20
Hegemonias e emancipações Bibliografia Bartra, Armando 2001 "Sur. Megaplancs y utopias en Ia América equinoccial" em Bartra, Armando (org.) Mesoamérica. Los rios profundes (México: El Atajo). Bartra, Armando 2002 "Hacia una nueva colonización dei sureste" em Álvarez, Ale- jandro et ai. Economia política dei Pian PuebLi-Panamá (México: Itaca). Bartra, Armando 2003 "La invención cie Mesoamérica" em Plataforma Campesina Mesoamericana (México: Instituto de Estúdios dei Pueblo Maya, AC). Bartra, Armando 2003a Intervencíón en e! Primer Eneuentro Internacional sobre Desarrollo e Intcgración Regional en ei Sur de México y Centroamérica, junho. Cdococh-Asocode 2003 Memória III Encurtara (ãimpesino Mesoamericana "El campo no aguantã más" {\ ionduras). ( .entro Alexander von I lumbolt 2002 Memória III Eora Mesoamericana Frente ai Plan Pttehla-Panamá ei Movimiento Mesoamericana por Ia Integración Popular (Nicará gua). Iglesias, Enrique 2002 "Entrevista con ei direcrot dei BID" em La /ornada (México, DF) 27 de junho. Levy. Santiago; D.ivil.i. Enrique cKcscl. Georgina 1994 El sur también existe Uri en- sayo sobre desarrollo regional eu México (México: Secretaria de Hacienda v ( !rédito Publico). MOICAM 2002 Resolutivos dei Tercei Eneuentro ( ampesino (Manáçua) miniov (VCormati. Edmundo 1970a Ia inirución de América (México: I:ondo de Cultura Econômica). C)'(lOinian, Edmundo 1970b Meditacioncs sohr, ei mallismo (México: ("cimo de Es túdios de I listori.t de México/Condumex). Prcsidc-ticia de l.i República 2000 Plan Puchla-Panamá. Documento Base (México). Sem Amor 2003 Plataforma campesina Mesoamericana (México: Instituto de Estúdios dei Pueblo Maya, AC). Iucídides 1980 Historia de Li guerra dei Peloponeso (México: Porrúa). Villahierte Solís, Daniel 2001 Integracwnes cornercial.es en Iafrontera sur. Chiapas frente ai Tratado de Libre Comercio México-Centroamérica (México: UNAM). Wolf, Eric 1980 Pueblosy culturas deMesoamérica (México: ERA). 128 Raul Ornelas* A AUTONOMIA COMO ELXO DA RESISTÊNCIA ZAPATISTA DO LEVANTE ARMADO AO NASCIMENTO DOS CARACOLES** .. ., unhamos um território controlado e foi para organizá-lo que te criaram os Muni- cipios Autônomos. 0 L7.LN tem muitas idéias sobre como é um povo organizado e livre. Oproblema c ijuc não um governo tjue obedeça; um governo mandão que nau te escuta, que não te respeita, que pensa que os povos indígenas não sabem pensar, que quer nos tratar como índiospés-de-chinelo, mas a história lha respondeu e demonstrou que sabemos, sim. pensar, e que sabemos nos organizar. Ainjustiça ea pobreza te fazem pensar, produzir idéias, te fazem pensar como fazédo, ainda que ogoverno não te escute. Major Insurgente de Infantaria Moisés, EZLN Muitas foram as leituras suscitadas pela luta das comunidades zapatistas de Chiapas. As questões formuladas por este inovador sujeito social propiciaram reações que vão da desquaJificaçáo à apologia. E não foram poucos os analistas e os atores políticos e sociais, particularmente entre o que podemos chamar como a esquerda comunista, que ofereceram conclusões céticas a respeito da luta zapatista. * Pesquisador do Instituto de Pesquisas Econômicas da UNAM. " Agradeço a Francisco Pineda, Ana Esther Ccccfia, Rebeca Alfonso, Adriana e Rebeca Ornelas, Eva Rami e Marc Tomsin, que realizaram comentários ecríticas sumamente pertinentes que espero teraco lhido nesta versão do texto. Agradeço também a colaboração de Mayla Nemesio ede Rebeca Alfonso. A elas e eles meu sincero agradecimento. 129

Autonomia - Caracoles

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A AUTONOMIA COMO EIXO DA ESISTÊNCIA ZAPATISTA DO LEVANTE ARMADO AO NASCIMENTO DOS CARACOLES

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  • Hegemonias e emancipaes

    Bibliografia

    Bartra, Armando 2001 "Sur. Megaplancs y utopias en Ia Amrica equinoccial" emBartra, Armando (org.) Mesoamrica. Los rios profundes (Mxico: El Atajo).

    Bartra, Armando 2002 "Hacia una nueva colonizacin dei sureste" em lvarez, Ale-jandro et ai. Economia poltica deiPian PuebLi-Panam (Mxico: Itaca).

    Bartra, Armando 2003 "La invencin cie Mesoamrica" em Plataforma CampesinaMesoamericana (Mxico: Institutode Estdios dei Pueblo Maya, AC).

    Bartra, Armando 2003a Intervencn en e! Primer Eneuentro Internacional sobreDesarrollo e Intcgracin Regional en ei Sur de Mxico yCentroamrica, junho.

    Cdococh-Asocode 2003 Memria III Encurtara (impesino Mesoamericana "El campono aguant ms" {\ ionduras).

    ( .entro Alexander von I lumbolt 2002 Memria III Eora Mesoamericana Frente ai PlanPttehla-Panam eiMovimiento Mesoamericana por Ia Integracin Popular (Nicargua).

    Iglesias, Enrique 2002 "Entrevista con ei direcrot dei BID" em La /ornada (Mxico,DF) 27 de junho.

