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STADIUM, BARUERI KÖNIGSBERGER VANNUCCHI STADIUM, BARUERI KÖNIGSBERGER VANNUCCHI ENTREVISTA: ERMINIA MARICATO TECNOLOGIA & MATERIAIS: ELEVADORES E ESCADAS ROLANTES ERMINIA MARICATO GILBERTO BELLEZA KÖNIGSBERGER VANNUCCHI PAULO BASTOS BRUNETE FRACCAROLI NORMAN FOSTER INTERNACIONAL: CITY HALL, EM LONDRES, DE FOSTER & PARTNERS BRASIL: RESTAURO DA CATEDRAL DE SÃO PAULO ANO 18 N O 107 FEVEREIRO 2003 R$ 12,50 107 fevereiro 2003

Arquitetura e Urbanismo 107

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Page 1: Arquitetura e Urbanismo 107

STADIUM, BARUERIKÖNIGSBERGER VANNUCCHISTADIUM, BARUERIKÖNIGSBERGER VANNUCCHI

ENTREVISTA: ERMINIA MARICATO

TECNOLOGIA & MATERIAIS:

ELEVADORES E ESCADAS ROLANTES

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INTERNACIONAL: CITY HALL, EM LONDRES,

DE FOSTER & PARTNERS

BRASIL: RESTAURO DA CATEDRAL DE SÃO PAULO

ANO 18 NO107

FEVEREIRO 2003

R$ 12,50

107 fevereiro 2003

Page 2: Arquitetura e Urbanismo 107

4 ARQUITETURA&URBANISMO JANEIRO 2003

E D I T O R I A L

UMA ARQUITETAEM BRASÍLIA

Talvez nós possamos mostrar ao governo como

operar melhor por meio de uma melhor arquitetura

”“

Embora seja provável que a população em geral não tenha noção, posto que nunca

foi estimulada a refletir sobre o local onde vive, a criação do Ministério das Cidades

é uma das melhores notícias dos últimos tempos. E melhor ainda foi saber que ao

lado do ministro Olívio Dutra está a professora da FAU-USP e uma das maiores

autoridades em planejamento urbano do País, a arquiteta Erminia Maricato.

Em entrevista à AU, a "vice-ministra", como se auto-intitula, já deixa explícita a

garra com que assumiu a secretaria executiva do ministério do qual foi uma das

principais mentoras. Ao abranger habitação, saneamento e transporte urbano, o

Ministério das Cidades tem como grande objetivo criar um novo sistema nacional

de habitação, promovendo a produção de moradias de forma integrada ao sanea-

mento e ao transporte urbano, "porque ninguém mora só dentro de casa", afirma

Maricato. É claro que esse é um objetivo a médio ou, até mesmo, a longo prazo,

embora algumas ações tenham caráter emergencial, como a interrupção do pro-

cesso de ocupação de áreas de morro, mangues e mananciais. Para a arquiteta,

essa ocupação é considerada uma tragédia. Porém, o Brasil precisa de políticas a

longo prazo, que se estabeleçam e mudem a sociedade, minimizem as diferenças

e a exclusão, acabem com a miséria e detenham a crescente escalada da violência.

E é a própria secretária executiva do Ministério das Cidades quem afirma: "o papel

do arquiteto é central na recuperação de nossas cidades". Você está pronto?

SIMONE CAPOZZI EDITORA

Frank Lloyd Wright

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atto

s

Page 3: Arquitetura e Urbanismo 107

C E N Á R I O

16 ARQUITETURA&URBANISMO FEVEREIRO 2003

Embora os projetos de Daniel Libeskinde do Grupo Think, de Shigeru Ban e Rafael Vinoly, tenham chegado à final, um edifício desenhado porGaudí chegou a desequilibrar a competição entre os propostos paraocupar o lugar das torres do WorldTrade Center, em Nova York. O HotelAttraction foi desenhado pelo arquitetocatalão em 1918 exatamente para o espaço onde, mais de meio séculodepois, foram erguidas as torresgêmeas. Um grupo formado por artistasespanhóis e pelo arquiteto americanoPaul Laffoley quis inscrever o projeto de Gaudí no concurso promovido pela

PROJETO DE GAUDÍ PARA O GROUND ZEROorganização Lower ManhattanDevelopment Corporation (LMDC). O Hotel Attaction teria 360 m de altura,pouco mais baixo, portanto, que o Empire State Building, de 448 m, e seria todo revestido em cerâmica e mármore multicolorido. Setepropostas participaram da competição.Entre elas havia projetos de escritórioscomo Foster and Partners, PetersonLittenberg Architects, Skidmore Owingsand Merrill (SOM) e United Architects,além do dream team formado porRichard Meier, Peter Eisenman e StevenHoll. O programa fornecido pela LMDCàs equipes era o de projetar um símboloimpactante em altura e significância,com espaço para um memorial em homenagem às vítimas do atentado

Daniel Libeskind Grupo Think, de Shigeru Ban e Rafael Vinoly

Richard Meier, Peter Eisenman e Steven Holl

United Architects

SOM Peterson Littenberg Architects Foster and Partners

Page 4: Arquitetura e Urbanismo 107

FEVEREIRO 2003 ARQUITETURA&URBANISMO 17

escolhidas podem ser vistas e comentadas no site da LMDCwww.renewnyc.com. Mais sobre o Hotel Attraction pode ser visto nos sites www.hotelattaction.com e www.gaudi2002.bcn.es

“Torre espacial”. A esfera panorâmicaacomodaria 30 pessoas

Torre de elevadores para a esfera

Segunda galeria

Primeira galeria

Área de exposições

Auditório de teatro e palestras

Sala com mostra sobre a obra

1a a 6a andar: restaurantes

Lobby e recepção

de 11 de setembro de 2001. Para PaulLaffoley o edifício de Gaudí poderiaabrigar o memorial no hall principal, e não precisaria necessariamente ser umhotel, mas poderia tornar-se um centrocomercial ou museu. As sete propostas

Criado em 1918 por Gaudí, o Hotel Attractiondesequilibrou a competição para ocupar o lugar do WTCde Nova York. Os novaiorquinos se entusiasmaram pelaidéia, mas os prédios projetados por Daniel Libeskind e pelo grupo Think acabaram chegando à final

Page 5: Arquitetura e Urbanismo 107

C E N Á R I O

18 ARQUITETURA&URBANISMO FEVEREIRO 2003

Organizada pela revista britânica The Architectural Review epela dinamarquesa d line international, a premiação anual ar+dawards visa homenagear os desconhecidos e jovens arquitetose designers do mundo todo em princípio de carreira. Dentre os700 trabalhos inscritos, 21 receberam menção honrosa eapenas cinco receberam o prêmio, em dinheiro, e um troféudesenhado por Knud Holscher. Em sua 4a edição, o eventoocorreu no dia 28 de novembro de 2002, no Danish DesignCentre, em Copenhague, Dinamarca. Os vencedores foramSean Godsell's, pelo projeto da casa Peninsula House, emVictoria, na Austrália; Archipro Architects, pelo cemitérioCemetery for the Unknown, perto de Hiroshima, no Japão;3LHD, pelo projeto de uma ponte de pedestres MemorialBridge, em Rijeka, na Croácia; Marlon Blackwell pela casaHoneyHouse, na Carolina do Norte, EUA, e Jürgen Mayer H.,pela instalação Stylepark Lounge, em Berlim, na Alemanha.

PREMIAÇÃO INTERNACIONAL REVELA NOVOS TALENTOS

CONCURSO PARA CARTAZDA 5a BIAAs inscrições para o concurso do cartazde divulgação da 5a BIA, BienalInternacional de Arquitetura e Design deSão Paulo, foram prorrogadas para 14 deabril. A Fundação Bienal de São Paulo e oInstituto de Arquitetos do Brasil vão darum prêmio de 20 mil reais ao vencedordo concurso, cujo resultado serádivulgado no dia 25 de abril. "O cartazvencedor vai ser espalhado pelo mundo,o que confere prestígio ao vencedor", dizPedro Cury, curador da mostra. Outranovidade com relação ao evento foi aseleção de 36 universidades – 28brasileiras e 8 estrangeiras – paraparticipar do Concurso Internacional deEscolas de Arquitetura, um dos

segmentos da mostra, que aconteceráentre os dias 14 de setembro e 2 denovembro deste ano, no Pavilhão CiccilloMatarazzo, no Parque Ibirapuera, em São

Paulo. Para obter o regulamento doconcurso e a ficha de inscrição, acesse aossites www.iabsp.org.br,www.vitruvius.com.br ou www.adg.org.br.

foto

s: J

uan

Gu

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Peninsula House

Memorial Bridge

Cemetery for the Unknown

HoneyHouse

Stylepark Lounge

Page 6: Arquitetura e Urbanismo 107

O F I C I N A

22 ARQUITETURA&URBANISMO FEVEREIRO 2003

Curitiba terá novomobiliário urbano O escritório MCA (fone 41 335-0121,e-mail [email protected]), doarquiteto paranaense Manoel Coelho,foi o escolhido para desenhar o novomobiliário urbano da capital do Paraná.Coelho foi contratado pela vencedorada concorrência promovida pelaprefeitura de Curitiba, a Clear ChannelAdshel (www.clearchanneladshel.com.br,fone 21 2220-8220, Rio, e 11 6838-0000, São Paulo), por sua identificaçãocom a cidade. Multinacional de origeminglesa, a Clear Channel Adshel éespecializada em mídia exterior emobiliário urbano. Abrigos de ônibus e

manutenção e grande durabilidade,como aço, alumínio e vidro temperado",diz Coelho. Cerca de 8.500equipamentos devem ser totalmenteinstalados até o final de 2004. Segundoestimativas da Clear Channel Adshel, oinvestimento para a implementação donovo mobiliário será deaproximadamente 15 milhões de dólares.

de táxi, quiosques para venda de florese refrescos e bancas de jornais estãoentre os equipamentos encomendados aCoelho. O escritório também projetoutrês tipos de lixeiras, relógios eletrônicose totens multimídia com terminais decomputadores que forneceminformações turísticas. A equipe deManoel Coelho fez o projeto e osprotótipos das peças. "Além de criar aidentidade visual da cidade,pesquisamos materiais de baixa

Page 7: Arquitetura e Urbanismo 107

FEVEREIRO 2003 ARQUITETURA&URBANISMO 23

Eco-building deKurokawa emCingapuraO centro econômico One-North, nodistrito Buona Vista, Cingapura, está emfase de desenvolvimento para receberindústrias, centros de pesquisa enegócios do setor de Tecnologia daInformação. O arquiteto japonês KishoKurokawa (www.kisho.co.jp, [email protected]) assina o principalprojeto, o conjunto multiuso Technopolis,com três edifícios interligados, de 23 a28 pavimentos, que ocuparão 123 milm². Kurokawa se refere ao conjuntocomo uma "cidade em camadas"porque abrigará residências, escritórios,serviços públicos e comerciais.

1 cobertura: estrutura de viga de aço 2 super laje: cinta de aço de 4 m de altura 3 subestrutura: viga de aço 4 super laje: cinta de aço de 2,5 m de altura 5 super laje: cinta de aço de 4 m de altura 6 super coluna: parede de contenção de

concreto reforçado moldado in loco7 super coluna: de concreto reforçado

moldado in loco8 subestrutura: coluna de aço

As residências estarão nos andares maisaltos, os escritórios nos intermediários.Comércio e serviços ocuparão o térreo e oprimeiro andar. Assim, Kurokawademonstra o conceito de zoneamentovertical de cidades, em oposição aomodelo convencional, horizontal. A altatecnologia tornará o conjunto auto-sustentável – um eco-building, nalinguagem do arquiteto. Painéis no topo

dos edifícios captarão energia solar e todoo lixo será transformado em adubo ecombustível para geradores caseiros. A água servida e a água de chuva irãoabastecer descargas de sanitários e regade plantas. Até mesmo parte do calorgerado pelo corpo humano seráarmazenado para uso do sistema decalefação durante o inverno. A construçãoestará completa até o final de 2004.

1

2

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Page 8: Arquitetura e Urbanismo 107

M A D E I N

24 ARQUITETURA&URBANISMO FEVEREIRO 2003

*Veja endereços no final da revista

PARA DESCANSAR Em diversas cores, sobencomenda, asespreguiçadeiras de alumínioe tela da Linha de Jardimestão à venda na L’Oeil.Cadeiras e mesas para áreasexternas também fazem parteda coleção. MO 52256

MADEIRACERTIFICADAA escrivaninha Ametista,projeto de Etel Carmona, éfeita de madeira violetacertificada pelo FSC, oConselho de Manejo Florestal.Dimensões: 1,20 m decomprimento x 0,50 m delargura x 0,75 m de altura. MO 52254

TAPETE MODULADOConcebido pelos designersLuciana Martins e Gerson deOliveira, o Shortcuts éformado por quadradoscoloridos de 30 cm x 30 cm,vendidos em pacotes com 12,24 ou 48 unidades. MO 52255

MOSAICO MISTOA linha Atelier, da cerâmicaPortobello, é composta porpeças em porcelanatopara composição de mosaicos.A coleção conta com detalhesem madeira e metale é indicada para áreas delazer, banheiros residenciais e piscinas.MO 52328

Page 9: Arquitetura e Urbanismo 107

FEVEREIRO 2003 ARQUITETURA&URBANISMO 25

aU R E S P O N D E escreva para: [email protected]

espessura/peso: 4 mm – 5,5 kg/m²

Alcoa – tel. 0800 159888/ 0800 7023012

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Wallcap

chapa sólida de alumínio

dimensões: 1.250 mm x 3.000 mm

espessura/peso: 1,5 mm – 2,7 kg/m²

Belmetal – tel. (11) 3879 3222

www.belmetal.com.br

[email protected]

SOU ESTUDANTE DE ARQUITETURA E PRECISO SABER MAIS SOBRE SAPATA ISOLADA.

