22
Apostila de Sociologia 2. Poder, Política e Estado Prof. Renato Fialho

Apostila de Sociologia 2. Poder, Política e Estado processo que Weber chama de racionalização das sociedades: uma crescente transformação dos modos informais e tradicionais de

  • Upload
    vannhu

  • View
    217

  • Download
    2

Embed Size (px)

Citation preview

Apostila de Sociologia

2. Poder, Política e Estado

Prof. Renato Fialho

SOCIOLOGIA - 2º ANO – Apostila nº 2 - Prof. Renato Fialho - Página 2

Desencantar o mundo O estabelecimento de uma ordem social “com relação a fins” (quer dizer, racional) vai se tornando então cada vez mais amplo. O consenso aí construído é obtido mediante regras e mediante coação, e uma crescente transformação das associações em instituições organizadas de maneira racional com relação a fins se opera na sociedade.

É esse o sentido histórico do processo que Max Weber chama de racionalização.

A história humana, segundo ele, é um processo de crescente racionalização da vida, de abandono das concepções mágicas e tradicionais como justificativas para o comportamento dos homens e para a administração social. Pode-se compreender aqui o sentido de uma outra tipologia de Weber, a das formas de dominação legítima. Para Weber há três tipos puros de dominação legítima: a dominação tradicional, cuja legitimidade se baseia na tradição, a dominação carismática, cuja legitimidade se baseia no carisma do líder, e a dominação racional-legal, cuja legitimidade se baseia na lei e na racionalidade (adequação entre meios e fins) que está por trás da lei. Se a associação estatal passa por um processo de racionalização (e também de burocratização, porque para fazer cumprir as regras racionais é necessária uma burocracia cada vez mais complexa), as formas de dominação no Ocidente caminham, tendencialmente, para o tipo racional-legal.

(...) Quanto mais complexas as sociedades, isto é, quanto maior sua racionalização, argumenta Weber, maior o número de regulamentos sociais a serem obedecidos. Quanto mais complexa a sociedade, mais conflitiva tende a ser a interação entre os indivíduos e grupos, uma vez que maiores serão as “constelações de interesses” que se contrapõem e maior também a necessidade de regulamentá-los. Assim como em Durkheim, em Weber a complexificação gera conflito, o que por sua vez gera a necessidade da regra. A regulamentação mais desenvolvida das lutas em sociedade aparece em Weber como um aparato especializado de domínio, que é o Estado Moderno. O ingresso dos indivíduos nesta grande associação, na qual estão obrigados a submeter-se ao poder já instituído, não é voluntário, e as regras são feitas, diz ele, por meio da força, da imposição da vontade de alguns indivíduos e grupos sobre outros indivíduos e grupos. Para resumir em poucas palavras: uns mandam, outros obedecem e a esse processo Weber chama de dominação. Para legitimar-se, isto é, para garantir a aceitação dos comandados, a dominação se baseia ou na tradição, ou no carisma do líder ou na força do direito racional. No caso da tradição e do carisma, a dominação se exerce pelo domínio dos líderes sobre os dominados, que obedecem porque foram educados (ou seja, compartilharam de uma tradição) ou porque julgam que o líder tenha dotes sobrenaturais (que Weber chama de

carisma). Mas no último caso, que é o das sociedades modernas e complexas, a obediência não é devida à figura do líder, mas à posição que ele ocupa no aparato de dominação, devidamente garantida por uma legislação de caráter racional. O exercício da autoridade racional depende de um quadro administrativo hierarquizado e profissional, que se caracteriza pela existência de uma burocracia. É este o sentido histórico do processo que Weber chama de racionalização das sociedades: uma crescente transformação dos modos informais e tradicionais de extração de obediência em instituições organizadas racionalmente, impessoalmente e legalmente para a obtenção desta obediência.

(...) A lógica da racionalidade, da obediência à lei e do treinamento das pessoas para administrar as tarefas burocráticas do Estado foi aos poucos se disseminando. Na formação do Estado moderno e do capitalismo moderno, que são inseparáveis um do outro, Weber dá especial atenção a dois aspectos: de um lado, a constituição de um direito racional, um dos pilares do processo de racionalização da vida, e de outro, a constituição de uma administração racional em moldes burocráticos. O direito racional oferece as garantias contratuais e a codificação básica das relações de troca econômica e troca política que sustentam o capitalismo e o Estado modernos, enquanto que o desenvolvimento da empresa capitalista moderna oferece o modelo para a constituição da empresa de dominação política própria do capitalismo, o Estado burocrático.

E aqui é que se torna claro o modo como Weber pensa a educação. A educação sistemática, analisa ele, passou a ser um “pacote” de conteúdos e de disposições voltados para o treinamento de indivíduos que tivessem de fato condições de operar essas novas funções, de “pilotar” o Estado, as empresas e a própria política, de um modo “racional”. Um dos elementos essenciais na constituição do Estado moderno é a formação de uma administração burocrática em moldes racionais. Tal processo só ocorreu de modo complexo no Ocidente, onde houve a substituição paulatina de um funcionalismo não especializado e regido por orientações mais ou menos discricionários (não baseadas em regras) por um funcionalismo especificamente treinado e politicamente orientado com base em regulamentos racionais.

Na exposição de Weber, o Oriente aparece como protótipo da administração irracional. (...) Na realidade, nesse tipo de administração tudo repousa na concepção mágica de que a virtude do Imperador e dos funcionários, ou seja, de que sua superioridade em matéria literária, basta para governar. A coisa é muito distinta no Estado racional, o único em que pode prosperar o capitalismo moderno. Ele se funda na burocracia profissional e no direito racional.

(Texto extraído do livro “Sociologia da Educação”, de Alberto Tosi Rodrigues. Editora Lamparina).

SOCIOLOGIA - 2º ANO – Apostila nº 2 - Prof. Renato Fialho - Página 3

A guerra termonuclear como possibilidade real: A Rússia deve esperar um ataque dos EUA

Entrevista com Paul Craig Roberts

Já há muito queria entrevistar Paul Craig Roberts.

Durante muitos anos acompanhei seus escritos e

entrevistas e sempre que os lia esperava ter um dia o

privilégio de entrevista-lo acerca da natureza do estado

profundo dos EUA e do Império. Recentemente, enviei-

lhe um e-mail e pedi-lhe uma entrevista e, muito

gentilmente, ele concordou. Fico-lhe muito grato por

esta oportunidade. (The Saker)

The Saker: Tem-se tornado bastante óbvio para muita

gente, se não para a maioria, que os EUA não são uma

democracia ou uma república, mas antes uma

plutocracia dirigida por uma pequena elite à qual alguns

chamam "os 1%". Outros falam do "estado profundo".

Assim, minha primeira pergunta é a seguinte: Podia por

favor gastar algum tempo para avaliar a influência e

pode de cada uma das seguintes entidades, uma por

uma? Em particular, pode especificar para cada uma se

tem uma posição "top" na tomada de decisão, ou uma

posição "média" na implementação da decisão na

estrutura real do poder (lista sem qualquer ordem

específica):

• Federal Reserve

• Grande banca

• Bilderberg

• Council on Foreign Relations

• Skull & Bones

• CIA

• Goldman Sachs e bancos de topo

• “100 famílias do topo” (Rothschild, Rockefeller, Dutch

Royal Family, British Royal Family, etc.)

• Israel Lobby

• Maçons e suas lojas

• Big Business: Big Oil, Complexo militar-industrial, etc.

• Outras pessoas ou organizações não listadas acima?

Quem, qual grupo, que entidade consideraria que está

realmente no cimo do poder na atual política dos EUA?

Paul Craig Roberts: Os EUA são dirigidos por grupos de

interesses privados e pela ideologia neoconservadora

que sustenta ter sido escolhido pela História como o país

"excepcional e indispensável" com o direito e a

responsabilidade de impor sua vontade ao mundo.

Na minha opinião os grupos de interesses privados mais

poderosos são:

• O Complexo militar/segurança;

• Os quatro ou cinco bancos de mega dimensão

"demasiados grandes para falirem" e a Wall Street;

• O agronegócio;

• As indústrias extrativas (petróleo, mineração,

madeira).

Os interesses destes grupos coincidem com aqueles dos

neoconservadores. A ideologia neoconservadora apoia o

imperialismo ou a hegemonia financeira e político-

militar americana.

Não há imprensa ou TV independente americana. Nos

últimos anos do regime Clinton, 90% dos media

impressos e da TV estavam concentrados em seis megas

companhias. Durante o regime Bush, a National Public

Radio perdeu sua independência. Assim, os media

funcionam como um Ministério da Propaganda.

Ambos os partidos políticos, republicanos e democratas,

estão dependentes dos mesmos grupos de interesses

privados para fundos de campanha, assim ambos os

partidos dançam para os mesmos mestres. A

deslocalização de empregos destruiu os sindicatos

manufatureiros e industriais e privou os democratas das

contribuições políticas de sindicatos trabalhistas.

Naqueles dias, os democratas representavam o povo

trabalhador e os republicanos representavam os

negócios.

O Federal Reserve está ali para os bancos,

principalmente os grandes. O Federal Reserve foi criado

como prestamista de último recurso para impedir

bancos de falirem devido a corridas bancárias ou

retirada de depósitos. O FED de Nova York, o qual

conduz as intervenções financeiras, tem uma diretoria

SOCIOLOGIA - 2º ANO – Apostila nº 2 - Prof. Renato Fialho - Página 4

que consiste nos executivos dos grandes bancos. Os

últimos três presidentes do Federal Reserve foram

judeus e o atual vice-presidente é o antigo governador

do banco central israelense. Judeus são proeminentes no

sector financeiro, no Goldman Sachs por exemplo. Nos

últimos anos, os secretários do Tesouro dos EUA e

dirigentes das agências regulatórias financeiras foram

principalmente os executivos da banca responsáveis pela

fraude e pela alavancagem excessiva de dívida que

lançaram a última crise financeira.

No século XXI, o Federal Reserve e o Tesouro serviram

apenas os interesses dos grandes bancos. Isto tem sido a

expensas da economia e da população. Exemplo:

pessoas reformadas não tiveram o rendimento de juros

durante oito anos a fim de que as instituições financeiras

pudessem tomar emprestado a custo zero e ganhar

dinheiro.

Não importa quão ricas sejam algumas famílias, elas não

podem competir com poderosos grupos de interesses

tais como o complexo militar/segurança ou a Wall Street

e os bancos. A riqueza estabelecida há muito pode

cuidar dos seus interesses e alguns, tais como os

Rockfellers, têm fundações ativistas que na maior parte

trabalham provavelmente em estreita colaboração com

o National Endowment for Democracy para financiar e

encorajar várias organizações não governamentais

(ONGs) pró-americanas em países que os EUA querem

influenciar ou subverter, tal como se verificou na

Ucrânia. As ONGs são essencialmente Quintas Colunas

dos EUA e operam sob nomes como "direitos humanos",

"democracia", etc. Um professor chinês contou-me que

a Fundação Rockfeller criou uma universidade americana

na China e que ela é utilizada para organizar diversos

chineses anti-regime. No passado, e talvez ainda hoje,

havia na Rússia centenas de ONGs com financiamento

estadunidense e alemão, possivelmente até 1000.

