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Assinatura: · Nesta dissertação, estudamos um caso especial do seguinte teorema, devido a Marina Ratner (Capítulo 4): Teorema 1.1 (Teorema de Ratner de classificação de medidas)

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SERVIÇO DE PÓS-GRADUAÇÃO DO ICMC-USP

Data de Depósito:

Assinatura: ______________________

Thiago Rodrigo Ramos

Teoria ergódica em fluxos homogêneos e teoremas deRatner

Dissertação apresentada ao Instituto de CiênciasMatemáticas e de Computação – ICMC-USP,como parte dos requisitos para obtenção do títulode Mestre em Ciências – Matemática. VERSÃO

REVISADA

Área de Concentração: Matemática

Orientador: Prof. Dr. Daniel Smania Brandão

USP – São Carlos

Agosto de 2018

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Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Prof. Achille Bassi e Seção Técnica de Informática, ICMC/USP,

com os dados inseridos pelo(a) autor(a)

Bibliotecários responsáveis pela estrutura de catalogação da publicação de acordo com a AACR2: Gláucia Maria Saia Cristianini - CRB - 8/4938 Juliana de Souza Moraes - CRB - 8/6176

R175tRamos, Thiago Rodrigo Teoria ergódica em fluxos homogêneos e teoremasde Ratner / Thiago Rodrigo Ramos; orientador DanielSmania Brandão. -- São Carlos, 2018. 85 p.

Dissertação (Mestrado - Programa de Pós-Graduaçãoem Matemática) -- Instituto de Ciências Matemáticase de Computação, Universidade de São Paulo, 2018.

1. Teoria ergódica. 2. Espaços homogêneos. 3.Grupos de Lie. 4. Teoremas de Ratner. I. Brandão,Daniel Smania, orient. II. Título.

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Thiago Rodrigo Ramos

Ergodic theory on homogeneous flows and Ratner’stheorems

Master dissertation submitted to the Institute ofMathematics and Computer Sciences – ICMC-USP, inpartial fulfillment of the requirements for the degree ofthe Master Program in Mathematics. FINAL VERSION

Concentration Area: Mathematics

Advisor: Prof. Dr. Daniel Smania Brandão

USP – São Carlos

August 2018

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à Célia, Elias e Beatriz por serem minha família, mesmo eu

tendo perdido tantas festas ao longo dos anos.

Agradeço à todos os amigos que fizeram parte da minha jornada em São Carlos.

Também agradeço ao Professor Daniel Smania por todos esses anos como meu orienta-

dor, e por sempre servir como minha referência do que é ser um grande profissional.

Por fim, agradeço ao apoio financeiro da FAPESP (processo: 2016/01411-2), o qual foi

essencial para a conclusão deste trabalho.

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Em memória de Marina Ratner.

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RESUMO

RAMOS, T. R. Teoria ergódica em fluxos homogêneos e teoremas de Ratner. 2018. 85 p.Dissertação (Mestrado em Ciências – Matemática) – Instituto de Ciências Matemáticas e deComputação, Universidade de São Paulo, São Carlos – SP, 2018.

Neste trabalho, provamos um caso particular do Teorema de Ratner de classificação de medidas,

que nos diz que se X =Γ\G é um espaço homogêneo, onde G é um grupo de Lie e Γ é um lattice

de G, então dado um subgrupo unipotente U de G, conseguimos classificar as medidas ergódicas

com relação a ação por translação do grupo U em X .

Além do Teorema de Ratner de classificação de medidas, falamos sobre o Teorema de Ratner de

equidistribuição e o Teorema de Ratner do fecho da órbita, que nos dizem como são as órbitas

pela ação por translação do grupo U e como é sua dinâmica em X , do ponto de vista da Teoria

Ergódica.

Embora estes últimos resultados não sejam provados nesta dissertação, exibimos uma impor-

tante aplicação do Teorema de Ratner do fecho da órbita em teoria dos números, provando a

Conjectura de Oppeinheim, também conhecida como Teorema de Margullis.

Palavras-chave: Teoria Ergódica, Espaços Homogêneos, Grupos de Lie, Teoremas de Ratner.

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ABSTRACT

RAMOS, T. R. Ergodic theory on homogeneous flows and Ratner’s theorems. 2018. 85p. Dissertação (Mestrado em Ciências – Matemática) – Instituto de Ciências Matemáticas e deComputação, Universidade de São Paulo, São Carlos – SP, 2018.

In this work, we prove a particular case of the Ratner’s measure classification theorem, which

tell us that if X = Γ\G is an homogeneous space, where G is a Lie group and Γ is a lattice of

G, then given any unipotent group U of G, we can classify the measures that are ergodic with

respect to the translation group action of U in X

In addition to the Ratner’s measure classification theorem, we talk about the Ratner’s equidis-

tribuition theorem and the Ratner’s orbit closure theorem, which tell us how the orbit due the

action by translation by the group U are and how the dynamics in X is, in an Ergodic Theory

point of view.

While we didn’t prove the last two Ratner’s theorems, we exhibit an important application of

the Ratner’s orbit closure theorem in number theory, proving the Oppeinheim Conjecture, also

know as Margulli’s Theorem.

Keywords: Ergodic Theory, Homogeneous Spaces, Lie Groups, Ratner’s Theorems.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1

2 PRELIMINARES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

2.1 Grupos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

2.2 Grupos de Lie . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

2.3 Métrica invariante, Medida de Haar e Espaços Homogêneos . . . . 12

2.4 Teoria Ergódica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

3 FLUXOS UNIPOTENTES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

3.1 Motivação: Ações no toro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

3.2 Fluxos Unipotentes no toro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

3.3 Fluxos Unipotentes no Espaço Hiperbólico . . . . . . . . . . . . . . . 33

4 OS TEOREMAS DE RATNER . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

4.2 Teorema de Classificação para o grupo SL2(R): Ideia da prova . . . 41

4.3 Teorema de Classificação para o grupo SL2(R): Prova completa . . 42

5 ENTROPIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

5.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

5.2 Cálculo de Entropia em Espaços Homogêneos . . . . . . . . . . . . . 61

6 A CONJECTURA DE OPPENHEIM . . . . . . . . . . . . . . . . . 73

REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81

Índice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83

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1

CAPÍTULO

1

INTRODUÇÃO

Considere a translação no n-toro Tn = Zn\Rn dada por

Tv : Tn −→ Tn

x #−→ x+ v,

onde v ∈ Rn é um vetor fixado.

Sabemos que o fecho da órbita de todo ponto por Tv é um k-toro Tk com 0≤ k ≤ n. Além

disso, um resultado muito conhecido em Teoria Ergódica é que a translação Tv será ergódica em

seu fecho com respeito a medida de Lebesgue m e que a medida m é a única capaz de deixar a

translação Tv ergódica. Ou seja, no caso de uma translação no n-toro, conseguimos classificar a

órbita de todos os pontos e todas as medidas ergódicas com relação a Tv (Capítulo 2 e Capítulo

3).

Nesta dissertação, estudamos um caso especial do seguinte teorema, devido a Marina

Ratner (Capítulo 4):

Teorema 1.1 (Teorema de Ratner de classificação de medidas). Seja G um grupo de Lie,

Γ < G um lattice, U < G um subgrupo conexo gerado por elementos unipotentes e µ uma

medida de probabilidade em X = Γ\G que seja ergódica com relação à ação de U em G.

Então, existe x ∈ X e um subgrupo fechado H de G com U ≤ H ≤ G, tal que o suporte de

µ é o conjunto xH.

Note que este teorema nos diz que, de forma semelhante ao caso da translação no toro,

se X = Γ\G, onde G é um grupo de Lie, Γ é um lattice de G e U é um grupo unipotente qualquer

de G, então também conseguimos classificar as medidas ergódicas com relação a ação do grupo

U em X por translação.

Além do Teorema de Ratner de classificação de medidas, falamos brevemente sobre

outros dois resultados ligados a Marina Ratner, que em certo sentido, também generalizam a

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2 Capítulo 1. Introdução

dinâmica da translação Tv no toro. Estes são o Teorema de Ratner do fecho da órbita — que nos

diz como é o fecho de uma órbita pela ação por traslação de um grupo unipotente em X — e o

Teorema de Ratner da equidistribuição — que nos diz como um fluxo unipotente se comporta

em seu fecho.

O caso especial que provamo do Teorema de Ratner de classificação de medidas acon-

tece quando o grupo de Lie dado é G = SL2(R) e o subgrupo unipotente de G é

U =

{[

1 t

0 1

]

| t ∈ R

}

.

Esse caso específico é importante porque, além de utilizar em sua demonstração (Capí-

tulo 4 e Capítulo 5) ideias importantes da prova no caso geral, também capta um comportamento

geométrico importante do fibrado tangente unitário do espaço Hiperbólico (Capítulo 3 ).

A primeira parte da demonstração do Teorema de Ratner de classificação de medidas

no caso G = SL2(R) foi baseada em (STARKOV, 2000). Porém, para a demonstração de um

dos resultados finais, seguimos o argumento dado em (MARGULIS; TOMANOV, 1994), que

se baseia num cálculo de entropia em espaços homogêneos (Capítulo 5). Apesar dessa esco-

lha deixar a demonstração do teorema um pouco mais técnica, optamos em fazer dessa forma

porque esse é o argumento utilizado para a demonstração do caso geral do teorema. Caso o

leitor prefira evitar o argumento via cálculo de entropia, recomendamos a leitura do Lema 16.6

de (STARKOV, 2000). Além disso, caso o leitor queira ter uma ideia da prova no caso geral,

recomendamos (MORRIS, 2005).

Finalizamos nosso trabalho com uma importante aplicação do Teorema de Ratner do

fecho da órbita em teoria dos números, provando o Teorema de Margullis (Capítulo 6), que nos

diz o seguinte:

Teorema 1.2 (Conjectura de Oppenheim - Teorema de Margulis). Seja Q uma forma qua-

drática real, indefinida, não degenerada com n≥ 3 variáveis. Se Q não é um múltiplo escalar

de uma forma com coeficientes inteiros, então Q(Zn) é denso em R.

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3

CAPÍTULO

2

PRELIMINARES

2.1 Grupos

Definição 2.1. O par (G, · ), onde G é um conjunto e · é uma operação binária, define um

grupo se:

1. Para todos elementos a,b ∈ G, temos que a ·b ∈ G.

2. Para todos elementos a,b,c ∈ G, temos que (a ·b) · c = a · (b · c).

3. Existe um elemento e ∈ G tal que e · a = a · e = a para todo elemento a ∈ G. Chamamos

tal elemento e de elemento neutro.

4. Para todo elemento a ∈ G, existe um elemento a−1 tal que a ·a−1 = e.

Observação 2.2. Frequentemente vamos omitir o sinal da operação binária de um grupo G e

escreveremos a operação entre elementos a,b ∈ G simplesmente como

a ·b := ab.

Definição 2.3. Um grupo G é abeliano se para todos elementos a,b ∈ G temos que ab = ba.

Alguns exemplos clássicos de grupos são: os grupos abelianos Rn, Zn e Cn com a opera-

ção usual de soma; os grupos abelianos R\{0} e C\{0} com a operação usual de multiplicação;

qualquer espaço vetorial V com sua operação binária de espaço vetorial. Outro grupo que nos

será importante é o seguinte:

Exemplo 2.4. O conjunto

GLn(R) = {M ∈ Matn×n(R) | det(M) = 0}

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4 Capítulo 2. Preliminares

com a operação de multiplicação é um grupo não abeliano.

Note que o item i da Definição 2.1 é satisfeito pois se A,B ∈ GLn(R) então como

det(A ·B) = det(A)det(B) = 0,

temos que A ·B ∈ GLn(R). Além disso, tomando e como a matriz identidade e dada uma matriz

A ∈ GLn(R) tomando A−1 como a matriz inversa de A, que existe já que det(A) = 0, então os

itens ii, iii e iv são satisfeitos.

Definição 2.5. Seja H um subconjunto de um grupo G. Então H é um subgrupo de G se para

todos elementos a,b ∈ H, temos que

a ·b−1 ∈ H.

Exemplo 2.6. O conjunto

SLn(R) = {M ∈ Matn×n(R) | det(M) = 1},

com a operação de multiplicação é um subgrupo de GLn(R).

Note que dadas matrizes A,B ∈ SLn(R), como

det(A ·B−1) = det(A)det(B−1) = 1 ·1 = 1,

então SLn(R) é subgrupo de GLn(R).

Definição 2.7. Seja H um subgrupo de um grupo G, uma classe lateral à direita de H em G é

um conjunto da forma

Hg = {hg | h ∈ H},

onde g ∈ G.

Definimos então o quociente H\G de G por H como sendo o conjunto de todas as classes

laterias à direita de H em G, isto é

H\G = {Hg | g ∈ G}.

Observação 2.8. Analogamente, poderíamos ter definido classes laterias à esquerda como

gH = {gh | h ∈ H},

onde g ∈ G e o quociente de G por H por

G/H = {Hg | g ∈ G}.

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2.1. Grupos 5

Definição 2.9. Definimos o n-toro Tn = Zn\Rn como sendo o conjunto das classes laterais à

direita de Zn em Rn com a topologia do quociente induzida pela topologia usual de Rn, isto é,

Tn = Zn\Rn = {Zn + x | x ∈ Rn}.

Observação 2.10. Note que dado um elemento y ∈ Tn, existe um único x ∈ [0,1)n ⊂ Rn tal

que y = Zn + x ∈ Tn. Chamamos [0,1)n de um domínio fundamental para o toro Tn. Uma

definição mais geral de um domínio fundamental será dada na Seção 2.3.

Pela Observação 2.10, temos que [0,1) é um domínio fundamental para o toro T1 (ou

simplesmente T). Note que, identificando os pontos em T por pontos em [0,1), então T nada

mais é uma representação de um círculo. Portanto, com frequência vamos nos referir à T como

o círculo dado pelos pontos da forma x (mod 1), com x ∈ R.

0 1

PSfrag replacements −→ −→

T

Proposição 2.11. Dado um subgrupo H de um grupo G, são equivalentes:

1. Para todo g ∈ G, temos que gHg−1 ⊂ H.

2. Para todo g ∈ G., temos que gHg−1 = H.

3. Para todo g ∈ G.,temos que gH = Hg.

Se H é um subgrupo de G que satisfaz um desses itens, dizemos que H é normal em G

e denotamos por H ▹G.

Exemplo 2.12. O subgrupo Zn ≤Rn é normal em Rn com a operação da adição, pois como Rn

é abeliano, para todo x ∈ Rn temos que

x+Zn − x = Zn + x− x = Zn.

Exemplo 2.13. O subgrupo SLn(R) ≤ GLn(R) é normal em GLn(R), pois dada uma matriz

qualquer A ∈ GLn(R), temos que

det(A ·SLn(R) ·A−1) = det(A)det(SLn(R))det(A−1) = det(A) ·1 ·det(A)−1 = 1

e portanto

A ·SLn(R) ·A−1 ⊂ SLn(R).

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6 Capítulo 2. Preliminares

Proposição 2.14. Seja H um subgrupo normal de G, então o quociente H\G é um grupo.

Demonstração. Defina o elemento neutro de H\G por He =H e dado um elemento Ha ∈ H\G,

defina seu elemento inverso por Ha−1.

Note que dados elementos Ha,Hb ∈ H\G, como H ▹G, então

- De fato a operação a multiplicação está bem definida, pois HaHb = H(aH)b = HHab =

Hab.

- Temos que He é um elemento neutro, pois HaHe = HeHa = HHea = HHae = Ha.

- Além disso, Ha−1 é elemento inverso de Ha pois, HaHa−1 = H(aH)a−1 = HHaa−1 =

H = He.

Logo, a operação binária em H\G dada por HaHb = Hab está bem definida e portanto H\G é

um grupo.

Corolário 2.15. O n-toro Tn definido em 2.9 é um grupo abeliano.

Demonstração. Basta notar que Zn é normal em Rn.

Definição 2.16. Sejam H e G dois grupos. Uma função f : G → H é um homomorfismo de

grupos se para todos elementos a,b ∈ G, temos que

f (ab) = f (a) f (b).

Definição 2.17. Dado um homomorfismo f : G → H, o núcleo do homomorfismo f é o

subgrupo normal em G dado por

ker( f ) := {g ∈ G | f (g) = eH}≤ G,

onde eh é o elementos neutro o grupo H.

Definição 2.18. Sejam H e G dois grupos. Uma função f : G → H é um isomomorfismo de

grupos se f é um homomorfismo sobrejetor e

ker( f ) := {g ∈ G | f (g) = eH}= {eg},

onde eg é o elemento neutro do grupo G. Denotamos o fato de existir um isomorfismo entre os

grupos G e H por G ∼= H e dizemos que o grupo G é isomorfo ao grupo H.

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2.1. Grupos 7

Teorema 2.19 (Primeiro Teorema do Isomorfismo). Seja f : G → H um homomorfismo de

grupos, então

ker( f )\G ∼= f (G).

Demonstração. Primeiramente, como f é um homomorfismo, temos que f (G) é um grupo.

Agora, como ker( f )▹G, note que

f : ker( f )\G −→ f (G)

ker( f ) ·g #−→ f (ker( f )g) = f (g)

é um isomorfismo de grupos.

Exemplo 2.20. Considere o seguinte homomorfismo:

det : (GLn(R), · ) −→ (R\{0}, · )M #−→ det(M).

Note que ker(det) = SLn(R) já que 1 é o elemento neutro do grupo multiplicativo (R\{0}, · ).Temos então, pelo Primeiro Teorema do Isomorfismo, que

SLn(R)\GLn(R)∼= R\{0}.

Definição 2.21. Sejam G um grupo e X um conjunto, uma ação do grupo G em X é uma

função f : G×X → X que satisfaz as seguintes propriedades

i) Para todo x ∈ X temos que f (eG,x) = x, onde eG é o elemento neutro do

grupo G.

ii) Para todo g,h ∈ G e x ∈ X , temos que f (h, f (g,x)) = f (hg,x).

Exemplo 2.22. Considere o conjunto X = Rn e o grupo G = GLn(R) com a operação de

multiplicação de matrizes, então a função

f : GLn(R)×Rn −→ Rn

(M,x) #−→ Mx

define uma ação de grupos.

Exemplo 2.23. Considere um grupo G e H ≤ G um subgrupo de G e X = H\G o quociente de

G por H. Então a função

f : G×X −→ H\G

(a,Hb) #−→ Hba

define uma ação do grupo G em X .

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8 Capítulo 2. Preliminares

2.2 Grupos de Lie

Nesta seção, nós vamos explicar o que são grupos de Lie e introduzir alguns resultados

e definições importantes. O leitor pode procurar mais detalhes em (ARVANITOGEORGOS,

2003) e (HALL, 2015).

Definição 2.24. Seja G uma variedade suave. Dizemos que G é um grupo de Lie se:

i) G é um grupo.

ii) A multiplicação (g1,g2) #−→ g1 ·g2 e a operação de tomar inverso g #−→ g−1 são suaves.

