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Anais do I Simpósio Internacional de Estudos sobre a Deficiência – SEDPcD/Diversitas/USP Legal – São Paulo,
junho/2013
Arquitetura escolar acessível: a essência da participação e
socialização do aluno com deficiência.
PRISCILA FERNANDES LIBONATI*
Resumo
Este trabalho trata da adequação de espaços de ensino como requisito essencial à
participação e socialização do aluno com deficiência. Apesar dos direitos garantidos pela
legislação, muitos ambientes escolares ainda contêm barreiras que limitam a
acessibilidade. Desta forma, o objetivo deste artigo é elaborar diretrizes para o
planejamento de escolas que contemplem a diversidade das pessoas, possibilitando que os
alunos com deficiência obtenham autonomia e melhores condições de aprendizagem.
Face ao exposto, foram realizadas vistorias técnicas para detectar os principais problemas
referentes ao tema.
Palavras-chave: Arquitetura escolar acessível; educação para todos e ergonomia.
Abstract
This work deals about the adequacy of space for education as a requisite to
participation and socialization of students with disabilities. Despite the rights guaranteed
by the law, many school ambients still contain barriers that limit the accessibility. This
away, the aim is to develop guidelines for the design of schools that look at the diversity
of the people, so the students with disabilities gain independence and better learning
conditions. In view of the above, technical inspections were conducted to detect the main
problems related to the topic.
Keywords: architecture accessible school, education for all and ergonomics.
* Arquiteta, urbanista e engenheira de segurança do trabalho. Especialista em desenvolvimento urbano da
Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida (SMPED) e membro da Comissão
Permanente de Acessibilidade de São Paulo (CPA-SP). E-mail: [email protected]
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Anais do I Simpósio Internacional de Estudos sobre a Deficiência – SEDPcD/Diversitas/USP Legal – São Paulo,
junho/2013
1 INTRODUÇÃO
Garantir condições para o acesso e permanência na escola com equiparação de
oportunidades, e sem qualquer tipo de discriminação, é um princípio fundamental que
está presente na Constituição da República Federativa do Brasil desde 1988. Entretanto,
tal direito ainda não é uma realidade para muitos alunos com deficiência.
A acessibilidade nas instituições escolares é um dos primeiros requisitos para a
universalização do ensino. Ela assegura a possibilidade a todos de chegar até a escola,
circular por suas dependências, utilizar funcionalmente todos os espaços, freqüentar a
sala de aula e atuar nas suas diversas atividades. (BRASIL, 2004:21)
Para isto, é crucial a identificação das barreiras físicas que aumentam o grau de
dificuldade ou impossibilitam a participação, a realização de atividades e a socialização
das pessoas com deficiência nas escolas.
O Censo Escolar, promovido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (INEP), registra o aumento de 9,1% no número de
matrículas de alunos com deficiência na educação básica, indo de 752.305 matrículas em
2011 para 820.433 em 2012. Quanto ao aumento do número de estudantes incluídos em
classes comuns do ensino regular e na EJA o aumento foi de 11,2%. (INEP, 2013: 27).
Desta forma, a adaptação em prol da acessibilidade é uma necessidade urgente,
conforme demonstra o seguinte:
“Um aluno, por exemplo, com baixa visão, se entrar num corredor
com paredes e forro brancos, com piso e portas de cor cinza claro, vai ter sua
dificuldade agravada, pois não existe contraste de cores entre piso, paredes e
portas. Mas, se o corredor for branco, o piso cinza escuro e as portas coloridas,
ele vai poder distinguir tanto os planos horizontais e verticais como as
aberturas”. (BRASIL, 2009: 23)
O trecho acima evidencia a busca do atendimento das necessidades oriundas das
diferentes deficiências, com base nas normas e legislações vigentes, de forma a garantir a
autonomia e segurança dos alunos com deficiência no cotidiano escolar.
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2 LEGISLAÇÃO
A legislação específica, no âmbito da educação para todos, inicia-se no inciso III
do art. 208 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 que estabelece “o
atendimento educacional especializado às pessoas com deficiência e mobilidade reduzida,
preferencialmente, na rede regular de ensino” (BRASIL, 1988: 86).
