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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG
Instituto de Ciências da Natureza
Curso de Geografia – Bacharelado
CAROLINA RAMOS GONÇALVES DE ALMEIDA
AS CONTRADIÇÕES DO ESPAÇO URBANO: A
VALORIZAÇÃO E SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL NO
BAIRRO SANTA CLARA, NO MUNICÍPIO DE ALFENAS –
MG
Alfenas – MG
2013
CAROLINA RAMOS GONÇALVES DE ALMEIDA
AS CONTRADIÇÕES DO ESPAÇO URBANO: A
VALORIZAÇÃO E SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL NO
BAIRRO SANTA CLARA, NO MUNICÍPIO DE ALFENAS –
MG
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado como parte dos requisitos para
obtenção do título de Bacharel em
Geografia pelo Instituto de Ciências da
Natureza da Universidade Federal de
Alfenas- MG.
Orientador: Prof. Dr. Flamarion Dutra
Alves.
Alfenas – MG
2013
CAROLINA RAMOS GONÇALVES DE ALMEIDA
As contradições do espaço urbano: A valorização e
segregação socioespacial no bairro Santa Clara, no
município de Alfenas – MG
A Banca examinadora abaixo-assinada aprova a
Dissertação apresentada como parte dos requisitos
para aprovação na disciplina de Trabalho de
Conclusão de Curso II e obtenção do título de
Bacharel em Geografia pela Universidade Federal
de Alfenas (UNIFAL-MG). Área de concentração:
Geografia Humana.
Aprovada em:
Prof. Dr. Flamarion Dutra Alves
Universidade Federal de Alfenas Assinatura:
Prof.ª Dr. ª Sandra de Castro de Azevedo
Universidade Federal de Alfenas Assinatura:
Prof. Ms. Adriano Correa Maia Assinatura:
Universidade Estadual Paulista
Dedico aos familiares e amigos pelo apoio sempre e aos
cidadãos alfenenses, especialmente os que vivem no
bairro Santa Clara, onde almejo contribuir para que o
acesso aos meios públicos e equipamentos urbanos não
se consolide de maneira segregada socialmente.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus pelas oportunidades oferecidas e pelo amparo em
todos os momentos, principalmente os mais difíceis.
Aos meus pais Carlos e Mirela, pela dedicação e educação que me proporcionaram e
principalmente pelo amor, carinho, força e compreensão em todos esses anos. E aos meus
irmãos, Felipe pela paciência e apoio e Enrique que é muito importante na minha vida.
Ao meu avô Carlos, em memória, que sempre acreditou no meu potencial.
As minhas amigas: Maria Thereza, Angel, Lia Mara, Tânia, Samara, Sayonara e
Vanessa que sempre estiveram do meu lado e mesmo aquelas que apesar da distância sempre
acreditaram em mim. E aos meus amigos queridos Sérgio pela amizade sempre e em especial,
ao irmão que conquistei Vinícius por todo companheirismo, ajuda, risadas, conselhos e
aprendizagem.
À Universidade Federal de Alfenas pelos recursos oferecidos. Ao curso de Geografia,
juntamente com seus professores (as) e toda sua coordenação.
Em especial, ao Prof. Dr. Flamarion Dutra pela orientação, atenção, paciência,
confiança, amizade e pelos conhecimentos transmitidos; aos professores Dr. Evânio
Branquinho e Dr. ª Ana Rute do Vale que tiveram grande contribuição na minha formação
acadêmica.
Aos colegas de sala que mesmo dividida em “panelinhas”, se tornaram grandes amigos
ao longo desse percurso, pelas risadas e cantorias durante os trabalhos de campo mais
animados e pelos momentos de estudos.
À cidade de Alfenas pela acolhida.
Enfim, meus sinceros agradecimentos a todos que me auxiliaram na trajetória da
minha graduação.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Mapa de localização da microrregião de Alfenas no Estado de Minas
Gerais......................................................................................................................................16
Figura 2 - Imagem de satélite do município de Alfenas - MG...............................................17
Figura 3 - Fotografia aérea com pipa da localização da Unidade II da Universidade Federal
de Alfenas – MG....................................................................................................................18
Figura 4 – Fotografia aérea com pipa da localização da Unidade II da Universidade Federal
de Alfenas – MG, no bairro Santa Clara................................................................................19
Figura 5 - Fotografia aérea com pipa da localização da Unidade II da Universidade Federal
de Alfenas – MG, e das casas populares................................................................................19
Figura 6 - Rua em parte asfaltada no bairro Santa Clara, Alfenas – MG...............................33
Figura 7 - Ruas sem calçamento no bairro Santa Clara, Alfenas – MG.................................34
Figura 8 - Moradora do bairro Santa Clara, varrendo a água suja da rua...............................35
Figura 9 - Implementação de uma creche municipal no bairro Santa Clara...........................37
Figura 10 - Rua sem asfaltamento no bairro Santa Clara.......................................................38
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Índices Comparativos do município de Alfenas, em dois respectivos
períodos.....................................................................................................................................17
Tabela 2 - Número de moradores por residência no bairro Santa Clara, Alfenas - MG...........27
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Disponibilidade de infraestrutura no bairro Santa Clara........................................29
Gráfico 2 - Nível de escolaridade dos moradores entrevistados..............................................30
Gráfico 3 - Renda mensal da população do bairro Santa Clara................................................31
Gráfico 4 - Porcentagem referente dos moradores do bairro Santa Clara e os beneficiários do
Programa Bolsa Família............................................................................................................32
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
EFOA - Escola de Odontologia e Farmácia de Alfenas
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
MDS - Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
PBF - Programa Bolsa Família
PIB - Produto Interno Bruto
UNIFAL - Universidade Federal de Alfenas
UNIFENAS - Universidade José do Rosário Vellano
RESUMO
À medida que o conceito de cidade média torna-se um tema interessante que tem atraído
geógrafos e não geógrafos, explicar a sua dinâmica é um processo complexo devido à sua
importância dentro de uma rede urbana. As interações espaciais intensas da cidade média de
Alfenas, localizada no sul de Minas Gerais, permite-nos explicar fenômenos provocados pelo
homem como os de urbanização e segregação socioespacial. O presente trabalho tem como
propósito identificar o modo como o espaço urbano a partir das relações internas e externas,
sobretudo através do fenômeno da migração, vem estruturando-se e modelando o bairro Santa
Clara, o qual apresenta transformações ainda em curso produzindo formas em constantes
redefinições. Diante deste fato, muitos dos moradores do referido bairro se preparam para a
chegada dos migrantes, sobretudo estudantes, juntamente com as consequências desse
processo como o aumento do fluxo de pessoas e a especulação imobiliária, devido às novas
instalações do campus II da Universidade Federal de Alfenas – MG, localizado no bairro
Santa Clara.
Palavras-chave: urbanização, migração, cidade média, segregação socioespacial.
ABSTRACT
As the concept of middle city becomes an interesting topic that has attracted geographers and
non-geographers, explaining its dynamics is a complex process because of its importance
within an urban network. The intense spatial interactions of the middle city of Alfenas,
located in the South of Minas Gerais, have permitted the explanation of the man-made
phenomena as the urbanization and socio-spatial segregation. This study aims to identify how
the urban space, from the internal and external relations, especially through the migration
phenomenon, has been building up and shaping the Santa Clara neighborhood, which presents
ongoing transformations that are producing forms in constant redefinitions. Given this fact,
many of the residents of that neighborhood are preparing for the arrival of migrants, mostly
students, along with the consequences of this process as the increased flow of people and
property speculation, due to the new Federal University of Alfenas - MG campus facility II,
located in the Santa Clara neighborhood.
Keywords: urbanization, migration, middle city, socio-spatial segregation.
