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ATUALIZA ASSOCIACcedilAtildeO CULTURAL
POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA
LATO SENSU
LUZINETE BISPO OLIVEIRA SANTOS
HUMANIZACcedilAtildeO NO PROCESSO DA MORTE EM
UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA revisatildeo de literatura
SALVADOR 2010
LUZINETE BISPO OLIVEIRA SANTOS
HUMANIZACcedilAtildeO NO PROCESSO DA MORTE EM
UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA revisatildeo de literatura
Monografia apresentada a Atualiza Associaccedilatildeo Cultural-Lato Sensu como
requisito parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de
especialista em Enfermagem em UTI sob a orientaccedilatildeo do profordm Fernando Reis do
Espiacuterito Santo
SALVADOR 2010
S237h Santos Luzinete Bispo Oliveira
Humanizaccedilatildeo no processo da morte em unidades de terapia
intensiva Luzinete Bispo Oliveira Santos ndash Salvador 2010 36f 30 cm
Orientador Prof Dr Fernando Reis do Espiacuterito Santo Monografia (poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Especializaccedilatildeo Lato Sensu
em Enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva Atualiza Poacutes-graduaccedilatildeo 2010
1 Enfermagem em UTI 2 Humanizaccedilatildeo da assistecircncia 3
Morte 4 Paciente I Espiacuterito Santo Fernando Reis II Atualiza Poacutes-graduaccedilatildeo III Tiacutetulo
CDU 616-083 Ficha catalograacutefica elaborada pela Bibliotecaacuteria Adriana Sena Gomes CRB 5 1568
LUZINETE BISPO OLIVEIRA SANTOS
HUMANIZACcedilAtildeO NO PROCESSO DA MORTE EM UNIDADES DE
TERAPIA INTENSIVA revisatildeo de literatura
Monografia para obtenccedilatildeo do grau de Especialista em Enfermagem em UTI
Salvador 10 de maio de 2010
EXAMINADOR
Nome _________________________________________
Titulaccedilatildeo _________________________________________
PARECER FINAL
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
________________________________________
AGRADECIMENTOS
A Deus nosso Pai pela graccedila que me concedeu para transpor os obstaacuteculos e chegar onde cheguei
Aos meus pais Antonieta e Joatildeo (in memoacuteriam) pelo exemplo de vida incentivo sacrifiacutecio apoio e dedicaccedilatildeo durante toda a minha vida Aos meus nove irmatildeos pela torcida e incentivo Aos pacientes que satildeo os grandes motivadores da minha vida profissional Agrave colega Adriana Sena Gomes Bibliotecaacuteria o meu reconhecimento e sincero agradecimento pelo apoio nesse meu caminhar cientiacutefico Ao professor Fernando Reis do Espiacuterito Santo Orientador pela competecircncia tranquumlilidade espontaneidade e colaboraccedilatildeo no desenvolvimento dessa pesquisa
DEDICO ESTE TRABALHO Aos meus filhos Davi e Joatildeo
pelo estiacutemulo para continuar lutando por meus ideais
Eu me importo com o fato de vocecirc ser vocecirc me importo ateacute o uacuteltimo momento de sua vida e faremos tudo o que estaacute ao nosso alcance natildeo somente para ajudar vocecirc a morrer em paz mas tambeacutem para vocecirc viver ateacute o dia da morte
Cicely Saunder
RESUMO
A unidade de terapia Intensiva (UTI) muitas vezes eacute vista como um setor desumanizante e frio onde a tecnologia prevalece em relaccedilatildeo agraves accedilotildees humaniacutesticas Eacute nesse ambiente afastados dos seus entes que os pacientes em processo de morte passam seus uacuteltimos momentos em companhia de estranhos normalmente profissionais da enfermagem ou meacutedicos Esse estudo teve por objetivo analisar na literatura propostas e iniciativas que visem uma morte digna e mais humana em UTI Trata-se de uma revisatildeo bibliograacutefica de caraacuteter qualitativo e exploratoacuterio A busca do material foi realizada em bancos de dados informatizados e em livros e perioacutedicos da aacuterea Os resultados demonstram que os trabalhos realizados por enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo proposto satildeo incipientes e a temaacutetica em foco eacute constantemente abordada por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Considerando-se a anaacutelises dos textos identificados e as observaccedilotildees pessoais relacionadas ao estudo conclue-se que a morte de uma pessoa sem probabilidade de cura pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina paliativa cuidados centrados na famiacutelia e capacitaccedilatildeo dos profissionais envolvidos no processo de mortemorrer forem trazido para o ambiente de UTI PALAVRAS-CHAVE Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Unidade de terapia Intensiva Morte Paciente
ABSTRACT
The intensive care unit (ICU) is often seen as a dehumanizing and cold sector where technology prevails in relation to humanistic actions It is in this environment away from their loved that patients undergoing death spend their last moments in the company of strangers usually nursing or medical professionals This study aimed to analyze the literature and proposed initiatives to a more humane and dignified death in the ICU This is a review of qualitative and exploratory The pursuit of material was done in computerized databases and books and journals The results demonstrate that the work done by nurses that meet the proposed goal is rarely in focus and the theme is constantly approached by medical professionals and psychologists Considering the analysis of texts identified and personal observations related to the study concludes that the death of a person with no chance of cure can be dignified and humane if the basic principles of palliative medicine family-centered care and training of professionals involved in case of death dying are brought to the ICU environment KEYWORDS Humanization of Assistance the Intensive Care Unit Death Patie
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO09
2 REVISAtildeO DA LITERATURA12
21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA12
22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER14
23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE
MORTEMORRER19
24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA
(UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER24
3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA29
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS32
REFEREcircNCIAS34
1 INTRODUCcedilAtildeO
APRESENTACcedilAtildeO DO OBJETO DE ESTUDO
Na rotina do profissional de sauacutede o tema morte eacute pouco comentado atuam na
perspectiva de promover a sauacutede prolongar e manter a vida Segundo estudos
ao longo da graduaccedilatildeo os assuntos abordados satildeo no acircmbito da fisiopatologia
e nos procedimentos teacutecnicos utilizados na atenccedilatildeo a paciente grave Aspectos
relacionados ao preparo emocional e psicoloacutegico necessaacuterios no atendimento
desses e aos seus familiares satildeo negligenciados observando-se uma
ldquodesumanizaccedilatildeordquo no atendimento ao paciente terminal (BALSANELLI
SANTOS SOLER 2002)
Eacute do conhecimento que no decorrer dos uacuteltimos seacuteculos a partir do surgimento
dos hospitais e unidades complexas e especializadas como as Unidades de
Terapia Intensivas (UTI) as pessoas doentes ou em estado grave da doenccedila
destinam-se para essas unidades em busca da cura ou tratamento de sauacutede
Entretanto diante do insucesso da terapecircutica empreendida e falta de
perspectiva de sobrevivecircncia o doente entra no processo de morte Assim
afastados dos seus entes passam seus uacuteltimos dias num leito hospitalar em
companhia de estranhos Encontram-se soacutes com seu sofrimento e noacutes
profissionais responsaacuteveis pelo cuidado assumimos em alguns casos o papel
da famiacutelia permanecendo aacute beira do leito nos seus uacuteltimos momento
JUSTIFICATIVA
No meu cotidiano de trabalho em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) enquanto
profissional de enfermagem de niacutevel meacutedio prestei assistecircncia agrave beira do leito
a vaacuterios pacientes moribundos nos seus uacuteltimos momentos de vida Apesar de
lidar com a morte cotidianamente e atuar de acordo com os valores eacuteticos
cultuando o respeito ao ser humano sob meus cuidados sentia-me
despreparada ao lidar com a situaccedilatildeo tambeacutem percebia o mesmo com os
demais colegas da equipe Imaginava que durante a graduaccedilatildeo em
enfermagem teria o aprendizado necessaacuterio para assistir de forma adequada o
paciente no processo de mortemorrer Isso natildeo ocorreu o assunto foi pouco
discutido na disciplina de psicologia Assim surgiu meu interesse pelo
embasamento literaacuterio e consequentemente adquirir habilidades para prestar
uma assistecircncia de qualidade diferenciada e humanizada a fim de
proporcionar uma morte ldquomais dignardquo aos clientes sob meus cuidados
PROBLEMA
Que iniciativas podem ser tomadas para tornar a morte mais digna e mais
humana dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI)
OBJETIVO
Analisar na literatura propostas e iniciativas que visem uma morte digna e mais
humana em Unidade de Terapia Intensiva
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisatildeo bibliograacutefica tendo como base a anaacutelise e
interpretaccedilatildeo de literaturas especiacuteficas dissertaccedilotildees teses perioacutedicos artigos
livros e outras publicaccedilotildees nacionais em consonacircncia com o objetivo proposto
Os descritores utilizados foram morte enfermagem UTI e humanizaccedilatildeo da
assistecircncia
Segundo Tognetti (2006) a pesquisa bibliograacutefica eacute fundamentada nos
conhecimentos de biblioteconomia documentaccedilatildeo e bibliografia sua finalidade
eacute colocar o pesquisador em contato com o que jaacute se produziu a respeito do seu
tema de pesquisa Trata-se de uma pesquisa com caraacuteter exploratoacuterio e
qualitativo De acordo com Godoy (1995 p21) ldquo[] a pesquisa qualitativa
ocupa um reconhecido lugar entre as vaacuterias possibilidades de se estudar os
fenocircmenos que envolvem os seres humanos e suas intricadas relaccedilotildees sociais
estabelecidas em diversos ambientesrdquo Jaacute para Richardson (1999 p17) visa
descobrir as semelhanccedilas entre fenocircmenos ldquoos pressupostos teoacutericos natildeo
estatildeo claros ou satildeo difiacuteceis de encontrar Nessa situaccedilatildeo faz-se uma pesquisa
natildeo apenas para conhecer o tipo de relaccedilatildeo existente mas sobretudo para
determinar a existecircncia de relaccedilatildeordquo
A pesquisa exploratoacuteria eacute ideal quando se deseja explorar o novo ainda natildeo
considerado como ciecircncia mas que serve de base agrave mesma Pode-se basear
neste tipo de pesquisa na ocorrecircncia de bibliografia escassa sobre o tema em
estudo (LEITE 2008)
Apoacutes leitura na iacutentegra e interpretaccedilatildeo dos textos selecionados buscou-se obter
a resposta do problema da pesquisa
ESTRUTURA
Organizei este estudo em trecircs momentos nos quais procurei descrever sobre o
assunto proposto de forma simples e coerente
No primeiro momento apresento o objeto de estudo relato meu interesse em
discorrer sobre o tema descrevo tambeacutem o objetivo com base no problema em
questatildeo
Logo apoacutes no segundo momento faccedilo consideraccedilotildees sobre humanizaccedilatildeo da
assistecircncia apresento tambeacutem uma concisatildeo sobre o morrer e faccedilo alguns
comentaacuterios acerca do paciente moribundo em UTI Em seguida comento
sobre a equipe de enfermagem e a assistecircncia durante o processo
mortemorrer
Prosseguindo no terceiro momento apresento a anaacutelise dos dados
pesquisados
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA
Segundo Ferreira (2000) humanizar significa tornar humano dar condiccedilatildeo
humana tornar afaacutevel e trataacutevel A humanizaccedilatildeo da assistecircncia requer
conscientizaccedilatildeo e preparo da equipe para um cuidado diferenciado
entendendo o paciente como um ser humano
Alguns estudos na aacuterea da medicina intensivista apontam para a necessidade
de mudar o enfoque predominantemente tecnicista paciente-doenccedila para uma
abordagem mais humana que engloba o paciente de forma holiacutestica ou seja
percebendo-o como um ser inserido num contexto e que necessita ser
atendido nos aspectos fiacutesicos psicoloacutegicos sociais e espirituais A medicina
paliativa vem sendo destacada nas literaturas em geral na aacuterea de oncologia
entretanto tem ganhado destaque tambeacutem nas literaturas pertinentes ao
intensivismo (GARROS 2003)
ldquoA medicina paliativa se desenvolveu como uma reaccedilatildeo agrave medicina moderna
altamente tecnicista que prioriza a cura em vez do cuidadordquo (PESSINI 2006)
A filosofia dos cuidados paliativos a) afirma a vida e encara o morrer como um processo normal b) natildeo apressa nem adia a morte c) procura aliviar a dor e outros sintomas angustiantes d) integra os aspectos psicoloacutegicos e espirituais nos cuidados com o paciente e) oferece um sistema de apoio para ajudar os pacientes a viver ativamente o maacuteximo possiacutevel ateacute a morte f) oferece um sistema de apoio para ajudar a famiacutelia a lidar com a doenccedila do paciente e seu proacuteprio luto (PESSINI 2003 apud PESSINI 2006)
Essa nova perspectiva constitui desafio para os profissionais de sauacutede visto
que o paciente no processo de morte deixa de ser aquele por quem nada si
pode fazer e passa a ser considerado como aquele que natildeo responde mais as
medidas terapecircuticas de cura Desta forma sob a filosofia dos cuidados
paliativos temos muito que fazer para proporcionar uma morte mais digna
decente ou aceitaacutevel para um ser humano A humanizaccedilatildeo do morrer apoacuteia a
concepccedilatildeo de que a morte natildeo eacute um inimigo a ser combatido ela faz parte do
ciclo vital e do adoecer
A proposta dos cuidados paliativos eacute permitir que a pessoa viva intensamente
seus dias finais de vida com controle da dor e sendo assistido de forma
holiacutestica Partindo da ideacuteia de que ldquomais vale acrescentar vida ao tempo do que
tempo agrave vidardquo
O Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo Hospitalar - PNHAH foi instituiacutedo pelo
Ministeacuterio da Sauacutede atraveacutes da portaria nordm 881 de 19 06 2001 no acircmbito do
Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2002) O PNHAH faz parte de um processo
de discussatildeo e implementaccedilatildeo de projetos de humanizaccedilatildeo do atendimento a
sauacutede e de melhoria da qualidade do vinculo estabelecido entre trabalhador da
sauacutede pacientes e familiares
A famiacutelia enquanto extensatildeo do paciente deveraacute ser incluiacuteda no processo de
cuidado deste poreacutem natildeo como auxiliar ao nosso trabalho mas como
indiviacuteduos a serem cuidados tambeacutem pela enfermagem Essa deveraacute oferecer
o suporte necessaacuterio esclarecer as duacutevidas atender e acolher prontamente e
de maneira empaacutetica esse suporte primaacuterio do paciente conquistando assim
sua confianccedila A inclusatildeo da famiacutelia no processo de cuidado em Unidade de
terapia Intensiva (UTI) eacute indispensaacutevel para podermos atender o paciente de
forma holiacutestica (NASCIMENTO MARTINS 2000)
Humanizar significa a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito
com o outro acolher o desconhecido e reconhecer os limites A humanizaccedilatildeo
requer uma interaccedilatildeo harmoniosa entre o cuidado teacutecnico e cientiacutefico Requer
tambeacutem compromisso eacutetico de todos os profissionais envolvidos na assistecircncia
desde os atendentes da recepccedilatildeo ateacute a equipe envolvida diretamente com a
assistecircncia do paciente e famiacutelia O processo do cuidado de enfermagem por
se soacute constitui um ato humanizado visto que os objetivos do cuidar envolvem
aliviar confortar ajudar favorecer promover entre outros (MORAES
GARDA FONSECA 2004) Segundo esses autores
Humanizar de acordo com os valores eacuteticos consiste fundamentalmente em tornar uma praacutetica bela por mais que ela lide com o que tem de mais degradante doloroso e triste na natureza humana o sofrimento a deterioraccedilatildeo e a morte Refere-se portanto a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito ao outro e de reconhecimento dos limites O ponto chave do trabalho de humanizaccedilatildeo estaacute no fortalecimento desta posiccedilatildeo eacutetica de articulaccedilatildeo do cuidado teacutecnico cientifico jaacute construiacutedo conhecido e dominado ao cuidado que incorpora a necessidade a exploraccedilatildeo e o acolhimento do imprevisiacutevel do incontrolaacutevel ao indiferente e singular
Minayo (2004) considera que ao se propor um cuidado humanizado deve-se
repensar a formaccedilatildeo profissional na aacuterea de sauacutede Para esse autor apesar
das propostas de mudanccedilas de modelo de atenccedilatildeo da sauacutede que prega a
integralidade e a humanizaccedilatildeo da assistecircncia e da crise da ciecircncia racionalista
predomina ainda o aprendizado teacutecnico racional e individualizado empregado
muitas vezesrdquo sem o exerciacutecio da criacutetica criatividade e sensibilidaderdquo
Refletindo portanto no despreparo dos profissionais em proporcionar um
cuidado humanizado cada vez mais exigido nos serviccedilos que utilizam alta
tecnologia como as Unidades de Terapia Intensiva
Felizmente percebemos uma seacuterie de estudos relacionados agrave necessidade de
humanizaccedilatildeo desses serviccedilos por forccedila do efeito negativo do ambiente sobre
pacientes famiacutelia e equipe multiprofissional Os estudos mostram tambeacutem que
os profissionais de sauacutede tecircm consciecircncia de que humanizaccedilatildeo eacute uma palavra
aparentemente faacutecil de entender poreacutem no dia-a-dia natildeo eacute tatildeo faacutecil praticaacute-la
22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER
A compreensatildeo sobre a morte influencia na qualidade de vida da pessoa e na
forma como ela interage no seu dia-a-dia com o processo de morte e morrer
Ao pesquisar sobre a definiccedilatildeo das palavras morte e morrer no dicionaacuterio de
liacutengua portuguesa fica-se impressionado com a quantidade de sinocircnimos
atribuiacutedos a elas
Morte significa cessaccedilatildeo da vida fim Jaacute a palavra morrer significa rdquoperder a
vida falecer finar-se fenecer expirar desaparecer descansar desencarnar
ir perecer sucumbir espichar esticar estinguir-se acabar (-se)rdquo (FERREIRA
2000)
Jaacute no dicionaacuterio meacutedico traz as seguintes consideraccedilotildees
1-Cessaccedilatildeo total e irreversiacutevel da funccedilatildeo cerebral funccedilatildeo espontacircnea dos sistemas respiratoacuterio e circulatoacuterio 2 - A cessaccedilatildeo final e irreversiacutevel dos batimentos cardiacuteacos e respiraccedilotildees perceptiacuteveis [] o principal sinal de morte eacute a cessaccedilatildeo da accedilatildeo do coraccedilatildeo Outras indicaccedilotildees satildeo ausecircncia de reflexos cessaccedilatildeo da atividade eleacutetrica do ceacuterebro determinada pelo eletro encefalograma (EEC) manifestaccedilatildeo de rigor mortis e uma descoloraccedilatildeo mosqueada no corpo (THOMAS 2000)
Como podemos observar existem vaacuterias denominaccedilotildees para substituir a
palavra morte talvez o objetivo real seja ldquosuavizarrdquo a sua pronuacutencia tornando-a
menos temiacutevel
A Tanatologia eacute a ciecircncia que estuda a morte Segundo este saber o homem eacute
o uacutenico ser sobre a terra que tem consciecircncia da sua finitude o uacutenico a ter
consciecircncia de que sua passagem neste mundo eacute transitoacuteria e deve terminar
um dia Apesar dessa certeza o homem foi impelido a evitar a convivecircncia com
a morte no decorrer da histoacuteria
A seguir pontuarei de forma sinteacutetica as diferentes interpretaccedilotildees da morte
segundo algumas das grandes correntes religiosas
Para os judeus e cristatildeos que acreditava na ressurreiccedilatildeo apoacutes a morte esta
seria o acesso para outra dimensatildeo da vida que poderia ser no inferno ou no
paraiacuteso conforme os seus feitos terrenos a partir da observacircncia dos
mandamentos de Deus
De acordo com Pessini (1999) apud Gutierrez (2003) ldquoo catolicismo prega que
os esforccedilos para manter a vida fiacutesica podem ser encerrados caso a
continuaccedilatildeo da vida bioloacutegica ao inveacutes de promover a integraccedilatildeo da vida
espiritual e moral do indiviacuteduo torne-se vatilderdquo
O budismo natildeo encara a morte como o fim da vida mas sim como uma
transiccedilatildeo defendendo o direito do indiviacuteduo de determinar o momento em que
deseja passar desta existecircncia para a seguinte Enfatiza que o importante no
momento da morte eacute que a mente permaneccedila em paz e harmonia consigo
mesmo
No islamismo a concepccedilatildeo de vida eacute sagrada a morte eacute interpretada como a
conclusatildeo de uma vida e o comeccedilo de outra
Apesar das diferentes interpretaccedilotildees das diversas correntes religiosas haacute
consenso de que o apoio espiritual constitui elemento valioso dado ao paciente
no processo de morrer
A morte eacute parte integrante do processo de desenvolvimento humano e estaacute
presente no cotidiano diaacuterio de nossas vidas A forma de percepccedilatildeo
significaccedilatildeo e comportamento do processo de morte e morrer variam conforme
o contexto soacutecio-cultural e histoacuterico e vem sofrendo alteraccedilotildees atraveacutes das
diferentes civilizaccedilotildees ateacute os dias atuais
[] Os povos mesopotacircmios tinham por costume enterrar os corpos dos mortos da maneira mais escrupulosa sendo o cadaacutever cuidadosamente acompanhado de todas as marcas mais distintas de sua identidade pessoal e familiar como seus pertences insiacutegnias e objetos de uso suas vestimentas e ateacute mesmo de suas comidas
prediletas (GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)
Para essa civilizaccedilatildeo a morte seria uma espeacutecie de rebaixamento da vida o
apagamento dessa mesma existecircncia
Os antigos egiacutepcios sepultavam seus mortos juntamente com as roupas e os
alimentos para que continuassem felizes e da mesma forma os antigos iacutendios
americanos que enterravam seus parentes com tudo o que lhes pertencia
Esses falavam dos espiacuteritos do mal e atiravam flechas ao ar para afugentaacute-los
Os hebreus consideravam o corpo do morto como alguma coisa impura que
natildeo podia ser tocada (KUumlBLER-ROSS 2008)
Os antigos hindus incineravam seus mortos e suas cinzas eram lanccediladas ao
vento ou nas aacuteguas dos rios sendo o morto despojado de todos os seus
traccedilos de identidade
Para os antigos gregos a incineraccedilatildeo determinava dois tipos de mortos o cadaacutever do homem comum e o cadaacutever dos grandes heroacuteis Ao anocircnimo cabia o crematoacuterio coletivo e o depoacutesito de suas cinzas em vala comum Os corpos falecidos dos heroacuteis eram cremados na cerimocircnia da bela morte onde os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos A proacutepria morte seria a prova de sua virtude tornando-o um indiviacuteduo cuja vida eacute digna de ser lembrada
(GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)
Os primeiros cemiteacuterios surgiram a partir do seacuteculo V e eram localizados junto
agraves igrejas cristatildes Esses cemiteacuterios faziam parte do cenaacuterio de vida das
pessoas tinham papel de praccedila puacuteblica eram lugares de julgamentos das
execuccedilotildees e dos encontros amorosos
Na Idade Meacutedia a morte era entendida com naturalidade fazendo parte do
ambiente domeacutestico O ritual da morte envolvia tanto a pessoa que ia morrer
como os seus parentes e amigos Naquela eacutepoca os nobres eram enterrados
no interior das igrejas enquanto os pobres erram colocados em covas
coletivas
Tanto a famiacutelia como os amigos do morto manifestavam o processo do luto
atraveacutes do uso de roupas pretas e da natildeo participaccedilatildeo na vida social ateacute que
natildeo acontecesse a elaboraccedilatildeo do oacutebito As pessoas que sabiam que iam
morrer protagonizavam todo o ritual despedindo-se dos entes queridos
fazendo o testamento buscando se reconciliar com as pessoas e superar as
maacutegoas A comunidade participava ativamente de todo esse processo (AGRA
ALBUQUERQUE 2008)
Gutierrez (2003) tomando como referencial o estudo de Pessini (1999) fez
uma breve abordagem sobre o processo de morte e morrer a partir da idade
meacutedia ateacute a deacutecada de 70 do seacuteculo XX
Durante os seacuteculos XI e XII iniciaram-se mudanccedilas sutis na maneira
tradicional de o homem atuar diante da morte
No periacuteodo entre os seacuteculos XII a XV houve uma maior conscientizaccedilatildeo
do homem em relaccedilatildeo aacute sua proacutepria morte
Jaacute no seacuteculo XVI a morte distanciou-se das situaccedilotildees mais corriqueiras
e passou a representar uma separaccedilatildeo inaceitaacutevel iniciando um
processo de visualizaccedilatildeo da morte do outro que passou a ser dramaacutetica
e mais complexa
No final do seacuteculo XVIII surgiram duas mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave morte A
benevolecircncia com a ideacuteia da morte e a relaccedilatildeo entre moribundo e seus
familiares O termo benevolecircncia significa boa vontade para com todos
Na primeira metade do seacuteculo XIX a morte era um fenocircmeno bastante
presente e encarado como fato social e puacuteblico em que parentes e
amigos vizinhos e ateacute mesmo crianccedilas permaneciam no quarto do
moribundo Nessa eacutepoca os ritos que acompanhavam a morte eram
realizados com tranquumlilidade e aceitaccedilatildeo
No decorrer dos anos a atitude do homem em relaccedilatildeo agrave morte sofreu
modificaccedilotildees e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaccediladora
Poupa-se o moribundo de saber sobre suas reais condiccedilotildees de sauacutede A
verdade eacute negada com o intuito de privar o doente do sofrimento A
extrema unccedilatildeo que era oferecida ao moribundo em meados do seacuteculo
XX passou a ser dada somente apoacutes sua morte
A partir da segunda metade do seacuteculo XX a morte foi transferida para os
hospitais e passou a ser vista como um fenocircmeno teacutecnico agraves vezes
adiada ou antecipada a depender dos interesses dos que tentavam
domina-la O Meacutedico transformou-se em heroacutei na luta contra a morte
Atualmente os avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos tornaram a morte um
evento institucionalizado Eacute cada vez mais comum as pessoas morrerem
no hospital O doente perde o direito de opinar sobre sua morte o
meacutedico tornou-se personagem principal e a famiacutelia passou a sentir-se
protegida por natildeo ter que presenciar a morte de um ente querido Nesse
contexto a morte passa a ocorrer em cenaacuterio composto por fios
maacutequinas aparelhos e pessoas estranhas geralmente equipe meacutedica e
de enfermagem
A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma
instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para
o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras
Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer
acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive
a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e
na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu
avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer
de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo
conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em
seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de
familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi
encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi
celebrada uma missa de corpo presente
Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em
ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de
fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com
breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra
que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e
desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida
23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER
O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa
maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo
diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito
especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e
descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute
dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que
encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo
humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas
verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo
Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-
Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute
em fase terminal a saber
Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do
doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente
ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo
Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos
comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que
algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo
todo
Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja
O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade
(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da
raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo
Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma
coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio
mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento
Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio
Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da
capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da
vida
Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar
depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima
com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase
mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas
preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser
confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute
importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma
desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da
chegada ao fim em paz
Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se
sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila
algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses
estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo
psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses
estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte
iminente
Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei
algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim
uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi
sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua
confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo
poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha
confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo
de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de
ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de
morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles
no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos
Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta
Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca
De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por
causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir
algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem
responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas
Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante
aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e
geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los
Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do
paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida
e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade
ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar
esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de
vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando
na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral
Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de
deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias
como inchaccedilo naacuteusea e dor
Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos
agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o
paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees
conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo
deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos
para uma morte digna e sem sofrimento
Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida
para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou
como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de
cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam
sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam
despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo
Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a
audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada
perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir
Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de
alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as
pessoas envolvidas
Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes
optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte
sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para
estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale
ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos
proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou
simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano
trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as
informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes
crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse
doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais
humanizado
Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de
morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir
poderaacute nos auxiliar nesse processo
Carta dos Pacientes Terminais
- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que
eu morra
- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas
possam acontecer
- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o
sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas
- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e
emoccedilotildees diante da minha morte
- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus
cuidados e tratamentos
- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem
mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode
confortordquo
- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho
- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto
- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado
- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas
honestamente
- Tenho o direito de natildeo ser enganado
- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou
experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos
demais
- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser
julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves
crenccedilas dos demais
- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de
meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados
- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis
humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas
necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a
minha privacidade
- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI
1996 APUD GUTIERREZ 2003)
24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica
Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes
mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato
e a observaccedilatildeo constante
Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico
e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com
alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a
elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre
outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo
atualmente
Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede
descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute
de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade
Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade
proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica
de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas
que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais
complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica
e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico
e recursos humanos especializados
Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os
paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do
tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida
prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da
famiacutelia e do cliente
As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses
pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e
extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave
manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e
adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA
2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas
ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de
interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao
paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores
relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante
tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons
monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e
ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre
outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua
privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar
esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo
vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo
Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional
muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em
estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade
criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo
profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao
paciente no processo de morte
A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe
multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do
leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto
discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no
intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade
fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo
conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida
(SILVA 2001)
Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal
durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido
contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se
impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo
endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais
membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de
comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo
profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a
importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes
da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos
postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais
organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida
entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)
Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam
diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos
pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para
o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem
sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus
familiares diante da finitude da vida
De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo
emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa
depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o
paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade
Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas
e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos
sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de
existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma
determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se
necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e
preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de
forma humanizada
Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta
[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo
Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)
ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a
deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes
consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu
sofrimentordquo
Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso
que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter
firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de
enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando
assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver
excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio
de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato
estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos
menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a
deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito
profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no
meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira
de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia
A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural
e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada
como uma das maiores estudiosas do assunto
A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte
A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais
membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma
assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais
necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida
Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente
consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-
espiritual
3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA
A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento
bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto
Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel
proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de
medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro
do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova
perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no
final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de
suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo
baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais
meacutedicos e familiares a saber
Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)
preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc
Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da
famiacutelia amigos e demais entes queridos)
Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos
importantes
Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex
testamentos venda de propriedade etc)
Evitar um processo longo de morte
Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica
brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na
medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo
coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer
todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e
obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que
estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute
receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel
Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites
de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe
envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e
poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz
sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica
meacutedica)
Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades
espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir
holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos
fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os
profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para
confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento
diante do processo de morte
A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de
sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que
lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto
que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre
as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado
na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda
Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o
envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do
paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade
de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus
familiaresrdquo
Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar
que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos
(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo
segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas
neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo
avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do
quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos
profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas
a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados
paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente
no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo
instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma
efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas
Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo
da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre
esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos
pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional
complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso
Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa
assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz
presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e
responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser
humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo
Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer
firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder
ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento
tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui
identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim
Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios
inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar
biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se
comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e
sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse
comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma
comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para
esse indiviacuteduo
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e
morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos
envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da
pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe
multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas
atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas
nesse estudo
Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu
para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem
ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma
morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano
Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar
aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente
abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por
Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo
incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e
enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de
trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da
enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida
deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que
estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI
Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira
cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja
prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer
Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no
processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo
especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas
riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho
considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada
particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco
Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas
pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina
paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais
envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de
uma Unidade de terapia Intensiva
Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o
aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que
eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor
considerado como desumanizante e frio
Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais
profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado
REFEREcircNCIAS
AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em
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Paulo Manoele 2000
TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica
metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003
LUZINETE BISPO OLIVEIRA SANTOS
HUMANIZACcedilAtildeO NO PROCESSO DA MORTE EM
UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA revisatildeo de literatura
Monografia apresentada a Atualiza Associaccedilatildeo Cultural-Lato Sensu como
requisito parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de
especialista em Enfermagem em UTI sob a orientaccedilatildeo do profordm Fernando Reis do
Espiacuterito Santo
SALVADOR 2010
S237h Santos Luzinete Bispo Oliveira
Humanizaccedilatildeo no processo da morte em unidades de terapia
intensiva Luzinete Bispo Oliveira Santos ndash Salvador 2010 36f 30 cm
Orientador Prof Dr Fernando Reis do Espiacuterito Santo Monografia (poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Especializaccedilatildeo Lato Sensu
em Enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva Atualiza Poacutes-graduaccedilatildeo 2010
1 Enfermagem em UTI 2 Humanizaccedilatildeo da assistecircncia 3
Morte 4 Paciente I Espiacuterito Santo Fernando Reis II Atualiza Poacutes-graduaccedilatildeo III Tiacutetulo
CDU 616-083 Ficha catalograacutefica elaborada pela Bibliotecaacuteria Adriana Sena Gomes CRB 5 1568
LUZINETE BISPO OLIVEIRA SANTOS
HUMANIZACcedilAtildeO NO PROCESSO DA MORTE EM UNIDADES DE
TERAPIA INTENSIVA revisatildeo de literatura
Monografia para obtenccedilatildeo do grau de Especialista em Enfermagem em UTI
Salvador 10 de maio de 2010
EXAMINADOR
Nome _________________________________________
Titulaccedilatildeo _________________________________________
PARECER FINAL
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AGRADECIMENTOS
A Deus nosso Pai pela graccedila que me concedeu para transpor os obstaacuteculos e chegar onde cheguei
Aos meus pais Antonieta e Joatildeo (in memoacuteriam) pelo exemplo de vida incentivo sacrifiacutecio apoio e dedicaccedilatildeo durante toda a minha vida Aos meus nove irmatildeos pela torcida e incentivo Aos pacientes que satildeo os grandes motivadores da minha vida profissional Agrave colega Adriana Sena Gomes Bibliotecaacuteria o meu reconhecimento e sincero agradecimento pelo apoio nesse meu caminhar cientiacutefico Ao professor Fernando Reis do Espiacuterito Santo Orientador pela competecircncia tranquumlilidade espontaneidade e colaboraccedilatildeo no desenvolvimento dessa pesquisa
DEDICO ESTE TRABALHO Aos meus filhos Davi e Joatildeo
pelo estiacutemulo para continuar lutando por meus ideais
Eu me importo com o fato de vocecirc ser vocecirc me importo ateacute o uacuteltimo momento de sua vida e faremos tudo o que estaacute ao nosso alcance natildeo somente para ajudar vocecirc a morrer em paz mas tambeacutem para vocecirc viver ateacute o dia da morte
Cicely Saunder
RESUMO
A unidade de terapia Intensiva (UTI) muitas vezes eacute vista como um setor desumanizante e frio onde a tecnologia prevalece em relaccedilatildeo agraves accedilotildees humaniacutesticas Eacute nesse ambiente afastados dos seus entes que os pacientes em processo de morte passam seus uacuteltimos momentos em companhia de estranhos normalmente profissionais da enfermagem ou meacutedicos Esse estudo teve por objetivo analisar na literatura propostas e iniciativas que visem uma morte digna e mais humana em UTI Trata-se de uma revisatildeo bibliograacutefica de caraacuteter qualitativo e exploratoacuterio A busca do material foi realizada em bancos de dados informatizados e em livros e perioacutedicos da aacuterea Os resultados demonstram que os trabalhos realizados por enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo proposto satildeo incipientes e a temaacutetica em foco eacute constantemente abordada por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Considerando-se a anaacutelises dos textos identificados e as observaccedilotildees pessoais relacionadas ao estudo conclue-se que a morte de uma pessoa sem probabilidade de cura pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina paliativa cuidados centrados na famiacutelia e capacitaccedilatildeo dos profissionais envolvidos no processo de mortemorrer forem trazido para o ambiente de UTI PALAVRAS-CHAVE Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Unidade de terapia Intensiva Morte Paciente
ABSTRACT
The intensive care unit (ICU) is often seen as a dehumanizing and cold sector where technology prevails in relation to humanistic actions It is in this environment away from their loved that patients undergoing death spend their last moments in the company of strangers usually nursing or medical professionals This study aimed to analyze the literature and proposed initiatives to a more humane and dignified death in the ICU This is a review of qualitative and exploratory The pursuit of material was done in computerized databases and books and journals The results demonstrate that the work done by nurses that meet the proposed goal is rarely in focus and the theme is constantly approached by medical professionals and psychologists Considering the analysis of texts identified and personal observations related to the study concludes that the death of a person with no chance of cure can be dignified and humane if the basic principles of palliative medicine family-centered care and training of professionals involved in case of death dying are brought to the ICU environment KEYWORDS Humanization of Assistance the Intensive Care Unit Death Patie
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO09
2 REVISAtildeO DA LITERATURA12
21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA12
22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER14
23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE
MORTEMORRER19
24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA
(UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER24
3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA29
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS32
REFEREcircNCIAS34
1 INTRODUCcedilAtildeO
APRESENTACcedilAtildeO DO OBJETO DE ESTUDO
Na rotina do profissional de sauacutede o tema morte eacute pouco comentado atuam na
perspectiva de promover a sauacutede prolongar e manter a vida Segundo estudos
ao longo da graduaccedilatildeo os assuntos abordados satildeo no acircmbito da fisiopatologia
e nos procedimentos teacutecnicos utilizados na atenccedilatildeo a paciente grave Aspectos
relacionados ao preparo emocional e psicoloacutegico necessaacuterios no atendimento
desses e aos seus familiares satildeo negligenciados observando-se uma
ldquodesumanizaccedilatildeordquo no atendimento ao paciente terminal (BALSANELLI
SANTOS SOLER 2002)
Eacute do conhecimento que no decorrer dos uacuteltimos seacuteculos a partir do surgimento
dos hospitais e unidades complexas e especializadas como as Unidades de
Terapia Intensivas (UTI) as pessoas doentes ou em estado grave da doenccedila
destinam-se para essas unidades em busca da cura ou tratamento de sauacutede
Entretanto diante do insucesso da terapecircutica empreendida e falta de
perspectiva de sobrevivecircncia o doente entra no processo de morte Assim
afastados dos seus entes passam seus uacuteltimos dias num leito hospitalar em
companhia de estranhos Encontram-se soacutes com seu sofrimento e noacutes
profissionais responsaacuteveis pelo cuidado assumimos em alguns casos o papel
da famiacutelia permanecendo aacute beira do leito nos seus uacuteltimos momento
JUSTIFICATIVA
No meu cotidiano de trabalho em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) enquanto
profissional de enfermagem de niacutevel meacutedio prestei assistecircncia agrave beira do leito
a vaacuterios pacientes moribundos nos seus uacuteltimos momentos de vida Apesar de
lidar com a morte cotidianamente e atuar de acordo com os valores eacuteticos
cultuando o respeito ao ser humano sob meus cuidados sentia-me
despreparada ao lidar com a situaccedilatildeo tambeacutem percebia o mesmo com os
demais colegas da equipe Imaginava que durante a graduaccedilatildeo em
enfermagem teria o aprendizado necessaacuterio para assistir de forma adequada o
paciente no processo de mortemorrer Isso natildeo ocorreu o assunto foi pouco
discutido na disciplina de psicologia Assim surgiu meu interesse pelo
embasamento literaacuterio e consequentemente adquirir habilidades para prestar
uma assistecircncia de qualidade diferenciada e humanizada a fim de
proporcionar uma morte ldquomais dignardquo aos clientes sob meus cuidados
PROBLEMA
Que iniciativas podem ser tomadas para tornar a morte mais digna e mais
humana dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI)
OBJETIVO
Analisar na literatura propostas e iniciativas que visem uma morte digna e mais
humana em Unidade de Terapia Intensiva
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisatildeo bibliograacutefica tendo como base a anaacutelise e
interpretaccedilatildeo de literaturas especiacuteficas dissertaccedilotildees teses perioacutedicos artigos
livros e outras publicaccedilotildees nacionais em consonacircncia com o objetivo proposto
Os descritores utilizados foram morte enfermagem UTI e humanizaccedilatildeo da
assistecircncia
Segundo Tognetti (2006) a pesquisa bibliograacutefica eacute fundamentada nos
conhecimentos de biblioteconomia documentaccedilatildeo e bibliografia sua finalidade
eacute colocar o pesquisador em contato com o que jaacute se produziu a respeito do seu
tema de pesquisa Trata-se de uma pesquisa com caraacuteter exploratoacuterio e
qualitativo De acordo com Godoy (1995 p21) ldquo[] a pesquisa qualitativa
ocupa um reconhecido lugar entre as vaacuterias possibilidades de se estudar os
fenocircmenos que envolvem os seres humanos e suas intricadas relaccedilotildees sociais
estabelecidas em diversos ambientesrdquo Jaacute para Richardson (1999 p17) visa
descobrir as semelhanccedilas entre fenocircmenos ldquoos pressupostos teoacutericos natildeo
estatildeo claros ou satildeo difiacuteceis de encontrar Nessa situaccedilatildeo faz-se uma pesquisa
natildeo apenas para conhecer o tipo de relaccedilatildeo existente mas sobretudo para
determinar a existecircncia de relaccedilatildeordquo
A pesquisa exploratoacuteria eacute ideal quando se deseja explorar o novo ainda natildeo
considerado como ciecircncia mas que serve de base agrave mesma Pode-se basear
neste tipo de pesquisa na ocorrecircncia de bibliografia escassa sobre o tema em
estudo (LEITE 2008)
Apoacutes leitura na iacutentegra e interpretaccedilatildeo dos textos selecionados buscou-se obter
a resposta do problema da pesquisa
ESTRUTURA
Organizei este estudo em trecircs momentos nos quais procurei descrever sobre o
assunto proposto de forma simples e coerente
No primeiro momento apresento o objeto de estudo relato meu interesse em
discorrer sobre o tema descrevo tambeacutem o objetivo com base no problema em
questatildeo
Logo apoacutes no segundo momento faccedilo consideraccedilotildees sobre humanizaccedilatildeo da
assistecircncia apresento tambeacutem uma concisatildeo sobre o morrer e faccedilo alguns
comentaacuterios acerca do paciente moribundo em UTI Em seguida comento
sobre a equipe de enfermagem e a assistecircncia durante o processo
mortemorrer
Prosseguindo no terceiro momento apresento a anaacutelise dos dados
pesquisados
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA
Segundo Ferreira (2000) humanizar significa tornar humano dar condiccedilatildeo
humana tornar afaacutevel e trataacutevel A humanizaccedilatildeo da assistecircncia requer
conscientizaccedilatildeo e preparo da equipe para um cuidado diferenciado
entendendo o paciente como um ser humano
Alguns estudos na aacuterea da medicina intensivista apontam para a necessidade
de mudar o enfoque predominantemente tecnicista paciente-doenccedila para uma
abordagem mais humana que engloba o paciente de forma holiacutestica ou seja
percebendo-o como um ser inserido num contexto e que necessita ser
atendido nos aspectos fiacutesicos psicoloacutegicos sociais e espirituais A medicina
paliativa vem sendo destacada nas literaturas em geral na aacuterea de oncologia
entretanto tem ganhado destaque tambeacutem nas literaturas pertinentes ao
intensivismo (GARROS 2003)
ldquoA medicina paliativa se desenvolveu como uma reaccedilatildeo agrave medicina moderna
altamente tecnicista que prioriza a cura em vez do cuidadordquo (PESSINI 2006)
A filosofia dos cuidados paliativos a) afirma a vida e encara o morrer como um processo normal b) natildeo apressa nem adia a morte c) procura aliviar a dor e outros sintomas angustiantes d) integra os aspectos psicoloacutegicos e espirituais nos cuidados com o paciente e) oferece um sistema de apoio para ajudar os pacientes a viver ativamente o maacuteximo possiacutevel ateacute a morte f) oferece um sistema de apoio para ajudar a famiacutelia a lidar com a doenccedila do paciente e seu proacuteprio luto (PESSINI 2003 apud PESSINI 2006)
Essa nova perspectiva constitui desafio para os profissionais de sauacutede visto
que o paciente no processo de morte deixa de ser aquele por quem nada si
pode fazer e passa a ser considerado como aquele que natildeo responde mais as
medidas terapecircuticas de cura Desta forma sob a filosofia dos cuidados
paliativos temos muito que fazer para proporcionar uma morte mais digna
decente ou aceitaacutevel para um ser humano A humanizaccedilatildeo do morrer apoacuteia a
concepccedilatildeo de que a morte natildeo eacute um inimigo a ser combatido ela faz parte do
ciclo vital e do adoecer
A proposta dos cuidados paliativos eacute permitir que a pessoa viva intensamente
seus dias finais de vida com controle da dor e sendo assistido de forma
holiacutestica Partindo da ideacuteia de que ldquomais vale acrescentar vida ao tempo do que
tempo agrave vidardquo
O Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo Hospitalar - PNHAH foi instituiacutedo pelo
Ministeacuterio da Sauacutede atraveacutes da portaria nordm 881 de 19 06 2001 no acircmbito do
Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2002) O PNHAH faz parte de um processo
de discussatildeo e implementaccedilatildeo de projetos de humanizaccedilatildeo do atendimento a
sauacutede e de melhoria da qualidade do vinculo estabelecido entre trabalhador da
sauacutede pacientes e familiares
A famiacutelia enquanto extensatildeo do paciente deveraacute ser incluiacuteda no processo de
cuidado deste poreacutem natildeo como auxiliar ao nosso trabalho mas como
indiviacuteduos a serem cuidados tambeacutem pela enfermagem Essa deveraacute oferecer
o suporte necessaacuterio esclarecer as duacutevidas atender e acolher prontamente e
de maneira empaacutetica esse suporte primaacuterio do paciente conquistando assim
sua confianccedila A inclusatildeo da famiacutelia no processo de cuidado em Unidade de
terapia Intensiva (UTI) eacute indispensaacutevel para podermos atender o paciente de
forma holiacutestica (NASCIMENTO MARTINS 2000)
Humanizar significa a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito
com o outro acolher o desconhecido e reconhecer os limites A humanizaccedilatildeo
requer uma interaccedilatildeo harmoniosa entre o cuidado teacutecnico e cientiacutefico Requer
tambeacutem compromisso eacutetico de todos os profissionais envolvidos na assistecircncia
desde os atendentes da recepccedilatildeo ateacute a equipe envolvida diretamente com a
assistecircncia do paciente e famiacutelia O processo do cuidado de enfermagem por
se soacute constitui um ato humanizado visto que os objetivos do cuidar envolvem
aliviar confortar ajudar favorecer promover entre outros (MORAES
GARDA FONSECA 2004) Segundo esses autores
Humanizar de acordo com os valores eacuteticos consiste fundamentalmente em tornar uma praacutetica bela por mais que ela lide com o que tem de mais degradante doloroso e triste na natureza humana o sofrimento a deterioraccedilatildeo e a morte Refere-se portanto a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito ao outro e de reconhecimento dos limites O ponto chave do trabalho de humanizaccedilatildeo estaacute no fortalecimento desta posiccedilatildeo eacutetica de articulaccedilatildeo do cuidado teacutecnico cientifico jaacute construiacutedo conhecido e dominado ao cuidado que incorpora a necessidade a exploraccedilatildeo e o acolhimento do imprevisiacutevel do incontrolaacutevel ao indiferente e singular
Minayo (2004) considera que ao se propor um cuidado humanizado deve-se
repensar a formaccedilatildeo profissional na aacuterea de sauacutede Para esse autor apesar
das propostas de mudanccedilas de modelo de atenccedilatildeo da sauacutede que prega a
integralidade e a humanizaccedilatildeo da assistecircncia e da crise da ciecircncia racionalista
predomina ainda o aprendizado teacutecnico racional e individualizado empregado
muitas vezesrdquo sem o exerciacutecio da criacutetica criatividade e sensibilidaderdquo
Refletindo portanto no despreparo dos profissionais em proporcionar um
cuidado humanizado cada vez mais exigido nos serviccedilos que utilizam alta
tecnologia como as Unidades de Terapia Intensiva
Felizmente percebemos uma seacuterie de estudos relacionados agrave necessidade de
humanizaccedilatildeo desses serviccedilos por forccedila do efeito negativo do ambiente sobre
pacientes famiacutelia e equipe multiprofissional Os estudos mostram tambeacutem que
os profissionais de sauacutede tecircm consciecircncia de que humanizaccedilatildeo eacute uma palavra
aparentemente faacutecil de entender poreacutem no dia-a-dia natildeo eacute tatildeo faacutecil praticaacute-la
22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER
A compreensatildeo sobre a morte influencia na qualidade de vida da pessoa e na
forma como ela interage no seu dia-a-dia com o processo de morte e morrer
Ao pesquisar sobre a definiccedilatildeo das palavras morte e morrer no dicionaacuterio de
liacutengua portuguesa fica-se impressionado com a quantidade de sinocircnimos
atribuiacutedos a elas
Morte significa cessaccedilatildeo da vida fim Jaacute a palavra morrer significa rdquoperder a
vida falecer finar-se fenecer expirar desaparecer descansar desencarnar
ir perecer sucumbir espichar esticar estinguir-se acabar (-se)rdquo (FERREIRA
2000)
Jaacute no dicionaacuterio meacutedico traz as seguintes consideraccedilotildees
1-Cessaccedilatildeo total e irreversiacutevel da funccedilatildeo cerebral funccedilatildeo espontacircnea dos sistemas respiratoacuterio e circulatoacuterio 2 - A cessaccedilatildeo final e irreversiacutevel dos batimentos cardiacuteacos e respiraccedilotildees perceptiacuteveis [] o principal sinal de morte eacute a cessaccedilatildeo da accedilatildeo do coraccedilatildeo Outras indicaccedilotildees satildeo ausecircncia de reflexos cessaccedilatildeo da atividade eleacutetrica do ceacuterebro determinada pelo eletro encefalograma (EEC) manifestaccedilatildeo de rigor mortis e uma descoloraccedilatildeo mosqueada no corpo (THOMAS 2000)
Como podemos observar existem vaacuterias denominaccedilotildees para substituir a
palavra morte talvez o objetivo real seja ldquosuavizarrdquo a sua pronuacutencia tornando-a
menos temiacutevel
A Tanatologia eacute a ciecircncia que estuda a morte Segundo este saber o homem eacute
o uacutenico ser sobre a terra que tem consciecircncia da sua finitude o uacutenico a ter
consciecircncia de que sua passagem neste mundo eacute transitoacuteria e deve terminar
um dia Apesar dessa certeza o homem foi impelido a evitar a convivecircncia com
a morte no decorrer da histoacuteria
A seguir pontuarei de forma sinteacutetica as diferentes interpretaccedilotildees da morte
segundo algumas das grandes correntes religiosas
Para os judeus e cristatildeos que acreditava na ressurreiccedilatildeo apoacutes a morte esta
seria o acesso para outra dimensatildeo da vida que poderia ser no inferno ou no
paraiacuteso conforme os seus feitos terrenos a partir da observacircncia dos
mandamentos de Deus
De acordo com Pessini (1999) apud Gutierrez (2003) ldquoo catolicismo prega que
os esforccedilos para manter a vida fiacutesica podem ser encerrados caso a
continuaccedilatildeo da vida bioloacutegica ao inveacutes de promover a integraccedilatildeo da vida
espiritual e moral do indiviacuteduo torne-se vatilderdquo
O budismo natildeo encara a morte como o fim da vida mas sim como uma
transiccedilatildeo defendendo o direito do indiviacuteduo de determinar o momento em que
deseja passar desta existecircncia para a seguinte Enfatiza que o importante no
momento da morte eacute que a mente permaneccedila em paz e harmonia consigo
mesmo
No islamismo a concepccedilatildeo de vida eacute sagrada a morte eacute interpretada como a
conclusatildeo de uma vida e o comeccedilo de outra
Apesar das diferentes interpretaccedilotildees das diversas correntes religiosas haacute
consenso de que o apoio espiritual constitui elemento valioso dado ao paciente
no processo de morrer
A morte eacute parte integrante do processo de desenvolvimento humano e estaacute
presente no cotidiano diaacuterio de nossas vidas A forma de percepccedilatildeo
significaccedilatildeo e comportamento do processo de morte e morrer variam conforme
o contexto soacutecio-cultural e histoacuterico e vem sofrendo alteraccedilotildees atraveacutes das
diferentes civilizaccedilotildees ateacute os dias atuais
[] Os povos mesopotacircmios tinham por costume enterrar os corpos dos mortos da maneira mais escrupulosa sendo o cadaacutever cuidadosamente acompanhado de todas as marcas mais distintas de sua identidade pessoal e familiar como seus pertences insiacutegnias e objetos de uso suas vestimentas e ateacute mesmo de suas comidas
prediletas (GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)
Para essa civilizaccedilatildeo a morte seria uma espeacutecie de rebaixamento da vida o
apagamento dessa mesma existecircncia
Os antigos egiacutepcios sepultavam seus mortos juntamente com as roupas e os
alimentos para que continuassem felizes e da mesma forma os antigos iacutendios
americanos que enterravam seus parentes com tudo o que lhes pertencia
Esses falavam dos espiacuteritos do mal e atiravam flechas ao ar para afugentaacute-los
Os hebreus consideravam o corpo do morto como alguma coisa impura que
natildeo podia ser tocada (KUumlBLER-ROSS 2008)
Os antigos hindus incineravam seus mortos e suas cinzas eram lanccediladas ao
vento ou nas aacuteguas dos rios sendo o morto despojado de todos os seus
traccedilos de identidade
Para os antigos gregos a incineraccedilatildeo determinava dois tipos de mortos o cadaacutever do homem comum e o cadaacutever dos grandes heroacuteis Ao anocircnimo cabia o crematoacuterio coletivo e o depoacutesito de suas cinzas em vala comum Os corpos falecidos dos heroacuteis eram cremados na cerimocircnia da bela morte onde os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos A proacutepria morte seria a prova de sua virtude tornando-o um indiviacuteduo cuja vida eacute digna de ser lembrada
(GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)
Os primeiros cemiteacuterios surgiram a partir do seacuteculo V e eram localizados junto
agraves igrejas cristatildes Esses cemiteacuterios faziam parte do cenaacuterio de vida das
pessoas tinham papel de praccedila puacuteblica eram lugares de julgamentos das
execuccedilotildees e dos encontros amorosos
Na Idade Meacutedia a morte era entendida com naturalidade fazendo parte do
ambiente domeacutestico O ritual da morte envolvia tanto a pessoa que ia morrer
como os seus parentes e amigos Naquela eacutepoca os nobres eram enterrados
no interior das igrejas enquanto os pobres erram colocados em covas
coletivas
Tanto a famiacutelia como os amigos do morto manifestavam o processo do luto
atraveacutes do uso de roupas pretas e da natildeo participaccedilatildeo na vida social ateacute que
natildeo acontecesse a elaboraccedilatildeo do oacutebito As pessoas que sabiam que iam
morrer protagonizavam todo o ritual despedindo-se dos entes queridos
fazendo o testamento buscando se reconciliar com as pessoas e superar as
maacutegoas A comunidade participava ativamente de todo esse processo (AGRA
ALBUQUERQUE 2008)
Gutierrez (2003) tomando como referencial o estudo de Pessini (1999) fez
uma breve abordagem sobre o processo de morte e morrer a partir da idade
meacutedia ateacute a deacutecada de 70 do seacuteculo XX
Durante os seacuteculos XI e XII iniciaram-se mudanccedilas sutis na maneira
tradicional de o homem atuar diante da morte
No periacuteodo entre os seacuteculos XII a XV houve uma maior conscientizaccedilatildeo
do homem em relaccedilatildeo aacute sua proacutepria morte
Jaacute no seacuteculo XVI a morte distanciou-se das situaccedilotildees mais corriqueiras
e passou a representar uma separaccedilatildeo inaceitaacutevel iniciando um
processo de visualizaccedilatildeo da morte do outro que passou a ser dramaacutetica
e mais complexa
No final do seacuteculo XVIII surgiram duas mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave morte A
benevolecircncia com a ideacuteia da morte e a relaccedilatildeo entre moribundo e seus
familiares O termo benevolecircncia significa boa vontade para com todos
Na primeira metade do seacuteculo XIX a morte era um fenocircmeno bastante
presente e encarado como fato social e puacuteblico em que parentes e
amigos vizinhos e ateacute mesmo crianccedilas permaneciam no quarto do
moribundo Nessa eacutepoca os ritos que acompanhavam a morte eram
realizados com tranquumlilidade e aceitaccedilatildeo
No decorrer dos anos a atitude do homem em relaccedilatildeo agrave morte sofreu
modificaccedilotildees e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaccediladora
Poupa-se o moribundo de saber sobre suas reais condiccedilotildees de sauacutede A
verdade eacute negada com o intuito de privar o doente do sofrimento A
extrema unccedilatildeo que era oferecida ao moribundo em meados do seacuteculo
XX passou a ser dada somente apoacutes sua morte
A partir da segunda metade do seacuteculo XX a morte foi transferida para os
hospitais e passou a ser vista como um fenocircmeno teacutecnico agraves vezes
adiada ou antecipada a depender dos interesses dos que tentavam
domina-la O Meacutedico transformou-se em heroacutei na luta contra a morte
Atualmente os avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos tornaram a morte um
evento institucionalizado Eacute cada vez mais comum as pessoas morrerem
no hospital O doente perde o direito de opinar sobre sua morte o
meacutedico tornou-se personagem principal e a famiacutelia passou a sentir-se
protegida por natildeo ter que presenciar a morte de um ente querido Nesse
contexto a morte passa a ocorrer em cenaacuterio composto por fios
maacutequinas aparelhos e pessoas estranhas geralmente equipe meacutedica e
de enfermagem
A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma
instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para
o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras
Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer
acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive
a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e
na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu
avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer
de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo
conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em
seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de
familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi
encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi
celebrada uma missa de corpo presente
Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em
ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de
fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com
breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra
que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e
desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida
23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER
O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa
maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo
diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito
especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e
descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute
dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que
encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo
humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas
verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo
Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-
Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute
em fase terminal a saber
Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do
doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente
ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo
Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos
comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que
algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo
todo
Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja
O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade
(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da
raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo
Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma
coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio
mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento
Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio
Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da
capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da
vida
Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar
depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima
com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase
mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas
preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser
confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute
importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma
desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da
chegada ao fim em paz
Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se
sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila
algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses
estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo
psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses
estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte
iminente
Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei
algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim
uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi
sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua
confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo
poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha
confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo
de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de
ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de
morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles
no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos
Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta
Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca
De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por
causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir
algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem
responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas
Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante
aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e
geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los
Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do
paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida
e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade
ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar
esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de
vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando
na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral
Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de
deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias
como inchaccedilo naacuteusea e dor
Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos
agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o
paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees
conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo
deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos
para uma morte digna e sem sofrimento
Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida
para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou
como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de
cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam
sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam
despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo
Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a
audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada
perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir
Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de
alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as
pessoas envolvidas
Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes
optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte
sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para
estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale
ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos
proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou
simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano
trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as
informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes
crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse
doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais
humanizado
Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de
morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir
poderaacute nos auxiliar nesse processo
Carta dos Pacientes Terminais
- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que
eu morra
- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas
possam acontecer
- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o
sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas
- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e
emoccedilotildees diante da minha morte
- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus
cuidados e tratamentos
- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem
mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode
confortordquo
- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho
- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto
- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado
- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas
honestamente
- Tenho o direito de natildeo ser enganado
- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou
experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos
demais
- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser
julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves
crenccedilas dos demais
- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de
meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados
- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis
humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas
necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a
minha privacidade
- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI
1996 APUD GUTIERREZ 2003)
24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica
Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes
mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato
e a observaccedilatildeo constante
Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico
e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com
alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a
elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre
outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo
atualmente
Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede
descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute
de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade
Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade
proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica
de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas
que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais
complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica
e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico
e recursos humanos especializados
Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os
paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do
tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida
prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da
famiacutelia e do cliente
As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses
pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e
extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave
manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e
adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA
2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas
ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de
interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao
paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores
relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante
tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons
monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e
ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre
outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua
privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar
esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo
vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo
Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional
muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em
estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade
criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo
profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao
paciente no processo de morte
A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe
multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do
leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto
discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no
intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade
fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo
conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida
(SILVA 2001)
Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal
durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido
contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se
impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo
endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais
membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de
comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo
profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a
importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes
da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos
postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais
organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida
entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)
Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam
diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos
pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para
o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem
sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus
familiares diante da finitude da vida
De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo
emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa
depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o
paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade
Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas
e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos
sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de
existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma
determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se
necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e
preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de
forma humanizada
Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta
[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo
Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)
ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a
deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes
consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu
sofrimentordquo
Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso
que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter
firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de
enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando
assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver
excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio
de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato
estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos
menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a
deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito
profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no
meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira
de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia
A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural
e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada
como uma das maiores estudiosas do assunto
A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte
A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais
membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma
assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais
necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida
Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente
consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-
espiritual
3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA
A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento
bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto
Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel
proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de
medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro
do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova
perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no
final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de
suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo
baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais
meacutedicos e familiares a saber
Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)
preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc
Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da
famiacutelia amigos e demais entes queridos)
Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos
importantes
Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex
testamentos venda de propriedade etc)
Evitar um processo longo de morte
Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica
brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na
medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo
coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer
todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e
obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que
estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute
receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel
Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites
de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe
envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e
poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz
sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica
meacutedica)
Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades
espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir
holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos
fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os
profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para
confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento
diante do processo de morte
A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de
sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que
lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto
que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre
as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado
na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda
Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o
envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do
paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade
de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus
familiaresrdquo
Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar
que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos
(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo
segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas
neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo
avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do
quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos
profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas
a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados
paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente
no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo
instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma
efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas
Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo
da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre
esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos
pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional
complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso
Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa
assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz
presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e
responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser
humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo
Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer
firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder
ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento
tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui
identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim
Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios
inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar
biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se
comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e
sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse
comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma
comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para
esse indiviacuteduo
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e
morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos
envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da
pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe
multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas
atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas
nesse estudo
Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu
para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem
ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma
morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano
Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar
aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente
abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por
Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo
incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e
enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de
trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da
enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida
deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que
estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI
Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira
cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja
prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer
Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no
processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo
especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas
riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho
considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada
particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco
Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas
pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina
paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais
envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de
uma Unidade de terapia Intensiva
Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o
aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que
eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor
considerado como desumanizante e frio
Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais
profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado
REFEREcircNCIAS
AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em
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Paulo Manoele 2000
TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica
metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003
S237h Santos Luzinete Bispo Oliveira
Humanizaccedilatildeo no processo da morte em unidades de terapia
intensiva Luzinete Bispo Oliveira Santos ndash Salvador 2010 36f 30 cm
Orientador Prof Dr Fernando Reis do Espiacuterito Santo Monografia (poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Especializaccedilatildeo Lato Sensu
em Enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva Atualiza Poacutes-graduaccedilatildeo 2010
1 Enfermagem em UTI 2 Humanizaccedilatildeo da assistecircncia 3
Morte 4 Paciente I Espiacuterito Santo Fernando Reis II Atualiza Poacutes-graduaccedilatildeo III Tiacutetulo
CDU 616-083 Ficha catalograacutefica elaborada pela Bibliotecaacuteria Adriana Sena Gomes CRB 5 1568
LUZINETE BISPO OLIVEIRA SANTOS
HUMANIZACcedilAtildeO NO PROCESSO DA MORTE EM UNIDADES DE
TERAPIA INTENSIVA revisatildeo de literatura
Monografia para obtenccedilatildeo do grau de Especialista em Enfermagem em UTI
Salvador 10 de maio de 2010
EXAMINADOR
Nome _________________________________________
Titulaccedilatildeo _________________________________________
PARECER FINAL
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AGRADECIMENTOS
A Deus nosso Pai pela graccedila que me concedeu para transpor os obstaacuteculos e chegar onde cheguei
Aos meus pais Antonieta e Joatildeo (in memoacuteriam) pelo exemplo de vida incentivo sacrifiacutecio apoio e dedicaccedilatildeo durante toda a minha vida Aos meus nove irmatildeos pela torcida e incentivo Aos pacientes que satildeo os grandes motivadores da minha vida profissional Agrave colega Adriana Sena Gomes Bibliotecaacuteria o meu reconhecimento e sincero agradecimento pelo apoio nesse meu caminhar cientiacutefico Ao professor Fernando Reis do Espiacuterito Santo Orientador pela competecircncia tranquumlilidade espontaneidade e colaboraccedilatildeo no desenvolvimento dessa pesquisa
DEDICO ESTE TRABALHO Aos meus filhos Davi e Joatildeo
pelo estiacutemulo para continuar lutando por meus ideais
Eu me importo com o fato de vocecirc ser vocecirc me importo ateacute o uacuteltimo momento de sua vida e faremos tudo o que estaacute ao nosso alcance natildeo somente para ajudar vocecirc a morrer em paz mas tambeacutem para vocecirc viver ateacute o dia da morte
Cicely Saunder
RESUMO
A unidade de terapia Intensiva (UTI) muitas vezes eacute vista como um setor desumanizante e frio onde a tecnologia prevalece em relaccedilatildeo agraves accedilotildees humaniacutesticas Eacute nesse ambiente afastados dos seus entes que os pacientes em processo de morte passam seus uacuteltimos momentos em companhia de estranhos normalmente profissionais da enfermagem ou meacutedicos Esse estudo teve por objetivo analisar na literatura propostas e iniciativas que visem uma morte digna e mais humana em UTI Trata-se de uma revisatildeo bibliograacutefica de caraacuteter qualitativo e exploratoacuterio A busca do material foi realizada em bancos de dados informatizados e em livros e perioacutedicos da aacuterea Os resultados demonstram que os trabalhos realizados por enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo proposto satildeo incipientes e a temaacutetica em foco eacute constantemente abordada por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Considerando-se a anaacutelises dos textos identificados e as observaccedilotildees pessoais relacionadas ao estudo conclue-se que a morte de uma pessoa sem probabilidade de cura pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina paliativa cuidados centrados na famiacutelia e capacitaccedilatildeo dos profissionais envolvidos no processo de mortemorrer forem trazido para o ambiente de UTI PALAVRAS-CHAVE Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Unidade de terapia Intensiva Morte Paciente
ABSTRACT
The intensive care unit (ICU) is often seen as a dehumanizing and cold sector where technology prevails in relation to humanistic actions It is in this environment away from their loved that patients undergoing death spend their last moments in the company of strangers usually nursing or medical professionals This study aimed to analyze the literature and proposed initiatives to a more humane and dignified death in the ICU This is a review of qualitative and exploratory The pursuit of material was done in computerized databases and books and journals The results demonstrate that the work done by nurses that meet the proposed goal is rarely in focus and the theme is constantly approached by medical professionals and psychologists Considering the analysis of texts identified and personal observations related to the study concludes that the death of a person with no chance of cure can be dignified and humane if the basic principles of palliative medicine family-centered care and training of professionals involved in case of death dying are brought to the ICU environment KEYWORDS Humanization of Assistance the Intensive Care Unit Death Patie
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO09
2 REVISAtildeO DA LITERATURA12
21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA12
22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER14
23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE
MORTEMORRER19
24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA
(UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER24
3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA29
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS32
REFEREcircNCIAS34
1 INTRODUCcedilAtildeO
APRESENTACcedilAtildeO DO OBJETO DE ESTUDO
Na rotina do profissional de sauacutede o tema morte eacute pouco comentado atuam na
perspectiva de promover a sauacutede prolongar e manter a vida Segundo estudos
ao longo da graduaccedilatildeo os assuntos abordados satildeo no acircmbito da fisiopatologia
e nos procedimentos teacutecnicos utilizados na atenccedilatildeo a paciente grave Aspectos
relacionados ao preparo emocional e psicoloacutegico necessaacuterios no atendimento
desses e aos seus familiares satildeo negligenciados observando-se uma
ldquodesumanizaccedilatildeordquo no atendimento ao paciente terminal (BALSANELLI
SANTOS SOLER 2002)
Eacute do conhecimento que no decorrer dos uacuteltimos seacuteculos a partir do surgimento
dos hospitais e unidades complexas e especializadas como as Unidades de
Terapia Intensivas (UTI) as pessoas doentes ou em estado grave da doenccedila
destinam-se para essas unidades em busca da cura ou tratamento de sauacutede
Entretanto diante do insucesso da terapecircutica empreendida e falta de
perspectiva de sobrevivecircncia o doente entra no processo de morte Assim
afastados dos seus entes passam seus uacuteltimos dias num leito hospitalar em
companhia de estranhos Encontram-se soacutes com seu sofrimento e noacutes
profissionais responsaacuteveis pelo cuidado assumimos em alguns casos o papel
da famiacutelia permanecendo aacute beira do leito nos seus uacuteltimos momento
JUSTIFICATIVA
No meu cotidiano de trabalho em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) enquanto
profissional de enfermagem de niacutevel meacutedio prestei assistecircncia agrave beira do leito
a vaacuterios pacientes moribundos nos seus uacuteltimos momentos de vida Apesar de
lidar com a morte cotidianamente e atuar de acordo com os valores eacuteticos
cultuando o respeito ao ser humano sob meus cuidados sentia-me
despreparada ao lidar com a situaccedilatildeo tambeacutem percebia o mesmo com os
demais colegas da equipe Imaginava que durante a graduaccedilatildeo em
enfermagem teria o aprendizado necessaacuterio para assistir de forma adequada o
paciente no processo de mortemorrer Isso natildeo ocorreu o assunto foi pouco
discutido na disciplina de psicologia Assim surgiu meu interesse pelo
embasamento literaacuterio e consequentemente adquirir habilidades para prestar
uma assistecircncia de qualidade diferenciada e humanizada a fim de
proporcionar uma morte ldquomais dignardquo aos clientes sob meus cuidados
PROBLEMA
Que iniciativas podem ser tomadas para tornar a morte mais digna e mais
humana dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI)
OBJETIVO
Analisar na literatura propostas e iniciativas que visem uma morte digna e mais
humana em Unidade de Terapia Intensiva
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisatildeo bibliograacutefica tendo como base a anaacutelise e
interpretaccedilatildeo de literaturas especiacuteficas dissertaccedilotildees teses perioacutedicos artigos
livros e outras publicaccedilotildees nacionais em consonacircncia com o objetivo proposto
Os descritores utilizados foram morte enfermagem UTI e humanizaccedilatildeo da
assistecircncia
Segundo Tognetti (2006) a pesquisa bibliograacutefica eacute fundamentada nos
conhecimentos de biblioteconomia documentaccedilatildeo e bibliografia sua finalidade
eacute colocar o pesquisador em contato com o que jaacute se produziu a respeito do seu
tema de pesquisa Trata-se de uma pesquisa com caraacuteter exploratoacuterio e
qualitativo De acordo com Godoy (1995 p21) ldquo[] a pesquisa qualitativa
ocupa um reconhecido lugar entre as vaacuterias possibilidades de se estudar os
fenocircmenos que envolvem os seres humanos e suas intricadas relaccedilotildees sociais
estabelecidas em diversos ambientesrdquo Jaacute para Richardson (1999 p17) visa
descobrir as semelhanccedilas entre fenocircmenos ldquoos pressupostos teoacutericos natildeo
estatildeo claros ou satildeo difiacuteceis de encontrar Nessa situaccedilatildeo faz-se uma pesquisa
natildeo apenas para conhecer o tipo de relaccedilatildeo existente mas sobretudo para
determinar a existecircncia de relaccedilatildeordquo
A pesquisa exploratoacuteria eacute ideal quando se deseja explorar o novo ainda natildeo
considerado como ciecircncia mas que serve de base agrave mesma Pode-se basear
neste tipo de pesquisa na ocorrecircncia de bibliografia escassa sobre o tema em
estudo (LEITE 2008)
Apoacutes leitura na iacutentegra e interpretaccedilatildeo dos textos selecionados buscou-se obter
a resposta do problema da pesquisa
ESTRUTURA
Organizei este estudo em trecircs momentos nos quais procurei descrever sobre o
assunto proposto de forma simples e coerente
No primeiro momento apresento o objeto de estudo relato meu interesse em
discorrer sobre o tema descrevo tambeacutem o objetivo com base no problema em
questatildeo
Logo apoacutes no segundo momento faccedilo consideraccedilotildees sobre humanizaccedilatildeo da
assistecircncia apresento tambeacutem uma concisatildeo sobre o morrer e faccedilo alguns
comentaacuterios acerca do paciente moribundo em UTI Em seguida comento
sobre a equipe de enfermagem e a assistecircncia durante o processo
mortemorrer
Prosseguindo no terceiro momento apresento a anaacutelise dos dados
pesquisados
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA
Segundo Ferreira (2000) humanizar significa tornar humano dar condiccedilatildeo
humana tornar afaacutevel e trataacutevel A humanizaccedilatildeo da assistecircncia requer
conscientizaccedilatildeo e preparo da equipe para um cuidado diferenciado
entendendo o paciente como um ser humano
Alguns estudos na aacuterea da medicina intensivista apontam para a necessidade
de mudar o enfoque predominantemente tecnicista paciente-doenccedila para uma
abordagem mais humana que engloba o paciente de forma holiacutestica ou seja
percebendo-o como um ser inserido num contexto e que necessita ser
atendido nos aspectos fiacutesicos psicoloacutegicos sociais e espirituais A medicina
paliativa vem sendo destacada nas literaturas em geral na aacuterea de oncologia
entretanto tem ganhado destaque tambeacutem nas literaturas pertinentes ao
intensivismo (GARROS 2003)
ldquoA medicina paliativa se desenvolveu como uma reaccedilatildeo agrave medicina moderna
altamente tecnicista que prioriza a cura em vez do cuidadordquo (PESSINI 2006)
A filosofia dos cuidados paliativos a) afirma a vida e encara o morrer como um processo normal b) natildeo apressa nem adia a morte c) procura aliviar a dor e outros sintomas angustiantes d) integra os aspectos psicoloacutegicos e espirituais nos cuidados com o paciente e) oferece um sistema de apoio para ajudar os pacientes a viver ativamente o maacuteximo possiacutevel ateacute a morte f) oferece um sistema de apoio para ajudar a famiacutelia a lidar com a doenccedila do paciente e seu proacuteprio luto (PESSINI 2003 apud PESSINI 2006)
Essa nova perspectiva constitui desafio para os profissionais de sauacutede visto
que o paciente no processo de morte deixa de ser aquele por quem nada si
pode fazer e passa a ser considerado como aquele que natildeo responde mais as
medidas terapecircuticas de cura Desta forma sob a filosofia dos cuidados
paliativos temos muito que fazer para proporcionar uma morte mais digna
decente ou aceitaacutevel para um ser humano A humanizaccedilatildeo do morrer apoacuteia a
concepccedilatildeo de que a morte natildeo eacute um inimigo a ser combatido ela faz parte do
ciclo vital e do adoecer
A proposta dos cuidados paliativos eacute permitir que a pessoa viva intensamente
seus dias finais de vida com controle da dor e sendo assistido de forma
holiacutestica Partindo da ideacuteia de que ldquomais vale acrescentar vida ao tempo do que
tempo agrave vidardquo
O Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo Hospitalar - PNHAH foi instituiacutedo pelo
Ministeacuterio da Sauacutede atraveacutes da portaria nordm 881 de 19 06 2001 no acircmbito do
Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2002) O PNHAH faz parte de um processo
de discussatildeo e implementaccedilatildeo de projetos de humanizaccedilatildeo do atendimento a
sauacutede e de melhoria da qualidade do vinculo estabelecido entre trabalhador da
sauacutede pacientes e familiares
A famiacutelia enquanto extensatildeo do paciente deveraacute ser incluiacuteda no processo de
cuidado deste poreacutem natildeo como auxiliar ao nosso trabalho mas como
indiviacuteduos a serem cuidados tambeacutem pela enfermagem Essa deveraacute oferecer
o suporte necessaacuterio esclarecer as duacutevidas atender e acolher prontamente e
de maneira empaacutetica esse suporte primaacuterio do paciente conquistando assim
sua confianccedila A inclusatildeo da famiacutelia no processo de cuidado em Unidade de
terapia Intensiva (UTI) eacute indispensaacutevel para podermos atender o paciente de
forma holiacutestica (NASCIMENTO MARTINS 2000)
Humanizar significa a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito
com o outro acolher o desconhecido e reconhecer os limites A humanizaccedilatildeo
requer uma interaccedilatildeo harmoniosa entre o cuidado teacutecnico e cientiacutefico Requer
tambeacutem compromisso eacutetico de todos os profissionais envolvidos na assistecircncia
desde os atendentes da recepccedilatildeo ateacute a equipe envolvida diretamente com a
assistecircncia do paciente e famiacutelia O processo do cuidado de enfermagem por
se soacute constitui um ato humanizado visto que os objetivos do cuidar envolvem
aliviar confortar ajudar favorecer promover entre outros (MORAES
GARDA FONSECA 2004) Segundo esses autores
Humanizar de acordo com os valores eacuteticos consiste fundamentalmente em tornar uma praacutetica bela por mais que ela lide com o que tem de mais degradante doloroso e triste na natureza humana o sofrimento a deterioraccedilatildeo e a morte Refere-se portanto a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito ao outro e de reconhecimento dos limites O ponto chave do trabalho de humanizaccedilatildeo estaacute no fortalecimento desta posiccedilatildeo eacutetica de articulaccedilatildeo do cuidado teacutecnico cientifico jaacute construiacutedo conhecido e dominado ao cuidado que incorpora a necessidade a exploraccedilatildeo e o acolhimento do imprevisiacutevel do incontrolaacutevel ao indiferente e singular
Minayo (2004) considera que ao se propor um cuidado humanizado deve-se
repensar a formaccedilatildeo profissional na aacuterea de sauacutede Para esse autor apesar
das propostas de mudanccedilas de modelo de atenccedilatildeo da sauacutede que prega a
integralidade e a humanizaccedilatildeo da assistecircncia e da crise da ciecircncia racionalista
predomina ainda o aprendizado teacutecnico racional e individualizado empregado
muitas vezesrdquo sem o exerciacutecio da criacutetica criatividade e sensibilidaderdquo
Refletindo portanto no despreparo dos profissionais em proporcionar um
cuidado humanizado cada vez mais exigido nos serviccedilos que utilizam alta
tecnologia como as Unidades de Terapia Intensiva
Felizmente percebemos uma seacuterie de estudos relacionados agrave necessidade de
humanizaccedilatildeo desses serviccedilos por forccedila do efeito negativo do ambiente sobre
pacientes famiacutelia e equipe multiprofissional Os estudos mostram tambeacutem que
os profissionais de sauacutede tecircm consciecircncia de que humanizaccedilatildeo eacute uma palavra
aparentemente faacutecil de entender poreacutem no dia-a-dia natildeo eacute tatildeo faacutecil praticaacute-la
22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER
A compreensatildeo sobre a morte influencia na qualidade de vida da pessoa e na
forma como ela interage no seu dia-a-dia com o processo de morte e morrer
Ao pesquisar sobre a definiccedilatildeo das palavras morte e morrer no dicionaacuterio de
liacutengua portuguesa fica-se impressionado com a quantidade de sinocircnimos
atribuiacutedos a elas
Morte significa cessaccedilatildeo da vida fim Jaacute a palavra morrer significa rdquoperder a
vida falecer finar-se fenecer expirar desaparecer descansar desencarnar
ir perecer sucumbir espichar esticar estinguir-se acabar (-se)rdquo (FERREIRA
2000)
Jaacute no dicionaacuterio meacutedico traz as seguintes consideraccedilotildees
1-Cessaccedilatildeo total e irreversiacutevel da funccedilatildeo cerebral funccedilatildeo espontacircnea dos sistemas respiratoacuterio e circulatoacuterio 2 - A cessaccedilatildeo final e irreversiacutevel dos batimentos cardiacuteacos e respiraccedilotildees perceptiacuteveis [] o principal sinal de morte eacute a cessaccedilatildeo da accedilatildeo do coraccedilatildeo Outras indicaccedilotildees satildeo ausecircncia de reflexos cessaccedilatildeo da atividade eleacutetrica do ceacuterebro determinada pelo eletro encefalograma (EEC) manifestaccedilatildeo de rigor mortis e uma descoloraccedilatildeo mosqueada no corpo (THOMAS 2000)
Como podemos observar existem vaacuterias denominaccedilotildees para substituir a
palavra morte talvez o objetivo real seja ldquosuavizarrdquo a sua pronuacutencia tornando-a
menos temiacutevel
A Tanatologia eacute a ciecircncia que estuda a morte Segundo este saber o homem eacute
o uacutenico ser sobre a terra que tem consciecircncia da sua finitude o uacutenico a ter
consciecircncia de que sua passagem neste mundo eacute transitoacuteria e deve terminar
um dia Apesar dessa certeza o homem foi impelido a evitar a convivecircncia com
a morte no decorrer da histoacuteria
A seguir pontuarei de forma sinteacutetica as diferentes interpretaccedilotildees da morte
segundo algumas das grandes correntes religiosas
Para os judeus e cristatildeos que acreditava na ressurreiccedilatildeo apoacutes a morte esta
seria o acesso para outra dimensatildeo da vida que poderia ser no inferno ou no
paraiacuteso conforme os seus feitos terrenos a partir da observacircncia dos
mandamentos de Deus
De acordo com Pessini (1999) apud Gutierrez (2003) ldquoo catolicismo prega que
os esforccedilos para manter a vida fiacutesica podem ser encerrados caso a
continuaccedilatildeo da vida bioloacutegica ao inveacutes de promover a integraccedilatildeo da vida
espiritual e moral do indiviacuteduo torne-se vatilderdquo
O budismo natildeo encara a morte como o fim da vida mas sim como uma
transiccedilatildeo defendendo o direito do indiviacuteduo de determinar o momento em que
deseja passar desta existecircncia para a seguinte Enfatiza que o importante no
momento da morte eacute que a mente permaneccedila em paz e harmonia consigo
mesmo
No islamismo a concepccedilatildeo de vida eacute sagrada a morte eacute interpretada como a
conclusatildeo de uma vida e o comeccedilo de outra
Apesar das diferentes interpretaccedilotildees das diversas correntes religiosas haacute
consenso de que o apoio espiritual constitui elemento valioso dado ao paciente
no processo de morrer
A morte eacute parte integrante do processo de desenvolvimento humano e estaacute
presente no cotidiano diaacuterio de nossas vidas A forma de percepccedilatildeo
significaccedilatildeo e comportamento do processo de morte e morrer variam conforme
o contexto soacutecio-cultural e histoacuterico e vem sofrendo alteraccedilotildees atraveacutes das
diferentes civilizaccedilotildees ateacute os dias atuais
[] Os povos mesopotacircmios tinham por costume enterrar os corpos dos mortos da maneira mais escrupulosa sendo o cadaacutever cuidadosamente acompanhado de todas as marcas mais distintas de sua identidade pessoal e familiar como seus pertences insiacutegnias e objetos de uso suas vestimentas e ateacute mesmo de suas comidas
prediletas (GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)
Para essa civilizaccedilatildeo a morte seria uma espeacutecie de rebaixamento da vida o
apagamento dessa mesma existecircncia
Os antigos egiacutepcios sepultavam seus mortos juntamente com as roupas e os
alimentos para que continuassem felizes e da mesma forma os antigos iacutendios
americanos que enterravam seus parentes com tudo o que lhes pertencia
Esses falavam dos espiacuteritos do mal e atiravam flechas ao ar para afugentaacute-los
Os hebreus consideravam o corpo do morto como alguma coisa impura que
natildeo podia ser tocada (KUumlBLER-ROSS 2008)
Os antigos hindus incineravam seus mortos e suas cinzas eram lanccediladas ao
vento ou nas aacuteguas dos rios sendo o morto despojado de todos os seus
traccedilos de identidade
Para os antigos gregos a incineraccedilatildeo determinava dois tipos de mortos o cadaacutever do homem comum e o cadaacutever dos grandes heroacuteis Ao anocircnimo cabia o crematoacuterio coletivo e o depoacutesito de suas cinzas em vala comum Os corpos falecidos dos heroacuteis eram cremados na cerimocircnia da bela morte onde os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos A proacutepria morte seria a prova de sua virtude tornando-o um indiviacuteduo cuja vida eacute digna de ser lembrada
(GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)
Os primeiros cemiteacuterios surgiram a partir do seacuteculo V e eram localizados junto
agraves igrejas cristatildes Esses cemiteacuterios faziam parte do cenaacuterio de vida das
pessoas tinham papel de praccedila puacuteblica eram lugares de julgamentos das
execuccedilotildees e dos encontros amorosos
Na Idade Meacutedia a morte era entendida com naturalidade fazendo parte do
ambiente domeacutestico O ritual da morte envolvia tanto a pessoa que ia morrer
como os seus parentes e amigos Naquela eacutepoca os nobres eram enterrados
no interior das igrejas enquanto os pobres erram colocados em covas
coletivas
Tanto a famiacutelia como os amigos do morto manifestavam o processo do luto
atraveacutes do uso de roupas pretas e da natildeo participaccedilatildeo na vida social ateacute que
natildeo acontecesse a elaboraccedilatildeo do oacutebito As pessoas que sabiam que iam
morrer protagonizavam todo o ritual despedindo-se dos entes queridos
fazendo o testamento buscando se reconciliar com as pessoas e superar as
maacutegoas A comunidade participava ativamente de todo esse processo (AGRA
ALBUQUERQUE 2008)
Gutierrez (2003) tomando como referencial o estudo de Pessini (1999) fez
uma breve abordagem sobre o processo de morte e morrer a partir da idade
meacutedia ateacute a deacutecada de 70 do seacuteculo XX
Durante os seacuteculos XI e XII iniciaram-se mudanccedilas sutis na maneira
tradicional de o homem atuar diante da morte
No periacuteodo entre os seacuteculos XII a XV houve uma maior conscientizaccedilatildeo
do homem em relaccedilatildeo aacute sua proacutepria morte
Jaacute no seacuteculo XVI a morte distanciou-se das situaccedilotildees mais corriqueiras
e passou a representar uma separaccedilatildeo inaceitaacutevel iniciando um
processo de visualizaccedilatildeo da morte do outro que passou a ser dramaacutetica
e mais complexa
No final do seacuteculo XVIII surgiram duas mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave morte A
benevolecircncia com a ideacuteia da morte e a relaccedilatildeo entre moribundo e seus
familiares O termo benevolecircncia significa boa vontade para com todos
Na primeira metade do seacuteculo XIX a morte era um fenocircmeno bastante
presente e encarado como fato social e puacuteblico em que parentes e
amigos vizinhos e ateacute mesmo crianccedilas permaneciam no quarto do
moribundo Nessa eacutepoca os ritos que acompanhavam a morte eram
realizados com tranquumlilidade e aceitaccedilatildeo
No decorrer dos anos a atitude do homem em relaccedilatildeo agrave morte sofreu
modificaccedilotildees e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaccediladora
Poupa-se o moribundo de saber sobre suas reais condiccedilotildees de sauacutede A
verdade eacute negada com o intuito de privar o doente do sofrimento A
extrema unccedilatildeo que era oferecida ao moribundo em meados do seacuteculo
XX passou a ser dada somente apoacutes sua morte
A partir da segunda metade do seacuteculo XX a morte foi transferida para os
hospitais e passou a ser vista como um fenocircmeno teacutecnico agraves vezes
adiada ou antecipada a depender dos interesses dos que tentavam
domina-la O Meacutedico transformou-se em heroacutei na luta contra a morte
Atualmente os avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos tornaram a morte um
evento institucionalizado Eacute cada vez mais comum as pessoas morrerem
no hospital O doente perde o direito de opinar sobre sua morte o
meacutedico tornou-se personagem principal e a famiacutelia passou a sentir-se
protegida por natildeo ter que presenciar a morte de um ente querido Nesse
contexto a morte passa a ocorrer em cenaacuterio composto por fios
maacutequinas aparelhos e pessoas estranhas geralmente equipe meacutedica e
de enfermagem
A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma
instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para
o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras
Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer
acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive
a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e
na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu
avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer
de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo
conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em
seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de
familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi
encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi
celebrada uma missa de corpo presente
Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em
ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de
fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com
breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra
que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e
desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida
23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER
O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa
maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo
diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito
especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e
descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute
dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que
encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo
humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas
verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo
Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-
Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute
em fase terminal a saber
Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do
doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente
ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo
Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos
comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que
algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo
todo
Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja
O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade
(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da
raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo
Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma
coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio
mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento
Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio
Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da
capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da
vida
Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar
depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima
com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase
mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas
preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser
confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute
importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma
desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da
chegada ao fim em paz
Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se
sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila
algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses
estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo
psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses
estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte
iminente
Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei
algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim
uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi
sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua
confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo
poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha
confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo
de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de
ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de
morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles
no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos
Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta
Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca
De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por
causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir
algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem
responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas
Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante
aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e
geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los
Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do
paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida
e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade
ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar
esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de
vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando
na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral
Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de
deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias
como inchaccedilo naacuteusea e dor
Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos
agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o
paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees
conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo
deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos
para uma morte digna e sem sofrimento
Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida
para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou
como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de
cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam
sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam
despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo
Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a
audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada
perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir
Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de
alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as
