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Anais do I Simpósio Internacional de Estudos sobre a Deficiência – SEDPcD/Diversitas/USP Legal – São Paulo, junho/2013 Arquitetura escolar acessível: a essência da participação e socialização do aluno com deficiência. PRISCILA FERNANDES LIBONATI * Resumo Este trabalho trata da adequação de espaços de ensino como requisito essencial à participação e socialização do aluno com deficiência. Apesar dos direitos garantidos pela legislação, muitos ambientes escolares ainda contêm barreiras que limitam a acessibilidade. Desta forma, o objetivo deste artigo é elaborar diretrizes para o planejamento de escolas que contemplem a diversidade das pessoas, possibilitando que os alunos com deficiência obtenham autonomia e melhores condições de aprendizagem. Face ao exposto, foram realizadas vistorias técnicas para detectar os principais problemas referentes ao tema. Palavras-chave: Arquitetura escolar acessível; educação para todos e ergonomia. Abstract This work deals about the adequacy of space for education as a requisite to participation and socialization of students with disabilities. Despite the rights guaranteed by the law, many school ambients still contain barriers that limit the accessibility. This away, the aim is to develop guidelines for the design of schools that look at the diversity of the people, so the students with disabilities gain independence and better learning conditions. In view of the above, technical inspections were conducted to detect the main problems related to the topic. Keywords: architecture accessible school, education for all and ergonomics. * Arquiteta, urbanista e engenheira de segurança do trabalho. Especialista em desenvolvimento urbano da Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida (SMPED) e membro da Comissão Permanente de Acessibilidade de São Paulo (CPA-SP). E-mail: [email protected]

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Anais do I Simpósio Internacional de Estudos sobre a Deficiência – SEDPcD/Diversitas/USP Legal – São Paulo,

junho/2013

Arquitetura escolar acessível: a essência da participação e

socialização do aluno com deficiência.

PRISCILA FERNANDES LIBONATI*

Resumo

Este trabalho trata da adequação de espaços de ensino como requisito essencial à

participação e socialização do aluno com deficiência. Apesar dos direitos garantidos pela

legislação, muitos ambientes escolares ainda contêm barreiras que limitam a

acessibilidade. Desta forma, o objetivo deste artigo é elaborar diretrizes para o

planejamento de escolas que contemplem a diversidade das pessoas, possibilitando que os

alunos com deficiência obtenham autonomia e melhores condições de aprendizagem.

Face ao exposto, foram realizadas vistorias técnicas para detectar os principais problemas

referentes ao tema.

Palavras-chave: Arquitetura escolar acessível; educação para todos e ergonomia.

Abstract

This work deals about the adequacy of space for education as a requisite to

participation and socialization of students with disabilities. Despite the rights guaranteed

by the law, many school ambients still contain barriers that limit the accessibility. This

away, the aim is to develop guidelines for the design of schools that look at the diversity

of the people, so the students with disabilities gain independence and better learning

conditions. In view of the above, technical inspections were conducted to detect the main

problems related to the topic.

Keywords: architecture accessible school, education for all and ergonomics.

* Arquiteta, urbanista e engenheira de segurança do trabalho. Especialista em desenvolvimento urbano da

Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida (SMPED) e membro da Comissão

Permanente de Acessibilidade de São Paulo (CPA-SP). E-mail: [email protected]

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1 INTRODUÇÃO

Garantir condições para o acesso e permanência na escola com equiparação de

oportunidades, e sem qualquer tipo de discriminação, é um princípio fundamental que

está presente na Constituição da República Federativa do Brasil desde 1988. Entretanto,

tal direito ainda não é uma realidade para muitos alunos com deficiência.

A acessibilidade nas instituições escolares é um dos primeiros requisitos para a

universalização do ensino. Ela assegura a possibilidade a todos de chegar até a escola,

circular por suas dependências, utilizar funcionalmente todos os espaços, freqüentar a

sala de aula e atuar nas suas diversas atividades. (BRASIL, 2004:21)

Para isto, é crucial a identificação das barreiras físicas que aumentam o grau de

dificuldade ou impossibilitam a participação, a realização de atividades e a socialização

das pessoas com deficiência nas escolas.