SUMÁRIO
1 – INTRODUÇÃO.................................................................................................................12
1.1 – ÁREA DE ESTUDO.......................................................................................................16
2 – DESENVOLVIMENTO...................................................................................................20
2.1 – QUESTÕES TEÓRICAS DA SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL E CIDADES
MÉDIAS..................................................................................................................................20
2.1.1 – Delimitações do espaço urbano e rural.........................................................................20
2.1.2 – Elementos da segregação socioespacial........................................................................22
2.1.3 – Cidades Médias e Urbanização....................................................................................23
3 – METODOLOGIA............................................................................................................25
4 – ANÁLISE DA SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL NO BAIRRO SANTA
CLARA...................................................................................................................................27
4.1 – CARACTERÍSTICAS GEOGRÁFICAS DO BAIRRO SANTA CLARA –
POPULAÇÃO, ECONOMIA E INFRAESTRUTURA........................................................27
4.1.1 – A precariedade dos equipamentos urbanos..................................................................33
4.1.2 – Análise da acessibilidade e segregação socioespacial..................................................36
5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................39
6 – REFERÊNCIAS..............................................................................................................41
12
1 – INTRODUÇÃO
O processo de urbanização representa o desenvolvimento da cidade, sendo no Brasil
associado ao fenômeno da industrialização e ainda resultando em mudanças profundas não
somente na dinâmica populacional humana e na paisagem urbana, mas na sociedade como um
todo. O seu conceito varia, alguns autores dizem que urbanização só ocorre quando o
crescimento da população urbana é superior ao da população rural, para outros, esse processo
está relacionado com a generalização da forma-mercadoria e do trabalho assalariado no
sistema capitalista (SANTOS, 1989).
O desenvolvimento industrial, oportunidades no comércio e na sazonalidade de
algumas atividades agrícolas, atraem migrantes que objetivam empregos, salários e melhores
condições de vida como, por exemplo, o fluxo intenso de pessoas que migraram e continuam
migrando para a região Sudeste. Atualmente, o processo migratório tem se configurado de
maneira diferente decorrente das transformações ocorridas na sociedade e em sua dinâmica
econômica.
A migração é um fenômeno mundial que devemos considerar em diversos estudos de
caso relacionados ao tema, uma vez que nem sempre atinge toda parcela da população e
influencia significativamente na estruturação do espaço. As suas características também se
alteraram principalmente nos anos seguintes a década de 1970, com a época da globalização
resultando dentre outros, na expansão de serviços, crescimento do setor econômico,
empregos, que podem atrair ou expulsar a população ocorrendo ou não, a mobilidade.
Na cidade de Alfenas - MG, por exemplo, onde esse fenômeno é intenso devido
principalmente, pela presença da população flutuante (aquela que se estabelece em um lugar
por determinado período) composta basicamente por estudantes do ensino superior.
Concomitantemente a esse fato, indivíduos de municípios vizinhos se deslocam para a mesma
(que de certa maneira possui características polarizadoras), buscando oferta de empregos nas
indústrias e principalmente no comércio.
A área estudada se localiza no município de Alfenas, sul do estado de Minas Gerais.
Alfenas é considerada um núcleo urbano de bastante importância na região em que está
localizada e as atividades econômicas mais tradicionais, estão relacionadas com a agricultura,
além de polarizar a região com seu comércio e prestação de serviços, especialmente saúde e
educação. Tem-se ainda o Distrito Industrial, um dos maiores do Sul de MG, que agrega
quase todo o setor industrial do município. Desse modo, o capital industrial
13
transforma/produz o espaço urbano:
A espacialidade produzida pelo capital industrial e monopolista, reforçada
pelo capital financeiro, tem como principal característica a concentração
espacial tanto de capital como demográfica, transformando quantitativa e
qualitativamente as cidades, produzindo imensas aglomerações. (ENDLICH,
2009, p. 407).
O trabalho no modo de produção capitalista compreende além dos meios de
produção, a acumulação do capital. Diante desse aspecto, a partir da divisão do trabalho é
preciso pensar no desenvolvimento desigual sem desconsiderar o âmbito político. Na
realidade alfenense, determinados bairros expandiram-se de forma desigual como o Santa
Clara em relação ao centro urbano, dentre outros fatores, pela disponibilidade de
infraestrutura, serviços e consequentemente a falta de empregos ofertados em ambas as áreas,
para os migrantes e demais cidadãos como um todo.
Para analisar o processo migratório, se torna necessário considerar os aspectos
históricos ocorridos em Alfenas, para entender a configuração atual que a cidade se encontra.
Desde as últimas décadas do séc. XVIII e primeiras do séc. XIX, muitas famílias migraram,
buscando nos vales férteis, banhadas pelas águas dos rios da região, encontraram como
alternativa econômica as atividades agropastoris. E de fato essas atividades influenciaram o
crescimento econômico até os dias atuais destacando o município analisado tanto no aspecto
qualitativo como quantitativo do que era produzido, como por exemplo, o café. O
desenvolvimento industrial e a modernização agrícola também contribuíram para esse
processo.
Porém, um fato histórico marcante que contribuiu e continua contribuindo de
maneira definitiva para o fenômeno da migração juntamente com o crescimento econômico de
Alfenas, foi a fundação da Escola de Farmácia e Odontologia de Alfenas (EFOA) em 1914,
que inicialmente como sugere o nome, ofereciam os cursos de Farmácia e Odontologia e que
em 2005 foi transformada em Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL), oferecendo
atualmente 28 cursos (abrangendo áreas como a da saúde, das ciências humanas e das ciências
exatas) e possuindo 4 campus – 2 localizados em Alfenas, 1 em Varginha – MG e 1 em Poços
de Caldas – MG; além da outra instituição de educação a Universidade José do Rosário
Vellano (UNIFENAS) onde os primeiros cursos foram autorizados em maio de 1972 e possui
atualmente 17 cursos, distribuídos em 5 campus.
Com a instalação e expansão das universidades e os seus devidos funcionamentos,
Alfenas recebe a cada semestre do ano, um número determinado de estudantes do qual a
14
maioria é de outras localidades ou até mesmo de outras regiões do Brasil. A Universidade
Federal de Alfenas possui 2 campus localizados em Alfenas, a Unidade I no centro, e a
Unidade II no bairro Santa Clara, o que vem sendo um dos fatores determinantes para a sua
nova configuração. Transformações por parte dos próprios moradores que visam esse
movimento de fluxos e fixos dos estudantes, visto que 2 cursos – Geografia e Fisioterapia –
encontram-se em aula no referido campus, com a vinda em 2013 dos cursos de Física e
Ciência da Computação.
Os migrantes têm a necessidade de procurar moradias de preferência próximas às
Instituições de Educação, além de bem localizadas perto de supermercados, bancos,
farmácias, creches, padarias, etc. O bairro Santa Clara encontra-se mais afastado do centro
(cerca 5 km) e ainda não dispõe de tantos desses serviços, logo não tem atraído um número
significativo de estudantes vindos de outras localidades que no momento, estão preferindo
obter o gasto com transporte coletivo, ou adquirem outra forma de locomoção como “as
caronas”, bicicleta ou van para chegar ao campus II.
Todos os fatores descritos anteriormente colaboram para a valorização do bairro
citado, que é o objeto de estudo desse referente trabalho, onde a sua veracidade socioespacial
não se compreende separadamente e sim a partir da totalidade urbana e o conjunto dos seus
eixos sociais e econômicos, assim como seus fluxos. As recentes mudanças ocorridas
implicam nas dinâmicas da estruturação do bairro Santa Clara, sobretudo nas discrepantes
condições de vida e acesso aos serviços públicos. A valorização atrai olhares das creditadas
imobiliárias da cidade, dos grandes empresários, dos moradores que possuem condições
financeiras exacerbantes, entre outros, que veem na área analisada a oportunidade para novos
empreendimentos visando o retorno lucrativo; dando origem a novas construções, iniciando
ou expandindo seus negócios, adquirindo residências objetivando posteriormente o aluguel,
etc.
Os fenômenos apresentados são importantes para compreendermos como ocorre a
distribuição atual da população de Alfenas e de que forma a universidade atua sobre a
sociedade. Como assinala Saviani (1991, p.50), a universidade, sobretudo a pública tem um
compromisso social e sua responsabilidade: “[...] é a de devolver, de restituir a sociedade algo
daquilo que ela própria recebeu, que a universidade recebe da própria sociedade. Se uma
universidade existe, se uma escola superior existe é porque a sociedade a sustenta[...]”.
Pretende-se no decorrer dessa pesquisa, verificar a influência que a Universidade
Federal de Alfenas exerce na forma de produzir o espaço urbano, através da existência do
campus II da UNIFAL-MG, na área citada; identificando a maneira com que os instrumentos
15
urbanos vêm se consolidando e modelando o bairro a partir da migração mais
especificamente, das migrações internas.
Estudar o fenômeno migratório que ocorre dentro do território, permite que a
sociedade exerça uma reflexão a respeito de como os migrantes “invadem e modificam seu
espaço”, alterando o modo de vida e estabelecendo novas relações. Torna-se necessário
compreender de que modo este processo potencializa o crescimento do município de Alfenas,
a partir das desigualdades sociais cada vez mais acentuadas, o que certamente será verificado
nesse projeto dentro do espaço geográfico. O espaço se torna um campo de forças onde a
aceleração é desigual. A partir disso, a forma como o espaço evolui não se dá de forma
semelhante em todos os lugares (SANTOS, 2004).