Exemplo 2.25. Alguns exemplos de grupos de Lie, são:

1. Rn, Zn, Cn com a adição.

2. R\{0}, C\{0} com a multiplicação.

3. O círculo T1 = R/Z com a adição.

4. Se G e H são grupos de Lie, então o produto G×H também é um grupo de Lie e portanto,

5. O n-toro T n = T1 ×T1 × · · ·T1 com a operação da adição é um grupo de Lie.

Observação 2.26. Note que podemos ter um grupo de Lie H com dim(H) = 0, como é o caso

de Zn.

Teorema 2.27 (Teorema do subgrupo fechado). Se H é um subgrupo fechado de um grupo de

Lie G, então H é um grupo de Lie.

Demonstração. Ver Teorema 15.29 em (LEE, 2012).

Proposição 2.28. O grupo

GLn(R) = {M ∈ Matn×n(R) | det(M) = 0}

com a multiplicação de matrizes é um grupo de Lie.

Demonstração. Note que GLn(R) é um subconjunto da variedade suave Rn2, já que GLn(R)⊂

Matn×n(R)∼= Rn2. Como a função determinante det : Matn×n(R)→ R é contínua, já que é um

polinômio em n2 coordenadas, temos que o conjunto GLn(R) é aberto em Rn2pois

GLn(R) = det −1{(−∞,0)∪ (0,∞)}

e portanto GLn(R) é uma variedade suave.

Agora, dadas as matrizes A,B ∈ GLn(R), note que as entradas da matriz AB são polinômios

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2.2. Grupos de Lie 9

definidos pelas entradas das matrizes A e B, logo a multiplicação de matrizes em GLn(R) é

suave.

Só nos falta mostrar que dada a matriz A ∈ GLn(R), a operação de inversão A #→ A−1 também é

suave. Mas sabemos que se A−1 = (a′i j), então

a′i j =(−1)i+ j det(Ai j)

det(A),

onde Ai j é a matriz (n− 1)× (n− 1) obtida excluindo a i-ésima coluna e a j-ésima linha da

matriz A. Logo, as entradas da matriz A−1 são polinômios definidos pelas entradas da matriz A,

ou seja, a inversão também é suave e portanto GLn(R) é grupo de Lie.

Corolário 2.29. Todo subgrupo fechado de GLn(R) é um grupo de Lie.

Demonstração. Como GLn(R) é grupo de Lie, basta utilizar o Teorema 2.27.

Como praticamente todos os exemplos que utilizaremos ao longo do nosso trabalho

serão dados por grupos de matrizes, o corolário anterior é de grande importância, pois para

mostrar que um grupo de matrizes é um grupo de Lie, é suficiente mostrar que este grupo é

fechado em GLn(R).

Exemplo 2.30. O grupo

SLn(R) = {M ∈ GLn×n(R) | det(M) = 1}

é um grupo de Lie já que o determinante é uma função contínua e SLn(R) = det−1({0}), isto

é, SLn(R) é a imagem inversa de um conjunto fechado por uma função contínua e portanto é

fechado em GLn(R).

Exemplo 2.31. O grupo

On(R) = {M ∈ GLn×n(R) | M−1 = Mt}

é um grupo de Lie, já que considerando a função contínua

f : GLn(R) −→ Matn×n(R)

M #−→ M−1 −Mt

temos que On(R) = f−1({0}), ou seja, On(R) também é a imagem inversa de um conjunto

fechado por um função contínua, logo é fechado em GLn(R).

Definição 2.32. Definimos a transformação exponencial em Matn×n(R) como:

exp : Matn×n(R) −→ Matn×n(R)

M #−→∞

∑n=0

Mn

n!.

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10 Capítulo 2. Preliminares

Proposição 2.33. Dados M,N ∈ Matn×n(C), valem as seguintes propriedades:

i) exp(0) = In.

ii) det(exp(M)) = 0.

iii) exp((a+b)M) = exp(aM)exp(bM), para quaisquer a,b ∈ R.

iv) Se N ·M = M ·N então exp(M+N) = exp(M) · exp(N) = exp(N) · exp(M).

v) Se det(N) = 0, então exp(N ·M ·N−1) = N · exp(M) ·N−1.

vi) ∥exp(M)∥ ≤ exp(∥M∥), com a métria dada por ∥M∥= sup|x|=1 |Mx|.

vii)d

dtexp(tM) = exp(tM) ·M.

viii) det(exp(M)) = exp(tr(M)), onde tr(x) representa o traço da matriz M.

ix) exp(M)t = exp(MT ), onde MT é a transposta de M.

Proposição 2.34. Seja G um subgrupo fechado de GLn(R) e denote por g o espaço tangente à

G na identidade In. Então temos que:

g= {M ∈ Matn×n(R) | exp(tM) ∈ G,∀t ∈ R}.

Além disso, se M,N ∈ g então

[M,N] := M ·N −N ·M ∈ g.

Demonstração. Ver Teorema 3.20 em (HALL, 2015).

Com essa proposição, podemos definir:

Definição 2.35. Seja G um subgrupo fechado de GLn(R). Definimos a álgebra de Lie de G

como sendo o par ( g, [·, ·] ) com

g= {M ∈ Matn×n(R) | exp(tM) ∈ G,∀t ∈ R}

e [M,N] = M ·N −N ·M.

Definição 2.36. Seja g a álgebra de Lie de algum grupo G e h um subespaço vetorial de g.

Dizemos que h é uma sub-álgebra de Lie de g se [M,N] ∈ h para todos M,N ∈ h.

Dado um grupo de Lie G com sua respectiva álgebra de Lie g, existe uma correspondên-

cia importante entre os subgrupos de Lie H ≤ G e as subálgebras de Lie de g.

A seguir, enunciamos três teoremas que exibem essa correspondência entre grupos de Lie e álge-

bras de Lie. Mais informações sobre estes resultados podem ser encontradas em (ARVANITOGEORGOS,

2003), na página 21.

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2.2. Grupos de Lie 11

Teorema 2.37. Seja G um grupo de Lie com g sua álgebra de Lie e seja H subgrupo de Lie de

G de tal forma que h é sua álgebra de Lie, então h é uma sub-álgebra de Lie de g.

Teorema 2.38. Seja G um grupo de Lie com g sua álgebra de Lie e seja h uma sub-álgebra de

Lie de g, então existe um único subgrupo de Lie conexo H de G de tal forma que h é a álgebra

de Lie de H.

Teorema 2.39. Sejam G,H grupos de Lie com álgebras de Lie g e h respectivamente. Se existe

um isomorfismo entre g e h que preserva a operação [·, ·] da álgebra de Lie, então G e H são

localmente isomorfos. Além disso, se G e H são simplesmente conexos, então G é isomorfo à

H.

Exemplo 2.40. Vamos calcular a álgebra de Lie gln(R) do grupo

GLn(R) = {M ∈ Matn×n(R) | det(M) = 0}.

Temos que M ∈ gln(R) se, e só se:

det(exp(t ·M)) = 0, ∀t ∈ R.

Mas pelo item ii da Proposição 2.33, isso é sempre verdade, portanto

gln(R) = Matn×n(R).

O exemplo anterior nos diz que o espaço vetorial

gln(R) = Matn×n(R)

é a álgebra de Lie do grupo GLn(R). Considere então o subespaço vetorial V de g dado por

V = {M ∈ Matn×n(R) | tr(M) = 0}.

Sabemos que a função traço tr satisfaz

tr(AB) = tr(BA), ∀A,B ∈ Matn×n(R),

tr(A+B) = tr(A)+ tr(B), ∀A,B ∈ Matn×n(R).

Logo, se A,B são elementos do espaço vetorial V , então

tr([A,B]) = tr(AB−BA) = tr(AB)− tr(BA) = 0.

Isso quer dizer que, se A,B ∈ V então [A,B] ∈ V e portanto V é uma subálgebra de Lie de g.

Mas então, pelo Teorema 2.38, deve existir um subgrupo de Lie conexo H ≤ G do grupo de Lie

GLn(R), de tal forma que V é a álgebra de Lie do grupo H.

Explicitamos o grupo H no seguinte exemplo.

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12 Capítulo 2. Preliminares

Exemplo 2.41. Vamos calcular a álgebra de Lie sln(R) do grupo

SLn(R) = {M ∈ GLn×n(R) | det(M) = 1}.

Temos que M ∈ sln(R) se, e só se,

det(exp(t ·M)) = 1, ∀t ∈ R.

Pelo item viii) da Proposição 2.33, temos que

det(exp(t ·M)) = 1, ∀t ∈ R ⇔ exp(tr(t ·M)) = 1, ∀t ∈ R

e logo, devemos ter que tr(M) = 0, ou seja:

sln(R) = {M ∈ Matn×n(R) | tr(M) = 0}.

2.3 Métrica invariante, Medida de Haar e Espaços Ho-

mogêneos

Para mais detalhes sobre os resultados exibidos nesta seção, recomendamos a leitura da

seção 9.3 em (EINSIEDLER; WARD, 2010).

Proposição 2.42. Se G é um subgrupo de Lie de GLn(R), então existe uma métrica dG : G×G →R tal que

dG(ga,gb) = dG(a,b), ∀a,b,g ∈ G

e a topologia induzida pela métrica dG é equivalente à topologia induzida pela norma euclidiana

se considerarmos G ≤ GLn(R) ⊂ Matn×n(R) ∼= Rn2como um subespaço topológico de Rn2

.

Chamamos a métrica dg de métrica invariante pela esquerda.

Definição 2.43. Um subgrupo Γ ≤ G de um grupo de Lie G ≤ GLn(R) é discreto, se dado um

elemento γ ∈ Γ, existe um raio r := r(γ)> 0 tal que a bola

BGr = {g ∈ G|dG(g,eG)< r}

intercepta o subgrupo Γ apenas em γ , isto é

Γ∩BGr = {γ}.

Observação 2.44. Note que se Γ é um subgrupo discreto de G, então dadas duas sequências(γn)

e (γ ′n) de elementos de Γ tal que

limn→+∞

dG(γn,γ′n) = 0

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2.3. Métrica invariante, Medida de Haar e Espaços Homogêneos 13

temos, pela invariância da métrica dG, que

limn→+∞

dG(eG,γ−1n γ ′n) = 0.

Portanto, como Γ é discreto, existe n0 ∈ N tal que se n > n0 então γn = γ ′n. Ou seja, deve existir

uma constante α > 0, tal que para todos elementos γ1,γ2 ∈ Γ vale

dG(γ1,γ2)> α,

isto é, existe uma distância mínima α > 0 entre os elementos de Γ.

Proposição 2.45. Seja G ≤ GLn(R) um grupo de Lie e Γ ≤ G um subgrupo fechado e discreto

de G. Então a função dX : X ×X → R, onde X = Γ\G, dada por

dX(Γg1,Γg2) = infγ1,γ2∈Γ

dG(γ1g1,γ2g2) = infγ∈Γ

dG(g1,γg2)

define uma métrica no quociente X do grupo G por Γ.

Proposição 2.46. Seja G ≤ GLn(R) um grupo de Lie e Γ ≤ G um subgrupo discreto de G.

Definindo o conjunto

BXr (x) = {y ∈ X |dX(x,y)< r},

temos que para qualquer x ∈ X = Γ\G, existe r(x)> 0 tal que a transformação

T : BGr −→ BX

r (x)

g #−→ xg

é uma isometria. Além disso, se o quociente X for compacto, então podemos escolher r > 0, tal

que r(x) = r para todo x ∈ X .

Demonstração. Considere x = Γh ∈ X e suponha que g1,g2 ∈ BGr0

para algum r0 > 0. Suponha

que γ ∈ Γ é tal que

dG(g1,h−1γhg2)≤ dG(g1,h

−1eghg2)≤ dG(g1,g2)≤ 2r0

então, temos que

dG(eG,h−1γhg2)≤ dG(g1,h

−1γhg2)+dG(eG,g1)≤ 2r0+ r0 = 3r0

e logo,

dG(h−1γh,eG)≤ dG(h

−1γh,g−12 )+dG(g

−12 ,eG)≤ 4r0.

Note que h−1Γh também é subgrupo discreto de G, portanto deve existir r := r(h) > 0 tal que

se dG(h−1γh,eG)< r então h−1γh = eg, ou seja, γ = eg. Concluímos então que se r0 < r então

dX(Γhg1,Γhg2) = infγ∈Γ

dG(hg1,γhg2) = dX(hg1,eGhg2) = dG(g1,g2).

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14 Capítulo 2. Preliminares

Observação 2.47. A proposição anterior nos diz que o espaço métrico X = Γ\G localmente

se parece com o grupo G. Note que o conjunto X possui uma estrutura topológica dada pela

métrica induzida dX , porém não necessariamente possui uma estrutura de grupo de Lie. De fato,

como vimos na seção sobre grupos, o conjunto X será um grupo apenas se Γ for um subgrupo

normal de G. No caso em que H não é normal em G, temos a seguinte propriedade.

Proposição 2.48. Seja Γ um subgrupo discreto de um grupo de Lie G ≤ GLn(R). O quociente

X = Γ\G é uma variedade topológica de dimensão dim(G) e possui uma única estrutura suave

tal que a projeção π : G → X é uma submersão suave. Dizemos que o quociente X = Γ\G é um

espaço homogêneo.

Definição 2.49. Dizemos que G é um grupo topológico, se

1. G é um grupo.

2. A multiplicação (g1,g2) #−→ g1 · g2 e a operação de tomar inverso g #−→ g−1 são contí-

nuas.

Teorema 2.50 (Teorema de Haar). Seja G um grupo topológico, metrizável e localmente com-

pacto. Então existe uma medida de Borel mG, que chamaremos de Medida de Haar de G,

satisfazendo:

1. A medida mG é invariante pela esquerda, isto é, mG(gA) = mG(A) para todo conjunto

Boreliano A e todo elemento g ∈ G.

2. Temos que mG(K)< ∞ para qualquer compacto K ⊂ G.

3. Temos que mG(O)> 0 para qualquer conjunto aberto O ⊂ G.

4. A medida mG é única a menos de multiplicação por escalares.

Demonstração. Ver Seção 8.3 em (EINSIEDLER; WARD, 2010).

Definição 2.51. Seja G um grupo de Lie com medida de Haar mG e Γ ≤ G um subgrupo de G

agindo sobre G por translação . Um domínio fundamental para a ação do subgrupo Γ em G, é

um conjunto mensurável F ⊂ G tal que

1. ΓF = G.

2. Dado qualquer elemento γ ∈ Γ com γ = eG, temos que mG(γF ∩F) = 0.

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2.3. Métrica invariante, Medida de Haar e Espaços Homogêneos 15

Definição 2.52. Seja G um grupo de Lie com medida de Haar µG e Γ≤G um subgrupo discreto

de G. Dizemos que Γ é um lattice em G se existe um domínio fundamental F para o subgrupo

Γ em G tal que mG(F)< ∞.

Exemplo 2.53. Como já vimos na Seção 2.1 sobre grupos, se I = [0,1) então o conjunto

F = In é um domínio fundamental para a ação do subgrupo Zn de Rn, isto é, F é um domínio

fundamental para o toro Tn.

Note que devemos ter cuidado com a escolha do intervalo I na construção do domínio

fundamental F . Por exemplo, se I = [0,1/2) então Zn +F = Rn. Além disso, se, por exemplo,

I = [0,2) então, como 1 ∈ Z, temos que m((1+F)∩F) = 0, onde m é a medida de Lebesgue.

Teorema 2.54. Seja G ≤ GLn(R) um grupo de Lie com medida de Haar mG e Γ ≤ G um lattice

em G. Se F1,F2 são domínios fundamentais para Γ em G, então

mG(F1) = mG(F2).

Demonstração. Suponha que F1,F2 são domínios fundamentais para Γ em G. Temos então que

F1 = ΓF2 ∩F1,

F2 = ΓF1 ∩F2.

Agora, dado γ ∈ Γ, é claro que

γ−1(F1 ∩ γF2) = F2 ∩ γ−1F1.

Portanto, como a medida de Haar mG é invariante à esquerda

mG(F1) = ∑γ∈Γ

mG(F1 ∩ γF2) = ∑γ∈Γ

mG(γ−1F1 ∩ γF2)

= ∑γ∈Γ

mG(F2 ∩ γ−1F1) = mG(F2).

Definição 2.55. Seja G≤GLn(R) um grupo de Lie com medida de Haar mG e Γ ≤G um lattice

em G com domínio fundamental F . Se X é o espaço homogêneo X = Γ\G, então a medida de

Haar mG induz uma medida mX finita em X dada por

mX(B) = mG(π−1(B)∩F),

onde B ⊂ G é um conjunto mensurável e π é a projeção

π : G −→ Γ\G

g #−→ Γg.

Observação 2.56. Na proposição anterior, utilizamos a medida de Haar de um grupo G para

induzir uma medida mX no espaço homogêneo X = Γ\G. Devido a este fato, vamos nos referir

a medida mX como medida a medida de Haar do espaço Homogêneo X , mesmo quando o

quociente X não for um grupo.

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16 Capítulo 2. Preliminares

2.4 Teoria Ergódica

Neste capítulo vamos introduzir alguns fatos e definições sobre Teoria Ergódica que

serão fundamentais ao longo do nosso trabalho. Para isso, assumiremos que o leitor esteja fami-

liarizado com Teoria da Medida. Recomendamos a leitura de (BARTLE, 2014) e (FOLLAND,

2013) para mais detalhes sobre os tópicos de Teoria da Medida, e para maiores detalhes so-

bre os tópicos de Teoria Ergódica recomendamos os textos (EINSIEDLER; WARD, 2010),

(DAJANI; DIRKSIN, 2008) e (VIANA; OLIVEIRA, 2016).

Definição 2.57. Dado um espaço mensurável (X ,B,µ), onde B é uma σ -álgebra do conjunto

X e µ é uma medida, dizemos que µ é uma probabilidade se µ(X) = 1.

Observação 2.58. Note que, se (X ,B,µ) é um espaço de medida com µ(X) < ∞, então a

medida induzida ν , dada por:

ν(A) =µ(A)

µ(X), com A conjunto mensurável

é uma probabilidade. Portanto, tomando a normalização acima, podemos supor que qualquer

medida finita é uma probabilidade.

Definição 2.59. Seja (X ,B,µ) um espaço de medida e A ⊂ X um conjunto B- mensurável.

Definimos a função característica 1A : X −→ R do conjunto mensurável A, como

1A(x) =

{

1, se x ∈ A

0, se x ∈ A.

Definição 2.60. Seja (X ,B,µ) um espaço de probabilidade e seja T : X → X uma transforma-

ção mensurável. Dizemos que T é µ-invariante (ou ainda que T preserva µ ou µ é invariante

por T ) se para todo conjunto B-mensurável A ⊂ X

µ(A) = µ(T−1(A)).

Exemplo 2.61. Seja o círculo T com a medida de Lebesgue m induzida da reta. Então a rotação

Tα : T−→ T

x #−→ x+α (mod 1)

deixa m invariante.

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2.4. Teoria Ergódica 17

PSfrag replacements

T

Tα(A)

α

Definição 2.62. Dada uma transformação T : X → X e x ∈ X , definimos a órbita O de x por T

como:

O(x) = {T n(x) | n ∈ N}.