Esse direito reconhecido pela constituição também está presente no Decreto
Federal nº- 6.949, de 25 de agosto de 2009, que promulga a Convenção Internacional dos
Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, ratificado pelo Estado
Brasileiro com equivalência de emenda constitucional, que em igualdade de
oportunidades com os demais estudantes determina adaptações de acordo com as
necessidades individuais e medidas de apoio específicas para o planejamento do ambiente
escolar.
Como preâmbulo, a mesma convenção, reconhece “[...] a importância da
acessibilidade [...], à educação, [...], para possibilitar às pessoas com deficiência o pleno
gozo de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais”. (BRASIL, 2012: 148)
Deve-se observar que o Decreto Federal nº-5.296, de 2 de dezembro de 2004 em
seu art. 24 prevê que:
“os estabelecimentos de ensino de qualquer nível, etapa ou
modalidade, públicos ou privados, proporcionarão condições de acesso e
utilização de todos os seus ambientes ou compartimentos para pessoas
portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, inclusive salas de aula,
bibliotecas, auditórios, ginásios e instalações desportivas, laboratórios, áreas de
lazer e sanitários.
§ 1o Para a concessão de autorização de funcionamento, de abertura
ou renovação de curso pelo Poder Público, o estabelecimento de ensino deverá
comprovar que:
I - está cumprindo as regras de acessibilidade arquitetônica,
urbanística e na comunicação e informação previstas nas normas técnicas de
acessibilidade da ABNT1, na legislação específica ou neste Decreto;
1 Insta registrar que desde a promulgação das leis, a ABNT NBR 9050 está incorporada como parâmetro
técnico a ser, obrigatoriamente, obedecido e atendido.
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II - coloca à disposição de professores, alunos, servidores e
empregados portadores de deficiência ou com mobilidade reduzida ajudas
técnicas que permitam o acesso às atividades escolares e administrativas em
igualdade de condições com as demais pessoas; e
III - seu ordenamento interno contém normas sobre o tratamento a ser
dispensado a professores, alunos, servidores e empregados portadores de
deficiência, com o objetivo de coibir e reprimir qualquer tipo de discriminação,
bem como as respectivas sanções pelo descumprimento dessas normas.
§ 2o As edificações de uso público e de uso coletivo referidas no
caput, já existentes, têm, respectivamente, prazo de trinta e quarenta e oito
meses, a contar da data de publicação deste Decreto, para garantir a
acessibilidade de que trata este artigo” (BRASIL, 2004:8).
Face ao exposto, os prazos da implantação de acessibilidade nos estabelecimentos
de ensino já foram ultrapassados, 2 de junho de 2007 para escolas públicas e 2 de
dezembro de 2008 para escolas particulares.
Convém ressaltar o Decreto Federal nº- 6.571, de 17 de setembro de 2008 que
dispõe sobre o atendimento educacional especializado, mas especificamente em seu
inciso IV do art. 3º- fica estabelecido adequação no âmbito de acessibilidade nas
edificações escolares.
Entretanto, a legislação rígida sobre o assunto não basta para a efetivação dos
direitos, é essencial que esteja associada à conscientização técnica e sua aplicação efetiva.
3 VISTORIAS TÉCNICAS
O presente tópico demonstrará os principais problemas referentes à acessibilidade
para pessoas com deficiência e mobilidade reduzida. Tomou-se como base às
informações das vistorias técnicas realizadas para atendimento das denúncias do
Ministério Público. Por esse motivo, não serão oficializados os nomes das instituições de
ensino, entretanto, a subdivisão estará de acordo com seu uso, ou seja, escolas
particulares, municipais e estaduais.
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E.P. 12 E.P. 2 E.P. 3 E.E. 1 E.E. 2 E.E. 3 E.M. 1 E.M. 1
Piso
Rebaixamento
Inclinação transversal
Rampa de acesso para veículos
Largura da área de circulação
Interferências
Legenda
inadequado
adequado
não se aplica
Tabela 1. Atendimento às leis e normas de acessibilidade referente aos passeios públicos.
A principal desconformidade verificada no passeio público é referente ao piso
(número 1) com 87,5% de inadequação. Na maioria desses casos o problema é o péssimo
estado de conservação. Quanto à inclinação transversal das calçadas (número 3) atesta-se
apenas 12,5% de inadequação, pois, no geral, as mesmas obedecem às inclinações de até
2%. Outras amostras estão demonstradas a seguir no Gráfico 1.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
1 2 3 4 5 6
inadequado
adequado
não se aplica
Gráfico 1. Desconformidades relacionadas ao passeio públicos das referidas escolas.