Rafaela Saiter Sperandio, estudante de arquitetura, por e-mail

Segundo o Dicionário Ilustrado de Arquitetura

(Maria Paula Albernaz e Cecília Modesto Lima,

ProEditores), sapata é a parte inferior e mais

larga dos alicerces, fica apoiada nas fundações e

distribui as cargas verticais. Feita de concreto

armado, a sapata faz parte das chamadas

fundações superficiais, rasas ou diretas, e pode

ter várias formas. A sapata isolada é indicada

para alicerce de pilares em obras com cargas

entre 120 t e 130 t. Possuem forma trapezoidal

e suas dimensões dependem da carga que

devem suportar. O engenheiro de fundações

Daniel Rozenbaum ensina que dimensionar

geometricamente as fundações diretas e

determinar seu posicionamento em planta é a

primeira etapa de um projeto. Definida a

execução da sapata isolada, é preciso

determinar a cota de assentamento de apoio.

Fonte: Daniel Rozenbaum, da Fundacta, www.fundacta.com.br

GOSTARIA DE RECEBER INFORMAÇÕES SOBRE UM REVESTIMENTO DE FACHADAS QUE

TEM TEXTURA E COR DE ALUMÍNIO E É APLICADO EM PLACAS. PRECISO DO NOME DO

FABRICANTE, DIMENSÕES DAS PLACAS E FORMA DE COLOCAÇÃO. Roque Samudio Alvarez, por e-mail

Alcan – tel. (11) 4075-6501

www.alcan.com.br

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alumínio composto

dimensões: 1.020 mm, 1.250 mm, 1.575 mm x

5.000 mm

espessura/peso: 4 mm – 4,8 kg/m²

Alusign

chapa única de alumínio

dimensões: 1.250 mm x 3.000 mm

espessura/peso: 1,2 mm – 3,24 kg/m² e 1,5

mm – 4,6 kg/m²

Bond do Brasil – tel. (11) 6915-9800

www.bonddobrasil.com.br

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AAllccooaa

AluRevest

alumínio composto

dimensões: 1,25 m x 3 m ou 1,5 m x 3 m

espessura/peso: 1,5 mm – 4,06 kg/m²

Reynobond

alumínio composto

dimensões: 1,57 m x 4,87 m

Em chapas únicas ou painéis compostos, há

revestimentos para fachadas de diversos

metais, como aço, cobre, titânio e zinco, além

do alumínio. Os painéis compostos têm

planicidade e desempenho termoacústico

superiores aos das chapas únicas ou sólidas.

Também exigem menos estruturação e, por

isso, podem ser empregados em maiores

dimensões. No caso do alumínio, chapas

únicas são uma boa alternativa para compor

a face externa de fachadas ventiladas, ou para

projetos cuja modulação não ultrapasse 1,20 m

x 1,20 m. Quanto ao sistema de fixação, há

três tipos: aparafusados, clicados ou

estruturados – estes, colados com silicone ou

fita adesiva. As edições 104 de AU e 52 de

Téchne trazem reportagens completas sobre

revestimentos metálicos. Números atrasados

podem ser adquiridos pelo tel. 0300 7898812.

Abaixo, algumas opções:

AAllccaann

Alucobond

alumínio composto

dimensões: 1.106 mm, 1.270 mm, 1.524 mm e

1.575 mm x 8.000 mm – comprimento

máximo

relação espessura/peso: 3 mm – 4,5 kg/m², 4

mm – 5,5 kg/m², 6 mm – 7,3 kg/m²

FOTO

: So

fia

Mat

tos

11)) abertura das cavas e lançamento do concreto magro; 22)) confecção da fôrma de madeira; 33)) colocação da armação da sapata e do pilar;

44)) concretar a sapata; 55)) desenformar; 66)) reaterrar.

PPaassssoo aa ppaassssoo ddaa eexxeeccuuççããoo ddee uummaa ssaappaattaa iissoollaaddaa::

1 2 3 4 5 6

Page 10: Arquitetura e Urbanismo 107

GILBERTO BELLEZA CAMPO LIMPO PAULISTA, SP 1998/2002

C A S A

26 ARQUITETURA&URBANISMO FEVEREIRO 2003

Ocliente, proprietário de um

terreno em Campo Limpo

Paulista, interior de São Pau-

lo, queria uma casa de campo

revestida de tijolo aparente.

Uma solicitação bastante simples, mas que

instigou o arquiteto Gilberto Belleza a ela-

borar uma trama original. "Eu queria fugir

da forma convencional de assentamento do

tijolo", conta. Com o desejo do cliente e o

desafio auto-imposto em mente, Belleza

partiu da textura e do desenho do tijolo ver-

TIJOLO POR TIJOLONUM DESENHO LÚDICOUM TRABALHO INTENSO DE PESQUISA, EM ESPECIAL SOBRE A OBRA DO FINLANDÊS ALVAR AALTO, FOI DECISIVO PARA

A CRIAÇÃO DA VOLUMETRIA E A OPÇÃO PELA TEXTURA DO TIJOLINHO APARENTE PARA O REVESTIMENTO E A

ESTRUTURA DESTA CASA DE CAMPO POR VÂNIA SILVA FOTOS SOFIA MATTOS

melho para criar as interessantes volume-

trias da casa.

A principal fonte de pesquisa de Belleza foi

a obra do finlandês Alvar Aalto. Aalto explo-

rou a potencialidade estética do tijolo aparen-

te em obras como a Aalto Summer House,

residência erguida em Muuratsalo, na Fin-

lândia, em 1953. O trabalho dos brasileiros

Joaquim Guedes e Rino Levi também foram

referência para a criação da casa de campo.

Enquanto desenvolvia os desenhos e com-

punha a obra, o arquiteto pensava em como

JOAQUIM GUEDES E RINO LEVI

TAMBÉM FORAM REFERÊNCIA

PARA ESTA OBRA, CUJA

MODULAÇÃO FOI BASEADA

NAS PROPORÇÕES DO TIJOLO

elevação nordeste

Page 11: Arquitetura e Urbanismo 107

FEVEREIRO 2003 ARQUITETURA&URBANISMO 27

A casa foi implantada no fundo do terreno para que a frente recebesseo lazer. Assim, foi possível aproveitar o aclive natural para garantir a melhor vista a partir dos ambientes sociais. Abaixo, a luz naturalinvade a área da lareira através das grandes aberturas e transparências

Page 12: Arquitetura e Urbanismo 107

superior

1 terraço 1 descoberto2 biblioteca3 quarto4 banheiro5 suíte

1 3 43 5

1

GILBERTO BELLEZA CAMPO LIMPO PAULISTA, SP 1998/2002

C A S A

28 ARQUITETURA&URBANISMO FEVEREIRO 2003

valorizar as belas visuais que se abrem a par-

tir do ponto mais alto do terreno, de 4.300

m². Caixilhos amplos, desenhados pela equi-

pe de Belleza, permitem um ótimo aprovei-

tamento da paisagem a partir dos dois pavi-

mentos da residência. Um declive de cerca de

3 m de altura separa a casa da área da pisci-

na e churrasqueira. O arquiteto optou por

instalar o lazer na parte da frente do terreno,

como um convite àquilo que sempre foi o

grande propósito da casa: reunir família e

amigos nos finais de semana.

O projeto privilegia também os ambientes

de estar e jantar, instalados em uma vasta

área na porção sudoeste da construção, vol-

tada para a área de lazer. Arejado, o living

recebe iluminação natural através das am-

plas portas de correr envidraçadas e das

transparências dispostas sobre a viga de con-

creto aparente que compõe a estrutura da

edificação. Há ainda a parede de tijolos de

vidro na extremidade do espaço destinada

ao estar.

O living tem pé-direito duplo, o que pro-

porciona a visão do corredor de circulação

do pavimento superior, onde ficam a suíte

principal, dois quartos e a biblioteca,

ambientes que contam com generosas varan-

das descobertas.

A estrutura da residência é toda em con-

creto e tijolo à vista. "Queríamos deixar os

dois materiais aparentes", diz Gilberto

Belleza, "então, quando usados como revesti-

mento, os tijolinhos foram colocados em

espelho. Onde o tijolo compõe a própria

alvenaria, é aparente e disposto na horizon-

tal", explica.

Por ser uma casa de campo, utilizada ape-

nas nos finais de semana, era importante que

a exigência de manutenção fosse baixa. Por

isso, as águas pluviais escorrem dos terraços

por gárgulas que conduzem ao gramado, o

que evita a necessidade de ralos que ofere-

cem risco de entupimento. Os pisos são re-

vestidos com cerâmica de tons terra. Madei-

ra escura cobre os degraus da escada e apare-

ce também no guarda-corpo da circulação

do superior. Essa combinação de materiais

colabora para a rusticidade da obra.

Segundo Gilberto Belleza toda a modula-

ção da casa foi feita a partir das proporções

térreo

elevação sudeste

1 living2 cozinha3 lavanderia4 despensa5 quarto de 5 empregada6 garagem7 quarto8 banheiro

1

78

7 23

4

5

6

Page 13: Arquitetura e Urbanismo 107

FEVEREIRO 2003 ARQUITETURA&URBANISMO 29

*Veja fornecedores e endereços no final da revista

de altura e largura dos tijolos. "A linguagem,

de certa forma, foi decorrente dessa modula-

ção", diz.

Em termos de vegetação, apenas a grama

esmeralda foi especificada para forrar todo

o terreno. Porém, a implantação cuidadosa

conseguiu preservar a mata original, forma-

da por espécies nativas, existente do lado

esquerdo da residência. Essa área verde

ainda ajuda a preservar o microclima nessa

face da casa, que sofre exposição do sol

durante toda a tarde.

FICHA TÉCNICA Arquitetura: Gilberto BellezaEquipe: Luiza Dantas e Tatiana Moreira(estagiária)Estrutura: Traço Técnico – engenheiroWaldir Pomponio

Seja no corredor de circulação do piso superior (foto acima, à esquerda),ou nas fachadas, o jogo elaborado com o tijolo é evidente: assentado na horizontal, compõe a alvenaria, na vertical, é revestimento. Concreto e vidro também têm papéis importantes na obra

Page 14: Arquitetura e Urbanismo 107

30 ARQUITETURA&URBANISMO FEVEREIRO 2003

KÖNIGSBERGER VANNUCCHI BARUERI /SP STADIUM ALPHAVILLE 1999/2002

B R A S I L

O BARROCO NOPÓS-MODERNISMO

PARA CRIAR O COMPLEXO EMPRESARIAL-HOTELEIRO STADIUM ALPHAVILLE,

EM BARUERI, SP, OS ARQUITETOS GIANFRANCO VANNUCCHI E JORGE

KÖNIGSBERGER PRIVILEGIARAM A INTEGRAÇÃO DOS ESPAÇOS PÚBLICOS E

PRIVADOS PELO ARRANJO DE TRÊS EDIFÍCIOS GEMINADOS EM TORNO DE

UMA PRAÇA. FENDAS ENTRE OS PRÉDIOS GARANTEM CERTA TRANSPARÊNCIA

AO BLOCO CÔNCAVO FORMADO PELO CONJUNTO

POR VALENTINA FIGUEROLA FOTOS ARNALDO PAPPALARDO

A volumetria proporciona diferentes perfis ao conjunto formado pelosedifícios: as fachadas se transformam de acordo com ângulo deobservação. Fendas entre os blocos proporcionam transparência esuavizam o impacto visual das edificações geminadas

Page 15: Arquitetura e Urbanismo 107
Page 16: Arquitetura e Urbanismo 107

32 ARQUITETURA&URBANISMO FEVEREIRO 2003

KÖNIGSBERGER VANNUCCHI BARUERI /SP STADIUM ALPHAVILLE 1999/2002

B R A S I L

A IMPLANTAÇÃO FOI O PRINCIPAL

DESAFIO

Uma torre de hotel, uma de flat

e outra de escritórios com-

põem um volume arquite-

tônico único, de 62.550 m2,

que se desenvolve ao redor

de uma grande praça central. A idéia, que,

segundo os arquitetos, foi inspirada na

arquitetura barroca, em que praças são

"abraçadas" por edifícios, venceu um concur-

so fechado promovido pela incorporadora Fal

2, do qual participaram outros dois grandes

escritórios de São Paulo. Para Gianfranco

Vannucchi e Jorge Königsberger, autores do

projeto, o desafio consistiu na implantação do

conjunto. "Tínhamos experiência com esse

tipo de programa", explica Vannucchi,

referindo-se ao Times Square Cosmopolitan

Mix e ao Terra Brasilis, edifícios multiuso

localizados em São Paulo.

De acordo com os arquitetos, o novo com-

plexo tem similaridades com o Times Square,

cuja implantação também tem edifícios em

"U" que configuram uma praça central. A

diferença, segundo eles, está na inclinação dos

prédios laterais com relação ao central. Outro

edifício que também serviu de referência à

dupla foi o Metropolis Flat and Office, um

conjunto implantado em "L" com uma praça

de lazer elevada, cujo programa de necessida-

des é semelhante ao do Stadium Alphaville.

Com relação ao Terra Brasilis, as seme-

lhanças residem na forma irregular e "recorta-

da" da fachada, além da transição suave dos

espaços privados para os públicos. Vannucchi

e Köningsberger, entretanto, não se limitaram

a utilizar o expertise adquirido em oportu-

nidades anteriores. Os arquitetos se apropri-

aram de alguns aspectos da arquitetura barroca

no desenvolvimento dos espaços públicos.

Por exemplo, a praça inclinada, desen-

volvida em patamares, que é "abraçada" por

uma edificação de fachada curva. Para eles,

uma das qualidades do conjunto é a volume-

tria bem trabalhada que convida aqueles que

transitam na rua a entrar, além de funcionar

como uma extensão espacial de um shopping

center, localizado em frente.

Para compor a praça, os edifícios foram

implantados nos limites do terreno retangu-

lar, com 70 m de largura por 110 m de com-

primento. Diferente da fachada principal,

côncava, o perímetro externo do conjunto é

retilíneo, com faces paralelas às vias que o

delimitam. Para a dupla de arquitetos, a

idéia de criar um bloco "único", formado

por três edifícios geminados, resultou da

intenção de não "lotear" o terreno em

frações menores que comprometessem a

forma semicircular da praça.

