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FACULDADE DE DIREITO MILTON CAMPOS FLÁVIA REGINA NÁPOLES FONSECA MARCO CIVIL NA INTERNET E A VIRTUALIZAÇÃO DA EMPRESA Nova Lima 2011

Artigo - Marco Civil e a Virtualização Da Empresa (Item 3 Inteiro - Marco Civil)

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Artigo - Marco Civil e a Virtualização Da Empresa (Item 3 Inteiro - Marco Civil)

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  • FACULDADE DE DIREITO MILTON CAMPOS

    FLVIA REGINA NPOLES FONSECA

    MARCO CIVIL NA INTERNET E A VIRTUALIZAO DA EMPRESA

    Nova Lima 2011

  • FLVIA REGINA NPOLES FONSECA

    MARCO CIVIL NA INTERNET E A VIRTUALIZAAO DA EMPRESA

    Dissertao apresentada no Curso de Ps-Graduao Stricto Sensu da Faculdade de Direito Milton Campos, como requisito parcial obteno do ttulo de Mestre em Direito Empresarial.

    Orientador: Prof. Dr. Carlos Alberto Rohrmann

    Nova Lima 2011

  • F676m Fonseca, Flvia Regina Npoles

    Marco Civil na Internet e a Virtualizao da Empresa / Flvia Regina Npoles Fonseca. Nova Lima: Faculdade de Direito Milton Campos, 2011.

    115 f., enc.

    Orientador: Prof. Dr. Carlos Alberto Rorhmann.

    Dissertao (Mestrado) Dissertao para obteno do ttulo de Mestre, rea de concentrao Direito Empresarial junto Faculdade Milton Campos.

    Bibliografia: f. 84-87

    1. Direito Empresarial. 2. Marco Civil. 3. Internet. I. Rohrmann, Carlos Alberto. II. Faculdade de Direito Milton Campos. III. Ttulo.

    CDD 681.324

  • Faculdade de Direito Milton Campos -Mestrado em Direito Empresarial

    Dissertao intitulada MARCO CIVIL NA INTERNET E A VIRTUALIZAO DA EMPRESA, de autoria da mestranda FLAVIA REGINA NAPOLES FONSECA, para exame da banca constituda pelos seguintes professores:

    Prof. Dr. Carlos Alberto Rohrmann (Orientador)

    __________________________________

    Prof. Dra Nanci de Melo e Silva

    __________________________________

    Prof. Dr. Arhur Jos Almeida Diniz

    Nova Lima, 20 de dezembro de 2011

    Alameda da Serra, 61 Bairro Vila da Serra Nova Lima Cep 34000-000 Minas Gerais Brasil. Tel/fax (31) 3289-1900

  • A Deus, princpio de todas as coisas e norteador do meu caminho.

    Aos meus queridos amigos, pelo carinho incondicional.

    Aos irmos, sobrinhas, cunhadas, afilhados e sinceros amigos, por fazerem parte da minha caminhada.

    Aos amigos do escritrio, pelo apoio e compreenso.

    Ao Fred, meu porto seguro. A meus eternos pais e a minha doce filha, dedico todo meu esforo.

  • AGRADECIMENTOS

    Ao professor e amigo Doutor Carlos Alberto Rohrmann, pelo apoio, amizade e por acreditar no meu trabalho e viabilizar esta conquista.

    Ao professor Jorge Lasmar, pelo seu carinho e esforo em me auxiliar. Aos colegas, professores, funcionrios e a toda equipe Milton Campos e, agora,

    amigos que fizeram parte desta caminhada, pelo carinho, ateno e, sobretudo, pela partilha de conhecimento durante as aulas e pela convivncia neste curso.

  • O progresso das naes no depende das novas ideias que so adotadas, mas sim das velhas ideias que precisam ser abandonadas.

    da natureza das instituies que elas sofram mutaes, para que haja flexibilizao e crescimento."

    Peter Drucker

  • RESUMO

    Os dias de hoje so marcados por uma constante modificao social, econmica e cultural, pois estamos na era da Sociedade da Informao. Assegurar direitos e garantias no ambiente da web o objetivo primordial do instrumento normativo Marco Civil na Internet o qual, alm de diminuir o custo social, reconhece a escala mundial da rede, o exerccio da cidadania em meios digitais, os direitos humanos, a pluralidade, a universalidade, a diversidade, a neutralidade, a extraterritoreidade, a abertura, a livre iniciativa e a livre concorrncia. nesse contexto que analisada a virtualizao da empresa, o estabelecimento empresarial virtual, o teletrabalho, o mercado de aes virtuais, os contratos cloud computing (computao nas nuvens), Service Level Agreements (SLA), governana e compliance para atividades cibernticas, business inteligence, joint venture, tag along, drag along, due diligence, a exigncia de o fisco instituir nova obrigao acessria tributria chamada Sistema Pblico de Escriturao Digital (SPED), bem como as novas oportunidades de negcios eletrnicos, abordando os princpios e diretrizes do marco civil na virtualizao da empresa, sob o enfoque das vantagens e dos riscos dessa mudana de paradigma que, diante de alguns desafios, encontram um mundo sem fronteiras territoriais para o desenvolvimento da atividade econmica. O projeto de construo colaborativa do Marco Civil na Internet tem mostrado que as novas ferramentas tecnolgicas so um instrumento essencial para o fortalecimento da participao social na conduo de polticas pblicas e na elaborao legislativa de temas como privacidade, liberdade e neutralidade na rede, bem como o crescimento econmico. Esses temas tm sido debatidos com repercusso internacional, at mesmo na Assembleia da Organizao das Naes Unidas (ONU), o que justifica a sua relevncia.

    PALAVRAS-CHAVE: Direito Empresarial; Internet; Marco Civil; Virtualizao.

  • ABSTRACT

    These days are marked by a constantly changes in social, economic and cultural fields, as we are in the era of the Information Society. Ensuring rights and guarantees in the web environment is the primary objective of the legislative instrument in Civil Internet Landmark which, in addition to reducing the social cost, recognizes the global network influence, the exercise of citizenship in digital media, human rights, the plurality , universality, diversity, neutrality, extraboundary, openness, free enterprise and free competition. In this context, analyzes the company's virtualization, virtual business setting, teleworking, virtual stock market, cloud computing co ntracts (cloud computing), Service Level Agreements (SLA), governance and compliance activities for cyber, business intelligence, joint venture, tag along, drag along and due diligence, the requirement that the tax authorities to establish new taxes accessory obligation called SPED (Public Digital Bookkeeping System), as well as new electronic business opportunities, addressing the principles and guidelines of Civil Internet Landmark at companies virtualization`s, from the standpoint of the benefits and risks of this paradigm shift that, faced with some challenges, find a world without territorial boundaries for the development of economic activity. The project`s collaborative construction at Civil Internet Landmark has shown that the new technological tools are an essential way for strengthening social participation in the conduct of public policy and drafting legislation on issues such as privacy, freedom, internet neutrality, and the economic growth have been debated whit international repercussions, even in the UN General Assembly (UN), that justifies the relevance of the topic.

    Key words: Civil Internet Landmark - Corporate Virtualization

  • LISTA DE SIGLAS ABNT Agncia Brasileira de Normas Tcnicas AIDF Autorizao para Impresso de Documentos Fiscais ARPA Advanced Research Projects Agency ASPs Application Service Providers BaaS Backup-as-a-Service (Cpia de Segurana como Servio) BI Business Inteligence CADE Conselho Administrativo de Defesa Econmica CBLC Companhia Brasileira de Liquidao e Custdia CC Cdigo Civil CDC Cdigo de Defesa do Consumidor CIDE Contribuio de Interveno do Domnio Econmico CLT Consolidao das Leis do Trabalho CNAE Cdigo Nacional de Atividade Econmica COTEPE Comisso Tcnica Permanente CP Cdigo Penal CTE Controle de Transporte Eletrnico CVM Comisso de Valores Mobilirios DaaS Database-as-a-Service (Banco de Dados como Servio) DANFE Documento Auxiliar da Nota Fiscal Eletrnica DW Deep Web DNRC Departamento Nacional de Registro e Comrcio ECD Escriturao Contbil Digital EDI Electronic Data Interchange EFD Escriturao Fiscal Digital ERP Entreprise Resourse Planning FTCON Controle Fiscal Contbil de Transio FUST Fundo de Universalizao dos Servios Telefnicos IaaS Infraestructure-as-a-Service (Infraestrutura como Servio) ICMS Imposto sobre Circulao de Mercadorias e Servios ICP-Brasil Infraestrutura de Chaves Pblicas Brasileira IDCOS Internet Data Center IP Internet Protocol IPI Imposto sobre Produtos Industrializados

  • IRPJ Imposto de Renda sobre Pessoa Jurdica LANCNIC Registro de Endereamento da Internet para Amrica Latina e

    Caribe NBR Norma Brasileira NDA Non Disclosure Agreement NF-e Nota Fiscal Eletrnica OAB Ordem dos Advogados do Brasil OCDE Organizao para Cooperao de Desenvolvimento Econmico PaaS Plataform-as-a-Service (Plataforma como Servio) PAC Programa de Acelerao do Crescimento PVA Programa Validador e Assinador RIC Registro de Identidade Civil SAL-MJ Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministrio da Justia SINIEF- Sistema Nacional de Informaes Econmicas SLAs Service Level Agreements SPED Sistema Pblico de Escriturao Digital SRI Instituto de Pesquisas de Stanford TCP/IP Transfer Control Protocol/Internet Protocol UCLA University of California at Los Angeles UCSB University of California at Santa Brbara UE Unio Europeia USB Universal Serial Bus VPN Virtual Private Network