2 As abreviações da Tabela 1 são: Escola Particular (E.P.); Escola Estadual (E.E) e Escola Municipal
(E.M).
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Os itens 1, 2, 3, 4, 5 e 6 verificados no Gráfico 1 são, respectivamente: piso3;
rebaixamento4; inclinação transversal5; rampa de acesso para veículos6; largura da área de
circulação7 e interferências8. E suas inadequações serão ilustradas através das fotos9
abaixo:
Figura 1: Piso irregular e instável em frente da entrada principal da Escola Municipal 1.
Figura 2: Falta de rebaixamentos na travessia da Escola Estadual 2.
Figura 3: Inclinação transversal superior à 2% da calçada da Escola Particular 2.
Figura 4: Interrupção da faixa livre nos acessos de veículos na Escola Estadual 2.
Figura 5: Largura inadequada (inferior a 0,70m) da calçada da Escola Estadual 1.
Figura 6: Obstrução da árvore no passeio público da Escola Municipal 1.
Já as principais inadequações relacionadas à acessibilidade na área interna e
externa, mobiliário e sinalização das edificações escolares estão detalhadas na Tabela 2.
3 Item 6.1.1 da ABNT NBR 9050:2004. 4 Item 6.10.11 da ABNT NBR 9050:2004. 5 Inciso III do art. 9º do Decreto nº45.904 de 19 de maio de 2005. 6 Item 6.10.6 da ABNT NBR 9050:2004. 7 Item 6.10.4 da ABNT NBR 9050:2004. 8 Item 6.10.5 da ABNT NBR 9050:2004. 9 A autoria de todas as fotos e ilustrações apresentadas neste artigo é da autora do presente trabalho.
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E.P. 1 E.P. 2 E.P. 3 E.E. 1 E.E. 2 E.E. 3 E.M. 1 E.M. 1
Entrada e saída
Circulação horizontal
Circulação vertical
Sala de aula
Biblioteca
Local de Reunião
Local de Refeição
Área Administrativa
Instalações Sanitárias
Área Esportiva e Recreativa
Estacionamento
Mobiliário
Sinalização
Legenda
inadequado
adequado
não se aplica
Tabela 2. Atendimento às leis e normas de acessibilidade referente às edificações escolares.
Observa-se que os principais problemas verificados através das vistorias técnicas
foram a falta de mobiliário e sinalização nos ambientes escolares, ambos com 100% de
inadequação. Em contrapartida, os itens com o menor índice de problemas foram o
acesso à sala de aula, aos locais de refeição e à área administrativa, todos com 75%.
Face ao exposto, é notável a condição de precariedade nas adequações que, na
maioria das vezes, são feitas sem a devida fiscalização da obra o que ocasiona
pseudoadaptações de acessibilidade, conforme demonstrado nas fotos.
Figura 7: Entrada e saída inacessíveis da Escola Estadual 2.
Figura 8: Circulação horizontal sem presente rota acessível na Escola Particular 1.
Figura 9: Elevador sem funcionamento há mais de 6 meses na Escola Estadual 3.
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Figura 10: Presença de degraus nas soleiras das entradas das salas de aula na Escola Municipal 2.
Figura 11: Biblioteca sem área de circulação e sem prateleiras acessíveis na Escola Particular 1.
Figura 13: Auditório sem lugares reservados e sem área de circulação na Escola Municipal 2.
Figura 14: Mesas de refeição sem área de aproximação presentes na Escola Municipal 1.
Figura 15: Área administrativa completamente inacessível da Escola Estadual 2.
Figura 16: Área de higienização inacessível localizada na Escola Municipal 2.
Figura 17: Entrada da quadra inacessível e sem lugares reservados na Escola Municipal 1.
Figura 18: Estacionamento sem vagas reservadas da Escola Estadual 2.
Figura 19: Sala de aula sem mobiliário acessível na Escola Estadual 2.
De acordo com a pesquisa realizada, serão apontadas as principais diretrizes para
o planejamento de ambientes escolares que contemplem à diversidade, utilizando a
arquitetura como ciência social e humana que valoriza o convívio das diferenças.
