Aula 30 Stiglitz Sen Fitoussi 2009

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    RECOMENDAÇÕES DO RELATÓRIOSTIGLITZ-SEN-FITOUSSI

    O prêmio Nobel de Economia americano Joseph Stiglitz foi convidado pelopresidente da França Nicolas Sarkozy para chefiar um painel composto de 14especialistas, incluindo 5 ganhadores do premio Nobel, cujo objetivo foi identificar aslimitações do Produto Interno Bruto e avaliar a viabilidade de alternativas demensuração. O relatório, Report by the Commission on the Measurement of EconomicPerformance and Social Progress, publicado em setembro 2009 (www.stiglitz-Sen-Fitoussi.fr), constata:

    “Existe uma enorme distância entre as medidas padrão de importantes variáveissócio-econômicas, como crescimento, inflação, desigualdades, etc., e as percepçõesdisseminadas.... Nossas estatísticas, que eventualmente nos serviram satisfatoriamentenum passado não tão distante, atualmente necessitam de uma séria revisão.

    “Refletindo essa preocupação, o Presidente da República Francesa decidiu criar aComissão para Medição do Progresso Econômico e Social. Atualmente, a métrica maisamplamente utilizada é o PIB (Produto Interno Bruto). O objetivo dessa comissão éidentificar as limitações do PIB enquanto indicador de desempenho econômico eprogresso social, considerar quais seriam as informações adicionais necessárias para aformulação de indicadores mais fidedignos, e avaliar a viabilidade de ferramentasalternativas de mensuração.

    “De fato, por um longo tempo tem havido uma crescente preocupação quanto àadequação das atuais medidas de desempenho econômico, particularmente entreaquelas que se baseiam em números gerados a partir do PIB. Além disso, existempreocupações ainda mais amplas quanto à relevância desses números sob a perspectivaenquanto medidas de bem estar social. As inadequações desses números sob aperspectiva da sustentabilidade, seja econômica, ambiental ou social, tem gerado umapreocupação ainda mais particular. A Comissão quer se remeter a esses temas de ummodo sistemático e concreto”.

    RECOMENDAÇÕES DO RELATÓRIO:

    Da Produção ao bem-estar

    21) Uma outra mensagem-chave, e um tema unificador do relatório, é que chegoua hora para que o nosso sistema de mensuração mude sua ênfase na mensuração de

     produção econômica para mensuração do bem-estar da  população. E mensuraçõesde bem-estar devem ser colocadas num contexto de sustentabilidade. A despeito dasdeficiências em nossas mensurações de produção, sabemos muito mais a respeito delas do

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    que de bem-estar. Mudar a ênfase não significa descartar ou ignorar as medidas de PIB ede produção. Essas medidas emergiram a partir de preocupações com produção eempregabilidade do mercado; elas continuam a prover respostas a diversas importantes

    questões, tais como o monitoramento da atividade econômica.

    Mas enfatizar o bem-estar é importante, pois parece que há uma crescente lacunaentre as informações contidas nos dados agregados do PIB e aquilo que realmente contapara o bem-estar do cidadão comum. Isso significa trabalhar na direção dodesenvolvimento de um sistema estatístico que complemente as medidas da atividade domercado por medidas centradas no bem-estar da população, e também por medidas quecaptem a sustentabilidade. Tal sistema precisa, por necessidade, ser plural – porque pelofato de nenhuma única medida poder sumarizar algo tão complexo como o bem-estar dosmembros da sociedade, nosso sistema de mensuração precisa abranger uma gama dediferentes medidas.

    A questão da agregação através de dimensões (ou seja, como podemos adicionar,por exemplo, uma medida de saúde com outra de consumo de bens convencionais), sepor um lado é importante, está subordinada ao estabelecimento de um amplo sistemaestatístico que capture o maior número possível de relevantes dimensões. Tal sistemadeve não apenas medir os níveis médios de bem-estar dentro de uma dada comunidade, ecomo eles se alteram ao longo do tempo, mas também documentar a diversidade dasexperiências das pessoas e os elos de ligação através de diversas dimensões das vidas daspessoas. Existem várias dimensões relacionadas ao bem-estar, mas um bom ponto departida é a mensuração do bem-estar material ou dos padrões de vida.

    Recomendação 1: Ao avaliar bem-estar material, olhe para a renda e o consumo,

    em vez de olhar para a produção.