  • SUMRIO

    1 INTRODUO .......................................................................................................12 2 TEORIA PROPEDUTICA DO DIREITO MILITAR ...............................................16 2.1 Contexto histrico da era da informao: histria da Internet .....................16 2.1.1 Origem da Internet Corrente Libertria..........................................................17 2.1.2 Corrente da Escola da Arquitetura da Rede.....................................................18 2.1.3 Corrente do Direito Internacional......................................................................18 2.1.4 A corrente tradicionalista ..................................................................................19 2.2 Conceito de Internet..........................................................................................21 2.3 Conceito de Direito Virtual ...............................................................................22 2.4 Fontes do Direito Digital: normas e princpios...............................................23 2.5 Papel do Estado ................................................................................................24 2.6 Democratizao da Informao .......................................................................26 3 MARCO CIVIL NA INTERNET...............................................................................28 3.1 Marco Civil como Diploma Legal .....................................................................28 3.2 Diretivas Europeias Aplicadas Internet ........................................................33 3.3 Marco Civil e o Direito Natural .........................................................................34 3.4 Marco Civil e o Conflito com a Lei de Crimes Cibernticos ..........................39 3.5 Responsabilidade Civil dos Provedores .........................................................41 3.6 Transmisso e Trfego de Dados ....................................................................42 3.7 Guarda de Registros de Conexo....................................................................43 3.8 Da Remoo de Contedo................................................................................44 3.9 Da Requisio Judicial de Registros...............................................................45 4 VIRTUALIZAO DA EMPRESA .........................................................................47 4.1 Empresa Virtual .................................................................................................47 4.2 Estabelecimento Virtual: Conceito e Caracterstica.......................................48 4.3 Web Site e o Estabelecimento Virtual..............................................................49 4.4 Ativos Tangveis e Intangveis .........................................................................50 4.5 Cloud Computing: Uma Abordagem na Empresa Virtual ..............................51 4.6 Contrato SLAs: Service Level Agreements....................................................53 4.6.1 Business Inteligence (BI)..................................................................................54 4.7 Teletrabalho: Mercado de Trabalho e Flexibilizao......................................55

  • 4.8 SPED: Sistema Pblico de Escriturao Digital .............................................57 4.8.1 Natureza Jurdica do SPED e Base Legal........................................................61 4.8.2 Nota Fiscal Eletrnica.......................................................................................61 4.8.3 Escriturao Contbil Digital ............................................................................62 4.8.4 SPED Fiscal .....................................................................................................63 4.8.5 Assinatura Digital .............................................................................................64 5 APLICAO DO MARCO CIVIL NA VIRTUALIZAO DA EMPRESA ..............66 5.1 Interoperabilidade da Internet na Atividade Empresarial ..............................66 5.2 Governana Democrtica e Colaborativa e o Capitalismo da Informao...68 5.3 Universalidade e Mercado de Capitais Digitais ..............................................70 5.3.1 Mercado on line de Aes ................................................................................70 5.3.2 Home Broker ....................................................................................................70 5.3.3 Joint Venture, Tag Along e Drag Along ............................................................72 5.4 Segurana da Rede e Mercado Anticoncorrencial Aplicado na Atividade

    Empresarial Virtual ...........................................................................................75 5.4.1 Mercado Relevante ..........................................................................................76 5.4.2 Cartel................................................................................................................78 5.5 Extraterritoreidade da Internet como Mecanismo de Expanso do Comrcio

    Internacional .......................................................................................................79 5.6 Redes Sociais Utilizadas para Novos Empreendimentos..............................80 5.6.1 Deep Web ........................................................................................................81 6 CONCLUSO ........................................................................................................83 REFERNCIAS.........................................................................................................86 ANEXO A Decreto n 6.022 de 22 de Janeiro de 2007 .......................................90 ANEXO B Emenda Constitucional n 42 de 2003...............................................92 ANEXO C Projeto de Lei 2126 de 2011 ...............................................................97 ANEXO D Portaria n 794, de 14 de Julho de 2011 ..........................................108 ANEXO E Contribuintes Obrigados a emitirem Nota Fiscal Eletrnica .........109 ANEXO F Parecer de Orientao CVM n 35, de 1 de Setembro de 2008 .....112

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    1 INTRODUO

    A era da informao reflete a globalizao, a automao, o rompimento de barreiras territoriais, a diminuio do custo de produo e a melhoria do meio ambiente devido reduo de papel para a documentao de vrias formas de negcios jurdicos.

    Nesse novo ambiente de negcios jurdicos, direitos e garantias precisam ser tutelados, para que reflitam valores correlatos vida, liberdade, igualdade, fraternidade e solidariedade, tendo como sucedneo o direito dignidade da pessoa humana, livre iniciativa e ao desenvolvimento da atividade econmica.

    O Marco Civil na Internet um novo instrumento normativo que poder vir a regularizar o desenvolvimento da rede mundial como instrumento de transformao social. O marco legal oriundo de consultas pblicas colaborativas e visa normatizar responsabilidades, orientaes e direitos para os usurios, provedores e o Estado.

    Esse instrumento legal apresenta trs temas centrais: direitos e garantias fundamentais com a tutela das liberdades, proteo aos direitos dos usurios e responsabilizao dos infratores.

    Esse novo estatuto legal dispe de 33 artigos oriundos do desenvolvimento de novos relacionamentos interpessoais na internet direcionados sociedade da informao. Estabelece os direitos de acesso rede, a responsabilidade dos provedores, a qualidade das conexes, a guarda dos regimes de acesso dos usurios, o trfego de dados, a remoo de contedos e a requisio judicial de registros, alm de normatizar a possibilidade do Notice and Take Down.

    O exerccio da cidadania em meios digitais, os direitos humanos, a pluralidade, a diversidade, a abertura, a livre iniciativa e a livre concorrncia so tutelados por princpios e garantias fundamentais no espao ciberntico, pelo projeto do Marco Civil na Internet.

    nesse cenrio que ser analisada a virtualizao da empresa, em um ambiente de cyberlaw que compreende as implicaes da evoluo tecnolgica da internet no cotidiano das empresas, as quais se viram na necessidade de mudana de paradigma para atender ao fisco digital e para aproveitar novas oportunidades de desenvolvimento econmico mais globalizado. O gerenciamento dessas atividades empresariais virtualizadas feito atravs de outsourcing, visando ao aumento das

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    margens de lucros de canal on line, por meio de sistema less paper, com automao de pedidos e utilizao da rede Virtual Private Network (VPN).

    O fisco hoje bastante digital, a fiscalizao ocorre em tempo real e h uma nova exao do contribuinte para o cumprimento de obrigao acessria eletrnica, com a exigncia do Sistema Pblico de Escriturao Digital (SPED). Esse sistema pblico foi institudo pelo Decreto n 6022 de 22/1/2007 (ANEXO A), para atender Emenda Constitucional n 42/03 (ANEXO B), que introduziu o inciso XXII no Art. 37 da CF/88, determinando s administraes tributrias da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios o dever de atuar de forma integrada, inclusive com compartilhamento de cadastro e de informaes fiscais. Empresrios mais atentos esto migrando suas atividades empresariais para a rede, visando a uma customizao do investimento tecnolgico despendido para atender ao fisco e para otimizar os lucros.

    Relevante a atuao dos notrios ou registradores pblicos, na virtualizao da empresa. Expresses como cartrio digital e cibernotrios passam a ser comuns, entre outras, no s na formalizao jurdica da vontade das partes, mas tambm na expresso de atos e negcios jurdicos.

    Nesse contexto, ser analisada, no Captulo 1, a histria da internet, conceituando o direito virtual como ramo autnomo do direito, incluindo as fontes, normas e princpios, bem como o papel do Estado, como agente de incluso digital na democratizao da informao.

    Alm de incentivar a adoo de padres de formatos abertos, com a publicizao e disseminao de dados de informaes pblicas, o Estado deve aperfeioar a infraestrutura das redes, promovendo qualidade tcnica, a inovao, a disseminao dos servios de internet, sem prejuzo da abertura, da neutralidade e da natureza participativa, com eficincia e imparcialidade.

    No Captulo 2, a anlise ser do projeto do Marco Civil na Internet como diploma legal. O que se questiona nesse tpico se em um Estado Democrtico de Direito h necessidade de se criar mais uma lei para regular o comportamento dos usurios da internet, dos provedores, do Estado e de todas as empresas que atuam no ambiente da rede desenvolvendo atividade econmica, ou se o ordenamento jurdico j no absorve toda a legislao necessria para a segurana da utilizao da rede. O marco civil no poder criar um estado de policiamento, infringindo direito de privacidade dos usurios. Para tanto, sero abordadas, nesse item, as diretivas

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    europeias aplicadas internet, como parmetro de avaliao, j que o direito europeu um dos beros da sociedade da informao. Como instrumento normativo, ser feito um paralelo entre o Marco Civil na Internet e o Direito Natural apontando a importncia de valores sociais, econmicos e valores auferidos de critrios consuetudinrios e no apenas de valores polticos.

    Outro aspecto discutido neste trabalho refere-se ao projeto de crimes cibernticos que se encontra em trmite no Congresso Nacional aguardando a aprovao do Marco Civil para entrar em pauta de discusso. O questionamento trazido no sentido de saber se a Lei Penal, como ultima ratio e seguindo a posio garantista, no deveria ser positivada quando as leis civis no puderem mais regularizar as condutas. Assim, como projeto de lei civil, este trabalho analisar a responsabilidade dos provedores quanto transmisso do trfego de dados, guarda de registro de conexo, remoo de contedo e requisio judicial de registros.

    A virtualizao da empresa propriamente dita ser analisada no Captulo 3 sob o enfoque do estabelecimento virtual, analisando seu conceito e sua caracterstica, a diferena existente entre web site e estabelecimento virtual, os ativos tangveis e intangveis da empresa e a possibilidade de utilizao de cloud computing como recurso tecnolgico da informao que representa a terceirizao do armazenamento de informaes e dados, diminuindo a customizao de investimentos tecnolgicos por parte da empresa.

    Tambm sero abordados os contratos Service Level Agremment (SLAs) como servios disponveis para a empresa que busca fornecer infraestrutura, software, hardware, hospedagem de servidores, conexes de redes e links, consultoria, manuteno e o recurso de Business Inteligence (BI) para detalhamento e diagnstico necessrios para se obter uma melhor segurana da informao.

    Outro recurso necessrio virtualizao da empresa o teletrabalho, que modifica os valores inseridos na relao de emprego, tambm apresentado nesta dissertao.

    Por fim, ser analisado, ainda no Captulo 3, o SPED, obrigao tributria acessria imposta pelo Fisco s empresas que tributam o imposto de renda pelo regime de lucro real. Esse sistema composto de trs grandes subsistemas - Nota Fiscal Eletrnica (NFE), Escriturao Contbil Eletrnica (ECE) e Escriturao Fiscal Eletrnica (EFE).

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    A obrigao tributria trouxe efetivamente uma contribuio para a modernizao das empresas fazendo com que muitas delas adquirissem sistemas tecnolgicos para atender ao layout exigido pelo Fisco ou foi mais uma imposio legal onerando a atividade econmica empresarial?

    No quarto Captulo, ser analisada a aplicao do Marco Civil na Virtualizao da Empresa sob a anlise dos princpios da interoperabilidade da internet na atividade econmica, a governana democrtica e colaborativa face ao capitalismo da informao, a universalidade e o Mercado Digital de Capital, como mercado de aes, home broker, joint venture, nova forma de associao de empresas com a defesa do direito de minoria, tag along e drag along.