Considerando o que foi apresentado é perceptível que a presença da UNIFAL, por
exemplo, sendo um fator externo altera toda a estrutura da cidade, sendo possível
compreender através de dois conceitos muito importantes e abordados por Milton Santos
(1996), que seriam eles: o de verticalidade e horizontalidade. Um lugar para ter determinada
função deve estabelecer relações que construam um território, relações internas (contiguidade)
e externas (nodosidade). A verticalidade é quando as relações saem da esfera local e atingem
o global, há a interação de ambas, diferente da horizontalidade que se entende pelas relações
estabelecidas e fixadas em um único espaço.
Então, a UNIFAL representaria a verticalidade que modifica a cidade e estabelece
algumas relações com as outras estruturas ao seu redor e esse conceito não estagna, porque a
universidade não vai regredir no seu desenvolvimento e sim, expandir-se cada vez mais,
construindo novos prédios, e aumentando o número de cursos. E Alfenas seria a
horizontalidade, sendo modificada.
O tema apresentado é importante para compreendermos como se dá a distribuição
atual da população de Alfenas e de que forma a universidade atua sobre a sociedade,
principalmente no bairro Santa Clara, uma vez que as migrações internas podem gerar
desequilíbrios em diversos aspectos e influenciando assim, na ordenação e estruturação da
sociedade.
16
1.1 - ÁREA DE ESTUDO
O município de Alfenas está localizado no sul de Minas Gerais (figura 1), a sua
população residente é de 73.774 habitantes segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE, 2010) e a distância da capital Belo Horizonte é de 342 km e de São Paulo
320 km, sendo ligada por estradas municipais, estaduais e federais. Pelos aspectos já
apresentados incluindo a sua demografia, Alfenas pode ser considerada uma cidade de porte
médio. Comparando com municípios vizinhos como Areado, Campos Gerais, Fama, dentre
outros, ela se destaca e exerce a função de pólo central interligando esses nós (de acordo com
a teoria de lugares centrais do Walter Christaller), no domínio das atividades de serviço.
Figura 1 - Mapa de localização da Microrregião de Alfenas no Estado de Minas Gerais.
Fonte: DANTAS (2011, p. 10)
Através da imagem extraída do Google Earth (figura 2) é possível observar a
extensão de Alfenas, onde segundo o IBGE (2010) a área da unidade territorial (Km²) é de
850,446; e ainda rodovias importantes como a BR 491.
17
Figura 2: Município de Alfenas - MG.
Fonte: Google Earth, consultado no dia 05/03/2013 às 16:22hs.
Um índice interessante do município de Alfenas é o denominado “Incidência da
Pobreza” que segundo o IBGE (2003), 19,61% é o valor referente à sua população. Esses
números são muito significativos quanto à descrição dos fenômenos que serão aqui retratados.
A tabela abaixo demonstra alguns dos índices mais importantes na base e
estruturação de Alfenas, possibilitando estabelecer um modelo comparativo entre os anos de
2000 e 2010 (tabela 1), com a finalidade de identificar e verificar quais foram os fatores que
mais contribuíram para o crescimento econômico, a expansão e segregação socioespacial da
cidade.
Tabela 1: Índices Comparativos do município de Alfenas, em dois respectivos períodos.
2000 2010 Variação % -
2000/2010
População Total 66.957 73.744 9,20
População Urbana 62.148 69.176 10
População Rural 4.809 4.598 -4,39
Indústria R$92.758.000,00 R$198.096.000,00 113,56
Agropecuária R$60.052.000,00 R$131.458.000,00 119
Comércio/Serviços R$231.179.000,00 R$817.893.000,00 253,7
PIB total R$434.838.000,00 R$1.282.830.000,00 195,01
Fonte: IBGE – CIDADES (2013).
18
Os dados demonstrados na tabela 1 permite constatar, o crescimento que a cidade
estudada obteve ao longo desses 10 anos. No item, O índice da população urbana, por
exemplo, através da variação de 10%, explana o movimento chamado êxodo rural,
evidenciando a busca por melhores condições de vida ofertadas no centro urbano, através dos
demais setores que contribuem para o desenvolvimento de Alfenas, como os também
demonstrados na tabela 1, de serviços/comércios e indústria. A agropecuária também sofreu
um aumento unindo dessa forma, a agricultura e pecuária, possibilitando afirmar que mesmo
com as pessoas saindo do campo, os produtores são fundamentais na economia do município
mediante o cultivo de plantas e pela criação de animais. Todos esses aspectos refletidos no
PIB total permite concluir, com os valores monetários expressos na comparação desses anos
de 2000 e 2010, que a cidade obteve crescimento significativo.
O bairro Santa Clara localiza-se, no sentido noroeste de Alfenas. Visto que as imagens
do Google Earth são do ano de 2003, permitindo identificar a Avenida Jovino Fernandes
Sales (onde atualmente o campus II da UNIFAL-MG está localizado) vazia, sem nenhum
instrumento; utilizou-se de fotografias aéreas recentes (figura 3).
Figura 3: Fotografia aérea com pipa da Unidade II da Universidade Federal de Alfenas-MG.
Fonte: Fotografia tirada em 06/07/2012 e cedida pelo Prof. Dr. Evânio Branquinho.
19
Na fotografia a seguir (figura 4), podem-se observar os prédios construídos e que se
encontram em funcionamento no campus II da UNIFAL-MG, além dos edifícios que ainda
estão em construção. Ao fundo da fotografia é possível visualizar um “corredor” de moradias
localizadas na Av. Jovino Fernandes Sales permitindo-nos verificar a expansão que está
ocorrendo no bairro estudado, principalmente com a existência de casas populares.
Figura 4: Fotografia aérea do campus II da UNIFAL-MG no bairro Santa Clara.
Fonte: Fotografia tirada em 06/07/2012 e cedida pelo Prof. Dr. Evânio Branquinho.
Figura 5: Fotografia aérea do campus II da UNIFAL-MG e das casas populares.
Fonte: Fotografia tirada em 06/07/2012 e cedida pelo Prof. Dr. Evânio Branquinho.
20
2 - DESENVOLVIMENTO
2.1 - Questões teóricas da segregação socioespacial e cidades médias
A cidade média é um importante nó dentro da rede urbana brasileira. O seu tamanho
demográfico, as suas funções e relações dentro de seu espaço intra-urbano permitem
qualificar o seu conceito considerando, sobretudo, o processo econômico. Como aponta
Corrêa (2006, p. 30): “Admite-se que a cidade média apresente interações espaciais intensas,
complexas, multidirecionais e marcadas pela multiescalaridade”. A partir disso, a cidade
média conecta-se às redes regionais e globais interagindo com outras cidades, regiões e
países, ou seja, estabelecendo relações entre escalas geográficas diferentes.
A urbanização foi um processo que desencadeou profundas mudanças, gerando
novos modos e tendências para se viver em sociedade. Este fenômeno através das formas de
produção é também responsável, pela concentração econômica do capital e do
desencadeamento do desenvolvimento desigual.
Segundo Endlich (2009, p. 407):
[...] falar de desenvolvimento desigual é falar da divisão de trabalho, mas
também da divisão de capital. A acumulação capitalista concentrou o que
antes se encontrava disperso, recriando parâmetros do desenvolvimento
espacialmente desigual, frequentemente designado por desequilíbrio, mas
que, na realidade, compõe a lógica de acumulação capitalista fundamentada
na desigualdade.
Em Alfenas, esse processo de desenvolvimento levou grande parte dos moradores do
bairro Santa Clara à exclusão dos direitos sociais básicos de qualidade, o trabalho, à educação
de excelência, sobretudo, ao que se refere ao ensino público, à saúde, o direito à moradia
digna, o acesso aos equipamentos públicos e infraestrutura urbana.
2.1.1 – Delimitações do espaço urbano e rural
21
Ao se analisarem cidades médias, a necessidade de considerar as relações entre a
cidade e o campo é incontestável, pois o desenvolvimento de atividades em áreas rurais está
diretamente associado às cidades médias e pequenas. Atividades estas como, por exemplo, as
agropecuárias que se dominadas por uma cidade média em determinado território, controlam
as áreas de grande interesse e acabam estabelecendo suas regiões; caracterizando assim, a
produção como responsável pela hierarquização entre centros urbanos (SPOSITO, 2006).