    22) O PIB é a medida mais amplamente utilizada da atividade econômica. Existempadrões internacionais para o seu cálculo, e muito se pensou quanto à suas basesestatísticas e conceituais. Os parágrafos anteriores têm enfatizado algumas importantesáreas onde mais progresso se faz necessário no seu cálculo. Como os estatísticos e

    economistas sabem muito bem, o PIB mede principalmente a produção do mercado –expressa em unidades monetárias – e, como tal, é útil. No entanto, o PIB tem sido muitasvezes tratado como se fosse uma medida de bem-estar econômico. Confundir os doispode levar a indicadores enganosos sobre o quão bem estão as pessoas, o que por sua vezpode implicar em tomada de decisões políticas erradas. Padrões de vida material são maisestreitamente associados às medidas de rendimento nacional líquido, à renda real dasfamílias e ao consumo - a produção pode expandir enquanto diminui a renda, ou vice-versa, quando se computa a depreciação, os fluxos de renda que entram e saem do país, eas diferenças entre os preços de produção e os preços dos produtos de consumo.

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    Recomendação 2: Enfatizar a perspectiva familiar (doméstica)

    23) Embora seja informativo rastrear o desempenho das economias como umtodo, as tendências nos padrões de vida material dos cidadãos são melhor acompanhadasatravés de medidas de rendimento do agregado familiar e do seu consumo. Na verdade,os dados disponíveis das contas nacionais mostram que, num certo número de países daOCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico das NaçõesUnidas), a renda real das famílias tem crescido de forma bastante diferente daquela do PIBreal per capita, e tipicamente a uma taxa inferior. A perspectiva da família implica em selevar em consideração os pagamentos entre os setores, tais como os impostos que vãopara o governo, os benefícios sociais provenientes do governo, e os pagamentos dos jurosdos empréstimos domésticos que vão para as corporações financeiras.

    Adequadamente definidos, renda e consumo das famílias também devem refletir osserviços em espécie previstos pelo governo, tais como planos de saúde subsidiados eserviços educacionais. Um grande esforço de reconciliação estatística também serárequerido para se compreender porque certas medições (tais como a renda familiar)podem se mover diferentemente, dependendo da subjacente fonte estatística.

    Recomendação 3: Considere a renda e o consumo em conjunto com a riqueza

    24) Renda e consumo são cruciais para avaliar os padrões de vida, mas no final eles

    só podem ser avaliados em conjunto com informações sobre a riqueza. Uma família quegasta sua riqueza em bens de consumo aumenta o seu bem-estar atual, mas a custa do seubem-estar futuro. As conseqüências de tal comportamento deveriam ser capturadas emum balanço contábil do agregado familiar, sendo que o mesmo vale para outros setores daeconomia, e até para a economia como um todo. Para elaborar balanços contábeis,precisamos de contas detalhadas dos ativos e passivos. Os balanços contábeis para paísesnão são novidade, conceitualmente falando, mas a sua disponibilidade ainda é limitada, e asua elaboração deveria ser promovida. Medidas de riqueza são centrais para se medir asustentabilidade. Aquilo que for para ser carregado até o futuro precisa ser expresso emestoques – de capital físico, natural, humano e social. A real avaliação desses estoquesdesempenha um papel crucial, e é frequentemente problemática.

    E existe também a necessidade de se submeter os balanços contábeis a “testes deesforço (stress tests)”, com avaliações alternativas caso os preços de mercado para osativos não estejam disponíveis ou então sujeitos a bolhas e estouros. Alguns outrosindicadores mais diretamente não-monetários podem ser preferíveis quando a avaliaçãomonetária for muito imprecisa ou difícil de aferir.

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    Recomendação 4: Dê mais proeminência à distribuição de renda, do consumo e da

    riqueza 

    25) A renda média, o consumo e a riqueza são estatísticas significativas, mas elasnão contam toda a história sobre os padrões de vida. Por exemplo, uma elevação noconsumo médio pode ser desigualmente compartilhada através de diferentes grupos,deixando algumas famílias relativamente menos atendidas do que outras. Logo, medidasmédias de renda, consumo e riqueza devem ser acompanhadas por indicadores quereflitam suas respectivas distribuições pela população como um todo. Consumo mediano(renda, riqueza) provê uma melhor mensuração daquilo que está acontecendo à família ouao indivíduo “típicos” do que o consumo médio (renda ou riqueza).

