste modo, restaram apenas cinco usinas de açúcar em atividade, quatro de-las localizadas no município de Campos, situação que desautoriza caracterizar o conjunto regional exclusivamente como “canavieiro”. Ainda assim é importante sublinhar que a canavicultura envolve aproximadamente 10 mil produtores e gera 15 mil empregos diretos nos mu-nicípios da região (VEIGA, 2006).

As usinas que participaram das sa-fras e da moagem entre 2007 e 2009 foram: Paraíso e Coagro (São José), na porção sudeste de Campos (Baixada Campista); Santa Cruz e Sapucaia, as unidades agroindustriais com maior ca-pacidade, na porção noroeste de Cam-pos; e Barcelos, situada em São João da Barra. Esta última, assim como as uni-dades Cupim (em Campos) e Pureza (em São Fidélis), nos anos 2000 operaram de modo intermitente por pertencerem a alguns destes grupos empresariais pro-prietários de mais de uma usina que, ao tentar minimizar prejuízos, decidem concentrar em apenas uma, a moagem de matéria-prima que até os anos 90 iria para duas unidades.

O município de Campos, portanto, continua a ser espaço central do Norte Fluminense na produção e transfor-mação da cana-de-açúcar. Na medida em que Quissamã e Carapebus, antigos distritos de Macaé, se emanciparam, este último município perdeu suas an-tigas porções territoriais predominante-mente dedicadas à atividade canavieira e, na atualidade, encontra-se quase total-mente à margem do setor sucroalcoolei-ro regional, com um reduzido número de fornecedores. Quissamã e Carape-

bus, por sua vez, contêm cada qual uma usina desativada. No primeiro, contudo, avistam-se extensas áreas plantadas de cana, fornecidas para a usina Santa Cruz

(Campos), enquanto no segundo, as áre-as oficialmente rurais apresentam quase exclusivamente pecuária bovina.

Já Conceição de Macabú continuou a ocupar posição periférica no que diz respeito ao setor e cumpre papel mera-mente figurativo, voltado à atividade pecuarista cada vez mais polarizada por cooperativa de leite da Região Serrana, originando pouca mão de obra agrícola para Campos. Por sua vez, São João da Barra, a leste e São Fidélis, a noroeste, são municípios que se tornaram cada vez menos relevantes na produção ca-navieira. Ademais, as usinas Pureza e Barcelos, existentes em cada um deles, foram fechadas e reabertas mais de uma vez na última década. Por fim, Cardoso Moreira e São Francisco de Itabapo-ana cumprem papel de periferias mais dinâmicas, ainda bastante integradas a Campos, devido ao grande número no caso do primeiro e ao grande número de fornecedores, no caso do segundo, ain-da que os produtores de cana do norte de São Francisco vendam sua produção para a usina Paineiras, localizada no Es-pírito Santo.

O quadro de escassez de cana-de-açúcar vem prejudicando não somente a atividade usineira que restou em Cam-pos, mas também a atividade pecuaris-ta, principalmente em Campos, Cardoso Moreira e Carapebus. De acordo com técnicos da Emater, em 2007, em torno de cinco mil cabeças de gado foram per-didas no município de Campos por falta de cuidados pastorais e por falta de cana para forragem, ao mesmo tempo em que, contraditoriamente, carregamen-tos de cana forrageira, provenientes de São Francisco de Itabapoana “salvaram gado” em municípios próximos, localiza-dos em Minas Gerais e no Espírito Santo.

No que diz respeito à atual expressão espacial das lavouras canavieiras, es-tas se distribuem, principalmente, na porção central de Campos (distrito-sede, distrito de Ibitioca e distrito de Travessão), área onde se situam as maiores usinas - Santa Cruz, Sapucaia e Cupim. As áreas plantadas de cana-de-açúcar são também extensas no Norte Campista, que inclui, do sul para o norte, os pequenos distritos de Vila Nova de Campos, Morro do Côco, Santa Maria e

Santo Eduardo, este último quase na divisa com o Espírito Santo. Segundo técnicos da Emater e o encarregado pela mão de obra agrícola da Usina Santa Cruz, os produtores desses quatro distri-tos, com exceção do primeiro, fornecem cana quase exclusivamente para Painei-ras (ES), enquanto em Vila Nova de Cam-pos o fornecimento é fracionado entre esta usina Capixaba e Sapucaia.

Vale destacar também as duas usinas ativas, situadas na Baixada Campista: Paraíso e Coagro (antiga São José). Se-gundo o gerente agrícola da Usina Santa Cruz, a formação da Coagro em 2003, sub-vencionada pela Prefeitura de Campos, “praticamente salvou a atividade cana-vieira na Baixada”, algo confirmado pe-los técnicos da Emater.

Os diminutos interesses empresariais e de capitais investidos na atividade ca-navieira, desde o início dos anos 90, se de-vem a diversos fatores anteriormente men-cionados. Porém, há que se acrescentar

O município de Cam-pos, portanto, continua a ser espaço central do Norte Fluminense na produção e transfor-mação de cana-de-

açúcar

Canavicultura ainda demanda mão de obra na região

Campos concentra a maior parte de lavouras de cana-de-açúcar

7Revista de Economia Fluminense

um fator adicional: a falta de manutenção dos canais que interligam a malha hídrica nas planícies, construídos por mão de obra escrava no século XIX. Segundo in-dica o Ceivap – Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (2002), enquanto existiu o DNOS - De-partamento Nacional de Obras Contra as

Dentre as tantas dinâmicas do cam-po no Norte Fluminense, aquelas liga-das direta ou indiretamente ao setor canavieiro e de produção de açúcar e álcool ainda se destacam, mesmo com a existência, desde o final dos anos 90, do Programa Frutificar, que levou a uma maior diversificação produtiva. As decisões concernentes aos gestores de grandes usinas continuam a se revelar cruciais para a oferta de empregos no cam-po e para movimentos populacionais decorrentes (BIAZZO, 2009). As dinâmicas econômicas e demográficas que ense-jam um novo caráter das relações cam-po-cidade incluem não mais o forte êxo-do rural, mas o destaque às migrações de vilas para cidades, ou de centros locais para centros regionais, como Campos e, principalmente, Macaé.

Novos fixos em processo de instau-ração como o Porto do Açu, em São João da Barra, e o estaleiro de Barra do Furado, em Quissamã, além do asfaltamento de

estradas e todos os equipamentos liga-dos à produção e exploração de petróleo, começam a articular mais fortemente a região a escalas de maior abrangência, intensificando processos de “alienação do território” (SANTOS, 1999), cada vez menos organizado de acordo com os interesses de quem nele habita. Há cada vez mais forte atração de mão de obra qualificada externa e incentivo à população da região a buscar qualificação relacionada direta ou indiretamente ao setor petrolífero, com novas inserções profissionais, em regra desvinculadas do segmento agrícola.

Ainda assim, como já aludido, con-tinuam intensas as mobilidades de mão de obra associadas à canavicultura e relevantes são os números que indicam o emprego de mão de obra na atividade pecuária (VEIGA, 2006), demonstrando a necessidade contínua de políticas públi-cas voltadas a estes setores.

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gráfi

cas BERNARDES, Júlia Adão. Mudança Técnica e Espaço: uma proposta de investigação. In: CASTRO, Iná Elias de, GOMES, Paulo Cesar da C.

e CORRÊA, Roberto Lobato (Orgs.). Geografia: Conceitos e Temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. 353 p. p. 239-270.

BIAZZO, Pedro Paulo. Relações Campo-Cidade na Região Norte Fluminense: ruralidades e urbanidades em transformação. 125 f.

Dissertação (Mestrado em Geografia) - Instituto de Geografia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. 2009.

CEIVAP. Relatório Anual do Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul. Rio de Janeiro: CEIVAP, 2002. 45 p.

FUNDAÇÃO CEPERJ. Anuário Estatístico do Rio de Janeiro – Versão On-line 2009.

Disponível em: <http://www.ceperj.rj.gov.br/ceep/ent/anu_online.html>. Acesso em: 28 ago. 2010.

LIMONAD, Ester. Os Lugares da Urbanização: o caso do interior fluminense. 247 f. Tese (Doutorado em Estruturas Ambientais Urbanas) -

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo. 1996.

OSCAR, João. Escravidão & Engenhos. Rio de Janeiro: Achiamé, 1985. 260 p.

SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: técnica, tempo, razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996. 390 p.

SANTOS, Milton. Por Uma Outra Globalização. Rio de Janeiro: Record, 1999. 174 p.

VEIGA, Carlos F. de M. Diagnóstico da Cadeia Produtiva da Cana-de-Açúcar do Estado do Rio de Janeiro.

Rio de Janeiro: FAERJ / SEBRAE, 2006. 110 p.

Considerações Finais

Secas, estes canais cumpriram mais plena-mente suas funções de auxiliar a retenção ou o escoamento de água. O significativo decréscimo populacional do campo tam-bém está relacionado a mais esta dificul-dade, que traz novos desafios de mobili-zação política para promover recuperação dos solos na planície canavieira.

Os diminutos interesses empresariais e de capitais

investidos na atividade canavieira, desde o início dos anos 90, se devem a diversos fatores, como a

falta de manutenção dos canais que interligam a malha hídrica nas

planícies, construídos no século XIX

O quadro de escassez de cana-de-açúcar

vem prejudicando não somente a atividade

usineira que restou em Campos, mas também

a atividade pecua-rista, principalmente em Campos, Cardoso Moreira e Carapebus

8 Revista de Economia Fluminense

ARTIGO

Jorge BritoDepartamento de EconomiaUniversidade Federal Fluminense - UFF

Instalação do Comperj: Impactos previstos

Cálculos da Federação das Indús-trias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) apontam que o Com-

plexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro (Comperj) deve aumentar em R$ 10 bilhões o Produto Interno Bruto (PIB) do Estado. Neste cálculo está incluída a geração de lucros e tributos com a produção e o refino de 150 mil barris de petróleo por dia, a ser viabilizado na primeira fase do projeto. A iniciativa da Petrobras ao implantar este empreendi-mento no município de Itaboraí trará grandes impactos para as economias das cidades que fazem parte do Consór-cio Intermunicipal do Leste Fluminense (Conleste), formado pelos municípios de Cachoeiras de Macacu, Casimiro de Abreu, Itaboraí, Guapimirim, Maricá, Magé, Niterói, Rio Bonito, São Gonçalo, Tanguá e Silva Jardim .

Da previsão de realização de investi-mentos na região é possível considerar as informações levantadas pelo “Decisão Rio – Investimentos 2010-2012”, realiza-do pela Firjan (2010). Este estudo indica

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Petrobras tem ampliado sua carteira de investimentos na Bacia de Campos

10 Revista de Economia Fluminense

que o Estado tem hoje uma das maiores carteiras de investimentos do país, entre empreendimentos públicos e privados, que podem chegar, segundo a Firjan, a mais R$ 126 bilhões entre 2010 e 2012. Do total desses investimentos, a Petro-bras pretende injetar aproximadamente R$ 77 bilhões, ou seja, 61% do total es-timado. Dentre estes, destaca-se a im-plantação do Comperj, um investimento de aproximadamente R$ 18 bilhões, o maior feito até hoje pela estatal.

Do ponto de vista espacial, apesar da maior parte dos investimentos le-vantados serem classificados como im-pactantes em várias regiões do Rio de Janeiro, observa-se que o Leste Fluminense receberá a maior parcela dos recursos pre-vistos, com 12,3%, seguido pela região Norte, que receberá 10,3%, em função da implantação do Complexo Portuário do Açu, em São João da Barra.

* O texto sintetiza e atualiza algumas conclusões do estudo “A Observação Internacional dos Impactos do Comperj Sobre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMS) nos municípios do Conleste” realizado pela equipe interdisciplinar da Universidade Federal Fluminense (UFF) e coordenado pela ONU-HABITAT.

