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Artigo sobre o volume 2 das institutas

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Page 1: Artigo sobre o volume 2 das institutas

Cinco coisas destacadas nas Institutas de Calvino tomo II

1. A essência da salvação

O ponto supremo da nossa salvação se baseia nesta verdade: que Deus, tendo

abolido toda inimizade, recebeu-nos em sua graça. Em toda a Escritura se faz

evidente que não existe outra fonte de salvação exceto a graciosa mercê divina.

A fé se apóia no amor de Deus, e juntamente com seu amor tem também as

promessas da vida presente e da futura. Certo é que a fé não nos promete vida

longa, nem grandes honras, nem riquezas abundantes na presente vida. Isso porque

o Senhor não quis que nenhuma destas coisas fosse um empecilho para nós, mas

sim, que a fé esteja satisfeita com esta certeza: por mais que nos faltem as coisas

necessárias para esta vida, Deus nunca nos faltará. A principal segurança da fé está

na esperança da vida eterna.

2. O céu é o nosso país

Se cremos que o céu é o nosso país e a nossa habitação, melhor será que

passemos a outros os nossos bens do que retê-los aqui, para termos que deixá-los

quando tivermos que partir subitamente.

Então, de que maneira devemos passar a outros os nossos bens? Atendendo às

necessidades dos pobres, sendo que o Senhor considera que tudo o que a eles é

voluntariamente entregue, a ele, Jesus, é dado (Mt 25.40). Daí temos esta bela

promessa: “Quem dá aos pobres empresta com juros a Deus” (Pv 19.17). E também:

“O que semeia com fartura, com abundância também ceifará” (2Co 9.6). Porque toda

a caridade que fizermos a nossos irmãos será como pô-la em custódia ou em

depósito nas mãos de Deus. Ele, então, como fiel depositário, a seu tempo no-lo

devolverá com altos juros!

Quem terá medo de afirmar o contrário uma vez que a Escritura o testifica nesses

termos tão francos? Portanto, nenhuma outra coisa poderíamos inferir senão esta:

que a bondade e indulgência de Deus para conosco são tão maravilhosas a ponto

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de nos incitar à pratica do bem, além do que nos promete ser nenhuma dessas boas

obras vã.

3. Exposição de passagens que dizem que Deus nos julga segundo nossas

obras

Algumas passagens: [...] “para que cada um receba segundo o bem ou o mal que

tiver feito por meio do corpo”... “os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da

vida”. “Vinde benditos de meu Pai”... Porque tive fome, e me destes de comer; tive

sede, e me destes de beber, etc.. No tocante ao que foi dito, que Deus dará a cada

um segundo as suas obras, pode-se resolver a questão sem grande dificuldade, pois

essa frase denota mais uma conseqüência do que a causa pela qual Deus dará

recompensa aos homens.

Não devemos ser induzidos a fazer as boas obras a causa da nossa salvação. O

reino dos céus não é salário de servos, mas herança de filhos, herança que só

desfrutarão os que Deus adotou como seus filhos. Paulo também exorta os sevos

que cumprem fielmente o seu dever a que esperem recompensa do Senhor, mas

imediatamente acrescenta que essa recompensa é devida a herança! (Cl 3.24).

4. Tiago está contra nós?

Muitos afirmam que a carta escrita por Tiago contradiz tão evidente as afirmações

do apóstolo Paulo, que é nos impossível escapar de tal contradição. Calvino nos

oferece boas razões do porque Tiago, na verdade, não contradiz Paulo, senão que

afirma!

Qual foi o objetivo de Tiago ao escrever essas palavras? Tiago ironiza, dos “crentes”

que não paravam de gloriar-se falsamente no título de fé. Ele não tem intenção de

difamar nada do que pertença à fé verdadeira, mas por à mostra a sujeira de tais

pessoas por atribuir tanto valor a uma vã “aparência de fé”, enquanto suas vidas

“boas obras” se faziam invisíveis.

Os detalhes para a compreensão estão nas palavras “fé” e o verbo “justificar”.

Quando Tiago fala em fé, outra coisa não entende senão uma opinião frívola, coisa

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muito diferente da verdade sobre a fé! Como por exemplo: “Meus irmãos, qual é o

proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Ele não diz: se alguém

“tem fé”, mas de alguém que se gaba de tê-la. Tiago zomba deste tipo de fé

exemplificando que até os demônios tem tal tipo de conhecimento. Tiago declara

uma “fé” sem vida como morta.

Depois disso, vejamos agora as nuances do verbo justificar. Tiago faz um uso da

palavra “justificar” diferente do que Paulo faz em suas cartas. Resumindo, o que

certamente se vê é que ele fala da declaração ou demonstração da fé, e não da

imputação, ou causa da mesma. Em outras palavras é como se Tiago dissesse: “Os

que são justos pela fé comprovam a sua justiça pela obediência e pelas obras, e

não por um sinal desnudo e imaginário de fé”.

5. Contestando denúncias caluniosas sobre as boas obras

Alguns dizem que a doutrina da justificação pela fé antecede uma abolição as boas

obras e que afastamos delas os homens, ao que Calvino chama isso “pouca

vergonha!”. Outra acusação se refere a facilitar o caminho da justificação. Dizem

eles que nós com essa doutrina deixamos que os homens se entreguem à prática do

mal.

A verdade é bem diferente. Na justificação pela fé, as boas obras não são

destruídas, mas edificadas e estabelecidas. Jamais imaginamos uma fé que seja

vazia de boas obras, ou uma justificação que exista sem elas. Não somos

justificados sem as obras; como também não somos justificados pelas obras.

Não é possível rasgar Jesus em vários pedaços! Cristo não justifica a ninguém que

ele não santifique ao mesmo tempo. Porque essas bênçãos vêm juntas e

entrelaçadas como que por um laço perpétuo. Quando ele nos salva, nos torna

agentes do bem. A justiça que recebemos é o motivador para fazer o bem.

Como é possível receber justiça sem receber a Cristo? Jesus jamais dá a alguém o

prazer das suas bênçãos sem lhe dar antes a si mesmo. Não tem como separar

justificação da prática do bem. Caso contrário serviremos a Deus por interesse ou

méritos; pensaremos tão somente na retribuição. É impossível gerar prazer no

coração de Deus vendendo a ele o nosso serviço ou agindo como mercenários,

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Deus quer ser honrado e amado com amor sincero e não interesseiro, independente

de retribuições, voluntariamente.