    Tambm ser discutido o princpio da segurana da rede e a prtica anticoncorrencial, analisando o mercado relevante - o cartel. A extraterritorialidade da internet ser informada sob o enfoque de mecanismo de expanso do comrcio internacional e, por fim, ser estudada a neutralidade da rede como fator preponderante utilizao das redes sociais, visando a novos empreendimentos empresariais, necessrios ao crescimento econmico da empresa, agora virtualizada.

    Para a estruturao e elaborao desta dissertao, adotou-se como metodologia a reviso bibliogrfica e abordagem dedutiva, acompanhada de procedimentos histrico e jurisprudencial utilizando-se de documentao indireta, como a analogia e a documentao direta, por meio de livros, jurisprudncia, textos e a legislao brasileira, bem como de artigos disponibilizados na rede mundial de computadores.

    O marco terico adotado foi o apresentado na obra do professor Carlos Alberto Rohrmann, The role of the dogmatic function of Law in cyberspace, publicado no International Journal of Liabiltity and Scientific Enquiry, em que ele prope o direito domstico como fonte principal de regulamentao do mundo virtual, em contraposio a outras correntes que defendem a criao de um direito prprio da rede ou a utilizao do cdigo dos programas como fonte de objetivao do direito.

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    2 TEORIA PROPEDUTICA DO DIREITO DIGITAL

    2.1 Contexto histrico da era da informao: histria da Internet

    Desde os idos do sculo XIX, a comunicao vem sendo impulsionada pelo eletromagnetismo. Os eltrons, partculas de energia que circundam os tomos, conduzem energia e calor, impulsionando a tecnologia mundial por meio de tubos e microscpicos eletrnicos, gerando energia para os motores, transmitindo, por cabos de alumnio, a voz humana, imagens e sons (LESSIG, 1999). A tecnologia avanou de forma inimaginvel e, hodiernamente, atravs dos computadores, as informaes so transportadas dentro de pastilhas de silcio processando dados, os chamados chips, diminuindo distncias, ampliando horizontes (LESSIG, 1999).

    As possibilidades de uso da rede visam no s ao trabalho profissional, mas tambm ao estudo, pesquisa, ao entretenimento, ao uso comercial e at a prtica de crimes.

    Sua origem remonta ao ano de 1957, nos Estados Unidos, quando restou criada a Advanced Research Projects Agency (ARPA), surgindo a primeira rede de computadores.

    Em 1969, a ARPA criou a ARPAnet, sistema totalmente financiado pelo Governo norte-americano que tinha o objetivo de conectar as bases militares e os centros de pesquisas dos Estados Unidos (FINKELSTEINS, 2004).

    A ARPAnet foi desenvolvida durante o perodo da Guerra Fria entre a extinta Unio Sovitica e os EUA. Prevendo um possvel ataque de seus inimigos, os americanos desenvolveram uma rede de comunicao supostamente invulnervel, inclusive em caso de um ataque sovitico com bombas atmicas. A ARPAnet usava um backbone que passava por baixo da terra para conectar os militares e os pesquisadores por meio de vrias rotas alternativas, tornando-se supostamente indestrutvel (LESSIG,1999).

    Finkelsteins (2004) informa que, no incio dos anos 70, algumas universidades e alguns centros de pesquisas com atuao na rea de defesa tiveram permisso para se conectar ARPAnet. No incio dos anos 80, a ARPAnet j havia crescido muito, razo por que passou a utilizar o atual protocolo de comutao de pacotes, o TCP/IP (Transfer Control Protocol/Internet Protocol), que se uniu a uma network, Measurements Center, da Universidade da Califrnia em Los Angeles (UCLA), ao

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    Instituto de Matemtica Interativa Culler-Fried da Universidade da Califrnia em Santa Brbara (UCSB), Universidade de Utah e ao Instituto de Pesquisas de Stanford (Stanford Research Institute).

    O termo ARPAnet caiu em desuso, sendo substituda por uma denominao mais adequada: internet.

    At 1991, o governo norte-americano, por meio da National Science Foundation, vedava o trfego de qualquer informao comercial pela internet.

    A partir dessa data, foi permitido o uso da internet com propsitos comerciais, iniciando-se a exploso e a revoluo das comunicaes em termos mundiais, bem como o aceleramento do desenvolvimento cientfico, tecnolgico, educacional e de toda atividade empresarial.

    2.1.1 Origem da Internet Corrente Libertria

    Vrias correntes doutrinrias foram surgindo para tentar explicar a importncia do direito virtual, como disciplina isolada e autnoma, em face de sua importncia mundial.

    A corrente libertria defende um direito aplicado internet mais descentralizado. Capitaneada pelo professor Kuhn (1997, p. 20), o qual entende que o direito a ser aplicado internet e aos ambientes eletrnicos haveria de ser pautado pela chamada reconstruo da rea de estudos a partir de novos princpios.

    Essa corrente estabeleceu a liberdade de escolha dos internautas, visto que, diante de uma atuao minimalista de interveno do Estado, os usurios pudessem regularizar suas prprias escolhas, independentes de um governo externo que pouco (ou nada) conhece da realidade da vida do mundo virtual e eletrnico (ROHRMANN, 2005, p. 16).

    Equivocam-se os libertrios, defensores dessa corrente, por entenderem que todo o conflito, todo litgio na internet poderia ser resolvido por uma autorregulamentao, levando a uma utopia do direito, dispensando a aplicao de qualquer norma ou princpio, o que no permitido no ordenamento jurdico

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    2.1.2 Corrente da Escola da Arquitetura da Rede

    A Corrente da Escola da Arquitetura da Rede, capitaneada pelo professor Lessig, estabeleceu, como ideologia, a soluo para problemas como falta de territorialidade, a alta incidncia de anonimato virtual, a natureza descentralizada da rede, o grande nmero de usurios tecnicamente bastante sofisticados e capazes de driblar certos regulamentos e, finalmente, a incrvel rapidez do desenvolvimento tecnolgico que possibilita a criao e a determinao da rede (REIDENBERG, 1998 apud RORHAMNN, 2005, p. 23).

    Esta corrente da Escola da Arquitetura foi reproduzida na obra Code and other laws of cyberspace, sob a exegese de que a internet ser definida pelo cdigo dos programas de computador, reproduzindo o comportamento dos internautas.

    Para Lessig, o Estado deve intervir criando leis baseadas em tecnologia, Lex Informtica como, por exemplo, criando filtro de contedo de sites da internet, o que bloquearia certos contedos acessados (REIDENBERG, 1998 apud RORHAMNN, 2005). Esse tipo de comportamento de monitoramento da rede pode demonstrar ser um certo tipo de censura, violando direitos fundamentais dispostos no Art. 5 da CF/88.

    Essa corrente da Escola da Arquitetura da Rede que representa a escola de Lessig traz, tambm, em sua formao, o iderio da utopia do direito, fazendo crer que os acontecimentos no espao ciberntico ocorrem tambm no mundo fsico e talvez at com mais amplitude e intensidade.

    Por no conseguir solucionar todos esses problemas mencionados, essa corrente no foi to utilizada.

    2.1.3 Corrente do Direito Internacional

    A Corrente do Direito Internacional estabelece como marco o entendimento de que o espao virtual um espao internacional. Essa corrente busca preencher a lacuna deixada pela corrente libertria quanto ausncia de territorialidade, sugerindo a realizao de acordos internacionais para que as regras sejam estabelecidas.

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    O direito eletrnico diminui distncia entre as pessoas, promovendo e facilitando entretenimento, cultura, pesquisa, estabelecendo novos comportamentos para os Estados Soberanos, como unidade de direito internacional.

    A Organizao Mundial do Comrcio (OMC) tem sugerido a criao de leis uniformes para regulamentao do comrcio eletrnico, regulamentando situaes de extraterritoriedade, bem como a autonomia das leis internas dos Estados Soberanos.

    Essa corrente tambm no foi aceita por se resumir apenas a questes de direito internacional, esquecendo-se da necessidade de regulamentao da norma em cada pas soberano.

    2.1.4 A Corrente Tradicionalista

    Esta a corrente mais utilizada para a normatizao do direito eletrnico, visto que consegue estabelecer normatizao para todos os Estados que participam de uma situao jurdica ocorrida na rede.

    Pode-se considerar at mesmo que o Direito Virtual um ramo autnomo do direito. A uma pela vasta bibliografia existente. A duas por j ter um quadro significativo de estudo da matria em graduao e ps-graduao e a trs por haver vrias situaes fticas que necessitam da aplicao desse ramo do direito.

    No se trata de questo de hermenutica, mas sim da necessidade de se regularizar normas que tenham a funo de estabelecer a ordem social, o bem comum e, principalmente, a justia, no que tange o ambiente virtual, desde que se considerem a inexistncia de leis que regulamentem esse assunto.

    No ensinamento do professor Bigel, essa corrente visa aplicao das normas jurdicas, individualmente, para cada Estado, para que se tenha a uniformizao da rede (BIEGEL, 2001 apud ROHRMANN, 2005, p. 27).

    Para essa corrente, o conceito de direito muito mais amplo do que a simples possibilidade de aplicao da norma em uma situao concreta especfica (BIEGEL, 2001 apud ROHRMANN, 2005, p. 27).

    O direito visa resguardar a paz social e busca regularizar comportamentos e atitudes contrrios ao bem comum, aplicando a lei a uma situao especfica, como os que ocorrem no ambiente da internet. Essa corrente defende a necessidade de

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    se normatizar as relaes na internet, justificando o estudo do Direito Virtual e do Marco Civil na internet.

