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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

DISCIPLINA: Resistência dos materiais

Professor: Vladimir J. Ferrari

Aula: Tensão e deformação

1-Tensão normal e deformação

1.1 - Tensão normal

Tensão e deformação são conceitos fundamentais na mecânica dos materiais.

Esses conceitos podem ser ilustrados em suas formas mais elementares. Como exemplo,

temos a Figura 1, em que a barra do reboque é um membro prismático em tração e o

suporte de trem de pouso é um membro em compressão.

Por barra prismática entende-se um elemento estrutural reto, tendo a mesma

seção transversal ao longo do seu comprimento. Por força axial entende-se uma

carga direcionada ao longo do eixo do elemento.

Figura 1 – Elementos estruturais submetidos a cargas axiais

Para fins de discussão vamos considerar a barra do reboque da Figura 1 e isolar

um segmento dela como um corpo livre (Figura 2.a). Nessa figura desconsideramos o

peso da barra e assumimos que as únicas forças atuantes são as forças axiais P nas

extremidades. A seguir consideramos duas vistas da barra: a primeira mostrando a

mesma barra antes de as cargas serem aplicadas (Fig 2.b) e a segunda mostrando-a após

a aplicação das cargas (Fig. 2.c).

Observe que o comprimento original da barra é denotado pela letra L e o

aumento no comprimento devido às cargas é denotado pela letra grega (delta).

As tensões internas na barra são expostas se fizermos um corte imaginário

através da barra na seção mn (Fig. 2.c). Agora isolamos a porção da barra à esquerda da

seção transversal mn como um corpo livre (Fig. 2.d). Na extremidade direita desse

corpo livre mostramos a ação da porção removida da barra (isto é, a parte à direita da

seção mn) sob a parte remanescente. Essa ação consiste de uma força distribuída

contínua agindo sobre toda a seção transversal. A intensidade da força é chamada de

tensão e denotada pela letra grega (sigma). Dessa forma, a força axial P agindo na

seção transversal é a resultante das tensões distribuídas continuamente.

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Figura 2 – Barra prismática em tração

Assumindo que as tensões são uniformemente distribuídas sobre a seção

transversal mn, vemos que sua resultante deve ser igual à intensidade vezes a área A

da seção transversal da barra.

A

Pζ (1)

Quando a barra é esticada pelas forças P, as tensões são de tração; se a forças

são reversas em direção, fazendo com que a barra seja comprimida, obtemos tensões de

compressão. Como essas tensões agem em uma direção perpendicular à superfície de

corte, elas são chamadas de tensões normais. Dessa forma, as tensões normais podem

ser de tração ou de compressão.

A equação (1) é válida somente se a tensão é uniformemente distribuída sobre a

seção transversal da barra. Essa condição é realizada se a força axial agir através do

centróide da área da seção transversal. Quando a carga P não age no centróide, tem-se a

flexão da barra, e uma análise mais sofisticada é necessária.

A condição de tensão uniforme representada na Figura 2 existe ao longo de todo

o comprimento da barra, exceto próximo às extremidades. A distribuição de tensão na

extremidade de uma barra depende de como a carga é transmitida para a barra. Se

ocorrer de a carga ser distribuída uniformemente sobre a extremidade, então todo o

padrão de tensão na extremidade será igual a de todo o resto da barra. Entretanto, é mais

usual a tensão ser transmitida através de um pino ou parafuso, produzindo altas tensões

localizadas chamadas de concentrações de tensões.