O Censo Escolar, promovido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais Anísio Teixeira (INEP), registra o aumento de 9,1% no número de

matrículas de alunos com deficiência na educação básica, indo de 752.305 matrículas em

2011 para 820.433 em 2012. Quanto ao aumento do número de estudantes incluídos em

classes comuns do ensino regular e na EJA o aumento foi de 11,2%. (INEP, 2013: 27).

Desta forma, a adaptação em prol da acessibilidade é uma necessidade urgente,

conforme demonstra o seguinte:

“Um aluno, por exemplo, com baixa visão, se entrar num corredor

com paredes e forro brancos, com piso e portas de cor cinza claro, vai ter sua

dificuldade agravada, pois não existe contraste de cores entre piso, paredes e

portas. Mas, se o corredor for branco, o piso cinza escuro e as portas coloridas,

ele vai poder distinguir tanto os planos horizontais e verticais como as

aberturas”. (BRASIL, 2009: 23)

O trecho acima evidencia a busca do atendimento das necessidades oriundas das

diferentes deficiências, com base nas normas e legislações vigentes, de forma a garantir a

autonomia e segurança dos alunos com deficiência no cotidiano escolar.

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2 LEGISLAÇÃO

A legislação específica, no âmbito da educação para todos, inicia-se no inciso III

do art. 208 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 que estabelece “o

atendimento educacional especializado às pessoas com deficiência e mobilidade reduzida,

preferencialmente, na rede regular de ensino” (BRASIL, 1988: 86).

Esse direito reconhecido pela constituição também está presente no Decreto

Federal nº- 6.949, de 25 de agosto de 2009, que promulga a Convenção Internacional dos

Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, ratificado pelo Estado

Brasileiro com equivalência de emenda constitucional, que em igualdade de

oportunidades com os demais estudantes determina adaptações de acordo com as

necessidades individuais e medidas de apoio específicas para o planejamento do ambiente

escolar.

Como preâmbulo, a mesma convenção, reconhece “[...] a importância da

acessibilidade [...], à educação, [...], para possibilitar às pessoas com deficiência o pleno

gozo de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais”. (BRASIL, 2012: 148)

Deve-se observar que o Decreto Federal nº-5.296, de 2 de dezembro de 2004 em

seu art. 24 prevê que:

“os estabelecimentos de ensino de qualquer nível, etapa ou

modalidade, públicos ou privados, proporcionarão condições de acesso e

utilização de todos os seus ambientes ou compartimentos para pessoas

portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, inclusive salas de aula,

bibliotecas, auditórios, ginásios e instalações desportivas, laboratórios, áreas de

lazer e sanitários.

§ 1o Para a concessão de autorização de funcionamento, de abertura

ou renovação de curso pelo Poder Público, o estabelecimento de ensino deverá

comprovar que:

I - está cumprindo as regras de acessibilidade arquitetônica,

urbanística e na comunicação e informação previstas nas normas técnicas de

acessibilidade da ABNT1, na legislação específica ou neste Decreto;

1 Insta registrar que desde a promulgação das leis, a ABNT NBR 9050 está incorporada como parâmetro

técnico a ser, obrigatoriamente, obedecido e atendido.

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II - coloca à disposição de professores, alunos, servidores e

empregados portadores de deficiência ou com mobilidade reduzida ajudas

técnicas que permitam o acesso às atividades escolares e administrativas em

igualdade de condições com as demais pessoas; e

III - seu ordenamento interno contém normas sobre o tratamento a ser

dispensado a professores, alunos, servidores e empregados portadores de

deficiência, com o objetivo de coibir e reprimir qualquer tipo de discriminação,

bem como as respectivas sanções pelo descumprimento dessas normas.