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5 DIRETRIZES GERAIS
As diretrizes para espaços escolares devem garantir autonomia e segurança,
elementos essenciais e imprescindíveis para o processo de aprendizagem e
desenvolvimento pessoal dos alunos com deficiência e mobilidade reduzida.
As diretrizes aqui construídas foram elaboradas em função de levantamento
bibliográfico, vistorias e entrevistas feitas com professores e alunos com deficiência e
tendo como referência a NBR 9050:2004 da ABNT e legislações vigentes no âmbito de
acessibilidade. Ressalta-se que algumas diretrizes serão exemplificadas através de
ilustrações e não deverão ser interpretadas como padrões normativos.
5.1 QUANTO AO PASSEIO PÚBLICO
Neste quesito a escola deverá ser totalmente livre de barreiras. Além disso, é vital
que passeio público esteja em conformidade com a legislação específica para cada
município. No caso de São Paulo, é estabelecida conforme o Decreto Nº 52.903, de 6 de
janeiro de 2012 (que regulamenta a Lei nº 15.442, de 9 de setembro de 2011).
Dessa forma, os passeios públicos devem conter: pisos regulares, estáveis e
antiderrapantes; semáforos sonoros (com botoeiras de acordo com a faixa de alcance
confortável, ou seja, altura entre 0,80m e 1,20m); sinalização tátil de alerta no piso e/ou
linha-guia e rebaixamentos junto às travessias de pedestres.
5.2 QUANTO ÀS ÁREAS CONSTRUÍDAS
As áreas construídas são constituídas pela: entrada e saída10, circulação
horizontal11 e vertical12, sala de aula13, biblioteca14, local de reunião15, local de refeição16,
área administrativa17 e instalações sanitárias18.
10 Itens 6.2 e 8.6.1 da ABNT NBR 9050:2004. 11 Itens 6.1 e 6.9 da ABNT NBR 9050:2004. 12 Itens 6.5 à 6.8 e 8.6.10 da ABNT NBR 9050:2004. 13 Itens 8.6.7 e 8.6.8 da ABNT NBR 9050:2004. 14 Item 8.7 da ABNT NBR 9050:2004. 15 Item 8.2 da ABNT NBR 9050:2004.
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Nas edificações escolares todas as entradas devem ser acessíveis para que não
haja segregação, entretanto, no caso de adaptação de uma construção existente deve ser
previsto no mínimo um acesso, vinculado através de rota acessível19 à circulação
principal e à circulação de emergência e, neste caso a distância entre a entrada acessível e
as demais não pode ultrapassar 50m. Além disso, o acesso deverá ser sinalizado com o
Símbolo Internacional de Acesso (SIA).
Figura 20: Entrada e saída acessível.
Importante notar que no caso das escolas a norma estabelece que a entrada de
alunos deve estar preferencialmente localizada na via de menor fluxo de tráfego de
veículos e deverá ser instalada a sinalização tátil de piso interligando a entrada da
instituição de ensino com o primeiro atendimento (geralmente, são as secretarias).
Sobre os corredores, esses serão dimensionados de acordo com o fluxo de
pessoas, assegurando uma faixa livre de barreiras. As larguras mínimas são: 0,90 m (para
corredores com extensão até 4,00 m); 1,20 m (para corredores com extensão até 10,00 m)
e 1,50 m (para corredores com extensão superior a 10,00 m). Além disso, todas as portas
deverão ter um vão livre mínimo de 0,80m.
16 Itens 9.3 e 9.5 da ABNT NBR 9050:2004. 17 Item 8.6.2 da ABNT NBR 9050:2004. 18 Itens 7.0, 8.6.4 e 8.6.5 da ABNT NBR 9050:2004. 19 Rota acessível é um trajeto contínuo, desobstruído e sinalizado que conecta todos os ambientes da
edificação.
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Caso haja obstáculos suspensos que não são constatados através das bengalas
utilizadas pelos alunos com deficiência visual, (tais como: extintores, bebedouros,
telefones, entre outros) na altura entre 0,60m e 2,10m deverá ser instalada sinalização
tátil de alerta.
Já a circulação vertical acessível é imprescindível para interligar todos os usos da
escola, dessa forma, todos os desníveis terão que ser transpostos por rampas ou algum
equipamento eletromecânico de maneira que a pessoa faça o percurso de forma segura e
autônoma.