Não sei se os bilderbergs fazem o mesmo. Possivelmente

são apenas pessoas muito ricas e têm seus protegidos

em governos que tentam proteger seus interesses.

Nunca vi quaisquer sinais de bilderbergs ou maçons ou

Rothchilds a afetarem decisões do Congresso ou do

ramo executivo.

Por outro lado, o Council for Foreign Relations é

influente. O conselho é composto de antigos

responsáveis da política governamental e académicos

envolvidos em política externa e relações internacionais.

A publicação do conselho, Foreign Affairs, é o principal

fórum de política externa. Alguns jornalistas também são

membros. Quando fui proposto como membro na

década de 1980, fui vetado.

A Skull & Bones é uma fraternidade secreta da

Universidade de Yale. Algumas universidades têm tais

fraternidades. A Universidade de Virgínia, por exemplo,

tem uma e a da Georgia também. Estas fraternidades

não têm tramas governamentais secretas ou poderes de

domínio. Sua influência seria limitada à influência

pessoal dos membros, os quais tendem a ser filhos de

famílias da elite. Na minha opinião, estas fraternidades

existem para dar status de elite aos membros. Elas não

têm funções operacionais.

The Saker: E quanto a indivíduos? Quem são, na sua

opinião, as pessoas mais poderosas nos EUA de hoje?

Quem toma a decisão estratégica final, em alto nível?

Paul Craig Roberts: Não há realmente pessoas

poderosas por si próprias. Pessoas poderosas são

aquelas que têm por trás grupos de interesses

poderosos. Desde que o secretário da Defesa William

Perry privatizou grande parte das funções militares em

1991, o complexo militar/segurança tem sido

extremamente poderoso e o seu poder é ainda mais

ampliado pela sua capacidade para financiar campanhas

políticas e pelo facto de que é uma fonte de emprego

em muitos estados. Essencialmente as despesas do

Pentágono são controladas pelos fornecedores da

defesa.

The Saker: Sempre acreditei que em termos

internacionais, organizações tais como a NATO, a UE e

todas as outras são apenas uma frente e que a aliança

real que controla o planeta são os países ECHELON: EUA,

Reino Unido, Canada, Austrália e Nova Zelândia, também

conhecidos como "AUSCANNZUKUS" (também são

mencionados como a "anglo-esfera" ou os "Cinco

olhos"), sendo os EUA e Reino Unido parceiros sénior e

os outros três parceiros júnior. Será correto este

modelo?

Paul Craig Roberts: A NATO foi uma criação

estadunidense, alegadamente para proteger a Europa de

uma invasão soviética. Seu propósito expirou em 1991.

Hoje a NATO proporciona cobertura à agressão dos EUA,

bem como forças mercenárias para o Império

Americano. A Grã-Bretanha, Canada, Austrália são

simplesmente estados vassalos dos EUA assim como a

Alemanha, França, Itália, Japão e o resto. Não há

parceiros, apenas vassalos. É o império de Washington,

nada mais.

SOCIOLOGIA - 2º ANO – Apostila nº 2 - Prof. Renato Fialho - Página 5

The Saker: Diz-se frequentemente que Israel controla os

EUA. Chomsky e outros dizem que são os EUA que

controlam Israel. Como caracterizaria o relacionamento

entre Israel e os EUA – é o cão que abana a cauda ou é a

cauda que abana o cão? Diria que o lobby de Israel está

no controle total dos EUA ou ainda há outras forças

capazes de dizer "não" ao lobby israelense e impor a sua

própria agenda?

Paul Craig Roberts: Nunca vi qualquer evidência de que

os EUA controlam Israel. Toda a evidência é de que Israel

controla os EUA, mas só na sua política do Médio

Oriente. Nos últimos anos Israel, ou o lobby israelense,

foi capa de controlar ou impedir nomeações académicas

nos EUA e a estabilidade no emprego (tenure) para

professores considerados críticos de Israel. Israel tem

tido êxito tanto em universidades católicas como nas

estaduais em travar estabilidades e nomeações. Israel

pode também bloquear algumas nomeações

presidenciais e tem uma influência vasta sobre os media

impressos e da TV. O lobby israelense também tem

abundância de dinheiro para financiar campanhas

políticas e nunca falha em remover deputados e

senadores dos EUA considerados críticos de Israel. O

lobby israelense foi capaz de penetrar no distrito negro

do Congresso de Cynthia McKinney, uma mulher negra,

e derrotá-la na sua reeleição. Como disse o almirante

Tom Moorer, Chefe de Operações Navais e Chefe do

Estado-Maior das Forças Armadas: "Nenhum presidente

americano pode enfrentar Israel". O almirante Moore

não pôde sequer conseguir uma investigação oficial ao

ataque mortífero de Israel ao USS Liberty em 1967.

Qualquer um que critique políticas israelenses, mesmo

num espírito colaborativo, é etiquetado como "anti-

semita". Na política, nos media e nas universidades

americanas, isto é uma sentença de morte. Você pode

ser atingido por um míssil infernal.

The Saker: Qual das 12 entidades de poder que listei

acima tem, na sua opinião, desempenhado um papel

chave no planeamento e execução da operação "falsa

bandeira" do 11/Set? Afinal de contas, é difícil imaginar

que isto foi planeado e preparado entre a posse de GW

Bush e o 11 de Setembro – deve ter sido preparado

durante os anos da administração Clinton. Não é

verdade que a bomba de Oklahoma City foi um ensaio

para o 11/Set?

Paul Craig Roberts: Na minha opinião o 11/Set foi o

produto dos neoconservadores, muitos dos quais são

judeus aliados a Israel, Dick Cheney, e Israel. Seu

objetivo foi proporcionar "o novo Pearl Harbor" que os

neoconservadores disseram ser necessário para lançar

suas guerras de conquista no Médio Oriente. Não sei

durante quanto tempo antes foi planeado, mas

Silverstein obviamente fez parte disto e ele não teve o

World Trade Center durante muito tempo antes do 11

de Setembro.

Quanto ao bombardeamento do Murrah Federal

Building na cidade de Oklahoma, o general Partin, da

Força Aérea, seu perito em munições, preparou um

relatório técnico provando para além de qualquer dúvida

que o edifício explodiu a partir de dentro, para fora, e

que o camião com a bomba foi encobrimento. O

Congresso e os media ignoraram este relatório. O bode

expiatório, McVeigh, já estava definido e isso foi a única

estória permitida.

The Saker: Pensa que as pessoas que dirigem os EUA

hoje percebem que estão numa rota de colisão com a

Rússia a qual poderia levar à guerra termonuclear? Em

caso afirmativo, por que é que eles assumiriam tamanho

risco? Será que eles realmente acreditam que no último

momento os russos "piscarão" e recuarão, ou acreditam

realmente que podem vencer uma guerra nuclear? Não

terão medo de que numa conflagração nuclear com a

Rússia perderão tudo o que têm, incluindo seu poder e

mesmo suas vidas?

Paul Craig Roberts: Estou tão perplexo quanto você.

Penso que Washington está perdida no excesso de

confiança e na arrogância e está mais ou menos insana.

Também há a crença de que os EUA podem vencer uma

guerra nuclear com a Rússia. Houve um artigo na Foreign

Affairs cerca de 2005 ou 2006 na qual se apresentava

esta conclusão. A crença na "vencibilidade" da guerra

nuclear tem sido promovida pela fé nas defesas ABM

(Anti-Ballistic Missile). O argumento é que os EUA

podem atingir a Rússia tão duramente num primeiro

ataque antecipativo (preemptive) que a Rússia não

retaliaria por medo de um segundo ataque.

The Saker: Como avalia o atual estado de saúde do

Império? Durante muitos anos temos visto sinais claros

de declínio, mas ainda não há colapso visível. Acredita

que um tal colapso é inevitável e, se não, como poderia

isto ser impedido? Será que veremos o dia em que o US

Dólar subitamente se tornará sem valor ou será que

algum outro mecanismo precipitará o colapso deste

Império?

Paul Craig Roberts: A economia dos EUA está esvaziada.

Não tem havido qualquer crescimento do rendimento

real mediano das famílias durante décadas. Alan

SOCIOLOGIA - 2º ANO – Apostila nº 2 - Prof. Renato Fialho - Página 6

Greenspan, como presidente do FED, utilizava uma

expansão do crédito ao consumidor para substituir o

crescimento em falta no rendimento do mesmo, mas a

população está agora demasiado endividada para

contrair mais crédito. Assim, não há nada para conduzir

a economia. Tamanha quantidade de empregos na

manufatura e em serviços profissionais transacionáveis,

como engenharia de software, foram removidos para o

exterior que a classe média sofreu uma contração.

Licenciados em universidades não podem obter

empregos que permitam uma existência independente.

De modo que não podem constituir famílias, comprar

casas, eletrodomésticos e mobílias para o lar. O governo

produz baixas mensurações de inflação ao não medir a

inflação e baixas taxas de desemprego ao não medir o

desemprego. Os mercados financeiros são manipulados

(rigged) e o ouro deitado abaixo apesar do crescimento

da procura através de vendas shorts a descoberto no

mercado de futuros. É um castelo de cartas que tem

aguentado mais tempo do que eu pensava possível.

Aparentemente, o castelo de cartas pode suster-se até

que o resto do mundo cesse de manter o US dólar como

reservas.

Possivelmente o império impôs demasiada tensão à

Europa ao envolvê-la num conflito com a Rússia. Se a

Alemanha, por exemplo, abandonasse a NATO, o

império entraria em colapso, ou se a Rússia pudesse

encontrar engenho (wits) para financiar a Grécia, a Itália

e a Espanha em troca de abandonarem o Euro e a UE, o

império sofreria o golpe fatal.

Alternativamente, a Rússia pode dizer à Europa que não

tem nenhuma alternativa exceto alvejar capitais

europeias com armas nucleares uma vez que a Europa se

juntou aos EUA na guerra contra a Rússia.

The Saker: A Rússia e a China fizeram algo único na

história e foram para além do modelo tradicional de

constituir uma aliança: concordaram em tornar-se

interdependentes – poder-se-ia dizer que concordaram

em ter um relacionamento simbiótico. Acredita que

aqueles que são responsáveis pelo Império tenham

compreendido a mudança tectónica que acaba de

acontecer ou estão simplesmente a cair numa negação

profunda porque a realidade os assusta demasiado?

Paul Craig Roberts: Stephen Cohen diz que

simplesmente não há discussão de política externa. Não

há debate. Penso que o império pensa que pode

desestabilizar a Rússia e a China e que isto é uma das

razões porque Washington tem revoluções coloridas a

atuarem na Arménia, Quirguistão e Uzbequistão. Como

Washington está determinada a impedir a ascensão de

outras potências e está perdida no excesso de confiança

e arrogância, ela provavelmente acredita que terá êxito.

Afinal de contas, a História escolheu Washington.