    Levy. Santiago; D.ivil.i. Enrique cKcscl. Georgina 1994 El sur tambin existe Uri en-sayo sobre desarrollo regional eu Mxico (Mxico: Secretaria de Hacienda v ( !rditoPublico).

    MOICAM 2002 Resolutivos dei Tercei Eneuentro ( ampesino (Manua) miniov(VCormati. Edmundo 1970a Ia inirucin de Amrica (Mxico: I:ondo de Cultura

    Econmica).C)'(lOinian, Edmundo 1970b Meditacioncs sohr, ei mallismo (Mxico: ("cimo de Es

    tdios de I listori.t de Mxico/Condumex).Prcsidc-ticia de l.i Repblica 2000 Plan Puchla-Panam. Documento Base (Mxico).Sem Amor 2003 Plataforma campesina Mesoamericana (Mxico: Instituto de Estdios

    dei Pueblo Maya, AC).Iucdides 1980 Historia de Li guerra dei Peloponeso (Mxico: Porra).Villahierte Sols, Daniel 2001 Integracwnes cornercial.es en Iafrontera sur. Chiapas frente

    ai Tratado deLibre Comercio Mxico-Centroamrica (Mxico: UNAM).Wolf, Eric 1980 Pueblosy culturas deMesoamrica (Mxico: ERA).

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    Raul Ornelas*

    A AUTONOMIA COMO ELXODA RESISTNCIA ZAPATISTA

    DO LEVANTE ARMADOAO NASCIMENTO DOS CARACOLES**

    .. ., unhamos um territrio controlado efoi para organiz-lo que te criaram os Muni-cipios Autnomos. 0 L7.LN tem muitas idias sobre como um povo organizado e livre.

    Oproblema cijuc no h um governo tjue obedea; h um governo mando que naute escuta, que no terespeita, que pensa que os povos indgenas no sabem pensar, que

    quer nos tratar como ndiosps-de-chinelo, mas a histria j lha respondeu edemonstrouque sabemos, sim. pensar, eque sabemos nos organizar. Ainjustia eapobreza te fazem

    pensar, produzir idias, tefazem pensar comofazdo, ainda que ogoverno no te escute.Major Insurgente de Infantaria Moiss, EZLN

    Muitas foram as leituras suscitadas pela luta das comunidades zapatistas deChiapas. As questes formuladas por este inovador sujeito social propiciaramreaes que vo da desquaJificao apologia. Eno foram poucos os analistase os atores polticos e sociais, particularmente entre o que podemos chamarcomo a esquerda comunista, que ofereceram concluses cticas a respeito daluta zapatista.

    * Pesquisador do Instituto de Pesquisas Econmicas da UNAM." Agradeo a Francisco Pineda, Ana Esther Ccccfia, Rebeca Alfonso, Adriana e Rebeca Ornelas, EvaRami eMarc Tomsin, que realizaram comentrios ecrticas sumamente pertinentes que espero teracolhido nesta verso do texto. Agradeo tambm acolaborao de Mayla Nemesio edeRebeca Alfonso.A elas eeles meusincero agradecimento.

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  • Hegemonias e emancipaes

    Ao revisar tais anlises, constatamos que ex.stem importantes deficinciasno conhecimento das propostas edas realidades que constituem oessencial daluta zapatista. Neste trabalho nos propomos aresgatar os aspectos que considramos mais importantes da construo da autonomia entre as comunidadesrebeldes de Chiapas. De nosso ponto de vista, aautonomia oprocesso queexplica afora eovigor da luta que h vinte anos se desenvolve nos valesda Selva Lacandona eda qual o Exrcito Zapatista de Liberao Nacional(EZLN) euma expresso fundamental, ainda que no anica

    Oobjetivo central do texto estabelecer as linhas gerais do discurso edapratica zapatistas em torno da autonomia, abordando duas questes- aevoluao da autonomia desde olevante zapatista at onascimento dos (aracolcs earelaao entre autonomia epoder. Sobre esta base esboamos algumas concluses preliminares arespeito do desenvolvimento do projeto autonmico dascomunidades zapatistas.

    Nossa reflexo inscreve-se no estudo da obra construtiva das revoluesem partcula, das revolues camponesas. En.bora no texto apenas faamosagumas breves menes de outras experincias histricas, nosso trabalho foialimentado pela reviso das lutas dos camponeses ucnmianos (1918-1921) edos camponeses aragoneses ecatales (1936-1939), cujas tentativas de construo da amogesto e do autogoverno tm importantes similitudes com ,experincia zapatista.

    Diante dos avanos da autonomia, os quais significam nove anos deautogoverno e a criao dos Caracoles, consideramos que no basta nosaprofundarmos nos intensos debates suscitados n domnio da teoria po-l.nca, sendo fundamental adentrarmos na anlise da prtica concreta dascomunidades zapatistas, em resistncia desde 1994. O aniversrio "20 e10 do EZLN um motivo a mais para esta tentativa'. Cabe mencionarque este trabalho uma primeira aproximao ao tema, motivo pelo qualacentuamos os aspectos construtivos da experincia autonmica; os limitesecontradies deste processo so apenas esboados, eseu estudo detalhadoe objeto de uma pesquisa em curso.

    OS CAMINHOS DA AUTONOMIA

    Aps olevante armado de 1 de janeiro de 1994 edos doze dias de guerraaberta, os zapatistas empreenderam iniciativas direcionadas atecer redes de re-

    1Em 17 de novembro de 1983 fundado oEZLN, ede, anos depo.s, em 1= de janeiro de 1994, elese levanta em armas. Olivro de Glria Muno, (2003) oferece informao de primeira mo sobre aconstruo e a evoluo do EZLN.