Apesar de único, o volume arquitetônico

apresenta algumas fendas verticais que reve-

lam o céu para aqueles que transitam na área

externa. "Monolíticos, os corpos que cons-

tituem o conjunto são interrompidos alter-

nadamente antes de chegar ao topo do edifí-

cio, onde predominam as curvas", explica

Vannucchi. Sustentadas por estrutura metáli-

ca, as empenas são revestidas por telhas, tam-

bém metálicas, que configuram o coroamento

curvo do bloco que separa as fachadas

retilíneas da côncava.

O Stadium Alphaville é um dos principais

empreendimentos da região, que se expande

cada vez mais no segmento de turismo de

negócios. Além dos 135 quartos do luxuoso

hotel, o complexo apresenta um flat de 320

apartamentos, um prédio de 80 escritórios

com lajes de 400 m², lojas, centro de con-

venções, restaurantes e outros equipamentos.

O projeto foi o vencedor do Prêmio Asbea

2002 na categoria "Obras Especiais", e recebeu

menção honrosa da premiação IAB-SP 2002

Page 17: Arquitetura e Urbanismo 107

A

na categoria "Edificação para Escritórios e Fins

Diversos". "O edifício se tornou um marco

para a região", afirma Vannucchi.

Parte da paisagem paulistanaFundado em 1971 por Gianfranco Vannucchi

e Jorge Königsberger, a KV (Königsberger

Vannucchi Associados) já realizou mais de 500

projetos comerciais e residenciais em todo o

Brasil.Em 32 anos de parceria,os arquitetos rece-

beram prêmios como o Top Ten Escritórios de

Arquitetura e o Master Imobiliário. O projeto do

edifício Terra Brasilis, em São Paulo, rendeu à

dupla o prêmio Icasa, concedido pela

Universidade de Nova York e o prêmio da 3a

Bienal de Arquitetos de Buenos Aires. Além

desse, outros projetos do escritório que se desta-

cam são o Condominium Club Ibirapuera, o

complexo empresarial e hoteleiro Stadium e as

Torres do Ibirapuera, em São Paulo. O Brascan

Century Plaza, um megaprojeto urbanístico na

região do Itaim, em São Paulo, é um dos traba-

lhos mais recentes do escritório e envolve a cons-

trução de hotel cinco estrelas, conjunto de

escritórios de alto padrão, cinemas, praças de ali-

mentação e de conveniência ao ar livre.

A idéia de implantar os edifícios em torno de uma praça veio daarquitetura barroca, assim como a proposta de criar um bloco único.Além de não fracionar o terreno, o recurso manteve a integridade da praça, responsável pela ligação entre público e privado

Page 18: Arquitetura e Urbanismo 107

KÖNIGSBERGER VANNUCCHI BARUERI /SP STADIUM ALPHAVILLE 1999/2002

B R A S I L

FICHA TÉCNICAProjeto de arquitetura: Königsberger Vannucchi Arquitetos AssociadosColaboradores: Bruno Souza Dias, Huang Kuo Che e Sandra Cristina Dellarole Arquitetura de interiores: Renata Amaral Cristina Bozian ArquiteturaInterioresPaisagismo: Benedito Abbud Luminotécnica: Salaroli Jacob Estrutura: França e Associados Fundações: Zaclis Falconi Engenheiros Instalações: Projetar Engenharia de Projetos Estrutura metálica: Engebrat Ar-condicionado: Willen Scheepmaker & AssociadosConstrução: Sinco Incorporação e gerenciamento: Fal 2

Legenda implatanção11 lojas12 restaurante13 cozinha14 depósito15 congelamento/ 15 resfriamento16 apoio restaurante17 recepção18 administração19 apoio administ.10 maleiro11 lounge12 hall social office 13 hall social flat14 hall social hotel

15 hall social 16 hall serviços

Legenda pavimentoinferior11 auditório12 sala reunião13 depósito14 apoio palco15 área técnica16 acesso área 16 eventos/galeria lojas17 business center18 hall social hotel19 hall social flat10 hall serviço

11 restaurante12 terraço restaurante13 cozinha14 circulação de serviço15 lojas

Legenda pavimento tipo11 apartamento flat12 escritório13 apartamento hotel14 hall social comercial15 hall social flat16 hall social hotel17 hall serviço

implatanção

pavimento inferior

pavimento tipo *Veja fornecedores e endereços no final da revista

Page 19: Arquitetura e Urbanismo 107

O revestimento em massa permite que os prédios mudem de corconforme a incidência de luz, enquanto, no coroamento, o bloco curvofoi revestido por telhas metálica. A fachada posterior é retilínea, masmantém o jogo volumétrico observado na elevação frontal

Page 20: Arquitetura e Urbanismo 107

36 ARQUITETURA&URBANISMO FEVEREIRO 2003

PAULO DE MELLO BASTOS SÃO PAULO RESTAURO DA CATEDRAL DA SÉ 2002

B R A S I L

A AUSÊNCIA DE MATERIAL

GRÁFICO FOI UMA DAS

DIFICULDADES PARA

A RECONSTITUIÇÃO

DA IGREJA DE ACORDO

COM O PROJETO ORIGINAL

Após uma reforma que durou três

anos, a Catedral da Sé é devolvida

a São Paulo restaurada e concluí-

da de acordo com o projeto origi-

nal, de autoria do alemão Maxi-

miliano Hehl, realizado em 1912. O arquiteto

Paulo Bastos, autor da intervenção, recompôs a

volumetria original da igreja com a construção

de 14 torreões,um desafio para a equipe envolvi-

da na recuperação de um edifício cuja estrutura

não poderia ser sobrecarregada. Além disso,

foram restaurados os vitrais, mosaicos e escul-

turas da catedral que, segundo a proposta, será

adaptada para uso museológico.

COMPLETA ERESTAURADAIMPORTANTE MARCO DA HISTÓRIA RECENTE DE SÃO PAULO E DO PAÍS, PALCO DA MANIFESTAÇÃO PELAS

DIRETAS JÁ, A CATEDRAL DA SÉ É FINALMENTE CONCLUÍDA DE ACORDO COM O PROJETO ORIGINAL. O TEMPLO

TAMBÉM PASSOU POR UMA TOTAL RESTAURAÇÃO. O TRABALHO FOI TODO CONDUZIDO POR PAULO BASTOS

POR VALENTINA FIGUEROLA FOTOS SOFIA MATTOS

Em 1999, a queda de alguns tijolos do teto

sobre nave da igreja alertou sobre a necessi-

dade de recuperação de um dos principais

marcos urbanos de São Paulo. A Catedral da

Sé apresentava grandes trincas que, apesar de

estabilizadas, evidenciavam a necessidade de

cuidados. "A igreja só não caiu porque as pare-

des externas foram construídas lentamente

por causa do solo ruim, que recalca com facil-

idade", explica Bastos. Segundo o arquiteto, a

construção rápida da cúpula da nave de con-

creto, em 1954, foi responsável pelas principais

rachaduras. "Por isso, precisávamos adotar um

material leve para a execução das torres

fachada frontal

0 10 m

fachada lateral

Page 21: Arquitetura e Urbanismo 107

FEVEREIRO 2003 ARQUITETURA&URBANISMO 37

Page 22: Arquitetura e Urbanismo 107

38 ARQUITETURA&URBANISMO FEVEREIRO 2003

PAULO DE MELLO BASTOS SÃO PAULO RESTAURO DA CATEDRAL DA SÉ 2002

B R A S I L

secundárias", diz o engenheiro Ronaldo Ritti,

da Concrejato, empresa responsável pela exe-

cução e gerenciamento da obra.

A alternativa encontrada pela equipe foi o

GRC (Glass Reinforced Concrete), argamassa

de concreto reforçada com fibra de vidro.

Além de ser 40% mais leve que o concreto

convencional, o GRC é moldável e pode ser

trabalhado em pequenas espessuras, de 1,5 cm

a 2 cm. Foram feitos moldes de madeira para

execução das peças que são fixadas em uma

estrutura metálica.

Apesar de considerar o resultado satis-

fatório do ponto de vista técnico, Paulo

Bastos preferia uma outra alternativa à de

construir os torreões em total conformidade

com o projeto original. Para o arquiteto, as

torres poderiam ter sido construídas em

vidro azul profundo, de acordo com a pro-

posta inicial apresentada ao cardeal Dom

Cláudio Hummes, que discordou da idéia.

"Além de recompor a volumetria original da

igreja, a proposta agregaria contemporanei-

dade à obra", diz Bastos. As torres em vidro

seriam como vitrais autoportantes e fun-

cionariam como pontos de luz à noite.

Assim como outras, a história da intervenção

na Catedral da Sé abre a discussão sobre o

restauro e a maneira como deve ser encarado.

"Algumas pessoas pensam, por equívoco, que

restaurar uma construção é deixá-la exata-

mente como era", explica o arquiteto, que pre-

tendia manter os traços mais significativos da

igreja. Segundo ele, a construção, cujo valor

arquitetônico é relativo, tem características pre-

dominantemente góticas, embora apresente

cúpula – elemento da Renascença.

A ausência de material gráfico que servisse

de suporte para o trabalho foi um dos empe-

cilhos para a construção dos torreões em

desenho gótico. Paulo Bastos aceitou a

condição imposta pelo cardeal quando foram

encontradas, durante a remoção dos entulhos,

vistas frontais e laterais das torres em escala

1:50. "Interpretar a representação gráfica da

época foi um trabalho muito penoso", recorda

Bastos. Ele conta que para transformar os

desenhos bidimensionais em peças tridimen-

sionais foi necessária a comparação do material

gráfico com as partes já executadas da catedral.

A iluminação artificial da igreja foi desen-

volvida em função da arquitetura e de acordo

0 10 m

1 vazio da nave2 púlpito

3 museu4 órgão

5 café6 cabido

7 banheiro8 elevador

9 loja do museu

1

2

2

6

8

77

54

3

33

1 acesso principal2 nave3 nave lateral4 projeção da cúpula

5 altar maior6 acesso lateral7 rampa lateral para

deficientes

8 capela9 acesso para a

cripta10 secretaria

11 sacristia12 atendimento13 órgão14 auditório

15 banheiro16 elevador17 copa

1 2

3

3

4

14

13

13

10 1112

9

8

17

15

16

6

9

5

6

6 6 7

15

15

16

0 10 m

0 10 m

planta de cobertura

planta das intervencões projetadas – 1o pavimento

planta das intervencões projetadas – térreo

4

8

9

Page 23: Arquitetura e Urbanismo 107

FEVEREIRO 2003 ARQUITETURA&URBANISMO 39

com os critérios de restauro. O arquiteto

Carlos Bertolucci, responsável pelo projeto

luminotécnico, criou luminárias com oito

faces e um sistema de som acoplado para evi-

tar problemas de reverberação, comum em

naves como essa.

"Aproveitamos os antigos pontos elétricos

nos centros das ogivas para a instalação de

luminárias que podem proporcionar ilumi-

nação direta, indireta e difusa", explica

Bertolucci, que não podia fazer uso das colu-

nas e de nenhum outro elemento arquitetôni-

co da catedral.

Com exceção dos torreões frontais, que

apresentam cúpulas de concreto, as coberturas

das demais torres foram executadas em cobre

patinado, da mesma tonalidade da antiga

cúpula e das torres existentes. Para obter uma

coloração uniforme, a N. Didini, empresa que

desenvolveu a tecnologia de formação da páti-

na artificial, contou com a colaboração do

Procobre (Instituto Brasileiro do Cobre) e a

assessoria de técnicos chilenos.

"A tecnologia de formação da pátina artifi-

cial baseia-se num processo de envelhecimento

precoce da camada protetora do cobre que,

neste caso, foi trabalhado manualmente", expli-

ca João Roberto Leme Simões, coordenador da

Fundação para Pesquisa Ambiental (Fupam) e

consultor de arquitetura do Procobre.

Além da recuperação do edifício, o projeto

contempla o caráter cultural e museológico da

construção, rica em vitrais, mosaicos e escul-

turas de valor. A idéia é que a igreja seja aber-

ta à visitação do público, que poderá usufruir

do acervo do local. Nesse sentido, foram cria-

dos acessos à cobertura da Catedral da Sé, de

onde o visitante poderá observar, em um

ângulo de 360o, a paisagem paulistana. Ainda

Além de recompor a volumetria original da Catedral, a obra integrou o restauro dos vitrais,mosaicos e esculturas presentes no interior da igreja, alguns de grande valor. No pavimentosuperior, está prevista, inclusive, a implantação de um museu

Page 24: Arquitetura e Urbanismo 107

PAULO DE MELLO BASTOS SÃO PAULO RESTAURO DA CATEDRAL DA SÉ 2002

B R A S I L

PAULO DE MELLO BASTOS SÃO PAULO RESTAURO DA CATEDRAL DA SÉ 2002

não finalizado, o projeto prevê um museu e

uma cafeteria no saguão superior dos fundos.

Administração e secretaria, foram instalados

na parte térrea. Mesmo assim, Paulo Bastos se

diz satisfeito com o trabalho. "A catedral foi

reassumida pela população de uma maneira

fantástica, o que para nós é uma gratificação",

comemora.