Exemplo 2.63. Considere a rotação Tα(x) = x+α (mod 1) no círculo T. Então a órbita do

ponto x = 0 é o conjunto {n ·α (mod 1)| n ∈ N}.

Teorema 2.64 (Teorema de Recorrência de Poincaré). Seja (X ,B,µ) um espaço de proba-

bilidade e T : X → X uma transformação mensurável que preserva µ . Se A é um conjunto

B-mensurável com µ(A)> 0 então temos que para quase todo ponto x ∈ A

{T n(x) | n ∈ N}∩A = /0.

Demonstração. Basta mostrar que o seguinte conjunto tem medida nula:

A0 = {x em A tal que nenhum iterado de x volta para A}

= X\

(

n∈NT−n(A)

)

.

Note que se T−n(A0)∩T−m(A0) = /0, m > n ≥ 1 então podemos tomar

x ∈ T−n(A0)∩T−mA0 de tal forma que y = T n(x) ∈ A0 e

T m−n(y) = T m−nT n(x) = T m(x).

Mas então temos que

y ∈ A0 e T m−n(y) ∈ A0,

contrariando a definição de A0, ou seja, concluímos que as pré-imagens T−n(A0) são disjuntas.

Portanto, utilizando os fatos de que as pré-imagens são disjuntas, T preserva µ e µ é finita (pois

estamos num espaço de probabilidade), temos que

µ(∞⋃

n=0

T−n(A0)) =∞

∑n=0

µ(T−n(A0)) =∞

∑n=0

µ(A0).

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18 Capítulo 2. Preliminares

Como

µ(∞⋃

n=0

T−n(A0))< ∞,

é claro que µ(A0) = 0.

Note que sob as mesmas hipóteses do Teorema de Poincaré 2.64, podemos mostrar que

se x ∈ A então não apenas um, mas infinitos iterados de x devem voltar para A. Ou seja,

#{T n(x) | n ∈ N}∩A = ∞,

onde #B representa a cardinalidade do conjunto B.

Observação 2.65. Note que se retirarmos a hipótese de µ ser finita, a conclusão do teorema

pode não ser válida, pois basta considerar X = R com a medida de Lebesgue m na reta. En-

tão temos que a transformação T (x) = x+ 1 preserva m, mas se A é um conjunto mensurável

limitado, então para todo x ∈ X :

#{T n(x) | n ∈ N}∩A < ∞.

Teorema 2.66 (Teorema Ergódico de Birkhoff). Seja (X ,B,µ) um espaço de probabilidade,

f : X → R uma função µ-integrável e T : X → X uma transformação que preserva µ . Então, o

limite

f (x) = limn→+∞

1n

n−1

∑i=0

f (T i(x))

existe para µ quase todo ponto. Além disso, f é uma função µ-integrável satisfazendo∫

f dµ =∫

f dµ

e também

f ◦T = f .

Demonstração. Ver (KATZNELSON; WEISS, 1982).

Utilizando o Teorema Ergódico de Birkhoff, podemos definir o conceito de ergodicidade

da seguinte forma:

Definição 2.67. Seja (X ,B,µ) um espaço de probabilidade e seja T : X → X uma transforma-

ção mensurável que preserva µ . Dizemos que T é ergódica com relação à medida µ (ou então

que T é µ-ergódica) se dado f uma função µ-integrável, para quase todo ponto x ∈ X temos

que

limn→+∞

1n

n−1

∑i=0

f (T i(x)) =∫

f dµ. (2.68)

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2.4. Teoria Ergódica 19

Observação 2.69. Considere f como a função característica de um conjunto mensurável A.

Temos então que, se T é ergódica com relação a medida µ

limn→+∞

1n

n−1

∑i=0

1A(Ti(x)) =

1Adµ = µ(A),

ou seja

limn→+∞

1n

n−1

∑i=0

1A(Ti(x)) = µ(A).

Agora, note que fixado i ∈ N, temos que

1A(T i(x)) = 0 se T i(x) ∈ A

1A(T i(x)) = 1 se T i(x) ∈ A

e portanto,

limn→+∞

1n

n−1

∑i=0

1A(Ti(x)) = lim

n→+∞

1n

#{i ∈ N | i ≤ n−1 e T i(x) ∈ A}= µ(A).

Ou seja, no caso específico de f ser a função característica de um conjunto mensurável A, dizer

que T é µ-ergódica implica que para quase todo ponto x ∈ X , a frequência com que os iterados

de x visitam A é igual à medida de A.

Corolário 2.70. Considere o espaço de probabilidade (X ,B,µ) onde X tem uma estrutura

topológica, B é a σ -álgebra de Borel do espaço topológico X e µ é uma medida em B tal que

para todo aberto U ⊂ X , temos que µ(U) > 0. Se T é µ-ergódica, então para quase todo x, a

órbita O(x) de x é densa em X .

Demonstração. Dado qualquer aberto A ⊂ X , temos que

limn→+∞

1n

n−1

∑i=0

1A(Ti(x)) = µ(A) > 0.

Logo, existe i ∈ N tal que T i(x) ∈ A.

A seguir, vamos demonstrar algumas equivalências da definição de ergodicidade que

nos serão úteis.

Definição 2.71. Considere o espaço de probabilidade (X ,B,µ) e T : X → X uma transforma-

ção mensurável. Dizemos que um subconjunto mensurável A ⊂ X é

T -invariante se T−1(A) = A.

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20 Capítulo 2. Preliminares

Definição 2.72. Considere o espaço de probabilidade (X ,B,µ) e T : X → X uma transforma-

ção mensurável. Dizemos que uma função µ-integrável é T -invariante se f ◦T = f .

Proposição 2.73. Considere o espaço de probabilidade (X ,B,µ) e T : X → X uma transfor-

mação µ-invariante. São equivalentes:

i) T é µ-ergódica.

ii) Se A é um conjunto mensurável T -invariante, então µ(A) = 0 ou µ(A) = 1.

iii) Se f é uma função µ-integrável T -invariante, então f é constante num conjunto de medida

total.

Demonstração. (i→ ii)Considere f = 1A, com A um subconjunto mensurável invariante. Como

por hipótese, T é ergódica, pela Definição 2.67

limn→+∞

1n

n−1

∑i=0

1A(Ti(x)) = µ(A).

Como A é invariante temos x ∈ A se, e só se, T (x) ∈ A, ou seja, 1A(x) = 1A(T i(x)). Logo,

limn→+∞

1n

n−1

∑i=0

1A(Ti(x)) = lim

n→+∞

1n

n−1

∑i=0

1A(x) = limn→+∞

n.1n

1A(x) = 1A(x).

Portanto temos que,

µ(A) = limn→+∞

1n

n−1

∑i=0

1A(Ti(x)) = 1A(x).

Concluímos então que µ(A) = 0 ou µ(A) = 1.

(ii → iii) Considere f : X → R invariante, ou seja, f ◦T = f . Então temos que para qualquer

mensurável I ⊂ R

T−1( f−1(I)) = T−1 ◦ f−1(I) = ( f ◦T )−1(I) = f−1(I),

ou seja, f−1(I) é invariante. Por hipótese, para qualquer I ⊂ R mensurável, µ( f−1(I)) = 0 ou

µ( f−1(I)) = 1. Note que como µ( f−1(R)) = 1, então

α = inf{a ∈ R≥0 | µ( f−1([−a,a])) = 1}

está bem definido e f (x) = α para todo x ∈ X .

(iii → i) Seja f uma função integrável. Pelo Teorema Ergódico de Birkhoff 2.66, temos que

f (x) = limn→+∞

1n

n−1

∑i=0

f (T i(x)),

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2.4. Teoria Ergódica 21

além disso, f ◦T = f , ou seja, f é invariante e∫

f dµ =∫

f dµ.

Por hipótese, temos que f é igual a uma constante C em quase todo ponto, ou seja,

C = f = limn→+∞

1n

n−1

∑i=0

f (T i(x)). (2.74)

Como µ é uma probabilidade e∫

f dµ =∫

f dµ,

utilizando (2.74) temos que

C =C ·µ(X)

=

1

=∫

C =∫

f =∫

f dµ.

Portanto,

limn→+∞

1n

n−1

∑i=0

f (T i(x)) =C =∫

f =∫

f dµ,

isto é,

limn→+∞

1n

n−1

∑i=0

f (T i(x)) =∫

f dµ,

e então T é ergódica com relação à µ.

Observação 2.75. Note que a definição de ergodicidade dada em 2.67 só faz sentido quando

consideramos um espaço de probabilidade, pois caso contrário, pode acontecer de

limn→+∞

1n

n−1

∑i=0

1A(Ti(x)) = µ(A) = ∞,

para quase todo ponto.

Para eliminar a hipótese da medida ser de probabilidade, usualmente, define-se a er-

godicidade de uma transformação T com relação a uma medida µ como feito no item (ii) da

Proposição 2.73, isto é, T é ergódica com relação a µ se para todo A conjunto mensurável

T -invariante, temos que µ(A) = 0 ou µ(A) = 1.

Neste texto, porém, optamos por definir ergodicidade como feito em 2.67, pois estare-

mos sempre trabalhando com espaços de probabilidade e, além disso, esta caracterização será a

mais utilizada ao longo do texto.

Exemplo 2.76. Considere o círculo T e a rotação Tα(x) = x+α (mod 1). Vamos mostrar que

Tα é ergódica com relação à medida de m Lebesgue se, e somente se, α é irracional.

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22 Capítulo 2. Preliminares

Demonstração. Suponha que Tα é ergódico e α ∈Q, ou seja, α =p

q. Temos então que:

Tα(x) = x+p

q(mod 1),

T 2α (x) = x+

2p

q(mod 1),

...

Tq

α (x) = x+0 (mod 1).

Considere A ⊂ X , com 0 < m(A)< 1/q e defina B como:

B = A∪Tα(A)∪T 2α (A)∪ . . .∪T

q−1α (A).

Note que se 0 < i ≤ q−1 então

T−1α (T i

α(A)) = T i−1α (A)

e como T−1α (A) = T

q−1α (A), temos que B é invariante por Tα . Porém, como m(Tα(A)) = m(A),

já que Tα é uma translação no círculo, e A ⊂ B, também temos que

0 < m(A)≤ m(B)≤q−1

∑i=0

m(T iα)≤

q−1

∑i=0

m(A)< q ·1/q = 1.

Ou seja, temos que B é Tα invariante e 0 < m(B) < 1, mas isso contraria o fato de Tα ser

ergódico, como vimos no item ii da Proposição 2.73, logo α deve ser irracional. Agora suponha

que α é irracional, vamos utilizar o item (ii) da Proposição 2.73 para mostrar que Tα é ergódica.

Para isso, considere uma função característica 1Y , onde Y é um conjunto mensurável invariante

por Tα . Como, 1Y ∈ L2(T,m), temos que

∑n∈Z

ane2πin

converge para a função 1Y no espaço de Hilbert L2(T,m). Agora, como Y é Tα -invariante, vale

a seguinte expressão para quase todo x ∈ T

∑n∈Z

ane2πinx = 1Y (x) = 1Y (Tα(x)) = ∑n∈Z

ane2πin(x+α),

ou seja,

∑n∈Z

an(1− e2πinα)e2πinx = 0.

Pela unicidade dos coeficientes da série de Fourier, temos que

an(1− e2πinα) = 0 (2.77)

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2.4. Teoria Ergódica 23

para todo n ∈ N. Mas se n = 0, como α é irracional, temos que

1− e2πinα = 0,∀n ∈ N.

Logo, (2.77) implica que an = 0 e portanto concluímos que m(Y ) = 0 ou m(Y ) = 1. Além disso,

como Y é um conjunto mensurável Tα-invariante qualquer, concluímos que Tα é ergódica pelo

item (ii) da Proposição 2.73.

Corolário 2.78. Se α é irracional, então para todo x ∈T, temos que a órbita de x por Tα é densa

em T.

Demonstração. Pelo Corolário 2.70 e o exemplo anterior, temos que o conjunto dos pontos

x ∈ T com a órbita densa por Tα é denso.

Vamos mostrar então, que dado ε > 0 e z ∈ T, para todo y ∈ T, existe N ∈ N tal que

|T Nα (y)− z|< ε.

Como o conjunto dos pontos com órbita densa em T é denso, existe x′ ∈ T com órbita

densa, tal que |x′ − y|< ε/2. Note que, como T nα é uma translação, temos que

|T nα (x

′)−T nα (y)|< ε/2

para todo n ∈ N.

Além disso, como x′ tem órbita densa, dado z ∈ T, existe N ∈ N tal que

|T Nα (x′)− z|< ε/2.

Portanto, temos que

|T Nα (y)− z|< |T N

α (y)−T Nα (x′)|+ |T N

α (x′)− z|< ε.

Definição 2.79. Duas medidas de probabilidade µ1 e µ2 de um espaço de probabilidade X ,

são ditas mutuamente singulares se existem conjuntos mensuráveis disjuntos A e B tal que

A∪B = X e µ1(B) = µ2(A) = 0. Denotamos o fato de µ1 e µ2 serem mutuamente singulares

por

µ1 ⊥ µ2.

Proposição 2.80. Seja X um espaço de probabilidade e seja T : X → X uma transformação

mensurável. Se µ1 e µ2 são duas medidas ergódicas com relação à transformação T e µ1 = µ2,

então µ1 e µ2 são mutualmente singulares.

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24 Capítulo 2. Preliminares

Demonstração. Sejam µ1 e µ2 duas medidas ergódicas com relação à transformação T , como

µ1 = µ2, então deve existir um conjunto mensurável A, tal que µ1(A) = µ2(A).

Considere então os conjuntos

Yj = {x ∈ X | limn→+∞

1n

n−1

∑i=0

1A(Ti(x)) = µ j(A)}, j ∈ {1,2}.

Pela Definição de ergodicidade 2.67, temos que µ j(Yj) = 1, já que

limn→+∞

1n

n−1

∑i=0

1A(Ti(x)) = µi(A)

vale para quase todo ponto x ∈ X .

Porém, como µ1(A) = µ2(A) então Y1 ∩Y2 = /0 e portanto as medidas são mutualmente singula-

res.

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25

CAPÍTULO

3

FLUXOS UNIPOTENTES

3.1 Motivação: Ações no toro

Definição 3.1. Considere o grupo aditivoR e X uma variedade suave com estrutura mensurável.

Dizemos que uma ação ϕ

ϕ : X ×R −→ X

(x, t) #−→ ϕt(x)

é um fluxo suave, se ϕ é uma função C∞.

Observação 3.2. Frequentemente vamos denotar o fluxo suave ϕ : X ×R−→ X simplesmente

por (γt)t∈R.

Definição 3.3. Dado um fluxo ϕ : X ×R→ X e x ∈ X , definimos a órbita O de x pelo fluxo ϕ

como:

O(x) = {ϕt(x) | t ∈ R}.

Considere o 2-toro T2, note que se fixarmos v = (α,β ) ∈ R2 com β = 0 e t ∈ R, a

família de transformações dadas por

γt([x]) = [x+ tv], (3.4)

define um fluxo suave, onde [x] = Z2 + x.

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26 Capítulo 3. Fluxos Unipotentes

1

1

0

PSfrag replacements

x

[x+ tv]

Figura 1 – Representação do fluxo ϕ em T2 através do domínio fundamental [0,1)2.

Queremos estudar o comportamento da órbita de um dado x ∈ T2, isto é,

O([x]) = {[x+ tv] | t ∈ R}. (3.5)

Antes de mais nada, observe que existe 0 ≤ x1 < 1 tal que

O([x]) = O([(x1,0)]) = { [(x1,0)+ t · (α/β ,1)] | t ∈ R}.

Vamos separar nosso problema em dois casos, isto é:

i) seα

βé racional, ou

ii) seα

βé irracional.

Proposição 3.6. Seα

βé racional, então a órbita O(x) é homeomorfa à T1.

Demonstração. Seα

βé racional, a órbita de x é periódica e portanto, homeomorfa a um círculo.

Proposição 3.7. Seα

βé irracional, então a órbita O(x) é densa em T2.

Demonstração. Dado y0 ∈ [0.1), considere a reta horizontal r em T2 dada por

r = { [ (0,y0) + t · (1,0)] | t ∈ R}.

Então, a órbita de (x1,0) intercepta r se, e só se, t = y0 (mod 1) e portanto:

O(x)∩ r = { (x,y0) | x = x1 + t ·α

β(mod 1)}.

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3.1. Motivação: Ações no toro 27

10

1

PSfrag replacements

x

[x+ tv]

y0

Note que se considerarmos t ∈Z, então x1+ t ·α

β(mod 1) é uma rotação no círculo por

um ângulo irracional, mas já sabemos pelo Corolário 2.78 que rotações com ângulos irracionais

possuem órbitas densas. Logo, O(x) será densa em r e como r foi uma reta qualquer, O(x) é

densa em T2.

Utilizando as ideias anteriores, não é difícil generalizar esses resultados para o seguinte

caso.

Teorema 3.8. Seja v ∈ Rn, então dado x ∈ Tn, existe 0 ≤ k ≤ n tal que

O(x) = {[x+ tv] | t ∈ R}∼= Tk,

ou seja, O(x) é isomorfo à um sub-toro Tk.

Definição 3.9. Seja (X ,B,µ) um espaço de probabilidade e seja ϕ um fluxo suave que preserva

µ . Dizemos que ϕ é um fluxo ergódico com relação à medida µ se para quase todo ponto

x ∈ X , temos que

limT→+∞

1T

∫ T

0f (ϕt(x))dt =

f dµ, (3.10)

onde f é qualquer função µ-integrável.

Análogo ao que fizemos na seção 2.4, temos os seguintes os seguintes resultados:

Definição 3.11. Considere o espaço de probabilidade (X ,B,µ) e ϕ um fluxo suave em X .

Dizemos que um subconjunto mensurável A ⊂ X é ϕ-invariante se ϕ−t(A) = A para todo

t ∈ R.

Definição 3.12. Considere o espaço de probabilidade (X ,B,µ) e o fluxo suave ϕ em X . Dize-

mos que uma função µ-integrável é ϕ-invariante se f ◦ϕt = f para todo t ∈ R.

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28 Capítulo 3. Fluxos Unipotentes

Proposição 3.13. Considere o espaço de probabilidade (X ,B,µ) e o fluxo ϕ em X . São equi-

valentes:

i) ϕ é µ-ergódico.

ii) Se A é um conjunto mensurável ϕ-invariante, então µ(A) = 0 ou µ(A) = 1.

iii) Se f é uma função µ-integrável e ϕ-invariante, então f é constante num conjunto de

medida total.

Tendo em vista os resultados anteriores que estendem a nossa definição de ergodicidade

para fluxos, e o fato de que o fecho da órbita de um ponto x ∈ Tn pelo fluxo ϕ agora nos é bem

conhecido, é natural nos questionarmos se é possível que o fluxo ϕ seja ergódico em seu fecho,

e se sim, com respeito a qual medida.

