Upload
fontesdacosta
View
225
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto
1/30
Gesto dos Novos Formatos de Carreira: O Foco na Identidade
Joo Fontes da Costa - [email protected]
Docente na Escola Superior de Tecnologia e Gesto de Oliveira do Hospital, InstitutoPolitcnico de Coimbra.
Abstract
Using the concepts of emerging career formats we discuss the relevance of the Organizational
Career Management as complementary of the Individual Career Management. Decision-
makers must build pathways in which individuals review themselves and foster both affective
and continuance commitment. The establishment of durable links, favourable for deep
structural identifications, along with getting more resources out of the organization, whether
economic or symbolic, is closely linked to the perception that the individual has that he/she is
"special", initiating a deeper iterative exchange cycle with the organization. The Human
Resources Management will realign organizational identity and individual and professional
identity promoting the ongoingness of the employment relationship.
Keywords: Career Management, Mobility, Emerging Career Formats, Identity
Resumo
Recorrendo aos conceitos emergentes de carreira discute-se a pertinncia da Gesto
Organizacional das Carreiras como complemento da Gesto Individual de Carreiras. Os
decisores devem construir percursos em que os indivduos se possam rever e fomentar o
comprometimento afectivo e de continuidade. A constituio de vnculos duradouros,
favorveis s identificaes estruturais profundas, a par com a obteno de mais recursos da
organizao, sejam econmicos ou simblicos, est intimamente ligada percepo que o
indivduo tem de que especial, iniciando um ciclo iterativo mais aprofundado de trocas
com a organizao. A Gesto de Recursos Humanos dever realinhar a identidade
organizacional e as identidades individual e profissional favorecendo a continuidade da
relao de emprego.
Palavras-Chave: Gesto de Carreiras, Mobilidade, Modelos Emergentes de Carreira,
Identidade
8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto
2/30
1. Introduo
A hegemonia do discurso econmico e a sua prevalncia sobre outros tpicos sociais
reconhecida como uma caracterstica da modernidade, a par com a ascenso do
individualismo [1]. Concomitantemente, as novas configuraes de carreiras plasmadas na
literatura aportam uma maior responsabilidade da gesto dos percursos por trabalhadores mais
proactivos e adaptativos [2, 3]. A flexibilizao dos vnculos laborais uma realidade,
assumindo-se que o indivduo deve desenvolver o seu prprio projecto de carreira,
estabelecendo uma relao aberta com a organizao; cria-se o espao para o crescimento de
carreiras que fogem ao cnone clssico. Neste ambiente de valorizao das mobilidades,
descritas no discurso poltico como positivas, redefine-se o papel das organizaes na criao
ou adaptao de modelos ou ferramentas de gesto de carreiras. Mas far ainda sentido falar
de Gesto Organizacional de Carreiras? Na verdade este pode ser o mais importante tpico na
gesto e pessoas das organizaes actuais [4]. A procura de respostas adequadas no campo
discricionrio das aces de gesto de recursos humanos obriga formulao de algumas
hipteses de trabalho orientadoras: i) os modelos emergentes de carreira incorporam
alteraes na relao identitria redefinindo a relao de emprego e recentrando a
identificao em focalizaes extra-organizacionais; ii) as aces de gesto organizacional de
carreira so importantes para a percepo de reconhecimento do empregado; iii) a gesto dos
modelos emergentes de carreira assente no fit identitrio entre indivduo e organizao
favorecer a identificao com a organizao, potenciando atitudes e comportamentos
positivos. Neste artigo procuraremos obter uma primeira linha de anlise destes pressupostos
(e no ainda a sua confirmao ou infirmao) pela leitura da produo acadmica e
cientfica, potenciando bases para investigao futura assentes no edifcio terico j
consolidado.
A principal mudana recente na relao entre empregadores e empregados corporiza-se namudana dos contratos psicolgicos que teve lugar nas ltimas dcadas do sculo XX [5]. O
conceito de promoo, enquanto ascenso vertical preencheria as descries da maioria das
mobilidades intencionadas, conferindo-lhes uma noo praticamente unidimensional e linear,
ao passo que actualmente as carreiras so multidireccionais [5]. Para a actividade de Gesto
de Recursos Humanos equaciona-se a relevncia ou at o valor de algumas aces de gesto
de percursos profissionais, porventura redefinindo-se permetros, prioridades e formas de
interveno. Uma questo central enquadrada pelas teorias de carreiras proteanas e semfronteiras perceber que ao assumir-se um elevado nvel de autonomia entre o indivduo e a
8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto
3/30
organizao na construo da carreira o quadro de formao identitria alterado. O
indivduo apropria-se do planeamento e desenvolvimento da sua carreira, podendo investir em
competncias como o Know-How (conhecimentos e tcnicas), Know-Why (motivaes para
o exerccio do trabalho) e Know-Whom (redes de contactos e relacionamentos) [6]. Nesta
lgica, que papel caber s organizaes e especificamente aos gestores na definio dos
clssicos planos de carreira ou outras ferramentas de desenvolvimento de recursos humanos
como a formao?
A carreira liberta-se das regras tradicionais, no se sustentando necessariamente numa relao
de emprego de longo prazo, nem em ascenses verticais continuadas ou aquisio cumulativa
de benefcios e smbolos de estatuto. A carreira proteana presume o tomar de rdeas por parte
do trabalhador, ainda que se possa manter o locus, ou seja, o contexto organizacional de
actuao; no caso da carreira sem fronteiras no h necessariamente um locus nico e
especfico, sendo a escolha dos contextos organizacionais de actuao feita na medida bvia
das oportunidades e dos objectivos individuais.
No presente artigo pretende-se uma reviso de literatura, no centrada apenas num conceito,
visando a definio de fundaes para a operacionalizao de programas de gesto
organizacional de carreiras e, mormente, contribuir para a consciencializao numa questo
carente de investigao mais aprofundada no contexto nacional. Comearemos pela definio
do conceito de carreira e sucesso de carreira que nos transportar para o conhecimento dos
novos formatos dos percursos e que em conjunto definem o campo de trabalho para a gesto
organizacional ou individual de carreiras. Reconhecendo a potencial dificuldade de integrao
de objectivos individuais e organizacionais defende-se a focalizao na identidade, visando a
identificao e comprometimento, como geradora desse processo que se pretende simbitico.
Esta proposta assume importncia crucial na implementao de polticas de recursos humanosque possam potenciar o potencial de identificao de base organizacional, gerando vnculos
duradouros e porventura potenciando os resultados do investimento nos projectos de carreira.
2. Conceito de Carreira e Novos Formatos
No caso concreto das carreiras, considerando as diferentes perspectivas tericas, podemos
encontrar mltiplos enfoques, muitas vezes delimitados pelos diferentes paradigmas que
informam diferentes cincias sociais [7]. A literatura existente fragmentada e no integrada[5, 8, 9]. A falta de uniformidade no conceito de carreira decorre, aparentemente, em larga
8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto
4/30
medida, da noo diferenciada acerca da perenidade das escolhas e da internalidade ou
externalidade da sua origem [8-10]. Podemos encarar as carreiras luz de nove metforas:
carreira como herana, construo, ciclo, ajuste, viagem, encontros e relacionamentos, papis,
recursos e histria [11-13]. Cada uma destas perspectivas oferece uma lente para analisar a
carreira e accionar Estratgias (como a definio lata de objectivos e do caminho a seguir),
Tcticas (escolha de uma ocupao) ou Operaes (procura de emprego) [12].
A nossa opo conceptual recai sobre a carreira como sendo uma sequncia de experincias
de trabalho de um indivduo ao longo do tempo, sublinhando-se a importncia da dimenso
cronolgica opondo-se viso esttica de uma posio laboral em concreto [14]. John Arnold
prefere uma definio diversa na formulao mas semelhante nos termos, em que se integram
elementos subjectivos e objectivos externos ao emprego mas com ele relacionados: carreira
uma sequncia de posies relacionadas com o emprego, papis, actividades e experincias
encontradas pela pessoa [2]. No so assumveis constrangimentos de contexto, nem se limita
a progresso na carreira s ascenses verticais, sendo estas ltimas consideradas apenas uma
das hipteses de evoluo; outras, no menos importantes so a mobilidade horizontal ou
mesmo movimentos descendentes dentro de contextos organizacionais, ocupacionais,
industriais ou nacionais reconhecidos ou ainda entre qualquer um destes contextos [14, 15].
