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19 1 A REDAçãO FORENSE O escrever corretamente assume no campo do Direito valor maior do que em qualquer outro setor. O advogado que arrazoa ou peticiona ou o juiz que sentencia ou despacha têm de empregar linguagem escorreita e técnica. A boa linguagem é um dever do advo- gado para consigo mesmo. O Direito é a profissão da palavra, e o operador do Direito, mais do que qualquer outro profissional, precisa saber usá-la com conhecimento, tática e habilidade. Deve-se pres- tar muita atenção à principal ferramenta de trabalho, que é a palavra escrita e falada, procurando transmitir melhor o pensamento com elegância, brevidade e clareza. Nesse contexto surge a redação forense ou o português jurídico. Mas o que têm a traduzir tais expressões? Os operadores do Direito são profissionais da comunicação que se valem, cotidiana- mente, de enunciados comunicativos para levarem a cabo a exteriorização das normas jurídicas, como as decisões judiciais, os textos doutrinários e as petições. Nascimento (1992: XII) preconiza que “a linguagem é um meio de transmissão de ideias. Quanto melhor for o meio, melhor será a transmissão. Em Direito, a transmissão terá que ser perfeita, a fim de alcançar seus altos objetivos”. Nesse diapasão, despontam as normas gramaticais que servirão de lastro para a veicula- ção da mensagem jurídica no dia a dia do operador do Direito. Portanto, não é inopor- tuno concluir que, se sobeja o domínio das classes gramaticais, realça-se a precisão na linguagem jurídica. Tudo se apresentaria simples, se não convivêssemos com um idioma marcadamente complexo, cujo desconhecimento atinge até aqueles que dele necessitam para exercerem seus misteres. O operador do Direito vive do Direito e da Língua Portuguesa, primacialmente. Um erro em petição, sentença ou acórdão tem o condão de retirar-lhe a pujança e a autori- dade, além de espelhar a incapacidade do anunciante. Ademais, há “efeitos colaterais” demasiado incômodos: o cliente, se perceber o erro, pode se questionar: “como é possí- vel um advogado não saber concordância verbal ou ortografia, se vive da arte de con- vencer outrem?”. A situação será, no mínimo, embaraçosa. Essa é a razão que nos levou à confecção da presente obra – a necessidade de o profis- sional dominar as questões afetas à Língua pátria, sanando dúvidas do vernáculo em suas atividades diárias de escrita. Daí se falar no chamado português jurídico – expressão Manual de portugues juridico - 019-496.indd 19 05/03/2013 17:46:22

Apostila Português Jurídico INTERNET (não do curso)

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    1 A RedAo FoRense

    O escrever corretamente assume no campo do Direito valor maior do que em qualquer outro setor. O advogado que arrazoa ou peticiona ou o juiz que sentencia ou despacha tm de empregar linguagem escorreita e tcnica. A boa linguagem um dever do advo-gado para consigo mesmo.

    O Direito a profisso da palavra, e o operador do Direito, mais do que qualquer outro profissional, precisa saber us-la com conhecimento, ttica e habilidade. Deve-se pres-tar muita ateno principal ferramenta de trabalho, que a palavra escrita e falada, procurando transmitir melhor o pensamento com elegncia, brevidade e clareza.

    Nesse contexto surge a redao forense ou o portugus jurdico. Mas o que tm a traduzir tais expresses?

    Os operadores do Direito so profissionais da comunicao que se valem, cotidiana-mente, de enunciados comunicativos para levarem a cabo a exteriorizao das normas jurdicas, como as decises judiciais, os textos doutrinrios e as peties.

    Nascimento (1992: XII) preconiza que a linguagem um meio de transmisso de ideias. Quanto melhor for o meio, melhor ser a transmisso. Em Direito, a transmisso ter que ser perfeita, a fim de alcanar seus altos objetivos.

    Nesse diapaso, despontam as normas gramaticais que serviro de lastro para a veicula-o da mensagem jurdica no dia a dia do operador do Direito. Portanto, no inopor-tuno concluir que, se sobeja o domnio das classes gramaticais, reala-se a preciso na linguagem jurdica.

    Tudo se apresentaria simples, se no convivssemos com um idioma marcadamente complexo, cujo desconhecimento atinge at aqueles que dele necessitam para exercerem seus misteres.

    O operador do Direito vive do Direito e da Lngua Portuguesa, primacialmente. Um erro em petio, sentena ou acrdo tem o condo de retirar-lhe a pujana e a autori-dade, alm de espelhar a incapacidade do anunciante. Ademais, h efeitos colaterais demasiado incmodos: o cliente, se perceber o erro, pode se questionar: como poss-vel um advogado no saber concordncia verbal ou ortografia, se vive da arte de con-vencer outrem?. A situao ser, no mnimo, embaraosa.

    Essa a razo que nos levou confeco da presente obra a necessidade de o profis-sional dominar as questes afetas Lngua ptria, sanando dvidas do vernculo em suas atividades dirias de escrita. Da se falar no chamado portugus jurdico expresso

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    que pode criar uma falsa impresso acerca de seu significado. patente que a Lngua Portuguesa uma s: advogados, juzes, mdicos, dentistas e outros profissionais, to-dos eles falam o mesmo portugus. O que se denomina portugus jurdico , ento, a aplicao das regras gramaticais aos recursos expressivos mais usuais no discurso ju-rdico. a exteriorizao jurdica do sistema gramatical. Traduz-se no emprstimo das ferramentas gramaticais pelo Direito, que se incumbe de produzir um objeto final: o portugus jurdico.

    imperioso que o operador do Direito, que se vale das ferramentas acima mencionadas, mantenha constante preocupao em expressar as ideias com clareza e preciso, sem sa-crificar o estilo solene que deve nortear a linguagem forense. Para levar a cabo tal mister, no pode se valer da fala pedante1, com dizeres mirabolantes e terminologia enrolativa, que vem de encontro preciso necessria e assimilao do argumento exposto. A lin-guagem hermtica e centrpeta s agrada ao remetente, no ao destinatrio.

    Tal modo egosta de transmisso de ideias, no raro nos ambientes forenses, deve ser bani-do com presteza. Estamos chegando a um ponto em que a convivncia com a prolixidade no redigir, adotada por centenas de aplicadores do Direito menos avisados, gera estranheza ao leitor do texto, quando, diversamente, encontra-o enxuto e despido de rodeios. Parafra-seando o insigne Padre Antonio2 Vieira, o estilo h de ser fcil e muito natural.

    Com efeito, o culto boa linguagem rareia no dia a dia do operador do Direito, quer se passe nos bancos acadmicos, quer se desenrole nos recantos profissionais. Tm-se en-contrado, s escncaras, narrativas pobres ou rebarbativas em contedo.

    Nessa esteira, preconiza o eminente gramtico Cegalla (1999: 12):

    A funo dos adjetivos caracterizar os substantivos. Devem ser adequados e usados

    com parcimnia. A adjetivao excessiva torna a frase3 chocha. Alm de sbria e

    precisa, a adjetivao h de ser, no mesmo texto, diversificada. Para caracterizar um

    1 Preciosismo ou rebuscamento: vcio marcado pela afetao na linguagem, cuja casticidade pauta-se pelo artificialismo e por sutilezas excessivas. No se deve sacrificar a ideia, fugindo do natural, a fim de causar impresso, sem lograr transmitir o pensamento com clareza.

    2 Grafa-se Antnio, com acento paroxtona, terminada em ditongo crescente -io , uma vez que, segundo norma da ABL, os nomes prprios personativos, evocativos e de qualquer natureza, sendo portugueses ou aportuguesados, sero sujeitos s mesmas regras estabelecidas para os nomes comuns (VOLP, Formulrio Ortogrfico, seo XI, p. LXXVI, 5. ed., 2009). Todavia, omitir-se- o acento, se o interessado desejar, sponte sua, grafar o nome desse modo.

    3 A frase a menor unidade de um discurso, traduzindo-se em enunciado lingustico de sentido completo. Ao estabelecer uma comunicao, a frase hbil a transmitir uma ideia, uma emoo, uma ordem ou um apelo. Ressalte-se que, em uma frase, a presena do verbo no obrigatria (Exemplo: Boa-tarde!).

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    crime brbaro, por exemplo, no faltam sinnimos para evitar a repetio do

    adjetivo: odioso, nefando, execrvel, hediondo, abominvel, etc.

    Portanto, questo de urgncia: devemos evitar a terminologia pernstica utilizada em textos jurdicos, procurando alcanar o conceito de preciso e objetividade na exposio do pensamento, que, necessariamente, passa pelo paradigma de boa linguagem, cujos pilares conheceremos em breve, na presente obra. Alis, o dito popular claro: Quem muito fala, muito erra e muito enfada.

    Ademais, no se pode confundir a linguagem polida ou solene com expresses de sub-servincia, oriundas de um anacronismo extemporneo, tais como os termos4 suplican-te e suplicado5. Tais vocbulos so resqucios de vassalagem, vindos do tempo da Casa de Suplicao, j ultrapassada pela inexorabilidade dos sculos, mas no por alguns profissionais menos avisados.

    Como enfatiza Cndido Dinamarco, o Juiz homem de seu tempo, que exerce uma das mais nobres atribuies conferidas s pessoas na sociedade organizada. Por seu turno, o advogado exercita nobre mister ao meio social. Ambos, juiz e advogado e outros ope-radores do Direito , no necessitam expressar-se com a utilizao de linguagem esot-rica e retrica, quando no servil, sob pena de lhes servir o rtulo de chatos. Quem o chato? Walter Winchell define com argcia: Chato: um sujeito que envolve uma ideia de dois minutos num palavreado de duas horas.

    Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo (dez. 1999, p. 38), o meritssimo Juiz de Di-reito Jos Renato Nalini, ento conselheiro da Escola Paulista da Magistratura, afirmou:

    Se o portugus essencial para qualquer carreira, em relao ao Direito ele um

    pressuposto. A nica arma do bacharel a linguagem. Do mau conhecimento ou da

    inadequada utilizao desse instrumento, podero derivar vulneraes e mesmo o

    perecimento de direitos alheios, como a liberdade, a honra e o patrimnio das pessoas.

    Nadlskis, Marcondes e Toledo (1997: 7) asseveram, no mesmo diapaso:

    Todo cidado deve zelar pelo vernculo, mas o advogado o grande profissional da

    palavra. a palavra que d forma final a seu trabalho. Se ele no sabe us-la com

    4 Segundo Nascimento (1992: 239), termo a expresso material da ideia falada ou escrita. De certa forma, podemos dizer que a palavra, para simplificar a noo (destaque nosso).

    5 Os termos suplicante e suplicado caram em desuso, devendo ser substitudos por autor e ru, no obstan-te terem sua vernaculidade aforada em autores de inquestionvel autoridade. Traduzem uma postura genu-flexa do ato de pedir justia (genufletir: dobrar os joelhos, postura de subservincia; genuflexo: ato de genu-fletir). Tais nomes eram termos em voga nas antigas organizaes judiciais de Portugal, quando os recursos eram dirigidos Casa de Suplicao. Coisa do passado, portanto, e usada alhures...

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    percia, os testemunhos, os documentos, o apoio legal, a bibliografia jurdica, as

    provas factuais no se transformam em argumentos e no lhe permitem defender,

    acusar, contestar, exigir, exortar, tergiversar, persuadir, convencer com eficincia.

