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AVALIAÇÃO DA REFUSÃO DE AÇOS 1Cr-Mo-V FORJADOS PARA ROTORES DE TURBINAS A VAPOR Gabriella Cruz dos Santos Roza Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia de Materiais da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheira. Orientadores: Luiz Henrique de Almeida Bruno Reis Cardoso Rio de Janeiro Fevereiro de 2014

avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

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Page 1: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

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AVALIAÇÃO DA REFUSÃO DE AÇOS 1Cr-Mo-V FORJADOS

PARA ROTORES DE TURBINAS A VAPOR

Gabriella Cruz dos Santos Roza

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia de Materiais da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte

dos requisitos necessários à obtenção do título de

Engenheira.

Orientadores: Luiz Henrique de Almeida

Bruno Reis Cardoso

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2014

Page 2: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

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AVALIAÇÃO DA REFUSÃO DE AÇOS 1Cr-Mo-V FORJADOS PARA ROTORES

DE TUBINAS A VAPOR

Gabriella Cruz dos Santos Roza

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO

DE ENGENHARIA DE MATERIAIS DA ESCOLA POLITÉCNICA DA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS

REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE

ENGENHEIRA DE MATERIAIS.

Examinado por:

Prof. Luiz Henrique de Almeida, D.Sc.

Orientador

PEMM/ Escola Politécnica / UFRJ

Eng. Leonardo Sales Araujo, D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

FEVEREIRO de 2014

Prof. Enrique Mariano Castrodeza, D.Sc.

Eng. Bruno Reis Cardoso, M.Sc.

Co-Orientador

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Roza, Gabriella Cruz dos Santos

Avaliação da Refusão de Aços 1Cr-Mo-V Forjados para

Rotores de Turbinas a Vapor/ Gabriella Cruz dos Santos

Roza. – Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2013.

IX, 79 p.: il.; 29,7 cm.

Orientadores: Luiz Henrique de Almeida

Bruno Reis Cardoso

Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso

de Engenharia de Materiais, 2013.

Referências Bibliográficas: p. 77 - 79.

1. Aços 1Cr-Mo-V. 2. Rotores de turbina a vapor forjados.

3. Refusão a arco em vácuo. 4. Análise microestrutural

I. Almeida, Luiz Henrique. II. Universidade Federal do Rio

de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia de

Materiais. III. Avaliação da Refusão de Aços 1Cr-Mo-V

Forjados para Rotores de Turbinas a Vapor.

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Dedico aos meus pais Nilzete e

Reginaldo, minha irmã Dayane e meu

marido Marcus Vinícius.

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v

Agradecimentos

Primeiramente a Deus, pela minha vida e por tudo de bom que me foi dado.

Aos meus pais Nilzete e Reginaldo, por tudo o que me proporcionaram, o que

me permitiu alcançar meu objetivo e me tornar engenheira.

Ao meu marido Marcus Vinícius, pelo amor, compreensão e apoio em todos os

momentos que precisei. Seu suporte foi crucial para essa minha conquista.

Ao Professor Luiz Henrique de Almeida, não só pela orientação, mas acima de

tudo pela amizade e os ensinamentos diários nessa reta final do meu curso de

graduação.

Ao Bruno Reis Cardoso por toda atenção, disponibilidade e por dar todo o

suporte e orientação necessários para a realização desse projeto.

Ao Leonardo Sales Araujo pelos conselhos e apoio no desenvolvimento desse

trabalho.

A todo o corpo docente do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de

Materiais pela excelente formação que me proporcionou.

Ao CEPEL pelo suporte com todos os equipamentos necessários a realização do

trabalho durante o meu período de estágio.

A todos os colegas do CEPEL pelas diversas contribuições indispensáveis ao

trabalho, em especial à Roberta Martins Santana e Josélio Sena Buarque.

A todos os amigos da Metalmat, em especial Amanda Varela e Ananda Avila

por estarem comigo sempre me apoiando, me ajudando e participando ativamente

desses anos em que estive nessa jornada dentro da Universidade Federal do Rio de

Janeiro.

Por fim, a todos os familiares que direta ou indiretamente contribuíram para que

eu alcançasse mais essa vitória.

Gabriella

Page 6: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

vi

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte

dos requisitos necessários para obtenção do grau de Engenheira de Materiais.

AVALIAÇÃO DA REFUSÃO DE AÇOS 1Cr-Mo-V FORJADOS PARA ROTORES

DE TURBINAS A VAPOR

Gabriella Cruz dos Santos Roza

Fevereiro/2014

Orientadores: Luiz Henrique de Almeida

Bruno Reis Cardoso

Curso: Engenharia de Materiais

Os aços 1Cr-Mo-V forjados são largamente utilizados na fabricação de rotores

de turbinas a vapor, e o seu desempenho em condições de fluência vem sendo

melhorado pelo desenvolvimento de tecnologias de fabricação de peças forjadas de alta

pureza. Sendo assim os fatores metalúrgicos que afetam o comportamento em fluência

dessa classe de material vem sendo largamente estudados.