    Nessa vertente, o marco terico adotado nesse trabalho subsume-se na aplicao de regras e dogmticas adotadas para o marco do direito digital, defendida pelo professor Carlos Alberto Rohrmann no artigo intitulado The role of the dogmatic function of Law in cyberspace in Internacional Journal of Libiality and Scientific Enquiry, onde estabelecido que lei feita para o bem pblico e para beneficiar um conjunto de pessoas e que o seu objetivo final promover a justia em geral e igual, mesmo em situaes especficas, que pode variar em todo o mundo, seno, veja-se:

    If the Law is taken as a broader concept instead of the narrow concepts of statues and law enforcement then the law has some inherent characteristics that separate it from other systems of rules, such as moral norms, technical norms, etiquette norms or even presented as an argument for the irrelevance of some laws in the virtual world (Barlow, 1994). The law is made for the public good and to benefit a set of people; its ultimate goal is to promote general and equal justice. If the law is corrupt at a certain point in time and to a point where the law stops to pursue the public good, that legal system naturally collapses. The means to achieve the public good vary throughout the world, but the goal and the focus of multiple juridical system is ultimately always the same: to achieve public benefit, the final achievement of justice. Besides public benefic, law has a universal authority, which means that all the people under the jurisdiction of the law are bound by the law. No one is a certain jurisdiction can just bypass the law. No one in the jurisdiction of the law can claim to be outside the scope of the legal system. Of course, there might be situations in which a specific statute is not applicable to a certain individual. However, this does not mean that such laws lack universal authority. There is a simple reason for this: if a certain individual is not subjected to such statute, he or she will be bound by such legislation. An example is the law that regulates the legal profession. (but indirectly that law binds everyone since as anyone, who decides to become a lawyer will face the parameters set by the law). Finally, public authority ultimately enforces the law. Rules that are not enforceable by the public authority, such as the rules of the Netisquette, (RFC 1855, 2000) are not within the scope of the law. They are not laws and are not the object of juridical science. All of the three characteristics of the law enumerated above point to a common objective: the achievement of justice. Law must not be confused with instruments of the law enforcement. The difficulties of law enforcement do not mean that the law would not be able to regulate a specific human relationship (ROHRMANN, p. 88).

    A lei feita para o bem pblico e para beneficiar um conjunto de pessoas. O seu objetivo final promover a justia em geral e igual. Se ela est corrompida em um determinado ponto no tempo e at um ponto onde deixou de perseguir o bem pblico, o sistema legal, naturalmente, entra em colapso.

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    Os meios para alcanar o bem pblico variam em todo o mundo, mas o objetivo e o foco do sistema jurdico mltiplo , em ltima anlise, sempre o mesmo: conseguir o benefcio pblico, a realizao final da justia.

    Alm de ser benfica para o pblico, a lei tem autoridade universal, o que significa que todas as pessoas sob a jurisdio da lei esto sujeitas a ela. Ningum nem uma jurisdio pode simplesmente "ignorar a lei". Ningum, na jurisdio da lei, pode pretender estar fora do escopo do sistema legal.

    claro que pode haver situaes em que uma lei especfica no aplicvel a um determinado indivduo. No entanto, isso no significa que tais leis no tm autoridade universal. H uma razo simples para isso: se um determinado indivduo no submetido a tal estatuto, ele ficar vinculado a tal legislao. Um exemplo a lei que regulamenta a profisso legal. (Indiretamente a lei obriga todos, pois, como qualquer um, que decide se tornar um advogado ter de enfrentar os parmetros estabelecidos pela lei). (Esta parte entre parnteses me est parecendo confusa, no?)

    Finalmente, a autoridade pblica, em ltima anlise, refora a lei. Regras que no so aplicadas pela autoridade pblica, como as regras do Netisquette, (RFC 1855, 2000) no esto dentro do escopo da lei. Eles no so leis e no so o objeto da cincia jurdica.

    Todas as trs caractersticas da lei enumeradas acima apontam para um objetivo comum: a realizao da justia. Lei no deve ser confundida com instrumentos de aplicao da lei. As dificuldades de aplicao da lei no significa que a lei no seria capaz de regular uma relao especfica humana.

    2.2 Conceito de Internet

    A internet pode ser conceituada como sendo uma rede de computadores que se conectam entre si numa estrutura fsica que possibilita a ligao de rede de servios www, e-mail, chat.

    A internet, segundo Finkelstein (2004), compartilha informaes e disponibiliza servios ao redor do mundo.

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    Para o projeto do Marco Civil1, a internet o conjunto de meios de transmisso, comutao e roteamento de dados, estruturados em escala mundial, bem como os protocolos necessrios comunicao entre terminais, includos ainda os programas de computador especficos para esse fim (ANEXO C).

    2.3 Conceito de Direito Virtual

    O Direito Virtual tem carter disciplinar e encontra-se presente em todos os ramos do Direito. Interage com o direito trabalhista e com o monitoramento eletrnico. Na rea cvel, usado na recuperao de perfis e identidades por meio de medidas liminares e, no mbito penal, utilizado para caracterizar as mais diversas formas de crimes praticados com o uso da tecnologia e da internet.

    Pode-se conceituar o Direito Virtual como sendo a Cincia das Novas Tecnologias para uma rede de relacionamento e cooperao imprescindvel para a mundializao do mercado de trabalho.

    A inteligncia ciberntica um dos mais importantes cenrios de estudo para a compreenso da tecnologia e dos fenmenos que ocorrem na rede, visando a uma multiplicidade de conhecimentos e a uma maximizao de resultados profissionais e acadmicos.

    Segue-se, ento, que o Direito Virtual o ramo do direito destinado a compreender as implicaes da evoluo tecnolgica da internet no cotidiano das pessoas. , ainda, o conjunto de leis, regulamentaes em geral e prticas contratuais de todos os tipos e nveis que envolvem a atualizao e funcionamento de redes de software e computadores (CERQUEIRA, 2000).

    O nmero de computadores e usurios de emails, sites, pginas encontram-se em crescimento. Segundo levantamentos da Internet Systems Consortium (http://www.isc.org), atualmente h mais de 800 milhes de mquinas permanentemente conectadas com a rede internet, conforme grfico discriminado a seguir, justificando a autonomia do estudo do direito virtual.

    1 O Projeto de Lei n 2126/2011, em tramitao na Cmara dos Deputados, estabelece princpios,

    garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil e pode ser acessado por meio do endereo eletrnico: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=517255.

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    2.4 Fontes do Direito Digital: Normas e Princpios

    Normatizar o uso da internet atende s expectativas do Estado Democrtico de Direito.

    Axioma como a internet terra de ningum no pode prevalecer no estado de legalidade. Visando contextualizar as normas que regulam o Direito Digital, necessrio que se pontuem as fontes que tutelam a regulamentao das relaes na grande rede. Nesse sentido, a principal fonte do Direito Digital a CF/88.

    Tem-se ainda o Cdigo Civil (CC), o Cdigo de Defesa do Consumidor (CDC), o Cdigo Penal (CP) e vrios projetos em trmite no Congresso Nacional, tais como Marco Civil na Internet, leis de crimes cibernticos, lei de propriedade industrial, Projeto de Lei 677/99 baseado na Lei Uncitral (United Nations Communion on Internacional Trade Law) sobre comrcio eletrnico, dando validade jurdica aos atos jurdicos celebrados por meio eletrnico.

    A lei deve ser instrumento capaz de garantir os direitos fundamentais estabelecidos na Constituio Federal, refletindo valores relacionados liberdade, igualdade, neutralidade da rede e livre concorrncia.

    Para que no seja instaurado um estado de policiamento, qualquer positivao da norma deve garantir a no censura na rede, estabelecendo, outrossim, a segurana jurdica das relaes cibernticas.

    Regulamentar os direitos na web um dos objetivos primordiais do Direito Digital, pois, na mesma velocidade com que ocorrem as transformaes culturais de

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    negcios jurdicos virtuais na rede, aumentam, inexoravelmente, os ilcitos e os crimes cibernticos.

    Garantir a dignidade da pessoa humana, como bem maior a ser protegido, ir promover garantias como acesso ao conhecimento, participao na vida cultural, fomento ampla difuso de novas tecnologias, modelos de uso e acesso, padronizao, acessibilidade, interoperabilidade, neutralidade, liberdade de expresso e privacidade.

    Devem nortear essas relaes cibernticas a dignidade da pessoa humana, a transparncia, a boa-f, o equilbrio, a privacidade, a segurana, a proteo dos interesses econmicos e dos direitos do consumidor, para que seja estabelecida a confiana entre as partes e transaes comerciais eletrnicas mais equnimes.

    A empresa, nesse contexto virtual, no pode prescindir de leis antitrustes e concorrenciais, para que as perspectivas de novos empreendimentos e a atividade empresarial virtual, como comrcio eletrnico e o fisco digital, sejam desenvolvidas em um ambiente seguro, mesmo em tempo real.

    2.5 Papel do Estado

    O Poder Pblico dever estabelecer diretrizes e mecanismos de governana transparentes, colaborativos e democrticos, com a participao de vrios setores da sociedade. Deve promover a racionalizao e a interoperabilidade tecnolgica dos servios de governo eletrnico, nos diferentes nveis da federao, permitindo o intercmbio de informaes e a agilizao de procedimentos.

    necessrio que o Estado incentive a adoo de padres de formatos abertos, com a publicidade e disseminao de dados de informaes pblicas de forma aberta e estruturada, otimizando a infraestrutura das redes, promovendo a qualidade tcnica, a inovao dos servios de internet, sem prejuzo abertura e neutralidade, favorecendo a natureza participativa, eficiente e imparcial.

    O Estado existe para garantir e promover a dignidade de todas as pessoas, bem como o desenvolvimento da atividade econmica. nesse amplo alcance que est a universalidade do princpio da dignidade humana e dos direitos concorrenciais, da ordem econmica e da iniciativa privada.

    O poder pblico agente propulsor a buscar, formular e fomentar estudos peridicos fixando metas, estratgias, planos e cronogramas referentes ao uso e

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    desenvolvimento da internet no pas, seja atravs do poder executivo, legislativo ou judicirio. Dever, alm de apresentar diretrizes para o ambiente ciberntico, propiciar a livre concorrncia e a iniciativa privada, cumprindo o dever na prestao da educao em todos os nveis de ensino, abarcando a capacitao para o uso da internet, como ferramenta de exerccio de cidadania, promoo de cultura, desenvolvimento tecnolgico e incluso digital.

    O Estado deve ainda otimizar a infraestrutura das redes, favorecendo a qualidade tcnica, a inovao, a disseminao dos servios de internet, sem prejuzo abertura, neutralidade e natureza participativa com eficincia e imparcialidade.

    O sistema democrtico participativo como aes e atitudes conjuntas do poder pblico e privado e de todos os interessados, independentemente de suas capacidades fsico-motoras, perceptivas, culturais e sociais, visa garantir que todos tenham acesso internet, resguardados os aspectos de sigilo, restries administrativas e legais.

    O cumprimento do dever constitucional do Estado na prestao da educao, ento, no poder ficar restrito a aulas especializadas de tecnologia, mas deve avanar em direo capacitao integrada em todos os nveis de ensino, multidisciplinando o conhecimento para o uso da internet como ferramenta de exerccio de cidadania, promoo de cultura e desenvolvimento tecnolgico, fomentando iniciativas privadas que promovam a internet como ferramenta educacional, a fim de minimizar as desigualdades, sobretudo as regionais, promovendo a incluso digital.