Efetivamente o rural é uma complementação do urbano tornando assim, esse espaço
contraditório e hierárquico. Através da rede urbana que o mundo pode se caracterizar
concomitantemente, desigual e integrado (CORRÊA, 2006).
Expressões como espaço urbano, estrutura urbana e outros, só podem se referir ao
espaço intra-urbano (ainda que seja redundante). Porém esses termos estão tão interligados
com o elemento urbano do espaço regional, sendo criada outra expressão para designar o
espaço urbano: “o intra-urbano”. O elemento urbano acaba sendo abordado dentro da
estrutura regional, distinguido desta forma:
A distinção mais importante entre espaço intra-urbano e espaço regional
deriva dos transportes e das comunicações. Quer no espaço intra- urbano,
quer no regional, o deslocamento de matéria e ser humano tem um poder
estruturador bem maior do que o deslocamento da energia ou das
informações. A estruturação do espaço regional é dominada pelo
deslocamento das informações, da energia, do capital constante e das
mercadorias em geral – eventualmente até da mercadoria força de
trabalho. O espaço intra-urbano, ao contrário, é estruturado
fundamentalmente pelas condições de deslocamento do ser humano, seja
enquanto portador da mercadoria força de trabalho – como no deslocamento
casa/trabalho –, seja enquanto consumidor – reprodução da força de
trabalho, deslocamento casa-compras, casa-lazer, escola, etc. Exatamente daí
vem, por exemplo, o enorme poder estruturador intra-urbano das áreas
comerciais e de serviços, a começar pelo próprio centro urbano [...].
(VILLAÇA, 2001, p. 20)
Podemos afirmar que delimitar separadamente o espaço rural do urbano é um
desafio, uma vez que são estabelecidas relações diretas e a modernização da agricultura
baseada na produção urbana para consumo e para subsistência, também contribuiu para as
mudanças nos setores econômicos, sociais, culturais e também ambientais refletidos na
sociedade. A modernização da agricultura e o desenvolvimento urbano colaboraram para as
desigualdades socioeconômicas.
22
Em muitas cidades médias, a expansão do perímetro urbano tem como finalidade
aumentar os impostos e as áreas passíveis de loteamentos, não negligenciando as pessoas que
ali vivem e as funções econômicas que exercem.
2.1.2 – Elementos da segregação socioespacial
A tradição incorporada na sociedade faz com que a cidade seja vista como um lugar
moderno e democrático, porém pesquisas atuais e discussões demonstram os impactos
decorrentes das transformações econômicas na cidade, cujas consequências afetam
diretamente a estrutura social da mesma gerando uma organização espacial fragmentada. O
sistema político possui o poder de ordenar as relações sociais e é preciso analisar
cuidadosamente até que ponto pode-se dar “créditos” ao Estado em relação ao seu papel para
uma convivência igualitária, ou nesse caso até onde a Prefeitura Municipal de Alfenas cumpre
de maneira efetiva o seu papel.
A segregação socioespacial interfere no efetivo dos direitos de cidadania e exclui
quase que totalmente uma parcela da população, uma vez que os equipamentos urbanos
básicos que existem no centro não estão disponíveis na periferia, considerando a relação
centro-periferia. No caso do bairro Santa Clara, o acesso a esses equipamentos é quase que
inexistente aparentando que também ocorre, uma negação por parte da sociedade em permitir
a inclusão dessa população segregada socialmente. Como a análise desse processo é
complexa, torna-se preciso entender a estrutura socioespacial da área de estudo desse
trabalho. A partir disso, o estudo sobre a segregação é muito importante, visto que
corresponde a uma formação do território para grupos sociais desmembrados deixando em
evidência a maneira como o espaço é produzido (VILLAÇA, 1998).
Um dos elementos da segregação socioespacial é a especulação, mais
especificamente a imobiliária, sendo o fenômeno responsável por deslocar esses indivíduos
das moradias comuns para a periferia caracterizando a desigualdade quanto ao acesso aos
diversos serviços. Tanto a população residente, quanto a população flutuante se veem
obrigadas a planejar suas rendas para atender as necessidades existentes no novo local que
pretendem de fato estabelecerem-se. Em alguns casos, o morador local muda-se para a
23
periferia da cidade que não oferece condições tão adequadas para uma boa qualidade de vida
quanto no centro.
Como aponta Castells (1983), a segregação seria a propensão da organização do
espaço em áreas que possuem características similares, bem como homogêneas e, que essas
características que as diferenciam das demais áreas, não somente pelas diferenças
evidentemente irrefutáveis, mas sim pela hierarquia estabelecida. Hierarquia esta, herdada
desde as formas de ocupação que já eram distintas, mas que diante das dinâmicas atuais
ressaltando o processo de globalização envolve entre outros fatores como, os interesses do
capital imobiliário e principalmente a atuação do poder público.
2.1.3 – Cidades Médias e Urbanização
O conceito de cidade média vem sendo objeto de inúmeras reflexões, pois alguns
estudiosos o relacionam a partir da sua extensão territorial ou, a sua dimensão na escala
urbana e outros a classificam de acordo com as suas políticas de desenvolvimento e
ordenamento, considerando principalmente o seu papel na escala regional. O que se quer é
compreender esse conceito:
[...] a partir de processos e dinâmicas que são, sobretudo, econômicos, mas
verificando suas dimensões espaciais, o que significa pensar na posição
sempre relativa e transitória dessas cidades e de seus papéis nas relações,
sobreposições e articulações com o espaço rural e com outras idades em
múltiplas escalas [...]. (SPOSITO, 2006, p. 233)
As funções de uma cidade auxiliam na sua definição, bem como o seu tamanho e de
que maneira o seu espaço intra-urbano está configurado, além das relações existentes entre
esses elementos que permitem identificar a cidade média. A partir dessas relações fica
expressa a distância entre o centro e a periferia da cidade, demonstrando a configuração
complexa do espaço interno da cidade.
Segundo Corrêa (2006), há várias dificuldades na conceituação da cidade média,
começando pelo tamanho demográfico que deve ser relativo à realidade de cada caso estudado
e a concentração do processo de urbanização, que segundo ele, na cidade média aparece como
um possível problema. A segunda dificuldade é a escala espacial de referência, em relação à
24
qual pode adquirir sentido, logo Alfenas pode ser vista como uma cidade macrocefálica
inserida dentro do contexto regional ao ser comparada com cidades ao seu entorno como, por
exemplo, Fama, Areado, Paraguaçu, Serrania, Campos Gerais, etc. Porém, dependendo da
escala em que ela é referida como a escala brasileira, pode-se caracterizar como cidade média.
E a terceira e não menos importante dificuldade que Corrêa (2006) aponta, é a dimensão
temporal:
A terceira dificuldade aparece ao se considerar a dimensão temporal. Dado o
rápido e intenso processo de urbanização que se verifica por toda parte é
preciso considerar que 100.000 habitantes têm significados diferentes
quando referenciados a 1940, 1960, 1980 e 2000. Esta observação é válida
tanto quando se considera o valor numérico em si, como quando é
considerada uma específica cidade e sua dinâmica demográfica. Isto nos
encaminha para a questão de que uma cidade tida como média em um
passado recente, não seja mais assim considerada 20 ou 30 anos depois [...] a
cidade média pode ser, assim, considerada como um estado transitório [...].
(CORRÊA, 2006, p. 26)
Logo, no contexto de formação da rede urbana que se torna possível estabelecer a
noção ou conceito de cidade média. A urbanização que estabelece as atividades produtivas
concentradas juntamente com a população e certa dispersão a partir dos agentes sociais, como
os grandes empresários que visam lucros realizando grandes investimentos. No bairro Santa
Clara, já se pode identificar pequenos indícios das mudanças futuras a partir da instalação e
expansão da UNIFAL-MG, como a rápida valorização dos imóveis ou a busca de
empreendedores interessados em loteamentos dentre outros bens e serviços, criando condições
de lucro em lugares que podem gerar um retorno para as novas atividades. Esses fatores
contribuem para a ascensão das cidades médias.
Portanto, para entender a posição de uma cidade e como ela se (re) estrutura torna-se
necessário relacionar os movimentos de diversos atores e a maneira como ocorre a
combinação de vários acontecimentos importantes. A alteração dessa estrutura na cidade
média é o que tem ampliado as desigualdades socioespaciais. Ressaltando a importância de
verificar as diferenças entre cidades médias, de acordo com a esfera em que se inserem
observando as que possuem papéis regionais e aquelas que são responsáveis por receberem os
fluxos, gerando movimentos contraditórios a essas relações já estruturadas (SPOSITO, 2006).