§ 2o As edificações de uso público e de uso coletivo referidas no

caput, já existentes, têm, respectivamente, prazo de trinta e quarenta e oito

meses, a contar da data de publicação deste Decreto, para garantir a

acessibilidade de que trata este artigo” (BRASIL, 2004:8).

Face ao exposto, os prazos da implantação de acessibilidade nos estabelecimentos

de ensino já foram ultrapassados, 2 de junho de 2007 para escolas públicas e 2 de

dezembro de 2008 para escolas particulares.

Convém ressaltar o Decreto Federal nº- 6.571, de 17 de setembro de 2008 que

dispõe sobre o atendimento educacional especializado, mas especificamente em seu

inciso IV do art. 3º- fica estabelecido adequação no âmbito de acessibilidade nas

edificações escolares.

Entretanto, a legislação rígida sobre o assunto não basta para a efetivação dos

direitos, é essencial que esteja associada à conscientização técnica e sua aplicação efetiva.

3 VISTORIAS TÉCNICAS

O presente tópico demonstrará os principais problemas referentes à acessibilidade

para pessoas com deficiência e mobilidade reduzida. Tomou-se como base às

informações das vistorias técnicas realizadas para atendimento das denúncias do

Ministério Público. Por esse motivo, não serão oficializados os nomes das instituições de

ensino, entretanto, a subdivisão estará de acordo com seu uso, ou seja, escolas

particulares, municipais e estaduais.

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E.P. 12 E.P. 2 E.P. 3 E.E. 1 E.E. 2 E.E. 3 E.M. 1 E.M. 1

Piso

Rebaixamento

Inclinação transversal

Rampa de acesso para veículos

Largura da área de circulação

Interferências

Legenda

inadequado

adequado

não se aplica

Tabela 1. Atendimento às leis e normas de acessibilidade referente aos passeios públicos.

A principal desconformidade verificada no passeio público é referente ao piso

(número 1) com 87,5% de inadequação. Na maioria desses casos o problema é o péssimo

estado de conservação. Quanto à inclinação transversal das calçadas (número 3) atesta-se

apenas 12,5% de inadequação, pois, no geral, as mesmas obedecem às inclinações de até

2%. Outras amostras estão demonstradas a seguir no Gráfico 1.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

1 2 3 4 5 6

inadequado

adequado

não se aplica

Gráfico 1. Desconformidades relacionadas ao passeio públicos das referidas escolas.

2 As abreviações da Tabela 1 são: Escola Particular (E.P.); Escola Estadual (E.E) e Escola Municipal

(E.M).

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Os itens 1, 2, 3, 4, 5 e 6 verificados no Gráfico 1 são, respectivamente: piso3;

rebaixamento4; inclinação transversal5; rampa de acesso para veículos6; largura da área de

circulação7 e interferências8. E suas inadequações serão ilustradas através das fotos9

abaixo:

Figura 1: Piso irregular e instável em frente da entrada principal da Escola Municipal 1.

Figura 2: Falta de rebaixamentos na travessia da Escola Estadual 2.

Figura 3: Inclinação transversal superior à 2% da calçada da Escola Particular 2.

Figura 4: Interrupção da faixa livre nos acessos de veículos na Escola Estadual 2.

Figura 5: Largura inadequada (inferior a 0,70m) da calçada da Escola Estadual 1.

Figura 6: Obstrução da árvore no passeio público da Escola Municipal 1.

Já as principais inadequações relacionadas à acessibilidade na área interna e

externa, mobiliário e sinalização das edificações escolares estão detalhadas na Tabela 2.

3 Item 6.1.1 da ABNT NBR 9050:2004. 4 Item 6.10.11 da ABNT NBR 9050:2004. 5 Inciso III do art. 9º do Decreto nº45.904 de 19 de maio de 2005. 6 Item 6.10.6 da ABNT NBR 9050:2004. 7 Item 6.10.4 da ABNT NBR 9050:2004. 8 Item 6.10.5 da ABNT NBR 9050:2004. 9 A autoria de todas as fotos e ilustrações apresentadas neste artigo é da autora do presente trabalho.