    O poder pblico deve simplificar os servios eletrnicos por mltiplos canais de acesso, sistemas operacionais e aplicativos e no apenas exigir novas obrigaes fiscais.

    Rodolfo Sampaio discorre que o paternalismo jurdico limita as liberdades individuais de seus cidados com base em valores axiolgicos que fundamentam as imposies estatais coibindo autonomia individual, direitos e garantias fundamentais (SAMPAIO JNIOR, 2009).

    Diferente do paternalismo jurdico, a falta de incluso digital para as sociedades empresariais em um ambiente de neutralidade, para alguns juristas, pode vir a representar meio coercitivo de exerccio da atividade e da livre iniciativa.

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    O papel do Estado deve estar atrelado a um processo de distribuio de riqueza, em uma anlise econmica do direito, fomentando protees antitruste na rede, alicerado na funo social do contrato, evitando-se o abuso, o protecionismo e o subjetivismo no judicirio.

    Sugere-se, ento, que as polticas pblicas direcionadas rede sejam elaboradas ainda no processo legislativo, como nas legislaes do Marco Civil e crimes cibernticos, ocasio em que se pode estabelecer uma srie de restries ou de imposies s condutas privadas, visando sempre ao desenvolvimento da atividade econmica na rede.

    Essa imensa diferena de acessibilidade internet decorre, sobretudo, de aspectos econmicos que separam a sociedade entre camadas mais e menos favorecidas, criando o que Rohrmann (2005) denomina de abismo digital ou apartheid digital.

    Atravs do Fundo de Universalizao dos Servios Telefnicos (FUST), que possui natureza de Contribuio de Interveno no Domnio Econmico (CIDE), possvel arrecadar recursos que sero aplicados nos programas, projetos e atividades correlatas ao plano geral de metas para a universalizao das telecomunicaes, com objetivos variados, entre eles, a implantao de acessos para utilizao de servios de redes digitais de informao, destinadas ao acesso pblico, inclusive da internet, com condies favorecidas (PERON, 2009, p 46).

    Assim, o Estado se predispe a buscar, formular e fomentar estudos peridicos regulares, fixando metas, estratgias, planos e cronogramas referentes ao uso e desenvolvimento da internet no pas.

    A informao intangvel e a falta de capacitao a maior dificuldade existente para a garantia dos direitos. Todavia, no s o Estado dever realizar sua funo, mas todos os interessados incluindo o setor privado, com prticas ticas e seguras na rede, para que ocorra a denominada democracia participativa.

    2.6 Democratizao da Informao

    Entende-se como democracia da informao o sistema participativo de aes e atitudes conjuntas do poder pblico e privado e de todos os interessados, para garantir que todos tenham acesso internet, resguardados os aspectos de sigilo, de restries administrativas e legais.

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    O poder pblico est simplificando os servios eletrnicos por canais de acesso, sistemas operacionais e aplicativos, o que se pode denominar democracia participativa.

    Desde a Declarao Universal dos Direitos Humanos, o direito ao livre acesso s informaes e cultura resguardado. O Inciso XIV do Art 5 da CF/88 ratifica a democracia da informao como direito e garantia fundamentais.

    A efetivao desse direito ao livre acesso s informaes e cultura deu-se com o desenvolvimento da imprensa, da radiodifuso e da teledifuso, mas o seu grande avano ocorreu mesmo foi com o advento da internet e a divulgao em tempo recorde de cultura e informao a qualquer pessoa, de qualquer nacionalidade, independente da classe social.

    Assim, seja na qualidade de usurio, pesquisador, empreendedor ou empresrio, os operadores da internet podem acessar, a qualquer momento, grande variedade de obras artsticas, cientficas, intelectuais, informaes culturais, educativas ou o comrcio eletrnico de qualquer produto e servio. Isso democratizao da informao.

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    3 MARCO CIVIL NA INTERNET

    3.1 Marco Civil como Diploma Legal

    O Marco Civil na internet um instrumento legal, oriundo de consultas pblicas colaborativas que visa normatizar responsabilidades, orientaes e direitos para os usurios, provedores e o Estado. Apresenta trs temas centrais: direitos e garantias fundamentais com a tutela das liberdades, proteo aos direitos dos usurios e responsabilizao dos infratores.

    Trata-se de um estatuto legal, pois uma lei de iniciativa do Ministrio da Justia e da Fundao Getlio Vargas.

    considerado, por alguns doutrinadores, uma das legislaes hodiernas mais democrticas, j que oriunda de consulta pblica realizada na internet, sobre toda a matria que deveria ser regulamentada. Por tratar-se de um projeto de lei, no dispensa uma anlise cognitiva, em razo da sua abrangncia e alcance.

    Caracterizado por uma grande participao popular, atravs de audincias pblicas e manifestaes em site disponibilizado na rede, vrios setores, entidades pblicas e privadas puderam acrescentar dilogos sobre temas abordados nesse estatuto legal, em consultas que foram realizadas por um blog na internet.

    Essa lei caracterizar a natureza da internet, seus usos e costumes particulares e sua importncia para a promoo do desenvolvimento humano, econmico, social, cultural e defender as exigncias do bem comum, os direitos e deveres individuais e transindividuais.

    O Marco Civil estabelece o direito de acesso internet, a responsabilidade dos provedores e dispe sobre qualidade das conexes, guarda dos regimes de acesso dos usurios, trfego de dados, remoo de contedos e requisio judicial de registros, alm de estabelecer a possibilidade do Notice and Take Down, j utilizado em alguns pases, conhecido como notificao ao responsvel pela autoria de contedo e concomitante bloqueio da insero pelo provedor do servio para, aps uma contranotificao, possibilitar a excluso do contedo e iseno de responsabilidade dos provedores, responsabilizando o verdadeiro autor de postagens ilcitas.

    De forma a estabelecer um ambiente mais seguro na rede, certos direitos fundamentais e princpios foram incorporados no projeto do Marco Civil na internet,

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    quais sejam: privacidade, governana corporativa, universalidade, diversidade, inovao, neutralidade da rede, inimputabilidade, funcionalidade, segurana, estabilidade, padronizao, interoperabilidade, ambiente legal e regulatrio, garantia da liberdade de expresso, comunicao, manifestao de pensamento, proteo da privacidade, proteo aos dados pessoais na forma da lei, preservao e garantia da neutralidade da rede, preservao da estabilidade, segurana e funcionalidade da rede por meio de medidas tcnicas compatveis com os padres internacionais pelo estmulo ao uso de boas prticas e pela preservao da natureza participativa no ambiente da internet.

    Nessa era da informao, ocorre uma mudana paradigmtica e conhecer a formao da legislao que ser aplicada na rede levar o operador do direito a uma posio de vanguarda, o que um grande diferencial.

    No entendimento da Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministrio da Justia (SAL-MJ), o Marco no trata diretamente de temas como crimes de internet e direito autoral, mas pode dialogar com esses e outros assuntos, e ser um ponto de partida para outras regulamentaes.2

    Alguns doutrinadores defendem que o ordenamento jurdico brasileiro j absorve toda a legislao necessria para regular as relaes jurdicas na rede. Esse entendimento pode no ser a posio mais correta j que temas como crimes cibernticos, empresa virtual, comrcio eletrnico, ttulos de crditos virtuais, home-broker e segurana da informao ainda precisam ser normatizados.

    Na concepo de Bonavides (2004), essa era ps-industrial marcada pelo direito democracia, informao e ao pluralismo, direitos constitucionais de 4 gerao.

    Os princpios explcitos norteadores dessa nova perspectiva de relaes originrias do novo instrumento de informao coadunam-se com a liberdade, privacidade, governana, universalidade, diversidade, inovao, neutralidade, inimputabilidade da rede, funcionalidade, segurana, estabilidade, padronizao, interoperabilidade, ambiente legal e regulatrio.

    O Marco Civil um instrumento normativo que visa abranger, alm de princpios implcitos no ordenamento jurdico ptrio relacionados matria ou aos tratados internacionais em que o Brasil seja signatrio, a garantia da liberdade de

    2 Ata da Sesso Temtica da Comisso dos Crimes de Alta Tecnologia, OAB/SP, debate sobre Marco

    Civil, 30/04/2010).

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    expresso, comunicao, manifestao de pensamento, proteo da privacidade, proteo aos dados pessoais na forma da lei, preservao, garantia da neutralidade, estabilidade, segurana e funcionalidade da rede.

    Assim, o Marco Civil sugere medidas tcnicas compatveis com os padres internacionais, o estmulo ao uso de boas prticas e preservao da natureza participativa da rede.

    A utilizao da internet aumenta as vantagens concorrenciais, propiciando uma competitividade econmica.

    Regularizar as relaes na internet torna-se indispensvel dentro da globalizao, sendo a subsuno aos princpios pedra angular na proteo dos direitos fundamentais, garantindo, justamente, a concretizao dos valores inseridos nas relaes na web.

    Qual o papel do Marco Civil na internet? As normas precisam ser regulamentadas ou apenas o comportamento das pessoas nesse novo espao ciberntico? possvel positivar normas oriundas da sociedade do conhecimento, reflexos da teoria do conhecimento jurdico?

    Questionamentos como esses so pertinentes quando se traz baila o entendimento de Kelsen (1996) sobre carter deontolgico da norma do dever ser. Para o autor, ser e dever ser so dados empricos traduzidos numa interpretao. A norma dever ser e o ato de vontade constitui o ser, a norma jurdica positiva, objeto da cincia jurdica que se traduz como um esquema de interpretao e como um sentido do dever ser.

    Kelsen (1996) ressaltou o positivismo ao desenvolver sua teoria do conhecimento epistemolgico. Partiu do pressuposto de que s possvel construir a norma com neutralidade e objetividade sem precisar conhecer axiomas sociais, histricos e culturais.

    Pode-se dizer que, com a era da informao, novas oportunidades vo surgir para a atividade empresarial e conhecer as bases da formao de direito, a partir do positivismo de Kelsen, traz para essa nova era uma nova concepo da hermenutica jurdica.

    Canaris, autor alemo que discorreu sobre o Pensamento Sistemtico na Cincia do Direito, disps que, para a construo do direito como discurso jurdico, tanto o formalismo quanto o positivismo tm de, como primeira tarefa, ampliar a sua base de incidncia. Todo o processo de realizao de Direito, portanto todos os

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    fatores que interferem, justificam ou explicam as decises jurdicas e devem ser includos no discurso juscientfico (CANARIS, 2008).