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    Raul Ornelas

    Desde pne.ro de 1994 at onascimento dos Caracoles em acosto de 20fH

    Embora as exprincia, dl autogowl t BaMmMa

  • Hegemonias e emancipaes

    Quadro 1Municpios Autnomos Rebeldes Zapatistas (dezembro de 1994)

    MAREZ Municpio Oficial1. Libertad de los PueblosMayas Ocosingo2. San Pedro de Michoacn Las Matgaritas3. Tierta y Libertad Las Matgaritas, Independncia yTrinitaria4. 17 de Noviembre Altamirano y Chanal5. Miguel Hidalgo y Costilla Las Matgaritas yComitn de Dominguez6. Ernesto Che Guevata Ocosingo7. 1 de Enero Ocosingo8. Cabanas Oxchuc y Huixtan9. Maya Ocosingo10. Francisco Gmez Ocosingo11. FloresMagn Ocosingo12 San Manuel Ocosingo13 San Salvadot Ocosingo14. Huichapan Huichapan15. Simojovel Simojovel16 Sabanilla Sabanilla

    17. Vicente Guetrero Palenque18 Trahajo Palenque y Chiln19. Francisco Villa Salto dei gua20. Independncia Tila y Salto deigua21. Benito Jurez Tila,Yajaln yTumbal22 La Paz Tumbaly Chiln23 Jos Maria Motelos y Pavn Ocosingo24. San Andrs Sakamchn de los Pobtes San Andrs Larrinzar25. San Juan de Ia Libertad El Bosque26 San Pedro Chenalh Chenalh y Mitontic27. Santa Catarina Pantelhy Sital28. Bochil Bochil

    29. Zinacantn Zinacantn

    30. Magdalenade La Paz Chenalh

    Fonte: EZLN (1994-2004: 179-182) Tomo 2.

    132

    OAXACA

    Raiji Oknelas

    Mapa 1

    Municpios e territrios rebeldes zapatistasjk^\ tabasco

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    145

    ricardo.padulaRealce

  • Hegemonias e emancipaes

    comrcio; a informao eacultura; o trnsito local" continuaro sendopetncia dos municpios rebeldes.

    Quadro 4Objetivos, tarefas e primeiras medidas

    das Juntas de Bom Governo (agosto, 2003)

    com-

    Tentar neutralizar odesequilbrio no desenvolvimento dosmunicpios autnomos e das comunidades.

    Mediar os conflitos entre municpios autnomos.governamentais

    e entre municpios autnomos e municpios

    Pincn T'7f 'JenU"CiaK Cmra S Conselhos Autnomos por violaes dos direitos humanos ptote^oT:sscEssrverac,dade'ordenar aos conse,hos Au,nomos a^ d=s

    -Vigiar arealizao de projetos etarefas comunitrias nos Municpios Autnomos Rebeldes Zaoatis;;77:: ' " ' :!lque^mC-^^-t-P-eformas,abe,ecidos:m^S "H;77 '' '" :"mWer apmo a"ro'c,os comunitrios nos Municpios Autnomos Rebeldes

    pmsfiSSSl**""""' 3COrd Cm 3S em nos Munic-nmJ '^6"^,0 9Ua" SCeda

  • Hegemonias e emancipaes

    o da privatizao do setor energtico mexicano c da reivindicao de urnareorientao da poltica social.

    E muito importante assinalar que tudo o que foi dito antes no significaque o desenvolvimento da autonomia esteja livte de limites ou contradies.Quisemos, num primeiro momento, descrever as formas que o processo autonomico tomou no perodo 1994-2003, mas, como os prprios zapatistas afirmam, a construo do "mundo onde caibam muitos mundos" um processoincipiente, marcado por grandes dificuldades e obstculos. Uma das principais limitaes foram as presses e agresses dos governos local c federal, acontinuidade das polticas contra-insurgentes (apesar de, em 2000. o PR! u-rperdido o governo de Chiapas), assim cimo os encontros e desencontros comas organizaes sociais e polticas; isto constituiu fones freios ao desenvolvimento da autonomia.

    A guerra contra as comunidades em resistncia destruiu em inmeras ocasies o que tanto custou construir; porm, a.s autonomias chiapanecas mustraram uma tenacidade sem paralelo na histria recente do Mxico, lemoscomo exemplos a construo de vinco Aguascalteiues (Oventik, l.a Realidad,I.a Garrucha, Roberto Harrios c Mordia) como resposta ocupao milhai ..destruio do primeiro Aguascalicmcs. ode Cuadalupe Tepevac; ou arectlpcrao do Palcio tio Governo de San Andrs, aps unia tentativa dos prisiasde se apoderar desse lugar altamente simblico pata aluta zapatista; e inclusiveonde as ameaas de represso obrigam , mobilidade permanente, como in>municpio rebelde Ricardo Flores Magn, as autoridades autnomas cominuam realizando suas tarefas e construindo .1 autonomia.

    A relao tio EZLN tom as foras polticas (em particular com o Partidoda Revoluo Democrtica, PRI), formao sociat-democrtica que governa acapital do pas) ecom as organizaes sociais tambm teve impacto na construo da autonomia. Enquanto a.s estratgias zapatistas concentraram-se naconsttuo de uma sada poltica para ,1 guerra, grande parte da energia dascomunidades foi dedicada a tarefas no relacionadas diretamente com a vidainterna: desenvolveram-se repetidas tentativas de criar instncias de dilogo ede luta unitrias em escala nacional, as quais no conseguiram avanar alemde seus primeiros passos. Por isso, a partir de 1997-1998 a consolidao dasautonomias situa-se no centro da resistncia zapatista, e o dilogo para foratem as "sociedades civis" como interlocutor prioritrio.