DADOS TÉCNICOSSuperfície do terreno: 5.300 m²Superfície construída: 6.700 m²

F ICHA TÉCNICAProjeto e coordenação geral de restauro eadaptação: Paulo de Mello BastosColaboradores: Nelson Xavier (coordenador),Tiago Angelini Morgero e Pedro Henrique deC. Rodrigues (assistentes)Catalogação do acervo e consultoriamuseológica: Expomus Exposições, Museus,Projetos Culturais Museóloga: Maria Ignez Mantovani FrancoProjeto de consolidação estrutural e novasestruturas: Henrique DinisProjeto de luminotecnia: Carlos BertolucciRestauro de elementos artísticos agregados:Júlio Moraes

COLABORADORESResgate, diagnóstico e limpeza do acervo:Antonio Carlos Dorta e Lindalva JacintoTabenezRestauração de mármores e bronzes:Claudemir IgnácioRestauro de obras de arte em geral: AnaPaula Jacinto TabanezRestauro de elementos de madeira: GildásioPereira dos SantosRestauro de vitrais: Atelier Artístico SarasaRestauro de elementos de cobre da cobertura:Concrejato Coordenação e execução geral das obras:Concrejato Engenheiro responsável: Ronaldo RittiCoordenação geral de obras: Maria AparecidaSoukef NasserProdução e montagem de peças em GRC:Faccio Stonelite – Bruno Angelo FaccioExecução de novas coberturas de cobre: N.Didini – Nilton Didini Coelho

CONSULTORESConsultoria de GRC: Fernando Barth –Universidade Federal de Santa CatarinaConsultoria de pátina do cobre: Héctor VarelaDiaz e IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicasdo Estado de São Paulo)

*Veja fornecedores e endereços no final da revista

Page 25: Arquitetura e Urbanismo 107

FEVEREIRO 2003 ARQUITETURA&URBANISMO 41

Paulo Bastos queria que as torres secundárias fossem construídas em vidro azul. O cardealCláudio Hummes, entretanto, não aceitou a idéia. Assim, o arquiteto precisou trabalhar apartir de vistas frontais e laterais, feitas em escala 1:50 no início do século passado

0 5 mco

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torreão A torreão B torreão C

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Page 26: Arquitetura e Urbanismo 107

FOSTER AND PARTNERS LONDRES CITY HALL 1999/2002

I N T E R N A C I O N A L

42 ARQUITETURA&URBANISMO FEVEREIRO 2003

FOSTER AND PARTNERS LONDRES CITY HALL 1999/2002

I N T E R N A C I O N A L

DEMOCRACIATRANSLÚCIDA SEDE DA PREFEITURA DE LONDRES, O CITY HALL É UM MODELO DE BOM APROVEITAMENTO DO ESPAÇO

PERTENCENTE À POPULAÇÃO. PROJETADO POR SIR NORMAN FOSTER, FOI TODO PLANEJADO PARA POUPAR ENERGIA

E APROVEITAR AO MÁXIMO A LUZ DO SOL. TUDO ISSO COM GRANDE DELICADEZA, SEM AGREDIR O ENTORNO

CARREGADO DE HISTÓRIA EM QUE ESTÁ INSERIDO POR VÂNIA SILVA FOTOS NIGEL YOUNG

Às margens do Tamisa, em frente à Torre de Londres e vizinho à Tower Bridge, o City Hall é o primeiro de 12 edifícios que devem ser desenvolvidos pela equipe da Fosterand Partners, na região de Southbank. O formato inusitado e a alta tecnologia empregadana obra contrastam e valorizam o entorno histórico. Através dos painéis de vidro, é possívelver a rampa de 250 m de comprimento

Page 27: Arquitetura e Urbanismo 107

FEVEREIRO 2003 ARQUITETURA&URBANISMO 43

Oedifício que abriga a câmara e o

gabinete do Prefeito de Londres,

além dos quase 500 membros da

Greater London Authority

(GLA) é, na opinião de seu pro-

jetista, o arquiteto Norman Foster, "um modelo

de democracia, acessibilidade e sustentabili-

dade". O City Hall surpreende logo de cara pelo

formato de esfera inclinada, fatiada e transpa-

rente, composta por grandes panos de vidro.

O desenho inusitado do edifício revela os

conceitos que pautaram todo o projeto. O City

Hall é um novo marco às margens do rio Tamisa,

na região de Southbank,que,desde a década pas-

sada, integra prédios novos ou revitalizados, de

valor cultural, turístico e arquitetônico. Um dos

mais conhecidos é a galeria de arte moderna e

contemporânea Tate Modern, obra dos arquite-

tos suíços Jacques Herzog e Pierre de Meuron.

O novo City Hall está numa área de 13

acres junto à histórica Tower Bridge, e faz parte

de um projeto maior. É o primeiro de 12 edifí-

cios que devem ser desenvolvidos pela equipe

da Foster and Partners, num empreendimento

denominado More London. Sempre privile-

giando espaços ao ar livre para uso da popu-

lação, o More London prevê a construção de

instalações comerciais, hoteleiras, residenciais,

de escritórios e ainda um teatro infantil. Todos

pretendem explorar as visuais do rio e a estru-

tura de serviços do entorno. Os empreende-

dores consideram que este seja "o elo final na

corrente de regeneração e desenvolvimento da

região de Southbank, às margens do Tamisa".

NAS PALAVRAS DE NORMAN

FOSTER, AUTOR DO PROJETO,

"O CITY HALL É UM MODELO

DE DEMOCRACIA,

ACESSIBILIDADE

E SUSTENTABILIDADE".

O DESENHO DO EDIFÍCIO

REVELA OS CONCEITOS QUE

PAUTARAM TODO O PROJETO

Page 28: Arquitetura e Urbanismo 107

FOSTER AND PARTNERS LONDRES CITY HALL 1999/2002

I N T E R N A C I O N A L

44 ARQUITETURA&URBANISMO FEVEREIRO 2003

Um amplo anfiteatro abaixo do nível da rua

dá acesso público ao edifício de dez pavimentos.

Cruzando a cafeteria, ainda no subsolo, o visi-

tante chega a um espaço destinado a exposições.

Situado exatamente sob a Assembléia da

Câmara, esse espaço exibe a maquete em escala

1:1.250 de todo o centro londrino,do Hyde Park

ao Royal Docks. Luz natural reflete na área de

exposições pelo forro em forma de elipses con-

cêntricas, feitas de puro aço inox polido.

Parte já do subsolo a rampa em forma de

espiral que conduz a todos os pavimentos, inclu-

sive a cobertura. No segundo piso, onde se loca-

liza a Assembléia, a rampa leva a um mezanino

que permite ao visitante contemplar a paisagem

do rio e da Torre de Londres através da fachada

formada por panos de vidro triangulares.

O apelo para a subida é forte: segundo os

arquitetos, a cada passo rampa acima é possível

vislumbrar novas vistas da cidade – além de

algum movimento de dentro dos escritórios da

GLA ou do próprio gabinete do prefeito.

Entretanto, o ponto alto do passeio pela espiral,

literalmente, é a London's Living Room, ou a

sala de estar de Londres, ambiente aberto ao

público, no topo do edifício. Repleto de luz na-

tural, o local pode acolher exposições ou recep-

ções para até 200 convidados. O terraço circun-

da todo o ambiente, oferecendo visão pano-

râmica do entorno. A Assembléia da Câmara

também é aberta ao público e tem 250 assentos

disponíveis para a imprensa e visitantes,

incluindo espaço para cadeiras de rodas.

A implantação e a forma do edifício foram

desenvolvidas visando a economia de energia. O

desenho é derivado de uma esfera geome-

tricamente modificada que consegue melhor

aproveitamento de espaço em menor área de

superfície. A implantação, no sentido Norte-Sul,

aproveita a menor e a maior intensidade da luz

solar, ou seja, a fachada envidraçada da

Assembléia está voltada para o Norte, onde há

menor insolação direta, o que evita aquecimento

excessivo enquanto permite utilização da luz

natural.Na porção voltada para o Sul,mais sujei-

ta ao sol no hemisfério Norte, o desenho "fatia-

do" do edifício cria áreas de sombra na fachada.

Um sistema integrado de controle ambi-

ental consegue minimizar o uso de energia. Os

escritórios recebem ventilação natural por

dutos de ar posicionados sob as janelas. O sis-

tema mecânico de refrigeração utiliza água

O desenho do edifício permite melhor aproveitamento da luz natural: a face norte é lisa paradeixa entrar o máximo de insolação; na face sul, o prédio é "fatiado", solução que cria áreasde sombreamento. Abaixo, vistas da rampa, de onde o visitante contempla a paisagem

Page 29: Arquitetura e Urbanismo 107

FEVEREIRO 2003 ARQUITETURA&URBANISMO 45

Page 30: Arquitetura e Urbanismo 107

FOSTER AND PARTNERS LONDRES CITY HALL 1999/2002

I N T E R N A C I O N A L

fria bombeada do térreo até dutos instalados

no forro, evitando a necessidade de sistemas

complexos de refrigeração. O consumo de

energia deve ser reduzido em ¼, se compara-

do ao de um edifício similar climatizado com

um sistema convencional.

Toda a estrutura do City Hall foi feita em

aço e concreto reforçado. Para chegar na forma

geométrica do prédio, foram realizados vários

modelos em computador. Cada painel que

compõe a fachada tem formato e dimensão

únicos, que dependeram de cálculos seme-

lhantes aos realizados para a cobertura do pátio

do Museu Britânico – a Great Court, outra obra

de Foster. As placas de vidro foram cortadas a

laser, seguindo dados fornecidos pelos mesmos

programas usados para desenhar o edifício, que

garantem alto grau de segurança.

CITY HALL EM NÚMEROS:Área disponível dentro do More London:12.000 m²Área construída: 18.000 m²Área de cada pavimento: de 259 m² a 1.282 m²Altura: 45 mConcreto: 13.300 m³Aço: 1.950 t (reforçado) e 2.100 t (estrutural)Vidro: 7.300 m² em 3.844 painéis diferentesMaior inclinação de coluna: 41°Rampa: 28 m de altura e 250 m de comprimento

No espaço de exposições, implantado no subsolo do edifício, o forro de elipses de aço polidoreflete a luz natural sobre a maquete em escala 1:1250 de todo o centro londrino. Dessepavimento parte a rampa que se prolonga até a cobertura do prédio

corte de fachada – face sul

46 ARQUITETURA&URBANISMO FEVEREIRO 2003

Page 31: Arquitetura e Urbanismo 107

JANEIRO 2003 ARQUITETURA&URBANISMO 47

Page 32: Arquitetura e Urbanismo 107

FOSTER AND PARTNERS LONDRES CITY HALL 1999/2002

I N T E R N A C I O N A L

48 ARQUITETURA&URBANISMO FEVEREIRO 2003

Além da Assembléia, o City Hall abriga o gabinete do prefeito e os escritórios dos quase 500membros da Greater London Authority. No segundo pavimento, a Assembléia tem assentospara o público, além de instalações para imprensa

0 10 m

térreo 2o pavimento 3o pavimento

subsolo

0 10 m

Page 33: Arquitetura e Urbanismo 107

LEIA MAISAU 95 – reportagem sobre a cobertura da GreatCourt, em Londres, de Foster and Partnerswww.fosterandpartners.comwww.morelondon.comwww.london.gov.ukwww.southbanklondon.com

FICHA TÉCNICAEmpreendimento: CIT GroupArquitetura: Foster and PartnersEquipe: Norman Foster, Ken Shuttleworth,Andy Bow, Stefan Behling, Sean Affleck,Richard Hyams, Niall Monaghan, Max Neal,Frank Filskow, Ken Hogg, David Kong, BruceCurtain, Graham Longman, Mario Pilla, AliceAsafu-Adjaye, Louise Blacker, Elodie Fleury,Attilio Lavezzari, Sam Harvey e TomerKleinhause.Engenharia estrutural e acústica: ArupConsultoria de custos: Davis Langdon &EverestConsultoria de planejamento: Montagu EvansConsultoria de custos de serviços: Mott Green& WallGerenciamento de construção: Mace

FEVEREIRO 2003 ARQUITETURA&URBANISMO 49

6o pavimento 9o pavimento

1

2

3

4

5

6

7

1 London‘s Living Room2 caixa dos elevadores3 escritórios4 rampa5 área de exposições6 entrada principal7 assembléia

0 10 m

Page 34: Arquitetura e Urbanismo 107

50 ARQUITETURA&URBANISMO FEVEREIRO 2003

BRUNETE FRACCAROLI SÃO PAULO SHOWROOM PENHA VIDROS 2002/2003

I N T E R I O R E S

Para transformar uma antiga residên-

cia no showroom da Penha Vidros,

empresa importadora e distribuido-

ra de vidros, a arquiteta Brunete

Fraccaroli optou por criar espaços

amplos e iluminados que valorizassem a

exposição dos produtos. Da fachada ao piso, o

vidro está presente em todos os ambientes da

construção, que sofreu profundas alterações

estruturais e físicas para se tornar um espaço

convidativo e atraente.

Assim, quem transita pela Pamplona, rua

movimentada na região da avenida Paulista,

em São Paulo, não imagina que o sofisticado

showroom foi, um dia, uma antiga e degrada-

da residência com traços do estilo norman-

do. Convidada para fazer o projeto de refor-

ma da casa, Brunete optou por demolir a

parte frontal da edificação, que ganhou uma

fachada envidraçada e um novo acesso.

"Precisávamos criar um espaço imponente e

acolhedor", justifica.

Logo na entrada, o visitante se depara com

uma arrojada porta basculante de vidro tem-

perado, desenhada pela própria arquiteta.

Com trilhos e cabos de aço, a porta é movi-

mentada mecanicamente por um contrape-

TODAS ASPOSSIBILIDADES DA TRANSPARÊNCIAA ARQUITETA PAULISTA BRUNETE FRACCAROLI FAZ DO VIDRO UM ALIADO PARA CONVERTER

UMA ANTIGA CASA EM UM SHOWROOM COM ESPAÇOS AMPLOS E FLUIDOS, DE LINGUAGEM

CONTEMPORÂNEA E INOVADORA POR VALENTINA FIGUEROLA FOTOS SOFIA MATTOS

so. "Além de liberar um generoso vão hori-

zontal para entrada dos visitantes, a porta

também assume a função de uma marquise",

explica Brunete.