    Seu sucesso na profisso diretamente proporcional a seu desempenho lingustico,

    a sua habilidade em manejar palavras.

    E prosseguem os renomados autores:

    Muito mais que a parafernlia retrica o respeito a esta verossimilhana que

    persuade e convence, dando foros de verdade aos textos jurdicos, porque um

    discurso vazio, por mais retumbante que seja, no convence ningum,

    cmbalo que tine, bronze que soa, cujo som no persiste (1, Co, 13). (...) O

    advogado o homem da palavra, e a palavra a terra que lhe cabe submeter e

    dominar (Gen, 2).

    Sabe-se que o advogado despreparado possui vocabulrio limitado. Desconhece o sen-tido das palavras e raramente consulta o dicionrio. Esse distanciamento do vernculo malfico porque o retira do mundo das letras, alienando-o em um ambiente de falso conhecimento do lxico, o que de todo condenvel. comum encontrar ope-radores do Direito que opinam sobre regncia de verbos, concordncia de nomes, uso de crase e ortografia, sem que se deem ao trabalho de se dedicar penosa tarefa de assi-milar as bases da gramtica do idioma domstico. Encaixam-se, portanto, no perfil de ousados corretores que, no af de corrigirem, extravasam, na verdade, um descaso com a lngua, ao contrrio do que pensam exteriorizar: domnio do portugus. No por acaso6 que, segundo os rabes, nascemos com dois olhos, dois ouvidos, duas narinas e... uma boca. para ter mais cuidado no falar.

    Em entrevista ao Jornal do Advogado (OAB), em 8 de junho de 2001, Miguel Reale, ao ser inquirido sobre quais eram os pr-requisitos para o exerccio da carreira de advoga-do, respondeu:

    6 A expresso se acaso, no sentido de se porventura gramaticalmente adequada. Acaso significa por aca-so, porventura, no tendo nada que ver com a conjuno condicional caso. Exemplos:

    Se acaso voc chegasse a minha casa, iramos jantar juntos. Se acaso voc vir o Mrcio, d-lhe um forte abrao. Se acaso voc vier amanh, no se esquea dos livros. Se acaso me quiseres, sou dessas mulheres... (verso da cano Folhetim, de Chico Buarque).

    observao: H redundncia viciosa em se caso expresso condenvel, formada por palavras de igual significado. Deve-se us-las isoladamente, e no em conjunto, sob pena de chancelar superfluidade vitanda. Dizer se caso... o mesmo que dizer se se, haja vista tratar-se de duas conjunes condicionais, exprimin-do ambas uma condio.

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    Em primeiro lugar, saber dizer o Direito. Nos concursos feitos para a Magistratura,

    para o Ministrio Pblico e assim por diante, a maior parte das reprovaes so

    devidas forma como se escreve. H uma falha absoluta na capacidade de expresso.

    Ento, o primeiro conselho que dou aprender a Lngua Portuguesa. Em segundo

    lugar, pensar o Direito como uma cincia que envolve a responsabilidade do

    advogado por aquilo que diz e defende. Em terceiro lugar, vem o preparo adequado,

    o conhecimento tcnico da matria.

    Nesse passo, Nascimento (1992: 248-249) relembra com preciso que embasando as qualidades da linguagem do Direito est a Gramtica, lato sensu7. No h advogado sem gramtica, visto como a inteleco, ou a interpretao de leis, sentenas, acrdos, con-tratos, escrituras e testamentos se reduz anlise do texto luz da gramtica.

    Como se nota, o desconhecimento do vernculo torna o advogado um frgil defensor de interesses alheios, no sendo capaz de convencer sobre o que arrazoa, nem postular adequadamente o que intenciona. Pode at mesmo se ver privado de prosseguir na lide, caso elabore uma petio inicial ininteligvel ou em dissonncia com as normas cultas da Lngua Portuguesa, uma vez que o Cdigo de Processo Civil, no art. 156, obriga o uso do vernculo em todos os atos e termos do processo.

    Ao se referirem sobre a possibilidade de se considerar inepta8 uma petio inicial, Nadlskis, Marcondes e Toledo (1997: 21) citam De Plcido e Silva, para quem a peti-o assim se revela quando no se mostra fundada na razo e se apresenta confusa, ou inconcludente, ou contraditria, ou desconexa, ou absurda.

    E prosseguem os renomados autores, afirmando que estas consideraes levam a inferir que o advogado, alm de conhecer o ordenamento legal, tem de dominar as tcnicas redacionais, a fim de construir um texto coeso e coerente, livre de ambguas ou mlti-plas interpretaes, sem contar a exigncia de um padro culto de lngua. No h neces-sidade de rebuscamentos. Bastam9 a clareza e a correo.

    7 A expresso latina lato sensu (escreve-se lato, e no latu) contrape-se expresso stricto sensu. A primei-ra quer dizer em sentido amplo, enquanto a segunda significa em sentido estrito. No se deve pr a pre-posio em antes de tais expresses.

    8 Inepto e inapto: o inapto aquele que no apto, ou seja, sem aptido, incapaz. Exemplo: O deficiente fsico foi considerado inapto para o exerccio daquela funo. Inepto, por sua vez, tem a acepo de inbil, bobo, estpido, tolo. Exemplos:

    Suas ideias so ineptas, e quem as profere, mais ainda. A deciso foi de todo inepta e prejudicial. Um empregado inapto no obrigatoriamente inepto.

    9 O verbo bastar concorda normalmente com o sujeito. Exemplos: Bastavam poucos recursos para tocar o negcio.

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    Desse modo, o aplicador do Direito deve atrelar linguagem jurdica um razovel co-nhecimento das normas de rigor10 do nosso lxico, a fim de que logre se destacar na arte de convencer outrem ofcio primacial do causdico.

    Segundo Damio e Henriques (2000: 27), o ato comunicativo jurdico, conclui-se, exige a construo de um discurso que possa convencer o julgador da veracidade do real que pretende provar. Em razo disso, a linguagem jurdica vale-se dos princpios da lgica clssica para orga-nizao do pensamento. (...) O discurso jurdico constri uma linguagem prpria que, no dizer de Reale (1965: 8), uma linguagem cientfica.

    A propsito11 do termo linguagem jurdica, faz-se mister elucidar que gnero do qual exsurge espcie conhecida por linguagem forense. Esta representa a linguagem do advo-gado, enquanto aquela refere-se linguagem jurisprudencial, doutrinria ou legislativa. H trs funes para a linguagem forense: tomar cautela, escrever e responder. Na verda-de, as trs palavras (verbos) encerram o nobre mister do advogado, podendo ser assimi-ladas, consoante a lngua latina, em cavere, scribere et respondere. No h como conceber o dia a dia do advogado despido dessas funes: sempre deve redigir as peas (scribere), tomando cautela com o procedimento nas aes (cavere) e com a resposta aos atos pro-cessuais (respondere).

    No bastam dez horas de estudo. O problema do verbo bastar ocorre quando vem anteposto ao sujeito. Deve concordar, portanto, com o

    sujeito, se este vier no plural. Exemplos: Como se no bastassem tantos telefonemas que fiz, houve reclamao (sujeito: telefonemas). Como se no bastassem tantas propostas indecentes, fui mal atendida (sujeito: propostas).

    No entanto, se houver sujeito oracional, no h concordncia no plural. Exemplos: Os problemas, no basta evit-los, porm, solucion-los. Basta que eles assegurem a exatido dos clculos.

    Por fim, ressalte-se que invarivel a expresso basta de, no sentido de chega!. Exemplos: Basta de engodo! Basta de enrolao! Basta de clamares inocncia (verso da cano Basta de Clamares Inocncia, de Cartola).

    10 A rigor: a expresso a rigor, aceita por dicionaristas de prol (Aurlio, por exemplo), que pode ser usada como:

    a) locuo adjetiva, usada na expresso traje a rigor, como sinnimo de cerimonioso; b) locuo adverbial, como sinnimo de na verdade, a bem dizer ou rigorosamente falando. Exemplos:

    A rigor, no esse o caminho. A rigor, o adjetivo s existe referido a um substantivo (Celso Cunha, Gramtica do Portugus Contempor-neo, p. 182, apud Cegalla, 1999, p. 36).

    observao: registre-se que h gramticos que tacham a locuo adverbial de galicismo, propondo que se diga em rigor, forma adotada por literatos de renome. Portanto, podem ser admitidas ambas as formas: a rigor e em rigor. Observe:

    Em rigor, o gato no nos afaga, mas afaga-se em ns (Machado de Assis apud Cegalla, 1999, p. 138).11 A locuo adverbial a propsito, na acepo de oportunamente, no momento certo, tem sinnimo erudi-

    to: de molde. Portanto: A sua chegada veio de molde.

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    Por meio de uma linguagem jurdica breve, clara e precisa, o operador do Direito rene atributos formao da elegantia juris, como denomina Jhering, ou beleza funcional (ou esttica funcional). A dificuldade a ser suplantada pelo causdico em seu eminente trabalho diuturno12 conciliar a brevidade com a clareza, alcanando-se o conceito da elegantia juris.13

    JURIsMACeTes1 . FA z e R J U s A

    situao: Ele fez jus vitria.

    Comentrio: a expresso idiomtica fazer jus a, no sentido de merecer, bastante en-contradia na linguagem forense. O problema est na grafia do monosslabo jus, que deve ser grafado sem acento e com -s. Cuidado com o equivocado -z, criando-se um juz de outro planeta... A dvida, talvez, nasa da infundada associao a outros monosslabos, terminados em -z, como fiz, diz, faz, paz. Aproveitando o ensejo, vale notar a semelhana com pus, grafado com -s, quer no sentido de secreo, quer como 1 pessoa do singular (eu) do pretrito perfeito do indicativo do verbo pr. Por derradeiro, no inoportuno relembrar que os tempos derivados dos verbos pr e querer sero sempre grafados com -s, como pus, pusera, pusssemos, puser, quis, quisera, quisssemos, quisestes.

    2 . R I X A

    situao: O crime de rixa tem previso no art. 135 do Cdigo Penal.

    Comentrio: o substantivo rixa deve ser grafado com -x. Dele derivam nomes como rixentos e rixosos. Grafam--se, ademais, com -x: xampu, xcara, xaxim, lagartixa, coaxar, bruxa, xucro, xingar, extravasar, extemporneo.

    3 . VI Ve R C U sTA d e e sTA R e M VI A d e

    situao: O genro vive custa do sogro.

    Comentrio: a locuo prepositiva custa de escrita sem o -s (custas). H quem admita a forma s custas de, porm, luz do portugus jurdico, prefervel a utilizao de custa de (sem o -s). O que existe custas, como substantivo designativo de despesas processuais. Com propriedade, Juc Filho (1963: 178) estabelece clara distino, citando dois exemplos: Consegui-o custa de muito bom dinheiro; e Ele foi condenado s custas do processo.

    Diga-se, ainda, que a expresso s custas de de pssima sonoridade, denotando total falta de familiaridade com as normas cultas da Lngua Portuguesa. Portanto, com correo:

    n E le v ive custa do pai . n O ser vio fo i f e i to minha custa. n Fez concesses custa do amigo. n O ru v iv ia custa de sua companheira. n custa de quem se vestem estes Narc isos e Adnis ? 13 .