The Saker: Na sua opinião, será que eleições

presidenciais ainda importam e, em caso afirmativo, o

que é a sua melhor esperança para 2016? Pessoalmente

tenho muito medo de Hillary Clinton a quem considero

como uma pessoa excepcionalmente perigosa e

absolutamente perversa, mas com a atual influência

neocon entre os republicanos, podemos realmente

esperar que um candidato não neocon obtenha a

nomeação do Partido Republicano?

Paul Craig Roberts: O único meio pelo qual uma eleição

presidencial poderia importar seria se o presidente

eleito tivesse por trás um movimento forte. Sem um

movimento, o presidente não tem poder independente e

ninguém para nomear quem fará a sua parte. Os

presidentes estão cativos. Reagan tinha algo de um

movimento, apenas o suficiente, com o que fomos

capazes de curar a estagflação apesar da oposição da

Wall Street e fomos capazes de acabar com a guerra-fria

apesar da oposição da CIA e do complexo

militar/segurança. Reagan era idoso e vinha de um outro

tempo. Ele assumiu que o gabinete do presidente era

poderoso e atuou dessa forma.

The Saker: O que diz acerca das forças armadas? Pode

imaginar um Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas

a dizer "não, Sr. Presidente, isso é louco, não faremos

isto" ou espera que os generais obedeçam a qualquer

ordem, incluindo uma para começar uma guerra nuclear

contra a Rússia? Tem alguma esperança de que os

militares dos EUA pudessem interferir e travar os

"loucos" atualmente no poder na Casa Branca e no

Congresso?

Paul Craig Roberts: Os militares dos EUA são criaturas

das indústrias de armamentos. O objetivo completo de

se fazer general é qualificar-se para ser um consultor na

indústria da "defesa", ou tornar-se um executivo ou ir

para a direção de um empreiteiro da "defesa". Os

militares servem como fonte para carreiras de

aposentação quando então os generais ganham o

dinheiro grosso. Os militares dos EUA estão totalmente

corruptos. Leia o livro de Andrew Cockburn, Kill Chain.

The Saker: Se os EUA estão realmente e

deliberadamente descendo o caminho rumo à guerra

com a Rússia – o que deveria a Rússia fazer? Deveria

recuar e aceitar ser subjugada como uma opção

SOCIOLOGIA - 2º ANO – Apostila nº 2 - Prof. Renato Fialho - Página 7

preferível à guerra termonuclear, ou deveria resistir e,

portanto, aceitar a possibilidade de uma guerra

termonuclear? Acredita que uma deliberada e muito

poderosa demonstração de força por parte da Rússia

poderia deter um ataque dos EUA?

Paul Craig Roberts: Tenho muitas vezes desejado saber

acerca disto. Não posso dizer que sei. Penso que Putin é

bastante humano para capitular ao invés de provocar a

destruição do mundo, mas Putin tem de responder a

outros dentro da Rússia e duvido que nacionalistas

apoiassem a capitulação.

Na minha opinião, penso que Putin deveria centrar-se na

Europa e torná-la consciente de que a Rússia espera um

ataque americano e não terá qualquer opção exceto

exterminar a Europa como resposta. Putin deveria

encorajar a Europa a desligar-se da NATO a fim de

impedir a 3ª Guerra Mundial.

Putin também deveria assegurar-se de que a China

entende que representa a mesma ameaça para os EUA,

tanto quanto a Rússia, e que ambos os países têm de se

manter unidos. Talvez se a Rússia e a China mantivessem

suas forças num alerta nuclear, não o alerta máximo,

mas um alerta elevado que transmitisse o

reconhecimento da ameaça americana e transmitisse

esta ameaça ao mundo, os EUA pudessem ser isolados.

Talvez se as imprensas indiana, japonesa, francesa,

alemã, britânica, chinesa e russa começassem a informar

que a Rússia e a China perguntam se receberão um

ataque nuclear preventivo (pre-emptive) de Washington

o resultado fosse impedir esse ataque.

Tanto quanto posso dizer a partir das minhas muitas

entrevistas com os media russos, não há consciência

russa da Doutrina Wolfowitz. Os russos pensam que há

alguma espécie de mal-entendido acerca das intenções

russas. Os media russos não entendem que a Rússia é

inaceitável porque a Rússia não é um vassalo dos EUA.

Os russos acreditam em toda asneirada ocidental acerca

de "liberdade e democracia" e acreditam que têm pouco

disso, mas estão a fazer progressos. Por outras palavras,

os russos não têm ideia de que são visados para a

destruição.

The Saker: Quais são, na sua opinião, as raízes do ódio

de tantos membros das elites estadunidenses para com

a Rússia? Será isso apenas um resto da Guerra-fria ou

haverá uma outra razão para a russofobia quase

universal entre as elites dos EUA? Mesmo durante a

Guerra-fria, não estava claro se os EUA eram

anticomunistas ou anti-russos. Haverá algo na cultura,

nação ou civilização russa que dispare essa hostilidade e,

em caso afirmativo, o que é?

Paul Craig Roberts: A hostilidade para com a Rússia

remonta à Doutrina Wolfowitz:

"Nosso primeiro objetivo é impedir a re-emergência de

um novo rival, tanto no território da antiga União

Soviética como alhures, que coloque uma ameaça da

ordem daquela colocada anteriormente pela União

Soviética. Isto é uma consideração dominante

subjacente à nova estratégia de defesa regional e requer

que nos empenhemos para impedir qualquer potência

hostil de dominar uma região cujos recursos, sob

controle consolidado, seriam suficientes para gerar

poder global".

Enquanto os EUA estavam centrados nas suas guerras no

Médio Oriente, Putin restaurou a Rússia e travou a

invasão da Síria planeada por Washington e o

bombardeamento do Irão. O "primeiro objetivo" da

doutrina neocon foi rompido. A Rússia tinha de ser posta

em linha. Essa é a origem do ataque de Washington à

Rússia. Os media dependentes e cativos dos EUA e da

Europa simplesmente repetem "a ameaça russa" para o

público, o qual está despreocupado e além disso

desinformado.

A ofensa da cultura russa também está aqui – éticas

cristãs, respeito à lei e à humanidade, diplomacia ao

invés de coerção, costumes sociais tradicionais – mas

isto é o pano de fundo. A Rússia é odiada porque ela (e a

China) é uma restrição ao poder uno e unilateral de

Washington. Esta restrição é o que levará à guerra.

Se os russos e os chineses não esperarem um ataque

nuclear preventivo por parte de Washington serão

destruídos.

24/Março/2015.

____________________________

O original encontra-se em:

thesaker.is/the-saker-interviews-paul-craig-roberts/

Este artigo encontra-se em:

http://resistir.info/.

SOCIOLOGIA - 2º ANO – Apostila nº 2 - Prof. Renato Fialho - Página 8

ESTRUTURA DE PODER DO ESTADO BRASILEIRO:

Poder Executivo Federal:

Presidente da República

Estaduais: Governadores

Municipais:

Prefeitos

Poder Judiciário Federal:

STF, STJ, Justiça Federal, Justiça do trabalho, Justiça

Eleitoral e Justiça militar

Estaduais: Justiças Estaduais

(TJ’s)

Poder Legislativo Federal:

Senado Federal e Câmara (dos deputados) Federal

Estaduais:

Assembleias Legislativas

Municipais: Câmaras de Vereadores

--------------------------------------------------------------------------------------

O ESQUEMA DE CORRUPÇÃO É CAPITALISTA E GLOBAL

Empresas Corporativas (Setor PRIVADO)

...contratam...

Lobbistas

...que corrompem...

Vereadores, deputados e senadores; Juízes;

Governantes em geral (Setor PÚBLICO)

...que reprimem e enquadram na política

neoliberal os...

Funcionários públicos. Mas, como? Via

meritocracia, PPP, terceirizações dos serviços

(ONG’s e OS’s)

PÚBLICO X PRIVADO?

Duas formas de luta contra a corrupção:

Combate à corrupção proposto pela direita

golpista (PiG e outros entes antidemocráticos):

propõe o combate aos corruptos (os governos e

seus agentes). Como de daria? Via impeachment

ou golpe de Estado.

X

Combate à corrupção proposto pela esquerda:

propõe o combate aos corruptores (as grandes

empresas e conglomerados capitalistas). Como se

daria? Via reforma política (fim do

financiamento empresarial de campanha) e pelo

aprofundamento do processo democrático.

"Veio enfim um tempo em que tudo o que os homens tinham olhado como inalienável se tornou objeto

de troca, de tráfico, e podia alienar-se. É o tempo em que as próprias coisas que até então eram

comunicadas, mas nunca trocadas; dadas, mas nunca vendidas; adquiridas, mas nunca compradas -

virtude, amor, opinião, ciência, consciência, etc. - em que tudo enfim passou para o comércio.

É o tempo da corrupção geral, da venalidade universal."

(Karl Marx. In: 'Miséria da Filosofia', 1846-47)

SOCIOLOGIA - 2º ANO - Apostila nº 2 - Prof. Renato Fialho - Página 9

Nossa América: as duas faces das ONG’S Comentaristas e intelectuais mostraram-se surpresos quando muitos líderes e ativistas de organizações não governamentais (ONG’S) se uniram à campanha eleitoral de Vicente Fox1 e, com sua vitória, esperam receber cargos dentro de seu novo governo. A idéia de que líderes “progressistas” das ONG’s se unam a um regime abertamente partidário do “livre mercado” parece estranha. Não obstante uma análise mais profunda da história e dos antecedentes de funcionários de ONG’s na América Latina, assim como de suas ideologias e vínculos com doadores externos, poderia haver profetizado este cenário.

Na transição ocorrida na política eleitoral do Chile, Bolívia, Argentina e América Central, numerosos líderes de ONG’s se aliaram a regimes neoliberais que utilizaram suas experiências organizacionais e retóricas progressistas para controlar protestos populares e solapar movimentos de classes sociais.

Desde o início da década de 80, as classes dominantes neoliberais, junto com o governo dos Estados Unidos e governos europeus, se asseguraram de que as políticas do “livre mercado” estavam polarizando as sociedades na América Latina. Mediante fundações privadas e fundos estatais, começaram a financiar as ONG’s, as mesmas que expressavam uma ideologia contra o estado e promoviam a “auto-ajuda”. Ao final deste milênio, existem umas 100 mil ONG’s em todo o mundo que recebem cerca de 10 milhões de dólares e competem com os movimentos sociopolíticos pela lealdade das comunidades militantes.

Ainda que as ONG’s tenham denunciado violações aos direitos humanos, raras vezes denunciam seus benfeitores da Europa e dos EUA. À medida que aumentou a oposição ao neoliberalismo, o Banco Mundial (BM) incrementou os donativos destinados às ONG’s.

O ponto fundamental de convergência entre as ONG’s e o BM era a repulsa de ambas entidades ao “estatismo”. Superficialmente, as ONG’s criticavam o Estado numa perspectiva de “esquerda” em defesa da “sociedade civil”, enquanto que criticavam o BM em nome do “mercado”.