A fluidez e a visibilidade dos espaços

foram privilegiadas pelo projeto. Por isso, as

antigas paredes estruturais foram postas

abaixo e substituídas por pórticos metálicos

revestidos com espelhos. Outra importante

intervenção foi a adoção de uma só cota para

todo o pavimento térreo, que antes da refor-

ma tinha quatro diferentes níveis. Ainda para

um melhor aproveitamento da área, a arqui-

teta fez uso de portas de correr e painéis

deslizantes de vidro temperado. Em már-

more e vidro, o piso da loja destaca as peças

de mobiliário coloridas, assim como a louça

sanitária concebida pela arquiteta, que assina

a linha de móveis em vidro comercializada

pela empresa.

Ao especificar espelhos e vidros como

revestimento e material constituinte dos

principais elementos arquitetônicos da loja,

Brunete criou espaços amplos, onde a luz se

difunde em abundância. Na fachada, grandes

painéis de vidro laminado foram fixados

entre si por peças pontuais articuladas de

alumínio. Esse sistema de fixação garante a

estabilidade do conjunto ao criar equilíbrio

com o próprio peso dos painéis. "A solução

dispensou o uso de perfis metálicos 'pesa-

dos', que comprometeriam o efeito estético

desejado", diz Brunete, que também definiu o

uso do vidro na cobertura.

Na parte central do edifício, um hall com

piso de vidro estrutural dá acesso a uma esca-

da com degraus e guarda-corpo de cristal. Para

separar o hall do showroom, Brunete Fracca-

roli dispôs painéis deslizantes de vidro

temperado que, quando recolhidos, ocupam

pouco espaço. Ainda inacabado, o pavimento

superior vai abrigar auditório, salas de reunião,

escritórios, cozinha e banheiros. A arquiteta

conta que, para alinhar a parte superior da

A degradada residência com traços do estilo normando exigiu intervenções físicas e estruturais para se transformar no showroom. A arquiteta privilegiou a fluidez e visibilidade dos espaços já a partir do lado de fora, através da fachada de vidro

Page 35: Arquitetura e Urbanismo 107
Page 36: Arquitetura e Urbanismo 107

52 ARQUITETURA&URBANISMO FEVEREIRO 2003

BRUNETE FRACCAROLI SÃO PAULO SHOWROOM PENHA VIDROS 2002/2003

I N T E R I O R E S

*Veja fornecedores e endereços no final da revista

FICHA TÉCNICAArquitetura: Brunete FraccaroliEngenharia: Antoun Arcie

LEIA MAISAU 104 – reportagem sobre o Prêmio Solutia 2002

Antes

elevação frontal - antes

elevação frontal - depois

superior

térreo

superior

térreo

Depois

corte AA

1 show Room2 atendimento3 circulação4 escritório5 sanitário

6 copa7 depósito8 vestiário 9 depósito de amostras

10 sala dos funcionários

1 entrada - porta basculante2 showroom3 vitrine4 circulação5 atendimento6 sanitário

7 escritório8 copa 9 depósito

10 vestiário11 sala de reuniões/cursos12 copa de apoio

0 10 m

0 10 m

1

1

1

2

1

3 4

56

3 3

4

7

7

8

4

4

5

3

9 10

7

7

6

4 11

12

3

3

1 2

2 2 2

45

6 7 8

6 9

9

10

A A

Page 37: Arquitetura e Urbanismo 107

fachada, precisou ocupar a área da jardineira

da edificação, agora fechada para o exterior.

Incorporado ao showroom,o antigo corredor

da construção exibe paredes que servem de

mostruário para materiais vítreos de última

geração, como o chodopak, produto importa-

do caracterizado pela rugosidade e resistên-

cia. Brunete, que é uma das pioneiras na uti-

lização inusitada do vidro na arquitetura de

interiores no Brasil, teve um projeto premiado

pelo 2002 Solutia Design Awards, em

Chicago, Estados Unidos. A premiação foi

concedida à arquiteta na categoria arquitetura

de interiores, pelo projeto da garagem reali-

zado para a Casa Cor 2001.

Acima, o hall com piso de vidro estrutural é o ponto de partida da escada com degraus de guarda-corpo de cristal. Abaixo, à esquerda, ambiente com cobertura de vidro e piso de mármore; à direita, incorporado à edificação, o antigo corredor externo exibe ummostruário de materiais vítreos

Page 38: Arquitetura e Urbanismo 107

54 ARQUITETURA&URBANISMO FEVEREIRO 2003

ERMINIA MARICATO ARQUITETA SÃO PAULO/BRASÍLIA

E N T R E V I S T A

Professora da FAU-USP e ex-se-

cretária da Habitação do Município

de São Paulo (gestão Luíza Erun-

dina, 1989 a 1992), Erminia Mari-

cato é considerada uma das maiores

autoridades em urbanismo e habitação social

do Brasil. Peça-chave durante o governo de

transição, a arquiteta foi uma das principais

responsáveis pela criação do Ministério das

Cidades, do qual é a secretária executiva ou,

como ela própria diz, "vice-ministra". Mili-

tante do Partido dos Trabalhadores, Erminia

tem a imagem ligada aos movimentos sociais

pela moradia e também à universidade, onde

desenvolve diversos trabalhos importantes.

Sobre o novo ministério, não deixa por

menos: "é inovador quando toma como

objeto a cidade em seu conjunto, superando

as políticas setoriais e pulverizadas". As áreas

estruturadoras da pasta são a habitação, o

saneamento ambiental e o transporte urbano.

Leia, a seguir, entrevista de Ermínia Maricato

concedia à AU em sua casa, em São Paulo.

aU HÁ UM GIGANTESCO MOVIMENTO

DE CONSTRUÇÃO E OCUPAÇÃO DO

ESPAÇO URBANO DO QUAL O ARQUI-

TETO ESTÁ ALIJADO, PRINCIPALMEN-

TE NA PERIFERIA DAS GRANDES

POR UMA NOVAMATRIZ URBANAPRINCIPAL MENTORA DOS PROJETOS QUE ALMEJAM MUDAR O TRATAMENTO DO ESTADO ÀS QUESTÕES

DO PLANEJAMENTO URBANO NO BRASIL, A ARQUITETA ERMINIA MARICATO ASSUME A SECRETARIA

EXECUTIVA DO MINISTÉRIO DAS CIDADES, ENCABEÇADO PELO EX-GOVERNADOR GAÚCHO OLÍVIO DUTRA

POR ERIC COZZA FOTO RUI MENDES

CIDADES. HÁ COMO RECUPERAR O

PAPEL DO ARQUITETO NO DESEN-

VOLVIMENTO URBANO DO BRASIL?

erminia maricato Sem dúvida. O arquiteto

tem um papel central na recuperação das

nossas cidades. Hoje, apenas cerca de 30% da

população está incluída no mercado privado

residencial. Como o Brasil passa por um

processo de urbanização muito acelerado, a

maior parte da população se instala nas

cidades sem qualquer orientação técnica, sem

lei, nem financiamento público. Isso está

gerando grandes desastres. Pense nas cidades

do litoral: os mangues estão sendo aterrados e

ocupados. Há ocupação de áreas de morro, de

várzeas, de proteção ambiental. Grande parte

da população trabalhadora não tem lugar para

se instalar em uma situação legalizada. E isso é

ignorado nos planos diretores.

aU POR QUÊ?

erminia maricato Seria um enfrentamento

político que nenhuma elite municipal gostaria

de promover. Imagine o que seria pegar uma

parcela das terras do litoral e dizer que seriam

destinadas para a habitação de baixa renda.

Trata-se de uma coisa impensável na so-

ciedade brasileira, que nunca se deu conta que

os trabalhadores precisam de um lugar para

morar. Estudos sérios indicam que metade da

cidade de São Paulo e metade da cidade do Rio

de Janeiro são compostas de favelas ou

loteamentos clandestinos. Isso demonstra a

falência total de uma política urbana baseada

em uma legislação feita para um único

mercado, ao qual a população que ganha entre

5 e 10 salários mínimos não tem acesso. Por

isso, nosso objetivo é alargar o mercado.

aU DE QUE MANEIRA?

erminia maricato Devemos reconhecer que

o Estado tem colocado muitos limites na atua-

ção da iniciativa privada. Veja a legislação

urbanística e edilícia, o tempo de aprovação

de projetos nas prefeituras, o registro no car-

torário. Isso sem falar na legislação relativa ao

financiamento imobiliário. O empresário não

tem segurança de investir. Vamos discutir

muito com o Banco Central nesse sentido. Por

outro lado, é preciso dizer que lucro especula-

tivo não tem mais lugar no setor imobiliário

brasileiro. Quem não produz não deve ter

lucro. No Brasil, as pessoas enriquecem acu-

mulando imóveis: um dado do IBGE (Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística) aponta

300 mil imóveis vazios na cidade de São Paulo.

Isso é assustador. Mas, cada vez que se fala em

fazer uma política fiscal para combater imóvel

Page 39: Arquitetura e Urbanismo 107

FEVEREIRO 2003 ARQUITETURA&URBANISMO 55

“A SOCIEDADE BRASILEIRA

PRECISA TOMAR CONSCIÊNCIA

DE QUE A EXCLUSÃO ESTÁ

SUFOCANDO AS CIDADES

Erminia Maricato diz que, se o processo de instalação ilegal da população não for detido, cidades como Curitiba e Aracaju, terão o mesmo destino caótico de São Paulo e do Rio

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Vistas do Rio de Janeiro, do Sistema Anchieta-Imigrantes e de São Paulo

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56 ARQUITETURA&URBANISMO FEVEREIRO 2003

ERMINIA MARICATO ARQUITETA SÃO PAULO/BRASÍLIA

E N T R E V I S T A

ocioso, todo mundo lembra da velhinha apo-

sentada, cuja única fonte de renda advém do

imóvel. Isso não pode mais ser desculpa. A

propriedade privada não pode ser absoluta.

aU A PROPOSTA É POLÊMICA...

erminia maricato Há leis para combater

essa retenção de imóveis vazios. O problema é

não aplicar as leis, não ter força política para

colocar em prática o Estatuto das Cidades, por

exemplo. A sociedade brasileira precisa tomar

consciência de que a exclusão está sufocando

as cidades e contribuindo para uma violência

que não vai ficar restrita à periferia. Preci-

samos fazer um pacto social para construir

muita habitação e, ao mesmo tempo, recu-

perar os bairros que o povo construiu. Isso é

trabalho que não acaba mais para os arqui-

tetos. Vamos tratar moradia não como uma

questão de quantidade de unidades habita-

cionais, mas urbana. Ninguém vive só dentro

de casa. Todos precisam de transporte, coleta

do lixo, água e esgoto.

aU A GRANDE PRIORIDADE DO NOVO

GOVERNO FEDERAL ESTÁ BEM DE-

FINIDA: PROPORCIONAR PARA CADA

BRASILEIRO, PELO MENOS, TRÊS RE-

FEIÇÕES AO DIA. O MINISTÉRIO DAS

CIDADES TEM UMA GRANDE META?

erminia maricato Sim. A nossa maior meta

é construir um novo sistema nacional de

habitação. Recuperar as cooperativas de

crédito e capilarizar o acesso a crédito, por

exemplo. Sabemos que isso não vai acontecer

rapidamente. Trata-se de um projeto de

médio, longo prazo. Nós queremos ampliar a

produção de moradias de forma integrada ao

saneamento e ao transporte urbano, que estão

sob a responsabilidade do nosso ministério.

Resolvemos continuar e reforçar o Habitar

Brasil BID, que prevê a extensão de obras de

urbanização de favelas, hoje restritas a 28

municípios, para 105 cidades. Esta é uma

forma de pegar os bolsões de pobreza e levar

água, saneamento, coleta do lixo e melhoria

habitacional. Isso é emergencial, apesar de

termos um orçamento muito apertado.

aU COMO A SENHORA REAGIRIA A UM

CORTE NAS DESPESAS DA ÁREA SO-

CIAL, EM ESPECIAL NO MINISTÉRIO

DAS CIDADES, PARA A MANUTENÇÃO

DA ESTABILIDADE FINANCEIRA?

erminia maricato Essa já é a nossa rea-

lidade.

aU JÁ É?

erminia maricato Sim. É tão grave que

temos dinheiro do Banco Mundial e do

Banco Interamericano de Desenvolvimento e

não podemos gastar, pois devemos apre-

sentar um superávit exigido no contrato com

o Fundo Monetário Internacional (FMI). É

uma coisa desumana. Considero essa política

macroeconômica para o Brasil uma tragédia

total. Como é que você faz política social

desse jeito? Como é que você promove desen-

volvimento? Nós temos, entretanto, uma

possibilidade que vamos discutir com a

Caixa Econômica Federal. Trata-se da

utilização do Fundo de Garantia por Tempo

de Serviço (FGTS).

aU ESSE É UM PONTO MUITO IMPOR-

TANTE. A CAIXA ECONÔMICA FEDERAL

É SUBORDINADA AO MINISTÉRIO DA

FAZENDA. COMO SERÁ O RELA-

CIONAMENTO COM O MINISTÉRIO DAS

CIDADES?

erminia maricato Nosso projeto tem duas

pernas: o ministério é uma e a Caixa é outra.

O ministério é gestor do Fundo de Garantia

(FGTS), ou seja, estabelece as regras de uso,

enquanto a Caixa é o agente financiador e

operador. Temos algumas críticas sobre a

forma como a Caixa vem operando tais

recursos nos últimos oito anos. Pretendemos

fazer uma revisão dos programas e discutir

alguns aspectos importantes. Por exemplo,

os critérios de risco para tomar empréstimos

da Caixa estão muito mais rigorosos que os

dos bancos privados, isso sem falar na

burocracia.

aU O ARQUITETO, EX-PREFEITO E EX-

GOVERNADOR JAIME LERNER, RECÉM-

EMPOSSADO NA PRESIDÊNCIA DA

UNIÃO INTERNACIONAL DOS ARQUI-

TETOS (UIA), ESTÁ PROMOVENDO UM

MOVIMENTO INTERNACIONAL DE ME-

LHORIA DA QUALIDADE DE VIDA EM

CERCA DE 500 CIDADES. TRATA-SE DE

UM PROJETO CHAMADO CELEBRAÇÃO

DAS CIDADES. A SENHORA CONHECE

TAL INICIATIVA?

erminia maricato Não, e sou absolutamente

crítica ao Jaime Lerner. É preciso que se diga

que Curitiba está cercada de ocupação de terra.