As carreiras podem ento ser descritas de duas formas diversas: i) subjectiva, reflectindo a
noo do indivduo acerca da sua prpria carreira e do seu futuro ou ii) objectiva - ou
indirectamente subjectiva [16]- sustentada pelas posies ocupadas com maior ou menor
exposio pblica, situaes, estatutos ou reconhecimento sociais [17]. Esta dualidade
ontolgica j descrita na Sociologia, nomeadamente pela Escola de Chicago, sendo a
componente objectiva identificada com as formas de participao institucional na sociedade, e
a componente subjectiva corporizada nos significados que os indivduos atribuem sua
carreira, que se alteram com o tempo na medida em que os indivduos redesenham o seu papelsocial e reconstroem o seu passado e futuro para se ordenarem com o presente [18]. A carreira
pode ser entendida como um caleidoscpio em que, para alm de cada indivduo escolher o
seu prisma, de acordo com os seus valores e objectivos, se assume como elemento dinmico e
em movimento [19]. A carreira poder ser planeada previamente ou construda a posteriori
para sustentar uma identidade e histria de vida coerente [20, 21]. De uma forma bsica
podemos identificar dois grandes grupos tericos na anlise das carreiras: i) teorias da escolha
de carreira, em que inscreveremos as teorias da compatibilidade, explicando as escolhas comfactores influenciadores da deciso (auto-identidade, interesses, personalidade e experincia
8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto
5/30
social) e as teorias de processo, que explicam as escolhas como um processo dinmico e
gradual que culmina na escolha de uma ocupao e ii) as teorias dos estdios de carreira que
assumem que a carreira evolui tangencialmente ao indivduo e no decurso da sua vida [22].
Na perspectiva da person-organization fit tm coexistido vrias correntes de investigao.
Algumas linhas independentes de pesquisa nesta rea so assentes em pressupostos
diferenciados: congruncia de valores, congruncia de personalidade, congruncia de
ambiente de trabalho e congruncia de competncias relevantes [23]. As atitudes so de
fulcral importncia enquanto preditoras da congruncia dos valores, personalidade, ambiente
de trabalho e na inteno de permanncia, bem como na assuno de comportamentos de
cidadania organizacional [23]. Conclui-se que as atitudes dos colaboradores medeiam a
relao entre o ambiente de trabalho e a inteno de permanncia na organizao; A
congruncia entre os valores individuais e o conjunto de valores da organizao, bem como a
correspondncia entre as preferncias individuais no que diz respeito aos ambientes de
trabalho e o existente/percepcionado ambiente de trabalho na organizao so preditores
significativos e directos da inteno de permanncia do indivduo [23: 112-113]. Aponta-se
para uma multidimensionalidade da adequao indivduo-organizao, transversal maioria
das propostas tericas conhecidas.
No que concerne aos novos olhares sobre a carreira assistimos hoje (pretensa) recomposio
da relao sujeito-trabalho atravs dos modelos emergentes, usufruindo, antecipando ou
forjando a desinstitucionalizao da relao de emprego:
Modelo/Autores Proposies Sujeito Trabalho
Carreira sem fronteiras[15, 24, 25]
Pluralidade de contextos de trabalho;
Transversalidade dos vnculos com as
organizaes;
Competncias (know-why, know-how
e know-whom).
Agente
Campo privilegiado da aco
individual;
Arranjo instvel de trocas
mtuas entre indivduo e
organizao.
Carreira Proteana [26-29]
Mudana como um dado de realidade;
Variedade de experincias;
Adaptabilidade e resilincia;
Identidade como ncora.
Meio de externalizao da
identidade pessoal;
Sequncia de experincias
pessoais.
Craft Career Autonomia, criatividade, inveno e Trabalho como fluxo;
8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto
6/30
[30, 31] reinveno do prprio trabalho;
Sujeito e actividade como um nico
conjunto;
Trabalho e sensemaking.
Modelo de organizao artesanal
de trabalho.
Carreira Portfolio [12, 32]
Diversificao das actividades
profissionais;
Flexibilizao das identidades
pessoais;
Mltiplas zonas de expertise
individual Ps-Moderno
Trabalho como um elemento
entre outros do espao de vida
pessoal;
Trabalho fragmentado, em
tempo parcial.
Carreira Multidireccional[5, 33, 34]
No linearidade das experincias de
trabalho;
Contrato psicolgico transaccional;
Comprometimentos mltiplos.
Trabalho como um suporte para
a construo da identidade
pessoal;
Flexibilidade do trabalho.
Carreira Transicional [35]
Interdependncia entre agncia
individual e estrutura social;
Carreira como mediao entre
instituies e processos de interaco;
Processo de contnua construo e
reinterpretao de scripts.
Reflexivo
Trabalho-portflio;
Desregulamentao institucional
do trabalho.
Carreira Narrativa [36, 37]
Temporalidade e aco como
processos narrativos;
Interpretao de eventos da realidade e
do self;
Narrativa e projecto;
Carreira entre histria colectiva e
histria singular. Interaccional
Trabalho como narrativa social e
pessoal;
Trabalho como facto objectivo
apresentado interpretao (e
reinterpretao).
Carreira construcionista
[38, 39]
Carreira como um processo de
construo social e de interaco;
Identidade como metamorfose;
Processos de negociao de
significados no contexto de estruturas
sociais.
Trabalho como um processo
discursivo;
Partilha de valores e objectivos
comuns.
Tabela 1. Modelos Emergentes de Carreira [a partir de 40: 40]
Independentemente dos contributos ulteriores, ou anteriores, de vrios autores na deteco de
novos formatos de carreira, possvel identificar dois conceitos seminais: i) o de carreira sem
8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto
7/30
fronteiras e ii) o de carreira proteana. descrita uma orientao de carreira em que o
indivduo assume o controlo, em que os seus valores nucleares so os norteadores da deciso
e onde os critrios de avaliao do sucesso so claramente subjectivos, estando ligados ao
sucesso psicolgico [27]. O conceito de carreira proteana centra-se no indivduo, nos seus
valores pessoais e no nas recompensas organizacionais e serve um todo pessoal, familiar e de
propsito de vida [26]. H duas metacompetncias que ajudam o indivduo a ser mais
proteano: adaptabilidade e identidade (auto-conscincia), fazendo com que a tnica na
avaliao do perfil de competncias por parte de muitas organizaes esteja errada [26, p. 6-
7]. A carreira pode ser entendida como um caleidoscpio em que, para alm de cada indivduo
escolher o seu prisma, de acordo com os seus valores e objectivos, se assume como elemento
dinmico e em movimento [19]. Por seu turno, a carreira sem fronteiras surge associada a
competncias que diferem das necessrias para um carreira convencional [41, 42]: i) no que
concerne ao Know-How fundamental percepcionar as mudanas, nomeadamente
tecnolgicas, quer do ponto de vista organizacional, sectorial ou no contexto mais alargado,
desenvolvendo-se conhecimento, habilidade e competncias no para uma organizao em
concreto mas para o mercado de trabalho globalmente entendido; ii) o Know-Whom,
correspondente a uma ampla e consistente rede de relacionamentos, essencial para que se
possa manter um fluxo constante de trabalho; iii) quanto ao Know-Why assume-se uma
relao transaccional, onde o trabalho trocado por uma remunerao adequada e onde o
conceito de sucesso profissional se encontra enraizado em critrios pessoais, no
necessariamente restrito a um contexto organizacional. O indivduo identificar-se- mais com
o trabalho e com a sua profisso e, tendencialmente, menos com a organizao.
verdadeiramente a dimenso do Know-Why que determina a maior diferenciao das carreiras
sem fronteiras face s carreiras convencionais. A identificao do indivduo com a
organizao no estar alheia a esta realidade, encarando-se os vnculos como provisrios,
ainda que possam ser renovados e prolongveis no tempo [41, 42]. Relevam-se aqui possveisimpactos na contratao psicolgica. Os trabalhadores sem fronteiras desenvolvem as suas
capacidades de acordo com a sua prpria vontade, aceitando compartilhar os valores da
organizao onde se encontram uma vez que tal se revela importante para os seus objectivos;
no obstante, identificam-se com a profisso exercida [41, 42].
Uma questo que se impe se as carreiras sem fronteiras representam uma maior
instabilidade, ainda que a opo de delinear um percurso com essas caractersticas possa serdo indivduo. Mirvis e Hall apontam no sentido positivo desta relao [43]. Os indivduos que
8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto
8/30
agora iniciam as suas carreiras tero, provavelmente, mais hipteses de desenvolver carreiras
sem fronteiras uma vez que os ambientes de actuao so mais ambguos e incertos [44, 45].
As pessoas que iniciam carreiras sem fronteiras no desenvolvem, provavelmente,
comportamentos como a lealdade ou identificao com o empregador, nem a expectativa de
que este lhe trar o desenvolvimento de competncias e a evoluo de carreira que procuram
[44]. As suas identidades profissionais so formadas num mercado que procura investimento
contnuo em competncias e na prpria carreira, provocando um sentido de identidade mais
coeso e de maior auto-eficcia, ainda que espraiado por mltiplos empregadores [44]. Alguns
autores, contudo, salientam que uma carreira sem fronteiras pode determinar sensaes de
falta de propsito, dvidas e fragmentao psicolgica [43]. Outros autores referem que as
carreiras se encontram inevitavelmente condicionadas, logo com fronteiras, pela histria do
indivduo, a sua identidade ocupacional e pelos constrangimentos institucionais de quem
decide as seleces [46]. Por outro lado, as metforas de carreira proteana ou sem-fronteiras
surgem para alguns autores como redutoras e muitas vezes at desorientadoras do verdadeiro
conceito [11, 16]. Na realidade as metforas so utilizadas nas teorias formais de carreira mas
tambm no pensamento e discurso dirio dos no especialistas, podendo ser identificadas
como uma amlgama epistemolgica [11]. A riqueza explicativa de uma metfora encerra o
perigo de diversidade objectiva, ou varincia subjectiva, sendo o significado simblico
potenciador da multiplicidade de perspectivas de anlise.