Nas salas de aula, pelo menos 1% do total de mesas, ou no mínimo uma para cada
duas salas, deverá ser acessível à pessoa com cadeira de rodas. É importante que tenha
mobiliário de altura regulável e que contemple a diversidade, entre as quais: pessoas
canhotas e com obesidade. Observa-se que as lousas deverão ter altura de no máximo
0,90m, ser amplas e possuir contraste.
Referente às bibliotecas, o espaço mínimo entre as prateleiras para atender a
circulação do aluno com deficiência em cadeira de rodas é de no mínimo 0,90m. É
obrigatório permitir um giro de pelo menos 180° nos corredores entre as estantes a cada
15m. Evidencia-se que as alturas dos fichários estão relacionadas à faixa de alcance
manual, isto é, de 0,40m à 1,20m.
Quanto aos locais de reunião, deverá ter acessibilidade em todas as áreas, tais
como: platéia, palco e bastidores. Na platéia, todos os assentos reservados deverão ser
distribuídos no recinto e possuir o SIA, além disso, é crucial ter boa visibilidade, acústica
e estar situado juntamente com o assento para acompanhante, deverá atender a
quantificação dos assentos, de acordo com a tabela a seguir:
Capacidade total Espaço para P.C.R Assento para P.M.R Assento P.O
de assentos
até 25 1 un.* 1 un.* 2 un.***
de 26 a 50 2 un.* 1 un.* 2 un.***
de 51 a 100 3 un.* 1 un.* 2 un.***
de 101 a 200 4 un.* 1 un.* 2 un.***
acima de 201 2 %** 1 %* 1 %*
Base legal: *ABNT BNR 9050-04, **Decreto Federal 5.296-04 e Lei Estadual 12.225-06
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Além disso, na existência de desnível entre o palco e a platéia, admite-se a
execução de uma rampa ou a instalação de uma plataforma elevatória para fazer essa
interligação de forma acessível. Caso haja camarins, é obrigatório ter pelo menos uma
unidade acessível para cada sexo.
Sobre os refeitórios, nota-se que deverá ser garantida uma faixa livre de
circulação de 0,90m e área para manobra para o acesso às mesmas. Além disso, ele
deverá ter 5% de mesas acessíveis, não se esquecendo das poltronas especiais para uso de
pessoas obesas. Especificamente, no caso do município de São Paulo, é obrigatório que
os estabelecimentos tenham cardápios impressos em Braille, de acordo com a Lei
municipal nº 12.363, de 13 de Junho de 1997.
Em relação aos sanitários acessíveis, os mesmos deverão ser projetados de acordo
com as informações fornecidas no Artigo 22º do Decreto Federal 5.296 de 2004
juntamente com a quantificação estabelecida pela ABNT NBR 9050:2004, ou seja, 5%
das peças sanitárias (bacias, lavatórios, mictórios) deverão ser acessíveis, com no mínimo
um para cada sexo, de uso dos alunos e, calculado separadamente desse cômputo, deverá
haver no mínimo um para cada sexo para uso de funcionários e professores. Convém
ressaltar que não há medidas definidas para crianças pela NBR 9050:2004, caso
contrário, do que ocorre pela norma técnica americana (Americans with Disabilities Act –
ADA)20 que estabelece as dimensões antropométricas divididas em três classificações de
acordo com a idade: de 3 à 4 anos; de 5 à 8 anos e de 9 até 12 anos. (ADA, 2010:37;169)
Insta registrar que pela dificuldade de assepsia de alguns alunos foi elaborado um
projeto de área de higienização nas escolas municipais21 de São Paulo desenvolvido pela
equipe técnica da Comissão Permanente de Acessibilidade (CPA) à pedido da Secretaria
Municipal da Educação.
20 Conjunto de leis que regulamentam os direitos das pessoas com deficiência nos Estados Unidos da
América. 21 Esse ambiente deverá ser executado de acordo com os padrões propostos pelo projeto da “sala de
higienização para uso das pessoas com deficiência em escolas municipais”, conforme o Processo
Administrativo n°- 2012 -0.135.481-8.
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Figuras 21 e 22: Respectivamente, módulos 1 e 2 da área de higienização para escolas municipais.
5.3 QUANTO ÀS ÁREAS EXTERNAS
As áreas externas são compostas pelo estacionamento e pela área esportiva e
recreativa.