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E.P. 1 E.P. 2 E.P. 3 E.E. 1 E.E. 2 E.E. 3 E.M. 1 E.M. 1

Entrada e saída

Circulação horizontal

Circulação vertical

Sala de aula

Biblioteca

Local de Reunião

Local de Refeição

Área Administrativa

Instalações Sanitárias

Área Esportiva e Recreativa

Estacionamento

Mobiliário

Sinalização

Legenda

inadequado

adequado

não se aplica

Tabela 2. Atendimento às leis e normas de acessibilidade referente às edificações escolares.

Observa-se que os principais problemas verificados através das vistorias técnicas

foram a falta de mobiliário e sinalização nos ambientes escolares, ambos com 100% de

inadequação. Em contrapartida, os itens com o menor índice de problemas foram o

acesso à sala de aula, aos locais de refeição e à área administrativa, todos com 75%.

Face ao exposto, é notável a condição de precariedade nas adequações que, na

maioria das vezes, são feitas sem a devida fiscalização da obra o que ocasiona

pseudoadaptações de acessibilidade, conforme demonstrado nas fotos.

Figura 7: Entrada e saída inacessíveis da Escola Estadual 2.

Figura 8: Circulação horizontal sem presente rota acessível na Escola Particular 1.

Figura 9: Elevador sem funcionamento há mais de 6 meses na Escola Estadual 3.

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Figura 10: Presença de degraus nas soleiras das entradas das salas de aula na Escola Municipal 2.

Figura 11: Biblioteca sem área de circulação e sem prateleiras acessíveis na Escola Particular 1.

Figura 13: Auditório sem lugares reservados e sem área de circulação na Escola Municipal 2.

Figura 14: Mesas de refeição sem área de aproximação presentes na Escola Municipal 1.

Figura 15: Área administrativa completamente inacessível da Escola Estadual 2.

Figura 16: Área de higienização inacessível localizada na Escola Municipal 2.

Figura 17: Entrada da quadra inacessível e sem lugares reservados na Escola Municipal 1.

Figura 18: Estacionamento sem vagas reservadas da Escola Estadual 2.

Figura 19: Sala de aula sem mobiliário acessível na Escola Estadual 2.

De acordo com a pesquisa realizada, serão apontadas as principais diretrizes para

o planejamento de ambientes escolares que contemplem à diversidade, utilizando a

arquitetura como ciência social e humana que valoriza o convívio das diferenças.

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5 DIRETRIZES GERAIS

As diretrizes para espaços escolares devem garantir autonomia e segurança,

elementos essenciais e imprescindíveis para o processo de aprendizagem e

desenvolvimento pessoal dos alunos com deficiência e mobilidade reduzida.

As diretrizes aqui construídas foram elaboradas em função de levantamento

bibliográfico, vistorias e entrevistas feitas com professores e alunos com deficiência e

tendo como referência a NBR 9050:2004 da ABNT e legislações vigentes no âmbito de

acessibilidade. Ressalta-se que algumas diretrizes serão exemplificadas através de

ilustrações e não deverão ser interpretadas como padrões normativos.

5.1 QUANTO AO PASSEIO PÚBLICO

Neste quesito a escola deverá ser totalmente livre de barreiras. Além disso, é vital

que passeio público esteja em conformidade com a legislação específica para cada

município. No caso de São Paulo, é estabelecida conforme o Decreto Nº 52.903, de 6 de

janeiro de 2012 (que regulamenta a Lei nº 15.442, de 9 de setembro de 2011).

Dessa forma, os passeios públicos devem conter: pisos regulares, estáveis e

antiderrapantes; semáforos sonoros (com botoeiras de acordo com a faixa de alcance

confortável, ou seja, altura entre 0,80m e 1,20m); sinalização tátil de alerta no piso e/ou

linha-guia e rebaixamentos junto às travessias de pedestres.

5.2 QUANTO ÀS ÁREAS CONSTRUÍDAS

As áreas construídas são constituídas pela: entrada e saída10, circulação

horizontal11 e vertical12, sala de aula13, biblioteca14, local de reunião15, local de refeição16,

área administrativa17 e instalações sanitárias18.