Uma carreira sem fronteiras no funo de uma relao de emprego convencional e pode
assumir diversos significados: i) atravs do ultrapassar das fronteiras de diferentes
empregadores (como em Silicon Valley); ii) quando uma carreira validada e ganha valor de
mercado fora do presente empregador (como nas carreiras acadmicas); iii) quando uma
carreira sustentada por redes de contactos ou informaes extra-organizacionais (como um
agente imobilirio); iv) quando as fronteiras tradicionais de uma carreira so ultrapassadas,nomeadamente o reporte hierrquico e os princpios de progresso; v) quando uma pessoa
rejeita as oportunidades de carreira existentes por razes pessoais ou familiares; vi) quando o
actor da carreira interpreta o seu futuro como no tendo fronteiras, sendo independente de
constrangimentos estruturais [24].
3. Sucesso de Carreira
Um conceito conexo fundamental o de Carreira de Sucesso- a este propsito Peter Heslinproduz uma excelente reviso da operacionalizao dos critrios objectivos e subjectivos de
8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto
9/30
avaliao das carreiras [47, 48]. O sucesso pode ser definido como o cumprimento de metas
esperadas relacionadas com o trabalho num determinando momento, mas considerando toda a
experincia laboral ao longo do tempo [17]. De igual modo pode ser definido um sucesso de
reconhecimento pessoal, subjectivamente considerado, e outra forma de sucesso,
prosperidade, de reconhecimento alargado e centrado na lgica da comparao social [17]. O
sucesso de carreira subjectivo pode ser definido como a apropriao e avaliao internas do
sujeito acerca da sua carreira, segundo as dimenses que este considere relevantes [14, 49].
Os diferentes actores sociais possuem aspiraes de carreira distintas e valorizam de forma
diversa factores como vencimentos, segurana, localizao do trabalho, estatuto, progresso,
acesso formao, a importncia do trabalho versus tempo pessoal e familiar entre outros
[14]. O sucesso objectivo de carreira, pelo menos em termos salariais, pode ser influenciado
por uma coleco de potenciais caractersticas e experincias pessoais e outros factores
irrelevantes ou discriminatrios [16]. Contudo, a comprovar-se a ideia que os indivduos
tendem a valorizar mais os salrios do que realmente esto dispostas a afirmar [50], no
devemos perder esta noo de vista.
O sucesso de carreira objectivo define-se como uma perspectiva externa com indicadores
mais ou menos tangveis que podem incluir ocupao, situao familiar, mobilidade,
atribuies de tarefa, rendimento e nvel profissional [51]. A carreira objectiva pblica e
notria, englobando o papel social e a posio oficial, reflectindo um entendimento partilhado
e no apenas um entendimento subjectivo [14]. A antropologia comparativa sugere seis
indicadores de sucesso objectivos (utilitrios) que so recorrentes: a) estatuto e posio
hierrquica, b) sucesso material (riqueza, propriedades, capacidade de ganho), c) reputao
social, prestgio, influncia, d) conhecimentos e competncias, e) amizades, redes relacionais,
contactos e f) sade e bem-estar [17]. O sucesso subjectivo, por seu lado, s identificvel
pela introspeco e no pela observao e validao consensual; a lista de indicadores necessariamente mais exaustiva, sendo que podemos sempre adicionar novas dimenses,
ainda que na literatura figurem consistentemente: a) orgulho nos resultados conseguidos, b)
satisfao intrnseca com o trabalho, c) sensao de valia pessoal, d) comprometimento com o
papel laboral na instituio, e) relaes satisfatrias e f) satisfao moral [17]. Schein chegou
a pr em causa o prprio conceito de carreira organizacional, propondo o conceito de carreira
interna como sendo um conjunto fragmentado de trabalhos que em comum tm a noo
subjectiva de um rumo; por oposio a carreira externa o conjunto formal de estgios epapis definidos pelas polticas organizacionais e conceitos societais expectveis numa
8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto
10/30
estrutura ocupacional [52]. A maioria dos indivduos produz um forte conceito, uma ncora
de carreira, que enquadra a sua carreira interna, ainda que experiencie mudanas dramticas
na carreira externa; Os actores organizacionais alinham-se frequentemente por uma das
ncoras de carreira primrias e satisfazem as necessidades de outras ncoras de forma
selectiva [52].
Sucesso Objectivo Sucesso Subjectivo
Carreira
A carreira objectiva pblica e notria,
englobando o papel social e a posio
oficial, reflectindo um entendimento
partilhado e no apenas um entendimento
subjectivo (carreira externa segundo
Schein)
A carreira subjectiva a apropriao e
avaliao internas do sujeito segundo as
dimenses que este considere relevantes
(carreira interna segundo Schein)
Ponto Focal
Centrado na lgica da comparao social
e reconhecimento alargado. Valorizao
por perspectiva externa com indicadores
mais ou menos tangveis de vrias
dimenses (e.g. ocupao, situao
familiar, mobilidade, atribuies de
tarefa, rendimento e nvel profissional)
Centrado no reconhecimento pessoal
(auto-conceito). Valorizao subjectiva de
vrias dimenses (e.g. vencimentos,
segurana, local de trabalho, estatuto,
progresso, acesso formao, work-life
balance)
Exemplo de Indicadores
Estatuto e posio hierrquica, sucesso
material (riqueza, propriedades,
capacidade de ganho), reputao social,
prestgio, influncia, conhecimentos ecompetncias, amizades, redes
relacionais, contactos e sade e bem-estar
Orgulho nos resultados conseguidos,
satisfao intrnseca com o trabalho,
sensao de valia pessoal,
comprometimento com o papel laboral nainstituio, relaes satisfatrias e
satisfao moral
Tabela 2. Resumo de Indicadores de Sucesso Objectivo e Sucesso Subjectivo e relao com a Carreira (construo prpria)
O entendimento que os investigadores tm do conceito de carreira no pode ignorar a
interdependncia entre o sucesso subjectivo e o sucesso objectivo, uma vez que s assim se
entendem os processos sociais que lhe esto subjacentes [14]. No obstante, alguns
pesquisadores continuam a assumir que o sucesso deriva da posio na organizao ou das
promoes entre posies [14]. Esta circunstncia contrasta com a realidade relatada de que
os veculos convencionais para determinao do sucesso organizacional, as hierarquias, esto
a achatar-se [53] e os mercados de trabalho internacionais ganham uma influncia crescente
[54]. Alguns autores enfatizam a concepo subjectiva do sucesso, uma vez que os
indicadores objectivos so menos atingveis e menos relevantes na era das carreiras proteanas
ou sem fronteiras [16]. Contudo, necessrio perceber que muitas organizaes ainda
escolhem pessoas e determinam a alocao de recursos escassos, sendo inapropriado valorizar
demasiado o subjectivo quando, por exemplo, se aconselham pessoas [16].
8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto
11/30
A considerao de noes objectivas de sucesso pode levar ao sentimento subjectivo de
sucesso, o que gerar uma motivao para comportamentos que possam levar ao sucesso
objectivo, num ciclo de sucesso psicolgico [29]. Contudo, pode haver um custo associado
tentativa de obteno do sucesso que se reflicta em falhas ou negligncia em dimenses da
vida pessoal, levando quebra do referido ciclo [55]. Cinco critrios de anlise do
envelhecimento com sucesso so reportados na literatura: adaptabilidade e sade, relaes
positivas, crescimento ocupacional, segurana pessoal e um foco continuado nos objectivos
pessoais e na sua prossecuo [56]. O crescimento ocupacional surge negativamente
relacionado com a idade [56]. Tal como questionam John Arnold e Laurie Cohen, o sucesso
de carreira depender mais do desempenho ou da posio social do indivduo [16]? Citando
Judge et al. os mesmos autores respondem que h mais evidncia do impacto da posio
social do que do desempenho [57]. Com esta considerao faz todo o sentido pensar na
importncia do papel de Mentores, Redes Sociais e Capital Social, Orientadores de Carreira
ou redes de Desenvolvimento Mltiplo [16]. As variveis preditoras do sucesso podem
classificar-se em quatro tipos distintos: i) capital humano (como a centralidade do trabalho,
horas trabalhadas, habilitaes e competncias); ii) apoio organizacional (como o apoio dos
superiores ou recursos organizacionais); iii) scio-demogrficas (gnero, raa, estado civil,
idade) e iv) diferenas individuais estveis (caractersticas de personalidade) [58]. O nvel
salarial e as promoes foram considerados como medidas de sucesso objectivo, sendo o
sucesso subjectivo representado pela satisfao com a carreira; o capital humano e variveis
scio-demogrficas combinados demonstraram relaes mais fortes com o sucesso objectivo,
enquanto que o apoio organizacional e diferenas individuais se relacionam fortemente com o
sucesso de carreira subjectivo [58].