    12 O adjetivo diuturno tem o sentido daquilo que vive muito tempo ou que tem longa durao. No se deve confundir com dirio, com cotidiano ou, at mesmo, com diurno. Observe o uso apropriado:

    O projeto chegou ao fim depois de incansvel trabalho diuturno. O recorde nas Olimpadas foi custa de treino diuturno.

    13 Camilo Castelo Branco. A queda dum anjo, p. 51, apud Cegalla, 1999, p. 10.

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    Uma locuo equivalente que pode ser utilizada a expensas de (sem crase) ou s expensas de (com crase). Expensas so gastos ou despesas. Observe as frases abaixo:

    n O posto po l i c ia l fo i insta lado a expensas da Companhia 14 . n O noivo desempregado v ive a expensas da no iva paciente .

    O mesmo se diga da locuo prepositiva em via de, equivalente a prestes a, que deve ser escrita sem o -s. A expresso em vias de j est dicionarizada e, portanto, pode ser aceita em Portugus, embora no represente forma adequada luz do portugus jurdico. Logo:

    n O jovem est em via de completar a maior idade . n O namoro est em via de romper-se . n O barraco, em vi r tude das for tes chuvas , e stava em via de desabar.

    Importante: a locuo preposicional com vista a biforme, podendo ser utilizada com -s (com vistas a). Uma e outra significam a fim de, com o propsito de, sendo chanceladas pelos dicionrios em ambas as formas.

    4 . M e d I dA q U e n A M e d I dA e M q U e

    situao: medida que estudava, percebia que o estudo mister cumulativo.

    Comentrio: a locuo preposicional medida que deve ser grafada com o sinal indicador da crase e, princi-palmente, sem a inoportuna preposio em, criando a inadequada expresso medida em que. Com efeito, a locuo verncula medida que possui timbre de imutabilidade, sendo cristalizada. Portanto, no se pode alterar aquilo que se nos apresenta fossilizado no lxico. Entendendo-a melhor, note-se que a crase se justifica pela configurao da expresso como locuo adverbial, que avoca o sinal indicador. o que ocorre, de modo similar, em s pressas, custa de, risca, vista, proporo que, entre outras locues adverbiais, prepositivas ou conjuntivas. Por seu turno, a expresso em anlise, no obstante considerada galicismo pelos puristas, forma verncula, tendo as seguintes variaes: proporo que, conforme, ao mesmo tempo que, entre outras, que delineiam uma ideia de variao do estado de coisas em razo proporcional. Exemplos:

    n E le chorava medida que re l ia seu nome na l ista de aprovados . n A carga tr ibutr ia do Bras i l subia medida que os tr ibutos eram majorados . n As taxas de juros i ro baixar medida que os preos dos bens de consumo carem.

    Ressalte-se que, paralelamente locuo em comento, exsurge outra expresso, bastante semelhante, todavia com sentido diverso: na medida em que. Essa locuo conjuntiva traz em seu bojo a preposio em, agora plenamente cabvel. Alm disso, o que pronome relativo, no fazendo parte da locuo, como em medida que. A expresso ora ventilada tem o sentido de tendo em vista que, dando uma ideia de consequncia e exprimindo quantidade. Exemplificando:

    n E le bateu todos os recordes o l mpicos na medida em que tre inou com obst inao. n E le no passou no concurso na medida em que v iv ia na fo l ia . n A regra da igualdade no consiste seno em quinhoar des igualmente aos des iguais , na

    medida em que se des igualam (Rui Barbosa) .

    n A expanso da lavoura a lgodoeira no pde produz ir-se em So Paulo na mesma medi -da em que se produz iu noutras terras (S rg io Buarque de Holanda) .

    5 . F o R o ( )

    O termo foro () contm vrias acepes, a saber:

    14

    14 Carlos Drummond de Andrade. Obra completa, p. 450, apud Cegalla, 1999, p. 14.

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    a) O poder judicirio, o juzo. Exemplo:

    n Os contratantes e legem o foro desta c idade para d ir imir quaisquer questes or iundas do contrato.

    b) O prdio no qual funcionam as reparties do Poder Judicirio. Exemplo:

    n O foro da Comarca estava local izado no bairro de Pinheiros .c) O poder de julgar, a alada ou jurisdio. Exemplos:

    n Foro c iv i l Foro cr iminal Foro trabalh ista Foro mi l i tar Foro judic ia l .d) A quantia que o enfiteuta paga ao senhorio direto pelo uso de um imvel foreiro. Exemplo:

    n O foro pago pelo enf i teuta onerou em demasia suas reser vas .e) O direito, na forma plural, como foros (pronuncie fros). Exemplo:

    n E le adquir iu foros de c idadania.f) O juzo da prpria conscincia, na expresso idiomtica foro () ntimo.

    observao: foro (): designao da praa romana, cercada de prdios pblicos, onde as pessoas se reuniam para discutirem os negcios pblicos. No foro (//) romano, competiam aos pretores os julgamentos das de-mandas ou causas.

    A HoRA do esPAnToA s P R o l A s d o P o RT U g U s

    1. Asalto

    Correo: escreve-se assalto, com dois ss.

    2. Aperfeioao

    Correo: o VOLP somente admite aperfeioamento, ficando outros vocbulos adstritos ao campo da inven-cionice.

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    2 A CoMUnICAo JURdICA

    O texto jurdico na petio uma forma de comunicao entre o advogado (transmis-sor) e o juiz (receptor), por meio da mensagem (pretenso aduzida pelo transmissor).

    Na linguagem escrita, diferentemente da despretensiosa e possvel linguagem falada do dia a dia, cabe ao operador do Direito a irrestrita adeso s normas da gramtica, deven-do o transmissor preocupar-se com a clareza e a objetividade. Esse cuidado no redigir remete aquele que lida com a linguagem jurdica, na qualidade de transmissor da men-sagem, chamada norma culta, aquela de maior prestgio, por meio da qual dever observar as normas gramaticais em sua plenitude. Dessa forma, o profissional do Direi-to deve ficar circunscrito ao rigor da linguagem formal.

    A norma culta, segundo os notveis dizeres de Dino Preti (1987:54), ocupa o patamar do ideal lingustico de uma comunidade, como a norma de maior prestgio social. Tra-ta-se da norma-padro, utilizada pelas pessoas cultas e escolarizadas, servindo como o veculo de todo complexo cultural, cientfico e artstico que se viabiliza na forma escri-ta. a norma tradicionalmente observada nos ambientes acadmicos (conferncias, universidades, reunies formais) e escolares, embora se possa e deva deixar claro que tanto a norma popular como a norma culta sero apropriadas, dependendo do contexto situacional que se estabelecerem.

    Devemos evitar os maus hbitos da linguagem descomprometida, veiculada com desca-so no exprimir. Como ns representamos o mundo intelectualmente por palavras, no podemos corromper nosso pensamento com vocbulos ruins ou incorretos, falseando nossa viso, e prejudicando o propsito comunicacional.

    Hodiernamente, evidente a deturpao da linguagem por aqueles que a deveriam mi-mar. Refiro-me aos meios vrios de comunicao escrita e falada (jornais, revistas e pe-ridicos; universidades e centros de informao) e, fundamentalmente, aqueles de co-municao televisiva e auditiva (tev e rdio). Apresentam-se dia a dia com uma linguagem distante das normas cultas, incapaz de convencer, quanto menos seduzir. Alis, nos ltimos tempos, no raro deparar o cultor do idioma, para o seu mais ge-nuno desespero, com a mensagem falaciosa propagada por esses meios de comunicao de que no importa a linguagem correta, mas, sim, a comunicao.... Tirante a absur-dez do enunciado, de se indagar: o que comunicao, seno a informao transmi-tida com linguagem escorreita e preocupada com o xito comunicacional? Afinal, a boa linguagem aquela que consegue expressar adequadamente um assunto querido, no contexto situacional pertinente. Essa adequao nasce, necessariamente, a partir da

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    obedincia ao rigor lingustico, responsvel pela formao de uma mensagem que con-vence e seduz.

    Portanto, a proliferao da linguagem desconexa, com desprezo etimologia e semn-tica, torna o emissor incapaz de representar a realidade por meio de palavras, inviabili-zando uma comunicao adequada entre as pessoas.

    Um exemplo retumbante de linguagem nova, sem nexo etimolgico nem semntico, que tem corrompido as estruturas basilares da boa linguagem aquela utilizada na Internet e nos sites (em Portugal, dito stios), por internautas e seus usurios. Ali no se comunicam por palavras, balbuciam-nas. A estrutura frasal (sujeito, verbo e com-plemento) inexistente. Quer-se comunicar com o menor nmero de toques no tecla-do, nem que sejam cinco, quatro, dois ou, o que incrvel, um toque. Deturpa-se o pensamento e sua tradicional manifestao. Corrompe-se a boa linguagem, por meio de uma manifestao automtica do pensar. Pergunta-se: e para onde foram a lingua-gem literria, o sentido das palavras, a arte de escrever e se comunicar e a tcnica da redao?

    Visto que1 inequvoco o descaso com nosso lxico, imperioso que nos conscientize-mos da necessidade de uma realfabetizao, que nos municie a tomar novos rumos na formao de um processo lingustico satisfatrio na arte da comunicao. O traba-lho rduo, haja vista a propaganda ideolgica contrria que, manipuladoramente ir-real, leva o aplicador do vernculo a crer que falar ou escrever bem falar ou escre-ver simples, mesmo que o simples atente contra as regras gramaticais. Pelo menos no contexto do discurso jurdico, em que a linguagem solene indispensvel, no se pode admitir argumento desse jaez, uma vez que falar ou escrever bem no mundo do Direi-to se pautar na arte do convencimento com seduo, luz das normas cultas da Lngua Portuguesa.

    Lus Fernando Verssimo, defendendo a tese de que a linguagem meio de comunica-o, considera indispensvel obt-la, independentemente da obedincia cega s normas de rigor da Gramtica. Mostrando no trecho a seguir uma divertida implicncia com a Gramtica, o nclito escritor reconhece ser indispensvel a intimidade com o lxico, at porque seu ofcio escrever, mas traz algumas ressalvas. Da intitular seu interessan-te artigo, com o humor que lhe caracterstico, de O Gigol das Palavras. Observe um trecho do artigo extrado da obra de Rodrguez (2000: 278):

    1 A expresso visto que (ou seja, uma vez que, porquanto) pode ser utilizada sem problemas. Por falar em problema, este existe quando se emprega o tal de eis que, que representa condenvel impropriedade, quando em lugar de porque, porquanto, uma vez que ou pois.

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    captulo 2 A Comu n i C A o J u R d i C A

    (...) a linguagem, qualquer linguagem, um meio de comunicao e que deve ser

    julgada exclusivamente como tal. Respeitadas algumas regras bsicas da Gramtica,

    para evitar os vexames mais gritantes, as outras so dispensveis. A sintaxe uma

    questo de uso, no de princpios. Escrever bem escrever claro, no necessariamente

    certo. Por exemplo: dizer escrever claro no certo, mas claro, certo? O importante

    comunicar. (E quando possvel surpreender, iluminar, divertir, comover... Mas a

    entramos na rea do talento, que tambm no tem nada a ver com a Gramtica.)