10 Itens 6.2 e 8.6.1 da ABNT NBR 9050:2004. 11 Itens 6.1 e 6.9 da ABNT NBR 9050:2004. 12 Itens 6.5 à 6.8 e 8.6.10 da ABNT NBR 9050:2004. 13 Itens 8.6.7 e 8.6.8 da ABNT NBR 9050:2004. 14 Item 8.7 da ABNT NBR 9050:2004. 15 Item 8.2 da ABNT NBR 9050:2004.

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Nas edificações escolares todas as entradas devem ser acessíveis para que não

haja segregação, entretanto, no caso de adaptação de uma construção existente deve ser

previsto no mínimo um acesso, vinculado através de rota acessível19 à circulação

principal e à circulação de emergência e, neste caso a distância entre a entrada acessível e

as demais não pode ultrapassar 50m. Além disso, o acesso deverá ser sinalizado com o

Símbolo Internacional de Acesso (SIA).

Figura 20: Entrada e saída acessível.

Importante notar que no caso das escolas a norma estabelece que a entrada de

alunos deve estar preferencialmente localizada na via de menor fluxo de tráfego de

veículos e deverá ser instalada a sinalização tátil de piso interligando a entrada da

instituição de ensino com o primeiro atendimento (geralmente, são as secretarias).

Sobre os corredores, esses serão dimensionados de acordo com o fluxo de

pessoas, assegurando uma faixa livre de barreiras. As larguras mínimas são: 0,90 m (para

corredores com extensão até 4,00 m); 1,20 m (para corredores com extensão até 10,00 m)

e 1,50 m (para corredores com extensão superior a 10,00 m). Além disso, todas as portas

deverão ter um vão livre mínimo de 0,80m.

16 Itens 9.3 e 9.5 da ABNT NBR 9050:2004. 17 Item 8.6.2 da ABNT NBR 9050:2004. 18 Itens 7.0, 8.6.4 e 8.6.5 da ABNT NBR 9050:2004. 19 Rota acessível é um trajeto contínuo, desobstruído e sinalizado que conecta todos os ambientes da

edificação.

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Caso haja obstáculos suspensos que não são constatados através das bengalas

utilizadas pelos alunos com deficiência visual, (tais como: extintores, bebedouros,

telefones, entre outros) na altura entre 0,60m e 2,10m deverá ser instalada sinalização

tátil de alerta.

Já a circulação vertical acessível é imprescindível para interligar todos os usos da

escola, dessa forma, todos os desníveis terão que ser transpostos por rampas ou algum

equipamento eletromecânico de maneira que a pessoa faça o percurso de forma segura e

autônoma.

Nas salas de aula, pelo menos 1% do total de mesas, ou no mínimo uma para cada

duas salas, deverá ser acessível à pessoa com cadeira de rodas. É importante que tenha

mobiliário de altura regulável e que contemple a diversidade, entre as quais: pessoas

canhotas e com obesidade. Observa-se que as lousas deverão ter altura de no máximo

0,90m, ser amplas e possuir contraste.

Referente às bibliotecas, o espaço mínimo entre as prateleiras para atender a

circulação do aluno com deficiência em cadeira de rodas é de no mínimo 0,90m. É

obrigatório permitir um giro de pelo menos 180° nos corredores entre as estantes a cada

15m. Evidencia-se que as alturas dos fichários estão relacionadas à faixa de alcance

manual, isto é, de 0,40m à 1,20m.