Lema 3.14. Se G é um grupo compacto e metrizável, então G tem uma métrica compatível

invariante pela direita e pela esquerda.

Demonstração. Ver Lema C.2 em (EINSIEDLER; WARD, 2010).

Teorema 3.15. Seja G um grupo metrizável, compacto e Lg(x) = gx. Se µG é a medida de Haar

de G, então são equivalentes:

1. A medida de Haar µG é a única Lg-ergódica.

2. A transformação Lg é ergódica com relação a µG.

3. O subgrupo {gn | n ∈ Z} é denso em G.

Demonstração. Vamos seguir a demonstração feita em (EINSIEDLER; WARD, 2010).

(1 → 2) Óbvio.

(2→ 3)Considere Y o fecho do conjunto {gn | n∈Z}. Se Y =X , considere a métrica compatível

invariante pela esquerda e direita dada pelo Lema 3.14 e defina

f (x) = min{dG(x,y) | y ∈ Y}.

Como Y é fechado e Y = X , temos que f (x) é não constante, já que deve existir x′ ∈ X tal que

dG(x′,Y )> 0. Além disso, note que

f ◦Lg(x) = f (gx) = min{dG(gx,y) | y ∈ Y}

= min{dG(x,g−1y) | y ∈ Y}

= f (x),

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3.2. Fluxos Unipotentes no toro 29

já que g ∈ Y. Mas então temos que f é uma função Lg invariante e não constante, logo Lg não

pode ser ergódica com relação µG pelo item iii) da Proposição 2.73.

(3 → 1) Seja µ uma medida Lg-ergódica. Considerando Y o fecho do conjunto {gn | n ∈ Z},

temos que Y = G e portanto G deve ser abeliano, já que contém um subgrupo denso e abeli-

ano. Além disso, qualquer medida µ que seja Lg-invariante, é invariante por translação por um

subgrupo denso de G.

Considere então, f ∈ C(G) e tome ε > 0. Como f é contínua e G é compacto, existe

δ > 0 tal que para z,y ∈ G

dG(z,y)< δ ⇒ | f (z)− f (y)|< ε.

Como {gn | n ∈ Z} é denso em G, então existe n ∈ Z tal que dG(gn,y) < δ . Utilizando a

invariância da métrica dG, temos que se dG(gn,y) = dG(xgn,xy) < δ , então para todo x ∈ X

| f (gnx)− f (yx)|< ε.

Além disso, como∫

f (x)µ(x) =∫

f (gnx)dµ(x),

já que µ é Lg-ergódica e portanto Lg-invariante, temos que∣

f (yx)µ(x)−∫

f (x)dµ(x)

=

f (yx)dµ(x)−∫

f (gnx)dµ(x)

<∫

| f (yx)−∫

f (gnx)| dµ(x) < ε.

Mas isso quer dizer que a medida de probabilidade µ é invariante por Ly para todo y ∈ Y = G e

como a medida de Haar µG é a única com essa propriedade, temos que µ = µG.

Corolário 3.16. Seja ϕ o fluxo definido em 3.4 em T2 e v = (α,β ) com b = 0 e quocienteα

βirracional. Então a medida de Lebesgue é a única que deixa o fluxo ϕ ergódico.

Os resultados acima nos dizem duas coisas: primeiro que o fluxo ϕ em T2 é ergódico

em seu fecho e segundo que a única medida capaz de deixar o fluxo ϕ ergódico é a medida de

Haar de T2.

3.2 Fluxos Unipotentes no toro

Definição 3.17. Seja G ≤ GLn(R) um grupo de Lie. Dizemos que M ∈ G é um elemento

unipotente de G, se existe k ∈ N tal que

(g− In)k = 0,

onde In é a matriz identidade de tamanho n×n.

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30 Capítulo 3. Fluxos Unipotentes

Exemplo 3.18. Considere o grupo H formado pelas matrizes da forma⎛

1 a b

0 1 c

0 0 1

⎠, a,b,c ∈ R.

Note que para qualquer elemento g ∈ H, temos que

(g− I3)3 = 0.

Portanto, todo elemento de H é um elemento unipotente. Chamamos H de grupo de Heisenberg.

Definição 3.19. Dizemos que um grupo G é gerado pelo subconjunto A ⊂ G (ou que A é

um gerador de G) se para todo elemento g ∈ G existe uma sequência finita a1,a2, · · · ,an de

elementos de A e uma sequência finita k1,k2, · · · ,kn de elementos de Z, tal que

g = ak11 ak2

2 · · ·aknn .

Definição 3.20. Dizemos que o grupo G ≤ GLn(R) é gerado por elementos unipotentes se

existe um subconjunto U ⊂ G gerador de G, tal que todo elemento u ∈U é unipotente.

Exemplo 3.21. É claro que o grupo de Heisenberg é gerado por elementos unipotentes, já que

este é unipotente. Porém, note que dada uma matriz M do grupo de Heinsenberg, onde

M =

1 a b

0 1 c

0 0 1

⎠, a,b,c ∈ R,

podemos decompor M em elementos unipotentes mais simples, da seguinte forma:

M =

1 a b

0 1 c

0 0 1

⎠=

1 0 0

0 1 c

0 0 1

1 0 b

0 1 0

0 0 1

1 a 0

0 1 0

0 0 1

⎠.

No próximo resultado, vamos mostrar que o grupo SL2(R) é gerado por elementos uni-

potentes. Enunciamos este exemplo como Lema 3.22 pois esse resultado nos será importante

futuramente.

Lema 3.22. O grupo

SL2(R) = {M ∈ GL2(R) | det(M) = 1}

é gerado por elementos unipotentes.

Demonstração. Vamos mostrar que o grupo SL2(R) é gerado pelas matrizes unipotentes da

forma:(

1 a

0 1

) (

1 0

b 1

)

,

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3.2. Fluxos Unipotentes no toro 31

onde a, b ∈ R.

Considere então

A =

(

a b

c d

)

∈ SL2(R).

Se a = 0 e |a| = 1, como det(A) = 1, temos que ad−bc= 1 e portanto definindo a′ = 1/a temos

A =

(

1/a′ b

c d

)

=

(

1 0

ca′ 1

)(

1/a′ b

0 a′

)

=

1a′b

a′2 −10 1

(

1/a′ 0

0 a′

)

1 −a′b

a′2 −10 1

Então, só precisamos mostrar que(

1/a′ 0

0 a′

)

=

(

a 0

0 1/a

)

é gerada por elementos unipotentes. Mas, note que

(

a 0

0 1/a

)

=

(

1 0

1/a−1 1

)(

1 1

0 1

)(

1 0

a−1 1

)(

1 −1/a

0 1

)

.

Logo, se a = 0 e |a| = 1 o resultado vale. Agora, observe que(

0 1

−1 0

)

=

(

1 0

−1 1

)(

1 1

0 1

)(

1 0

−1 1

)

,

ou seja, é gerada por elementos unipotentes. Observe também que(

a b

c d

)(

0 1

−1 0

)

=

(

−b a

−d c

)

(

0 1

−1 0

)(

a b

c d

)

=

(

c d

−a −b

)

.

Então, dada uma matriz A ∈ SL2(R), é fácil provar que multiplicando A pela matriz(

0 1

−1 0

)

.

E então deve valer um dos casos abaixo:

- Conseguimos reduzir o nosso problema para o caso em a = 0 e |a| = 1;

- A matriz A já é unipotente;

- A matriz A é da forma

A =

(

0 1

−1 0

)

.

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32 Capítulo 3. Fluxos Unipotentes

Definição 3.23. Sejam G um grupo, X um conjunto e f : G×X → X uma ação do grupo G em

X . Dizemos que a ação f é uma ação unipotente, se G é gerado por elementos unipotentes.

Definição 3.24. Sejam G ≤ GLn(R) um grupo e (γt)t∈R um fluxo suave em G. Dizemos que

(γt)t∈R é um fluxo unipotente se o grupo dado pelos elementos de (γt)t∈R com a operação

γt ◦ γs = γt+s

é gerado por elementos unipotentes.

Proposição 3.25. O fluxo suave γt([x]) = [x+ tv] definido em T2 (ver 3.4), pode ser represen-

tado como um fluxo unipotente.

Demonstração. Considere o subgrupo H2(R) do grupo de Heisenberg dado pelas matrizes da

forma

1 0 b

0 1 c

0 0 1

⎠, b,c ∈ R.

Observe que dadas duas matrizes, M,N em H2(R), temos que

MN =

1 0 b

0 1 c

0 0 1

1 0 y

0 1 z

0 0 1

⎠=

1 0 y+b

0 1 z+ c

0 0 1

⎠.

Considere então o homomorfismo de grupos φ , dado por

φ : (R2,+) −→ (H2(R), · )

(x1,x2) #−→

1 0 x1

0 1 x2

0 0 1

⎠.

Temos que kerφ = {(0,0)∈R2} e φ(R2)=H2(R), logo pelo Primeiro Teorema do Isomorfismo

2.19, (R2,+)∼= (H2, ·).

Não é difícil mostrar que de fato, φ induz um isomorfismo entre os grupos Z2\R2 e

H2(Z)\H2(R). A partir deste isomorfismo, o fluxo γt([x]) = [x+ tv] pode ser representado como

φ(γt) =

1 0 tα

0 1 tβ

0 0 1

⎠.

Portanto, o fluxo é unipotente.

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3.3. Fluxos Unipotentes no Espaço Hiperbólico 33

3.3 Fluxos Unipotentes no Espaço Hiperbólico

Para mais detalhes sobre os resultados e construções desta seção, ver as seções 9.2, 9.3

e 9.4 em (EINSIEDLER; WARD, 2010).

Definição 3.26. Definimos o semiplano hiperbólico H como

H= {x+ iy ∈ C | y > 0}

com a métrica hiperbólica dada por

ds2 =dx2 +dy2

y2 .

Lema 3.27. O conjunto

PSL2(R) = {I2,−I2}\SL2(R)

é um grupo de Lie.

Definição 3.28. Sejam G um grupo, X um conjunto e f : G×X → X uma ação do grupo G

em X . Dizemos que a ação f é uma ação transitiva, se dados x,y ∈ X existe g ∈ G tal que

f (g,x) = y. Se para todo x,y ∈ X existir um único g ∈ G com tal propriedade, dizemos que a

ação é simplesmente transitiva.

Proposição 3.29. Considere o espaço tangente unitário de H dado por

T1H= {(z,v) ∈H×C | ||v||= 1}.

Então a função F : PSL2(R)×T1H→ T1H dada por

F : PSL2(R)×T1H −→ T1H

(M,(z,v)) #−→(

az+b

cz+d,

v

(cz+d)2

)

(3.30)

onde

M =

(

a b

c d

)

é uma ação ação do grupo PSL2(R) em T1H simplesmente transitiva.

Demonstração. Ver Lema 9.2 em (EINSIEDLER; WARD, 2010).

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34 Capítulo 3. Fluxos Unipotentes

Observação 3.31. Perceba que pela Proposição 3.29, dado um elemento (z,v)∈T1H, existe um

único elemento g ∈ PSL2(R) tal que F(g, (i, i)) = (z,v), dessa forma temos uma identificação

única de elementos de (z,v)∈ T1H por elementos em PSL2(R), como mostra o desenho abaixo.

PSfrag replacements

(i, i)(z,v)

H

F(g,(i, i))

Proposição 3.32. Utilizando a identificação dada pela ação F da Proposição 3.29, temos que o

conjunto E = {z∈H | |z|≥ 1, |ℜ(z)|≤ 1/2} é um domínio fundamental para a ação de PSL2(Z)

em PSL2(R). Isto é, PSL2(Z) é um lattice em PSL2(R).

Demonstração. Ver Proposição 9.18 em (EINSIEDLER; WARD, 2010).

PSfrag replacements i

E

(

−12,

√3

2

)

(

12,

√3

2

)

H

Definição 3.33. Dado um lattice Γ do grupo de Lie PSL2(R), definimos o fluxo geodésico no

espaço homogêneo X = Γ\PSL2(R) como

a : X ×R −→ X

(x,s) #−→ xas,

Page 51: Assinatura: · Nesta dissertação, estudamos um caso especial do seguinte teorema, devido a Marina Ratner (Capítulo 4): Teorema 1.1 (Teorema de Ratner de classificação de medidas)

3.3. Fluxos Unipotentes no Espaço Hiperbólico 35

onde

as =

(

es 0

0 e−s

)

.

Como vimos na Observação 3.31, existe uma identificação única entre o grupo PSL2(R)

e o espaço tangente unitário T1H. Então, dado um ponto x ∈ X = Γ\PSL2(R), o fluxo geodé-

sico é definido através da parametrização da única geodésica definida pelo ponto (z,v) ∈ T1H,

módulo Γ. No caso em que Γ = PSL2(Z), se considerarmos o domínio fundamental construído

na Proposição 3.32, geometricamente o fluxo geodésico em X é como na figura abaixo:

Sempre que o fluxo toca no bordo, aplicamos a transformação τ =

(

1 1

0 −1

)

, no caso

em que o fluxo tocou uma das regiões verticais do bordo, e σ =

(

0 −1

1 0

)

quando o fluxo

tocar a região circula do domínio. Dessa forma, o fluxo fica sempre bem definido no domínio

fundamental.

Definição 3.34. Dado um lattice Γ do grupo de Lie PSL2(R), definimos o fluxo horocíclico no

espaço homogêneo X = Γ\PSL2(R) como

u : X ×R −→ X

(x, t) #−→ xut ,

onde

ut =

(

1 t

0 1

)

.

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36 Capítulo 3. Fluxos Unipotentes

Lema 3.35. Seja g∈ PSL2(R) e h = gut para algum t ∈R, onde ut é como na definição anterior.

Então temos que

lims→+∞

d(gas,has) = 0.

Demonstração. Pela invariância a esquerda da distância em PSL2(R), temos que

d(gas,has) = d(gas,gutas) = d(I2,a−sutas),

mas

a−sutas =

(

1 e−2st

0 1

)

que converge para 0 quando s tende ao infinito.

Portanto, o que o Lema 3.35 nos diz, é que o fluxo horocíclico é definido através da

parametrização da variedade estável com relação ao fluxo geodésico módulo Γ, isto é, dado um

ponto g ∈ PSL2(R), o fluxo horocíclico passa pelos de h ∈ Γ\PSL2(R) tal que a distancia entre

a geodésica definida por g e a geodésica definida por h convergem para zero em PSL2(R). Se

Γ = PSL2(Z), considerando o domínio fundamental construído na Proposição 3.32, geometrica-

mente o fluxo horocíclico em T 1H é dado por círculos tangentes ao eixo horizontal e por retas

paralelas ao eixo horizontal.

PSfrag replacements (z,v)

(w,u)H

Se o vetor (z,v) ∈ T 1H não aponta verticalmente, então o fluxo horocíclico é dado pela parametriza-ção do único círculo ortogonal a (z,v) e tangente ao eixo horizontal. Se o vetor (w,u) ∈ T 1H apontaverticalmente, então o fluxo horocíclico é definido pela reta ortogonal a (w,u) que passa por w ∈H.

Terminamos esta seção com um resultado clássico em Teoria Ergódica:

Teorema 3.36. O fluxo geodésico é ergódico com relação a medida de Haar no espaço homo-

gêneo X = Γ\PSL2(R).

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3.3. Fluxos Unipotentes no Espaço Hiperbólico 37

Demonstração. Ver Teorema 9.21 em (EINSIEDLER; WARD, 2010).

Perceba que o fluxo geodésico não é um fluxo unipotente, portanto não podemos utilizar

os Teoremas de Ratner para tirarmos conclusões sobre sua dinâmica em X . Porém, o fluxo

horocíclico é um fluxo unipotente, já que é definido pela família de matrizes da forma

ut =

(

1 t

0 1

)

.

Na próxima seção, utilizaremos os Teoremas de Ratner para provarmos que o fluxo horocíclico,

em certo sentido, se comporta da mesma maneira que o fluxo definido na nossa seção de Moti-

vação sobre ações no toro.

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39

CAPÍTULO

4

OS TEOREMAS DE RATNER

4.1 Introdução

Definição 4.1. Seja X = Γ\G um espaço homogêneo e µ uma medida em X . Então µ é uma

medida homogênea, se existe um subgrupo fechado H ≤ G e x ∈ X , tal que:

1. A medida µ é invariante pela ação do grupo H;

2. A órbita xH é fechada em X ;

3. O suporte da medida µ é o conjunto xH.

O nosso principal objetivo nessa seção é provar um caso especial do seguinte teorema:

Teorema 4.2 (Teorema de Ratner de classificação de medidas). Seja G um grupo de Lie,

Γ < G um lattice, U < G um subgrupo conexo gerado por elementos unipotentes e µ uma

medida de probabilidade em X = Γ\G que seja ergódica com relação à ação de U em G.

Então, µ é homogênea.

O teorema acima foi provado na década de 90 pela matemática Marina Ratner (ver

(RATNER, 1990a), (RATNER, 1990b), (RATNER, 1991)).

Ao longo dos anos, em colaboração com outros matemáticos como N. Shah (SHAH,

1996), G.M. Tomanov e G. Margulis (MARGULIS; TOMANOV, 1994), a teoria desenvolvida

por Marina Ratner foi largamente estendida e como consequência do seu Teorema de classifica-

ção de medidas, foram provados outros importantes resultados, como:

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40 Capítulo 4. Os Teoremas de Ratner

Teorema 4.3 (Teorema de Ratner de equidistribuição). Seja G um grupo de Lie, Γ < G um

lattice e U = {Ut | t ∈ R} um fluxo suave gerado por elementos unipotentes. Então, existe

um subgrupo fechado H de G, tal que para qualquer função contínua f : xH →R temos que

limT→+∞

1T

∫ T

0f (xUt)dt =

xHf dµ,

onde xH é o suporte de uma medida homogênea µ .

Teorema 4.4 (Teorema de Ratner do fecho da órbita). Seja G um grupo de Lie, Γ < G um

lattice de G e U < G um subgrupo conexo gerado por elementos unipotentes. Então, para

todo ponto x ∈ Γ\G, existe um subgrupo fechado H de G, tal que U ≤ H ≤ G e xU = xH.

O caso especial que vamos estudar acontece quando G = SL2(R) e

U =

{[

1 t

0 1

]

| t ∈ R

}

.

Ou seja, vamos provar que:

Teorema 4.5 (Teorema de Ratner de classificação de medidas em SL2(R)). Considere o

grupo de Lie G = SL2(R) e o lattice Γ = SL2(Z). Seja µ uma medida ergódica com respeito

a ação do grupo unipotente U no quociente X = Γ\G, onde

U =

{[

1 t

0 1

]

| t ∈ R

}

.

Então, µ é homogênea.

Note que se consideramos o lattice Γ = SL2(Z), então conseguimos uma interpretação

geométrica para este resultado, pois como vimos na Seção 3.3, o grupo U representa o fluxo

horocíclico no espaço homogêneo X =PSL2(Z)\PSL2(R), que nada mais é que SL2(Z)\SL2(R)

quocientado pelas matrizes {I2,−I2}.