Em 2010, o Conleste foi ampliado com a inclusão dos municípios de Araruama, Teresópolis, Saquarema e Nova Friburgo. No entanto, este estudo circunscreve-se à sua composição original de 11 municípios.

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Os investimentos do Comperj in-tegram-se ao Plano de Negócios da Petrobras (2010-2014) no segmento de refino, transporte e comercialização, que vai receber US$ 73,6 bilhões até 2014. O aumento do consumo de alguns combustíveis no país, como óleo diesel e querosene de aviação, induziram a Petrobras a mudar significativamente o projeto original do Comperj, resultando na sua duplicação, ou seja, com duas e não apenas uma refinaria, cada uma com capacidade para processar 165 mil barris diários de petróleo pesado. A produção não será apenas de matérias-primas para a indústria de plásticos, mas também de combustíveis.

A capacidade de processamento pas-sará de 150 mil barris de petróleo pesa-do para 330 mil barris diários, enquanto os investimentos previstos ultrapassari-am os US$ 8,5 bilhões, podendo chegar a US$ 20 bilhões. Com a ampliação, o projeto, originalmente, previsto para en-trar em operação em 2012, só começará a funcionar em 2013, direcionando-se à produção de combustíveis. Somente em fins de 2015 é que começarão a ser pro-duzidas as matérias-primas petroquími-cas. Já a segunda refinaria entrará em operação no final de 2017.

Assim, em vez de só produzir maté-rias-primas para o setor petroquímico, o empreendimento vai priorizar na primeira fase a produção de combus-tíveis, particularmente diesel e QAV. A quantidade dos petroquímicos será a mesma do projeto original, que envolve unidades geradoras de produtos de 1ª geração como propeno, butadieno, ben-zeno, entre outros, e com capacidade de eteno da ordem de 1,3 milhão de tone-ladas/ano. Haverá também um conjunto de unidades de 2ª geração petroquímica com produção de estireno, etileno-gli-col, polietilenos e polipropileno, entre outros. Além disso, haverá uma Cen-tral de Produção de Utilidades (CDPU), responsável pelo fornecimento de água, vapor e energia elétrica necessári-os para a operação de todo o Complexo.

O projeto elaborado pela Petrobras prevê a instalação de até oito unidades de transformação de resinas no entor-no do empreendimento, principal, em Itaboraí. A previsão é de que o investimento

inicial seja pago em cinco anos, uma vez que a Petrobras terá um ganho de US$ 2 bilhões por ano com o aproveitamento do petróleo pesado no mercado interno. Na fase de operação, a expectativa da Petrobras é de que o Comperj gere um faturamento anual da ordem de US$ 5,8 bilhões, decorrente de vendas tanto dos produtos produzidos pela Unidade de Petroquímico Básicos (62%), quanto pela de Petroquímicos Associados (38%).

Espera-se que empresas de 3ª geração sejam atraídas a se instalar nos municípios vizinhos ao Comperj e ao longo do Arco Metropolitano, que ligará Itaboraí ao Porto de Itaguaí, com o intuito de trans-formar os produtos petroquímicos de 2ª geração em bens de consumo. A partir de uma carga de 150 mil barris/dia de petróleo produzido na Bacia de Campos, o Complexo Petroquímico deverá gerar anualmente 1,3 milhão de toneladas de eteno, 900 mil toneladas de propeno, 360 mil toneladas de benzeno e 700 mil toneladas de para-xileno, além de derivados de petróleo, principalmente coque. As principais resinas termoplásti-cas a serem produzidas pelas UPAs serão polipropileno (850 mil toneladas/ano), polietileno (800 mil toneladas/ano) e poli-tereftalato de etila (600 mil toneladas/ano).

A Petrobras acredita que cerca de

200 empresas de transformação devem investir US$ 200 milhões e gerar quatro mil empregos após a instalação do Pólo. A expectativa é de gerar 212 mil empre-gos diretos, indiretos e via efeito renda (segundo estimativas preliminares).

Ao avaliar os impactos do em-preendimento, de acordo com estudo elaborado pela Firjan e Fundação Getúlio Vargas (FGV) de 2008, buscou construir cenários em termos do número de em-pregos, do valor adicionado gerado e da criação de empresas na região. Além disso, estes cenários compreenderam uma estimativa da distribuição espacial desses impactos. Neste estudo, dois cenários foram considerados para avaliar os impactos gerados em termos da insta-lação de empresas na região.

O Cenário Conservador baseia-se nas seguintes premissas: (i) Direcionamento de 300 mil toneladas anuais de resinas termoplásticas para o consumo das in-dústrias do Estado (13% da capacidade prevista de produção total); (ii) Potencial de instalação de 362 novas indústrias do setor de material plástico no Estado; (iii) Geração de 15 mil empregos diretos; (iv) Expectativa de investimentos da ordem de R$ 900 milhões e de um faturamento anual próximo de R$ 2,4 bilhões.

Já o Cenário Otimista segue as

Arco Rodoviário Metropolitano vai permitir melhor escoamento da produção de Itaboraí à Itaguaí

12 Revista de Economia Fluminense

seguintes premissas: (i) Direcionamento de 600 mil toneladas anuais de resinas termoplásticas para o consumo das in-dústrias do Estado (27% da capacidade prevista de produção total); (ii) Potencial de instalação de 724 novas indústrias do setor de material plástico no Estado; (iii) Geração de cerca de 31 mil empregos diretos; (iv) Expectativa de investimentos na ordem de R$ $ 1,8 bilhão e de faturamento anual próximo de R$ 4,8 bilhões.

Com base na distribuição espacial prevista desses impactos é possível avaliar os possíveis desdobramentos na região do Conleste. A partir de tais estimativas, observa-se que, no cenário pessimista, seriam instaladas 196 em-presas na região, com geração de 8.130 empregos. Em contraste, no cenário otimista seriam instaladas 392 empresas na região, gerando 16.802 empregos.

A expectativa da Petrobras é de que o Comperj gere um faturamento anual da ordem de US$ 5,8 bilhões, decorrente

de vendas tanto de produtos produzidos pela Unidade de Petroquímicos Básicos (62%), quanto pela de Petroquímicos

Associados (38%)

A região do Conleste: quadro socioeconômico atual

A tabela 1 apresenta alguns indica-dores básicos que refletem a situação econômica atual da região composta pelos municípios do Conleste. Apesar das expectativas sobre os impactos de novos investimentos, observa-se que a região do Conleste apresenta uma trajetória recente de baixo dinamismo econômico, apesar das evidências de possível reversão desse quadro a partir de 2008, já como reflexo dos impactos dos investimentos da Petrobras na região.

De fato, a Taxa de Crescimento do PIB estimada para o período 2000-2008 na região do Conleste foi de 29,4%, con-tra 39,0% para o conjunto do estado do Rio de Janeiro e de 38,7% para o total do país. É possível também observar diferenciais expressivos de PIB per-capita entre os municípios da região, o que constitui evidência da presença de desequilíbrios inter-regionais. Observa-

se também uma nítida concentração do PIB em atividades de serviços, com pre-domínio daqueles pouco dinâmicos, as-sim como uma defasagem em termos de remuneração média mensal, em relação ao estado do Rio de Janeiro e principal-mente ao Brasil. Verifica-se também a presença de diferenciais expressivos de remuneração média entre municípios, em função dos respectivos padrões de especialização. Apesar do emprego se concentrar nas faixas de baixa remu-neração, é possível observar um cresci-mento mais acelerado do emprego nas faixas de ensino médio e superior, o que sugere crescentes exigências de qualifi-cação formal da mão de obra.

Empresas começam a se instalar em Rio Bonito, uma das cidades que margeiam o Comperj, em Itaboraí

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13Revista de Economia Fluminense

Informações sobre o número de ad-missões líquidas de empregados (des-contados os desligamentos) nos últimos cinco anos (2006-2010), extraídas da base de dados do CAGED revelam que foram gerados aproximadamente 64 mil novos postos de trabalho na região (ver Tabela 2), revelando um certo di-namismo do mercado de trabalho. Em termos da distribuição espacial dessas admissões líquidas, observa-se que as mesmas se concentraram nos municípi-os de Niterói (27 mil admissões líquidas), São Gonçalo (16 mil admissões líquidas) e Itaboraí (96 mil admissões líquidas). Já em termos da distribuição dessas admis-sões por ramos de atividade, verifica-se que as mesmas se concentraram nas atividades de comércio (15,6 mil admis-sões líquidas), Serviços Administrativos Técnico-Profissionais (14,5 mil admis-sões líquidas), Construção Civil (8,5 mil admissões líquidas) e Indústria (7,0 mil admissões líquidas). Em especial, ob-serva-se no setor de Construção Civil – mais diretamente afetado pelas obras de construção do Comperj – um saldo expressivo de admissões em 2008, uma desaceleração dessas contratações em 2009 e uma reversão para admissões

líquidos negativas em 2010, provavel-mente como reflexo de uma diminuição no ritmo de algumas obras devido a problemas circunstanciais.

Apesar dos investimentos do Com-perj apresentarem um potencial de modificação do quadro socioeconômi-co, torna-se necessário remover alguns entraves ao desenvolvimento local e empresarial na região. Os municípios da região do Conleste, de forma agregada, possuíam relativamente mais pobres do que o estado do Rio de Janeiro, particu-larmente em cidades como Guapimirim, Itaboraí, Magé, Silva Jardim e Tanguá, o que reforça a importância de ações localizadas de combate à fome e a po-breza naquelas localidades. As evidên-cias disponíveis apontam a persistência de bolsões de pobreza e desigualdades inter-regionais expressivas na região do Conleste, apesar de políticas públicas implementadas na região, em especial o Programa Bolsa Família.

De forma a contribuir para a elimi-nação desses bolsões, torna-se necessário implementar programas localizados de geração de emprego e renda na região, de forma articulada à realização de es-forços para melhoria da qualificação da

população que se destina ao mercado de trabalho. Isto envolve programas localizados de geração de emprego e renda em áreas mais carentes, através da capacitação de empreendedores lo-cais e da mobilização de linhas de mi-crocrédito, assim como a formatação de programas de requalificação da mão de obra para atender a demanda de empre-gos gerados pela atração de atividades industriais, comerciais e de serviços para a região. Cabe mencionar também a implementação de programas de quali-ficação da mão de obra da população jo-vem, para o mercado de trabalho, envol-vendo não apenas a educação formal, como também cursos técnicos e profis-sionalizantes.