    Mas para muitos propósitos, é também importante saber o que está acontecendona camada mais baixa da distribuição da renda/riqueza (capturada nas estatísticas sobre

    pobreza), ou na camada superior. Idealmente, tais informações não deveriam virisoladamente, mas conectadas, isto é, deseja-se a informação do quão bem estão asfamílias quanto as diferentes dimensões de padrão de vida material: renda, consumo eriqueza. Apesar de tudo, uma família de baixa renda com riqueza acima da média não estánecessariamente numa situação mais carente do que uma família de renda média porémsem riqueza. (O desejo de prover informação sobre a “distribuição conjunta” dasdimensões do bem-estar das pessoas será levantado mais uma vez nas recomendaçõesabaixo em como medir a qualidade de vida).

    Recomendação 5; Amplie as medidas de renda para atividades que estejam fora domercado (não-mercado). 

    26) Tem havido grandes mudanças em como as famílias e a sociedade funcionam.Por exemplo, muitos dos serviços, que no passado as pessoas recebiam de outrosmembros da sua família, estão agora sendo adquiridos no mercado. Essa mudança setraduz numa elevação em renda conforme medida nas contas nacionais, e pode dar umafalsa impressão de uma alteração nos padrões de vida, enquanto que na verdade estámeramente refletindo uma mudança na provisão dos serviços da esfera do não-mercadopara o mercado.Muitos serviços que são produzidos por famílias para si mesmas não são reconhecidos nasmedidas oficiais de renda e produção, embora mesmo assim constituam um importanteaspecto da atividade econômica.

    Se por um lado sua exclusão das mensurações oficiais reflete uma maior incertezaquanto aos dados do que as dificuldades conceituais, por outro lado tem havido progressonessa área; mas mesmo assim, mais e mais trabalho sistemático nessa área deve ser feito.Isso deveria começar com informações sobre como as pessoas passam o seu tempo,sendo comparável tanto com o passar dos annos quanto comparado com outros países.

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    Contabilidades compreensivas e periódicas das atividades das famílias como satélites emrelação ao núcleo das contabilidades nacionais devem complementar o quadro. Nos paísesem desenvolvimento, a produção dos bens (por exemplo, alimentos e habitação) pelas

    famílias desempenha um importante papel. Rastreando a produção de tais “bens-domésticos (home-produced goods)” é importante para se avaliar os níveis de consumo doslares nesses países.

    27) Uma vez que se comece a focar nas atividades de não-mercado, a questão dolazer emerge. Consumindo a mesma cesta de bens e serviços porém trabalhando 1.500horas por ano, em vez de 2.000 horas por ano, implica numa elevação do padrão de vida.Embora a avaliação do lazer seja repleta de dificuldades, as comparações entre os padrõesde vida ao longo do tempo, ou através de países, precisam levar em conta o montante delazer desfrutado pelas pessoas.

    Bem-estar é multidimensional

    28) Para definir o que o bem-estar significa, uma definição multidimensional precisaser usada. Baseada em pesquisa acadêmica, e num número de iniciativas concretasdesenvolvidas ao redor do mundo, a nossa Comissão identificou as seguintes dimensões-chave que deveriam ser levadas em consideração. Pelo menos, a princípio, essasdimensões deveriam ser consideradas simultaneamente:

    i.  Padrões de vida materiais (renda, consumo e riqueza)

    ii. 

    Saúdeiii.  Educaçãoiv.  Atividades pessoais, incluindo o trabalhov.  Voz política e governançavi.  Conexão social e relacionamentosvii.

     

    Meio-ambiente (condições presentes e futuras)viii.

     

    Insegurança, tanto de natureza econômica quanto física

    Todas essas dimensões moldam o bem-estar das pessoas, mas mesmo assim muitas delasnão são levadas em conta pelas mensurações de renda convencionais.

    Tanto as dimensões objetivas quanto subjetivas de bem-estar são igualmenteimportantes.

    Recomendação 6: A qualidade de vida depende das condições objetivas e das

    capacidades das pessoas. Passos devem ser dados para melhorar a saúde, a

    educação, as atividades pessoais e as condições ambientais das pessoas. Em particular, um esforço substancial deve ser devotado para desenvolver e

    implementar medidas robustas e confiáveis sobre conexões sociais, voz política e

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    insegurança, que por sua vez possam se mostrar como previsoras de satisfação com

    a vida.