25
3 – METODOLOGIA
O levantamento e a revisão dos materiais bibliográficos foram etapas fundamentais
para o desenvolvimento e evolução deste trabalho, propiciando o embasamento concreto
sobre o tema analisado. A realização deste também abrangeu coleta de dados e pesquisas de
campo.
Na primeira etapa foram levantados temas que fundamentam o questionamento sobre
os principais conceitos abordados como, urbanização, industrialização, migração, rede urbana,
segregação socioespacial e demais aspectos interligados com a questão urbana das cidades
médias, aliando as alterações de estruturação da cidade de Alfenas com os efeitos que elas
promovem como, a ampliação das desigualdades socioespaciais.
Posteriormente foi realizada a coleta de dados secundários, disponíveis na Biblioteca
Central e da Unidade Educacional II da UNIFAL-MG, na Prefeitura Municipal de Alfenas
(MG) e no IBGE. Sendo os dados primários caracterizados essencialmente pelas entrevistas
feitas com os moradores do bairro Santa Clara, totalizando 40 entrevistas, migrantes e
comerciantes do próprio bairro e seu entorno.
A colaboração da Prefeitura Municipal de Alfenas e dos demais órgãos públicos do
respectivo município é de muita relevância, uma vez que dispõe de fotografias e fatos
históricos referentes às transformações ocorridas em Alfenas, no decorrer do tempo. Nesse
sentido, as visitas feitas junto a esses órgãos foram aproveitadas de maneira com que fosse
levantada dentre outras questões, a posição destes em relação à infraestrutura existente dentre
outros aspectos considerados no bairro investigado.
As fotografias utilizadas nesse trabalho são de autoria e propriedade do trabalho de
fotografia aérea com pipa denominado “Fotografia Aérea com Pipa: uma prática lúdica e
interdisciplinar na construção do conhecimento”, desenvolvido pelo professor do Instituto de
Ciências da Natureza da UNIFAL-MG, Evânio dos Santos Branquinho, em parceria com o
técnico em eletrônica da instituição, Rogério Souza Bernardes.
Um fator que contribuiu significativamente para a execução dessa pesquisa foi o fato
da autora estar inserida, pelo menos em um desses processos descritos anteriormente como a
migração e ainda, compor um dos cursos que atualmente encontra-se em funcionamento no
26
campus II, ou seja, também se insere dentre todos os elementos que vem movimentando e
reestruturando a área estudada. Devemos analisar esse espaço pelo seu conteúdo e não
somente pela sua posição geográfica na estrutura urbana.
Portanto, a pesquisa partiu de uma análise funcional do município de Alfenas
destacando a sua importância econômica regional com ênfase no setor de serviços (educação,
comércio etc.). Mesmo com esse dinamismo econômico o espaço urbano apresenta
disparidades socioespaciais.
27
4 – ANÁLISE DA SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL NO BAIRRO
SANTA CLARA
Através do material coletado e das entrevistas realizadas, foi possível comprovar os
objetivos dessa pesquisa e afirmar a grande influência e o poder que a Universidade Federal
de Alfenas, mais especificamente o campus II exerce no sentido de planejar e gerir o espaço
urbano conjuntamente com o rural, e a forma como seus agentes agem sob a sociedade
alfenense, também responsáveis pela segregação social no bairro estudado.
4.1. Características geográficas do bairro Santa Clara – população, economia e
infraestrutura
As propriedades do bairro são principalmente residenciais, sendo poucas as
atividades de comércio e serviços havendo pequenas mercearias e bares. As famílias não são
muito grandes, sendo que a maioria dos entrevistados afirmou dividir a moradia com mais 3
pessoas, resultando em 4 moradores na mesma residência (tabela 2). A porcentagem
amostrada na tabela a seguir também considera as pessoas que moram sozinhas resultando em
1 morador por residência (7,5%) juntamente com aquelas que dividem a residência, que
totalizaram 92,5%.
Tabela 2: Número de moradores por residência no bairro Santa Clara, Alfenas - MG.
Nº de moradores por residência % de ocorrências no bairro
1 7,5%
2 7,5%
3 17,5%
4 37,5%
5 17,5%
6 7,5%
7 5%
Fonte: Trabalho de campo (2013).
28
Por ser um bairro relativamente novo, percebe-se que algumas famílias são oriundas
de outros bairros, ou até outros municípios. O processo de verticalização ainda não é
perceptível, sendo o bairro Santa Clara formado basicamente por casas sem a existência nos
dias atuais de outro tipo de residência, como apartamentos.
Com o movimento migratório de estudantes, assim como no centro, a tendência de
novas construções voltadas para esses indivíduos é grande, pois alguns moradores
entrevistados afirmaram receberem propostas de compras pelas suas moradias com o objetivo
certamente de no futuro investir, em novas opções de moradia como pensionatos, prédios de
até 3 andares ou estabelecimentos comercias, entre outros, diversificando o local estudado e
contribuindo para a sua ampliação.
Muitos dos entrevistados alegaram que o motivo para atualmente residirem no bairro
estudado, foi a condição financeira. Devido principalmente a especulação imobiliária intensa
que tende a valorizar certas áreas, onde os moradores se veem obrigados a procurarem bairros
mais afastados onde as taxas de aluguéis se adequem às suas rendas. É possível salientar a fala
da moradora entrevistada, Dona Maria (pseudônimo), que informou morar com mais 2
pessoas e viver com renda aproximada de até 1 salário mínimo e ainda ressaltou:
“Moramos aqui porque no bairro que nóis morava o Jardim Eunice, o
aluguel não tava mais dando pra pagar não. Aí como um amigo de um
vizinho me disse que o dono dessa casa que você tá vendo morreu, eu
peguei, vim e invadi. A maioria aqui no Santa Clara é tudo casa invadida.”
A partir das entrevistas realizadas podemos observar que a grande maioria, não
reside no bairro por livre e espontânea vontade e sim que foi obrigada pelas condições
impostas pelo sistema político-econômico, que organiza a sociedade e seu espaço, além de
estabelecer as relações entre seus indivíduos, ou seja, a segregação imposta pelo crescimento
mal planejado, falta de ofertas de empregos, baixos salários e especulação imobiliária.
Dos entrevistados, 85% afirmaram categoricamente que o bairro Santa Clara não
dispõe de infraestrutura adequada como saneamento básico, escolas, comércio, asfalto,
segurança entre outros aspectos, porém as reclamações principais foram entorno do transporte
coletivo e das opções de lazer. O transporte coletivo foi dito diversas vezes como ineficiente,
29
uma vez que passa até certo horário - até as 20:15 hs - visto que há moradores que trabalham
ou precisam chegar depois dessa hora já que todos os serviços de que necessitam encontram-
se no centro, sendo obrigados a descer no ponto de ônibus distante percorrendo cerca de 2km
ou mais para alcançar o seu destino.
As atividades que o ser humano pode praticar em seu tempo livre e para o seu bem-
estar, podem ser definidas normalmente como lazer. São as ocupações que os indivíduos
entregam-se por vontade própria seja para repousar ou divertir-se, e que segundo os
moradores entrevistados está faltando no bairro analisado; a reclamação, sobretudo por parte
dos homens, se dá pela falta de uma quadra poliesportiva pública para que eles possam ir ou
levar os filhos para jogar futebol, além da ausência de praças, parques ou outros instrumentos
semelhantes que possam contribuir para uma melhoria na qualidade de vida.
A porcentagem restante 15%, afirmou que o bairro dispõe de infraestrutura adequada
para se viver bem e que não há nenhum item em que precisa melhorar (gráfico 1).
Gráfico 1: Disponibilidade de infraestrutura no bairro Santa Clara, do ponto de vista dos
moradores. Fonte: Trabalho de campo (2013).
As pessoas que habitam a área estudada necessitam de melhores condições,
principalmente na educação com escolas de qualidade e um ensino digno. No contexto em que
o Brasil se encontra atualmente, a educação é um fator chave para a busca de uma condição
de vida decente e se aqueles que tiveram a oportunidade de ter uma, já encontram dificuldades
frente ao mercado de trabalho cada vez mais seletivo, quem dirás aqueles que não possuem
escolaridade nenhuma.