    Podemos resumir esta apresentao dos aspectos que consideramosessenciais do processo autonomico entre as comunidades zapatistas deChiapas dizendo que a importncia da autonomia radica em ser o complemento do pensamento zapatista, cujo carter inovador tem dificultadosua compteenso. Com efeito, os questionamentos mais freqentes luta

    148

    Rai Orni:laszapatista enfocam a necessidade A lesdo poder, comide^oT ^ '^ " m^f^Diante desse ceticismo constatam ^ "P"' ^ "irr^veis".- bases para esse Cr omdo 7 ' T* Cda Planamente-ura adominao est en^^damTn ^ ^^ A,Udos autogovernos. Odesenvolvimemol^ 1!"^" '""^ ^ COnstruopostas zapanstas no so idia Cf ^ nmias most" que as pro--udado; so propostas I" ' T"^ *^^ *t'ongos. mas c,a realiza Z^Z^T ^ T* " *"*"* das comumdades em resist a ? ""' "* "** C,u" ^

    Autonomia 1. poder

    7?:77;::::*. ., .,... poder. ' " S d,,eraas '

  • Hegemonias e emancipaes

    Desde o incio da rebelio, estabelece-se claramente aindependncia entre as funes de governo, concebidas como um assunto que concerne emprimeiro lugar s comunidades, ealuta poltica earmada qual se entregao EZLN. Este um aspecto crucial que a luta zapatista compartilha comasrevolues camponesas do sculo XX: tanto na Ucrnia como em Arago ena Catalunha, os exrcitos insurgentes deixaram nas mos dos civis aconstruo dos autogovernos'\ Aesse respeito, esclarecedora a proclamaoque acompanhava a entrada do exrcito makhnovista nos povoados e cidades da Ucrnia:

    Atodos os trabalhadores da cidade ede seus arredores: Trabalhadores! Vn . dadc ocupada, momentaneamente, pelo Exrcito insurrecional revolucionario \matnovista). Este exrcito no esta a servio de nenhum partido poltico, de nenhumpoder, de nenhuma ditadura. Pelo contrrio, busca libertara regio de todo podeipoltico, de toda ditadura. Trata de proteger a liberdade de ao, a rida livr, .,-.trabalhadores contra ioda dominao e explorao. Portanto, o exrcito makhmivista no representa nenhuma autoridade. No submeter ningum .1 nenhumaobrigao. Seu papel se limita adefender .1 liberdade dos trabalhadores,.. ( abea-,>camponeses e aos trabalhadores atuar, organizar-se, entrar em acordo cm todos o>domnios de sua vida, tal como eles os concebem ccomo desejem... ()s makhnu-visias so podem ajud-los, oferecendo-lhes opinies ou consel/w, colo, ando suadisposio a.s toras intelectuais, militares ou outras de que necessitem. M.ls n.-,podem nem querem, em nenhum caso. govern-los:ouprescrever lhes nada iV,,i .,.1969: 598-599).

    Nos trs casos, as comunidades camponesas possuem prticas c tradies .111togesiadas ancestrais, que constituem uma base frtil para a construo degovernos prprios. Alm destas semelhanas, tambm interessante destacaique nas experincias de Arago, Catalunha e Ucrnia influram fortemente asorganizaes anarquistas, implantadas anteriormente aos momentos revolucionrios; estas organizaes realizaram uma intensa tarefa educativa concentrada em estabelecer que o autogoverno era a nica soluo para a situaode misria eopresso, assim como em marcar os limites dos regimes polticosimperantes (o czarismo, a monarquia, as repblicas). Por seu lado, a consttu-o do EZLN est marcada em seus incios pela presena de uma organizaomarxista-leninista com um projeto de carter poltico-militar (luta armada, atomada do poder), o qual foi transformado radicalmente na intetao com ospovos indgenas.

    15A respeito da experincia na Ucrnia ver Archinof(1975: 161-170) e Makhno (1970: 187-194): csobre Arago e Catalunha, Levai (1971) eCarrasquer (1985).

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    Raul Ornelas

    oregime poltico" condeno ematerial ar

    '7z:7l7z"?' ""-Irque' p""' -*i*^pane das nHt """o'?'8" "dla,"""'>

  • Hegemonias e emancipaes

    alternativas (estatizao, partido nico, organizaes sociais corporativiza-das, coexistncia pacfica) nunca romperam com os limites da sociedadebaseada na competio1.

    A multiplicao do sujeito da transformao social (que aqui restringimosao extremo ao falar do "bom governo", dos rebeldes e das "sociedades civis"), a alternativa que os zapatistasopem aos mecanismos de poder que caracterizam o sistema capitalista18.

    lano para a sociedade capitalista como para o paradigma "lenrnsta" darevoluo, o F.stado, o partido, a "conscincia nacional", etc, so os meiosinevitveis para conduzir a sociedade para a transformao social. O caracterstico desta consmio de sentido que se realiza mediante "especializaes1que rompem a unidade tia vida social, criando papis que se reproduzem asi mesmos: os polticos, os empresrios, os trabalhadores, os burocratas, osintelectuais, etcetera1'.

    Os /.apatistas, em compensao, buscam mediaes para uma reconstruodo social com base em novas relaes. Partindo do que chamam "uma nova

    ; \ --*.. respeito, a c\perh*iii o do perodo ps-revolucionrio n.i Rssia muito interessante. Podemos mencionai que ,i adoo tl.iv formas capitalistas de organizar > trabalho (os "soviets mais a eletri-lii .i>,.i" i " >' tj.itn\isiiHi, par.f na... I.il.n (.i colciivizao forada) constituram experincias frustradasi' stlpo.n ao io ! ,i jui.il i.mu (1 p< i.vtmouo de !rotski e e\rionaniOiR" instrutivo neste Ter rolo. pois

    .onstnu! iinu it.tr; irni.tnva,s mais desenvolvidas de "organizar" a transformao social. Alm disso.lioiski fevt- utn p>ipel ..enii-il n.i pmiita.io do pais' {enremamenio da reao e d.cs invases, es-n;.iL',aiiHnio d.i ala iMiik.il il.i revoluo) e nas primeiras orientaes tia economia aps o munfo do; irrdn hnli hevnjueou outubro de TM 7 ( >miu\a "profetaarmado"afirmou em vrias oportunidadesque o -... Lilivmo s .-Mi.01,1 o ...ipiulisino quando conseguisse super-loem seu rerreno. o bem-estardas in.is ..is Ns . ,ui,tipo, Podc

  • Hegemoniase emancipaes

    Autonomia e revoluo

    Alem de oferecer uma postura inovadora diante do poder, a autonomiaconstruda pelas comunidades zapatistas contm dois argumentos centraisno domnio da luta revolucionria: "a revoluo que torne possvel aRe.voluo", eono lutar pela tomada do poder. Do mesmo modo, aconstruo dos autogovernos sustenta a proposta emancipadora contida no"mandar obedecendo".