A escolha desse caso particular é importante, pois exibe o poder dos Teoremas de Ratner,

que nos diz que mesmo no caso não trivial do fluxo horocíclico em SL2(Z)\SL2(R), este se

comporta, em certo sentido, como o fluxo no toro, que estudamos na Seção 3.2.

A demonstração do caso geral do Teorema de Classificação é muito mais técnica e uma

ideia geral da prova pode ser encontrada em (MORRIS, 2005). Porém, a demonstração no caso

SL2(R) capta algumas ideias essenciais do caso geral e também é de extrema importância por

captar um comportamento geométrico de um quociente num fibrado tangente unitário do espaço

Hiperbólico.

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4.2. Teorema de Classificação para o grupo SL2(R): Ideia da prova 41

Além disso, um dos pontos fundamentais para a demonstração do caso geral do Teorema

de Classificação de Ratner, é o cálculo da entropia de translações em espaços homogêneos, e

este cálculo fizemos em sua forma mais geral, como é descrito em (MARGULIS; TOMANOV,

1994) no capítulo 9.

4.2 Teorema de Classificação para o grupo SL2(R): Ideia

da prova

Passo 1: Primeiramente decompomos o grupo SL2(R) nos subgrupos:

U =

{

ut =

(

1 t

0 1

)

| t ∈ R

}

,

A =

{

as =

(

es 0

0 e−s

)

| s ∈ R

}

,

H =

{

hr =

(

1 0

r 1

)

| r ∈ R

}

.

Passo 2: Dados dois pontos próximo x,y ∈ G, estudamos a distância da órbita de x e y no tempo

θ pelo fluxo ut utilizando o a decomposição anterior e então chegamos que

dG(xuθ ,yuθ ) = dG(I2,aShRuθ−T ),

onde

S(s,r,θ) = ln(es − rθe−s)

R(s,r,θ) = r(1− rθe−2s)

T (s,r,θ) =θ

e2s − rθ.

Passo 3: Provamos a Propriedade de Ratner, que nos diz fixando x ∈G e tomando y= xashr ∈G suficientemente próximo de x, então dado 0 < α < 1, considerando θα o menor valor tal que

|S(s,r,θα)|= α.

Então existem constantes 0 < η < 1 e C > 1 tal que

α/2 ≤ |S(s,r,θ)|≤ α, |R(s,r,θ)|≤Cα

θα∀θ ∈ [(1−η)θα ,θα ].

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42 Capítulo 4. Os Teoremas de Ratner

Lembrando que

dG(xuθ ,yuθ ) = dG(I2,aShRuθ−T ),

esse resultado nos diz que se x,y são pontos bem próximos, então por bastante tempo, isto é,

para θ ∈ [(1−η)θα ,θα ], teremos que os valores S(s,r,θ) e R(s,r,θ) serão bem pequenos e

então o o fluxo se comportará por muito tempo como uma translação pelo fator T (s,r,θ), ou

seja,

dG(xuθ ,yuθ )≈ dG(I2,uθ−T ).

Passo 4: Definimos o subgrupo de G dado por

stab(µ) = {g ∈ G | µ(E) = µ(Eg) para todo conjunto Boreliano E ⊂ X}.

Passo 5: Separamos a demonstração do Teorema em dois casos: se o grupo A ⊂ stab(µ) e se

A ⊂ stab(µ).

Passo 6: Se A ⊂ stab(µ) então provamos que existe x ∈ X tal que xU é o suporte da medida µ .

Passo 7: Se A ⊂ stab(µ) então provamos que stab(µ) = SL2(R) e então µ é a medida de Haar

de SL2(R) induzida no quociente.

4.3 Teorema de Classificação para o grupo SL2(R): Prova

completa

Nesta seção, utilizaremos (STARKOV, 2000) como texto base.

Proposição 4.6. O grupo SL2(R) é gerado pelos subgrupos:

U =

{

ut =

(

1 t

0 1

)

| t ∈ R

}

,

A =

{

as =

(

es 0

0 e−s

)

| s ∈ R

}

,

H =

{

hr =

(

1 0

r 1

)

| r ∈ R

}

.

Demonstração. Análogo à demonstração do Lema 3.22.

Observação 4.7. Note que ua+b = uaub, u0 = I2, e o mesmo vale para os grupos a e h. Com

isso em mente, é fácil ver que os grupos U,A,H formam fluxos suaves.

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4.3. Teorema de Classificação para o grupo SL2(R): Prova completa 43

Proposição 4.8. O grupo A normaliza U e H.

Demonstração. Um cálculo direto nos mostra que

a−sutas = ue−2st ,

a−shras = he2st .

Vamos definir também os subgrupos B = AU e W = AH. Note que os conjuntos B e W

são de fato grupos, já que A é normal em U e em H.

Além disso, considere

U(δ ) = {ut ∈U | |t|< δ},

A(δ ) = {as ∈ A | |s|< δ},

H(δ ) = {hr ∈ H | |r|< δ},

B(δ ) = A(δ )U(δ ),

W (δ ) = A(δ )H(δ ).

Lema 4.9 (Mudança de coordenadas). Fixados θ ,s,r ∈ R temos que

ashruT = uθ aShR

se, e só se,

S(s,r,θ) = ln(es − rθe−s)

R(s,r,θ) = r(1− rθe−2s)

T (s,r,θ) =θ

e2s − rθ.

Demonstração. Note que

ashruT =

(

es 0

0 e−s

)(

1 0

r 1

)(

1 T

0 1

)

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44 Capítulo 4. Os Teoremas de Ratner

uθ aShR =

(

1 θ

0 1

)(

eS 0

0 e−S

)(

1 0

R 1

)

Portanto, temos que(

es esT

re−s re−s + e−s

)

=

(

eS +Rθe−S θe−S

Re−S e−S

)

.

Ou seja,⎧

es = eS +Rθe−S

esT = θe−S

re−s = Re−S

re−s + e−s = e−S.

Utilizando a terceira equação, podemos trocar Re−S por re−s na primeira equação e então

eS = es −θre−s

e portanto

S(s,r,θ) = ln(es − rθe−s).

Utilizando a segunda equação e o fato de que eS = es −θre−s, temos que

T (s,r,θ) =θ

eseS=

θ

es(es −θre−s)=

θ

e2s −θr.

Para finalizar, utilizando novamente que eS = es −θre−s, pela terceira equação, temos que

R(s,r,θ) = re−seS = re−s(es −θre−s) = r(1−θe−2s).

Observação 4.10. Optamos por sempre denotar elementos do grupo U utilizando a letra t ou

a letra θ como índice, isto é, os elementos do grupo U são sempre representados da forma ut

ou uθ , dependendo do contexto. Da mesma forma, para o grupo H sempre utilizaremos a letra

r e para o grupo A sempre utilizaremos a letra s. Note que as funções T,S,R que aparecem no

lema de mudança de coordenadas foram escolhidas com esse nome para coincidirem com nossa

notação, ou seja, T representa a mudança de coordenadas na direção U , S na direção A e R na

direção H.

Proposição 4.11. Seja x ∈ G e y ∈ xW , isto é, y é da forma y = xashr. Então, fixado θ ∈ R,

temos que

dG(xuθ ,yuθ ) = dG(I2,aShRuθ−T ),

onde

T := T (s,r,θ), S := S(s,r,θ), R := R(s,r,θ),

são como no Lema 4.9.

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4.3. Teorema de Classificação para o grupo SL2(R): Prova completa 45

Demonstração. Pela invariância à esquerda da métrica dG temos que

dG(xuθ ,yuθ ) = dG(xuθ ,xashruθ ) = dG(I2,u−θ ashruθ ).

Agora, utilizando o Lema 4.9, temos que

dG(I2,u−θ ashruθ ) = dG(I2,u

−θ uθ aShRuθ u−T ) = dG(I2,aShRuθ−T ).

Observação 4.12. Daqui em diante, sempre estaremos considerando µ uma medida de proba-

bilidade ergódica em X com relação ao fluxo ut gerado pelos elementos de U . Além disso, dado

x ∈ X e y = xashr ∈ xW (δ ), vamos supor que δ > 0 é pequeno o suficiente para que y seja

unicamente definido pelos valores s,r ∈ R.

Note que dessa forma, se y ∈ xW (δ ), isto é, y = xashr, podemos escrever as funções

T (s,r,θ), S(s,r,θ), R(s,r,θ) como T (y,θ), S(y,θ), R(y,θ) já que estes valores estão unica-

mente definidos.

Proposição 4.13. Seja 0 < α < 1 e 0 < δ < α/10 e considere y ∈ xW (δ ), isto é, y = xashr.

Defina θα como o menor valor tal que

|S(y,θα)|= |S(s,r,θα)|= α.

Então temos as seguintes relações

θα =es(es − eα·sgn(r))

r,

T (y,θα) =θα

eα·sgn(r)+s,

S(y,θα) = −αsgn(r),

R(y,θα) = re−α·sgn(r)−s.

Demonstração. Se ln(es − rθαe−s)> 0, então

ln(es− rθαe−s) = α ⇔

es − rθαe−s = eα ⇔

θα =es(es − eαr)

r.

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46 Capítulo 4. Os Teoremas de Ratner

E no caso de ln(es − rθαe−s)< 0, temos que

ln(es − rθαe−s) = −α ⇔

es − rθαe−s = e−α ⇔

θα =es(es− e−rα)

r.

As outras identidade são automáticas uma vez que você sabe o valor de θα .

Corolário 4.14. Sejam 0 < α < 1 e y ∈ xW (δ ) como na Proposição 4.13, então valem as

seguintes relações

limδ→0

θα = ∞,

limδ→0

R(y,θα) = 0,

limδ→0

T (y,θα)

θα= eαsgn (r).

O corolário anterior nos mostra um comportamento muito importante da dinâmica do

nosso sistema. Note que quanto menor for δ > 0, ou seja, quanto mais próximo o ponto y está

de x, maior é a demora para que a direção A do fluxo comece a divergir, isto é, fique maior que

uma constante α > 0. Além disso, temos que a direção H fica cada vez menor.

O próximo teorema formaliza essas observações e nos dá uma ferramenta crucial para a

prova do Teorema de Classificação de Ratner, como veremos mais a frente.

Teorema 4.15 (Propriedade de Ratner). Dados 0 < α < 1 e 0 < δ < α/10 e y ∈ xW (δ )

de tal forma que |S(y,θα)| = α e |S(y,θ)| < α se 0 < θ < θα , então existem constantes

0 < η < 1 e C > 1 tal que

α/2 ≤ |S(y,θ)|≤ α, |R(y,θ)|≤Cα

θα, ∀θ ∈ [(1−η)θα ,θα ].

Demonstração. Seja

xW+(δ ) = {xashr | |s|< δ , 0 < r < δ}

e considere y ∈ xW+(δ ). Note que dessa forma, θα é uma função monótona, crescente com

respeito à α . Primeiro vamos encontrar 0 < η < 1 tal que

θα/2 ≥ (1−η)θα , ∀0 < α < 1, ∀y ∈ xW+(δ ).

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4.3. Teorema de Classificação para o grupo SL2(R): Prova completa 47

Note que para isso, basta mostrarmos que

η = inf0<α<1

y∈xW+(α/10)

{1−θα/2

θα}> 0.

Como estamos supondo que |s|< δ ≤ α/10 temos que

1−θα/2

θα= 1−

(

es − e−α/2

es − e−α

)

=−eα + e−α/2

es − e−α

≥−eα + e−α/2

eα/10 − e−α

≥eα/2 −1

e10α/11 −1α→0−→

1022

> 0.

Note que como θα/2 ≥ (1−η)θα , temos que se θ ∈ [(1−η)θα ,θα ] então

α/2 ≤ |S(y,θ)|≤ α,

concluindo a primeira parte do teorema.

Agora vamos mostrar que:

C = sup0<α<1

y∈xW+(α/10)θ∈[(1−η)θα ,θα ]

{

|R(y,θ)|θα

α

}

< ∞.

Como |s|≤ α/10

R(y,θ)θα

α=

r(1− rθe−2s)(e2s − es−α)

rα≤

e2s − es−α

α

≤eα/5 − e−11α/10

αα→0−→ 13/10 < ∞.

O caso em que y ∈ xW−(δ ) = {xashr | |s|< δ , −δ < r < 0} é análogo.

Lema 4.16. Dado ε > 0 existe αε > 0 tal que, se y ∈ xW (αε), isto é, y = xashr com |s|, |r|<αε

e C é um Boreliano tal que C ⊂ [0,θαε ], então

m(C)

m(φy(C))−1∣

< ε,

onde m é a medida de Lebesgue e φy(x) = T (y,x).

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48 Capítulo 4. Os Teoremas de Ratner

Demonstração. Note que,

φy(x) =x

e2s − xre φ ′

y(x) =e2s

(e2s − xr)2 .

Como φ ′y é monótona e φ ′

y(0) = e−2s e φ ′y(θα) = e2s+2αsgn(r) temos que se y ∈ xW (α)

|φ ′y(x)−1|≤ e2s+2α −1 ≤ e4α −1

já que |s| ≤ α . Escolhendo αε de tal forma que e4αε −1 < ε , temos pelo teorema de mudança

de variáveis, que se C ⊂ [0,θαε ]

m(φy(C))≥ m(C)φ ′y(0) = m(C)e−2s

e portanto∣

m(C)

m(φy(C))−1∣

≤ e2s −1 ≤ e4αε −1 < ε.

Esse lema nos diz que a função φy(θ) = T (y,θ) distorce pouco a medida de Lebesgue,

isto é, ela quase deixa a medida invariante.

Definição 4.17. Seja (X ,B,µ) um espaço de probabilidade com σ -álgebra de Borel. Defini-

mos o estabilizador da medida µ como

stab(µ) = {g ∈ G | µ(E) = µ(Eg) para todo conjunto Boreliano E ⊂ X}.

Observação 4.18. Não é difícil mostrar que o conjunto stab(µ) é na verdade um grupo fechado.

Além disso, como o fluxo formado pelos elementos ut de U é µ-ergódico pela hipótese do

Teorema de Ratner de classificação de medidas, temos que U ⊂ stab(µ).

Definição 4.19. Seja (X ,B,µ) um espaço de probabilidade e f : X → X uma função B-

mensurável. Definimos o pushforward da medida µ pela função f por

f∗µ(E) := µ( f−1(E)),

onde E é um conjunto B-mensurável.

Lema 4.20. Seja X um espaço métrico, localmente compacto, separável e µ uma medida de

probabilidade para X . Seja f : X → X é uma transformação Borel mensurável tal que

µ ⊥ f∗µ,

isto é, as medidas µ e f∗µ são mutuamente singulares. Então existe um conjunto Y de medida

total, tal que

f−1(Y )∩Y = /0.

Em particular, f∗µ(Y ) = 0 e µ(Y c) = 0, onde Y c denota o complementar do conjunto Y .

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4.3. Teorema de Classificação para o grupo SL2(R): Prova completa 49

Demonstração. Como µ ⊥ f∗µ , pela definição de medidas mutuamente singulares, existem

conjuntos mensuráveis disjuntos A, B tal que A é o suporte da medida µ e B é o suporte da

medida f∗µ. Defina

Y = A\ f−1(A) = A∩ f−1(B).

Note que se x ∈ Y então f (x) ∈ B e se x ∈ f−1(Y ) então f (x) ∈ A. Como A∩B = /0 temos que

f−1(Y )∩Y = /0.

Além dissoµ(X\Y ) = µ(X)−µ(Y )

= 1− (µ(A)−µ( f−1(A)))

= 1−µ(A)+ f∗µ(A)

= 1−1+0 = 0.

Ou seja, Y tem medida total.

Definição 4.21. Seja (X ,B,µ) um espaço de probabilidade, Y ⊂ X um conjunto mensurável e

ϕt um fluxo. Definimos então a média de Birkhoff do fluxo ϕt no conjunto Y , por

SY (x, t) =1t

∫ t

01Y (ϕs(x))ds.

Lema 4.22. Sob as hipóteses do Teorema de Ratner de classificação de medidas, seja Y ⊂ X

um conjunto mensurável e T > 0, tal que

SY (x,T )> 1/2,

para quase todo ponto x ∈ X . Então, para quase todo x,y ∈ X , existe t ′ ∈ [0,T ] tal que os ele-

mentos xut ′ e yut ′ estão em Y .

Demonstração. Seja X ′ ⊂ X o conjunto mensurável de medida total onde vale

SY (x,T )> 1/2,

para todo ponto.

Suponha então, que para x,y ∈ X ′ não exista t ′ ∈ [0,T ] tal que ut ′x e ut ′y pertencem ao

conjunto Y . Então temos que, 1Y (utx)+1Y (uty)≤ 1, já que os dois pontos não podem pertencer

ao conjunto Y ao mesmo tempo. Dessa forma, chegaríamos no seguinte absurdo:

1 <1T

∫ T

01Y (xus)ds+

1T

∫ T

01Y (yus)ds =

1T

∫ T

01Y (xus)+1Y (yus)ds ≤ 1.

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50 Capítulo 4. Os Teoremas de Ratner

Proposição 4.23. Existe um conjunto mensurável Y ⊂ X tal que

µ(Y ) = 1 e Y ∩Y q = /0, ∀q ∈ B− stab(µ),

onde lembramos que B = AU.

Demonstração. Considere q ∈ B− stab(µ) e a translação f : X → X definida por x #→ xq−1.

Então

f∗µ(E) := qµ(E) = µ(Eq),

onde E é um conjunto mensurável.

Note que, como µ é ergódica com relação ao fluxo ut , então qµ também será. De fato,

suponha que qµ não é ut-ergódica. Pelo item ii) da Proposição 3.13, deve existir um subconjunto

E ⊂ X , tal que E é invariante pelo fluxo ut e 0 < qµ(E) = µ(Eq)< 1. Mas então, considerando

o conjunto Eq, note que se q = asut e t0 ∈ R, então

Equt0 = Easutut0 = Easut0ut = Eue2st0asut = Eq,

isto é, o conjunto Eq é invariante pelo fluxo, porém

0 < µ(Eq) = qµ(E) < 1,

contrariando o fato de µ ser ut-ergódica.

Portanto, pela Proposição 2.80, temos que µ ⊥ qµ e então, pelo lema anterior, existe Yq

com medida µ total em X , tal que

Yq ∩Yqq = /0.

Seja K ⊂ Yq compacto tal que µ(K)> 0.99 e K ∩Kq = /0. Como K e Kq são compactos, existe

εq tal que

dX(K,Kq)≥ εq.

Pelo Teorema de Ergodicidade de Birkhoff, existe um conjunto de medida total Yq,εq ⊂X

tal que

limt→+∞

SK(x, t) = limt→+∞

1t

∫ t

01K(xus)ds

t→+∞−→ µ(K), ∀x ∈ Yq,εq.

Afirmação: Vamos mostrar que

Yq,εq ∩Yq,εqg = /0, ∀g ∈ qB(εq) = qA(εq)U(εq).

Suponha por absurdo que exista g = qasut ∈ qB(εq) e x,y ∈ Yq,εq com x = yg = yqasut para

algum s, t com |s|, |t|< εq, ou seja, Yq,εq ∩Yq,εqg = /0.