O sucesso de carreira e a satisfao com a carreira no so semelhantes ao sucesso noemprego e satisfao no emprego, desde logo porque os ltimos podero ser momentneos e
uma das definies de carreira a sua continuidade no tempo, o que permite a explicao de
sacrifcios actuais para um desiderato futuro [12]. A mobilidade pode ser analisada a par do
sucesso de carreira, considerando a lgica inter-organizacional e agregada a uma mudana no
contrato psicolgico em que os actores percebem que a organizao no ser capaz de
providenciar emprego para a vida, assumindo-se a noo de que uma relao de emprego no
dura para sempre [54, 59]. A lgica de carreira sem fronteiras reflecte a procura deoportunidades que ultrapassam a lgica convencional de uma relao laboral e no se esgotam
8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto
12/30
com o acto de mudana de empregador [6, 14, 15, 24]. A mudana fsica, com efectiva sada
do indivduo da organizao, no o nico reflexo de mobilidade, podendo as competncias
com elevado valor de mercado ser usadas para fortalecer a capacidade negocial interna do
lado do empregado, transformando as meras oportunidades de mobilidade, mesmo sem
efectiva sada, na outra face desta moeda [14]. Os indicadores de sucesso objectivos perdem
gradualmente importncia para os indivduos quando comparados com os indicadores
subjectivos, fruto especificamente da imprevisibilidade do emprego e do futuro das carreiras,
provocando uma relao mais dinmica entre o sucesso objectivo e subjectivo [14]. Os
indivduos mostram-se frequentemente preocupados com a gesto de certos aspectos das suas
carreiras como a manuteno de um rendimento satisfatrio, ter tempo para a famlia e a
procura de novos conhecimentos relevando para a multi-dimensionalidade do conceito de
sucesso de carreira [14, 25].
4. Gesto Organizacional de Carreira e Gesto Individual de Carreira
A gesto de carreira pode definir-se como o conjunto de intervenes que moldam as carreiras
nas organizaes, no somente pelos indivduos envolvidos, mas tambm formal e
informalmente pelos seus gestores [60]. Com os novos formatos de carreira teremos
necessidade de nos afastar dos modelos de gesto de carreiras altamente estruturados, de
alguma forma mecanicistas, em favor de abordagens mais holsticas e integradas [61]. A
motivao de carreira um constructo multidimensional, corporizado numa tipologia de trs
domnios que explicam a propenso para a Gesto Individual de Carreira: i) resilincia de
carreira, definida como a habilidade de adaptao a diferentes circunstncias e uma maior
aceitao dos riscos; ii) realismo de carreira, definido por objectivos claros, baseados num
auto-conhecimento das capacidades e desafios e iii) a identidade de carreira, o grau em que o
indivduo se define pelo trabalho e pela organizao onde trabalha [62]. Segundo London a
identidade de carreira composta por duas dimenses independentes: a identidadeprofissional e a identidade organizacional, sendo que os indivduos que possuem maior
identidade organizacional sero menos visados no empowermentpelos seus supervisores [62].
Percebemos assim o importante papel das chefias de enquadramento no processo identitrio e
no desenvolvimento de carreiras [63]. O envolvimento do indivduo na gesto da sua carreira
diverso e pode ser extremado em dois exemplos, avanados por Baruch: i) a pessoa portfolio
de carreira, que gere de forma completamente autnoma a sua carreira, sem suporte
organizacional e ii) o indivduo nas organizaes burocrticas (e.g. militares) em que ospercursos de carreira esto perfeitamente definidos [33: 8] Contudo, diremos ns, que este
8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto
13/30
8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto
14/30
caractersticas podem ainda prevalecer. No quadro seguinte surge representada a comparao
entre a carreira tradicional e a proteana:Tradicional Proteana
Limites Uma Ou Duas Organizaes Mltiplas Organizaes
Identidade Dependente Do Empregador Independente Do Empregador
Relaes Segurana No EmpregoEmpregabilidade Para Performance E
Flexibilidade
Competncias Especficas Organizao Transferveis
Medida de Sucesso Pelo/a Remunerao, Promoo E Estatuto Trabalho Psicologicamente Significativo
Responsabilidade Pela
Gesto De CarreirasOrganizao Individual
Atitudes-ChaveCompromisso/Envolvimento
Organizacional
Satisfao No Trabalho E
Compromisso/Envolvimento Profissional
Tabela 3. Adaptado de DeFillipi & Artur (1996) e Hall (2004)
Os tipos de interveno ao nvel da Gesto Organizacional de Carreiras podem ser analisados
luz de uma perspectiva fenomenolgica acima dos modelos deterministas baseados na
racionalidade do comportamento do actor social e na congruente adaptao das estruturas s
contingncias do ambiente externo. Neste sentido, e considerando que a Gesto de Recursos
Humanos no representar um universo paralelo da gesto em que estas presses para a
conformidade, ainda que no consciente, cessem de existir, seria interessante estudar mais a
fundo a problemtica da definio de prticas e ferramentas e da sua adaptao real
contingncia especfica de actuao da organizao. A nova forma de Gesto de Carreiras no
uma actividade bsica de Gesto de Recursos Humanos, antes estando integrada num
conjunto de cinco prtica nucleares de gesto: i) Desenvolvimento de Capacidades e de
Empregabilidade; ii) Integrao Estrutural e Estratgica; iii) Integrao Cultural; iv) Gesto
da Diversidade e v) Comunicao [66]. Os comportamentos de auto-gesto de carreira podem
ser de trs tipos: i) posicionamento, com a acumulao de contactos, competncias e
experincias para produo de um determinado resultado; ii) influncia, destinada
interferncia nas decises dos responsveis organizacionais e iii) gesto de fronteiras,
operando a gesto das exigncias do trabalho e no-trabalho [68].
Que soluo ser possvel adoptar? No entender de Doyle necessrio um entendimento
superior, por parte dos tericos e gestores, dos padres e motivos de carreira bem como da
forma como estes so transformados nos processos de troca da relao de emprego [61]. A
carreira possui um valor econmico inegvel, quer para a organizao quer para o trabalhador[12]. A noo de que o indivduo um recurso potenciador de vantagem competitiva levar
8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto
15/30
necessidade da sua proteco pela manuteno da continuidade da relao. O conceito de
Capitalismo de Carreira (Career Capitalism) proporciona o entendimento de que o indivduo
gerir os seus prprios recursos em seu benefcio, aplicando o capital de conhecimento
adquirido pela carreira e outras experincias [12]. Ampliando o carcter explicativo da
metfora, e entendendo as organizaes como um espao de aplicao do Capital de Carreira,
interessar a estas atrair o melhor Capital e aos trabalhadores perceber qual o melhor local
para a sua aplicao. o intuito de aumentar o Capital de Carreira que est na cogitao dos
expatriados, conjuntamente com a noo de desenvolvimento e consideraes familiares,
relegando para segundo plano o imediatismo da recompensa financeira proposta [69]. Esta
ideia imbrica na noo de carreira porttil avanada por Kanter, uma vez que o sucesso do
indivduo resulta da sua transferncia de competncias de organizao para organizao [70
citado por Sturges, Conway et al., 2008].
Num estudo de Lips-Wiersma e Douglas Hall [66] foi analisada uma empresa que reduziu os
comportamentos de Gesto de Carreiras at ao momento em que os seus colaboradores
percepcionaram a falta de estrutura e orientao como sendo negativa. Verifica-se um
empowerment dos trabalhadores na gesto de carreiras, que por estes bem aceite, sendo
contudo necessariamente supletivo do papel organizacional [66]. Sistemas de Carreiras
demasiado estruturados no conseguiro acompanhar a diversidade e complexidade da gesto
de carreiras no futuro [61]. A futura gesto de carreira passar por uma interveno indirecta
na relao de troca com o trabalhador; em substituio das interaces didicas directas
surgir espao para estratgias organizacionais menos intervencionistas direccionadas para os
factores contextuais que influenciam as escolhas de carreira [61].
Mais do que considerarem-se antagnicas a Gesto Organizacional de Carreiras e a Gesto
Individual de Carreiras podem combinar-se, em organizaes bem geridas, num crculovirtuoso de actividades gestionrias [46, 68]. O paradoxo desta dinmica que quanto mais se
investe nas competncias do trabalhador mais valor no mercado de trabalho se lhe confere
[12]. No obstante, h evidncias recentes de que a Gesto Organizacional de Carreiras
aumenta o comprometimento para a continuidade na organizao [64, 65, 67]. A existncia de
suporte ao desenvolvimento de carreiras uma das dimenses do apoio percebido. O conceito
de Apoio Organizacional Percepcionado (POS) captura o contedo da relao de troca
empregador-empregado, corporizado na percepo da valorizao do contributo do indivduoe na preocupao da organizao com o seu bem-estar [71]. H fortes evidncias empricas
8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto
16/30
entre o reconhecimento de um elevado Apoio Organizacional Percepcionado (POS), a par de
uma alta relao de troca lder-membro (LMX), e o comprometimento organizacional,
comportamentos de cidadania organizacional, elevada performance, desejo de ficar na
organizao e uma mais baixa probabilidade de ter comportamentos como absentismo ou
atrasos [71]. O suporte percebido por um trabalhador no que concerne gesto da sua carreira
surge das actividades de Gesto de Recursos Humanos, desde a avaliao de desempenho,
programas de desenvolvimento de competncias, entre outras [12]1.