    Enquanto as esquerdas tradicionais estabeleciam uma perspectiva de trans-go prazo, a luta zapa-formao (gradual ou revolucionria) dasociedade a loi

    tisia prope unia tarefa especfica para o EZLN:trs indicaes que contm toda uma concepo sobre a revoluo (com minsculas, para evitar polmicas com mltiplas vanguardas esalvaguardas da "RFVOLUO"):Aprimeira refere-se ao carter da mudana revolucionria, desta mudana revolucionria, irata-se de um carter que incorpora mtodos diferentes, frentes diversas, formas variadas edistintos graus de compromisso eparticipao. Uni sitmi ..que todos os mtodos tm seu lugar, que todas as frentes de luta so neccssnas.eque todos os graus de participao so importantes. Trata-se, portanto, de uniaconcepo includente, antivaguardista ecoletiva O problema da revoluo (aun.io com as minsculas), deixa de ser um problema DA organizao, DO meto,].,eIX) caudilho (ateno com a.s maisculas), econverte-se num problema que d,/respeito a todos os que vem essa revoluo como necessria epossvel, eem ctij.!realizao todos so importantes.Asegunda refere-se ao objetivo e ao resultado dessa revoluo. No se trata d.iconquista do Poder ou da implantao (por vias pacficas ou violentas) de umnovo sistema social, mas de algo anterior a ambas. Trata-se de conseguir construir a ante-sala do mundo novo, um espao onde, com igualdade de direitos eobrigaes, as diferentes foras polticas "disputem entre si" oapoio da maioriada sociedade.A terceira trata das caractersticas no j da revoluo, mas de seu resultado. Oespao resultante, as novas relaes polticas, devero cumprir trs condies: .1democracia, a liberdade e a justia.

    . Em suma, no estamos propondo uma revoluo ortodoxa, mas algo muito mais| difcil: uma revoluo que torne possvel aRevoluo (Subcomandante Insurgente. Marcos, 1995).

    Sem nunca perder de vista que foi "adotado" inicialmente pelas comunidades como um grupo de autodefesa, o EZLN teve a viso para se colocar inserido nas relaes de poder ("somos parte do velho mundo", dizem)e, nessa medida, conceber-se como um ator limitado em seus alcances ena temporalidade de sua existncia. A riqueza da experincia zapatista est

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    I

  • Hrcf.monias f. emancipaes

    grupo de regies), o EZLN viu que, de forma natural, aqueles que no cumpriam com os trabalhos eram substitudos por outros. Embora aqui, comose tratava de uma organizao poltico-militar, o comando tomava a decisofinal. Com isto quero dizer que a estrutura militar do EZLN "contaminava'de alguma forma uma tradio de democracia e autogoverno. O EZLN era,pot assim dizer, um dos elementos "antidemocrticos" numa relao de democracia direta comunitria... (Subcomandante Insurgente Marcos, 2003:5a parte).

    Assim, aprogressiva independncia do EZLN com respeito s tarefas de governo busca tambm reduzir as influncias prejudiciais que derivam das relaesde poder no interior da prpria organizao armada, embora isto se realize deforma gradual: atualmente o ('omite Clandestino Revolucionrio Indgenadireo do EZLN, mamem ainda tuna prerrogativa de "vigilncia sobre as[tintas de Bom Governo. Por isso, a perspectiva colocada para o EZLN a

    I , autodissoluo: "Ns decidimos uni belo dia nos tornai soldados para que uni>) dia no sejam necessrios os soldados .

    Estabelecer-se a si mesmo como parte e apenas uma pane- da translormaco social o que explica a postura do L/.l N de no buscai < pode:, vo horizonte e o "mundo onde caibam muitos mundos . nao possvel queum nico ator -nem um pequeno nmero de atores- encarne o conjunto datransformas.io social. Os desenlaces trgicos das experincias revolucionriasaumentam a pertinncia A.i necessidade de que os "rebeldes' se mantenhamem seu papel de contrapeso do poder

    Aconstruo dos amogovei nos e as reiteradas tentativas para alcanaiuma itiiet locuo respeitosa e frutfera som os poderes federais desmentem as interpretaes superficiais que convertem a postura de nao tomaro poder em uma absurda negao do poder e de suas expresses estatais.Com eleito, a luta zapatista tem sido conseqente em manter uma total

    >? Durante a Marcha da Cor da Terra, em 2001, talvez o momento de maior protagonismo poliuso nacional da luta zapatista, oSubcomaiidanu- Insurgente Maros Imm i posio dos r.ap.H>f.i*enquanto rebeldes sociais: "Nos nos colocamos mais somo um rebelde que quer mudanas '> ivIsto, a definio de revolucionrio clssico no seaplicaa ns. No contexto onde surgimos, nascomunidades indgenas, no existia essa expectativa. Porque o sujeito coletivo tambm o noprocesso revolucionrio, e c ele que estipula aspautas... O revolucionrio tende a se converter emum poltico eo rebelde social no deixa de ser um rebelde social. No momento cm que Marcosou o zapatismo se converterem num projeto revolucionrio, isto , em algo que se torne um atorpoltico dentro daclasse poltica, o zapatismo ir fracassar como proposta alternativa... um revolucionrio se prope fundamentalmente a transformar as coisas a partir de cima, no de baixo,ao contrrio do rebelde social. O revolucionrio prope: Vamos fazer um movimento, tomo npoder c a partir de- cima transformo as coisas. Eo rebelde social, no. O rebelde social organizaas massas eapartir de baixo vai transformando, sem ter que se colocar aquesto da tomada dopoder" (Scherer, 2001).