    Para o Marco Civil, a percepo importante dessa epistemologia como teoria do conhecimento na formao da norma traa um regime democrtico para a informao, promovendo o acesso ao conhecimento e participao na vida cultural alm do fortalecimento da livre iniciativa e da livre concorrncia, fomentando, assim, a inovao, a ampla difuso de novas tecnologias e modelos de uso e acesso com a padronizao, a acessibilidade e a interoperabilidade a partir do uso de padres abertos.

    O acesso internet passa a ser disciplinado, ento, como discurso cientfico, que, na opinio do autor Canaris, deve ser integral. No ordenamento jurdico ptrio, a informao pela internet passa a ter status de direito fundamental do cidado no exerccio da cidadania, da liberdade de manifestao do pensamento e da garantia do acesso informao.

    Seguindo o exemplo de pases mais desenvolvidos que adotaram uma legislao civil para depois enfocar o aspecto criminal, o Marco Civil tem esse vis de padronizao.

    nesse ambiente que traduz a mudana histrica da informao. O marco legal conceitua internet como o conjunto de meios de transmisso,

    comutao e roteamento de dados, estruturados em escala mundial, bem como os protocolos necessrios comunicao entre terminais, includos ainda os programas de computadores especficos para esse fim.

    Esses servios de internet podem ser acessados por meio de um terminal de um computador ou de um dispositivo anlogo que se conecta internet, atravs do servio de navegao, comunicao instantnea, envio e recebimento de correspondncia eletrnica, publicao de obras textuais ou audiovisuais em formato digital entre outros.

    Fica estabelecido que o ente responsvel por blocos especficos de nmero IP (Internet Protocol) e por um conjunto de roteadores, redes e linhas de comunicao pela internet que formem uma infraestrutura delimitada por protocolos e mtricas comuns, ser a pessoa jurdica devidamente cadastrada junto ao Registro de Endereamento da internet para Amrica Latina e Caribe (LACNIC).

    Para corroborar com o sistema de provas e segurana no acesso da rede, o digesto civil estabelece um conjunto de informaes e registros de acesso a servios

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    da internet que registram data e hora de incio e trmino de uma conexo internet, sua durao e o nmero do IP utilizado pelo terminal, para o recebimento de pacotes de dados definidos como registro de conexo.

    Segundo os artigos 81 e 82 da Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990, a defesa dos interesses e direitos dos usurios da internet poder ser exercida em juzo individualmente ou a ttulo coletivo, como direitos homogneos coletivos ou transindividuais.

    Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vtimas poder ser exercida em juzo individualmente, ou a ttulo coletivo. Pargrafo nico. A defesa coletiva ser exercida quando se tratar de: I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste cdigo, os transindividuais, de natureza indivisvel, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstncias de fato; II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste cdigo, os transindividuais, de natureza indivisvel de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrria por uma relao jurdica base; III - interesses ou direitos individuais homogneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum. Art. 82. Para os fins do art 81, pargrafo nico, so legtimos concorrentemente: I - o Ministrio Pblico; II - a Unio, os Estados, os Municpios e o Distrito Federal; III - as entidades e rgos da administrao direta ou indireta, ainda que sem personalidade jurdica, especificamente destinados defesa dos interesses e direitos protegidos por este Cdigo (BRASIL, 1990).

    O Poder Pblico dever estabelecer diretrizes e mecanismos de governana transparentes, colaborativos e democrticos, com a participao de vrios setores da sociedade, promovendo a racionalizao e a interoperabilidade tecnolgica dos servios de governo eletrnico, nos diferentes nveis da federao, para permitir o intercmbio de informaes e a agilizao de procedimentos, alm de incentivar a adoo de padres de formatos abertos, com a publicidade e disseminao de dados de informaes pblicas de forma aberta e estruturada, otimizando a infraestrutura das redes, promovendo a qualidade tcnica, a inovao, alm da disseminao dos servios de internet sem prejuzo abertura, neutralidade, natureza participativa, maior eficincia e imparcialidade.

    Na opinio de Chede (2009, p 236), o sistema de rede depende da interoperabilidade, definida como a capacidade de diferentes softwares trocarem informaes via conjunto padro e forma, sem qualquer controle de qualquer empresa, para que a comunicao ocorra de forma mais eficaz.

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    Na opinio desse especialista, a adoo desse tipo de tecnologia propiciar uma melhor eficincia e imparcialidade da informao j que trar uma colaborao de todo o setor envolvido no processo de comunicao. Esse sistema tem reconhecimento no protocolo TCP/IP para todos os usurios dos EUA, Brasil, China e Uganda e a tendncia a sua universalidade.

    do interesse do setor pblico o desenvolvimento de aes e programas de capacitao para uso da internet promovendo a cultura e a cidadania, inclusive pela prestao mais dinmica e eficiente de servios pblicos que prestem atendimento ao cidado de forma integrada, simplificada e por mltiplos canais de acesso, compatibilizando servios de governo eletrnico com diversos terminais, sistemas operacionais e aplicativos para seu acesso.

    3.2 Diretivas Europeias Aplicadas Internet

    As diretivas da Unio Europeia (UE) tm adotado o sistema europeu continental do Direito do Autor, com base no Tratado da Conveno Europeia.

    Especialmente a UE de 25/10/1998 restringiu a comercializao de dados sobre os consumidores. Com regras mais rgidas sobre dados comerciais, essas diretivas protegem o direito de privacidade, garantindo o uso dos dados de cidados, na posse de rgos governamentais ou privados, a fim de que essas informaes tenham um propsito especfico.

    A UE tambm sugeriu que o governo norte-americano aumente a proteo aos consumidores, para que haja uma globalizao das normas do comrcio eletrnico.

    J existem leis limitando o telemarketing na Europa. As novas leis restringem o uso do e-mail e do fax, sem um propsito especifico.

    As diretivas da UE no sugerem o controle hierrquico, ou algum tipo de censura, mas cria responsabilidade aos fornecedores e usurios da informao nesse espao ciberntico.

    O Marco Civil, ento, seguiu a exegese estabelecida nas Diretivas Europeias 95/46/CE que prevem a possibilidade de medidas inibitrias de diversas naturezas, consistentes em decises judiciais que exijam a preveno ou a cessao de uma eventual infrao, incluindo a remoo de informao ilegal tornando impossvel o acesso a elas.

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    Talvez, o Marco Civil devesse seguir a sugesto estampada nessas assertivas e estabelecer um cdigo de conduta, como medida administrativa, determinando regras aplicveis aos deveres de diligncia que pudessem, em carter administrativo, resolver o impasse da responsabilizao, o que se evitaria uma sobrecarga no sistema jurisdicional, cheio de demandas judiciais, com a possibilidade de se criar uma agncia reguladora.

    3.3 Marco Civil e o Direito Natural

    Direito Natural uma expresso polissmica e nem sempre clara. J na Grcia e Roma antigas, sempre foi mal entendida tanto para os filsofos quanto para os juristas. Michel Villey (2008) tentou explicar o direito natural atravs da filosofia, definindo-o como sendo o direito numa proporo das coisas divididas entre pessoas. Ele considerado a mais importante das formas de direito.

    Para Villey (2008), antes de toda interveno do homem nos costumes, existe o Direito Natural cuja sede est fora da razo humana. Ele se distingue do Direito Positivo que procede do homem. Tudo isso para que o jurista distinga o que justo e o que injusto.

    Os jusnaturalistas, os defensores do Direito Natural, falam da natureza das coisas, dos princpios normativos ou de justia, do direito vital, mas existe um elo comum entre todos: nenhum aceita que a deciso poltica que cria a lei seja a nica fonte do Direito, alm de que tal norma no pode contrariar uma ordem superior (ordem natural, vital, natureza das coisas, justia). Existindo uma essencial oposio entre o direito positivo e alguns padres extra-positivos, estes juristas se negam, em geral, a conceder norma em pauta o reconhecimento de plena juridicidade.

    Tratando-se de legislao para positivao do direito na internet, necessrio que seja reconhecida a importncia de outros valores como sociais, econmicos e outros auferidos de critrios consuetudinrios e no apenas valores polticos.

    O que se questiona se necessrio buscar nas doutrinas tradicionalistas uma resposta para a importncia do direito natural, especialmente o direito ciberntico-eletrnico, tais como sua riqueza, sua necessidade, sua autoridade e sua justia.

    Entendeu a crtica que a controvrsia da dialtica foi o melhor meio para alcanar a justia direito natural matria-prima dos trabalhos dos jurisconsultos.

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    Apenas o conceito de direito natural permanece capaz de explicar a origem das leis positivas.

    Esse o pensamento que deve valer na construo do Marco Civil na internet.

    Assim, o reconhecimento do direito de cada um o fim, e os meios so o processo negocial, legislativo ou judicial.

    O Direito Natural leva em considerao questes principiolgicas e, por assim dizer, vale como base angular do Direito Positivo. Uma vez tendo a questo problematizada, o Direto Positivo apresenta a norma para a soluo da vexata quaestio. Enquanto o Direito Natural a ponte de acesso ao problema. Primeira ponte a substituir em tempo til por novas passagens mais seguras, mais autnticas.

    E continua o doutrinador Paulo Ferreira Cunha (2001):

    O Direito Positivo dito real, concreto, uma criao cultural ao mesmo ttulo que o Direito Natural. A mesma faculdade, formalizadora, mitificadora que criou o Direito positivo criou tambm o Direito Natural, como a religio, a moral, a poltica. o chamado ius redigere in artem (CUNHA, 2001, p.24).

    Qual a vantagem do retorno aos arcaicos procedimentos do Direito Natural? Com o crescimento acelerado da produo, a concentrao das grandes

    empresas e o esforo cada vez maior para a racionalizao do trabalho induziram a inveno de tcnicas mais sofisticadas, como a internet e as variadas formas de comrcio eletrnico e contratos a distncia.

    Pode-se afirmar que atravs do contexto histrico chega-se origem da real natureza de uma dada cincia jurdica, na construo do positivismo.

    Existem, mesmo no sculo XX, espcies de processos ignorados pelos juristas romanos: conflitos de interesses opondo novas espcies de pessoas (empresas multinacionais sindicatos, fisco), novas espcies de bens: empresas fontes de energia, direito do trabalho e lazer.

    A descoberta do valor infinito da pessoa humana no mudar em nada essa necessidade, ao invs, a era da informao trar cada vez mais situaes consuetudinrias que, para uma segurana jurdica, iro necessitar de uma positivao, ou no.