O objetivo deste projeto foi a avaliar as diferenças na microestrutura e nas

propriedades mecânicas a temperatura ambiente entre amostras de aço 1Cr-Mo-V que

foram fundidas em forno elétrico aberto e amostras que posteriormente foram

refundidas no forno a arco elétrico a vácuo (VAR). As duas amostras (refundida e não

refundida) passaram por forjamento a quente e tratamento térmico (dupla normalização

e revenido) em mesmas condições. Para a avaliação das diferenças, foram comparadas

as microestruturas nas duas condições e feita a análise das inclusões através de

microscopia ótica e microscopia eletrônica de varredura. Foram realizados também

ensaios de dureza e ensaios de tração a temperatura ambiente.

Os resultados mostraram que a refusão foi eficiente na redução do teor de alguns

elementos deletérios e na redução do tamanho e do número de inclusões, sulfetos de

manganês e silicatos de manganês; além de contribuir para uma distribuição mais

homogênea tanto das inclusões como da microestrutura bainítica apresentada. As

medidas de propriedades mecânicas a temperatura ambiente mostraram que não

houveram alterações significativas, indicando a necessidade da realização de ensaios de

fluência para obtenção de conclusões definitivas a este respeito, uma vez que o material

trabalha nessas condições.

Palavras-chave: Aço 1Cr-Mo-V forjado, Refusão à arco em vácuo (VAR), Análise

microestrutural

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Abstract of Undergraduate Project presented to POLI UFRJ as a partial fulfillment of

the requirements for degree of Engineer.

EVALUATION OF REMELTING IN 1Cr-Mo-V STEEL FORGINGS FOR STEAM

TURBINE ROTORS

Gabriella Cruz dos Santos Roza

February/2014

Advisor: Luiz Henrique de Almeida

Bruno Reis Cardoso

Course: Materials engineering

The 1Cr-Mo-V forging steels are widely used in the manufacture of steam

turbine rotors, and its performance under creep conditions has been improved by the

development of manufacturing technologies to achieve high purity forgings. Thus

metallurgical factors affecting the creep behavior of this class of materials have been

widely studied.

The objective of this project was to evaluate the differences in the microstructure

and mechanical properties at room temperature between 1Cr-Mo-V steel samples that

were melted in open electric furnace and samples that were subsequently remelted in

vacuum arc furnace (VAR). The two samples (remelted and not remelted) passed

through hot forging and heat treatments (double normalizing and tempering) in the same

conditions. For the evaluation of the differences, the microstructures were compared in

the two conditions the analysis of inclusions were made optical and scanning electron

microscopy. Additionally, hardness and tensile tests were conducted at room

temperature.

The results showed that the remelting is effective in reducing on the content of

some deleterious elements and reduce the size and number of inclusions, characterized

as manganese sulphides and manganese silicates; and contributed to a more

homogeneous distribution of both inclusions and the bainitic microstructure presented.

Measurements of mechanical properties at room temperature showed no significant

alterations, revealing the need of conduct creep tests in order to reach definitive

conclusions in this regard, since the material works in these conditions.

Keywords: 1Cr-Mo-V forging steels, Vacuum Arc Remelting (VAR), Microestructural

evaluation

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 1

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................... 3

2.1. Definição e funcionamento das turbinas a vapor ............................................... 3

2.1.1. O rotor e sua função.................................................................................... 3

2.2. Propriedades necessárias a um material para utilização na fabricação de rotores

forjados ....................................................................................................................... 5

2.2.1. O material ................................................................................................... 6

2.2.2. Microestrutura típica................................................................................... 7

2.2.3. Propriedades mecânicas .............................................................................. 8

2.3. Importância da refusão nas propriedades do aço 1Cr-Mo-V ........................... 12

2.3.1. Histórico ................................................................................................... 12

2.3.2. Refusão por arco elétrico em vácuo - Vacuum arc remelting (VAR) ...... 15

2.3.3. Influência dos elementos deletérios nas propriedades do aço 1Cr-Mo-V 18

2.4. Processo de obtenção do rotor ......................................................................... 19

2.4.1. Fundição ................................................................................................... 20

2.4.2. Forjamento ................................................................................................ 20

2.4.3. Tratamentos térmicos ............................................................................... 21

2.4.3.1. Efeito das condições de tratamento térmico na resistência à fluência

do aço 1Cr-Mo-V forjado ................................................................................... 22

2.4.3.2. Tratamento térmico preliminar.......................................................... 22

2.4.3.2.1. Normalização ................................................................................... 22

2.4.3.3. Tratamento térmico principal ............................................................ 25

2.4.3.3.1. Têmpera e revenido ......................................................................... 25

2.4.4. Usinagem .................................................................................................. 28

2.4.5. Testes metalúrgicos, mecânicos e análise não destrutiva (END) ............. 29

2.5. Comportamento do material em uso ................................................................ 29

Page 9: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

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2.5.1. Precipitação de fases durante o envelhecimento ...................................... 29

2.5.2. Fluência .................................................................................................... 33

2.5.2.1. Comportamento em fluência – Degradação das propriedades mecânicas

após longo tempo de operação ................................................................................ 36