Disponibilidade de infraestrutura adequada no bairro
Santa Clara
Não dispõe
Dispõe
15%
85%
30
Dos moradores entrevistados nenhum possui ensino superior incompleto ou completo
e a maioria demonstrada por exatamente 47,5% possuem ensino fundamental incompleto
(gráfico 2), ressaltando que aqueles que nunca frequentaram a escola informaram que a vida
foi difícil e que tiveram que começar a trabalhar ainda criança, sendo o local de trabalho a
roça o que dificultava ainda mais o acesso às escolas.
Gráfico 2: Nível de escolaridade dos moradores entrevistados.
Fonte: Trabalho de campo (2013).
A renda total mensal dos entrevistados (considerando as pessoas com quem eles
dividem a residência) foi dividida basicamente, entre as opções: até 1 salário mínimo e entre 1
e 2 salários mínimos (gráfico 3), obtendo como base o valor do salário mínimo atual – R$
678,00. A aquisição de qualquer tipo de auxilio para as famílias por parte do poder público,
depende geralmente do quanto se ganha, individualmente e em conjunto, ou seja, de todos
aqueles que residem sob o mesmo teto.
0
10
20
30
40
50
Nível de escolaridade
Ensino superior completo
Ensino superior incompleto Ensino médio completo
Ensino médio incompleto Ensino fundamental completo Ensino fundamental incompleto Não frequentou a escola
%
0 0
17,5
47,5
7,5 12,5
15
31
Gráfico 3: Renda mensal aproximada da população entrevistada do bairro Santa Clara.
Fonte: Trabalho de campo (2013).
Dos entrevistados, 52,5% afirmaram receber algum tipo de bolsa, mais
especificamente, participar do Programa Bolsa Família e 47,5% informaram não receber
nenhum tipo de ajuda financeira (gráfico 4). A partir dos dados coletados não é possível
estabelecer uma relação direta como, por exemplo, aqueles que ganham a bolsa família
recebem até um salário mínimo, pois os salários aproximados das famílias variaram muito em
relação às bolsas, gerando até uma impressão de que não se tem um critério ao certo por parte
do governo.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), o
Programa Bolsa Família (PBF) é um programa de transferência direta de renda para benefício
de famílias em situação de pobreza ou extrema pobreza em todo Brasil. Ainda segundo o
MDS esse programa está baseado (teoricamente) na garantia de renda, inclusão produtiva e no
acesso aos serviços públicos e ainda, os valores dos benefícios variam de acordo com as
características de cada família como: a renda mensal por pessoa, o número de crianças e
adolescentes de até 17 anos, de gestantes, nutrizes e de componentes da família.
Renda mensal dos moradores do bairro Santa Clara
Até 1 salário mínimo
Entre 1 e 2 salários
minimos
55% 45%
32
Gráfico 4: Porcentagem referente aos moradores entrevistados do bairro Santa Clara e os beneficiários
do Programa Bolsa Família. Fonte: Trabalho de campo (2013).
A maioria das famílias entrevistadas não desenvolve nenhuma atividade ligada à
agricultura e a pequena parcela que desenvolve, trabalha com plantação de café, milho, batata,
banana e limão tanto para uso próprio, quanto para comercializar. Um morador entrevistado, o
Sr. Pedro (pseudônimo), afirmou que visando a expansão e valorização que vem ocorrendo no
bairro, tem a pretensão de futuramente fazer uma horta no fundo da sua casa para seu
consumo, mas principalmente com o objetivo de vender o que plantar. Essa pequena parcela
que exerce alguma atividade agrícola demonstra de certa forma, a mesclagem entre o rural e o
urbano e a transição que vem acontecendo nesse sentido, bem como a maximização do terreno
urbano para subsistência.
Entre os 40 entrevistados, 5 pequenos comerciantes foram entrevistados durante a
realização dessa pesquisa, com o intuito de apontar quais as suas relações com o
estabelecimento em que trabalham (sendo todos proprietários) e qual é o principal público
consumidor (moradores, estudantes, etc.) que este estabelecimento atende nos dias atuais, para
observar se há ou não a influência do campus II da UNIFAL possibilitando uma futura
comparação a partir da expansão desse campus. Até o momento, a maioria dos clientes são os
próprios moradores e seus estabelecimentos de pequeno porte, resumem-se a bares e
mercearias.
A valorização no bairro é um fenômeno recente mais ainda não é perceptível a todos.
Através das entrevistas realizadas, pode-se constatar que 25% dos moradores não percebem
nenhuma valorização ou mudança significativa no lugar em que habitam, que “está tudo igual
Recebem a Bolsa Família
Não recebem a Bolsa
Família
Bolsa Família: Porcentagem referente a população e os benefíciários
52,5%
47,5%
33
como sempre”, ou ainda que “já esteve melhor”. E 75% percebem a valorização, porém não
conseguem especificar de que forma, mas declaram que a instalação e expansão do campus II
da UNIFAL-MG contribuem e influenciam essa valorização; e ainda citam fatos refletidos
desse processo como, aumento do fluxo de pessoas, construção de novas casas, melhorias no
transporte, expansão de alguns bares para mercearias, etc. Referindo-se a essa questão, o Sr.
Augusto (pseudônimo), aponta:
“A chegada da universidade nesse bairro meiorou muito, ficou bão demais.
Tá tendo mais movimento, as polícia vem com mais carro aqui agora e tem
gente de fora de olho nos lotes. A minha casa aqui mesmo um tempo atrás
valia uns R$ 10.000,00 agora já andei dando uma olhada e consegui
R$40.000,00.”
4.1.1 – A precariedade dos equipamentos urbanos
O bairro analisado é relativamente novo e ainda não dispõe de equipamentos urbanos
adequados para atender a demanda básica da população que ali vive, deixando em diversos
aspectos a desejar. A principal reclamação é a falta de asfaltamento nas ruas que compõem o
bairro, sobretudo em trechos que são somente em partes asfaltados (figura 6).
Figura 6: Rua em parte asfaltada no bairro Santa Clara.
Fonte: Trabalho de campo (2013).
34
Nos trechos em que a rua não possui asfaltamento os moradores sofrem
principalmente em dias chuvosos, onde o barro molhado vira lama, prejudicando aqueles que
moram nessas partes, pois como o sistema de transporte é precário não permitindo que
nenhuma linha de ônibus passe nessa rua, essas pessoas são obrigadas a andar nessas
circunstâncias e chegar muitas vezes ao seu lugar de destino (como o local de trabalho) em
péssimas condições, com pelo menos os pés sujos (figura 7).
Figura 7: Ruas sem calçamento com barro (A) e com lama (B) em dias chuvosos.
Fonte: Trabalho de campo (2013).
São representativos também os dias ensolarados onde o problema do barro continua,
só que ao invés de lama o que ocorre é muita poeira. Além desse fato, os entrevistados
questionaram o tamanho dos matos em frente às suas casas, demonstrando o descaso da
Prefeitura Municipal de Alfenas fazendo com que os moradores se sintam “abandonados”
com a presença de muitos bichos inconvenientes como, por exemplo, cobras, escorpiões e
mosquitos. O transporte coletivo é um dos motivos de maior indignação por partes dos
moradores que como já citado anteriormente, só passa até as 20:15 hs; fazendo com que eles
ainda percorram um longo trecho até chegarem em suas residências submetidos ao perigo
(com medo de assaltos), pois os responsáveis pela segurança pública até agora nada fizeram
para melhorar a situação.
A figura 8 ilustra o cotidiano de quem vive no bairro. Seja para varrer a poeira ou
para varrer a água suja acumulada na vala na porta de casa, quando essa mesma água não
invade a casa infiltrando as paredes, comprometendo a sua estrutura e ainda danificando
móveis e eletrodomésticos. Alguns moradores ainda aproveitam essa água suja para lavar as
calçadas de suas casas.
35
Figura 8: Moradora do bairro Santa Clara varrendo a água suja da porta de sua casa.
Fonte: Trabalho de campo (2013).
Segundo o jornal online da cidade de Alfenas “Correio Alfenense”, a prefeitura
municipal da mesma anunciou que no início do ano de 2012, 96 unidades habitacionais no
bairro Santa Clara seriam finalizadas, o que não ocorreu. Ainda assim, as casas foram
ocupadas por famílias sem nenhuma infraestrutura: água encanada, luz elétrica, esgoto,
calçadas e asfalto. Através das entrevistas realizadas constatou-se que alguns moradores se
reuniram e captam água de um cemitério próximo ao lugar; as unidades habitacionais com
44,00m² foram, segundo a Associação Habitacional de Alfenas, executadas pelo Programa
Crédito Solidário1.