    156

    Rai Ornelas

    independncia com respeito ao regime poltico mexicano, mas realizoudtversas tentativas para obter acordos que beneficiem as comunidades emresistncia. Longe de dar as costas para as realidades do poder, os zapatistas apoiaram uma candidatura presidencial (a de Cuahutmoc Crdenasem U;4), ade Um candidato agovernador sem partido (Amado Aven-dano, em .995), dialogaram com os representantes do Poder Executivo(especialmente em an Andts, em 1996) ecom oParlamento (2001)sempre mostrando disposio para alcanar acordos esadas pacficasguerra declarada em 1994. Tudo isso no impediu que aconstruo das- avance, nem implicou que o EZLN se integre ao sistemapoltico imperante. h

    Autonomia e bom governo

    Amultiplicao dos sujeitos da transformao social implica, por l-nmo, as relaes entre representantes ecomunidades, as instncias da,a,a,nV PP

  • 1IliCEMONIAS li EMANCIPAESNesse contexto, os representantes esto investidos de autoridade en

    quanto contam com uma deciso discutida e adotada diretamente porsuas comunidades". Esta autoridade tem como contrapesos a vigilncia) Ipermanente dos membros da comunidade, ano-remunerao eocarterj I revogavel do cargo.

    ,/ | A^ssim, o"mandar obedecendo" aresposta zapatista que busca superar| a profissionalizao da poltica, que, no demais repetir, desembocou risternaticamente na separao entre governantes e governados, e na perda desentido das formas de governo.

    Dez anos de resistncia cde construo de autogovernos significam uniacontribuio para aidia de que as hierarquias estatais nao so ani, anem ,melhor manetra de relacionamento na arena publica. As autonomias cnfrentaram com xito os obstculos que aguerra eacontra-insurgncia colocarampara aextenso eodesenvolvimento da luta zapatista. Embora as realizaesmatenais -e seus alcances- tenham sido modestas, oessencial desta experienaa autonmica que permitiu s comunidades resistir c fortaleceu-as emtodos os mbitos.

    Com relao aos atores polticos esoc.a.s do Mx.co. atualmente , lu, ,zapatista constitui um pomo de referncia muito importante. AexperinC,a autonmi ^ '-- centativas de desenvolve, uma nova cultura 0|tk ,mtroduz.iram elementos inovadores para as lutas sociais do pas 1'el-, ,-;'meua vez desde a Revoluo de 1910 configuram-se atores cuja perspe,va nao ganhar postos polticos, mas criar novas relaes sociais Domesmo modo, ochamado para construi, as autonomias em todo opas ,a formulao da autogesto como alternativa frente auma gesto estatalcompletamente ineficiente constituem avanos substanciais nos meios enas orientaes da mudana social. Na conjuntura atual, afora organizada do h/.LN e sua interlocuo com amplos setores socia.s so elementosque podem coadjuvar na construo de redes de resistncia e de aesunitrias com as foras que se mobilizam contra a"ltima onda de privatizaes . 1, nessa direo que parecem se encaminhar as estratgias lanadaspelos zapatistas em agosto de 2003.

    Amaneira como os zapatistas abordam o poder explica a amplitudedas sohdanedades que sua luta suscitou, as quais tm sido determinantespata resistir aquase dez anos de guerra contra si. Eigualmente importantee que as postutas zapatistas frente aos dilemas do podet impulsionaram o

    23 Talvez omelhor exemplo seja aDeclarao de Guerra contra ogoverno mexicano, discutida, adotada eassinada por dezenas de milhares de indgenas zapatistas, cuja concretizao foi aentrega docomando ao Comtre Clandestino Revolucionrio Indgena, encarregando-o da conduo da guerra.

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    R*l Ornelas

    sstzs^rr^7 iod -do ew- aeaum exrcito popula fo um fT ^^ ^^ ^a do levanre zapatta. Co tudo I .TT d ^^ mPac

  • Hegemonias e emancipaes

    Algumas perguntas sobre a autonomia

    As caractersticas da maneira zapatista de lutar nos colocam diante de umasrie de perguntas e de esboos de respostas. Para tetminar este trabalho,colocaremos quatro questes ligadas construo da autonomia.

    Em primeiro lugar, podemos perguntar sobre os cenrios possveis parao desenvolvimento da autonomia. Atualmente, este processo enfrenta novosdesafios. A partit do momento em que se constitui, junto com outras instncias da vida social, uma instncia de governo regional, as comunidades emresistncia entram numa dialtica complexa.

    Por um lado, produz-se um avano radicai enquanto o autogoverno continua .1111.nulo no sentido de dissolver as relaes de dominao que pesarams"bn as comunidades desde muito tempo atrs: tanto o caciquismo eo papeldos parados polticos como a sujeio econmica e a marginalizao socialretrocedem diante do impulso das autonomias. Assim, o controle e a autodeterminao sobre os aspectos essenciais da vida social, como o so a terra e.portanto, a alimentao, a sade, a educao ea cultura, ampliam e fortalecem:is capacidades da resistncia.