2.5.3. Fragilização ao revenido ........................................................................... 38

3. MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................. 43

3.1. Material ............................................................................................................ 43

3.2. Fabricação dos eletrodos .................................................................................. 43

3.3. Refusão dos eletrodos no VAR-COPPE (COPPE/UFRJ) ............................... 44

3.4. Análise química ............................................................................................... 48

3.5. Preparação das amostras para metalografia ..................................................... 49

3.6. Microscopia ótica ............................................................................................. 51

3.7. Microscópio eletrônico de varredura (MEV) ................................................... 51

3.8. Ensaio de dureza .............................................................................................. 53

3.9. Ensaio de tração ............................................................................................... 54

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................................................... 56

4.1. Composição química ........................................................................................ 56

4.2. Caracterização microestrutural ........................................................................ 57

4.3. Análise das inclusões ....................................................................................... 58

4.3.1. Distribuição das inclusões ........................................................................ 58

4.3.2. Análise química das inclusões por EDS ................................................... 62

4.4. Dureza e microdureza ...................................................................................... 72

4.5. Ensaio de tração ............................................................................................... 73

5. CONCLUSÕES ..................................................................................................... 75

6. TRABALHOS FUTUROS .................................................................................... 76

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 77

Page 10: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

1

1. INTRODUÇÃO

Os aços 1Cr-Mo-V forjados vem sendo largamente utilizados para fabricação de

rotores de turbinas a vapor desde a década de 1950. A partir de então, vem sendo

desenvolvidas tecnologias para o uso destes aços na fabricação de turbinas de grande

porte. O desempenho dos rotores de turbina foi melhorado pelo desenvolvimento de

tecnologias de fabricação de peças forjadas de alta pureza.

As condições de produção e os ciclos de tratamentos térmicos são de crucial

importância para se estabelecer a excelência nas condições de operação e a máxima

resistência à fluência do aço, já que podem ocorrer importantes mudanças na

microestrutura nessas condições. Sendo assim, essas mudanças e os fatores que afetam o

comportamento do material em fluência vem sendo largamente estudados.

A condição ideal para a produção de tais aços está diretamente ligada ao

desenvolvimento tecnológico na etapa de fundição do aço. O desenvolvimento de fornos

a vácuo tornou possível a produção de aços de alta pureza, e a implantação do método de

fusão secundária garantiu melhor qualidade dos aços para rotor forjado com uma

homogeneidade química mais limpa e uniforme. Dentre esses métodos de refusão está a

refusão por arco elétrico em vácuo (VAR), a qual foi foco no presente trabalho, e que

possibilita produzir ligas compostas por elementos altamente reativos com o oxigênio e

reduzir elementos deletérios às propriedades.

O objetivo deste trabalho foi avaliar as diferenças na microestrutura e nas

propriedades mecânicas a temperatura ambiente entre amostras de aço 1Cr-Mo-V que

foram fundidos em forno elétrico aberto e que posteriormente foram refundidas no forno

a arco elétrico a vácuo da COPPE/UFRJ (VAR-COPPE), e amostras que também

passaram pelo mesmo processo de fundição em forno elétrico aberto mas que não

sofreram a refusão. As duas amostras, refundida e não refundida, foram forjadas a quente

em barras de perfil quadrado, e passaram pelas mesmas condições de tratamento térmico

de dupla normalização e revenido, condições estas que são as mesmas usadas na

fabricação dos rotores 1Cr-Mo-V forjados.

Os ensaios foram feitos com o objetivo de avaliar as consequências da refusão na

microestrutura e nas propriedades. Para esta avaliação, foram retiradas amostras das

peças, refundida e não refundida, já forjadas e tratadas termicamente. Essas amostras

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2

passaram por metalografia para observação, através de microscopia ótica, e comparação

da microestrutura nas duas condições. Além disso, foram realizadas análises das

inclusões nas amostras preparadas sem ataque químico, através de microscopia ótica,

microscopia eletrônica de varredura (MEV) e espectrometria de dispersão de raios-X

(Energy Dispersive Spectroscopy – EDS) para averiguar as diferenças entre a

distribuição, tamanho, quantidade e composição química das inclusões nas duas amostras.

Para informações a respeito das propriedades mecânicas a temperatura ambiente foram

realizados ensaios de dureza e microdureza Vickers, e ensaios de tração a temperatura

ambiente.

Os resultados mostraram que a refusão foi eficiente na redução do teor de alguns

elementos deletérios e na redução do tamanho e do número das inclusões de sulfeto de

manganês e silicato de manganês, passando de um nível de Severidade 2 para no

método D de classificação de inclusões da norma ASTM E45 [1]; além de contribuir para

uma distribuição mais homogênea tanto das inclusões como da microestrutura bainítica

apresentada. As medidas de propriedades mecânicas a temperatura ambiente não

mostraram alterações significativas, sendo assim, para avaliar de forma definitiva o ganho

de resistência do aço atribuída a refusão é necessária a realização de ensaios de fluência,

uma vez que o material trabalha nessas condições.

