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  • Revista Brasileira de Geomorfologia, Ano 4, N 1 (2003) 17-29

    Geoprocessamento de Modelos Digitais de Elevao para Mapeamento da Curvatura Horizontal em Microbacias

    Geoprocessing of Digital Elevation Models forMapping plan Curvature in Watersheds

    1,2 Mrcio de Morisson Valeriano1Osmar Ablio de Carvalho Jnior

    1Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, So Jos dos Campos, SP, Brasil. [email protected]/[email protected]. Tel.: (012)3945-6424, Fax: (012) 3945-6488.

    2Bolsista do CNPq.

    RESUMOEste trabalho tem o objetivo de desenvolver e avaliar um procedimento de anlise de Modelos Digitais de Elevao (MDE) com Sistemas de Informao Geogrfica (SIG) para mapeamento da curvatura horizontal. O mtodo baseia-se em janelas mveis aplicadas sobre a imagem de orientao de vertentes, derivada do MDE. Os testes envolveram dados de seis microbacias de diferentes tipos de relevo, krigados a partir de curvas de nvel de mapas publicados. O clculo de curvatura horizontal programado demandou a resoluo espacial como uma das entradas, de modo a resultar em valores absolutos comparveis, com diferena de

    ongulo de azimute por distncia horizontal (/m) como unidade. A sobreposio dos resultados calculados em cada passagem da janela mvel, orientada nas direes dos oito pixels vizinhos em cada posio da janela, foi coordenada em octantes, de acordo com a classe de orientao das vertentes. A interpretao visual de resultados numricos aliado ao reconhecimento de formas conhecidas de relevo subsidiou o estabelecimento de limiares arbitrrios de curvatura para uma classificao das vertentes (convergentes, retilneas e divergentes).

    Palavras-chave: geoprocessamento, microbacias, relevo.

    ABSTRACTThis study aims the description and evaluation of a simple approach to map plan curvature from Digital Elevation Models (DEM) with common tools of Geographical Information Systems (GIS). This method is based on the application of a local 3x3 pixel moving window on the aspect image, derived from the DEM. The testes used data kriged from contour lines of published maps of six watersheds from different terrain types. The curvature calculation required the DEM spatial resolution as one of the inputs, so

    oas to calculate a comparable absolute value, with slope azimuth angle per horizontal distance (/m) as unit. The classification of slope direction in octants was used to control the overlapping of the curvature results, calculated towards the eight neighbor pixels of each windowed position. The placement of boundaries with guidance from visual analysis of known slope forms assisted the establishment of arbitrary curvature thresholds for the slope curvature classes (convergent, divergent and rectilinear).

    Key words: geoprocessing, watershed, relief

    1. Introduo

    Os dados topogrficos so fonte de variveis importantes e freqentemente solicitadas nas anlises ambientais aplicadas a microbacias. Os estudos envolvendo dados topogrficos tm se voltado caracterizao de unidades da paisagem com base em variveis morfolgicas, estreitamente ligadas a feies geomtricas da superfcie sob anlise (Doornkamp & King, 1971; Meijerink, 1988). A disponibilidade crescente de bases topogrficas digitais, aliada ao uso de Sistemas de Informao Geo-grfica (SIG), tem impulsionado o desenvolvimento

    de mtodos automticos de extrao de variveis topogrficas, para posterior tratamento e integrao em ambiente computacional. A operao de modelos analticos com Planos de Informao (PI) sobrepostos em SIG feita com operaes entre os chamados Modelos Digitais do Terreno (MDT), dos quais o Modelo Digital de Elevao (MDE) um exemplo de evidente utilizao.