Dentre esses fatores, a segurança do lugar é uma das reclamações feitas pelos
moradores, sendo eles próprios os vigias das casas e dos materiais de construção e
ferramentas que tem nas obras inacabadas; tentam impedir também a ação de vândalos para
que não roubem ou quebrem janelas, portas, vidros, ou até que entrem e furtem algo.
1 Programa Crédito Solidário: programa de financiamento habitacional com recursos do Fundo de
Desenvolvimento Social – FDS, criado pelo Conselho Curador – CCFDS, conforme Resolução 93/2004 e
regulamentado pelo Ministério das Cidades, além de ter como agente operador e financeiro a Caixa Econômica
Federal. Tem como objetivo: financiamento habitacional a famílias de baixa renda organizadas em associações,
cooperativas, sindicatos ou entidades da sociedade civil organizada.
36
4.1.2 – Análise da acessibilidade e segregação socioespacial
Na cidade de Alfenas, os bairros ocupados pelas camadas de maior renda são aqueles
que dispõem de maior acesso aos diversos serviços que necessitam. É como se ocorresse um
processo de apropriação do espaço onde a acessibilidade desempenhasse um papel
diretamente relacionado com a territorialização do lugar, que nesse caso é o bairro Santa
Clara, onde geralmente há uma privatização dos espaços públicos urbanos.
A terra urbana sofre o fenômeno da valorização a partir da chegada de infraestrutura,
dos serviços urbanos e da instalação dos equipamentos que deveriam atender a toda
sociedade. No objeto de estudo desse trabalho, é possível identificar que esse processo de
valorização e acessibilidade urbana ocorre de maneira diferenciada beneficiando aqueles que
possuem maior poder aquisitivo.
No bairro Santa Clara, o acesso aos instrumentos urbanos é extremamente deficiente.
Os moradores dependem do centro urbano para quase tudo: farmácias, creches, bancos,
supermercados, feiras, dentre outras necessidades, que bairros vizinhos como, por exemplo, o
Pinheirinho apodera-se, mas é o centro que ainda dispõe de serviços considerados de maior
qualificação. E os processos estão interligados, pois diante da precisão de ir ao centro se tem
a indagação “como ir”? É ai que os residentes do respectivo bairro se veem diante de mais um
fator excludente, os meios de transportes, sendo responsáveis por dificultar mais o acesso.
Como desabafa a moradora Lilian (pseudônimo):
“Os ônibus aqui só passam até 20hs, ai fica difícil porque tem gente que
trabalha até depois dessa hora e como que fica? Tem que vim a pé do ponto
ali no Pinheirinho e correr o risco de ser roubado ou outra coisa porque aqui
é perigoso, isso é descaso da prefeitura com a gente! Porque depois que um
ônibus foi incendiado uns tempos atrás os motoristas tudo tem medo de vim
até aqui. Nós daqui somos abandonados e é muito difícil fia porque a gente
precisa sair do bairro pra quase tudo.”
37
Atualmente, o bairro Pinheirinho dispõe de duas escolas públicas e vem sendo
construída pela Prefeitura Municipal de Alfenas uma creche na principal avenida do bairro
Santa Clara (figura 9).
Figura 9: Implementação de uma creche no bairro, pela Prefeitura Municipal de Alfenas.
Fonte: Trabalho de campo (2013).
A estrutura social é objeto de importante configuração, devido às mudanças na
estrutura produtiva, além das imposições geradas pelos novos padrões organizacionais e
tecnológicos, como a expansão das atividades econômicas, novos empreendimentos como a
instalação do campus II da UNIFAL, as novas necessidades de consumo urbano, dentre
outros, que na cidade de Alfenas caracteriza-se por movimentos fragmentadores no sentido
socioespacial, onde o centro e a periferia tendem a se organizar de acordo com suas próprias
dinâmicas.
Dessa constatação, as desigualdades e diferenças estão reproduzidas claramente no
bairro Santa Clara. Os seus moradores constituem uma parcela da população excluída da
integração econômica e social da sociedade com um todo. A pobreza urbana é um dos
fenômenos que revelam a desigualdade social, pois os excluídos não tem acesso ao mercado
de formal de habitação, aos serviços básicos de infraestrutura além dos sociais, mas sim
acesso marginal ao mercado de trabalho sem nenhuma perspectiva.
38
O espaço construído não é neutro em relação à expansão das relações sociais, a
qualificação do espaço construído influencia diretamente a qualidade das relações que lá
acontecem, mas elas não determinam completamente, pois a maneira como as ações sociais
são organizadas moldam inevitavelmente a forma de apropriação do espaço.
Em vários aspectos, esses processos contribuíram para a diferenciação dos grupos
sociais no município de Alfenas e para a sua configuração atual. De fato, as famílias
localizadas na base da estrutura social tendem a viver em condições mais precárias e a ter
escolhas limitadas, onde as chances de ascensão social são mínimas. Entretanto, o mercado
imobiliário tem interesse em ofertar tanto o uso, quanto a locação do solo fazendo com que a
maioria da população não possa pagar quase nada para morar. Sustenta-se que essas pessoas
tendem a ser empurradas para lugares sem infraestrutura ou serviços públicos e com quase
nenhuma renda diferenciada. E o Estado pode impulsionar esses processos, causar ou ainda
intensificar a segregação e suas consequências.
A figura 10 mostra de maneira nítida a rua sem asfaltamento, em contraste com as
edificações e outros equipamentos urbanos observados no “horizonte” (a área central da
cidade de Alfenas) caracterizando esse espaço contraditório.
Figura 10: Rua sem asfaltamento no bairro Santa Clara.
Fonte: Trabalho de campo (2013).
39
5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a realização desse estudo pode-se notar o quanto o bairro Santa Clara é
segregado sócio-espacialmente, principalmente a partir do processo de urbanização e dos
fenômenos que a ele estão interligados como a especulação, migração e valorização.
O município de Alfenas com o crescimento que vem obtendo atualmente, sobretudo
pela influência das universidades existentes e dos demais fatores externos, encontra-se em
transição uma vez que esses processos não são estáticos e estão sempre (re) estruturando a
sociedade. O lugar que a rede com suas variadas funções organizam em determinado
território, se torna um agregado de relações internas e externas (SANTOS, 1996).
A configuração atual que apresenta o município analisado é devida também ao
processo histórico, em que é preciso considerar onde e como as infraestruturas foram de fato
estabelecidas, mas precisamente cristalizadas. O termo “rugosidade” utilizado pelo Milton
Santos permite uma melhor compreensão dessa questão, onde as rugosidades são o espaço
construído, o tempo histórico que sofreu uma transformação e resulta em uma paisagem, mas
sempre incorporado ao espaço combinadas ainda pelo capital, técnicas e trabalho utilizados.
(SANTOS, 2004), assim o antigo/atrasado/inferior deve ser excluído do centro da cidade
dando lugar ao novo e aos elementos que desenvolvam o capital.
O fato da cidade de Alfenas não ter sido planejada contribuiu, para o crescimento
linear sendo, as suas desigualdades sociais acentuadas cada vez mais e através da segregação
socioespacial evidencia-se como parte da população é excluída da sociedade. População esta
que vive em condições precárias, sem nenhum acesso aos equipamentos urbanos com
destaque para os serviços de comércio e transporte coletivo, dentre outros, que o centro dispõe
e que a essas pessoas não pertencem. O planejamento influencia mais não é o que define a
cidade, pois uma cidade planejada não é perfeita e detém de problemas de todas as naturezas
como as demais.
Além da caracterização desses processos, essa pesquisa traz uma preocupação em
relação às ações do poder público quanto à ordem do território, onde as políticas que existem
beneficiam somente as classes mais privilegiadas, esquecendo-se de atender as necessidades
da população de renda baixa como a do bairro Santa Clara, cujos problemas só vêm se
intensificando sem perspectivas de melhoria em nenhum aspecto. Onde os moradores por
40
residirem neste bairro afastado, têm dificuldades de deslocamento aumentando na maioria das
vezes, as distâncias entre habitação e emprego, deixando-os cada vez mais distantes de uma
expectativa de vida melhor.
A expansão do bairro Santa Clara vem ocorrendo de maneira irregular, pois além da
falta de infraestrutura adequada para as necessidades básicas desses indivíduos, fatores como
o nível de escolaridade acentua ainda mais os problemas levantados obrigando, por exemplo,
o morador que mesmo insatisfeito com a situação atual da sua habitação, se fixe neste lugar
devido à falta de oportunidades que lhe são oferecidas, onde muitas vezes a moradia se dá
através das invasões.