Na realidade, o BM e os regimes neoliberais aproveitaram as ONG’s para minar o sistema de seguridade social estatal, utilizado-as e reduzido-as em meios de compensar as vítimas das políticas neoliberais.

Enquanto os regimes neoliberais diminuíam os níveis de vida e saqueavam a economia, fundaram-se as ONG’s para promover projetos de “auto-ajuda” que absorveriam, temporariamente, pequenos grupos de desempregados pobres, ao mesmo tempo em que recrutavam líderes locais.

As ONG’s se converteram no “rosto comunitário” do neoliberalismo e se relacionaram intimamente com os de cima e complementaram seu trabalho destrutivo. Quando os neoliberais transferiam lucrativas propriedades estatais, privatizando-as para os ricos, as ONG’s não tomaram parte de uma resistência sindical. Ao contrário, mostraram-se ativas na elaboração de projetos privados, promovendo o discurso da iniciativa privada (“auto-ajuda”) ao tratarem de fomentar as microempresas nas comunidades pobres.

As ONG’s criaram pontes ideológicas entre pequenos capitalistas e os monopólios que se beneficiaram das privatizações – tudo em nome do anti-estatismo e da construção da sociedade civil.

Enquanto os ricos criavam vastos impérios financeiros a partir das privatizações, profissionais de classe média que trabalhavam com as ONG’s recebiam pequenos fundos para financiar seus escritórios, seus gastos com transportes e suas atividades para promover atividades econômicas de pequena escala.

O importante aqui é que as ONG’s despolitizaram setores da população, ignoraram seus compromissos para com atividades do setor público e se aproveitaram de lideres sociais potenciais para a realização de projetos econômicos pequenos.

Na realidade as ONG’s não são não-governamentais. Recebem doações de governos estrangeiros ou funcionam como agências subcontratadas por governos locais. Igualmente importante é o fato de que seus programas não são qualificados pelas comunidades a quem ajudam, e sim pelos financiadores estrangeiros. É neste sentido que as ONG’s sabotam a democracia, ao arrancar programas sociais das mãos das comunidades e de seus líderes oficiais, para criar dependência a cargos de funcionários não eleitos, provenientes do exterior, que escolhem e ungem seus interlocutores locais.

A ideologia das ONG’s quanto a suas atividades privadas e voluntárias destrói o sentido de “público”; a idéia de que o governo tem a obrigação de representar a todos seus cidadãos. Contra esta noção de responsabilidade pública, as ONG’s fomentam a idéia neoliberal de uma responsabilidade privada para com os problemas sociais e a importância dos recursos para resolver estes problemas.

Dessa forma, as ONG’s impõem uma dupla carga sobre os pobres: o pagar impostos para financiar um Estado neoliberal que serve aos ricos e a auto-explorar-se de maneira privada para satisfazer suas próprias necessidades.

Muitos dos líderes e militantes das ONG’s são ex-marxistas ou “pós-marxistas”, que tomam emprestado muito da retórica ligada a “dar poder ao povo”, “o poder popular”, “a igualdade de gênero” e o “governo das bases com o único que tem legitimidade”, enquanto distanciam a luta social das condições que marcam a vida das pessoas. As ONG’s, se converteram em um veículo organizado que permite a mobilidade social ascendente para desempregados ou professores ex-esquerdistas mal pagos.

O linguajar progressista disfarça o núcleo conservador das práticas das ONG’s, tem sempre que ver com “dar poder”, porém os esforços destes organismos raras vezes vão além de uma influência em pequenas áreas da vida social, utilizando os recursos limitados e sempre dentro das condições permitidas pelo Estado neoliberal. No lugar de dar educação pública sobre a natureza do imperialismo e sobre as bases clássicas do neoliberalismo, as ONG’s discutem sobre “os excluídos”, “os indefesos” e “a extrema pobreza”, sem jamais passar de seus sintomas superficiais para analisar o sistema social que produz essas condições.

Ao incorporar os pobres na economia neoliberal através de ações voluntárias que são exclusivamente da iniciativa privada, as ONG’s criam um mundo em que a aparência de uma solidariedade e ações sociais oculta uma conformidade com as estruturas nacionais e internacionais de poder.

Não é por acaso que as ONG’s têm-se convertido em entidades dominantes em certas regiões onde as ações políticas independentes têm decaído e o neoliberalismo rege sem oposição alguma.

A conversão de líderes das ONG’s, de porta-bandeiras do “poder popular” a simpatizantes do presidente conservador eleito, Vicente Fox, é, portanto, perfeitamente compreensível.

Os funcionários das ONG’s proporcionam a retórica “populista” em torno da sociedade civil que legitimam as políticas do livre mercado. Em troca, suas nomeações como funcionários governamentais satisfazem suas ambições de mobilidade e ascensão social.

Para os ex-esquerdistas, o anti-estatismo é a passagem que lhes concederá trânsito ideológico da política de classes e do desenvolvimento comunitário para o neoliberalismo. Para os intelectuais críticos, o problema não é só o neoliberalismo do “livre mercado” que vem das cúpulas, mas também o neoliberalismo da “sociedade civil”, que provém de baixo.

James Petras é do Departamento de sociologia da Universidade de Binghamton, em Nova York/EUA (1) Vicente Fox, presidente do México, eleito recentemente.

SOCIOLOGIA - 2º ANO - Apostila nº 2 - Prof. Renato Fialho - Página 10

Quem é direita e esquerda hoje no Brasil?

21/03/2013. Por: Frei Betto

O esgarçamento da política

Esgarçar: afastarem-se, soltarem-se os

fios de um tecido (Caldas Aulete)

Quem é direita e esquerda hoje no Brasil? Eis um

dilema shakespeariano. A direita, representada

pelo DEM, se acerca do PMDB e, na palavra do

senador Agripino Maia, propõe “oposição branda”

ao governo Dilma Rousseff, que se considera de

esquerda.

O PPS do deputado Roberto Freire, versão ao

avesso do Partido Comunista, apoia as forças mais

retrógradas da República. O PDS de Kassab e o

PMDB de Sarney ficam em cima do muro, atentos

para o lado em que sopram os ventos do poder.

Como considerar de esquerda quem elege Renan

Calheiros presidente do Senado, e Henrique

Alves, da Câmara dos Deputados. Você, caro(a)

leitor(a), qualifica como de esquerda quem se

apoia em Paulo Maluf, Fernando Collor de Melo e

Sarney?

Desde muito jovem aprendi que a esquerda se

rege por princípios e, a direita, por interesses. E

hoje, quem coloca os princípios acima dos

interesses? Como você, que é de esquerda, se

sente quando se depara com comunistas apoiando

o texto do Código Florestal que tanto agrada a

senadora Kátia Abreu?

A esquerda entrou em crise desde que Kruschov,

líder supremo da União Soviética, denunciou os

crimes de Stalin, em 1956. Naquela noite de

fevereiro, vários dirigentes comunistas,

profundamente decepcionados, puseram fim à

própria vida.

Depois que Gorbachev entregou o socialismo na

bandeja à Casa Branca, e a China adotou o

capitalismo de Estado, a confusão só piorou.

Muitos ex-esquerdistas proclamam que

superaram o maniqueísmo esquerda x direita,

inadequado a esse mundo globalizado. Mera

retórica para justificar o aburguesamento de

quem, em nome da esquerda, alcançou um estilo

de vida à imagem e semelhança dos poderosos da

direita: muita mordomia e horror, como

confessou o general Figueiredo, ao “cheiro de

povo” (exceto na hora de angariar votos).

Ser de esquerda, hoje, é defender os direitos dos

mais pobres, condenar a prevalência do capital

sobre os direitos humanos, advogar uma

sociedade onde haja, estruturalmente, partilha

dos bens da Terra e dos frutos do trabalho

humano.

O fato de alguém se dizer marxista não faz dele

uma pessoa de esquerda, assim como o fato

de ter fé e frequentar a igreja não faz de nenhum

fiel um discípulo de Jesus. A teoria se conhece

pela práxis, diz o marxismo. A árvore, pelos

frutos, diz o Evangelho.

Se a prática é o critério da verdade, é muito fácil

não confundir um militante de esquerda com um

oportunista demagogo: basta conferir como se dá

a relação dele com os movimentos populares, o

apoio ao MST, a solidariedade à Revolução

Cubana e à Revolução Bolivariana, a defesa de

bandeiras progressistas, como a preservação

ambiental, a união civil de homossexuais, o

combate ao sionismo e a toda forma de

discriminação.

Quem é de esquerda não vende a alma ao

mercado.

Frei Betto é escritor, autor do romance histórico

“Minas do Ouro” (Rocco), entre outros livros.

http://www.freibetto.org/> twitter:@freibetto.

SOCIOLOGIA - 2º ANO - Apostila nº 2 - Prof. Renato Fialho - Página 11

Líder de partido antigay é gay!

J A I R B O L S O N A R O , M A R C O F E L I C I A N O ,

S I L A S M A L A F A I A E O U T R O S

H O M O F Ó B I C O S H I D R Ó F O B O S

D E V E R I A M R E P E N S A R O S S E U S

D O G M A S . A I N D A H Á T E M P O !

Jair Bolsonaro, Silas Malafaia, Marco Feliciano e outros

homofóbicos nativos perderam dois importantes aliados

da sua causa de ódio no cenário internacional. Na sexta-

feira (12), a revista francesa “Closer” revelou que Florian

Philippot, um dos vice-presidentes do partido neonazista

Frente Nacional (FN), que se opõe ao casamento entre

pessoas do mesmo sexo, é homossexual. Já no final de

novembro, o estadunidense John Smid, que militou por 18

anos numa organização que pregava a “cura-gay”,

oficializou a sua união com o parceiro Larry McQueen.

Os dois casos talvez pudessem ajudar os homofóbicos de

plantão no Brasil, sempre tão agressivos e intolerantes, a

repensar as suas práticas...

No caso do dirigente da FN, ainda há controvérsias. O seu

chefe do gabinete, Joffeey Bollée, afirmou que o político

“provavelmente” processará a revista “por violação da

vida privada”. Já Marine le Pen, líder da seita fascista,

disse que a matéria é um “atentado contra a liberdade

individual”. A “Closer” publicou uma reportagem

especial de quatro páginas com fotos de Florian Philippot

em Viena (Áustria) acompanhado de seu suposto

companheiro, identificado como “um jornalista de

televisão”. Em janeiro passado, a mesma revista publicou

fotos que comprovariam a relação do presidente francês,

François Hollande, com a atriz Julie Gayet, o que

provocou sua separação da então primeira-dama, Valérie

Trierweiler.

Já no caso do estadunidense, o próprio John Smid

anunciou a sua união com o parceiro Larry McQueen.

Durante quase 20 anos, ele militou em uma organização

fascistóide que considerava a homossexualidade um

pecado, incentivava as pessoas a rezarem para que não

sentissem atração por outras do mesmo sexo e acreditava

que a orientação sexual de alguém poderia mudar. Entre

1990 e 2008, ele foi diretor-executivo do grupo “Love in

Action”, que atuava na difusão da chamada “cura gay”.