Uma investigao de Feldman e Leana sugere que os empregados alvo de lay-off, na
eventualidade de encontrarem novos empregos, experienciam mais satisfao do que no
trabalho anterior, sendo contudo o seu comprometimento e confiana na organizao reduzido
pela experincia vivida [72]. Desta forma, percebemos que os efeitos de uma mobilidade
negativa afectam as futuras relaes de emprego, complexificando o processo de troca de
forma persistente. Adiciona-se a esta questo o facto de os trabalhadores, ainda que no
vtimas directas das reestruturaes havidas nas suas organizaes, perderem os laos de
lealdade e perceberem expectativas de promoo substancialmente reduzidas [73].
H vrias possibilidades de interveno na Gesto de Recursos Humanos, nomeadamente
recorrendo Mentoria, Outplacement, Aconselhamento, Centros de Desenvolvimento,
Planeamento da Sucesso, Avaliao de Desempenho, Planos de Desenvolvimento Pessoal ou
Networking [60]. Na verdade, com excepo da Mentoria, h frustrantemente poucas provas
do bom resultado de qualquer uma das tcnicas por si, bem como da sua utilizao conjunta,
resultando que apenas a conjugao destes processos com outras dimenses da organizao
pode originar resultados [2, 60].
Um dos problemas identificveis com os comportamentos de auto-gesto da carreira prende-se com o horizonte temporal a planear e a efectividade de cada aco. Na verdade para uma
carreira que dure quarenta ou mais anos praticamente impossvel a antecipao das
alteraes contextuais que possam impactar a direco pretendida. A racionalidade das
escolhas limita-se em grande medida pela informao disponvel. O estabelecimento de uma
estratgia de carreira individual muitas vezes centrado na deciso acerca da prxima
1
Para uma descrio mais pormenorizada das intervenes relacionadas com as carreiras, desenhadas para o beneficio das organizaes eoferecendo simultaneamente oportunidades para o indivduo pode ler-se, por exemplo, o livro Understanding careers: the metaphors ofworking lives de Kerr Inkson: 12. Inkson, K., Understanding careers: the metaphors of working lives. 2007, Thousand Oaks,California: Sage Publications, Inc..
8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto
17/30
ocupao ou procura de emprego, assumindo-se como de curto prazo e redutora; o
planeamento estratgico de carreira vai muito para alm destas tcticas pontuais [12]. O
planeamento de carreira numa poca de descontinuidades obriga a um processo que passa por
perodos de experincia/aprendizagem desenhados pelo prprio, perodos de auto-emprego,
experincias cross-culturais entre outras que geram um capital de carreira que dinamiza a
empregabilidade, hoje mais importante que o emprego [12]. A explorao da racionalidade do
indivduo nas escolhas de carreira, atravs do uso da Teoria da Aco Planeada foi
confirmada por vrios autores [3, 74], afirmando-se mesmo a possibilidade de induzir
comportamentos auto-reguladores visando a gesto de carreira e que tal est positivamente
relacionado com a satisfao com a carreira [3]. A pesquisa demonstrou que os indivduos
que tomam mais iniciativas para gerir a sua prpria carreira esperam mais apoio da parte da
sua entidade empregadora [75]; a auto-gesto da carreira tem um impacto positivo no
comprometimento afectivo e na percepo do sucesso de carreira, enquanto a gesto
organizacional da carreira est positivamente relacionada com o comprometimento afectivo e
progresso na carreira [75]. A crena individual de auto-eficcia tem um impacto positivo no
salrio e estatuto alcanados no mdio prazo (trs anos) e nas mudanas salariais e na
satisfao com a carreira no longo prazo (sete anos) enquanto que os objectivos de progresso
na carreira entrada impactam positivamente no salrio e estatuto aps trs anos e na
mudana de estatuto aps sete anos, e negativamente na satisfao na carreira aps sete anos
[76].
5. Uma Possvel Soluo Integrativa: O Foco na Identidade
O conceito de identidade nas cincias sociais no surge de forma intuitiva para um leigo,
sendo vista como um enquadramento geral, porventura individualizado, para a compreenso
do indivduo que formada e sustida pela interaco social [77: 19]. A identidade funciona
como uma forma de auto-classificao distintiva e simultaneamente permite ver-me comosemelhante a uma classe de indivduos aos quais me associo ou gostaria de ser associado [77].
Similarmente, ainda que a um outro nvel de anlise, a Teoria da Identidade Social reconhece
a importncia do grupo na identidade do indivduo, com a demarcao do in-group e out-
group ainda que baseado em critrios mnimos, ou seja, caractersticas artificiais de
demarcao grupal, no necessariamente ligadas a critrios de interdependncia, interaco
futura ou interesses materiais constrangimento de recursos [78-80]. As razes apontadas para
este efeito so: i) a busca de auto-estima positiva; ii) o facto de uma parte do auto-conceitoderivar da pertena a determinado grupos (identidade social); iii) uma identidade social
8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto
18/30
positiva poder ser mantida ou aumentada por comparaes com out-groups relevantes e iv)
existir diferenciao entre Foci de Identificao. A pertena a uma organizao tem sido
avanada por vrios autores como sendo uma das mais importantes afiliaes grupais que o
indivduo tem, sendo a identificao social um determinante principal dos resultados [78-80].
Quando uma identidade social insatisfatria o indivduo procurar sair do grupo e juntar-se
a um outro mais positivamente distintivo ou, em concomitncia ou alternativa fazer com que
o seu grupo actual de pertena se torne maispositivamente distinto [79].
A pertena a uma organizao tem sido avanada por vrios autores como sendo uma das
mais importantes afiliaes grupais que o indivduo tem, sendo a identificao social um
determinante principal dos resultados [78, 79]. Quando uma identidade social insatisfatria
o indivduo procurar sair do grupo e juntar-se a um outro mais positivamente distintivo ou,
em concomitncia ou alternativa fazer com que o seu grupo actual de pertena se torne mais
positivamente distinto [79]. John Turner apresenta a Teoria da Categorizao do Self,
adicionando novas assunes sobre o comportamento intra-grupo Teoria da Identidade
Social [81]. Os indivduos categorizam-se em vrios nveis: i) nvel pessoal (indivduo); ii)
nvel intermdio ou de grupo (membro do grupo distinto de outros grupos) e iii) nvel
superordinal (o ser humano em comparao com outras espcies) [81]. Estes nveis so
salientados pelo contexto, nomeadamente por comparaes relevantes; no contexto
organizacional cada nvel pode ser traduzido para componentes de anlise concretas: i) o nvel
pessoal representando a carreira pessoal; ii) o nvel grupal representando as diferentes
subunidades da organizao e iii) o nvel superordinal, considerando a organizao como um
todo [81]. O afecto positivo pela organizao pode motivar os indivduos a investir mais na
identidade organizacional, aumentando a identificao [82: 226]. Os diferentes investimentos
num papel definem nveis diferentes de identificao, desde a i) pr-identificao, o nvel
mais bsico e que se caracteriza por agir como um membro da organizao sem identificaocognitiva ou afectiva com a mesma, ii) um nvel de identificao cognitiva, em que o
indivduo se considera um membro e iii) um nvel superior de envolvimento em que o
indivduo inclui emoes, sendo a forte identificao organizacional caracterizada por
investimentos em comportamentos, cognies e emoes [82: 228].
A identificao pode ter vrios focus diferenciados [80, 83, 84]. Estes podem centrar-se na
prpria carreira (nvel individual), na equipa, na organizao ou na profisso (nvel social)[80]. -nos sugerida uma taxinomia de diversas dimenses da identificao: i) cognitiva
8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto
19/30
8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto
20/30
referido como a crena e aceitao dos valores organizacionais, bem como o desejo da
manuteno da pertena organizao. A identificao organizacional algo mais especfico
de uma organizao individualmente considerada. Nesta perspectiva um indivduo poder ter
um elevado nvel de compromisso com a organizao numa lgica meramente instrumental,
no se processando nenhuma perda psicolgica no caso de uma sada, desde que esta se
verifique para uma outra organizao que partilhe os mesmos valores [85]. A identificao
um processo de ligao psicolgica mais profunda, com razes na prpria auto-definio do
indivduo, numa concepo de identidade partilhada. Numa interessante recenso de vrios
contributos tericos, Asforth e Mael elencam 4 factores com relevncia directa na
identificao com os grupos: 1) a distintividade dos valores e prticas do grupo com outros
comparveis, 2) o prestgio do grupo, numa relao prxima com a auto-estima do indivduo;
3) a salincia dos grupos externos (out-groups), num reconhecimento da importncia da
comparao inter-grupos na definio de fronteiras sociais, 4) factores tradicionalmente
associados formao de grupos (interaces interpessoais, similaridades, proximidade,
partilha de objectivos ou ameaas, histrias comuns, entre outros), que, no sendo
obrigatrios para que a identificao surja afectam normalmente esse processo [85, p. 24-25].