1.2- Deformação normal

Como já foi visto, uma barra reta irá mudar de comprimento quando carregada

axialmente, tornando-se mais comprida quando em tração e mais curta, quando em

compressão. Por exemplo, considere novamente a Figura 2. o alongamento dessa

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barra é o resultado cumulativo do estiramento de todos os elementos do material através

do volume da barra. Vamos considerar que o material é o mesmo em todo lugar da

barra. Logo, se consideramos metade da barra (L2), ela terá um alongamento igual a

2 e, se consideramos um quarto da barra, ela terá um alongamento igual a 4. Em

geral, o alongamento de um segmento é igual ao seu comprimento dividido pelo

comprimento total L e multiplicado pelo alongamento total . Por isso, uma unidade de

comprimento da barra terá um alongamento igual a 1L vezes . Essa quantia é chamada

de alongamento por unidade de comprimento, ou deformação, e é denotada pela letra

grega (épsilon). Vemos que a deformação é dada pela equação (2)

L

δε (2)

Se a barra está em tração, a deformação é chamada de deformação de tração,

representando um alongamento do material. Se a barra está em compressão é chamada

de deformação de compressão e a barra encurta. A deformação é chamada de

deformação normal porque está associada com tensões normais.

Como a deformação normal é a razão entre dois comprimentos, ela é uma

quantidade adimensional, isto é, não tem unidades. Por isso, ela é expressa

simplesmente como um número, ou às vezes, como uma percentagem.

Uma barra de aço tem um comprimento de 2m. Quando carregada em tração,

ela alonga-se em 1,4mm, qual a sua deformação:

610x7000007,0000.2

mm4,1ε

Na prática, as unidades originais de e L são incluídas na própria deformação,

e então, a deformação é registrada em formas como mmm.

2-Propriedades mecânicas dos materiais

O projeto de máquinas e estruturas de forma que elas funcionem corretamente

exige que entendamos o comportamento mecânico dos materiais que estão sendo

empregados. Comumente, a única maneira de determinar como os materiais se

comportam quando submetidos a cargas é executar experimentos em laboratórios. O

procedimento usual é colocar pequenos corpos de prova do material em máquinas de

teste, aplicar cargas e então medir as deformações resultantes.

Uma máquina de teste de tração típica é mostrada na Figura 3. O corpo de prova

é colocado entre as duas garras da máquina e então carregado em tração. Sistemas de

medida armazenam as deformações, e o controle automático e os sistemas de

processamento de dados, tabelam e graficam os resultados.

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Figura 3 – Máquina de teste de tração

Uma vista mais detalhada do corpo de prova de teste de tração é mostrada na

Figura 4. O instrumento preso por dois braços ao corpo de prova é um extensômetro que

mede o alongamento durante o carregamento.

Figura 4 – Corpo de prova típico de teste de tração

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Os resultados dos testes geralmente dependem do tamanho do corpo de prova

testado. Uma vez que é improvável que estaremos projetando estruturas tendo partes do

mesmo tamanho que os corpos de prova, precisamos expressar os resultados dos testes

de forma que possam ser aplicados a membros de qualquer tamanho. Um modo simples

de atingir esse objetivo é converter os resultados dos testes em tensões e deformações.

A tensão axial em um corpo de prova é calculada dividindo a carga P pela área

da seção transversal A. A deformação do corpo de prova é encontrada dividindo o

alongamento medido entre as marcas de medida pelo comprimento L.

Após executar um teste de tração e determinar a tensão e a deformação em

várias magnitudes da carga, podemos plotar um gráfico chamado de tensão versus

deformação. Esse diagrama tensão-deformação é uma característica do material em

particular sendo testado e contém informação importante sobre as propriedades

mecânicas e o tipo de comportamento.

O aço estrutural é um dos metais mais amplamente utilizados. Um diagrama

típico para o aço estrutural é mostrado na Figura 5. As deformações são plotadas no

eixo horizontal, e as tensões no eixo vertical.

Figura 5 – Diagrama tensão-deformação do aço estrutural

Do diagrama temos as seguintes informações:

1-O diagrama começa com uma linha reta da origem 0 ao ponto A, o que quer dizer que

a relação entre a tensão e deformação nessa região não é apenas linear, mas também

proporcional (a razão entre elas se mantém constante). Além do ponto A, a

proporcionalidade entre tensão e deformação não mais existe. Dessa forma, a tensão no

ponto A é chamada de limite de proporcionalidade. Para aços de baixo teor de carbono,

este limite está no intervalo de 210 a 350MPa. A inclinação da linha 0A é chamada de

módulo de elasticidade.