Page 12: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

3

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. Definição e funcionamento das turbinas a vapor

Uma turbina a vapor é um mecanismo rotativo que extrai energia térmica do fluxo

de vapor proveniente de um gerador de vapor, e o converte em trabalho útil. As turbinas

mais simples são constituídas por apenas um elemento móvel, a estrutura do rotor. A

turbina a vapor consome energia térmica do vapor d´água transformando-a em energia

mecânica, neste caso o fluido em movimento atua sobre as palhetas movendo-as e

impondo, desta forma, energia rotativa ao rotor. Quando um gerador é acoplado à turbina

a vapor, há a transformação da energia mecânica em energia elétrica. Sua eficiência pode

ser considerada boa quando comparada a outros tipos de turbinas, especialmente nas

turbinas de grandes capacidades acionadas por vapor de alta pressão [2].

Sua maior aplicação é no acionamento de bombas, compressores e geradores de

energia elétrica. Embora inventada e conhecida há alguns séculos, seu desenvolvimento e

aplicação de forma prática se deu principalmente a partir de meados do século 20 [2].

Os critérios de escolha do material empregado na fabricação dos componentes da

turbina dependem fortemente de diversos fatores, entre eles, as diferentes condições de

serviço (temperatura e pressão), sua dimensão, tipo de fabricação, esforços a que está

submetido o componente, além dos aspectos econômicos [2].

2.1.1. O rotor e sua função

Uma turbina a vapor é composta, basicamente de: estator (roda fixa), rotor (roda

móvel), expansor, palhetas, diafragmas, disco do rotor, tambor rotativo, coroa de

palhetas, aro de consolidação, labirinto, carcaças, mancais de apoio, mancais de escora,

válvulas, entre outros [2].

O Rotor (Figura 2.1) é o principal elemento da parte móvel da turbina. Ele gira em

torno do seu próprio eixo e é responsável por transmitir o torque ao acoplamento. No

rotor são fixadas as palhetas, responsáveis pela extração da potência mecânica do vapor

[2].

Page 13: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

4

Figura 2.1 – Desenho esquemático do rotor de alta e média pressão de

turbinas a vapor. Adaptado de [3].

Existem três tipos básicos de construção dos rotores de turbinas a vapor:

monobloco, soldado e montado por interferência (shrunk disk). A Figura 2.2 apresenta

desenhos esquemáticos para os três tipos.

(a)

(b)

(c)

Figura 2.2 – Desenhos esquemáticos das configurações de montagens de

rotores de turbinas a vapor: (a) monobloco; (b) soldado; (c) montado por

interferência (shrunk disk). Adaptado de [2].

Page 14: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

5

Os rotores de alta e média pressão costumam ser construídos de acordo com as

configurações monobloco ou soldado. É interessante lembrar que os rotores da

configuração monobloco costumam possuir um furo central (central bore). Esse furo

costuma ser feito para remoção de impurezas metalúrgicas provenientes do processo de

fabricação do componente. O acúmulo dessas impurezas numa mesma região favorece a

nucleação de trincas [2].

O rotor é geralmente fabricado com aços de baixa liga e alta pureza como, por

exemplo, o aço 1Cr-Mo-V que será alvo do estudo do presente trabalho. A produção

desses aços de alta pureza com exigências cada vez mais rigorosas foi alcançada a partir

do desenvolvimento tecnológico na etapa de obtenção do aço, utilizando-se fornos a

vácuo e adicionando-se o método de fusão secundária ao processo.

Os rotores de turbinas de alta e média pressão, que serão os tratados neste

trabalho, geralmente possuem a configuração monobloco que trata-se de uma peça única

fundida, forjada e tratada termicamente, obtendo-se assim a microestrutura ideal que irá

promover à peça a resistência necessária à utilização. O forjado deve ser cuidadosamente

balanceado e livre de imperfeições superficiais, que podem funcionar com concentradoras

de tensões, o que reduz a resistência à fadiga termomecânica [2].

2.2. Propriedades necessárias a um material para utilização na fabricação de

rotores forjados

Muitos avanços foram feitos no sentido de se produzir diferentes tipos de turbinas

com a máxima eficiência, como por exemplo, turbinas de alta pressão (AP), de média

pressão (MP) e turbinas que combinam altas e médias pressões (AP / MP). Estas turbinas

avançadas são desenvolvidas através da aplicação de determinadas tecnologias de

produção, mas os avanços tecnológicos recentes vêm sendo um grande diferencial no

aperfeiçoamento e no maior ganho de eficiência destes equipamentos. Um dos pontos

principais na produção de rotores de turbinas forjados de alto desempenho é o

aperfeiçoamento dos aços utilizados na fabricação destes componentes [4].

Page 15: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

6

A produção de aços de alta pureza com o mínimo de elementos residuais e livres

de inclusões é o principal fato que permitiu um importante ganho de propriedades como,

por exemplo, o aumento da vida em fluência desses aços [4].