Numa importante concluso adicional, Ashforth refere que quanto maior a identificao com
a organizao, maior ser o compromisso com a mesma, apontando um nexo causal de
variao positivamente correlacionada [85, p. 25]. Ainda segundo este autor, citando Turner, a
maior contribuio da Teoria da Identidade Social o reconhecimento de que um grupo
psicolgico muito mais do que uma extenso das relaes interpessoais: a identificao com
um colectivo pode surgir mesmo na ausncia de coeso interpessoal, similaridade ou
interaco e mesmo assim ter um impacto poderoso na modelao dos comportamentos [85,
p. 26].
A inteno de sada de um colaborador de uma organizao ser tendencialmente menor se otrabalhador desenvolver uma identificao forte [45, 85, 86]. A intensidade dessa
identificao depender de aces organizacionais, sinalizando relaes duradouras e
distribuindo recompensas em conformidade [45]. Este aspecto parece contrariar a gnese das
carreiras sem fronteiras, mas alerta-nos para outra questo: qual a concreta conscincia dos
decisores face a esta problemtica? Os gestores manipulam smbolos, tradies, mitos, rituais,
heris para reforo do sentimento de pertena do indivduo [85]. Apesar das culturas
organizacionais reclamarem um sentido nico, a verdade que tal acontece porque aidentidade especfica dos grupos; tacitamente compreendido pelos gestores que uma
8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto
21/30
identidade organizacional positiva e distintiva atrai o reconhecimento, apoio e lealdade no
somente dos membros da organizao mas tambm de accionistas, clientes e, genericamente,
dos que procuram emprego [85]. Verifica-se a apropriao do simblico como veculo para a
identificao [85]. Por outro lado, na esteira das teorias de fit entre indivduo e organizao
Bocchino et al. [87] afirmam que a existncia de uma maior congruncia de valores entre
indivduo e organizao implicar menores percepes de violao do contrato psicolgico.
Esta questo assumir especial relevncia e poder ser testada na congruncia dos valores
associados s vises de organizao e empregado no que se refere ao exerccio profissional.
Numa carreira sem fronteiras a identificao do indivduo faz-se com o trabalho e a profisso,
pressupondo uma escolha concreta e representativa do prprio [24, 41]. A identificao com a
organizao pode assumir dois tipos: i) a situacional ou elementar e ii) a estrutural profunda
[45]. A identificao situacional ocorre quando os interesses comuns entre indivduos e
organizaes se conseguem sobrepor s suas divergncias; evidencia-se uma partilha de
interesses na gnese da identificao, prolongando a ligao enquanto perdurar a consecuo
dos interesses [45]. Esta forma de identificao surge com sucesso em relaes temporrias e
em que o indivduo procura trabalhar com diferentes empregadores no seu percurso
profissional [45]. Ao contrrio, a identificao estrutural profunda surge quando as
interpretaes individuais em relao organizao so sistematizadas e devidamente
ordenadas, contribuindo para uma percepo ou modelo mental estvel; as fronteiras entre os
interesses individuais e organizacionais confundem-se e contribuem para uma atitude positiva
[45]. Segundo Denise Rousseau a identificao profunda cada vez menos provvel no
momento actual, devido s frequentes mudanas nas organizaes, nomeadamente processos
de fuso e aquisio e reestruturaes [45]. A identidade pessoal possui duas dimenses: i) de
regulao (prticas discursivas de definio identitria) e ii) produo de identidade
(actividades interpretativas envolvidas na reproduo da identidade pessoal). Os aspectosregulatrios so vistos como uma forma de controlo normativo operando uma tentativa de
comprometimento do trabalhador com a organizao via identificao, ainda que seja possvel
a subverso ou resistncia [88].
6. Concluso
O tipo de carreira ser funo de um processo mediado por diversas variveis e com um papel
fundamental da posio social e redes de relaes mantidas pelo indivduo. A avaliao doestado do contrato psicolgico potenciada pelos indicadores objectivos e subjectivos de
8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto
22/30
sucesso, a par com as oportunidades de replicar as condies de contrato (formal ou
psicolgico) consideradas cumpridas e melhorar as relevantes e no cumpridas, dinamizam
todo o processo de escolhas. Esta lente terica poder sofrer desalinhos quando as opes so
foradas por contextos de mobilidade negativa.Os novos formatos de carreira, nomeadamentea carreira sem fronteiras e a carreira proteana sugerem um recentramento da identidade
individual potencialmente menos focalizado na identidade da organizao. A Gesto de
Recursos Humanos dever operar um realinhamento da identidade organizacional e
identidade individual e profissional favorecendo a continuidade da relao de emprego, ainda
que apenas prioritariamente nos grupos do core-business.
8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto
23/30
A investigao das carreiras tem procurado reflectir as conhecidas mudanas recentes nos
contextos organizacionais. Este campo de trabalho tem sido frtil mas ainda no se consumiu
todo o seu potencial. Os estudos futuros devero ser longitudinais, segundo John Arnold
e Laurie Cohen, dada a natureza temporal das carreiras, devendo a investigao
preocupar-se com os processos, mas tambm com os preditores e resultados [16]. A
carreira em concreto surge como o resultado de um processo de escolhas, com
comportamentos mais activos ou passivos, mas em que a avaliao do sucesso objectivo e
subjectivo, mediadas pela avaliao do estado do contrato psicolgico, desempenham um
importante papel. Na percepo do que valorizado pelos colaboradores, conjugado
com os processos identitrios estar a direco de qualquer aco de gesto futura sobre
as carreiras. Ao longo do tempo, a oportunidade de ter uma carreira numa organizao
tornou-se num termo importante do contrato psicolgico; actualmente reconhece-se a
identidade e a identificao como pontos focais dos comportamentos e atitudes
relacionadas como o trabalho, e precisamente na relao de emprego a sua
importncia se faz sentir pela noo de pertena, partilha e compromisso. O maior fluxo
de investigao dos novos formatos de carreira tem sido proporcionado por pases Anglo-
Saxnicos, nomeadamente Reino Unido e Estados Unidos da Amrica, sendo menos
conhecido o impacto desta realidade em sistemas institucionais econmico-legais diversos,
com vasta legislao laboral e fortes ndices de sindicalizao; este contexto pode
proporcionar um ambiente de carreira mais estvel [64]. Torna-se indispensvel investigar a
realidade das carreiras no contexto nacional e verificar o real impacto dos novos formatos,
apoiando as decises de gesto. A implicao do enquadramento cultural nacional na
generalizao dos resultados empricos conhecidos no se encontra explorada neste como
noutros domnios da Gesto de Recursos Humanos [89].
Os indivduos podem ter menos comportamentos estratgicos na gesto de carreira e maiscomportamentos tcticos ou operacionais. O horizonte temporal que informa as decises
poder ser relativamente curto. Se verdade que os impactos da crise econmica, ou do
normal funcionamento da economia com empresas que iniciam e outras que encerram, criam
receios no indivduo, a dinmica do mercado de trabalho tambm o reflexo da dinmica
econmica. Tal no implica necessariamente que o paradigma de carreira se tenha
transformado no mapa mental dos trabalhadores. Conscientes da realidade contextual,
concentram-se na empregabilidade. A noo do controlo de carreira poder existir naproporo do valor das competncias no mercado. Para alguns a flexibilidade funcional, com
8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto
24/30
perfis no especializados ou com formaes de banda larga, favorece a capacidade do
indivduo reinventar a sua carreira. Ainda que no tenhamos em Portugal suficiente
confirmao ou infirmao emprica das formulaes tericas, que mascaradas de indutivas
facilmente nos seduzem, podemos recorrer a uma fundao de pensamento estratgico para a
aco com pressupostos que so disso independentes. Aqui se encontra uma dimenso de
investigao fundamental e que merece ser explorada.
A Gesto de Carreiras pode e deve ser uma preocupao da gesto. Na verdade a qualidade do
alinhamento entre o Planeamento Estratgico de Recursos Humanos e a sua consequente
operacionalizao ser um factor determinante do sucesso das prticas a implementar [90,
91]. A proposta que avanamos de uma base estratgica que gere focos de identificao do
indivduo com a organizao, a equipa ou o posto de trabalho, de locus interno, uma vez que o
foco funo ou profisso se encontra desconexo de um contexto especfico e logo mais
permevel a um planeamento individual que no tenha em conta as fronteiras organizacionais.