    Em microbacias, predomina o enfoque ao problema da eroso em seus mltiplos aspectos, como estimativas diretas (Castro & Valrio Filho, 1997; Ranieri et al., 1998; Molnr & Julien, 1998) e mapeamento de fatores envolvidos (Desmet &

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  • Govers, 1996; Kinnel, 2001). Dessa linha de pesquisa, depreende-se que diferentes tipos de relevo requerem diferentes mtodos de tratamento, como propem Valeriano & Garcia (2000), que recomendam uma estratificao do tratamento de dados dentro da escala de trabalho, seja uma unidade geomorfolgica, micro-bacia ou vertente. As diferentes variveis passveis de extrao automtica em SIG podem dar suporte classificao multivariada da paisagem, fornecendo uma segmentao da mesma em ambientes topogrficos. A identificao de unidades de relevo (Meijerink, 1988; Giles & Franklin, 1998) vm sendo desenvolvidas em ambiente computacional, ameni-zando a demanda de trabalho manual e a subjetividade dessas atividades.

    Os mecanismos principais de atuao do relevo referem-se distribuio dos processos hidrolgicos e erosivos e da temperatura do solo. Assumindo o desenvolvimento de solos como respos-ta a estes efeitos, Moore et al. (1993) relacionaram atributos pedolgicos a variveis topogrficas. Foi verificado que a situao topogrfica explicou cerca de metade da variao do pH, do contedo de fsforo e da espessura do horizonte A. Briggs & Shishiro (1985) mostraram que a variabilidade dos atributos de solo dentro de cada unidade homognea de relevo apresentou considervel reduo e que diferentes intensidades de amostragem devem ser aplicadas ao levantamento de diferentes atributos, bem como em diferentes tipos de terreno. Analogamente, Florinsky & Kuryakova (1996) consideraram recomendvel o uso de modelos digitais e mapas de variveis topogrficas como contribuio ao levantamento e ao mapeamento da vegetao, assim como compreenso de seus aspectos dinmicos.

    Em estudo de instabilidade de encostas, Fernandes et al. (2001) comentam que a declividade vem sendo utilizada de maneira predominante, ou at exclusiva, como fator condicionante de cunho geomorfolgico, gerando, com freqncia, distores na anlise de deslizamentos. O mesmo pode se dizer dos estudos de processos erosivos e dos mtodos de planejamento territorial. A despeito de outras possveis causas dessa tendncia, a disponibilidade de algoritmos de execuo expedita para declividade, em detrimento das outras variveis envolvidas nestes

    processos, tende a intensificar essa simplificao, sobretudo com a popularizao dos sistemas de informao geogrfica.

    Sob este ponto de vista, a gerao e difuso de algoritmos para mapeamento automtico de outras variveis topogrficas representa uma necessidade estratgica para a operacionalizao de anlises digitais adequadas s relaes entre fatores topogr-ficos diversos, alm de permitir o desenvolvimento de novos modelos mais complexos.

    A primeira derivao da superfcie um vetor com duas componentes a declividade e o aspecto. A segunda derivada representa a curvatura da superfcie, usualmente, expressa em curvatura vertical (na direo da declividade) e curvatura horizontal (ao longo da curva de nvel).

    A anlise da convexidade do relevo reconhecida como um atributo importante para a distino de stios geomorfolgicos, estudada desde os trabalhos de Davis (1892) e Gilbert (1909). A curvatura horizontal refere-se ao carter divergente/ convergente dos fluxos de matria sobre o terreno quando analisado em projeo horizontal. Esta varivel est relacionada aos processos de migrao e acmulo de gua, minerais e matria orgnica no solo atravs da superfcie, proporcionados pela gravidade, e desempenha papel importante sobre o decorrente balano hdrico e os processos de pedognese.

    A possibilidade de simular digitalmente mtodos de medio da curvatura horizontal uma perspectiva de grande interesse neste contexto. Este trabalho apresenta uma avaliao de um clculo de curvatura horizontal de MDE feito em Sistemas de Informao Geogrfica (SIG).

    2. Material e Mtodos

    Foram selecionadas 6 microbacias (Ribeiro Preto, rios Jacu, Bangu e Grande Ubatuba e crregos So Joaquim e Soturninha) com diferentes caracte-rsticas de relevo, de rea total e das especificaes cartogrficas dos mapas-base. A Tabela 1 resume estas diferenas e as decorrentes caractersticas dos arquivos digitais (nmero de pontos digitalizados e tamanho dos arquivos DXF e ASCII) processados para a formao dos MDE.