    A Gramtica o esqueleto da lngua. S predomina nas lnguas mortas, e a de

    interesse restrito a necrlogos e professores de Latim, gente em geral pouco

    comunicativa. Aquela sombria gravidade que a gente nota nas fotografias em grupo

    dos membros da Academia Brasileira de Letras de reprovao pelo Portugus

    ainda estar vivo. Eles s esto esperando, fardados, que o Portugus morra para

    poderem carregar o caixo e escrever sua autpsia definitiva. o esqueleto que nos

    traz de p, certo, mas ele no informa nada, como a Gramtica a estrutura da

    lngua, mas sozinha no diz nada, no tem futuro. As mmias conversam entre si

    em Gramtica pura.

    Concordar ou no com a tese exposta por Verssimo uma questo de posicionamento pessoal e, sobretudo, situacional. claro que, assim pensando, no estamos negando o fato de que a lngua propensa a variaes. No advogamos a tese da existncia de uma nica norma lingustica possvel, em que a lngua seria representada por uma entidade monoltica, imutvel a prpria norma lingustica gramatical ou dicionarizada. Com efeito, a ideia de monlito expressiva, porquanto tal palavra refere-se quilo que forma um s bloco, um todo rgido, homogneo, impenetrvel. Assim, a lngua teria uma nica face de realizao, e aquilo que pretendesse desafiar os cnones da gramtica normativa seria tachado de erro crasso. Sabemos da impraticabilidade dessa viso e no a endossamos. evidente a existncia de mais de uma norma lingustica possvel, em que a lngua ser representada por conjunto de normas, no lugar de uma entidade monoliticamente prescritiva ou dicionarizada. Nesse passo, as faces de realizao da lngua estabelecem, com a gramtica normativa e com os dicionrios, um dilogo de maior ou menor aproximao.

    A questo que nos aflige outra: o que se espera de um operador do Direito no seu trato com a escrita e com a fala? A nosso ver, o problema da norma lingustica tem de considerar a lngua efetivamente realizada, observando cada interao em sua integrali-dade e complexidade. Ou seja: a prpria sociedade que deve configurar o que e

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    como se espera que se diga/escreva, em cada interao. Se esta requer um registro mais elaborado do falante como o que deve prevalecer no mundo do Direito , este deve-r utilizar recursos lexicais, fraseolgicos e gramaticais mais elaborados, sob pena de sofrer uma sano social. Por outro lado, se a interao requer um registro menos comprometido com a tradio (algo prximo do coloquial) o que no comum no discurso do Direito , o falante dever utilizar recursos lexicais menos sofisticados, tambm sob pena de sano social, caso a isso desobedea. Portanto, tudo depender de cada interao ou situao de comunicao. No h um registro lingustico nico para todas as interaes. H um registro lingustico adequado para cada interao (cf. Leite, 2005: 196-197).

    Na atualidade, possvel encontrar escritores famosos, mestres e at doutores, na rea jurdica ou no, que, por no terem adquirido os rudimentos gramaticais, permanecem analfabetos, incapazes de completar uma frase, redigir um perodo compreensvel e, muito menos, desenvolver uma dissertao, embora escrevam teses eruditas, embora se espere deles uma linguagem de prestgio.

    Parafraseando uma tirada famosa de Churchill, deles se poderia dizer que quando se sentam para escrever no sabem o que vo dizer; quando escrevem, no sabem o que esto dizendo; e, quando terminam, no sabem o que disseram. Muito menos seus leitores infelizes destinatrios da mensagem.

    Ao redigir as peas, ao advogado compete buscar a clareza a todo custo, imprimindo nas palavras um sentido prprio e denotativo, a fim de que no se permita mais de uma inter-pretao ao que se expe. A palavra a porta de entrada para o mundo, nas palavras de Ceclia Meireles, devendo o advogado atravess-la por meio de uma linguagem satisfatria.

    A linguagem conotativa precisa ser evitada, relatando-se os fatos como foram de verda-de, e no como deveriam ter sido.

    Vamos diferenar denotao de conotao:

    Denotao: linguagem referencial que reflete o mundo objetivo, represen-tando a rea lidade.

    Conotao: linguagem figurativa que alcana o mundo subjetivo, diferen-te da realidade posta. Designa tudo o que o termo possa avocar, com inter-pretaes diferentes e mltiplas, dependendo do contexto que se conferir. Por meio da linguagem conotativa, transcende-se a realidade.

    Portanto, a linguagem denotativa aquela que deve nortear os petitrios, sendo exte-riorizada por meio do idioma nacional o portugus. Com efeito, patente a impres-cindibilidade do uso do idioma nacional nos atos processuais, alm de corresponder a

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    captulo 2 A Comu n i C A o J u R d i C A

    uma exigncia que decorre de razes vinculadas prpria soberania nacional, como projeo caracterizadora da norma inserida na Constituio Federal, art. 13, caput, que proclama ser a Lngua Portuguesa o idioma oficial da Repblica Federativa do Brasil.

    Dessarte, os arrazoados urgem ter contedo acessvel a todos, nada impedindo que se valha o culto causdico de frases ou expresses em outro idioma, para as quais, depen-dendo do caso, deve proceder imediata traduo na pea.

    tempo, pois, de se mudar a linguagem jurdica, livrando-a de excessos, dos entulhos literrios e da adjetivao presunosa. Confeccionar uma narrativa clara e concisa dos fatos burlar as extravagncias de linguagem, a servio da Justia2 e da imagem de quem a emite. Alis, Guimares Rosa no poupa justeza quando assevera que o idioma o espelho da personalidade.

    Parafraseando, nesse nterim, a expresso latina Dat mihi factum, dabo tibi jus e ade-quando-a mensagem querida, ter-se-ia: D-me os fatos com simplicidade e clareza, e eu te darei o direito, com praticidade e bom-senso.

    guisa de exemplificao, conta-se que um assessor de Franklin Roosevelt, ao ajud-lo na elaborao de um discurso, escreveu: Esforar-nos-emos para criar uma sociedade mais inclusiva. O presidente americano, ao l-la em voz alta, achou-a vazia e pretensio-sa, substituindo-a por: Vamos construir um pas em que ningum fique de fora. Aula de simplicidade, no acha?

    Devemos, dessa forma, evitar expresses como vem presena de Vossa Excelncia com o mais inclinado respeito .... Basta ir presena ou estar na presena, pois o advogado tem o dever de postular o direito de seu cliente, e o magistrado, o dever de prestar a jurisdio.

    Ou ainda: fulano de tal vem presena rutilante, refulgente, briosa, resplandecente, preclara e esplendorosa de Vossa Excelncia .... Perguntar-se-ia: isso real? Porque, a princpio, no se acreditaria que algum advogado tenha escrito dessa forma em peti-o... Dir-se-: que mente criativa! Todavia, infelizmente, real! Bem que Miguel de

    2 O profissional do Direito, conquanto a cincia jurdica busque a univocidade em sua terminologia, convive com um sem-nmero de palavras polissmicas. O exemplo clssico o termo justia, que tanto exprime a vontade de dar a cada um o que seu, quanto significa as regras em lei previstas e, ainda, o aparelhamento poltico-jurdico destinado aplicao da norma do caso concreto. Damio e Henriques (2000: 47) ensinam acerca do vocbulo justia (do latim justitia): Provm de ius, jus que, por sua vez, oriundo do snscrito iu, cuja ideia expressava proteo, vnculo ou ordem. No Direito Romano, o jus no se identificava com a lex (lei), mas estendeu-se ao vocbulo direito em portugus, diritto em italiano, derecho em espanhol, droit em francs e recht em alemo, contaminando o sentido da aplicao da lei, porque ela busca o justo, tanto quanto o Direito procura pela Justia. Inadequados so, pois, adjetivos comumente empregados nos fechos das peas processuais, e.g., ldima Justia, porque s ocorre a aplicao da Justia quando se declaram direi-tos devidos ao titular e a punio de quem no os respeita, sendo ela, desta sorte, sempre legtima.

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    Cervantes, em seu romance Dom Quixote (1605), j havia prelecionado, no sculo XVII: A pena a lngua da mente.

    Em peties ou sentenas, chega-se, s vezes, ao ridculo de falar com o objetivo de no ser entendido, como denota esta prola de linguagem a seguir demonstrada:

    Declinam estes autos saga de prosaico certame suburbano, em que a destra contra-riedade do ofendido logrou frustrar sanhuda venida de um adolescente. Foi na Vila Esperana, nesta urbe, em noturna e insone hora undevicsima....

    Seria bem mais simples e clara a transcrio:

    Os autos tratam de um trivial conflito, na Vila Esperana, s 19h, ocasio em que o ofendido conseguiu evitar o repentino e furioso ataque de um adolescente.

    Ou, ainda, esta outra, que ressuscita uma mmia do vernculo: o obsoleto termo suso. Vejamos:

    Impende aludir ao venerando argumento suso mencionado ....

    A propsito, a palavra suso com o significado de antes, acima , no obstante ser do jargo jurdico, padece de insustentabilidade. Por que no se falar, simplesmente, aci-ma? Sem contar a falta de sonoridade do vocbulo, que tem sofrvel prosdia.

    Rodrguez (2000: 38), ao tecer comentrios sobre jargo3, preleciona que, ao cuidar-mos da seleo das palavras, devemo-nos ater ao chamado vocabulrio jurdico. Todos sabemos que o advogado tem, por assim dizer, uma linguagem prpria, peculiar a sua classe. Isso importa em afirmar que algumas palavras do universo do lxico portugus,

    3 Rodrguez (2000: 45), ainda, afirma sobre o jargo: O jargo serve como um dos sinais distintivos da lingua-gem, mas utilizar algumas expresses em repetio, que no mais so que forma de revelar-se como membro de uma classe, a dos operadores do direito, no caso, no sinal de boa expresso, de bom texto, de construo clara. Ao contrrio, revela-se como pobreza de estilo, como falta de conhecimento ou de segurana para a utilizao de outros termos de nossa lngua que no somente se expressam com o mesmo valor, como tambm utilizam uma linguagem mais corrente e permitem troca por outros termos, sinnimos, que acabam por orga-nizar uma construo textual, no mnimo, de leitura mais fluente. Ao redigir, ento, o autor deve distinguir o que termo tcnico, insubstituvel e com carga semntica determinada, daquilo que propriamente um jar-go. No se afirma que o jargo no se possa utilizar nunca, pois ele, como qualquer outro termo, tambm parte do universo de linguagem que o autor tem sua disposio. Entretanto, ao contrrio do termo tcnico, a gria profissional no deve ser repetida vrias vezes em um texto, pois o leitor sabe que o jargo pode ser trocado por outras palavras de valor semelhante, do uso corrente da lngua, ao contrrio do termo tcnico, cuja repetio se admite, em tese, por lhe faltarem sinnimos com a mesma carga de significado.

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    apesar de serem, em tese, acessveis a qualquer falante, so mais utilizadas pelos advoga-dos, por uma srie de motivos. Portanto, o renomado autor entende que o jargo re-presenta a gria profissional ou a ornamentao que d forma da linguagem, em aplica-o, em nosso caso, ao Direito.

    Deve, portanto, o profissional do Direito agir, pensar e escrever na atualidade, e para a atualidade, sem qualquer prejuzo qualidade das peties ou para a eficcia dos julga-dos. Dessa forma, ter-se- aproximado do conceito da comunicao perfeita, respeitan-do o destinatrio da mensagem, a si prprio e o prprio idioma nacional. Afinal, para-fraseando Caetano Veloso: Minha ptria minha lngua.