pessoas envolvidas
Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes
optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte
sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para
estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale
ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos
proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou
simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano
trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as
informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes
crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse
doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais
humanizado
Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de
morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir
poderaacute nos auxiliar nesse processo
Carta dos Pacientes Terminais
- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que
eu morra
- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas
possam acontecer
- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o
sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas
- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e
emoccedilotildees diante da minha morte
- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus
cuidados e tratamentos
- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem
mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode
confortordquo
- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho
- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto
- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado
- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas
honestamente
- Tenho o direito de natildeo ser enganado
- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou
experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos
demais
- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser
julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves
crenccedilas dos demais
- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de
meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados
- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis
humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas
necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a
minha privacidade
- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI
1996 APUD GUTIERREZ 2003)
24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica
Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes
mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato
e a observaccedilatildeo constante
Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico
e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com
alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a
elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre
outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo
atualmente
Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede
descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute
de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade
Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade
proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica
de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas
que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais
complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica
e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico
e recursos humanos especializados
Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os
paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do
tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida
prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da
famiacutelia e do cliente
As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses
pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e
extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave
manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e
adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA
2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas
ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de
interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao
paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores
relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante
tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons
monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e
ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre
outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua
privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar
esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo
vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo
Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional
muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em
estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade
criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo
profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao
paciente no processo de morte
A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe
multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do
leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto
discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no
intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade
fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo
conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida
(SILVA 2001)
Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal
durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido
contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se
impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo
endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais
membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de
comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo
profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a
importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes
da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos
postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais
organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida
entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)
Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam
diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos
pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para
o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem
sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus
familiares diante da finitude da vida
De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo
emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa
depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o
paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade
Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas
e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos
sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de
existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma
determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se
necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e
preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de
forma humanizada
Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta
[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo
Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)
ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a
deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes
consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu
sofrimentordquo
Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso
que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter
firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de
enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando
assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver
excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio
de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato
estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos
menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a
deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito
profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no
meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira
de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia
A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural
e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada
como uma das maiores estudiosas do assunto
A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte
A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais
membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma
assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais
necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida
Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente
consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-
espiritual
3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA
A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento
bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto
Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel
proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de
medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro
do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova
perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no
final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de
suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo
baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais
meacutedicos e familiares a saber
Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)
preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc
Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da
famiacutelia amigos e demais entes queridos)
Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos
importantes
Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex
testamentos venda de propriedade etc)
Evitar um processo longo de morte
Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica
brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na
medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo
coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer
todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e
obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que
estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute
receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel
Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites
de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe
envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e
poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz
sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica
meacutedica)
Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades
espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir
holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos
fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os
profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para
confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento
diante do processo de morte
A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de
sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que
lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto
que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre
as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado
na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda
Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o
envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do
paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade
de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus
familiaresrdquo
Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar
que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos
(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo
segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas
neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo
avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do
quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos
profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas
a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados
paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente
no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo
instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma
efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas
Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo
da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre
esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos
pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional
complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso
Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa
assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz
presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e
responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser
humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo
Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer
firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder
ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento
tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui
identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim
Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios
inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar
biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se
comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e
sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse
comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma
comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para
esse indiviacuteduo
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e
morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos
envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da
pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe
multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas
atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas
nesse estudo
Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu
para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem
ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma
morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano
Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar
aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente
abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por
Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo
incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e
enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de
trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da
enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida
deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que
estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI
Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira
cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja
prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer
Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no
processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo
especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas
riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho
considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada
particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco
Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas
pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina
paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais
envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de
uma Unidade de terapia Intensiva
Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o
aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que
eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor
considerado como desumanizante e frio
Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais
profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado
REFEREcircNCIAS
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HUMANIZACcedilAtildeO NO PROCESSO DA MORTE EM UNIDADES DE
TERAPIA INTENSIVA revisatildeo de literatura
Monografia para obtenccedilatildeo do grau de Especialista em Enfermagem em UTI
Salvador 10 de maio de 2010
EXAMINADOR
Nome _________________________________________
Titulaccedilatildeo _________________________________________
PARECER FINAL
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AGRADECIMENTOS
A Deus nosso Pai pela graccedila que me concedeu para transpor os obstaacuteculos e chegar onde cheguei
Aos meus pais Antonieta e Joatildeo (in memoacuteriam) pelo exemplo de vida incentivo sacrifiacutecio apoio e dedicaccedilatildeo durante toda a minha vida Aos meus nove irmatildeos pela torcida e incentivo Aos pacientes que satildeo os grandes motivadores da minha vida profissional Agrave colega Adriana Sena Gomes Bibliotecaacuteria o meu reconhecimento e sincero agradecimento pelo apoio nesse meu caminhar cientiacutefico Ao professor Fernando Reis do Espiacuterito Santo Orientador pela competecircncia tranquumlilidade espontaneidade e colaboraccedilatildeo no desenvolvimento dessa pesquisa
DEDICO ESTE TRABALHO Aos meus filhos Davi e Joatildeo
pelo estiacutemulo para continuar lutando por meus ideais
Eu me importo com o fato de vocecirc ser vocecirc me importo ateacute o uacuteltimo momento de sua vida e faremos tudo o que estaacute ao nosso alcance natildeo somente para ajudar vocecirc a morrer em paz mas tambeacutem para vocecirc viver ateacute o dia da morte
Cicely Saunder
RESUMO
A unidade de terapia Intensiva (UTI) muitas vezes eacute vista como um setor desumanizante e frio onde a tecnologia prevalece em relaccedilatildeo agraves accedilotildees humaniacutesticas Eacute nesse ambiente afastados dos seus entes que os pacientes em processo de morte passam seus uacuteltimos momentos em companhia de estranhos normalmente profissionais da enfermagem ou meacutedicos Esse estudo teve por objetivo analisar na literatura propostas e iniciativas que visem uma morte digna e mais humana em UTI Trata-se de uma revisatildeo bibliograacutefica de caraacuteter qualitativo e exploratoacuterio A busca do material foi realizada em bancos de dados informatizados e em livros e perioacutedicos da aacuterea Os resultados demonstram que os trabalhos realizados por enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo proposto satildeo incipientes e a temaacutetica em foco eacute constantemente abordada por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Considerando-se a anaacutelises dos textos identificados e as observaccedilotildees pessoais relacionadas ao estudo conclue-se que a morte de uma pessoa sem probabilidade de cura pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina paliativa cuidados centrados na famiacutelia e capacitaccedilatildeo dos profissionais envolvidos no processo de mortemorrer forem trazido para o ambiente de UTI PALAVRAS-CHAVE Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Unidade de terapia Intensiva Morte Paciente
ABSTRACT
The intensive care unit (ICU) is often seen as a dehumanizing and cold sector where technology prevails in relation to humanistic actions It is in this environment away from their loved that patients undergoing death spend their last moments in the company of strangers usually nursing or medical professionals This study aimed to analyze the literature and proposed initiatives to a more humane and dignified death in the ICU This is a review of qualitative and exploratory The pursuit of material was done in computerized databases and books and journals The results demonstrate that the work done by nurses that meet the proposed goal is rarely in focus and the theme is constantly approached by medical professionals and psychologists Considering the analysis of texts identified and personal observations related to the study concludes that the death of a person with no chance of cure can be dignified and humane if the basic principles of palliative medicine family-centered care and training of professionals involved in case of death dying are brought to the ICU environment KEYWORDS Humanization of Assistance the Intensive Care Unit Death Patie
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO09
2 REVISAtildeO DA LITERATURA12
21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA12
22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER14
23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE
MORTEMORRER19
24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA
(UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER24
3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA29
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS32
REFEREcircNCIAS34
1 INTRODUCcedilAtildeO
APRESENTACcedilAtildeO DO OBJETO DE ESTUDO
Na rotina do profissional de sauacutede o tema morte eacute pouco comentado atuam na
perspectiva de promover a sauacutede prolongar e manter a vida Segundo estudos
ao longo da graduaccedilatildeo os assuntos abordados satildeo no acircmbito da fisiopatologia
e nos procedimentos teacutecnicos utilizados na atenccedilatildeo a paciente grave Aspectos
relacionados ao preparo emocional e psicoloacutegico necessaacuterios no atendimento
desses e aos seus familiares satildeo negligenciados observando-se uma
ldquodesumanizaccedilatildeordquo no atendimento ao paciente terminal (BALSANELLI
SANTOS SOLER 2002)
Eacute do conhecimento que no decorrer dos uacuteltimos seacuteculos a partir do surgimento
dos hospitais e unidades complexas e especializadas como as Unidades de
Terapia Intensivas (UTI) as pessoas doentes ou em estado grave da doenccedila
destinam-se para essas unidades em busca da cura ou tratamento de sauacutede
Entretanto diante do insucesso da terapecircutica empreendida e falta de
perspectiva de sobrevivecircncia o doente entra no processo de morte Assim
afastados dos seus entes passam seus uacuteltimos dias num leito hospitalar em
companhia de estranhos Encontram-se soacutes com seu sofrimento e noacutes
profissionais responsaacuteveis pelo cuidado assumimos em alguns casos o papel
da famiacutelia permanecendo aacute beira do leito nos seus uacuteltimos momento
JUSTIFICATIVA
No meu cotidiano de trabalho em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) enquanto
profissional de enfermagem de niacutevel meacutedio prestei assistecircncia agrave beira do leito
a vaacuterios pacientes moribundos nos seus uacuteltimos momentos de vida Apesar de
lidar com a morte cotidianamente e atuar de acordo com os valores eacuteticos
cultuando o respeito ao ser humano sob meus cuidados sentia-me
despreparada ao lidar com a situaccedilatildeo tambeacutem percebia o mesmo com os
demais colegas da equipe Imaginava que durante a graduaccedilatildeo em
enfermagem teria o aprendizado necessaacuterio para assistir de forma adequada o
paciente no processo de mortemorrer Isso natildeo ocorreu o assunto foi pouco
discutido na disciplina de psicologia Assim surgiu meu interesse pelo
embasamento literaacuterio e consequentemente adquirir habilidades para prestar
uma assistecircncia de qualidade diferenciada e humanizada a fim de
proporcionar uma morte ldquomais dignardquo aos clientes sob meus cuidados
PROBLEMA
Que iniciativas podem ser tomadas para tornar a morte mais digna e mais
humana dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI)
OBJETIVO
Analisar na literatura propostas e iniciativas que visem uma morte digna e mais
humana em Unidade de Terapia Intensiva
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisatildeo bibliograacutefica tendo como base a anaacutelise e
interpretaccedilatildeo de literaturas especiacuteficas dissertaccedilotildees teses perioacutedicos artigos
livros e outras publicaccedilotildees nacionais em consonacircncia com o objetivo proposto
Os descritores utilizados foram morte enfermagem UTI e humanizaccedilatildeo da
assistecircncia
Segundo Tognetti (2006) a pesquisa bibliograacutefica eacute fundamentada nos
conhecimentos de biblioteconomia documentaccedilatildeo e bibliografia sua finalidade
eacute colocar o pesquisador em contato com o que jaacute se produziu a respeito do seu
tema de pesquisa Trata-se de uma pesquisa com caraacuteter exploratoacuterio e
qualitativo De acordo com Godoy (1995 p21) ldquo[] a pesquisa qualitativa
ocupa um reconhecido lugar entre as vaacuterias possibilidades de se estudar os
fenocircmenos que envolvem os seres humanos e suas intricadas relaccedilotildees sociais
estabelecidas em diversos ambientesrdquo Jaacute para Richardson (1999 p17) visa
descobrir as semelhanccedilas entre fenocircmenos ldquoos pressupostos teoacutericos natildeo
estatildeo claros ou satildeo difiacuteceis de encontrar Nessa situaccedilatildeo faz-se uma pesquisa
natildeo apenas para conhecer o tipo de relaccedilatildeo existente mas sobretudo para
determinar a existecircncia de relaccedilatildeordquo
A pesquisa exploratoacuteria eacute ideal quando se deseja explorar o novo ainda natildeo
considerado como ciecircncia mas que serve de base agrave mesma Pode-se basear
neste tipo de pesquisa na ocorrecircncia de bibliografia escassa sobre o tema em
estudo (LEITE 2008)
Apoacutes leitura na iacutentegra e interpretaccedilatildeo dos textos selecionados buscou-se obter
a resposta do problema da pesquisa
ESTRUTURA
Organizei este estudo em trecircs momentos nos quais procurei descrever sobre o
assunto proposto de forma simples e coerente
No primeiro momento apresento o objeto de estudo relato meu interesse em
discorrer sobre o tema descrevo tambeacutem o objetivo com base no problema em
questatildeo
Logo apoacutes no segundo momento faccedilo consideraccedilotildees sobre humanizaccedilatildeo da
assistecircncia apresento tambeacutem uma concisatildeo sobre o morrer e faccedilo alguns
comentaacuterios acerca do paciente moribundo em UTI Em seguida comento
sobre a equipe de enfermagem e a assistecircncia durante o processo
mortemorrer
Prosseguindo no terceiro momento apresento a anaacutelise dos dados
pesquisados
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA
Segundo Ferreira (2000) humanizar significa tornar humano dar condiccedilatildeo
humana tornar afaacutevel e trataacutevel A humanizaccedilatildeo da assistecircncia requer
conscientizaccedilatildeo e preparo da equipe para um cuidado diferenciado
entendendo o paciente como um ser humano
Alguns estudos na aacuterea da medicina intensivista apontam para a necessidade
de mudar o enfoque predominantemente tecnicista paciente-doenccedila para uma
abordagem mais humana que engloba o paciente de forma holiacutestica ou seja
percebendo-o como um ser inserido num contexto e que necessita ser
atendido nos aspectos fiacutesicos psicoloacutegicos sociais e espirituais A medicina
paliativa vem sendo destacada nas literaturas em geral na aacuterea de oncologia
entretanto tem ganhado destaque tambeacutem nas literaturas pertinentes ao
intensivismo (GARROS 2003)
ldquoA medicina paliativa se desenvolveu como uma reaccedilatildeo agrave medicina moderna
altamente tecnicista que prioriza a cura em vez do cuidadordquo (PESSINI 2006)
A filosofia dos cuidados paliativos a) afirma a vida e encara o morrer como um processo normal b) natildeo apressa nem adia a morte c) procura aliviar a dor e outros sintomas angustiantes d) integra os aspectos psicoloacutegicos e espirituais nos cuidados com o paciente e) oferece um sistema de apoio para ajudar os pacientes a viver ativamente o maacuteximo possiacutevel ateacute a morte f) oferece um sistema de apoio para ajudar a famiacutelia a lidar com a doenccedila do paciente e seu proacuteprio luto (PESSINI 2003 apud PESSINI 2006)
Essa nova perspectiva constitui desafio para os profissionais de sauacutede visto
que o paciente no processo de morte deixa de ser aquele por quem nada si
pode fazer e passa a ser considerado como aquele que natildeo responde mais as
medidas terapecircuticas de cura Desta forma sob a filosofia dos cuidados
paliativos temos muito que fazer para proporcionar uma morte mais digna
decente ou aceitaacutevel para um ser humano A humanizaccedilatildeo do morrer apoacuteia a
concepccedilatildeo de que a morte natildeo eacute um inimigo a ser combatido ela faz parte do
ciclo vital e do adoecer
A proposta dos cuidados paliativos eacute permitir que a pessoa viva intensamente
seus dias finais de vida com controle da dor e sendo assistido de forma
holiacutestica Partindo da ideacuteia de que ldquomais vale acrescentar vida ao tempo do que
tempo agrave vidardquo
O Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo Hospitalar - PNHAH foi instituiacutedo pelo
Ministeacuterio da Sauacutede atraveacutes da portaria nordm 881 de 19 06 2001 no acircmbito do
Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2002) O PNHAH faz parte de um processo
de discussatildeo e implementaccedilatildeo de projetos de humanizaccedilatildeo do atendimento a
sauacutede e de melhoria da qualidade do vinculo estabelecido entre trabalhador da
sauacutede pacientes e familiares
A famiacutelia enquanto extensatildeo do paciente deveraacute ser incluiacuteda no processo de
cuidado deste poreacutem natildeo como auxiliar ao nosso trabalho mas como
indiviacuteduos a serem cuidados tambeacutem pela enfermagem Essa deveraacute oferecer
o suporte necessaacuterio esclarecer as duacutevidas atender e acolher prontamente e
de maneira empaacutetica esse suporte primaacuterio do paciente conquistando assim
sua confianccedila A inclusatildeo da famiacutelia no processo de cuidado em Unidade de
terapia Intensiva (UTI) eacute indispensaacutevel para podermos atender o paciente de
forma holiacutestica (NASCIMENTO MARTINS 2000)
Humanizar significa a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito
com o outro acolher o desconhecido e reconhecer os limites A humanizaccedilatildeo
requer uma interaccedilatildeo harmoniosa entre o cuidado teacutecnico e cientiacutefico Requer
tambeacutem compromisso eacutetico de todos os profissionais envolvidos na assistecircncia
desde os atendentes da recepccedilatildeo ateacute a equipe envolvida diretamente com a
assistecircncia do paciente e famiacutelia O processo do cuidado de enfermagem por
se soacute constitui um ato humanizado visto que os objetivos do cuidar envolvem
aliviar confortar ajudar favorecer promover entre outros (MORAES
GARDA FONSECA 2004) Segundo esses autores
Humanizar de acordo com os valores eacuteticos consiste fundamentalmente em tornar uma praacutetica bela por mais que ela lide com o que tem de mais degradante doloroso e triste na natureza humana o sofrimento a deterioraccedilatildeo e a morte Refere-se portanto a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito ao outro e de reconhecimento dos limites O ponto chave do trabalho de humanizaccedilatildeo estaacute no fortalecimento desta posiccedilatildeo eacutetica de articulaccedilatildeo do cuidado teacutecnico cientifico jaacute construiacutedo conhecido e dominado ao cuidado que incorpora a necessidade a exploraccedilatildeo e o acolhimento do imprevisiacutevel do incontrolaacutevel ao indiferente e singular
Minayo (2004) considera que ao se propor um cuidado humanizado deve-se
repensar a formaccedilatildeo profissional na aacuterea de sauacutede Para esse autor apesar
das propostas de mudanccedilas de modelo de atenccedilatildeo da sauacutede que prega a
integralidade e a humanizaccedilatildeo da assistecircncia e da crise da ciecircncia racionalista
predomina ainda o aprendizado teacutecnico racional e individualizado empregado
muitas vezesrdquo sem o exerciacutecio da criacutetica criatividade e sensibilidaderdquo
Refletindo portanto no despreparo dos profissionais em proporcionar um
cuidado humanizado cada vez mais exigido nos serviccedilos que utilizam alta
tecnologia como as Unidades de Terapia Intensiva
Felizmente percebemos uma seacuterie de estudos relacionados agrave necessidade de
humanizaccedilatildeo desses serviccedilos por forccedila do efeito negativo do ambiente sobre
pacientes famiacutelia e equipe multiprofissional Os estudos mostram tambeacutem que
os profissionais de sauacutede tecircm consciecircncia de que humanizaccedilatildeo eacute uma palavra
aparentemente faacutecil de entender poreacutem no dia-a-dia natildeo eacute tatildeo faacutecil praticaacute-la
22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER
A compreensatildeo sobre a morte influencia na qualidade de vida da pessoa e na
forma como ela interage no seu dia-a-dia com o processo de morte e morrer
Ao pesquisar sobre a definiccedilatildeo das palavras morte e morrer no dicionaacuterio de
liacutengua portuguesa fica-se impressionado com a quantidade de sinocircnimos
atribuiacutedos a elas
Morte significa cessaccedilatildeo da vida fim Jaacute a palavra morrer significa rdquoperder a
vida falecer finar-se fenecer expirar desaparecer descansar desencarnar
ir perecer sucumbir espichar esticar estinguir-se acabar (-se)rdquo (FERREIRA
2000)
Jaacute no dicionaacuterio meacutedico traz as seguintes consideraccedilotildees
1-Cessaccedilatildeo total e irreversiacutevel da funccedilatildeo cerebral funccedilatildeo espontacircnea dos sistemas respiratoacuterio e circulatoacuterio 2 - A cessaccedilatildeo final e irreversiacutevel dos batimentos cardiacuteacos e respiraccedilotildees perceptiacuteveis [] o principal sinal de morte eacute a cessaccedilatildeo da accedilatildeo do coraccedilatildeo Outras indicaccedilotildees satildeo ausecircncia de reflexos cessaccedilatildeo da atividade eleacutetrica do ceacuterebro determinada pelo eletro encefalograma (EEC) manifestaccedilatildeo de rigor mortis e uma descoloraccedilatildeo mosqueada no corpo (THOMAS 2000)
Como podemos observar existem vaacuterias denominaccedilotildees para substituir a
palavra morte talvez o objetivo real seja ldquosuavizarrdquo a sua pronuacutencia tornando-a
menos temiacutevel
A Tanatologia eacute a ciecircncia que estuda a morte Segundo este saber o homem eacute
o uacutenico ser sobre a terra que tem consciecircncia da sua finitude o uacutenico a ter
consciecircncia de que sua passagem neste mundo eacute transitoacuteria e deve terminar
um dia Apesar dessa certeza o homem foi impelido a evitar a convivecircncia com
a morte no decorrer da histoacuteria
A seguir pontuarei de forma sinteacutetica as diferentes interpretaccedilotildees da morte
segundo algumas das grandes correntes religiosas
Para os judeus e cristatildeos que acreditava na ressurreiccedilatildeo apoacutes a morte esta
seria o acesso para outra dimensatildeo da vida que poderia ser no inferno ou no
paraiacuteso conforme os seus feitos terrenos a partir da observacircncia dos
mandamentos de Deus
De acordo com Pessini (1999) apud Gutierrez (2003) ldquoo catolicismo prega que
os esforccedilos para manter a vida fiacutesica podem ser encerrados caso a
continuaccedilatildeo da vida bioloacutegica ao inveacutes de promover a integraccedilatildeo da vida
espiritual e moral do indiviacuteduo torne-se vatilderdquo
O budismo natildeo encara a morte como o fim da vida mas sim como uma
transiccedilatildeo defendendo o direito do indiviacuteduo de determinar o momento em que
deseja passar desta existecircncia para a seguinte Enfatiza que o importante no
momento da morte eacute que a mente permaneccedila em paz e harmonia consigo
mesmo
No islamismo a concepccedilatildeo de vida eacute sagrada a morte eacute interpretada como a
conclusatildeo de uma vida e o comeccedilo de outra
Apesar das diferentes interpretaccedilotildees das diversas correntes religiosas haacute
consenso de que o apoio espiritual constitui elemento valioso dado ao paciente
no processo de morrer
A morte eacute parte integrante do processo de desenvolvimento humano e estaacute
presente no cotidiano diaacuterio de nossas vidas A forma de percepccedilatildeo
significaccedilatildeo e comportamento do processo de morte e morrer variam conforme
o contexto soacutecio-cultural e histoacuterico e vem sofrendo alteraccedilotildees atraveacutes das
diferentes civilizaccedilotildees ateacute os dias atuais
[] Os povos mesopotacircmios tinham por costume enterrar os corpos dos mortos da maneira mais escrupulosa sendo o cadaacutever cuidadosamente acompanhado de todas as marcas mais distintas de sua identidade pessoal e familiar como seus pertences insiacutegnias e objetos de uso suas vestimentas e ateacute mesmo de suas comidas
prediletas (GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)
Para essa civilizaccedilatildeo a morte seria uma espeacutecie de rebaixamento da vida o
apagamento dessa mesma existecircncia
Os antigos egiacutepcios sepultavam seus mortos juntamente com as roupas e os
alimentos para que continuassem felizes e da mesma forma os antigos iacutendios
americanos que enterravam seus parentes com tudo o que lhes pertencia
Esses falavam dos espiacuteritos do mal e atiravam flechas ao ar para afugentaacute-los
Os hebreus consideravam o corpo do morto como alguma coisa impura que
natildeo podia ser tocada (KUumlBLER-ROSS 2008)
Os antigos hindus incineravam seus mortos e suas cinzas eram lanccediladas ao
vento ou nas aacuteguas dos rios sendo o morto despojado de todos os seus
traccedilos de identidade
Para os antigos gregos a incineraccedilatildeo determinava dois tipos de mortos o cadaacutever do homem comum e o cadaacutever dos grandes heroacuteis Ao anocircnimo cabia o crematoacuterio coletivo e o depoacutesito de suas cinzas em vala comum Os corpos falecidos dos heroacuteis eram cremados na cerimocircnia da bela morte onde os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos A proacutepria morte seria a prova de sua virtude tornando-o um indiviacuteduo cuja vida eacute digna de ser lembrada
(GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)
Os primeiros cemiteacuterios surgiram a partir do seacuteculo V e eram localizados junto
agraves igrejas cristatildes Esses cemiteacuterios faziam parte do cenaacuterio de vida das
pessoas tinham papel de praccedila puacuteblica eram lugares de julgamentos das
execuccedilotildees e dos encontros amorosos
Na Idade Meacutedia a morte era entendida com naturalidade fazendo parte do
ambiente domeacutestico O ritual da morte envolvia tanto a pessoa que ia morrer
como os seus parentes e amigos Naquela eacutepoca os nobres eram enterrados
no interior das igrejas enquanto os pobres erram colocados em covas
coletivas
Tanto a famiacutelia como os amigos do morto manifestavam o processo do luto
atraveacutes do uso de roupas pretas e da natildeo participaccedilatildeo na vida social ateacute que
natildeo acontecesse a elaboraccedilatildeo do oacutebito As pessoas que sabiam que iam
morrer protagonizavam todo o ritual despedindo-se dos entes queridos
fazendo o testamento buscando se reconciliar com as pessoas e superar as
maacutegoas A comunidade participava ativamente de todo esse processo (AGRA
ALBUQUERQUE 2008)
Gutierrez (2003) tomando como referencial o estudo de Pessini (1999) fez
uma breve abordagem sobre o processo de morte e morrer a partir da idade
meacutedia ateacute a deacutecada de 70 do seacuteculo XX
Durante os seacuteculos XI e XII iniciaram-se mudanccedilas sutis na maneira
tradicional de o homem atuar diante da morte
No periacuteodo entre os seacuteculos XII a XV houve uma maior conscientizaccedilatildeo
do homem em relaccedilatildeo aacute sua proacutepria morte
Jaacute no seacuteculo XVI a morte distanciou-se das situaccedilotildees mais corriqueiras
e passou a representar uma separaccedilatildeo inaceitaacutevel iniciando um
processo de visualizaccedilatildeo da morte do outro que passou a ser dramaacutetica
e mais complexa
No final do seacuteculo XVIII surgiram duas mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave morte A
benevolecircncia com a ideacuteia da morte e a relaccedilatildeo entre moribundo e seus
familiares O termo benevolecircncia significa boa vontade para com todos
Na primeira metade do seacuteculo XIX a morte era um fenocircmeno bastante
presente e encarado como fato social e puacuteblico em que parentes e
amigos vizinhos e ateacute mesmo crianccedilas permaneciam no quarto do
moribundo Nessa eacutepoca os ritos que acompanhavam a morte eram
realizados com tranquumlilidade e aceitaccedilatildeo
No decorrer dos anos a atitude do homem em relaccedilatildeo agrave morte sofreu
modificaccedilotildees e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaccediladora
Poupa-se o moribundo de saber sobre suas reais condiccedilotildees de sauacutede A
verdade eacute negada com o intuito de privar o doente do sofrimento A
extrema unccedilatildeo que era oferecida ao moribundo em meados do seacuteculo
XX passou a ser dada somente apoacutes sua morte
A partir da segunda metade do seacuteculo XX a morte foi transferida para os
hospitais e passou a ser vista como um fenocircmeno teacutecnico agraves vezes
adiada ou antecipada a depender dos interesses dos que tentavam
domina-la O Meacutedico transformou-se em heroacutei na luta contra a morte
Atualmente os avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos tornaram a morte um
evento institucionalizado Eacute cada vez mais comum as pessoas morrerem
no hospital O doente perde o direito de opinar sobre sua morte o
meacutedico tornou-se personagem principal e a famiacutelia passou a sentir-se
protegida por natildeo ter que presenciar a morte de um ente querido Nesse
contexto a morte passa a ocorrer em cenaacuterio composto por fios
maacutequinas aparelhos e pessoas estranhas geralmente equipe meacutedica e
de enfermagem
A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma
instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para
o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras
Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer
acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive
a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e
na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu
avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer
de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo
conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em
seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de
familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi
encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi
celebrada uma missa de corpo presente
Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em
ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de
fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com
breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra
que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e
desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida
23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER
O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa
maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo
diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito
especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e
descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute
dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que
encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo
humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas
verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo
Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-
Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute
em fase terminal a saber
Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do
doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente
ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo
Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos
comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que
algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo
todo
Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja
O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade
(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da
raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo
Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma
coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio
mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento
Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio
Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da
capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da
vida
Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar
depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima
com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase
mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas
preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser
confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute
importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma
desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da
chegada ao fim em paz
Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se
sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila
algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses
estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo
psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses
estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte
iminente
Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei
algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim
uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi
sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua
confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo
poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha
confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo
de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de
ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de
morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles
no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos
Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta
Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca
De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por
causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir
algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem
responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas
Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante
aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e
geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los
Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do
paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida
e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade
ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar
esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de
vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando
na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral
Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de
deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias
como inchaccedilo naacuteusea e dor
Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos
agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o
paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees
conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo
deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos
para uma morte digna e sem sofrimento
Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida
para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou
como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de
cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam
sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam
despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo
Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a
audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada
perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir
Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de
alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as
pessoas envolvidas
Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes
optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte
sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para
estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale
ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos
proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou
simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano
trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as
informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes
crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse
doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais
humanizado
Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de
morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir
poderaacute nos auxiliar nesse processo
Carta dos Pacientes Terminais
- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que
eu morra
- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas
possam acontecer
- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o
sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas
- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e
emoccedilotildees diante da minha morte
- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus
cuidados e tratamentos
- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem
mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode
confortordquo
- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho
- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto
- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado
- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas
honestamente
- Tenho o direito de natildeo ser enganado
- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou
experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos
demais
- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser
julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves
crenccedilas dos demais
- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de
meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados
- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis
humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas
necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a
minha privacidade
- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI
1996 APUD GUTIERREZ 2003)
24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica
Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes
mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato
e a observaccedilatildeo constante
Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico
e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com
alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a
elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre
outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo
atualmente
Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede
descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute
de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade
Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade
proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica
de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas
que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais
complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica
e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico
e recursos humanos especializados
Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os
paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do
tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida
prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da
famiacutelia e do cliente
As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses
pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e
extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave
manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e
adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA
2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas
ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de
interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao
paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores
relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante
tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons
monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e
ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre
outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua
privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar
esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo
vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo
Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional
muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em
estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade
criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo
profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao
paciente no processo de morte
A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe
multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do
leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto
discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no
intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade
fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo
conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida
(SILVA 2001)
Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal
durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido
contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se
impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo
endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais
membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de
comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo
profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a
importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes
da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos
postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais
organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida
entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)
Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam
diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos
pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para
o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem
sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus
familiares diante da finitude da vida
De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo
emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa
depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o
paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade
Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas
e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos
sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de
existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma
determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se
necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e
preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de
forma humanizada
Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta
[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo
Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)
ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a
deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes
consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu
sofrimentordquo
Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso
que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter
firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de
enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando
assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver
excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio
de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato
estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos
menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a
deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito
profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no
meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira
de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia
A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural
e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada
como uma das maiores estudiosas do assunto
A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte
A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais
membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma
assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais
necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida
Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente
consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-
espiritual
3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA
A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento
bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto
Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel
proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de
medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro
do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova
perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no
final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de
suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo
baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais
meacutedicos e familiares a saber
Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)
preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc
Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da
famiacutelia amigos e demais entes queridos)
Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos
importantes
Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex
testamentos venda de propriedade etc)
Evitar um processo longo de morte
Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica
brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na
medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo
coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer
todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e
obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que
estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute
receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel
Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites
de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe
envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e
poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz
sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica
meacutedica)
Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades
espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir
holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos
fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os
profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para
confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento
diante do processo de morte
A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de
sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que
lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto
que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre
as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado
na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda
Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o
envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do
paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade
de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus
familiaresrdquo
Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar
que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos
(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo
segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas
neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo
avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do
quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos
profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas
a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados
paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente
no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo
instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma
efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas
Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo
da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre
esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos
pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional
complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso
Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa
assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz
presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e
responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser
humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo
Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer
firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder
ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento
tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui
identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim
Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios
inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar
biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se
comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e
sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse
comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma
comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para
esse indiviacuteduo
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e
morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos
envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da
pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe
multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas
atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas
nesse estudo
Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu
para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem
ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma
morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano
Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar
aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente
abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por
Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo
incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e
enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de
trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da
enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida
deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que
estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI
Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira
cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja
prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer
Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no
processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo
especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas
riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho
considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada
particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco
Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas
pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina
paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais
envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de
uma Unidade de terapia Intensiva
Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o
aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que
eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor
considerado como desumanizante e frio
Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais
profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado
REFEREcircNCIAS
AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em
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Barueri Satildeo Paulo Manoele 2006 p45-65 RICHARDSON RJ Pesquisa Social meacutetodos e teacutecnicas 3 edSatildeo Paulo Atlas1999 SILVA AKS Sentimentos experenciados pelos (as) enfermeiros (as) das Unidades de Terapia Intensiva no processo de morte e morrer 2006 33f Monografia (poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Universidade castelo Branco ndash Atualiza Salvador 2006 SILVA M J da Percebendo o Ser Humano Aleacutem da doenccedila o natildeo - verbal detectado pelo Enfermeiro Nursing Satildeo Paulo v 4 n4 p 14-20 out2001 SILVA MJPComunicaccedilatildeo tem remeacutedio a comunicaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais em sauacutede 4 ed Satildeo Paulo Gente 1996 THOMAS C L (Coord) Dicionaacuterio Meacutedico Enciclopeacutedico Faber 17 ed Satildeo
Paulo Manoele 2000
TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica
metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003
AGRADECIMENTOS
A Deus nosso Pai pela graccedila que me concedeu para transpor os obstaacuteculos e chegar onde cheguei
Aos meus pais Antonieta e Joatildeo (in memoacuteriam) pelo exemplo de vida incentivo sacrifiacutecio apoio e dedicaccedilatildeo durante toda a minha vida Aos meus nove irmatildeos pela torcida e incentivo Aos pacientes que satildeo os grandes motivadores da minha vida profissional Agrave colega Adriana Sena Gomes Bibliotecaacuteria o meu reconhecimento e sincero agradecimento pelo apoio nesse meu caminhar cientiacutefico Ao professor Fernando Reis do Espiacuterito Santo Orientador pela competecircncia tranquumlilidade espontaneidade e colaboraccedilatildeo no desenvolvimento dessa pesquisa
DEDICO ESTE TRABALHO Aos meus filhos Davi e Joatildeo
pelo estiacutemulo para continuar lutando por meus ideais
Eu me importo com o fato de vocecirc ser vocecirc me importo ateacute o uacuteltimo momento de sua vida e faremos tudo o que estaacute ao nosso alcance natildeo somente para ajudar vocecirc a morrer em paz mas tambeacutem para vocecirc viver ateacute o dia da morte
Cicely Saunder
RESUMO
A unidade de terapia Intensiva (UTI) muitas vezes eacute vista como um setor desumanizante e frio onde a tecnologia prevalece em relaccedilatildeo agraves accedilotildees humaniacutesticas Eacute nesse ambiente afastados dos seus entes que os pacientes em processo de morte passam seus uacuteltimos momentos em companhia de estranhos normalmente profissionais da enfermagem ou meacutedicos Esse estudo teve por objetivo analisar na literatura propostas e iniciativas que visem uma morte digna e mais humana em UTI Trata-se de uma revisatildeo bibliograacutefica de caraacuteter qualitativo e exploratoacuterio A busca do material foi realizada em bancos de dados informatizados e em livros e perioacutedicos da aacuterea Os resultados demonstram que os trabalhos realizados por enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo proposto satildeo incipientes e a temaacutetica em foco eacute constantemente abordada por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Considerando-se a anaacutelises dos textos identificados e as observaccedilotildees pessoais relacionadas ao estudo conclue-se que a morte de uma pessoa sem probabilidade de cura pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina paliativa cuidados centrados na famiacutelia e capacitaccedilatildeo dos profissionais envolvidos no processo de mortemorrer forem trazido para o ambiente de UTI PALAVRAS-CHAVE Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Unidade de terapia Intensiva Morte Paciente
ABSTRACT
The intensive care unit (ICU) is often seen as a dehumanizing and cold sector where technology prevails in relation to humanistic actions It is in this environment away from their loved that patients undergoing death spend their last moments in the company of strangers usually nursing or medical professionals This study aimed to analyze the literature and proposed initiatives to a more humane and dignified death in the ICU This is a review of qualitative and exploratory The pursuit of material was done in computerized databases and books and journals The results demonstrate that the work done by nurses that meet the proposed goal is rarely in focus and the theme is constantly approached by medical professionals and psychologists Considering the analysis of texts identified and personal observations related to the study concludes that the death of a person with no chance of cure can be dignified and humane if the basic principles of palliative medicine family-centered care and training of professionals involved in case of death dying are brought to the ICU environment KEYWORDS Humanization of Assistance the Intensive Care Unit Death Patie
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO09
2 REVISAtildeO DA LITERATURA12
21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA12
22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER14
23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE
MORTEMORRER19
24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA
(UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER24
3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA29
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS32
REFEREcircNCIAS34
1 INTRODUCcedilAtildeO
APRESENTACcedilAtildeO DO OBJETO DE ESTUDO
Na rotina do profissional de sauacutede o tema morte eacute pouco comentado atuam na
perspectiva de promover a sauacutede prolongar e manter a vida Segundo estudos
ao longo da graduaccedilatildeo os assuntos abordados satildeo no acircmbito da fisiopatologia
e nos procedimentos teacutecnicos utilizados na atenccedilatildeo a paciente grave Aspectos
relacionados ao preparo emocional e psicoloacutegico necessaacuterios no atendimento
desses e aos seus familiares satildeo negligenciados observando-se uma
ldquodesumanizaccedilatildeordquo no atendimento ao paciente terminal (BALSANELLI
SANTOS SOLER 2002)
Eacute do conhecimento que no decorrer dos uacuteltimos seacuteculos a partir do surgimento
dos hospitais e unidades complexas e especializadas como as Unidades de
Terapia Intensivas (UTI) as pessoas doentes ou em estado grave da doenccedila
destinam-se para essas unidades em busca da cura ou tratamento de sauacutede
Entretanto diante do insucesso da terapecircutica empreendida e falta de
perspectiva de sobrevivecircncia o doente entra no processo de morte Assim
afastados dos seus entes passam seus uacuteltimos dias num leito hospitalar em
companhia de estranhos Encontram-se soacutes com seu sofrimento e noacutes
profissionais responsaacuteveis pelo cuidado assumimos em alguns casos o papel
da famiacutelia permanecendo aacute beira do leito nos seus uacuteltimos momento
JUSTIFICATIVA
No meu cotidiano de trabalho em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) enquanto
profissional de enfermagem de niacutevel meacutedio prestei assistecircncia agrave beira do leito
a vaacuterios pacientes moribundos nos seus uacuteltimos momentos de vida Apesar de
lidar com a morte cotidianamente e atuar de acordo com os valores eacuteticos
cultuando o respeito ao ser humano sob meus cuidados sentia-me
despreparada ao lidar com a situaccedilatildeo tambeacutem percebia o mesmo com os
demais colegas da equipe Imaginava que durante a graduaccedilatildeo em
enfermagem teria o aprendizado necessaacuterio para assistir de forma adequada o
paciente no processo de mortemorrer Isso natildeo ocorreu o assunto foi pouco
discutido na disciplina de psicologia Assim surgiu meu interesse pelo
embasamento literaacuterio e consequentemente adquirir habilidades para prestar
uma assistecircncia de qualidade diferenciada e humanizada a fim de
proporcionar uma morte ldquomais dignardquo aos clientes sob meus cuidados
PROBLEMA
Que iniciativas podem ser tomadas para tornar a morte mais digna e mais
humana dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI)
OBJETIVO
Analisar na literatura propostas e iniciativas que visem uma morte digna e mais
humana em Unidade de Terapia Intensiva
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisatildeo bibliograacutefica tendo como base a anaacutelise e
interpretaccedilatildeo de literaturas especiacuteficas dissertaccedilotildees teses perioacutedicos artigos
livros e outras publicaccedilotildees nacionais em consonacircncia com o objetivo proposto
Os descritores utilizados foram morte enfermagem UTI e humanizaccedilatildeo da
assistecircncia
Segundo Tognetti (2006) a pesquisa bibliograacutefica eacute fundamentada nos
conhecimentos de biblioteconomia documentaccedilatildeo e bibliografia sua finalidade
eacute colocar o pesquisador em contato com o que jaacute se produziu a respeito do seu
tema de pesquisa Trata-se de uma pesquisa com caraacuteter exploratoacuterio e
qualitativo De acordo com Godoy (1995 p21) ldquo[] a pesquisa qualitativa
ocupa um reconhecido lugar entre as vaacuterias possibilidades de se estudar os
fenocircmenos que envolvem os seres humanos e suas intricadas relaccedilotildees sociais
estabelecidas em diversos ambientesrdquo Jaacute para Richardson (1999 p17) visa
descobrir as semelhanccedilas entre fenocircmenos ldquoos pressupostos teoacutericos natildeo
estatildeo claros ou satildeo difiacuteceis de encontrar Nessa situaccedilatildeo faz-se uma pesquisa
natildeo apenas para conhecer o tipo de relaccedilatildeo existente mas sobretudo para
determinar a existecircncia de relaccedilatildeordquo
A pesquisa exploratoacuteria eacute ideal quando se deseja explorar o novo ainda natildeo
considerado como ciecircncia mas que serve de base agrave mesma Pode-se basear
neste tipo de pesquisa na ocorrecircncia de bibliografia escassa sobre o tema em
estudo (LEITE 2008)
Apoacutes leitura na iacutentegra e interpretaccedilatildeo dos textos selecionados buscou-se obter
a resposta do problema da pesquisa
ESTRUTURA
Organizei este estudo em trecircs momentos nos quais procurei descrever sobre o
assunto proposto de forma simples e coerente
No primeiro momento apresento o objeto de estudo relato meu interesse em
discorrer sobre o tema descrevo tambeacutem o objetivo com base no problema em
questatildeo
Logo apoacutes no segundo momento faccedilo consideraccedilotildees sobre humanizaccedilatildeo da
assistecircncia apresento tambeacutem uma concisatildeo sobre o morrer e faccedilo alguns
comentaacuterios acerca do paciente moribundo em UTI Em seguida comento
sobre a equipe de enfermagem e a assistecircncia durante o processo
mortemorrer
Prosseguindo no terceiro momento apresento a anaacutelise dos dados
pesquisados
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA
Segundo Ferreira (2000) humanizar significa tornar humano dar condiccedilatildeo
humana tornar afaacutevel e trataacutevel A humanizaccedilatildeo da assistecircncia requer
conscientizaccedilatildeo e preparo da equipe para um cuidado diferenciado
entendendo o paciente como um ser humano
Alguns estudos na aacuterea da medicina intensivista apontam para a necessidade
de mudar o enfoque predominantemente tecnicista paciente-doenccedila para uma
abordagem mais humana que engloba o paciente de forma holiacutestica ou seja
percebendo-o como um ser inserido num contexto e que necessita ser
atendido nos aspectos fiacutesicos psicoloacutegicos sociais e espirituais A medicina
paliativa vem sendo destacada nas literaturas em geral na aacuterea de oncologia
entretanto tem ganhado destaque tambeacutem nas literaturas pertinentes ao
intensivismo (GARROS 2003)
ldquoA medicina paliativa se desenvolveu como uma reaccedilatildeo agrave medicina moderna
altamente tecnicista que prioriza a cura em vez do cuidadordquo (PESSINI 2006)
A filosofia dos cuidados paliativos a) afirma a vida e encara o morrer como um processo normal b) natildeo apressa nem adia a morte c) procura aliviar a dor e outros sintomas angustiantes d) integra os aspectos psicoloacutegicos e espirituais nos cuidados com o paciente e) oferece um sistema de apoio para ajudar os pacientes a viver ativamente o maacuteximo possiacutevel ateacute a morte f) oferece um sistema de apoio para ajudar a famiacutelia a lidar com a doenccedila do paciente e seu proacuteprio luto (PESSINI 2003 apud PESSINI 2006)
Essa nova perspectiva constitui desafio para os profissionais de sauacutede visto
que o paciente no processo de morte deixa de ser aquele por quem nada si
pode fazer e passa a ser considerado como aquele que natildeo responde mais as
medidas terapecircuticas de cura Desta forma sob a filosofia dos cuidados
paliativos temos muito que fazer para proporcionar uma morte mais digna
decente ou aceitaacutevel para um ser humano A humanizaccedilatildeo do morrer apoacuteia a
concepccedilatildeo de que a morte natildeo eacute um inimigo a ser combatido ela faz parte do
ciclo vital e do adoecer
A proposta dos cuidados paliativos eacute permitir que a pessoa viva intensamente
seus dias finais de vida com controle da dor e sendo assistido de forma
holiacutestica Partindo da ideacuteia de que ldquomais vale acrescentar vida ao tempo do que
tempo agrave vidardquo
O Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo Hospitalar - PNHAH foi instituiacutedo pelo
Ministeacuterio da Sauacutede atraveacutes da portaria nordm 881 de 19 06 2001 no acircmbito do
Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2002) O PNHAH faz parte de um processo
de discussatildeo e implementaccedilatildeo de projetos de humanizaccedilatildeo do atendimento a
sauacutede e de melhoria da qualidade do vinculo estabelecido entre trabalhador da
sauacutede pacientes e familiares
A famiacutelia enquanto extensatildeo do paciente deveraacute ser incluiacuteda no processo de
cuidado deste poreacutem natildeo como auxiliar ao nosso trabalho mas como
indiviacuteduos a serem cuidados tambeacutem pela enfermagem Essa deveraacute oferecer
o suporte necessaacuterio esclarecer as duacutevidas atender e acolher prontamente e
de maneira empaacutetica esse suporte primaacuterio do paciente conquistando assim
sua confianccedila A inclusatildeo da famiacutelia no processo de cuidado em Unidade de
terapia Intensiva (UTI) eacute indispensaacutevel para podermos atender o paciente de
forma holiacutestica (NASCIMENTO MARTINS 2000)
Humanizar significa a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito
com o outro acolher o desconhecido e reconhecer os limites A humanizaccedilatildeo
requer uma interaccedilatildeo harmoniosa entre o cuidado teacutecnico e cientiacutefico Requer
tambeacutem compromisso eacutetico de todos os profissionais envolvidos na assistecircncia
desde os atendentes da recepccedilatildeo ateacute a equipe envolvida diretamente com a
assistecircncia do paciente e famiacutelia O processo do cuidado de enfermagem por
se soacute constitui um ato humanizado visto que os objetivos do cuidar envolvem
aliviar confortar ajudar favorecer promover entre outros (MORAES
GARDA FONSECA 2004) Segundo esses autores
Humanizar de acordo com os valores eacuteticos consiste fundamentalmente em tornar uma praacutetica bela por mais que ela lide com o que tem de mais degradante doloroso e triste na natureza humana o sofrimento a deterioraccedilatildeo e a morte Refere-se portanto a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito ao outro e de reconhecimento dos limites O ponto chave do trabalho de humanizaccedilatildeo estaacute no fortalecimento desta posiccedilatildeo eacutetica de articulaccedilatildeo do cuidado teacutecnico cientifico jaacute construiacutedo conhecido e dominado ao cuidado que incorpora a necessidade a exploraccedilatildeo e o acolhimento do imprevisiacutevel do incontrolaacutevel ao indiferente e singular
Minayo (2004) considera que ao se propor um cuidado humanizado deve-se
repensar a formaccedilatildeo profissional na aacuterea de sauacutede Para esse autor apesar
das propostas de mudanccedilas de modelo de atenccedilatildeo da sauacutede que prega a
integralidade e a humanizaccedilatildeo da assistecircncia e da crise da ciecircncia racionalista
predomina ainda o aprendizado teacutecnico racional e individualizado empregado
muitas vezesrdquo sem o exerciacutecio da criacutetica criatividade e sensibilidaderdquo
Refletindo portanto no despreparo dos profissionais em proporcionar um
cuidado humanizado cada vez mais exigido nos serviccedilos que utilizam alta
tecnologia como as Unidades de Terapia Intensiva
Felizmente percebemos uma seacuterie de estudos relacionados agrave necessidade de
humanizaccedilatildeo desses serviccedilos por forccedila do efeito negativo do ambiente sobre
pacientes famiacutelia e equipe multiprofissional Os estudos mostram tambeacutem que
os profissionais de sauacutede tecircm consciecircncia de que humanizaccedilatildeo eacute uma palavra
aparentemente faacutecil de entender poreacutem no dia-a-dia natildeo eacute tatildeo faacutecil praticaacute-la
22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER
A compreensatildeo sobre a morte influencia na qualidade de vida da pessoa e na
forma como ela interage no seu dia-a-dia com o processo de morte e morrer
Ao pesquisar sobre a definiccedilatildeo das palavras morte e morrer no dicionaacuterio de
liacutengua portuguesa fica-se impressionado com a quantidade de sinocircnimos
atribuiacutedos a elas
Morte significa cessaccedilatildeo da vida fim Jaacute a palavra morrer significa rdquoperder a
vida falecer finar-se fenecer expirar desaparecer descansar desencarnar
ir perecer sucumbir espichar esticar estinguir-se acabar (-se)rdquo (FERREIRA
2000)
Jaacute no dicionaacuterio meacutedico traz as seguintes consideraccedilotildees
1-Cessaccedilatildeo total e irreversiacutevel da funccedilatildeo cerebral funccedilatildeo espontacircnea dos sistemas respiratoacuterio e circulatoacuterio 2 - A cessaccedilatildeo final e irreversiacutevel dos batimentos cardiacuteacos e respiraccedilotildees perceptiacuteveis [] o principal sinal de morte eacute a cessaccedilatildeo da accedilatildeo do coraccedilatildeo Outras indicaccedilotildees satildeo ausecircncia de reflexos cessaccedilatildeo da atividade eleacutetrica do ceacuterebro determinada pelo eletro encefalograma (EEC) manifestaccedilatildeo de rigor mortis e uma descoloraccedilatildeo mosqueada no corpo (THOMAS 2000)
Como podemos observar existem vaacuterias denominaccedilotildees para substituir a
palavra morte talvez o objetivo real seja ldquosuavizarrdquo a sua pronuacutencia tornando-a
menos temiacutevel
A Tanatologia eacute a ciecircncia que estuda a morte Segundo este saber o homem eacute
o uacutenico ser sobre a terra que tem consciecircncia da sua finitude o uacutenico a ter
consciecircncia de que sua passagem neste mundo eacute transitoacuteria e deve terminar
um dia Apesar dessa certeza o homem foi impelido a evitar a convivecircncia com
a morte no decorrer da histoacuteria
A seguir pontuarei de forma sinteacutetica as diferentes interpretaccedilotildees da morte
segundo algumas das grandes correntes religiosas
Para os judeus e cristatildeos que acreditava na ressurreiccedilatildeo apoacutes a morte esta
seria o acesso para outra dimensatildeo da vida que poderia ser no inferno ou no
paraiacuteso conforme os seus feitos terrenos a partir da observacircncia dos
mandamentos de Deus
De acordo com Pessini (1999) apud Gutierrez (2003) ldquoo catolicismo prega que
os esforccedilos para manter a vida fiacutesica podem ser encerrados caso a
continuaccedilatildeo da vida bioloacutegica ao inveacutes de promover a integraccedilatildeo da vida
espiritual e moral do indiviacuteduo torne-se vatilderdquo
O budismo natildeo encara a morte como o fim da vida mas sim como uma
transiccedilatildeo defendendo o direito do indiviacuteduo de determinar o momento em que
deseja passar desta existecircncia para a seguinte Enfatiza que o importante no
momento da morte eacute que a mente permaneccedila em paz e harmonia consigo
mesmo
No islamismo a concepccedilatildeo de vida eacute sagrada a morte eacute interpretada como a
conclusatildeo de uma vida e o comeccedilo de outra
Apesar das diferentes interpretaccedilotildees das diversas correntes religiosas haacute
consenso de que o apoio espiritual constitui elemento valioso dado ao paciente
no processo de morrer
A morte eacute parte integrante do processo de desenvolvimento humano e estaacute
presente no cotidiano diaacuterio de nossas vidas A forma de percepccedilatildeo
significaccedilatildeo e comportamento do processo de morte e morrer variam conforme
o contexto soacutecio-cultural e histoacuterico e vem sofrendo alteraccedilotildees atraveacutes das
diferentes civilizaccedilotildees ateacute os dias atuais
[] Os povos mesopotacircmios tinham por costume enterrar os corpos dos mortos da maneira mais escrupulosa sendo o cadaacutever cuidadosamente acompanhado de todas as marcas mais distintas de sua identidade pessoal e familiar como seus pertences insiacutegnias e objetos de uso suas vestimentas e ateacute mesmo de suas comidas
prediletas (GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)
Para essa civilizaccedilatildeo a morte seria uma espeacutecie de rebaixamento da vida o
apagamento dessa mesma existecircncia
Os antigos egiacutepcios sepultavam seus mortos juntamente com as roupas e os
alimentos para que continuassem felizes e da mesma forma os antigos iacutendios
americanos que enterravam seus parentes com tudo o que lhes pertencia
Esses falavam dos espiacuteritos do mal e atiravam flechas ao ar para afugentaacute-los
Os hebreus consideravam o corpo do morto como alguma coisa impura que
natildeo podia ser tocada (KUumlBLER-ROSS 2008)
Os antigos hindus incineravam seus mortos e suas cinzas eram lanccediladas ao
vento ou nas aacuteguas dos rios sendo o morto despojado de todos os seus
traccedilos de identidade
Para os antigos gregos a incineraccedilatildeo determinava dois tipos de mortos o cadaacutever do homem comum e o cadaacutever dos grandes heroacuteis Ao anocircnimo cabia o crematoacuterio coletivo e o depoacutesito de suas cinzas em vala comum Os corpos falecidos dos heroacuteis eram cremados na cerimocircnia da bela morte onde os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos A proacutepria morte seria a prova de sua virtude tornando-o um indiviacuteduo cuja vida eacute digna de ser lembrada
(GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)
Os primeiros cemiteacuterios surgiram a partir do seacuteculo V e eram localizados junto
agraves igrejas cristatildes Esses cemiteacuterios faziam parte do cenaacuterio de vida das
pessoas tinham papel de praccedila puacuteblica eram lugares de julgamentos das
execuccedilotildees e dos encontros amorosos
Na Idade Meacutedia a morte era entendida com naturalidade fazendo parte do
ambiente domeacutestico O ritual da morte envolvia tanto a pessoa que ia morrer
como os seus parentes e amigos Naquela eacutepoca os nobres eram enterrados
no interior das igrejas enquanto os pobres erram colocados em covas
coletivas
Tanto a famiacutelia como os amigos do morto manifestavam o processo do luto
atraveacutes do uso de roupas pretas e da natildeo participaccedilatildeo na vida social ateacute que
natildeo acontecesse a elaboraccedilatildeo do oacutebito As pessoas que sabiam que iam
morrer protagonizavam todo o ritual despedindo-se dos entes queridos
fazendo o testamento buscando se reconciliar com as pessoas e superar as
maacutegoas A comunidade participava ativamente de todo esse processo (AGRA
ALBUQUERQUE 2008)
Gutierrez (2003) tomando como referencial o estudo de Pessini (1999) fez
uma breve abordagem sobre o processo de morte e morrer a partir da idade
meacutedia ateacute a deacutecada de 70 do seacuteculo XX
Durante os seacuteculos XI e XII iniciaram-se mudanccedilas sutis na maneira
tradicional de o homem atuar diante da morte
No periacuteodo entre os seacuteculos XII a XV houve uma maior conscientizaccedilatildeo
do homem em relaccedilatildeo aacute sua proacutepria morte
Jaacute no seacuteculo XVI a morte distanciou-se das situaccedilotildees mais corriqueiras
e passou a representar uma separaccedilatildeo inaceitaacutevel iniciando um
processo de visualizaccedilatildeo da morte do outro que passou a ser dramaacutetica
e mais complexa
No final do seacuteculo XVIII surgiram duas mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave morte A
benevolecircncia com a ideacuteia da morte e a relaccedilatildeo entre moribundo e seus
familiares O termo benevolecircncia significa boa vontade para com todos
Na primeira metade do seacuteculo XIX a morte era um fenocircmeno bastante
presente e encarado como fato social e puacuteblico em que parentes e
amigos vizinhos e ateacute mesmo crianccedilas permaneciam no quarto do
moribundo Nessa eacutepoca os ritos que acompanhavam a morte eram
realizados com tranquumlilidade e aceitaccedilatildeo
No decorrer dos anos a atitude do homem em relaccedilatildeo agrave morte sofreu
modificaccedilotildees e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaccediladora
Poupa-se o moribundo de saber sobre suas reais condiccedilotildees de sauacutede A
verdade eacute negada com o intuito de privar o doente do sofrimento A
extrema unccedilatildeo que era oferecida ao moribundo em meados do seacuteculo
XX passou a ser dada somente apoacutes sua morte
A partir da segunda metade do seacuteculo XX a morte foi transferida para os
hospitais e passou a ser vista como um fenocircmeno teacutecnico agraves vezes
adiada ou antecipada a depender dos interesses dos que tentavam
domina-la O Meacutedico transformou-se em heroacutei na luta contra a morte
Atualmente os avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos tornaram a morte um
evento institucionalizado Eacute cada vez mais comum as pessoas morrerem
no hospital O doente perde o direito de opinar sobre sua morte o
meacutedico tornou-se personagem principal e a famiacutelia passou a sentir-se
protegida por natildeo ter que presenciar a morte de um ente querido Nesse
contexto a morte passa a ocorrer em cenaacuterio composto por fios
maacutequinas aparelhos e pessoas estranhas geralmente equipe meacutedica e
de enfermagem
A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma
instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para
o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras
Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer
acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive
a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e
na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu
avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer
de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo
conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em
seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de
familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi
encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi
celebrada uma missa de corpo presente
Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em
ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de
fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com
breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra
que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e
desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida
23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER
O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa
maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo
diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito
especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e
descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute
dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que
encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo
humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas
verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo
Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-
Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute
em fase terminal a saber
Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do
doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente
ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo
Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos
comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que
algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo
todo
Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja
O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade
(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da
raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo
Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma
coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio
mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento
Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio
Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da
capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da
vida
Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar
depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima
com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase
mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas
preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser
confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute
importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma
desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da
chegada ao fim em paz
Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se
sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila
algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses
estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo
psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses
estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte
iminente
Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei
algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim
uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi
sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua
confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo
poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha
confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo
de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de
ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de
morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles
no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos
Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta
Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca
De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por
causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir
algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem
responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas
Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante
aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e
geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los
Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do
paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida
e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade
ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar
esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de
vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando
na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral
Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de
deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias
como inchaccedilo naacuteusea e dor
Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos
agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o
paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees
conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo
deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos
para uma morte digna e sem sofrimento
Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida
para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou
como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de
cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam
sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam
despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo
Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a
audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada
perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir
Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de
alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as
pessoas envolvidas
Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes
optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte
sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para
estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale
ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos
proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou
simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano
trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as
informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes
crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse
doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais
humanizado
Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de
morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir
poderaacute nos auxiliar nesse processo
Carta dos Pacientes Terminais
- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que
eu morra
- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas
possam acontecer
- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o
sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas
- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e
emoccedilotildees diante da minha morte
- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus
cuidados e tratamentos
- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem
mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode
confortordquo
- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho
- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto
- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado
- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas
honestamente
- Tenho o direito de natildeo ser enganado
- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou
experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos
demais
- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser
julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves
crenccedilas dos demais
- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de
meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados
- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis
humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas
necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a
minha privacidade
- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI
1996 APUD GUTIERREZ 2003)
24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica
Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes
mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato
e a observaccedilatildeo constante
Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico
e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com
alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a
elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre
outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo
atualmente
Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede
descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute
de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade
Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade
proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica
de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas
que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais
complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica
e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico
e recursos humanos especializados
Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os
paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do
tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida
prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da
famiacutelia e do cliente
As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses
pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e
extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave
manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e
adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA
2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas
ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de
interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao
paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores
relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante
tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons
monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e
ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre
outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua
privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar
esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo
vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo
Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional
muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em
estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade
criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo
profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao
paciente no processo de morte
A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe
multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do
leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto
discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no
intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade
fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo
conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida
(SILVA 2001)
Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal
durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido
contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se
impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo
endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais
membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de
comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo
profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a
importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes
da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos
postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais
organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida
entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)
Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam
diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos
pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para
o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem
sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus
familiares diante da finitude da vida
De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo
emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa
depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o
paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade
Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas
e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos
sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de
existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma
determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se
necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e
preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de
forma humanizada
Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta
[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo
Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)
ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a
deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes
consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu
sofrimentordquo
Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso
que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter
firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de
enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando
assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver
excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio
de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato
estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos
menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a
deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito
profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no
meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira
de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia
A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural
e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada
como uma das maiores estudiosas do assunto
A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte
A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais
membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma
assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais
necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida
Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente
consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-
espiritual
3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA
A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento
bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto
Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel
proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de
medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro
do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova
perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no
final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de
suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo
baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais
meacutedicos e familiares a saber
Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)
preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc
Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da
famiacutelia amigos e demais entes queridos)
Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos
importantes
Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex
testamentos venda de propriedade etc)
Evitar um processo longo de morte
Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica
brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na
medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo
coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer
todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e
obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que
estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute
receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel
Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites
de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe
envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e
poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz
sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica
meacutedica)
Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades
espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir
holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos
fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os
profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para
confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento
diante do processo de morte
A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de
sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que
lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto
que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre
as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado
na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda
Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o
envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do
paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade
de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus
familiaresrdquo
Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar
que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos
(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo
segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas
neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo
avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do
quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos
profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas
a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados
paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente
no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo
instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma
efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas
Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo
da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre
esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos
pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional
complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso
Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa
assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz
presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e
responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser
humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo
Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer
firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder
ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento
tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui
identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim
Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios
inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar
biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se
comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e
sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse
comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma
comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para
esse indiviacuteduo
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e
morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos
envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da
pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe
multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas
atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas
nesse estudo
Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu
para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem
ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma
morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano
Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar
aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente
abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por
Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo
incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e
enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de
trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da
enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida
deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que
estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI
Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira
cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja
prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer
Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no
processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo
especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas
riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho
considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada
particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco
Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas
pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina
paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais
envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de
uma Unidade de terapia Intensiva
Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o
aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que
eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor
considerado como desumanizante e frio
Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais
profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado
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DEDICO ESTE TRABALHO Aos meus filhos Davi e Joatildeo
pelo estiacutemulo para continuar lutando por meus ideais
Eu me importo com o fato de vocecirc ser vocecirc me importo ateacute o uacuteltimo momento de sua vida e faremos tudo o que estaacute ao nosso alcance natildeo somente para ajudar vocecirc a morrer em paz mas tambeacutem para vocecirc viver ateacute o dia da morte
Cicely Saunder
RESUMO
A unidade de terapia Intensiva (UTI) muitas vezes eacute vista como um setor desumanizante e frio onde a tecnologia prevalece em relaccedilatildeo agraves accedilotildees humaniacutesticas Eacute nesse ambiente afastados dos seus entes que os pacientes em processo de morte passam seus uacuteltimos momentos em companhia de estranhos normalmente profissionais da enfermagem ou meacutedicos Esse estudo teve por objetivo analisar na literatura propostas e iniciativas que visem uma morte digna e mais humana em UTI Trata-se de uma revisatildeo bibliograacutefica de caraacuteter qualitativo e exploratoacuterio A busca do material foi realizada em bancos de dados informatizados e em livros e perioacutedicos da aacuterea Os resultados demonstram que os trabalhos realizados por enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo proposto satildeo incipientes e a temaacutetica em foco eacute constantemente abordada por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Considerando-se a anaacutelises dos textos identificados e as observaccedilotildees pessoais relacionadas ao estudo conclue-se que a morte de uma pessoa sem probabilidade de cura pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina paliativa cuidados centrados na famiacutelia e capacitaccedilatildeo dos profissionais envolvidos no processo de mortemorrer forem trazido para o ambiente de UTI PALAVRAS-CHAVE Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Unidade de terapia Intensiva Morte Paciente
ABSTRACT
The intensive care unit (ICU) is often seen as a dehumanizing and cold sector where technology prevails in relation to humanistic actions It is in this environment away from their loved that patients undergoing death spend their last moments in the company of strangers usually nursing or medical professionals This study aimed to analyze the literature and proposed initiatives to a more humane and dignified death in the ICU This is a review of qualitative and exploratory The pursuit of material was done in computerized databases and books and journals The results demonstrate that the work done by nurses that meet the proposed goal is rarely in focus and the theme is constantly approached by medical professionals and psychologists Considering the analysis of texts identified and personal observations related to the study concludes that the death of a person with no chance of cure can be dignified and humane if the basic principles of palliative medicine family-centered care and training of professionals involved in case of death dying are brought to the ICU environment KEYWORDS Humanization of Assistance the Intensive Care Unit Death Patie
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO09
2 REVISAtildeO DA LITERATURA12
21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA12
22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER14
23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE
MORTEMORRER19
24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA
(UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER24
3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA29
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS32
REFEREcircNCIAS34
1 INTRODUCcedilAtildeO
APRESENTACcedilAtildeO DO OBJETO DE ESTUDO
Na rotina do profissional de sauacutede o tema morte eacute pouco comentado atuam na
perspectiva de promover a sauacutede prolongar e manter a vida Segundo estudos
ao longo da graduaccedilatildeo os assuntos abordados satildeo no acircmbito da fisiopatologia
e nos procedimentos teacutecnicos utilizados na atenccedilatildeo a paciente grave Aspectos
relacionados ao preparo emocional e psicoloacutegico necessaacuterios no atendimento
desses e aos seus familiares satildeo negligenciados observando-se uma
ldquodesumanizaccedilatildeordquo no atendimento ao paciente terminal (BALSANELLI
SANTOS SOLER 2002)
Eacute do conhecimento que no decorrer dos uacuteltimos seacuteculos a partir do surgimento
dos hospitais e unidades complexas e especializadas como as Unidades de
Terapia Intensivas (UTI) as pessoas doentes ou em estado grave da doenccedila
destinam-se para essas unidades em busca da cura ou tratamento de sauacutede
Entretanto diante do insucesso da terapecircutica empreendida e falta de
perspectiva de sobrevivecircncia o doente entra no processo de morte Assim
afastados dos seus entes passam seus uacuteltimos dias num leito hospitalar em
companhia de estranhos Encontram-se soacutes com seu sofrimento e noacutes
profissionais responsaacuteveis pelo cuidado assumimos em alguns casos o papel
da famiacutelia permanecendo aacute beira do leito nos seus uacuteltimos momento
JUSTIFICATIVA
No meu cotidiano de trabalho em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) enquanto
profissional de enfermagem de niacutevel meacutedio prestei assistecircncia agrave beira do leito
a vaacuterios pacientes moribundos nos seus uacuteltimos momentos de vida Apesar de
lidar com a morte cotidianamente e atuar de acordo com os valores eacuteticos
cultuando o respeito ao ser humano sob meus cuidados sentia-me
despreparada ao lidar com a situaccedilatildeo tambeacutem percebia o mesmo com os
demais colegas da equipe Imaginava que durante a graduaccedilatildeo em
enfermagem teria o aprendizado necessaacuterio para assistir de forma adequada o
paciente no processo de mortemorrer Isso natildeo ocorreu o assunto foi pouco
discutido na disciplina de psicologia Assim surgiu meu interesse pelo
embasamento literaacuterio e consequentemente adquirir habilidades para prestar
uma assistecircncia de qualidade diferenciada e humanizada a fim de
proporcionar uma morte ldquomais dignardquo aos clientes sob meus cuidados
PROBLEMA
Que iniciativas podem ser tomadas para tornar a morte mais digna e mais
humana dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI)
OBJETIVO
Analisar na literatura propostas e iniciativas que visem uma morte digna e mais
humana em Unidade de Terapia Intensiva
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisatildeo bibliograacutefica tendo como base a anaacutelise e
interpretaccedilatildeo de literaturas especiacuteficas dissertaccedilotildees teses perioacutedicos artigos
livros e outras publicaccedilotildees nacionais em consonacircncia com o objetivo proposto
Os descritores utilizados foram morte enfermagem UTI e humanizaccedilatildeo da
assistecircncia
Segundo Tognetti (2006) a pesquisa bibliograacutefica eacute fundamentada nos
conhecimentos de biblioteconomia documentaccedilatildeo e bibliografia sua finalidade
eacute colocar o pesquisador em contato com o que jaacute se produziu a respeito do seu
tema de pesquisa Trata-se de uma pesquisa com caraacuteter exploratoacuterio e
qualitativo De acordo com Godoy (1995 p21) ldquo[] a pesquisa qualitativa
ocupa um reconhecido lugar entre as vaacuterias possibilidades de se estudar os
fenocircmenos que envolvem os seres humanos e suas intricadas relaccedilotildees sociais
estabelecidas em diversos ambientesrdquo Jaacute para Richardson (1999 p17) visa
descobrir as semelhanccedilas entre fenocircmenos ldquoos pressupostos teoacutericos natildeo
estatildeo claros ou satildeo difiacuteceis de encontrar Nessa situaccedilatildeo faz-se uma pesquisa
natildeo apenas para conhecer o tipo de relaccedilatildeo existente mas sobretudo para
determinar a existecircncia de relaccedilatildeordquo
A pesquisa exploratoacuteria eacute ideal quando se deseja explorar o novo ainda natildeo
considerado como ciecircncia mas que serve de base agrave mesma Pode-se basear
neste tipo de pesquisa na ocorrecircncia de bibliografia escassa sobre o tema em
estudo (LEITE 2008)
Apoacutes leitura na iacutentegra e interpretaccedilatildeo dos textos selecionados buscou-se obter
a resposta do problema da pesquisa
ESTRUTURA
Organizei este estudo em trecircs momentos nos quais procurei descrever sobre o
assunto proposto de forma simples e coerente
No primeiro momento apresento o objeto de estudo relato meu interesse em
discorrer sobre o tema descrevo tambeacutem o objetivo com base no problema em
questatildeo
Logo apoacutes no segundo momento faccedilo consideraccedilotildees sobre humanizaccedilatildeo da
assistecircncia apresento tambeacutem uma concisatildeo sobre o morrer e faccedilo alguns
comentaacuterios acerca do paciente moribundo em UTI Em seguida comento
sobre a equipe de enfermagem e a assistecircncia durante o processo
mortemorrer
Prosseguindo no terceiro momento apresento a anaacutelise dos dados
pesquisados
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA
Segundo Ferreira (2000) humanizar significa tornar humano dar condiccedilatildeo
humana tornar afaacutevel e trataacutevel A humanizaccedilatildeo da assistecircncia requer
conscientizaccedilatildeo e preparo da equipe para um cuidado diferenciado
entendendo o paciente como um ser humano
Alguns estudos na aacuterea da medicina intensivista apontam para a necessidade
de mudar o enfoque predominantemente tecnicista paciente-doenccedila para uma
abordagem mais humana que engloba o paciente de forma holiacutestica ou seja
percebendo-o como um ser inserido num contexto e que necessita ser
atendido nos aspectos fiacutesicos psicoloacutegicos sociais e espirituais A medicina
paliativa vem sendo destacada nas literaturas em geral na aacuterea de oncologia
entretanto tem ganhado destaque tambeacutem nas literaturas pertinentes ao
intensivismo (GARROS 2003)
ldquoA medicina paliativa se desenvolveu como uma reaccedilatildeo agrave medicina moderna
altamente tecnicista que prioriza a cura em vez do cuidadordquo (PESSINI 2006)
A filosofia dos cuidados paliativos a) afirma a vida e encara o morrer como um processo normal b) natildeo apressa nem adia a morte c) procura aliviar a dor e outros sintomas angustiantes d) integra os aspectos psicoloacutegicos e espirituais nos cuidados com o paciente e) oferece um sistema de apoio para ajudar os pacientes a viver ativamente o maacuteximo possiacutevel ateacute a morte f) oferece um sistema de apoio para ajudar a famiacutelia a lidar com a doenccedila do paciente e seu proacuteprio luto (PESSINI 2003 apud PESSINI 2006)
Essa nova perspectiva constitui desafio para os profissionais de sauacutede visto
que o paciente no processo de morte deixa de ser aquele por quem nada si
pode fazer e passa a ser considerado como aquele que natildeo responde mais as
medidas terapecircuticas de cura Desta forma sob a filosofia dos cuidados
paliativos temos muito que fazer para proporcionar uma morte mais digna
decente ou aceitaacutevel para um ser humano A humanizaccedilatildeo do morrer apoacuteia a
concepccedilatildeo de que a morte natildeo eacute um inimigo a ser combatido ela faz parte do
ciclo vital e do adoecer
A proposta dos cuidados paliativos eacute permitir que a pessoa viva intensamente
seus dias finais de vida com controle da dor e sendo assistido de forma
holiacutestica Partindo da ideacuteia de que ldquomais vale acrescentar vida ao tempo do que
tempo agrave vidardquo
O Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo Hospitalar - PNHAH foi instituiacutedo pelo
Ministeacuterio da Sauacutede atraveacutes da portaria nordm 881 de 19 06 2001 no acircmbito do
Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2002) O PNHAH faz parte de um processo
de discussatildeo e implementaccedilatildeo de projetos de humanizaccedilatildeo do atendimento a
sauacutede e de melhoria da qualidade do vinculo estabelecido entre trabalhador da
sauacutede pacientes e familiares
A famiacutelia enquanto extensatildeo do paciente deveraacute ser incluiacuteda no processo de
cuidado deste poreacutem natildeo como auxiliar ao nosso trabalho mas como
indiviacuteduos a serem cuidados tambeacutem pela enfermagem Essa deveraacute oferecer
o suporte necessaacuterio esclarecer as duacutevidas atender e acolher prontamente e
de maneira empaacutetica esse suporte primaacuterio do paciente conquistando assim
sua confianccedila A inclusatildeo da famiacutelia no processo de cuidado em Unidade de
terapia Intensiva (UTI) eacute indispensaacutevel para podermos atender o paciente de
forma holiacutestica (NASCIMENTO MARTINS 2000)
Humanizar significa a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito
com o outro acolher o desconhecido e reconhecer os limites A humanizaccedilatildeo
requer uma interaccedilatildeo harmoniosa entre o cuidado teacutecnico e cientiacutefico Requer
tambeacutem compromisso eacutetico de todos os profissionais envolvidos na assistecircncia
desde os atendentes da recepccedilatildeo ateacute a equipe envolvida diretamente com a
assistecircncia do paciente e famiacutelia O processo do cuidado de enfermagem por
se soacute constitui um ato humanizado visto que os objetivos do cuidar envolvem
aliviar confortar ajudar favorecer promover entre outros (MORAES
GARDA FONSECA 2004) Segundo esses autores
Humanizar de acordo com os valores eacuteticos consiste fundamentalmente em tornar uma praacutetica bela por mais que ela lide com o que tem de mais degradante doloroso e triste na natureza humana o sofrimento a deterioraccedilatildeo e a morte Refere-se portanto a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito ao outro e de reconhecimento dos limites O ponto chave do trabalho de humanizaccedilatildeo estaacute no fortalecimento desta posiccedilatildeo eacutetica de articulaccedilatildeo do cuidado teacutecnico cientifico jaacute construiacutedo conhecido e dominado ao cuidado que incorpora a necessidade a exploraccedilatildeo e o acolhimento do imprevisiacutevel do incontrolaacutevel ao indiferente e singular
Minayo (2004) considera que ao se propor um cuidado humanizado deve-se
repensar a formaccedilatildeo profissional na aacuterea de sauacutede Para esse autor apesar
das propostas de mudanccedilas de modelo de atenccedilatildeo da sauacutede que prega a
integralidade e a humanizaccedilatildeo da assistecircncia e da crise da ciecircncia racionalista
predomina ainda o aprendizado teacutecnico racional e individualizado empregado
muitas vezesrdquo sem o exerciacutecio da criacutetica criatividade e sensibilidaderdquo
Refletindo portanto no despreparo dos profissionais em proporcionar um
cuidado humanizado cada vez mais exigido nos serviccedilos que utilizam alta
tecnologia como as Unidades de Terapia Intensiva
Felizmente percebemos uma seacuterie de estudos relacionados agrave necessidade de
humanizaccedilatildeo desses serviccedilos por forccedila do efeito negativo do ambiente sobre
pacientes famiacutelia e equipe multiprofissional Os estudos mostram tambeacutem que
os profissionais de sauacutede tecircm consciecircncia de que humanizaccedilatildeo eacute uma palavra
aparentemente faacutecil de entender poreacutem no dia-a-dia natildeo eacute tatildeo faacutecil praticaacute-la
22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER
A compreensatildeo sobre a morte influencia na qualidade de vida da pessoa e na
forma como ela interage no seu dia-a-dia com o processo de morte e morrer
Ao pesquisar sobre a definiccedilatildeo das palavras morte e morrer no dicionaacuterio de
liacutengua portuguesa fica-se impressionado com a quantidade de sinocircnimos
atribuiacutedos a elas
Morte significa cessaccedilatildeo da vida fim Jaacute a palavra morrer significa rdquoperder a
vida falecer finar-se fenecer expirar desaparecer descansar desencarnar
ir perecer sucumbir espichar esticar estinguir-se acabar (-se)rdquo (FERREIRA
2000)
Jaacute no dicionaacuterio meacutedico traz as seguintes consideraccedilotildees
1-Cessaccedilatildeo total e irreversiacutevel da funccedilatildeo cerebral funccedilatildeo espontacircnea dos sistemas respiratoacuterio e circulatoacuterio 2 - A cessaccedilatildeo final e irreversiacutevel dos batimentos cardiacuteacos e respiraccedilotildees perceptiacuteveis [] o principal sinal de morte eacute a cessaccedilatildeo da accedilatildeo do coraccedilatildeo Outras indicaccedilotildees satildeo ausecircncia de reflexos cessaccedilatildeo da atividade eleacutetrica do ceacuterebro determinada pelo eletro encefalograma (EEC) manifestaccedilatildeo de rigor mortis e uma descoloraccedilatildeo mosqueada no corpo (THOMAS 2000)
Como podemos observar existem vaacuterias denominaccedilotildees para substituir a
palavra morte talvez o objetivo real seja ldquosuavizarrdquo a sua pronuacutencia tornando-a
menos temiacutevel
A Tanatologia eacute a ciecircncia que estuda a morte Segundo este saber o homem eacute
o uacutenico ser sobre a terra que tem consciecircncia da sua finitude o uacutenico a ter
consciecircncia de que sua passagem neste mundo eacute transitoacuteria e deve terminar
um dia Apesar dessa certeza o homem foi impelido a evitar a convivecircncia com
a morte no decorrer da histoacuteria
A seguir pontuarei de forma sinteacutetica as diferentes interpretaccedilotildees da morte
segundo algumas das grandes correntes religiosas
Para os judeus e cristatildeos que acreditava na ressurreiccedilatildeo apoacutes a morte esta
seria o acesso para outra dimensatildeo da vida que poderia ser no inferno ou no
paraiacuteso conforme os seus feitos terrenos a partir da observacircncia dos
mandamentos de Deus
De acordo com Pessini (1999) apud Gutierrez (2003) ldquoo catolicismo prega que
os esforccedilos para manter a vida fiacutesica podem ser encerrados caso a
continuaccedilatildeo da vida bioloacutegica ao inveacutes de promover a integraccedilatildeo da vida
espiritual e moral do indiviacuteduo torne-se vatilderdquo
O budismo natildeo encara a morte como o fim da vida mas sim como uma
transiccedilatildeo defendendo o direito do indiviacuteduo de determinar o momento em que
deseja passar desta existecircncia para a seguinte Enfatiza que o importante no
momento da morte eacute que a mente permaneccedila em paz e harmonia consigo
mesmo
No islamismo a concepccedilatildeo de vida eacute sagrada a morte eacute interpretada como a
conclusatildeo de uma vida e o comeccedilo de outra
Apesar das diferentes interpretaccedilotildees das diversas correntes religiosas haacute
consenso de que o apoio espiritual constitui elemento valioso dado ao paciente
no processo de morrer
A morte eacute parte integrante do processo de desenvolvimento humano e estaacute
presente no cotidiano diaacuterio de nossas vidas A forma de percepccedilatildeo
significaccedilatildeo e comportamento do processo de morte e morrer variam conforme
o contexto soacutecio-cultural e histoacuterico e vem sofrendo alteraccedilotildees atraveacutes das
diferentes civilizaccedilotildees ateacute os dias atuais