2-Com um aumento na tensão além do limite de proporcionalidade, a deformação

começa a aumentar mais rapidamente para cada incremento de tensão.

Consequentemente, a curva de tensão-deformação tem uma inclinação cada vez menor

até, no ponto B, a curva começa a ficar na horizontal. Começando nesse ponto um

alongamento considerável do corpo de prova sem o aumento notável da força de tração

(de B até C). Esse fenômeno é conhecido como escoamento do material, e o ponto B é

chamado de ponto de escoamento. A tensão correspondente é conhecida como tensão

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de escoamento do aço. Na região entre B e C, o material fica perfeitamente plástico, o

que significa que ele se deforma sem aumento na carga aplicada. O alongamento de um

corpo de prova de aço mole na região perfeitamente plástica é tipicamente da ordem de

10 a 15 vezes o alongamento que ocorre na região linear (entre o início do carregamento

e o limite de proporcionalidade).

3-Após passar pelas grandes deformações que ocorrem durante o escoamento na região

BC, o aço começa a recuperação. Durante a recuperação, o material passa por mudanças

em sua estrutura cristalina, resultando em um aumento da resistência do material para

mais deformação. O alongamento do corpo de prova nessa região exige um aumento na

carga de tração, e por isso o diagrama de tensão-deformação tem uma inclinação

positiva de C até D. A carga atinge seu valor máximo, e a tensão correspondente no

ponto D é chamada de tensão normal última.

3-Elasticidade Linear, Lei de Hooke e Coeficiente de Poisson

Muitos materiais estruturais, incluindo a maioria dos metais, madeira, plásticos e

cerâmicas, comportam-se elástica e linearmente quando carregados da primeira vez.

Consequentemente, suas curvas de tensão-deformação começam com uma reta passando

através da origem. Como exemplo, temos a curva tensão-deformação para o aço

estrutural, como mostrado na Figura 5, onde a região da origem 0 ao limite de

proporcionalidade (ponto A) é linear e elástica.

Quando um material comporta-se elasticamente e também exibe uma relação

linear entre a tensão e deformação, é chamado de elástico linear. Esse tipo de

comportamento é extremamente importante na engenharia pois, ao se projetar estruturas

e máquinas que se comportem nessa fase, estaremos evitando deformações permanentes

devido ao escoamento do material.

3.1-Lei de Hooke

A relação linear entre a tensão e a deformação para uma barra em tração ou

compressão simples é expressa pela equação:

ε.Eζ (3)

Em que:

= é a tensão axial

= é a deformação axial

E = é uma constante de proporcionalidade conhecida como módulo de

elasticidade para o material.

O módulo de elasticidade é a inclinação do diagrama tensão-deformação na

região elástica linear. Uma vez que a deformação é adimensional, as unidades para o E

são as mesmas que as unidades de tensão.

A equação (3) é conhecida como Lei de Hooke, em homenagem ao famoso

cientista inglês Robert Hooke (1635 – 1703). Essa equação é uma versão limitada da

Lei de Hooke porque relaciona apenas as tensões e deformações longitudinais

desenvolvidas em tração e compressão simples de uma barra (tensão uniaxial). Para

lidar com estados de tensão mais complicados, como aqueles encontrados na maioria

das máquinas e estruturas, devemos usar equações mais abrangentes da Lei de Hooke.

Valores aproximados:

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Eaço = 210GPa

Ealumínio = 73GPa

Eplásticos = 0,7 a 14GPa

3.2-Coeficiente de Poisson

Quando uma barra prismática é carregada em tração, o alongamento axial é

acompanhado por uma contração lateral (isto é, contração normal à direção da carga

aplicada). Essa mudança na forma está ilustrada na Figura 6, onde a parte (a) mostra a

barra antes do carregamento e a parte (b) a mostra após o carregamento. Na parte (b) as

linhas pontilhadas representam a forma da barra antes do carregamento.