De início, lingotes homogêneos com o mínimo de segregação, inclusões não-

metálicas e porosidades devem ser feitos com uma composição química homogênea

durante todo o processo de fundição. Após isto, o processo de forjamento se faz

necessário para consolidar as porosidades, eliminar a estrutura dendrítica de solidificação

e promover a formação de grãos equiaxiais através de recristalização dinâmica. Por fim

faz-se um tratamento térmico para eliminar as tensões residuais deixadas pelo forjamento

e para conferir as propriedades requeridas [4].

2.2.1. O material

O aço 1Cr-Mo-V – designação ASTM A 470/A 470M Grau D Classe 8 [5] – é um

típico aço baixa liga para rotor forjado de turbinas AP / MP de alta temperatura. A

presença de vanádio confere uma fina precipitação de carboneto de vanádio que promove

ao aço elevada resistência à fluência. O rotor feito do aço 1Cr-Mo-V é geralmente

utilizado em temperaturas de vapor de até 565°C. Embora a resistência à fluência do

material seja elevada, o aço 1Cr-Mo-V tem uma tenacidade à fratura relativamente baixa.

Houve muita pesquisa e discussões entre os construtores de turbinas para determinar o

equilíbrio ideal entre tenacidade, resistência à fluência e tratamentos térmicos no

desenvolvimento das propriedades requeridas [6].

A Tabela 2.1 prevê o requisito padrão de composição química do material

estabelecido pela norma ASTM A 470/A 470M Grau D Classe 8 [5].

Tabela 2.1 – Requisitos de composição química. Adaptado de [5].

Norma Designação Composição Química [% em peso]

C Si Mn P S Ni Cr Mo V

ASTM A470

Cl. 8

Máx 0,35 0,10 1,00 0,012 0,015 0,75 1,50 1,50 0,30

Min 0,25 - - - - - 1,05 1,00 0,20

Page 16: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

7

2.2.2. Microestrutura típica

A microestrutura observada nos aços 1Cr-Mo-V para rotores de turbinas a vapor

forjados é a bainita. Trata-se de uma mistura das fases ferrita e cementita (Fe3C), sendo

assim, depende da partição controlada por difusão entre essas duas fases, mas também

envolve forças cisalhantes análogas às que ocorrem nas transformações martensíticas. A

bainita é uma microestrutura metaestável que não esta prevista no diagrama Fe-C [7, 8,

9].

Uma microestrutura bainítica típica de um aço 1Cr-Mo-V de rotor forjado pode

ser observada na Figura 2.3.

Figura 2.3 – Micrografia de um aço 1Cr-Mo-V de rotor forjado, feita com

240x de aumento. Fonte: Laboratório de Metalografia do CEPEL.

Existem duas morfologias ou formas principais de bainita, isto é, a bainita

superior (ripas) formada em temperaturas mais altas (logo abaixo daquelas para a

formação da perlita), e a bainita inferior (placas) que se forma em temperaturas menores,

próximas as de transformação martensítica, como mostra a Figura 2.4. A bainita superior

é formada por finas agulhas de ferrita e pelas partículas de cementita que precipitam entre

os cristais de ferrita na austenita enriquecida pela rejeição de carbono. Já na bainita

inferior os cristais de cementita precipitam tanto entre as agulhas de ferrita quanto dentro

Page 17: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

8

delas, isso ocorre por que em temperaturas mais baixas a difusão do carbono é mais lenta,

por isso a cementita precipitada na bainita inferior é significativamente mais fina do que

aquela formada na bainita superior. Quanto mais baixa for a temperatura de formação da

bainita, mais fina é a dispersão de carbonetos e maior a dureza e resistência mecânica do

aço [7, 8].

Figura 2.4 – Parte do diagrama de transformação isotérmica para uma liga

Fe-C de composição eutetóide. Adaptado de [7].

2.2.3. Propriedades mecânicas

As tecnologias de fabricação de aços 1Cr-Mo-V forjados foram desenvolvidas

para rotores de turbinas de grande porte. O estabelecimento da maioria das condições de

produção e tratamentos adequados é essencial na obtenção de aços com excelentes

propriedades mecânicas como resistência a fluência, ductilidade e tenacidade [5, 10].

Page 18: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

9

A norma ASTM A470/A470M Classe 8 [5] prevê requisitos padrão ao material,

como propriedades de tração a temperatura ambiente e tenacidade. Esses requisitos estão

apresentados nas Tabelas 2.2 e 2.3 respectivamente.

Tabela 2.2 – Requisitos das propriedades de tração. Adaptado de [5].

Resistência a Tração

– Tensão máxima

[MPa]

Tensão Limite de

Escoamento [MPa]

Deformação

longitudinal [%]

Redução da área

radial [%]

725 – 860 585 17 38

Tabela 2.3 – Requisitos de tenacidade. Adaptado de [5].

Temperatura de Transição FATT50 [oC]

Energia de Impacto a temperatura ambiente

[J]

121 8

As informações quanto à vida em fluência do material não estão disponíveis em

normas, mas já foram bastante estudadas e podem ser encontradas na literatura. Alguns

desses dados encontrados em [10] estão apresentados na Figura 2.5:

Figura 2.5 – Dados de resistência à ruptura por fluência para aços 1Cr-

Mo-V forjados. Adaptado de [10].