    1''' outro lado, dcseneadea-se um processo de institucionalizao quepode, sob cenas condies, levar ao fracasso a experincia autonmica, deten-do os processos de emancipao. Nisso desempenha um papel decisivo a poli-ma deconira-iusurgncia dos governos federal e local, c por certo a vigilnciae as presses pie os grandes poderes mundiais exercem contra as comunidadesem resistncia. As presses cotidianas de uma guerra declarada c que se trav.iem todos os terrenos pode lazer surgir tendncias autoritrias nos governosautnomos, que comeariam dessa maneira a se desligar da vigilncia das comunidades e a impor sua autoridade.

    Mas esta ameaa que nasce do enfrentamento direto com o poder no anica. Ao escalar os nveis de governo, cria-se a possibilidade das separaes.

    Seguindo o raciocnio zapatista, podemos dizer que as juntas provaroque so de "bom governo" nos fatos, enquanto os homens e as mulheres queparticipam da experincia autonmica (representantes e comunidades) foremcapazes de aplicar e desenvolver os mtodos que at agora tm permitido a resistncia. Do mesmo modo, ser na prpria experincia que a tutela do EZLNsobre as Juntas de Bom Governo tender a desaparecer ouase acentuar, fortalecendo ou desvirtuando essas instncias das autonomias.

    Igualmente importante earriscada a representao de "rgo de governo"que as juntas tm ftente s comunidades no-zapatistas com as quais dividemo tetrittio. Apartit deagora, haver um enfrentamento cotidiano no qual ospoderes locais e governamentais tentato confrontar as instncias autnomas

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    Raul Ornelas .

    de modo que estas "reprimam" membros dessas comunidades. Confrontaodiante da qual estaro aprova os mtodos consensuais eacapacidade de ,,-,st ncia emobdrzaco dos zapatistas. Oreconhecimento nas realizaes Ljuntas de Bom Governo por parte das comunidades no-zapatistas ser mu toimportante enquanto aConstituio no incorporar os direitos indgenasem especial, as autonomias24. "'g

  • Hegemonias e emancipaes

    so enormes no contexto das sociedades altamente estratificadas ondediviso do trabalho, as especializaes, as separaes ea individiialwJ-"vem ha sculos se produzindo e deixando sua marca sobre indivduocoletivos. i e

    Uma primeira questo que se pode avanar neste terreno ade reconheas dificuldades enfrentadas pela construo de espaos autnomos nas grandescidades. Tomando como referncia aexperincia zapatista, podemos dizer qessas dificuldades referem-se principalmente adois fatores: otipo de comunidades que existem nas cidades e, derivado disso, a"incapacidade" aparente drecuperar as bases imediatas da reproduo social.

    Como resultado caracterstico do capitalismo, grande parte dos agr,,pamentos nas cidades se constituem em torno de um sentido externo-em vez de serem oespao da livre determinao de seus integrantes estaspseudocomunidades respondem aos diferentes modos de organizao social capitalista, especialmente no que tange organizao da passividade Ioconsumismo, os espetculos) e s instituies sociais (comunidades .-,,miais, religiosas, educativas). Todas estas comunidades "ficr ias"-' u*)npartilham uma estrutura fortemente hterarquizada, onde os mecanismo,de deciso esto em umas poucas mos (geralmente alheias comunidadeem questo, como no caso dos espetculos) e onde o dilogo autnticoest ausente.

    Pensamos que aconstruo de comunidades entre os habitantes das ciei ides ter formas mltiplas: algumas nascero somente na presena de rupturas sociais (pensamos nos trabalhadores industriais), outras se,ao' produiod,uma maturao lenta em um meio desorganizado (por exemplo, os bairrosque no Mxico mantm uma forte unidade cultural, mas cujas expressesno terreno da luta social so poucas); tambm a busca de modos de vida alternativos dar lugar anovas comunidades (processo que podemos observarentre alguns grupos de jovens).

    Um aspecto essencial desta possibilidade merece ser destacado: as comi,nidades nas sociedades altamente estratificadas teto caractersticas diferentes

    26 Marx formula aidia das comunidades "fictcias" ou "ilusrias" como parte de sua crtica ao pensa-mento de Hegel: em textos como Asagrada famlia, Acritica filosofia do d,m,o de HegA eAUUo^i,alana, Marx argumenta que, como resultado da progressiva diviso do trabalho eda propriedade,produz-se uma separao crescente entre ointeresse comum eointeresse particular de cada indivduo,processo que mina as bases de existncia das comunidades. Eisso no s em termos da conrraposiodos interesses individuais, mas, em essncia, no rocante maneira como se relacionam os indivduo,com as potncias produtivas e com os resultados de sua arividade. As comunidades do capitalismosao ficrcias" enquanto aparecem como relaes entre coisas, entre indivduos despersonalizados. eenquanto so governados por foras alheias aos indivduos que as formam.

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    Rai. Ornelas

    das comunidades que agora sustentam as lutas sociais indgenas ecamponesas,em tomo de dois grandes eixos da atividade social.

    Em primeiro lugar, as solues para areproduo do indivduo edo coletivo devero passar por um refinamento dos modos de produzir ariqueza socaiAautomao, ouso de tecnologias que respeitem omeio ambiente, as mudanas nos padres de consumo eem particular nos padres alimentares, so trsexemplos das mudanas que hoje j se perfilam como bases de comunidadesurbanas, obviamente harmonizadas com aquelas que habitam ocampo

    Em segundo |ugar, aconstruo de comunidades nestes meios necessitada ruptura tios mecanismos da dominao ctpalisra sobre o mal chamadotemP" llVR' ' e ' "f1"^0 das Pecializacs d., esfera "poltica". Uma das

    contribuies mais importantes da experincia zapatista arecuperao do dialogo como elemento bsico da comunidade. Km espaos caracterizados pelomonoplio da comunicao (por parte dos tnetos) eda poltica (por parte doEstado), emdispensvel encontrar modos de comunicao transparente ecole-UVa- !enSamS *',!C Uma Parrc d-sso est transcorrendo mediante os encontrosnnediatos (os encontros Mpalistas, :ls assemblias de banro eas organizaesPiqueteiras sao exemplo disso) eatravs da cons.ruo de novos modelos decomunicao horizontal, no hierrquica.