Além de assumir sua homossexualidade e de celebrar sua

união homoafetiva, John Smid também fundou a

organização Grace Rivers para os gays cristãos.

Em recente entrevista, John Smid pediu desculpas aos que

acreditaram na sua pregação da “cura gay” e explicou os

motivos das suas escolhas. “Eu tinha fé de que algo iria

acontecer, mas isso nunca aconteceu. Agora, na minha

idade, já não tenho muitos anos restantes, não posso viver

mais assim pelo resto da minha vida. Então pensei que

não, não estou disposto a continuar empurrando algo que

não vai ocorrer”. Bolsonaro, Feliciano, Malafaia e outros

homofóbicos hidrófobos também deveriam repensar os

seus dogmas. Ainda há tempo!

Altamiro Borges

http://altamiroborges.blogspot.com.br/

(Republicado em Carta Maior de 15/12/14)

SOCIOLOGIA - 2º ANO - Apostila nº 2 - Prof. Renato Fialho - Página 12

Partidos políticos registrados no TSE

Partidos registrados no TSE 0001 SIGLA NOME DEFERIMENTO PRESIDENTE NACIONAL Nº

1 PMDB

PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRÁTICO BRASILEIRO

30.6.1981 MICHEL MIGUEL ELIAS TEMER LULIA 15

2 PTB PARTIDO TRABALHISTA BRASILEIRO 3.11.1981 CRISTIANE BRASIL 14

3 PDT PARTIDO DEMOCRÁTICO TRABALHISTA 10.11.1981 CARLOS LUPI 12

4 PT PARTIDO DOS TRABALHADORES 11.2.1982 RUI GOETHE DA COSTA FALCAO 13

5 DEM DEMOCRATAS 11.9.1986 JOSÉ AGRIPINO MAIA 25

6 PCdoB PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL 23.6.1988 JOSÉ RENATO RABELO 65

7 PSB PARTIDO SOCIALISTA BRASILEIRO 1°.7.1988 CARLOS ROBERTO SIQUEIRA DE BARROS 40

8 PSDB

PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA

24.8.1989 AÉCIO NEVES DA CUNHA 45

9 PTC PARTIDO TRABALHISTA CRISTÃO 22.2.1990 DANIEL S. TOURINHO 36

10 PSC PARTIDO SOCIAL CRISTÃO 29.3.1990 VÍCTOR JORGE ABDALA NÓSSEIS 20

11 PMN PARTIDO DA MOBILIZAÇÃO NACIONAL 25.10.1990 TELMA RIBEIRO DOS SANTOS 33

12 PRP PARTIDO REPUBLICANO PROGRESSISTA 29.10.1991 OVASCO ROMA ALTIMARI RESENDE 44

13 PPS PARTIDO POPULAR SOCIALISTA 19.3.1992 ROBERTO FREIRE 23

14 PV PARTIDO VERDE 30.9.1993 JOSÉ LUIZ DE FRANÇA PENNA 43

15 PTdoB PARTIDO TRABALHISTA DO BRASIL 11.10.1994 LUIS HENRIQUE DE OLIVEIRA RESENDE 70

16 PP PARTIDO PROGRESSISTA 16.11.1995 CIRO NOGUEIRA LIMA FILHO 11

17 PSTU

PARTIDO SOCIALISTA DOS TRABALHADORES UNIFICADO

19.12.1995 JOSÉ MARIA DE ALMEIDA 16

18 PCB PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO 9.5.1996 IVAN MARTINS PINHEIRO* 21

19 PRTB

PARTIDO RENOVADOR TRABALHISTA BRASILEIRO

18.2.1997 JOSÉ LEVY FIDELIX DA CRUZ 28

20 PHS PARTIDO HUMANISTA DA SOLIDARIEDADE 20.3.1997 EDUARDO MACHADO E SILVA RODRIGUES 31

21 PSDC PARTIDO SOCIAL DEMOCRATA CRISTÃO 5.8.1997 JOSÉ MARIA EYMAEL 27

22 PCO PARTIDO DA CAUSA OPERÁRIA 30.9.1997 RUI COSTA PIMENTA 29

23 PTN PARTIDO TRABALHISTA NACIONAL 2.10.1997 JOSÉ MASCI DE ABREU 19

24 PSL PARTIDO SOCIAL LIBERAL 2.6.1998 LUCIANO CALDAS BIVAR 17

25 PRB PARTIDO REPUBLICANO BRASILEIRO 25.8.2005 MARCOS ANTONIO PEREIRA 10

26 PSOL PARTIDO SOCIALISMO E LIBERDADE 15.9.2005 RAIMUNDO LUIZ SILVA ARAÚJO 50

27 PR PARTIDO DA REPÚBLICA 19.12.2006 ALFREDO NASCIMENTO 22

28 PSD PARTIDO SOCIAL DEMOCRÁTICO 27.9.2011 GUILHERME CAMPOS JÚNIOR, no exercício da presidência

55

29 PPL PARTIDO PÁTRIA LIVRE 4.10.2011 SÉRGIO RUBENS DE ARAÚJO TORRES 54

30 PEN PARTIDO ECOLÓGICO NACIONAL 19.6.2012 ADILSON BARROSO OLIVEIRA 51

31 PROS

PARTIDO REPUBLICANO DA ORDEM SOCIAL

24.9.2013 EURÍPEDES G.DE MACEDO JÚNIOR 90

32 SD SOLIDARIEDADE 24.9.2013 PAULO PEREIRA DA SILVA 77 FONTE: TSE. (*) Nos termos do § 1º do art. 58 do estatuto do PCB, para fins jurídicos e institucionais, os cargos de Secretário Geral do Comitê Central e de

Secretário Político dos Comitês Regionais e Municipais equiparam-se ao de Presidente do Comitê respectivo.

SOCIOLOGIA - 2º ANO - Apostila nº 2 - Prof. Renato Fialho - Página 13

A promover o império da América:

Golpe, pilhagem e duplicidade Por James Petras (sociólogo estadunidense)

O regime Obama, em coordenação com seus aliados

serviçais, relançou uma virulenta campanha de

âmbito mundial para destruir governos

independentes, cercar e finalmente subverter

competidores globais, e estabelecer uma nova ordem

mundial centrada nos EUA-UE.

Prosseguiremos com a identificação dos "ciclos"

recentes da construção do império estadunidense; os

avanços e recuos; os métodos e estratégias; os

resultados e perspectivas. Nosso foco principal é na

dinâmica imperial que conduz os EUA rumo a maiores

confrontações militares, até e incluindo condições que

podem levar a uma guerra mundial.

Ciclos imperiais recentes

A construção do império estadunidense não tem sido

um processo linear. As décadas recentes

apresentaram amplas evidências de experiências

contraditórias. Sumariamente podemos identificar

várias fases nas quais a construção do império

experimentou avanços amplos e recuos drásticos –

com as devidas cautelas. Estamos a examinar

processos globais, nos quais também há contra-

tendências limitadas. Em meio a avanços imperiais em

grande escala, regiões particulares, países ou

movimentos resistiram com êxito ou mesmo

reverteram a investida imperial. Em segundo lugar, a

natureza cíclica da construção do império de modo

algum põe em dúvida o carácter imperial do estado e

da economia e seu implacável impulso para dominar,

explorar e acumular. Em terceiro lugar, os métodos e

estratégicas que dirigem cada avanço imperial

diferem de acordo com mudanças nos países alvo.

Ao longo dos últimos trinta anos podemos identificar

três fases na construção do império.

O avanço imperial da década de 1980 a 2000

No período aproximadamente de meados da década

de 1980 ao ano 2000, a construção do império

expandiu-se a uma escala global.

(A) Expansão imperial nas antigas regiões comunistas.

Os EUA e a UE penetraram e hegemonizaram a

Europa do Leste; desintegraram e pilharam a Rússia e

a URSS; privatizaram e desnacionalizaram centenas de

milhares de milhões de dólares do valor de empresas

públicas, meios de comunicação social e bancos,

incorporaram bases milhares por toda a Europa do

Leste na OTAN e estabeleceram regimes satélites

como cúmplices voluntários em conquistas imperiais

na África, Oriente Médio e Ásia.

(B) Expansão imperial na América Latina. A partir do

princípio da década de 1980 até o fim do século, a

construção do império avançou por toda a América

Latina sob a fórmula de "mercados livre e eleições

livres".

Desde o México até a Argentina, regimes neoliberais,

centrados no império, privatizaram e

desnacionalizaram mais de 5000 empresas públicas e

bancos, beneficiando multinacionais dos EUA e da UE.

Líderes políticos alinharam-se com os EUA em fóruns

internacionais. Generais latino-americanos

responderam favoravelmente a operações militares

centradas nos EUA. Banqueiros extraíram bilhões em

pagamentos de dívida e lavaram muitos bilhões mais

de dinheiro ilícito. O "North American Free Trade

Agreement", com a amplitude do continente e

centrado nos EUA, pareceu avançar de acordo com o

programa.

(C) Avanços imperiais na Ásia e na África. Regimes

comunistas e nacionalistas deixaram cair suas políticas

de esquerda e anti-imperialistas e abriram suas

sociedades e economias à penetração capitalista. Em

África, dois países "de esquerda", Angola e a África do

SOCIOLOGIA - 2º ANO - Apostila nº 2 - Prof. Renato Fialho - Página 14

Sul pós-Apartheid adoptaram "políticas de livre

mercado".

Na Ásia, a China e a Indochina moveram-se

decisivamente em direção a estratégias capitalistas de

desenvolvimento; investimento estrangeiro,

privatizações e exploração intensa do trabalho

substituíram o igualitarismo coletivista e o anti-

imperialismo. A Índia e outros estados capitalistas,

como Coreia do Sul, Formosa e Japão, liberalizaram

suas economias. Avanços imperiais foram

acompanhados por maior volatilidade econômica, um

aguçamento da luta de classe e uma abertura do

processo eleitoral para acomodar facções capitalistas

competidoras.

A construção do império expandiu-se sob o slogan de

"livres mercados e eleições justas" – mercados

dominados por multinacionais gigantes e eleições, as

quais asseguram os êxitos da elite.

Recuos e reveses imperiais: 2000-2008

Os custos brutais do avanço do império levaram a

uma contra-tendência global, uma onda de levantes

antineoliberais e de resistência militar a invasões dos

EUA. Entre 2000 e 2008 a construção do império

esteve sob sítio e em recuo.

Rússia e China desafiam o império

A construção do império estadunidense cessou a sua

expansão e conquista em duas regiões estratégicas: a

Rússia e a Ásia. Sob a liderança do presidente Vladimir

Putin, o estado russo foi reconstruído; a pilhagem e

desintegração foram revertidas. A economia foi

aparelhada para o desenvolvimento interno. Os

militares foram integrados num sistema de defesa

nacional e segurança. A Rússia mais uma vez tornou-

se um grande ator na política regional e internacional.

A viragem da China rumo ao capitalismo foi

acompanhada por uma presença dinâmica do estado

e um papel direto na promoção do crescimento a dois

dígitos durante duas décadas: a China tornou-se a

segunda maior economia do mundo, deslocando os

EUA como o grande parceiro comercial na Ásia e na

América Latina. O império econômico dos EUA estava

em retirada.