[] Os povos mesopotacircmios tinham por costume enterrar os corpos dos mortos da maneira mais escrupulosa sendo o cadaacutever cuidadosamente acompanhado de todas as marcas mais distintas de sua identidade pessoal e familiar como seus pertences insiacutegnias e objetos de uso suas vestimentas e ateacute mesmo de suas comidas
prediletas (GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)
Para essa civilizaccedilatildeo a morte seria uma espeacutecie de rebaixamento da vida o
apagamento dessa mesma existecircncia
Os antigos egiacutepcios sepultavam seus mortos juntamente com as roupas e os
alimentos para que continuassem felizes e da mesma forma os antigos iacutendios
americanos que enterravam seus parentes com tudo o que lhes pertencia
Esses falavam dos espiacuteritos do mal e atiravam flechas ao ar para afugentaacute-los
Os hebreus consideravam o corpo do morto como alguma coisa impura que
natildeo podia ser tocada (KUumlBLER-ROSS 2008)
Os antigos hindus incineravam seus mortos e suas cinzas eram lanccediladas ao
vento ou nas aacuteguas dos rios sendo o morto despojado de todos os seus
traccedilos de identidade
Para os antigos gregos a incineraccedilatildeo determinava dois tipos de mortos o cadaacutever do homem comum e o cadaacutever dos grandes heroacuteis Ao anocircnimo cabia o crematoacuterio coletivo e o depoacutesito de suas cinzas em vala comum Os corpos falecidos dos heroacuteis eram cremados na cerimocircnia da bela morte onde os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos A proacutepria morte seria a prova de sua virtude tornando-o um indiviacuteduo cuja vida eacute digna de ser lembrada
(GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)
Os primeiros cemiteacuterios surgiram a partir do seacuteculo V e eram localizados junto
agraves igrejas cristatildes Esses cemiteacuterios faziam parte do cenaacuterio de vida das
pessoas tinham papel de praccedila puacuteblica eram lugares de julgamentos das
execuccedilotildees e dos encontros amorosos
Na Idade Meacutedia a morte era entendida com naturalidade fazendo parte do
ambiente domeacutestico O ritual da morte envolvia tanto a pessoa que ia morrer
como os seus parentes e amigos Naquela eacutepoca os nobres eram enterrados
no interior das igrejas enquanto os pobres erram colocados em covas
coletivas
Tanto a famiacutelia como os amigos do morto manifestavam o processo do luto
atraveacutes do uso de roupas pretas e da natildeo participaccedilatildeo na vida social ateacute que
natildeo acontecesse a elaboraccedilatildeo do oacutebito As pessoas que sabiam que iam
morrer protagonizavam todo o ritual despedindo-se dos entes queridos
fazendo o testamento buscando se reconciliar com as pessoas e superar as
maacutegoas A comunidade participava ativamente de todo esse processo (AGRA
ALBUQUERQUE 2008)
Gutierrez (2003) tomando como referencial o estudo de Pessini (1999) fez
uma breve abordagem sobre o processo de morte e morrer a partir da idade
meacutedia ateacute a deacutecada de 70 do seacuteculo XX
Durante os seacuteculos XI e XII iniciaram-se mudanccedilas sutis na maneira
tradicional de o homem atuar diante da morte
No periacuteodo entre os seacuteculos XII a XV houve uma maior conscientizaccedilatildeo
do homem em relaccedilatildeo aacute sua proacutepria morte
Jaacute no seacuteculo XVI a morte distanciou-se das situaccedilotildees mais corriqueiras
e passou a representar uma separaccedilatildeo inaceitaacutevel iniciando um
processo de visualizaccedilatildeo da morte do outro que passou a ser dramaacutetica
e mais complexa
No final do seacuteculo XVIII surgiram duas mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave morte A
benevolecircncia com a ideacuteia da morte e a relaccedilatildeo entre moribundo e seus
familiares O termo benevolecircncia significa boa vontade para com todos
Na primeira metade do seacuteculo XIX a morte era um fenocircmeno bastante
presente e encarado como fato social e puacuteblico em que parentes e
amigos vizinhos e ateacute mesmo crianccedilas permaneciam no quarto do
moribundo Nessa eacutepoca os ritos que acompanhavam a morte eram
realizados com tranquumlilidade e aceitaccedilatildeo
No decorrer dos anos a atitude do homem em relaccedilatildeo agrave morte sofreu
modificaccedilotildees e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaccediladora
Poupa-se o moribundo de saber sobre suas reais condiccedilotildees de sauacutede A
verdade eacute negada com o intuito de privar o doente do sofrimento A
extrema unccedilatildeo que era oferecida ao moribundo em meados do seacuteculo
XX passou a ser dada somente apoacutes sua morte
A partir da segunda metade do seacuteculo XX a morte foi transferida para os
hospitais e passou a ser vista como um fenocircmeno teacutecnico agraves vezes
adiada ou antecipada a depender dos interesses dos que tentavam
domina-la O Meacutedico transformou-se em heroacutei na luta contra a morte
Atualmente os avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos tornaram a morte um
evento institucionalizado Eacute cada vez mais comum as pessoas morrerem
no hospital O doente perde o direito de opinar sobre sua morte o
meacutedico tornou-se personagem principal e a famiacutelia passou a sentir-se
protegida por natildeo ter que presenciar a morte de um ente querido Nesse
contexto a morte passa a ocorrer em cenaacuterio composto por fios
maacutequinas aparelhos e pessoas estranhas geralmente equipe meacutedica e
de enfermagem
A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma
instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para
o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras
Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer
acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive
a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e
na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu
avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer
de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo
conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em
seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de
familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi
encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi
celebrada uma missa de corpo presente
Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em
ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de
fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com
breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra
que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e
desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida
23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER
O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa
maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo
diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito
especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e
descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute
dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que
encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo
humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas
verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo
Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-
Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute
em fase terminal a saber
Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do
doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente
ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo
Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos
comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que
algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo
todo
Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja
O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade
(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da
raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo
Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma
coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio
mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento
Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio
Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da
capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da
vida
Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar
depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima
com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase
mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas
preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser
confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute
importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma
desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da
chegada ao fim em paz
Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se
sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila
algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses
estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo
psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses
estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte
iminente
Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei
algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim
uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi
sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua
confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo
poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha
confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo
de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de
ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de
morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles
no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos
Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta
Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca
De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por
causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir
algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem
responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas
Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante
aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e
geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los
Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do
paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida
e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade
ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar
esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de
vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando
na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral
Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de
deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias
como inchaccedilo naacuteusea e dor
Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos
agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o
paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees
conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo
deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos
para uma morte digna e sem sofrimento
Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida
para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou
como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de
cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam
sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam
despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo
Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a
audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada
perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir
Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de
alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as
pessoas envolvidas
Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes
optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte
sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para
estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale
ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos
proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou
simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano
trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as
informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes
crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse
doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais
humanizado
Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de
morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir
poderaacute nos auxiliar nesse processo
Carta dos Pacientes Terminais
- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que
eu morra
- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas
possam acontecer
- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o
sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas
- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e
emoccedilotildees diante da minha morte
- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus
cuidados e tratamentos
- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem
mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode
confortordquo
- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho
- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto
- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado
- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas
honestamente
- Tenho o direito de natildeo ser enganado
- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou
experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos
demais
- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser
julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves
crenccedilas dos demais
- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de
meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados
- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis
humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas
necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a
minha privacidade
- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI
1996 APUD GUTIERREZ 2003)
24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica
Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes
mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato
e a observaccedilatildeo constante
Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico
e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com
alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a
elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre
outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo
atualmente
Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede
descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute
de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade
Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade
proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica
de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas
que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais
complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica
e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico
e recursos humanos especializados
Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os
paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do
tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida
prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da
famiacutelia e do cliente
As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses
pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e
extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave
manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e
adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA
2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas
ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de
interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao
paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores
relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante
tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons
monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e
ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre
outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua
privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar
esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo
vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo
Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional
muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em
estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade
criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo
profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao
paciente no processo de morte
A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe
multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do
leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto
discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no
intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade
fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo
conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida
(SILVA 2001)
Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal
durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido
contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se
impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo
endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais
membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de
comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo
profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a
importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes
da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos
postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais
organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida
entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)
Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam
diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos
pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para
o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem
sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus
familiares diante da finitude da vida
De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo
emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa
depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o
paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade
Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas
e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos
sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de
existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma
determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se
necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e
preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de
forma humanizada
Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta
[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo
Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)
ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a
deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes
consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu
sofrimentordquo
Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso
que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter
firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de
enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando
assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver
excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio
de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato
estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos
menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a
deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito
profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no
meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira
de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia
A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural
e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada
como uma das maiores estudiosas do assunto
A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte
A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais
membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma
assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais
necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida
Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente
consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-
espiritual
3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA
A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento
bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto
Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel
proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de
medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro
do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova
perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no
final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de
suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo
baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais
meacutedicos e familiares a saber
Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)
preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc
Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da
famiacutelia amigos e demais entes queridos)
Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos
importantes
Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex
testamentos venda de propriedade etc)
Evitar um processo longo de morte
Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica
brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na
medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo
coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer
todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e
obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que
estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute
receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel
Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites
de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe
envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e
poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz
sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica
meacutedica)
Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades
espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir
holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos
fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os
profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para
confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento
diante do processo de morte
A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de
sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que
lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto
que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre
as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado
na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda
Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o
envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do
paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade
de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus
familiaresrdquo
Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar
que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos
(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo
segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas
neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo
avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do
quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos
profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas
a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados
paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente
no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo
instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma
efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas
Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo
da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre
esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos
pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional
complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso
Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa
assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz
presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e
responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser
humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo
Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer
firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder
ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento
tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui
identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim
Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios
inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar
biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se
comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e
sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse
comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma
comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para
esse indiviacuteduo
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e
morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos
envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da
pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe
multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas
atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas
nesse estudo
Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu
para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem
ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma
morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano
Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar
aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente
abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por
Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo
incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e
enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de
trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da
enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida
deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que
estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI
Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira
cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja
prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer
Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no
processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo
especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas
riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho
considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada
particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco
Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas
pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina
paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais
envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de
uma Unidade de terapia Intensiva
Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o
aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que
eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor
considerado como desumanizante e frio
Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais
profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado
REFEREcircNCIAS
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Eu me importo com o fato de vocecirc ser vocecirc me importo ateacute o uacuteltimo momento de sua vida e faremos tudo o que estaacute ao nosso alcance natildeo somente para ajudar vocecirc a morrer em paz mas tambeacutem para vocecirc viver ateacute o dia da morte
Cicely Saunder
RESUMO
A unidade de terapia Intensiva (UTI) muitas vezes eacute vista como um setor desumanizante e frio onde a tecnologia prevalece em relaccedilatildeo agraves accedilotildees humaniacutesticas Eacute nesse ambiente afastados dos seus entes que os pacientes em processo de morte passam seus uacuteltimos momentos em companhia de estranhos normalmente profissionais da enfermagem ou meacutedicos Esse estudo teve por objetivo analisar na literatura propostas e iniciativas que visem uma morte digna e mais humana em UTI Trata-se de uma revisatildeo bibliograacutefica de caraacuteter qualitativo e exploratoacuterio A busca do material foi realizada em bancos de dados informatizados e em livros e perioacutedicos da aacuterea Os resultados demonstram que os trabalhos realizados por enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo proposto satildeo incipientes e a temaacutetica em foco eacute constantemente abordada por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Considerando-se a anaacutelises dos textos identificados e as observaccedilotildees pessoais relacionadas ao estudo conclue-se que a morte de uma pessoa sem probabilidade de cura pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina paliativa cuidados centrados na famiacutelia e capacitaccedilatildeo dos profissionais envolvidos no processo de mortemorrer forem trazido para o ambiente de UTI PALAVRAS-CHAVE Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Unidade de terapia Intensiva Morte Paciente
ABSTRACT
The intensive care unit (ICU) is often seen as a dehumanizing and cold sector where technology prevails in relation to humanistic actions It is in this environment away from their loved that patients undergoing death spend their last moments in the company of strangers usually nursing or medical professionals This study aimed to analyze the literature and proposed initiatives to a more humane and dignified death in the ICU This is a review of qualitative and exploratory The pursuit of material was done in computerized databases and books and journals The results demonstrate that the work done by nurses that meet the proposed goal is rarely in focus and the theme is constantly approached by medical professionals and psychologists Considering the analysis of texts identified and personal observations related to the study concludes that the death of a person with no chance of cure can be dignified and humane if the basic principles of palliative medicine family-centered care and training of professionals involved in case of death dying are brought to the ICU environment KEYWORDS Humanization of Assistance the Intensive Care Unit Death Patie
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO09
2 REVISAtildeO DA LITERATURA12
21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA12
22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER14
23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE
MORTEMORRER19
24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA
(UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER24
3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA29
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS32
REFEREcircNCIAS34
1 INTRODUCcedilAtildeO
APRESENTACcedilAtildeO DO OBJETO DE ESTUDO
Na rotina do profissional de sauacutede o tema morte eacute pouco comentado atuam na
perspectiva de promover a sauacutede prolongar e manter a vida Segundo estudos
ao longo da graduaccedilatildeo os assuntos abordados satildeo no acircmbito da fisiopatologia
e nos procedimentos teacutecnicos utilizados na atenccedilatildeo a paciente grave Aspectos
relacionados ao preparo emocional e psicoloacutegico necessaacuterios no atendimento
desses e aos seus familiares satildeo negligenciados observando-se uma
ldquodesumanizaccedilatildeordquo no atendimento ao paciente terminal (BALSANELLI
SANTOS SOLER 2002)
Eacute do conhecimento que no decorrer dos uacuteltimos seacuteculos a partir do surgimento
dos hospitais e unidades complexas e especializadas como as Unidades de
Terapia Intensivas (UTI) as pessoas doentes ou em estado grave da doenccedila
destinam-se para essas unidades em busca da cura ou tratamento de sauacutede
Entretanto diante do insucesso da terapecircutica empreendida e falta de
perspectiva de sobrevivecircncia o doente entra no processo de morte Assim
afastados dos seus entes passam seus uacuteltimos dias num leito hospitalar em
companhia de estranhos Encontram-se soacutes com seu sofrimento e noacutes
profissionais responsaacuteveis pelo cuidado assumimos em alguns casos o papel
da famiacutelia permanecendo aacute beira do leito nos seus uacuteltimos momento
JUSTIFICATIVA
No meu cotidiano de trabalho em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) enquanto
profissional de enfermagem de niacutevel meacutedio prestei assistecircncia agrave beira do leito
a vaacuterios pacientes moribundos nos seus uacuteltimos momentos de vida Apesar de
lidar com a morte cotidianamente e atuar de acordo com os valores eacuteticos
cultuando o respeito ao ser humano sob meus cuidados sentia-me
despreparada ao lidar com a situaccedilatildeo tambeacutem percebia o mesmo com os
demais colegas da equipe Imaginava que durante a graduaccedilatildeo em
enfermagem teria o aprendizado necessaacuterio para assistir de forma adequada o
paciente no processo de mortemorrer Isso natildeo ocorreu o assunto foi pouco
discutido na disciplina de psicologia Assim surgiu meu interesse pelo
embasamento literaacuterio e consequentemente adquirir habilidades para prestar
uma assistecircncia de qualidade diferenciada e humanizada a fim de
proporcionar uma morte ldquomais dignardquo aos clientes sob meus cuidados
PROBLEMA
Que iniciativas podem ser tomadas para tornar a morte mais digna e mais
humana dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI)
OBJETIVO
Analisar na literatura propostas e iniciativas que visem uma morte digna e mais
humana em Unidade de Terapia Intensiva
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisatildeo bibliograacutefica tendo como base a anaacutelise e
interpretaccedilatildeo de literaturas especiacuteficas dissertaccedilotildees teses perioacutedicos artigos
livros e outras publicaccedilotildees nacionais em consonacircncia com o objetivo proposto
Os descritores utilizados foram morte enfermagem UTI e humanizaccedilatildeo da
assistecircncia
Segundo Tognetti (2006) a pesquisa bibliograacutefica eacute fundamentada nos
conhecimentos de biblioteconomia documentaccedilatildeo e bibliografia sua finalidade
eacute colocar o pesquisador em contato com o que jaacute se produziu a respeito do seu
tema de pesquisa Trata-se de uma pesquisa com caraacuteter exploratoacuterio e
qualitativo De acordo com Godoy (1995 p21) ldquo[] a pesquisa qualitativa
ocupa um reconhecido lugar entre as vaacuterias possibilidades de se estudar os
fenocircmenos que envolvem os seres humanos e suas intricadas relaccedilotildees sociais
estabelecidas em diversos ambientesrdquo Jaacute para Richardson (1999 p17) visa
descobrir as semelhanccedilas entre fenocircmenos ldquoos pressupostos teoacutericos natildeo
estatildeo claros ou satildeo difiacuteceis de encontrar Nessa situaccedilatildeo faz-se uma pesquisa
natildeo apenas para conhecer o tipo de relaccedilatildeo existente mas sobretudo para
determinar a existecircncia de relaccedilatildeordquo
A pesquisa exploratoacuteria eacute ideal quando se deseja explorar o novo ainda natildeo
considerado como ciecircncia mas que serve de base agrave mesma Pode-se basear
neste tipo de pesquisa na ocorrecircncia de bibliografia escassa sobre o tema em
estudo (LEITE 2008)
Apoacutes leitura na iacutentegra e interpretaccedilatildeo dos textos selecionados buscou-se obter
a resposta do problema da pesquisa
ESTRUTURA
Organizei este estudo em trecircs momentos nos quais procurei descrever sobre o
assunto proposto de forma simples e coerente
No primeiro momento apresento o objeto de estudo relato meu interesse em
discorrer sobre o tema descrevo tambeacutem o objetivo com base no problema em
questatildeo
Logo apoacutes no segundo momento faccedilo consideraccedilotildees sobre humanizaccedilatildeo da
assistecircncia apresento tambeacutem uma concisatildeo sobre o morrer e faccedilo alguns
comentaacuterios acerca do paciente moribundo em UTI Em seguida comento
sobre a equipe de enfermagem e a assistecircncia durante o processo
mortemorrer
Prosseguindo no terceiro momento apresento a anaacutelise dos dados
pesquisados
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA
Segundo Ferreira (2000) humanizar significa tornar humano dar condiccedilatildeo
humana tornar afaacutevel e trataacutevel A humanizaccedilatildeo da assistecircncia requer
conscientizaccedilatildeo e preparo da equipe para um cuidado diferenciado
entendendo o paciente como um ser humano
Alguns estudos na aacuterea da medicina intensivista apontam para a necessidade
de mudar o enfoque predominantemente tecnicista paciente-doenccedila para uma
abordagem mais humana que engloba o paciente de forma holiacutestica ou seja
percebendo-o como um ser inserido num contexto e que necessita ser
atendido nos aspectos fiacutesicos psicoloacutegicos sociais e espirituais A medicina
paliativa vem sendo destacada nas literaturas em geral na aacuterea de oncologia
entretanto tem ganhado destaque tambeacutem nas literaturas pertinentes ao
intensivismo (GARROS 2003)
ldquoA medicina paliativa se desenvolveu como uma reaccedilatildeo agrave medicina moderna
altamente tecnicista que prioriza a cura em vez do cuidadordquo (PESSINI 2006)
A filosofia dos cuidados paliativos a) afirma a vida e encara o morrer como um processo normal b) natildeo apressa nem adia a morte c) procura aliviar a dor e outros sintomas angustiantes d) integra os aspectos psicoloacutegicos e espirituais nos cuidados com o paciente e) oferece um sistema de apoio para ajudar os pacientes a viver ativamente o maacuteximo possiacutevel ateacute a morte f) oferece um sistema de apoio para ajudar a famiacutelia a lidar com a doenccedila do paciente e seu proacuteprio luto (PESSINI 2003 apud PESSINI 2006)
Essa nova perspectiva constitui desafio para os profissionais de sauacutede visto
que o paciente no processo de morte deixa de ser aquele por quem nada si
pode fazer e passa a ser considerado como aquele que natildeo responde mais as
medidas terapecircuticas de cura Desta forma sob a filosofia dos cuidados
paliativos temos muito que fazer para proporcionar uma morte mais digna
decente ou aceitaacutevel para um ser humano A humanizaccedilatildeo do morrer apoacuteia a
concepccedilatildeo de que a morte natildeo eacute um inimigo a ser combatido ela faz parte do
ciclo vital e do adoecer
A proposta dos cuidados paliativos eacute permitir que a pessoa viva intensamente
seus dias finais de vida com controle da dor e sendo assistido de forma
holiacutestica Partindo da ideacuteia de que ldquomais vale acrescentar vida ao tempo do que
tempo agrave vidardquo
O Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo Hospitalar - PNHAH foi instituiacutedo pelo
Ministeacuterio da Sauacutede atraveacutes da portaria nordm 881 de 19 06 2001 no acircmbito do
Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2002) O PNHAH faz parte de um processo
de discussatildeo e implementaccedilatildeo de projetos de humanizaccedilatildeo do atendimento a
sauacutede e de melhoria da qualidade do vinculo estabelecido entre trabalhador da
sauacutede pacientes e familiares
A famiacutelia enquanto extensatildeo do paciente deveraacute ser incluiacuteda no processo de
cuidado deste poreacutem natildeo como auxiliar ao nosso trabalho mas como
indiviacuteduos a serem cuidados tambeacutem pela enfermagem Essa deveraacute oferecer
o suporte necessaacuterio esclarecer as duacutevidas atender e acolher prontamente e
de maneira empaacutetica esse suporte primaacuterio do paciente conquistando assim
sua confianccedila A inclusatildeo da famiacutelia no processo de cuidado em Unidade de
terapia Intensiva (UTI) eacute indispensaacutevel para podermos atender o paciente de
forma holiacutestica (NASCIMENTO MARTINS 2000)
Humanizar significa a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito
com o outro acolher o desconhecido e reconhecer os limites A humanizaccedilatildeo
requer uma interaccedilatildeo harmoniosa entre o cuidado teacutecnico e cientiacutefico Requer
tambeacutem compromisso eacutetico de todos os profissionais envolvidos na assistecircncia
desde os atendentes da recepccedilatildeo ateacute a equipe envolvida diretamente com a
assistecircncia do paciente e famiacutelia O processo do cuidado de enfermagem por
se soacute constitui um ato humanizado visto que os objetivos do cuidar envolvem
aliviar confortar ajudar favorecer promover entre outros (MORAES
GARDA FONSECA 2004) Segundo esses autores
Humanizar de acordo com os valores eacuteticos consiste fundamentalmente em tornar uma praacutetica bela por mais que ela lide com o que tem de mais degradante doloroso e triste na natureza humana o sofrimento a deterioraccedilatildeo e a morte Refere-se portanto a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito ao outro e de reconhecimento dos limites O ponto chave do trabalho de humanizaccedilatildeo estaacute no fortalecimento desta posiccedilatildeo eacutetica de articulaccedilatildeo do cuidado teacutecnico cientifico jaacute construiacutedo conhecido e dominado ao cuidado que incorpora a necessidade a exploraccedilatildeo e o acolhimento do imprevisiacutevel do incontrolaacutevel ao indiferente e singular
Minayo (2004) considera que ao se propor um cuidado humanizado deve-se
repensar a formaccedilatildeo profissional na aacuterea de sauacutede Para esse autor apesar
das propostas de mudanccedilas de modelo de atenccedilatildeo da sauacutede que prega a
integralidade e a humanizaccedilatildeo da assistecircncia e da crise da ciecircncia racionalista
predomina ainda o aprendizado teacutecnico racional e individualizado empregado
muitas vezesrdquo sem o exerciacutecio da criacutetica criatividade e sensibilidaderdquo
Refletindo portanto no despreparo dos profissionais em proporcionar um
cuidado humanizado cada vez mais exigido nos serviccedilos que utilizam alta
tecnologia como as Unidades de Terapia Intensiva
Felizmente percebemos uma seacuterie de estudos relacionados agrave necessidade de
humanizaccedilatildeo desses serviccedilos por forccedila do efeito negativo do ambiente sobre
pacientes famiacutelia e equipe multiprofissional Os estudos mostram tambeacutem que
os profissionais de sauacutede tecircm consciecircncia de que humanizaccedilatildeo eacute uma palavra
aparentemente faacutecil de entender poreacutem no dia-a-dia natildeo eacute tatildeo faacutecil praticaacute-la
22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER
A compreensatildeo sobre a morte influencia na qualidade de vida da pessoa e na
forma como ela interage no seu dia-a-dia com o processo de morte e morrer
Ao pesquisar sobre a definiccedilatildeo das palavras morte e morrer no dicionaacuterio de
liacutengua portuguesa fica-se impressionado com a quantidade de sinocircnimos
atribuiacutedos a elas
Morte significa cessaccedilatildeo da vida fim Jaacute a palavra morrer significa rdquoperder a
vida falecer finar-se fenecer expirar desaparecer descansar desencarnar
ir perecer sucumbir espichar esticar estinguir-se acabar (-se)rdquo (FERREIRA
2000)
Jaacute no dicionaacuterio meacutedico traz as seguintes consideraccedilotildees
1-Cessaccedilatildeo total e irreversiacutevel da funccedilatildeo cerebral funccedilatildeo espontacircnea dos sistemas respiratoacuterio e circulatoacuterio 2 - A cessaccedilatildeo final e irreversiacutevel dos batimentos cardiacuteacos e respiraccedilotildees perceptiacuteveis [] o principal sinal de morte eacute a cessaccedilatildeo da accedilatildeo do coraccedilatildeo Outras indicaccedilotildees satildeo ausecircncia de reflexos cessaccedilatildeo da atividade eleacutetrica do ceacuterebro determinada pelo eletro encefalograma (EEC) manifestaccedilatildeo de rigor mortis e uma descoloraccedilatildeo mosqueada no corpo (THOMAS 2000)
Como podemos observar existem vaacuterias denominaccedilotildees para substituir a
palavra morte talvez o objetivo real seja ldquosuavizarrdquo a sua pronuacutencia tornando-a
menos temiacutevel
A Tanatologia eacute a ciecircncia que estuda a morte Segundo este saber o homem eacute
o uacutenico ser sobre a terra que tem consciecircncia da sua finitude o uacutenico a ter
consciecircncia de que sua passagem neste mundo eacute transitoacuteria e deve terminar
um dia Apesar dessa certeza o homem foi impelido a evitar a convivecircncia com
a morte no decorrer da histoacuteria
A seguir pontuarei de forma sinteacutetica as diferentes interpretaccedilotildees da morte
segundo algumas das grandes correntes religiosas
Para os judeus e cristatildeos que acreditava na ressurreiccedilatildeo apoacutes a morte esta
seria o acesso para outra dimensatildeo da vida que poderia ser no inferno ou no
paraiacuteso conforme os seus feitos terrenos a partir da observacircncia dos
mandamentos de Deus
De acordo com Pessini (1999) apud Gutierrez (2003) ldquoo catolicismo prega que
os esforccedilos para manter a vida fiacutesica podem ser encerrados caso a
continuaccedilatildeo da vida bioloacutegica ao inveacutes de promover a integraccedilatildeo da vida
espiritual e moral do indiviacuteduo torne-se vatilderdquo
O budismo natildeo encara a morte como o fim da vida mas sim como uma
transiccedilatildeo defendendo o direito do indiviacuteduo de determinar o momento em que
deseja passar desta existecircncia para a seguinte Enfatiza que o importante no
momento da morte eacute que a mente permaneccedila em paz e harmonia consigo
mesmo
No islamismo a concepccedilatildeo de vida eacute sagrada a morte eacute interpretada como a
conclusatildeo de uma vida e o comeccedilo de outra
Apesar das diferentes interpretaccedilotildees das diversas correntes religiosas haacute
consenso de que o apoio espiritual constitui elemento valioso dado ao paciente
no processo de morrer
A morte eacute parte integrante do processo de desenvolvimento humano e estaacute
presente no cotidiano diaacuterio de nossas vidas A forma de percepccedilatildeo
significaccedilatildeo e comportamento do processo de morte e morrer variam conforme
o contexto soacutecio-cultural e histoacuterico e vem sofrendo alteraccedilotildees atraveacutes das
diferentes civilizaccedilotildees ateacute os dias atuais
[] Os povos mesopotacircmios tinham por costume enterrar os corpos dos mortos da maneira mais escrupulosa sendo o cadaacutever cuidadosamente acompanhado de todas as marcas mais distintas de sua identidade pessoal e familiar como seus pertences insiacutegnias e objetos de uso suas vestimentas e ateacute mesmo de suas comidas
prediletas (GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)
Para essa civilizaccedilatildeo a morte seria uma espeacutecie de rebaixamento da vida o
apagamento dessa mesma existecircncia
Os antigos egiacutepcios sepultavam seus mortos juntamente com as roupas e os
alimentos para que continuassem felizes e da mesma forma os antigos iacutendios
americanos que enterravam seus parentes com tudo o que lhes pertencia
Esses falavam dos espiacuteritos do mal e atiravam flechas ao ar para afugentaacute-los
Os hebreus consideravam o corpo do morto como alguma coisa impura que
natildeo podia ser tocada (KUumlBLER-ROSS 2008)
Os antigos hindus incineravam seus mortos e suas cinzas eram lanccediladas ao
vento ou nas aacuteguas dos rios sendo o morto despojado de todos os seus
traccedilos de identidade
Para os antigos gregos a incineraccedilatildeo determinava dois tipos de mortos o cadaacutever do homem comum e o cadaacutever dos grandes heroacuteis Ao anocircnimo cabia o crematoacuterio coletivo e o depoacutesito de suas cinzas em vala comum Os corpos falecidos dos heroacuteis eram cremados na cerimocircnia da bela morte onde os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos A proacutepria morte seria a prova de sua virtude tornando-o um indiviacuteduo cuja vida eacute digna de ser lembrada
(GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)
Os primeiros cemiteacuterios surgiram a partir do seacuteculo V e eram localizados junto
agraves igrejas cristatildes Esses cemiteacuterios faziam parte do cenaacuterio de vida das
pessoas tinham papel de praccedila puacuteblica eram lugares de julgamentos das
execuccedilotildees e dos encontros amorosos
Na Idade Meacutedia a morte era entendida com naturalidade fazendo parte do
ambiente domeacutestico O ritual da morte envolvia tanto a pessoa que ia morrer
como os seus parentes e amigos Naquela eacutepoca os nobres eram enterrados
no interior das igrejas enquanto os pobres erram colocados em covas
coletivas
Tanto a famiacutelia como os amigos do morto manifestavam o processo do luto
atraveacutes do uso de roupas pretas e da natildeo participaccedilatildeo na vida social ateacute que
natildeo acontecesse a elaboraccedilatildeo do oacutebito As pessoas que sabiam que iam
morrer protagonizavam todo o ritual despedindo-se dos entes queridos
fazendo o testamento buscando se reconciliar com as pessoas e superar as
maacutegoas A comunidade participava ativamente de todo esse processo (AGRA
ALBUQUERQUE 2008)
Gutierrez (2003) tomando como referencial o estudo de Pessini (1999) fez
uma breve abordagem sobre o processo de morte e morrer a partir da idade
meacutedia ateacute a deacutecada de 70 do seacuteculo XX
Durante os seacuteculos XI e XII iniciaram-se mudanccedilas sutis na maneira
tradicional de o homem atuar diante da morte
No periacuteodo entre os seacuteculos XII a XV houve uma maior conscientizaccedilatildeo
do homem em relaccedilatildeo aacute sua proacutepria morte
Jaacute no seacuteculo XVI a morte distanciou-se das situaccedilotildees mais corriqueiras
e passou a representar uma separaccedilatildeo inaceitaacutevel iniciando um
processo de visualizaccedilatildeo da morte do outro que passou a ser dramaacutetica
e mais complexa
No final do seacuteculo XVIII surgiram duas mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave morte A
benevolecircncia com a ideacuteia da morte e a relaccedilatildeo entre moribundo e seus
familiares O termo benevolecircncia significa boa vontade para com todos
Na primeira metade do seacuteculo XIX a morte era um fenocircmeno bastante
presente e encarado como fato social e puacuteblico em que parentes e
amigos vizinhos e ateacute mesmo crianccedilas permaneciam no quarto do
moribundo Nessa eacutepoca os ritos que acompanhavam a morte eram
realizados com tranquumlilidade e aceitaccedilatildeo
No decorrer dos anos a atitude do homem em relaccedilatildeo agrave morte sofreu
modificaccedilotildees e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaccediladora
Poupa-se o moribundo de saber sobre suas reais condiccedilotildees de sauacutede A
verdade eacute negada com o intuito de privar o doente do sofrimento A
extrema unccedilatildeo que era oferecida ao moribundo em meados do seacuteculo
XX passou a ser dada somente apoacutes sua morte
A partir da segunda metade do seacuteculo XX a morte foi transferida para os
hospitais e passou a ser vista como um fenocircmeno teacutecnico agraves vezes
adiada ou antecipada a depender dos interesses dos que tentavam
domina-la O Meacutedico transformou-se em heroacutei na luta contra a morte
Atualmente os avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos tornaram a morte um
evento institucionalizado Eacute cada vez mais comum as pessoas morrerem
no hospital O doente perde o direito de opinar sobre sua morte o
meacutedico tornou-se personagem principal e a famiacutelia passou a sentir-se
protegida por natildeo ter que presenciar a morte de um ente querido Nesse
contexto a morte passa a ocorrer em cenaacuterio composto por fios
maacutequinas aparelhos e pessoas estranhas geralmente equipe meacutedica e
de enfermagem
A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma
instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para
o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras
Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer
acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive
a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e
na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu
avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer
de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo
conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em
seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de
familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi
encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi
celebrada uma missa de corpo presente
Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em
ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de
fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com
breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra
que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e
desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida
23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER
O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa
maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo
diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito
especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e
descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute
dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que
encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo
humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas
verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo
Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-
Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute
em fase terminal a saber
Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do
doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente
ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo
Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos
comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que
algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo
todo
Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja
O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade
(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da
raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo
Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma
coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio
mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento
Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio
Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da
capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da
vida
Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar
depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima
com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase
mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas
preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser
confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute
importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma
desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da
chegada ao fim em paz
Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se
sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila
algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses
estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo
psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses
estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte
iminente
Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei
algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim
uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi
sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua
confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo
poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha
confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo
de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de
ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de
morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles
no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos
Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta
Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca
De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por
causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir
algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem
responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas
Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante
aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e
geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los
Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do
paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida
e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade
ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar
esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de
vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando
na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral
Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de
deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias
como inchaccedilo naacuteusea e dor
Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos
agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o
paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees
conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo
deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos
para uma morte digna e sem sofrimento
Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida
para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou
como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de
cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam
sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam
despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo
Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a
audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada
perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir
Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de
alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as
pessoas envolvidas
Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes
optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte
sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para
estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale
ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos
proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou
simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano
trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as
informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes
crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse
doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais
humanizado
Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de
morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir
poderaacute nos auxiliar nesse processo
Carta dos Pacientes Terminais
- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que
eu morra
- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas
possam acontecer
- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o
sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas
- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e
emoccedilotildees diante da minha morte
- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus
cuidados e tratamentos
- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem
mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode
confortordquo
- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho
- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto
- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado
- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas
honestamente
- Tenho o direito de natildeo ser enganado
- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou
experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos
demais
- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser
julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves
crenccedilas dos demais
- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de
meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados
- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis
humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas
necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a
minha privacidade
- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI
1996 APUD GUTIERREZ 2003)
24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica
Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes
mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato
e a observaccedilatildeo constante
Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico
e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com
alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a
elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre
outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo
atualmente
Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede
descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute
de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade
Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade
proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica
de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas
que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais
complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica
e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico
e recursos humanos especializados
Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os
paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do
tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida
prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da
famiacutelia e do cliente
As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses
pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e
extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave
manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e
adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA
2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas
ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de
interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao
paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores
relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante
tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons
monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e
ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre
outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua
privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar
esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo
vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo
Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional
muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em
estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade
criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo
profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao
paciente no processo de morte
A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe
multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do
leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto
discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no
intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade
fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo
conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida
(SILVA 2001)
Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal
durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido
contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se
impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo
endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais
membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de
comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo
profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a
importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes
da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos
postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais
organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida
entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)
Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam
diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos
pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para
o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem
sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus
familiares diante da finitude da vida
De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo
emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa
depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o
paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade
Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas
e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos
sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de
existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma
determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se
necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e
preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de
forma humanizada
Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta
[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo
Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)
ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a
deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes
consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu
sofrimentordquo
Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso
que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter
firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de
enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando
assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver
excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio
de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato
estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos
menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a
deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito
profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no
meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira
de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia
A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural
e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada
como uma das maiores estudiosas do assunto
A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte
A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais
membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma
assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais
necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida
Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente
consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-
espiritual
3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA
A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento
bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto
Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel
proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de
medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro
do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova
perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no
final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de
suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo
baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais
meacutedicos e familiares a saber
Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)
preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc
Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da
famiacutelia amigos e demais entes queridos)
Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos
importantes
Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex
testamentos venda de propriedade etc)
Evitar um processo longo de morte
Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica
brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na
medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo
coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer
todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e
obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que
estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute
receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel
Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites
de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe
envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e
poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz
sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica
meacutedica)
Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades
espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir
holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos
fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os
profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para
confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento
diante do processo de morte
A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de
sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que
lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto
que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre
as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado
na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda
Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o
envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do
paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade
de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus
familiaresrdquo
Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar
que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos
(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo
segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas
neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo
avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do
quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos
profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas
a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados
paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente
no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo
instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma
efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas
Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo
da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre
esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos
pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional
complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso
Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa
assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz
presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e
responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser
humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo
Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer
firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder
ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento
tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui
identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim
Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios
inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar
biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se
comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e
sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse
comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma
comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para
esse indiviacuteduo
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e
morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos
envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da
pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe
multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas
atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas
nesse estudo
Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu
para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem
ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma
morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano
Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar
aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente
abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por
Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo
incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e
enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de
trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da
enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida
deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que
estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI
Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira
cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja
prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer
Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no
processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo
especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas
riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho
considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada
particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco
Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas
pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina
paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais
envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de
uma Unidade de terapia Intensiva
Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o
aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que
eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor
considerado como desumanizante e frio
Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais
profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado
REFEREcircNCIAS
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RESUMO
A unidade de terapia Intensiva (UTI) muitas vezes eacute vista como um setor desumanizante e frio onde a tecnologia prevalece em relaccedilatildeo agraves accedilotildees humaniacutesticas Eacute nesse ambiente afastados dos seus entes que os pacientes em processo de morte passam seus uacuteltimos momentos em companhia de estranhos normalmente profissionais da enfermagem ou meacutedicos Esse estudo teve por objetivo analisar na literatura propostas e iniciativas que visem uma morte digna e mais humana em UTI Trata-se de uma revisatildeo bibliograacutefica de caraacuteter qualitativo e exploratoacuterio A busca do material foi realizada em bancos de dados informatizados e em livros e perioacutedicos da aacuterea Os resultados demonstram que os trabalhos realizados por enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo proposto satildeo incipientes e a temaacutetica em foco eacute constantemente abordada por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Considerando-se a anaacutelises dos textos identificados e as observaccedilotildees pessoais relacionadas ao estudo conclue-se que a morte de uma pessoa sem probabilidade de cura pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina paliativa cuidados centrados na famiacutelia e capacitaccedilatildeo dos profissionais envolvidos no processo de mortemorrer forem trazido para o ambiente de UTI PALAVRAS-CHAVE Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Unidade de terapia Intensiva Morte Paciente
ABSTRACT
The intensive care unit (ICU) is often seen as a dehumanizing and cold sector where technology prevails in relation to humanistic actions It is in this environment away from their loved that patients undergoing death spend their last moments in the company of strangers usually nursing or medical professionals This study aimed to analyze the literature and proposed initiatives to a more humane and dignified death in the ICU This is a review of qualitative and exploratory The pursuit of material was done in computerized databases and books and journals The results demonstrate that the work done by nurses that meet the proposed goal is rarely in focus and the theme is constantly approached by medical professionals and psychologists Considering the analysis of texts identified and personal observations related to the study concludes that the death of a person with no chance of cure can be dignified and humane if the basic principles of palliative medicine family-centered care and training of professionals involved in case of death dying are brought to the ICU environment KEYWORDS Humanization of Assistance the Intensive Care Unit Death Patie
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO09
2 REVISAtildeO DA LITERATURA12
21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA12
22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER14
23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE
MORTEMORRER19
24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA
(UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER24
3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA29
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS32
REFEREcircNCIAS34
1 INTRODUCcedilAtildeO
APRESENTACcedilAtildeO DO OBJETO DE ESTUDO
Na rotina do profissional de sauacutede o tema morte eacute pouco comentado atuam na
perspectiva de promover a sauacutede prolongar e manter a vida Segundo estudos
ao longo da graduaccedilatildeo os assuntos abordados satildeo no acircmbito da fisiopatologia
e nos procedimentos teacutecnicos utilizados na atenccedilatildeo a paciente grave Aspectos
relacionados ao preparo emocional e psicoloacutegico necessaacuterios no atendimento
desses e aos seus familiares satildeo negligenciados observando-se uma
ldquodesumanizaccedilatildeordquo no atendimento ao paciente terminal (BALSANELLI
SANTOS SOLER 2002)
Eacute do conhecimento que no decorrer dos uacuteltimos seacuteculos a partir do surgimento
dos hospitais e unidades complexas e especializadas como as Unidades de
Terapia Intensivas (UTI) as pessoas doentes ou em estado grave da doenccedila
destinam-se para essas unidades em busca da cura ou tratamento de sauacutede
Entretanto diante do insucesso da terapecircutica empreendida e falta de
perspectiva de sobrevivecircncia o doente entra no processo de morte Assim
afastados dos seus entes passam seus uacuteltimos dias num leito hospitalar em
companhia de estranhos Encontram-se soacutes com seu sofrimento e noacutes
profissionais responsaacuteveis pelo cuidado assumimos em alguns casos o papel
da famiacutelia permanecendo aacute beira do leito nos seus uacuteltimos momento
JUSTIFICATIVA
No meu cotidiano de trabalho em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) enquanto
profissional de enfermagem de niacutevel meacutedio prestei assistecircncia agrave beira do leito
a vaacuterios pacientes moribundos nos seus uacuteltimos momentos de vida Apesar de
lidar com a morte cotidianamente e atuar de acordo com os valores eacuteticos
cultuando o respeito ao ser humano sob meus cuidados sentia-me
despreparada ao lidar com a situaccedilatildeo tambeacutem percebia o mesmo com os
demais colegas da equipe Imaginava que durante a graduaccedilatildeo em
enfermagem teria o aprendizado necessaacuterio para assistir de forma adequada o
paciente no processo de mortemorrer Isso natildeo ocorreu o assunto foi pouco
discutido na disciplina de psicologia Assim surgiu meu interesse pelo
embasamento literaacuterio e consequentemente adquirir habilidades para prestar
uma assistecircncia de qualidade diferenciada e humanizada a fim de
proporcionar uma morte ldquomais dignardquo aos clientes sob meus cuidados
PROBLEMA
Que iniciativas podem ser tomadas para tornar a morte mais digna e mais
humana dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI)
OBJETIVO
Analisar na literatura propostas e iniciativas que visem uma morte digna e mais
humana em Unidade de Terapia Intensiva
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisatildeo bibliograacutefica tendo como base a anaacutelise e
interpretaccedilatildeo de literaturas especiacuteficas dissertaccedilotildees teses perioacutedicos artigos
livros e outras publicaccedilotildees nacionais em consonacircncia com o objetivo proposto
Os descritores utilizados foram morte enfermagem UTI e humanizaccedilatildeo da
assistecircncia
Segundo Tognetti (2006) a pesquisa bibliograacutefica eacute fundamentada nos
conhecimentos de biblioteconomia documentaccedilatildeo e bibliografia sua finalidade
eacute colocar o pesquisador em contato com o que jaacute se produziu a respeito do seu
tema de pesquisa Trata-se de uma pesquisa com caraacuteter exploratoacuterio e
qualitativo De acordo com Godoy (1995 p21) ldquo[] a pesquisa qualitativa
ocupa um reconhecido lugar entre as vaacuterias possibilidades de se estudar os
fenocircmenos que envolvem os seres humanos e suas intricadas relaccedilotildees sociais
estabelecidas em diversos ambientesrdquo Jaacute para Richardson (1999 p17) visa
descobrir as semelhanccedilas entre fenocircmenos ldquoos pressupostos teoacutericos natildeo
estatildeo claros ou satildeo difiacuteceis de encontrar Nessa situaccedilatildeo faz-se uma pesquisa
natildeo apenas para conhecer o tipo de relaccedilatildeo existente mas sobretudo para
determinar a existecircncia de relaccedilatildeordquo
A pesquisa exploratoacuteria eacute ideal quando se deseja explorar o novo ainda natildeo
considerado como ciecircncia mas que serve de base agrave mesma Pode-se basear
neste tipo de pesquisa na ocorrecircncia de bibliografia escassa sobre o tema em
estudo (LEITE 2008)
Apoacutes leitura na iacutentegra e interpretaccedilatildeo dos textos selecionados buscou-se obter
a resposta do problema da pesquisa
ESTRUTURA
Organizei este estudo em trecircs momentos nos quais procurei descrever sobre o
assunto proposto de forma simples e coerente
No primeiro momento apresento o objeto de estudo relato meu interesse em
discorrer sobre o tema descrevo tambeacutem o objetivo com base no problema em
questatildeo
Logo apoacutes no segundo momento faccedilo consideraccedilotildees sobre humanizaccedilatildeo da
assistecircncia apresento tambeacutem uma concisatildeo sobre o morrer e faccedilo alguns
comentaacuterios acerca do paciente moribundo em UTI Em seguida comento
sobre a equipe de enfermagem e a assistecircncia durante o processo
mortemorrer
Prosseguindo no terceiro momento apresento a anaacutelise dos dados
pesquisados
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA
Segundo Ferreira (2000) humanizar significa tornar humano dar condiccedilatildeo
humana tornar afaacutevel e trataacutevel A humanizaccedilatildeo da assistecircncia requer
conscientizaccedilatildeo e preparo da equipe para um cuidado diferenciado
entendendo o paciente como um ser humano
Alguns estudos na aacuterea da medicina intensivista apontam para a necessidade
de mudar o enfoque predominantemente tecnicista paciente-doenccedila para uma
abordagem mais humana que engloba o paciente de forma holiacutestica ou seja
percebendo-o como um ser inserido num contexto e que necessita ser
atendido nos aspectos fiacutesicos psicoloacutegicos sociais e espirituais A medicina
paliativa vem sendo destacada nas literaturas em geral na aacuterea de oncologia
entretanto tem ganhado destaque tambeacutem nas literaturas pertinentes ao
intensivismo (GARROS 2003)
ldquoA medicina paliativa se desenvolveu como uma reaccedilatildeo agrave medicina moderna
altamente tecnicista que prioriza a cura em vez do cuidadordquo (PESSINI 2006)
A filosofia dos cuidados paliativos a) afirma a vida e encara o morrer como um processo normal b) natildeo apressa nem adia a morte c) procura aliviar a dor e outros sintomas angustiantes d) integra os aspectos psicoloacutegicos e espirituais nos cuidados com o paciente e) oferece um sistema de apoio para ajudar os pacientes a viver ativamente o maacuteximo possiacutevel ateacute a morte f) oferece um sistema de apoio para ajudar a famiacutelia a lidar com a doenccedila do paciente e seu proacuteprio luto (PESSINI 2003 apud PESSINI 2006)
Essa nova perspectiva constitui desafio para os profissionais de sauacutede visto
que o paciente no processo de morte deixa de ser aquele por quem nada si
pode fazer e passa a ser considerado como aquele que natildeo responde mais as
medidas terapecircuticas de cura Desta forma sob a filosofia dos cuidados
paliativos temos muito que fazer para proporcionar uma morte mais digna
decente ou aceitaacutevel para um ser humano A humanizaccedilatildeo do morrer apoacuteia a
concepccedilatildeo de que a morte natildeo eacute um inimigo a ser combatido ela faz parte do
ciclo vital e do adoecer
A proposta dos cuidados paliativos eacute permitir que a pessoa viva intensamente
seus dias finais de vida com controle da dor e sendo assistido de forma
holiacutestica Partindo da ideacuteia de que ldquomais vale acrescentar vida ao tempo do que
tempo agrave vidardquo
O Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo Hospitalar - PNHAH foi instituiacutedo pelo
Ministeacuterio da Sauacutede atraveacutes da portaria nordm 881 de 19 06 2001 no acircmbito do
Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2002) O PNHAH faz parte de um processo
de discussatildeo e implementaccedilatildeo de projetos de humanizaccedilatildeo do atendimento a
sauacutede e de melhoria da qualidade do vinculo estabelecido entre trabalhador da
sauacutede pacientes e familiares
A famiacutelia enquanto extensatildeo do paciente deveraacute ser incluiacuteda no processo de
cuidado deste poreacutem natildeo como auxiliar ao nosso trabalho mas como
indiviacuteduos a serem cuidados tambeacutem pela enfermagem Essa deveraacute oferecer
o suporte necessaacuterio esclarecer as duacutevidas atender e acolher prontamente e
de maneira empaacutetica esse suporte primaacuterio do paciente conquistando assim
sua confianccedila A inclusatildeo da famiacutelia no processo de cuidado em Unidade de
terapia Intensiva (UTI) eacute indispensaacutevel para podermos atender o paciente de
forma holiacutestica (NASCIMENTO MARTINS 2000)
Humanizar significa a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito
com o outro acolher o desconhecido e reconhecer os limites A humanizaccedilatildeo
requer uma interaccedilatildeo harmoniosa entre o cuidado teacutecnico e cientiacutefico Requer
tambeacutem compromisso eacutetico de todos os profissionais envolvidos na assistecircncia
desde os atendentes da recepccedilatildeo ateacute a equipe envolvida diretamente com a
assistecircncia do paciente e famiacutelia O processo do cuidado de enfermagem por
se soacute constitui um ato humanizado visto que os objetivos do cuidar envolvem
aliviar confortar ajudar favorecer promover entre outros (MORAES
GARDA FONSECA 2004) Segundo esses autores
Humanizar de acordo com os valores eacuteticos consiste fundamentalmente em tornar uma praacutetica bela por mais que ela lide com o que tem de mais degradante doloroso e triste na natureza humana o sofrimento a deterioraccedilatildeo e a morte Refere-se portanto a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito ao outro e de reconhecimento dos limites O ponto chave do trabalho de humanizaccedilatildeo estaacute no fortalecimento desta posiccedilatildeo eacutetica de articulaccedilatildeo do cuidado teacutecnico cientifico jaacute construiacutedo conhecido e dominado ao cuidado que incorpora a necessidade a exploraccedilatildeo e o acolhimento do imprevisiacutevel do incontrolaacutevel ao indiferente e singular
Minayo (2004) considera que ao se propor um cuidado humanizado deve-se
repensar a formaccedilatildeo profissional na aacuterea de sauacutede Para esse autor apesar
das propostas de mudanccedilas de modelo de atenccedilatildeo da sauacutede que prega a
integralidade e a humanizaccedilatildeo da assistecircncia e da crise da ciecircncia racionalista
predomina ainda o aprendizado teacutecnico racional e individualizado empregado
muitas vezesrdquo sem o exerciacutecio da criacutetica criatividade e sensibilidaderdquo
Refletindo portanto no despreparo dos profissionais em proporcionar um
cuidado humanizado cada vez mais exigido nos serviccedilos que utilizam alta
tecnologia como as Unidades de Terapia Intensiva
Felizmente percebemos uma seacuterie de estudos relacionados agrave necessidade de
humanizaccedilatildeo desses serviccedilos por forccedila do efeito negativo do ambiente sobre
pacientes famiacutelia e equipe multiprofissional Os estudos mostram tambeacutem que
os profissionais de sauacutede tecircm consciecircncia de que humanizaccedilatildeo eacute uma palavra
aparentemente faacutecil de entender poreacutem no dia-a-dia natildeo eacute tatildeo faacutecil praticaacute-la
22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER
A compreensatildeo sobre a morte influencia na qualidade de vida da pessoa e na
forma como ela interage no seu dia-a-dia com o processo de morte e morrer
Ao pesquisar sobre a definiccedilatildeo das palavras morte e morrer no dicionaacuterio de
liacutengua portuguesa fica-se impressionado com a quantidade de sinocircnimos
atribuiacutedos a elas
Morte significa cessaccedilatildeo da vida fim Jaacute a palavra morrer significa rdquoperder a
vida falecer finar-se fenecer expirar desaparecer descansar desencarnar
ir perecer sucumbir espichar esticar estinguir-se acabar (-se)rdquo (FERREIRA
2000)
Jaacute no dicionaacuterio meacutedico traz as seguintes consideraccedilotildees
1-Cessaccedilatildeo total e irreversiacutevel da funccedilatildeo cerebral funccedilatildeo espontacircnea dos sistemas respiratoacuterio e circulatoacuterio 2 - A cessaccedilatildeo final e irreversiacutevel dos batimentos cardiacuteacos e respiraccedilotildees perceptiacuteveis [] o principal sinal de morte eacute a cessaccedilatildeo da accedilatildeo do coraccedilatildeo Outras indicaccedilotildees satildeo ausecircncia de reflexos cessaccedilatildeo da atividade eleacutetrica do ceacuterebro determinada pelo eletro encefalograma (EEC) manifestaccedilatildeo de rigor mortis e uma descoloraccedilatildeo mosqueada no corpo (THOMAS 2000)
Como podemos observar existem vaacuterias denominaccedilotildees para substituir a
palavra morte talvez o objetivo real seja ldquosuavizarrdquo a sua pronuacutencia tornando-a
menos temiacutevel
A Tanatologia eacute a ciecircncia que estuda a morte Segundo este saber o homem eacute
o uacutenico ser sobre a terra que tem consciecircncia da sua finitude o uacutenico a ter
consciecircncia de que sua passagem neste mundo eacute transitoacuteria e deve terminar
um dia Apesar dessa certeza o homem foi impelido a evitar a convivecircncia com
a morte no decorrer da histoacuteria
A seguir pontuarei de forma sinteacutetica as diferentes interpretaccedilotildees da morte
segundo algumas das grandes correntes religiosas
Para os judeus e cristatildeos que acreditava na ressurreiccedilatildeo apoacutes a morte esta
seria o acesso para outra dimensatildeo da vida que poderia ser no inferno ou no
paraiacuteso conforme os seus feitos terrenos a partir da observacircncia dos
mandamentos de Deus
De acordo com Pessini (1999) apud Gutierrez (2003) ldquoo catolicismo prega que
os esforccedilos para manter a vida fiacutesica podem ser encerrados caso a
continuaccedilatildeo da vida bioloacutegica ao inveacutes de promover a integraccedilatildeo da vida
espiritual e moral do indiviacuteduo torne-se vatilderdquo
O budismo natildeo encara a morte como o fim da vida mas sim como uma
transiccedilatildeo defendendo o direito do indiviacuteduo de determinar o momento em que
deseja passar desta existecircncia para a seguinte Enfatiza que o importante no
momento da morte eacute que a mente permaneccedila em paz e harmonia consigo
mesmo
No islamismo a concepccedilatildeo de vida eacute sagrada a morte eacute interpretada como a
conclusatildeo de uma vida e o comeccedilo de outra
Apesar das diferentes interpretaccedilotildees das diversas correntes religiosas haacute
consenso de que o apoio espiritual constitui elemento valioso dado ao paciente
no processo de morrer
A morte eacute parte integrante do processo de desenvolvimento humano e estaacute
presente no cotidiano diaacuterio de nossas vidas A forma de percepccedilatildeo
significaccedilatildeo e comportamento do processo de morte e morrer variam conforme
o contexto soacutecio-cultural e histoacuterico e vem sofrendo alteraccedilotildees atraveacutes das
diferentes civilizaccedilotildees ateacute os dias atuais
[] Os povos mesopotacircmios tinham por costume enterrar os corpos dos mortos da maneira mais escrupulosa sendo o cadaacutever cuidadosamente acompanhado de todas as marcas mais distintas de sua identidade pessoal e familiar como seus pertences insiacutegnias e objetos de uso suas vestimentas e ateacute mesmo de suas comidas
prediletas (GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)
Para essa civilizaccedilatildeo a morte seria uma espeacutecie de rebaixamento da vida o
apagamento dessa mesma existecircncia
Os antigos egiacutepcios sepultavam seus mortos juntamente com as roupas e os
alimentos para que continuassem felizes e da mesma forma os antigos iacutendios
americanos que enterravam seus parentes com tudo o que lhes pertencia
Esses falavam dos espiacuteritos do mal e atiravam flechas ao ar para afugentaacute-los
Os hebreus consideravam o corpo do morto como alguma coisa impura que
natildeo podia ser tocada (KUumlBLER-ROSS 2008)
Os antigos hindus incineravam seus mortos e suas cinzas eram lanccediladas ao
vento ou nas aacuteguas dos rios sendo o morto despojado de todos os seus
traccedilos de identidade
Para os antigos gregos a incineraccedilatildeo determinava dois tipos de mortos o cadaacutever do homem comum e o cadaacutever dos grandes heroacuteis Ao anocircnimo cabia o crematoacuterio coletivo e o depoacutesito de suas cinzas em vala comum Os corpos falecidos dos heroacuteis eram cremados na cerimocircnia da bela morte onde os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos A proacutepria morte seria a prova de sua virtude tornando-o um indiviacuteduo cuja vida eacute digna de ser lembrada
(GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)
Os primeiros cemiteacuterios surgiram a partir do seacuteculo V e eram localizados junto
agraves igrejas cristatildes Esses cemiteacuterios faziam parte do cenaacuterio de vida das
pessoas tinham papel de praccedila puacuteblica eram lugares de julgamentos das
execuccedilotildees e dos encontros amorosos
Na Idade Meacutedia a morte era entendida com naturalidade fazendo parte do
ambiente domeacutestico O ritual da morte envolvia tanto a pessoa que ia morrer
como os seus parentes e amigos Naquela eacutepoca os nobres eram enterrados
no interior das igrejas enquanto os pobres erram colocados em covas
coletivas
Tanto a famiacutelia como os amigos do morto manifestavam o processo do luto
atraveacutes do uso de roupas pretas e da natildeo participaccedilatildeo na vida social ateacute que
natildeo acontecesse a elaboraccedilatildeo do oacutebito As pessoas que sabiam que iam
morrer protagonizavam todo o ritual despedindo-se dos entes queridos
fazendo o testamento buscando se reconciliar com as pessoas e superar as
maacutegoas A comunidade participava ativamente de todo esse processo (AGRA
ALBUQUERQUE 2008)
Gutierrez (2003) tomando como referencial o estudo de Pessini (1999) fez
uma breve abordagem sobre o processo de morte e morrer a partir da idade
meacutedia ateacute a deacutecada de 70 do seacuteculo XX
Durante os seacuteculos XI e XII iniciaram-se mudanccedilas sutis na maneira
tradicional de o homem atuar diante da morte
No periacuteodo entre os seacuteculos XII a XV houve uma maior conscientizaccedilatildeo
do homem em relaccedilatildeo aacute sua proacutepria morte
Jaacute no seacuteculo XVI a morte distanciou-se das situaccedilotildees mais corriqueiras
e passou a representar uma separaccedilatildeo inaceitaacutevel iniciando um
processo de visualizaccedilatildeo da morte do outro que passou a ser dramaacutetica
e mais complexa
No final do seacuteculo XVIII surgiram duas mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave morte A
benevolecircncia com a ideacuteia da morte e a relaccedilatildeo entre moribundo e seus
familiares O termo benevolecircncia significa boa vontade para com todos
Na primeira metade do seacuteculo XIX a morte era um fenocircmeno bastante
presente e encarado como fato social e puacuteblico em que parentes e
amigos vizinhos e ateacute mesmo crianccedilas permaneciam no quarto do
moribundo Nessa eacutepoca os ritos que acompanhavam a morte eram
realizados com tranquumlilidade e aceitaccedilatildeo
No decorrer dos anos a atitude do homem em relaccedilatildeo agrave morte sofreu
modificaccedilotildees e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaccediladora
Poupa-se o moribundo de saber sobre suas reais condiccedilotildees de sauacutede A
verdade eacute negada com o intuito de privar o doente do sofrimento A
extrema unccedilatildeo que era oferecida ao moribundo em meados do seacuteculo
XX passou a ser dada somente apoacutes sua morte
A partir da segunda metade do seacuteculo XX a morte foi transferida para os
hospitais e passou a ser vista como um fenocircmeno teacutecnico agraves vezes
adiada ou antecipada a depender dos interesses dos que tentavam
domina-la O Meacutedico transformou-se em heroacutei na luta contra a morte
Atualmente os avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos tornaram a morte um
evento institucionalizado Eacute cada vez mais comum as pessoas morrerem
no hospital O doente perde o direito de opinar sobre sua morte o
meacutedico tornou-se personagem principal e a famiacutelia passou a sentir-se
protegida por natildeo ter que presenciar a morte de um ente querido Nesse
contexto a morte passa a ocorrer em cenaacuterio composto por fios
maacutequinas aparelhos e pessoas estranhas geralmente equipe meacutedica e
de enfermagem
A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma
instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para
o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras
Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer
acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive
a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e
na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu
avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer
de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo
conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em
seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de
familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi
encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi
celebrada uma missa de corpo presente
Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em
ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de
fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com
breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra
que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e
desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida
23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER
O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa
maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo
diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito
especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e
descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute
dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que
encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo
humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas
verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo
Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-
Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute
em fase terminal a saber
Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do
doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente
ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo
Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos
comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que
algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo
todo
Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja
O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade
(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da
raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo
Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma
coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio
mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento
Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio
Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da
capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da
vida
Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar
depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima
com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase
mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas
preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser
confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute
importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma
desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da
chegada ao fim em paz
Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se
sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila
algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses
estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo
psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses
estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte
iminente
Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei
algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim
uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi
sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua
confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo
poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha
confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo
de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de
ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de
morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles
no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos
Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta
Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca
De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por
causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir
algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem
responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas
Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante
aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e
geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los
Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do
paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida
e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade
ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar
esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de
vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando
na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral
Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de
deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias
como inchaccedilo naacuteusea e dor
Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos
agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o
paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees
conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo
deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos
para uma morte digna e sem sofrimento
Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida
para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou
como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de
cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam
sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam
despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo
Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a
audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada
perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir
Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de
alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as
pessoas envolvidas
Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes
optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte
sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para
estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale
ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos
proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou
simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano
trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as
informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes
crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse
doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais
humanizado
Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de
morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir
poderaacute nos auxiliar nesse processo
Carta dos Pacientes Terminais
- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que
eu morra
- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas
possam acontecer
- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o
sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas
- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e
emoccedilotildees diante da minha morte
- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus
cuidados e tratamentos
- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem
mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode
confortordquo
- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho
- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto
- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado
- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas
honestamente
- Tenho o direito de natildeo ser enganado
- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou
experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos
demais
- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser
julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves
crenccedilas dos demais
- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de
meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados
- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis
humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas
necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a
minha privacidade
- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI
1996 APUD GUTIERREZ 2003)
24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica
Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes
mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato
e a observaccedilatildeo constante
Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico
e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com
alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a
elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre
outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo
atualmente
Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede
descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute
de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade
Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade
proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica
de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas
que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais
complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica
e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico
e recursos humanos especializados
Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os
paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do
tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida
prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da
famiacutelia e do cliente
As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses
pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e
extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave
manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e
adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA
2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas
ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de
interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao
paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores
relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante
tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons
monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e
ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre
outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua
privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar
esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo
vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo
Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional
muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em
estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade
criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo
profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao
paciente no processo de morte
A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe
multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do
leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto
discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no
intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade
fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo
conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida
(SILVA 2001)
Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal
durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido
contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se
impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo
endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais
membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de
comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo
profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a
importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes
da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos
postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais
organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida
entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)
Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam
diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos
pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para
o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem
sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus
familiares diante da finitude da vida
De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo
emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa
depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o
paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade
Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas
e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos
sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de
existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma
determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se
necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e
preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de
forma humanizada
Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta
[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo
Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)
ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a
deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes
consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu
sofrimentordquo
Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso
que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter
firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de
enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando
assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver
excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio
de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato
estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos
menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a
deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito
profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no
meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira
de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia
A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural
e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada
como uma das maiores estudiosas do assunto
A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte
A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais
membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma
assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais
necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida
Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente
consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-
espiritual
3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA
A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento
bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto
Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel
proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de
medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro
do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova
perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no
final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de
suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo
baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais
meacutedicos e familiares a saber
Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)
preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc
Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da
famiacutelia amigos e demais entes queridos)
Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos
importantes
Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex
testamentos venda de propriedade etc)
Evitar um processo longo de morte
Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica
brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na
medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo
coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer
todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e
obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que
estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute
receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel
Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites
de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe
envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e
poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz
sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica
meacutedica)
Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades
espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir
holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos
fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os
profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para
confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento
diante do processo de morte
A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de
sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que
lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto
que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre
as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado
na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda
Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o
envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do
paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade
de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus
familiaresrdquo
Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar
que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos
(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo
segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas
neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo
avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do
quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos
profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas
a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados
paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente
no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo
instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma
efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas
Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo
da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre
esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos
pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional
complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso
Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa
assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz
presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e
responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser
humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo
Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer
firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder
ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento
tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui
identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim
Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios
inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar
biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se
comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e
sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse
comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma
comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para
esse indiviacuteduo
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e
morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos
envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da
pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe
multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas
atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas
nesse estudo
Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu
para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem
ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma
morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano
Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar
aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente
abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por
Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo
incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e
enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de
trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da
enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida
deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que
estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI
Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira
cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja
prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer
Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no
processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo
especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas
riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho
considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada
particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco
Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas
pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina
paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais
envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de
uma Unidade de terapia Intensiva
Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o
aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que
eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor
considerado como desumanizante e frio
Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais
profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado
REFEREcircNCIAS
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ABSTRACT
The intensive care unit (ICU) is often seen as a dehumanizing and cold sector where technology prevails in relation to humanistic actions It is in this environment away from their loved that patients undergoing death spend their last moments in the company of strangers usually nursing or medical professionals This study aimed to analyze the literature and proposed initiatives to a more humane and dignified death in the ICU This is a review of qualitative and exploratory The pursuit of material was done in computerized databases and books and journals The results demonstrate that the work done by nurses that meet the proposed goal is rarely in focus and the theme is constantly approached by medical professionals and psychologists Considering the analysis of texts identified and personal observations related to the study concludes that the death of a person with no chance of cure can be dignified and humane if the basic principles of palliative medicine family-centered care and training of professionals involved in case of death dying are brought to the ICU environment KEYWORDS Humanization of Assistance the Intensive Care Unit Death Patie
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO09
2 REVISAtildeO DA LITERATURA12
21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA12
22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER14
23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE
MORTEMORRER19
24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA
(UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER24
3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA29
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS32
REFEREcircNCIAS34
1 INTRODUCcedilAtildeO
APRESENTACcedilAtildeO DO OBJETO DE ESTUDO
Na rotina do profissional de sauacutede o tema morte eacute pouco comentado atuam na
perspectiva de promover a sauacutede prolongar e manter a vida Segundo estudos
ao longo da graduaccedilatildeo os assuntos abordados satildeo no acircmbito da fisiopatologia
e nos procedimentos teacutecnicos utilizados na atenccedilatildeo a paciente grave Aspectos
relacionados ao preparo emocional e psicoloacutegico necessaacuterios no atendimento
desses e aos seus familiares satildeo negligenciados observando-se uma
ldquodesumanizaccedilatildeordquo no atendimento ao paciente terminal (BALSANELLI
SANTOS SOLER 2002)
Eacute do conhecimento que no decorrer dos uacuteltimos seacuteculos a partir do surgimento
dos hospitais e unidades complexas e especializadas como as Unidades de
Terapia Intensivas (UTI) as pessoas doentes ou em estado grave da doenccedila
destinam-se para essas unidades em busca da cura ou tratamento de sauacutede
Entretanto diante do insucesso da terapecircutica empreendida e falta de
perspectiva de sobrevivecircncia o doente entra no processo de morte Assim
afastados dos seus entes passam seus uacuteltimos dias num leito hospitalar em
companhia de estranhos Encontram-se soacutes com seu sofrimento e noacutes
profissionais responsaacuteveis pelo cuidado assumimos em alguns casos o papel
da famiacutelia permanecendo aacute beira do leito nos seus uacuteltimos momento
JUSTIFICATIVA
No meu cotidiano de trabalho em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) enquanto
profissional de enfermagem de niacutevel meacutedio prestei assistecircncia agrave beira do leito
a vaacuterios pacientes moribundos nos seus uacuteltimos momentos de vida Apesar de
lidar com a morte cotidianamente e atuar de acordo com os valores eacuteticos
cultuando o respeito ao ser humano sob meus cuidados sentia-me
despreparada ao lidar com a situaccedilatildeo tambeacutem percebia o mesmo com os
demais colegas da equipe Imaginava que durante a graduaccedilatildeo em
enfermagem teria o aprendizado necessaacuterio para assistir de forma adequada o
paciente no processo de mortemorrer Isso natildeo ocorreu o assunto foi pouco
discutido na disciplina de psicologia Assim surgiu meu interesse pelo
embasamento literaacuterio e consequentemente adquirir habilidades para prestar
uma assistecircncia de qualidade diferenciada e humanizada a fim de
proporcionar uma morte ldquomais dignardquo aos clientes sob meus cuidados
PROBLEMA
Que iniciativas podem ser tomadas para tornar a morte mais digna e mais
humana dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI)
OBJETIVO
Analisar na literatura propostas e iniciativas que visem uma morte digna e mais
humana em Unidade de Terapia Intensiva
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisatildeo bibliograacutefica tendo como base a anaacutelise e
interpretaccedilatildeo de literaturas especiacuteficas dissertaccedilotildees teses perioacutedicos artigos
livros e outras publicaccedilotildees nacionais em consonacircncia com o objetivo proposto
Os descritores utilizados foram morte enfermagem UTI e humanizaccedilatildeo da
assistecircncia
Segundo Tognetti (2006) a pesquisa bibliograacutefica eacute fundamentada nos
conhecimentos de biblioteconomia documentaccedilatildeo e bibliografia sua finalidade
eacute colocar o pesquisador em contato com o que jaacute se produziu a respeito do seu
tema de pesquisa Trata-se de uma pesquisa com caraacuteter exploratoacuterio e
qualitativo De acordo com Godoy (1995 p21) ldquo[] a pesquisa qualitativa
ocupa um reconhecido lugar entre as vaacuterias possibilidades de se estudar os
fenocircmenos que envolvem os seres humanos e suas intricadas relaccedilotildees sociais
estabelecidas em diversos ambientesrdquo Jaacute para Richardson (1999 p17) visa
descobrir as semelhanccedilas entre fenocircmenos ldquoos pressupostos teoacutericos natildeo
estatildeo claros ou satildeo difiacuteceis de encontrar Nessa situaccedilatildeo faz-se uma pesquisa
natildeo apenas para conhecer o tipo de relaccedilatildeo existente mas sobretudo para
determinar a existecircncia de relaccedilatildeordquo
A pesquisa exploratoacuteria eacute ideal quando se deseja explorar o novo ainda natildeo
considerado como ciecircncia mas que serve de base agrave mesma Pode-se basear
neste tipo de pesquisa na ocorrecircncia de bibliografia escassa sobre o tema em
estudo (LEITE 2008)
Apoacutes leitura na iacutentegra e interpretaccedilatildeo dos textos selecionados buscou-se obter
a resposta do problema da pesquisa
ESTRUTURA
Organizei este estudo em trecircs momentos nos quais procurei descrever sobre o
assunto proposto de forma simples e coerente
No primeiro momento apresento o objeto de estudo relato meu interesse em
discorrer sobre o tema descrevo tambeacutem o objetivo com base no problema em
questatildeo
Logo apoacutes no segundo momento faccedilo consideraccedilotildees sobre humanizaccedilatildeo da
assistecircncia apresento tambeacutem uma concisatildeo sobre o morrer e faccedilo alguns
comentaacuterios acerca do paciente moribundo em UTI Em seguida comento
sobre a equipe de enfermagem e a assistecircncia durante o processo
mortemorrer
Prosseguindo no terceiro momento apresento a anaacutelise dos dados
pesquisados
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA
Segundo Ferreira (2000) humanizar significa tornar humano dar condiccedilatildeo
humana tornar afaacutevel e trataacutevel A humanizaccedilatildeo da assistecircncia requer
conscientizaccedilatildeo e preparo da equipe para um cuidado diferenciado
entendendo o paciente como um ser humano
Alguns estudos na aacuterea da medicina intensivista apontam para a necessidade
de mudar o enfoque predominantemente tecnicista paciente-doenccedila para uma
abordagem mais humana que engloba o paciente de forma holiacutestica ou seja
percebendo-o como um ser inserido num contexto e que necessita ser
atendido nos aspectos fiacutesicos psicoloacutegicos sociais e espirituais A medicina
paliativa vem sendo destacada nas literaturas em geral na aacuterea de oncologia
entretanto tem ganhado destaque tambeacutem nas literaturas pertinentes ao
intensivismo (GARROS 2003)
ldquoA medicina paliativa se desenvolveu como uma reaccedilatildeo agrave medicina moderna
altamente tecnicista que prioriza a cura em vez do cuidadordquo (PESSINI 2006)
A filosofia dos cuidados paliativos a) afirma a vida e encara o morrer como um processo normal b) natildeo apressa nem adia a morte c) procura aliviar a dor e outros sintomas angustiantes d) integra os aspectos psicoloacutegicos e espirituais nos cuidados com o paciente e) oferece um sistema de apoio para ajudar os pacientes a viver ativamente o maacuteximo possiacutevel ateacute a morte f) oferece um sistema de apoio para ajudar a famiacutelia a lidar com a doenccedila do paciente e seu proacuteprio luto (PESSINI 2003 apud PESSINI 2006)
Essa nova perspectiva constitui desafio para os profissionais de sauacutede visto
que o paciente no processo de morte deixa de ser aquele por quem nada si
pode fazer e passa a ser considerado como aquele que natildeo responde mais as
medidas terapecircuticas de cura Desta forma sob a filosofia dos cuidados
paliativos temos muito que fazer para proporcionar uma morte mais digna
decente ou aceitaacutevel para um ser humano A humanizaccedilatildeo do morrer apoacuteia a
concepccedilatildeo de que a morte natildeo eacute um inimigo a ser combatido ela faz parte do
ciclo vital e do adoecer
A proposta dos cuidados paliativos eacute permitir que a pessoa viva intensamente
seus dias finais de vida com controle da dor e sendo assistido de forma
holiacutestica Partindo da ideacuteia de que ldquomais vale acrescentar vida ao tempo do que
tempo agrave vidardquo
O Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo Hospitalar - PNHAH foi instituiacutedo pelo
Ministeacuterio da Sauacutede atraveacutes da portaria nordm 881 de 19 06 2001 no acircmbito do
Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2002) O PNHAH faz parte de um processo
de discussatildeo e implementaccedilatildeo de projetos de humanizaccedilatildeo do atendimento a
sauacutede e de melhoria da qualidade do vinculo estabelecido entre trabalhador da
sauacutede pacientes e familiares
A famiacutelia enquanto extensatildeo do paciente deveraacute ser incluiacuteda no processo de
cuidado deste poreacutem natildeo como auxiliar ao nosso trabalho mas como
indiviacuteduos a serem cuidados tambeacutem pela enfermagem Essa deveraacute oferecer
o suporte necessaacuterio esclarecer as duacutevidas atender e acolher prontamente e
de maneira empaacutetica esse suporte primaacuterio do paciente conquistando assim
sua confianccedila A inclusatildeo da famiacutelia no processo de cuidado em Unidade de