Figura 6 – Alongamento axial e contração lateral

A contração lateral é facilmente vista esticando-se uma borracha, mas nos metais

as mudanças nas dimensões laterais (na região elástica linear) são usualmente pequenas

demais para serem visíveis. Entretanto, podem ser detectadas com sistemas de medição

sensíveis.

A deformação lateral (´) em qualquer ponto na barra é proporcional à

deformação axial no mesmo ponto se o material é linearmente elástico. A razão entre

essas deformações é uma propriedade do material conhecida como coeficiente de

Poisson. Esse coeficiente é representado pela letra grega (nu), pode ser expresso pela

equação:

ε

ε

axialdeformação

lateraldeformaçãoυ

´

(4)

O sinal negativo é para indicar que as deformações lateral e axial tem

normalmente sinais contrários. Por exemplo, a deformação axial em uma barra em

tração é positiva e a deformação lateral é negativa (porque a largura da barra diminui).

Já para a compressão teremos a situação oposta.

Devemos sempre ter em mente que a equação (4) somente se aplica a uma barra

em tensão uniaxial.

Para a maioria dos metais o valor do coeficiente de Poisson está entre 0,25 e

0,35. Para o concreto, o valor é baixo, cerca de 0,1 ou 0,2.

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Exemplo 1: Um tubo de aço de comprimento L = 1,2m, diâmetro externo d2 = 152mm e

um diâmetro interno d1 = 114mm é comprimido por uma força axial P = 700kN (Figura

7). O material tem um módulo de elasticidade de 210.000MPa e um coeficiente de

Poisson igual a 0,30. Calcular:

a) O encurtamento ;

b) A deformação lateral ´

c) O aumento d2 no diâmetro externo;

d) O aumento d1 no diâmetro interno

e) O aumento na espessura da parede t.

Figura 7 – Tubo de aço em compressão

Solução:

1-Tendo-de a área A da seção e a força aplicada, calcula-se a tensão ;

2-Verificar se a tensão calculada é inferior a tensão de escoamento do material;

3-caso o material comporte-se no regime elástico, podemos aplicar a Lei de Hooke e calcular a

deformação axial;

4-Conhecendo a deformação axial, podemos calcular o encurtamento do tubo;

5-Com a deformação axial e o coeficiente de Poisson, é possível obter a deformação lateral do tubo;

6-Os aumentos nos diâmetros e espessura da parede podem ser obtidos pelas relações:

t.εt

d.εd

d.εd

´

1

´

1

2

´

2

4-Mudanças no comprimento de barras prismáticas carregadas axialmente

As barras carregadas axialmente sofrem alongamento sob cargas de tração e

encurtamento sob cargas de compressão (Figura 8). Uma barra prismática é um membro

estrutural com um eixo longitudinal retilíneo e uma seção constante ao longo do seu

comprimento. Embora usaremos geralmente barras circulares em nossas ilustrações,

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devemos ter em mente que membros estruturais podem ter uma variedade de formas de

seção transversal, como mostrado na Figura 9.

Figura 8 – Barra prismática de seção circular

Figura 9 – Seções transversais de elementos estruturais

O alongamento de uma barra prismática submetida a uma carga de tração P é

mostrada na Figura 10. Se a carga P age através do centróide da seção transversal da

extremidade, a tensão normal uniforme nas seções longe da extremidade é dada pela

fôrmula:

A

Se a barra é feita de um material homogêneo, a deformação axial é dada por:

L

δε

Vamos também assumir que o material é elástico linear, o que significa que ele

segue a Lei de Hooke. A tensão e a deformação estão relacionados pela relação:

ε.Eζ

Combinando essas relações básicas, obtemos a seguinte equação para o cálculo

do alongamento da barra:

A.E

L.Pδ (5)

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A equação (5) mostra que o alongamento é diretamente proporcional à carga

aplicada e ao comprimento da barra e inversamente proporcional ao módulo de

elasticidade e a área da seção transversal. O produto E.A é conhecido como rigidez

axial da barra.

Figura 10 – Alongamento de uma barra prismática em tração