Como x,y ∈ Yq,εq , existe um tempo t0 tal que

SK(y, t0)≥ 0.9 e SK(x,e−2st0)≥ 0.9 ( lembrar que µ(K) > 0.99).

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4.3. Teorema de Classificação para o grupo SL2(R): Prova completa 51

Agora, note que

SK(x,e−2st) =1

e−2st

∫ e−2st

01K(xur)dr

=1

e−2st

∫ t

0e−2s1K(xue−2sr′)dr′

=1t

∫ t

01K(xue−2sr′)dr′

=1t

∫ t

01K(xue−2sr′)dr′.

(4.24)

Portanto, como SK(y, t0) e SK(x,e−2st) são ambos maiores que 1/2, pelo mesmo argumento dado

no Lema 4.22, garantimos que existe t ′ tal que os elementos yut ′ e xue−2st ′ estão em K. Então,

definindo z = yut ′ , temos que z ∈ K. Além disso, pelo lema de mudança de coordenadas

yut ′g = xg−1ut ′g = xu−ta−sut ′asut

= xu−tut ′e−2sut

= xut ′e−2s.

(4.25)

Logo, zg ∈ K, e portanto zg ∈ K e zq ∈ Kq, já que z ∈ K. Mas então

dX(zg,zq) = infγ∈Γ

dG(zg,γzq)≤ dG(zg, I2zq) = dG(I2,g−1z−1zq)

= dG(I,g−1q) = dG(I,u

−ta−sq−1q) = dG(utas, I)< εq

já que |s|, |t|< εq. Mas isso contraria o fato de

dX(K,Kq)> εq.

Concluímos então que

Yq,ε ∩Yq,ε g = /0, ∀g ∈ qB(ε).

Agora, como B− stab(µ) é um conjunto formado por matrizes com coordenadas reais, existe

uma sequência densa e enumerável (qi)i∈N ⊂ B− stab(µ). Repetindo o processo que fizemos

anteriormente para cada qi, conseguimos uma sequência de reais positivos (εi)i∈N tal que

B− stab(µ) =⋃

i∈NqiB(εi)

e a afirmação vale para todo g ∈ qiB(εi), isto é

Yqi,εi ∩Yqi,εig = /0, ∀g ∈ qiB(εi),

onde Yqi,εi é um conjunto com medida µ total. Considerando então

Y =⋂

i∈NYqi,εi,

concluímos o resultado.

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52 Capítulo 4. Os Teoremas de Ratner

Teorema 4.26. Seja µ uma medida em X ergódica com relação ao fluxo gerado pelos elementos

ut do grupo U. Se A ⊂ stab(µ), então existe um ponto x ∈ X tal que µ(xU) = 1.

Demonstração. Pelo Lema 4.16, conseguimos δ ′ > 0 tal que se y ∈ xW (δ ′), isto é, y = xashr

com |s|, |h|< δ ′, e se C é um conjunto mensurável tal que C ⊂ [0,sδ ′], então

m(C)

m(T (y,C))−1∣

< 0.1,

onde m é a medida de Lebesgue e φy(x) = T (y,x).

Considere δ > 0 tal que para todo s com 0 < |s|< δ ≤ δ ′, temos que as ∈ stab(µ). Note

que isso é possível, pois caso contrário teríamos uma sequência (asn)n∈N ⊂ stab(µ) convergindo

para a identidade I2, e então, conseguimos aproximar qualquer elemento as do grupo A por uma

combinação de elementos da sequência (asn). Mas como stab(µ) é um grupo fechado, teríamos

que A ⊂ stab(µ), pois todo ponto de A seria um ponto de acumulação de stab(µ).

Pela Propriedade de Ratner 4.15, conseguimos constantes 0 < η < 1 e C > 1 tal que

δ/2 ≤ |S(y,s)|≤ δ , |R(y,s)|≤Cδ

sδ∀s ∈ [(1−η)sδ ,sδ ]

dado que y ∈ xW (δ ). Além disso, pela Proposição 4.23, conseguimos Y ⊂ X , com µ(Y ) = 1 e

Y ∩Y (B− stab(µ)) = /0. Logo, existe um compacto K ⊂ Y e ε > 0 tal que

µ(K) > 1−η/1000 e dX(K,Kas)≥ ε

para todo δ/2 ≤ |s|≤ δ , já que nesse caso as ∈ stab(µ) e portanto as ∈ B− stab(µ).

Como µ é ergódica pela ação do grupo U , existe um conjunto mensurável F ⊂ X com

medida positiva e t0 ≥ 1 tal que

SK(x, t) =1t

∫ t

01K(xus)ds ≥ 1−η/100,

para todo x ∈ F e t > t0. Portanto, existe 0 ≤ t ′ ≤ t tal que, se x,y ∈ F , então xut ′ ∈ K e yut ′ ∈ K.

Utilizando o Corolário 4.14, defina 0 < ξ < δ pequeno o suficiente para que se x ∈ X

e y ∈ xW (ξ ), então sδ ≥ 10t0 e Cδ/sδ < ε/10. Perceba que com essa escolha, conseguimos

t ′ ∈ [(1−η)sδ ,sδ ] tal que xut ′ ∈K e yut ′ ∈K, pois caso isto não fosse verdade, como já sabemos

que existe tal t ′ ∈ [0,sδ ], então t ′ estaria estritamente contido em [0,(1− sδ )η] e portanto

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4.3. Teorema de Classificação para o grupo SL2(R): Prova completa 53

SK(x,sδ )+Sk(y,sδ ) =1sδ

∫ sδ (1−η)

01K(xus)ds+

1sδ

∫ sδ

sδ (1−η)1K(xus)ds

+1sδ

∫ sδ (1−η)

01K(yus)ds+

1sδ

∫ sδ

sδ (1−η)1K(yus)ds

=1sδ

∫ sδ (1−η)

01K(xus)+1K(yus)ds

+1sδ

∫ sδ

sδ (1−η)1K(xus)+1K(yus)ds

≤2sδ (1−η)

sδ+

sδ − sδ (1−η)

sδ= 2−η.

Mas então teríamos que

SK(x,sδ )≤ 2−η −Sk(y,sδ )≤ 2−η −1+η/100 < 1−η/100,

contrariando o fato de SK(x,sδ )≥ 1−η/100.

Vamos mostrar que F ∩Oξ (x) ⊂ xB(ξ ), onde Oξ (x) representa a bola aberta de raio ξ

e centro x .

Suponha que isso não seja verdade, então existe x,y ∈ F com y = xashr e |s| < ξ e

0 < |r|< ξ . Pela escolha de ξ , temos que sδ > t0 e T (y,sδ )> t0, então é claro que SK(x,sδ )≥1−η/100 e SK(x,T (y,sδ ))≥ 1−η/100. Além disso, como δ < δ ′ via Lema 4.16, conseguimos

um valor t ′ ∈ [(1−η)sδ ,sδ ] tal que xut ′ ∈ K e yuT (y,t ′) ∈ K. Mas então, pelo lema de mudança

de coordenadas 4.9 temos que

yuT (y,t ′) = xut ′aS(y,t ′)hR(y,t ′)

e pela propriedade de Ratner 4.15, temos

δ/2 ≤ |S(y, t ′)|≤ δ e |R(y, t ′)|≤Cδ

sδ< ε/10.

Como yuT (y,t ′) ∈ K e xut ′ ∈ K, então é claro que xut ′aS(y,t ′) ∈ KaS(y,t ′) e consequentemente,

dX(K,KaS(y,t ′)) ≤ dX(yuT (y,t ′),xut ′aS(y,t ′))

= dX(xut ′aS(y,t ′)hR(y,t ′),xut ′aS(y,t ′))≤ ε/10

contrariando o fato de que dX(K,Kas) ≥ ε para todo δ/2 ≥ |s| ≤ δ e portanto, temos que

F ∩Oξ (x)⊂ xB(ξ ).

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54 Capítulo 4. Os Teoremas de Ratner

Para finalizar, note que como

Y ∩Y (B− stab(µ)) = /0,

então

Y ∩ xB(ξ )⊂U.

Além disso, como µ(F)> 0 e µ(Y ) = 1, deve existir x ∈ F ∩Y tal que µ(F ∩Oξ (x))> 0, logo

0 < µ(F ∩Oξ (x))< µ(xB(ξ )) = µ(Y ∩ xB(ξ ))< µ(xU),

mas como µ é ergódica pela ação do grupo U , então µ(xU) = 1, concluindo o resultado.

O resultado acima conclui o caso em que A ⊂ stab(µ). Vamos supor daqui em diante

que A ⊂ stab(µ).

Definição 4.27. Dado as ∈ A, defina a função hµ(as) como

hµ(as) = log |det(AdU(a

s))|−1,

onde AdU(as) representa a transformação por conjugação x #→ asxa−s em U .

A prova dos próximos lemas será dada na seção 5.2.

Lema 4.28. Seja µ uma medida qualquer de tal forma que A ⊂ stab(µ), então

hµ(as)≤ 2|s|.

Valendo a igualdade se, e só se, U ⊂ stab(µ).

De forma análoga

Lema 4.29. Seja µ uma medida qualquer de tal forma que A ⊂ stab(µ), então

hµ(a−s)≤ 2|s|.

Valendo a igualdade se, e só se, H ⊂ stab(µ).

Lema 4.30. Vale a seguinte igualdade

hµ(as) = hµ(a

−s)

Teorema 4.31. Seja µ uma medida em X ergódica com relação à U. Se A ⊂ stab(µ), então µ é

a medida de Haar de X .

Demonstração. Como A ⊂ stab(µ) e µ é ergódica com relação à U , pelos lemas anteriores

temos que

hµ(a−s) = hµ(a

s) = 2|s|.

Mas isso quer dizer que A, H e U estão contidos em stab(µ). Como SL2(R) é gerado por A, H e

U , temos que stab(µ) = SL2(R) e portando a medida µ é a medida de Haar de SL2(R) induzida

no espaço homogêneo X , como definido em 2.55, já que esta é a única invariante por qualquer

translação.

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55

CAPÍTULO

5

ENTROPIA

5.1 Introdução

Ao longo desta seção, utilizaremos (ROKHLIN, 1967) como texto base.

Definição 5.1. Seja (X ,B,m) um espaço de probabilidade. Uma partição mensurável α ⊂B

de X é uma coleção finita ou enumerável de subconjuntos disjuntos {Ai}i∈N tal que

∞⋃

i=1

Ai = X .

Dada uma partição α de X e um elemento x, vamos denotar por α(x) o único elemento

de α que contém x.

Definição 5.2. Dada uma partição mensurável α de um espaço de probabilidade (X ,B,µ),

definimos a entropia da partição H(α) por

H(α) :=−∞

∑i=1

log(µ(Ai))µ(Ai).

Definição 5.3. Dadas duas partições α e β de X , definimos a entropia condicional H(β |α)

por

H(β |α) :=− ∑Ai∈α

µ(Ai) ∑B j∈β

µ(B j|Ai) log(µ(B j|Ai))

Definição 5.4. Sejam α e β duas partições de X . Definimos a soma das partições α e β ,

denotada por α ∨β , como

α ∨β = {Ai ∩B j | Ai ∈ α, B j ∈ β}.

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56 Capítulo 5. Entropia

Lema 5.5. Temos que

H(α ∨β ) = H(α)+H(β |α)

Demonstração. Pela definição, se Ai ∈ α e Bi ∈ β , então

H(β |α) := −∞

∑i=1

µ(Ai)∞

∑j=1

µ(B j|Ai) log(µ(B j|Ai))

= −∞

∑i=1

µ(Ai)∞

∑j=1

µ(B j ∩Ai)

µ(Ai)log(

µ(B j ∩Ai)

µ(Ai))

= −∞

∑i=1

∑j=1

µ(B j ∩Ai) log(µ(B j ∩Ai)

µ(Ai))

= −∞

∑i=1

∑j=1

µ(B j ∩Ai) log(µ(B j ∩Ai))+∞

∑i=1

∑j=1

µ(B j ∩Ai) log(µ(Ai))

= H(α ∨β )+∞

∑i=1

∑j=1

µ(B j ∩Ai) log(µ(Ai))

= H(α ∨β )+∞

∑i=1

µ(Ai) log(µ(Ai)))

= H(α ∨β )−H(α)

Definição 5.6. Dadas duas partições finitas α e β de (X ,B,µ), então

1. Temos que β é um refinamento de α , se β (x)⊂ α(x) e denotamos isso por α ≤ β .

2. Dizemos que α e β são partições independentes se µ(A∩B) = µ(A)µ(B) para todo

A ∈ α e B ∈ β e denotamos isso por α ⊥ β .

Lema 5.7. Seja T : X → X uma transformação mensurável invariante por uma probabilidade

µ . Então temos que

an := H

(

n−1∨

i=0

T−iα

)

é subaditiva, isto é, vale a desigualdade an+k ≤ an +ak para todo n,k ∈ N.

Demonstração. Considerando a partição

β =n+m−1∨

i=n

T−iα,

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5.1. Introdução 57

pelo Lema 5.5, temos que

an+m = H

(

n+m−1∨

i=0

T−iα

)

= H

(

n−1∨

i=0

T−iα

)

+H

(

n+m−1∨

i=n

T−iα|n−1∨

i=0

T−iα

)

≤ H

(

n−1∨

i=0

T−iα

)

+H

(

n+m−1∨

i=n

T−iα

)

.

Fazendo j =−n+ i temos que

H

(

n−1∨

i=0

T−iα

)

+H

(

m−1∨

j=0

T− j−nα

)

= an +H

(

T−nm−1∨

j=0

T− jα

)

Como T preserva medida, temos que H

(

T−nm−1∨

j=0

T− jα

)

= am e portanto

an+m ≤ an +am.

Definição 5.8. Dada uma partição finita α do espaço de probabilidade (X ,B,µ) e uma trans-

formação T que preserva µ , definimos a entropia da transformação T dada a partição α

por:

hµ(T ;α) := limn→+∞

1n

H

(

n−1∨

i=0

T−iα

)

.

Proposição 5.9. O limite

hµ(T ;α) := limn→+∞

1n

H

(

n−1∨

i=0

T−iα

)

está bem definido.

Demonstração. Seja

an := H

(

n−1∨

i=0

T−iα

)

.

Como esta sequência é subaditiva, dados n,m ∈ N temos que

an·m ≤ am +an·(m−1) ≤ ...≤ n ·am.

Portanto, dado k ∈ Nank

nk≤

ak

k. (5.10)

Pelo algoritmo de divisão de Euclides, dado m ∈ N, temos que

m = nk+ l,

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58 Capítulo 5. Entropia

onde l ∈ {0,1, ...,k−1}.

Utilizando 5.10, temos que

am

m=

an·knk+ l

+al

nk+ l≤

ank

nk+

al

nk+ l≤

ak

k+

al

nk+ l.

Tomando o limite quando m tende ao infinito, como k está fixado, temos que n tende ao infinito,

e então

limsupm−→+∞

am

m≤ limsup

m−→+∞

(

ak

k+

al

nk+ l

)

≤ limsupm−→+∞

(ak

k+

ak

m

)

=ak

k

Da mesma forma, conseguimos que

limsupm−→+∞

am

m≤ liminf

k−→+∞

ak

k

Concluímos então que o limiteam

mexiste e é igual ao seu limite inferior.

Proposição 5.11. Vale a seguinte equivalência:

hµ(T ;α) = limn→+∞

H

(

α |n∨

i=1

T−iα

)

.

Demonstração. Dado n ∈ N, pelo Lema 5.5, temos que

H(n∨

i=0

T−iα) = H(α ∨

(

n∨

i=1

T−iα

)

) = H(α|n∨

i=1

T−iα)+H(n∨

i=1

T−iα).

E portanto, indutivamente, temos

H(n∨

i=0

T−iα) = H(α|n−1∨

i=1

T−iα)+H(n−1∨

i=1

T−iα) = H(α|n−1∨

i=1

T−iα)+H(n−1∨

i=0

T−iα)

= H(α|n−1∨

i=1

T−iα)+H(α|n−2∨

i=1

T−iα)+H(α|n−2∨

i=1

T−iα)

· · ·

= H(α|n−1∨

i=1

T−iα)+H(α|n−2∨

i=1

T−iα)+ ...+H(α).

Temos então, que1n

n−1

∑k=1

H(α|k∨

i=1

T−iα) =1n

H(n∨

i=0

T−iα)−1n

H(α)

Como

H(α|k∨

i=1

T−iα)≤ H(α|k−1∨

i=1

T−iα)≤ ...≤ H(α)≤ H(α)

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5.1. Introdução 59

temos que a sequência dos H(α|∨k

i=1 T−iα) é decrescente e limitada inferiormente por zero,

ou seja, é convergente

Portanto,n

∑k=1

H(α|k∨

i=1

T−iα)

é Cesàro convergente para limn→+∞

H(α|n∨

i=1

T−iα).

Logo, temos que

limn→+∞

H(α|n∨

i=1

T−iα) = limn→+∞

k

∑k=1

1n

H(α|k∨

i=1

T−iα) = limn−→+∞

1n

H(n∨

i=0

T−iα)−1n

H(α)

= limn−→+∞

1n

H(n∨

i=0

T−iα)

= hµ(T ;α)

Definição 5.12. Seja T uma transformação mensurável em um espaço de probabilidade (X ,B,µ)

que preserva µ . Então a entropia de T com respeito a medida µ é definida como

hµ(T ) = suphµ(T ;α)

onde o supremo é tomado sobre todas as partições mensuráveis de X com H(α)< ∞.

Definição 5.13. Seja (αn)n∈N uma sequência de partições de um espaço de probabilidade

(X ,B,µ), tal que αn ≤ αn+1 e H(αn) < ∞ para todo n ∈ N. Dizemos que (αn)n∈N é uma

sequência de partições geradora de B, se

σ(∞⋃

n=1

αn) = B

onde σ(A) representa a menor σ -álgebra contendo A ⊂ B.

Teorema 5.14. Seja (X ,B,µ) um espaço de probabilidade, onde T é metrizável. Se (αn)n∈N é

uma sequência de partições de X com entropia finita, tal que αn ≤ αn+1 e

diam(αk(x))→ 0

para quase todo x ∈ X . Então (αn)n∈N gera B.

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60 Capítulo 5. Entropia

Demonstração. Dado um aberto U qualquer, temos que, para quase todo x ∈ X existe nx ∈ N

tal que

αnx(x)⊂U.

Considere A a álgebra gerada por⋃∞

n=1 αn. Note que A é enumerável, já que é formado por

uniões e interseções finitas de conjuntos de⋃∞

n=1 αn, que por sua vez é uma união enumerável

de conjuntos enumeráveis. Além disso, para quase todo x ∈ X , temos que αnx(x) ∈ A , ou seja,

existe apenas uma quantidade enumerável de possibilidades para αnx(x). Portanto, podemos

escrever o aberto U como

U =⋃

x∈U

αnx

de tal forma que a união⋃

x∈U αnx é enumerável e portanto pertence a σ(A ). Mas então σ(A )

contém todos os abertos e portanto é igual à σ -álgebra de Borel B.