    Arquivo (escala) rea (ha)

    aEq.v. (m)

    Relevo predominante no pts. bKB DXF

    KB ASCII

    Folha de Cunha (1:50.000) 70912 25 Montanhoso 248.394 30.692 5.450

    Folha de Ubatuba (1:50.000) 70912 25 Montanhoso a escarpado (+ mar) 187.629 23.202 4.048

    MB Ribeiro Preto (1:50.000) 73958 20 Suave ondulado a forte ondulado 88.862 7.632 1.892

    cMB So Joaquim (1:20.000) c3114 10 Suave ondulado a ondulado 11.616 1.423 248

    MB Soturninha (1:10.000) 2003 5 Suave ondulado 11.730 1.092 251

    Tabela 1 Especificaes geomtricas, relevo predominante e tamanho dos arquivos de isolinhas digitalizadas

    a b c() Eqidistncia vertical entre isolinhas; () tamanho de arquivo dxf quando sob o formato AutoCAD verso 12; () apenas isolinhas da MB; os demais arquivos se referem a todo o retngulo envolvente da rea indicada

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  • As seis reas localizam-se em diferentes unidades geomorfolgicas do Estado de So Paulo (Ross & Moroz, 1997), conforme a Figura 1. No Cinturo Orognico do Atlntico (unidade morfoetrutural), foram selecionadas as microbacias dos rios Jacu, Bangu e Grande Ubatuba, reas de fragilidade e dissecao do relevo altas a muito altas. Da Folha de Cunha, foram preparados os dados das microbacias dos rios Jacu e Bangu, ambas localizadas

    sobre a Serra do Mar (Planalto de Paraitinga/Parai-buna) e com relao de vizinhana. A microbacia do rio Jacu tem como limite a sudeste trecho do topo da escarpa que separa a Serra do Mar da Plancie Litornea. Selecionada da folha de Ubatuba, a micro-bacia do rio Grande Ubatuba engloba a prpria escarpa, estendendo-se at o mar atravs da Plancie Litornea, num grande intervalo altimtrico, de cerca de 1000m.

    Figura 1- Localizao das reas de estudo: (1) Ubatuba; (2) Jacu; (3) Bangu; (4) So Joaquim; (5)Soturninha e (6) Ribeiro Preto.

    Os MDE testados foram elaborados por meio de krigagem das curvas de nvel de mapas publicados, segundo metodologia apresentada e disponibilizada por Valeriano (2002). De acordo com este autor, o mtodo escolhido para formao do MDE permite anlise digital de feies delicadas do relevo, como forma de vertentes e dos canais de drenagem, em contraposio a mtodos mais expeditos (interpolao linear, por exemplo), cuja aplicao em processos derivativos resulta em feies irreais. As especificaes de georreferncia e geometria dos MDE testados neste trabalho esto resumidas na Tabela 2. Nas Figuras 2 a 4 esto apresentadas uma

    superfcie topogrfica de cada rea sob um processo de visualizao (ADD: Azimute, Drenagem e Divisores) desenvolvido especialmente para a percepo da estrutura de hidrologia superficial e fluvial de microbacias (Valeriano, 2002).

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  • Tabela 2 - Especificaes de georreferncia e geometria das imagens formadas por interpolao dos dados topogrficos

    rea Zona

    UTM

    xmn

    (mE)

    ymn

    (mN)

    xmx (mE)

    ymx

    (mN)

    Resoluo

    espacial (m) nocol. nolin.

    Soturninha 23 716200 7558390 720190 7563380 10 400 500

    So Joaquim 22 239550 7552800 249730 7559780 20 510 350

    Bangu 22 509000 7449700 522980 7456680 20 700 350

    Grande

    Ubatuba 22 480800 7404800

    492780 7418780 20 600 700

    Jacu 22 501800 7434240 520980 7456220 20 960 1100

    Ribeiro Preto 22 195500 7636370 218270 7668740 30 760 1080

    Figura 2- Superfcie topogrfica da microbacia rio Jacu 17.111h. Coordenadas em 1.0000mE (x) e 1.000mN (y), com malha de 2.000m.