Em termos das condições de infra-estrutura, observa-se que a situação dos municípios do Conleste em termos de serviços de eletricidade se encontra bastante próxima da universalização, apesar de uma expressiva heteroge-neidade entre os municípios. Em sete municípios, o serviço é universalizado. Somente nos municípios mais pobres da região (Cachoeiras de Macacu, Silva Jardim e Tanguá), a parcela de domicílios não atendidos é superior a 5% (média na-

Municípios

Casimiro de Abreu

Guapimirim

Itaboraí

Magé

Maricá

Niterói

Rio Bonito

São Gonçalo

29.811

48.688

240.940

119.231

477.912

54.596

982.832

Cachoeiras de Macacu 56.529

Fontes: (1) IBGE; (2) Estimativa com base em Censo IBGE e extrapolações; (3) RAIs-MT; (4) Ampla

Silva Jardim

Tanguá

Conleste

População(2008) (1)

PIBR$ 1.000

(1)

PIBper-capita

(1)

Estimativa de pobreza

(2)

Empregoformal 2009

(3)

225.309

22.158

30.139

1.435.588

380.661

1.675.618

947.018

9.232.172

726.978

8.184.678

779.078

1.702.231

160.314

202.580

48.156

7.818

6.955

7.943

19.318

13.316

8.328

13.782

7.555

7.235

6.722

Tabela 1Informações básIcas dos munIcípIos do conleste

26,8

37,9

38,9

29,1

15,7

31,0

38,4

30,2

40,4

28,5

44,6

Consumoper-capita deenergia 2008

(4)

716

492

496

898

1.073

445

567

306

481

345

322

12.142

6.926

26.869

15.363

249.173

40.938

138.070

9.816

39.521

4.680

4.368

1.493

952

1.238

929

1.424

827

933

1.019

1.009

868

865

2.288.145 25.426.915 11.112 28,0 547.866 1.182 669

14 Revista de Economia Fluminense

cional), em 2008. O consumo residencial percapita na

área do Conleste é significativamente su-perior à média nacional. Há grande diver-sidade nos municípios analisados nesse aspecto, o consumo médio de um mora-dor de Niterói é 3,5 vezes superior ao de morador de Cachoeiras de Macacu. Isso indica que o padrão de vida é bastante distinto entre os moradores desses mu-

33.0130 - Casimiro de Abreu

33.0185 - Guapimirim

33.0190 - Itaborai

33.0250 - Magé

33.0270 - Marica

33.0330 - Niterói

33.0430 - Rio Bonito

33.0490 - São Gonçalo

127

20

709

331

5.496

852

3.591

33.0080 - Cachoeiras de Macacu 378

Fontes: CAGED - MT

33.0560 - Silva Jardim

33.0575 - Tanguá

Total

2006

310

36

249

(10)

15

535

512

4.038

2.543

3.552

48

1.113

98

521

363

48

753

211

9.253

555

2.656

508

2.138

(162)

331

Tabela 2admIssões líquIdas (admIssões – deslIgamentos) na regIão do conleste (2006-2010)

(802)

(71)

1.379

298

3.866

1.494

1.684

2

1.980

68

143

(359)

48

3.427

2.111

27.451

5.914

16.079

1.579

5.908

5

1.533

(37)

36

51

759

4.798

470

4.596

643

367

(35)

289

12.099 12.965 16.654 10.041 11.937 63.696

Empesas disputam Condomínio Industrial de Rio Bonito

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2007 2008 2009 2010 Total

Distribuição por município

nicípios. Verifica-se também que, em 2008, seis municípios do Conleste já eram atendidos com gás natural, indi-cando que suas indústrias podem utilizar o combustível. No entanto, apesar da ex-pansão da rede gás na região, a difusão no segmento residencial é bastante limi-tada, atingindo apenas três municípios (Itaboraí, Niterói e São Gonçalo).

Distribuição por atividade

SERV. UTIL. PÚBLICA

CONSTRUÇÃO CIVIL

COMÉRCIO

INST FINANC

ADM TEC PROF

TRAN E COMUN

ALOJ COMUNIC

MED ODON VET

149

515

154

3.902

868

1.307

(29)

INDÚSTRIA 1.752

ENSINO

ADM PUBLICA

Total

3.019

414

22

(41)

1.497

86

2.983

1.314

1.170

289

185

4.784

836

(24)

130

5.217

86

3.222

1.148

1.523

544

3.105

2.084

256

(495)

495

1.905

(77)

2.086

1.072

766

406

1.582

1.358

378

79

1.083

8.552

404

14.493

6.138

1.809

2.492

7.062

15.608

(171)

(444)

350

(582)

155

2.300

1.736

1.904

599

438

4.363

608

247

12.099 12.965 16.654 10.041 11.937 63.696

AGRICULTURA 26 (114) (166) (9) (181)

6.670

15Revista de Economia Fluminense

Quanto à infraestrutura de teleco-municações, verifica-se que, na média, existem 34 telefones fixos por 100 habitantes no Conleste. Essa densidade é superior a média brasileira (23), mas é inferior à média do estado do Rio de Ja-neiro (35) e do Sudeste (37). A elevada densidade do município de Niterói é de-terminante para a média alcançada no Conleste, já que os demais municípios têm densidade inferior a média obser-vada. Com exceção de Niterói, os demais municípios têm índices inferiores a mé-dia, no tocante ao acesso à infraestrutu-ra de telecomunicações, sinalizando no sentido de um gargalo a ser enfrentado para viabilizar a aceleração do processo de desenvolvimento local. A totalidade dos municípios do Conleste conta com serviço de internet de banda larga.

Em termos da infraestrutura de transporte, destaca-se a importância da integração de modais (estradas, metrô, com a linha 3 ligando Niterói e São Gon-çalo, linha intermunicipais de ônibus e possível linha de barcas São Gonçalo-Rio) para facilitar o deslocamento da população na região e a melhoria da in-fraestrutura logística local. Em especial, destaca-se a importância do detalha-mento das ligações rodoviárias entre a malha já instalada na região e o Arco Ro-doviário a ser construído, visando elimi-nar possíveis pontos de estrangulamen-to, e a implementação de um Centro Logístico com infraestrutura adequada para movimentação de cargas na região. A perspectiva de um porto em São Gon-çalo, que funcionaria como uma base logística para suprimento de insumos e escoamento da produção gerada pelo Comperj pode contribuir nessa direção.

Face às transformações em curso na região é reforçada a importância do fortalecimento da capacidade fiscal dos municípios para a realização de diversos investimentos em infraestrutura, que se fazem necessários. Considerando-se o período recente (2000-2008), verifica-se uma situação fiscal geral favorável para os municípios do Conleste, apesar de apresentar uma grande variabilidade en-tre os diversos municípios e ao longo do período considerado. Como tendência

geral, observa-se uma baixa capacidade de arrecadação e uma forte dependên-cia de transferências constitucionais, particularmente do governo federal.

Observa-se também uma concen-tração regional de receitas arrecadadas em Niterói e São Gonçalo e um baixo superávit primário como proporção do PIB. A pressão das despesas correntes, particularmente dos gastos com pessoal e encargos sociais, resulta numa limi-tação dos investimentos, com os valores médios de investimento per capita infe-riores aos do estado do Rio de Janeiro para o conjunto da região.

A pressão dos gastos com saúde e educação resulta em gastos limitados com infraestrutura urbana, saneamento e gestão ambiental pelos governos mu-nicipais. Considerando-se informações relativas ao ano de 2008, verifica-se que os gastos em urbanismo eram propor-cionalmente mais elevados em São Gonçalo, Maricá e Guapimirim. Já os gastos em saneamento eram propor-cionalmente mais elevados em Niterói e Casimiro de Abreu. E os gastos com gestão ambiental eram proporcional-mente mais elevados em Cachoeiras de Macacu e São Gonçalo (ver Tabela 3).

Bacia de Campos vai abastecer o Comperj gerando matérias-primas para o setor petroquímico

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16 Revista de Economia Fluminense

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Reflexos e oportunidades para os municípios do Conleste

Jorge BritoDepartamento de EconomiaUniversidade Federal Fluminense - UFF

As evidências sugerem que a implantação do Comperj, em Itaboraí, trará reflexos diretos sobre o padrão de estruturação das atividades produtivas na região do Conleste. O elevado montante de investimento, em conjunto com o seu potencial de atração de novas empre-sas permite prever que haverá uma grande transformação econômica em toda região de influência. No entanto, algumas qualificações são relevantes na análise desses impactos.

Comperj:

No que se refere especificamente à instalação de unidades petro-químicas e de transformadores

de plásticos na região, evidências sugerem certa cautela em relação a uma visão muito otimista. Por um lado, a revisão do dire-cionamento e do cronograma dos inves-timentos previstos tende a resultar na prática num adiamento da instalação da unidade produtora de matérias-primas petroquímicas. Por outro lado, evidências coletadas através de entrevistas também indicam uma maior probabilidade de se al-cançar números mais próximos do “Cenário Conservador”, do estudo Firjan-FGV, em função de dois aspectos principais.

O primeiro deles decorre do fato de que, à medida que se evolui no sentido da instalação de empresas de 3ª geração

e de transformadores de plástico, a im-portância da proximidade do mercado consumidor torna-se mais relevante quando comparada à proximidade com os fornecedores de matérias-primas. Esta tendência deve ser reforçada tam-bém em função da possível melhoria da infraestrutura logística, interligando o Comperj aos principais mercados consu-midores dos produtos a serem gerados, em razão, por exemplo, da instalação do arco rodoviário que ligará o empreendi-mento ao eixo logístico da Rodovia Presi-dente Dutra. O segundo fator decorre da presença de um núcleo já consolidado de empresas especializadas na fabricação de produtos químicos e de produtos de bor-racha e material plástico no município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

Além disso, no caso das empresas de 2ª geração, observa-se certa cautela quanto aos impactos efetivos do Com-perj, que ainda não está claro qual será o formato empresarial do empreendi-mento, particularmente quanto ao pa-pel a ser desempenhado por grandes empresas petroquímicas em parce-ria com a Petrobras, como a Braskem. Frente a este quadro, a indústria química e petroquímica privada tende a poster-gar investimentos na instalação de uni-dades na região do Conleste enquanto não houver maior clareza sobre a es-trutura de governança do empreendi-mento. Quando à indústria produtora de plásticos (3ª geração) e a de produ-tos feitos com plásticos (garrafas PET, tampas, autopeças etc), observa-se que

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18 Revista de Economia Fluminense

O Comperj vai refirnar inicialmente 165 mil barris de petróleo por dia, com ampliação para 330 mil até a conclusão da segunda etapa do projeto, previsto para 2017

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Os principais pólos para a instalação de indústrias na região deverão se localizar nos municípios de Itaboraí,

Tanguá e São Gonçalo

é relativamente de fácil instalação, estando baseada na aquisição de “pa-cotes tecnológicos” padronizados das unidades fabris.

Com o objetivo de atrair empresas transformadoras de plásticos para a região, seria também importante a estru-turação paulatina de um arranjo produ-tivo local, através do planejamento co-ordenado dos investimentos, da melhoria das condições de infraestrutura e da mo-bilização de um conjunto coerente de in-centivos fiscais capaz de atrair empresas para aquele local. O governo estadual, através da Codim - Comitê de Orien-tação para a Divulgação da Informação ao Mercado - , pode atuar na mobilização de mecanismos de atração de empresas, apesar das experiências passadas de atu-ação nesse sentido não terem sido total-mente exitosas.

No que se refere aos transforma-dores de plásticos, informações coleta-das junto ao sindicato patronal do setor (Simperj – Sindicato da Indústria de Mate-rial Plástico do Estado do Rio de Janeiro)

indicam que um movimento efetivo de deslocamento de empresas já instaladas no município do Rio de Janeiro para a região do Conleste seria improvável, só sendo viável na presença de fortes in-centivos fiscais. Na ausência desses in-centivos, a viabilidade da montagem de um pólo de transformação plástica na região ficaria atrelada ao deslocamento de empresas de outros estados, visando usufruir das facilidades proporcionadas pelo suprimento de matéria-prima.

No caso desse deslocamento vir a ocorrer, e/ou em razão da vinda de transformadores com fábricas instala-das em outros estados para a região do Comperj, um fator importante refere-se à qualificação da mão de obra. Apesar da atividade de transformação de plásticos empregar trabalhadores com um nível de qualificação formal relativamente baixo, é necessário que os mesmos es-

tejam capacitados a operar máquinas mais modernas de controle numérico. Neste caso, o SENAI e as prefeituras des-sas localidades teriam um papel impor-tante a desempenhar, através da criação de cursos de formação de mão de obra adaptados às necessidades da indústria.

Outro aspecto importante refere-se às condições logísticas para o es-coamento da produção. A consolidação de um pólo de transformação de plásti-cos pode gerar externalidades que facili-tam este escoamento, atuando como fa-tor de retroalimentação dos estímulos à instalação de novas empresas na região.