    JURIsMACeTes1 . A l I b I d o d e s e n F R e A dA e o d dA VT I M A d o CR I M e s e X UA l

    situao: A libido incontida do estuprador levou-o ao cometimento do crime de estupro.

    Comentrio: a libido (ou concupiscncia) designa o apetite sexual. A preocupao, luz da Lngua Portuguesa, que o nobre usurio do idioma saiba que libido substantivo feminino, portanto, grafando-se, sempre a libido. No exemplo em epgrafe, trouxemos baila outro substantivo de gnero comumente assassinado, isto , d um substantivo masculino. Portanto, diga sempre: o d; um d.

    2 . e XCe o

    situao: A exceo s regra se a regra for exceo (o Autor).

    Comentrio: o vocbulo exceo, a par de outros, como excesso, excessivo, excessivamente, excepcionar, deve consumir a ateno do aplicador do Direito, sob pena de o erro ortogrfico patentear um inequvoco desleixo do usurio com relao lngua aplicada em seu dia a dia. Insistimos com frequncia em salas de aula e audi-trios, nos quais proferimos aulas e palestras, que o advogado, juiz ou promotor que escorregar nas palavras em estudo estar fadado crtica severa e merecida. Saliente-se que a ferramenta de trabalho do operador do Direito a palavra, e ela deve ser manuseada com domnio e segurana.

    3 . e XCe s s o

    situao: Sua Excelncia estava com um excesso de trabalho, o que a motivou a tomar uma excepcional e ex-cntrica providncia.

    Comentrio: a frase disposta acima traz baila o dgrafo -xc e seu uso em vocbulos de nosso lxico. Como se notou, excesso, a par de excelncia, excepcional, excntrica, entre outros vocbulos, grafado com -xc. Com efeito, deve-se tomar cuidado com a grafia de tais palavras, principalmente quando formadas com mais de um dgrafo, como excesso (xc e ss). Alis, os nomes derivados so escritos da mesma forma: excessivo e excessivamente.

    4 . I nT e R Ce s s o d o J U I z

    situao: Houve a intercesso do juiz na seo eleitoral, que ficou desfalcada com a sada do funcionrio para fazer uma seco da perna.

    Comentrio: o verbo interceder, derivado de ceder, provoca o surgimento do substantivo intercesso (ceder cesso). Nesse passo, no demasiado relembrar que sesso (com trs esses) designa o tempo que dura uma reunio, apresentao (exemplos: sesso de Jri, sesso de cinema), enquanto seo (ou seco), o depar-tamento ou a diviso (exemplos: seo eleitoral, seo de brinquedos, seo de eletrodomsticos). Ressalte-se que se usa, de modo restrito, seco para corte em operao mdica (exemplos: seco do osso, seco da ferida).

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    A HoRA do esPAnToA s P R o l A s d o P o RT U g U s

    1. serve para prosper

    Correo: o verbo adequado prosperar (-rar), devendo ser pronunciado o erre final, em abono da boa sonoridade das letras.

    2. bom-censo

    Correo: a expresso correta bom-senso, com hfen, para o VOLP.

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    3 A boA lIngUAgeM

    O pensamento humano organiza-se, articula-se e ganha nitidez medida que o indiv-duo exercita a linguagem. Quanto mais1 nos esforamos para exprimir nossas ideias de modo claro, mais alcanamos essa virtude rara na comunicao.

    Isso nos leva a admitir que a escrita pode ser aprimorada ao longo do tempo. sabido que no se consegue fluncia em um idioma sem contnuo esforo. importante tam-bm que se frise que h idiomas e idiomas, isto , no h parmetros de comparao entre nosso riqussimo vernculo e outras lnguas do globo. Espalhados pelos cinco continentes, somos mais de 240 milhes de cultores de um idioma sedutor e rico. Nes-se passo, Analu Fernandes obtempera: A lngua portuguesa no difcil. rica.

    Essa riqueza, que se mostra pelo brilho de uma gramtica lgica e empolgante, tem que ser perscrutada e assimilada, cotidianamente. proporo que se aperfeioa a lingua-gem, aprimora-se o modo de pensar porque o desenvolvimento da linguagem permite a organizao do pensamento e a exteriorizao deste em toda a sua complexidade. O esforo trar a consecuo do resultado querido: o sucesso na transmisso do pensar. Alis, o que escrito sem esforo geralmente lido sem prazer (Samuel Johnson).

    Como se pode notar, a boa linguagem passa por organizao das ideias, com o propsi-to de que o pensamento, uma vez disciplinado, possa se traduzir em convencimento de outrem. Mas como se devem organizar as ideias? o que veremos no prximo tpico.

    3.1. A oRgAnIzAo dAs IdeIAs

    A expresso do pensamento uma manifestao humana, que pode se representar pela exteriorizao da fala, de gestos, da escrita ou de comportamento. O objeto principal da presente obra analisar a expresso do pensamento pela escrita, que exige igualmente uma disciplina no pensar. vital, para uma escrita a contento, que se conceba de ante-mo a ideia querida, refletindo-a em um processo de ruminao mental, com o fito de manifest-la com a clareza e a objetividade da boa linguagem. Com efeito, aquilo que se pretende enunciar deve ser bem concebido, com uma detida reflexo da manifes-tao pretendida. Repise-se que a reflexo pr-requisito para a expresso.

    1 A expresso quanto mais... tanto mais correlaciona duas oraes. Nada obsta a que se omita a palavra tanto na segunda orao (quanto mais... mais); todavia, no se pode omitir a palavra quanto na primeira orao. Assim, vamos aos exemplos:

    Quanto mais dava aulas, tanto mais agitada se tornava a vida. Quanto mais tiros davam, mais revides ocorriam.

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    necessrio pensar detidamente sobre um assunto, uma ideia, antes de express-la. O pensamento, em sua origem, uma massa disforme que, aos poucos, vai ganhando or-dem e corporificao, na busca das palavras exatas que serviro para transmiti-lo.

    Em nosso dia a dia, no entanto, no nos dedicamos a essa prtica, ao cultivar hbitos impulsivos de exteriorizao de ideias, o que torna o texto escrito tradutor de lampejos mentais irrefletidos.

    O mestre Cmara Jr. (1996:10) ensina:

    A preciso lgica da exposio lingustica importa, antes de tudo, no problema da

    composio, que consiste em ajustar e concatenar os pensamentos. O prprio

    raciocnio ainda no exteriorizado depende disso para desenvolver-se. Antes de nos

    fazermos entender pelos outros, temos de nos entender a ns mesmos (...).

    No mesmo rumo, Confcio, de h muito, prelecionava que, se a linguagem no tem sentido, a ao torna-se impossvel e, consequentemente, todos os assuntos humanos se desintegram e torna-se impossvel e intil seu manejo.

    Ainda, a corroborar o exposto, a maior de todas as poetisas brasileiras Ceclia Meireles assevera, com riqueza de pensamento, que a palavra a porta de entrada para o mun-do. Portanto, entendemos que, se no a usarmos com perspiccia, com organizao, seremos alvo de uma babelizao na transmisso do pensamento em nosso cotidiano.

    Posto isso, crucial que busquemos a arte na comunicao, mantendo organizadamen-te a conexo entre as palavras e a realidade que designam, vale dizer, somente pelo ca-minho de uma linguagem correta e inteligvel que se pode avanar na trilha que asse-gure a adequada comunicao.

    3.2. qUAlIdAdes dA boA lIngUAgeM

    O operador do Direito, em seu dia a dia, deve utilizar uma linguagem castia, procu-rando construir um texto balizado em parmetros que sustentam a boa comunicao. Nos dias atuais, o ato de comunicar precisa ser eficiente e rpido. Assim, esteja atento para as virtudes de estilo ou qualidades da boa linguagem. Veja a seguir os fatores que influem positivamente no processo de manifestao verbal.

    3.2.1. Correo: traduz-se na obedincia disciplina gramatical, com respeito s nor-mas lingusticas. A correo deve ser conquistada com o uso de uma linguagem escor-reita, livre de vcios, formando uma imagem favorvel do comunicador perante os re-ceptores das mensagens. H, pois, a necessidade de uma linguagem inatacvel, quer sob o aspecto tcnico-jurdico, quer luz da prpria casticidade do idioma.

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    captulo 3 A B oA L i n g uAg e m

    Nascimento (1992:3) preconiza que a correo um pressuposto. inadmissvel o advogado escrever com erros ortogrficos ou sintticos. Exemplo: Na orao Assim, requer o Autor Vossa Excelncia ..., h vcio gramatical quanto ao acento grave indi-cador da crase, uma vez que se deve grafar Assim, requer o Autor a Vossa Excelncia ..., sem o sinal indicador, uma vez que no h crase antes de pronome de tratamento (res-salvado o caso conquanto controvertido de senhora, senhorita, dona e madame).

    Nesse passo, h impropriedades que so verdadeiras encruzilhadas diante das quais tantas vezes param perplexos os usurios da lngua portuguesa (Domingos Paschoal Cegalla). O pronome se, por exemplo, causa verdadeira tragdia na vida dos opera-dores do Direito menos cautelosos. No lugar de compram-se casas, alugam-se apartamen-tos e trata-se de problemas, aparecem problemas maiores, com as equivocadas formas compra-se casas, aluga-se apartamentos e tratam-se de problemas.

    No entanto, o estudioso e aplicador do idioma deve sempre ter parcimnia, a fim de que a preocupao exacerbada com o purismo ou com aquilo que no deve ser dito no sacrifique a espontaneidade, podando a ideia a ser transmitida.

    A obedincia ao rigor gramatical no deve provocar a abertura de um abismo entre o anunciante e o leitor da mensagem. O segredo da boa comunicao est na receita: simplicidade com propriedade a primeira indicando uma preocupao com quem l; a segunda, uma preocupao de quem escreve.

    3.2.2. Conciso: qualidade inerente objetividade e justeza de sentido no redigir. Como se sabe, falar muito, com prolixidade, fcil; o difcil falar tudo, com conci-so... dizer muito em poucas palavras, evitando perodos extensos. A sobriedade no dizer, expondo o sentido retilneo do pensamento, sem digresses desnecessrias e ma-nifestaes suprfluas, representa o ideal na exposio do pensar. Quem fala em dema-sia abusa de frases obesas, que mais parecem pinheirinho de Natal cheias de enfei-tes e badulaques. Deve-se evitar a vazo verborragia e egolatria.

    Nos dias atuais, com ofcios ou varas superlotados de processos, uma constante no am-biente forense, a prolixidade no redigir um danoso escudo contra o esvaziamento dos cartrios. No h mais como tolerar peties gigantes, repetitivas, que tornam o estilo moroso e maante, vindo de encontro aos interesses perquiridos pelo prprio subscritor do petitrio, embora, s vezes, este no se deixe perceber. Deve o cauteloso peticionrio redigir com conciso, substituindo por sinnimos as palavras repetidas, desmembrando perodos longos, procurando construir frases curtas, com objetividade.

    Mais uma vez, vem baila a argcia de Nascimento (1992: 238), segundo o qual a repe-tio, quer das ideias, quer de formas, gera a monotonia. Esta leva nosso leitor forado, o juiz, a desinteressar-se da leitura. O abade Th. Moreaux demonstrou cientificamente que as repeties tornam o leitor desinteressado da leitura (Science et Style).