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  • Figura 3 Superfcie topogrfica da microbacia do rio Bangu 4.006h. Coordenadas em 1.000Me (X) E 1.000Mn (y), com malha de 2.000m.

    Figura 4 Superfcies topogrficas das microbacias do corrgo Soturninha, crrego So Joaquim, rio Grande Ubatuba e Ribeiro Preto. Coordenadas em 1.000mE (x) e 1.000mN (y), com malha de 2.000m.

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    Soturninha 876ha

    So Joaquim - 3142ha

    Grande Ubatuba - 6.587ha Ribeiro Preto - 34.620ha

  • Os MDE foram processados com o uso do aplicativo Idrisi (Eastman, 1995), armazenando-se os passos de processamento na linguagem de programao do mesmo (Idrisi Macro Language). Foram aplicadas janelas mveis de 3x3 pixels (nas 4 direes dos filtros da Figura 5) sobre a imagem de orientao de vertentes. Em cada posio da janela, foram subtrados os ngulos azimutais dos lados recprocos do pixel central, resultando num valor proporcional curvatura horizontal em cada direo.

    O resultado da operao da janela mvel dependente da classe de orientao local, com uma relao entre a condio de curvatura (divergente/convergente) e o sinal (+/-), que se apresenta invertida para vertentes de orientaes opostas (Figura 5). Tal inverso no ocorreria se fossem aplicadas 8 janelas (as 4 descritas mais suas recprocas), porm isto significaria um custo computacional muito maior, enquanto a inverso de sinal pode ser aplicada implicitamente em outra etapa

    Figura 05 Aplicao das janelas mveis sobre a imagem de orientao de vertentes.

    A Figura 6 apresenta o encadeamento das etapas de formao do PI de curvatura horizontal. Apenas uma das curvaturas calculadas pelas diferentes janelas representa a curvatura horizontal do pixel. O armazenamento da curvatura aplicvel em cada situao numa nica imagem foi coordenado por imagens booleanas (0: errada; 1: correta) da classificao da orientao de vertentes em octantes. Dos octantes diametralmente opostos, um dos resultados deve ter seu sinal invertido, isto , multiplicado por -1 (de acordo com a Figura 5) e de modo coerente entre as diferentes orientaes das janelas mveis. O ngulo calculado normalizado pela distncia horizontal entre as clulas operadas pelas janelas mveis. Na programao das etapas, tal distncia representa uma das entradas, que ir dividir

    as diferenas de ngulo encontradas e, para economia de processos, sua aplicao incluiu a mudana de sinal mencionada anteriormente. O resultado normalizado foi programado para estar expresso em graus por

    ometro (/m), passvel, portanto, de comparao entre imagens sob diferentes resolues.

    Sob a sistemtica de clculo adotada, teoricamente, vertentes retilneas tm valor de curvatura nulo, vertentes convergentes tm valores positivos e divergentes tm curvatura negativa. Entretanto, muito pouco do que julgamos ser retilneo apresenta curvatura rigorosamente nula, cabendo nessa interpretao uma faixa de tolerncia. Alm disso, imprecises de todo o processo desde o mapeamento, passando pelo processamento digital, geram flutuaes nos clculos realizados para a

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  • curvatura horizontal. Portanto, uma seqncia de testes realizados

    em conjunto sobre os MDE das seis microbacias foi desenvolvida para uma determinao arbitrria dos limiares para vertentes retilneas, de modo a resultar em mapas coerentes entre si quando comparados, em relao aos tipos de relevo. Os testes consistiram da gerao de mapas que foram submetidos a compa-raes interpretativas com as cartas topogrficas e da observao em escala padronizada de perfis de vertentes representativas e excepcionais de cada rea. Complementadas por descries relatadas na literatura geomorfolgica (Almeida, 1964; Ross & Moroz, 1997), bem pelo prprio conhecimento de campo, estes testes levaram seleo do intervalo de

    o o0,0380/m a +0,0511/m para a classe de vertentes retilneas. Valores abaixo desse intervalo foram classificados como convergentes e acima como