    29) As informações relevantes para se avaliar a qualidade de vida vão além dosrelatos pessoais e das percepções, para incluir mensurações dos seus “funcionamentos” eliberdades. Com efeito, o que realmente importa são as capacidades das pessoas, isto é, aextensão do seu conjunto de oportunidades e sua liberdade de escolher, dentre desseconjunto, a vida que elas valorizam. A escolha de relevantes funcionamentos e capacidadespara qualquer medida de qualidade de vida é um julgamento de valor, antes de ser umexercício técnico.

    Mas enquanto que a lista mais detalhada das características que afetam a qualidadede vida inevitavelmente consiste em julgamentos de valor, existe um consenso de que aqualidade de vida depende da saúde e educação das pessoas, das suas atividades diárias (o

    que inclui o direito a um emprego decente e a uma habitação), da sua participação noprocesso político, do ambiente social e natural no qual elas vivem, e dos fatores quemoldam sua segurança pessoal e econômica. Medir todos esses fatores requer dados tantoobjetivos quanto subjetivos. O desafio em todos esses campos é o de melhorar em cimado que já foi alcançado, para identificar lacunas nas informações disponíveis, e investir emcapacidade estatística em áreas (tal como uso equilibrado do tempo) enquanto osindicadores disponíveis continuarem deficientes.

    Recomendação 7: Indicadores de qualidade de vida em todas as dimensões cobertasdeveriam avaliar as desigualdades de um modo compreensivo. 

    30) As desigualdades nas condições humanas integram qualquer avaliação dequalidade de vida através dos países e também como estas se desenvolvem ao longo dotempo. A maioria das dimensões de qualidade de vida requer medidas apropriadas sobredesigualdade, mas, como observado no parágrafo 25, levando em conta elos decorrelações. Desigualdades em qualidade de vida devem ser avaliadas através das pessoas,dos grupos sócio-econômicos, dos gêneros e das gerações, com especial atenção àsdesigualdades que tenham surgido recentemente, tais como aquelas ligadas a imigração.

    Recomendação 8: Levantamentos deveriam ser elaborados para avaliar os elosentre os diversos domínios de qualidade de vida para cada pessoa, e essasinformações deveriam ser usadas ao se desenhar políticas em vários campos.

    31) É critico se remeter às questões sobre como os desenvolvimentos em umdomínio de qualidade de vida afetam outros domínios, e como desenvolvimentos emtodos os diversos campos são relacionados à renda. Isto é importante porque asconseqüências para a qualidade de vida possuem múltiplas desvantagens que excedem emmuito a soma dos seus efeitos individuais. Desenvolver medidas desses efeitos cumulativos

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    requer informações sobre a “distribuição conjunta (joint distribution)” das característicasmais salientes de qualidade de vida, através de todas as pessoas de um país, por meio dededicados levantamentos.

    Passos nesta direção também poderiam ser tomados pela inclusão em todos oslevantamentos de algumas perguntas-padrão que permitam classificar os respondentestomando por base um limitado conjunto de características. Ao se desenhar políticas sobrecampos específicos, impactos em indicadores pertencentes a diferentes dimensões dequalidade de vida deveriam ser considerados em conjunto, para se remeterem àsinterações entre dimensões e às necessidades das pessoas que estejam em desvantagemem diversos domínios.

    Recomendação 9: Escritórios de estatística deveriam prover a informação

    necessária para agregar através das dimensões de qualidade de vida, permitindo aconstrução de diferentes índices.

    32) Se por um lado a avaliação da qualidade de vida requer uma pluralidade deindicadores, por outro existem fortes demandas para que se desenvolva uma única medidasumária. Diversas medidas sumárias sobre qualidade de vida são possíveis, dependendo daquestão a ser remetida, e da abordagem adotada. Algumas dessas medidas já estão sendousadas, tais como níveis médios de satisfação com a vida para um país como um todo, ouíndices compostos que agregam médias através de domínios objetivos, tais como o IDH –Índice de Desenvolvimento Humano. Outros poderiam ser implementados se os sistemasnacionais de estatística fizessem o investimento necessário para prover os dados

    requeridos para os seus cálculos. Estes incluiriam mensurações da proporção do tempo deuma pessoa no qual o sentimento mais forte reportado seja negativo, mensuraçõesbaseadas na contagem da ocorrência e da severidade de várias características objetivas dasvidas das pessoas, e medidas (renda-equivalente) baseadas nos estados e preferências daspessoas.