Quanto aos locais de reunião, deverá ter acessibilidade em todas as áreas, tais

como: platéia, palco e bastidores. Na platéia, todos os assentos reservados deverão ser

distribuídos no recinto e possuir o SIA, além disso, é crucial ter boa visibilidade, acústica

e estar situado juntamente com o assento para acompanhante, deverá atender a

quantificação dos assentos, de acordo com a tabela a seguir:

Capacidade total Espaço para P.C.R Assento para P.M.R Assento P.O

de assentos

até 25 1 un.* 1 un.* 2 un.***

de 26 a 50 2 un.* 1 un.* 2 un.***

de 51 a 100 3 un.* 1 un.* 2 un.***

de 101 a 200 4 un.* 1 un.* 2 un.***

acima de 201 2 %** 1 %* 1 %*

Base legal: *ABNT BNR 9050-04, **Decreto Federal 5.296-04 e Lei Estadual 12.225-06

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Além disso, na existência de desnível entre o palco e a platéia, admite-se a

execução de uma rampa ou a instalação de uma plataforma elevatória para fazer essa

interligação de forma acessível. Caso haja camarins, é obrigatório ter pelo menos uma

unidade acessível para cada sexo.

Sobre os refeitórios, nota-se que deverá ser garantida uma faixa livre de

circulação de 0,90m e área para manobra para o acesso às mesmas. Além disso, ele

deverá ter 5% de mesas acessíveis, não se esquecendo das poltronas especiais para uso de

pessoas obesas. Especificamente, no caso do município de São Paulo, é obrigatório que

os estabelecimentos tenham cardápios impressos em Braille, de acordo com a Lei

municipal nº 12.363, de 13 de Junho de 1997.

Em relação aos sanitários acessíveis, os mesmos deverão ser projetados de acordo

com as informações fornecidas no Artigo 22º do Decreto Federal 5.296 de 2004

juntamente com a quantificação estabelecida pela ABNT NBR 9050:2004, ou seja, 5%

das peças sanitárias (bacias, lavatórios, mictórios) deverão ser acessíveis, com no mínimo

um para cada sexo, de uso dos alunos e, calculado separadamente desse cômputo, deverá

haver no mínimo um para cada sexo para uso de funcionários e professores. Convém

ressaltar que não há medidas definidas para crianças pela NBR 9050:2004, caso

contrário, do que ocorre pela norma técnica americana (Americans with Disabilities Act –

ADA)20 que estabelece as dimensões antropométricas divididas em três classificações de

acordo com a idade: de 3 à 4 anos; de 5 à 8 anos e de 9 até 12 anos. (ADA, 2010:37;169)

Insta registrar que pela dificuldade de assepsia de alguns alunos foi elaborado um

projeto de área de higienização nas escolas municipais21 de São Paulo desenvolvido pela

equipe técnica da Comissão Permanente de Acessibilidade (CPA) à pedido da Secretaria

Municipal da Educação.

20 Conjunto de leis que regulamentam os direitos das pessoas com deficiência nos Estados Unidos da

América. 21 Esse ambiente deverá ser executado de acordo com os padrões propostos pelo projeto da “sala de

higienização para uso das pessoas com deficiência em escolas municipais”, conforme o Processo

Administrativo n°- 2012 -0.135.481-8.

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Figuras 21 e 22: Respectivamente, módulos 1 e 2 da área de higienização para escolas municipais.

5.3 QUANTO ÀS ÁREAS EXTERNAS

As áreas externas são compostas pelo estacionamento e pela área esportiva e

recreativa.

Um aspecto relevante a ser considerado está relacionado ao estacionamento, as

vagas reservadas são fundamentais para garantir o acesso das pessoas que utilizam

veículo em sua locomoção e devem estar localizadas próximas das rotas acessíveis e aos

seus respectivos acessos. Em relação à quantificação do número de vagas reservadas, esta

deve ser estabelecida de acordo com a legislação mais restritiva sobre o referido assunto,

entre as quais, a Lei Municipal 11.228 de 1992, Decreto Federal 5.296 de 2004 e a NBR

9050.

Ressalta-se que as vagas para estacionamento de veículos que conduzam ou sejam

conduzidos por pessoas com deficiência devem ter dimensionamento mínimo de 2,5m

por 5,0m, faixa adicional de circulação com a largura a partir de 1,20m, sinalização

horizontal e vertical.

Outro quesito essencial para a socialização do aluno com deficiência é referente à

acessibilidade nas áreas esportivas e recreativas.