    divergentes. Teoricamente, numa variao contnua de

    curvatura horizontal, haver sempre um pouco de terreno retilneo entre as classes convergentes e divergentes. Portanto, aps a classificao, nova suavizao dos resultados mostrou-se necessria para reduo do nmero de pequenos polgonos da classe retilneo, o que foi feito com filtro moda, que promove, entre outros efeitos, a coalescncia de classes iguais que estejam prximas. Tais suavizaes foram testadas sob diferentes dimenses de janela mvel buscando-se atingir um grau desejvel de generalizao cartogrfica, at que se selecionassem janelas 7x7. Desse modo, os polgonos de terreno retilneo devidos somente transio entre as classes divergentes e convergentes foram em parte eliminados, restando nesta classe vertentes mais coesas.

    Figura 6 Processamento do MDE para o mapeamento da curvatura horizontal. R a resoluo espacial do MDE.

    3. Resultados e Discusso

    Os valores numricos de curvatura apresentaram distribuies de freqncia distintas entre as diferentes condies de relevo (Figura 7). A diferena entre as microbacias do Cinturo Orognico do Atlntico (Bangu, Grande Ubatuba e Jacu) e aquelas da Bacia Sedimentar do Paran (So Joaquim, Soturninha e Ribeiro Preto) ficou evidente pela maior disperso geral do primeiro grupo.

    A mdia de curvatura horizontal das microbacias mostrou-se um indicador geral ambguo,

    com todos os casos em torno de zero. A mdia dos mdulos de curvatura horizontal para cada microbacia seria um indicador menos ambguo, em parte, porm o efeito de valores extremos sobre o clculo fizeram esta varivel caracterizar as microbacias de maneira confusa, indicando as reas de Soturninha e Grande Ubatuba como parecidas. Da mesma forma, os valores mximos e mnimos, bem como a amplitude, no se apresentaram como bons indicadores da condio de relevo das microbacias. Estes resultados restringem a utilidade da anlise de curvatura horizontal a avaliaes de carter local.

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  • Figura 7 Histogramas da curvatura horizontal das microbacias em estudo.

    Para a classificao qualitativa da curvatura vertical, limiares crescentes de tolerncia em torno do valor nulo causaram um grande aumento inicial da classe de vertentes retilneas (Figura 8) para as microbacias de relevo suave (So Joaquim, Soturninha e Ribeiro Preto). A contribuio territorial da classe retilnea nas demais microbacias tende a crescer em menor grau, devido maior disperso e amplitude dos valores numricos de curvatura em relevo movimentado.

    Foram observadas taxas semelhantes de modificao do territrio das classes cncavo e convexo na maioria dos casos, com a exceo das reas pertencentes Bacia Sedimentar do Paran, sobretudo os crregos

    Soturninha e So Joaquim, onde a classe de vertentes divergentes teve sua rea reduzida em maior grau. Este ensaio levou adoo de limiares assimtricos em relao curvatura nula,

    o oselecionando-se os limites de 0.0380/m e +0.0551/m como o intervalo de vertentes retilneas. Deve-se ressaltar que esta escolha foi feita de modo arbitrrio, com base na apreciao visual dos mapas resultantes, de modo que a distribuio territorial das classes apresentasse um indicador diferenciado entre os tipos de relevo descritos para as microbacias.

    Espera-se, no entanto, que maiores contribuies do mapeamento da curvatura horizontal estejam relacionadas aos valores numricos do que a classes estabelecidas arbitrariamente.

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  • Figura 8 Distribuio territorial das classes de curvatura vertical em funo dos limites.

    A Figura 9 apresenta um conjunto de quadrculas de mesmas dimenses (2km de lado) das diferentes microbacias, classificadas de acordo com o limiares adotados, parte do conjunto de testes que subsidiaram a adoo deste critrio. Comparando estes resultados sob escala padronizada, observa-se que os limiares adotados e procedimentos de suavizao apresentaram uma flexibilidade razovel para caracterizao das microbacias entre as

    diferentes situaes de relevo. Alm das eqidistncias verticais de cada mapa utilizado, as diferenas de comprimento de rampa, declividade mdia, toposseqncia e altura de vertentes das diversas reas mostraram-se incuas para clculo digital da curvatura horizontal tal como proposto. Estes resultados indicam o potencial de informao da curvatura do MDE como uma varivel independente das demais variveis topogrficas mencionadas.