Um aspecto relevante a ser considerado está relacionado ao estacionamento, as
vagas reservadas são fundamentais para garantir o acesso das pessoas que utilizam
veículo em sua locomoção e devem estar localizadas próximas das rotas acessíveis e aos
seus respectivos acessos. Em relação à quantificação do número de vagas reservadas, esta
deve ser estabelecida de acordo com a legislação mais restritiva sobre o referido assunto,
entre as quais, a Lei Municipal 11.228 de 1992, Decreto Federal 5.296 de 2004 e a NBR
9050.
Ressalta-se que as vagas para estacionamento de veículos que conduzam ou sejam
conduzidos por pessoas com deficiência devem ter dimensionamento mínimo de 2,5m
por 5,0m, faixa adicional de circulação com a largura a partir de 1,20m, sinalização
horizontal e vertical.
Outro quesito essencial para a socialização do aluno com deficiência é referente à
acessibilidade nas áreas esportivas e recreativas.
Nas quadras poliesportivas deverá ter espaços, devidamente sinalizados, para
pessoas em cadeiras de rodas e assentos para pessoas com mobilidade reduzida e pessoas
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obesas. Uma observação importante é que por se tratar de áreas esportivas, muitas vezes,
os alunos podem utilizar cadeiras cambadas e por isso a largura mínima do vão livre das
portas e da rota acessível deverá ser de no mínimo 1,00m.
Em relação aos playgrounds localizados nas escolas municipais devem ter
equipamentos especialmente desenvolvidos para o lazer e recreação de alunos que usam
cadeiras de rodas, visando sua integração com as demais crianças, conforme Lei
municipal n° 14.090, de 22 de novembro de 200522.
5.4 QUANTO AO MOBILIÁRIO
Os mobiliários (balcões23, mesas24, telefones25 e bebedouros26) devem estar
interligados a rotas acessíveis e garantir área de aproximação e manobra, além do alcance
manual e visual. A porcentagem dos mobiliários varia de acordo com uso, mas
geralmente é 5%, exceto no caso dos bebedouros que é de 50%.
5.5 QUANTO A SINALIZAÇÃO
A sinalização deve ser estabelecida nas formas visual, tátil e sonora e garantir a
legibilidade, visibilidade, característica do auto-relevo e audibilidade das informações.
Por conseguinte, os tipos de sinalização estão classificados em: permanente, direcional,
de emergência e temporária.
Um projeto de extrema relevância referente à sinalização é o ColorAdd®,
desenvolvido para permitir que as pessoas com daltonismo identifique corretamente as
cores através de códigos de sinais intuitivos criados pelo designer Miguel Neiva.
22 Por se tratar de uma lei municipal a obrigatoriedade é referente apenas às escolas municipais, entretanto,
é recomendável que tenha brinquedo acessível em uma escola estadual ou particular para estabelecer a
equiparação de oportunidades para todos os alunos. 23 Item 9.5 da ABNT NBR 9050:2004. 24 Item 9.3 da ABNT NBR 9050:2004. 25 Item 9.2 da ABNT NBR 9050:2004. 26 Item 9.1 da ABNT NBR 9050:2004.
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CONCLUSÃO
Procurou-se neste artigo, levantar a discussão sobre acessibilidade nas instituições
escolares, além de apontar os principais problemas verificados nas vistorias técnicas e
confirmar que a legislação vigente no âmbito de acessibilidade não confere com a
realidade encontrada nas escolas. Espera-se que as diretrizes projetuais descritas neste
trabalho contribua como prática transformadora e de forma efetiva no planejamento de
ambientes escolares com o objetivo de promover a participação e socialização do aluno
com deficiência.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9050: Acessibilidade
a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro, 2004.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988.
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso
em: 12 junho 2013.
BRASIL. Decreto nº 5.296 de 2 de dezembro de 2004. Disponível em:
<http://www.mj.gov.br/sedh/ct/CORDE/dpdh/sicorde/dec5296.asp> Acesso em:11 de jul.
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BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Censo
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BRASIL. Secretaria Nacional de promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência.
Pessoa com deficiência – Legislação Federal. 1ª- ed. Brasília, DF, 2012. p. 148.
CARVALHO, T, C, P. Arquitetura escolar acessível: construindo espaços para
educação infantil. Dissertação (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Programa de
Pós Graduação, USP - São Carlos. São Carlos, 2008.