A instalação e funcionamento do campus II da Universidade Federal de Alfenas
influencia de maneira clara, a forma com que o bairro Santa Clara vem se (re) modelando.
Novos investimentos, novas obras e expansão dos negócios já existentes tendem a intensificar
o processo de valorização. Alguns estudantes que tem aulas nesse campus já cogitam a ideia
de se deslocarem para este bairro, objetivando diminuir a distância do centro para a
universidade bem como, os gastos com transporte; esse fato atrai “os olhares” de investidores
que visando lucros futuros iniciam os investimentos em moradias para posteriores aluguéis,
ou seja, especulação imobiliária. Nessa perspectiva, a UNIFAL-MG anunciou no início de
2013 a construção do prédio da moradia estudantil dentro do campus II, apontando para uma
nova dinâmica socioeconômica para a região.
41
6 – REFERÊNCIAS
ANANIAS, Rafael Ferrari. Expansão da Rede Urbana do Município de São João da Boa
Vista – SP de 2000 a 2010. Projeto (Trabalho de Conclusão de Curso no Instituto de Ciências
da Natureza) – Universidade Federal de Alfenas, Alfenas. 2011.
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http://associacaohabitacional.wordpress.com/apresentacao/. Acesso: 10 de março de 2013.
Caixa Econômica Federal. Programa Crédito Solidário – FDS. Disponível em:
http://www.caixa.gov.br/habitacao/operacoes_coletivas/programa_credito_solidario/index.asp.
Acesso: 10 de março de 2013.
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CORRÊA, Roberto Lobato. Construindo o conceito de cidade média. In: SIMPÓSIO
INTERNACIONAL “CIDADES MÉDIAS: PRODUÇÃO DO ESPAÇO E DINÂMICAS
ECONÔMICAS”, II, 2006. Universidade Federal de Uberlândia. p. 23-33.
DANTAS, Mayara Fontes. Impactos da Modernização da Agricultura na Estrutura Agrária
Sulmineira na Microrregião de Alfenas – MG. Projeto (Trabalho de Conclusão de Curso no
Instituto de Ciências da Natureza) – Universidade Federal de Alfenas, Alfenas. 2011.
ENDLICH, Angela Maria. Centralização, Concentração e Primazia na Política Urbana. In:
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Espaço e tempo: complexidade e desafios do pensar e do fazer geográfico. Curitiba:
Associação de Defesa do Meio Ambiente e Desenvolvimento de Antonina (ADEMAN). p.
406-420, 2009.
42
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2013) Cidades. Disponível em:
http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1. Acesso: 03 de março de 2013.
Jornal Online Correio Alfenense. Prefeitura libera casas sem infraestrutura. Disponível em:
http://correioalfenense.web652.uni5.net/noticias.asp?act=noticias&act2=ver&id=1025.
Acesso: 10 de maço de 2013.
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Programa Bolsa Família.
Disponível em: http://www.mds.gov.br/bolsafamilia. Acesso: 11 de março de 2013.
SANTOS, Milton. Manual de Geografia Urbana. São Paulo: Hucitec, 1981.
SANTOS, Milton. Por uma Geografia Nova: Da crítica da Geografia a uma Geografia
Crítica. 6ª ed. pg.153; 172. São Paulo: Edusp, 2004.
SAVIANI, Dermeval. Ensino público e algumas falas sobre universidade. São Paulo: Cortez:
Autores associados, 1991. (Coleção Polêmicas do nosso tempo, v.10)
SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão. Cidades Médias: Reestruturação das Cidades e
Reestruturação Urbana. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL “CIDADES MÉDIAS:
PRODUÇÃO DO ESPAÇO E DINÂMICAS ECONÔMICAS”, II, 2006. Universidade
Federal de Uberlândia. p. 233-253.
SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão. Reestruturação urbana e segregação socioespacial no
interior paulista. Scripta Nova. Revista electrónica de geografía y ciencias sociales.
Barcelona: Universidad de Barcelona, 1 de agosto de 2007, vol. XI, núm. 245 (11).
<http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-24511.htm> [ISSN: 1138-9788]
43
União Nacional por Moradia Popular. Programa Crédito Solidário. Disponível em:
http://www.unmp.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=189:programa-
credito-solidario&catid=64:credito-solidario&Itemid=98. Acesso: 11 de março de 2013.
UNIFAL – Universidade Federal de Alfenas. Institucional. Disponível em http://www.unifal-
mg.edu.br/institucional/historico. Acesso: 09 de janeiro de 2013.
UNIFENAS – Universidade José do Rosário Vellano. Institucional. Disponível em
http://www.unifenas.br/institucional.asp. Acesso em: 09 de janeiro de 2013.
VILLAÇA, Flávio. Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo, Studio Nobel, 2001.
44
7 - APÊNDICE
7.1 - Questionário com moradores do bairro Santa Clara – Alfenas/MG:
Nome: ______________________________________________ Idade: ________
Naturalidade: _______________________ UF: ____________
1) Qual tipo de residência:
( ) Apartamento ( ) Casa ( ) Kitnet ( ) Outra
2) Você divide sua residência com mais pessoas? Se sim, com quantas?
______________________________________________________________
3) Há quantos anos você reside neste bairro?
( ) Inferior a 5 anos ( ) Entre 5 e 10 anos
( ) Entre 10 e 20 anos ( ) acima de 20 anos
4) Qual é a sua escolaridade?
( ) Não frequentei a escola ( ) Ensino fundamental incompleto
( ) Ensino fundamental completo ( ) Ensino médio incompleto
( ) Ensino médio completo ( ) Ensino superior incompleto
( ) Ensino superior completo ( ) Pós-graduação
5) Qual é a renda total (aproximada) de sua família?
( ) Até um salário mínimo ( ) Entre 1 e 2 salários mínimos
( ) Entre 2 e 3 salários mínimos ( ) Acima de 3 salários mínimos
45
6) Em sua opinião, o bairro Santa Clara dispõe de estrutura como: saneamento básico,
transporte, escolas, creches?
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
7) Você desenvolve alguma atividade ligada à agricultura? Se sim, qual?
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
8) Para você é possível perceber atualmente, o fenômeno da valorização no bairro em
que mora?
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
9) Se responder sim na questão anterior, você acredita que a instalação e expansão da
UNIFAL – MG no bairro influencia essa valorização?
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
10) Vocês (moradores) recebem algum tipo de incentivo ou bolsa por parte do poder
público? Se sim, especifique qual.
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
OBRIGADA PELA COLABORAÇÃO!
46
7.2 - Questionário com comerciantes no bairro Santa Clara – Alfenas/MG:
Nome: ______________________________________________ Idade: ________
Naturalidade: _______________________ UF: ____________
1) Você reside e/ou trabalha no bairro Santa Clara?
______________________________________________________________
2) Se responder que reside, há quantos anos?
( ) Inferior a 5 anos ( ) Entre 5 e 10 anos
( ) Entre 10 e 20 anos ( ) acima de 20 anos
3) Qual é a sua escolaridade?
( ) Não frequentei a escola ( ) Ensino fundamental incompleto
( ) Ensino fundamental completo ( ) Ensino médio incompleto
( ) Ensino médio completo ( ) Ensino superior incompleto
( ) Ensino superior completo ( ) Pós-graduação
4) Qual a sua relação com o empreendimento em que trabalha?
( ) Proprietário ( ) Parente do proprietário ( ) Funcionário ( ) Outra
5) Qual é o principal público (moradores, estudantes, etc.) que o estabelecimento em que
você trabalha atende?
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
6) Em sua opinião, com a instalação e funcionamento do campus II da UNIFAL – MG no
bairro, o movimento e circulação de: pessoas, mercadorias, dinheiro, entre outros,
aumentaram?
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
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7) Você vê vantagens e/ou desvantagens, em relação à existência da Universidade no
bairro?
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
8) Para você é possível perceber atualmente, o fenômeno da valorização no bairro Santa
Clara?
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
9) Visando a expansão futura da universidade, há a pretensão de ampliar o local em que
você trabalha? Se responder sim, de que forma?
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
10) Você acha que o bairro oferece estrutura adequada para contribuir com o crescimento
e manutenção do “negócio” em que trabalha?
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
OBRIGADA PELA COLABORAÇÃO!