    Nesta perspecriva, necessrio tambm reconhece, uma limitao central- ,expropnaao no meio urbano tem uma qua|idatk. ,n1IO J|fc.R.mc d |;) emque se baseiam os autogovernos zapatistas (existncia de um territrio que. porpequeno ou pobre que seja, assegura um mnimo de meios de satisfao que pode,,, se, atitoget-Klos). Nas cidades estamos desligados dos meios para satisfazernossas necessidades ned,atas: ser assalanados ou ter trabalhos precrios faz comque parea imprescindvel o recurso ao dinheiro. As experincias das fbricasocupadas edos circuitos de troca na Argentina oferecem esboos dos modoscomo podemos recuperar ocontrole sobre as bases de nossa existncia. Contudo, pensamos que aquesto de fundo continua de p, visto que estes modosde autogesro no so capazes (ainda) de substituir odinheiro eaproduo demercadorias como mecanismos de distribuio ede gerao da riqueza social".

    25'No obstante, importante considerar oexemplo das coletividades aragonesas durante anierraovil espanhola, que alcanaram importan.es desenvolvimentos no autogoverno de sociedad Z heZ^:P^'^ ReSPndCnd **"* d* P*^*Irnplanr au" soTolul C""" maS CmplcX15' Cams^Mr Pn"-- "Em nossa projeo libe triaccXT11"3 " a6mPar ' PPUla50 dS ba,rrS U d Cm colerivXes quantaconstderem convenientes, eque, vinculadas entre si pelos rgos de coordenao que constLn"Tmb eTde tet 'TZT** '^^ *H**"^~^assemWeu.s, de todos aqueles cdadaos comprometidos com aconstruo dessa sociedade libertria

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  • Iv !

    Hegemonias v. emancipaes

    Isso nos conduz aoutra diferena com respeito situao das comunidades zapatistas: nas cidades alcanou-se um nvel muito mais alto de acessoessa riqueza social, e, o que mais importante, sabemos que esse acesso estligado s relaes de poder (salarial, mas no s), de tal modo que uma prticaautonmica requer, seja uma ruptura frontal com essas relaes de poder (quecoloca em situao de vulnerabilidade diante do mercado, do Estado edoscapitalistas), seja uma enorme emuitas vezes insupervel quantidade de meSdiaes (que acabam quase sempre por afogar os esforos de autonomia e/ouque os faz degenerar em empresas capitalistas "eficientes"')28.

    Esta euma questo aberta sobre aqual opensamento critico ealuta socialdevero trabalha, arduamente para oferecer alternativas.

    Uma terceira questo refere-se aum exerccio comparativo com outras revolues ,amponesas do passado, linha que acreditamos ser fundamental patafazer avana, a reflexo sobre o mundo onde caibam muitos mundos. Aon,apenas evocaremos dois traos que nos parecem essenciais.

    Primeiro, como mencionamos, tanto oexrciro insurrecional da Ucrnia(entre 1918 e192]), como a.s milcias anarquistas durante aguerra civil esmboja (1932-D37) compartilham com oIfZLN oprojeto de autodissober-*?' de ,U" st a>nverrcr cm um novo poder que opr,,,,., opovo, eem separaiclaramente as tarefas da guerra das tarefas do autogoverno.

    Segundo, eeste eum indcio particularmente alentador, constatamos queos zapati.stas, ,e agora, conseguiram res,s,,r tentao "militarista" que desempenhou un, papel desastroso nas revolues camponesas do sculo XXEnraizados numa viso de muito longo prazo, os zapatistas mostram que oimportante no derrotar' o inimigo, mas construi, algo novo, para que aotermino da guerra a.s relaes entre os seres humanos tenham mudado Tanto"a Ucrnia, pela ao nefasta do Exrcito Vermelho, como na Espanha, emrazo dos desacordos entre as organizaes anarquistas edo seu papel centralna luta contra branco, os exrcitos camponeses acabaram por se converter emguerreiros e foram aniquilados ao serem privados de sua arma fundamental: ovinculo com os povos29.

    28 Ver Holloway (2003).

    29 Certamente trara-se de um processo de aprendizagem no qual os erros efracassos so quase tonumerosos quamo os acertos eos xitos. Oque se destaca que os zapatistas mostraram uma capacidade de mudar que no ecomum entre as organizaes sociais (e menos ainda entre as organizaespolitico-mihtares). ocaso da "polcia zapatista", que foi mobilizada para controlar aordem duranteum dos grandes encontros zapatistas. Ainiciativa causou mal-estar, em especial entre os jovens que participavam do encontro. Desde ento, esse corpo, identificado com uma das instituies mais odiadasdo sistema capitalista, no voltou a aparecer.

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    Rai. Ornrijss Existem outros temas, como o planejamento A,

    alianas eaevoluo de outras luta' S^^otS? I^ ^entre essas trs experincias revolucionrias parece pe.inem n"""^Tcomo uma linha de trabalho aberta. Poente, permanecendo

    Finalmente aconfigurao de cenrios de alternncia no governo do Mxico errou desafios at certo ponto alheios ao projeto zapatista1Znomias em todo opas. Diante das dificuldades para aXco d "^que superem acultura poltica do corporativismo"me ams p25^7de uma mobilizao popular em apoio auma mudana de que Ja aconteceu em 2000, quando Vicente Fox ganho, aprestdem . agora, depois das eleies parlamentares de ?0(H ocenrio o fode retorno do PR1 Presidncia. ' ' q ""^ ]

    Nessa perspectiva, a relao das autonomias com os poderes Io sobretudo com os poderes federais, pode voltar ase con^Z^,

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