    Figura 9 Quadrculas de mesma escala do mapeamento da curvatura horizontal das microbacias estudadas comparadas sob mesma escala.

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  • apresenta-se satisfatrio. Nas Figuras 10 a 12 esto apresentados os mapas de classes de vertentes das microbacias estudadas.

    A distribuio territorial e o padro de seqncia das classes ao longo das vertentes mostraram-se informaes interessantes para a caracterizao morfomtrica das diferentes

    microbacias.Os mapas gerados mostraram-se coerentes

    com o conhecimento prvio das reas de estudo, indicando seu potencial para a caracterizao de vertentes. reas de relevo semelhantes mostraram padres semelhantes de curvatura, sem efeito das diferenas de escala e de resoluo.

    Figura 10 Mapa de classes de curvatura horizontal da microbacia rio Jacu, de acordo com a legenda da Figura 9.

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  • Soturninha 876ha

    So Joaquim - 3142ha

    Grande Ubatuba - 6.587ha Ribeiro Preto - 34.620ha

    Figura 11 Mapa de classes de curvatura vertical da microbacia do rio Bangu, de acordo com a legenda da figura 9.

    Figura 12 - Mapa de classes de curvatura vertical das microbacias do crrego Soturninha, crrego So Joaquim, rio Grande Ubatuba e Ribeiro Preto, de acordo com a legenda da Figura 9.

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  • A distribuio territorial das classes de segmentos de vertentes nas microbacias estudadas est apresentada na Figura 13. De modo geral, as propores refletiram as descries das unidades geomorfolgicas (Ross & Moroz, 1997) a que pertencem as microbacias. As microbacias pertencentes ao Cinturo Orognico do Atlntico

    (Bangu, Grande Ubatuba e Jacu), com seu relevo movimentado, apresentam pouca rea de vertentes retilneas. Ocasionais misturas de tipos de relevo, a exemplo da observao feita para Grande Ubatuba (a presena da plancie), respondem pelas discrepncias. As demais microbacias apresentam maior poro de vertentes retilneas.

    Figura 13 Distribuio territorial das classes de curvatura horizontal das microbacias estudadas.

    4. Concluses

    1. Uma forma de mapeamento da curvatura horizontal de vertentes pde ser programada para fazer anlise de modelos digitais de elevao (MDE) automaticamente, com operaes de aspecto e de janelas mveis, essencialmente, resultando em planos de informao numricos expressos em diferenas de

    oorientao de vertentes por distncia horizontal (/m) como unidade.

    2. A curvatura horizontal calculada por geoprocessamento mostrou-se flexvel para o mapeamento da varivel sob diferentes especificaes cartogrficas e do modelo digital de elevao, desde que se fornea a resoluo espacial do MDE analisado.

    3. O mapeamento da curvatura horizontal

    mostrou-se independente da declividade e do comprimento de rampa local.

    4. Foi possvel a adoo de limiares arbitrrios de curvatura horizontal para o es tabelecimento de c lasses de ver tentes (convergentes, retilneas e divergentes) cujas distribuies dentro e entre as microbacias se apresentassem coerentes com descr ies geomorfolgicas relatadas na literatura e com as verificaes realizadas em comparaes sob escala padronizada.

    5. O mapeamento digital da curvatura vertical de vertentes apresentou potencial para a anlise do relevo em carter local que associem diferenas de atributos dos elementos da paisagem dentro de uma microbacia; as avaliaes regionais de

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  • sua distribuio territorial mostraram-se ambguas, com pouca capacidade de caracterizao de relevos.

    Agradecimentos

    E s t e t r a b a l h o i n t e g r a o p r o j e t o Padronizao de metodologias para tratamento de dados topogrficos de microbacias (processo nmero: 301029/00-8-NV), financiado pelo CNPq.

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