O destino da cidade foi bom há cerca de 15

anos, quando teve um acompanhamento de

planejamento e era o município de maior

renda média entre as capitais brasileiras.

Acontece que, num determinado momento, o

norte do Paraná começou a despejar muita

gente em Curitiba. A cidade está tendo o

mesmo destino de todas as metrópoles

brasileiras: não tem onde pôr gente. Isso sem

falar na tragédia da ocupação na área de

proteção aos mananciais.Assim, como todas as

cidades de bom nível de vida, caso de

Florianópolis, Ribeirão Preto e Aracaju,

Curitiba será como São Paulo ou o Rio de

Janeiro, no futuro. Isso vai acontecer se nós não

conseguirmos deter o processo de instalação

ilegal da maior parte da população.

DEVEMOS RECONHECER

QUE O ESTADO TEM

COLOCADO MUITOS

LIMITES NA ATUAÇÃO

DA INICIATIVA PRIVADA.

O EMPRESÁRIO NÃO TEM

SEGURANÇA DE INVESTIR

Projeto habitacional em Salvador, de Angela Gordilho Souza e Tânia Scofield Souza Almeida – AU 104

“ “

Page 41: Arquitetura e Urbanismo 107

CONSEQÜÊNCIA DA FALTA DE

INTEGRAÇÃO ENTRE

ARQUITETURA E TOPOGRAFIA,

O BAIRRO TEM PRÉDIOS QUE

REFLETEM A JUSTAPOSIÇÃO

DE INTERESSES MÚLTIPLOS

I N T E R S E Ç Ã O

ALei de Uso e Ocupação do Solo

só admite a construção de edifí-

cios de até quatro andares no

bairro de Buritis, em Belo

Horizonte. Em conseqüência

do acentuado declive das ruas, a estrutura dos

prédios se assemelha a palafitas de concreto, e

é muito freqüente haver nessa paisagem casos

em que tais estruturas têm a mesma altura –

ou são até mais altas – que os próprios prédios

que sustentam. A rigidez da lei cria áreas sem

qualquer utilização, com o agravante de que

toda essa malha estrutural permanece em

estado bruto, sem pintura ou revestimento.

O bairro pode parecer uma mera conse-

qüência da ausência de integração entre

arquitetura e topografia. Seus prédios, entre-

tanto, refletem fatores de domínio mais amplo.

O crescimento urbano descontrolado, a jus-

taposição aleatória de interesses múltiplos –

entre estes, os da prefeitura, dos especuladores

do setor imobiliário e das empresas urbani-

zadoras – a discrepância entre arquitetura e

infra-estrutura e, principalmente, o desperdí-

cio típico das sociedades não planejadas.

Invento para Leonardo, peça do grupo de

teatro Armatrux, transformou esses espaços

em palco de um espetáculo que se encaixou

perfeitamente em nossa idéia de reverter os

URBANISMO EFÊMEROEM AMNÉSIASTOPOGRÁFICAS A PAISAGEM DAS GRANDES CIDADES TEM MUITOS ELEMENTOS RESIDUAIS: TERRENOS BALDIOS, VAZIOS OCIOSOS,

LACUNAS ILHADAS, VERDADEIROS RESERVATÓRIOS DE OPORTUNIDADES ABERTOS ÀS PRESSÕES DAS DEMANDAS

CÍVICAS E SOCIAIS POR LOUISE MARIE GANZ E CARLOS TEIXEIRA

espaços negativos da cidade, aproveitando-os

como "espaços ativáveis".

Ora, o potencial dessas estruturas está,

precisamente, nessa desorganização baseada

numa lógica que poderíamos chamar de

"amnésia topográfica". O labirinto formado

pela seqüência das "palafitas de concreto", a

natureza explicitamente residual desses

labirintos e a mediocridade geral dos prédios

por elas suportados são, todos eles, carac-

terísticas que podem ser vistas como quali-

dades. Partimos de algo existente, uma estru-

tura arquitetônica necessária, comum e

agressiva, que então foi "reciclada" em

matéria plástica, num sentido que extrapola

o domínio isolado da arquitetura, do teatro e

das artes plásticas.

A partir daqui, prédios vizinhos se tornam

uma única e contínua estrutura de concreto

aparente. Terrenos acidentados são vencidos

por uma malha sincopada de pilares e vigas.

Juntos, cintas e contraventamentos materiali-

zam fantasias arquitetônicas. São espaços

piranesianos não idealizados por arquitetos,

produtos de calculistas que jamais imagi-

naram o espaço que projetaram, surpresas

espaciais que nunca acontecem no mundo

previsível da arquitetura.

A peça possibilitou também uma inversão

no quadro de privatização dos espaços da

cidade. Em um País de cidades cada vez menos

públicas e mais violentas, o projeto funcionou

como um urbanismo efêmero que denuncia

os desequilíbrios urbanos de uma maneira

sem precedentes.

Nesse sentido, Armatrux foi um fator crucial

nesta investigação. Ao contratar-nos para a

escolha do local para uma nova peça, o grupo,

que tem tradição de teatro de rua, estendeu seu

espaço de atuação à pesquisa de novos conceitos.

Um quadro estático foi, assim, colocado em

movimento, posto que espaços privados foram

usados como palco e transformados em espaços

públicos – enquanto acontecia a apresentação da

peça, nos prédios vizinhos as cenas cotidianas

continuavam com toda normalidade: famílias

FEVEREIRO 2003 ARQUITETURA&URBANISMO 57

Page 42: Arquitetura e Urbanismo 107

I N T E R S E Ç Ã O

cresc

imento

sem

ord

em

AS “PALAFITAS”Construída de acordo com um plano

do século XIX, Belo Horizonte tem seu

traçado definido como duas malhas

sobrepostas em um sítio de

topografia pouco acidentada. Hoje,

novos bairros fora dos limites do

plano original brotam por todos os

lados. A cidade planejada foi

construída sobre uma planície, mas o

crescimento urbano acontece de todas

as maneiras, sem qualquer relação

com o relevo montanhoso da

periferia: daí a amnésia topográfica.

Prédios e tecido urbano criam juntos

estruturas vazias e ociosas, resultado

de uma arquitetura estúpida sobre

um desenho urbano pouco estudado.

Edifícios de apartamentos são

construídos sobre impressionantes

palafitas de concreto armado com até

quatro andares, em um continuum de

vazios arquitetônicos que cria uma

estranha paisagem suburbana.

CIDADE EM CURTOEm uma cidade densa, sem

planejamento e mesquinha, não há

chance para espaços públicos. O que se

vê são ocupações informais de lacunas

urbanas, curtos-circuitos que se

reproduzem de acordo com a presença

de usuários em potencial, como

vendedores ambulantes. Energias

sociais aparecem em locais

inesperados, resultado da falta de

vazios para atividades cívicas.

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58 ARQUITETURA&URBANISMO FEVEREIRO 2003

Page 43: Arquitetura e Urbanismo 107

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A REALIZAÇÃORecentemente, desenvolvemos um

projeto para o Armatrux, grupo de

teatro de rua. As palafitas

transformaram-se em palco para a peça

Invento para Leonardo, concebida para

ser apresentada nos vazios. O espetáculo

tratava justamente da pesquisa dos

movimentos dos atores nas palafitas,

todos explorando as particularidades de

um espaço dramático.

O PROJETOInserindo-nos nesses vazios suspensos,

propusemos a inserção de novos

programas na amnésia topográfica,

trazendo os espaços latentes para o

cotidiano. Neste projeto, espaços

flexíveis proliferam-se e conectam-se

aos outros, formando uma rede sob os

edifícios capaz de prover áreas de

playground, palcos de dança, jardins

suspensos, hortas, áreas de lazer, ateliês

de arte entre outras propostas

O projeto realizado por Louise Marie

Ganz e Carlos Teixeira para o

espetáculo do grupo mineiro de teatro

Armatrux recebeu o primeiro prêmio

no concurso e-2: Defining the Urban

Condition, organizado por um grupo

de arquitetos franceses preocupados

em pesquisar o espaço entre deux –

equivalente ao termo in between em

inglês, ou "entre-dois", em uma

tradução literal para o português. Daí

a sigla (e nome do grupo) e-2.

O resultado foi publicado em livro

pela editora Actar. A obra conta com

os 352 projetos, mais ensaios de

Bernard Tschumi, Domenique Perrault

(arquiteto e membro do júri), Michel

Desvigne (paisagista e membro do

júri), Frederic Migayrou (curador de

arquitetura do Centro Cultural

Georges Pompidou e membro do júri),

entre outros.

A exposição sobre o concurso está no

Pavillion d'Arsenal, em Paris, de 16 de

janeiro a 28 de fevereiro. O Pavillion

de L'Arsenal é um espaço de

exposições sobre arquitetura e

urbanismo financiado pelo governo

francês. A entrada é franca e o

endereço é 21 Boulevard Morland,

Marais, 75004, Paris.

Mais informações pelo e-mail

[email protected] ou pelo site

www.groupe-e2.com

Actar - Roca i Batlle 2, 08023,

Barcelona, Espanha, fone: +34 93 418

77 59 e fax 34 93 418 67 07,

[email protected]

PROPOSTA VENCEDORA

jantando, usando os banheiros e, eventualmente,

assistindo à peça de suas janelas. Cenas privadas

que se tornaram públicas.

Passarelas de madeira, escadas, rampas e

plataformas possibilitaram o uso extensivo

das palafitas em diversos níveis, enquanto

uma arquibancada tubular transformou um

lote vago entre dois prédios de apartamentos

laterais em platéia. A porção mais central do

palco se aproximava das proporções de um

palco italiano, mas a situação da platéia certa-

mente criou uma outra relação entre especta-

dores, palco e a cidade. Uma primeira progra-

mação, um primeiro projeto que demonstra a

condição de muitas outras possibilidades.

CARLOS TEIXEIRA é arquiteto pela

Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

e mestre em urbanismo pela Architectural

Association de Londres.

LOUISE MARIE GANZ é arquiteta pela

UFMG e mestranda pelo Institute

d´Architecture de Génève, Suíça

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FEVEREIRO 2003 ARQUITETURA&URBANISMO 59

Page 44: Arquitetura e Urbanismo 107

4 D

60 ARQUITETURA&URBANISMO FEVEREIRO 2003

Há exatamente um ano, abordei

nesta coluna a questão da

pirataria de software. Defendi

naquele artigo que os usuários

dos programas piratas são

muito mais reféns de uma série de circun-

stâncias do que contraventores contumazes.

Apontei os motivos que acabam lançando

muita gente séria nos braços dos piratas,

destacando o preço exorbitante das licenças

de determinados produtos.

Finalizei o texto argumentando que esse

enorme grupo de "reféns da pirataria" forma

um interessante nicho de mercado, que

poderia ser trabalhado pelos desenvolve-

dores com políticas comerciais e de produto

focadas em suas possibilidades, e sugeri que

entidades de classe incentivassem a for-

mação de grupos de compra e organizassem

leilões reversos para que os pequenos

escritórios pudessem, enfim, dispor dos

avanços da tecnologia da informação.

Assim, foi com satisfação que acompanhei

o trabalho desenvolvido em conjunto pelas

entidades Abece, Abrasip, AsBEA, IAB-SP e

Sinaenco que, depois de promover uma

INTELLICAD: SOLUÇÃOINTELIGENTE?ESMIUÇAMOS O SOFTWARE RECOMENDADO PELO ACORDO REALIZADO NO ANO PASSADO ENTRE A CADOPIA

E ENTIDADES REPRESENTATIVAS DA CATEGORIA, ENTRE ELAS, ABECE, ABRASIP, ASBEA, IAB-SP E SINAENCO

POR EDUARDO SAMPAIO NARDELLI

análise das ofertas de mercado, considerando

os preços e recursos técnicos dos produtos

disponíveis, chegou a uma alternativa de um

software CAD mais acessível, que foi ofereci-

da a todos os seus associados: o IntelliCAD.

Um software que em tudo e por tudo se

parece com o AutoCAD, mas difere em um

item muito sensível: preço. O IntelliCAD

custa, na versão Standard, 103,20 dólares –

uma pechincha se comparado aos 3.853 dó-

lares cobrados pela versão completa do

AutoCAD 2002!

De acordo com informações obtidas do

consórcio gestor do código fonte desse sis-

tema – o IntelliCAD Technology Consor-

tium (ITC), o IntelliCAD veio à luz quando a

Visio Corporation adquiriu determinados

direitos de uma empresa localizada em San

Diego, Califórnia, a Boomerang Technology,

uma desenvolvedora de programas com-

O IntelliCAD é desenvolvido pelosmembro do ITC, o consórciogestor do sistema. Assim, há nomercado diversas versões dosoftware, cada uma, fruto dotrabalho de um desses membros

Como é desenvolvidopor diferentesmembros doconsórcio gestor, oIntelliCAD podeconter conflitosinternos em suaestrutura: o softwarepossui mais de 500comandos emmilhares destrings. Por isso, aescolha dofornecedor é decisiva

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Page 45: Arquitetura e Urbanismo 107

FEVEREIRO 2003 ARQUITETURA&URBANISMO 61

patíveis com a tecnologia Autodesk-

AutoCAD, numa operação que custou 6,7

milhões de dólares, em 1997.

O objetivo da Visio Corporation, na

ocasião, era consolidar e, se possível, ampliar a

posição que já havia conquistado no mercado

de desenhos técnicos com o Visio Technical,

lançado em dezembro de 1994. Para isso, a

Visio contratou nove desenvolvedores da

própria Boomerang Technology Inc., que per-

maneceriam em San Diego desenvolvendo a

tecnologia compatível com o AutoCAD.

A Visio contava com uma equipe de peso,

que trazia no currículo o desenvolvimento e

licenciamento do Autodesk ADE (AutoCAD

Data Extension), uma extensão do AutoCAD.