América Latina: o fim do império neoliberal

O neoliberalismo e a integração centrada nos EUA

levaram à pilhagem, crises econômicas e grandes

levantes populares, provocando a ascensão de novos

regimes de centro-esquerda e esquerda.

Administrações "pós neoliberais" emergiram na

Bolívia, Venezuela, Equador, Brasil, Argentina,

América Central e Uruguai. Os construtores do

império estadunidense sofreram várias derrotas

estratégicas.

Os esforços dos EUA para assegurar um acordo de

livre comércio de âmbito continental foram deixados

de lado e substituídos por organizações de integração

regional que excluem os EUA e o Canadá. Em

substituição, Washington assinou acordos bilaterais

com o México, Colômbia, Chile, Panamá e Peru.

A América Latina diversificou seus mercados na Ásia e

na Europa: a China substituiu os EUA como seu

principal parceiro comercial. Estratégias de

desenvolvimento extrativo e altos preços das

commodities financiaram maior despesa social e

independência política.

Nacionalizações seletivas, regulação estatal acrescida

e renegociações de dívida enfraqueceram a

alavancagem dos EUA sobre as economias latino-

americanas. A Venezuela, sob o presidente Hugo

Chávez, desafiou com êxito a hegemonia dos EUA no

Caribe através de organizações regionais. Economias

do Caribe alcançaram maior independência e

viabilidade econômica através da adesão à

PETROCARIBE, um programa através do qual recebiam

petróleo da Venezuela a preços subsidiados. Países da

América Central e andino aumentaram a sua

segurança e comércio através da organização regional

ALBA. A Venezuela proporcionou um modelo de

desenvolvimento alternativo à abordagem neoliberal

centrada nos EUA, na qual os ganhos da economia

extrativa financiaram programas sociais em grande

escala.

SOCIOLOGIA - 2º ANO - Apostila nº 2 - Prof. Renato Fialho - Página 15

Desde o fim da administração Clinton até o fim da

administração Bush, o império econômico estava em

recuo. O império perdeu mercados asiáticos e latino-

americanos para a China. A América Latina ganhou

maior independência política. O Oriente Médio

tornou-se "terreno contestado". Um estado russo

revisto e mais forte opôs-se a novas intrusões nas

suas fronteiras. A resistência militar e derrotas no

Afeganistão, Somália, Iraque e Líbano desafiaram a

dominância estadunidense.

Ofensiva imperial: Avança o império de Obama

Todo o mandato do regime Obama tem sido dedicado

a reverter o recuo da construção do império. Para

este fim Obama desenvolveu primariamente uma

estratégia militar de (1) confrontar e envolver a China

e a Rússia, (2) minar e derrubar governos

independentes na América Latina e reimpor regimes

clientes neoliberais, e (3) lançar encoberta ou

abertamente assaltos militares a regimes

independentes por toda a parte.

A ofensiva de construção do império do século XXI

difere daquela da década anterior em vários aspectos

cruciais: As doutrinas econômicas neoliberais estão

desacreditadas e os eleitorados não são tão

facilmente convencidos dos benefícios de cair sob a

hegemonia dos EUA. Por outras palavras, os

construtores do império não podem confiar na

diplomacia, em eleições e na propaganda do livre

mercado para expandir o seu braço imperial como

faziam na década de 1990.

Para reverter o recuo e avançar a construção do

império no século XXI, Washington percebeu que

tinha de confiar na força e na violência. O regime

Obama destinou bilhões de dólares para financiar

armas para mercenários, salários para combatentes

de ruas e despesas de clientes empenhados em

desestabilizar campanhas eleitorais adversárias.

Duplicidade diplomática e acordos rompidos

substituíram ajustes negociados – numa grande

escala.

Ao longo de todo o mandato de Obama nem um único

avanço imperial foi assegurado através de eleições,

acordos diplomáticos ou negociações políticas. A

presidência Obama procurou e assegurou a

massificação da rede de espionagem global (NSA) e os

assassinatos quase diários de adversários políticos

através de drones e por outros meios. Operações

encobertas de assassínio das US Special Forces

expandiram-se por todo o mundo. Obama assumiu

prerrogativas ditatoriais, incluindo o poder de ordenar

o assassinato arbitrário de cidadãos dos EUA.

O desdobramento do esforço global do regime Obama

para deter o recuo imperial e relançar a construção do

império foi montada quase exclusivamente sobre

instrumentos militares: serviçais armados, assaltos

aéreos, golpes e tomadas de poder putschistas.

Brutamontes, populaça, terroristas islâmicos,

militaristas sionistas e uma mixórdia de retrógrados

assassinos separatistas foram as ferramentas do

avanço do império. A escolha de serviçais imperiais

variou conforme o momento e as circunstâncias

políticas.

Confrontando e degradando a China:

Envolvimento militar e exclusão econômica

Confrontado com a perda de mercados e os desafios

da China como competidor global, Washington

desenvolveu duas importantes linhas de ataque: 1.

Uma estratégia econômica destinada a aprofundar a

integração de países asiáticos e latino-americanos

num pacto de livre comércio que exclui a China (o

Trans Pacific Trade Agreement); e 2. Um plano militar

concebido pelo Pentágono de Batalha Ar-Mar, o qual

tem a China continental como alvo com um assalto

aéreo e com mísseis em plena escala se a atual

estratégia de Washington de controlar o comércio

marítimo vital da China falhar (FT, 10/02/14). Apesar

de a estratégia de ofensiva militar ainda estar na mesa

de desenho do Pentágono, o regime Obama está a

acumular uma armada marítima a escassas milhas da

costa chinesa, a expandir suas bases militares nas

Filipinas, Austrália e Japão e a apertar o nó em torno

das rotas marítimas estratégicas da China para

importações vitais como petróleo, gás e matérias-

primas.

SOCIOLOGIA - 2º ANO - Apostila nº 2 - Prof. Renato Fialho - Página 16

Os EUA estão a promover ativamente uma aliança

militar indo-japonesa como parte da sua estratégia de

envolvimento da China. Manobras militares conjuntas,

coordenação militar em alto nível e reuniões entre

oficiais militares japoneses e indianos são encaradas

pelo Pentágono como avanços estratégicos no

isolamento da China e reforço do controle dos EUA

sobre rotas marítimas da China para o Oriente Médio,

o Sudeste Asiático e mais além. A Índia, de acordo

com um dos seus principais semanários, é encarada

"como um parceiro júnior dos EUA. A Indian Navy está

a tornar-se rapidamente o chefe de polícia do Oceano

Índico e a dependência militar indiana do complexo

militar-industrial dos EUA é crescente..." (Economic

and Political Weekly (Mumbai), 15/02/14, p. 9. Os

EUA também estão a escalar o seu apoio a

movimentos separatistas violentos na China,

nomeadamente os tibetanos, uighurs e outros

islamistas. A reunião de Obama com o Dalai Lama foi

emblemática dos esforços de Washington para

fomentar inquietação interna.

A grosseira intervenção política do embaixador

estadunidense cessante, Gary Locke, na política

interna chinesa é uma indicação de que a diplomacia

não é o principal instrumento de política do regime

Obama quando se trata da China. O embaixador Locke

encontrou-se abertamente com separatistas uighurs e

tibetanos e menosprezou publicamente os êxitos

econômicos e o sistema político da China enquanto

encorajava abertamente a oposição política (FT,

28/02/14, p. 2).

A tentativa do regime Obama de promover o império

na Ásia através da confrontação militar e de pactos

militares, os quais excluem a China, levou este país a

desenvolver sua capacidade militar para evitar o

estrangulamento marítimo. A China responde à

ameaça comercial dos EUA avançando sua capacidade

produtiva, diversificando suas relações comerciais,

aumentando seus laços com a Rússia e aprofundando

seu mercado interno.

Até à data, a temerária militarização do Pacífico pelo

regime Obama não levou a uma ruptura aberta nas

relações com a China, mas o caminho militar para

avançar o império a expensas da China ameaça uma

catástrofe econômica global ou pior, uma guerra

mundial.

Avanço imperial: Isolando, cercando e degradando a

Rússia

Com a vinda do presidente Vladimir Putin e a

reconstituição do estado e da economia russa, os EUA

perderam um cliente vassalo e uma fonte de pilhagem

de riquezas. Os construtores do império de

Washington continuaram a procurar a "cooperação e

colaboração" russa minando estados independentes,

isolando a China e prosseguindo suas guerras

coloniais. O estado russo, sob Putin e Medvedev,

procurou acomodar os construtores de império

estadunidenses através de acordos negociados, os

quais promoveriam a posição da Rússia na Europa,

reconheceriam fronteiras estratégicas russas e

reconheceriam preocupações russas de segurança.

Contudo, a diplomacia russa conseguiu poucos ganhos

e transitórios ao passo que os EUA e a UE obtiveram

grandes importantes ganhos com a cumplicidade e

passividade russa.

A agenda não declarada de Washington,

especialmente com o impulso de Obama para relançar

uma nova onda de conquistas imperiais, era minar o

ressurgimento da Rússia como um ator importante na

política mundial. A ideia estratégica era isolar a

Rússia, enfraquecer sua crescente presença

internacional e retornar ao status de vassalo do

período Yeltsin, se possível.

Desde a tomada do Leste Europeu pelos EUA-UE, dos

estados dos Balcãs e Bálticos e sua transformação em

bases militares da OTAN e estado capitalistas vassalos

no princípio da década de 1990, até a penetração e

pilhagem da Rússia durante os anos Yeltsin, o

primeiro objetivo da política ocidental tem sido

estabelecer um império unipolar sob dominação

estadunidense.

A UE e os EUA atuaram para desmembrar a Iugoslávia

em mini estados subservientes. Eles então

bombardearam a Sérvia a fim de tomar o Kosovo,

destruindo um dos poucos países independentes

SOCIOLOGIA - 2º ANO - Apostila nº 2 - Prof. Renato Fialho - Página 17

ainda aliados à Rússia. Os EUA então avançaram a

fomentar levantes na Geórgia, Ucrânia e Chechênia.

Eles bombardearam, invadiram e posteriormente

ocuparam o Iraque – um antigo aliado russo na região

do Golfo.

A estratégia condutora da política estadunidense era

envolver e reduzir a Rússia ao status de potência

fraca, marginal, e minar os esforços de Vladimir Putin

para restaurar a posição da Rússia como uma potência

regional. Em 2008 o regime fantoche de Washington

na Geórgia testou a têmpera do estado russo ao

lançar um assalto à Ossétia do Sul, matando pelo

menos 10 russos das forças de manutenção da paz e

ferindo centenas (para não mencionar milhares de

civis). O então presidente russo, Medvedev,

respondeu com o envio das forças armadas russas

para repelir tropas georgianas e apoiar a

independência da Abcássia e da Ossétia do Sul.