Page 19: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

10

Os dados de ruptura por fluência da Figura 2.5 foram analisados utilizando-se o

método de parâmetro Manson-Haferd [10]. A curva mestre de ruptura é mostrada na

Figura 2.6.

Figura 2.6 – Curva Mestre de ruptura pelo método do parâmetro Manson-

Haferd para aços 1Cr-Mo-V forjados. Adaptado de [10].

A Figura 2.7 mostra esquematicamente a relação entre a resistência à ruptura por

fluência de 100.000 h e a tenacidade (FATT50 - Fracture Appearance Transition

Temperature) como uma função da microestrutura do aço 1Cr-Mo-V a partir do diagrama

TTT (Diagrama Transformação-Tempo-Temperatura). A resistência à ruptura por

fluência máxima deste tipo de aço é conseguido com uma estrutura de bainíta superior.

Page 20: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

11

Figura 2.7 – Resistência à ruptura por fluência e Tenacidade FATT para

aços 1Cr-Mo-V como função de microestruturas (martensita, bainita e

ferrita) obtidas pelo resfriamento a partir do campo austenítico

(esquemático). Adaptado de [4].

Page 21: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

12

2.3. Importância da refusão nas propriedades do aço 1Cr-Mo-V

2.3.1. Histórico

As exigências cada vez mais rigorosas e a crescente demanda de usinas a vapor

por rotores de turbina forjados com uma melhor solidez, maior ductilidade, tenacidade e

homogeneidade, levaram à melhoria dos processos de produção de aços resistentes ao

calor no século passado. A fusão convencional e processos de fundição apenas já não

eram mais suficientes. Isto levou a uma prática em que o material já fundido e refinado

passou a ser refundido a fim de se obter peças forjadas de alta pureza [11].

As Figuras 2.8 e 2.9 dão uma visão aproximada do desenvolvimento histórico dos

processos de produção de aços de rotores ao longo do século 20 e da redução no conteúdo

de fósforo e enxofre como os principais indicadores da eficácia desses processos

siderúrgicos [4, 12, 13].

Figura 2.8 – Desenvolvimento histórico dos processos de fusão dos aços

baixa liga e os conteúdos de P e S alcançados. Adaptado de [4].

Page 22: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

13

Figura 2.9 – Histórico da mudança do teor de P e S em aços para rotores

forjados BP. Adaptado de [4].

No início do século passado apenas o processo Thomas (processo Bessemer) e

processos de fornos abertos, que possuem altos teores de P e S estavam disponíveis.

Com o passar do tempo, materiais de turbina passaram a ser fundidos ao ar e

refinados em fornos de soleira abertos (open hearth furnaces - BOH), com isso a

absorção de hidrogênio no aço era um dos mais graves problemas do processo, uma vez

que o hidrogênio provoca defeitos tais como descamação, mas, apesar disso o processo

era muito rentável e tinha níveis muito baixos de P e S [4].

O problema da descamação foi resolvido com a instalação de equipamentos de

desgaseificação a vácuo como o tipo Bochumer-Verein introduzidos na década de 1950.

Através da utilização de equipamentos de vácuo, o BOH e o forno básico de arco elétrico

(electric-arc furnace - EAF), os quais tendem a absorver hidrogênio durante o refino, mas

são superiores na capacidade de refino, puderam ser usados, levando a uma melhoria nas

propriedades dos materiais [4, 14].

Page 23: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

14

A produção de aço por conversores LD (basic oxygen fournace - BOF) começou

em 1952. O conversor LD, que trabalha com uma quantidade elevada de ferro-gusa

(quase 70%), oferece uma maneira muito econômica para a produção de aços limpos com

menores conteúdos de P, S e outros elementos deletérios, como As, Sb e Sn. Outra

melhoria no tratamento a vácuo foi criada em 1961 com a adoção do processo de carbo-

desoxidação a vácuo (vacuum carbon deoxidisation - VCD). A tecnologia do VCD tem

sido aplicada com sucesso para materiais de turbinas a vapor. O VCD permite a remoção

de oxigênio por meio de reação com o carbono formando CO que é, em seguida,

removido da corrente de vazamento através do sistema de vácuo. Isto proporcionou aços

mais limpos do que a prática anterior em que o oxigênio era reagido com desoxidantes

sólidos (Si, Al) que resultaram inclusões indesejáveis de silicato e de óxido de alumínio

[4].

A melhor qualidade dos aços para rotor forjado com uma homogeneidade química

mais limpa e uniforme foi conseguida após o emprego dos métodos de refusão

secundária: a refusão por eletroescória (ESR) no meio da década de 1960 e a refusão por

arco elétrico a vácuo (VAR), no final da década de 1960. Uma das vantagens do processo

ESR é a obtenção do baixo teor de S (cerca de 0,002%). A fusão por indução em vácuo

(vacuum induction melting - VIM), assim como o VAR, também fornece conteúdo muito

baixos de gás, mas o risco de retrações no lingote exige uma refusão (ESR ou VAR) após

o processo de VIM, além disso, o uso do VIM para a produção de rotor forjado é

incomum [4].