A deciso de um indivduo permanecer numa determinada organizao em detrimento de
outras pode ter evidentemente vrios suportes, nem sempre de compreenso fcil ou at
sensvel para o prprio. O estudo das razes de permanncia , por si s, um universo de
causalidades inter-cruzadas de leitura terica extremamente complexa. Por seu turno, a
caracterizao do suporte do processo de formao identitria do indivduo na organizao,
integrado com o seu processo de identificao poder fornecer um espao de compreenso
para algumas atitudes e comportamentos.
A segmentao dos pblicos internos permitir a melhor concentrao de esforos e recursos.
Uma organizao pode diferenciar os seus colaboradores assumindo o impacto das carreiras
sem fronteiras, catalogando-os como trabalhadores nucleares, contratados e temporrios,assumindo diferenas nas polticas de desenvolvimento e nvel de servio proporcionado a
cada um destes pblicos [92]. Aos trabalhadores do ncleo proporcionar-se- um servio
total, aos trabalhadores contratados proporciona-se um servio focalizado nas condies do
contrato e aos temporrios apenas um suporte bsico [92]. Nesta lgica, a organizao no se
mantm responsvel pelo desenvolvimento de todos os seus colaboradores, concentrando-se
na gesto das competncias nucleares e gerindo as demais contribuies [92]. Contudo, deve
salientar-se que as fronteiras entre o ncleo e a periferia so instveis e muitas vezes difceisde operacionalizar, impossibilitando uma gesto nesta lgica [93]. A diferenciao dos
8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto
25/30
pblicos internos na distribuio de recompensas pode iniciar a criao de um lao pessoal,
particular, podendo afectar a percepo da relao estabelecida com a organizao e gerando
diferentes graus de identificao [45]. A constituio de vnculos duradouros, favorveis s
identificaes estruturais profundas, a par com a obteno de mais recursos da organizao,
sejam econmicos ou simblicos, est intimamente ligada percepo que o indivduo tem de
que especial, iniciando um ciclo iterativo mais aprofundado de trocas com a organizao.
A reconhecida especificidade da identidade organizacional enquanto cenrio de cruzamento
de referncias individuais, grupais, internas e externas, continua a merecer uma dedicao
acadmica profunda, correspondida empiricamente por uma riqueza de elementos para anlise
que importa conhecer. Este artigo pretendeu dar mais um passo na explorao dos contornos
da identidade e identificao e a sua relao com as carreiras em contexto organizacional. No
se procurou um estudo na esteira da Sociologia ou Psicologia das Profisses, antes sim uma
reflexo orientada para o domnio da Gesto de Recursos Humanos questionando o papel dos
gestores na determinao das carreiras. O efeito ser, potencialmente, mais positivo se as
intervenes forem planeadas de forma a corresponderem aos desejados focus ou dimenses
que os gestores querem mudar e concomitantemente que faam sentido para os colaboradores.
A ttulo de exemplo, se o gestor quer aumentar a identificao com a equipa, o foco optimal
ser a equipa e no a organizao como um todo.
A noo do controlo da carreira poder existir na proporo do valor das competncias no
mercado. Para alguns a flexibilidade funcional, com perfis no especializados ou com
formaes de banda larga, favorece a capacidade do indivduo reinventar a sua carreira. Por
outro lado, torna-se necessria a avaliao das variaes culturais no contrato psicolgico, que
ainda se encontram pouco estudadas apesar de se comear a reconhecer a sua importncia.
Deve estudar-se os efeitos das aces de Recursos Humanos nas carreiras comparandosectores altamente institucionalizados contrapondo-os a sectores pouco institucionalizados.
A pesquisa sobre carreiras proporciona uma ponte entre os nveis micro e macro de anlise e
sua compreenso, bem como da forma como devem ser geridas fundamental em duas
dimenses: i) pode ajudar os indivduos a gerir as suas carreiras de modo mais eficiente e ii)
as organizaes podem beneficiar da compreenso das decises de carreiras e dilemas com
que os seus empregados se confrontam no dia-a-dia. O estudo da noo de carreira, impactadapelos contornos institucionais da identidade organizacional, contribui para ajudar os decisores
8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto
26/30
organizacionais na gesto de carreiras, com a construo de percursos em que os indivduos
se possam rever e fomentar o comprometimento afectivo e de continuidade. As
transformaes estruturais retiram a ascenso vertical do plano de sucesso de carreira, ainda
que no esteja suficientemente claro que o mapa mental dos empregados tenha acompanhado
essa tendncia; na realidade a potencial desadequao entre a expectativa individual e
organizacional no que diz respeito s carreiras e oportunidades merece maior ateno. A
sincronizao entre as necessidades individuais, as relativas funo e as da organizao so
tema fundamental para o futuro da Gesto de Recursos Humanos.
8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto
27/30
6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
1. Brun, J.-P. and N. Dugas, An analysis of employee recognition: Perspectives on human resources practices. The International
Journal of Human Resource Management, 2008. 19(4): p. 716-730.
2. Arnold, J., Careers and career management, inHandbook of Industrial, work and organizational psychology, N. Anderson, et al.,
Editors. 2001, Sage, Publications Inc.: Thousand Oaks. p. 115-132.
3. Raabe, B., M. Frese, and T.A. Beehr, Action regulation theory and career self-management. Journal of Vocational Behavior,
2007. 70(1): p. 297311.
4. Herriot, P., P. Reilly, and W. Hirsch, Trust And Transition: Career Management For The Future. 1998, Chichester: John Wiley
and Sons, Ltd.
5. Baruch, Y., Career development in organizations and beyond: Balancing traditional and contemporary viewpoints. Human
Resource Management Review, 2006. 16(2): p. 125-138.
6. Defillippi, R.J. and M.B. Arthur, The boundaryless career: a competency-based perspective. Journal of Organizational Behavior,
1994. 15(4): p. 307-324.
7. Arthur, M.B., D.T. Hall, and B.S. Lawrence, Generating New Directions in Career Theory: the case for a transdisciplinary
approach, in Handbook of Career Theory, M.B. Arthur, D.T. Hall, and B.S. Lawrence, Editors. 1989, Press Syndicate of the University ofCambridge: Cambridge. p. 7-25.
8. Santos, G.M.G.d., O desenvolvimento de carreira dos acadmicos: Uma anlise centrada na relao entre o trabalho e a famlia ,
inEscola de Economia e Gesto. 2007, Universidade do Minho: Minho. p. 451 pginas.
9. Ferreira, A.P.V.G., Contedo e Quebra do Contracto Psicolgico e Comportamentos Individuais de Gesto de Carreira , in
Escola de Economia e Gesto. 2007, Universidade do Minho: Minho. p. 212 pginas.
10. Driver, M.J., Careers: A review of personal and organizational research, in Key reviews in managerial psychology: Concepts and
research for practice, C.L. Cooper and I.T. Robertson, Editors. 1994, John Wiley & Sons: Chichester. p. 237-269.
11. Inkson, K.,Images of career: Nine key metaphors. Journal of Vocational Behavior, 2004. 65(1): p. 96-111.
12. Inkson, K., Understanding careers: the metaphors of working lives. 2007, Thousand Oaks, California: Sage Publications, Inc.
13. Inkson, K., Protean and boundaryless careers as metaphors. Journal of Vocational Behavior, 2006. 69(1): p. 48-63.
14. Arthur, M.B., S.N. Khapova, and C.P.M. Wilderom, Career success in a boundaryless career world. Journal of Organizational
Behavior, 2005. 26(2): p. 177-202.
15. Arthur, M.B. and D.M. Rousseau, The Boundaryless Career a new Employment Principle for a new Organizational Era. 1996,
Nova Yorque: Oxford University Press.
16. Arnold, J. and L. Cohen, The Psychology of Careers in Industrial and Organizational Settings: A critical but Appreciative
Analysis. International Review of Industrial and Organizational Psychology, 2008. 23: p. 1-44.
17. Nicholson, N. and W. de Waal-Andrews, Playing to win: Biological imperatives, self-regulation, and trade-offs in the game of
career success. Journal of Organizational Behavior, 2005. 26(2): p. 137-154.
18. Barley, S.R., Careers, Identities, and institutions: the legacy of the Chicago School of Sociology, inHandbook of Career Theory,M.B. Arthur, D.T. Hall, and B.S. Lawrence, Editors. 1989, Press Syndicate of the University of Cambridge: Cambridge. p. 41-65.
19. Sullivan, S.E. and L.A. Mainiero, Kaleidoscope Careers: Benchmarking Ideas for Fostering Family-Friendly Workplaces.
Organizational Dynamics, 2007. 36(1): p. 45-62.
20. Young, R.A. and A. Collin,Interpreting Career. Hermeneutical studies of lives in context. 1992, Westpoint, London: Praeger.
21. Young, R.A. and A. Collin, Constructivism and social constructionism in career field. Journal of Vocational Behavior, 2004.
64(3): p. 373-398.
22. Passos, A., Gesto e Desenvolvimento da Carreira Profissional, in Gesto de Recursos Humanos: contextos, processos e
tcnicas, A. Caetano and J. Vala, Editors. 2000, Editora RH: Lisboa. p. 421-441.