terapia Intensiva (UTI) eacute indispensaacutevel para podermos atender o paciente de
forma holiacutestica (NASCIMENTO MARTINS 2000)
Humanizar significa a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito
com o outro acolher o desconhecido e reconhecer os limites A humanizaccedilatildeo
requer uma interaccedilatildeo harmoniosa entre o cuidado teacutecnico e cientiacutefico Requer
tambeacutem compromisso eacutetico de todos os profissionais envolvidos na assistecircncia
desde os atendentes da recepccedilatildeo ateacute a equipe envolvida diretamente com a
assistecircncia do paciente e famiacutelia O processo do cuidado de enfermagem por
se soacute constitui um ato humanizado visto que os objetivos do cuidar envolvem
aliviar confortar ajudar favorecer promover entre outros (MORAES
GARDA FONSECA 2004) Segundo esses autores
Humanizar de acordo com os valores eacuteticos consiste fundamentalmente em tornar uma praacutetica bela por mais que ela lide com o que tem de mais degradante doloroso e triste na natureza humana o sofrimento a deterioraccedilatildeo e a morte Refere-se portanto a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito ao outro e de reconhecimento dos limites O ponto chave do trabalho de humanizaccedilatildeo estaacute no fortalecimento desta posiccedilatildeo eacutetica de articulaccedilatildeo do cuidado teacutecnico cientifico jaacute construiacutedo conhecido e dominado ao cuidado que incorpora a necessidade a exploraccedilatildeo e o acolhimento do imprevisiacutevel do incontrolaacutevel ao indiferente e singular
Minayo (2004) considera que ao se propor um cuidado humanizado deve-se
repensar a formaccedilatildeo profissional na aacuterea de sauacutede Para esse autor apesar
das propostas de mudanccedilas de modelo de atenccedilatildeo da sauacutede que prega a
integralidade e a humanizaccedilatildeo da assistecircncia e da crise da ciecircncia racionalista
predomina ainda o aprendizado teacutecnico racional e individualizado empregado
muitas vezesrdquo sem o exerciacutecio da criacutetica criatividade e sensibilidaderdquo
Refletindo portanto no despreparo dos profissionais em proporcionar um
cuidado humanizado cada vez mais exigido nos serviccedilos que utilizam alta
tecnologia como as Unidades de Terapia Intensiva
Felizmente percebemos uma seacuterie de estudos relacionados agrave necessidade de
humanizaccedilatildeo desses serviccedilos por forccedila do efeito negativo do ambiente sobre
pacientes famiacutelia e equipe multiprofissional Os estudos mostram tambeacutem que
os profissionais de sauacutede tecircm consciecircncia de que humanizaccedilatildeo eacute uma palavra
aparentemente faacutecil de entender poreacutem no dia-a-dia natildeo eacute tatildeo faacutecil praticaacute-la
22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER
A compreensatildeo sobre a morte influencia na qualidade de vida da pessoa e na
forma como ela interage no seu dia-a-dia com o processo de morte e morrer
Ao pesquisar sobre a definiccedilatildeo das palavras morte e morrer no dicionaacuterio de
liacutengua portuguesa fica-se impressionado com a quantidade de sinocircnimos
atribuiacutedos a elas
Morte significa cessaccedilatildeo da vida fim Jaacute a palavra morrer significa rdquoperder a
vida falecer finar-se fenecer expirar desaparecer descansar desencarnar
ir perecer sucumbir espichar esticar estinguir-se acabar (-se)rdquo (FERREIRA
2000)
Jaacute no dicionaacuterio meacutedico traz as seguintes consideraccedilotildees
1-Cessaccedilatildeo total e irreversiacutevel da funccedilatildeo cerebral funccedilatildeo espontacircnea dos sistemas respiratoacuterio e circulatoacuterio 2 - A cessaccedilatildeo final e irreversiacutevel dos batimentos cardiacuteacos e respiraccedilotildees perceptiacuteveis [] o principal sinal de morte eacute a cessaccedilatildeo da accedilatildeo do coraccedilatildeo Outras indicaccedilotildees satildeo ausecircncia de reflexos cessaccedilatildeo da atividade eleacutetrica do ceacuterebro determinada pelo eletro encefalograma (EEC) manifestaccedilatildeo de rigor mortis e uma descoloraccedilatildeo mosqueada no corpo (THOMAS 2000)
Como podemos observar existem vaacuterias denominaccedilotildees para substituir a
palavra morte talvez o objetivo real seja ldquosuavizarrdquo a sua pronuacutencia tornando-a
menos temiacutevel
A Tanatologia eacute a ciecircncia que estuda a morte Segundo este saber o homem eacute
o uacutenico ser sobre a terra que tem consciecircncia da sua finitude o uacutenico a ter
consciecircncia de que sua passagem neste mundo eacute transitoacuteria e deve terminar
um dia Apesar dessa certeza o homem foi impelido a evitar a convivecircncia com
a morte no decorrer da histoacuteria
A seguir pontuarei de forma sinteacutetica as diferentes interpretaccedilotildees da morte
segundo algumas das grandes correntes religiosas
Para os judeus e cristatildeos que acreditava na ressurreiccedilatildeo apoacutes a morte esta
seria o acesso para outra dimensatildeo da vida que poderia ser no inferno ou no
paraiacuteso conforme os seus feitos terrenos a partir da observacircncia dos
mandamentos de Deus
De acordo com Pessini (1999) apud Gutierrez (2003) ldquoo catolicismo prega que
os esforccedilos para manter a vida fiacutesica podem ser encerrados caso a
continuaccedilatildeo da vida bioloacutegica ao inveacutes de promover a integraccedilatildeo da vida
espiritual e moral do indiviacuteduo torne-se vatilderdquo
O budismo natildeo encara a morte como o fim da vida mas sim como uma
transiccedilatildeo defendendo o direito do indiviacuteduo de determinar o momento em que
deseja passar desta existecircncia para a seguinte Enfatiza que o importante no
momento da morte eacute que a mente permaneccedila em paz e harmonia consigo
mesmo
No islamismo a concepccedilatildeo de vida eacute sagrada a morte eacute interpretada como a
conclusatildeo de uma vida e o comeccedilo de outra
Apesar das diferentes interpretaccedilotildees das diversas correntes religiosas haacute
consenso de que o apoio espiritual constitui elemento valioso dado ao paciente
no processo de morrer
A morte eacute parte integrante do processo de desenvolvimento humano e estaacute
presente no cotidiano diaacuterio de nossas vidas A forma de percepccedilatildeo
significaccedilatildeo e comportamento do processo de morte e morrer variam conforme
o contexto soacutecio-cultural e histoacuterico e vem sofrendo alteraccedilotildees atraveacutes das
diferentes civilizaccedilotildees ateacute os dias atuais
[] Os povos mesopotacircmios tinham por costume enterrar os corpos dos mortos da maneira mais escrupulosa sendo o cadaacutever cuidadosamente acompanhado de todas as marcas mais distintas de sua identidade pessoal e familiar como seus pertences insiacutegnias e objetos de uso suas vestimentas e ateacute mesmo de suas comidas
prediletas (GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)
Para essa civilizaccedilatildeo a morte seria uma espeacutecie de rebaixamento da vida o
apagamento dessa mesma existecircncia
Os antigos egiacutepcios sepultavam seus mortos juntamente com as roupas e os
alimentos para que continuassem felizes e da mesma forma os antigos iacutendios
americanos que enterravam seus parentes com tudo o que lhes pertencia
Esses falavam dos espiacuteritos do mal e atiravam flechas ao ar para afugentaacute-los
Os hebreus consideravam o corpo do morto como alguma coisa impura que
natildeo podia ser tocada (KUumlBLER-ROSS 2008)
Os antigos hindus incineravam seus mortos e suas cinzas eram lanccediladas ao
vento ou nas aacuteguas dos rios sendo o morto despojado de todos os seus
traccedilos de identidade
Para os antigos gregos a incineraccedilatildeo determinava dois tipos de mortos o cadaacutever do homem comum e o cadaacutever dos grandes heroacuteis Ao anocircnimo cabia o crematoacuterio coletivo e o depoacutesito de suas cinzas em vala comum Os corpos falecidos dos heroacuteis eram cremados na cerimocircnia da bela morte onde os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos A proacutepria morte seria a prova de sua virtude tornando-o um indiviacuteduo cuja vida eacute digna de ser lembrada
(GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)
Os primeiros cemiteacuterios surgiram a partir do seacuteculo V e eram localizados junto
agraves igrejas cristatildes Esses cemiteacuterios faziam parte do cenaacuterio de vida das
pessoas tinham papel de praccedila puacuteblica eram lugares de julgamentos das
execuccedilotildees e dos encontros amorosos
Na Idade Meacutedia a morte era entendida com naturalidade fazendo parte do
ambiente domeacutestico O ritual da morte envolvia tanto a pessoa que ia morrer
como os seus parentes e amigos Naquela eacutepoca os nobres eram enterrados
no interior das igrejas enquanto os pobres erram colocados em covas
coletivas
Tanto a famiacutelia como os amigos do morto manifestavam o processo do luto
atraveacutes do uso de roupas pretas e da natildeo participaccedilatildeo na vida social ateacute que
natildeo acontecesse a elaboraccedilatildeo do oacutebito As pessoas que sabiam que iam
morrer protagonizavam todo o ritual despedindo-se dos entes queridos
fazendo o testamento buscando se reconciliar com as pessoas e superar as
maacutegoas A comunidade participava ativamente de todo esse processo (AGRA
ALBUQUERQUE 2008)
Gutierrez (2003) tomando como referencial o estudo de Pessini (1999) fez
uma breve abordagem sobre o processo de morte e morrer a partir da idade
meacutedia ateacute a deacutecada de 70 do seacuteculo XX
Durante os seacuteculos XI e XII iniciaram-se mudanccedilas sutis na maneira
tradicional de o homem atuar diante da morte
No periacuteodo entre os seacuteculos XII a XV houve uma maior conscientizaccedilatildeo
do homem em relaccedilatildeo aacute sua proacutepria morte
Jaacute no seacuteculo XVI a morte distanciou-se das situaccedilotildees mais corriqueiras
e passou a representar uma separaccedilatildeo inaceitaacutevel iniciando um
processo de visualizaccedilatildeo da morte do outro que passou a ser dramaacutetica
e mais complexa
No final do seacuteculo XVIII surgiram duas mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave morte A
benevolecircncia com a ideacuteia da morte e a relaccedilatildeo entre moribundo e seus
familiares O termo benevolecircncia significa boa vontade para com todos
Na primeira metade do seacuteculo XIX a morte era um fenocircmeno bastante
presente e encarado como fato social e puacuteblico em que parentes e
amigos vizinhos e ateacute mesmo crianccedilas permaneciam no quarto do
moribundo Nessa eacutepoca os ritos que acompanhavam a morte eram
realizados com tranquumlilidade e aceitaccedilatildeo
No decorrer dos anos a atitude do homem em relaccedilatildeo agrave morte sofreu
modificaccedilotildees e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaccediladora
Poupa-se o moribundo de saber sobre suas reais condiccedilotildees de sauacutede A
verdade eacute negada com o intuito de privar o doente do sofrimento A
extrema unccedilatildeo que era oferecida ao moribundo em meados do seacuteculo
XX passou a ser dada somente apoacutes sua morte
A partir da segunda metade do seacuteculo XX a morte foi transferida para os
hospitais e passou a ser vista como um fenocircmeno teacutecnico agraves vezes
adiada ou antecipada a depender dos interesses dos que tentavam
domina-la O Meacutedico transformou-se em heroacutei na luta contra a morte
Atualmente os avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos tornaram a morte um
evento institucionalizado Eacute cada vez mais comum as pessoas morrerem
no hospital O doente perde o direito de opinar sobre sua morte o
meacutedico tornou-se personagem principal e a famiacutelia passou a sentir-se
protegida por natildeo ter que presenciar a morte de um ente querido Nesse
contexto a morte passa a ocorrer em cenaacuterio composto por fios
maacutequinas aparelhos e pessoas estranhas geralmente equipe meacutedica e
de enfermagem
A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma
instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para
o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras
Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer
acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive
a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e
na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu
avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer
de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo
conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em
seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de
familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi
encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi
celebrada uma missa de corpo presente
Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em
ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de
fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com
breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra
que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e
desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida
23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER
O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa
maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo
diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito
especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e
descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute
dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que
encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo
humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas
verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo
Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-
Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute
em fase terminal a saber
Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do
doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente
ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo
Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos
comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que
algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo
todo
Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja
O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade
(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da
raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo
Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma
coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio
mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento
Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio
Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da
capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da
vida
Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar
depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima
com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase
mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas
preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser
confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute
importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma
desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da
chegada ao fim em paz
Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se
sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila
algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses
estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo
psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses
estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte
iminente
Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei
algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim
uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi
sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua
confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo
poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha
confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo
de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de
ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de
morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles
no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos
Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta
Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca
De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por
causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir
algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem
responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas
Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante
aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e
geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los
Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do
paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida
e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade
ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar
esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de
vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando
na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral
Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de
deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias
como inchaccedilo naacuteusea e dor
Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos
agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o
paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees
conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo
deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos
para uma morte digna e sem sofrimento
Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida
para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou
como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de
cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam
sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam
despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo
Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a
audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada
perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir
Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de
alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as
pessoas envolvidas
Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes
optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte
sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para
estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale
ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos
proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou
simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano
trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as
informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes
crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse
doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais
humanizado
Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de
morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir
poderaacute nos auxiliar nesse processo
Carta dos Pacientes Terminais
- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que
eu morra
- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas
possam acontecer
- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o
sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas
- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e
emoccedilotildees diante da minha morte
- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus
cuidados e tratamentos
- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem
mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode
confortordquo
- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho
- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto
- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado
- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas
honestamente
- Tenho o direito de natildeo ser enganado
- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou
experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos
demais
- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser
julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves
crenccedilas dos demais
- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de
meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados
- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis
humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas
necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a
minha privacidade
- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI
1996 APUD GUTIERREZ 2003)
24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica
Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes
mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato
e a observaccedilatildeo constante
Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico
e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com
alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a
elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre
outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo
atualmente
Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede
descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute
de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade
Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade
proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica
de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas
que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais
complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica
e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico
e recursos humanos especializados
Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os
paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do
tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida
prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da
famiacutelia e do cliente
As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses
pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e
extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave
manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e
adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA
2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas
ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de
interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao
paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores
relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante
tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons
monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e
ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre
outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua
privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar
esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo
vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo
Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional
muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em
estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade
criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo
profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao
paciente no processo de morte
A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe
multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do
leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto
discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no
intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade
fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo
conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida
(SILVA 2001)
Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal
durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido
contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se
impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo
endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais
membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de
comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo
profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a
importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes
da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos
postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais
organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida
entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)
Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam
diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos
pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para
o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem
sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus
familiares diante da finitude da vida
De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo
emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa
depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o
paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade
Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas
e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos
sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de
existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma
determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se
necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e
preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de
forma humanizada
Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta
[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo
Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)
ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a
deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes
consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu
sofrimentordquo
Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso
que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter
firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de
enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando
assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver
excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio
de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato
estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos
menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a
deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito
profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no
meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira
de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia
A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural
e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada
como uma das maiores estudiosas do assunto
A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte
A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais
membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma
assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais
necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida
Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente
consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-
espiritual
3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA
A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento
bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto
Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel
proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de
medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro
do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova
perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no
final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de
suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo
baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais
meacutedicos e familiares a saber
Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)
preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc
Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da
famiacutelia amigos e demais entes queridos)
Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos
importantes
Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex
testamentos venda de propriedade etc)
Evitar um processo longo de morte
Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica
brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na
medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo
coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer
todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e
obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que
estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute
receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel
Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites
de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe
envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e
poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz
sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica
meacutedica)
Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades
espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir
holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos
fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os
profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para
confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento
diante do processo de morte
A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de
sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que
lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto
que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre
as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado
na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda
Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o
envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do
paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade
de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus
familiaresrdquo
Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar
que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos
(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo
segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas
neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo
avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do
quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos
profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas
a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados
paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente
no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo
instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma
efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas
Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo
da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre
esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos
pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional
complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso
Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa
assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz
presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e
responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser
humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo
Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer
firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder
ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento
tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui
identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim
Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios
inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar
biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se
comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e
sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse
comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma
comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para
esse indiviacuteduo
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e
morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos
envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da
pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe
multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas
atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas
nesse estudo
Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu
para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem
ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma
morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano
Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar
aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente
abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por
Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo
incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e
enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de
trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da
enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida
deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que
estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI
Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira
cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja
prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer
Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no
processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo
especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas
riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho
considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada
particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco
Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas
pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina
paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais
envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de
uma Unidade de terapia Intensiva
Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o
aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que
eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor
considerado como desumanizante e frio
Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais
profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado
REFEREcircNCIAS
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SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO09
2 REVISAtildeO DA LITERATURA12
21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA12
22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER14
23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE
MORTEMORRER19
24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA
(UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER24
3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA29
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS32
REFEREcircNCIAS34
1 INTRODUCcedilAtildeO
APRESENTACcedilAtildeO DO OBJETO DE ESTUDO
Na rotina do profissional de sauacutede o tema morte eacute pouco comentado atuam na
perspectiva de promover a sauacutede prolongar e manter a vida Segundo estudos
ao longo da graduaccedilatildeo os assuntos abordados satildeo no acircmbito da fisiopatologia
e nos procedimentos teacutecnicos utilizados na atenccedilatildeo a paciente grave Aspectos
relacionados ao preparo emocional e psicoloacutegico necessaacuterios no atendimento
desses e aos seus familiares satildeo negligenciados observando-se uma
ldquodesumanizaccedilatildeordquo no atendimento ao paciente terminal (BALSANELLI
SANTOS SOLER 2002)
Eacute do conhecimento que no decorrer dos uacuteltimos seacuteculos a partir do surgimento
dos hospitais e unidades complexas e especializadas como as Unidades de
Terapia Intensivas (UTI) as pessoas doentes ou em estado grave da doenccedila
destinam-se para essas unidades em busca da cura ou tratamento de sauacutede
Entretanto diante do insucesso da terapecircutica empreendida e falta de
perspectiva de sobrevivecircncia o doente entra no processo de morte Assim
afastados dos seus entes passam seus uacuteltimos dias num leito hospitalar em
companhia de estranhos Encontram-se soacutes com seu sofrimento e noacutes
profissionais responsaacuteveis pelo cuidado assumimos em alguns casos o papel
da famiacutelia permanecendo aacute beira do leito nos seus uacuteltimos momento
JUSTIFICATIVA
No meu cotidiano de trabalho em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) enquanto
profissional de enfermagem de niacutevel meacutedio prestei assistecircncia agrave beira do leito
a vaacuterios pacientes moribundos nos seus uacuteltimos momentos de vida Apesar de
lidar com a morte cotidianamente e atuar de acordo com os valores eacuteticos
cultuando o respeito ao ser humano sob meus cuidados sentia-me
despreparada ao lidar com a situaccedilatildeo tambeacutem percebia o mesmo com os
demais colegas da equipe Imaginava que durante a graduaccedilatildeo em
enfermagem teria o aprendizado necessaacuterio para assistir de forma adequada o
paciente no processo de mortemorrer Isso natildeo ocorreu o assunto foi pouco
discutido na disciplina de psicologia Assim surgiu meu interesse pelo
embasamento literaacuterio e consequentemente adquirir habilidades para prestar
uma assistecircncia de qualidade diferenciada e humanizada a fim de
proporcionar uma morte ldquomais dignardquo aos clientes sob meus cuidados
PROBLEMA
Que iniciativas podem ser tomadas para tornar a morte mais digna e mais
humana dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI)
OBJETIVO
Analisar na literatura propostas e iniciativas que visem uma morte digna e mais
humana em Unidade de Terapia Intensiva
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisatildeo bibliograacutefica tendo como base a anaacutelise e
interpretaccedilatildeo de literaturas especiacuteficas dissertaccedilotildees teses perioacutedicos artigos
livros e outras publicaccedilotildees nacionais em consonacircncia com o objetivo proposto
Os descritores utilizados foram morte enfermagem UTI e humanizaccedilatildeo da
assistecircncia
Segundo Tognetti (2006) a pesquisa bibliograacutefica eacute fundamentada nos
conhecimentos de biblioteconomia documentaccedilatildeo e bibliografia sua finalidade
eacute colocar o pesquisador em contato com o que jaacute se produziu a respeito do seu
tema de pesquisa Trata-se de uma pesquisa com caraacuteter exploratoacuterio e
qualitativo De acordo com Godoy (1995 p21) ldquo[] a pesquisa qualitativa
ocupa um reconhecido lugar entre as vaacuterias possibilidades de se estudar os
fenocircmenos que envolvem os seres humanos e suas intricadas relaccedilotildees sociais
estabelecidas em diversos ambientesrdquo Jaacute para Richardson (1999 p17) visa
descobrir as semelhanccedilas entre fenocircmenos ldquoos pressupostos teoacutericos natildeo
estatildeo claros ou satildeo difiacuteceis de encontrar Nessa situaccedilatildeo faz-se uma pesquisa
natildeo apenas para conhecer o tipo de relaccedilatildeo existente mas sobretudo para
determinar a existecircncia de relaccedilatildeordquo
A pesquisa exploratoacuteria eacute ideal quando se deseja explorar o novo ainda natildeo
considerado como ciecircncia mas que serve de base agrave mesma Pode-se basear
neste tipo de pesquisa na ocorrecircncia de bibliografia escassa sobre o tema em
estudo (LEITE 2008)
Apoacutes leitura na iacutentegra e interpretaccedilatildeo dos textos selecionados buscou-se obter
a resposta do problema da pesquisa
ESTRUTURA
Organizei este estudo em trecircs momentos nos quais procurei descrever sobre o
assunto proposto de forma simples e coerente
No primeiro momento apresento o objeto de estudo relato meu interesse em
discorrer sobre o tema descrevo tambeacutem o objetivo com base no problema em
questatildeo
Logo apoacutes no segundo momento faccedilo consideraccedilotildees sobre humanizaccedilatildeo da
assistecircncia apresento tambeacutem uma concisatildeo sobre o morrer e faccedilo alguns
comentaacuterios acerca do paciente moribundo em UTI Em seguida comento
sobre a equipe de enfermagem e a assistecircncia durante o processo
mortemorrer
Prosseguindo no terceiro momento apresento a anaacutelise dos dados
pesquisados
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA
Segundo Ferreira (2000) humanizar significa tornar humano dar condiccedilatildeo
humana tornar afaacutevel e trataacutevel A humanizaccedilatildeo da assistecircncia requer
conscientizaccedilatildeo e preparo da equipe para um cuidado diferenciado
entendendo o paciente como um ser humano
Alguns estudos na aacuterea da medicina intensivista apontam para a necessidade
de mudar o enfoque predominantemente tecnicista paciente-doenccedila para uma
abordagem mais humana que engloba o paciente de forma holiacutestica ou seja
percebendo-o como um ser inserido num contexto e que necessita ser
atendido nos aspectos fiacutesicos psicoloacutegicos sociais e espirituais A medicina
paliativa vem sendo destacada nas literaturas em geral na aacuterea de oncologia
entretanto tem ganhado destaque tambeacutem nas literaturas pertinentes ao
intensivismo (GARROS 2003)
ldquoA medicina paliativa se desenvolveu como uma reaccedilatildeo agrave medicina moderna
altamente tecnicista que prioriza a cura em vez do cuidadordquo (PESSINI 2006)
A filosofia dos cuidados paliativos a) afirma a vida e encara o morrer como um processo normal b) natildeo apressa nem adia a morte c) procura aliviar a dor e outros sintomas angustiantes d) integra os aspectos psicoloacutegicos e espirituais nos cuidados com o paciente e) oferece um sistema de apoio para ajudar os pacientes a viver ativamente o maacuteximo possiacutevel ateacute a morte f) oferece um sistema de apoio para ajudar a famiacutelia a lidar com a doenccedila do paciente e seu proacuteprio luto (PESSINI 2003 apud PESSINI 2006)
Essa nova perspectiva constitui desafio para os profissionais de sauacutede visto
que o paciente no processo de morte deixa de ser aquele por quem nada si
pode fazer e passa a ser considerado como aquele que natildeo responde mais as
medidas terapecircuticas de cura Desta forma sob a filosofia dos cuidados
paliativos temos muito que fazer para proporcionar uma morte mais digna
decente ou aceitaacutevel para um ser humano A humanizaccedilatildeo do morrer apoacuteia a
concepccedilatildeo de que a morte natildeo eacute um inimigo a ser combatido ela faz parte do
ciclo vital e do adoecer
A proposta dos cuidados paliativos eacute permitir que a pessoa viva intensamente
seus dias finais de vida com controle da dor e sendo assistido de forma
holiacutestica Partindo da ideacuteia de que ldquomais vale acrescentar vida ao tempo do que
tempo agrave vidardquo
O Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo Hospitalar - PNHAH foi instituiacutedo pelo
Ministeacuterio da Sauacutede atraveacutes da portaria nordm 881 de 19 06 2001 no acircmbito do
Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2002) O PNHAH faz parte de um processo
de discussatildeo e implementaccedilatildeo de projetos de humanizaccedilatildeo do atendimento a
sauacutede e de melhoria da qualidade do vinculo estabelecido entre trabalhador da
sauacutede pacientes e familiares
A famiacutelia enquanto extensatildeo do paciente deveraacute ser incluiacuteda no processo de
cuidado deste poreacutem natildeo como auxiliar ao nosso trabalho mas como
indiviacuteduos a serem cuidados tambeacutem pela enfermagem Essa deveraacute oferecer
o suporte necessaacuterio esclarecer as duacutevidas atender e acolher prontamente e
de maneira empaacutetica esse suporte primaacuterio do paciente conquistando assim
sua confianccedila A inclusatildeo da famiacutelia no processo de cuidado em Unidade de
terapia Intensiva (UTI) eacute indispensaacutevel para podermos atender o paciente de
forma holiacutestica (NASCIMENTO MARTINS 2000)
Humanizar significa a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito
com o outro acolher o desconhecido e reconhecer os limites A humanizaccedilatildeo
requer uma interaccedilatildeo harmoniosa entre o cuidado teacutecnico e cientiacutefico Requer
tambeacutem compromisso eacutetico de todos os profissionais envolvidos na assistecircncia
desde os atendentes da recepccedilatildeo ateacute a equipe envolvida diretamente com a
assistecircncia do paciente e famiacutelia O processo do cuidado de enfermagem por
se soacute constitui um ato humanizado visto que os objetivos do cuidar envolvem
aliviar confortar ajudar favorecer promover entre outros (MORAES
GARDA FONSECA 2004) Segundo esses autores
Humanizar de acordo com os valores eacuteticos consiste fundamentalmente em tornar uma praacutetica bela por mais que ela lide com o que tem de mais degradante doloroso e triste na natureza humana o sofrimento a deterioraccedilatildeo e a morte Refere-se portanto a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito ao outro e de reconhecimento dos limites O ponto chave do trabalho de humanizaccedilatildeo estaacute no fortalecimento desta posiccedilatildeo eacutetica de articulaccedilatildeo do cuidado teacutecnico cientifico jaacute construiacutedo conhecido e dominado ao cuidado que incorpora a necessidade a exploraccedilatildeo e o acolhimento do imprevisiacutevel do incontrolaacutevel ao indiferente e singular
Minayo (2004) considera que ao se propor um cuidado humanizado deve-se
repensar a formaccedilatildeo profissional na aacuterea de sauacutede Para esse autor apesar
das propostas de mudanccedilas de modelo de atenccedilatildeo da sauacutede que prega a
integralidade e a humanizaccedilatildeo da assistecircncia e da crise da ciecircncia racionalista
predomina ainda o aprendizado teacutecnico racional e individualizado empregado
muitas vezesrdquo sem o exerciacutecio da criacutetica criatividade e sensibilidaderdquo
Refletindo portanto no despreparo dos profissionais em proporcionar um
cuidado humanizado cada vez mais exigido nos serviccedilos que utilizam alta
tecnologia como as Unidades de Terapia Intensiva
Felizmente percebemos uma seacuterie de estudos relacionados agrave necessidade de
humanizaccedilatildeo desses serviccedilos por forccedila do efeito negativo do ambiente sobre
pacientes famiacutelia e equipe multiprofissional Os estudos mostram tambeacutem que
os profissionais de sauacutede tecircm consciecircncia de que humanizaccedilatildeo eacute uma palavra
aparentemente faacutecil de entender poreacutem no dia-a-dia natildeo eacute tatildeo faacutecil praticaacute-la
22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER
A compreensatildeo sobre a morte influencia na qualidade de vida da pessoa e na
forma como ela interage no seu dia-a-dia com o processo de morte e morrer
Ao pesquisar sobre a definiccedilatildeo das palavras morte e morrer no dicionaacuterio de
liacutengua portuguesa fica-se impressionado com a quantidade de sinocircnimos
atribuiacutedos a elas
Morte significa cessaccedilatildeo da vida fim Jaacute a palavra morrer significa rdquoperder a
vida falecer finar-se fenecer expirar desaparecer descansar desencarnar
ir perecer sucumbir espichar esticar estinguir-se acabar (-se)rdquo (FERREIRA
2000)
Jaacute no dicionaacuterio meacutedico traz as seguintes consideraccedilotildees
1-Cessaccedilatildeo total e irreversiacutevel da funccedilatildeo cerebral funccedilatildeo espontacircnea dos sistemas respiratoacuterio e circulatoacuterio 2 - A cessaccedilatildeo final e irreversiacutevel dos batimentos cardiacuteacos e respiraccedilotildees perceptiacuteveis [] o principal sinal de morte eacute a cessaccedilatildeo da accedilatildeo do coraccedilatildeo Outras indicaccedilotildees satildeo ausecircncia de reflexos cessaccedilatildeo da atividade eleacutetrica do ceacuterebro determinada pelo eletro encefalograma (EEC) manifestaccedilatildeo de rigor mortis e uma descoloraccedilatildeo mosqueada no corpo (THOMAS 2000)
Como podemos observar existem vaacuterias denominaccedilotildees para substituir a
palavra morte talvez o objetivo real seja ldquosuavizarrdquo a sua pronuacutencia tornando-a
menos temiacutevel
A Tanatologia eacute a ciecircncia que estuda a morte Segundo este saber o homem eacute
o uacutenico ser sobre a terra que tem consciecircncia da sua finitude o uacutenico a ter
consciecircncia de que sua passagem neste mundo eacute transitoacuteria e deve terminar
um dia Apesar dessa certeza o homem foi impelido a evitar a convivecircncia com
a morte no decorrer da histoacuteria
A seguir pontuarei de forma sinteacutetica as diferentes interpretaccedilotildees da morte
segundo algumas das grandes correntes religiosas
Para os judeus e cristatildeos que acreditava na ressurreiccedilatildeo apoacutes a morte esta
seria o acesso para outra dimensatildeo da vida que poderia ser no inferno ou no
paraiacuteso conforme os seus feitos terrenos a partir da observacircncia dos
mandamentos de Deus
De acordo com Pessini (1999) apud Gutierrez (2003) ldquoo catolicismo prega que
os esforccedilos para manter a vida fiacutesica podem ser encerrados caso a
continuaccedilatildeo da vida bioloacutegica ao inveacutes de promover a integraccedilatildeo da vida
espiritual e moral do indiviacuteduo torne-se vatilderdquo
O budismo natildeo encara a morte como o fim da vida mas sim como uma
transiccedilatildeo defendendo o direito do indiviacuteduo de determinar o momento em que
deseja passar desta existecircncia para a seguinte Enfatiza que o importante no
momento da morte eacute que a mente permaneccedila em paz e harmonia consigo
mesmo
No islamismo a concepccedilatildeo de vida eacute sagrada a morte eacute interpretada como a
conclusatildeo de uma vida e o comeccedilo de outra
Apesar das diferentes interpretaccedilotildees das diversas correntes religiosas haacute
consenso de que o apoio espiritual constitui elemento valioso dado ao paciente
no processo de morrer
A morte eacute parte integrante do processo de desenvolvimento humano e estaacute
presente no cotidiano diaacuterio de nossas vidas A forma de percepccedilatildeo
significaccedilatildeo e comportamento do processo de morte e morrer variam conforme
o contexto soacutecio-cultural e histoacuterico e vem sofrendo alteraccedilotildees atraveacutes das
diferentes civilizaccedilotildees ateacute os dias atuais
[] Os povos mesopotacircmios tinham por costume enterrar os corpos dos mortos da maneira mais escrupulosa sendo o cadaacutever cuidadosamente acompanhado de todas as marcas mais distintas de sua identidade pessoal e familiar como seus pertences insiacutegnias e objetos de uso suas vestimentas e ateacute mesmo de suas comidas
prediletas (GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)
Para essa civilizaccedilatildeo a morte seria uma espeacutecie de rebaixamento da vida o
apagamento dessa mesma existecircncia
Os antigos egiacutepcios sepultavam seus mortos juntamente com as roupas e os
alimentos para que continuassem felizes e da mesma forma os antigos iacutendios
americanos que enterravam seus parentes com tudo o que lhes pertencia
Esses falavam dos espiacuteritos do mal e atiravam flechas ao ar para afugentaacute-los
Os hebreus consideravam o corpo do morto como alguma coisa impura que
natildeo podia ser tocada (KUumlBLER-ROSS 2008)
Os antigos hindus incineravam seus mortos e suas cinzas eram lanccediladas ao
vento ou nas aacuteguas dos rios sendo o morto despojado de todos os seus
traccedilos de identidade
Para os antigos gregos a incineraccedilatildeo determinava dois tipos de mortos o cadaacutever do homem comum e o cadaacutever dos grandes heroacuteis Ao anocircnimo cabia o crematoacuterio coletivo e o depoacutesito de suas cinzas em vala comum Os corpos falecidos dos heroacuteis eram cremados na cerimocircnia da bela morte onde os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos A proacutepria morte seria a prova de sua virtude tornando-o um indiviacuteduo cuja vida eacute digna de ser lembrada
(GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)
Os primeiros cemiteacuterios surgiram a partir do seacuteculo V e eram localizados junto
agraves igrejas cristatildes Esses cemiteacuterios faziam parte do cenaacuterio de vida das
pessoas tinham papel de praccedila puacuteblica eram lugares de julgamentos das
execuccedilotildees e dos encontros amorosos
Na Idade Meacutedia a morte era entendida com naturalidade fazendo parte do
ambiente domeacutestico O ritual da morte envolvia tanto a pessoa que ia morrer
como os seus parentes e amigos Naquela eacutepoca os nobres eram enterrados
no interior das igrejas enquanto os pobres erram colocados em covas
coletivas
Tanto a famiacutelia como os amigos do morto manifestavam o processo do luto
atraveacutes do uso de roupas pretas e da natildeo participaccedilatildeo na vida social ateacute que
natildeo acontecesse a elaboraccedilatildeo do oacutebito As pessoas que sabiam que iam
morrer protagonizavam todo o ritual despedindo-se dos entes queridos
fazendo o testamento buscando se reconciliar com as pessoas e superar as
maacutegoas A comunidade participava ativamente de todo esse processo (AGRA
ALBUQUERQUE 2008)
Gutierrez (2003) tomando como referencial o estudo de Pessini (1999) fez
uma breve abordagem sobre o processo de morte e morrer a partir da idade
meacutedia ateacute a deacutecada de 70 do seacuteculo XX
Durante os seacuteculos XI e XII iniciaram-se mudanccedilas sutis na maneira
tradicional de o homem atuar diante da morte
No periacuteodo entre os seacuteculos XII a XV houve uma maior conscientizaccedilatildeo
do homem em relaccedilatildeo aacute sua proacutepria morte
Jaacute no seacuteculo XVI a morte distanciou-se das situaccedilotildees mais corriqueiras
e passou a representar uma separaccedilatildeo inaceitaacutevel iniciando um
processo de visualizaccedilatildeo da morte do outro que passou a ser dramaacutetica
e mais complexa
No final do seacuteculo XVIII surgiram duas mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave morte A
benevolecircncia com a ideacuteia da morte e a relaccedilatildeo entre moribundo e seus
familiares O termo benevolecircncia significa boa vontade para com todos
Na primeira metade do seacuteculo XIX a morte era um fenocircmeno bastante
presente e encarado como fato social e puacuteblico em que parentes e
amigos vizinhos e ateacute mesmo crianccedilas permaneciam no quarto do
moribundo Nessa eacutepoca os ritos que acompanhavam a morte eram
realizados com tranquumlilidade e aceitaccedilatildeo
No decorrer dos anos a atitude do homem em relaccedilatildeo agrave morte sofreu
modificaccedilotildees e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaccediladora
Poupa-se o moribundo de saber sobre suas reais condiccedilotildees de sauacutede A
verdade eacute negada com o intuito de privar o doente do sofrimento A
extrema unccedilatildeo que era oferecida ao moribundo em meados do seacuteculo
XX passou a ser dada somente apoacutes sua morte
A partir da segunda metade do seacuteculo XX a morte foi transferida para os
hospitais e passou a ser vista como um fenocircmeno teacutecnico agraves vezes
adiada ou antecipada a depender dos interesses dos que tentavam
domina-la O Meacutedico transformou-se em heroacutei na luta contra a morte
Atualmente os avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos tornaram a morte um
evento institucionalizado Eacute cada vez mais comum as pessoas morrerem
no hospital O doente perde o direito de opinar sobre sua morte o
meacutedico tornou-se personagem principal e a famiacutelia passou a sentir-se
protegida por natildeo ter que presenciar a morte de um ente querido Nesse
contexto a morte passa a ocorrer em cenaacuterio composto por fios
maacutequinas aparelhos e pessoas estranhas geralmente equipe meacutedica e
de enfermagem
A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma
instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para
o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras
Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer
acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive
a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e
na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu
avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer
de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo
conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em
seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de
familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi
encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi
celebrada uma missa de corpo presente
Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em
ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de
fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com
breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra
que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e
desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida
23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER
O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa
maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo
diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito
especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e
descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute
dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que
encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo
humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas
verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo
Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-
Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute
em fase terminal a saber
Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do
doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente
ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo
Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos
comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que
algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo
todo
Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja
O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade
(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da
raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo
Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma
coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio
mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento
Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio
Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da
capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da
vida
Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar
depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima
com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase
mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas
preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser
confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute
importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma
desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da
chegada ao fim em paz
Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se
sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila
algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses
estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo
psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses
estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte
iminente
Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei
algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim
uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi
sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua
confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo
poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha
confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo
de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de
ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de
morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles
no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos
Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta
Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca
De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por
causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir
algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem
responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas
Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante
aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e
geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los
Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do
paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida
e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade
ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar
esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de
vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando
na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral
Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de
deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias
como inchaccedilo naacuteusea e dor
Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos
agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o
paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees
conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo
deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos
para uma morte digna e sem sofrimento
Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida
para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou
como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de
cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam
sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam
despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo
Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a
audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada
perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir
Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de
alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as
pessoas envolvidas
Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes
optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte
sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para
estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale
ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos
proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou
simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano
trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as
informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes
crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse
doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais
humanizado
Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de
morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir
poderaacute nos auxiliar nesse processo
Carta dos Pacientes Terminais
- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que
eu morra
- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas
possam acontecer
- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o
sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas
- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e
emoccedilotildees diante da minha morte
- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus
cuidados e tratamentos
- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem
mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode
confortordquo
- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho
- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto
- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado
- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas
honestamente
- Tenho o direito de natildeo ser enganado
- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou
experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos
demais
- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser
julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves
crenccedilas dos demais
- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de
meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados
- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis
humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas
necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a
minha privacidade
- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI
1996 APUD GUTIERREZ 2003)
24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica
Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes
mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato
e a observaccedilatildeo constante
Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico
e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com
alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a
elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre
outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo
atualmente
Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede
descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute
de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade
Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade
proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica
de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas
que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais
complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica
e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico
e recursos humanos especializados
Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os
paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do
tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida
prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da
famiacutelia e do cliente
As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses
pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e
extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave
manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e
adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA
2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas
ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de
interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao
paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores
relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante
tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons
monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e
ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre
outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua
privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar
esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo
vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo
Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional
muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em
estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade
criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo
profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao
paciente no processo de morte
A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe
multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do
leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto
discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no
intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade
fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo
conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida
(SILVA 2001)
Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal
durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido
contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se
impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo
endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais
membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de
comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo
profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a
importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes
da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos
postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais
organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida
entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)
Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam
diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos
pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para
o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem
sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus
familiares diante da finitude da vida
De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo
emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa
depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o
paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade
Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas
e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos
sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de
existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma
determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se
necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e
preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de
forma humanizada
Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta
[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo
Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)
ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a
deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes
consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu
sofrimentordquo
Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso
que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter
firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de
enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando
assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver
excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio
de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato
estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos
menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a
deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito
profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no
meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira
de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia
A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural
e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada
como uma das maiores estudiosas do assunto
A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte
A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais
membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma
assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais
necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida
Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente
consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-
espiritual
3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA
A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento
bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto
Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel
proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de
medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro
do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova
perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no
final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de
suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo
baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais
meacutedicos e familiares a saber
Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)
preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc
Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da
famiacutelia amigos e demais entes queridos)
Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos
importantes
Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex
testamentos venda de propriedade etc)
Evitar um processo longo de morte
Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica
brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na
medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo
coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer
todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e
obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que
estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute
receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel
Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites
de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe
envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e
poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz
sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica
meacutedica)
Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades
espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir
holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos
fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os
profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para
confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento
diante do processo de morte
A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de
sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que
lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto
que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre
as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado
na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda
Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o
envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do
paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade
de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus
familiaresrdquo
Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar
que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos
(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo
segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas
neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo
avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do
quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos
profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas
a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados
paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente
no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo
instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma
efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas
Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo
da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre
esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos
pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional
complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso
Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa
assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz
presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e
responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser
humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo
Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer
firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder
ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento
tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui
identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim
Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios
inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar
biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se
comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e
sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse
comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma
comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para
esse indiviacuteduo
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e
morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos
envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da
pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe
multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas
atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas
nesse estudo
Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu
para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem
ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma
morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano
Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar
aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente
abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por
Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo
incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e
enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de
trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da
enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida
deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que
estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI
Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira
cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja
prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer
Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no
processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo
especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas
riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho
considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada
particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco
Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas
pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina
paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais
envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de
uma Unidade de terapia Intensiva
Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o
aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que
eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor
considerado como desumanizante e frio
Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais
profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado
REFEREcircNCIAS
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1 INTRODUCcedilAtildeO
APRESENTACcedilAtildeO DO OBJETO DE ESTUDO
Na rotina do profissional de sauacutede o tema morte eacute pouco comentado atuam na
perspectiva de promover a sauacutede prolongar e manter a vida Segundo estudos
ao longo da graduaccedilatildeo os assuntos abordados satildeo no acircmbito da fisiopatologia
e nos procedimentos teacutecnicos utilizados na atenccedilatildeo a paciente grave Aspectos
relacionados ao preparo emocional e psicoloacutegico necessaacuterios no atendimento
desses e aos seus familiares satildeo negligenciados observando-se uma
ldquodesumanizaccedilatildeordquo no atendimento ao paciente terminal (BALSANELLI
SANTOS SOLER 2002)
Eacute do conhecimento que no decorrer dos uacuteltimos seacuteculos a partir do surgimento
dos hospitais e unidades complexas e especializadas como as Unidades de
Terapia Intensivas (UTI) as pessoas doentes ou em estado grave da doenccedila
destinam-se para essas unidades em busca da cura ou tratamento de sauacutede
Entretanto diante do insucesso da terapecircutica empreendida e falta de
perspectiva de sobrevivecircncia o doente entra no processo de morte Assim
afastados dos seus entes passam seus uacuteltimos dias num leito hospitalar em
companhia de estranhos Encontram-se soacutes com seu sofrimento e noacutes
profissionais responsaacuteveis pelo cuidado assumimos em alguns casos o papel
da famiacutelia permanecendo aacute beira do leito nos seus uacuteltimos momento
JUSTIFICATIVA
No meu cotidiano de trabalho em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) enquanto
profissional de enfermagem de niacutevel meacutedio prestei assistecircncia agrave beira do leito
a vaacuterios pacientes moribundos nos seus uacuteltimos momentos de vida Apesar de
lidar com a morte cotidianamente e atuar de acordo com os valores eacuteticos
cultuando o respeito ao ser humano sob meus cuidados sentia-me
despreparada ao lidar com a situaccedilatildeo tambeacutem percebia o mesmo com os
demais colegas da equipe Imaginava que durante a graduaccedilatildeo em
enfermagem teria o aprendizado necessaacuterio para assistir de forma adequada o
paciente no processo de mortemorrer Isso natildeo ocorreu o assunto foi pouco
discutido na disciplina de psicologia Assim surgiu meu interesse pelo
embasamento literaacuterio e consequentemente adquirir habilidades para prestar
uma assistecircncia de qualidade diferenciada e humanizada a fim de
proporcionar uma morte ldquomais dignardquo aos clientes sob meus cuidados
PROBLEMA
Que iniciativas podem ser tomadas para tornar a morte mais digna e mais
humana dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI)
OBJETIVO
Analisar na literatura propostas e iniciativas que visem uma morte digna e mais
humana em Unidade de Terapia Intensiva
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisatildeo bibliograacutefica tendo como base a anaacutelise e
interpretaccedilatildeo de literaturas especiacuteficas dissertaccedilotildees teses perioacutedicos artigos
livros e outras publicaccedilotildees nacionais em consonacircncia com o objetivo proposto
Os descritores utilizados foram morte enfermagem UTI e humanizaccedilatildeo da
assistecircncia
Segundo Tognetti (2006) a pesquisa bibliograacutefica eacute fundamentada nos
conhecimentos de biblioteconomia documentaccedilatildeo e bibliografia sua finalidade
eacute colocar o pesquisador em contato com o que jaacute se produziu a respeito do seu
tema de pesquisa Trata-se de uma pesquisa com caraacuteter exploratoacuterio e
qualitativo De acordo com Godoy (1995 p21) ldquo[] a pesquisa qualitativa
ocupa um reconhecido lugar entre as vaacuterias possibilidades de se estudar os
fenocircmenos que envolvem os seres humanos e suas intricadas relaccedilotildees sociais
estabelecidas em diversos ambientesrdquo Jaacute para Richardson (1999 p17) visa
descobrir as semelhanccedilas entre fenocircmenos ldquoos pressupostos teoacutericos natildeo
estatildeo claros ou satildeo difiacuteceis de encontrar Nessa situaccedilatildeo faz-se uma pesquisa
natildeo apenas para conhecer o tipo de relaccedilatildeo existente mas sobretudo para
determinar a existecircncia de relaccedilatildeordquo
A pesquisa exploratoacuteria eacute ideal quando se deseja explorar o novo ainda natildeo
considerado como ciecircncia mas que serve de base agrave mesma Pode-se basear
neste tipo de pesquisa na ocorrecircncia de bibliografia escassa sobre o tema em
estudo (LEITE 2008)
Apoacutes leitura na iacutentegra e interpretaccedilatildeo dos textos selecionados buscou-se obter
a resposta do problema da pesquisa
ESTRUTURA
Organizei este estudo em trecircs momentos nos quais procurei descrever sobre o
assunto proposto de forma simples e coerente
No primeiro momento apresento o objeto de estudo relato meu interesse em
discorrer sobre o tema descrevo tambeacutem o objetivo com base no problema em
questatildeo
Logo apoacutes no segundo momento faccedilo consideraccedilotildees sobre humanizaccedilatildeo da
assistecircncia apresento tambeacutem uma concisatildeo sobre o morrer e faccedilo alguns
comentaacuterios acerca do paciente moribundo em UTI Em seguida comento
sobre a equipe de enfermagem e a assistecircncia durante o processo
mortemorrer
Prosseguindo no terceiro momento apresento a anaacutelise dos dados
pesquisados
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA
Segundo Ferreira (2000) humanizar significa tornar humano dar condiccedilatildeo
humana tornar afaacutevel e trataacutevel A humanizaccedilatildeo da assistecircncia requer
conscientizaccedilatildeo e preparo da equipe para um cuidado diferenciado
entendendo o paciente como um ser humano
Alguns estudos na aacuterea da medicina intensivista apontam para a necessidade
de mudar o enfoque predominantemente tecnicista paciente-doenccedila para uma
abordagem mais humana que engloba o paciente de forma holiacutestica ou seja
percebendo-o como um ser inserido num contexto e que necessita ser
atendido nos aspectos fiacutesicos psicoloacutegicos sociais e espirituais A medicina
paliativa vem sendo destacada nas literaturas em geral na aacuterea de oncologia
entretanto tem ganhado destaque tambeacutem nas literaturas pertinentes ao
intensivismo (GARROS 2003)
ldquoA medicina paliativa se desenvolveu como uma reaccedilatildeo agrave medicina moderna
altamente tecnicista que prioriza a cura em vez do cuidadordquo (PESSINI 2006)
A filosofia dos cuidados paliativos a) afirma a vida e encara o morrer como um processo normal b) natildeo apressa nem adia a morte c) procura aliviar a dor e outros sintomas angustiantes d) integra os aspectos psicoloacutegicos e espirituais nos cuidados com o paciente e) oferece um sistema de apoio para ajudar os pacientes a viver ativamente o maacuteximo possiacutevel ateacute a morte f) oferece um sistema de apoio para ajudar a famiacutelia a lidar com a doenccedila do paciente e seu proacuteprio luto (PESSINI 2003 apud PESSINI 2006)
Essa nova perspectiva constitui desafio para os profissionais de sauacutede visto
que o paciente no processo de morte deixa de ser aquele por quem nada si
pode fazer e passa a ser considerado como aquele que natildeo responde mais as
medidas terapecircuticas de cura Desta forma sob a filosofia dos cuidados
paliativos temos muito que fazer para proporcionar uma morte mais digna
decente ou aceitaacutevel para um ser humano A humanizaccedilatildeo do morrer apoacuteia a
concepccedilatildeo de que a morte natildeo eacute um inimigo a ser combatido ela faz parte do
ciclo vital e do adoecer
A proposta dos cuidados paliativos eacute permitir que a pessoa viva intensamente
seus dias finais de vida com controle da dor e sendo assistido de forma
holiacutestica Partindo da ideacuteia de que ldquomais vale acrescentar vida ao tempo do que
tempo agrave vidardquo
O Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo Hospitalar - PNHAH foi instituiacutedo pelo
Ministeacuterio da Sauacutede atraveacutes da portaria nordm 881 de 19 06 2001 no acircmbito do
Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2002) O PNHAH faz parte de um processo
de discussatildeo e implementaccedilatildeo de projetos de humanizaccedilatildeo do atendimento a
sauacutede e de melhoria da qualidade do vinculo estabelecido entre trabalhador da
sauacutede pacientes e familiares
A famiacutelia enquanto extensatildeo do paciente deveraacute ser incluiacuteda no processo de
cuidado deste poreacutem natildeo como auxiliar ao nosso trabalho mas como
indiviacuteduos a serem cuidados tambeacutem pela enfermagem Essa deveraacute oferecer
o suporte necessaacuterio esclarecer as duacutevidas atender e acolher prontamente e
de maneira empaacutetica esse suporte primaacuterio do paciente conquistando assim
sua confianccedila A inclusatildeo da famiacutelia no processo de cuidado em Unidade de
terapia Intensiva (UTI) eacute indispensaacutevel para podermos atender o paciente de
forma holiacutestica (NASCIMENTO MARTINS 2000)
Humanizar significa a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito
com o outro acolher o desconhecido e reconhecer os limites A humanizaccedilatildeo
requer uma interaccedilatildeo harmoniosa entre o cuidado teacutecnico e cientiacutefico Requer
tambeacutem compromisso eacutetico de todos os profissionais envolvidos na assistecircncia
desde os atendentes da recepccedilatildeo ateacute a equipe envolvida diretamente com a
assistecircncia do paciente e famiacutelia O processo do cuidado de enfermagem por
se soacute constitui um ato humanizado visto que os objetivos do cuidar envolvem
aliviar confortar ajudar favorecer promover entre outros (MORAES
GARDA FONSECA 2004) Segundo esses autores
Humanizar de acordo com os valores eacuteticos consiste fundamentalmente em tornar uma praacutetica bela por mais que ela lide com o que tem de mais degradante doloroso e triste na natureza humana o sofrimento a deterioraccedilatildeo e a morte Refere-se portanto a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito ao outro e de reconhecimento dos limites O ponto chave do trabalho de humanizaccedilatildeo estaacute no fortalecimento desta posiccedilatildeo eacutetica de articulaccedilatildeo do cuidado teacutecnico cientifico jaacute construiacutedo conhecido e dominado ao cuidado que incorpora a necessidade a exploraccedilatildeo e o acolhimento do imprevisiacutevel do incontrolaacutevel ao indiferente e singular
Minayo (2004) considera que ao se propor um cuidado humanizado deve-se
repensar a formaccedilatildeo profissional na aacuterea de sauacutede Para esse autor apesar
das propostas de mudanccedilas de modelo de atenccedilatildeo da sauacutede que prega a
integralidade e a humanizaccedilatildeo da assistecircncia e da crise da ciecircncia racionalista
predomina ainda o aprendizado teacutecnico racional e individualizado empregado
muitas vezesrdquo sem o exerciacutecio da criacutetica criatividade e sensibilidaderdquo
Refletindo portanto no despreparo dos profissionais em proporcionar um
cuidado humanizado cada vez mais exigido nos serviccedilos que utilizam alta
tecnologia como as Unidades de Terapia Intensiva
Felizmente percebemos uma seacuterie de estudos relacionados agrave necessidade de
humanizaccedilatildeo desses serviccedilos por forccedila do efeito negativo do ambiente sobre
pacientes famiacutelia e equipe multiprofissional Os estudos mostram tambeacutem que
os profissionais de sauacutede tecircm consciecircncia de que humanizaccedilatildeo eacute uma palavra
aparentemente faacutecil de entender poreacutem no dia-a-dia natildeo eacute tatildeo faacutecil praticaacute-la
22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER
A compreensatildeo sobre a morte influencia na qualidade de vida da pessoa e na
forma como ela interage no seu dia-a-dia com o processo de morte e morrer
Ao pesquisar sobre a definiccedilatildeo das palavras morte e morrer no dicionaacuterio de
liacutengua portuguesa fica-se impressionado com a quantidade de sinocircnimos
atribuiacutedos a elas
Morte significa cessaccedilatildeo da vida fim Jaacute a palavra morrer significa rdquoperder a
vida falecer finar-se fenecer expirar desaparecer descansar desencarnar
ir perecer sucumbir espichar esticar estinguir-se acabar (-se)rdquo (FERREIRA
2000)
Jaacute no dicionaacuterio meacutedico traz as seguintes consideraccedilotildees
1-Cessaccedilatildeo total e irreversiacutevel da funccedilatildeo cerebral funccedilatildeo espontacircnea dos sistemas respiratoacuterio e circulatoacuterio 2 - A cessaccedilatildeo final e irreversiacutevel dos batimentos cardiacuteacos e respiraccedilotildees perceptiacuteveis [] o principal sinal de morte eacute a cessaccedilatildeo da accedilatildeo do coraccedilatildeo Outras indicaccedilotildees satildeo ausecircncia de reflexos cessaccedilatildeo da atividade eleacutetrica do ceacuterebro determinada pelo eletro encefalograma (EEC) manifestaccedilatildeo de rigor mortis e uma descoloraccedilatildeo mosqueada no corpo (THOMAS 2000)
Como podemos observar existem vaacuterias denominaccedilotildees para substituir a
palavra morte talvez o objetivo real seja ldquosuavizarrdquo a sua pronuacutencia tornando-a
menos temiacutevel
A Tanatologia eacute a ciecircncia que estuda a morte Segundo este saber o homem eacute
o uacutenico ser sobre a terra que tem consciecircncia da sua finitude o uacutenico a ter
consciecircncia de que sua passagem neste mundo eacute transitoacuteria e deve terminar
um dia Apesar dessa certeza o homem foi impelido a evitar a convivecircncia com
a morte no decorrer da histoacuteria
A seguir pontuarei de forma sinteacutetica as diferentes interpretaccedilotildees da morte
segundo algumas das grandes correntes religiosas
Para os judeus e cristatildeos que acreditava na ressurreiccedilatildeo apoacutes a morte esta
seria o acesso para outra dimensatildeo da vida que poderia ser no inferno ou no
paraiacuteso conforme os seus feitos terrenos a partir da observacircncia dos
mandamentos de Deus
De acordo com Pessini (1999) apud Gutierrez (2003) ldquoo catolicismo prega que
os esforccedilos para manter a vida fiacutesica podem ser encerrados caso a
continuaccedilatildeo da vida bioloacutegica ao inveacutes de promover a integraccedilatildeo da vida
espiritual e moral do indiviacuteduo torne-se vatilderdquo
O budismo natildeo encara a morte como o fim da vida mas sim como uma
transiccedilatildeo defendendo o direito do indiviacuteduo de determinar o momento em que
deseja passar desta existecircncia para a seguinte Enfatiza que o importante no
momento da morte eacute que a mente permaneccedila em paz e harmonia consigo
mesmo
No islamismo a concepccedilatildeo de vida eacute sagrada a morte eacute interpretada como a
conclusatildeo de uma vida e o comeccedilo de outra
Apesar das diferentes interpretaccedilotildees das diversas correntes religiosas haacute
consenso de que o apoio espiritual constitui elemento valioso dado ao paciente
no processo de morrer
A morte eacute parte integrante do processo de desenvolvimento humano e estaacute
presente no cotidiano diaacuterio de nossas vidas A forma de percepccedilatildeo
significaccedilatildeo e comportamento do processo de morte e morrer variam conforme
o contexto soacutecio-cultural e histoacuterico e vem sofrendo alteraccedilotildees atraveacutes das
diferentes civilizaccedilotildees ateacute os dias atuais
[] Os povos mesopotacircmios tinham por costume enterrar os corpos dos mortos da maneira mais escrupulosa sendo o cadaacutever cuidadosamente acompanhado de todas as marcas mais distintas de sua identidade pessoal e familiar como seus pertences insiacutegnias e objetos de uso suas vestimentas e ateacute mesmo de suas comidas
prediletas (GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)
Para essa civilizaccedilatildeo a morte seria uma espeacutecie de rebaixamento da vida o
apagamento dessa mesma existecircncia
Os antigos egiacutepcios sepultavam seus mortos juntamente com as roupas e os
alimentos para que continuassem felizes e da mesma forma os antigos iacutendios
americanos que enterravam seus parentes com tudo o que lhes pertencia
Esses falavam dos espiacuteritos do mal e atiravam flechas ao ar para afugentaacute-los
Os hebreus consideravam o corpo do morto como alguma coisa impura que
natildeo podia ser tocada (KUumlBLER-ROSS 2008)
Os antigos hindus incineravam seus mortos e suas cinzas eram lanccediladas ao
vento ou nas aacuteguas dos rios sendo o morto despojado de todos os seus
traccedilos de identidade
Para os antigos gregos a incineraccedilatildeo determinava dois tipos de mortos o cadaacutever do homem comum e o cadaacutever dos grandes heroacuteis Ao anocircnimo cabia o crematoacuterio coletivo e o depoacutesito de suas cinzas em vala comum Os corpos falecidos dos heroacuteis eram cremados na cerimocircnia da bela morte onde os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos A proacutepria morte seria a prova de sua virtude tornando-o um indiviacuteduo cuja vida eacute digna de ser lembrada
(GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)
Os primeiros cemiteacuterios surgiram a partir do seacuteculo V e eram localizados junto
agraves igrejas cristatildes Esses cemiteacuterios faziam parte do cenaacuterio de vida das
pessoas tinham papel de praccedila puacuteblica eram lugares de julgamentos das
execuccedilotildees e dos encontros amorosos
Na Idade Meacutedia a morte era entendida com naturalidade fazendo parte do
ambiente domeacutestico O ritual da morte envolvia tanto a pessoa que ia morrer
como os seus parentes e amigos Naquela eacutepoca os nobres eram enterrados
no interior das igrejas enquanto os pobres erram colocados em covas
coletivas
Tanto a famiacutelia como os amigos do morto manifestavam o processo do luto
atraveacutes do uso de roupas pretas e da natildeo participaccedilatildeo na vida social ateacute que
natildeo acontecesse a elaboraccedilatildeo do oacutebito As pessoas que sabiam que iam
morrer protagonizavam todo o ritual despedindo-se dos entes queridos
fazendo o testamento buscando se reconciliar com as pessoas e superar as
maacutegoas A comunidade participava ativamente de todo esse processo (AGRA
ALBUQUERQUE 2008)
Gutierrez (2003) tomando como referencial o estudo de Pessini (1999) fez
uma breve abordagem sobre o processo de morte e morrer a partir da idade
meacutedia ateacute a deacutecada de 70 do seacuteculo XX
Durante os seacuteculos XI e XII iniciaram-se mudanccedilas sutis na maneira
tradicional de o homem atuar diante da morte
No periacuteodo entre os seacuteculos XII a XV houve uma maior conscientizaccedilatildeo
do homem em relaccedilatildeo aacute sua proacutepria morte
Jaacute no seacuteculo XVI a morte distanciou-se das situaccedilotildees mais corriqueiras
e passou a representar uma separaccedilatildeo inaceitaacutevel iniciando um
processo de visualizaccedilatildeo da morte do outro que passou a ser dramaacutetica
e mais complexa
No final do seacuteculo XVIII surgiram duas mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave morte A
benevolecircncia com a ideacuteia da morte e a relaccedilatildeo entre moribundo e seus
familiares O termo benevolecircncia significa boa vontade para com todos
Na primeira metade do seacuteculo XIX a morte era um fenocircmeno bastante
presente e encarado como fato social e puacuteblico em que parentes e
amigos vizinhos e ateacute mesmo crianccedilas permaneciam no quarto do
moribundo Nessa eacutepoca os ritos que acompanhavam a morte eram
realizados com tranquumlilidade e aceitaccedilatildeo
No decorrer dos anos a atitude do homem em relaccedilatildeo agrave morte sofreu
modificaccedilotildees e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaccediladora
Poupa-se o moribundo de saber sobre suas reais condiccedilotildees de sauacutede A
verdade eacute negada com o intuito de privar o doente do sofrimento A
extrema unccedilatildeo que era oferecida ao moribundo em meados do seacuteculo
XX passou a ser dada somente apoacutes sua morte
A partir da segunda metade do seacuteculo XX a morte foi transferida para os
hospitais e passou a ser vista como um fenocircmeno teacutecnico agraves vezes
adiada ou antecipada a depender dos interesses dos que tentavam
domina-la O Meacutedico transformou-se em heroacutei na luta contra a morte
Atualmente os avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos tornaram a morte um
evento institucionalizado Eacute cada vez mais comum as pessoas morrerem
no hospital O doente perde o direito de opinar sobre sua morte o
meacutedico tornou-se personagem principal e a famiacutelia passou a sentir-se
protegida por natildeo ter que presenciar a morte de um ente querido Nesse
contexto a morte passa a ocorrer em cenaacuterio composto por fios
maacutequinas aparelhos e pessoas estranhas geralmente equipe meacutedica e
de enfermagem
A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma
instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para
o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras
Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer
acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive
a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e
na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu
avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer
de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo
conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em
seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de
familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi
encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi
celebrada uma missa de corpo presente
Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em
ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de
fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com
breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra
que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e
desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida
23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER
O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa
maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo
diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito
especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e
descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute
dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que
encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo
humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas
verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo
Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-
Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute
em fase terminal a saber
Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do
doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente
ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo
Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos
comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que
algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo
todo
Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja
O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade
(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da
raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo
Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma
coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio
mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento
Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio
Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da
capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da
vida
Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar
depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima
com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase
mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas
preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser
confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute
importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma
desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da
chegada ao fim em paz
Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se
sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila
algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses
estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo
psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses
estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte
iminente
Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei
algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim
uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi
sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua
confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo
poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha
confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo
de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de
ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de
morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles
no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos
Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta
Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca
De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por
causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir
algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem
responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas
Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante
aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e
geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los
Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do
paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida
e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade
ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar
esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de
vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando
na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral
Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de
deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias
como inchaccedilo naacuteusea e dor
Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos
agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o
paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees
conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo
deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos
para uma morte digna e sem sofrimento
Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida
para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou
como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de
cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam
sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam
despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo
Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a
audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada
perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir
Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de
alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as
pessoas envolvidas
Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes
optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte
sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para
estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale
ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos
proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou
simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano
trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as
informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes
crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse
doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais
humanizado
Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de
morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir
poderaacute nos auxiliar nesse processo
Carta dos Pacientes Terminais
- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que
eu morra
- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas
possam acontecer
- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o
sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas
- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e
emoccedilotildees diante da minha morte
- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus
cuidados e tratamentos
- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem
mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode
confortordquo
- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho
- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto
- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado
- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas
honestamente
- Tenho o direito de natildeo ser enganado
- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou
experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos
demais
- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser
julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves
crenccedilas dos demais
- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de
meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados
- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis
humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas
necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a
minha privacidade
- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI
1996 APUD GUTIERREZ 2003)
24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica
Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes
mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato
e a observaccedilatildeo constante
Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico
e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com
alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a
elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre
outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo
atualmente
Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede
descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute
de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade
Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade
proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica
de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas
que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais
complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica
e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico
e recursos humanos especializados
Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os
paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do
tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida
prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da
famiacutelia e do cliente
As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses
pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e
extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave
manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e
adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA
2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas
ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de
interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao
paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores
relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante
tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons
monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e
ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre
outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua
privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar
esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo
vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo
Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional
muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em
estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade
criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo
profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao
paciente no processo de morte
A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe
multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do
leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto
discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no
intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade
fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo
conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida
(SILVA 2001)
Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal
durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido
contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se
impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo
endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais
membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de
comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo
profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a
importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes
da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos
postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais
organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida
entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)
Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam
diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos
pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para
o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem
sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus
familiares diante da finitude da vida
De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo
emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa
depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o
paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade
Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas
e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos
sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de
existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma
determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se
necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e
preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de
forma humanizada
Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta
[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo
Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)
ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a
deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes
consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu
sofrimentordquo
Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso
que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter
firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de
enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando
assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver
excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio
de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato
estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos
menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a
deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito
profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no
meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira
de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia
A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural
e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada
como uma das maiores estudiosas do assunto
A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte
A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais
membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma
assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais
necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida
Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente
consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-
espiritual
3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA
A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento
bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto
Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel
proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de
medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro
do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova
perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no
final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de
suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo
baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais
meacutedicos e familiares a saber
Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)
preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc
Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da
famiacutelia amigos e demais entes queridos)
Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos
importantes
Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex
testamentos venda de propriedade etc)
Evitar um processo longo de morte
Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica
brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na
medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo
coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer
todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e
obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que
estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute
receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel
Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites
de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe
envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e
poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz
sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica
meacutedica)
Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades
espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir
holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos
fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os
profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para
confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento
diante do processo de morte
A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de
sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que
lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto
que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre
as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado
na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda
Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o
envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do
paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade
de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus
familiaresrdquo
Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar
que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos
(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo
segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas
neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo
avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do
quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos
profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas
a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados
paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente
no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo
instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma
efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas
Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo
da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre
esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos
pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional
complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso
Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa
assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz
presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e
responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser
humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo
Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer
firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder
ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento
tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui
identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim
Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios
inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar
biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se
comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e
sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse
comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma
comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para
esse indiviacuteduo
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e
morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos
envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da
pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe
multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas
atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas
nesse estudo
Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu
para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem
ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma
morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano
Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar
aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente
abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por
Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo
incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e
enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de
trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da
enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida
deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que
estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI
Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira
cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja
prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer
Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no
processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo
especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas
riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho
considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada
particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco
Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas
pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina
paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais
envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de
uma Unidade de terapia Intensiva
Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o
aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que
eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor
considerado como desumanizante e frio
Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais
profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado
REFEREcircNCIAS
AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em
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enfermagem teria o aprendizado necessaacuterio para assistir de forma adequada o
paciente no processo de mortemorrer Isso natildeo ocorreu o assunto foi pouco
discutido na disciplina de psicologia Assim surgiu meu interesse pelo
embasamento literaacuterio e consequentemente adquirir habilidades para prestar
uma assistecircncia de qualidade diferenciada e humanizada a fim de
proporcionar uma morte ldquomais dignardquo aos clientes sob meus cuidados
PROBLEMA
Que iniciativas podem ser tomadas para tornar a morte mais digna e mais
humana dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI)
OBJETIVO
Analisar na literatura propostas e iniciativas que visem uma morte digna e mais
humana em Unidade de Terapia Intensiva
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisatildeo bibliograacutefica tendo como base a anaacutelise e
interpretaccedilatildeo de literaturas especiacuteficas dissertaccedilotildees teses perioacutedicos artigos
livros e outras publicaccedilotildees nacionais em consonacircncia com o objetivo proposto
Os descritores utilizados foram morte enfermagem UTI e humanizaccedilatildeo da
assistecircncia
Segundo Tognetti (2006) a pesquisa bibliograacutefica eacute fundamentada nos
conhecimentos de biblioteconomia documentaccedilatildeo e bibliografia sua finalidade
eacute colocar o pesquisador em contato com o que jaacute se produziu a respeito do seu
tema de pesquisa Trata-se de uma pesquisa com caraacuteter exploratoacuterio e
qualitativo De acordo com Godoy (1995 p21) ldquo[] a pesquisa qualitativa
ocupa um reconhecido lugar entre as vaacuterias possibilidades de se estudar os
fenocircmenos que envolvem os seres humanos e suas intricadas relaccedilotildees sociais
estabelecidas em diversos ambientesrdquo Jaacute para Richardson (1999 p17) visa
descobrir as semelhanccedilas entre fenocircmenos ldquoos pressupostos teoacutericos natildeo
estatildeo claros ou satildeo difiacuteceis de encontrar Nessa situaccedilatildeo faz-se uma pesquisa
natildeo apenas para conhecer o tipo de relaccedilatildeo existente mas sobretudo para
determinar a existecircncia de relaccedilatildeordquo
A pesquisa exploratoacuteria eacute ideal quando se deseja explorar o novo ainda natildeo
considerado como ciecircncia mas que serve de base agrave mesma Pode-se basear
neste tipo de pesquisa na ocorrecircncia de bibliografia escassa sobre o tema em
estudo (LEITE 2008)
Apoacutes leitura na iacutentegra e interpretaccedilatildeo dos textos selecionados buscou-se obter
a resposta do problema da pesquisa
ESTRUTURA
Organizei este estudo em trecircs momentos nos quais procurei descrever sobre o
assunto proposto de forma simples e coerente
No primeiro momento apresento o objeto de estudo relato meu interesse em
discorrer sobre o tema descrevo tambeacutem o objetivo com base no problema em
questatildeo
Logo apoacutes no segundo momento faccedilo consideraccedilotildees sobre humanizaccedilatildeo da
assistecircncia apresento tambeacutem uma concisatildeo sobre o morrer e faccedilo alguns
comentaacuterios acerca do paciente moribundo em UTI Em seguida comento
sobre a equipe de enfermagem e a assistecircncia durante o processo
mortemorrer
Prosseguindo no terceiro momento apresento a anaacutelise dos dados
pesquisados
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA
Segundo Ferreira (2000) humanizar significa tornar humano dar condiccedilatildeo
humana tornar afaacutevel e trataacutevel A humanizaccedilatildeo da assistecircncia requer
conscientizaccedilatildeo e preparo da equipe para um cuidado diferenciado
entendendo o paciente como um ser humano
Alguns estudos na aacuterea da medicina intensivista apontam para a necessidade
de mudar o enfoque predominantemente tecnicista paciente-doenccedila para uma
abordagem mais humana que engloba o paciente de forma holiacutestica ou seja
percebendo-o como um ser inserido num contexto e que necessita ser
atendido nos aspectos fiacutesicos psicoloacutegicos sociais e espirituais A medicina
paliativa vem sendo destacada nas literaturas em geral na aacuterea de oncologia
entretanto tem ganhado destaque tambeacutem nas literaturas pertinentes ao
intensivismo (GARROS 2003)
ldquoA medicina paliativa se desenvolveu como uma reaccedilatildeo agrave medicina moderna
altamente tecnicista que prioriza a cura em vez do cuidadordquo (PESSINI 2006)
A filosofia dos cuidados paliativos a) afirma a vida e encara o morrer como um processo normal b) natildeo apressa nem adia a morte c) procura aliviar a dor e outros sintomas angustiantes d) integra os aspectos psicoloacutegicos e espirituais nos cuidados com o paciente e) oferece um sistema de apoio para ajudar os pacientes a viver ativamente o maacuteximo possiacutevel ateacute a morte f) oferece um sistema de apoio para ajudar a famiacutelia a lidar com a doenccedila do paciente e seu proacuteprio luto (PESSINI 2003 apud PESSINI 2006)
Essa nova perspectiva constitui desafio para os profissionais de sauacutede visto
que o paciente no processo de morte deixa de ser aquele por quem nada si
pode fazer e passa a ser considerado como aquele que natildeo responde mais as
medidas terapecircuticas de cura Desta forma sob a filosofia dos cuidados
paliativos temos muito que fazer para proporcionar uma morte mais digna
decente ou aceitaacutevel para um ser humano A humanizaccedilatildeo do morrer apoacuteia a
concepccedilatildeo de que a morte natildeo eacute um inimigo a ser combatido ela faz parte do
ciclo vital e do adoecer
A proposta dos cuidados paliativos eacute permitir que a pessoa viva intensamente
seus dias finais de vida com controle da dor e sendo assistido de forma
holiacutestica Partindo da ideacuteia de que ldquomais vale acrescentar vida ao tempo do que
tempo agrave vidardquo
O Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo Hospitalar - PNHAH foi instituiacutedo pelo
Ministeacuterio da Sauacutede atraveacutes da portaria nordm 881 de 19 06 2001 no acircmbito do
Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2002) O PNHAH faz parte de um processo
de discussatildeo e implementaccedilatildeo de projetos de humanizaccedilatildeo do atendimento a
sauacutede e de melhoria da qualidade do vinculo estabelecido entre trabalhador da
sauacutede pacientes e familiares
A famiacutelia enquanto extensatildeo do paciente deveraacute ser incluiacuteda no processo de
cuidado deste poreacutem natildeo como auxiliar ao nosso trabalho mas como
indiviacuteduos a serem cuidados tambeacutem pela enfermagem Essa deveraacute oferecer
o suporte necessaacuterio esclarecer as duacutevidas atender e acolher prontamente e
de maneira empaacutetica esse suporte primaacuterio do paciente conquistando assim
sua confianccedila A inclusatildeo da famiacutelia no processo de cuidado em Unidade de
terapia Intensiva (UTI) eacute indispensaacutevel para podermos atender o paciente de
forma holiacutestica (NASCIMENTO MARTINS 2000)
Humanizar significa a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito
com o outro acolher o desconhecido e reconhecer os limites A humanizaccedilatildeo
requer uma interaccedilatildeo harmoniosa entre o cuidado teacutecnico e cientiacutefico Requer
tambeacutem compromisso eacutetico de todos os profissionais envolvidos na assistecircncia
desde os atendentes da recepccedilatildeo ateacute a equipe envolvida diretamente com a
assistecircncia do paciente e famiacutelia O processo do cuidado de enfermagem por
se soacute constitui um ato humanizado visto que os objetivos do cuidar envolvem
aliviar confortar ajudar favorecer promover entre outros (MORAES
GARDA FONSECA 2004) Segundo esses autores
Humanizar de acordo com os valores eacuteticos consiste fundamentalmente em tornar uma praacutetica bela por mais que ela lide com o que tem de mais degradante doloroso e triste na natureza humana o sofrimento a deterioraccedilatildeo e a morte Refere-se portanto a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito ao outro e de reconhecimento dos limites O ponto chave do trabalho de humanizaccedilatildeo estaacute no fortalecimento desta posiccedilatildeo eacutetica de articulaccedilatildeo do cuidado teacutecnico cientifico jaacute construiacutedo conhecido e dominado ao cuidado que incorpora a necessidade a exploraccedilatildeo e o acolhimento do imprevisiacutevel do incontrolaacutevel ao indiferente e singular
Minayo (2004) considera que ao se propor um cuidado humanizado deve-se
repensar a formaccedilatildeo profissional na aacuterea de sauacutede Para esse autor apesar
das propostas de mudanccedilas de modelo de atenccedilatildeo da sauacutede que prega a
integralidade e a humanizaccedilatildeo da assistecircncia e da crise da ciecircncia racionalista
predomina ainda o aprendizado teacutecnico racional e individualizado empregado
muitas vezesrdquo sem o exerciacutecio da criacutetica criatividade e sensibilidaderdquo
Refletindo portanto no despreparo dos profissionais em proporcionar um
cuidado humanizado cada vez mais exigido nos serviccedilos que utilizam alta
tecnologia como as Unidades de Terapia Intensiva
Felizmente percebemos uma seacuterie de estudos relacionados agrave necessidade de
humanizaccedilatildeo desses serviccedilos por forccedila do efeito negativo do ambiente sobre
pacientes famiacutelia e equipe multiprofissional Os estudos mostram tambeacutem que
os profissionais de sauacutede tecircm consciecircncia de que humanizaccedilatildeo eacute uma palavra
aparentemente faacutecil de entender poreacutem no dia-a-dia natildeo eacute tatildeo faacutecil praticaacute-la
22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER
A compreensatildeo sobre a morte influencia na qualidade de vida da pessoa e na
forma como ela interage no seu dia-a-dia com o processo de morte e morrer
Ao pesquisar sobre a definiccedilatildeo das palavras morte e morrer no dicionaacuterio de
liacutengua portuguesa fica-se impressionado com a quantidade de sinocircnimos
atribuiacutedos a elas
Morte significa cessaccedilatildeo da vida fim Jaacute a palavra morrer significa rdquoperder a