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    Se no for pelo fato de oferecer uma razo suplementar para que no se confunda o direito com a moral e a poltica, o servio ao bem-estar dos homens , na concepo de Villey, o direito dos homens, base do Direito Natural.

    Essa discusso para que, na construo da lei, haja a mais clara e ldima interferncia do direito natural, considerando principalmente os princpios que, para Villey, so os que realmente interessam.

    A exegese baseia-se no intrprete que, por sua vez, depende das leis e, muitas vezes, at transpe o legislador. O intrprete sempre busca na dialtica a resposta para a hermenutica, que tem mais autonomia e distancia-se da letra ou mesmo da inteno consciente do legislador e, conforme dito, muitas vezes at pode super-la.

    Todavia, somente a lei e, nesse sentido, traz-se baila o Marco Civil na internet, abstrata, irreal e falta ser concretizada, interpretada como mtodo de hermenutica.

    Leis injustas no so leis. Quando se fala em determinaes, o Direito Positivo o que merece a mais rigorosa ateno.

    Em meio a diversas formas de interpretao da lei, remonta-se o Direito Natural, arsenal de procedimentos para soluo das antinomias e controvrsias.

    A dialtica, por sua vez, no cincia, mas tem valor qualitativo ao direito. O direito no visa somente subsumir um caso lei. Visa analis-lo e verificar

    se justo ou no. O ofcio do intrprete, nessa premissa, vai alm do exame dos textos. No

    somente dos textos que so fontes. A funo do intrprete encontrar a soluo mais justa de equidade. Assim, a equidade no a anttese do Direito Positivo, mas sua perfeio.

    Tem algo de discricionrio, decisivo, coisa que no se explica cientificamente, mas pode ser esclarecida por deliberao.

    Tudo isso para se chegar reflexo se na formao de novos digestos normativos dever-se- voltar-se ao estudo da formao das leis e valores arraigados no Direito Natural ou no.

    Particularmente, na formao do Marco Civil na internet, como prope Villey, concepes dialticas esto sendo consideradas, com base em princpios e remontando ao jusnaturalismo dando uma real importncia aos direitos mais

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    bsicos do homem como direito privacidade, liberdade de expresso, iniciativa privada, universalidade, neutralidade da rede, diversidade.

    A utilizao da internet diminui custos e tempo nas transaes, aumentando as vantagens concorrenciais por meio de uma melhor competitividade econmica.

    Regularizar as relaes na internet, sob a exegese de que lei injusta no lei, ou que a falta da lei pode levar a uma insegurana jurdica, torna-se indispensvel dentro da globalizao.

    Para o Marco Civil, a percepo de tica, moral, poltica e religio um dado importante para a teoria do conhecimento e, dando real importncia ao Direito Natural, traa regime democrtico informao, promovendo o acesso informao, ao conhecimento e participao na vida cultural, alm do fortalecimento livre iniciativa e livre concorrncia.

    O conceito de Direito Natural permanece capaz de explicar a origem das leis positivas. Nesse jaez, Canaris (2008) discorreu sobre Pensamento Sistemtico na Cincia do Direito e dispe que, para a construo do direito, como discurso jurdico, tanto o formalismo quanto o positivismo ampliam, em primeira mo, a base de incidncia.

    Todo o processo de realizao de Direito - portanto todos os fatores que interferem, justificam ou explicam as decises jurdicas - deve ser includo no discurso juscientfico. O acesso internet passa a ser disciplinado, ento, como discurso cientfico que, na opinio do autor Canaris, deve ser integral.

    No ordenamento jurdico ptrio, a informao pela internet passa a ter status de direito fundamental do cidado, no exerccio da cidadania, da liberdade de manifestao do pensamento, de expresso e da garantia do acesso informao.

    Assim, voltando s origens do Direito Natural, faz-se um paralelo nessa construo dogmtica do direito eletrnico com a influncia da tica e da moral.

    O entendimento dogmtico jurdico estabelece a hermenutica como a forma para interpretao do sistema legislativo sob a gide de que o ordenamento jurdico atual j prescreve boa parte da legislao necessria para regular as relaes na rede. O fato que especificar matrias aludidas a um novo contexto social e econmico em uma nova legislao mais que necessrio.

    Villey (2008) entende que a metodologia clssica oferece a vantagem do realismo. Conclui afirmando que tudo inspirado pela antiga dialtica. Assim, o Direito Positivo deve se valer desse arcabouo ou quase alfarrbio do Direito Natural

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    para formar construes normativas mais condizentes com a realidade e absorver todos os valores humanos esculpidos do jusnaturalismo.

    O Marco Civil visa regular o comportamento dos usurios da internet, dos provedores, do Estado e de todas as empresas que atuarem no ambiente da rede. Contm princpios e normas necessrios para prever as situaes mais recorrentes e relevantes, voltando-se origem do positivismo do naturalismo, ao jusnaturalismo.

    Para se entender o Direito, ou um ramo especfico dele, deve-se voltar a seu programa originrio.

    O Direito Natural matria para o conhecimento dialtico e no resultado. causa inicial a partir da qual se discute e sobre a qual os juristas se debruam para dela extrair o Direito Positivo. Situa-se no comeo da elaborao da cincia do direito. a matria-prima de um mtodo j utilizado, na concepo de poltica de Aristteles (VILLEY, 2008).

    O Direito no extrado de regras. a regra que produzida a partir do direito existente. O Direito Civil apresentado como positivo, pois seu ncleo tirado da natureza.

    Os romanos contriburam para que o direito fosse uma arte autnoma. A poltica de Aristteles j trazia o conhecimento de Direito Constitucional tal

    como direito das pessoas, sucesses, da propriedade, dos contratos uma obra do Direito Natural.

    As construes normativas, por seu turno, podem mudar atravs da histria, levando em considerao costume e contexto histrico, tais como escravido, diviso de classes, propriedade e estrutura social.

    O racionalismo moderno nunca foi capaz de explicar a diviso da propriedade. Na falta de axiomas tirados da razo, ele dispe do procedimento da discusso da dialtica, aberta a todos os argumentos. Por mais incertos que possam ser os resultados, valem mais do que as falsas construes dos racionalistas, liberais ou socialistas.

    O mais notvel na doutrina jurdica romana que nela se busca a fonte do direito na realidade das coisas.

    O corpus juris civilis uma coletnea de textos que datam de diferentes pocas e trazem a marca de diversas influncias filosficas. O Direito Civil, propriamente dito, segundo Pompnio (2004 apud VILLEY, 2010), deve ter-se constitudo inicialmente sem textos escritos: sine scripto e, por isso, obra dos

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    jurisprudentes, textos tirados dos hbitos e costumes romanos, de um direito no escrito.

    Na moderna viso de mundo, na nova linguagem hoje aceita, o conceito de natureza desintegrou-se em uma multiplicidade de significados abstratos. A natureza concreta desapareceu. Prevalece, agora, ora a razo, ora o mundo material.

    Uns fazem do Direito um produto do pensamento. Nesse caso, o direito ser, ento, um dever ser, um conjunto de normas. Outros o consideram um conjunto de fatos. Diante disso, qual seria a utilidade da arte jurdica?

    Dados fragmentados fazem com que a doutrina tente juntar dados racionais e dados reais racionalismo ou positivismo? Da a importncia do Direito Natural, to atual quanto a internet e a virtualizao das relaes empresariais.

    Assim, o jusnaturalismo ressalta o direito inerente ao homem que no pode ser negado, trazido das construes consuetudinrias.

    Correlacionar o Marco Civil na internet com o Direito Natural fortalece a construo normativa, j que o Marco Civil visa, em primeiro plano, valorar as construes consuetudinrias j existentes e no exerccio de valores como liberdade, privacidade e democracia.

    3.4 Marco Civil e o Conflito com a Lei de Crimes Cibernticos

    O projeto de lei de crimes cibernticos teve sua tramitao lenta e h mais de 10 anos vem sendo discutido no Congresso Federal. Sofreu uma modificao no substitutivo apresentado pelo Senador Eduardo Azeredo e at hoje se encontra em fase de discusso.

    Movimentos foram surgindo questionando a legalidade dessa lei que vem tipificar crimes na internet sob a alegao de que essa lei de crimes cibernticos poder ferir direitos j garantidos na Constituio Federal, como a privacidade, impondo at mesmo a to malfadada censura.

    Todavia, o tipo penal tem que estar previamente definido sob a mxima de que no h crime sem prvia cominao legal e a questo pela exegese do garantismo, sugerida pela hermenutica e pelos princpios penais. O direito penal tem que ser a ltima ratio e, assim, antes da tipificao das condutas, deve-se utilizar o Direito Civil para cuidar de questes como responsabilidade, guarda de

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    documentos, notificao contra ilcitos, possibilidade de ajustamento de conduta, para que, se assim no for resolvida a questo, criminalizar as condutas.

    Seguindo o exemplo de pases mais desenvolvidos (Portugal, Espanha, Itlia, Inglaterra) que adotaram uma legislao civil para depois enfocar o aspecto criminal, o Marco Civil tem esse vis de padronizao, o que tem gerado conflito com os criminalistas.

    Assim, o Projeto de Lei n 843, que legaliza os crimes cibernticos, dispe de algumas questes prticas como a que estabelece que os provedores devero manter, pelo prazo de trs anos, o registro do log de acesso s redes por eles operadas.

    Na opinio do Senador Mercadante, isso facilitar muito as investigaes de crimes que hoje so de difcil elucidao a um custo mnimo para os provedores. Note-se que ficam excludas dessas responsabilidades as redes no comerciais, como as de ONGs e residncias.

    O professor Carlos Alberto Rohrmann assim diferencia os crimes eletrnicos:

    Os crimes eletrnicos, ou crimes de informtica, ou crimes virtuais referem-se, em geral, a dois tipos de situaes tpicas distintas. Primeiramente, temos aqueles crimes que so praticados com a utilizao dos sistemas de computadores (a includas as redes de computadores, entre elas a internet) com vista a um bem jurdico protegido, estranho ao prprio funcionamento do sistema de computao (uma fraude eletrnica que vise transferncia de fundos de uma conta para outra por exemplo). O segundo caso refere-se prtica de atos delituosos, por meio do uso dos sistemas de computadores contra os mesmos sistemas computacionais (caso, por exemplo, da utilizao do computador com finalidade de causar alguma consequncia exclusivamente limitada aos sistemas e aos programas de computador em funcionamento) (ROHRMANN, 2005, p.117).