23. Westerman, J.W.,An Integrative Analysis of Person-organization Fit Theories: Effects on Individual Attitudes and Behavior, in
Faculty of the Graduate School of Business Administration. 1997, University of Colorado.
8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto
28/30
24. Arthur, M.B., The boundaryless career: a new perspective for organizational inquiry. Journal of Organizational Behavior, 1994.
15(4): p. 295-306.
25. Arthur, M.B., K. Inkson, and J.K. Pringle, The new careers: Individual action and economic change. 1999, London: Sage.
26. Hall, D.T., The Protean Career: A quarter-century journey. Journal of Vocational Behaviour, 2004. 65(1): p. 1-13.
27. Hall, D.T., Careers in organizations. 1976, Glenview: Scott, Foresman Co.
28. Hall, D.T., Protean Careers of the 21st Century. Academy of Management Executive, 1996. 10(4): p. 8-16.
29. Hall, D.T., Careers In and Out of Organizations. 2002, Thousand Oaks: Sage, Publications Inc.
30. Poehnell, G. and N. Amundson, Career craft, in Career Creativity, M. Peiperl, M.B. Arthur, and N. Anand, Editors. 2002, Oxford
University Press: Oxford. p. 105-122.
31. Wrzesniewski, A. and J.E. Dutton, Crafting a job: revisioning employees as active crafters of their work. Academy of
Management Review, 2001. 26(2): p. 179-201.
32. Borgen, W.A., N. Amundson, and J. Reuter, Using portfolios to enhance career resilience. Journal of Employment Counseling,
2004. 41(2): p. 50-59.
33. Baruch, Y.,Managing Careers: Theory and Practice. 2004a, Edinburgh Gate: Pearson Education, Limited.
34. Baruch, Y., Transforming careers: from linear to multidirectional careers paths. Career Development International, 2004b. 9(1):
p. 58-73.
35. Duberley, J., M. Mallon, and L. Cohen,Exploring career transitions: accounting for structure and agency. . Personnel Review,
2006. 35(3): p. 281-296.
36. Bujold, C., Constructing career through narrative. Journal of Vocational Behavior, 2004. 64(3): p. 470-484.
37. Cochran, L.,Narrative as a paradigm for career research, inMethodological Approaches to the Study of Career, R.A. Young and
N. Borkowski, Editors. 1990, Praeger: Nova York. p. 71-86.
38. Blustein, D.L., S.D.E. P, and H. Flum, Toward a relational perspective of the psychology of careers and working: a social
constructionist analysis. Journal of Vocational Behavior, 2004. 64(3): p. 423-440.
39. Cohen, L., J. Duberley, and M. Mallon, Social constructionism in the study of career. Journal of Vocational Behavior, 2004.64(3): p. 407-442.
40. Bendassolli, P.F.,Recomposio da Relao Sujeito-Trabalho nos Modelos Emergentes de Carreira. 2009. 49(4): p. 387-400.
41. Arthur, M.B., P.H. Claman, and R.J. DeFillippi,Intelligent enterprise, intelligent careers. Academy of Management Executive,
1995. 9(4): p. 7-20.
42. De Vos, A. and N. Soens, Protean attitude and career success: The mediating role of self-management. Journal of Vocational
Behavior, 2008. 73 (1): p. 449-456.
43. Mirvis, P.H. and D.T. Hall, Psychological success and the boundaryless career. Journal of Organizational Behavior, 1994. 15(4):
p. 365-380.
44. Baker, T. and H.E. Aldrich, Prometheus Stretches: Building Identity and Cumulative Knowledge in Multiemployer Career, in The
Boundaryless Career a new Employment Principle for a new Organizational Era, M. Arthur and D.M. Rousseau, Editors. 1996, OxfordUniversity Press: Nova Iorque. p. 132-149.
45. Rousseau, D.M., Why workers still identify with organizations. Journal of Organizational Behavior, 1998. 19(3): p. 217-233.
46. King, Z., S. Burke, and J. Pemberton, The bounded career: An empirical study of human capital, career mobility and
employment outcomes in a mediated labour marketHuman Relations, 2005. 58(8): p. 981-1007.
47. Heslin, P.A., Conceptualizing and evaluating career success. Journal of Organizational Behavior, 2005a. 26(2): p. 113-136.
48. Heslin, P.A.,Experiencing Career Success. Organizational Dynamics, 2005b. 34(4): p. 376-390.
49. Van Maanen, J. and E.H. Schein, Career development, in Improving Life at Work, J.R. Hackman and J.L. Suttle, Editors. 1977,
Goodyear Publishing,: Santa Monica, California. p. 30-95.
50. Rynes, S.L., B. Gerhart, and K.A. Minette, The Importance of Pay in Employee Motivation: Discrepancies Between What People
Say and What They Do. Human Resource Management, 2004. 43(4): p. 381-394.
8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto
29/30
51. Van Maanen, J.,Experiencing organization: notes on the meaning of careers and socialization. Organizational careers: Some new
perspectives. 1977, New York: Wiley.
52. Schein, E.H., Career anchors revisited: Implications for career development in the 21st century. Academy of Management
Executive, 1996. 10(4): p. 80-88.
53. Littler, C.R., W. R., and R. Dunford, The dynamics of delayering: changing management structures in three countries. Journal of
Management Studies, 2003. 40(2): p. 225-256.
54. Cappelli, P., The new deal at work: Managing the market-driven workforce. 1999, Boston: Harvard Business School Press.
55. Hall, D.T. and D.E. Chandler, Psychological success: When the career is a calling. Journal of Organizational Behavior, 2005.
26(2): p. 155-176.
56. Robson, S.M., et al., Successful aging: Criteria for aging well in the workplace. Journal of Career Development, 2006. 33(2): p.
156-177.
57. Judge, T.A., J. Kammeyer-Mueller, and R.D. Bretz, A longitudinal model of sponsorship and career success: A study of
industrial-organizational psychologists. Personnel Psychology, 2004. 57(2): p. 271-303.
58. Ng, T.W.H., et al., Predictors of Objective and Subjective Career Success: A meta-analysis. Personnel Psychology, 2005. 58(2):
p. 367-408.
59. Ng, T.W.H., et al., Determinants of job mobility: A theoretical integration and extension. Journal of Occupational &
Organizational Psychology, 2007. 80(3): p. 363-386.
60. Arnold, J.,Managing Careers into the 21st Century. 1997, London: Paul Chapman.
61. Doyle, M., Managing Careers in Organizations, in The Future of Career, A. Collin and R.A. Young, Editors. 2000, Cambridge
University Press: Cambridge. p. 228-242.
62. London, M., Relationships between career motivation, empowerment and support for career development. Journal of
Occupational & Organizational Psychology, 1993. 66(1): p. 55-69.
63. Dick, P. and R. Hyde, Line manager involvement in work-life balance and career development: can't manage, won't manage?
British Journal of Guidance & Counselling, 2006. 34(3): p. 345 - 364.
64. Sturges, J., N. Conway, and A. Liefooghe, What's the deal? An exploration of career management behaviour in Iceland. TheInternational Journal of Human Resource Management, 2008. 19(4): p. 752 - 768.
65. Sturges, J., et al., A longitudinal study of the relationship between career management and organizational commitment among
graduates in the first ten years at work. Journal of Organizational Behavior, 2002. 23(6): p. 731-748.
66. Lips-Wiersma, M. and D.T. Hall, Organizational career development is not dead: a case study on managing the new career
during organizational change. Journal of Organizational Behavior, 2007. 28(1): p. 771-792.
67. Sturges, J., et al., Managing the career deal: the psychological contract as a framework for understanding career management,
organizational commitment and work behavior. Journal of Organizational Behavior, 2005. 26(7): p. 821-838.
68. King, Z., Career self-management: Its nature, causes and consequences. Journal of Vocational Behavior, 2004. 65(1): p. 112-133.
69. Dickmann, M., et al., Why do they go? Individual and corporate perspectives on the factors influencing the decision to accept an
international assignment. The International Journal of Human Resource Management, 2008. 19(4): p. 731 - 751.
70. Kanter, R.M., When Giants Learn to Dance: Mastering the Challenges of Strategy, Management and Careers in the 1990's 1989,
London: Unwin.
71. Coyle-Shapiro, J.A.M. and N. Conway, The Employment Relationship through the Lens of Social Exchange, in The Employment
Relationship: Examining Psychological and Contextual Perspectives, J.A.M. Coyle-Shapiro, et al., Editors. 2004, Oxford University Press:
Oxford. p. 5-28.
72. Feldman, D.C. and C.R. Leana,A study of reemployment challenges after downsizing. Organizational Dynamics, 2000. 29(1): p.
64-75.
73. Goffee, R. and R. Scase, Organizational change and the corporate career: the re-structuring of managers' job aspirations.
Human Relations, 1992. 45(4): p. 363-385.
74. Arnold, J., et al., How well can the theory of planned behavior account for occupational intentions. Journal of VocationalBehavior, 2006. 69(1): p. 374390.
8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto
30/30