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Rio de Janeiro, 14 de agosto de 2014. Aula 02 Da Consciência Mítica à Consciência Crítica 1) Mito, Tragédia e Filosofia 2) A “Consciência Trágica” 3) A Questão da Beleza Grega A consciência mítica é um tipo de pensamento real que vem se baseando em explicações que não são necessariamente lógicas de acordo com o nosso pensamento contemporâneo. A consciência mítica envolve uma carga de determinismo muito grande. As coisas são porque os deuses querem de tal forma. Essa consciência mítica entende que nós, quando nascemos, nosso destino já está escrito nas estrelas e nossa vida já tem uma pré-determinação. Não podemos mudar aquilo que é pra ser. Quando o pensamento mítico predomina, a noção do individual diminui. Não há a responsabilidade do indivíduo sobre sua vida. No século VIII, começa o surgimento das primeiras polis, um tipo de agrupamento humano que é diferente de uma simples aldeia. Há leis, as pessoas começam a se colocar sob a lei. No século VII, vemos a explicação de Hesíodo, mas com um novo pensamento que cria a lógica para explicar as coisas. No século VI e no século V, a coisa começa a ficar mais forte. No século VI surge na Grécia um tipo de pensamento chamado de consciência crítica, que é um pensamento que julga, que começa

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Rio de Janeiro, 14 de agosto de 2014.

Aula 02

Da Consciência Mítica à Consciência Crítica

1) Mito, Tragédia e Filosofia

2) A “Consciência Trágica”

3) A Questão da Beleza Grega

A consciência mítica é um tipo de pensamento real que vem se baseando em explicações que não são necessariamente lógicas de acordo com o nosso pensamento contemporâneo. A consciência mítica envolve uma carga de determinismo muito grande. As coisas são porque os deuses querem de tal forma. Essa consciência mítica entende que nós, quando nascemos, nosso destino já está escrito nas estrelas e nossa vida já tem uma pré-determinação. Não podemos mudar aquilo que é pra ser. Quando o pensamento mítico predomina, a noção do individual diminui. Não há a responsabilidade do indivíduo sobre sua vida.

No século VIII, começa o surgimento das primeiras polis, um tipo de agrupamento humano que é diferente de uma simples aldeia. Há leis, as pessoas começam a se colocar sob a lei. No século VII, vemos a explicação de Hesíodo, mas com um novo pensamento que cria a lógica para explicar as coisas. No século VI e no século V, a coisa começa a ficar mais forte. No século VI surge na Grécia um tipo de pensamento chamado de consciência crítica, que é um pensamento que julga, que começa a entender que nós temos o direito de interferir no destino. Esse pensamento reivindica o direito de discordar do mito. Esse pensamento, óbvio, busca dentro do indivíduo algo que não havia antes a ser despertado. A polis ateniense é dotada de uma acrópole, porém em sua encosta uma ágora (praça), um lugar aberto onde se tem o mercado e onde os cidadãos atenienses se reuniam para tomar suas decisões. A criação da polis, da democracia e da presença da ágora foram essenciais para que o homem tomasse em suas mãos o controle de seu próprio destino. Esse ambiente é fundamental para o nascimento da filosofia. Esse pensamento vai levar ao aparecimento dos grandes filósofos.

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Heráclito fala a famosa frase que ninguém entra duas vezes no mesmo rio, pois se você entrar nele pela segunda vez, você não será o mesmo e nem o rio. Outro grande filósofo foi Parmênides, que falava que o que é, é. Somos humanos e assim vamos permanecer. Heráclito falava que continuaríamos os mesmos, porém nos transformando constantemente. A permanência é a mudança. Tudo permanece sempre mudando. Nessa época, no século VI, aparecem os pré-socráticos, que preparam o aparecimento da filosofia no século V.

Há a presença do pensamento crítico filosófico em um momento de conflito entre a tradição e a mudança do conflito entre o determinismo e a liberdade. Será que nós podemos mudar ou será que não podemos mudar nada. Dentro desse cenário, surgem as tragédias no teatro, de acordo com as festas ao Deus Dionísio. As festas à Dionísio tinham o objetivo de alcançar o êxtase (fora de si). As produções artísticas eram todas encomendadas. Não havia a noção no mundo grego de inspiração, de criação; mas sim a noção de produção encomendada.

Uma das tragédias mais famosas é a de Édipo Rei. A vontade de reivindicar seu próprio destino, sua própria liberdade, acaba por destruir e arruinar sua vida. A consciência trágica não é a consciência de que vai haver uma tragédia, mas é a consciência dolorosa de que a condição humana oscila na contradição entre o determinismo e a liberdade. Essa é a tomada de consciência da existência humana. O homem tem a condição de saber de si. Somos conscientes de que somos conscientes. A tragédia grega, portanto, teve uma função crucial de trazer à consciência dos homens sobre sua existência.

Não há no vocabulário grego o verbo criar. O que hoje vemos como arte era visto como uma produção, que era trazer à luz algo que não existia. A arte não tinha conotações subjetivas. As obras de arte nasciam para alguma coisa, não tinham autonomia. Elas já tinham pra onde ir e porque existir. Elas tinham utilidade e propósito. Ela não possuía beleza. O grego achava que a beleza possuía um caráter mais vital, existente na natureza. O homem tinha simetria, era proporcional, com justa medida, saudável. A ginástica era parte da educação mais importante. Junto com essa formação do cidadão grego vinha a beleza moral. A arte da época grega não há pintura abstrata, não havia dadaísmo, apenas havia representação, pois a beleza já existe e podemos apenas representar a beleza daquilo que já é belo.

“Homem conhece-te a ti mesmo e conhecerás aos Deuses e o Universo.”