Nas quadras poliesportivas deverá ter espaços, devidamente sinalizados, para

pessoas em cadeiras de rodas e assentos para pessoas com mobilidade reduzida e pessoas

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obesas. Uma observação importante é que por se tratar de áreas esportivas, muitas vezes,

os alunos podem utilizar cadeiras cambadas e por isso a largura mínima do vão livre das

portas e da rota acessível deverá ser de no mínimo 1,00m.

Em relação aos playgrounds localizados nas escolas municipais devem ter

equipamentos especialmente desenvolvidos para o lazer e recreação de alunos que usam

cadeiras de rodas, visando sua integração com as demais crianças, conforme Lei

municipal n° 14.090, de 22 de novembro de 200522.

5.4 QUANTO AO MOBILIÁRIO

Os mobiliários (balcões23, mesas24, telefones25 e bebedouros26) devem estar

interligados a rotas acessíveis e garantir área de aproximação e manobra, além do alcance

manual e visual. A porcentagem dos mobiliários varia de acordo com uso, mas

geralmente é 5%, exceto no caso dos bebedouros que é de 50%.

5.5 QUANTO A SINALIZAÇÃO

A sinalização deve ser estabelecida nas formas visual, tátil e sonora e garantir a

legibilidade, visibilidade, característica do auto-relevo e audibilidade das informações.

Por conseguinte, os tipos de sinalização estão classificados em: permanente, direcional,

de emergência e temporária.

Um projeto de extrema relevância referente à sinalização é o ColorAdd®,

desenvolvido para permitir que as pessoas com daltonismo identifique corretamente as

cores através de códigos de sinais intuitivos criados pelo designer Miguel Neiva.

22 Por se tratar de uma lei municipal a obrigatoriedade é referente apenas às escolas municipais, entretanto,

é recomendável que tenha brinquedo acessível em uma escola estadual ou particular para estabelecer a

equiparação de oportunidades para todos os alunos. 23 Item 9.5 da ABNT NBR 9050:2004. 24 Item 9.3 da ABNT NBR 9050:2004. 25 Item 9.2 da ABNT NBR 9050:2004. 26 Item 9.1 da ABNT NBR 9050:2004.

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Anais do I Simpósio Internacional de Estudos sobre a Deficiência – SEDPcD/Diversitas/USP Legal – São Paulo,

junho/2013

CONCLUSÃO

Procurou-se neste artigo, levantar a discussão sobre acessibilidade nas instituições

escolares, além de apontar os principais problemas verificados nas vistorias técnicas e

confirmar que a legislação vigente no âmbito de acessibilidade não confere com a

realidade encontrada nas escolas. Espera-se que as diretrizes projetuais descritas neste

trabalho contribua como prática transformadora e de forma efetiva no planejamento de

ambientes escolares com o objetivo de promover a participação e socialização do aluno

com deficiência.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9050: Acessibilidade

a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro, 2004.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988.

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso

em: 12 junho 2013.

BRASIL. Decreto nº 5.296 de 2 de dezembro de 2004. Disponível em:

<http://www.mj.gov.br/sedh/ct/CORDE/dpdh/sicorde/dec5296.asp> Acesso em:11 de jul.

de 2013.

BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Censo

escolar da educação básica 2012 – Resumo técnico. Brasília, DF, 2013. p. 27.

BRASIL. Ministério da Educação. Educação Inclusiva: a escola. Brasília, DF, 2004. p.

21.

BRASIL. Ministério da Educação. Manual de acessibilidade espacial para escolas: O

direito à escola acessível. Brasília, DF, 2009. p. 23.

BRASIL. Secretaria Nacional de promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência.

Pessoa com deficiência – Legislação Federal. 1ª- ed. Brasília, DF, 2012. p. 148.

CARVALHO, T, C, P. Arquitetura escolar acessível: construindo espaços para

educação infantil. Dissertação (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Programa de

Pós Graduação, USP - São Carlos. São Carlos, 2008.