    A maior recorrncia de erros e ilcitos encontrados no ambiente corporativo encontra-se no uso indevido de senha; furto de dados; pirataria; pedofilia; concorrncia desleal; uso indevido de marca; difamao, injria e calnia; fraude eletrnica; violao de segurana por expressa restrio de acesso; violao de direito autoral; violao de segredo profissional; divulgao, utilizao, comercializao de informaes pessoais, com finalidade distinta; destruio, inutilizao, deteriorizao e falsificao de coisa alheia ou dado eletrnico alheio; inserir cdigo malicioso em dispositivo de comunicao (cdigo malicioso

    3 O Projeto de Lei n 84/1999, em tramitao na Cmara dos Deputados, dispe sobre os crimes

    cometidos na rea de informtica, suas penalidades e d outras providncias e pode ser acessado por meio do endereo eletrnico: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=15028.

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    entendido como conjunto de instrues de informaes); estelionato eletrnico e utilizao de spam.

    Garantir o direito privacidade e liberdade de expresso nas comunicaes no exerccio do direito de acesso internet, destarte, no pode ensejar prticas de ilcitos, devendo ser resguardado aos usurios da internet a livre opo por medidas de segurana direcionadas a salvaguardar a proteo de dados pessoais e o sigilo das comunicaes.

    Na opinio de especialistas, criminosos teriam que autorizar guarda dos dados, o que no ir ocorrer.

    Algumas prticas de monitoramento dos rgos governamentais j se encontram em funcionamento, como as investigaes pr-ativas de softwares no combate s infraes.

    Os crimes virtuais, por seu turno, urgem por uma tipificao, para no propiciarem a massificao de condutas maliciosas e, nessa anlise, o Marco Civil ir contribuir para estabelecer princpios e diretrizes que devem auxiliar na padronizao do uso da internet, para depois serem tipificadas criminalmente as condutas.

    3.5 Responsabilidade Civil dos Provedores

    Sob pena de cercear a liberdade de expresso, a privacidade, a liberdade de imprensa, o Marco Civil estabeleceu que no haver responsabilizao dos provedores por contedo dos blogs.

    Os provedores s sero responsabilizados por contedo dos blogs se houver condenao judicial posterior informao.

    Haver necessidade de autorizao do usurio para guarda dos registros de servios, no sentido de que, se tal autorizao no existir, poder ocorrer do provedor no poder fornec-la, nem mesmo judicialmente, se no houver armazenado anterior, pela inexistncia de tal contedo, que poder ser apagado criminalmente.

    A crtica que se faz, ento, no sentido de que, se no houver a autorizao do usurio para o armazenamento dessa informao, at mesmo um mandado judicial seria intil, pois ainda que haja uma liminar judicial deferindo a sua

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    apresentao, corre-se o risco de no haver mais qualquer informao armazenada, j anteriormente deletada.

    A responsabilidade civil passou por vrias transformaes, desenvolveu-se da responsabilidade subjetiva (pessoal) marcada pela culpa, avanando para a responsabilidade objetiva, exigindo apenas o nexo causal e o evento danoso. Hoje j se fala em responsabilidade coletiva (SOUTO JNIOR, 2010).

    O que se impe no Marco Civil , talvez, uma iseno de responsabilidade dos provedores j que a proviso de servios de internet, onerosa ou gratuita, leva o provedor a ficar impedido de monitorar, filtrar, analisar ou fiscalizar o contedo dos pacotes de dados, salvo para administrao tcnica de trfego ou mediante ordem judicial.

    O provedor tambm no ser responsvel por danos decorrentes de contedo gerado por terceiros.

    Para efeitos de analogia, os usurios que detenham poderes de moderao sobre o contedo de terceiros se equiparam aos provedores de servios de internet.

    A responsabilizao do provedor de servios de internet por danos decorrentes de contedo gerado por terceiros fica condicionada ao descumprimento dos procedimentos especficos no Marco Civil. Se o provedor for notificado pelo ofendido e no tomar as providncias para, dentro de prazo razovel, tornar indisponvel o contedo apontado como infringente, a sim, poder ser responsabilizado.

    3.6 Transmisso e Trfego de Dados

    O responsvel pela transmisso, trfego, comutao ou roteamento tem o dever de tratar de forma isonmica quaisquer pacotes de dados, contedo, servio, terminal ou aplicativo, sendo vedado estabelecer qualquer discriminao ou degradao do trfego que no decorra de requisitos tcnicos destinados a preservar a qualidade contratual do servio.

    A preocupao com a qualidade e continuao do servio prestado visa garantir a unicidade da informao, como direito fundamental e proteger os direitos dos usurios, prevendo a responsabilizao dos infratores ao estabelecer a possibilidade de indenizao por prejuzos porventura advindos.

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    3.7 Guarda de Registros de Conexo

    A guarda e a disponibilizao dos registros de conexo devem atender preservao da intimidade, da honra e da imagem das partes direta ou indiretamente envolvidas.

    A proviso de conexo internet impe ao administrador do sistema autnomo respectivo o dever de manter os registros de conexo sob sigilo, em ambiente controlado e de segurana, pelo prazo mximo de seis meses, nos termos do regulamento.

    O dever de manter os registros de conexo no poder ser transferido. Nesse armazenamento, os registros de conexo somente podero ser

    fornecidos a terceiros mediante ordem judicial ou por autorizao prvia e expressa do respectivo usurio. Os dados cadastrais somente podero ser disponibilizados de maneira vinculada a esses registros mediante ordem judicial e as medidas e procedimentos de segurana - de sigilo dos registros de conexo e dos dados cadastrais - devem ser informados de forma clara aos usurios.

    Todavia, os procedimentos de segurana necessrios preservao do sigilo e da integridade desses registros e dos dados cadastrais devero ser definidos por meio de regulamento, em padres adequados de segurana, para que no sejam definidos por regras estanques e obsoletas.

    Essa previso segue o padro das diretivas europeias que estabelecem que qualquer legislao acerca das relaes virtuais no pode afetar a legislao aplicvel s obrigaes contratuais relativas aos contratos celebrados pelos consumidores e no pode ter como resultado a privao de proteo concedida pelo cdigo de defesa do consumidor e outras leis constantes na legislao existente.

    Na opinio de especialistas, criminosos teriam que autorizar guarda dos dados, o que no ir ocorrer.

    Uma poltica de segurana da informao, nesse contexto, poderia adotar a tutela de proteo dos ativos da informao, com o impedimento da infrao sob a chancela do anonimato, aumentando o prazo para o armazenamento do contedo por trs anos.

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    3.8 Da Remoo de Contedo

    Prev o Marco Civil que o provedor de conexo internet no ser responsabilizado por danos decorrentes de contedo gerado por terceiros. O provedor de servio de internet somente poder ser responsabilizado por danos decorrentes de contedo gerado por terceiros se for notificado pelo ofendido e no tomar as providncias para, no mbito do seu servio e dentro de prazo razovel, tornar indisponvel o contedo apontado como infringente.

    Os provedores de servios de internet devem oferecer, de forma ostensiva, ao menos um canal eletrnico dedicado ao recebimento de notificaes e contranotificaes, como mecanismo de prova, podendo ser criado mecanismo automatizado para atender a essas exigncias.

    A referida notificao deve conter, sob pena de invalidade, a identificao do notificante, incluindo seu nome completo, nmeros de registro civil e fiscal, dados atualizados para contato, data e hora de envio, identificao clara e especfica do contedo apontado como infringente que permita a localizao inequvoca do material pelo notificado, alm da descrio da relao entre o notificante e o contedo apontado como infringente e, por fim, a justificativa jurdica para a remoo.

    A crtica que se faz quando o acesso ao contedo se tornar indisponvel, o que caber ao provedor do servio informar o fato ao usurio responsvel pela publicao, comunicando-lhe o teor da notificao de remoo e fixando prazo razovel para a eliminao definitiva do contedo.

    Ainda assim, se o usurio responsvel pelo contedo infringente no for identificado ou no possuir localizao, mas estiverem presentes os requisitos de validade da notificao, cabe ao provedor de servio manter o bloqueio.

    Visando atender ao princpio da ampla defesa e contraditrio, a lei facultar ao usurio, ou qualquer outra pessoa interessada fsica ou jurdica responsvel pela publicao, contranotificar o provedor de servio, requerendo a manuteno do contedo e assumindo a responsabilidade exclusiva pelos eventuais danos causados a terceiros, caso em que caber ao provedor de servio o dever de restabelecer o acesso ao contedo indisponibilizado, informando ao notificante o restabelecimento e assumindo a responsabilidade pela manuteno do contedo.

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    O Marco Civil equipara os usurios que detenham poderes de moderao sobre o contedo de terceiros aos provedores de servios de internet, para efeitos do disposto, alm de impor ao notificante ou ao contranotificante, nos termos da lei, responsabilidade por informaes falsas, errneas e pelo abuso ou m-f.

    3.9 Da Requisio Judicial de Registros

    O Marco Civil discorre sobre a ocorrncia de indcios razoveis e sobre a ocorrncia do ilcito, visando investigao do ilcito. A parte poder requerer seja deferida expedio de requisio solicitando ao responsvel pela guarda o fornecimento de registros de conexo ou de acesso a servio de internet, justificando motivadamente a utilidade dos registros solicitados.

    A requisio de fornecimento de registros de acesso a servios de internet fica sujeita comprovao de que o responsvel mantm a guarda com a autorizao expressa dos usurios.

    Cabe ao juiz tomar as providncias necessrias garantia do sigilo do contedo das comunicaes e preservao da intimidade, vida privada, honra e imagem do usurio, podendo, inclusive, determinar o segredo de justia em relao s informaes recebidas.

    Caso o fornecimento dos registros de acesso a servios de internet no seja necessrio para os fins da investigao, cabe ao juiz limitar a requisio apenas ao fornecimento dos registros de conexo.

    O que se denominou de "notificao e retirada" talvez tenha sido a maior inovao da lei, visando proteo dos usurios vitimados por agresses via internet, face a imagens ou informaes repletas de injria, calnia ou difamao. A pessoa ofendida poder apresentar denncia ao provedor que poder retirar o contedo da publicao at que o autor se pronuncie, caso em que este poder autorizar a sua excluso ou poder assumir a responsabilidade jurdica do fato, isentando o provedor de qualquer responsabilidade.

    A poltica de segurana da informao visa, nesse diapaso, tutela de empresas privadas e entidades pblicas na proteo dos ativos da informao, com o impedimento d