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    sabido que a frase longa um labirinto de ideias vrias que, desordenadamente, ex-pem-se sem sequncia definida, frustrando-se no mister comunicativo. O cipoal de informaes no leva a lugar qualquer, pois o leitor se cansa com facilidade ao acompa-nhar longos raciocnios sem pausas. A frase deve conter uma ideia principal e clara, que a norteie, em uma relao de causa-consequncia, adio, comparao etc., no se po-dendo servir como veculo de perodos prolixos e pouco ntidos ao leitor.

    A prolixidade vcio que se ope conciso visvel em trs comportamentos distin-tos do anunciante:

    y nasce, pois, da necessidade de enfatizar alguma ideia ou fato do texto. Esse desejo pro-voca no redator desavisado a tentao da repetio desnecessria da mensagem e, com isso, gera confuso, em vez de clareza;

    y surge no intuito de alongar o texto, preenchendo o trabalho com ideias que sobejam, frases caudalosas e dados inteis. Dessa forma, procede-se a um preenchimento inten-cional de espao e, necessariamente, ocupa-se o texto com menos informao e mais papel. Este excesso facilmente perceptvel, servindo para retirar a autoridade da men-sagem pretendida. Reitere-se que uma petio, em juzo, no mais ou menos persuasiva se ocupar maior ou menor espao, se contiver mais ou menos caracteres digitados. A qualidade do petitrio no se mostra pela quantidade de vocbulos, mas pela pujana terico-jurdica e pela vitalidade gramatical do subscritor;

    y desponta na falsa impresso de que o texto confeccionado com frases maiores traduzir maior conhecimento do elaborador, impressionando o destinatrio com a obscuridade. O desejo de causar impresso denota uma extravagncia desnecessria, alm de provo-car um natural afastamento do leitor, diante do eixo temtico proposto.

    Nessa esteira, segue com propriedade Rodrguez (2000: 4):

    Tem-se aconselhado aos operadores do Direito que sejam cada vez menos prolixos em suas exposies, e que, portanto, faam peties mais sucintas, objetivas, sem grandes delongas na exposio. (...) Na verdade, escrever bem escrever com clareza, ordem e mtodo, sem precisar delongar-se em ideias de pouca relevncia para o resultado final da demanda. Um dos fatores pelo qual se constri o bom texto a seleo dos argumentos e elementos a serem enunciados, ou seja, a capacidade de delongar-se naquilo que mais importante, e ser sucinto quanto ao que , no contexto, perifrico.

    E prossegue o renomado autor (Rodrguez, 2000: 357):

    A frase deve ter uma ideia completa, sem grandes excessos. que todo texto tem um ritmo que deve ser estabelecido e observado. Isso no significa dizer que uma petio deve-se preocupar com o tamanho das oraes como aspecto mais relevante de sua enunciao, mas sim que um modo de tornar a leitura agradvel e clara,

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    principalmente nos textos mais longos, manter frases de tamanho mdio, que

    enunciem uma ideia completa, sem prolongar-se em detalhes.

    Portanto, deve-se buscar transmitir o mximo de ideias com o mnimo de palavras, evitando a enrolao. Pense que, quase sempre, o leitor do seu texto tem pouco tempo e quase nenhuma pacincia disponvel. A linguagem direta, sem rebuscamentos e exces-so de adjetivaes, comunica melhor.

    No desnecessrio salientar que, em concursos pblicos, nos quais se exige a elabora-o de peas escritas, deve o examinando procurar se valer de um rascunho, para, em ulterior momento, transpor as suas ideias para as pginas de correo definitiva. Reco-menda-se que, depois de escrever na folha de rascunho tudo a que tinha direito, a, sim, ser o momento de enxugar o texto, melhorando frases, cortando outras, corrigindo grafias etc. E aparecer, tambm, a grande oportunidade de eliminar detalhamentos desnecessrios que, alm de prejudicar o ritmo do texto, demonstram falta de confiana no que o anunciante escreveu anteriormente.

    Segue um retumbante exemplo, em um pedido de petio, que denota a falta de conci-so do operador do Direito:

    Protesta, assim, o reconvinte pela produo de todos os meios de prova permitidos em Direito, sem exceo, especialmente, depoimentos pessoais, por parte da reconvin-da, por parte de funcionrios, por parte da Autoridade Policial e Investigadores, de vi-zinhos, de testemunhas outras, da juntada de novos documentos, prova pericial, expe-dio de ofcios e tantas quantas necessrias no decorrer da instruo processual.

    Na verdade, o pedido poderia ter sido bem mais simples:2

    Protesta, assim, o reconvinte pela produo de todos os meios de prova permitidos em Direito, incluindo2 depoimentos pessoais, a juntada de novos documentos, pro-vas periciais e outras que se fizerem necessrias.

    2 Incluindo e Inclusive: no recomendvel o uso do termo inclusive antes da ideia que se diz includa. Note o erro:

    Todos estavam ansiosos com o resultado, inclusive os prprios jurados. Corrigindo:

    Todos estavam ansiosos com o resultado; os prprios jurados, inclusive. Entretanto, correto o emprego da forma incluindo antes da ideia a que se refere:

    Todos estavam ansiosos com o resultado, incluindo os prprios jurados.

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    Nesse rumo, observe, nas frases adiante, como possvel aperfeioar frases, substituin-do palavras ou expresses por outras mais fortes e adequadas, no intuito de conferir maior expressividade ideia a ser transmitida. Vamos a elas:

    1. Nesta lista h o seu nome.

    Prefira: Nesta lista figura o seu nome.

    2. Devemos ter esperana.

    Prefira: Devemos alimentar esperana.

    3. Ter boa reputao.

    Prefira: Gozar de boa reputao.

    4. Ele teve uma ideia genial.

    Prefira: Ele concebeu uma ideia genial.

    5. Ele s diz seus desgostos ao amigo.

    Prefira: Ele s confia seus desgostos ao amigo.

    Alm disso, recomenda-se que, ao enxugar o texto, proceda o cultor da boa linguagem supresso de termos, como coisa ou pronomes demonstrativos em demasia.

    Exemplos:

    1. A vaidade coisa deplorvel.

    Substitua coisa por vcio.

    2. A guerra uma coisa terrvel.

    Substitua coisa por flagelo.

    3. Ele pratica a filantropia; isso o torna um bom homem.

    Substitua isso por essa virtude.

    Nesse rumo, vital elucidar que a conciso passa por tticas simples, s vezes imper-ceptveis por sua singeleza. Nosso lxico3 farto de termos variados. Podemos usar

    3 H gramticos que no estabelecem diferenas entre as palavras lxico, vocabulrio e dicionrio. o caso de Sousa da Silveira (1972: 2), para quem o lxico de uma lngua o conjunto das palavras dessa lngua: o seu vocabulrio, o seu dicionrio. No entanto, os linguistas veem diferenas semnticas entre os vocbulos. Observe, a propsito, os traos distintivos colhidos da obra de Damio e Henriques (2000: 37-38): lxico reserva-se lngua como um conjunto sistmico posto ao usurio; um inventrio aberto, com nmero in-finito de palavras, podendo ser sempre acrescido e enriquecido no s pelo surgimento de novos vocbulos, mas tambm por mudanas de sentidos dos j existentes na lngua. Esse conjunto de palavras pode ser or-ganizado, por ordem alfabtica, indicando nos verbetes o significado. D-se a ele o nome de dicionrio: o

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    vontade a substituio, na busca da objetividade da transmisso do pensamento. A pro-psito, veja que o advrbio de intensidade muito , frequentemente, desnecessrio, podendo ser substitudo, como se notar nos exemplos a seguir:

    1. gua muito clara.

    Troque por: gua lmpida.

    2. Estilo muito conciso.

    Troque por: Estilo lacnico.

    Nas peas forenses, comum encontrarmos expresses suprfluas, cuja simples supresso importar em aperfeioamento da frase. Observe os exemplos a seguir:

    1. A prova pericial realizada concluiu que o resultado era inbil.

    Enxugando: A prova pericial concluiu que o resultado era inbil.

    2. As testemunhas ouvidas deixam claro que o autor era inimputvel.

    Enxugando: As testemunhas deixam claro que o autor era inimputvel.

    3. O acusado foi citado por edital, por no ter sido encontrado pessoalmente.

    Enxugando: O acusado foi citado por edital, por no ter sido encontrado.

    Na linguagem forense, deve-se evitar o uso excessivo de advrbios de modo. O exemplo tpico ocorre com a forma brevemente produto da falta de tirocnio de quem em-prega ou tem coragem de faz-lo. Evite brevemente, devendo o termo ser substitudo por sucintamente. Vamos conhecer outros dislates:

    1. Possui um imvel precariamente...

    Corrigindo: Possui um imvel a ttulo precrio.

    2. Tocantemente medida de segurana...

    Corrigindo: No tocante medida de segurana...

    3. O crdito foi apresentado retardatariamente...

    Corrigindo: O credor se habilitou na recuperao judicial como retardatrio.

    elemento concreto da lngua e possui grande mobilidade, apesar de no registrar ele todas as possibilidades lexicais. Vocabulrio, por sua vez, o uso do falante, a seleo e o emprego de palavras pertencentes ao lxico para realizar a comunicao humana. Explica-se: Joo brasileiro, natural do Rio Grande do Sul, ad-vogado. Jos tambm brasileiro, natural do Rio Grande do Norte, mdico. Ambos partilham o mesmo lxi-co portugus (lngua), mas cada qual possui seu vocabulrio prprio, um repertrio fechado, sujeito a uma srie de indicadores socioculturais (destaques nossos).

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    4. Ele se mudou para aquela cidade e pretende montar localmente seu negcio.

    Corrigindo: Ele se mudou para aquela cidade, onde pretende montar seu negcio.

    5. Contra essa deciso, o autor agravou retidamente.Corrigindo: Contra essa deciso, o autor interps agravo retido.

    6. Eles foram editaliciamente citados.Corrigindo: Eles foram citados por edital.

    7. Tangentemente a esse caso...Corrigindo: No que tange a esse caso...

    Por fim, o abuso de artigos indefinidos pode sacrificar a conciso do texto. Observe a arguta observao de Cegalla (1999: 37):

    Evite-se o uso dos artigos indefinidos sempre que desnecessrios. Nos exemplos

    seguintes, no passam de recheios: Ela ainda guarda um certo ressentimento

    contra o ex-namorado. / Um tal gesto digno de nossos aplausos. / O homem

    tinha uma cara de poucos amigos. / (...) Agora ele goza de uma tima sade

    (destaques nossos).

    Portanto, de crucial importncia a elaborao de um texto conciso, que pode ser al-canado mediante a utilizao das tticas aqui ofertadas e de um treino constante.

    3.2.3. Clareza: esse atributo a limpidez de pensamento e a simplicidade da forma; ope-se obscuridade. A clareza se evidencia na exteriorizao cristalina do pensar, da vontade e dos desejos. Trata-se de virtude essencial da comunicao, e seu oposto a obscuridade e a ambiguidade (ou anfibologia) vcio de linguagem que consiste em deixar uma frase com mais de um sentido.

    Nascimento (1992: 3-4) preconiza que a clareza deve ser adquirida por meio do estudo do sentido das palavras (semntica), de sua colocao e da ordem das oraes no pero-do. Os romanos diziam que, quando o texto claro, cessa a interpretao (In claris interpretato cessat). at um princpio de hermenutica.