    33) A comissão acredita que, além dos indicadores objetivos de bem-estar,mensurações subjetivas de qualidade de vida deveriam ser consideradas.

    Recomendação 10:  Medidas de bem-estar, tanto objetivas como subjetivas, proporcionam informações-chave sobre a qualidade de vida das pessoas. Escritóriosde estatística deveriam, nos seus próprios levantamentos, incorporar perguntas

     para capturar as avaliações que as pessoas fazem de suas próprias vidas e das suas

    experiências e prioridades hedônicas. 

    34) As pesquisas têm demonstrado que é possível coletar dados significativos econfiáveis tanto no bem-estar subjetivo quanto no objetivo. Bem-estar subjetivo abrangediferentes aspectos (auto-avaliações cognitivas da vida da pessoa, felicidade, satisfação,

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    emoções positivas, tais como alegria e orgulho, e emoções negativas, tais como mágoa epreocupação): cada uma delas deveria ser mensurada separadamente para gerar umaapreciação mais compreensiva das vidas das pessoas. Medidas quantitativas desses

    aspectos subjetivos [como questionários] mantêm a promessa de gerar não apenas umaboa medida de qualidade de vida per se, mas também uma melhor compreensão dos seusdeterminantes, com um alcance além da renda e das condições materiais das pessoas.

    A despeito da persistência de muitas questões não resolvidas, essas mensuraçõessubjetivas proporcionam importantes informações sobre a qualidade de vida. Por contadisso, os tipos de perguntas que já provaram o seu valor, em levantamentos de pequenaescala e não-oficiais, devem ser incluídos em levantamentos de maior escala que sejamfeitos por órgãos de estatística oficiais.

    Use uma abordagem pragmática na mensuração da sustentabilidade.

    35) Medir e avaliar a sustentabilidade tem sido a preocupação central da Comissão.A sustentabilidade coloca o desafio de determinar se pelo menos o atual nível de bem-estar pode ser mantido para as futuras gerações. Pela sua própria natureza, asustentabilidade envolve o futuro e sua avaliação envolve muitas premissas e escolhasnormativas. E isso é ainda mais complicado pelo fato de que pelo menos alguns aspectosda sustentabilidade ambiental (principalmente a mudança climática) são afetados pelasinterações entre modelos sócio-econômicos e ambientais seguidos por diferentes países.A questão é de fato complexa, mais complicada do que a já complicada questão de semedir o atual bem-estar ou desempenho econômico.

    Recomendação 11: A avaliação da sustentabilidade requer um bem identificado

     painel de indicadores. O traço característico dos componentes desse painel deveriaser que esses indicadores são interpretáveis como variações dos “estoques”subjacentes. Um índice monetário de sustentabilidade tem o seu lugar em tal

     painel, mas, sob o atual estado da arte, esse índice deveria permanecer

    essencialmente focado nos aspectos econômicos da sustentabilidade.

    36) A avaliação da sustentabilidade é complementar à questão do atual bem-estarou desempenho econômico, e precisa ser analisada separadamente. Isso pode soar trivial,mas mesmo assim merece ênfase, porque algumas das atuais abordagens falham em adotaresse princípio, levando a emissão de mensagens potencialmente confusas. Por exemplo,uma confusão pode surgir quando se tenta combinar o bem-estar e a sustentabilidadeatuais num único indicador. Para tomar uma analogia, quando se dirige um carro, umvelocímetro que compactasse num único número a atual velocidade e o nívelremanescente de gasolina não teria a menor utilidade para o motorista. Ambas as partesde informação são críticas, e precisam ser exibidas de forma claramente visível em áreasdistintas do painel.

    37) No mínimo, para se medir a sustentabilidade, o que precisamos são deindicadores que nos informem sobre a mudança nas quantidades dos diferentes fatores

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    que sejam relevantes para o bem-estar futuro. Ou seja, a sustentabilidade requer asimultânea preservação ou o aumento de diversos “estoques”: quantidades e qualidadesde recursos naturais, e de capitais humano, social e físico.