Teorema 5.15 (Kolmogorov-Sinai). Seja (αn)n∈N uma sequência de partições mensuráveis com

entropia finita que geram B. Então

hµ(T ) = limn→+∞

hµ(T ;αn).

Definição 5.16. Dizemos que uma partição α é uma partição geradora por T , onde T é uma

transformação mensurável invertível que preserva µ se

n−1∨

j=−(n−1)

T− jα → B.

Denotamos o limite de∨n−1

j=−(n−1) T− jα por αT .

Definição 5.17. Dizemos que uma partição α é uma partição geradora forte por T , onde T

é uma transformação mensurável que preserva µ se

n−1∨

j=0

T− jα → B.

Denotamos o limite de∨n−1

j=0 T− jα por α−.

Proposição 5.18 (Teorema de Sinai). Se α é uma partição geradora forte com entropia finita,

ou T é invertível e α é uma geradora por T com entropia finita, então

hµ(T ) = hµ(T ;α).

Page 77: Assinatura: · Nesta dissertação, estudamos um caso especial do seguinte teorema, devido a Marina Ratner (Capítulo 4): Teorema 1.1 (Teorema de Ratner de classificação de medidas)

5.2. Cálculo de Entropia em Espaços Homogêneos 61

Demonstração. No caso de α se uma geradora forte, basta definir a sequência de partições αn

por

αn =n−1∨

j=0

T− jα

e utilizar o Teorema de Kolmogorov-Sinai 5.15.

No caso de α ser uma partição geradora por T , com T inversível, note que se γ e β são duas

partições, então

T γ ∨β = T (γ ∨T−1β )

e portanto, como T preserva µ

H(

∨n−1j=−(n−1)T

− jα)

= H(∨2(n−1)j=0 T− jα)

ou seja,

hµ(T ;∨n−1j=−(n−1)T

− jα) = hµ(T ;α)

e então basta usar o Teorema de Kolmogorov-Sinai 5.15 novamente.

5.2 Cálculo de Entropia em Espaços Homogêneos

O nosso objetivo nesta seção é desenvolver o argumento utilizado na prova do Teorema

4.31. Para isso, ao longo do texto, vamos considerar G = SL2(R), Γ = SL2(Z) um lattice, s =

as ∈ A e definir os conjuntos:

W− =W−G (s) = {x ∈ G | snxs−n → I2 quando n →−∞},

W+ =W+G (s) = {x ∈ G | snxs−n → I2 quando n →+∞},

Z = ZG(s) = {x ∈ G | sxs− = x}.

Note que no caso no nosso caso, W−1 = H, W+ =U e Z = A.

Escolha p ∈ support(µ) e ε,δ de tal forma que

x #−→ xp,x ∈ D := H(δ )A(ε)U(ε)

seja um homeomorfismo em D′ := Dp ∈ Γ\G = X . Vamos definir também C′ = A(ε)U(ε)p e

B′ = H(δ ).

Lema 5.19. Fixe s de tal forma diam(sXs−1) ≤1

10diam(X) para todo X ⊂ B′ . Dado c ∈ C

qualquer, existe um subconjunto Ec ⊂ Hc contendo c tal que:

i) se snEc ∩E = /0 para algum c ∈C, n > 0, então snEc ⊂ E.

ii) Ec é aberto em Hc (com a topologia induzida) e E :=⋃

c∈C

Ec é aberto em X .

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62 Capítulo 5. Entropia

iii) Ec ⊂ B′c;

Demonstração. Seja B′ a bola centrada em I de raio a/2 e B0 a bola centrada em I de raio

a/10. Dado c ∈ C, vamos definir Ec de tal forma que x está em Ec se existe p ∈ N tal que

{c0 = c,c1, ...,cp} é uma sequência de elementos de C e {n0 = 0,n1, ...,np} é uma sequência de

naturais positivos satisfazendo:

- x ∈ snpB0cp.

- sni−1B0ci−1 ∩ sniB0ci = /0.

com 1 ≤ i ≤ p.

Vamos denotar por p(x) ∈ N o menor natural satisfazendo as propriedades acima.

Prova do item i: É claro que se snEc ∩E = /0 então existe d ∈C tal que snEc ∩Ed = /0.

Vamos mostrar que snEc ⊂ Ed. Tome x ∈ snEc, pela definição de E, existe p ∈N tal que

{c0 = c,c1, ...,cp} é uma sequência de elementos de C, {n0 = 0,n1, ...,np} é uma sequência de

naturais positivos satisfazendo

x ∈ s(np+n)B0cp

e também

s(ni−1+n)B0ci−1 ∩ s(ni+n)B0ci = /0.

Seja y ∈ snEc ∩Ed , então existem k, l ∈ N tal que {c′0 = c,c′1, ...,c′k}, {d0 = d,d1, ...,dl}

são sequências de elementos de C, {n′0 = 0,n′1, ...,n′k}, {m0 = 0,m1, ...,ml} são sequências de

naturais positivos tais que

- Temos que y ∈ s(n′k+n)B0ck.

- Temos que y ∈ sml B0dl.

- Para 1 ≤ i ≤ k, temos que s(n′i−1+n)B0ci−1 ∩ s(n

′i+n)B0ci = /0.

- Para 1 ≤ i ≤ l., temos que smi−1B0ci−1 ∩ smiB0ci = /0 .

Considerando a sequência de naturais

{0,m1,m2, ...,ml,n′k +n,n′k−1 +n, ...,n′1+n,n+0,n+n1, ...,np+n}

e a sequência de elementos em C

{d0 = d,d1, ...,dl,c′k, ...,c

′1,c

′0 = c0 = c,c1,c2, ...,cp}

temos o resultado. De fato, note que se x ∈ s(np+n)B0cp, então

snB0c∩ s(n′1+n)B0c′1 = /0

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5.2. Cálculo de Entropia em Espaços Homogêneos 63

e portanto

s(n′k+n)B0ck ∩ sml B0dl = /0

já que y ∈ s(n′k+n)B0ck ∩ml B0dl. E as outras interseções são satisfeitas pela escolha da sequência

{m0 = 0,m1, ...,ml}. Logo snEc ⊂ E.

Prova do item ii: É automático pela nossa definição.

Prova do item iii: Vamos provar por indução em p(x).

É claro que o resultado é válido quando p(x) = 0. Assuma que provamos para todo

y ∈ Ed com p(y)≤ k−1.

Seja x ∈ Ec com p(x) = k e com sequências {c0 = c,c1, ...,cp} e {n0 = 0,n1, ...,np}.

Vamos mostrar que n = n j = min{n1,n2, ...,nk} é maior que zero.

Suponha n = n j = 0, então pela construção dos conjuntos Ed temos que x ∈ Ec j .

Usando a hipótese de indução, temos que x ∈ B′c j, ou seja, x ∈ B′C′ e portanto x ∈ B′c

Como definimos B′ para a translação ser um homeomorfismo, isto é,

(B′d1 ∩B′d2 = /0)⇒ (d1 = d2).

temos que c0 = c j, contrariando a minimalidade de p(x). Além disso a hipótese de indução nos

dá quej⋃

i=1

sniB0ci ⊂ snB′c j ek⋃

i= j

sniB0ci ⊂ snB′c j

com n > 0. Utilizando a hipótese que diam(sXs−1)≤1

10diam(X), temos que

diam

(

k⋃

i=1

sniB0ci

)

≤ diam

(

j⋃

i=1

sniB0ci

)

+ diam

(

k⋃

i= j

sniB0ci

)

≤ diam(

snB′c j

)

+ diam(

snB′c j

)

≤ diam(

snB′s−nsnc j

)

+ diam(

snB′s−nsnc j

)

≤1

10diam

(

B′snc j

)

+1

10diam

(

B′snc j

)

≤1

10a

2+

110

a

2=

a

10.

Isso implica que

diam

(

k⋃

i=0

sniB0ci

)

≤ diam(B0c0)+diam

(

k⋃

i=1

sniB0ci

)

≤a

10+

a

10<

a

2= diam(B′c),

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64 Capítulo 5. Entropia

mask⋃

i=0

sniB0ci contém c e x, logo x ∈ B′c.

Definição 5.20. Dizemos que uma partição mensurável ξ de (X = G/Γ,µ) é subordinada à

um subconjunto fechado W de G se pra quase todo ponto x valer:

i) ξ (x)⊂Wx.

ii) o fecho de ξ (x) é compacto em Wx.

iii) ξ (x) contém uma vizinhança de x em Wx.

Definição 5.21. Dadas duas partições mensuráveis η e η ′ de (X =G\Γµ), dizemos que η ≤ η ′

se η′(x) ⊂ η(x) pra quase todo ponto.

Definição 5.22. Dado s ∈ G e η uma partição, vamos definir a partição sη por:

(sη)(x) = s(η(s−1x)).

Para finalizar, dizemos que η é s-invariante se η ≤ sη.

Teorema 5.23. Assuma que µ é s-ergódica. Então existe uma partição mensurável, enumerável

η do espaço de medida (X ,µ) onde vale:

i) η é subordinada ao W−;

ii) η é s-invariante;

iii) a entropia condicional H(sη|η) é igual a entropia h(s,µ) do automorfismo x #→ sx com

x ∈ X .

Demonstração. Vamos provar que é suficiente encontrar uma partição enumerável ξ tal que

H(ξ ) < ∞ e η(x) = ξ−(x) para quase todo x ∈ E. A construção de tal partição está feita com

detalhes em (MARGULIS; TOMANOV, 1994) na página 382, vamos apenas completar a prova

provando com detalhes que de fato é isso é suficiente.

Primeiramente, note que

η− =∞∨

k=0

s−kη =∞∨

k=0

s−k∞∨

j=0

s− jξ =∞∨

i=0

s−iη = η,

ou seja, η− = η = ξ−. Agora, vamos mostrar que ξs(x) = {x}. Para isso, considere dois pontos

x,y ∈ E tal que ξs(x) = ξs(y). Como E tem medida positiva, pelo teorema de recorrência de

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5.2. Cálculo de Entropia em Espaços Homogêneos 65

Poincaré, existem infinitos k ∈ N tal que s−kx ∈ E e consequentemente s−ky ∈ E. Portanto se

(kn)n∈N é uma sequência de tal forma que s−knx,s−kny ∈ E, pela terceira propriedade do Lema

5.19 temos que

s−knx,s−kny ∈ Ecn

para algum Ecn ⊂ B′cn ⊂W−cn, ou seja,

x,y ∈ sknEcn ⊂ sknB′cn.

Mas entãodiam(sknEcn) ≤ diam(sknB′cn)≤ diam(sknB′s−knskncn)

≤1

10kndiam(B′skncn)

=1

10kndiam(B′)

e concluímos que

limn→+∞

diam(sknEcn) = 0.

Como x ∈ ξs(x), temos que x = y e ξs(x) = {x}. Além disso, como µ(E) > 0 e µ é ergódica,

dado x ∈ X existem infinitos k ∈ N tal que s−kx ∈ E e portanto ξ é uma partição geradora pelo

Teorema 5.14.

Agora, defina ηi =i∨

k=0

s−kξ . Então temos que ηi gera ξ− = η e também que (ηi)− = η .

Além disso,

(ηi)s =∞∨

−∞

s− jηi =∞∨

−∞

i∨

k=0

s−(k+ j)ξ = ξs

e portanto ηi também é partição geradora para todo i. Logo,

h(s,µ) = h(s,ηi) = H(ηi|s−1(ηi)−) = H(ηi|s−1η)

Fazendo i tender ao infinito, temos

h(s,µ) = limi→+∞

H(ηi|s−1η) = H(η|s−1η) = H(sη|η).

Note que na demonstração do teorema anterior pedimos que a medida µ seja as-ergódica.

Porém, sabemos apenas que µ é U -ergódica, já que estamos sob a hipótese do Teorema de

Ratner de classificação de medidas. Entretanto, também estamos supondo que A ⊂ stab(µ) e

dessa forma, conseguimos o seguinte resultado:

Lema 5.24. Seja µ uma probabilidade de X = Γ\SL2(R) invariante pelo fluxo geodésico A e

pelo fluxo horocíclico U . Então µ é A-ergódica em todo ponto que µ for U -ergódica.

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66 Capítulo 5. Entropia

Demonstração. Baseada na prova de (STARKOV, 2000), Lema 14.1.

Primeiro, vamos mostrar que

I(s) =∫

Xφ(x) f (xas)dµ → 0, s →+∞,

dado que φ e f são funções limitadas e uniformemente contínuas e∫

Xf dµ = 0.

Fixe ε > 0 e escolha 0 < δ < 1 tal que

|φ(x)−φ(z)|< ε, ∀x,z ∈ X , dX(x,z)< δ .

Como estamos supondo que a ação de U é ergódica, existe t0 > 1 e Y ⊂ X tal que

µ(Y )> 1− ε e |S f (y, t)|< ε para todo y ∈ Y e t > t0, onde

S f (x, t) =1t

∫ t

0f (xut)ds.

Tomando s0 > 0 grande a suficiente, tal que e−2s0t = δ e s > s0, então para Ys :=Yas temos que

µ(Ys) = µ(Y )> 1− ε e então, se s′ = δe2s ≥ t0, temos

I(s) =1δ

∫ δ

0

(

Xφ(xus) f (xusa−s)dµ

)

ds

=∫

X

(

∫ δ

0φ(xus) f (xusa−s)ds

)

=∫

X

(

φ(x)

δ

∫ δ

0φ(xus) f (xa−sue2ss)ds

)

dµ + ε1

=∫

X

(

φ(x)

s′

∫ s′

0φ(xus) f (xa−sus)ds

)

dµ + ε1

=∫

Xφ(x)S f (xa−s,s′)dµ + ε1

=∫

Ys

φ(y)S f (ya−s,s′)dµ + ε1 + ε2 = ε1 + ε2 + ε3 → 0.

Onde ε1 aparece pois φ é uniformemente contínua, ε2 porque φ e f são limitadas e ε3 pela

escolha de Y.

Agora, dados C,D conjuntos µ-mensuráveis com medida positiva, tomando f (x) =

1C(x)− µ(C) e φ(x) = 1D(x), por um argumento de aproximação por funções contínuas, te-

mos que

lims→+∞

X1D(x)(1C(xas)−µ(C))dµ = µ(D∩Cas)−µ(D)µ(C) = 0

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5.2. Cálculo de Entropia em Espaços Homogêneos 67

Ou seja,

lims→+∞

µ(Cas ∩D) = µ(C)µ(D).

Tomando D =C, note que se C é invariante por as, então como µ é invariante por A

µ(C) = µ(C)2

e então, µ(C) = 0 ou µ(C) = 1 e portanto, a medida µ é A-ergódica em todo ponto que µ for

U -ergódica.

Lema 5.25. Seja T um automorfismo de um espaço de probabilidade (X ,µ), e seja f uma

função mensurável, positiva, definida em X tal que

log−2f ◦T

f∈ L1(X ,µ)

onde log2(x)− = min{log2(x),0}. Então vale:

1.

limn→+∞

1n

n−1

∑i=0

logg(T n(x)) = 0, quase todo ponto;

2.∫

Xlog2

f ◦T

fdµ = 0.

Demonstração. Provada baseada em (STRELCYN et al., 1982), Proposição 2.2.

Como

log−2f ◦T

f∈ L1(X ,µ)

pelo Teorema Ergódico de Birkhoff 2.66, como toda função h pode ser decomposta em h =

h+−h− com h+,h− ≥ 0 , temos que para µ quase todo ponto o limite abaixo converge

limn→+∞

1n

n−1

∑i=0

log2f (T n+1(x))

f (T n(x))= lim

n→+∞log2

f (T n+1(x))

n= K

e também∫

Xlog2

f ◦T

fdµ =

XKdµ

podendo ser infinito dos dois lados, já que não sabemos se log+2f ◦T

f∈ L1(X ,µ). Como f é

mensurável, e portanto 0 < f < ∞ para quase todo ponto, temos que1n

f converge para 0 para

quase todo ponto e então

limn→+∞

µ({x ∈ X | |1n

log2( f (T n(x))) |≥ ε}) = 0

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68 Capítulo 5. Entropia

pois T é invariante por µ . Isto quer dizer que1n

log2( f (T n(x))) converge para 0 em medida e

então existe uma subsequência tal que

limk→+∞

1nk

log2 f (T nk+1(x)) = 0

para µ quase todo ponto. Mas então temos que K = 0 provando o item 1 e 2.

Lema 5.26. Seja V um subgrupo fechado de W− normalizado por s, isto é, sVs−1 =V e η uma

partição mensurável de (X = G\Γ,µ) subordinada a V . Assuma que η ≤ sη e que para quase

todo x ∈ X , a medida condicional µx,η de µ em η(x) é proporcional a restrição de η(x) de uma

medida invariante por V em V x. Então a medida µ é invariante pela ação de V .

Demonstração. Ver (MARGULIS; TOMANOV, 1994), Lema 9.5.

Proposição 5.27. Seja V um subgrupo fechado de W− normalizado por s a seja η uma partição

mensurável de X , invariante por s e subordinada a V . Então vale

i) Se µ é V invariante, então H(sη|η) = log2(|det(AdW+G(g))|−1).

ii) H(sη|η)≤ log2(|det(AdW+G(g))|−1). E se vale a igualdade, então µ é invariante por V .

Demonstração. Como η ≤ sη para µ quase todo x ∈ X , temos uma partição ηx de η(x) tal que

nx(y) = (sη)(y) para quase todo y ∈ η(x).

Denote por τ a medida de Haar de V . Como η(x) ⊂V x temos que τ induz uma medida

em η(x) que denotaremos também por τ .

Seja L(x) = τ(η(x)) e τx = τ/L(x), para x ∈ X e µx a probabilidade condicional em

η(x) induzida por µ . Fazendo p(x) = τx(ηx(x)) e r(x) = µx(ηx(x)), como ηx(x) = s(η(s−1x))

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5.2. Cálculo de Entropia em Espaços Homogêneos 69

temos quep(x) = τx(ηx(x))

=τ(ηx(x))

L(x)

=τ((sη)(x))

L(x)

=τ(s(η(s−1x)))

L(x)

=τ(η(s−1x))|det(AdW+

G(g))|−1

L(x)

=L(s−1x)|det(AdW+

G(g))|−1

L(x)

onde |det(AdW+G(g))| aparece na última igualdade devido a mudança do elemento de volume

da medida τ.

Como η é subordinada a V, temos que L(x) = τ(η(x)) é uma função mensurável e

positiva já que τ é a medida de Haar de V e também temos que como p(x) = τx(ηx(x)), então

p(x)≤ 1. Logo,

log−2L(s−1x)

L(x)∈ L1(X).

Então pelo Lema 5.25,∫

Xlog2

L(s−1x)

L(x)= 0

e portanto

Xlog2 p(x)dµ(x) =

Xlog2

L(s−1x)|det(AdW+G(s))|−1

L(x)dµ(x)

=∫

Xlog2

L(s−1x)

L(x)dµ(x)+

X|det(AdW+

G(s))|−1dµ(x)

= − log2 |det(AdW+G(s))|.