    Obtm-se a clareza com auxlio da conciso, que, a ela associada, permite lastrear o texto com vocbulos de alta frequncia ou inteligveis ao receptor comum, com pero-dos curtos e ordem direta. Nesse rumo, Shenstone assevera: Frases longas numa com-posio curta so como mveis grandes numa casa pequena.

    Como j se tratou em tpicos precedentes, h certos profissionais que se esmeram na linguagem rebuscada, quase incompreensvel, na v iluso de que com isso impressio-nam. Ledo engano. No perca de vista a adequao do nvel de linguagem ao pblico a

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    quem se dirige: conforme os destinatrios, voc precisar empregar linguagem acessvel, fazendo-se entender. O ideal o falante ser poliglota na sua prpria lngua, consoante os lcidos dizeres de Evanildo Bechara.

    guisa de reforo, bom enfatizar que, alm da prolixidade, comum a falta de clare-za dos concursandos, quando elaboram as respostas s questes dissertativas de concur-sos pblicos. Recomenda-se, nesse caso e, mais uma vez , que o concursando recorra, em primeiro lugar, ao uso do rascunho e, aps rever o texto, manifeste suas ideias com a clareza suficente. Por essa razo, o treino fundamental. Alis, se o xito na empreitada requer tcnica, mais verdadeiro afirmar que ele no prescinde da apurao da tcnica pelo incessante treino. Nesse sentido, vale mencionar as precisas palavras de Rodrguez (2000: 1-2):

    Mas engana-se aquele que entende que o estudo do advogado deve-se cingir s

    questes jurdicas e que, embora reconhea os outros aspectos que complementam

    sua atividade, a exemplo da boa redao, prefere pensar sejam estes adquiridos,

    somente, com a prtica e a experincia diria. Ou, ento, que nasam com a

    ndole de cada um, com um dom inerente personalidade. Nessa linha

    equivocada de pensamento, a escrita, longe de ser uma tcnica, consistiria em

    uma arte, uma virtude inerente quele que, por alguma desconhecida razo

    idiossincrtica, consegue expor no papel suas ideias com clareza e, assim,

    persuadir aquele a quem as suas peties so dirigidas. Redigir exteriorizar, em

    palavras, ideias, em ordem e mtodo. Para nosso objetivo, aqui, significa expor

    fatos de forma clara, bem como combinar conceitos e ideias, com o objetivo de

    persuadir. E a competncia para faz-lo no , nitidamente, uma questo de

    arte, mas de tcnica apurada.

    Frise-se, em tempo, que, em prol da clareza, a caligrafia4 fundamental. Claro que, naquelas provas que requerem respostas manuscritas as provas dissertativas de concur-sos, por exemplo , no se pretende que o examinando lapide uma obra de arte, mas no se pode esquecer de que a letra o veculo por meio do qual o anunciante se apre-senta... e apresenta os seus pensamentos. A tolerncia do examinador, em provas escri-tas, variar com a maior ou menor facilidade de entender o texto que for elaborado. Todavia, sempre bom enfatizar: caligrafia sem correo no h prosperar-se.

    4 Evite usar a expresso bela caligrafia, uma vez que a concepo de belo j se encontra inserida no vocbu-lo caligrafia, de origem grega, que quer dizer, justamente, bela escrita. Logo, a expresso citada indica uma redundncia inadequada. Prefira, pois, bela escrita, bonita letra ou outras formas.

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    Exemplo:

    A doutrina do ilustre doutrinador vem de encontro aos argumentos expendidos pelo Autor, o que confirma a robustez da tese defendida.

    Na verdade, se h inteno de corroborar a tese defendida com a doutrina do ilustre fu-lano, beltrano ou sicrano, melhor que ela venha ao encontro de, e no de encontro a..., a no ser que se queira desdizer o que se disse... Portanto, corrigindo com clareza:

    A doutrina do ilustre doutrinador vem ao encontro dos argumentos expendidos pelo Autor, o que confirma a robustez da tese defendida.

    Observe, ainda, o trecho abaixo e, com esforo, tente entender a mensagem que se quis transmitir:

    V-se que no h nos autos prova de que a Reclamada deu causa ao suposto dano para que a Autora possa ter seu pedido atendido, falecendo a mesma a tutela judicial perseguida.

    Pergunta-se: falecendo quem? O qu? Quem a mesma? A perseguida ou a falecida?... S rindo ou, quem sabe, chorando... Quanta falta de clareza e simplicidade!

    Veja, tambm, nesse rumo, a propaganda veiculada por uma grande rede de lojas, com o propsito de atrair clientes:

    Seguro contra desemprego grtis.

    Pensando bem, no seria melhor escrever Seguro grtis contra o desemprego? Note que coube ao leitor uma funo que no lhe compete decifrar a propaganda , haja vista no se saber se grtis o desemprego ou o seguro. Veja o prejuzo que a falta de clareza pode provocar.

    Ainda ilustrando o vcio, insta mencionar o exemplo abaixo:

    No vou demitir funcionrios nomeados pelo ex-ministro.

    Uma pergunta se faz urgente: ex-ministro pode nomear algum? Melhor se haveria o ela-borador da prola se empregasse o vocbulo ento. Observe como uma simples ttica pode aclarar o sentido a transmitir: No vou demitir funcionrios nomeados pelo ento ministro.

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    E podemos citar mais exemplos:

    Veja este: comum ouvirmos a seguinte notcia lacnica sobre o estado de sade de algum que se encontra hospitalizado:

    Seu estado de sade estvel.

    Pergunta-se: estvel?... Isso bom ou ruim, pois quem possui a dvida deseja saber exatamen-te isso. Observe que o adjetivo estvel no claramente satisfatrio. Com efeito, estvel significa sem alterao, devendo se referir a certo parmetro ou quadro comparativo. Se on-tem o paciente estava mal e hoje continua estvel, pode saber que seu estado de sade no bom. No entanto, se estava bem e continua estvel, pode-se afirmar que seu estado clnico bom. Esse mais um exemplo de como os nomes e signos precisam ser transmitidos com clareza. por isso que Celso Cunha defende que ser claro uma gentileza com o leitor.

    A falta de clareza se mostra patente nas oraes a seguir expostas. Aprecie, tentando aclar-las:

    1. Haver um seminrio sobre homossexualidade na Cmara dos deputados.Todos sabem que o seminrio ser na Cmara, porm a dvida paira: o tema do semi-nrio homossexualidade ou homossexualidade na Cmara? Caso se confirme este ltimo, no seria seminrio, mas discriminao sexual, no acha? Quanta ambiguidade!

    Vamos consertar, com uma simples inverso5 de termos: Na Cmara dos Deputados, haver um seminrio sobre homossexualidade.

    2. o presidente receber o cardeal fortalecido.Quem est fortalecido? O cardeal ou o presidente? Seria melhor que se construsse: Fortalecido, o presidente receber o cardeal. Veja quo poderoso o milagre provo-cado por uma simples inverso! Todavia, h oraes to obscuras que a singela inver-so no suficiente para a clarificao do contexto. Deve-se, ento, proceder a uma faxina mais minuciosa.

    3. Mdico defende ambulatrio de denncia.Sabe-se que existem ambulatrios ou hospital para atendimento de enfermos que se podem locomover (Aurlio), mas um ambulatrio de denncia novidade! E, infe-lizmente, o que parece anunciar ao ouvinte a distorcida frase. Vamos proceder correo: Mdico rebate denncia contra ambulatrio.

    5 Exemplo retumbante de inverso da ordem direta da orao o exrdio de nosso Hino Nacional. Se o fa-moso trecho inicial houvesse sido composto em ordem direta, teramos: As margens plcidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo herico. Muito diferente , como se sabe, o trecho no original. Trata-se de mera questo de estilo.

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    4. no justo esquecer que famlias inteiras foram expulsas dos locais onde viviam h dcadas e outras acabaram vendendo casas construdas com os maiores sacrifcios durante anos por qualquer preo para se livrar dos riscos e dos estragos provocados pelos tiroteios constantes (Cegalla, 1999: 129).O problema est em descobrir se as casas que foram construdas a qualquer preo ou se as casas foram vendidas a qualquer preo. Alm disso, a falta das vrgulas contribui para o desconforto provocado na deteco do sentido querido, alm de outras falhas cometidas, como a ausncia da conjuno que antes da palavra ou-tras. Portanto, vamos corrigir, conferindo clareza ao texto: No justo esquecer que famlias inteiras foram expulsas dos locais onde viviam h dcadas(,) e (que) outras acabaram vendendo(,) (por qualquer preo)(,) casas construdas com os maiores sacrif-cios durante anos(,) para se livrar(em) dos riscos e dos estragos provocados pelos tiroteios constantes.

    5. Mando-lhe um co pelo meu motorista que tem as orelhas cortadas e marcas nas patas.

    Questiona-se: que motorista esse com patas...e marcas nelas, alm de orelhas cor-tadas? Seria um tanto assustador, no mesmo? Confesso que, particularmente, pre-firo guiar meu carro sozinho... Seria melhor afirmar: Pelo meu motorista, mando-lhe um co que tem as orelhas cortadas e marcas nas patas.

    6. Apesar da irritao com a excluso do ministrio das discusses, o contedo da me-dida no foi mal recebida no Ministrio 6.

    Observe que o lapso cometido pelo ilustre jornalista foi multifacetado: titubeou na clareza, com a m colocao do complemento nominal das discusses, continuou laborando em erro na concordncia nominal (usou recebida, em vez de recebido) e, por fim, escorregou na ortografia, ao grafar ministrio com inicial minscula. Por fim, o tal ministrio das discusses hilrio! S conseguiremos justificar tal expresso no provvel intuito jornalstico de provocar risos no leitor; caso contrrio, sinal de total falta de percepo do razovel.

    7. o ministro da Fazenda qualificou os compradores de motos que pagavam gio aos revendedores de ignorantes7.A sentena de elaborao ousada: revendedores de ignorantes? E o que pior: no se trata de vendedores, mas de revendedores! Isso, certamente, vai gerar uma dupla venda... e uma dupla indagao: o que se deu, verdadeiramente? Venda ou revenda de ignorantes? Confesso que no tenho interesse na compra, nem mesmo

    6 Jornal do Brasil, de 30-3-1995, apud Cegalla, 1999, p. 129.

    7 Jornal do Brasil, de 13-2-1996, apud Cegalla, 1999, p. 129.

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    em liquidao... E voc, teria? Note que a ambiguidade e a falta de clareza podem levar o elaborador da mensagem ao ridculo. Melhor se houvera o emissor se tivesse afirmado: O ministro da Fazenda qualificou de ignorantes os compradores de motos que pagavam gio aos revendedores.

    E Rodrguez (2000: 18) nos brinda com um oportuno exemplo que evidencia a ocor-rncia da ambiguidade:

    Como a fuga foi negada, exigiu a presena da imprensa, do juiz corregedor Maurcio Lemos Porto Alves e de seu pai, Osias Hermes Alves.

    Segundo o renomado autor, no modo como foi escrita, a frase traz uma ambiguidade. Perceba-se que no possvel identificar se Osias pai do preso ou pai do juiz corregedor. O pro-nome seu, no caso, pode fazer referncia tanto ao fugitivo quanto ao juiz corregedor, termo este que lhe imediatamente anterior.