Outras atividades com potencial de serem dinamizadas na região referem-se a empresas vinculadas à cadeia produ-tiva metal-mecânica, que poderiam operar como fornecedoras de equipa-mentos em duas fases distintas do em-preendimento: 1) na fase de construção fornecendo equipamentos para a mon-tagem dos diversos módulos da refi-naria, atividade realizada por consórcios de empresas de engenharia (EPCistas)

sob a coordenação da Petrobras, bem como a infraestrutura logística de dutos terrestres e submarinos e de portos para recebimento de insumos e escoamento da produção (incluindo a construção de um novo terminal em São Gonçalo) ; ii) na fase de operação fornecendo equi-pamentos e serviços técnicos especiali-zados requeridos pelas unidades fabris.

Apesar de as atividades vinculadas a esta cadeia na região estarem locali-zadas principalmente nos municípios de Niterói e São Gonçalo, nota-se um movimento de descentralização destas atividades em direção aos demais mu-nicípios do Conleste. Há indícios de que algumas indústrias metal-mecânicas do Rio de Janeiro e também de São Paulo e do Rio Grande do Sul estão se deslo-cando para a região, para fornecer cal-deiras, tubos, serviços de montagem e serviços de logística para o processo de

construção do Comperj. As evidências sugerem que os principais pólos para instalação de indústrias na região de-verão se localizar nos municípios de Itaboraí, Tanguá e São Gonçalo.

Na avaliação do Sindicato das In-dústrias Metal-Mecânicas do Estado do Rio de Janeiro (Simmerj), a estrutura da cadeia na região do Conleste engloba, principalmente, indústrias do setor na-val, de fabricação de caldeiras, tubos e serralherias, com mais de um mil peque-nas e médias empresas na região. Algu-mas dessas empresas se especializaram em produzir peças para navios e offshore (guinchos, amarras, etc), enquanto outras trabalham com encomendas da Petro-bras (tubos, caldeiras). Na avaliação do Sindicato, são estas últimas as que mais devem se beneficiar com o Comperj.

O setor metal mecânico deve ser im-pactado principalmente durante a fase da construção das refinarias e de uni-dades petroquímicas básicas, e menos nas fases seguintes, quando entrarão em cena as empresas de 2ª e 3ª geração.

De acordo com estimativas do Simmerj, a construção das várias unidades vincu-ladas ao empreendimento deve mobi-lizar, numa primeira fase, um total de 17 EPCistas, número de deverá ser amplia-

Cadeia produtiva de combustíveis e plásticos

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A região do Conleste vai sofrer muitos impactos com a chegada do Comperj, como no que diz respeito ao crescimento demográfico e a instalação de empresas

do para 33 EPCistas numa segunda fase do empreendimento. Dentre as áreas nas quais as empresas identificam opor-tunidades atrativas, é possível mencio-nar as de painéis elétricos, caldeiraria, tubulações, vasos de pressão, serviços de montagem e operadores logísticos.

Para que o movimento de atração de empresas para a região tenha con-tinuidade, alguns entraves ao desen-volvimento devem ser superados. Um primeiro obstáculo refere-se à ausência de acessos rodoviários e ferroviários em condições adequadas. Este problema estaria em vias de ser melhorado com a construção do Arco Rodoviário e com o provável porto em São Gonçalo. Outros problemas a serem sanados referem-se a resolução mais rápida das licenças am-bientais, a melhoria das condições de infraestrutura de água e energia e a mo-bilização de incentivos fiscais para atrair empresas para a região.

A falta de mão de obra especiali-zada pode se converter num problema bastante restritivo, particularmente no

caso da mão de obra de nível médio técnico e de nível superior (engenheiros em especial), capacitada para trabalhar nas atividades que vierem a se instalar na região. É importante também agilizar o mercado de terras para evitar que o preço da terra continue subindo, existin-do evidências de que este preço aumen-tou em mais de 50% desde o início das obras de terraplanagem.

Quanto ao movimento de desloca-mento de empresas para a região, as evidências sugerem que uma parcela das indústrias metal-mecânicas do Rio de Janeiro e também de São Paulo e Rio Grande do Sul podem vir a se deslocar para essa região, visando fornecer cal-deiras, tubos, serviços de montagem e serviços de logística para o processo de construção do Comperj. A vantagem efetiva proporcionada por uma maior proximidade do Complexo dependerá da relação Peso das Matérias-Primas/Peso dos Produtos Finais.

Um município que apresenta uma vantagem logística para a instalação de

indústrias seria Magé, em virtude de sua posição equidistante entre o Comperj e o pólo gás-químico de Duque de Caxias. No entanto, esta instalação tende a ser dificul-tada em razão de problemas ambientais.

Destaca-se também a possibilidade de criação de oportunidades para PMEs e prestadores de serviços especializa-dos, com a paulatina consolidação de um núcleo de suprimento local, para atender demandas de EPCistas, numa primeira fase, e de unidades industriais, numa fase posterior. Neste caso, a mon-tagem de instâncias de apoio e coorde-nação da atuação dessas empresas – de que é exemplo a constituição da Rede Petro Leste Fluminense, com o apoio do Sebrae-RJ e da própria Petrobras – é particularmente importante e deve ser incentivada. A estruturação de uma rede regional de suprimento seria impor-tante não apenas no intuito de viabilizar um canal de acesso dos fornecedores locais ao poder de compra da Petrobras, mas também como meio de fortalecer um maior enraizamento dos investimentos

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realizados, ampliando as possibilidades de dinamização do desenvolvimento local.

A cadeia produtiva da construção na região do Conleste também apresenta grandes perspectivas de expansão na região. Em termos do setor de construção, dois tipos de impactos podem ser desta-cados. Os impactos diretos das obras estariam relacionados à realização de obras de terraplanagem (numa primeira etapa), à construção de redes de trans-portes por dutos, à montagem de insta-lações industriais e de estruturas metáli-cas e de instalações elétricas.

Já os impactos sobre infraestrutura viária e urbana estariam relacionados à construção de rodovias e ferrovias, à valorização e especulação fundiária e à construção de edifícios e outras uni-dades residenciais, com impactos na dinâmica urbana. Os impactos previstos envolvem a instalação de construtoras na região, a criação de empregos, o es-tímulo ao suprimento local de insumos para construção civil e a dinamização comércio varejista de ferragens, madeira e materiais de construção.

Dentre os municípios que compõem esta região, Itaboraí, Casimiro de Abreu,

Niterói e São Gonçalo foram os que apresentaram as taxas de contratação de mão-de-obra mais significativas nestas atividades, sendo Itaboraí o de maior saldo no período recente. A ex-pansão do emprego na cadeia produ-tiva da construção no Conleste tem favorecido, em grande medida, a con-tratação de mão-de-obra em diversos ramos de atividade, como em obras de terraplanagem, construção de redes de transportes por dutos, exceto para água e esgoto, construção de edifícios, mon-tagem de instalações industriais e de estruturas metálicas, construção de ro-dovias e ferrovias, instalações elétricas, comércio varejista de ferragens, madeira e materiais de construção, incorporação de empreendimentos imobiliários e obras para geração e distribuição de ener-gia elétrica e para telecomunicações.

Além do aumento de contratação de mão de obra, o aumento da demanda por moradias e a elevação dos preços de terrenos constituem indicadores impor-tantes da expansão recente da cadeia produtiva da construção na região do Conleste. Entre os principais fatores que influenciaram o aumento da demanda

por habitação em alguns municípios da região, sobretudo em Niterói, citam-se: o financiamento público (via Caixa Econômica Federal), os investimentos em obras de infraestrutura, o deslocamento de novos residentes para a região e a sofisticação da rede de serviços urbanos.

As perspectivas favoráveis ao setor de habitação em razão de impactos di-retos do Comperj também podem ser destacadas. Segundo o Sindicato da In-dústria da Construção Civil, o fluxo de grandes construtoras da capital do Rio de Janeiro e de outros estados para a região do Conleste revela as potenciali-dades de expansão desta cadeia produ-tiva, tendo em vista que essas empresas realizam empreendimentos para diver-sos extratos de renda.

Neste contexto, a demanda por habitações criada a partir do Comperj se agrega a um fluxo mais geral de construção de novas unidades habita-cionais na região do Conleste. Em função dessa dinâmica, grandes empresas de construção civil com base no município do Rio de Janeiro, como a Gafisa, CHL, Klabin, Cyrella e Camargo Correia estão se instalando em Niterói e começam

Maquete do Comperj: projeto foi alterado para construir duas refinarias em vez de uma, cujo investimento da Petrobras pode chegar a US$ 20 bilhões até 2017

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a competir com outras tradicionais do local, como: Soter, Pinto de Almeida, Anfra, JM, RNM e Fernando Maciel. Este crescimento tem sido induzido tanto pelo mercado residencial, neste caso ori-entado para os vários segmentos de ren-da, como para o mercado de construção para fins comerciais, o qual tende a ser mais rentável em termos da relação cus-to-preço por m².

As possibilidades para a cadeia produtiva da construção na região do Conleste são bastante promissoras não só pelos impactos iniciais da construção do Comperj, mas também pelos se-cundários resultantes do aumento da população naquela região. Segundo o Sindicato da Construção Civil, existe a expectativa de expansão de empreendi-mentos populares através da fixação dos trabalhadores nos municípios de Magé, Itaboraí e Rio Bonito, devido ao Arco Ro-doviário e a proximidade com o local de trabalho, por ocasião do Comperj.

Os representantes do setor acreditam que existe uma possibilidade de expan-são desse mercado, principalmente na direção de Magé, Itaboraí e Rio Bonito, em função do arco rodoviário. A popu-lação trabalhadora tende a se instalar perto de Itaboraí (comparativamente à concentração atual em São Gonçalo), enquanto os executivos devem es-colher Maricá ou Niterói. Em Itaboraí já há notícias do início da construção de condomínios voltados para a classe média-baixa, com imóveis com valores de até 100 mil. Como reflexo, observa-se que, em regiões mais próximas ao Com-perj, os terrenos se valorizaram em 50%.

No entanto, a região ainda sofre com entraves ao seu desenvolvimento, como: falta de planejamento regional, que ajude as empresas a executarem seus investimentos; carências de infraes-trutura (transporte, saneamento básico, telecomunicações, energia etc.) em di-versos municípios. Identificam-se tam-bém deficiências de infraestrutura rela-cionadas às condições de transporte, água e energia em alguns municípios, como Maricá. Neste aspecto, ressalta-se a necessidade de políticas públicas de habitação para que não ocorra um au-mento da “favelização” na região.

Dentre algumas medidas impor-

Atraso na obra do Comperj fez com que a Petrobras adiasse o início da operação da refinaria para 2013

Itaboraí está entre os municípios que mais vão sofrer os impactos com a chegada do Pólo Petroquímico

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tantes para minimizar estes problemas, destacam-se o aumento da vazão do sistema Imunana-Laranjal mediante a construção da barragem no Rio Gua-piaçu, em Cachoeiras de Macacu, a construção do arco rodoviário e a sua expansão até o município de Maricá, a ampliação-modernização da BR 101, in-cluindo a eliminação do gargalo da Ave-nida do Contorno na chegada à Niterói e a construção da linha 3 do Metro até Itaboraí, com 14 estações (neste último caso, persistindo indefinições sobre o cronograma das obras).

Problemas relacionados a invasões são relativamente comuns na região,

de identidade territorial, se não forem reforçados os investimentos em infraes-trutura e outras medidas mitigadoras.