Os acordos diplomáticos dos EUA com a Rússia têm

sido assimétricos – a Rússia devia concordar com a

expansão ocidental em troca de "aceitação política". A

duplicidade vencia a diplomacia aberta. Apesar de

acordos em contrário, bases e instalações de mísseis

dos EUA foram estabelecidas por toda a Europa do

Leste, apontando à Rússia, sob o pretexto de que

estavam "realmente a apontar contra o Irã". Mesmo

quando a Rússia protestou pela ruptura de acordos

pós-Guerra Fria, o império ignorou queixas de Moscou

e o envolvimento avançou.

Num novo desastre diplomático, a Rússia e a China

assinaram no Conselho de Segurança das Nações

Unidas um acordo de autoria estadunidense para

permitir à OTAN efetuar "voos humanitários" na Líbia.

A OTAN imediatamente tomou isto como o "sinal

verde" para atacar e converter a "intervenção

humanitária" numa devastadora campanha de

bombardeamento aéreo que levou à derrubada do

governo legítimo da Líbia e à sua destruição como

estado viável e independente na África do Norte. Ao

assinar na ONU o acordo "humanitário", a Rússia e a

China perderam um governo amigo e um parceiro

comercial na África! Anteriormente, os russos haviam

permitido aos EUA transportar armas e tropas através

da Federação Russa para apoiar a invasão

estadunidense do Afeganistão ... sem nenhum ganho

recíproco (exceto talvez uma ainda maior inundação

de heroína afegã).

Diplomatas russos concordaram com sanções

econômicas da ONU, de autoria de sionistas dos EUA,

contra o não existente programa de armas nucleares

do Irã... minando um aliado político e um mercado

lucrativo. Moscou acreditou que ao apoiar sanções

dos EUA contra o Irã e conceder rotas de transporte

para o Afeganistão no fim de 2001 receberia algumas

"garantias de segurança" dos americanos em relação

a movimentos separatistas no Cáucaso. O governo

americano "retribuiu" com novo apoio a líderes

separatistas chechenos exilados nos EUA apesar das

campanhas de terror em curso contra civis russos –

até e mesmo depois da carnificina chechena de

centenas de escolares e professores em Beslan em

2004...

Com os EUA sob Obama a avançarem no seu

envolvimento da Rússia na Eurásia e no seu

isolamento na África do Norte e Oriente Médio, Putin

finalmente decidiu traçar uma linha com o apoio ao

único aliado remanescente da Rússia no Oriente

Médio: a Síria. Putin pretendeu assegurar um fim

negociado à invasão mercenária de Damasco apoiada

por monarquias pró-ocidentais do Golfo. Com pouco

proveito: Os EUA e a UE aumentaram carregamentos

de armas, treinadores militares e financiamentos aos

30 mil mercenários islâmicos com base na Jordânia

quando eles se empenhavam em ataques

transfronteiriços para derrubar o governo sírio.

Washington e Bruxelas continuaram seu impulso

imperial rumo ao centro da Rússia ao organizarem e

financiarem uma violenta tomada de poder (putsch)

na Ucrânia ocidental. O regime financiou uma

coligação neonazistas de combatentes de rua

armados e políticos neoliberais, ao custo considerável

de 5 bilhões de dólares, para derrubar o regime eleito.

Os putschistas (golpistas) quiseram acabar com a

autonomia da Criméia e romper tratados com acordos

militares de longo prazo com a Rússia. Sob enorme

pressão do governo autônomo da Criméia e da vasta

SOCIOLOGIA - 2º ANO - Apostila nº 2 - Prof. Renato Fialho - Página 18

maioria da população e enfrentando a perda crítica

das suas instalações navais e militares no Mar Negro,

Putin, finalmente, vigorosamente deslocou tropas

russas num modo defensivo na Criméia.

O regime Obama lançou uma série de movimentos

agressivos contra a Rússia para isolá-la e escorar seu

vacilante regime fantoche em Kiev: sanções

econômicas e expulsões estavam na ordem do dia ... a

tomada da Ucrânia por Obama assinalou o começo de

uma "nova Guerra Fria". A captura da Ucrânia faz

parte da grande estratégia em curso de Obama de

avanço do império.

O sequestro do poder na Ucrânia assinalou o maior

desafio geopolítico para a existência contínua do

estado russo. Obama procura estender e aprofundar a

varredura imperial através da Europa até o Cáucaso: o

violento golpe no regime e a subsequente defesa do

regime fantoche em Kiev são elementos chaves para

minar um adversário chave – a Rússia.

Depois de pretender "parceria" com a Rússia,

enquanto talhava seus aliados nos Balcãs e no Oriente

Médio durante as décadas anteriores, Obama fez o

seu movimento mais audacioso e mais imprudente.

Jogando fora todas as desculpas de coexistência

pacífica e acomodação mútua, o regime Obama

rompeu um acordo de poder partilhado com a Rússia

sobre a governação da Ucrânia e apoiou o putsch

neonazista.

O regime Obama assumiu que tendo assegurado

anteriormente a anuência da Rússia face ao avanço do

poder imperial no Afeganistão, Iraque, Líbia e região

do Golfo, os construtores de império de Washington

tomaram a fatídica decisão de testar a Rússia na sua

mais estratégica região geopolítica, uma região que

afeta diretamente o povo russo e seus ativos militares

mais estratégicos. A Rússia reagiu na única linguagem

entendida em Washington e Bruxelas: com uma

importante mobilização militar. O avanço de Obama

com "táticas de construção de império via salame" e

duplicidade diplomática está a aproximar-se do fim.

O avanço do império no Oriente Médio e na América

Latina

O avanço imperial da década de 1990 chegou ao fim

nos meados da primeira década do novo milénio.

Derrotas no Afeganistão, retirada do Iraque, a morte

de regimes fantoches no Egito e na Tunísia, perda de

eleições na Ucrânia e a derrota e afundamento de

regimes neoliberais pró-EUA na América Latina foram

exacerbadas por uma crise econômica profunda nos

centros imperiais da Europa e da Wall Street.

Obama tinha poucas opções econômicas e políticas

para avançar o império. Mas o seu regime estava

determinado a acabar com o recuo e avançar o

império; ele recorreu a táticas e estratégias mais

parecidas com as do século XIX colonial e de regimes

totalitários do século XX.

Os métodos foram violentos – o militarismo foi o eixo

da política. Mas numa época de exaustão imperial

interna, novas táticas militares substituíram forças

invasoras em grande escala sobre o terreno.

Mercenários armados por procuração ganhara o

centro do palco na derrubada dos regimes alvejados

pelos EUA. Afinidades políticas e ideológicas foram

subsumidas sob o eufemismo genérico de "rebeldes".

Os mass media (meios de comunicação de massa)

alternavam entre pressionar por maior escala militar e

endossar o nível existente de guerra imperial. Todo o

espectro político na Europa e nos EUA comutou para a

direita – mesmo quando a maioria do eleitorado

rejeitou novos compromissos militares, especialmente

guerras no terreno.

Obama escalou tropas no Afeganistão, lançou uma

guerra aérea que derrubou o presidente Kadafi e

transformou a Líbia no estado arruinado e fracassado.

Guerras por procuração tornaram-se a nova estratégia

para o avanço imperial na construção do império. A

Síria foi alvejado – dezenas de milhares de extremistas

islâmicos foram recrutados e financiados por regimes

imperiais e monarquias despóticas do Golfo. Milhões

de refugiados fugiram, dezenas de milhares foram

mortos.

SOCIOLOGIA - 2º ANO - Apostila nº 2 - Prof. Renato Fialho - Página 19

Na América Latina, Obama apoiou o golpe militar em

Honduras derrubando o governo liberal eleito do

presidente Manuel Zelaya, no Paraguai reconheceu

um golpe do Congresso que expulsou o governo eleito

de centro-esquerda enquanto se recusou a

reconhecer a vitória eleitoral do presidente Maduro

na Venezuela. Face à vitória de Maduro na Venezuela,

Washington apoiou os vários meses de violência

(direitista) nas ruas, numa tentativa de desestabilizar

o país.

Na Ucrânia, Egito, Venezuela e Tailândia, "a rua"

substituiu as eleições. Os objetivos estratégicos

imperiais de Obama centraram-se na reconquista e

pilhagem da Rússia e no seu retorno ao status de

vassalo dos anos Boris Yeltsin, no retorno da América

Latina aos regimes neoliberais da década de 1990 e na

China à docilidade da década de 1980. A estratégia

imperial tem sido "conquistar a partir de dentro"

estabelecendo o cenário para a dominação a partir de

fora.

A avançar o império: Israel e o desvio do Oriente

Médio

Um dos grandes paradoxos históricos do recuo

imperial dos EUA no século XXI foi o papel

desempenhado pela influência de Israel e sua Quinta

Coluna Sionista incorporada dentro da estrutura de

poder político estadunidense. As guerras de

Washington e as sanções no Oriente Médio foram em

grande medida sob as ordens de influentes "Israel

Firsters" na Casa Branca, Pentágono, Tesouro,

Conselho de Segurança Nacional e Congresso.

Foi em grande medida porque os EUA estavam

empenhados em guerras no Iraque e no Afeganistão

que Washington "deixou de lado" as crescentes

proezas econômicas da China. Ao concentrar-se nas

"guerras por Israel" no Oriente Médio, os EUA não

estavam em posição de desafiar a ascensão do

nacionalismo e populismo na América Latina. As

prolongadas "guerras por Israel" esgotaram a

economia dos EUA e o entusiasmo do público

americano por novas guerras terrestres alhures.

Ideólogos sionistas, alcunhados "neoconservadores",

foram instrumentais em moldar a abordagem global

militarista para a construção do império e em

marginalizar a sua construção sob orientação do

mercado, favorecida pelas multinacionais e pelos

gigantes da indústria extrativa.

A tentativa de Obama de travar o recuo do império,

inspirada pelo militarismo sionista, não frutificou. Seu

esforço para cooptar sionistas e pressionar Israel a

parar de fomentar novas guerras no Oriente Médio é

um fracasso. O seu "eixo na Ásia" transformou-se

numa estratégia de cerco militar bruto da China. Suas

aberturas ao Irã foram frustradas pelo bloco de poder

sionista no Congresso pela imposição de termos de

negociação ditados por Israel. Todo o "avanço do

projeto de construção do império", o qual devia

definir o legado de Obama, foi enfraquecido pelo

enorme custo de atender aos conselhos e diretivas do

setor leal a Israel dentro da sua administração. Israel,

uma das mais brutais potências coloniais,

paradoxalmente e não intencionalmente

desempenhou um grande papel ao minar os esforços

de Obama no sentido de reverter o declínio do

império e avançar nas dimensões diplomáticas e

econômicas da construção do império.

Resultados e perspectivas: A avançar o império no

período pós-neoliberal

O temerário esforço de Obama para avançar o

império na segunda década do século XXI é muito

mais perigoso que o dos seus antecessores no fim do

século XX. A Rússia recuperou-se. Já não é o estado

em desintegração que Bush e Clinton desmembraram

e pilharam. A China já não é mais uma economia de

mercado em ascensão tão ansiosa para comerciar

com os EUA enquanto fazia vista grossa a incursões

americanas em águas territoriais chinesas. Hoje a

China é uma grande potência econômica, exercendo

alavancagem econômica na forma de US$ 3 trilhões

em bilhetes do Tesouro dos EUA. A China já não tolera

interferência dos EUA na sua política interna – está

desejosa de suprimir separatistas étnicos e terroristas

apoiados pelos EUA.