vida falecer finar-se fenecer expirar desaparecer descansar desencarnar
ir perecer sucumbir espichar esticar estinguir-se acabar (-se)rdquo (FERREIRA
2000)
Jaacute no dicionaacuterio meacutedico traz as seguintes consideraccedilotildees
1-Cessaccedilatildeo total e irreversiacutevel da funccedilatildeo cerebral funccedilatildeo espontacircnea dos sistemas respiratoacuterio e circulatoacuterio 2 - A cessaccedilatildeo final e irreversiacutevel dos batimentos cardiacuteacos e respiraccedilotildees perceptiacuteveis [] o principal sinal de morte eacute a cessaccedilatildeo da accedilatildeo do coraccedilatildeo Outras indicaccedilotildees satildeo ausecircncia de reflexos cessaccedilatildeo da atividade eleacutetrica do ceacuterebro determinada pelo eletro encefalograma (EEC) manifestaccedilatildeo de rigor mortis e uma descoloraccedilatildeo mosqueada no corpo (THOMAS 2000)
Como podemos observar existem vaacuterias denominaccedilotildees para substituir a
palavra morte talvez o objetivo real seja ldquosuavizarrdquo a sua pronuacutencia tornando-a
menos temiacutevel
A Tanatologia eacute a ciecircncia que estuda a morte Segundo este saber o homem eacute
o uacutenico ser sobre a terra que tem consciecircncia da sua finitude o uacutenico a ter
consciecircncia de que sua passagem neste mundo eacute transitoacuteria e deve terminar
um dia Apesar dessa certeza o homem foi impelido a evitar a convivecircncia com
a morte no decorrer da histoacuteria
A seguir pontuarei de forma sinteacutetica as diferentes interpretaccedilotildees da morte
segundo algumas das grandes correntes religiosas
Para os judeus e cristatildeos que acreditava na ressurreiccedilatildeo apoacutes a morte esta
seria o acesso para outra dimensatildeo da vida que poderia ser no inferno ou no
paraiacuteso conforme os seus feitos terrenos a partir da observacircncia dos
mandamentos de Deus
De acordo com Pessini (1999) apud Gutierrez (2003) ldquoo catolicismo prega que
os esforccedilos para manter a vida fiacutesica podem ser encerrados caso a
continuaccedilatildeo da vida bioloacutegica ao inveacutes de promover a integraccedilatildeo da vida
espiritual e moral do indiviacuteduo torne-se vatilderdquo
O budismo natildeo encara a morte como o fim da vida mas sim como uma
transiccedilatildeo defendendo o direito do indiviacuteduo de determinar o momento em que
deseja passar desta existecircncia para a seguinte Enfatiza que o importante no
momento da morte eacute que a mente permaneccedila em paz e harmonia consigo
mesmo
No islamismo a concepccedilatildeo de vida eacute sagrada a morte eacute interpretada como a
conclusatildeo de uma vida e o comeccedilo de outra
Apesar das diferentes interpretaccedilotildees das diversas correntes religiosas haacute
consenso de que o apoio espiritual constitui elemento valioso dado ao paciente
no processo de morrer
A morte eacute parte integrante do processo de desenvolvimento humano e estaacute
presente no cotidiano diaacuterio de nossas vidas A forma de percepccedilatildeo
significaccedilatildeo e comportamento do processo de morte e morrer variam conforme
o contexto soacutecio-cultural e histoacuterico e vem sofrendo alteraccedilotildees atraveacutes das
diferentes civilizaccedilotildees ateacute os dias atuais
[] Os povos mesopotacircmios tinham por costume enterrar os corpos dos mortos da maneira mais escrupulosa sendo o cadaacutever cuidadosamente acompanhado de todas as marcas mais distintas de sua identidade pessoal e familiar como seus pertences insiacutegnias e objetos de uso suas vestimentas e ateacute mesmo de suas comidas
prediletas (GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)
Para essa civilizaccedilatildeo a morte seria uma espeacutecie de rebaixamento da vida o
apagamento dessa mesma existecircncia
Os antigos egiacutepcios sepultavam seus mortos juntamente com as roupas e os
alimentos para que continuassem felizes e da mesma forma os antigos iacutendios
americanos que enterravam seus parentes com tudo o que lhes pertencia
Esses falavam dos espiacuteritos do mal e atiravam flechas ao ar para afugentaacute-los
Os hebreus consideravam o corpo do morto como alguma coisa impura que
natildeo podia ser tocada (KUumlBLER-ROSS 2008)
Os antigos hindus incineravam seus mortos e suas cinzas eram lanccediladas ao
vento ou nas aacuteguas dos rios sendo o morto despojado de todos os seus
traccedilos de identidade
Para os antigos gregos a incineraccedilatildeo determinava dois tipos de mortos o cadaacutever do homem comum e o cadaacutever dos grandes heroacuteis Ao anocircnimo cabia o crematoacuterio coletivo e o depoacutesito de suas cinzas em vala comum Os corpos falecidos dos heroacuteis eram cremados na cerimocircnia da bela morte onde os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos A proacutepria morte seria a prova de sua virtude tornando-o um indiviacuteduo cuja vida eacute digna de ser lembrada
(GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)
Os primeiros cemiteacuterios surgiram a partir do seacuteculo V e eram localizados junto
agraves igrejas cristatildes Esses cemiteacuterios faziam parte do cenaacuterio de vida das
pessoas tinham papel de praccedila puacuteblica eram lugares de julgamentos das
execuccedilotildees e dos encontros amorosos
Na Idade Meacutedia a morte era entendida com naturalidade fazendo parte do
ambiente domeacutestico O ritual da morte envolvia tanto a pessoa que ia morrer
como os seus parentes e amigos Naquela eacutepoca os nobres eram enterrados
no interior das igrejas enquanto os pobres erram colocados em covas
coletivas
Tanto a famiacutelia como os amigos do morto manifestavam o processo do luto
atraveacutes do uso de roupas pretas e da natildeo participaccedilatildeo na vida social ateacute que
natildeo acontecesse a elaboraccedilatildeo do oacutebito As pessoas que sabiam que iam
morrer protagonizavam todo o ritual despedindo-se dos entes queridos
fazendo o testamento buscando se reconciliar com as pessoas e superar as
maacutegoas A comunidade participava ativamente de todo esse processo (AGRA
ALBUQUERQUE 2008)
Gutierrez (2003) tomando como referencial o estudo de Pessini (1999) fez
uma breve abordagem sobre o processo de morte e morrer a partir da idade
meacutedia ateacute a deacutecada de 70 do seacuteculo XX
Durante os seacuteculos XI e XII iniciaram-se mudanccedilas sutis na maneira
tradicional de o homem atuar diante da morte
No periacuteodo entre os seacuteculos XII a XV houve uma maior conscientizaccedilatildeo
do homem em relaccedilatildeo aacute sua proacutepria morte
Jaacute no seacuteculo XVI a morte distanciou-se das situaccedilotildees mais corriqueiras
e passou a representar uma separaccedilatildeo inaceitaacutevel iniciando um
processo de visualizaccedilatildeo da morte do outro que passou a ser dramaacutetica
e mais complexa
No final do seacuteculo XVIII surgiram duas mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave morte A
benevolecircncia com a ideacuteia da morte e a relaccedilatildeo entre moribundo e seus
familiares O termo benevolecircncia significa boa vontade para com todos
Na primeira metade do seacuteculo XIX a morte era um fenocircmeno bastante
presente e encarado como fato social e puacuteblico em que parentes e
amigos vizinhos e ateacute mesmo crianccedilas permaneciam no quarto do
moribundo Nessa eacutepoca os ritos que acompanhavam a morte eram
realizados com tranquumlilidade e aceitaccedilatildeo
No decorrer dos anos a atitude do homem em relaccedilatildeo agrave morte sofreu
modificaccedilotildees e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaccediladora
Poupa-se o moribundo de saber sobre suas reais condiccedilotildees de sauacutede A
verdade eacute negada com o intuito de privar o doente do sofrimento A
extrema unccedilatildeo que era oferecida ao moribundo em meados do seacuteculo
XX passou a ser dada somente apoacutes sua morte
A partir da segunda metade do seacuteculo XX a morte foi transferida para os
hospitais e passou a ser vista como um fenocircmeno teacutecnico agraves vezes
adiada ou antecipada a depender dos interesses dos que tentavam
domina-la O Meacutedico transformou-se em heroacutei na luta contra a morte
Atualmente os avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos tornaram a morte um
evento institucionalizado Eacute cada vez mais comum as pessoas morrerem
no hospital O doente perde o direito de opinar sobre sua morte o
meacutedico tornou-se personagem principal e a famiacutelia passou a sentir-se
protegida por natildeo ter que presenciar a morte de um ente querido Nesse
contexto a morte passa a ocorrer em cenaacuterio composto por fios
maacutequinas aparelhos e pessoas estranhas geralmente equipe meacutedica e
de enfermagem
A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma
instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para
o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras
Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer
acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive
a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e
na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu
avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer
de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo
conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em
seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de
familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi
encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi
celebrada uma missa de corpo presente
Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em
ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de
fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com
breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra
que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e
desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida
23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER
O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa
maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo
diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito
especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e
descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute
dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que
encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo
humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas
verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo
Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-
Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute
em fase terminal a saber
Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do
doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente
ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo
Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos
comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que
algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo
todo
Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja
O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade
(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da
raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo
Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma
coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio
mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento
Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio
Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da
capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da
vida
Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar
depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima
com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase
mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas
preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser
confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute
importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma
desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da
chegada ao fim em paz
Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se
sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila
algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses
estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo
psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses
estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte
iminente
Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei
algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim
uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi
sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua
confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo
poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha
confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo
de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de
ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de
morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles
no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos
Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta
Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca
De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por
causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir
algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem
responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas
Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante
aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e
geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los
Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do
paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida
e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade
ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar
esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de
vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando
na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral
Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de
deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias
como inchaccedilo naacuteusea e dor
Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos
agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o
paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees
conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo
deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos
para uma morte digna e sem sofrimento
Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida
para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou
como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de
cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam
sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam
despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo
Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a
audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada
perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir
Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de
alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as
pessoas envolvidas
Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes
optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte
sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para
estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale
ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos
proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou
simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano
trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as
informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes
crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse
doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais
humanizado
Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de
morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir
poderaacute nos auxiliar nesse processo
Carta dos Pacientes Terminais
- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que
eu morra
- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas
possam acontecer
- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o
sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas
- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e
emoccedilotildees diante da minha morte
- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus
cuidados e tratamentos
- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem
mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode
confortordquo
- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho
- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto
- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado
- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas
honestamente
- Tenho o direito de natildeo ser enganado
- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou
experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos
demais
- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser
julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves
crenccedilas dos demais
- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de
meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados
- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis
humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas
necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a
minha privacidade
- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI
1996 APUD GUTIERREZ 2003)
24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica
Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes
mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato
e a observaccedilatildeo constante
Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico
e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com
alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a
elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre
outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo
atualmente
Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede
descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute
de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade
Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade
proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica
de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas
que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais
complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica
e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico
e recursos humanos especializados
Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os
paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do
tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida
prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da
famiacutelia e do cliente
As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses
pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e
extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave
manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e
adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA
2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas
ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de
interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao
paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores
relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante
tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons
monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e
ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre
outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua
privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar
esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo
vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo
Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional
muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em
estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade
criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo
profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao
paciente no processo de morte
A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe
multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do
leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto
discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no
intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade
fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo
conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida
(SILVA 2001)
Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal
durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido
contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se
impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo
endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais
membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de
comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo
profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a
importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes
da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos
postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais
organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida
entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)
Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam
diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos
pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para
o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem
sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus
familiares diante da finitude da vida
De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo
emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa
depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o
paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade
Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas
e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos
sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de
existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma
determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se
necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e
preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de
forma humanizada
Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta
[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo
Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)
ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a
deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes
consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu
sofrimentordquo
Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso
que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter
firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de
enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando
assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver
excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio
de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato
estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos
menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a
deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito
profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no
meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira
de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia
A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural
e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada
como uma das maiores estudiosas do assunto
A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte
A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais
membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma
assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais
necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida
Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente
consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-
espiritual
3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA
A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento
bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto
Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel
proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de
medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro
do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova
perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no
final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de
suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo
baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais
meacutedicos e familiares a saber
Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)
preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc
Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da
famiacutelia amigos e demais entes queridos)
Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos
importantes
Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex
testamentos venda de propriedade etc)
Evitar um processo longo de morte
Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica
brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na
medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo
coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer
todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e
obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que
estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute
receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel
Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites
de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe
envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e
poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz
sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica
meacutedica)
Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades
espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir
holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos
fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os
profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para
confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento
diante do processo de morte
A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de
sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que
lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto
que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre
as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado
na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda
Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o
envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do
paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade
de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus
familiaresrdquo
Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar
que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos
(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo
segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas
neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo
avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do
quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos
profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas
a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados
paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente
no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo
instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma
efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas
Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo
da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre
esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos
pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional
complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso
Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa
assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz
presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e
responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser
humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo
Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer
firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder
ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento
tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui
identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim
Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios
inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar
biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se
comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e
sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse
comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma
comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para
esse indiviacuteduo
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e
morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos
envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da
pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe
multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas
atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas
nesse estudo
Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu
para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem
ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma
morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano
Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar
aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente
abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por
Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo
incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e
enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de
trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da
enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida
deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que
estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI
Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira
cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja
prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer
Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no
processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo
especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas
riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho
considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada
particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco
Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas
pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina
paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais
envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de
uma Unidade de terapia Intensiva
Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o
aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que
eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor
considerado como desumanizante e frio
Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais
profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado
REFEREcircNCIAS
AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em
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Paulo v79 n7 dez 2004 MINAYO M C de S Dilemas do setor sauacutede diante de suas propostas humanistas Ciecircncias e Sauacutede coletiva V9 n1 p17-20 2004
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PESSINI LBioeacutetica e cuidados Paliativos alguns desafios do cotidiano aos grandes dilemas In PIMENTA CAM de MOTA DDCFde CRUZDde A L M C da Dor e cuidados Paliativos enfermagem Medicina e Psicologia
Barueri Satildeo Paulo Manoele 2006 p45-65 RICHARDSON RJ Pesquisa Social meacutetodos e teacutecnicas 3 edSatildeo Paulo Atlas1999 SILVA AKS Sentimentos experenciados pelos (as) enfermeiros (as) das Unidades de Terapia Intensiva no processo de morte e morrer 2006 33f Monografia (poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Universidade castelo Branco ndash Atualiza Salvador 2006 SILVA M J da Percebendo o Ser Humano Aleacutem da doenccedila o natildeo - verbal detectado pelo Enfermeiro Nursing Satildeo Paulo v 4 n4 p 14-20 out2001 SILVA MJPComunicaccedilatildeo tem remeacutedio a comunicaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais em sauacutede 4 ed Satildeo Paulo Gente 1996 THOMAS C L (Coord) Dicionaacuterio Meacutedico Enciclopeacutedico Faber 17 ed Satildeo
Paulo Manoele 2000
TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica
metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003
estatildeo claros ou satildeo difiacuteceis de encontrar Nessa situaccedilatildeo faz-se uma pesquisa
natildeo apenas para conhecer o tipo de relaccedilatildeo existente mas sobretudo para
determinar a existecircncia de relaccedilatildeordquo
A pesquisa exploratoacuteria eacute ideal quando se deseja explorar o novo ainda natildeo
considerado como ciecircncia mas que serve de base agrave mesma Pode-se basear
neste tipo de pesquisa na ocorrecircncia de bibliografia escassa sobre o tema em
estudo (LEITE 2008)
Apoacutes leitura na iacutentegra e interpretaccedilatildeo dos textos selecionados buscou-se obter
a resposta do problema da pesquisa
ESTRUTURA
Organizei este estudo em trecircs momentos nos quais procurei descrever sobre o
assunto proposto de forma simples e coerente
No primeiro momento apresento o objeto de estudo relato meu interesse em
discorrer sobre o tema descrevo tambeacutem o objetivo com base no problema em
questatildeo
Logo apoacutes no segundo momento faccedilo consideraccedilotildees sobre humanizaccedilatildeo da
assistecircncia apresento tambeacutem uma concisatildeo sobre o morrer e faccedilo alguns
comentaacuterios acerca do paciente moribundo em UTI Em seguida comento
sobre a equipe de enfermagem e a assistecircncia durante o processo
mortemorrer
Prosseguindo no terceiro momento apresento a anaacutelise dos dados
pesquisados
2 REVISAtildeO DA LITERATURA
21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA
Segundo Ferreira (2000) humanizar significa tornar humano dar condiccedilatildeo
humana tornar afaacutevel e trataacutevel A humanizaccedilatildeo da assistecircncia requer
conscientizaccedilatildeo e preparo da equipe para um cuidado diferenciado
entendendo o paciente como um ser humano
Alguns estudos na aacuterea da medicina intensivista apontam para a necessidade
de mudar o enfoque predominantemente tecnicista paciente-doenccedila para uma
abordagem mais humana que engloba o paciente de forma holiacutestica ou seja
percebendo-o como um ser inserido num contexto e que necessita ser
atendido nos aspectos fiacutesicos psicoloacutegicos sociais e espirituais A medicina
paliativa vem sendo destacada nas literaturas em geral na aacuterea de oncologia
entretanto tem ganhado destaque tambeacutem nas literaturas pertinentes ao
intensivismo (GARROS 2003)
ldquoA medicina paliativa se desenvolveu como uma reaccedilatildeo agrave medicina moderna
altamente tecnicista que prioriza a cura em vez do cuidadordquo (PESSINI 2006)
A filosofia dos cuidados paliativos a) afirma a vida e encara o morrer como um processo normal b) natildeo apressa nem adia a morte c) procura aliviar a dor e outros sintomas angustiantes d) integra os aspectos psicoloacutegicos e espirituais nos cuidados com o paciente e) oferece um sistema de apoio para ajudar os pacientes a viver ativamente o maacuteximo possiacutevel ateacute a morte f) oferece um sistema de apoio para ajudar a famiacutelia a lidar com a doenccedila do paciente e seu proacuteprio luto (PESSINI 2003 apud PESSINI 2006)
Essa nova perspectiva constitui desafio para os profissionais de sauacutede visto
que o paciente no processo de morte deixa de ser aquele por quem nada si
pode fazer e passa a ser considerado como aquele que natildeo responde mais as
medidas terapecircuticas de cura Desta forma sob a filosofia dos cuidados
paliativos temos muito que fazer para proporcionar uma morte mais digna
decente ou aceitaacutevel para um ser humano A humanizaccedilatildeo do morrer apoacuteia a
concepccedilatildeo de que a morte natildeo eacute um inimigo a ser combatido ela faz parte do
ciclo vital e do adoecer
A proposta dos cuidados paliativos eacute permitir que a pessoa viva intensamente
seus dias finais de vida com controle da dor e sendo assistido de forma
holiacutestica Partindo da ideacuteia de que ldquomais vale acrescentar vida ao tempo do que
tempo agrave vidardquo
O Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo Hospitalar - PNHAH foi instituiacutedo pelo
Ministeacuterio da Sauacutede atraveacutes da portaria nordm 881 de 19 06 2001 no acircmbito do
Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2002) O PNHAH faz parte de um processo
de discussatildeo e implementaccedilatildeo de projetos de humanizaccedilatildeo do atendimento a
sauacutede e de melhoria da qualidade do vinculo estabelecido entre trabalhador da
sauacutede pacientes e familiares
A famiacutelia enquanto extensatildeo do paciente deveraacute ser incluiacuteda no processo de
cuidado deste poreacutem natildeo como auxiliar ao nosso trabalho mas como
indiviacuteduos a serem cuidados tambeacutem pela enfermagem Essa deveraacute oferecer
o suporte necessaacuterio esclarecer as duacutevidas atender e acolher prontamente e
de maneira empaacutetica esse suporte primaacuterio do paciente conquistando assim
sua confianccedila A inclusatildeo da famiacutelia no processo de cuidado em Unidade de
terapia Intensiva (UTI) eacute indispensaacutevel para podermos atender o paciente de
forma holiacutestica (NASCIMENTO MARTINS 2000)
Humanizar significa a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito
com o outro acolher o desconhecido e reconhecer os limites A humanizaccedilatildeo
requer uma interaccedilatildeo harmoniosa entre o cuidado teacutecnico e cientiacutefico Requer
tambeacutem compromisso eacutetico de todos os profissionais envolvidos na assistecircncia
desde os atendentes da recepccedilatildeo ateacute a equipe envolvida diretamente com a
assistecircncia do paciente e famiacutelia O processo do cuidado de enfermagem por
se soacute constitui um ato humanizado visto que os objetivos do cuidar envolvem
aliviar confortar ajudar favorecer promover entre outros (MORAES
GARDA FONSECA 2004) Segundo esses autores
Humanizar de acordo com os valores eacuteticos consiste fundamentalmente em tornar uma praacutetica bela por mais que ela lide com o que tem de mais degradante doloroso e triste na natureza humana o sofrimento a deterioraccedilatildeo e a morte Refere-se portanto a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito ao outro e de reconhecimento dos limites O ponto chave do trabalho de humanizaccedilatildeo estaacute no fortalecimento desta posiccedilatildeo eacutetica de articulaccedilatildeo do cuidado teacutecnico cientifico jaacute construiacutedo conhecido e dominado ao cuidado que incorpora a necessidade a exploraccedilatildeo e o acolhimento do imprevisiacutevel do incontrolaacutevel ao indiferente e singular
Minayo (2004) considera que ao se propor um cuidado humanizado deve-se
repensar a formaccedilatildeo profissional na aacuterea de sauacutede Para esse autor apesar
das propostas de mudanccedilas de modelo de atenccedilatildeo da sauacutede que prega a
integralidade e a humanizaccedilatildeo da assistecircncia e da crise da ciecircncia racionalista
predomina ainda o aprendizado teacutecnico racional e individualizado empregado
muitas vezesrdquo sem o exerciacutecio da criacutetica criatividade e sensibilidaderdquo
Refletindo portanto no despreparo dos profissionais em proporcionar um
cuidado humanizado cada vez mais exigido nos serviccedilos que utilizam alta
tecnologia como as Unidades de Terapia Intensiva
Felizmente percebemos uma seacuterie de estudos relacionados agrave necessidade de
humanizaccedilatildeo desses serviccedilos por forccedila do efeito negativo do ambiente sobre
pacientes famiacutelia e equipe multiprofissional Os estudos mostram tambeacutem que
os profissionais de sauacutede tecircm consciecircncia de que humanizaccedilatildeo eacute uma palavra
aparentemente faacutecil de entender poreacutem no dia-a-dia natildeo eacute tatildeo faacutecil praticaacute-la
22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER
A compreensatildeo sobre a morte influencia na qualidade de vida da pessoa e na
forma como ela interage no seu dia-a-dia com o processo de morte e morrer
Ao pesquisar sobre a definiccedilatildeo das palavras morte e morrer no dicionaacuterio de
liacutengua portuguesa fica-se impressionado com a quantidade de sinocircnimos
atribuiacutedos a elas
Morte significa cessaccedilatildeo da vida fim Jaacute a palavra morrer significa rdquoperder a
vida falecer finar-se fenecer expirar desaparecer descansar desencarnar
ir perecer sucumbir espichar esticar estinguir-se acabar (-se)rdquo (FERREIRA
2000)
Jaacute no dicionaacuterio meacutedico traz as seguintes consideraccedilotildees
1-Cessaccedilatildeo total e irreversiacutevel da funccedilatildeo cerebral funccedilatildeo espontacircnea dos sistemas respiratoacuterio e circulatoacuterio 2 - A cessaccedilatildeo final e irreversiacutevel dos batimentos cardiacuteacos e respiraccedilotildees perceptiacuteveis [] o principal sinal de morte eacute a cessaccedilatildeo da accedilatildeo do coraccedilatildeo Outras indicaccedilotildees satildeo ausecircncia de reflexos cessaccedilatildeo da atividade eleacutetrica do ceacuterebro determinada pelo eletro encefalograma (EEC) manifestaccedilatildeo de rigor mortis e uma descoloraccedilatildeo mosqueada no corpo (THOMAS 2000)
Como podemos observar existem vaacuterias denominaccedilotildees para substituir a
palavra morte talvez o objetivo real seja ldquosuavizarrdquo a sua pronuacutencia tornando-a
menos temiacutevel
A Tanatologia eacute a ciecircncia que estuda a morte Segundo este saber o homem eacute
o uacutenico ser sobre a terra que tem consciecircncia da sua finitude o uacutenico a ter
consciecircncia de que sua passagem neste mundo eacute transitoacuteria e deve terminar
um dia Apesar dessa certeza o homem foi impelido a evitar a convivecircncia com
a morte no decorrer da histoacuteria
A seguir pontuarei de forma sinteacutetica as diferentes interpretaccedilotildees da morte
segundo algumas das grandes correntes religiosas
Para os judeus e cristatildeos que acreditava na ressurreiccedilatildeo apoacutes a morte esta
seria o acesso para outra dimensatildeo da vida que poderia ser no inferno ou no
paraiacuteso conforme os seus feitos terrenos a partir da observacircncia dos
mandamentos de Deus
De acordo com Pessini (1999) apud Gutierrez (2003) ldquoo catolicismo prega que
os esforccedilos para manter a vida fiacutesica podem ser encerrados caso a
continuaccedilatildeo da vida bioloacutegica ao inveacutes de promover a integraccedilatildeo da vida
espiritual e moral do indiviacuteduo torne-se vatilderdquo
O budismo natildeo encara a morte como o fim da vida mas sim como uma
transiccedilatildeo defendendo o direito do indiviacuteduo de determinar o momento em que
deseja passar desta existecircncia para a seguinte Enfatiza que o importante no
momento da morte eacute que a mente permaneccedila em paz e harmonia consigo
mesmo
No islamismo a concepccedilatildeo de vida eacute sagrada a morte eacute interpretada como a
conclusatildeo de uma vida e o comeccedilo de outra
Apesar das diferentes interpretaccedilotildees das diversas correntes religiosas haacute
consenso de que o apoio espiritual constitui elemento valioso dado ao paciente
no processo de morrer
A morte eacute parte integrante do processo de desenvolvimento humano e estaacute
presente no cotidiano diaacuterio de nossas vidas A forma de percepccedilatildeo
significaccedilatildeo e comportamento do processo de morte e morrer variam conforme
o contexto soacutecio-cultural e histoacuterico e vem sofrendo alteraccedilotildees atraveacutes das
diferentes civilizaccedilotildees ateacute os dias atuais
[] Os povos mesopotacircmios tinham por costume enterrar os corpos dos mortos da maneira mais escrupulosa sendo o cadaacutever cuidadosamente acompanhado de todas as marcas mais distintas de sua identidade pessoal e familiar como seus pertences insiacutegnias e objetos de uso suas vestimentas e ateacute mesmo de suas comidas
prediletas (GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)
Para essa civilizaccedilatildeo a morte seria uma espeacutecie de rebaixamento da vida o
apagamento dessa mesma existecircncia
Os antigos egiacutepcios sepultavam seus mortos juntamente com as roupas e os
alimentos para que continuassem felizes e da mesma forma os antigos iacutendios
americanos que enterravam seus parentes com tudo o que lhes pertencia
Esses falavam dos espiacuteritos do mal e atiravam flechas ao ar para afugentaacute-los
Os hebreus consideravam o corpo do morto como alguma coisa impura que
natildeo podia ser tocada (KUumlBLER-ROSS 2008)
Os antigos hindus incineravam seus mortos e suas cinzas eram lanccediladas ao
vento ou nas aacuteguas dos rios sendo o morto despojado de todos os seus
traccedilos de identidade
Para os antigos gregos a incineraccedilatildeo determinava dois tipos de mortos o cadaacutever do homem comum e o cadaacutever dos grandes heroacuteis Ao anocircnimo cabia o crematoacuterio coletivo e o depoacutesito de suas cinzas em vala comum Os corpos falecidos dos heroacuteis eram cremados na cerimocircnia da bela morte onde os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos A proacutepria morte seria a prova de sua virtude tornando-o um indiviacuteduo cuja vida eacute digna de ser lembrada
(GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)
Os primeiros cemiteacuterios surgiram a partir do seacuteculo V e eram localizados junto
agraves igrejas cristatildes Esses cemiteacuterios faziam parte do cenaacuterio de vida das
pessoas tinham papel de praccedila puacuteblica eram lugares de julgamentos das
execuccedilotildees e dos encontros amorosos
Na Idade Meacutedia a morte era entendida com naturalidade fazendo parte do
ambiente domeacutestico O ritual da morte envolvia tanto a pessoa que ia morrer
como os seus parentes e amigos Naquela eacutepoca os nobres eram enterrados
no interior das igrejas enquanto os pobres erram colocados em covas
coletivas
Tanto a famiacutelia como os amigos do morto manifestavam o processo do luto
atraveacutes do uso de roupas pretas e da natildeo participaccedilatildeo na vida social ateacute que
natildeo acontecesse a elaboraccedilatildeo do oacutebito As pessoas que sabiam que iam
morrer protagonizavam todo o ritual despedindo-se dos entes queridos
fazendo o testamento buscando se reconciliar com as pessoas e superar as
maacutegoas A comunidade participava ativamente de todo esse processo (AGRA
ALBUQUERQUE 2008)
Gutierrez (2003) tomando como referencial o estudo de Pessini (1999) fez
uma breve abordagem sobre o processo de morte e morrer a partir da idade
meacutedia ateacute a deacutecada de 70 do seacuteculo XX
Durante os seacuteculos XI e XII iniciaram-se mudanccedilas sutis na maneira
tradicional de o homem atuar diante da morte
No periacuteodo entre os seacuteculos XII a XV houve uma maior conscientizaccedilatildeo
do homem em relaccedilatildeo aacute sua proacutepria morte
Jaacute no seacuteculo XVI a morte distanciou-se das situaccedilotildees mais corriqueiras
e passou a representar uma separaccedilatildeo inaceitaacutevel iniciando um
processo de visualizaccedilatildeo da morte do outro que passou a ser dramaacutetica
e mais complexa
No final do seacuteculo XVIII surgiram duas mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave morte A
benevolecircncia com a ideacuteia da morte e a relaccedilatildeo entre moribundo e seus
familiares O termo benevolecircncia significa boa vontade para com todos
Na primeira metade do seacuteculo XIX a morte era um fenocircmeno bastante
presente e encarado como fato social e puacuteblico em que parentes e
amigos vizinhos e ateacute mesmo crianccedilas permaneciam no quarto do
moribundo Nessa eacutepoca os ritos que acompanhavam a morte eram
realizados com tranquumlilidade e aceitaccedilatildeo
No decorrer dos anos a atitude do homem em relaccedilatildeo agrave morte sofreu
modificaccedilotildees e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaccediladora
Poupa-se o moribundo de saber sobre suas reais condiccedilotildees de sauacutede A
verdade eacute negada com o intuito de privar o doente do sofrimento A
extrema unccedilatildeo que era oferecida ao moribundo em meados do seacuteculo
XX passou a ser dada somente apoacutes sua morte
A partir da segunda metade do seacuteculo XX a morte foi transferida para os
hospitais e passou a ser vista como um fenocircmeno teacutecnico agraves vezes
adiada ou antecipada a depender dos interesses dos que tentavam
domina-la O Meacutedico transformou-se em heroacutei na luta contra a morte
Atualmente os avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos tornaram a morte um
evento institucionalizado Eacute cada vez mais comum as pessoas morrerem
no hospital O doente perde o direito de opinar sobre sua morte o
meacutedico tornou-se personagem principal e a famiacutelia passou a sentir-se
protegida por natildeo ter que presenciar a morte de um ente querido Nesse
contexto a morte passa a ocorrer em cenaacuterio composto por fios
maacutequinas aparelhos e pessoas estranhas geralmente equipe meacutedica e
de enfermagem
A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma
instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para
o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras
Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer
acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive
a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e
na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu
avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer
de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo
conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em
seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de
familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi
encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi
celebrada uma missa de corpo presente
Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em
ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de
fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com
breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra
que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e
desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida
23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER
O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa
maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo
diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito
especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e
descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute
dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que
encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo
humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas
verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo
Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-
Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute
em fase terminal a saber
Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do
doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente
ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo
Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos
comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que
algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo
todo
Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja
O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade
(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da
raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo
Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma
coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio
mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento
Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio
Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da
capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da
vida
Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar
depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima
com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase
mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas
preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser
confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute
importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma
desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da
chegada ao fim em paz
Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se
sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila
algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses
estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo
psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses
estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte
iminente
Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei
algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim
uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi
sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua
confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo
poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha
confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo
de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de
ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de
morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles
no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos
Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta
Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca
De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por
causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir
algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem
responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas
Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante
aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e
geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los
Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do
paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida
e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade
ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar
esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de
vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando
na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral
Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de
deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias
como inchaccedilo naacuteusea e dor
Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos
agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o
paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees
conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo
deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos
para uma morte digna e sem sofrimento
Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida
para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou
como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de
cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam
sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam
despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo
Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a
audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada
perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir
Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de
alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as
pessoas envolvidas
Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes
optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte
sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para
estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale
ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos
proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou
simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano
trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as
informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes
crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse
doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais
humanizado
Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de
morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir
poderaacute nos auxiliar nesse processo
Carta dos Pacientes Terminais
- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que
eu morra
- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas
possam acontecer
- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o
sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas
- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e
emoccedilotildees diante da minha morte
- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus
cuidados e tratamentos
- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem
mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode
confortordquo
- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho
- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto
- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado
- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas
honestamente
- Tenho o direito de natildeo ser enganado
- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou
experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos
demais
- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser
julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves
crenccedilas dos demais
- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de
meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados
- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis
humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas
necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a
minha privacidade
- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI
1996 APUD GUTIERREZ 2003)
24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica
Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes
mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato
e a observaccedilatildeo constante
Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico
e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com
alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a
elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre
outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo
atualmente
Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede
descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute
de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade
Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade
proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica
de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas
que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais
complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica
e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico
e recursos humanos especializados
Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os
paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do
tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida
prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da
famiacutelia e do cliente
As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses
pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e
extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave
manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e
adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA
2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas
ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de
interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao
paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores
relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante
tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons
monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e
ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre
outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua
privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar
esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo
vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo
Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional
muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em
estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade
criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo
profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao
paciente no processo de morte
A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe
multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do
leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto
discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no
intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade
fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo
conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida
(SILVA 2001)
Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal
durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido
contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se
impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo
endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais
membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de
comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo
profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a
importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes
da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos
postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais
organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida
entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)
Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam
diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos
pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para
o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem
sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus
familiares diante da finitude da vida
De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo
emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa
depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o
paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade
Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas
e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos
sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de
existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma
determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se
necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e
preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de
forma humanizada
Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta
[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo
Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)
ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a
deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes
consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu
sofrimentordquo
Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso
que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter
firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de
enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando
assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver
excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio
de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato
estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos
menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a
deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito
profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no
meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira
de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia
A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural
e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada
como uma das maiores estudiosas do assunto
A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte
A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais
membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma
assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais
necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida
Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente
consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-
espiritual
3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA
A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento
bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto
Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel
proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de
medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro
do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova
perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no
final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de
suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo
baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais
meacutedicos e familiares a saber
Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)
preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc
Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da
famiacutelia amigos e demais entes queridos)
Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos
importantes
Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex
testamentos venda de propriedade etc)
Evitar um processo longo de morte
Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica
brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na
medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo
coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer
todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e
obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que
estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute
receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel
Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites
de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe
envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e
poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz
sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica
meacutedica)
Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades
espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir
holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos
fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os
profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para
confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento
diante do processo de morte
A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de
sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que
lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto
que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre
as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado
na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda
Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o
envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do
paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade
de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus
familiaresrdquo
Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar
que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos
(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo
segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas
neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo
avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do
quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos
profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas
a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados
paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente
no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo
instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma
efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas
Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo
da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre
esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos
pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional
complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso
Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa
assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz
presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e
responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser
humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo
Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer
firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder
ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento
tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui
identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim
Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios
inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar
biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se
comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e
sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse
comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma
comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para
esse indiviacuteduo
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e
morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos
envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da
pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe
multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas
atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas
nesse estudo
Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu
para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem
ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma
morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano
Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar
aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente
abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por
Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo
incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e
enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de
trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da
enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida
deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que
estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI
Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira
cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja
prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer
Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no
processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo
especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas
riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho
considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada
particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco
Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas
pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina
paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais
envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de
uma Unidade de terapia Intensiva
Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o
aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que
eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor
considerado como desumanizante e frio
Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais
profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado
REFEREcircNCIAS
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2 REVISAtildeO DA LITERATURA
21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA
Segundo Ferreira (2000) humanizar significa tornar humano dar condiccedilatildeo
humana tornar afaacutevel e trataacutevel A humanizaccedilatildeo da assistecircncia requer
conscientizaccedilatildeo e preparo da equipe para um cuidado diferenciado
entendendo o paciente como um ser humano
Alguns estudos na aacuterea da medicina intensivista apontam para a necessidade
de mudar o enfoque predominantemente tecnicista paciente-doenccedila para uma
abordagem mais humana que engloba o paciente de forma holiacutestica ou seja
percebendo-o como um ser inserido num contexto e que necessita ser
atendido nos aspectos fiacutesicos psicoloacutegicos sociais e espirituais A medicina
paliativa vem sendo destacada nas literaturas em geral na aacuterea de oncologia
entretanto tem ganhado destaque tambeacutem nas literaturas pertinentes ao
intensivismo (GARROS 2003)
ldquoA medicina paliativa se desenvolveu como uma reaccedilatildeo agrave medicina moderna
altamente tecnicista que prioriza a cura em vez do cuidadordquo (PESSINI 2006)
A filosofia dos cuidados paliativos a) afirma a vida e encara o morrer como um processo normal b) natildeo apressa nem adia a morte c) procura aliviar a dor e outros sintomas angustiantes d) integra os aspectos psicoloacutegicos e espirituais nos cuidados com o paciente e) oferece um sistema de apoio para ajudar os pacientes a viver ativamente o maacuteximo possiacutevel ateacute a morte f) oferece um sistema de apoio para ajudar a famiacutelia a lidar com a doenccedila do paciente e seu proacuteprio luto (PESSINI 2003 apud PESSINI 2006)
Essa nova perspectiva constitui desafio para os profissionais de sauacutede visto
que o paciente no processo de morte deixa de ser aquele por quem nada si
pode fazer e passa a ser considerado como aquele que natildeo responde mais as
medidas terapecircuticas de cura Desta forma sob a filosofia dos cuidados
paliativos temos muito que fazer para proporcionar uma morte mais digna
decente ou aceitaacutevel para um ser humano A humanizaccedilatildeo do morrer apoacuteia a
concepccedilatildeo de que a morte natildeo eacute um inimigo a ser combatido ela faz parte do
ciclo vital e do adoecer
A proposta dos cuidados paliativos eacute permitir que a pessoa viva intensamente
seus dias finais de vida com controle da dor e sendo assistido de forma
holiacutestica Partindo da ideacuteia de que ldquomais vale acrescentar vida ao tempo do que
tempo agrave vidardquo
O Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo Hospitalar - PNHAH foi instituiacutedo pelo
Ministeacuterio da Sauacutede atraveacutes da portaria nordm 881 de 19 06 2001 no acircmbito do
Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2002) O PNHAH faz parte de um processo
de discussatildeo e implementaccedilatildeo de projetos de humanizaccedilatildeo do atendimento a
sauacutede e de melhoria da qualidade do vinculo estabelecido entre trabalhador da
sauacutede pacientes e familiares
A famiacutelia enquanto extensatildeo do paciente deveraacute ser incluiacuteda no processo de
cuidado deste poreacutem natildeo como auxiliar ao nosso trabalho mas como
indiviacuteduos a serem cuidados tambeacutem pela enfermagem Essa deveraacute oferecer
o suporte necessaacuterio esclarecer as duacutevidas atender e acolher prontamente e
de maneira empaacutetica esse suporte primaacuterio do paciente conquistando assim
sua confianccedila A inclusatildeo da famiacutelia no processo de cuidado em Unidade de
terapia Intensiva (UTI) eacute indispensaacutevel para podermos atender o paciente de
forma holiacutestica (NASCIMENTO MARTINS 2000)
Humanizar significa a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito
com o outro acolher o desconhecido e reconhecer os limites A humanizaccedilatildeo
requer uma interaccedilatildeo harmoniosa entre o cuidado teacutecnico e cientiacutefico Requer
tambeacutem compromisso eacutetico de todos os profissionais envolvidos na assistecircncia
desde os atendentes da recepccedilatildeo ateacute a equipe envolvida diretamente com a
assistecircncia do paciente e famiacutelia O processo do cuidado de enfermagem por
se soacute constitui um ato humanizado visto que os objetivos do cuidar envolvem
aliviar confortar ajudar favorecer promover entre outros (MORAES
GARDA FONSECA 2004) Segundo esses autores
Humanizar de acordo com os valores eacuteticos consiste fundamentalmente em tornar uma praacutetica bela por mais que ela lide com o que tem de mais degradante doloroso e triste na natureza humana o sofrimento a deterioraccedilatildeo e a morte Refere-se portanto a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito ao outro e de reconhecimento dos limites O ponto chave do trabalho de humanizaccedilatildeo estaacute no fortalecimento desta posiccedilatildeo eacutetica de articulaccedilatildeo do cuidado teacutecnico cientifico jaacute construiacutedo conhecido e dominado ao cuidado que incorpora a necessidade a exploraccedilatildeo e o acolhimento do imprevisiacutevel do incontrolaacutevel ao indiferente e singular
Minayo (2004) considera que ao se propor um cuidado humanizado deve-se
repensar a formaccedilatildeo profissional na aacuterea de sauacutede Para esse autor apesar
das propostas de mudanccedilas de modelo de atenccedilatildeo da sauacutede que prega a
integralidade e a humanizaccedilatildeo da assistecircncia e da crise da ciecircncia racionalista
predomina ainda o aprendizado teacutecnico racional e individualizado empregado
muitas vezesrdquo sem o exerciacutecio da criacutetica criatividade e sensibilidaderdquo
Refletindo portanto no despreparo dos profissionais em proporcionar um
cuidado humanizado cada vez mais exigido nos serviccedilos que utilizam alta
tecnologia como as Unidades de Terapia Intensiva
Felizmente percebemos uma seacuterie de estudos relacionados agrave necessidade de
humanizaccedilatildeo desses serviccedilos por forccedila do efeito negativo do ambiente sobre
pacientes famiacutelia e equipe multiprofissional Os estudos mostram tambeacutem que
os profissionais de sauacutede tecircm consciecircncia de que humanizaccedilatildeo eacute uma palavra
aparentemente faacutecil de entender poreacutem no dia-a-dia natildeo eacute tatildeo faacutecil praticaacute-la
22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER
A compreensatildeo sobre a morte influencia na qualidade de vida da pessoa e na
forma como ela interage no seu dia-a-dia com o processo de morte e morrer
Ao pesquisar sobre a definiccedilatildeo das palavras morte e morrer no dicionaacuterio de
liacutengua portuguesa fica-se impressionado com a quantidade de sinocircnimos
atribuiacutedos a elas
Morte significa cessaccedilatildeo da vida fim Jaacute a palavra morrer significa rdquoperder a
vida falecer finar-se fenecer expirar desaparecer descansar desencarnar
ir perecer sucumbir espichar esticar estinguir-se acabar (-se)rdquo (FERREIRA
2000)
Jaacute no dicionaacuterio meacutedico traz as seguintes consideraccedilotildees
1-Cessaccedilatildeo total e irreversiacutevel da funccedilatildeo cerebral funccedilatildeo espontacircnea dos sistemas respiratoacuterio e circulatoacuterio 2 - A cessaccedilatildeo final e irreversiacutevel dos batimentos cardiacuteacos e respiraccedilotildees perceptiacuteveis [] o principal sinal de morte eacute a cessaccedilatildeo da accedilatildeo do coraccedilatildeo Outras indicaccedilotildees satildeo ausecircncia de reflexos cessaccedilatildeo da atividade eleacutetrica do ceacuterebro determinada pelo eletro encefalograma (EEC) manifestaccedilatildeo de rigor mortis e uma descoloraccedilatildeo mosqueada no corpo (THOMAS 2000)
Como podemos observar existem vaacuterias denominaccedilotildees para substituir a
palavra morte talvez o objetivo real seja ldquosuavizarrdquo a sua pronuacutencia tornando-a
menos temiacutevel
A Tanatologia eacute a ciecircncia que estuda a morte Segundo este saber o homem eacute
o uacutenico ser sobre a terra que tem consciecircncia da sua finitude o uacutenico a ter
consciecircncia de que sua passagem neste mundo eacute transitoacuteria e deve terminar
um dia Apesar dessa certeza o homem foi impelido a evitar a convivecircncia com
a morte no decorrer da histoacuteria
A seguir pontuarei de forma sinteacutetica as diferentes interpretaccedilotildees da morte
segundo algumas das grandes correntes religiosas
Para os judeus e cristatildeos que acreditava na ressurreiccedilatildeo apoacutes a morte esta
seria o acesso para outra dimensatildeo da vida que poderia ser no inferno ou no
paraiacuteso conforme os seus feitos terrenos a partir da observacircncia dos
mandamentos de Deus
De acordo com Pessini (1999) apud Gutierrez (2003) ldquoo catolicismo prega que
os esforccedilos para manter a vida fiacutesica podem ser encerrados caso a
continuaccedilatildeo da vida bioloacutegica ao inveacutes de promover a integraccedilatildeo da vida
espiritual e moral do indiviacuteduo torne-se vatilderdquo
O budismo natildeo encara a morte como o fim da vida mas sim como uma
transiccedilatildeo defendendo o direito do indiviacuteduo de determinar o momento em que
deseja passar desta existecircncia para a seguinte Enfatiza que o importante no
momento da morte eacute que a mente permaneccedila em paz e harmonia consigo
mesmo
No islamismo a concepccedilatildeo de vida eacute sagrada a morte eacute interpretada como a
conclusatildeo de uma vida e o comeccedilo de outra
Apesar das diferentes interpretaccedilotildees das diversas correntes religiosas haacute
consenso de que o apoio espiritual constitui elemento valioso dado ao paciente
no processo de morrer
A morte eacute parte integrante do processo de desenvolvimento humano e estaacute
presente no cotidiano diaacuterio de nossas vidas A forma de percepccedilatildeo
significaccedilatildeo e comportamento do processo de morte e morrer variam conforme
o contexto soacutecio-cultural e histoacuterico e vem sofrendo alteraccedilotildees atraveacutes das
diferentes civilizaccedilotildees ateacute os dias atuais
[] Os povos mesopotacircmios tinham por costume enterrar os corpos dos mortos da maneira mais escrupulosa sendo o cadaacutever cuidadosamente acompanhado de todas as marcas mais distintas de sua identidade pessoal e familiar como seus pertences insiacutegnias e objetos de uso suas vestimentas e ateacute mesmo de suas comidas
prediletas (GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)
Para essa civilizaccedilatildeo a morte seria uma espeacutecie de rebaixamento da vida o
apagamento dessa mesma existecircncia
Os antigos egiacutepcios sepultavam seus mortos juntamente com as roupas e os
alimentos para que continuassem felizes e da mesma forma os antigos iacutendios
americanos que enterravam seus parentes com tudo o que lhes pertencia
Esses falavam dos espiacuteritos do mal e atiravam flechas ao ar para afugentaacute-los
Os hebreus consideravam o corpo do morto como alguma coisa impura que
natildeo podia ser tocada (KUumlBLER-ROSS 2008)
Os antigos hindus incineravam seus mortos e suas cinzas eram lanccediladas ao
vento ou nas aacuteguas dos rios sendo o morto despojado de todos os seus
traccedilos de identidade
Para os antigos gregos a incineraccedilatildeo determinava dois tipos de mortos o cadaacutever do homem comum e o cadaacutever dos grandes heroacuteis Ao anocircnimo cabia o crematoacuterio coletivo e o depoacutesito de suas cinzas em vala comum Os corpos falecidos dos heroacuteis eram cremados na cerimocircnia da bela morte onde os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos A proacutepria morte seria a prova de sua virtude tornando-o um indiviacuteduo cuja vida eacute digna de ser lembrada
(GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)
Os primeiros cemiteacuterios surgiram a partir do seacuteculo V e eram localizados junto
agraves igrejas cristatildes Esses cemiteacuterios faziam parte do cenaacuterio de vida das
pessoas tinham papel de praccedila puacuteblica eram lugares de julgamentos das
execuccedilotildees e dos encontros amorosos
Na Idade Meacutedia a morte era entendida com naturalidade fazendo parte do
ambiente domeacutestico O ritual da morte envolvia tanto a pessoa que ia morrer
como os seus parentes e amigos Naquela eacutepoca os nobres eram enterrados
no interior das igrejas enquanto os pobres erram colocados em covas
coletivas
Tanto a famiacutelia como os amigos do morto manifestavam o processo do luto
atraveacutes do uso de roupas pretas e da natildeo participaccedilatildeo na vida social ateacute que
natildeo acontecesse a elaboraccedilatildeo do oacutebito As pessoas que sabiam que iam
morrer protagonizavam todo o ritual despedindo-se dos entes queridos
fazendo o testamento buscando se reconciliar com as pessoas e superar as
maacutegoas A comunidade participava ativamente de todo esse processo (AGRA
ALBUQUERQUE 2008)
Gutierrez (2003) tomando como referencial o estudo de Pessini (1999) fez
uma breve abordagem sobre o processo de morte e morrer a partir da idade
meacutedia ateacute a deacutecada de 70 do seacuteculo XX
Durante os seacuteculos XI e XII iniciaram-se mudanccedilas sutis na maneira
tradicional de o homem atuar diante da morte
No periacuteodo entre os seacuteculos XII a XV houve uma maior conscientizaccedilatildeo
do homem em relaccedilatildeo aacute sua proacutepria morte
Jaacute no seacuteculo XVI a morte distanciou-se das situaccedilotildees mais corriqueiras
e passou a representar uma separaccedilatildeo inaceitaacutevel iniciando um
processo de visualizaccedilatildeo da morte do outro que passou a ser dramaacutetica
e mais complexa
No final do seacuteculo XVIII surgiram duas mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave morte A
benevolecircncia com a ideacuteia da morte e a relaccedilatildeo entre moribundo e seus
familiares O termo benevolecircncia significa boa vontade para com todos
Na primeira metade do seacuteculo XIX a morte era um fenocircmeno bastante
presente e encarado como fato social e puacuteblico em que parentes e
amigos vizinhos e ateacute mesmo crianccedilas permaneciam no quarto do
moribundo Nessa eacutepoca os ritos que acompanhavam a morte eram
realizados com tranquumlilidade e aceitaccedilatildeo
No decorrer dos anos a atitude do homem em relaccedilatildeo agrave morte sofreu
modificaccedilotildees e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaccediladora
Poupa-se o moribundo de saber sobre suas reais condiccedilotildees de sauacutede A
verdade eacute negada com o intuito de privar o doente do sofrimento A
extrema unccedilatildeo que era oferecida ao moribundo em meados do seacuteculo
XX passou a ser dada somente apoacutes sua morte
A partir da segunda metade do seacuteculo XX a morte foi transferida para os
hospitais e passou a ser vista como um fenocircmeno teacutecnico agraves vezes
adiada ou antecipada a depender dos interesses dos que tentavam
domina-la O Meacutedico transformou-se em heroacutei na luta contra a morte
Atualmente os avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos tornaram a morte um
evento institucionalizado Eacute cada vez mais comum as pessoas morrerem
no hospital O doente perde o direito de opinar sobre sua morte o
meacutedico tornou-se personagem principal e a famiacutelia passou a sentir-se
protegida por natildeo ter que presenciar a morte de um ente querido Nesse
contexto a morte passa a ocorrer em cenaacuterio composto por fios
maacutequinas aparelhos e pessoas estranhas geralmente equipe meacutedica e
de enfermagem
A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma
instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para
o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras
Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer
acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive
a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e
na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu
avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer
de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo
conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em
seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de
familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi
encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi
celebrada uma missa de corpo presente
Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em
ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de
fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com
breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra
que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e
desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida
23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER
O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa
maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo
diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito
especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e
descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute
dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que
encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo
humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas
verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo
Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-
Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute
em fase terminal a saber
Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do
doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente
ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo
Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos
comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que
algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo
todo
Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja
O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade
(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da
raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo
Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma
coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio
mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento
Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio
Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da
capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da
vida
Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar
depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima
com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase
mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas
preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser
confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute
importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma
desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da
chegada ao fim em paz
Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se
sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila
algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses
estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo
psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses
estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte
iminente
Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei
algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim
uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi
sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua
confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo
poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha
confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo
de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de
ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de
morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles
no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos
Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta
Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca
De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por
causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir
algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem
responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas
Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante
aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e
geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los
Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do
paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida
e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade
ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar
esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de
vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando
na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral
Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de
deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias
como inchaccedilo naacuteusea e dor
Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos
agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o
paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees
conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo
deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos
para uma morte digna e sem sofrimento
Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida
para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou
como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de
cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam
sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam
despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo
Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a
audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada
perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir
Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de
alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as
pessoas envolvidas
Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes
optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte
sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para
estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale
ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos
proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou
simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano
trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as
informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes
crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse
doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais
humanizado
Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de
morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir
poderaacute nos auxiliar nesse processo
Carta dos Pacientes Terminais
- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que
eu morra
- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas
possam acontecer
- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o
sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas
- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e
emoccedilotildees diante da minha morte
- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus
cuidados e tratamentos
- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem
mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode
confortordquo
- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho
- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto
- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado
- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas
honestamente
- Tenho o direito de natildeo ser enganado
- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou
experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos
demais
- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser
julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves
crenccedilas dos demais
- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de
meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados
- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis
humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas
necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a
minha privacidade
- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI
1996 APUD GUTIERREZ 2003)
24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica
Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes
mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato
e a observaccedilatildeo constante
Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico
e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com
alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a
elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre
outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo
atualmente
Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede
descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute
de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade
Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade
proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica
de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas
que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais
complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica
e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico
e recursos humanos especializados
Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os
paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do
tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida
prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da
famiacutelia e do cliente
As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses
pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e
extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave
manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e
adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA
2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas
ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de
interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao
paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores
relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante
tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons
monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e
ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre
outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua
privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar
esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo
vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo
Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional
muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em
estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade
criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo
profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao
paciente no processo de morte
A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe
multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do
leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto
discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no
intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade
fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo
conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida
(SILVA 2001)
Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal
durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido
contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se
impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo
endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais
membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de
comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo
profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a
importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes
da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos
postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais
organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida
entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)
Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam
diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos
pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para
o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem
sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus
familiares diante da finitude da vida
De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo
emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa
depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o
paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade
Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas
e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos
sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de
existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma
determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se
necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e
preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de
forma humanizada
Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta
[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo
Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)
ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a
deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes
consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu
sofrimentordquo
Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso
que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter
firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de
enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando
assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver
excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio
de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato
estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos
menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a
deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito
profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no
meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira
de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia
A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural
e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada
como uma das maiores estudiosas do assunto
A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte
A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais
membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma
assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais
necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida
Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente
consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-
espiritual
3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA
A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento
bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto
Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel
proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de
medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro
do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova
perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no
final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de
suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo
baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais
meacutedicos e familiares a saber
Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)
preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc
Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da
famiacutelia amigos e demais entes queridos)
Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos
importantes
Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex
testamentos venda de propriedade etc)
Evitar um processo longo de morte
Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica
brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na
medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo
coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer
todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e
obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que
estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute
receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel
Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites
de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe
envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e
poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz
sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica
meacutedica)
Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades
espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir
holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos
fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os
profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para
confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento
diante do processo de morte
A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de
sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que
lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto
que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre
as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado
na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda
Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o
envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do
paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade
de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus
familiaresrdquo
Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar
que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos
(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo
segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas
neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo
avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do
quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos
profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas
a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados
paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente
no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo
instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma
efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas
Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo
da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre
esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos
pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional
complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso
Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa
assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz
presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e
responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser
humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo
Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer
firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder
ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento
tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui
identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim
Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios
inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar
biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se
comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e
sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse
comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma
comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para
esse indiviacuteduo
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e
morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos
envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da
pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe
multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas
atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas
nesse estudo
Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu
para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem
ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma
morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano
Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar
aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente
abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por
Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo
incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e
enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de
trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da
enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida
deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que
estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI
Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira
cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja
prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer
Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no
processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo
especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas
riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho
considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada
particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco
Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas
pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina
paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais
envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de
uma Unidade de terapia Intensiva
Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o
aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que
eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor
considerado como desumanizante e frio
Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais
profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado
REFEREcircNCIAS
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concepccedilatildeo de que a morte natildeo eacute um inimigo a ser combatido ela faz parte do
ciclo vital e do adoecer
A proposta dos cuidados paliativos eacute permitir que a pessoa viva intensamente
seus dias finais de vida com controle da dor e sendo assistido de forma
holiacutestica Partindo da ideacuteia de que ldquomais vale acrescentar vida ao tempo do que
tempo agrave vidardquo
O Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo Hospitalar - PNHAH foi instituiacutedo pelo
Ministeacuterio da Sauacutede atraveacutes da portaria nordm 881 de 19 06 2001 no acircmbito do
Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2002) O PNHAH faz parte de um processo
de discussatildeo e implementaccedilatildeo de projetos de humanizaccedilatildeo do atendimento a
sauacutede e de melhoria da qualidade do vinculo estabelecido entre trabalhador da
sauacutede pacientes e familiares
A famiacutelia enquanto extensatildeo do paciente deveraacute ser incluiacuteda no processo de
cuidado deste poreacutem natildeo como auxiliar ao nosso trabalho mas como
indiviacuteduos a serem cuidados tambeacutem pela enfermagem Essa deveraacute oferecer
o suporte necessaacuterio esclarecer as duacutevidas atender e acolher prontamente e
de maneira empaacutetica esse suporte primaacuterio do paciente conquistando assim
sua confianccedila A inclusatildeo da famiacutelia no processo de cuidado em Unidade de
terapia Intensiva (UTI) eacute indispensaacutevel para podermos atender o paciente de
forma holiacutestica (NASCIMENTO MARTINS 2000)
Humanizar significa a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito
com o outro acolher o desconhecido e reconhecer os limites A humanizaccedilatildeo
requer uma interaccedilatildeo harmoniosa entre o cuidado teacutecnico e cientiacutefico Requer
tambeacutem compromisso eacutetico de todos os profissionais envolvidos na assistecircncia
desde os atendentes da recepccedilatildeo ateacute a equipe envolvida diretamente com a
assistecircncia do paciente e famiacutelia O processo do cuidado de enfermagem por
se soacute constitui um ato humanizado visto que os objetivos do cuidar envolvem
aliviar confortar ajudar favorecer promover entre outros (MORAES
GARDA FONSECA 2004) Segundo esses autores
Humanizar de acordo com os valores eacuteticos consiste fundamentalmente em tornar uma praacutetica bela por mais que ela lide com o que tem de mais degradante doloroso e triste na natureza humana o sofrimento a deterioraccedilatildeo e a morte Refere-se portanto a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito ao outro e de reconhecimento dos limites O ponto chave do trabalho de humanizaccedilatildeo estaacute no fortalecimento desta posiccedilatildeo eacutetica de articulaccedilatildeo do cuidado teacutecnico cientifico jaacute construiacutedo conhecido e dominado ao cuidado que incorpora a necessidade a exploraccedilatildeo e o acolhimento do imprevisiacutevel do incontrolaacutevel ao indiferente e singular
Minayo (2004) considera que ao se propor um cuidado humanizado deve-se
repensar a formaccedilatildeo profissional na aacuterea de sauacutede Para esse autor apesar
das propostas de mudanccedilas de modelo de atenccedilatildeo da sauacutede que prega a
integralidade e a humanizaccedilatildeo da assistecircncia e da crise da ciecircncia racionalista
predomina ainda o aprendizado teacutecnico racional e individualizado empregado
muitas vezesrdquo sem o exerciacutecio da criacutetica criatividade e sensibilidaderdquo
Refletindo portanto no despreparo dos profissionais em proporcionar um
cuidado humanizado cada vez mais exigido nos serviccedilos que utilizam alta
tecnologia como as Unidades de Terapia Intensiva
Felizmente percebemos uma seacuterie de estudos relacionados agrave necessidade de
humanizaccedilatildeo desses serviccedilos por forccedila do efeito negativo do ambiente sobre
pacientes famiacutelia e equipe multiprofissional Os estudos mostram tambeacutem que
os profissionais de sauacutede tecircm consciecircncia de que humanizaccedilatildeo eacute uma palavra
aparentemente faacutecil de entender poreacutem no dia-a-dia natildeo eacute tatildeo faacutecil praticaacute-la
22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER
A compreensatildeo sobre a morte influencia na qualidade de vida da pessoa e na
forma como ela interage no seu dia-a-dia com o processo de morte e morrer
Ao pesquisar sobre a definiccedilatildeo das palavras morte e morrer no dicionaacuterio de
liacutengua portuguesa fica-se impressionado com a quantidade de sinocircnimos
atribuiacutedos a elas
Morte significa cessaccedilatildeo da vida fim Jaacute a palavra morrer significa rdquoperder a
vida falecer finar-se fenecer expirar desaparecer descansar desencarnar
ir perecer sucumbir espichar esticar estinguir-se acabar (-se)rdquo (FERREIRA
2000)
Jaacute no dicionaacuterio meacutedico traz as seguintes consideraccedilotildees
1-Cessaccedilatildeo total e irreversiacutevel da funccedilatildeo cerebral funccedilatildeo espontacircnea dos sistemas respiratoacuterio e circulatoacuterio 2 - A cessaccedilatildeo final e irreversiacutevel dos batimentos cardiacuteacos e respiraccedilotildees perceptiacuteveis [] o principal sinal de morte eacute a cessaccedilatildeo da accedilatildeo do coraccedilatildeo Outras indicaccedilotildees satildeo ausecircncia de reflexos cessaccedilatildeo da atividade eleacutetrica do ceacuterebro determinada pelo eletro encefalograma (EEC) manifestaccedilatildeo de rigor mortis e uma descoloraccedilatildeo mosqueada no corpo (THOMAS 2000)
Como podemos observar existem vaacuterias denominaccedilotildees para substituir a
palavra morte talvez o objetivo real seja ldquosuavizarrdquo a sua pronuacutencia tornando-a
menos temiacutevel
A Tanatologia eacute a ciecircncia que estuda a morte Segundo este saber o homem eacute
o uacutenico ser sobre a terra que tem consciecircncia da sua finitude o uacutenico a ter
consciecircncia de que sua passagem neste mundo eacute transitoacuteria e deve terminar
um dia Apesar dessa certeza o homem foi impelido a evitar a convivecircncia com
a morte no decorrer da histoacuteria
A seguir pontuarei de forma sinteacutetica as diferentes interpretaccedilotildees da morte
segundo algumas das grandes correntes religiosas
Para os judeus e cristatildeos que acreditava na ressurreiccedilatildeo apoacutes a morte esta
seria o acesso para outra dimensatildeo da vida que poderia ser no inferno ou no
paraiacuteso conforme os seus feitos terrenos a partir da observacircncia dos
mandamentos de Deus
De acordo com Pessini (1999) apud Gutierrez (2003) ldquoo catolicismo prega que
os esforccedilos para manter a vida fiacutesica podem ser encerrados caso a
continuaccedilatildeo da vida bioloacutegica ao inveacutes de promover a integraccedilatildeo da vida
espiritual e moral do indiviacuteduo torne-se vatilderdquo
O budismo natildeo encara a morte como o fim da vida mas sim como uma
transiccedilatildeo defendendo o direito do indiviacuteduo de determinar o momento em que
deseja passar desta existecircncia para a seguinte Enfatiza que o importante no
momento da morte eacute que a mente permaneccedila em paz e harmonia consigo
mesmo
No islamismo a concepccedilatildeo de vida eacute sagrada a morte eacute interpretada como a
conclusatildeo de uma vida e o comeccedilo de outra
Apesar das diferentes interpretaccedilotildees das diversas correntes religiosas haacute
consenso de que o apoio espiritual constitui elemento valioso dado ao paciente
no processo de morrer
A morte eacute parte integrante do processo de desenvolvimento humano e estaacute
presente no cotidiano diaacuterio de nossas vidas A forma de percepccedilatildeo
significaccedilatildeo e comportamento do processo de morte e morrer variam conforme
o contexto soacutecio-cultural e histoacuterico e vem sofrendo alteraccedilotildees atraveacutes das
diferentes civilizaccedilotildees ateacute os dias atuais
[] Os povos mesopotacircmios tinham por costume enterrar os corpos dos mortos da maneira mais escrupulosa sendo o cadaacutever cuidadosamente acompanhado de todas as marcas mais distintas de sua identidade pessoal e familiar como seus pertences insiacutegnias e objetos de uso suas vestimentas e ateacute mesmo de suas comidas
prediletas (GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)
Para essa civilizaccedilatildeo a morte seria uma espeacutecie de rebaixamento da vida o
apagamento dessa mesma existecircncia
Os antigos egiacutepcios sepultavam seus mortos juntamente com as roupas e os
alimentos para que continuassem felizes e da mesma forma os antigos iacutendios
americanos que enterravam seus parentes com tudo o que lhes pertencia
Esses falavam dos espiacuteritos do mal e atiravam flechas ao ar para afugentaacute-los
Os hebreus consideravam o corpo do morto como alguma coisa impura que
natildeo podia ser tocada (KUumlBLER-ROSS 2008)
Os antigos hindus incineravam seus mortos e suas cinzas eram lanccediladas ao
vento ou nas aacuteguas dos rios sendo o morto despojado de todos os seus
traccedilos de identidade
Para os antigos gregos a incineraccedilatildeo determinava dois tipos de mortos o cadaacutever do homem comum e o cadaacutever dos grandes heroacuteis Ao anocircnimo cabia o crematoacuterio coletivo e o depoacutesito de suas cinzas em vala comum Os corpos falecidos dos heroacuteis eram cremados na cerimocircnia da bela morte onde os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos A proacutepria morte seria a prova de sua virtude tornando-o um indiviacuteduo cuja vida eacute digna de ser lembrada
(GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)
Os primeiros cemiteacuterios surgiram a partir do seacuteculo V e eram localizados junto
agraves igrejas cristatildes Esses cemiteacuterios faziam parte do cenaacuterio de vida das
pessoas tinham papel de praccedila puacuteblica eram lugares de julgamentos das
execuccedilotildees e dos encontros amorosos
Na Idade Meacutedia a morte era entendida com naturalidade fazendo parte do
ambiente domeacutestico O ritual da morte envolvia tanto a pessoa que ia morrer
como os seus parentes e amigos Naquela eacutepoca os nobres eram enterrados
no interior das igrejas enquanto os pobres erram colocados em covas
coletivas
Tanto a famiacutelia como os amigos do morto manifestavam o processo do luto
atraveacutes do uso de roupas pretas e da natildeo participaccedilatildeo na vida social ateacute que
natildeo acontecesse a elaboraccedilatildeo do oacutebito As pessoas que sabiam que iam
morrer protagonizavam todo o ritual despedindo-se dos entes queridos
fazendo o testamento buscando se reconciliar com as pessoas e superar as
maacutegoas A comunidade participava ativamente de todo esse processo (AGRA
ALBUQUERQUE 2008)
Gutierrez (2003) tomando como referencial o estudo de Pessini (1999) fez
uma breve abordagem sobre o processo de morte e morrer a partir da idade
meacutedia ateacute a deacutecada de 70 do seacuteculo XX
Durante os seacuteculos XI e XII iniciaram-se mudanccedilas sutis na maneira
tradicional de o homem atuar diante da morte
No periacuteodo entre os seacuteculos XII a XV houve uma maior conscientizaccedilatildeo
do homem em relaccedilatildeo aacute sua proacutepria morte
Jaacute no seacuteculo XVI a morte distanciou-se das situaccedilotildees mais corriqueiras
e passou a representar uma separaccedilatildeo inaceitaacutevel iniciando um
processo de visualizaccedilatildeo da morte do outro que passou a ser dramaacutetica
e mais complexa
No final do seacuteculo XVIII surgiram duas mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave morte A
benevolecircncia com a ideacuteia da morte e a relaccedilatildeo entre moribundo e seus
familiares O termo benevolecircncia significa boa vontade para com todos
Na primeira metade do seacuteculo XIX a morte era um fenocircmeno bastante
presente e encarado como fato social e puacuteblico em que parentes e
amigos vizinhos e ateacute mesmo crianccedilas permaneciam no quarto do
moribundo Nessa eacutepoca os ritos que acompanhavam a morte eram
realizados com tranquumlilidade e aceitaccedilatildeo
No decorrer dos anos a atitude do homem em relaccedilatildeo agrave morte sofreu
modificaccedilotildees e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaccediladora
Poupa-se o moribundo de saber sobre suas reais condiccedilotildees de sauacutede A
verdade eacute negada com o intuito de privar o doente do sofrimento A
extrema unccedilatildeo que era oferecida ao moribundo em meados do seacuteculo
XX passou a ser dada somente apoacutes sua morte
A partir da segunda metade do seacuteculo XX a morte foi transferida para os
hospitais e passou a ser vista como um fenocircmeno teacutecnico agraves vezes
adiada ou antecipada a depender dos interesses dos que tentavam
domina-la O Meacutedico transformou-se em heroacutei na luta contra a morte
Atualmente os avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos tornaram a morte um
evento institucionalizado Eacute cada vez mais comum as pessoas morrerem
no hospital O doente perde o direito de opinar sobre sua morte o
meacutedico tornou-se personagem principal e a famiacutelia passou a sentir-se
protegida por natildeo ter que presenciar a morte de um ente querido Nesse
contexto a morte passa a ocorrer em cenaacuterio composto por fios
maacutequinas aparelhos e pessoas estranhas geralmente equipe meacutedica e
de enfermagem
A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma
instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para
o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras
Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer
acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive
a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e
na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu
avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer
de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo
conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em
seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de
familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi
encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi
celebrada uma missa de corpo presente
Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em
ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de
fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com
breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra
que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e
desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida
23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER
O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa
maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo
diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito
especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e
descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute
dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que
encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo
humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas
verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo
Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-
Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute
em fase terminal a saber
Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do
doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente
ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo
Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos
comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que
algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo
todo
Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja
O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade
(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da
raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo
Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma
coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio
mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento
Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio
Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da
capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da
vida
Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar
depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima
com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase
mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas
preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser
confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute
importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma
desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da
chegada ao fim em paz
Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se
sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila
algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses
estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo
psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses
estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte
iminente
Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei
algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim
uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi
sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua
confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo
poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha
confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo
de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de
ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de
morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles
no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos
Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta
Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca
De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por
causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir
algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem
responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas
Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante
aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e
geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los
Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do
paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida
e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade
ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar
esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de
vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando
na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral
Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de
deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias
como inchaccedilo naacuteusea e dor
Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos
agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o
paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees
conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo
deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos
para uma morte digna e sem sofrimento
Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida
para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou
como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de
cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam
sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam
despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo
Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a
audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada
perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir
Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de
alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as
pessoas envolvidas
Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes
optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte
sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para
estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale
ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos
proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou
simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano
trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as
informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes
crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse
doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais
humanizado
Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de
morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir
poderaacute nos auxiliar nesse processo
Carta dos Pacientes Terminais
- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que
eu morra
- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas
possam acontecer
- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o
sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas
- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e
emoccedilotildees diante da minha morte
- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus
cuidados e tratamentos
- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem
mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode
confortordquo
- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho
- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto
- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado
- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas
honestamente
- Tenho o direito de natildeo ser enganado
- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou
experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos
demais
- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser
julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves
crenccedilas dos demais
- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de
meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados
- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis
humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas
necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a
minha privacidade
- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI
1996 APUD GUTIERREZ 2003)
24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica
Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes
mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato
e a observaccedilatildeo constante
Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico
e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com
alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a
elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre
outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo
atualmente
Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede
descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute
de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade
Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade
proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica
de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas
que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais
complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica
e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico
e recursos humanos especializados
Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os
paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do
tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida
prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da
famiacutelia e do cliente
As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses
pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e
extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave
manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e
adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA
2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas
ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de
interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao
paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores
relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante
tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons
monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e
ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre
outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua
privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar
esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo
vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo
Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional
muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em
estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade
criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo
profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao
paciente no processo de morte
A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe
multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do
leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto
discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no
intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade
fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo
conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida
(SILVA 2001)
Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal
durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido
contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se
impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo
endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais
membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de
comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo
profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a
importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes
da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos
postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais
organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida
entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)
Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam
diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos
pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para
o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem
sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus
familiares diante da finitude da vida
De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo
emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa
depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o
paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade
Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas
e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos
sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de
existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma
determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se
necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e
preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de
forma humanizada
Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta
[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo
Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)
ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a
deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes
consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu
sofrimentordquo
Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso
que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter
firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de
enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando
assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver
excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio
de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato
estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos
menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a
deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito
profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no
meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira
de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia
A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural
e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada
como uma das maiores estudiosas do assunto
A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte
A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais
membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma
assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais
necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida
Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente
consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-
espiritual
3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA
A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento
bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto
Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel
proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de
medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro
do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova
perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no
final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de
suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo
baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais
meacutedicos e familiares a saber
Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)
preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc
Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da
famiacutelia amigos e demais entes queridos)
Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos
importantes
Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex
testamentos venda de propriedade etc)
Evitar um processo longo de morte
Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica
brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na
medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo
coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer
todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e
obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que
estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute
receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel
Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites
de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe
envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e
poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz
sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica
meacutedica)
Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades
espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir
holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos
fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os
profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para
confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento
diante do processo de morte
A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de
sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que
lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto
que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre
as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado
na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda
Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o
envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do
paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade
de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus
familiaresrdquo
Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar
que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos
(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo
segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas
neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo
avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do
quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos
profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas
a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados
paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente
no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo
instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma
efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas
Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo
da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre
esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos
pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional
complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso
Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa
assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz
presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e
responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser
humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo
Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer
firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder
ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento
tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui
identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim
Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios
inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar
biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se
comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e
sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse
comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma
comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para
esse indiviacuteduo
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e
morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos
envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da
pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe
multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas
atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas
nesse estudo
Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu
para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem
ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma
morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano
Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar
aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente
abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por
Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo
incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e
enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de
trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da
enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida
deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que
estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI
Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira
cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja
prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer
Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no
processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo
especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas
riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho
considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada
particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco
Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas
pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina
paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais
envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de
uma Unidade de terapia Intensiva
Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o
aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que
eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor
considerado como desumanizante e frio
Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais
profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado
REFEREcircNCIAS
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Humanizar de acordo com os valores eacuteticos consiste fundamentalmente em tornar uma praacutetica bela por mais que ela lide com o que tem de mais degradante doloroso e triste na natureza humana o sofrimento a deterioraccedilatildeo e a morte Refere-se portanto a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito ao outro e de reconhecimento dos limites O ponto chave do trabalho de humanizaccedilatildeo estaacute no fortalecimento desta posiccedilatildeo eacutetica de articulaccedilatildeo do cuidado teacutecnico cientifico jaacute construiacutedo conhecido e dominado ao cuidado que incorpora a necessidade a exploraccedilatildeo e o acolhimento do imprevisiacutevel do incontrolaacutevel ao indiferente e singular
Minayo (2004) considera que ao se propor um cuidado humanizado deve-se
repensar a formaccedilatildeo profissional na aacuterea de sauacutede Para esse autor apesar
das propostas de mudanccedilas de modelo de atenccedilatildeo da sauacutede que prega a
integralidade e a humanizaccedilatildeo da assistecircncia e da crise da ciecircncia racionalista
predomina ainda o aprendizado teacutecnico racional e individualizado empregado
muitas vezesrdquo sem o exerciacutecio da criacutetica criatividade e sensibilidaderdquo
Refletindo portanto no despreparo dos profissionais em proporcionar um
cuidado humanizado cada vez mais exigido nos serviccedilos que utilizam alta
tecnologia como as Unidades de Terapia Intensiva
Felizmente percebemos uma seacuterie de estudos relacionados agrave necessidade de
humanizaccedilatildeo desses serviccedilos por forccedila do efeito negativo do ambiente sobre
pacientes famiacutelia e equipe multiprofissional Os estudos mostram tambeacutem que
os profissionais de sauacutede tecircm consciecircncia de que humanizaccedilatildeo eacute uma palavra
aparentemente faacutecil de entender poreacutem no dia-a-dia natildeo eacute tatildeo faacutecil praticaacute-la
22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER
A compreensatildeo sobre a morte influencia na qualidade de vida da pessoa e na
forma como ela interage no seu dia-a-dia com o processo de morte e morrer
Ao pesquisar sobre a definiccedilatildeo das palavras morte e morrer no dicionaacuterio de
liacutengua portuguesa fica-se impressionado com a quantidade de sinocircnimos
atribuiacutedos a elas
Morte significa cessaccedilatildeo da vida fim Jaacute a palavra morrer significa rdquoperder a
vida falecer finar-se fenecer expirar desaparecer descansar desencarnar
ir perecer sucumbir espichar esticar estinguir-se acabar (-se)rdquo (FERREIRA
2000)
Jaacute no dicionaacuterio meacutedico traz as seguintes consideraccedilotildees
1-Cessaccedilatildeo total e irreversiacutevel da funccedilatildeo cerebral funccedilatildeo espontacircnea dos sistemas respiratoacuterio e circulatoacuterio 2 - A cessaccedilatildeo final e irreversiacutevel dos batimentos cardiacuteacos e respiraccedilotildees perceptiacuteveis [] o principal sinal de morte eacute a cessaccedilatildeo da accedilatildeo do coraccedilatildeo Outras indicaccedilotildees satildeo ausecircncia de reflexos cessaccedilatildeo da atividade eleacutetrica do ceacuterebro determinada pelo eletro encefalograma (EEC) manifestaccedilatildeo de rigor mortis e uma descoloraccedilatildeo mosqueada no corpo (THOMAS 2000)
Como podemos observar existem vaacuterias denominaccedilotildees para substituir a
palavra morte talvez o objetivo real seja ldquosuavizarrdquo a sua pronuacutencia tornando-a
menos temiacutevel
A Tanatologia eacute a ciecircncia que estuda a morte Segundo este saber o homem eacute
o uacutenico ser sobre a terra que tem consciecircncia da sua finitude o uacutenico a ter
consciecircncia de que sua passagem neste mundo eacute transitoacuteria e deve terminar
um dia Apesar dessa certeza o homem foi impelido a evitar a convivecircncia com
a morte no decorrer da histoacuteria
A seguir pontuarei de forma sinteacutetica as diferentes interpretaccedilotildees da morte
segundo algumas das grandes correntes religiosas
Para os judeus e cristatildeos que acreditava na ressurreiccedilatildeo apoacutes a morte esta
seria o acesso para outra dimensatildeo da vida que poderia ser no inferno ou no
paraiacuteso conforme os seus feitos terrenos a partir da observacircncia dos
mandamentos de Deus
De acordo com Pessini (1999) apud Gutierrez (2003) ldquoo catolicismo prega que
os esforccedilos para manter a vida fiacutesica podem ser encerrados caso a
continuaccedilatildeo da vida bioloacutegica ao inveacutes de promover a integraccedilatildeo da vida
espiritual e moral do indiviacuteduo torne-se vatilderdquo
O budismo natildeo encara a morte como o fim da vida mas sim como uma
transiccedilatildeo defendendo o direito do indiviacuteduo de determinar o momento em que
deseja passar desta existecircncia para a seguinte Enfatiza que o importante no
momento da morte eacute que a mente permaneccedila em paz e harmonia consigo
mesmo
No islamismo a concepccedilatildeo de vida eacute sagrada a morte eacute interpretada como a
conclusatildeo de uma vida e o comeccedilo de outra
Apesar das diferentes interpretaccedilotildees das diversas correntes religiosas haacute
consenso de que o apoio espiritual constitui elemento valioso dado ao paciente
no processo de morrer
A morte eacute parte integrante do processo de desenvolvimento humano e estaacute
presente no cotidiano diaacuterio de nossas vidas A forma de percepccedilatildeo
significaccedilatildeo e comportamento do processo de morte e morrer variam conforme
o contexto soacutecio-cultural e histoacuterico e vem sofrendo alteraccedilotildees atraveacutes das
diferentes civilizaccedilotildees ateacute os dias atuais
[] Os povos mesopotacircmios tinham por costume enterrar os corpos dos mortos da maneira mais escrupulosa sendo o cadaacutever cuidadosamente acompanhado de todas as marcas mais distintas de sua identidade pessoal e familiar como seus pertences insiacutegnias e objetos de uso suas vestimentas e ateacute mesmo de suas comidas
prediletas (GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)
Para essa civilizaccedilatildeo a morte seria uma espeacutecie de rebaixamento da vida o
apagamento dessa mesma existecircncia
Os antigos egiacutepcios sepultavam seus mortos juntamente com as roupas e os
alimentos para que continuassem felizes e da mesma forma os antigos iacutendios
americanos que enterravam seus parentes com tudo o que lhes pertencia
Esses falavam dos espiacuteritos do mal e atiravam flechas ao ar para afugentaacute-los
Os hebreus consideravam o corpo do morto como alguma coisa impura que
natildeo podia ser tocada (KUumlBLER-ROSS 2008)
Os antigos hindus incineravam seus mortos e suas cinzas eram lanccediladas ao
vento ou nas aacuteguas dos rios sendo o morto despojado de todos os seus
traccedilos de identidade
Para os antigos gregos a incineraccedilatildeo determinava dois tipos de mortos o cadaacutever do homem comum e o cadaacutever dos grandes heroacuteis Ao anocircnimo cabia o crematoacuterio coletivo e o depoacutesito de suas cinzas em vala comum Os corpos falecidos dos heroacuteis eram cremados na cerimocircnia da bela morte onde os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos A proacutepria morte seria a prova de sua virtude tornando-o um indiviacuteduo cuja vida eacute digna de ser lembrada
(GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)
Os primeiros cemiteacuterios surgiram a partir do seacuteculo V e eram localizados junto
agraves igrejas cristatildes Esses cemiteacuterios faziam parte do cenaacuterio de vida das
pessoas tinham papel de praccedila puacuteblica eram lugares de julgamentos das
execuccedilotildees e dos encontros amorosos
Na Idade Meacutedia a morte era entendida com naturalidade fazendo parte do
ambiente domeacutestico O ritual da morte envolvia tanto a pessoa que ia morrer
como os seus parentes e amigos Naquela eacutepoca os nobres eram enterrados
no interior das igrejas enquanto os pobres erram colocados em covas
coletivas
Tanto a famiacutelia como os amigos do morto manifestavam o processo do luto
atraveacutes do uso de roupas pretas e da natildeo participaccedilatildeo na vida social ateacute que
natildeo acontecesse a elaboraccedilatildeo do oacutebito As pessoas que sabiam que iam
morrer protagonizavam todo o ritual despedindo-se dos entes queridos
fazendo o testamento buscando se reconciliar com as pessoas e superar as
maacutegoas A comunidade participava ativamente de todo esse processo (AGRA
ALBUQUERQUE 2008)
Gutierrez (2003) tomando como referencial o estudo de Pessini (1999) fez
uma breve abordagem sobre o processo de morte e morrer a partir da idade
meacutedia ateacute a deacutecada de 70 do seacuteculo XX
Durante os seacuteculos XI e XII iniciaram-se mudanccedilas sutis na maneira
tradicional de o homem atuar diante da morte
No periacuteodo entre os seacuteculos XII a XV houve uma maior conscientizaccedilatildeo
do homem em relaccedilatildeo aacute sua proacutepria morte
Jaacute no seacuteculo XVI a morte distanciou-se das situaccedilotildees mais corriqueiras
e passou a representar uma separaccedilatildeo inaceitaacutevel iniciando um
processo de visualizaccedilatildeo da morte do outro que passou a ser dramaacutetica
e mais complexa
No final do seacuteculo XVIII surgiram duas mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave morte A
benevolecircncia com a ideacuteia da morte e a relaccedilatildeo entre moribundo e seus
familiares O termo benevolecircncia significa boa vontade para com todos
Na primeira metade do seacuteculo XIX a morte era um fenocircmeno bastante
presente e encarado como fato social e puacuteblico em que parentes e
amigos vizinhos e ateacute mesmo crianccedilas permaneciam no quarto do
moribundo Nessa eacutepoca os ritos que acompanhavam a morte eram
realizados com tranquumlilidade e aceitaccedilatildeo
No decorrer dos anos a atitude do homem em relaccedilatildeo agrave morte sofreu
modificaccedilotildees e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaccediladora
Poupa-se o moribundo de saber sobre suas reais condiccedilotildees de sauacutede A
verdade eacute negada com o intuito de privar o doente do sofrimento A
extrema unccedilatildeo que era oferecida ao moribundo em meados do seacuteculo
XX passou a ser dada somente apoacutes sua morte
A partir da segunda metade do seacuteculo XX a morte foi transferida para os
hospitais e passou a ser vista como um fenocircmeno teacutecnico agraves vezes
adiada ou antecipada a depender dos interesses dos que tentavam
domina-la O Meacutedico transformou-se em heroacutei na luta contra a morte
Atualmente os avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos tornaram a morte um
evento institucionalizado Eacute cada vez mais comum as pessoas morrerem
no hospital O doente perde o direito de opinar sobre sua morte o
meacutedico tornou-se personagem principal e a famiacutelia passou a sentir-se
protegida por natildeo ter que presenciar a morte de um ente querido Nesse
contexto a morte passa a ocorrer em cenaacuterio composto por fios
maacutequinas aparelhos e pessoas estranhas geralmente equipe meacutedica e
de enfermagem
A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma
instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para
o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras
Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer
acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive
a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e
na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu
avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer
de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo
conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em
seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de
familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi
encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi
celebrada uma missa de corpo presente
Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em
ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de
fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com
breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra
que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e
desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida
23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER
O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa
maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo
diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito
especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e
descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute
dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que
encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo
humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas
verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo
Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-
Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute
em fase terminal a saber
Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do
doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente
ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo
Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos
comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que
algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo
todo
Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja
O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade
(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da
raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo
Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma
coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio
mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento
Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio
Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da
capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da
vida
Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar
depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima
com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase
mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas
preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser
confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute
importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma
desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da
chegada ao fim em paz
Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se
sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila
algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses
estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo
psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses
estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte
iminente
Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei
algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim
uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi
sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua
confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo
poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha
confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo
de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de
ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de
morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles
no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos
Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta
Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca
De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por
causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir
algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem
responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas
Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante
aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e
geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los
Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do
paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida
e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade
ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar
esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de
vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando
na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral
Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de
deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias
como inchaccedilo naacuteusea e dor
Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos
agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o
paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees
conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo
deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos
para uma morte digna e sem sofrimento
Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida
para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou
como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de
cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam
sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam
despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo
Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a
audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada
perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir
Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de
alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as
pessoas envolvidas
Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes
optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte
sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para
estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale
ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos
proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou
simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano
trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as
informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes
crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse
doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais
humanizado
Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de
morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir
poderaacute nos auxiliar nesse processo
Carta dos Pacientes Terminais
- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que
eu morra
- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas
possam acontecer
- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o
sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas
- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e
emoccedilotildees diante da minha morte
- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus
cuidados e tratamentos
- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem
mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode
confortordquo
- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho
- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto
- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado
- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas
honestamente
- Tenho o direito de natildeo ser enganado
- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou
experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos
demais
- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser
julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves
crenccedilas dos demais
- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de
meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados
- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis
humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas
necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a
minha privacidade
- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI
1996 APUD GUTIERREZ 2003)
24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica
Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes
mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato
e a observaccedilatildeo constante
Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico
e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com
alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a
elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre
outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo
atualmente
Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede
descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute
de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade
Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade
proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica
de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas
que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais
complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica
e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico
e recursos humanos especializados
Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os
paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do
tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida
prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da
famiacutelia e do cliente
As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses
pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e
extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave
manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e
adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA
2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas
ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de
interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao
paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores
relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante
tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons
monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e
ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre
outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua
privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar
esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo
vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo
Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional
muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em
estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade
criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo
profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao
paciente no processo de morte
A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe
multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do
leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto
discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no
intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade
fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo
conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida
(SILVA 2001)
Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal
durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido
contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se
impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo
endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais
membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de
comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo
profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a
importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes
da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos
postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais
organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida
entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)
Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam
diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos
pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para
o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem
sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus
familiares diante da finitude da vida
De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo
emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa
depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o
paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade
Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas
e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos
sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de
existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma
determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se
necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e
preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de
forma humanizada
Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta
[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo
Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)
ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a
deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes
consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu
sofrimentordquo
Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso
que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter
firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de
enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando
assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver
excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio
de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato
estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos
menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a
deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito
profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no
meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira
de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia
A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural
e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada
como uma das maiores estudiosas do assunto
A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte
A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais
membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma
assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais
necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida
Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente
consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-
espiritual
3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA
A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento
bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto
Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel
proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de
medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro
do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova
perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no
final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de
suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo
baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais
meacutedicos e familiares a saber
Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)
preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc
Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da
famiacutelia amigos e demais entes queridos)
Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos
importantes
Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex
testamentos venda de propriedade etc)
Evitar um processo longo de morte
Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica
brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na
medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo
coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer
todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e
obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que
estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute
receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel
Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites
de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe
envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e
poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz
sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica
meacutedica)
Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades
espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir
holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos
fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os
profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para
confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento
diante do processo de morte
A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de
sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que
lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto
que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre
as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado
na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda
Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o
envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do
paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade
de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus
familiaresrdquo
Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar
que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos
(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo
segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas
neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo
avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do
quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos
profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas
a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados
paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente
no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo
instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma
efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas
Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo
da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre
esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos
pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional
complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso
Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa
assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz
presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e
responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser
humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo
Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer
firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder
ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento
tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui
identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim
Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios
inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar
biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se
comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e
sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse
comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma
comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para
esse indiviacuteduo
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e
morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos
envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da
pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe
multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas
atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas
nesse estudo
Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu
para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem
ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma
morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano
Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar
aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente
abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por
Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo
incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e
enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de
trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da
enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida
deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que
estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI
Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira
cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja
prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer
Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no
processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo
especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas
riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho
considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada
particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco
Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas
pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina
paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais
envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de
uma Unidade de terapia Intensiva
Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o
aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que
eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor
considerado como desumanizante e frio
Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais
profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado
REFEREcircNCIAS
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ir perecer sucumbir espichar esticar estinguir-se acabar (-se)rdquo (FERREIRA
2000)
Jaacute no dicionaacuterio meacutedico traz as seguintes consideraccedilotildees
1-Cessaccedilatildeo total e irreversiacutevel da funccedilatildeo cerebral funccedilatildeo espontacircnea dos sistemas respiratoacuterio e circulatoacuterio 2 - A cessaccedilatildeo final e irreversiacutevel dos batimentos cardiacuteacos e respiraccedilotildees perceptiacuteveis [] o principal sinal de morte eacute a cessaccedilatildeo da accedilatildeo do coraccedilatildeo Outras indicaccedilotildees satildeo ausecircncia de reflexos cessaccedilatildeo da atividade eleacutetrica do ceacuterebro determinada pelo eletro encefalograma (EEC) manifestaccedilatildeo de rigor mortis e uma descoloraccedilatildeo mosqueada no corpo (THOMAS 2000)
Como podemos observar existem vaacuterias denominaccedilotildees para substituir a
palavra morte talvez o objetivo real seja ldquosuavizarrdquo a sua pronuacutencia tornando-a
menos temiacutevel
A Tanatologia eacute a ciecircncia que estuda a morte Segundo este saber o homem eacute
o uacutenico ser sobre a terra que tem consciecircncia da sua finitude o uacutenico a ter
consciecircncia de que sua passagem neste mundo eacute transitoacuteria e deve terminar
um dia Apesar dessa certeza o homem foi impelido a evitar a convivecircncia com
a morte no decorrer da histoacuteria
A seguir pontuarei de forma sinteacutetica as diferentes interpretaccedilotildees da morte
segundo algumas das grandes correntes religiosas
Para os judeus e cristatildeos que acreditava na ressurreiccedilatildeo apoacutes a morte esta
seria o acesso para outra dimensatildeo da vida que poderia ser no inferno ou no
paraiacuteso conforme os seus feitos terrenos a partir da observacircncia dos
mandamentos de Deus
De acordo com Pessini (1999) apud Gutierrez (2003) ldquoo catolicismo prega que
os esforccedilos para manter a vida fiacutesica podem ser encerrados caso a
continuaccedilatildeo da vida bioloacutegica ao inveacutes de promover a integraccedilatildeo da vida
espiritual e moral do indiviacuteduo torne-se vatilderdquo
O budismo natildeo encara a morte como o fim da vida mas sim como uma
transiccedilatildeo defendendo o direito do indiviacuteduo de determinar o momento em que
deseja passar desta existecircncia para a seguinte Enfatiza que o importante no
momento da morte eacute que a mente permaneccedila em paz e harmonia consigo
mesmo
No islamismo a concepccedilatildeo de vida eacute sagrada a morte eacute interpretada como a
conclusatildeo de uma vida e o comeccedilo de outra
Apesar das diferentes interpretaccedilotildees das diversas correntes religiosas haacute
consenso de que o apoio espiritual constitui elemento valioso dado ao paciente
no processo de morrer
A morte eacute parte integrante do processo de desenvolvimento humano e estaacute
presente no cotidiano diaacuterio de nossas vidas A forma de percepccedilatildeo
significaccedilatildeo e comportamento do processo de morte e morrer variam conforme
o contexto soacutecio-cultural e histoacuterico e vem sofrendo alteraccedilotildees atraveacutes das
diferentes civilizaccedilotildees ateacute os dias atuais
[] Os povos mesopotacircmios tinham por costume enterrar os corpos dos mortos da maneira mais escrupulosa sendo o cadaacutever cuidadosamente acompanhado de todas as marcas mais distintas de sua identidade pessoal e familiar como seus pertences insiacutegnias e objetos de uso suas vestimentas e ateacute mesmo de suas comidas
prediletas (GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)
Para essa civilizaccedilatildeo a morte seria uma espeacutecie de rebaixamento da vida o
apagamento dessa mesma existecircncia
Os antigos egiacutepcios sepultavam seus mortos juntamente com as roupas e os
alimentos para que continuassem felizes e da mesma forma os antigos iacutendios
americanos que enterravam seus parentes com tudo o que lhes pertencia
Esses falavam dos espiacuteritos do mal e atiravam flechas ao ar para afugentaacute-los
Os hebreus consideravam o corpo do morto como alguma coisa impura que
natildeo podia ser tocada (KUumlBLER-ROSS 2008)
Os antigos hindus incineravam seus mortos e suas cinzas eram lanccediladas ao
vento ou nas aacuteguas dos rios sendo o morto despojado de todos os seus
traccedilos de identidade
Para os antigos gregos a incineraccedilatildeo determinava dois tipos de mortos o cadaacutever do homem comum e o cadaacutever dos grandes heroacuteis Ao anocircnimo cabia o crematoacuterio coletivo e o depoacutesito de suas cinzas em vala comum Os corpos falecidos dos heroacuteis eram cremados na cerimocircnia da bela morte onde os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos A proacutepria morte seria a prova de sua virtude tornando-o um indiviacuteduo cuja vida eacute digna de ser lembrada
(GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)
Os primeiros cemiteacuterios surgiram a partir do seacuteculo V e eram localizados junto
agraves igrejas cristatildes Esses cemiteacuterios faziam parte do cenaacuterio de vida das
pessoas tinham papel de praccedila puacuteblica eram lugares de julgamentos das
execuccedilotildees e dos encontros amorosos
Na Idade Meacutedia a morte era entendida com naturalidade fazendo parte do
ambiente domeacutestico O ritual da morte envolvia tanto a pessoa que ia morrer
como os seus parentes e amigos Naquela eacutepoca os nobres eram enterrados
no interior das igrejas enquanto os pobres erram colocados em covas
coletivas
Tanto a famiacutelia como os amigos do morto manifestavam o processo do luto
atraveacutes do uso de roupas pretas e da natildeo participaccedilatildeo na vida social ateacute que
natildeo acontecesse a elaboraccedilatildeo do oacutebito As pessoas que sabiam que iam
morrer protagonizavam todo o ritual despedindo-se dos entes queridos
fazendo o testamento buscando se reconciliar com as pessoas e superar as
maacutegoas A comunidade participava ativamente de todo esse processo (AGRA
ALBUQUERQUE 2008)
Gutierrez (2003) tomando como referencial o estudo de Pessini (1999) fez
uma breve abordagem sobre o processo de morte e morrer a partir da idade
meacutedia ateacute a deacutecada de 70 do seacuteculo XX
Durante os seacuteculos XI e XII iniciaram-se mudanccedilas sutis na maneira
tradicional de o homem atuar diante da morte
No periacuteodo entre os seacuteculos XII a XV houve uma maior conscientizaccedilatildeo
do homem em relaccedilatildeo aacute sua proacutepria morte
Jaacute no seacuteculo XVI a morte distanciou-se das situaccedilotildees mais corriqueiras
e passou a representar uma separaccedilatildeo inaceitaacutevel iniciando um
processo de visualizaccedilatildeo da morte do outro que passou a ser dramaacutetica
e mais complexa
No final do seacuteculo XVIII surgiram duas mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave morte A
benevolecircncia com a ideacuteia da morte e a relaccedilatildeo entre moribundo e seus
familiares O termo benevolecircncia significa boa vontade para com todos
Na primeira metade do seacuteculo XIX a morte era um fenocircmeno bastante
presente e encarado como fato social e puacuteblico em que parentes e
amigos vizinhos e ateacute mesmo crianccedilas permaneciam no quarto do
moribundo Nessa eacutepoca os ritos que acompanhavam a morte eram
realizados com tranquumlilidade e aceitaccedilatildeo
No decorrer dos anos a atitude do homem em relaccedilatildeo agrave morte sofreu
modificaccedilotildees e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaccediladora
Poupa-se o moribundo de saber sobre suas reais condiccedilotildees de sauacutede A
verdade eacute negada com o intuito de privar o doente do sofrimento A
extrema unccedilatildeo que era oferecida ao moribundo em meados do seacuteculo
XX passou a ser dada somente apoacutes sua morte
A partir da segunda metade do seacuteculo XX a morte foi transferida para os
hospitais e passou a ser vista como um fenocircmeno teacutecnico agraves vezes
adiada ou antecipada a depender dos interesses dos que tentavam
domina-la O Meacutedico transformou-se em heroacutei na luta contra a morte
Atualmente os avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos tornaram a morte um
evento institucionalizado Eacute cada vez mais comum as pessoas morrerem
no hospital O doente perde o direito de opinar sobre sua morte o
meacutedico tornou-se personagem principal e a famiacutelia passou a sentir-se
protegida por natildeo ter que presenciar a morte de um ente querido Nesse
contexto a morte passa a ocorrer em cenaacuterio composto por fios
maacutequinas aparelhos e pessoas estranhas geralmente equipe meacutedica e
de enfermagem
A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma
instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para
o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras
Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer
acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive
a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e
na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu
avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer
de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo
conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em
seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de
familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi
encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi
celebrada uma missa de corpo presente
Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em
ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de
fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com
breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra
que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e
desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida
23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER
O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa
maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo
diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito
especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e
descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute
dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que
encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo
humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas
verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo
Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-
Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute
em fase terminal a saber
Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do
doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente
ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo
Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos
comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que
algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo
todo
Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja
O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade
(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da
raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo
Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma
coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio
mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento
Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio
Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da
capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da
vida
Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar
depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima
com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase
mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas
preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser
confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute
importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma
desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da
chegada ao fim em paz
Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se
sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila
algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses
estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo
psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses
estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte
iminente
Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei
algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim
uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi
sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua
confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo
poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha
confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo
de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de
ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de
morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles
no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos
Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta
Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca
De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por
causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir
algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem
responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas
Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante
aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e
geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los
Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do
paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida
e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade
ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar
esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de
vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando
na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral
Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de
deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias
como inchaccedilo naacuteusea e dor
Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos
agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o
paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees
conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo
deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos
para uma morte digna e sem sofrimento
Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida
para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou
como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de
cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam
sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam
despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo
Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a
audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada
perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir
Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de
alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as
pessoas envolvidas
Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes
optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte
sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para
estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale
ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos
proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou
simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano
trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as
informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes
crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse
doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais
humanizado
Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de
morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir
poderaacute nos auxiliar nesse processo
Carta dos Pacientes Terminais
- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que
eu morra
- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas
possam acontecer
- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o
sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas
- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e
emoccedilotildees diante da minha morte
- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus
cuidados e tratamentos
- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem
mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode
confortordquo
- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho
- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto
- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado
- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas
honestamente
- Tenho o direito de natildeo ser enganado
- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou
experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos
demais
- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser
julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves
crenccedilas dos demais
- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de
meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados
- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis
humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas
necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a
minha privacidade
- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI
1996 APUD GUTIERREZ 2003)
24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica
Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes
mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato
e a observaccedilatildeo constante
Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico
e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com
alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a
elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre
outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo
atualmente
Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede
descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute
de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade
Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade
proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica
de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas
que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais
complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica
e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico
e recursos humanos especializados
Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os
paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do
tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida
prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da
famiacutelia e do cliente
As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses
pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e
extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave
manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e
adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA
2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas
ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de
interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao
paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores
relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante
tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons
monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e
ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre
outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua
privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar
esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo
vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo
Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional
muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em
estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade
criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo
profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao
paciente no processo de morte
A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe
multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do
leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto
discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no
intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade
fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo
conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida
(SILVA 2001)
Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal
durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido
contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se
impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo
endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais
membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de
comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo
profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a
importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes
da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos
postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais
organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida
entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)
Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam
diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos
pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para
o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem
sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus
familiares diante da finitude da vida
De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo
emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa
depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o
paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade
Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas
e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos
sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de
existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma
determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se
necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e
preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de
forma humanizada
Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta
[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo
Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)
ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a
deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes
consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu
sofrimentordquo
Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso
que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter
firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de
enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando
assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver
excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio
de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato
estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos
menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a
deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito
profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no
meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira
de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia
A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural
e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada
como uma das maiores estudiosas do assunto
A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte
A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais
membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma
assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais
necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida
Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente
consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-
espiritual
3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA
A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento
bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto
Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel
proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de
medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro
do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova
perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no
final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de
suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo
baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais
meacutedicos e familiares a saber
Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)
preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc
Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da
famiacutelia amigos e demais entes queridos)
Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos
importantes
Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex
testamentos venda de propriedade etc)
Evitar um processo longo de morte
Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica
brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na
medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo
coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer
todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e
obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que
estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute
receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel
Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites
de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe
envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e
poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz
sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica
meacutedica)
Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades
espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir
holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos
fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os
profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para
confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento
diante do processo de morte
A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de
sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que
lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto
que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre
as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado
na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda
Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o
envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do
paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade
de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus
familiaresrdquo
Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar
que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos
(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo
segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas
neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo
avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do
quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos
profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas
a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados
paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente
no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo
instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma
efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas
Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo
da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre
esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos
pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional
complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso
Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa
assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz
presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e
responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser
humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo
Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer
firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder
ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento
tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui
identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim
Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios
inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar
biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se
comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e
sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse
comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma
comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para
esse indiviacuteduo
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e
morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos
envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da
pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe
multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas
atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas
nesse estudo
Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu
para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem
ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma
morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano
Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar
aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente
abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por
Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo
incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e
enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de
trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da
enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida
deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que
estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI
Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira
cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja
prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer
Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no
processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo
especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas
riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho
considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada
particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco
Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas
pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina
paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais
envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de
uma Unidade de terapia Intensiva
Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o
aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que
eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor
considerado como desumanizante e frio
Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais
profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado
REFEREcircNCIAS
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O budismo natildeo encara a morte como o fim da vida mas sim como uma
transiccedilatildeo defendendo o direito do indiviacuteduo de determinar o momento em que
deseja passar desta existecircncia para a seguinte Enfatiza que o importante no
momento da morte eacute que a mente permaneccedila em paz e harmonia consigo
mesmo
No islamismo a concepccedilatildeo de vida eacute sagrada a morte eacute interpretada como a
conclusatildeo de uma vida e o comeccedilo de outra
Apesar das diferentes interpretaccedilotildees das diversas correntes religiosas haacute
consenso de que o apoio espiritual constitui elemento valioso dado ao paciente
no processo de morrer
A morte eacute parte integrante do processo de desenvolvimento humano e estaacute
presente no cotidiano diaacuterio de nossas vidas A forma de percepccedilatildeo
significaccedilatildeo e comportamento do processo de morte e morrer variam conforme
o contexto soacutecio-cultural e histoacuterico e vem sofrendo alteraccedilotildees atraveacutes das
diferentes civilizaccedilotildees ateacute os dias atuais
[] Os povos mesopotacircmios tinham por costume enterrar os corpos dos mortos da maneira mais escrupulosa sendo o cadaacutever cuidadosamente acompanhado de todas as marcas mais distintas de sua identidade pessoal e familiar como seus pertences insiacutegnias e objetos de uso suas vestimentas e ateacute mesmo de suas comidas
prediletas (GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)
Para essa civilizaccedilatildeo a morte seria uma espeacutecie de rebaixamento da vida o
apagamento dessa mesma existecircncia
Os antigos egiacutepcios sepultavam seus mortos juntamente com as roupas e os
alimentos para que continuassem felizes e da mesma forma os antigos iacutendios
americanos que enterravam seus parentes com tudo o que lhes pertencia
Esses falavam dos espiacuteritos do mal e atiravam flechas ao ar para afugentaacute-los
Os hebreus consideravam o corpo do morto como alguma coisa impura que
natildeo podia ser tocada (KUumlBLER-ROSS 2008)
Os antigos hindus incineravam seus mortos e suas cinzas eram lanccediladas ao
vento ou nas aacuteguas dos rios sendo o morto despojado de todos os seus
traccedilos de identidade
Para os antigos gregos a incineraccedilatildeo determinava dois tipos de mortos o cadaacutever do homem comum e o cadaacutever dos grandes heroacuteis Ao anocircnimo cabia o crematoacuterio coletivo e o depoacutesito de suas cinzas em vala comum Os corpos falecidos dos heroacuteis eram cremados na cerimocircnia da bela morte onde os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos A proacutepria morte seria a prova de sua virtude tornando-o um indiviacuteduo cuja vida eacute digna de ser lembrada
(GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)
Os primeiros cemiteacuterios surgiram a partir do seacuteculo V e eram localizados junto
agraves igrejas cristatildes Esses cemiteacuterios faziam parte do cenaacuterio de vida das
pessoas tinham papel de praccedila puacuteblica eram lugares de julgamentos das
execuccedilotildees e dos encontros amorosos
Na Idade Meacutedia a morte era entendida com naturalidade fazendo parte do
ambiente domeacutestico O ritual da morte envolvia tanto a pessoa que ia morrer
como os seus parentes e amigos Naquela eacutepoca os nobres eram enterrados
no interior das igrejas enquanto os pobres erram colocados em covas
coletivas
Tanto a famiacutelia como os amigos do morto manifestavam o processo do luto
atraveacutes do uso de roupas pretas e da natildeo participaccedilatildeo na vida social ateacute que
natildeo acontecesse a elaboraccedilatildeo do oacutebito As pessoas que sabiam que iam
morrer protagonizavam todo o ritual despedindo-se dos entes queridos
fazendo o testamento buscando se reconciliar com as pessoas e superar as
maacutegoas A comunidade participava ativamente de todo esse processo (AGRA
ALBUQUERQUE 2008)
Gutierrez (2003) tomando como referencial o estudo de Pessini (1999) fez
uma breve abordagem sobre o processo de morte e morrer a partir da idade
meacutedia ateacute a deacutecada de 70 do seacuteculo XX
Durante os seacuteculos XI e XII iniciaram-se mudanccedilas sutis na maneira
tradicional de o homem atuar diante da morte
No periacuteodo entre os seacuteculos XII a XV houve uma maior conscientizaccedilatildeo
do homem em relaccedilatildeo aacute sua proacutepria morte
Jaacute no seacuteculo XVI a morte distanciou-se das situaccedilotildees mais corriqueiras
e passou a representar uma separaccedilatildeo inaceitaacutevel iniciando um
processo de visualizaccedilatildeo da morte do outro que passou a ser dramaacutetica
e mais complexa
No final do seacuteculo XVIII surgiram duas mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave morte A
benevolecircncia com a ideacuteia da morte e a relaccedilatildeo entre moribundo e seus
familiares O termo benevolecircncia significa boa vontade para com todos
Na primeira metade do seacuteculo XIX a morte era um fenocircmeno bastante
presente e encarado como fato social e puacuteblico em que parentes e
amigos vizinhos e ateacute mesmo crianccedilas permaneciam no quarto do
moribundo Nessa eacutepoca os ritos que acompanhavam a morte eram
realizados com tranquumlilidade e aceitaccedilatildeo
No decorrer dos anos a atitude do homem em relaccedilatildeo agrave morte sofreu
modificaccedilotildees e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaccediladora
Poupa-se o moribundo de saber sobre suas reais condiccedilotildees de sauacutede A
verdade eacute negada com o intuito de privar o doente do sofrimento A
extrema unccedilatildeo que era oferecida ao moribundo em meados do seacuteculo
XX passou a ser dada somente apoacutes sua morte
A partir da segunda metade do seacuteculo XX a morte foi transferida para os
hospitais e passou a ser vista como um fenocircmeno teacutecnico agraves vezes
adiada ou antecipada a depender dos interesses dos que tentavam
domina-la O Meacutedico transformou-se em heroacutei na luta contra a morte
Atualmente os avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos tornaram a morte um
evento institucionalizado Eacute cada vez mais comum as pessoas morrerem
no hospital O doente perde o direito de opinar sobre sua morte o
meacutedico tornou-se personagem principal e a famiacutelia passou a sentir-se
protegida por natildeo ter que presenciar a morte de um ente querido Nesse
contexto a morte passa a ocorrer em cenaacuterio composto por fios
maacutequinas aparelhos e pessoas estranhas geralmente equipe meacutedica e
de enfermagem
A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma
instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para
o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras
Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer
acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive
a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e
na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu
avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer
de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo
conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em
seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de
familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi
encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi
celebrada uma missa de corpo presente
Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em
ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de
fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com
breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra
que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e
desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida
23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER
O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa
maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo
diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito
especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e
descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute
dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que
encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo
humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas
verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo
Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-
Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute
em fase terminal a saber
Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do
doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente
ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo
Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos
comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que
algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo
todo
Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja
O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade
(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da
raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo
Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma
coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio
mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento
Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio
Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da
capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da
vida
Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar
depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima
com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase
mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas
preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser
confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute
importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma
desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da
chegada ao fim em paz
Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se
sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila
algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses
estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo
psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses
estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte
iminente
Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei
algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim
uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi
sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua
confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo
poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha
confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo
de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de
ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de
morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles
no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos
Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta
Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca
De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por
causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir
algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem
responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas
Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante
aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e
geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los
Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do
paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida
e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade
ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar
esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de
vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando
na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral
Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de
deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias
como inchaccedilo naacuteusea e dor
Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos
agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o
paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees
conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo
deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos
para uma morte digna e sem sofrimento
Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida
para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou
como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de
cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam
sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam
despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo
Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a
audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada
perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir
Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de
alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as
pessoas envolvidas
Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes
optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte
sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para
estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale
ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos
proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou
simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano
trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as
informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes
crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse
doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais
humanizado
Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de
morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir
poderaacute nos auxiliar nesse processo
Carta dos Pacientes Terminais
- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que
eu morra
- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas
possam acontecer
- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o
sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas
- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e
emoccedilotildees diante da minha morte
- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus
cuidados e tratamentos
- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem
mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode
confortordquo
- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho
- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto
- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado
- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas
honestamente
- Tenho o direito de natildeo ser enganado
- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou
experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos
demais
- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser
julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves
crenccedilas dos demais
- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de
meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados
- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis
humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas
necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a
minha privacidade
- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI
1996 APUD GUTIERREZ 2003)
24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica
Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes
mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato
e a observaccedilatildeo constante
Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico
e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com
alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a
elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre
outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo
atualmente
Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede
descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute
de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade
Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade
proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica
de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas
que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais
complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica
e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico
e recursos humanos especializados
Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os
paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do
tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida
prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da
famiacutelia e do cliente
As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses
pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e
extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave
manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e
adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA
2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas
ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de
interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao
paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores
relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante
tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons
monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e
ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre
outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua
privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar
esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo
vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo
Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional
muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em
estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade
criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo
profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao
paciente no processo de morte
A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe
multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do
leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto
discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no
intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade
fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo
conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida
(SILVA 2001)
Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal
durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido
contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se
impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo
endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais
membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de
comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo
profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a
importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes
da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos
postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais
organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida
entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)
Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam
diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos
pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para
o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem
sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus
familiares diante da finitude da vida
De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo
emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa
depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o
paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade
Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas
e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos
sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de
existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma
determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se
necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e
preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de
forma humanizada
Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta
[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo
Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)
ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a
deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes
consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu
sofrimentordquo
Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso
que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter
firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de
enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando
assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver
excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio
de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato
estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos
menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a
deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito
profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no
meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira
de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia
A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural
e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada
como uma das maiores estudiosas do assunto
A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte
A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais
membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma
assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais
necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida
Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente
consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-
espiritual
3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA
A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento
bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto
Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel
proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de
medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro
do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova
perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no
final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de
suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo
baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais
meacutedicos e familiares a saber
Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)
preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc
Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da
famiacutelia amigos e demais entes queridos)
Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos
importantes
Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex
testamentos venda de propriedade etc)
Evitar um processo longo de morte
Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica
brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na
medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo
coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer
todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e
obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que
estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute
receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel
Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites
de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe
envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e
poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz
sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica
meacutedica)
Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades
espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir
holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos
fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os
profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para
confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento
diante do processo de morte
A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de
sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que
lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto
que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre
as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado
na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda
Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o
envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do
paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade
de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus
familiaresrdquo
Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar
que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos
(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo
segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas
neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo
avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do
quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos
profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas
a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados
paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente
no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo
instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma
efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas
Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo
da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre
esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos
pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional
complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso
Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa
assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz
presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e
responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser
humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo
Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer
firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder
ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento
tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui
identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim
Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios
inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar
biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se
comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e
sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse
comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma
comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para
esse indiviacuteduo
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e
morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos
envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da
pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe
multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas
atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas
nesse estudo
Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu
para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem
ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma
morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano
Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar
aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente
abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por
Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo
incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e
enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de
trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da
enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida
deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que
estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI
Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira
cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja
prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer
Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no
processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo
especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas
riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho
considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada
particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco
Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas
pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina
paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais
envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de
uma Unidade de terapia Intensiva
Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o
aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que
eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor
considerado como desumanizante e frio
Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais
profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado
REFEREcircNCIAS
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Os antigos hindus incineravam seus mortos e suas cinzas eram lanccediladas ao
vento ou nas aacuteguas dos rios sendo o morto despojado de todos os seus
traccedilos de identidade
Para os antigos gregos a incineraccedilatildeo determinava dois tipos de mortos o cadaacutever do homem comum e o cadaacutever dos grandes heroacuteis Ao anocircnimo cabia o crematoacuterio coletivo e o depoacutesito de suas cinzas em vala comum Os corpos falecidos dos heroacuteis eram cremados na cerimocircnia da bela morte onde os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos A proacutepria morte seria a prova de sua virtude tornando-o um indiviacuteduo cuja vida eacute digna de ser lembrada
(GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)
Os primeiros cemiteacuterios surgiram a partir do seacuteculo V e eram localizados junto
agraves igrejas cristatildes Esses cemiteacuterios faziam parte do cenaacuterio de vida das
pessoas tinham papel de praccedila puacuteblica eram lugares de julgamentos das
execuccedilotildees e dos encontros amorosos
Na Idade Meacutedia a morte era entendida com naturalidade fazendo parte do
ambiente domeacutestico O ritual da morte envolvia tanto a pessoa que ia morrer
como os seus parentes e amigos Naquela eacutepoca os nobres eram enterrados
no interior das igrejas enquanto os pobres erram colocados em covas
coletivas
Tanto a famiacutelia como os amigos do morto manifestavam o processo do luto
atraveacutes do uso de roupas pretas e da natildeo participaccedilatildeo na vida social ateacute que
natildeo acontecesse a elaboraccedilatildeo do oacutebito As pessoas que sabiam que iam
morrer protagonizavam todo o ritual despedindo-se dos entes queridos
fazendo o testamento buscando se reconciliar com as pessoas e superar as
maacutegoas A comunidade participava ativamente de todo esse processo (AGRA
ALBUQUERQUE 2008)
Gutierrez (2003) tomando como referencial o estudo de Pessini (1999) fez
uma breve abordagem sobre o processo de morte e morrer a partir da idade
meacutedia ateacute a deacutecada de 70 do seacuteculo XX
Durante os seacuteculos XI e XII iniciaram-se mudanccedilas sutis na maneira
tradicional de o homem atuar diante da morte
No periacuteodo entre os seacuteculos XII a XV houve uma maior conscientizaccedilatildeo
do homem em relaccedilatildeo aacute sua proacutepria morte
Jaacute no seacuteculo XVI a morte distanciou-se das situaccedilotildees mais corriqueiras
e passou a representar uma separaccedilatildeo inaceitaacutevel iniciando um
processo de visualizaccedilatildeo da morte do outro que passou a ser dramaacutetica
e mais complexa
No final do seacuteculo XVIII surgiram duas mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave morte A
benevolecircncia com a ideacuteia da morte e a relaccedilatildeo entre moribundo e seus
familiares O termo benevolecircncia significa boa vontade para com todos
Na primeira metade do seacuteculo XIX a morte era um fenocircmeno bastante
presente e encarado como fato social e puacuteblico em que parentes e
amigos vizinhos e ateacute mesmo crianccedilas permaneciam no quarto do
moribundo Nessa eacutepoca os ritos que acompanhavam a morte eram
realizados com tranquumlilidade e aceitaccedilatildeo
No decorrer dos anos a atitude do homem em relaccedilatildeo agrave morte sofreu
modificaccedilotildees e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaccediladora
Poupa-se o moribundo de saber sobre suas reais condiccedilotildees de sauacutede A
verdade eacute negada com o intuito de privar o doente do sofrimento A
extrema unccedilatildeo que era oferecida ao moribundo em meados do seacuteculo
XX passou a ser dada somente apoacutes sua morte
A partir da segunda metade do seacuteculo XX a morte foi transferida para os
hospitais e passou a ser vista como um fenocircmeno teacutecnico agraves vezes
adiada ou antecipada a depender dos interesses dos que tentavam
domina-la O Meacutedico transformou-se em heroacutei na luta contra a morte
Atualmente os avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos tornaram a morte um
evento institucionalizado Eacute cada vez mais comum as pessoas morrerem
no hospital O doente perde o direito de opinar sobre sua morte o
meacutedico tornou-se personagem principal e a famiacutelia passou a sentir-se
protegida por natildeo ter que presenciar a morte de um ente querido Nesse
contexto a morte passa a ocorrer em cenaacuterio composto por fios
maacutequinas aparelhos e pessoas estranhas geralmente equipe meacutedica e
de enfermagem
A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma
instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para
o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras
Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer
acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive
a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e
na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu
avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer
de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo
conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em
seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de
familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi
encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi
celebrada uma missa de corpo presente
Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em
ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de
fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com
breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra
que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e
desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida
23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER
O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa
maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo
diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito
especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e
descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute
dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que
encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo
humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas
verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo
Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-
Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute
em fase terminal a saber
Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do
doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente
ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo
Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos
comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que
algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo
todo
Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja
O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade
(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da
raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo
Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma
coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio
mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento
Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio
Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da
capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da
vida
Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar
depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima
com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase
mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas
preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser
confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute
importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma
desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da
chegada ao fim em paz
Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se
sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila
algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses
estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo
psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses
estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte
iminente
Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei
algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim
uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi
sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua
confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo
poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha
confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo
de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de
ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de
morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles
no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos
Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta
Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca
De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por
causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir
algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem
responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas
Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante
aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e
geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los
Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do
paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida
e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade
ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar
esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de
vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando
na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral
Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de
deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias
como inchaccedilo naacuteusea e dor
Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos
agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o
paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees
conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo
deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos
para uma morte digna e sem sofrimento
Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida
para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou
como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de
cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam
sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam
despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo
Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a
audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada
perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir
Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de
alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as
pessoas envolvidas
Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes
optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte
sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para
estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale
ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos
proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou
simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano
trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as
informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes
crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse
doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais
humanizado
Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de
morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir
poderaacute nos auxiliar nesse processo
Carta dos Pacientes Terminais
- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que
eu morra
- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas
possam acontecer
- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o
sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas
- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e
emoccedilotildees diante da minha morte
- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus
cuidados e tratamentos
- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem
mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode
confortordquo
- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho
- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto
- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado
- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas
honestamente
- Tenho o direito de natildeo ser enganado
- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou
experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos
demais
- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser
julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves
crenccedilas dos demais
- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de
meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados
- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis
humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas
necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a
minha privacidade
- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI
1996 APUD GUTIERREZ 2003)
24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica
Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes
mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato
e a observaccedilatildeo constante
Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico
e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com
alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a
elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre
outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo
atualmente
Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede
descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute
de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade
Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade
proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica
de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas
que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais
complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica
e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico
e recursos humanos especializados
Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os
paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do
tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida
prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da
famiacutelia e do cliente
As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses
pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e
extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave
manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e
adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA
2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas
ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de
interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao
paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores
relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante
tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons
monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e
ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre
outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua
privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar
esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo
vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo
Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional
muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em
estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade
criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo
profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao
paciente no processo de morte
A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe
multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do
leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto
discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no
intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade
fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo
conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida
(SILVA 2001)
Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal
durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido
contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se
impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo
endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais
membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de
comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo
profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a
importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes
da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos
postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais
organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida
entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)
Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam
diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos
pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para
o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem
sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus
familiares diante da finitude da vida
De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo
emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa
depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o
paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade
Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas
e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos
sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de
existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma
determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se
necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e
preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de
forma humanizada
Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta
[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo
Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)
ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a
deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes
consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu
sofrimentordquo
Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso
que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter
firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de
enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando
assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver
excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio
de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato
estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos
menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a
deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito
profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no
meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira
de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia
A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural
e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada
como uma das maiores estudiosas do assunto
A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte
A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais
membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma
assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais
necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida
Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente
consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-
espiritual
3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA
A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento
bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto
Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel
proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de
medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro
do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova
perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no
final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de
suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo
baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais
meacutedicos e familiares a saber
Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)
preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc
Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da
famiacutelia amigos e demais entes queridos)
Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos
importantes
Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex
testamentos venda de propriedade etc)
Evitar um processo longo de morte
Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica
brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na
medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo
coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer
todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e
obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que
estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute
receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel
Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites
de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe
envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e
poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz
sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica
meacutedica)
Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades
espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir
holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos
fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os
profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para
confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento
diante do processo de morte
A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de
sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que
lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto
que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre
as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado
na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda
Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o
envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do
paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade
de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus
familiaresrdquo
Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar
que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos
(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo
segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas
neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo
avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do
quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos
profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas
a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados
paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente
no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo
instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma
efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas
Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo
da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre
esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos
pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional
complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso
Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa
assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz
presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e
responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser
humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo
Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer
firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder
ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento
tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui
identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim
Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios
inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar
biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se
comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e
sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse
comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma
comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para
esse indiviacuteduo
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e
morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos
envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da
pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe
multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas
atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas
nesse estudo
Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu
para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem
ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma
morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano
Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar
aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente
abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por
Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo
incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e
enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de
trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da
enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida
deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que
estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI
Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira
cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja
prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer
Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no
processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo
especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas
riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho
considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada
particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco
Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas
pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina
paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais
envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de
uma Unidade de terapia Intensiva
Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o
aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que
eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor
considerado como desumanizante e frio
Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais
profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado
REFEREcircNCIAS
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Durante os seacuteculos XI e XII iniciaram-se mudanccedilas sutis na maneira
tradicional de o homem atuar diante da morte
No periacuteodo entre os seacuteculos XII a XV houve uma maior conscientizaccedilatildeo
do homem em relaccedilatildeo aacute sua proacutepria morte
Jaacute no seacuteculo XVI a morte distanciou-se das situaccedilotildees mais corriqueiras
e passou a representar uma separaccedilatildeo inaceitaacutevel iniciando um
processo de visualizaccedilatildeo da morte do outro que passou a ser dramaacutetica
e mais complexa
No final do seacuteculo XVIII surgiram duas mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave morte A
benevolecircncia com a ideacuteia da morte e a relaccedilatildeo entre moribundo e seus
familiares O termo benevolecircncia significa boa vontade para com todos
Na primeira metade do seacuteculo XIX a morte era um fenocircmeno bastante
presente e encarado como fato social e puacuteblico em que parentes e
amigos vizinhos e ateacute mesmo crianccedilas permaneciam no quarto do
moribundo Nessa eacutepoca os ritos que acompanhavam a morte eram
realizados com tranquumlilidade e aceitaccedilatildeo
No decorrer dos anos a atitude do homem em relaccedilatildeo agrave morte sofreu
modificaccedilotildees e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaccediladora
Poupa-se o moribundo de saber sobre suas reais condiccedilotildees de sauacutede A
verdade eacute negada com o intuito de privar o doente do sofrimento A
extrema unccedilatildeo que era oferecida ao moribundo em meados do seacuteculo
XX passou a ser dada somente apoacutes sua morte
A partir da segunda metade do seacuteculo XX a morte foi transferida para os
hospitais e passou a ser vista como um fenocircmeno teacutecnico agraves vezes
adiada ou antecipada a depender dos interesses dos que tentavam
domina-la O Meacutedico transformou-se em heroacutei na luta contra a morte
Atualmente os avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos tornaram a morte um
evento institucionalizado Eacute cada vez mais comum as pessoas morrerem
no hospital O doente perde o direito de opinar sobre sua morte o
meacutedico tornou-se personagem principal e a famiacutelia passou a sentir-se
protegida por natildeo ter que presenciar a morte de um ente querido Nesse
contexto a morte passa a ocorrer em cenaacuterio composto por fios
maacutequinas aparelhos e pessoas estranhas geralmente equipe meacutedica e
de enfermagem
A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma
instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para
o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras
Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer
acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive
a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e
na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu
avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer
de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo
conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em
seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de
familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi
encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi
celebrada uma missa de corpo presente
Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em
ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de
fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com
breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra
que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e
desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida
23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER
O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa
maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo
diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito
especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e
descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute
dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que
encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo
humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas
verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo
Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-
Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute
em fase terminal a saber
Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do
doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente
ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo
Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos
comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que
algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo
todo
Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja
O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade
(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da
raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo
Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma
coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio
mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento
Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio
Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da
capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da
vida
Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar
depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima
com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase
mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas
preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser
confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute
importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma
desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da
chegada ao fim em paz
Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se
sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila
algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses
estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo
psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses
estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte
iminente
Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei
algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim
uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi
sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua
confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo
poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha
confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo
de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de
ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de
morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles
no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos
Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta
Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca
De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por
causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir
algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem
responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas
Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante
aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e
geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los
Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do
paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida
e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade
ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar
esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de
vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando
na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral
Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de
deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias
como inchaccedilo naacuteusea e dor
Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos
agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o
paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees
conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo
deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos
para uma morte digna e sem sofrimento
Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida
para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou
como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de
cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam
sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam
despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo
Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a
audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada
perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir
Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de
alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as
pessoas envolvidas
Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes
optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte
sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para
estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale
ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos
proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou
simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano
trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as
informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes
crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse
doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais
humanizado
Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de
morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir
poderaacute nos auxiliar nesse processo
Carta dos Pacientes Terminais
- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que
eu morra
- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas
possam acontecer
- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o
sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas
- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e
emoccedilotildees diante da minha morte
- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus
cuidados e tratamentos
- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem
mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode
confortordquo
- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho
- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto
- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado
- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas
honestamente
- Tenho o direito de natildeo ser enganado
- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou
experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos
demais
- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser
julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves
crenccedilas dos demais
- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de
meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados
- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis
humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas
necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a
minha privacidade
- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI
1996 APUD GUTIERREZ 2003)
24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica
Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes
mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato
e a observaccedilatildeo constante
Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico
e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com
alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a
elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre
outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo
atualmente
Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede
descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute
de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade
Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade
proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica
de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas
que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais
complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica
e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico
e recursos humanos especializados
Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os
paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do
tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida
prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da
famiacutelia e do cliente
As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses
pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e
extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave
manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e
adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA
2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas
ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de
interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao
paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores
relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante
tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons
monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e
ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre
outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua
privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar
esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo
vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo
Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional
muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em
estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade
criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo
profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao
paciente no processo de morte
A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe
multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do
leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto
discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no
intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade
fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo
conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida
(SILVA 2001)
Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal
durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido
contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se
impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo
endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais
membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de
comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo
profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a
importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes
da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos
postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais
organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida
entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)
Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam
diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos
pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para
o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem
sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus
familiares diante da finitude da vida
De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo
emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa
depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o
paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade
Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas
e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos
sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de
existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma
determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se
necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e
preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de
forma humanizada
Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta
[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo
Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)
ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a
deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes
consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu
sofrimentordquo
Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso
que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter
firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de
enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando
assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver
excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio
de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato
estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos
menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a
deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito
profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no
meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira
de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia
A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural
e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada
como uma das maiores estudiosas do assunto
A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte
A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais
membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma
assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais
necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida
Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente
consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-
espiritual
3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA
A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento
bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto
Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel
proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de
medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro
do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova
perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no
final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de
suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo
baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais
meacutedicos e familiares a saber
Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)
preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc
Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da
famiacutelia amigos e demais entes queridos)
Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos
importantes
Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex
testamentos venda de propriedade etc)
Evitar um processo longo de morte
Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica
brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na
medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo
coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer
todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e
obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que
estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute
receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel
Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites
de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe
envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e
poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz
sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica
meacutedica)
Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades
espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir
holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos
fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os
profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para
confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento
diante do processo de morte
A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de
sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que
lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto
que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre
as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado
na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda
Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o
envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do
paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade
de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus
familiaresrdquo
Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar
que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos
(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo
segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas
neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo
avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do
quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos
profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas
a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados
paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente
no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo
instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma
efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas
Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo
da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre
esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos
pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional
complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso
Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa
assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz
presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e
responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser
humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo
Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer
firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder
ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento
tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui
identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim
Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios
inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar
biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se
comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e
sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse
comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma
comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para
esse indiviacuteduo
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e
morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos
envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da
pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe
multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas
atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas
nesse estudo
Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu
para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem
ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma
morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano
Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar
aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente
abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por
Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo
incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e
enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de
trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da
enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida
deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que
estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI
Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira
cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja
prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer
Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no
processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo
especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas
riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho
considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada
particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco
Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas
pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina
paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais
envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de
uma Unidade de terapia Intensiva
Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o
aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que
eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor
considerado como desumanizante e frio
Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais
profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado
REFEREcircNCIAS
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A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma
instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para
o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras
Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer
acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive
a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e
na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu
avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer
de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo
conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em
seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de
familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi
encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi
celebrada uma missa de corpo presente
Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em
ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de
fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com
breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra
que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e
desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida
23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER
O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa
maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo
diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito
especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e
descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute
dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que
encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo
humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas
verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo
Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-
Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute
em fase terminal a saber
Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do
doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente
ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo
Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos
comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que
algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo
todo
Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja
O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade
(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da
raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo
Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma
coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio
mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento
Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio
Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da
capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da
vida
Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar
depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima
com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase
mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas
preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser
confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute
importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma
desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da
chegada ao fim em paz
Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se
sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila
algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses
estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo
psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses
estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte
iminente
Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei
algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim
uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi
sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua
confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo
poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha
confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo
de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de
ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de
morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles
no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos
Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta
Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca
De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por
causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir
algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem
responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas
Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante
aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e
geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los
Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do
paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida
e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade
ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar
esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de
vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando
na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral
Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de
deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias
como inchaccedilo naacuteusea e dor
Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos
agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o
paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees
conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo
deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos
para uma morte digna e sem sofrimento
Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida
para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou
como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de
cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam
sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam
despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo
Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a
audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada
perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir
Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de
alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as
pessoas envolvidas
Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes
optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte
sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para
estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale
ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos
proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou
simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano
trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as
informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes
crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse
doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais
humanizado
Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de
morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir
poderaacute nos auxiliar nesse processo
Carta dos Pacientes Terminais
- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que
eu morra
- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas
possam acontecer
- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o
sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas
- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e
emoccedilotildees diante da minha morte
- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus
cuidados e tratamentos
- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem
mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode
confortordquo
- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho
- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto
- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado
- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas
honestamente
- Tenho o direito de natildeo ser enganado
- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou
experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos
demais
- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser
julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves
crenccedilas dos demais
- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de
meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados
- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis
humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas
necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a
minha privacidade
- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI
1996 APUD GUTIERREZ 2003)
24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica
Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes
mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato
e a observaccedilatildeo constante
Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico
e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com
alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a
elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre
outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo
atualmente
Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede
descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute
de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade
Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade
proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica
de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas
que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais
complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica
e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico
e recursos humanos especializados
Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os
paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do
tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida
prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da
famiacutelia e do cliente
As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses
pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e
extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave
manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e
adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA
2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas
ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de
interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao
paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores
relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante
tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons
monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e
ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre
outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua
privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar
esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo
vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo
Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional
muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em
estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade
criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo
profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao
paciente no processo de morte
A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe
multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do
leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto
discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no
intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade
fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo
conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida
(SILVA 2001)
Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal
durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido
contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se
impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo
endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais
membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de
comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo
profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a
importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes
da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos
postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais
organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida
entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)
Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam
diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos
pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para
o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem
sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus
familiares diante da finitude da vida
De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo
emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa
depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o
paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade
Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas
e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos
sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de
existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma
determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se
necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e
preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de
forma humanizada
Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta
[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo
Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)
ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a
deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes
consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu
sofrimentordquo
Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso
que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter
firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de
enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando
assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver
excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio
de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato
estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos
menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a
deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito
profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no
meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira
de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia
A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural
e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada
como uma das maiores estudiosas do assunto
A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte
A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais
membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma
assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais
necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida
Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente
consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-
espiritual
3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA
A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento
bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto
Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel
proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de
medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro
do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova
perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no
final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de
suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo
baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais
meacutedicos e familiares a saber
Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)
preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc
Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da
famiacutelia amigos e demais entes queridos)
Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos
importantes
Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex
testamentos venda de propriedade etc)
Evitar um processo longo de morte
Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica
brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na
medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo
coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer
todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e
obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que
estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute
receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel
Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites
de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe
envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e
poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz
sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica
meacutedica)
Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades
espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir
holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos
fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os
profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para
confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento
diante do processo de morte
A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de
sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que
lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto
que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre
as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado
na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda
Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o
envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do
paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade
de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus
familiaresrdquo
Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar
que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos
(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo
segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas
neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo
avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do
quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos
profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas
a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados
paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente
no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo
instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma
efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas
Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo
da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre
esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos
pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional
complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso
Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa
assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz
presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e
responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser
humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo
Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer
firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder
ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento
tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui
identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim
Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios
inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar
biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se
comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e
sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse
comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma
comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para
esse indiviacuteduo
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e
morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos
envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da
pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe
multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas
atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas
nesse estudo
Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu
para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem
ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma
morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano
Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar
aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente
abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por
Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo
incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e
enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de
trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da
enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida
deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que
estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI
Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira
cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja
prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer
Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no
processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo
especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas
riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho
considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada
particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco
Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas
pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina
paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais
envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de
uma Unidade de terapia Intensiva
Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o
aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que
eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor
considerado como desumanizante e frio
Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais
profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado
REFEREcircNCIAS
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metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003
humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas
verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo
Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-
Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute
em fase terminal a saber
Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do
doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente
ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo
Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos
comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que
algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo
todo
Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja
O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade
(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da
raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo
Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma
coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio
mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento
Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio
Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da
capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da
vida
Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar
depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima
com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase
mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas
preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser
confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute
importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma
desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da
chegada ao fim em paz
Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se
sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila
algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses
estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo
psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses
estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte
iminente
Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei
algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim
uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi
sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua
confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo
poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha
confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo
de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de
ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de
morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles
no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos
Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta
Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca
De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por
causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir
algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem
responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas
Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante
aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e
geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los
Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do
paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida
e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade
ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar
esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de
vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando
na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral
Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de
deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias
como inchaccedilo naacuteusea e dor
Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos
agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o
paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees
conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo
deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos
para uma morte digna e sem sofrimento
Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida
para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou
como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de
cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam
sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam
despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo
Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a
audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada
perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir
Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de
alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as
pessoas envolvidas
Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes
optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte
sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para
estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale
ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos
proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou
simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano
trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as
informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes
crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse
doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais
humanizado
Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de
morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir
poderaacute nos auxiliar nesse processo
Carta dos Pacientes Terminais
- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que
eu morra
- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas
possam acontecer
- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o
sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas
- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e
emoccedilotildees diante da minha morte
- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus
cuidados e tratamentos
- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem
mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode
confortordquo
- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho
- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto
- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado
- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas
honestamente
- Tenho o direito de natildeo ser enganado
- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou
experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos
demais
- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser
julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves
crenccedilas dos demais
- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de
meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados
- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis
humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas
necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a
minha privacidade
- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI
1996 APUD GUTIERREZ 2003)
24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica
Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes
mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato
e a observaccedilatildeo constante
Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico
e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com
alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a
elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre
outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo
atualmente
Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede
descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute
de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade
Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade
proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica
de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas
que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais
complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica
e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico
e recursos humanos especializados
Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os
paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do
tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida
prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da
famiacutelia e do cliente
As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses
pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e
extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave
manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e
adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA
2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas
ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de
interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao
paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores
relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante
tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons
monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e
ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre
outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua
privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar
esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo
vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo
Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional
muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em
estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade
criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo
profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao
paciente no processo de morte
A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe
multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do
leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto
discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no
intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade
fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo
conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida
(SILVA 2001)
Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal
durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido
contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se
impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo
endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais
membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de
comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo
profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a
importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes
da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos
postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais
organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida
entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)
Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam
diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos
pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para
o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem
sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus
familiares diante da finitude da vida
De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo
emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa
depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o
paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade
Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas
e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos
sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de
existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma
determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se
necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e
preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de
forma humanizada
Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta
[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo
Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)
ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a
deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes
consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu
sofrimentordquo
Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso
que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter
firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de
enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando
assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver
excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio
de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato
estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos
menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a
deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito
profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no
meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira
de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia
A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural
e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada
como uma das maiores estudiosas do assunto
A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte
A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais
membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma
assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais
necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida
Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente
consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-
espiritual
3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA
A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento
bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto
Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel
proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de
medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro
do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova
perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no
final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de
suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo
baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais
meacutedicos e familiares a saber
Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)
preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc
Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da
famiacutelia amigos e demais entes queridos)
Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos
importantes
Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex
testamentos venda de propriedade etc)
Evitar um processo longo de morte
Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica
brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na
medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo
coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer
todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e
obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que
estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute
receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel
Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites
de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe
envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e
poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz
sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica
meacutedica)
Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades
espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir
holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos
fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os
profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para
confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento
diante do processo de morte
A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de
sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que
lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto
que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre
as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado
na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda
Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o
envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do
paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade
de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus
familiaresrdquo
Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar
que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos
(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo
segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas
neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo
avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do
quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos
profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas
a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados
paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente
no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo
instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma
efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas
Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo
da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre
esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos
pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional
complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso
Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa
assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz
presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e
responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser
humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo
Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer
firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder
ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento
tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui
identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim
Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios
inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar
biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se
comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e
sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse
comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma
comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para
esse indiviacuteduo
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e
morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos
envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da
pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe
multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas
atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas
nesse estudo
Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu
para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem
ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma
morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano
Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar
aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente
abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por
Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo
incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e
enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de
trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da
enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida
deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que
estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI
Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira
cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja
prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer
Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no
processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo
especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas
riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho
considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada
particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco
Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas
pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina
paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais
envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de
uma Unidade de terapia Intensiva
Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o
aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que
eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor
considerado como desumanizante e frio
Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais
profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado
REFEREcircNCIAS
AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em
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PESSINI LBioeacutetica e cuidados Paliativos alguns desafios do cotidiano aos grandes dilemas In PIMENTA CAM de MOTA DDCFde CRUZDde A L M C da Dor e cuidados Paliativos enfermagem Medicina e Psicologia
Barueri Satildeo Paulo Manoele 2006 p45-65 RICHARDSON RJ Pesquisa Social meacutetodos e teacutecnicas 3 edSatildeo Paulo Atlas1999 SILVA AKS Sentimentos experenciados pelos (as) enfermeiros (as) das Unidades de Terapia Intensiva no processo de morte e morrer 2006 33f Monografia (poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Universidade castelo Branco ndash Atualiza Salvador 2006 SILVA M J da Percebendo o Ser Humano Aleacutem da doenccedila o natildeo - verbal detectado pelo Enfermeiro Nursing Satildeo Paulo v 4 n4 p 14-20 out2001 SILVA MJPComunicaccedilatildeo tem remeacutedio a comunicaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais em sauacutede 4 ed Satildeo Paulo Gente 1996 THOMAS C L (Coord) Dicionaacuterio Meacutedico Enciclopeacutedico Faber 17 ed Satildeo
Paulo Manoele 2000
TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica
metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003
importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma
desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da
chegada ao fim em paz
Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se
sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila
algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses
estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo
psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses
estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte
iminente
Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei
algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim
uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi
sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua
confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo
poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha
confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo
de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de
ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de
morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles
no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos
Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta
Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca
De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por
causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir
algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem
responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas
Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante
aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e
geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los
Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do
paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida
e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade
ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar
esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de
vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando
na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral
Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de
deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias
como inchaccedilo naacuteusea e dor
Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos
agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o
paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees
conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo
deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos
para uma morte digna e sem sofrimento
Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida
para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou
como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de
cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam
sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam
despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo
Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a
audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada
perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir
Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de
alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as
pessoas envolvidas
Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes
optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte
sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para
estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale
ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos
proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou
simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano
trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as
informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes
crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse
doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais
humanizado
Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de
morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir
poderaacute nos auxiliar nesse processo
Carta dos Pacientes Terminais
- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que
eu morra
- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas
possam acontecer
- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o
sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas
- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e
emoccedilotildees diante da minha morte
- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus
cuidados e tratamentos
- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem
mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode
confortordquo
- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho
- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto
- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado
- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas
honestamente
- Tenho o direito de natildeo ser enganado
- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou
experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos
demais
- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser
julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves
crenccedilas dos demais
- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de
meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados
- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis
humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas
necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a
minha privacidade
- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI
1996 APUD GUTIERREZ 2003)
24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica
Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes
mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato
e a observaccedilatildeo constante
Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico
e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com
alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a
elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre
outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo
atualmente
Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede
descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute
de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade
Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade
proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica
de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas
que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais
complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica
e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico
e recursos humanos especializados
Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os
paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do
tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida
prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da
famiacutelia e do cliente
As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses
pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e
extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave
manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e
adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA
2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas
ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de
interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao
paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores
relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante
tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons
monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e
ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre
outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua
privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar
esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo
vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo
Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional
muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em
estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade
criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo
profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao
paciente no processo de morte
A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe
multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do
leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto
discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no
intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade
fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo
conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida
(SILVA 2001)
Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal
durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido
contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se
impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo
endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais
membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de
comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo
profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a
importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes
da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos
postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais
organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida
entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)
Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam
diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos
pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para
o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem
sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus
familiares diante da finitude da vida
De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo
emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa
depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o
paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade
Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas
e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos
sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de
existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma
determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se
necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e
preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de
forma humanizada
Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta
[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo
Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)
ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a
deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes
consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu
sofrimentordquo
Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso
que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter
firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de
enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando
assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver
excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio
de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato
estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos
menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a
deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito
profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no
meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira
de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia
A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural
e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada
como uma das maiores estudiosas do assunto
A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte
A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais
membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma
assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais
necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida
Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente
consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-
espiritual
3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA
A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento
bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto
Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel
proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de
medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro
do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova
perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no
final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de
suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo
baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais
meacutedicos e familiares a saber
Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)
preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc
Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da
famiacutelia amigos e demais entes queridos)
Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos
importantes
Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex
testamentos venda de propriedade etc)
Evitar um processo longo de morte
Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica
brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na
medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo
coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer
todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e
obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que
estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute
receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel
Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites
de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe
envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e
poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz
sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica
meacutedica)
Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades
espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir
holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos
fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os
profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para
confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento
diante do processo de morte
A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de
sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que
lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto
que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre
as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado
na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda
Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o
envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do
paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade
de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus
familiaresrdquo
Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar
que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos
(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo
segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas
neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo
avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do
quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos
profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas
a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados
paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente
no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo
instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma
efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas
Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo
da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre
esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos
pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional
complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso
Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa
assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz
presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e
responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser
humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo
Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer
firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder
ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento
tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui
identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim
Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios
inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar
biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se
comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e
sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse
comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma
comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para
esse indiviacuteduo
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e
morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos
envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da
pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe
multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas
atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas
nesse estudo
Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu
para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem
ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma
morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano
Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar
aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente
abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por
Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo
incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e
enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de
trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da
enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida
deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que
estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI
Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira
cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja
prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer
Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no
processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo
especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas
riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho
considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada
particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco
Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas
pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina
paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais
envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de
uma Unidade de terapia Intensiva
Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o
aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que
eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor
considerado como desumanizante e frio
Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais
profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado
REFEREcircNCIAS
AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em
lthttpwwwpesquisapsicologicaprobrgt Acesso em 31 mar 2010 ASSIS Marluce Maria Arauacutejo VILLA Tereza Cristina Scatena NASCIMENTO Maria Angela Alves do Acesso aos Serviccedilos de Sauacutede uma possibilidade a ser construiacuteda na praacutetica Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 8 n 3 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielosporgscielo phpscript=sci_arttextamppid=S1413- 81232003000300016amplng=enampnrm=isogt Acesso em 04 Nov 2007 AMORA Antocircnio Soares Minidicionaacuterio Soares Amora da liacutengua portuguesa 19 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 BALSANELLI AP SANTOS KJ SOLER ZOSG O Trabalho do Enfermeiro em Unidades Complexas um enfoque sobre os sentimentos para o cuidado diaacuterio de pacientes com risco de morteRevista Nursing Satildeo Paulo5(44)P23-28jan2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia PNHAH 2002 Disponiacutevel em http wwwsaudespgovbrresourcesgestormanual_PNHAHpdf Acesso em 10 abr 2010 Coacutedigo de Eacutetica Meacutedica Confianccedila para o meacutedico seguranccedila para o paciente Disponiacutevel em lthttpwwwportalmedicoorgbrnovocodigointegraaspgt Acesso em 19 abr2010 Coacutedigo de eacutetica da Enfermagem brasileira Disponiacutevel em lthttpwwwportalcoren-rsgovbr php gt Acesso em 10 maio 2010 FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Mine Aureacutelio seacuteculo xx
minidicionaacuterio da liacutengua portuguesa 4 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 2000 GUTIERREZ Beatriz Aparecida Ozello O processo de morrer no cotidiano do trabalho dos profissionais de enfermagem de Unidades de Terapia Intensiva 2003 228p Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem da USP
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PESSINI LBioeacutetica e cuidados Paliativos alguns desafios do cotidiano aos grandes dilemas In PIMENTA CAM de MOTA DDCFde CRUZDde A L M C da Dor e cuidados Paliativos enfermagem Medicina e Psicologia
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Paulo Manoele 2000
TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica
metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003
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e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade
ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar
esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de
vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando
na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral
Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de
deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias
como inchaccedilo naacuteusea e dor
Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos
agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o
paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees
conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo
deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos
para uma morte digna e sem sofrimento
Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida
para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou
como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de
cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam
sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam
despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo
Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a
audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada
perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir
Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de
alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as
pessoas envolvidas
Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes
optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte
sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para
estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale
ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos
proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou
simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano
trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as
informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes
crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse
doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais
humanizado
Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de
morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir
poderaacute nos auxiliar nesse processo
Carta dos Pacientes Terminais
- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que
eu morra
- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas
possam acontecer
- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o
sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas
- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e
emoccedilotildees diante da minha morte
- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus
cuidados e tratamentos
- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem
mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode
confortordquo
- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho
- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto
- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado
- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas
honestamente
- Tenho o direito de natildeo ser enganado
- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou
experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos
demais
- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser
julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves
crenccedilas dos demais
- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de
meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados
- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis
humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas
necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a
minha privacidade
- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI
1996 APUD GUTIERREZ 2003)
24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica
Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes
mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato
e a observaccedilatildeo constante
Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico
e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com
alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a
elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre
outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo
atualmente
Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede
descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute
de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade
Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade
proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica
de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas
que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais
complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica
e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico
e recursos humanos especializados
Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os
paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do
tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida
prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da
famiacutelia e do cliente
As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses
pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e
extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave
manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e
adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA
2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas
ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de
interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao
paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores
relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante
tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons
monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e
ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre
outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua
privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar
esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo
vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo
Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional
muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em
estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade
criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo
profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao
paciente no processo de morte
A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe
multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do
leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto
discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no
intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade
fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo
conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida
(SILVA 2001)
Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal
durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido
contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se
impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo
endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais
membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de
comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo
profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a
importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes
da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos
postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais
organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida
entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)
Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam
diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos
pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para
o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem
sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus
familiares diante da finitude da vida
De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo
emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa
depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o
paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade
Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas
e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos
sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de
existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma
determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se
necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e
preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de
forma humanizada
Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta
[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo
Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)
ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a
deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes
consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu
sofrimentordquo
Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso
que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter
firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de
enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando
assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver
excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio
de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato
estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos
menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a
deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito
profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no
meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira
de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia
A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural
e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada
como uma das maiores estudiosas do assunto
A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte
A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais
membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma
assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais
necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida
Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente
consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-
espiritual
3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA
A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento
bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto
Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel
proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de
medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro
do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova
perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no
final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de
suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo
baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais
meacutedicos e familiares a saber
Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)
preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc
Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da
famiacutelia amigos e demais entes queridos)
Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos
importantes
Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex
testamentos venda de propriedade etc)
Evitar um processo longo de morte
Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica
brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na
medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo
coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer
todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e
obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que
estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute
receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel
Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites
de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe
envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e
poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz
sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica
meacutedica)
Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades
espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir
holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos
fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os
profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para
confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento
diante do processo de morte
A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de
sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que
lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto
que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre
as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado
na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda
Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o
envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do
paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade
de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus
familiaresrdquo
Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar
que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos
(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo
segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas
neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo
avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do
quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos
profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas
a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados
paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente
no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo
instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma
efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas
Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo
da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre
esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos
pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional
complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso
Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa
assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz
presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e
responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser
humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo
Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer
firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder
ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento
tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui
identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim
Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios
inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar
biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se
comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e
sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse
comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma
comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para
esse indiviacuteduo
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e
morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos
envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da
pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe
multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas
atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas
nesse estudo
Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu
para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem
ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma
morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano
Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar
aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente
abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por
Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo
incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e
enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de
trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da
enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida
deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que
estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI
Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira
cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja
prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer
Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no
processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo
especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas
riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho
considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada
particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco
Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas
pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina
paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais
envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de
uma Unidade de terapia Intensiva
Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o
aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que
eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor
considerado como desumanizante e frio
Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais
profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado
REFEREcircNCIAS
AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em
lthttpwwwpesquisapsicologicaprobrgt Acesso em 31 mar 2010 ASSIS Marluce Maria Arauacutejo VILLA Tereza Cristina Scatena NASCIMENTO Maria Angela Alves do Acesso aos Serviccedilos de Sauacutede uma possibilidade a ser construiacuteda na praacutetica Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 8 n 3 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielosporgscielo phpscript=sci_arttextamppid=S1413- 81232003000300016amplng=enampnrm=isogt Acesso em 04 Nov 2007 AMORA Antocircnio Soares Minidicionaacuterio Soares Amora da liacutengua portuguesa 19 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 BALSANELLI AP SANTOS KJ SOLER ZOSG O Trabalho do Enfermeiro em Unidades Complexas um enfoque sobre os sentimentos para o cuidado diaacuterio de pacientes com risco de morteRevista Nursing Satildeo Paulo5(44)P23-28jan2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia PNHAH 2002 Disponiacutevel em http wwwsaudespgovbrresourcesgestormanual_PNHAHpdf Acesso em 10 abr 2010 Coacutedigo de Eacutetica Meacutedica Confianccedila para o meacutedico seguranccedila para o paciente Disponiacutevel em lthttpwwwportalmedicoorgbrnovocodigointegraaspgt Acesso em 19 abr2010 Coacutedigo de eacutetica da Enfermagem brasileira Disponiacutevel em lthttpwwwportalcoren-rsgovbr php gt Acesso em 10 maio 2010 FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Mine Aureacutelio seacuteculo xx
minidicionaacuterio da liacutengua portuguesa 4 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 2000 GUTIERREZ Beatriz Aparecida Ozello O processo de morrer no cotidiano do trabalho dos profissionais de enfermagem de Unidades de Terapia Intensiva 2003 228p Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem da USP
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Paulo v79 n7 dez 2004 MINAYO M C de S Dilemas do setor sauacutede diante de suas propostas humanistas Ciecircncias e Sauacutede coletiva V9 n1 p17-20 2004
NASCIMENTO ER MARTINS J J Reflexotildees acerca do Trabalho da Enfermagem em UTI e a Relaccedilatildeo deste com o indiviacuteduo hospitalizado e sua famiacutelia Revista Nursing Satildeo Paulo n29 p26-36 out 2000
PESSINI LBioeacutetica e cuidados Paliativos alguns desafios do cotidiano aos grandes dilemas In PIMENTA CAM de MOTA DDCFde CRUZDde A L M C da Dor e cuidados Paliativos enfermagem Medicina e Psicologia
Barueri Satildeo Paulo Manoele 2006 p45-65 RICHARDSON RJ Pesquisa Social meacutetodos e teacutecnicas 3 edSatildeo Paulo Atlas1999 SILVA AKS Sentimentos experenciados pelos (as) enfermeiros (as) das Unidades de Terapia Intensiva no processo de morte e morrer 2006 33f Monografia (poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Universidade castelo Branco ndash Atualiza Salvador 2006 SILVA M J da Percebendo o Ser Humano Aleacutem da doenccedila o natildeo - verbal detectado pelo Enfermeiro Nursing Satildeo Paulo v 4 n4 p 14-20 out2001 SILVA MJPComunicaccedilatildeo tem remeacutedio a comunicaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais em sauacutede 4 ed Satildeo Paulo Gente 1996 THOMAS C L (Coord) Dicionaacuterio Meacutedico Enciclopeacutedico Faber 17 ed Satildeo
Paulo Manoele 2000
TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica
metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003
Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de
alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as
pessoas envolvidas
Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes
optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte
sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para
estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale
ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos
proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou
simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano
trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as
informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes
crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse
doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais
humanizado
Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de
morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir
poderaacute nos auxiliar nesse processo
Carta dos Pacientes Terminais
- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que
eu morra
- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas
possam acontecer
- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o
sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas
- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e
emoccedilotildees diante da minha morte
- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus
cuidados e tratamentos
- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem
mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode
confortordquo
- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho
- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto
- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado
- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas
honestamente
- Tenho o direito de natildeo ser enganado
- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou
experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos
demais
- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser
julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves
crenccedilas dos demais
- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de
meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados
- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis
humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas
necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a
minha privacidade
- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI
1996 APUD GUTIERREZ 2003)
24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica
Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes
mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato
e a observaccedilatildeo constante
Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico
e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com
alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a
elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre
outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo
atualmente
Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede
descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute
de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade
Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade
proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica
de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas
que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais
complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica
e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico
e recursos humanos especializados
Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os
paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do
tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida
prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da
famiacutelia e do cliente
As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses
pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e
extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave
manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e
adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA
2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas
ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de
interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao
paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores
relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante
tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons
monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e
ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre
outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua
privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar
esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo
vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo
Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional
muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em
estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade
criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo
profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao
paciente no processo de morte
A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe
multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do
leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto
discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no
intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade
fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo
conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida
(SILVA 2001)
Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal
durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido
contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se
impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo
endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais
membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de
comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo
profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a
importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes
da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos
postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais
organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida
entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)
Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam
diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos
pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para
o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem
sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus
familiares diante da finitude da vida
De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo
emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa
depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o
paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade
Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas
e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos
sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de
existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma
determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se
necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e
preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de
forma humanizada
Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta
[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo
Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)
ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a
deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes
consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu
sofrimentordquo
Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso
que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter
firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de
enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando
assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver
excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio
de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato
estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos
menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a
deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito
profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no
meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira
de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia
A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural
e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada
como uma das maiores estudiosas do assunto
A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte
A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais
membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma
assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais
necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida
Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente
consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-
espiritual
3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA
A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento
bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto
Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel
proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de
medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro
do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova
perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no
final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de
suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo
baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais
meacutedicos e familiares a saber
Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)
preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc
Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da
famiacutelia amigos e demais entes queridos)
Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos
importantes
Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex
testamentos venda de propriedade etc)
Evitar um processo longo de morte
Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica
brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na
medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo
coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer
todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e
obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que
estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute
receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel
Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites
de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe
envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e
poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz
sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica
meacutedica)
Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades
espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir
holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos
fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os
profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para
confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento
diante do processo de morte
A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de
sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que
lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto
que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre
as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado
na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda
Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o
envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do
paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade
de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus
familiaresrdquo
Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar
que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos
(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo
segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas
neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo
avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do
quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos
profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas
a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados
paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente
no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo
instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma
efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas
Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo
da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre
esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos
pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional
complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso
Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa
assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz
presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e
responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser
humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo
Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer
firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder
ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento
tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui
identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim
Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios
inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar
biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se
comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e
sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse
comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma
comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para
esse indiviacuteduo
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e
morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos
envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da
pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe
multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas
atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas
nesse estudo
Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu
para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem
ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma
morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano
Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar
aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente
abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por
Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo
incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e
enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de
trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da
enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida
deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que
estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI
Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira
cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja
prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer
Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no
processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo
especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas
riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho
considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada
particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco
Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas
pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina
paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais
envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de
uma Unidade de terapia Intensiva
Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o
aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que
eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor
considerado como desumanizante e frio
Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais
profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado
REFEREcircNCIAS
AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em