    38) Existem duas versões de abordagem de estoque para a sustentabilidade. Umaversão olha apenas para as variações em cada estoque separadamente, avaliando se esseestoque está aumentando ou diminuindo, com o intuito de particularmente fazer o que fornecessário para mantê-lo acima de algum limite crítico. A segunda versão converte todosesses ativos no seu equivalente monetário, por conseguinte implicitamente assumindo a“substituibilidade” entre os diferentes tipos de capital, de modo que a diminuição,digamos, do capital natural possa ser compensada por um suficiente aumento em capitalfísico (ponderado apropriadamente).

    Tal abordagem tem significativo potencial, mas também diversas limitações, sendo

    que a mais importante é a ausência de muitos mercados nos quais a avaliação dos ativospoderia ser baseada. E mesmo quando existirem valores de mercado, não há a garantia deque eles irão adequadamente refletir como que os diferentes ativos sejam relevantes parao futuro bem-estar. A abordagem monetária requer imputações e modelagem quelevantam dificuldades “informacionais”.

    Tudo isso sugere que se comece por uma abordagem mais modesta, isto é,focando a agregação monetária em itens para os quais razoáveis técnicas de avaliaçãoexistam, tais como capital físico e humano, e certos recursos naturais. Ao se fazer assim,deveria ser possível avaliar o componente “econômico” da sustentabilidade, isto é, se ospaíses estão ou não super-consumindo sua riqueza econômica.

    Indicadores físicos para pressões ambientais

    Recomendação 12: Os aspectos ambientais de sustentabilidade merecem um

    acompanhamento em separado, acompanhamento este que deve se basear num

    bem-escolhido conjunto de indicadores físicos. Em particular existe a necessidadede um claro indicador para a nossa proximidade a perigosos níveis de dano

    ambiental (tais como associados à mudança climática ou a exaustão dos estoques

     pesqueiros).

    39) Pelas razões supra mencionadas, atribuir um valor monetário ao ambientenatural é frequentemente difícil, e conjuntos separados de indicadores físicos serãonecessários para monitorar o estado do meio-ambiente. Isto se aplica particularmente nocaso que diz respeito a alterações irreversíveis e/ou descontínuas no meio-ambiente. Poressa razão os membros da Comissão acreditam particularmente que há a necessidade deum claro indicador para aumentos na concentração atmosférica de gases geradores deefeito-estufa associados com a proximidade de perigosos níveis mudança climática (ou deníveis de emissões que podem razoavelmente se esperar levar a tais concentrações nofuturo). A mudança climática (devido aos aumentos de concentração atmosférica dos

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    gases geradores de efeito-estufa) também é especial no sentido que se constitui numaquestão verdadeiramente global, que não pode ser mensurada em relação a fronteirasnacionais.

    Os indicadores físicos desse tipo só podem ser identificados com o auxílio dacomunidade científica. Felizmente, uma boa parte do trabalho já foi executada nessecampo.

    O que vem a seguir? 

    40) A Comissão considera este relatório como a abertura de uma grandediscussão em vez do encerramento da mesma. O relatório se refere às questões queprecisam ser abordadas num contexto de esforços mais compreensivos de pesquisa.Outros grupos, a níveis nacional e internacional, deveriam discutir as recomendações

    deste relatório, identificar seus limites, e ver de que forma podem melhor contribuir paraesta ampla agenda, cada um de sua própria perspectiva.

    41) A Comissão acredita que um debate global em torno das questões erecomendações levantadas neste relatório proverão um importante foro para a discussãodos valores da sociedade, para os quais, nós, enquanto uma sociedade, nos importamos, eaté que ponto estamos nos esforçando por aquilo que seja importante.

    42) Ao nível nacional, mesas-redondas deveriam ser estabelecidas, com oenvolvimento dos stakeholders, para identificar e priorizar aqueles indicadores quecarreguem o potencial para uma visão compartilhada de como o progresso social está

    acontecendo, e como que o mesmo pode ser sustentado ao longo do tempo.

    43) A Comissão espera que este Relatório forneça o ímpeto não apenas proporuma discussão mais ampla, mas sim uma contínua pesquisa no desenvolvimento demelhores métricas, que por sua vez irão nos possibilitar a avaliar melhor o desempenhoeconômico e o progresso social.