SOCIOLOGIA - 2º ANO - Apostila nº 2 - Prof. Renato Fialho - Página 20

A América Latina, incluindo a Venezuela, desenvolveu

organizações regionais autônomas, diversificou seus

mercados para a Ásia e estabeleceu um poderoso

consenso pós-neoliberal. A Venezuela transformou

seus militares, outrora instrumentos favoritos de

golpes engendrados pelos EUA, numa fortaleza da

ordem democrática existente.

O caminho eleitoral para a construção do império

estadunidense foi fechado ou exige dura "supervisão"

imperial para assegurar "resultados favoráveis". A

nova política escolhida por Washington é a violência:

recrutar a ralé para ações, extremistas mercenários,

terroristas islamistas e uighures, neonazistas e toda a

escumalha do mundo para o seu serviço.

O balanço de seis anos de "avanço do império" sob

Obama é duvidoso. A derrubada violenta do

presidente Kadafi não levou a um regime cliente

estável: a destruição total e o caos na Líbia solaparam

a presença imperial. A Síria está sob ataque, mas por

islamistas fanáticos anti-ocidentais. A derrota de

Assad não "avançará o império" na medida em que

expandirá o poder do Islã radical (incluindo a Al

Qaeda).

O regime fantoche na Ucrânia, de neoliberais e

neonazis, está literalmente em bancarrota, dilacerado

por conflitos internos e enfrentando profundas

divisões regionais. A Rússia está ameaçada, mas seus

líderes adoptaram ação militar decisiva para defender

seus aliados da Criméia e suas bases militares

estratégicas.

Obama provocou e ameaçou adversários, mas não

assegurou muito em termos de aliados válidos ou de

clientes. Seus esforços para replicar os avanços

imperiais da década de 1990 fracassaram porque

mudaram as correlações de força entre a Europa e a

Rússia, o Japão e a China, a Venezuela e a Colômbia.

Mandatários, drones predadores e as US Special

Forces não são capazes de reverter o recuo. A crise

econômica cortou demasiado profundamente; a

exaustão interna com o império é demasiado

generalizada. O custo de sustentar Israel é demasiado

alto. Avançar o império nestas circunstâncias é um

jogo perigoso: arrisca uma guerra nuclear maior para

ultrapassar a adversidade e o recuo.

09/03/2014

O original encontra-se em www.globalresearch.ca/

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

O ANALFABETO POLÍTICO

"O pior analfabeto é o analfabeto político.

Ele não ouve, não fala, nem participa dos

acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo

de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do

aluguel, do sapato e do remédio dependem das

decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e

estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe

o imbecil que da sua ignorância política nasce a

prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os

bandidos que é o político vigarista, pilantra, o

corrupto e lacaio dos exploradores do povo.

_______________________________

Nada é impossível de mudar. Desconfiai do mais

trivial, na aparência singelo. E examinai, sobretudo,

o que parece habitual.

Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de

hábito como coisa natural, pois em tempo de

desordem sangrenta, de confusão organizada, de

arbitrariedade consciente, de humanidade

desumanizada, nada deve parecer natural, nada

deve parecer impossível de mudar.

_______________________________

Privatizado, privatizaram sua vida, seu trabalho, sua

hora de amar e seu direito de pensar. É da empresa

privada o seu passo em frente, seu pão e seu salário.

E agora não contente querem privatizar o

conhecimento, a sabedoria, o pensamento, que só à

humanidade pertence.

Bertolt Brecht (Antologia Poética)

SOCIOLOGIA - 2º ANO - Apostila nº 2 - Prof. Renato Fialho - Página 21

O manual Sharp e os “golpes suaves” na América Latina

Por Juan Manuel Karg* (Rebelión)

Gene Sharp é um filósofo e politólogo estadunidense,

fundador da ONG Albert Einstein, cujo suposto fim é

promover 'a defesa da liberdade e da democracia e a

redução da violência política mediante o uso de

ações não violentas'. Sua obra, assim, dá conta de

cinco passos para provocar golpes suaves: minar;

deslegitimar; promover protestos de rua; combinar

formas de luta e fratura institucional. Como se dão

estas etapas frente aos governos pós-neoliberais de

nosso continente? Que similitude tem com o ocorrido

durante o último mês na Venezuela?

Mediante o primeiro passo do “manual” Sharp – seu

livro sugestivamente intitulado ”Da ditadura à

democracia”, que foi paradoxalmente utilizado quase

sempre contra governos democraticamente eleitos –

busca-se a promoção de ações previstas a gerar um

clima de mal-estar social no país, desenvolvendo

matrizes de opinião sobre problemas reais ou

potenciais. O slogan predileto geralmente é, neste

primeiro momento, a promoção de denúncias de

corrupção estatal que, em grande parte dos casos,

não foram comprovadas, mas que ajudam a gerar um

certo “clima” tanto antigovernamental, como

antiestatal, como aconteceu na década de 90 para

tentar justificar em nossos países a onda privatizadora

sobre as empresas estatais.

Com tais denúncias, fundadas ou não, inicia-se por

'minar' a fortaleza que sustenta as bases do governo

em curso, encaminhando para a criação de um

descontentamento social crescente. Como reforçar

este primeiro momento? É fácil: buscando a geração

de problemas econômicos cotidianos – o

desabastecimento de produtos de primeira

necessidade e uma escalada de preços, por exemplo,

através do controle direto de grupos monopólicos

sobre grande parte da matriz produtiva do país. Uma

não intervenção estatal neste primeiro momento

pode se tornar muito perigosa a médio prazo, já que

implicaria perder a possibilidade de controlar uma

área muito sensível para as necessidades básicas da

população. A criação de mercados populares, como

foi feito na Venezuela, ou determinadas políticas de

controle de preços podem contribuir para se

contrapor aos efeitos especulativos. O passo seguinte

é tentar minar a legitimidade através da denúncia da

inexistência de liberdade de imprensa – da mesma

imprensa, que gera o paradoxo – e um suposto

avanço deste governo sobre os direitos humanos, algo

que em geral não pode ser provado enfaticamente

nos governos pós-neoliberais de nosso continente.

Busca-se criar a matriz de opinião de um

autoritarismo crescente, depositário de um suposto

“pensamento único”, replicando estas denúncias por

todos os meios (de comunicação) massivos privados.

A maior parte dos governos progressistas na América

Latina se confrontaram com estas primeiras duas

etapas – em especial com a segunda. (...) Assim, as

modificações que visam uma redistribuição do

espectro radioeletrônico (a democratização da mídia),

por exemplo, foram caracterizadas erroneamente

como “ataques à liberdade de expressão”. A questão

na verdade não é de liberdades, mas econômica: os

que tem alardeado em alto e bom som esta ideia são

precisamente os grandes empresários midiáticos, que

estão se sentindo ameaçados pelas novas leis que

buscam impor limites aos monopólios midiáticos.

O terceiro momento consiste na promoção de uma

“luta ativa de rua”, que através de reivindicações

políticas e sociais faça o confronto direto com o

governo. Assim, podem ocorrer protestos violentos

contra as instituições, tal como aconteceu durante

todo o mês de fevereiro na Venezuela, com ataques

às procuradorias públicas, sede de governos,

mercados populares promovidos pelo Executivo, etc.

Aqui encontramos uma contradição notável com o

suposto paradigma “pacifista” que se tenta atribuir a

Sharp a partir da visão de alguns analistas

internacionais, que trataram de “enaltecer” sua obra

nos últimos anos.

O penúltimo passo, vinculado às mobilizações, é a

criação de um clima de “ingovernabilidade”, mediante

operações de “guerra psicológica” ou de quarta

SOCIOLOGIA - 2º ANO - Apostila nº 2 - Prof. Renato Fialho - Página 22

geração. Assim, por exemplo, se utiliza os meios

massivos privados para responsabilizar o próprio

governo pelas ações de rua e seus resultados,

ocultando e/ou manipulando informação do que

aconteceu. A difusão de falsas notícias, ou de falsas

fotografias (que na verdade são de acontecimentos

que se deram em outros lugares do mundo)

rapidamente se “viralizam” pelas redes sociais,

tentando gerar uma matriz de opinião pública ao nível

nacional e internacional. Busca-se inclusive obter o

apoio de dirigentes, artistas e personalidades

internacionais que, informadas ou não sobre o que

realmente ocorre nesse país, opinam por ser um tema

midiaticamente relevante em escala mundial. Logo, se

reproduz essa opinião nos meios privados nacionais,

gerando um círculo (des) informativo.

Para finalizar, espera-se que se produza uma ruptura

institucional, o ponto alto (o clímax) do “manual” de

desestabilização. Para isso tenta-se provocar um

isolamento internacional do governo, algo que, não

ocorrendo, pode comprometer os êxitos anteriores

(dois exemplos de nosso continente: a rápida reação

da Unasul frente às tentativas de golpe de 2008 e

2010 na Bolívia e Equador, respectivamente). Se o

isolamento internacional for exitoso, e os passos

anteriores forem bem realizados, buscar-se-á a

renúncia presidencial.

Aqui, por exemplo, é possível promover uma divisão

ainda maior entre o Executivo e o Legislativo, se o

governo não conseguir controlar este último mediante

uma maioria parlamentar. Os “golpes suaves” em

Honduras e no Paraguai foram conduzidos pela direita

“nativa” e os grupos empresariais de ambos os

parlamentos. A destituição de Fernando Lugo, por

exemplo, se produziu mediante um “julgamento

político muito rápido” que definiu sua saída em

menos de 24 horas, desrespeitando normas jurídicas

básicas frente a um presidente democraticamente

eleito. Caso não ocorresse esta ruptura, outra

possibilidade seria a conclamação de uma intervenção

militar estrangeira ou até fomentar o

desenvolvimento de uma guerra civil prolongada.

Como se vê neste último ponto, sob a ideia de uma

possível intervenção militar estrangeira aparece um

elemento que não se pode menosprezar de nenhuma

maneira: a ingerência externa. É correto analisar

isoladamente estas tentativas de golpes brandos, sem

se dar conta do notório incremento de bases militares

estadunidenses na América Latina? É possível

entender a onda de protestos que tem lugar na

Venezuela sem analisar que é o país com maiores

reservas comprovadas de petróleo em escala

mundial? Por trás da tentativa de deslegitimação

internacional de governos democraticamente eleitos

em nosso continente não só se esconde um interesse

ideológico (o rechaço de uma forma de governar que

tem horizontes na transformação social) mas também

um objetivo (imperial) claramente comercial, que

busca se apoderar e novamente controlar os enormes

recursos naturais que tem o nosso continente.

* Juan Manuel Karg é licenciado em Ciência Política pela UBA.

Investigador do Centro Cultural de Cooperação, Buenos Aires.