Na verdade, essa equipe era constituída por

ex-empregados da Softdesk, talvez a mais

importante desenvolvedora de aplicativos

para o AutoCAD que já atuou no mercado. A

própria Softdesk, aliás, já havia sido compra-

da pela Autodesk, em 1996.

Desse modo, uma primeira versão beta do

IntelliCAD foi submetida ao público já em

novembro de 1997 e uma segunda versão foi

lançada em fevereiro de 1998, programada

para ser substituída somente após o mês de

junho desse mesmo ano.

Segundo o relato do ITC, os usuários da

versão beta fizeram uma avaliação tão positi-

va do produto que o lançamento da versão

comercial aconteceu já em março daquele

ano, incorporando novidades. Um dos pontos

que mais agradou aos usuários foi a perfeita

integração do IntelliCAD ao ambiente

Windows. Essa característica permitia à ver-

são beta tirar partido de todos os recursos

desse sistema operacional, somado o fato de

ser um suporte nativo para documentos dwg,

o que lhe confere alta compatibilidade com os

comandos do AutoCAD e o AutoLISP.

O novo produto foi recebido com grande

entusiasmo pelo mercado, o que pode ser

medido pelas declarações feitas na ocasião

por Bob Palioca, presidente e CEO da Ketiv

Technologies, então uma desenvolvedora

líder do AutoCAD AEC, "nós estamos muito

entusiasmados com essa aquisição da Visio e

acreditamos que tanto os consumidores

quanto os desenvolvedores vão gostar da pos-

sibilidade de ter uma opção viável para a tec-

nologia AutoCAD, da Autodesk".

Entretanto, apesar dessa receptividade, uma

semana após o lançamento do produto nos

Estados Unidos, sob circunstâncias não muito

claras, sete membros da equipe de desenvolve-

dores da Boomerang Technology, além do líder

do grupo, Mike Bailey, simplesmente deixaram

a Visio, comprometendo a continuidade do

produto e sua credibilidade no mercado.

Desse modo, em 1999 a Visio acabou

desistindo dos direitos exclusivos sobre o

IntelliCAD e criou o ITC – IntelliCAD Te-

chnology Consortium, que se tornou o propri-

etário do código fonte do IntelliCAD.

Composto por pessoas físicas ou jurídicas que

a ele podem aderir como membros associados

ou comerciais, o consórcio é também respon-

sável pelo desenvolvimento do programa.

Os membros associados pagam uma taxa

anual de mil dólares para ter direito à utiliza-

ção do IntelliCAD no desenvolvimento de

aplicações que não tenham uso comercial. Os

membros comerciais pagam uma taxa anual

de vinte mil dólares e mais uma inscrição ini-

cial de cinco mil dólares para ter direito ao

desenvolvimento e venda de versões comerci-

ais do IntelliCAD.

Assim, o que temos hoje no mercado são

diversas versões do IntelliCAD que correspon-

dem aos produtos desenvolvidos pelos membros

comerciais do ITC, cuja lista completa pode ser

vista no site: http://www.intellicad.org/mem-

bers/memberlist.asp.

E é aí que mora o perigo – ou a solução

inteligente! A qualidade da versão oferecida

depende da seriedade e competência do desen-

volvedor, que é membro comercial do ITC.

Uma vez que, mesmo sendo obrigado a sub-

meter ao consórcio todas as alterações reali-

zadas no código fonte original, cada membro

tem autonomia para traçar a sua própria

estratégia comercial, definindo pacotes dos

quais podem ser subtraídos um ou outro plug

in. Isso, para Rossano Alves, da ComCAD,

pode resultar em conflitos internos na estrutu-

ra do programa, posto que o IntelliCAD pos-

sui mais de quinhentos comandos espalhados

por suas milhares de strings, ou linhas de pro-

gramação. Uma vez alteradas, podem compro-

meter a sua estabilidade.

A escolha do fornecedor, portanto, pode ser

a diferença entre o céu e o inferno e deve ser

feita com muito critério. No caso do acordo

realizado pela Abece,Abrasip,AsBEA, IAB-SP

e Sinaenco, foi escolhida a CADopia

(www.cadopia.com), empresa norte-ameri-

cana, líder mundial no fornecimento do

IntelliCAD e membro comercial do ITC.

EnqueteEscutamos alguns usuários para levantar

como anda a popularidade do IntelliCAD.

A professora e arquiteta Cristiane

Gallinaro, da Becato Arquitetura, vem uti-

lizando o IntelliCAD desde 1999 e se conside-

ra satisfeita, apesar das limitações no uso dos

comandos de precisão durante a alternância

do zoom, e das incompatibilidades relativas

aos estilos de dimensionamento e de texto

com os arquivos gerados no AutoCAD. A

primeira versão com que Cristiane trabalhou

foi uma adquirida da R&C Task, mais tarde

trocada pela versão Standard 2000, fornecida

O IntelliCAD já temdiversos usuáriossatisfeitos, queapontam entre as qualidades dosoftware a fáciladaptação e o ótimosuporte técnicooferecido pelaCADopia, fornecedoraescolhida pelo acordoestabelecido entreentidades ligadas à arquitetura

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Page 46: Arquitetura e Urbanismo 107

QUADRO COMPARATIVOPrincipais software disponíveis no mercado brasileiro

PRODUTO CARACTERÍSTICAS PREÇO* CONDIÇÕES

ArchiCADVersão 7- ● ferramentas de desenho em 2D e 3D

Graphisoft Brasil ● usa o conceito de um modelo integrado 3D, ao qual são

(11) 5505-3559 associados objetos como piso, paredes, portas, janelas, escadas e cobertura

● extrai automaticamente vistas e cortes

● atualiza as alterações de projeto automaticamente US$ 2.990 –

● dimensionamento com atualização automática

● permite relatório e listas de materiais

● realiza renderizações e animações, com simulação de iluminação

● permite intercâmbio de arquivos, inclusive dwg, e trabalho colaborativo

via internet ou intranet

ArCon – Pini - ● edição de linhas em 2D

www.piniweb.com ● geração e edição de paredes retas e curvas, cortes e elevações em 2D e 3D

(11) 3352-6430, ● edição de sólidos (3D) e objetos paramétricos como portas, janelas, paredes, preços

0800 707 6055 rampas, escadas e cobertura promocionais

[email protected] ● desenho de elementos estruturais como vigas, pilares e lajes, inclusive circulares Básico: R$ 800 Básico: R$ 396

● cálculo de quantidades de serviços com base no TCPO ou 4 x R$ 99

● cálculo automático de iluminação por coordenadas geográficas Plus: R$ 2.700 Plus: R$ 1.890

● iluminação artificial, renderização, geração de animações padrão AVI, ou 6 x R$ 315

VRML e Walkthrough

● integração com o AutoCAD e outras plataformas CAD

● duas versões: o modelo Básico, indicado para estudantes e professores, e o

Plus, para profissionais

AutoCAD 2002 ● ferramentas de desenho em 2D e 3D

DataGraph ● ferramentas de dimensionamento com atualização automática

Computação Gráfica ● possibilidade de trabalho simultâneo com vários arquivos e várias

(11) 6973-4266 "folhas" de um mesmo arquivo Full: US$3.853

● ferramentas específicas para comunicação e trabalho colaborativo do tipo "arrasta e solta" Upgrade: US$ 593 à vista

● compatibilidade absoluta com formato dwg Educacional:

● possibilidade de desenvolvimento de aplicativos em AutoLISP e VBA US$ 746

● renderização com possibilidade de cálculo automático de iluminação

● três versões: Full, Upgrade e Educacional

AutoCAD LT 2002 ● ferramentas de desenho em 2D

ViaSoft ● visualização de 3D

www.viasoftnet.com.br ● ferramentas de dimensionamento com atualização automática e texto

● possibilidade de trabalho simultâneo com vários arquivos e várias US$ 1.900 à vista

"folhas" de um mesmo arquivo

● ferramentas específicas para comunicação e trabalho colaborativo do tipo arrasta e solta

● compatibilidade absoluta com formato dwg

IntelliCADCADopia ● ferramentas de desenho em 2D e 3D na versão Professional Standard Edition à vista

CADopia ● ferramentas de edição de texto e dimensionamento não associativo (1 licença)- download: preços mais

www.cadopia.com ● é preciso atualizar manualmente as cotas quando há mudança na geometria US$ 103,20 baixos para maior

● trabalha com referências externas - Xref - hachuras, zoom em tempo real Professional Edition número de

● renderização (1 licença) -download: licenças

● compatibilidade absoluta com arquivos dwg e aplicações VBA US$ 151,20 estes valores não

incluem impostos

62 ARQUITETURA&URBANISMO FEVEREIRO 2003

4 D

Page 47: Arquitetura e Urbanismo 107

FEVEREIRO 2003 ARQUITETURA&URBANISMO 63

pela CADopia que, segundo ela, correspon-

deu melhor à sua expectativa. A adaptação ao

novo software foi bastante tranqüila, visto que

a interface é muito semelhante.

Outro usuário satisfeito é o escritório Bross

(www.bross.com.br), que iniciou a migração

em outubro do ano passado, a partir da divul-

gação do acordo, adquirindo 16 cópias (dez

da versão Professional e seis da versão

Standard), que trabalham em rede, com algu-

ma instabilidade.

No entanto, de acordo com Marcelo Bross,

coordenador da área de informática desse

importante escritório especializado em

grandes projetos de hospitais, o suporte téc-

nico por e-mail oferecido pela CADopia

correspondeu perfeitamente. Suas consultas

foram atendidas em pouco mais de meia

hora, incluindo aí até mesmo a troca da ver-

são já fornecida.

Nas aulas de computação do curso de

Arquitetura e Urbanismo da Universidade São

Judas Tadeu, em São Paulo, há cerca de quatro

anos o IntelliCAD vem sendo utilizado, sem

problemas, em paralelo com o AutoCAD. A

escola usa uma versão livre do programa, obti-

da por meio do site da CADopia, conforme

depoimento do coordenador do curso, o

arquiteto Luiz Augusto Contier.

A concorrênciaComo se vê, o IntelliCAD pode ser uma

opção inteligente, desde que o usuário esteja

disposto a superar um ou outro obstáculo

decorrente das peculiaridades do desenvolvi-

mento e distribuição desse software.

Para a concorrência, a chegada do

IntelliCAD parece não incomodar. David

Oliveira, da CAD Technology, distribuidora

do VectorWorks, opina que o IntelliCAD irá

atender principalmente aos usuários do

AutoCAD que têm dificuldade para regu-

larizar as suas licenças. Para Oliveira, o

usuário do Vector busca uma nova forma de

trabalho e não apenas uma regularização.

A mesma coisa acontece com o ArCon,

comercializado pela Pini. Segundo Pedro

Paulo Machado, gerente de sistemas da empre-

sa, o ArCon é um software para a elaboração de

apresentações de projetos de arquitetura, per-

mitindo que o projetista faça o desenho simul-

taneamente em 2D ou 3D.O programa trabalha

num sistema integrado com o Volare, software

de orçamento e planejamento de obras.

Essa característica permite obter um

relatório de serviços e composições de preços

baseados no TCPO (Tabelas de Composições

de Preços para Orçamentos, editado pela Pini).

Para Machado, o ArCon é muito mais focado

na relação profissional-cliente do que no deta-

lhamento do projeto em 2D, que poderá con-

tinuar a ser feito no AutoCAD, ou no

IntelliCAD, posto que o ArCon exporta e

importa arquivos .dxf.

ConclusãoOs distribuidores daquele que se tornou o

software CAD líder do mercado enfrentam

um desafio e tanto agora: eles precisarão esta-

belecer diferenciais importantes – como o

apoio pós-venda – que justifiquem a abissal

diferença de preço entre um e outro produto.

Para Henrique Cambiaghi, presidente da

AsBEA, o ideal seria a criação de um clube de

usuários que, se inscrevendo no ITC, tivesse

acesso ao código fonte e se tornasse ele próprio

um desenvolvedor do IntelliCAD, garantindo

aos seus associados o necessário suporte técni-

co e a sua continuidade no mercado.

No entanto, Cambiaghi ressalta que a

grande dificuldade nesse caso é a articulação

dos interessados, o que parece sugerir que a

solução inteligente do IntelliCAD talvez esteja

nas mãos de seus próprios usuários...

ESTA SEÇÃO É PATROCINADA PELO

MicroStation TriForma ● ferramentas de desenho em 2D e 3D

ProEng Tecnologia ● usa o conceito de um modelo integrado 3D ao qual são associados objetos Profissional:

e Automação como pisos, paredes, portas, janelas, escadas e telhados aluguel mensal

www.proeng-sp.com.br ● extrai automaticamente vistas e cortes Profissional: de cada licença

● atualiza alterações de projeto automaticamente R$ 990/mês

● realiza renderizações, animações paramétricas e panoramas Kit Educacional

● pertence à Geração V8 do MicroStation, por isso, permite operar Kit Educacional: à vista, com opção

nativamente com os formatos dgn, dxf e dwg R$ 750 de aluguel mensal

● o aluguel temporário da licença inclui suporte técnico, atualizações, licenças em rede, de licença pelo

inúmeras licenças Bentley View, licença para uso residencial e acesso ao SELECTServices Online programa BEN

● nas versões Profissional e Kit Educacional valor não fornecido

VectorWorks 10.0 ● ferramentas de desenho em 2D e 3D Full (primeira

CAD Technology ● desenho baseado em objetos, como piso, parede, portas, versão): US$ 995

www.cadtec.com janelas, colunas e cobertura Full – licenças

● renderização e geração de animações orbitais e walkthrough adicionais: US$ 595

● permite intercâmbio de arquivos, inclusive dwg, viabilizando a Upgrade: US$ 395 –

coordenação e compartilhamento do projeto com toda a equipe Educacional (primeira

● versões Full e Educacional licença): US$ 270

(licenças adicionais): US$ 99

*preços pesquisados em janeiro/2003

Page 48: Arquitetura e Urbanismo 107

T E C N O L O G I A & M A T E R I A I S

64 ARQUITETURA&URBANISMO FEVEREIRO 2003

Acionados por máquinas a

vapor, os primeiros ele-

vadores foram instalados em

Nova York, em 1857. No

Brasil, a novidade surgiu em

1918. Na ocasião, os elevadores fun-

cionavam com o auxílio de um cabineiro

que comandava o sobe e desce por uma

manivela – além de abrir e fechar a porta.