Item i): Assuma que µ é V -invariante, portanto µx = τx para quase todo ponto x ∈ X , já que

µx também é invariante e a medida de Haar é única com essa propriedade. Em particular, pela

construção de p(x) e r(x), temos que p(x) = r(x) em quase todo ponto, mas então

log |det(AdW+G(s))|=−

Xlog2 p(x)dµ(x) =−

Xlog2 r(x)dµ(x) = H(sη|η),

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70 Capítulo 5. Entropia

já que

−∫

Xlog2 r(x)dµ(x) = −

Xlogµx(ηx(x))dµ(x)

= −∫

Xlogµx((sη)(x))dµ(x)

= − ∑Ni∈η

µ(Ni) ∑Mi∈sη

µ(m j|Ni) log(µ(Mj|Ni))

= H(sη|η).Provando o item i).

Item ii): Seja Yi(x), 1 ≤ i <+∞, os elementos da partição enumerável ηx de η(x). Temos então

que

Xlog p(y)dµx(y)−

Xlogr(y)dµx(y) =

+∞

∑i=1

log2τx(Yi(x))

µx(Yi(x))µx(Yi(x)).

Também temos que+∞

∑i=1

τx(Yi(x))≤ 1, (5.28)

e que+∞

∑i=1

µx(Yi(x)) = 1. (5.29)

Note que em 5.28, podemos ter uma desigualdade de fato já que só temos que η(x)⊂Vx

e então a diferença desses dois conjuntos pode ter medida positiva (lembrando que τ é a medida

de Haar de V ).

Usando a convexidade da função log, temos que∫

η(x)log2 p(y)dµx(y)≤

η(x)log2 r(y)dµx(y) (5.30)

por 5.29, 5.28 e o fato de que p(x) = τx(ηx(x)) e r(x) = µx(ηx(x)). Além disso, a igualdade

acima vale se, e só se, p(y) = q(y) para todo y ∈ η(x).

Mas então, por 5.30, temos que

H(sη|η)≤ log |det(AdW+G(s))|−1.

Agora, se

H(sη|η) = log |det(AdW+G(s))|−1,

então temos que τx((skη)(x)) = µx((skη)(x)) para todo k > 0 e para quase todo x ∈ X . Como η

é uma partição geradora, como mostramos em 5.23, temos que µx = τx para quase todo x ∈ X ,

já que está será uma partição por ponto, isto é, a partição de x é {x} para quase todo x ∈ X .

Utilizando o lema anterior, temos que µ é invariante por V .

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5.2. Cálculo de Entropia em Espaços Homogêneos 71

Perceba que a Proposição 5.27 conclui o Teorema 4.31. Pois, podemos considerar

V = H =

{

hr =

(

1 0

r 1

)

| r ∈ R

}

e portanto

H(sη|η)≤ | log |det(AdW+G(s))|−1 = 2|s|

já que H já é normalizado por A.

Mas, é fácil ver que

log2 |det(AdW+G(s))|−1 = log2 |det(AdW+

G(−s))|−1 = 2|s|,

pela mudança de coordenadas s #→ −s.

Agora, como µ é U invariante já que é U -ergódica, vale a igualdade e portanto, µ

também será invariante por H. Logo, a medida µ é invariante por A,H e U e então é invariante

por todo o grupo SL2(R). Concluímos assim o Teorema 4.31.

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73

CAPÍTULO

6

A CONJECTURA DE OPPENHEIM

Teorema 6.1 (Conjectura de Oppenheim - Teorema de Margulis). Seja Q uma forma qua-

drática real, indefinida, não degenerada com n≥ 3 variáveis. Se Q não é um múltiplo escalar

de uma forma com coeficientes inteiros, então Q(Zn) é denso em R.

A conjectura de Oppenheim foi proposta por Oppenheim em 1929 e completamente

provada por Margullis em 1987 utilizando as técnicas de teoria ergódica em espaço homogêneos

que desenvolvemos ao longo do nosso trabalho.

Nesta seção, utilizaremos o Teorema de Ratner do fecho da órbita 4.4 para provarmos a

Conjectura de Oppenheim, também conhecida com Teorema de Margulis.

Definição 6.2. Uma forma quadrática real Q de ordem n é um polinômio homogêneo de grau

2 em n variáveis com coeficientes reais.

Observe que, dado uma forma quadrática Q nas variáveis x1,x2, ...,xn podemos associar

uma matriz AQ simétrica com coeficientes reais, de tal forma que

Q(x1,x2, ...,xn) = xAQxT

onde x = (x1, ...,xn) e xT é a transposição do vetor x.

Exemplo 6.3. Considere Q(x,y,z) = x2 +4xy+4xz+ y2 +4πz2. Então temos

Q(x,y,z) =(

x y z)

1 2 2

2 1 0

2 0 4π

x

y

z

é uma forma quadrática de grau 3 com a matriz associada AQ

AQ =

1 2 2

2 1 0

2 0 4π

⎠.

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74 Capítulo 6. A conjectura de Oppenheim

Definição 6.4. Uma forma quadrática Q real de grau n é indefinida se Q assume valores

positivos e negativos.

Exemplo 6.5. Temos que:

- Q1(x,y) = x2 − y2 é indefinida, já que Q1(1,0) = 1 e Q1(0,1) =−1.

- Q2(x,y) = x2 −2xy+ y2 é definida, já que Q2(x,y) = (x− y)2 ≥ 0.

- A forma quadrática dada no exemplo 6.3 é indefinida, já que

Q(1,−2,0) =−3 e Q(1,0,0) = 1.

Definição 6.6. Uma forma quadrática real Q de grau n é degenerada se a matriz associada AQ

tem determinante nulo, ou equivalente, existe uma mudança de coordenadas que transforma Q

numa forma quadrática de grau menor que n.

Exemplo 6.7. Temos que:

- A forma quadrática definida no exemplo 6.3 é não degenerada, já que

det(AQ) =−4(1+3π) = 0.

- A forma quadrática de grau 3

Q2(x,y,z) = x2 +2xy+ y2 + z2 =(

x y z)

1 1 0

1 1 0

0 0 1

x

y

z

é degenerada, já que det(AQ2) = 0. Note que, existe uma mudança de coordenadas que

faz com que Q2 fique na seguinte forma

Q2(u,v,w) = v2 +2w2 =[

u v w]

0 0 0

0 1 0

0 0 2

u

v

w

⎦,

mas v2 +2w2 é uma forma quadrática de grau 2.

Definição 6.8. Dada Q uma forma quadrática real de grau n, então

SO(Q) = {h ∈ SLn(R) | Q(vh) = Q(v),∀v ∈ Rn}

é chamado de grupo de isometrias de Q ou também grupo ortogonal especial de Q.

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75

Observação 6.9. No caso especial da forma quadrática Q ser da forma

Q(x1,x2, ...,xm+n) = x21 + ...+ x2

m− x2m+1 − ...− x2

m+n

denotaremos seu grupo de isometrias por SO(m,n).

Proposição 6.10. Seja so(2,1) a álgebra de Lie do grupo SO(2,1), então

so(2,1) =

0 b c

−b 0 d

c d 0

⎠∈ Matn×n(R) | b,c,d ∈ R

.

Demonstração. Observe que dada M ∈ SL3(R), então M ∈ SO2(R) se, e só se:

Mt

1 0 0

0 1 0

0 0 −1

⎠M =

1 0 0

0 1 0

0 0 −1

⎠.

Portanto, dada uma matriz A∈Matn×n(R), como A∈ so(2,1) se, e só se, exp(t ·A)∈ SO(2,1), ∀t ∈R, temos que

exp(t ·A)T

1 0 0

0 1 0

0 0 −1

⎠exp(t ·A) =

1 0 0

0 1 0

0 0 −1

⎠, ∀t ∈ R.

Mas então

exp(−t ·A) =

1 0 0

0 1 0

0 0 −1

−1

exp(t ·A)T

1 0 0

0 1 0

0 0 −1

.

Definindo

I2,1 =

1 0 0

0 1 0

0 0 −1

e utilizando o item v da Proposição 2.33, temos que

exp(−t ·A) = exp(t · I−12,1 ·A

T · I2,1)

Agora, derivando como no item vii da Proposição 2.33, temos que

−A · exp(−t ·A) = I−12,1 ·A

T · I2,1 · exp(t · I−12,1 ·A

T · I2,1)

e finalmente, fazendo t = 0, concluímos que a matriz A deve satisfazer:

−A = I−12,1 ·A

T · I2,1. (6.11)

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76 Capítulo 6. A conjectura de Oppenheim

Se substituirmos a matriz A por⎛

a b c

c d e

f g h

então a expressão 6.11 nos dá que

so(2,1) =

0 b c

−b 0 d

c d 0

⎠∈ Matn×n(R) | b,c,d ∈ R.

.

Como já foi dito, o nosso objetivo nesta seção é utilizar o Teorema de Ratner do fecho

da órbita 4.4 para provar a Conjectura de Oppenheim, enunciada em 6.1.

Para isso, precisamos encontrar um grupo G de Lie, um lattice Γ de G e um subgrupo

U de G que seja gerado por elementos unipotentes.

Lema 6.12. Seja SO(2,1)◦ a componente conexa do grupo SO(2,1) que contém a identidade.

Então SO(2,1)◦ é gerada por elementos unipotentes.

Demonstração. Vimos na Seção 2.2, que a álgebra de Lie sl2 do grupo SL2(R) é formada pelas

matrizes de traço nulo, ou seja

sl2 =

{(

a b

c −a

)

∈ Matn×n(R) | a,b ∈ R.

}

.

Pelo Teorema 2.39, se conseguirmos um isomorfismo entre sl2 e so(2,1) que preserva o produto

[ ·, ·] teremos que SO(2,1)◦ é localmente isomorfo ao grupo SL2(R), e este último é gerado por

elementos unipotentes como provamos no Lema 3.22. Note que o isomorfismo abaixo preserva

[ ·, ·]:

(

a 0

0 −a

)

#−→

0 a 0

−a 0 0

0 0 0

(

0 b

0 0

)

#−→

0 0 b

0 0 0

b 0 0

(

0 0

c 0

)

#−→

0 0 0

0 0 c

0 c 0

.

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77

Concluímos então, que o grupo de isometrias de uma forma quadrática da forma

x21 + x2

2 − x23

é gerado por elementos unipotentes. A ideia que utilizaremos para provar 6.1 é utilizar a ação

do grupo SO(2,1)◦ no espaço homogêneo SL3(Z)\SL3(R).

Porém, para fazermos isso, precisamos mostrar que é suficiente supor no enunciado da

Conjectura de Oppenheim 6.1 que a forma quadrática Q é da forma

x21 + x2

2 − x23.

Proposição 6.13. Seja M ∈ Matn×n(R) uma matriz simétrica, então existem matrizes O ∈Matn×n(R) e D ∈ Matn×n(R) de tal forma que O é ortogonal (OOT = OT O = In), D é diagonal

e

M = ODOT .

Lema 6.14. Seja Q uma fórma quadrática de grau n ≥ 3, não degenerada, indefinida e que não

seja múltiplo escalar de uma forma quadrática com coeficientes inteiros. Então existem vetores

v1,v2,v3 ∈ Zn tal que a forma quadrática Q′ de grau 3 dada por

Q′(x1,x2,x3) = Q(x1v1 + x2v2 + x3v3), x1,x2,x3 ∈ R

também é não degenerada, indefinida e não é múltipla escalar de uma forma quadrática com

coeficientes inteiros.

Demonstração. Pela Proposição 6.13, após uma mudança de coordenadas, podemos supor que

a matriz associada à forma quadrática Q é da forma

AQ =

α1 0 0 · · · 0 0

0 α2 0 · · · 0 0

0 0 α3 · · · 0 0... . . . ...

...

0 0 0 · · · αn−1 0

0 0 0 · · · 0 αn

com αi = 0, 0 ≤ i ≤ n já que Q é não degenerada. Como Q não é múltipla escalar de uma

forma quadrática com coeficientes inteiros, então devem existir αm,αn tal queαm

αné irracional.

Além disso, podemos supor queαm

αné negativo, pois caso contrário todos as entradas αi teriam

o mesmo sinal, contrariando o fato de Q ser indefinida. Logo, se ei ∈ Zn é o vetor com entradas

nulas exceto na coordenada i, onde vale 1, tomando v1 = em, v2 = en e v3 = ek onde k = m,n,

teremos que, supondo αn < 0 e αm > 0

Q′(x1,x2,x3) = Q(x1v1 + x2v2 + x3v3) = |αm|x2m+ |αk|x2

k − |αn|x2n

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78 Capítulo 6. A conjectura de Oppenheim

é uma forma quadrática de grau 3, indefinida, não degenerada e que não é múltipla escalar de

uma forma em Z, pois se existir β ∈R tal que βQ é uma forma com coeficientes inteiros, então

βαm,βαk,βαn ∈ Z e então teríamos queβαm

βαm∈Q, contrariando a escolha de αm e αn.

Lema 6.15. A álgebra de Lie so(2,1) é uma sub-álgebra maximal da álgebra de Lie sl3(R)

(como no exemplo 2.41), isto é, se h é uma sub-álgebra de Lie tal que

so(2,1)⊂ h⊂ sl3(R)

então h= so(2,1) ou h= sl3.

Demonstração. Ver Seção 1.2 de (MORRIS, 2005)

Corolário 6.16. O subgrupo de Lie SO(2,1)◦ é um subgrupo de Lie maximal em SL3(R), isto

é, se H é um subgrupo de Lie de SL3(R) tal que

SO(2,1)◦ ≤ H ≤ SL3(R),

então H = SO(2,1)◦ ou H = SL3(R).

Demonstração. Seja h a álgebra de Lie do subgrupo H. Então pelo Teorema 2.37 temos que h

é uma sub-álgebra de Lie das álgebras de Lie so(2,1) e sl3(R) dos grupos SO(2,1) e SL3(R),

respectivamente. Pelo Lema anterior, temos que h = so(2,1) ou h = sl3. Utilizando então o

Teorema 2.38, temos que SO(2,1)◦ é um subgrupo conexo maximal.

Demonstração da Conjectura de Oppenheim. Pelo Lema 6.14, podemos supor que a forma qua-

drática Q tem grau 3. Além disso, pela Proposição 6.13, temos que

Q = Q0 ◦OQ,

onde

Q0(x1,x2,x3) = x21 + x2

2 − x23

e OQ é uma matriz ortogonal 3×3. É fácil ver que existe uma constante α ∈R\{0} proporcional

ao determinante de OQ tal que

Q = α ·Q0 ◦gQ,

onde g ∈ SL3(R).

Considere então nas hipóteses do Teorema de Ratner do fecho da órbita 4.4:

- O grupo de Lie G = SL3(R);

- O lattice Γ = SL3(Z) de G;

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79

- O grupo conexo gerado por elementos unipotentes U = SO(2,1)◦ (ver Lema 3.22).

- O elemento x = ΓgQ ∈ Γ/G.

Pelo Teorema de Ratner do fecho da órbita, existe um subgrupo fechado H de G, tal que U ≤H ≤ G e xU = xH, mas pelo Corolário 6.16, sabemos que

H = SO(Q)◦

ou então que

H = SL3(R).

Lema 6.17. Se H = SO(Q)◦ então Q é uma forma quadrática múltipla escalar de uma forma

quadrática com coeficientes inteiros.

Demonstração. Ver o Capítulo 4 em (MORRIS, 2005).

Portanto, podemos concluir que H = SO(Q)◦ já que Q não é múltipla escalar de uma

forma com coeficientes inteiros por hipótese.

Logo, H = SL3(R) e então, pelo Teorema de de Ratner 4.4

SL3(Z)gQ ·SO(2,1)◦ = SL3(R). (6.18)

Como Q = α ·Q0 ◦gQ, temos que

Q(Z3) = α ·Q0(Z3gQ) = α ·Q0(Z

3SL3(Z)gQ).

Além disso, pela Definição do grupo de isometrias de uma forma quadrática 6.8, vale

Q(Z3) = α ·Q0(Z3SL3(Z)gQU) = α ·Q0(Z

3SL3(Z)gQSO(2,1)◦).

Agora, por 6.18 e pela continuidade da forma quadrática, temos que

Q(Z3) = α ·Q0(Z3SL3(Z)gQSO(2,1)◦) = α ·Q0(Z3G) = α ·Q0(Z

3SL3(R)).

É claro que Z3SL3(R) = R3, já que dado (a,b,c) ∈ R3, se a = 0, então

(

1 0 0)

a b c

0 1/a 0

0 0 1

⎠=(

a b c)

.

e os casos em que a = 0 são resolvidos de forma semelhante. Portanto, temos que

Q(Z3) = α ·Q(R3) = R,

já que Q é indefinida.

Concluímos então que a Conjectura de Oppenheim é verdadeira.

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ÍNDICE

álgebra de Lie, 10

órbita, 25

ação

de grupo, 7

simplesmente transitiva, 33

transitiva, 33

unipotente, 32

Conjectura de Oppenheim, 2, 73

domínio fundamental, 14

do n-toro, 5

entropia

condicional, 55

da partição, 55

de uma transformação, 57, 59

ergodicidade, 20, 28

da rotação no círculo, 21

de uma transformação mensurável , 19, 27

rotação irracional, 23

espaço homogêneo, 14

fluxo

ergódico, 27

geodésico, 35

horocíclico, 35

suave , 25

unipotente, 32

forma quadrática, 2, 73

degenerada, 74

indefinida, 74

função característica, 16

grupo, 3

83

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84 Referências

Tn, 5

GLn(R), 4

On(R), 9

SLn(R), 4, 9

abeliano, 3

de isometrias de uma forma quadrática, 74

de Lie, 8

discreto, 12

gerado por elementos unipotentes, 30

homomorfismo, 6

isomorfismo, 6

núcleo de um homomorfismo, 6

normal, 5

quociente, 4

topológico, 14

unipotente, 30

invariante

conjunto, 19

função mensurável, 20, 28

subconjunto, 27

lattice, 15

lema de mudança de coordenadas, 43

médida de Birkhoff, 49

métrica invariante, 12

medida

de Haar, 14

de Haar de um espaço homogêneo, 15

de probabilidade, 16

ergódica, 19, 27

estabilizador, 48

homogênea, 39

invariante, 16

mutualmente singular, 23

pushforward, 48

mutualmente singular, 23

partição

geradora, 59, 60

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Referências 85

geradora forte, 60

independente, 56

invariante, 64

mensurável, 55

refinamento, 56

soma, 56

subordinada, 64

rotação no círculo, 16

teorema

de Haar, 14

de Margulis, 2, 73

de Ratner

da equidistribuição, 40

de classificação de medidas, 1, 39

de classificação de medidas em SL2(R), 40

do fecho da órbita, 40

de Recorrência de Poincaré, 17

de Sinai, 60

do subgrupo fechado, 8

Ergódico de Birkhoff, 18

propriedade de Ratner, 46

transformação

ergódica, 19, 20, 27

exponencial, 10

invariante, 16

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