No meio da década de 1970, com o aumento da capacidade das usinas, rotores de

turbina forjados maiores eram necessários e novas tecnologias de produção foram

desenvolvidas. Um método de vazamento usando vários fornos foi desenvolvido como

uma nova tecnologia de fundição para forjados tão grandes. Os fornos de panela (ladle

refining furnace – LRF) submeteram, posteriormente, o forno elétrico a arco apenas ao

papel de fusão. Os LRF foram instalados para manter o aço derretido após o refino no

forno elétrico. Com o desenvolvimento dos LRF, diversas combinações de aquecimento,

degaseificação, dessulfuração, e métodos de o controle de inclusão são possíveis, a fim de

proporcionar a fabricação de grandes forjados com alta qualidade [15, 13]. Esta

metalurgia de panela permite conteúdos de P e S na gama de 0,002%.

Page 24: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

15

Por outro lado, fornos de refusão por eletroescória (electic slag remelting - ESR)

assim como de refusão a arco elétrico em vácuo (vacuum arc remelting - VAR) ainda são

utilizados para o refino e fundição de aços de alta qualidade, Figura 2.10. A capacidade

foi ampliada para atender às demandas de fundição de grandes turbinas de alta

temperatura feitas de aços de baixa e alta liga [4].

Através do desenvolvimento destas facilidades e tecnologias de produção, são

fabricados rotores forjados de alto desempenho e alta confiabilidade.

Figura 2.10 – Equipamentos para processo de (a) ESR e (b) VAR.

Adaptado de [4].

2.3.2. Refusão por arco elétrico em vácuo - Vacuum arc remelting (VAR)

Os três processos de refusão mais usuais na metalurgia moderna são a refusão em

forno a arco elétrico em vácuo (VAR), a refusão por feixe de elétrons (fornos EB) e o

refino pelo processo de refusão por eletroescória (ESR). Estes processos não só permitem

que a composição química requerida do material seja alcançada, mas também

influenciam efetivamente a sua microestrutura primária [11].

O VAR tem como objetivo produzir um lingote com estrutura controlada,

direcional, obtendo assim uma macroestrutura caracterizada por um grau

extraordinariamente elevado de homogeneidade, uma alta densidade, e a ausência de

Page 25: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

16

segregações e de inclusões com cavidades causadas por contração [11]. No processo de

VAR, o resfriamento do aço fundido ocorre a uma taxa elevada para uma dada dimensão

do molde o que resulta em uma estrutura de solidificação superior e com menos

segregação quando comparado a outros processos como o de ESR, por exemplo [4].

No VAR a refusão do eletrodo é feita pela aplicação de um arco elétrico de

corrente continua, onde o eletrodo atua como catodo e a poça de fusão é o anodo. A

energia térmica cedida pelo arco funde a ponta do eletrodo e o lingote é progressivamente

formado na base de um cadinho de cobre arrefecido à água. Enquanto a água retira o

calor das paredes do cadinho também interfere no resfriamento da região fundida

adjacente e a solidificação ocorre no sentido do interior do material. A contração criada

pela solidificação do lingote produz um espaçamento entre a superfície do eletrodo e as

paredes do cadinho, reduzindo a condução de calor. Para solucionar esta questão, gás

inerte (usualmente, hélio) pode ser introduzido no espaço formado a fim de manter alta

troca térmica.

O design externo do forno VAR manteve-se relativamente constante ao longo dos

anos, no entanto, foram feitos progressos consideráveis no monitoramento do processo e

do controle, levando à possibilidade de automação completa. Este, por sua vez, teve uma

influência decisiva sobre os resultados metalúrgicos obtidos. A Figura 2.11 mostra o

desenho esquemático de um forno VAR moderno [11].

Page 26: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

17

Figura 2.11 – Esquema de um forno VAR moderno. Adaptado de [16].

O emprego do vácuo resulta na remoção por evaporação de elementos residuais

com uma pressão de vapor elevada, tais como o Pb, Sn, Bi, Te, As e Cu, como

normalmente é necessário, mas também pode haver perda de elementos de liga como Mn,

Cr, etc. As investigações sobre o comportamento dos arcos foram realizadas a pressões

entre 1000 e 5x10-4

mbar. Verificou-se então que pressões abaixo de 2x10-2

mbar são

particularmente adequadas para as aplicações industriais. A refusão é então feita

normalmente a pressões de entre 10-2

e 10-3

mbar [11].

Algumas das principais vantagens de um processo que envolve a refusão de um

eletrodo consumível sob vácuo são: a remoção de gases dissolvidos tal como hidrogênio e

nitrogênio; a redução no conteúdo de elementos deletérios com elevada pressão de vapor;

a redução dos óxidos indesejáveis; e a obtenção de uma estrutura de solidificação

Page 27: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

18

direcional a partir da base até o topo do lingote, permitindo a redução das macro e micro

segregações. Além disso, a remoção das inclusões óxidas do metal é muito eficiente.