Para enfrentar estes problemas é fundamental fortalecer a capacidade de arrecadação municipal para possibilitar um melhor planejamento de investi-mentos. Destaca-se também a necessi-dade de uma maior coordenação inter-municipal para viabilizar a realização de investimentos em infraestrutura, o que reforça a importância da elaboração de um planejamento territorial integrado para a região. O fortalecimento das instâncias para discussão e resolução de problemas e demandas decorrentes

torna-se necessário fortalecer as capaci-tações desses gestores através de pro-gramas periódicos de treinamento. É importante também fortalecer o apoio e assessoria aos gestores públicos e pri-vados na elaboração e gestão de proje-tos, visão a captação de financiamentos, através da criação de centros de gestão e elaboração de projetos.

Por fim, é importante fortalecer a participação da sociedade civil na elabo-ração e acompanhamento de orçamen-tos e planos diretores municipais e na elaboração de um Plano Diretor Regional que incorpore, efetivamente, os anseios e as necessidades da população da região.

FAÇA SUA ESPECIALIZAÇÃO PARA O SETOR PÚBLICO NA ESCOLA DE GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

É necessária a definição de um programa de

integração de modais de transporte na região para facilitar o deslocamento da população e orientar o processo de ocupação

do solo

Fluxo de veículos cresceu mais de 100% nos municípios do Conleste, desde o início das obras do Comperj, e demandam de novo planejamento urbano

particularmente, em São Gonçalo, e a instabilidade da legislação do uso do solo em alguns municípios, como em Niterói, resulta em custos de transação adicionais que penalizam o mercado de construção. O impacto da montagem de instalações industriais de grande porte sobre espaço territorial e da intensifi-cação de fluxos migratórios, em função do ciclo de evolução da obra, tendem a gerar desdobramentos em termos do aquecimento do mercado habitacional, com reflexos na dinâmica urbana e territorial. É provável que ocorra uma pressão crescente sobre a oferta de serviços públicos (água, esgoto, sanea-mento saúde, transporte, educação etc) com riscos de favelização e de perda

dos novos empreendimentos, como o Fórum Comperj, por exemplo, também se faz necessária.

No plano operacional das políti-cas, é necessária a definição de um programa de integração de modais de transporte na região para facilitar o deslocamento da população e ori-entar o processo de ocupação do solo na região. O fortalecimento da institu-cionalidade das políticas urbanas e a realização de levantamentos sistemáti-cos sobre condições de ocupação do solo por assentamentos também são medidas importantes. Em função da dimensão dos investimentos previstos e das demandas e pressões resultantes sobre os gestores públicos municipais

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Curso de especialização Administração

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FAÇA SUA ESPECIALIZAÇÃO PARA O SETOR PÚBLICO NA ESCOLA DE GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

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Maiores informações: www.ceperj.rj.gov.br

20 anos formando gestores de alto nível para a Administração Pública

25Revista de Economia Fluminense

ARTIGO

Luiz Martins de MeloDoutor em EconomiaProfessor do Instituto de EconomiaUniversidade Federal Fluminense - UFF

O legado dos mega eventos esportivos Uma análise do planejamento correto dos investimentos para as Olimpíadas 2016

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Belezas naturais da enseada de Botafogo, principal local do Estado para as competições de remo e iatismo, escondem problemáticas como a poluição da Baía de Guanabara. Projeto de despoluição se arrasta desde 95, tendo recebido duras críticas do COI quanto à decisão de retirar o Rio da disputa para sediar as Olimpíadas de 2004

26 Revista de Economia Fluminense

Réveillon atestam a riqueza dessa par-ticipação. Em alguns desses eventos, a participação popular se tornou a maior atração. O espaço público é onde o ci-dadão carioca festeja sua integração com a cidade e sua beleza natural privi-legiada. Portanto, como sempre, a na-tureza da cidade e o cidadão carioca são as garantias de uma festa excepcional.

Ser a sede dos Jogos Olímpicos é uma oportunidade ímpar para o de-senvolvimento de qualquer cidade. Al-gumas poucas aproveitaram bem essa oportunidade. Barcelona é o caso de avaliação consensual positiva na litera-tura sobre o tema. A característica básica dessa avaliação consensual é que o plano de desenvolvimento e ordena-mento da sua reforma urbana incluiu o planejamento da realização dos Jogos Olímpicos. A partir daí, o legado dos in-vestimentos para a cidade ficaram bem estabelecidos dentro do marco urbanís-tico da cidade, base para o seu desen-volvimento econômico e social futuro.

Barcelona é o paradigma, porque a

A cidade do Rio de Janeiro é natu-ralmente olímpica. Diante isto, todas as modalidades esportivas,

que fazem parte do programa de com-petições dos Jogos Olímpicos, podem ser realizadas em seu perímetro urbano. A natureza também foi extremamente generosa com a nossa cidade. O mar, a montanha e o clima ameno na maior parte do ano não são empecilhos para a realização de grandes eventos espor-tivos ou culturais, ao ar livre ou em giná-sios, estádios, teatros e piscinas.

Na parte do ano em que o clima é menos ameno, no verão, a temperatura, a umidade do ar e o regime de chuvas se assemelham àqueles das cidades que já sediaram os Jogos Olímpicos de Verão. Por essas condições naturais o Rio de Janeiro é conhecido como cidade mara-vilhosa, cantada em prosa e verso pelos mais variados poetas, escritores e com-positores populares e eruditos.

O cidadão carioca é festeiro por excelência. Adora participar de even-tos públicos. O carnaval, o futebol e o

maioria dos investimentos foi feita na infraestrutura. Esse legado de moderni-zação urbana, econômica e social foi muito maior que o esportivo. A pre-feitura da cidade e o comitê organizador decidiram localizar os principais equi-pamentos urbanos dos Jogos Olímpicos perto do centro histórico da cidade, no seu antigo porto. No caso de Barcelona, desapropriações foram muito caras para aquele momento. Porém, se revelaram muito baratas quando comparadas às receitas futuras, advindas do desenvolvi-mento da cidade.

Os projetos foram selecionados em concursos públicos, dos quais só podiam participar arquitetos catalães. Não houve perda de qualidade com esse procedi-mento, mas o reconhecimento internacional da qualidade técnica da arquitetura e do setor de serviços catalão. O importante no sucesso de Barcelona foi a direção pública de todo o processo e a grande participação da população. Essa direção pública faz com que o caro, no curto prazo, se transformasse em barato, no longo prazo.

Belezas naturais da enseada de Botafogo, principal local do Estado para as competições de remo e iatismo, escondem problemáticas como a poluição da Baía de Guanabara. Projeto de despoluição se arrasta desde 95, tendo recebido duras críticas do COI quanto à decisão de retirar o Rio da disputa para sediar as Olimpíadas de 2004

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27Revista de Economia Fluminense

Sidney, que parece ter sido modelo escolhido pela prefeitura do Rio de Ja-neiro e pelo Comitê Olímpico Brasileiro, é um exemplo de má avaliação. Os ter-renos escolhidos eram grandes e boni-tos, entretanto, afastados do centro da cidade. Após os jogos, tais equipamen-tos urbanos não deixaram legado ur-bano quase que nenhum para a cidade. Permaneceu a marca, já existente antes dos jogos, de uma cidade ecologica-mente correta.

O Rio de Janeiro tem que decidir qual caminho seguir. Escolher entre fazer os “Jogos da Barra da Tijuca” ou da cidade do Rio de Janeiro, assim como, enfrentar o desafio histórico de integrar a região do porto com São Cristovão e Leopol-dina. Como também, prioritariamente, recuperar o centro histórico da cidade e redirecionar os investimentos em in-fraestrutura para as regiões mais degra-dadas, Zona Norte e Oeste, onde moram e se deslocam por meio de transporte público 60% da população.

A Barra da Tijuca e a Zona Sul, menor parte da população, concentram todos os equipamentos urbanos modernos. A Barra da Tijuca está distante do centro histórico, cerca de 40 km, e de baixa den-

sidade populacional. Com a estagnação do crescimento populacional da cidade, dificilmente esta região ganhará densi-dade populacional, sem que outra a perca. Densidade populacional é o elemento básico para a operação eficiente de equipamentos urbanos. Sem escala, eles não funcionam com eficiência dado ao seu custo.

O planejamento da Rio-2016 prevê quatro centros olímpicos, na Zona Sul, Centro, Norte e Barra. Mas é na Barra que está localizada a maioria dos inves-timentos, a Vila Olímpica e os principais equipamentos esportivos.

Neste sentido, as principais linhas de transporte a serem construídas partem de lá para a Zona Norte e Oeste e da Zona Sul para lá. O corredor de ônibus T5, que vai ligar a Barra à Penha, já nasce com a sua capacidade operacional es-gotada, 300 mil passageiros por dia, es-colhida, não por ser a melhor opção, mas a mais barata. Do ponto de vista do planejamento urbano não se faz in-vestimento em infraestrutura para a ocupação imediata da capacidade. A matriz de transporte da cidade do Rio de Janeiro já está saturada pelo modal rodoviário, mais caro, mais poluente

e menos eficiente. O metrô, ligando Ipanema à Barra, não está no plane-jamento olímpico, mas virou uma pri-oridade do governo estadual.

Dada a participação minoritária da população da região no total da cidade e a sua maior renda per capita, haverá um subsídio pra os mais ricos com a obra. Da mesma forma são as obras viárias do Túnel da Grota Funda e da mudança da legislação urbanística, em votação na Câmara de Vereadores, a toque de caixa, da região que circunda a princi-pal área de investimento na Barra da Tijuca. Será que essa região e esses in-vestimentos são os prioritários? Esta é a atuação do setor público ordenando o espaço urbano e o integrando à cidade como espaço da cidadania?

O importante a salientar é que existe um erro de diagnóstico da situação do ordenamento urbano da cidade do Rio de Janeiro. Como se a urbanização des-sa região fosse o modelo para a cidade. Ao que parece, a persistir este modelo, a cidade ficará ainda mais desintegra-da. Haverá uma região pretensamente moderna e outra ainda mais degradada. Os custos em infraestrutura urbana fi-carão ainda mais caros pela baixa den-

A praia da Barra da Tijuca é a de maior extensão do Rio de Janeiro e conhecida por abrigar modalidades, como vôlei de praia, futevôlei e surf

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28 Revista de Economia Fluminense

sidade populacional e pela distância às outras áreas da cidade.

Os gastos com investimentos públi-co e privado previstos para a Rio-2016 são de R$ 28,8 bilhões. A maioria é público. Para que não aconteça o mes-mo do Pan-Americano é necessária uma rediscussão de prioridades. Você se lem-bra de algum legado duradouro para a cidade? Melhorou o transporte público? Melhorou o saneamento? Onde está o planejamento urbano?

A idéia básica do planejamento ur-bano da Rio-2016 e do Pan-Americano é a mesma, Barra da Tijuca. A festa foi linda. O povo carioca, como sempre, foi sensacional. Porém, para a cidade, depois da festa ficou a ressaca e a sen-sação de desperdício e de mais uma oportunidade perdida, de deixar um le-gado duradouro para a cidade.

É a mesma sensação com a atuação pública no projeto de despoluição da Baía da Guanabara. Ele se arrasta desde 1995. Aliás, quando o Rio foi derrotado para ser a sede das Olimpíadas de 2004, a crítica da comissão avaliadora do Comitê Olímpico Internacional (COI) foi a mesma: que fez com que o projeto atual fosse o de pior avaliação técnica entre as quatro finalistas, considerando transporte público, saneamento e insu-ficiência de capacidade de hotelaria.

Ainda dá para mudar. Trocar o modelo de Sidney por Barcelona e fazer o plane-jamento parecido com o de Londres. Isso significa trocar a direção privada pela pública. Consultar e dar partici-pação para a cidadania. Escolher os projetos em concursos públicos com arquitetos nacionais. Tornar o processo de escolha das prioridades e de investi-mento transparente.