Desde então, foram desenvolvidos

comandos cada vez mais complexos que

tornaram os elevadores mas rápidos e con-

fortáveis. Mas foi com o advento informáti-

ca que as máquinas tiveram uma significati-

va evolução. O quadro de comando tradi-

cional, por exemplo, que era composto por

circuitos eletromecânicos, foi substituído

por um sistema acionado por microproces-

sador capaz de coordenar todo o funciona-

mento dos elevadores.

Hoje, é possível dizer que existe um

modelo de elevador para cada tipo de edifí-

cio. Em prédios de escritórios, por exemplo,

as exigências de cálculo de tráfego vertical

são bem mais rigorosas do que as empre-

gadas para construções residenciais. Neste

caso, a espera pelo elevador tem de atender a

intervalos curtos.

O engenheiro Moacyr Motta Filho, dire-

tor da Empro, empresa especializada em

consultoria para transporte vertical, ressalta

que fatores como o tipo de máquina e de

energia elétrica fazem a diferença na hora

de projetar o tráfego vertical de qualquer

edificação. "Além disso, itens como coman-

dos e controle dos equipamentos, incluindo

todos os detalhes de automação, também

são relevantes", diz.

Lauro Galdino, diretor da área de pesqui-

sa da Thyssenkrupp, concorda inteiramente

TRANSPORTE EFICIENTECOM EDIFÍCIOS CADA VEZ MAIS ALTOS E PESSOAS CADA VEZ MAIS OCUPADAS, O TRÁFEGO DENTRO DE EDIFÍCIOS

TORNA-SE QUASE TÃO COMPLEXO QUANTO O DAS RUAS DE UMA GRANDE CIDADE. MAS A INDÚSTRIA TEM USADO A ALTA

TECNOLOGIA PARA ENCONTRAR SOLUÇÕES JUSTAS, ECONÔMICAS E INTELIGENTES POR NÁDIA FISCHER FOTOS: DIVULGAÇÃO

Projeto do escritório norte-americano Skidmore, Owings & Merrill, adaptado pelo EscritórioTécnico Julio Neves. O novo edifício do BankBoston, em São Paulo, tem elevadores AtlasSchindler equipados com o sistema de gerenciamento de tráfego Miconic10

Page 49: Arquitetura e Urbanismo 107

FEVEREIRO 2003 ARQUITETURA&URBANISMO 65

com Motta Filho quanto aos fatores que

devem ser considerados em um projeto de

transporte vertical. Galdino diz ainda que

escolher um elevador é como escolher um

carro novo. "Às vezes, o de design mais

arrojado nem sempre oferece uma tecnolo-

gia de ponta, ou talvez a manutenção seja

inviável", compara.

De acordo com especialistas no assunto, a

evolução dos elevadores está muito mais

voltada para a inteligência do produto, o

que significa desenvolver meios de alimen-

tar o equipamento com informações sobre

o tráfego. A partir desses dados, o sistema

estaciona as cabines em pontos estratégicos,

no térreo ou em qualquer outro pavimento

mais solicitado, conforme a demanda.

Uma das tendências é a substituição da

botoeira de chamada no pavimento por um

software gerenciador de tráfego. Com este

software, é possível gerenciar o grupo de

elevadores, de modo a direcionar o pas-

sageiro ao destino desejado o mais rápido

possível. Logo, o tempo de espera, tanto no

andar quanto na cabine, será muito menor.

Para o engenheiro Motta Filho, do ponto

de vista tecnológico, o produto mais moder-

no é aquele que possibilita maior economia

de energia. Atualmente, o sistema VVVF

(Variable Voltage Variable Frequency, ou

seja, voltagem e freqüência variáveis) chega

a proporcionar até 40% de economia em

relação aos tradicionais elevadores eletro-

mecânicos. Sem contar a segurança, exigida

por normas. Este tipo de acionamento elimi-

na aquelas paradas bruscas e o "frio na bar-

riga" durante as viagens.

Há ainda o elevador hidráulico e sem casa

de máquinas, alternativa que poupa área útil

das edificações. De acordo com os especialis-

tas, esta alternativa ainda facilita a manu-

tenção, tendo em vista que os equipamentos

estão integrados – cabine, máquina e coman-

do. A caixa de corrida é colocada dentro do

próprio poço de elevador ou em sua lateral,

em qualquer pavimento.

AS ESCADAS ROLANTESSe durante a inauguração do primeiro

shopping do Camboja, em dezembro de

2002, a grande atração foi o conjunto de es-

cadas rolantes, por aqui o equipamento é

Recentemente, elevadores e escadas

rolantes foram instalados para o acesso à

estátua do Cristo Redentor, no Rio de

Janeiro. De acordo com o arquiteto

responsável pela obra, Maurício Puchinik,

as instalações não poderiam se sobrepor

ao monumento nem à paisagem da Tijuca.

Entretanto, teriam que atender a um fluxo

médio de sete mil pessoas ao dia.

Um conjunto de três elevadores, da Otis,

foi instalado na plataforma de chegada

e saída do trenzinho, todos monitorados

durante 24 horas por dia por um sistema

remoto. O equipamento tem isolamento

termoacústico e seu nível de ruído não

ultrapassa a 58 dB. Há ainda quatro

escadas rolantes que vencem o desnível

de 6 m e 30 graus de inclinação. De alta

tecnologia, as escadas têm acionamento

intermitente, ou seja, quando não há

tráfego a operação torna-se mais lenta,

promovendo a economia de energia.

Acesso à fé e à paisagem

Page 50: Arquitetura e Urbanismo 107

T E C N O L O G I A & M A T E R I A I S

66 ARQUITETURA&URBANISMO FEVEREIRO 2003

"para lá de comum". Seja em shoppings,

lojas de departamento, metrô ou supermer-

cados, a finalidade das escadas é transportar

grande número de pessoas em movimento

contínuo e em poucos pavimentos.

A evolução neste segmento se refere a

equipamentos com maior segurança, mais

delgados e que ocupam menor espaço. Os

novos modelos também são mais seguros e

consomem menos energia. O mesmo se

aplica às esteiras, cuja aplicação abrange o

transporte de carrinhos em supermercados

ou bagagem em aeroportos.

Além do foco em economia de energia,

segurança e fácil manutenção, a

indústria de elevadores também tem se

dedicado a diminuir as barreiras

arquitetônicas que impedem a livre

movimentação de idosos,

crianças e, em especial,

portadores de deficiência física.

A norma exige que um elevador

para deficiente tenha dimensões

mínimas de 1,10 m de largura

por 1,40 m de profundidade,

com abertura ou vão de 0,80 m.

Tais dimensões permitem que

uma cadeira de rodas seja

manobrada dentro da cabine.

A dificuldade é que esses

equipamentos custam mais caro.

Assim, uma boa escolha pode ser

a plataforma vertical que, em

geral, custa muito menos que um

elevador. Trata-se de um

dispositivo instalado

permanentemente para servir

pavimentos fixos, composto de

uma plataforma guiada, cujas

dimensões e meios de construção

permitam o acesso a pessoas

deficientes, com ou sem cadeiras

de rodas. O equipamento também tem

sido instalado em residências, visto que

permite maior liberdade de movimento.

O direito

de ir e vir

SEGURANÇAA nova linha de escadas rolantes da Otis,a NCE, tem escovas na entrada e saídados corrimãos para impedir a entrada deobjetos estranhos. Um sistemaautomático paralisa a escada em caso deobstrução. MO 52283

FLEXIBILIDADE As duas novas séries da ThyssenKrupp, aArt Collection e a Export, têm peçascomponíveis como painéis, botoeiras,teto, piso e corrimãos, que permitem aelaboração de projetos personalizados. MO 52286

CONTROLE DE FREQÜÊNCIA Feito para ocupar pouco espaço, oelevador da HTS requer poço com nomínimo 1,3 m x 1,4 m e altura de 2,8 m.O equipamento trabalha em VVVF –voltagem e freqüência variáveis, queproporciona maior conforto. MO 52297

CIDADANIAPara facilitar a adaptação de seu projetoàs normas de acessibilidade quando aimplantação de uma rampa é complicada– ou até impossível – a Monteledesenvolveu a plataforma PL-200.MO 52300

Nas

fo

tos,

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tor,

Rio

.

Page 51: Arquitetura e Urbanismo 107

*Veja endereços no final da revista

HIDRÁULICO Livre da casa de máquinas, osistema da Villarta exige umpoço reduzido. É silencioso eo nivelamento com osandares, preciso. Além disso,a empresa promete até 25%de economia de energia emanutenção.MO 52292

CHAMADA DIGITALO modelo SmartMRL, daAtlas Schindler, dispensa casade máquinas e tem botoeiradigital: o passageiro digita oandar em um tecladoeletrônico que ainda possuisinalização em Braille ealarme sonoro. MO 52269

VIAGEM RACIONALO passageiro digita o destinoem um terminal no piso. Osistema Miconic10, da AtlasSchindler, organiza assolicitações e um displaymostra qual elevador tomar.Assim, reduz as paradas eevita a lotação. MO 52284

RESIDENCIALDa Atlas Schindler, a sérieAbitare tem modelos para atéoito pessoas. Há váriasopções de acabamento eopcionais como Braille e oAtlas Schindler Code, sistemade segurança que restringe oacesso aos pisos.MO 52285

ESCADA VERSÁTIL A Atlas Schindlerdesenvolveu o modeloS9300. A escada é dotada desistemas eletrônicos queadaptam a potência ao fluxode passageiros, permitindouma redução de até 30% noconsumo de energia.MO 52290

BAIXO CONSUMOAlém das linhas arredondadas, aescada Avante, daThyssenKrupp, poupa energia, ao funcionar embaixa velocidade quando não hápassageiros. O modelo temcorreias especiais que dispensamlubrificação freqüente.MO 52287

ACESSIBILIDADE A ThyssenKrupp produzelevadores, cadeiraselevatórias e plataformaspara transporte de pessoascom mobilidade reduzida. Asplataformas podem seracionadas pelo própriopassageiro. MO 52288

EM CASAIdealizado para prédios dedois ou três andares, oMinorlift ocupa apenas 1 m2

e dispensa casa de máquinasou poço. Segundo ofabricante, a Hardee, oconsumo de energia é inferiorao de um eletrodoméstico. MO 52289

Page 52: Arquitetura e Urbanismo 107

C A N A L

68 ARQUITETURA&URBANISMO FEVEREIRO 2003

A Promoção Privada de Habitação Econômica ea Arquitetura ModernaMaria Ruth Amaral de Sampaio RiMa Editora 316 páginas

www.rimaeditora.com.br (16) 272-5269Organizado por Maria Ruth Sampaio, diretora da FAUUSPdesde 1998, a publicação traz cinco artigos sobre alguns aspec-tos do quadro habitacional brasileiro, sobretudo do paulistano.O livro também conta com prefácio de Carlos Lemos e biogra-fias de arquitetos, além de artigos escritos por Maria Ruth,Rossella Rossetto, José Tavares Correia de Lira e AdrianoAugusto Bosetti.

Como Construir Téchne 1 a 69 Pini vendas pelo Pini Delivery www.piniweb.com/delivery

[email protected] 0300 7898812 (R$ 0,29 por minuto)Lançado pela Pini para celebrar os dez anos da revista Téchne,o CD-ROM traz uma coletânea com 69 artigos publicados emComo Construir, uma das seções mais lidas da publicação, cria-da em 1992. Como o nome indica, o CD traz o passo a passode execução de diferentes sistemas construtivos.

TCPO 2003Pini vendas pelo Pini Deliverywww.piniweb.com/[email protected] 0300 7898812(R$ 0,29 por minuto)

A Pini acaba de lançar as novas ver-

sões em livro e CD-ROM do TCPO

(Tabelas de Composições de Preços

para Orçamentos), a mais completa

fonte de informações técnicas sobre

composições de custos de obras da

construção civil no Brasil. Com maior

precisão nos cálculos de produtivida-

de, a 12a versão do TCPO traz novi-

dades como o conceito de Produti-

vidade Variável, um capítulo especial

sobre BDI (Benefícios e Despesas

Indiretas) e novas composições de

Custo Horário de Equipamentos

(CHE). Com 200 novas composições,

a publicação traz agora os fatores

positivos e negativos que podem

influenciar na produtividade. Atua-

lizados, os capítulos ganharam cores

para facilitar a pesquisa.

The Official Point of View - Milano FurnitureFair 2002Giulia Ber Tacchini, Paolo Calcagni, Lucio Luzo Lazzara, RicardoRinetti Actar 512 páginas [email protected] +34 93418 77593228161 - Prolivros: rua das luminárias, 94 (11) 3864-7477 www.prolivros.com.br - [email protected] ao Salão do Móvel de Milão 2002, a publicação inde-pendente é um registro fotográfico do evento sob a ótica de seusautores. Criativos, os capítulos trazem objetos que correspondemà seqüência de atividades de uma pessoa ao longo do dia, desdea xícara do café da manhã, até a cama na hora de deitar.

El Diseño Del Siglo XXIEditado por Charlotte e Peter Fiell Taschen 576 páginaswww.taschen.com [email protected] 49 221 2018003228161 Prolivros: rua das luminárias, 94 (11) 3864-7477 www.prolivros.com.br [email protected] os mais talentosos designers da atualidade vêem o futurodo design? O que determina forma, função e estética no virar domilênio? Criado para responder a essas perguntas, o livro apresen-ta o trabalho dos designers influentes e funciona como um guiade referência de design, mobiliário, cerâmica, vidro e têxteis. Umaobra excelente e muito recomendada.