lthttpwwwpesquisapsicologicaprobrgt Acesso em 31 mar 2010 ASSIS Marluce Maria Arauacutejo VILLA Tereza Cristina Scatena NASCIMENTO Maria Angela Alves do Acesso aos Serviccedilos de Sauacutede uma possibilidade a ser construiacuteda na praacutetica Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 8 n 3 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielosporgscielo phpscript=sci_arttextamppid=S1413- 81232003000300016amplng=enampnrm=isogt Acesso em 04 Nov 2007 AMORA Antocircnio Soares Minidicionaacuterio Soares Amora da liacutengua portuguesa 19 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 BALSANELLI AP SANTOS KJ SOLER ZOSG O Trabalho do Enfermeiro em Unidades Complexas um enfoque sobre os sentimentos para o cuidado diaacuterio de pacientes com risco de morteRevista Nursing Satildeo Paulo5(44)P23-28jan2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia PNHAH 2002 Disponiacutevel em http wwwsaudespgovbrresourcesgestormanual_PNHAHpdf Acesso em 10 abr 2010 Coacutedigo de Eacutetica Meacutedica Confianccedila para o meacutedico seguranccedila para o paciente Disponiacutevel em lthttpwwwportalmedicoorgbrnovocodigointegraaspgt Acesso em 19 abr2010 Coacutedigo de eacutetica da Enfermagem brasileira Disponiacutevel em lthttpwwwportalcoren-rsgovbr php gt Acesso em 10 maio 2010 FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Mine Aureacutelio seacuteculo xx
minidicionaacuterio da liacutengua portuguesa 4 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 2000 GUTIERREZ Beatriz Aparecida Ozello O processo de morrer no cotidiano do trabalho dos profissionais de enfermagem de Unidades de Terapia Intensiva 2003 228p Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem da USP
Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwtesesuspbrtesesdisponiveis8383131tde-26102005-123431 gtAcesso em 02 fev2010
GARROS D Uma ldquoboardquo morte em UTI pediaacutetrica eacute isso possiacutevelJornal de pediatria v79 supl 2 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfjpedv79s2v79s2 Acesso em 4 fev 2010 GODOY Arlinda Schmidt Pesquisa qualitativa tipos fundamentais Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Satildeo Paulo v 35 n 3 p20-29 1995 Kuumlbler-Ross E Sobre a morte e o morrer Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 Kuumlbler-Ross Sobre a morte e o morrer o que os doentes terminais tecircm para ensinar a meacutedicos enfermeiras religiosos e aos seus proacuteprios parentes 9 ed Satildeo PauloMartins Fontes 2008 LEITE Francisco Tarciso Metodologia cientiacutefica meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa monografias dissertaccedilotildees teses e livro Satildeo Paulo Ideacuteias amp Letras 2008 MORAES JC GARDA V da G FONSECA A da S Assistecircncia prestada na Unidade de Terapia Intensiva adulto visatildeo dos clientes Revista Nursing Satildeo
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Paulo Manoele 2000
TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica
metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003
- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto
- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado
- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas
honestamente
- Tenho o direito de natildeo ser enganado
- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou
experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos
demais
- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser
julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves
crenccedilas dos demais
- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de
meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados
- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis
humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas
necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a
minha privacidade
- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI
1996 APUD GUTIERREZ 2003)
24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica
Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes
mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato
e a observaccedilatildeo constante
Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico
e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com
alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a
elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre
outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo
atualmente
Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede
descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute
de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade
Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade
proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica
de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas
que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais
complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica
e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico
e recursos humanos especializados
Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os
paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do
tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida
prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da
famiacutelia e do cliente
As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses
pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e
extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave
manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e
adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA
2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas
ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de
interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao
paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores
relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante
tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons
monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e
ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre
outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua
privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar
esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo
vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo
Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional
muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em
estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade
criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo
profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao
paciente no processo de morte
A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe
multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do
leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto
discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no
intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade
fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo
conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida
(SILVA 2001)
Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal
durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido
contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se
impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo
endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais
membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de
comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo
profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a
importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes
da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos
postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais
organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida
entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)
Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam
diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos
pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para
o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem
sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus
familiares diante da finitude da vida
De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo
emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa
depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o
paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade
Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas
e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos
sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de
existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma
determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se
necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e
preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de
forma humanizada
Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta
[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo
Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)
ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a
deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes
consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu
sofrimentordquo
Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso
que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter
firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de
enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando
assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver
excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio
de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato
estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos
menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a
deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito
profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no
meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira
de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia
A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural
e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada
como uma das maiores estudiosas do assunto
A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte
A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais
membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma
assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais
necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida
Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente
consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-
espiritual
3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA
A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento
bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto
Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel
proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de
medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro
do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova
perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no
final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de
suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo
baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais
meacutedicos e familiares a saber
Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)
preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc
Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da
famiacutelia amigos e demais entes queridos)
Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos
importantes
Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex
testamentos venda de propriedade etc)
Evitar um processo longo de morte
Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica
brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na
medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo
coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer
todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e
obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que
estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute
receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel
Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites
de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe
envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e
poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz
sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica
meacutedica)
Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades
espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir
holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos
fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os
profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para
confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento
diante do processo de morte
A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de
sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que
lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto
que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre
as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado
na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda
Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o
envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do
paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade
de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus
familiaresrdquo
Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar
que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos
(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo
segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas
neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo
avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do
quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos
profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas
a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados
paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente
no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo
instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma
efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas
Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo
da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre
esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos
pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional
complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso
Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa
assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz
presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e
responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser
humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo
Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer
firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder
ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento
tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui
identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim
Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios
inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar
biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se
comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e
sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse
comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma
comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para
esse indiviacuteduo
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e
morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos
envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da
pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe
multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas
atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas
nesse estudo
Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu
para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem
ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma
morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano
Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar
aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente
abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por
Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo
incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e
enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de
trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da
enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida
deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que
estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI
Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira
cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja
prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer
Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no
processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo
especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas
riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho
considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada
particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco
Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas
pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina
paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais
envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de
uma Unidade de terapia Intensiva
Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o
aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que
eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor
considerado como desumanizante e frio
Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais
profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado
REFEREcircNCIAS
AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em
lthttpwwwpesquisapsicologicaprobrgt Acesso em 31 mar 2010 ASSIS Marluce Maria Arauacutejo VILLA Tereza Cristina Scatena NASCIMENTO Maria Angela Alves do Acesso aos Serviccedilos de Sauacutede uma possibilidade a ser construiacuteda na praacutetica Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 8 n 3 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielosporgscielo phpscript=sci_arttextamppid=S1413- 81232003000300016amplng=enampnrm=isogt Acesso em 04 Nov 2007 AMORA Antocircnio Soares Minidicionaacuterio Soares Amora da liacutengua portuguesa 19 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 BALSANELLI AP SANTOS KJ SOLER ZOSG O Trabalho do Enfermeiro em Unidades Complexas um enfoque sobre os sentimentos para o cuidado diaacuterio de pacientes com risco de morteRevista Nursing Satildeo Paulo5(44)P23-28jan2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia PNHAH 2002 Disponiacutevel em http wwwsaudespgovbrresourcesgestormanual_PNHAHpdf Acesso em 10 abr 2010 Coacutedigo de Eacutetica Meacutedica Confianccedila para o meacutedico seguranccedila para o paciente Disponiacutevel em lthttpwwwportalmedicoorgbrnovocodigointegraaspgt Acesso em 19 abr2010 Coacutedigo de eacutetica da Enfermagem brasileira Disponiacutevel em lthttpwwwportalcoren-rsgovbr php gt Acesso em 10 maio 2010 FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Mine Aureacutelio seacuteculo xx
minidicionaacuterio da liacutengua portuguesa 4 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 2000 GUTIERREZ Beatriz Aparecida Ozello O processo de morrer no cotidiano do trabalho dos profissionais de enfermagem de Unidades de Terapia Intensiva 2003 228p Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem da USP
Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwtesesuspbrtesesdisponiveis8383131tde-26102005-123431 gtAcesso em 02 fev2010
GARROS D Uma ldquoboardquo morte em UTI pediaacutetrica eacute isso possiacutevelJornal de pediatria v79 supl 2 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfjpedv79s2v79s2 Acesso em 4 fev 2010 GODOY Arlinda Schmidt Pesquisa qualitativa tipos fundamentais Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Satildeo Paulo v 35 n 3 p20-29 1995 Kuumlbler-Ross E Sobre a morte e o morrer Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 Kuumlbler-Ross Sobre a morte e o morrer o que os doentes terminais tecircm para ensinar a meacutedicos enfermeiras religiosos e aos seus proacuteprios parentes 9 ed Satildeo PauloMartins Fontes 2008 LEITE Francisco Tarciso Metodologia cientiacutefica meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa monografias dissertaccedilotildees teses e livro Satildeo Paulo Ideacuteias amp Letras 2008 MORAES JC GARDA V da G FONSECA A da S Assistecircncia prestada na Unidade de Terapia Intensiva adulto visatildeo dos clientes Revista Nursing Satildeo
Paulo v79 n7 dez 2004 MINAYO M C de S Dilemas do setor sauacutede diante de suas propostas humanistas Ciecircncias e Sauacutede coletiva V9 n1 p17-20 2004
NASCIMENTO ER MARTINS J J Reflexotildees acerca do Trabalho da Enfermagem em UTI e a Relaccedilatildeo deste com o indiviacuteduo hospitalizado e sua famiacutelia Revista Nursing Satildeo Paulo n29 p26-36 out 2000
PESSINI LBioeacutetica e cuidados Paliativos alguns desafios do cotidiano aos grandes dilemas In PIMENTA CAM de MOTA DDCFde CRUZDde A L M C da Dor e cuidados Paliativos enfermagem Medicina e Psicologia
Barueri Satildeo Paulo Manoele 2006 p45-65 RICHARDSON RJ Pesquisa Social meacutetodos e teacutecnicas 3 edSatildeo Paulo Atlas1999 SILVA AKS Sentimentos experenciados pelos (as) enfermeiros (as) das Unidades de Terapia Intensiva no processo de morte e morrer 2006 33f Monografia (poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Universidade castelo Branco ndash Atualiza Salvador 2006 SILVA M J da Percebendo o Ser Humano Aleacutem da doenccedila o natildeo - verbal detectado pelo Enfermeiro Nursing Satildeo Paulo v 4 n4 p 14-20 out2001 SILVA MJPComunicaccedilatildeo tem remeacutedio a comunicaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais em sauacutede 4 ed Satildeo Paulo Gente 1996 THOMAS C L (Coord) Dicionaacuterio Meacutedico Enciclopeacutedico Faber 17 ed Satildeo
Paulo Manoele 2000
TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica
metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003
outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo
atualmente
Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede
descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute
de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade
Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade
proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica
de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas
que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais
complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica
e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico
e recursos humanos especializados
Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os
paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do
tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida
prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da
famiacutelia e do cliente
As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses
pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e
extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave
manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e
adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA
2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas
ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de
interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao
paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores
relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante
tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons
monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e
ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre
outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua
privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar
esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo
vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo
Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional
muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em
estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade
criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo
profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao
paciente no processo de morte
A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe
multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do
leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto
discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no
intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade
fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo
conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida
(SILVA 2001)
Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal
durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido
contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se
impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo
endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais
membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de
comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo
profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a
importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes
da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos
postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais
organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida
entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)
Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam
diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos
pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para
o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem
sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus
familiares diante da finitude da vida
De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo
emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa
depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o
paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade
Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas
e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos
sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de
existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma
determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se
necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e
preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de
forma humanizada
Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta
[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo
Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)
ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a
deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes
consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu
sofrimentordquo
Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso
que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter
firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de
enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando
assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver
excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio
de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato
estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos
menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a
deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito
profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no
meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira
de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia
A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural
e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada
como uma das maiores estudiosas do assunto
A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte
A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais
membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma
assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais
necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida
Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente
consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-
espiritual
3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA
A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento
bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto
Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel
proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de
medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro
do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova
perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no
final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de
suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo
baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais
meacutedicos e familiares a saber
Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)
preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc
Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da
famiacutelia amigos e demais entes queridos)
Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos
importantes
Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex
testamentos venda de propriedade etc)
Evitar um processo longo de morte
Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica
brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na
medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo
coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer
todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e
obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que
estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute
receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel
Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites
de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe
envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e
poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz
sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica
meacutedica)
Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades
espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir
holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos
fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os
profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para
confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento
diante do processo de morte
A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de
sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que
lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto
que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre
as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado
na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda
Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o
envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do
paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade
de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus
familiaresrdquo
Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar
que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos
(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo
segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas
neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo
avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do
quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos
profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas
a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados
paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente
no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo
instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma
efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas
Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo
da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre
esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos
pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional
complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso
Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa
assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz
presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e
responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser
humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo
Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer
firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder
ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento
tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui
identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim
Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios
inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar
biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se
comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e
sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse
comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma
comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para
esse indiviacuteduo
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e
morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos
envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da
pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe
multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas
atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas
nesse estudo
Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu
para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem
ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma
morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano
Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar
aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente
abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por
Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo
incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e
enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de
trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da
enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida
deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que
estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI
Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira
cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja
prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer
Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no
processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo
especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas
riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho
considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada
particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco
Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas
pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina
paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais
envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de
uma Unidade de terapia Intensiva
Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o
aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que
eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor
considerado como desumanizante e frio
Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais
profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado
REFEREcircNCIAS
AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em
lthttpwwwpesquisapsicologicaprobrgt Acesso em 31 mar 2010 ASSIS Marluce Maria Arauacutejo VILLA Tereza Cristina Scatena NASCIMENTO Maria Angela Alves do Acesso aos Serviccedilos de Sauacutede uma possibilidade a ser construiacuteda na praacutetica Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 8 n 3 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielosporgscielo phpscript=sci_arttextamppid=S1413- 81232003000300016amplng=enampnrm=isogt Acesso em 04 Nov 2007 AMORA Antocircnio Soares Minidicionaacuterio Soares Amora da liacutengua portuguesa 19 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 BALSANELLI AP SANTOS KJ SOLER ZOSG O Trabalho do Enfermeiro em Unidades Complexas um enfoque sobre os sentimentos para o cuidado diaacuterio de pacientes com risco de morteRevista Nursing Satildeo Paulo5(44)P23-28jan2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia PNHAH 2002 Disponiacutevel em http wwwsaudespgovbrresourcesgestormanual_PNHAHpdf Acesso em 10 abr 2010 Coacutedigo de Eacutetica Meacutedica Confianccedila para o meacutedico seguranccedila para o paciente Disponiacutevel em lthttpwwwportalmedicoorgbrnovocodigointegraaspgt Acesso em 19 abr2010 Coacutedigo de eacutetica da Enfermagem brasileira Disponiacutevel em lthttpwwwportalcoren-rsgovbr php gt Acesso em 10 maio 2010 FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Mine Aureacutelio seacuteculo xx
minidicionaacuterio da liacutengua portuguesa 4 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 2000 GUTIERREZ Beatriz Aparecida Ozello O processo de morrer no cotidiano do trabalho dos profissionais de enfermagem de Unidades de Terapia Intensiva 2003 228p Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem da USP
Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwtesesuspbrtesesdisponiveis8383131tde-26102005-123431 gtAcesso em 02 fev2010
GARROS D Uma ldquoboardquo morte em UTI pediaacutetrica eacute isso possiacutevelJornal de pediatria v79 supl 2 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfjpedv79s2v79s2 Acesso em 4 fev 2010 GODOY Arlinda Schmidt Pesquisa qualitativa tipos fundamentais Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Satildeo Paulo v 35 n 3 p20-29 1995 Kuumlbler-Ross E Sobre a morte e o morrer Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 Kuumlbler-Ross Sobre a morte e o morrer o que os doentes terminais tecircm para ensinar a meacutedicos enfermeiras religiosos e aos seus proacuteprios parentes 9 ed Satildeo PauloMartins Fontes 2008 LEITE Francisco Tarciso Metodologia cientiacutefica meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa monografias dissertaccedilotildees teses e livro Satildeo Paulo Ideacuteias amp Letras 2008 MORAES JC GARDA V da G FONSECA A da S Assistecircncia prestada na Unidade de Terapia Intensiva adulto visatildeo dos clientes Revista Nursing Satildeo
Paulo v79 n7 dez 2004 MINAYO M C de S Dilemas do setor sauacutede diante de suas propostas humanistas Ciecircncias e Sauacutede coletiva V9 n1 p17-20 2004
NASCIMENTO ER MARTINS J J Reflexotildees acerca do Trabalho da Enfermagem em UTI e a Relaccedilatildeo deste com o indiviacuteduo hospitalizado e sua famiacutelia Revista Nursing Satildeo Paulo n29 p26-36 out 2000
PESSINI LBioeacutetica e cuidados Paliativos alguns desafios do cotidiano aos grandes dilemas In PIMENTA CAM de MOTA DDCFde CRUZDde A L M C da Dor e cuidados Paliativos enfermagem Medicina e Psicologia
Barueri Satildeo Paulo Manoele 2006 p45-65 RICHARDSON RJ Pesquisa Social meacutetodos e teacutecnicas 3 edSatildeo Paulo Atlas1999 SILVA AKS Sentimentos experenciados pelos (as) enfermeiros (as) das Unidades de Terapia Intensiva no processo de morte e morrer 2006 33f Monografia (poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Universidade castelo Branco ndash Atualiza Salvador 2006 SILVA M J da Percebendo o Ser Humano Aleacutem da doenccedila o natildeo - verbal detectado pelo Enfermeiro Nursing Satildeo Paulo v 4 n4 p 14-20 out2001 SILVA MJPComunicaccedilatildeo tem remeacutedio a comunicaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais em sauacutede 4 ed Satildeo Paulo Gente 1996 THOMAS C L (Coord) Dicionaacuterio Meacutedico Enciclopeacutedico Faber 17 ed Satildeo
Paulo Manoele 2000
TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica
metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003
privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar
esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo
vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo
Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional
muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em
estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade
criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo
profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao
paciente no processo de morte
A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe
multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do
leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto
discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no
intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade
fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo
conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida
(SILVA 2001)
Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal
durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido
contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se
impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo
endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais
membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de
comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo
profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a
importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes
da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos
postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais
organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida
entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)
Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam
diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos
pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para
o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem
sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus
familiares diante da finitude da vida
De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo
emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa
depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o
paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade
Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas
e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos
sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de
existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma
determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se
necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e
preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de
forma humanizada
Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta
[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo
Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)
ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a
deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes
consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu
sofrimentordquo
Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso
que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter
firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de
enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando
assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver
excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio
de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato
estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos
menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a
deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito
profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no
meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira
de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia
A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural
e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada
como uma das maiores estudiosas do assunto
A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte
A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais
membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma
assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais
necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida
Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente
consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-
espiritual
3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA
A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento
bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto
Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel
proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de
medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro
do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova
perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no
final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de
suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo
baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais
meacutedicos e familiares a saber
Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)
preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc
Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da
famiacutelia amigos e demais entes queridos)
Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos
importantes
Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex
testamentos venda de propriedade etc)
Evitar um processo longo de morte
Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica
brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na
medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo
coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer
todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e
obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que
estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute
receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel
Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites
de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe
envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e
poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz
sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica
meacutedica)
Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades
espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir
holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos
fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os
profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para
confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento
diante do processo de morte
A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de
sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que
lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto
que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre
as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado
na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda
Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o
envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do
paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade
de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus
familiaresrdquo
Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar
que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos
(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo
segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas
neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo
avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do
quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos
profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas
a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados
paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente
no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo
instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma
efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas
Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo
da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre
esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos
pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional
complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso
Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa
assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz
presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e
responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser
humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo
Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer
firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder
ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento
tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui
identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim
Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios
inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar
biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se
comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e
sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse
comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma
comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para
esse indiviacuteduo
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e
morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos
envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da
pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe
multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas
atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas
nesse estudo
Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu
para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem
ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma
morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano
Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar
aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente
abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por
Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo
incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e
enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de
trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da
enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida
deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que
estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI
Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira
cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja
prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer
Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no
processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo
especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas
riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho
considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada
particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco
Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas
pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina
paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais
envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de
uma Unidade de terapia Intensiva
Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o
aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que
eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor
considerado como desumanizante e frio
Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais
profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado
REFEREcircNCIAS
AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em
lthttpwwwpesquisapsicologicaprobrgt Acesso em 31 mar 2010 ASSIS Marluce Maria Arauacutejo VILLA Tereza Cristina Scatena NASCIMENTO Maria Angela Alves do Acesso aos Serviccedilos de Sauacutede uma possibilidade a ser construiacuteda na praacutetica Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 8 n 3 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielosporgscielo phpscript=sci_arttextamppid=S1413- 81232003000300016amplng=enampnrm=isogt Acesso em 04 Nov 2007 AMORA Antocircnio Soares Minidicionaacuterio Soares Amora da liacutengua portuguesa 19 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 BALSANELLI AP SANTOS KJ SOLER ZOSG O Trabalho do Enfermeiro em Unidades Complexas um enfoque sobre os sentimentos para o cuidado diaacuterio de pacientes com risco de morteRevista Nursing Satildeo Paulo5(44)P23-28jan2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia PNHAH 2002 Disponiacutevel em http wwwsaudespgovbrresourcesgestormanual_PNHAHpdf Acesso em 10 abr 2010 Coacutedigo de Eacutetica Meacutedica Confianccedila para o meacutedico seguranccedila para o paciente Disponiacutevel em lthttpwwwportalmedicoorgbrnovocodigointegraaspgt Acesso em 19 abr2010 Coacutedigo de eacutetica da Enfermagem brasileira Disponiacutevel em lthttpwwwportalcoren-rsgovbr php gt Acesso em 10 maio 2010 FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Mine Aureacutelio seacuteculo xx
minidicionaacuterio da liacutengua portuguesa 4 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 2000 GUTIERREZ Beatriz Aparecida Ozello O processo de morrer no cotidiano do trabalho dos profissionais de enfermagem de Unidades de Terapia Intensiva 2003 228p Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem da USP
Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwtesesuspbrtesesdisponiveis8383131tde-26102005-123431 gtAcesso em 02 fev2010
GARROS D Uma ldquoboardquo morte em UTI pediaacutetrica eacute isso possiacutevelJornal de pediatria v79 supl 2 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfjpedv79s2v79s2 Acesso em 4 fev 2010 GODOY Arlinda Schmidt Pesquisa qualitativa tipos fundamentais Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Satildeo Paulo v 35 n 3 p20-29 1995 Kuumlbler-Ross E Sobre a morte e o morrer Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 Kuumlbler-Ross Sobre a morte e o morrer o que os doentes terminais tecircm para ensinar a meacutedicos enfermeiras religiosos e aos seus proacuteprios parentes 9 ed Satildeo PauloMartins Fontes 2008 LEITE Francisco Tarciso Metodologia cientiacutefica meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa monografias dissertaccedilotildees teses e livro Satildeo Paulo Ideacuteias amp Letras 2008 MORAES JC GARDA V da G FONSECA A da S Assistecircncia prestada na Unidade de Terapia Intensiva adulto visatildeo dos clientes Revista Nursing Satildeo
Paulo v79 n7 dez 2004 MINAYO M C de S Dilemas do setor sauacutede diante de suas propostas humanistas Ciecircncias e Sauacutede coletiva V9 n1 p17-20 2004
NASCIMENTO ER MARTINS J J Reflexotildees acerca do Trabalho da Enfermagem em UTI e a Relaccedilatildeo deste com o indiviacuteduo hospitalizado e sua famiacutelia Revista Nursing Satildeo Paulo n29 p26-36 out 2000
PESSINI LBioeacutetica e cuidados Paliativos alguns desafios do cotidiano aos grandes dilemas In PIMENTA CAM de MOTA DDCFde CRUZDde A L M C da Dor e cuidados Paliativos enfermagem Medicina e Psicologia
Barueri Satildeo Paulo Manoele 2006 p45-65 RICHARDSON RJ Pesquisa Social meacutetodos e teacutecnicas 3 edSatildeo Paulo Atlas1999 SILVA AKS Sentimentos experenciados pelos (as) enfermeiros (as) das Unidades de Terapia Intensiva no processo de morte e morrer 2006 33f Monografia (poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Universidade castelo Branco ndash Atualiza Salvador 2006 SILVA M J da Percebendo o Ser Humano Aleacutem da doenccedila o natildeo - verbal detectado pelo Enfermeiro Nursing Satildeo Paulo v 4 n4 p 14-20 out2001 SILVA MJPComunicaccedilatildeo tem remeacutedio a comunicaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais em sauacutede 4 ed Satildeo Paulo Gente 1996 THOMAS C L (Coord) Dicionaacuterio Meacutedico Enciclopeacutedico Faber 17 ed Satildeo
Paulo Manoele 2000
TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica
metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003
Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam
diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos
pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para
o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem
sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus
familiares diante da finitude da vida
De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo
emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa
depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o
paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade
Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas
e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos
sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de
existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma
determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se
necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e
preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de
forma humanizada
Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta
[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo
Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)
ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a
deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes
consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu
sofrimentordquo
Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso
que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter
firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de
enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando
assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver
excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio
de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato
estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos
menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a
deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito
profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no
meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira
de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia
A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural
e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada
como uma das maiores estudiosas do assunto
A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte
A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais
membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma
assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais
necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida
Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente
consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-
espiritual
3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA
A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento
bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto
Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel
proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de
medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro
do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova
perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no
final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de
suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo
baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais
meacutedicos e familiares a saber
Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)
preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc
Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da
famiacutelia amigos e demais entes queridos)
Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos
importantes
Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex
testamentos venda de propriedade etc)
Evitar um processo longo de morte
Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica
brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na
medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo
coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer
todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e
obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que
estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute
receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel
Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites
de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe
envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e
poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz
sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica
meacutedica)
Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades
espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir
holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos
fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os
profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para
confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento
diante do processo de morte
A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de
sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que
lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto
que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre
as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado
na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda
Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o
envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do
paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade
de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus
familiaresrdquo
Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar
que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos
(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo
segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas
neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo
avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do
quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos
profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas
a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados
paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente
no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo
instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma
efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas
Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo
da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre
esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos
pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional
complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso
Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa
assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz
presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e
responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser
humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo
Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer
firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder
ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento
tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui
identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim
Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios
inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar
biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se
comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e
sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse
comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma
comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para
esse indiviacuteduo
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e
morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos
envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da
pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe
multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas
atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas
nesse estudo
Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu
para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem
ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma
morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano
Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar
aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente
abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por
Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo
incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e
enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de
trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da
enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida
deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que
estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI
Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira
cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja
prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer
Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no
processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo
especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas
riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho
considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada
particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco
Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas
pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina
paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais
envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de
uma Unidade de terapia Intensiva
Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o
aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que
eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor
considerado como desumanizante e frio
Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais
profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado
REFEREcircNCIAS
AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em
lthttpwwwpesquisapsicologicaprobrgt Acesso em 31 mar 2010 ASSIS Marluce Maria Arauacutejo VILLA Tereza Cristina Scatena NASCIMENTO Maria Angela Alves do Acesso aos Serviccedilos de Sauacutede uma possibilidade a ser construiacuteda na praacutetica Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 8 n 3 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielosporgscielo phpscript=sci_arttextamppid=S1413- 81232003000300016amplng=enampnrm=isogt Acesso em 04 Nov 2007 AMORA Antocircnio Soares Minidicionaacuterio Soares Amora da liacutengua portuguesa 19 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 BALSANELLI AP SANTOS KJ SOLER ZOSG O Trabalho do Enfermeiro em Unidades Complexas um enfoque sobre os sentimentos para o cuidado diaacuterio de pacientes com risco de morteRevista Nursing Satildeo Paulo5(44)P23-28jan2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia PNHAH 2002 Disponiacutevel em http wwwsaudespgovbrresourcesgestormanual_PNHAHpdf Acesso em 10 abr 2010 Coacutedigo de Eacutetica Meacutedica Confianccedila para o meacutedico seguranccedila para o paciente Disponiacutevel em lthttpwwwportalmedicoorgbrnovocodigointegraaspgt Acesso em 19 abr2010 Coacutedigo de eacutetica da Enfermagem brasileira Disponiacutevel em lthttpwwwportalcoren-rsgovbr php gt Acesso em 10 maio 2010 FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Mine Aureacutelio seacuteculo xx
minidicionaacuterio da liacutengua portuguesa 4 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 2000 GUTIERREZ Beatriz Aparecida Ozello O processo de morrer no cotidiano do trabalho dos profissionais de enfermagem de Unidades de Terapia Intensiva 2003 228p Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem da USP
Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwtesesuspbrtesesdisponiveis8383131tde-26102005-123431 gtAcesso em 02 fev2010
GARROS D Uma ldquoboardquo morte em UTI pediaacutetrica eacute isso possiacutevelJornal de pediatria v79 supl 2 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfjpedv79s2v79s2 Acesso em 4 fev 2010 GODOY Arlinda Schmidt Pesquisa qualitativa tipos fundamentais Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Satildeo Paulo v 35 n 3 p20-29 1995 Kuumlbler-Ross E Sobre a morte e o morrer Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 Kuumlbler-Ross Sobre a morte e o morrer o que os doentes terminais tecircm para ensinar a meacutedicos enfermeiras religiosos e aos seus proacuteprios parentes 9 ed Satildeo PauloMartins Fontes 2008 LEITE Francisco Tarciso Metodologia cientiacutefica meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa monografias dissertaccedilotildees teses e livro Satildeo Paulo Ideacuteias amp Letras 2008 MORAES JC GARDA V da G FONSECA A da S Assistecircncia prestada na Unidade de Terapia Intensiva adulto visatildeo dos clientes Revista Nursing Satildeo
Paulo v79 n7 dez 2004 MINAYO M C de S Dilemas do setor sauacutede diante de suas propostas humanistas Ciecircncias e Sauacutede coletiva V9 n1 p17-20 2004
NASCIMENTO ER MARTINS J J Reflexotildees acerca do Trabalho da Enfermagem em UTI e a Relaccedilatildeo deste com o indiviacuteduo hospitalizado e sua famiacutelia Revista Nursing Satildeo Paulo n29 p26-36 out 2000
PESSINI LBioeacutetica e cuidados Paliativos alguns desafios do cotidiano aos grandes dilemas In PIMENTA CAM de MOTA DDCFde CRUZDde A L M C da Dor e cuidados Paliativos enfermagem Medicina e Psicologia
Barueri Satildeo Paulo Manoele 2006 p45-65 RICHARDSON RJ Pesquisa Social meacutetodos e teacutecnicas 3 edSatildeo Paulo Atlas1999 SILVA AKS Sentimentos experenciados pelos (as) enfermeiros (as) das Unidades de Terapia Intensiva no processo de morte e morrer 2006 33f Monografia (poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Universidade castelo Branco ndash Atualiza Salvador 2006 SILVA M J da Percebendo o Ser Humano Aleacutem da doenccedila o natildeo - verbal detectado pelo Enfermeiro Nursing Satildeo Paulo v 4 n4 p 14-20 out2001 SILVA MJPComunicaccedilatildeo tem remeacutedio a comunicaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais em sauacutede 4 ed Satildeo Paulo Gente 1996 THOMAS C L (Coord) Dicionaacuterio Meacutedico Enciclopeacutedico Faber 17 ed Satildeo
Paulo Manoele 2000
TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica
metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003
Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso
que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter
firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de
enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando
assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver
excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio
de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato
estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos
menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a
deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito
profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no
meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira
de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia
A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural
e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada
como uma das maiores estudiosas do assunto
A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte
A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais
membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma
assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais
necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida
Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente
consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-
espiritual
3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA
A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento
bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto
Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel
proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de
medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro
do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova
perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no
final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de
suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo
baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais
meacutedicos e familiares a saber
Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)
preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc
Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da
famiacutelia amigos e demais entes queridos)
Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos
importantes
Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex
testamentos venda de propriedade etc)
Evitar um processo longo de morte
Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica
brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na
medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo
coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer
todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e
obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que
estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute
receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel
Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites
de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe
envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e
poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz
sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica
meacutedica)
Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades
espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir
holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos
fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os
profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para
confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento
diante do processo de morte
A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de
sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que
lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto
que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre
as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado
na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda
Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o
envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do
paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade
de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus
familiaresrdquo
Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar
que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos
(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo
segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas
neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo
avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do
quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos
profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas
a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados
paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente
no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo
instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma
efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas
Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo
da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre
esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos
pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional
complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso
Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa
assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz
presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e
responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser
humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo
Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer
firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder
ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento
tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui
identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim
Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios
inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar
biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se
comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e
sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse
comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma
comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para
esse indiviacuteduo
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e
morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos
envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da
pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe
multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas
atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas
nesse estudo
Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu
para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem
ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma
morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano
Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar
aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente
abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por
Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo
incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e
enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de
trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da
enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida
deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que
estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI
Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira
cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja
prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer
Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no
processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo
especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas
riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho
considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada
particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco
Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas
pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina
paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais
envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de
uma Unidade de terapia Intensiva
Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o
aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que
eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor
considerado como desumanizante e frio
Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais
profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado
REFEREcircNCIAS
AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em
lthttpwwwpesquisapsicologicaprobrgt Acesso em 31 mar 2010 ASSIS Marluce Maria Arauacutejo VILLA Tereza Cristina Scatena NASCIMENTO Maria Angela Alves do Acesso aos Serviccedilos de Sauacutede uma possibilidade a ser construiacuteda na praacutetica Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 8 n 3 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielosporgscielo phpscript=sci_arttextamppid=S1413- 81232003000300016amplng=enampnrm=isogt Acesso em 04 Nov 2007 AMORA Antocircnio Soares Minidicionaacuterio Soares Amora da liacutengua portuguesa 19 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 BALSANELLI AP SANTOS KJ SOLER ZOSG O Trabalho do Enfermeiro em Unidades Complexas um enfoque sobre os sentimentos para o cuidado diaacuterio de pacientes com risco de morteRevista Nursing Satildeo Paulo5(44)P23-28jan2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia PNHAH 2002 Disponiacutevel em http wwwsaudespgovbrresourcesgestormanual_PNHAHpdf Acesso em 10 abr 2010 Coacutedigo de Eacutetica Meacutedica Confianccedila para o meacutedico seguranccedila para o paciente Disponiacutevel em lthttpwwwportalmedicoorgbrnovocodigointegraaspgt Acesso em 19 abr2010 Coacutedigo de eacutetica da Enfermagem brasileira Disponiacutevel em lthttpwwwportalcoren-rsgovbr php gt Acesso em 10 maio 2010 FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Mine Aureacutelio seacuteculo xx
minidicionaacuterio da liacutengua portuguesa 4 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 2000 GUTIERREZ Beatriz Aparecida Ozello O processo de morrer no cotidiano do trabalho dos profissionais de enfermagem de Unidades de Terapia Intensiva 2003 228p Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem da USP
Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwtesesuspbrtesesdisponiveis8383131tde-26102005-123431 gtAcesso em 02 fev2010
GARROS D Uma ldquoboardquo morte em UTI pediaacutetrica eacute isso possiacutevelJornal de pediatria v79 supl 2 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfjpedv79s2v79s2 Acesso em 4 fev 2010 GODOY Arlinda Schmidt Pesquisa qualitativa tipos fundamentais Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Satildeo Paulo v 35 n 3 p20-29 1995 Kuumlbler-Ross E Sobre a morte e o morrer Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 Kuumlbler-Ross Sobre a morte e o morrer o que os doentes terminais tecircm para ensinar a meacutedicos enfermeiras religiosos e aos seus proacuteprios parentes 9 ed Satildeo PauloMartins Fontes 2008 LEITE Francisco Tarciso Metodologia cientiacutefica meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa monografias dissertaccedilotildees teses e livro Satildeo Paulo Ideacuteias amp Letras 2008 MORAES JC GARDA V da G FONSECA A da S Assistecircncia prestada na Unidade de Terapia Intensiva adulto visatildeo dos clientes Revista Nursing Satildeo
Paulo v79 n7 dez 2004 MINAYO M C de S Dilemas do setor sauacutede diante de suas propostas humanistas Ciecircncias e Sauacutede coletiva V9 n1 p17-20 2004
NASCIMENTO ER MARTINS J J Reflexotildees acerca do Trabalho da Enfermagem em UTI e a Relaccedilatildeo deste com o indiviacuteduo hospitalizado e sua famiacutelia Revista Nursing Satildeo Paulo n29 p26-36 out 2000
PESSINI LBioeacutetica e cuidados Paliativos alguns desafios do cotidiano aos grandes dilemas In PIMENTA CAM de MOTA DDCFde CRUZDde A L M C da Dor e cuidados Paliativos enfermagem Medicina e Psicologia
Barueri Satildeo Paulo Manoele 2006 p45-65 RICHARDSON RJ Pesquisa Social meacutetodos e teacutecnicas 3 edSatildeo Paulo Atlas1999 SILVA AKS Sentimentos experenciados pelos (as) enfermeiros (as) das Unidades de Terapia Intensiva no processo de morte e morrer 2006 33f Monografia (poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Universidade castelo Branco ndash Atualiza Salvador 2006 SILVA M J da Percebendo o Ser Humano Aleacutem da doenccedila o natildeo - verbal detectado pelo Enfermeiro Nursing Satildeo Paulo v 4 n4 p 14-20 out2001 SILVA MJPComunicaccedilatildeo tem remeacutedio a comunicaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais em sauacutede 4 ed Satildeo Paulo Gente 1996 THOMAS C L (Coord) Dicionaacuterio Meacutedico Enciclopeacutedico Faber 17 ed Satildeo
Paulo Manoele 2000
TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica
metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003
3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA
A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento
bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto
Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel
proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de
medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro
do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova
perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no
final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de
suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo
baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais
meacutedicos e familiares a saber
Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)
preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc
Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da
famiacutelia amigos e demais entes queridos)
Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos
importantes
Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex
testamentos venda de propriedade etc)
Evitar um processo longo de morte
Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica
brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na
medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo
coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer
todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e
obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que
estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute
receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel
Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites
de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe
envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e
poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz
sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica
meacutedica)
Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades
espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir
holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos
fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os
profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para
confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento
diante do processo de morte
A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de
sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que
lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto
que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre
as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado
na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda
Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o
envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do
paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade
de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus
familiaresrdquo
Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar
que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos
(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo
segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas
neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo
avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do
quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos
profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas
a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados
paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente
no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo
instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma
efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas
Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo
da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre
esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos
pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional
complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso
Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa
assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz
presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e
responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser
humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo
Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer
firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder
ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento
tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui
identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim
Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios
inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar
biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se
comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e
sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse
comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma
comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para
esse indiviacuteduo
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e
morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos
envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da
pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe
multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas
atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas
nesse estudo
Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu
para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem
ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma
morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano
Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar
aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente
abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por
Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo
incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e
enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de
trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da
enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida
deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que
estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI
Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira
cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja
prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer
Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no
processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo
especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas
riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho
considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada
particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco
Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas
pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina
paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais
envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de
uma Unidade de terapia Intensiva
Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o
aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que
eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor
considerado como desumanizante e frio
Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais
profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado
REFEREcircNCIAS
AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em
lthttpwwwpesquisapsicologicaprobrgt Acesso em 31 mar 2010 ASSIS Marluce Maria Arauacutejo VILLA Tereza Cristina Scatena NASCIMENTO Maria Angela Alves do Acesso aos Serviccedilos de Sauacutede uma possibilidade a ser construiacuteda na praacutetica Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 8 n 3 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielosporgscielo phpscript=sci_arttextamppid=S1413- 81232003000300016amplng=enampnrm=isogt Acesso em 04 Nov 2007 AMORA Antocircnio Soares Minidicionaacuterio Soares Amora da liacutengua portuguesa 19 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 BALSANELLI AP SANTOS KJ SOLER ZOSG O Trabalho do Enfermeiro em Unidades Complexas um enfoque sobre os sentimentos para o cuidado diaacuterio de pacientes com risco de morteRevista Nursing Satildeo Paulo5(44)P23-28jan2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia PNHAH 2002 Disponiacutevel em http wwwsaudespgovbrresourcesgestormanual_PNHAHpdf Acesso em 10 abr 2010 Coacutedigo de Eacutetica Meacutedica Confianccedila para o meacutedico seguranccedila para o paciente Disponiacutevel em lthttpwwwportalmedicoorgbrnovocodigointegraaspgt Acesso em 19 abr2010 Coacutedigo de eacutetica da Enfermagem brasileira Disponiacutevel em lthttpwwwportalcoren-rsgovbr php gt Acesso em 10 maio 2010 FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Mine Aureacutelio seacuteculo xx
minidicionaacuterio da liacutengua portuguesa 4 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 2000 GUTIERREZ Beatriz Aparecida Ozello O processo de morrer no cotidiano do trabalho dos profissionais de enfermagem de Unidades de Terapia Intensiva 2003 228p Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem da USP
Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwtesesuspbrtesesdisponiveis8383131tde-26102005-123431 gtAcesso em 02 fev2010
GARROS D Uma ldquoboardquo morte em UTI pediaacutetrica eacute isso possiacutevelJornal de pediatria v79 supl 2 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfjpedv79s2v79s2 Acesso em 4 fev 2010 GODOY Arlinda Schmidt Pesquisa qualitativa tipos fundamentais Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Satildeo Paulo v 35 n 3 p20-29 1995 Kuumlbler-Ross E Sobre a morte e o morrer Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 Kuumlbler-Ross Sobre a morte e o morrer o que os doentes terminais tecircm para ensinar a meacutedicos enfermeiras religiosos e aos seus proacuteprios parentes 9 ed Satildeo PauloMartins Fontes 2008 LEITE Francisco Tarciso Metodologia cientiacutefica meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa monografias dissertaccedilotildees teses e livro Satildeo Paulo Ideacuteias amp Letras 2008 MORAES JC GARDA V da G FONSECA A da S Assistecircncia prestada na Unidade de Terapia Intensiva adulto visatildeo dos clientes Revista Nursing Satildeo
Paulo v79 n7 dez 2004 MINAYO M C de S Dilemas do setor sauacutede diante de suas propostas humanistas Ciecircncias e Sauacutede coletiva V9 n1 p17-20 2004
NASCIMENTO ER MARTINS J J Reflexotildees acerca do Trabalho da Enfermagem em UTI e a Relaccedilatildeo deste com o indiviacuteduo hospitalizado e sua famiacutelia Revista Nursing Satildeo Paulo n29 p26-36 out 2000
PESSINI LBioeacutetica e cuidados Paliativos alguns desafios do cotidiano aos grandes dilemas In PIMENTA CAM de MOTA DDCFde CRUZDde A L M C da Dor e cuidados Paliativos enfermagem Medicina e Psicologia
Barueri Satildeo Paulo Manoele 2006 p45-65 RICHARDSON RJ Pesquisa Social meacutetodos e teacutecnicas 3 edSatildeo Paulo Atlas1999 SILVA AKS Sentimentos experenciados pelos (as) enfermeiros (as) das Unidades de Terapia Intensiva no processo de morte e morrer 2006 33f Monografia (poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Universidade castelo Branco ndash Atualiza Salvador 2006 SILVA M J da Percebendo o Ser Humano Aleacutem da doenccedila o natildeo - verbal detectado pelo Enfermeiro Nursing Satildeo Paulo v 4 n4 p 14-20 out2001 SILVA MJPComunicaccedilatildeo tem remeacutedio a comunicaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais em sauacutede 4 ed Satildeo Paulo Gente 1996 THOMAS C L (Coord) Dicionaacuterio Meacutedico Enciclopeacutedico Faber 17 ed Satildeo
Paulo Manoele 2000
TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica
metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003
de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe
envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e
poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz
sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica
meacutedica)
Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades
espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir
holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos
fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os
profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para
confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento
diante do processo de morte
A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de
sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que
lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto
que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre
as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado
na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda
Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o
envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do
paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade
de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus
familiaresrdquo
Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar
que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos
(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo
segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas
neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo
avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do
quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos
profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas
a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados
paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente
no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo
instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma
efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas
Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo
da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre
esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos
pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional
complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso
Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa
assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz
presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e
responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser
humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo
Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer
firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder
ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento
tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui
identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim
Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios
inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar
biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se
comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e
sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse
comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma
comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para
esse indiviacuteduo
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e
morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos
envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da
pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe
multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas
atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas
nesse estudo
Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu
para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem
ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma
morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano
Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar
aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente
abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por
Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo
incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e
enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de
trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da
enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida
deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que
estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI
Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira
cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja
prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer
Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no
processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo
especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas
riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho
considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada
particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco
Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas
pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina
paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais
envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de
uma Unidade de terapia Intensiva
Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o
aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que
eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor
considerado como desumanizante e frio
Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais
profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado
REFEREcircNCIAS
AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em
lthttpwwwpesquisapsicologicaprobrgt Acesso em 31 mar 2010 ASSIS Marluce Maria Arauacutejo VILLA Tereza Cristina Scatena NASCIMENTO Maria Angela Alves do Acesso aos Serviccedilos de Sauacutede uma possibilidade a ser construiacuteda na praacutetica Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 8 n 3 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielosporgscielo phpscript=sci_arttextamppid=S1413- 81232003000300016amplng=enampnrm=isogt Acesso em 04 Nov 2007 AMORA Antocircnio Soares Minidicionaacuterio Soares Amora da liacutengua portuguesa 19 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 BALSANELLI AP SANTOS KJ SOLER ZOSG O Trabalho do Enfermeiro em Unidades Complexas um enfoque sobre os sentimentos para o cuidado diaacuterio de pacientes com risco de morteRevista Nursing Satildeo Paulo5(44)P23-28jan2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia PNHAH 2002 Disponiacutevel em http wwwsaudespgovbrresourcesgestormanual_PNHAHpdf Acesso em 10 abr 2010 Coacutedigo de Eacutetica Meacutedica Confianccedila para o meacutedico seguranccedila para o paciente Disponiacutevel em lthttpwwwportalmedicoorgbrnovocodigointegraaspgt Acesso em 19 abr2010 Coacutedigo de eacutetica da Enfermagem brasileira Disponiacutevel em lthttpwwwportalcoren-rsgovbr php gt Acesso em 10 maio 2010 FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Mine Aureacutelio seacuteculo xx
minidicionaacuterio da liacutengua portuguesa 4 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 2000 GUTIERREZ Beatriz Aparecida Ozello O processo de morrer no cotidiano do trabalho dos profissionais de enfermagem de Unidades de Terapia Intensiva 2003 228p Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem da USP
Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwtesesuspbrtesesdisponiveis8383131tde-26102005-123431 gtAcesso em 02 fev2010
GARROS D Uma ldquoboardquo morte em UTI pediaacutetrica eacute isso possiacutevelJornal de pediatria v79 supl 2 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfjpedv79s2v79s2 Acesso em 4 fev 2010 GODOY Arlinda Schmidt Pesquisa qualitativa tipos fundamentais Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Satildeo Paulo v 35 n 3 p20-29 1995 Kuumlbler-Ross E Sobre a morte e o morrer Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 Kuumlbler-Ross Sobre a morte e o morrer o que os doentes terminais tecircm para ensinar a meacutedicos enfermeiras religiosos e aos seus proacuteprios parentes 9 ed Satildeo PauloMartins Fontes 2008 LEITE Francisco Tarciso Metodologia cientiacutefica meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa monografias dissertaccedilotildees teses e livro Satildeo Paulo Ideacuteias amp Letras 2008 MORAES JC GARDA V da G FONSECA A da S Assistecircncia prestada na Unidade de Terapia Intensiva adulto visatildeo dos clientes Revista Nursing Satildeo
Paulo v79 n7 dez 2004 MINAYO M C de S Dilemas do setor sauacutede diante de suas propostas humanistas Ciecircncias e Sauacutede coletiva V9 n1 p17-20 2004
NASCIMENTO ER MARTINS J J Reflexotildees acerca do Trabalho da Enfermagem em UTI e a Relaccedilatildeo deste com o indiviacuteduo hospitalizado e sua famiacutelia Revista Nursing Satildeo Paulo n29 p26-36 out 2000
PESSINI LBioeacutetica e cuidados Paliativos alguns desafios do cotidiano aos grandes dilemas In PIMENTA CAM de MOTA DDCFde CRUZDde A L M C da Dor e cuidados Paliativos enfermagem Medicina e Psicologia
Barueri Satildeo Paulo Manoele 2006 p45-65 RICHARDSON RJ Pesquisa Social meacutetodos e teacutecnicas 3 edSatildeo Paulo Atlas1999 SILVA AKS Sentimentos experenciados pelos (as) enfermeiros (as) das Unidades de Terapia Intensiva no processo de morte e morrer 2006 33f Monografia (poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Universidade castelo Branco ndash Atualiza Salvador 2006 SILVA M J da Percebendo o Ser Humano Aleacutem da doenccedila o natildeo - verbal detectado pelo Enfermeiro Nursing Satildeo Paulo v 4 n4 p 14-20 out2001 SILVA MJPComunicaccedilatildeo tem remeacutedio a comunicaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais em sauacutede 4 ed Satildeo Paulo Gente 1996 THOMAS C L (Coord) Dicionaacuterio Meacutedico Enciclopeacutedico Faber 17 ed Satildeo
Paulo Manoele 2000
TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica
metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003
profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas
a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados
paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente
no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo
instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma
efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas
Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo
da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre
esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos
pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional
complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso
Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa
assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz
presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e
responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser
humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo
Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer
firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder
ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento
tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui
identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim
Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios
inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar
biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se
comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e
sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse
comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma
comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para
esse indiviacuteduo
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e
morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos
envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da
pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe
multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas
atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas
nesse estudo
Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu
para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem
ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma
morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano
Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar
aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente
abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por
Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo
incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e
enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de
trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da
enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida
deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que
estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI
Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira
cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja
prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer
Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no
processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo
especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas
riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho
considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada
particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco
Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas
pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina
paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais
envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de
uma Unidade de terapia Intensiva
Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o
aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que
eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor
considerado como desumanizante e frio
Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais
profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado
REFEREcircNCIAS
AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em
lthttpwwwpesquisapsicologicaprobrgt Acesso em 31 mar 2010 ASSIS Marluce Maria Arauacutejo VILLA Tereza Cristina Scatena NASCIMENTO Maria Angela Alves do Acesso aos Serviccedilos de Sauacutede uma possibilidade a ser construiacuteda na praacutetica Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 8 n 3 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielosporgscielo phpscript=sci_arttextamppid=S1413- 81232003000300016amplng=enampnrm=isogt Acesso em 04 Nov 2007 AMORA Antocircnio Soares Minidicionaacuterio Soares Amora da liacutengua portuguesa 19 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 BALSANELLI AP SANTOS KJ SOLER ZOSG O Trabalho do Enfermeiro em Unidades Complexas um enfoque sobre os sentimentos para o cuidado diaacuterio de pacientes com risco de morteRevista Nursing Satildeo Paulo5(44)P23-28jan2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia PNHAH 2002 Disponiacutevel em http wwwsaudespgovbrresourcesgestormanual_PNHAHpdf Acesso em 10 abr 2010 Coacutedigo de Eacutetica Meacutedica Confianccedila para o meacutedico seguranccedila para o paciente Disponiacutevel em lthttpwwwportalmedicoorgbrnovocodigointegraaspgt Acesso em 19 abr2010 Coacutedigo de eacutetica da Enfermagem brasileira Disponiacutevel em lthttpwwwportalcoren-rsgovbr php gt Acesso em 10 maio 2010 FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Mine Aureacutelio seacuteculo xx
minidicionaacuterio da liacutengua portuguesa 4 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 2000 GUTIERREZ Beatriz Aparecida Ozello O processo de morrer no cotidiano do trabalho dos profissionais de enfermagem de Unidades de Terapia Intensiva 2003 228p Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem da USP
Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwtesesuspbrtesesdisponiveis8383131tde-26102005-123431 gtAcesso em 02 fev2010
GARROS D Uma ldquoboardquo morte em UTI pediaacutetrica eacute isso possiacutevelJornal de pediatria v79 supl 2 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfjpedv79s2v79s2 Acesso em 4 fev 2010 GODOY Arlinda Schmidt Pesquisa qualitativa tipos fundamentais Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Satildeo Paulo v 35 n 3 p20-29 1995 Kuumlbler-Ross E Sobre a morte e o morrer Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 Kuumlbler-Ross Sobre a morte e o morrer o que os doentes terminais tecircm para ensinar a meacutedicos enfermeiras religiosos e aos seus proacuteprios parentes 9 ed Satildeo PauloMartins Fontes 2008 LEITE Francisco Tarciso Metodologia cientiacutefica meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa monografias dissertaccedilotildees teses e livro Satildeo Paulo Ideacuteias amp Letras 2008 MORAES JC GARDA V da G FONSECA A da S Assistecircncia prestada na Unidade de Terapia Intensiva adulto visatildeo dos clientes Revista Nursing Satildeo
Paulo v79 n7 dez 2004 MINAYO M C de S Dilemas do setor sauacutede diante de suas propostas humanistas Ciecircncias e Sauacutede coletiva V9 n1 p17-20 2004
NASCIMENTO ER MARTINS J J Reflexotildees acerca do Trabalho da Enfermagem em UTI e a Relaccedilatildeo deste com o indiviacuteduo hospitalizado e sua famiacutelia Revista Nursing Satildeo Paulo n29 p26-36 out 2000
PESSINI LBioeacutetica e cuidados Paliativos alguns desafios do cotidiano aos grandes dilemas In PIMENTA CAM de MOTA DDCFde CRUZDde A L M C da Dor e cuidados Paliativos enfermagem Medicina e Psicologia
Barueri Satildeo Paulo Manoele 2006 p45-65 RICHARDSON RJ Pesquisa Social meacutetodos e teacutecnicas 3 edSatildeo Paulo Atlas1999 SILVA AKS Sentimentos experenciados pelos (as) enfermeiros (as) das Unidades de Terapia Intensiva no processo de morte e morrer 2006 33f Monografia (poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Universidade castelo Branco ndash Atualiza Salvador 2006 SILVA M J da Percebendo o Ser Humano Aleacutem da doenccedila o natildeo - verbal detectado pelo Enfermeiro Nursing Satildeo Paulo v 4 n4 p 14-20 out2001 SILVA MJPComunicaccedilatildeo tem remeacutedio a comunicaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais em sauacutede 4 ed Satildeo Paulo Gente 1996 THOMAS C L (Coord) Dicionaacuterio Meacutedico Enciclopeacutedico Faber 17 ed Satildeo
Paulo Manoele 2000
TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica
metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e
morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos
envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da
pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe
multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas
atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas
nesse estudo
Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu
para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem
ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma
morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano
Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar
aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente
abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por
Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo
incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e
enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de
trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da
enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida
deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que
estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI
Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira
cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja
prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer
Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no
processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo
especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas
riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho
considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada
particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco
Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas
pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina
paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais
envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de
uma Unidade de terapia Intensiva
Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o
aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que
eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor
considerado como desumanizante e frio
Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais
profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado
REFEREcircNCIAS
AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em
lthttpwwwpesquisapsicologicaprobrgt Acesso em 31 mar 2010 ASSIS Marluce Maria Arauacutejo VILLA Tereza Cristina Scatena NASCIMENTO Maria Angela Alves do Acesso aos Serviccedilos de Sauacutede uma possibilidade a ser construiacuteda na praacutetica Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 8 n 3 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielosporgscielo phpscript=sci_arttextamppid=S1413- 81232003000300016amplng=enampnrm=isogt Acesso em 04 Nov 2007 AMORA Antocircnio Soares Minidicionaacuterio Soares Amora da liacutengua portuguesa 19 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 BALSANELLI AP SANTOS KJ SOLER ZOSG O Trabalho do Enfermeiro em Unidades Complexas um enfoque sobre os sentimentos para o cuidado diaacuterio de pacientes com risco de morteRevista Nursing Satildeo Paulo5(44)P23-28jan2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia PNHAH 2002 Disponiacutevel em http wwwsaudespgovbrresourcesgestormanual_PNHAHpdf Acesso em 10 abr 2010 Coacutedigo de Eacutetica Meacutedica Confianccedila para o meacutedico seguranccedila para o paciente Disponiacutevel em lthttpwwwportalmedicoorgbrnovocodigointegraaspgt Acesso em 19 abr2010 Coacutedigo de eacutetica da Enfermagem brasileira Disponiacutevel em lthttpwwwportalcoren-rsgovbr php gt Acesso em 10 maio 2010 FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Mine Aureacutelio seacuteculo xx
minidicionaacuterio da liacutengua portuguesa 4 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 2000 GUTIERREZ Beatriz Aparecida Ozello O processo de morrer no cotidiano do trabalho dos profissionais de enfermagem de Unidades de Terapia Intensiva 2003 228p Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem da USP
Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwtesesuspbrtesesdisponiveis8383131tde-26102005-123431 gtAcesso em 02 fev2010
GARROS D Uma ldquoboardquo morte em UTI pediaacutetrica eacute isso possiacutevelJornal de pediatria v79 supl 2 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfjpedv79s2v79s2 Acesso em 4 fev 2010 GODOY Arlinda Schmidt Pesquisa qualitativa tipos fundamentais Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Satildeo Paulo v 35 n 3 p20-29 1995 Kuumlbler-Ross E Sobre a morte e o morrer Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 Kuumlbler-Ross Sobre a morte e o morrer o que os doentes terminais tecircm para ensinar a meacutedicos enfermeiras religiosos e aos seus proacuteprios parentes 9 ed Satildeo PauloMartins Fontes 2008 LEITE Francisco Tarciso Metodologia cientiacutefica meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa monografias dissertaccedilotildees teses e livro Satildeo Paulo Ideacuteias amp Letras 2008 MORAES JC GARDA V da G FONSECA A da S Assistecircncia prestada na Unidade de Terapia Intensiva adulto visatildeo dos clientes Revista Nursing Satildeo
Paulo v79 n7 dez 2004 MINAYO M C de S Dilemas do setor sauacutede diante de suas propostas humanistas Ciecircncias e Sauacutede coletiva V9 n1 p17-20 2004
NASCIMENTO ER MARTINS J J Reflexotildees acerca do Trabalho da Enfermagem em UTI e a Relaccedilatildeo deste com o indiviacuteduo hospitalizado e sua famiacutelia Revista Nursing Satildeo Paulo n29 p26-36 out 2000
PESSINI LBioeacutetica e cuidados Paliativos alguns desafios do cotidiano aos grandes dilemas In PIMENTA CAM de MOTA DDCFde CRUZDde A L M C da Dor e cuidados Paliativos enfermagem Medicina e Psicologia
Barueri Satildeo Paulo Manoele 2006 p45-65 RICHARDSON RJ Pesquisa Social meacutetodos e teacutecnicas 3 edSatildeo Paulo Atlas1999 SILVA AKS Sentimentos experenciados pelos (as) enfermeiros (as) das Unidades de Terapia Intensiva no processo de morte e morrer 2006 33f Monografia (poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Universidade castelo Branco ndash Atualiza Salvador 2006 SILVA M J da Percebendo o Ser Humano Aleacutem da doenccedila o natildeo - verbal detectado pelo Enfermeiro Nursing Satildeo Paulo v 4 n4 p 14-20 out2001 SILVA MJPComunicaccedilatildeo tem remeacutedio a comunicaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais em sauacutede 4 ed Satildeo Paulo Gente 1996 THOMAS C L (Coord) Dicionaacuterio Meacutedico Enciclopeacutedico Faber 17 ed Satildeo
Paulo Manoele 2000
TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica
metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003
riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho
considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada
particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco
Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas
pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina
paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais
envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de
uma Unidade de terapia Intensiva
Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o
aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que
eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor
considerado como desumanizante e frio
Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais
profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado
REFEREcircNCIAS
AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em
lthttpwwwpesquisapsicologicaprobrgt Acesso em 31 mar 2010 ASSIS Marluce Maria Arauacutejo VILLA Tereza Cristina Scatena NASCIMENTO Maria Angela Alves do Acesso aos Serviccedilos de Sauacutede uma possibilidade a ser construiacuteda na praacutetica Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 8 n 3 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielosporgscielo phpscript=sci_arttextamppid=S1413- 81232003000300016amplng=enampnrm=isogt Acesso em 04 Nov 2007 AMORA Antocircnio Soares Minidicionaacuterio Soares Amora da liacutengua portuguesa 19 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 BALSANELLI AP SANTOS KJ SOLER ZOSG O Trabalho do Enfermeiro em Unidades Complexas um enfoque sobre os sentimentos para o cuidado diaacuterio de pacientes com risco de morteRevista Nursing Satildeo Paulo5(44)P23-28jan2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia PNHAH 2002 Disponiacutevel em http wwwsaudespgovbrresourcesgestormanual_PNHAHpdf Acesso em 10 abr 2010 Coacutedigo de Eacutetica Meacutedica Confianccedila para o meacutedico seguranccedila para o paciente Disponiacutevel em lthttpwwwportalmedicoorgbrnovocodigointegraaspgt Acesso em 19 abr2010 Coacutedigo de eacutetica da Enfermagem brasileira Disponiacutevel em lthttpwwwportalcoren-rsgovbr php gt Acesso em 10 maio 2010 FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Mine Aureacutelio seacuteculo xx
minidicionaacuterio da liacutengua portuguesa 4 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 2000 GUTIERREZ Beatriz Aparecida Ozello O processo de morrer no cotidiano do trabalho dos profissionais de enfermagem de Unidades de Terapia Intensiva 2003 228p Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem da USP
Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwtesesuspbrtesesdisponiveis8383131tde-26102005-123431 gtAcesso em 02 fev2010
GARROS D Uma ldquoboardquo morte em UTI pediaacutetrica eacute isso possiacutevelJornal de pediatria v79 supl 2 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfjpedv79s2v79s2 Acesso em 4 fev 2010 GODOY Arlinda Schmidt Pesquisa qualitativa tipos fundamentais Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Satildeo Paulo v 35 n 3 p20-29 1995 Kuumlbler-Ross E Sobre a morte e o morrer Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 Kuumlbler-Ross Sobre a morte e o morrer o que os doentes terminais tecircm para ensinar a meacutedicos enfermeiras religiosos e aos seus proacuteprios parentes 9 ed Satildeo PauloMartins Fontes 2008 LEITE Francisco Tarciso Metodologia cientiacutefica meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa monografias dissertaccedilotildees teses e livro Satildeo Paulo Ideacuteias amp Letras 2008 MORAES JC GARDA V da G FONSECA A da S Assistecircncia prestada na Unidade de Terapia Intensiva adulto visatildeo dos clientes Revista Nursing Satildeo
Paulo v79 n7 dez 2004 MINAYO M C de S Dilemas do setor sauacutede diante de suas propostas humanistas Ciecircncias e Sauacutede coletiva V9 n1 p17-20 2004
NASCIMENTO ER MARTINS J J Reflexotildees acerca do Trabalho da Enfermagem em UTI e a Relaccedilatildeo deste com o indiviacuteduo hospitalizado e sua famiacutelia Revista Nursing Satildeo Paulo n29 p26-36 out 2000
PESSINI LBioeacutetica e cuidados Paliativos alguns desafios do cotidiano aos grandes dilemas In PIMENTA CAM de MOTA DDCFde CRUZDde A L M C da Dor e cuidados Paliativos enfermagem Medicina e Psicologia
Barueri Satildeo Paulo Manoele 2006 p45-65 RICHARDSON RJ Pesquisa Social meacutetodos e teacutecnicas 3 edSatildeo Paulo Atlas1999 SILVA AKS Sentimentos experenciados pelos (as) enfermeiros (as) das Unidades de Terapia Intensiva no processo de morte e morrer 2006 33f Monografia (poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Universidade castelo Branco ndash Atualiza Salvador 2006 SILVA M J da Percebendo o Ser Humano Aleacutem da doenccedila o natildeo - verbal detectado pelo Enfermeiro Nursing Satildeo Paulo v 4 n4 p 14-20 out2001 SILVA MJPComunicaccedilatildeo tem remeacutedio a comunicaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais em sauacutede 4 ed Satildeo Paulo Gente 1996 THOMAS C L (Coord) Dicionaacuterio Meacutedico Enciclopeacutedico Faber 17 ed Satildeo
Paulo Manoele 2000
TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica
metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003
REFEREcircNCIAS
AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em
lthttpwwwpesquisapsicologicaprobrgt Acesso em 31 mar 2010 ASSIS Marluce Maria Arauacutejo VILLA Tereza Cristina Scatena NASCIMENTO Maria Angela Alves do Acesso aos Serviccedilos de Sauacutede uma possibilidade a ser construiacuteda na praacutetica Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 8 n 3 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielosporgscielo phpscript=sci_arttextamppid=S1413- 81232003000300016amplng=enampnrm=isogt Acesso em 04 Nov 2007 AMORA Antocircnio Soares Minidicionaacuterio Soares Amora da liacutengua portuguesa 19 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 BALSANELLI AP SANTOS KJ SOLER ZOSG O Trabalho do Enfermeiro em Unidades Complexas um enfoque sobre os sentimentos para o cuidado diaacuterio de pacientes com risco de morteRevista Nursing Satildeo Paulo5(44)P23-28jan2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia PNHAH 2002 Disponiacutevel em http wwwsaudespgovbrresourcesgestormanual_PNHAHpdf Acesso em 10 abr 2010 Coacutedigo de Eacutetica Meacutedica Confianccedila para o meacutedico seguranccedila para o paciente Disponiacutevel em lthttpwwwportalmedicoorgbrnovocodigointegraaspgt Acesso em 19 abr2010 Coacutedigo de eacutetica da Enfermagem brasileira Disponiacutevel em lthttpwwwportalcoren-rsgovbr php gt Acesso em 10 maio 2010 FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Mine Aureacutelio seacuteculo xx
minidicionaacuterio da liacutengua portuguesa 4 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 2000 GUTIERREZ Beatriz Aparecida Ozello O processo de morrer no cotidiano do trabalho dos profissionais de enfermagem de Unidades de Terapia Intensiva 2003 228p Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem da USP
Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwtesesuspbrtesesdisponiveis8383131tde-26102005-123431 gtAcesso em 02 fev2010
GARROS D Uma ldquoboardquo morte em UTI pediaacutetrica eacute isso possiacutevelJornal de pediatria v79 supl 2 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfjpedv79s2v79s2 Acesso em 4 fev 2010 GODOY Arlinda Schmidt Pesquisa qualitativa tipos fundamentais Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Satildeo Paulo v 35 n 3 p20-29 1995 Kuumlbler-Ross E Sobre a morte e o morrer Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 Kuumlbler-Ross Sobre a morte e o morrer o que os doentes terminais tecircm para ensinar a meacutedicos enfermeiras religiosos e aos seus proacuteprios parentes 9 ed Satildeo PauloMartins Fontes 2008 LEITE Francisco Tarciso Metodologia cientiacutefica meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa monografias dissertaccedilotildees teses e livro Satildeo Paulo Ideacuteias amp Letras 2008 MORAES JC GARDA V da G FONSECA A da S Assistecircncia prestada na Unidade de Terapia Intensiva adulto visatildeo dos clientes Revista Nursing Satildeo
Paulo v79 n7 dez 2004 MINAYO M C de S Dilemas do setor sauacutede diante de suas propostas humanistas Ciecircncias e Sauacutede coletiva V9 n1 p17-20 2004
NASCIMENTO ER MARTINS J J Reflexotildees acerca do Trabalho da Enfermagem em UTI e a Relaccedilatildeo deste com o indiviacuteduo hospitalizado e sua famiacutelia Revista Nursing Satildeo Paulo n29 p26-36 out 2000
PESSINI LBioeacutetica e cuidados Paliativos alguns desafios do cotidiano aos grandes dilemas In PIMENTA CAM de MOTA DDCFde CRUZDde A L M C da Dor e cuidados Paliativos enfermagem Medicina e Psicologia
Barueri Satildeo Paulo Manoele 2006 p45-65 RICHARDSON RJ Pesquisa Social meacutetodos e teacutecnicas 3 edSatildeo Paulo Atlas1999 SILVA AKS Sentimentos experenciados pelos (as) enfermeiros (as) das Unidades de Terapia Intensiva no processo de morte e morrer 2006 33f Monografia (poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Universidade castelo Branco ndash Atualiza Salvador 2006 SILVA M J da Percebendo o Ser Humano Aleacutem da doenccedila o natildeo - verbal detectado pelo Enfermeiro Nursing Satildeo Paulo v 4 n4 p 14-20 out2001 SILVA MJPComunicaccedilatildeo tem remeacutedio a comunicaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais em sauacutede 4 ed Satildeo Paulo Gente 1996 THOMAS C L (Coord) Dicionaacuterio Meacutedico Enciclopeacutedico Faber 17 ed Satildeo
Paulo Manoele 2000
TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica
metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003
GARROS D Uma ldquoboardquo morte em UTI pediaacutetrica eacute isso possiacutevelJornal de pediatria v79 supl 2 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfjpedv79s2v79s2 Acesso em 4 fev 2010 GODOY Arlinda Schmidt Pesquisa qualitativa tipos fundamentais Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Satildeo Paulo v 35 n 3 p20-29 1995 Kuumlbler-Ross E Sobre a morte e o morrer Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 Kuumlbler-Ross Sobre a morte e o morrer o que os doentes terminais tecircm para ensinar a meacutedicos enfermeiras religiosos e aos seus proacuteprios parentes 9 ed Satildeo PauloMartins Fontes 2008 LEITE Francisco Tarciso Metodologia cientiacutefica meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa monografias dissertaccedilotildees teses e livro Satildeo Paulo Ideacuteias amp Letras 2008 MORAES JC GARDA V da G FONSECA A da S Assistecircncia prestada na Unidade de Terapia Intensiva adulto visatildeo dos clientes Revista Nursing Satildeo
Paulo v79 n7 dez 2004 MINAYO M C de S Dilemas do setor sauacutede diante de suas propostas humanistas Ciecircncias e Sauacutede coletiva V9 n1 p17-20 2004
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PESSINI LBioeacutetica e cuidados Paliativos alguns desafios do cotidiano aos grandes dilemas In PIMENTA CAM de MOTA DDCFde CRUZDde A L M C da Dor e cuidados Paliativos enfermagem Medicina e Psicologia
Barueri Satildeo Paulo Manoele 2006 p45-65 RICHARDSON RJ Pesquisa Social meacutetodos e teacutecnicas 3 edSatildeo Paulo Atlas1999 SILVA AKS Sentimentos experenciados pelos (as) enfermeiros (as) das Unidades de Terapia Intensiva no processo de morte e morrer 2006 33f Monografia (poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Universidade castelo Branco ndash Atualiza Salvador 2006 SILVA M J da Percebendo o Ser Humano Aleacutem da doenccedila o natildeo - verbal detectado pelo Enfermeiro Nursing Satildeo Paulo v 4 n4 p 14-20 out2001 SILVA MJPComunicaccedilatildeo tem remeacutedio a comunicaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais em sauacutede 4 ed Satildeo Paulo Gente 1996 THOMAS C L (Coord) Dicionaacuterio Meacutedico Enciclopeacutedico Faber 17 ed Satildeo
Paulo Manoele 2000
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metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003