    Outras vezes, a falta de clareza se d em virtude da m ordenao da frase. Alguns exem-plos a seguir poro em evidncia o defeito e a sua correo:

    1. Em que pese a concordncia do ru, no pode ser o acordo entabulado entre as partes homologado. Ordenando: Em que pese a concordncia do ru, no pode ser homologado o acordo entabulado entre as partes.

    2. Na avaliao de seus ministros, a estratgia contra as greves adotada foi um sucesso. Ordenando: Na avaliao de seus ministros, a estratgia adotada contra as greves foi um sucesso.

    3. As provas de que o acusado tenha abordado a vtima, encostando em suas costas um punhal e tapando-lhe a boca, obrigando-a a entregar-lhe um par de brincos e um relgio, so exuberantes. Ordenando: So exuberantes as provas de que o acusado abordou a vtima, encostou--lhe nas costas um punhal e, tapando-lhe a boca, a obrigou a lhe entregar um par de brincos e um relgio.

    relevante destacar o mau uso de adjetivos e locues adjetivas em petitrios, quer pela impropriedade, quer pela desarmonia textual. H que se notar que o uso de locues adjetivas deve ocorrer em virtude da falta de adjetivo adequado, evitando que se sacri-fiquem o estilo e a harmonia.

    Um exemplo retumbante de inadequao dessas expresses ocorre com a expresso ma-terialidade delitiva locuo inapropriada, por ser evidente que a materialidade no pode ser qualificada de delitiva; o fato que pode ser delituoso. Portanto, substitua

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    por materialidade do fato delituoso. A seguir, observe alguns pitorescos exemplos de impropriedade no uso dos adjetivos:

    1. Laudo avaliatrio.Prefira: Laudo de avaliao.

    2. Anotao no documento laboral.Prefira: Anotao da caderneta de trabalho.

    3. Testemunhas acusatrias.Prefira: Testemunhas arroladas pela acusao.

    4. Processar e julgar o pedido falencial.Prefira: Processar e julgar o pedido de falncia / pedido falimentar.

    5. Irresignado com o auto flagrancial.Prefira: Irresignado com o auto de priso em flagrante.

    6. O depoimento vitimrio.Prefira: O depoimento da vtima.

    7. Apreenderam dois pacotes canbicos.Prefira: Apreenderam dois pacotes de maconha.

    8. Insuficincia probatria.Prefira: Insuficincia de provas.

    9. Acolho a manifestao ministerial.Prefira: Acolho a manifestao do Ministrio Pblico.

    10. Depoimentos testemunhais.Prefira: Depoimentos da testemunha.

    11. Diploma do Anonimato.Prefira: Lei das Sociedades Annimas.

    Insta mencionar, ademais, quo importantes so as palavras e preposies apropriadas para a clareza da mensagem. comum encontrarmos nos rtulos dos remdios os dizeres:

    Ao persistirem os sintomas, consulte o mdico.

    Com o tempo, tal enunciado foi modificado para: A persistirem os sintomas, consulte o mdico. Da, pergunta-se: o que a mudana de uma letra pode ter significado, quan-to clareza do enunciado? Vejamos. Nos dizeres Ao persistirem os sintomas, consulte

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    o mdico, evidencia-se o aspecto temporal, isto , quando persistirem os sintomas, deve o doente procurar o mdico. O mesmo raciocnio se nota em enunciados, como: Ao sair, apague a luz; Ao sair, leve seus pertences. Por outro lado, o enunciado A persistirem os sintomas, consulte o mdico transmite uma ideia de condio, isto , se persistirem os sintomas, deve o doente procurar o mdico.

    A propsito, o mesmo entendimento se nota nas frases a seguir explicitadas:

    A continuar assim, prefiro desistir (ou seja: Se continuar assim, prefiro de-sistir).

    A desaparecer o envolvido, tudo dar errado (ou seja: Se desaparecer o envol-vido, tudo dar errado).

    ... a no sermos ns, j teria voltado para casa (Machado de Assis, abri-lhantando a sentena com o sentido de ... se no fssemos ns, j teria voltado para casa).

    A Lei Complementar n. 95, de 26-2-1998, sob os efeitos do art. 59 da Constituio Federal, estabelece regras para elaborao, redao e consolidao de uma lei. Em seu art. 11, inciso I, tratando da clareza e tambm do preciosismo , assim dispe:

    Art. 11. As disposies normativas sero redigidas com clareza, preciso e ordem lgica, observadas, para esse propsito, as seguintes normas:

    I para a obteno de clareza:

    a) usar as palavras e as expresses em seu sentido comum, salvo quando a norma versar sobre assunto tcnico, hiptese em que se empregar a no-menclatura prpria da rea em que se esteja legislando;

    b) usar frases curtas e concisas;

    c) construir as oraes na ordem direta, evitando preciosismo, neologismo e adjetivaes dispensveis;

    d) buscar a uniformidade do tempo verbal em todo o texto das normas legais, dando preferncia ao tempo presente ou ao futuro simples do presente;

    e) usar os recursos de pontuao de forma judiciosa, evitando os abusos de carter estilstico (destaques nossos).

    Acerca do preciosismo, mencionado na alnea c do inciso I do art. 11, sabe-se que seu uso prejudica o propsito daquele que quer se comunicar com clareza, e o legislador deve

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    sempre evit-lo. No trabalho jurdico do dia a dia, tambm, crucial evitar a linguagem muito rebuscada, principalmente quando o discurso inteiro no a sustenta. Em cada item a seguir, existe ao menos um termo que caracteriza preciosismo. Observe as frases, identificando-o:

    O homicida dizia sofrer ameaas de morte por seus infensos do bairro (in-fensos).

    Tais querelas judiciais s tm por consequncia mangrar o desenvolvimen-to da sociedade (mangrar).

    Quer o acusado vestir-se com o cretone da primariedade, a fim de enganar os ouvintes (cretone).

    So Paulo no se livra da rcova de migrantes que vm aqui trabalhar du-ramente (rcova).

    O advogado da parte ex adversa apresentou-se recru em matria jurdica (recru).

    O excesso de recursos que caracteriza a tranquibrnia que forma a azoada corriqueira no srio trabalho do Poder Judicirio (tranquibrnia, azoada).

    O ru pretende a peragrao da linha processual, mas seus argumentos so totalmente baldos de maior razo (peragrao, baldos).

    A acusao enjambra-se em seus prprios fundamentos (enjambra-se).

    A cavilao e o dobrez do ru ressaltam em seu prprio depoimento, mar-cado pela fluidez do comeo ao fim (cavilao, dobrez).

    O banco concedeu emprstimos a qualquer peralvilho janota que lhe apa-recesse frente (peralvilho, janota).

    A operao delicada, por conta da trimegista quantia que envolve a venda imobiliria (trimegista).

    No fosse a velutina maviosidade da atual mulher, com quem vive o autor, jamais superaria o tantlico sacrifcio de no poder ver seus filhos (veluti-na, maviosidade, tantlico).

    A vtima passou anos macambzio e ensimesmado, enquanto o inimigo saa s ruas a festejar longnime e prazenteiro (macambzio, ensimesma-do, longnime, prazenteiro).

    Sua ficha de antecedentes revela quo furbesco seu comportamento no dia a dia (furbesco).

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    O tema proposto ser matria cevatcia para os operadores do Direito, no ano que se aproxima (cevatcia).

    Estes requerentes procuram ser lhanos e polidos no trato, ao contrrio da parte adversa, que tem o hbito de emborrascar os humores de todos os partcipes, tornando demasiado dissmeis as formas de atuao das partes no decorrer da lide (lhanos, emborrascar, dissmeis).

    Em tempo, ser possvel ao curioso leitor traduzir os preciosismos supramencionados, consultando o nosso pequeno dicionrio disposto ao final desta obra. Boa sorte!

    3.2.4. Preciso: refere-se escolha do termo prprio, da palavra8 exata, do conheci-mento do vocabulrio. Na construo do texto, fundamental colocar a palavra certa no lugar devido.

    Para Oliveira (2001: 9), a utilizao de vocbulos semanticamente justos confere ao texto no apenas a especificidade inerente ao padro culto do idioma, como tambm outorga-lhe riqueza de expresso, alm da ampliao imperativa do vocabulrio.

    Na mesma direo, segue Nascimento (1992: 4), para quem a preciso requer o conhe-cimento dos termos e de seu valor. Um dicionrio de sinnimos, um dicionrio anal-gico, o aprendizado de figuras, o estudo de expresses usadas em direito resolvem o problema da preciso.

    8 Costuma-se empregar o termo palavra como sinnimo de vocbulo. Na verdade, a lingustica estabelece traos distintivos acerca dos termos, atribuindo palavra o aspecto semntico e ao vocbulo, apenas um sentido eufnico. Portanto, fila seria uma palavra; fi-la (verbo + pronome) seria um vocbulo com duas palavras. O problema da distino enfrent-la luz de seu carter reducionista, uma vez que toda palavra ser um vocbulo, se apresentada sob uma forma fnica. No h como dissociar o conceito de palavra do som, at porque as palavras so signos lingusticos, compostos de elementos fnicos, determi-nantes de contextos vrios, a depender da situao posta. Note a explicao didtica de Rodrguez (2000: 27-28) acerca das definies de palavra, idioma, vocbulo, termo, lxico e vocabulrio: Se pretendemos dar uma noo completa de texto, preciso que comecemos, sistematicamente, pelo mais simples: a palavra. O texto formado de palavras que se combinam, assumindo um sentido nico e preciso. Palavra, ento, parte da linguagem, podendo ser constituda por sons ou por representao desses mesmos sons, servindo para expressar ideias. O conjunto de palavras prprias de um povo chama-se idioma ou lngua. A palavra, com conjunto de letras que representam sons, chamada vocbulo. Como representao de uma ideia, chama-se termo. Dessa forma, a palavra ru um vocbulo enquanto composta pelas letras r-e-u, e um termo, enquanto encerra a ideia de componente do polo passivo do processo. Segundo o professor Napoleo Mendes de Almeida, in Gra-mtica Metdica da Lngua Portuguesa, Editora Saraiva, 40 edio, 1995, 5 a 12, conjunto de palavras denominado vocabulrio e o conjunto de palavras dispostas em ordem alfabtica denomina-se lxico ou dicio-nrio. Quando se diz que algum tem bom vocabulrio, significa afirmar-se que tem a sua disposio um gran-de conjunto de palavras que lhe servem para expressar ideias. Se as palavras so parte do modo de expresso de ideias, fica bastante claro que, quanto maior o vocabulrio que uma pessoa conhea, maiores so as possibilida-des de exteriorizar suas ideias com competncia. Portanto, a aquisio de um bom vocabulrio essencial para a escrita e para a construo do texto (destaques nossos).

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    A expresso precisa importante para o leitor atingir o objetivo de comunicar exata-mente o que pretende e evitar mal-entendidos. A prtica constante da leitura e da escri-ta e exerccios com sinnimos ajudam a desenvolver a preciso.

    O contrrio da comunicao exata a impreciso ou mesmo a obscuridade, muitas vezes causadas pela inadequao vocabular. A impropriedade dos termos torna a linguagem fluida9, imprecisa e obscura. Exemplo:

    O relevante fundamen