O importante é salientar que existe um erro de diagnóstico da situação

do ordenamento urbano da cidade do Rio de Janeiro

Exemplo de sucesso, Barcelona conseguiu reconhecimento internacional por qualidade técnica

Sidney serviu de modelo para o Rio, mas equipamentos esportivos ficaram sem utilidade

Engenhão, no Rio, um dos estádios que vai abrigar as Olímpiadas 2016, embora longe do Centro

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29Revista de Economia Fluminense

Legado dos Mega Eventos é o que eles deixam para o país que os sedia: o impacto econômico, a geração de em-pregos, os estádios e toda infraestrutura construída no país agregado a proble-mas social, ambiental e esportivo.

A realização de um megaevento pode ser um catalisador de mudanças para uma região (cidade, estado ou país). Os investimentos públicos, ou feitos com benefícios fiscais, devem retornar aos cidadãos. O legado social e ambiental trata de todo o impacto gerado no es-paço urbano, incluindo educação, saúde, emprego e construções sustentáveis.

O esporte deve possibilitar a par-ticipação de todos e ajudar a construir uma sociedade inclusiva. O esporte de alto rendimento deve ser fruto da uni-versalização e da democratização da atividade esportiva.

O exemplo do planejamento dos jogos Olímpicos de Londres ilustra a preocupação com o legado para a so-ciedade. As instalações se concentram a Leste da cidade e trata-se de área onde água e solo foram contaminados por quatro séculos de uso, sem cuidado, da indústria têxtil e refinarias, hoje ocu-pada por imigrantes de baixa renda. Formaram-se comitês com a partici-pação da comunidade e, ao descobrir que não haveria demanda por parte

das instalações após os jogos, sedes permanentes foram convertidas em provisórias. Houve investimento em in-fraestrutura, que beneficia a vizinhança, e o planejamento além de 2012.

Londres incorporou ao seu plane-jamento o rodízio de arenas, para pre-venir a construção desnecessária de equipamentos. Será que a Rio-2016 está

preocupado com isso? Ou teremos ele-fantes brancos de Pequim ou desperdí-cio de recursos de Atenas?

O principal legado dos mega eventos é criar programas que continuem em fun-cionamento após o término dos Jogos Olímpicos, em especial, aqueles voltados para a democratização da atividade física e o fortalecimento da cidadania.

O Parque Aquático Maria Lenk, na Barra da Tijuca, está praticamente inutilizado após o Pan-Americano

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Maracanã, que já foi o maior estádio do mundo, está fechado para obras de modernização e ampliação, com previsão para comportar mais de 76 mil pessoas

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30 Revista de Economia Fluminense

Rio

Impossível não se apaixonar !

de Janeiro

31Revista de Economia Fluminense

Alex Pereira de [email protected] em GeografiaUniversidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJPós-graduando em Gestão de Petróleo e GásCOPPE / Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ

ARTIGO

A atividade petrolíferano Norte Fluminense

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Perspectivas do setor quanto à instalação de empresas de exploração e de produção de petróleo

32 Revista de Economia Fluminense

Há aproximadamente meio século os hidrocarbonetos cor-respondem por mais de 50%

do consumo de energia primária no planeta, segundo dados da BP Statisti-cal Review 2010. Não é pra menos que a atividade petrolífera e toda sua cadeia de suprimentos crescem ao redor do mundo, exceto nas regiões onde não se descobriram novas reservas ou que a produção entrou em declínio. Por conta de sua importância para a eco-nomia mundial, essa atividade esteve e permanece presente em diversas dis-cussões ao redor do mundo. Contudo, não apenas pelo seu caráter econômi-co, mas também ambiental, como com o acidente com o navio petroleiro Exxon Valdez, em 1989, e outro nos úl-timos meses com a plataforma Deep-water Horizon, no Golfo do México, que evidenciou a falta de capacidade da indústria em responder rapidamente a acidentes dessa natureza.

Ao deixar a escala global e ampliar

o foco sobre a atividade petrolífera no Brasil, seja por empresas nacionais e/ou internacionais, identificou-se nas últimas décadas um crescimento vertiginoso na produção de petróleo e gás, bem como das atividades de exploração, que propi-ciou descobertas recentes de grandes reservas de dois hidrocarbonetos em ter-ritório nacional, sobretudo, nas bacias de Campos e Santos, esta primeira na região Norte Fluminense, como, por exemplo, as reservas da camada do pré-sal.

Diante disso, esse trabalho procurará mostrar a importância da atividade petrolífera para o Norte Fluminense, pois tem sido através dela que a referida região tem vivido um ritmo de cresci-mento econômico absoluto e relativo, em relação ao estado do Rio de Janeiro nas últimas décadas.

Além disso, o presente artigo tem por objetivo apresentar uma visão so-bre a atividade petrolífera no Norte do estado do Rio de Janeiro, sobretudo, na Bacia de Campos, com base em da-

dos estatísticos da Agência Nacional de Petróleo Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Diante os dados, pretende-se analisar as perspectivas do setor sobre dois aspectos: o primeiro é quantidade de empresas nas fases de exploração e desenvolvimento (se comparado à quantidade na fase de produção) dos blocos licitados que tem resultado em descobertas de grandes campos e, consequentemente, atração de novas petrolíferas para a região. O segundo é o desenvolvimento da cadeia produtiva, principalmente por empresas nacionais, por conta da obrigação do conteúdo lo-cal, exigência da ANP nas licitações.

Para atingir tais objetivo foram utiliza-dos três procedimentos metodológicos: levantamento de dados estatísticos junto aos órgãos oficiais de maneira a identi-ficar e quantificar tais transformações, a compilação desses dados através da elaboração de tabelas e, por fim, uma análise dessas informações.

A importância da atividade petrolífera para o crescimento econômico da região Norte Fluminense

A região Norte Fluminense era socioeconomicamente organizada com base na atividade canavieira até a década de 70. En-tretanto, a partir do final dessa década, com a instalação da base operacional de Petrobras, em Macaé, a região iniciou um novo processo de desenvolvimento econômico com a atividade petrolífera.

Por conta da nova atividade e de toda a sua cadeia produtiva, incentivada pela quebra do monopólio da Petrobras, em decor-rência da lei 9.478/1997, foi possível observar um crescimento significativo da economia da região na composição do Produto Interno Bruto (PIB) estadual, como observamos nas tabelas abaixo, que apresentam tal evolução nas duas últimas décadas.

Através da atividade petrolífera a região

tem vivido um ritmo de crescimento econômico absoluto e relativo, em

relação ao estado do Rio de Janeiro

Porto de Sepetiba: grande representatividade no transporte de derivados de petróleo da região Norte

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33Revista de Economia Fluminense

É possível observar claramente a diminuição da participação da Região Metropolitana na formação do PIB es-tadual e a distribuição dessa partici-pação para outras regiões de governo, como das Baixadas Litorâneas, Serrana e Norte Fluminense. Essa última com crescimento superior a 100% em apenas 12 anos, devido à atividade petrolífera e outros setores da economia, como serviços de um modo geral. Tal afir-mação pode ser comprovada nas tabelas abaixo, que apresentam o crescimento do PIB, por região de governo e atividade econômica. É possível analisar que a atividade industrial e de serviços tiveram

crescimento muito superior às outras regiões do Estado (exceto Região Serra-na, que não será abordada neste artigo).

No caso da atividade industrial, o crescimento foi de 749% na Região Norte Fluminense, colocando o setor da economia em destaque na participação do PIB da região, representando mais de 74% de tudo que foi produzido em 2007, segundo dados da Fundação Ceperj.

Quanto aos serviços, o crescimento foi menor, porém, não menos signifi-cativo. Este setor da economia teve um crescimento de 172% (maior do Estado), impulsionado pelos setores imobiliário, hoteleiro, bancário e alimentação. Con-

tudo, cabe destacar que tal crescimento está inteiramente relacionado ao do setor industrial, que atrai mão de obra, aumentando à demanda por serviços para atender a população imigrante.

Dessa forma, fica evidente a im-portância da indústria do petróleo e gás natural para o desenvolvimento econômico da região Norte do Estado e o aumento da participação na for-mação da economia estadual. Por isso, a relevância em entender o comporta-mento dessa indústria e as tendências da atividade para a economia Norte Fluminense, o que será apresentado no próximo bloco deste trabalho.

Participações das regiões de governono PIB do estado do Rio de Janeiro - 1996

Região de Governo

Região Metropolitana

Região Noroeste Fluminense

Região Norte Fluminense

Região Serrana

Região das Baixadas Litorâneas

Região Médio Paraíba

Região Centro-Sul Fluminense

Região da Costa Verde

%

80

1

5

2

6

1

4

1

Fonte: Ceperj Elaboração: Morais, A

Região de Governo

Região Metropolitana

Região Noroeste Fluminense

Região Norte Fluminense

Região Serrana

Região das Baixadas Litorâneas

Região Médio Paraíba

Região Centro-Sul Fluminense

Região da Costa Verde

%

66

1

12

4

7

6

1

2

1

Participações das regiões de governono PIB do estado do Rio de Janeiro - 2007

Fonte: Ceperj Elaboração: Morais, A

Região de Governo

Região Metropolitana

Região Noroeste Fluminense

Região Norte Fluminense

Região Serrana

Região das Baixadas Litorâneas

Região Médio Paraíba

Região Centro-Sul Fluminense

Região da Costa Verde

1999

14.521.415

201.575

2.707.922

803.250

1.156.269

3.037.523

221.297

382.357

2007

30.451,407

580.841

22.984.583

2.063.891

10.446.135

6.185.596

352.789

1.919.456

Crescimento %

226

110

118

749

157

803

104

59

402

Estado do Rio de Janeiro 74.984.69823.031.609

Valor adicionado bruto por atividade econômica 1999/2007 (Indústria) ( Valor 1000 R$ )

Fonte: ANP Elaboração: Morais, A

34 Revista de Economia Fluminense

A importância petrolífera na Bacia de Campos

A atividade petrolífera caracteriza-se por um setor de economia que necessita de elevados investimentos e tempo mé-dio de maturação. Até que um campo de petróleo entre em produção comer-cial, por exemplo, uma série de etapas precisam ser cumpridas: levantamento sísmico, licitação de área, programa ex-ploratório mínimo, desenvolvimento do campo, comprovação de reserva e, en-fim, declaração de comercialidade.

Diante disso, identificar a quanti-dade de empresas em diferentes eta-pas do processo permite ter uma visão aproximada de como será o compor-tamento do setor nos próximos anos. Isso porque, se for identificada a ex-ploração (etapa de estudos e pesquisas de uma determinada área geológica) de diversos campos em um período, a tendência é que parte desses campos (aqueles que apresentarem viabilidade econômica) entre em produção em um tempo médio (de dois a quatro anos). E, se a exploração desses campos for

feita por empresas diferentes, pode-se supor que a região onde esses campos estiveram inseridos sofrerá uma inten-sificação da cadeia produtiva, devido à pluralidade de petrolíferas e, conse-quentemente, de fornecedores.

Conforme informado no início deste artigo, até 1997 a exploração e produção de campos de petróleo no Brasil era monopólio da Petrobras. Contudo, a partir da promulgação da lei 9.478/1997 (Lei do Petróleo) o monopólio continuou sobre o poder do Estado brasileiro, porém, esse, através de licitação, pode conceder a agentes privados a execução dessas atividades.

Dessa forma, analisando os dados estatísticos, fornecidos pela ANP, com relação à quantidade de empresas em três etapas de todo o processo de im-plantação de um projeto petrolífero (ex-ploração, desenvolvimento e produção) na Bacia de Campos, identifica-se um fenômeno de desconcentração com a entrada de novas petrolíferas.

Região de Governo

Região Metropolitana

Região Noroeste Fluminense

Região Norte Fluminense

Região Serrana

Região das Baixadas Litorâneas

Região Médio Paraíba

Região Centro-Sul Fluminense

Região da Costa Verde

1999

68.849.718

1.106.846

2.836.297

3.574.773

2.613.906

4.328.785

1.093.275

1.638.197

2007

136.195.699

2.244.942

7.718.793

7.002.242

6.815.435

8.673.160

2.214.578

4.122.162

Crescimento %

103

98

103

172

96

161

100

94

152

Estado do Rio de Janeiro 174.897.01186.041.798

Valor adicionado bruto por atividade econômica 1999/2007 (Serviços) ( Valor 1000 R$ )

Fonte: Ceperj Elaboração: Morais, A

Homens na exploração de petróleo, em Campos

35Revista de Economia Fluminense

Ao observarmos a tabela com a participação de empresas na fase de produção, fica evidente a con-centração do mercado exercida pela Petrobras, que detém 92% de partici-pação de tais campos.

Quando verificamos os dados rela-tivos à presença das empresas nos cam-pos em fase de desenvolvimento, per-cebemos que a concentração é menor, ainda que em um número reduzido de empresas. Ou seja, se esses campos em fase de desenvolvimento atingir uma maturidade que os levem à etapa de produção, a tendência é que novas petrolíferas estejam produzindo hidro-carbonetos em um curto espaço de tempo na Bacia de Campos, dinamizan-do ainda mais a economia da região, com a atração de novos fornecedores.

Esse efeito multiplicador ainda tem outro importante ingrediente: o con-teúdo local. A exigência da ANP, no momento da licitação dos blocos, es-tabelece um percentual mínimo para o fornecimento de serviços e equipa-mentos por empresas nacionais em um projeto petrolífero.

Diferente da etapa de desenvolvi-mento, a participação de empre-sas na fase de exploração (uma das primeiras em um projeto petrolífero) é exercida atualmente, segundo da-dos de agosto de 2010 da ANP, por 16

empresas diferentes.Ainda que a participação dessas

empresas seja pequena, essa nova configuração também apresenta uma redução ainda maior da concentração do setor por parte da Petrobras. Para esta fase, a estatal brasileira tem sua participação reduzida a 49% dos cam-pos. De fato, o setor ainda pode ser con-siderado concentrado, mas, sem dúvida, o novo arranjo aponta para o processo descentralizador, que, consequente-mente, tornará ainda mais desconcen-trada a cadeia de suprimentos, seja de serviços e/ou equipamentos.

Cabe destacar que as tabelas apre-sentadas acima representam apenas a participação de empresas na com-posição dos campos da Bacia de Cam-pos e, que a produtividade ou expec-tativas de reservas desses campos não foram levadas em consideração. É pos-sível que uma pequena participação de uma empresa na composição de um campo de alta taxa de produção seja maior (volume de óleo e/ou gás produzido) do que de outra empresa que tenha um percentual maior de participação de um campo com baixa taxa de produção.

Distribuição de empresas na participação dos blocosem fase de PRODUÇÃO na Bacia de Campos - 08/2010

Empresa

Petróleo Brasileiro S.A.

Sheel Brasil Ltda.

Devon Energy do Brasil

SK do Brasil Ltda.

Repsol Brasil S.A.

Chevron Frade

Frade Japão

Participação

92%

4%

2%

0%

1%

0%

1%

Fonte: ANP Elaboração: Morais, A

total 100 %

Distribuição de empresas na participação dos blocosem fase de DESENVOLVIMENTO na Bacia de Campos - 08/2010

Empresa

Petróleo Brasileiro S.A.

Total E&P do Brasil Ltda.

Devon Energy do Brasil

Statoil Brasil Óleo e Gás Ltda..

Chevron Brasil

Participação

61%

7%

3%

13%

17%

Fonte: Macaé: História e Memória

total 100 %

Distribuição de empresas na participação dos blocos em fase de EXPLORAÇÃO na Bacia de Campos - 08/2010

Empresa

Anadarko E&P Prod P&G Ltda.Devon Energy do Brasil Ltda.Ecopetrol E&G do Brasil Ltda.IBV Brasil Petróleo Ltda.Inpex Petróleo Santos Ltda.Maersk Oil Brasil Ltda.OGX Petróleo e Gás Ltda.Petrogal Brasil Ltda.Petróleo Brasileiro S.A.Repsol Brasil S.A.Sheel Brasil Ltda.SK do Brasil Ltda.Sonangol Pesquisa e Prod de Petro do Brasil LtdaStarfish Oil & Gas S.A.Statoil Brasil Óleo e Gás Ltda.Total E&P do Brasil Ltda.

Participação

Fonte: ANP Elaboração: Morais, A

total 100 %

3%6%2%1%1%3%17%1%49%1%1%1%4%2%7%1%

36 Revista de Economia Fluminense

Diante o exposto, é inegável a con-tribuição que a atividade petrolífera tem e ainda terá para o desenvolvimento econômico do estado do Rio de Janeiro, sobretudo, da região Norte Fluminense. A grande quantidade de investimentos que projetos do segmento demandam é um grande atrativo para outras empre-sas e, por conseguinte, de mão de obra.

Contudo, apesar de todas as perspec-tivas de crescimento dos investimen-tos, de desenvolvimento econômico e atração de mão de obra, grandes são os impactos negativos deixados por essa atividade econômica. No campo social, pode se destacar o baixo aproveitamen-to da mão de obra local, uma vez que a indústria de petróleo necessita de tra-balhadores altamente qualificados e es-pecializados, o que aumenta ainda mais

as disparidades sociaisque contribuem para o crescimento da violência e outros males de uma sociedade desigual.

No campo ambiental, os últimos acidentes da indústria no mundo ser-viram para comprovar a insuficiente capacidade das petrolíferas, governos e sociedade, como um todo, ao lidar com catástrofes de grandes projetos petrolíferos, como a do Golfo do México. São projetos como este, em águas ultra profundas, de difícil acesso, que estão em andamento nas bacias de Campos

Considerações Finaise Santos, principalmente, os da camada do pré-sal. Por exemplo, o TLD (teste de longa duração) de Tupi, um campo com reserva estimada entre cinco e oito bilhões de barris de petróleo.

Por fim, cabe às instituições públicas e a sociedade civil encontrar a melhor equação que permita o desenvolvi-mento da indústria do petróleo, equili-brando os efeitos positivos e negativos da atividade, apresentando um melhor custo benefício a toda sociedade, não só a atual, mas principalmente a futura.

Referências Bibliográficas

- BP Statistical Review 2010 -

www.bp.com/productlanding.do?categoryId=6929&contentId=7044622

- Fundação CEPERJ - www.ceperj.rj.gov.br/ceep/pib/pib.html

- ANP - Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis -

www.anp.gov.br

Atividade industrial apresentou crescimento de 749% no Norte Fluminense e colocou a exploração de petróleo em destaque na participação do PIB da região

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37Revista de Economia Fluminense

Profº Adilson de OliveiraInstituto de EconomiaUniversidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ

ARTIGO

O Rio de Janeiro e o Pré-sal

Inovações tecnológicas da indústria do petróleo e mão de obra qualificada demandam de atenção imediata do poder público e privado

O deslocamento do palco das decisões políticas para Bra-sília e a concentração dos in-

vestimentos industrializantes em São Paulo minaram a vitalidade da econo-mia do Rio de Janeiro. A descoberta de petróleo na Bacia de Campos na década de 70 permitiu arrefecer esta conjuntu-ra desfavorável, porém, não alterou o movimento da perda de espaço da eco-nomia do Rio no aparelho produtivo

brasileiro. Entre 1996 e 2008, a produção física do Estado apresentou queda de 9%, enquanto no Brasil cresceu 23% (29% em São Paulo e 25% em Minas Gerais)¹.

O petróleo de Campos permitiu que a participação do Rio de Janeiro no Produto Interno Bruto (PIB) fosse man-tida graças ao seu forte valor agregado. Porém, os benefícios de sua articulação com o aparelho produtivo estadual foram muito reduzidos. A maior parte da

10/3/2006 - Operação de transporte do navio de produção FPSOP-50 para o campo de Alcora Leste na bacia de Campos

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38 Revista de Economia Fluminense

¹ Entrevista do Professor Mauro Osório no Jornal dos Economistas (janeiro de 2011)

oferta de equipamentos e serviços para a Bacia de Campos foi carreada para o exterior e estados vizinhos. Os benefí-cios para o Rio ficaram essencialmente limitados aos royalties, que somente se tornaram relevantes nesta década, com o aumento da produção de petróleo e a elevação de seu preço. E mesmo este benefício, corre o risco de ser dras-ticamente reduzido, caso o Congresso Nacional decida alterar as disposições atuais para a sua distribuição. É funda-mental reverter esse quadro e não apenas garantir a continuidade do fluxo de royal-ties para o Tesouro Estadual.

O novo patamar de preço alcançado pelo barril de petróleo e a identificação de vastas reservas do pré-sal abrem um novo cenário para a indústria brasileira de petróleo. Estimativas preliminares sugerem que as reservas do pré-sal somem pelo menos 50 bilhões de barris de petróleo, podendo alcançar a marca de 100 bilhões de barris. Os planos de exploração da Petrobras e de outras operadoras indicam que a produção brasileira de hidrocarbonetos (petróleo somado ao gás natural) alcançará os cinco milhões de barris por dia (b/d) e as exportações nacionais o volume de dois milhões de b/d, em 2020. Diante disto,

o Brasil deve situar-se entre os cinco maiores produtores e exportadores de petróleo do planeta. A maior parte da produção virá de campos situados nas bacias de Campos e

de Santos, Rio e São Paulo, respecti-vamente. O Rio de Janeiro pode e deve capturar a maior parte dos efeitos in-dustrializantes dessa produção para a sua economia.

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39Revista de Economia Fluminense

O desenvolvimento da produção do pré-sal muda a escala produtiva da in-dústria do petróleo brasileira. Estima-se que, pelo menos, US$ 400 bilhões terão de ser investidos pelos fornecedores domésticos para atender às suas de-mandas de equipamentos e de serviços. Adequadamente conduzido, o desenvolvi-mento do pré-sal oferece condições para que constitua um novo pólo fornecedor de equipamentos e serviços para a in-dústria do petróleo, similar ao existente em torno da cidade de Houston, nos Estados Unidos. O Rio de Janeiro reúne condições excepcionais para se colo-car no epicentro dessa transformação produtiva, tornando-se o núcleo central de um novo pólo fornecedor orientado para todo o Atlântico Sul (Costa Ociden-tal Africana e América do Sul).

No Rio de Janeiro se constitui o maior e mais sofisticado complexo de pesquisa e desenvolvimento tecnológico para a indústria do petróleo do Hemisfério Sul, em torno do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes). Esta rede

deve atender à forte demanda de ino-vações tecnológicas vinculadas ao de-senvolvimento do pré-sal. Nela, serão testadas e aprovadas novas tecnologias que serão incorporadas ao processo produtivo da diversificada gama de for-necedores de equipamentos e serviços, de suma importância, que atenderão não apenas ao pré-sal brasileiro. Com isso, o Rio de Janeiro se tornará um gi-gantesco laboratório de inovações para a produção do petróleo em todo o mundo.

O Rio de Janeiro abriga a Agência Nacional de Petróleo (ANP), respon-sável pela regulação das atividades da indústria do petróleo e pela condução da política de conteúdo local nos pro-jetos petrolíferos. Aqui também está sediada a Petrobras, principal operadora no mercado brasileiro e ponta de lança para a abertura de mercados externos para empresas nacionais, fornecedoras de bens e serviços para a indústria do petróleo. Praticamente, todas as demais operadoras também têm sua sede no Rio de Janeiro, onde terão especiali-zação para operar no pré-sal de outras

regiões do mundo. O pré-sal abre uma ampla janela de

oportunidades para a revitalização do aparelho produtivo do Rio, com dinâmi-ca endógena e a oferta de um grande número de empregos com qualificação singular. A experiência da Noruega nos ensina que a captura desta oportuni-dade depende em larga medida de políticas públicas indutoras de compor-tamentos virtuosos dos agentes envolvi-dos no processo de inovação². Para que os benefícios do pré-sal para o Rio de Janeiro não fiquem limitados aos fluxos financeiros dos royalties, a articulação dessa capacitação para inovar com o aparelho produtivo fluminense é essen-cial. Em outras palavras, para que o pré-sal viabilize a recuperação da vitalidade e do dinamismo da economia estadual não basta que o pagamento de royalties para o Estado seja preservado. É preciso mais. É fundamental criar encadeamen-tos produtivos que enraízem nas empre-sas fluminenses a oferta competitiva de equipamentos e serviços para a indús-tria do petróleo global.

² Hatakenaka, S, Westnes, P, Gjelsvik, M, Lester, RK (2006), From “black gold” to “human gold”: a comparative case study of the transition from a resource-based to a knowledge economy in Stavanger and Aberdeen, Local Innovation Systems Project,

Massachusetts Institute of Technology, Working Papers, July 2006. Disponível em: <http://web.mit.edu/lis/papers/LIS06-002.pdf>. Acesso em: 22/11/2006.

O Cenpes é a atual grande promessa no quesito desenvolvimento de pesquisas para novas tecnologias para atender às demandas do pré-sal

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A descoberta do pré-sal abre o leque de oportunidades no mercado de trabalho para suprir a demanda de mão de obra qualificada de vários níveis de conhecimento

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O Programa de Mobilização da In-dústria do Petróleo e do Gás Natural (Prominp) foi criado pelo governo federal com o intuito de maximizar a parcela de conteúdo doméstico na aquisição de equipamentos e serviços pela indústria do petróleo. A carência de mão de obra qualificada, o limitado esforço inovador dos fornecedores e a fragilidade das empresas de engenharia foram identifi-cados pelo Prominp como os principais gargalos estruturais para o desenvolvi-mento do parque fornecedor doméstico.

O Prominp tem apoiado os fornece-dores na superação da carência de mão de obra com um programa agressivo de formação qualificada. A Financiadora de

Estudos e Projetos (Finep) oferece recur-sos para a inovação em editais regulares. A capacitação de nossas empresas de en-genharia para atender às demandas da indústria do petróleo, especialmente no que se refere a projetos de engenharia básica, é o nosso calcanhar de Aquiles.

A engenharia básica de projetos da indústria brasileira do petróleo é pro-duzida principalmente no exterior, fi-

cando delegado à engenharia brasileira o papel do detalhamento de conheci-mentos tecnológicos estabelecidos lá fora. Desta forma, a demanda de bens e serviços de projetos do petróleo acaba se ajustando às normas e padrões tec-nológicos de empresas fornecedoras, vinculadas às empresas de engenha-ria básica internacionais. A competitivi-dade da oferta de bens e serviços pelos fornecedores nacionais fica condiciona-da ao licenciamento de conhecimentos acumulados na articulação produtiva. O desenvolvimento do pré-sal oferece espaço para modificação radical desta realidade, na medida em que seu labo-ratório de inovações se situará no Rio

de Janeiro. A exigência de níveis mínimos de

conteúdos pela ANP, associada aos esfor-ços do Prominp e da Finep, tem gerado efeitos positivos, evidenciados pela ele-vação continuada do conteúdo domés-tico de projetos da indústria do petróleo (ver figura). No entanto, este resultado está concentrado em atividades de baixo conteúdo tecnológico. Os equipamentos

e serviços que exigem maior conheci-mento tecnológico são ainda, essen-cialmente, importados. O desafio atual reside em mover a oferta doméstica para equipamentos e serviços de base tecnológica, de forma a estruturar um pólo fornecedor competitivo da classe mundial.

As bases de conhecimento necessári-as para a estruturação desse pólo estão sendo estabelecidas pelos centros de pesquisa que vem se instalando no Rio de Janeiro. A coordenação do processo inovador é conduzida pela Petrobras, com o apoio do Cenpes. Porém, há um vácuo nesse arranjo institucional que impede o transbordamento do conheci-

mento tecnológico adquirido nos cen-tros de pesquisa para o parque produ-tivo doméstico. Infelizmente, o país não conta com firmas de engenharia domés-ticas capacitadas para executar a tarefa.

Preservada essa situação, os ativos do conhecimento alcançados no pré-sal serão repassados por empresas de engenharia externas para fornece-dores, a elas historicamente vinculados.

³ de Oliveira, A (2007), Indústria Para-Petrolífera Brasileira: Competitividade, Desafios e Oportunidades, disponível em www.prominp.gov.br (8/4/2011) O Prominp já qualificou 78.402 alunos, dos quais 18.669 no Rio de Janeiro 4

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Promimp pretende formar nos próximos três anos 207 mil profissionais. A primeira fase deve qualificar 78 mil pessoas para vários cargos do setor do petróleo

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A capacitação de nossas empresas de engenharia para atender as deman-das da indústria do petróleo é o nosso

calcanhar de Aquiles

A emergência de firmas de engenha-ria domésticas com capacitação para elaborar projetos, desde a engenharia básica até o seu detalhamento, é im-prescindível para que os benefícios do pré-sal sejam plenamente capturados pela economia brasileira. O Rio de Ja-neiro é o locus natural para a fixação deste tipo de empresa.

O fomento da produção doméstica de equipamentos e serviços de base tecnológica merece uma atenção espe-cial do governo do Rio de Janeiro. Boa parte das inovações tecnológicas na in-dústria do petróleo, especialmente nas atividades offshore, são realizadas por pequenas empresas de base tecnológi-ca. Muitas delas ainda estão por nascer como resultado do transbordamento de conhecimento tecnológico obtidos nos centros de pesquisa. A oferta de um am-biente econômico e regulamentar que favoreça tal transbordamento permitirá que a maior parte das empresas do setor venha a nascer no Rio de Janeiro. A criação de uma grande empresa de engenharia com sede no Rio de Janeiro, articulada com a cadeia doméstica de fornecedores da indústria do petróleo, é indispensável para o sucesso desta em-preitada.

É fato conhecido que a criação de ambiente indutor para empresas de base tecnológica provoca verdadeiras revoluções no cenário socioeconômico, quando assentadas em oportunidades econômicas objetivas. O pré-sal en-quadra-se neste tipo de situação. O Rio

de Janeiro não pode perder a oportu-nidade de revitalizar sua economia, cri-ando milhares de empregos altamente qualificados. O Estado necessita se do-tar de instrumentos que viabilizem a for-mulação de políticas setoriais ativas de fomento à oferta local de equipamentos e serviços para a indústria do petróleo. A criação de um Centro de Inovação da Cadeia Produtiva do Petróleo seria um passo relevante nesta direção.

Diversas empresas decidiram instalar centros de pesquisa de classe mundial no parque tecnológico da Ilha do Fundão (Schlumbeger, Baker Hughes, General Electric, FMC, Usiminas, Siemens etc)

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Dados coletados pela prefeitura do Rio de Janeiro indicam que “até 2016, o complexo produtivo do setor petróleo e gás poderá gerar, apenas na cidade, cinco vezes mais emprego que as Olimpíadas” Professor Mauro Osório, Jornal dos Economistas, janeiro de 2011

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Promimp pretende formar nos próximos três anos 207 mil profissionais. A primeira fase deve qualificar 78 mil pessoas para vários cargos do setor do petróleo

Novas tecnologias auxiliam na exploração do pré-sal

ANP aponta que Bacia de Campos está entre os dois maiores produtores do pré-sal do Brasil

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Indústria extrativa mineral e de transformação

Índice da produção física

(2) (r) Base : média de

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Fontes: IBGE/DPE/Departamento de Indústria, IBS e Petrobrás, ANP - Boletim Mensal de Produção submetido à ANP (atualizados em 28/08/2009) , Sind.Nac. Indústria de Cimento, +LIGHT, AMPLA, CENF, CEG-CEGRIO e CED

Notas: (1) Quando se tratar de índices os valores anuais são médios. (2) Dados sujeitos a retificações (3) Petróleo: óleo e condensado. Não inclui LGN (GLP e C5+). (4) O valor total da produção inclui os volumes de rejeição, queimas e perdas, e consumo próprio de gás natural. (5) Aos dados da Light, Ampla e CENF foram agregados o consumo dos clientes do Mercado Livre de energia. (r) dados retificados Variações percentuais No mês = mês de referência/mês anterior No mês/mês do ano anterior = mês de referência/mesmo mês do ano anterior Acumulada = janeiro até o mês de referência/igual período do ano anterior

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2007 107,61 113,96 106,25 6.890 82.820 8.025 4.088 32.630 3.768.639 593.299 2008 109,24 120,00 106,92 6.619 87.021 8.763 4.353 32.920 6.443.133 639.716 2009 105,10 132,65 99,16 5.837 96.221 10.497 3.928 32.526 3.443.436 712.807 2010 7.093 94.566 10.132 34.366 5.342.766 735.428 Jan 106,32 131,63 100,86 545 8.058 862 312 3.097 269.064 60.208Fev 103,50 120,51 99,87 469 7.351 808 278 3.074 328.925 63.729Mar 113,10 133,10 108,79 590 8.128 871 348 2.979 342.338 65.319Abrl 107,71 129,73 102,96 510 8.003 861 310 2.957 268.863 62.515Mai 116,41 131,56 113,15 615 8.180 899 361 2.720 369.165 63.040Jun 113,39 123,91 111,12 564 7.754 853 374 2.681 430.700 60.100Jul 117,25 127,97 114,94 592 7.929 872 384 2.604 409.028 60.740Ago 118,87 127,73 116,96 579 8.004 849 411 2.710 611.355 59.764Set 115,74 132,25 112,17 578 7.368 772 398 2.750 618.734 60.920Out 119,65 122,77 118,97 688 7.665 798 370 2.825 545.550 59.979Nov 702 7.838 823 367 2.851 628.092 58.820Dez 661 8.287 864 3.118 520.951 60.291 2011 Jan 7.828 811 345.899 59.643 Fev 6.795 704 351.209 61.294 Mar 323.688 61.461 Abrl 63.337Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Variações(%) No mês 3,4 -7,2 6,1 -5,8 -13,2 5,0 -0,8 9,3 -7,8 3,1 No mês/mês ano anterior 3,7 -10,2 7,4 22,0 -7,6 -3,7 11,8 4,5 -5,4 1,3 Acumulada 8,7 -3,4 12,2 21,5 -5,1 -3,5 7,6 5,7 8,6 -2,4

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Fontes: IBGE/Diretoria de Pesquisa/Departamento de Comércio e Serviços, CEASA - Central de Abastecimento, SECEX - Secretaria de Comércio Exterior, JUCERJA - Junta Comercial do Estado do Rio de Janeiro e - SEF - Secretaria de Estado de Fazenda Notas :(1) Quando se tratar de índices os valores anuais são médios. De 1998 A 1999 O IBGE divulgava dados do faturamento do comercio varejista com base fixa = 100, a partir de 2000 os novos indices passaram a ser o Indice Nominal de Vendas do Varejo e Índice de Volume de Vendas do Varejo. (r) Dados retificados Variações percentuais No mês = mês de referência/mês anterior No mês/mês do ano anterior = mês de referência/mesmo mês do ano anterior Acumulada = janeiro até o mês de referência/igual período do ano anterior

Variações(%)

No mês -28,9 -28,4 4,0 -9,3 9,0 -50,1 -23,7 22,0 9,9

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ano anterior 14,8 9,7 46,5 -2,0 37,5 48,9 11,7 45,4 39,0

Acumulada 14,8 9,7 37,6 -19,6 35,0 48,9 11,7 8,8 -3,4

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Concursos realizados:

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