Óxidos e nitretos menos estáveis termicamente são dissociados ou reagidos com o

carbono presente, e, em seguida, removidos por meio de fase gasosa. No entanto, as

inclusões óxidas em ligas resistentes a altas temperaturas são predominantemente muito

estáveis (Al2O3, TiCN, espinelas), sendo assim, a remoção dessas impurezas não

metálicas é feita principalmente por flotação. As demais inclusões que permanecem

mesmo depois do lingote refundido, por sua vez, são extremamente finas e muito bem

distribuídas [11].

Os principais parâmetros de fusão são a corrente de fusão, a velocidade de fusão,

a posição do eletrodo, espaçamento do arco, diâmetros do eletrodo e do lingote e a

pressão da atmosfera do forno. O computador determina a taxa de alimentação média da

fusão, juntamente com a tensão adequada [11].

Um modo de operação do arco estável é particularmente importante para a

qualidade do lingote refundido, assim como para a vida em serviço do cadinho e do

molde. Sendo assim, conforme o eletrodo é consumido, o braço de deslocamento onde

está fixado movimenta-se na direção da poça de fusão, de forma a manter o espaçamento

de arco constante [11].

A produção de lingotes homogêneos e praticamente livre de inclusões requer uma

coordenação cuidadosa dos parâmetros de refusão, sendo a intensidade da corrente de

fusão o fator com uma influência particularmente decisiva sobre a geometria da poça de

fusão e as condições de solidificação [11].

2.3.3. Influência dos elementos deletérios nas propriedades do aço 1Cr-Mo-V

A resistência a fluência do aço 1Cr-Mo-V é fortemente afetada por elementos de

impurezas, tais como P , S , Mn, Sn, As, Sb, Mg e assim por diante. A redução da

resistência a fluência em longo prazo é causada pela formação de vazios devido o

coalescimento dos carbonetos nos contornos de grão e, posteriormente, o coalescimento

desses vazios e a formação de trincas, além disso, as inclusões encontradas nesses aços

não são estáveis a altas temperaturas e coalescem facilmente favorecendo também a

Page 28: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

19

formação desses vazios, causando a complexa degradação das propriedades. Além disso,

há também o efeito da fragilização ao revenido durante o uso do componente causada

pela segregação desses elementos [10].

Para solucionar este problema se faz necessária e indispensável a prática da

refusão à vácuo, como já foi descrito detalhadamente.

2.4. Processo de obtenção do rotor

A fabricação de rotores forjados para turbinas a vapor é bem conhecida. A

primeira etapa é a fundição para obtenção das especificações requeridas ao aço, a

segunda etapa é o forjamento a quente para dar forma ao rotor. Posteriormente, são feitos

os tratamentos térmicos seguidos de usinagem e acabamento e, finalmente, os ensaios de

avaliação da integridade estrutural e mecânica da peça.

O processo de fabricação do rotor pode ser visto na Figura 2.12.

Figura 2.12 – Processo de produção típica para grandes rotores de turbina

a vapor. Adaptado de [4].

Page 29: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

20

2.4.1. Fundição

Após o processo de fundição e refino convencionais, o aço fundido é lançado por

cima em um molde com formato do lingote, ou um molde feito de ferro fundido é

preenchido por tubos refratários pela parte inferior até que ele se encha completamente.

No caso de lingotes para fabricação de grandes rotores de turbinas a vapor forjadas, o aço

fundido é derramado de cima em um grande tanque (molde) a vácuo. Durante o

vazamento se procede uma redução adicional dos elementos gasosos no tanque a vácuo

[4].

Após a fusão em EAF e refino em LRF os lingotes passam por uma refusão que

pode ser feita por diferentes métodos, entre eles o ESR e o VAR. No presente trabalho o

método utilizado nesta refusão foi o VAR, o qual já foi descrito detalhadamente. O

processo de refusão é feito com o objetivo de se obter um maior refino do aço

aumentando assim sua qualidade já que este processo reduz consideravelmente a presença

de elementos residuais e inclusões.

No caso do VAR, o aço refundido é novamente solidificado em forma de lingotes

num cadinho arrefecido a água, como já foi mencionado.

2.4.2. Forjamento

O Forjamento é um processo de conformação mecânica, ou seja, mediante

aplicação de esforços mecânicos altera-se plasticamente a forma dos materiais por

martelamento em que se aplicam golpes de impacto rápidos sobre a superfície do metal,

ou aplicação gradativa de uma pressão submetendo o metal a uma força compressiva

aplicada relativamente de uma forma lenta. De todos os processos de fabricação, a

conformação mecânica tem um papel fundamental porque produz peças com excelentes

propriedades mecânicas e com mínima perda do material, oferecendo assim um menor

custo de fabricação [17, 18].

O processo de forjamento pode ser classificado quanto a temperatura de trabalho,

ou seja, o material a ser conformado é ou não previamente aquecido a uma determinada

temperatura (forjamento a quente ou a frio). Além disso, o processo de forjamento

Page 30: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

21

subdivide-se também em duas categorias: forjamento livre, ou em matriz aberta, e

forjamento em matriz fechada, conhecido apenas como forjamento em matriz [17].

Nos rotores o maior objetivo do estágio inicial do forjamento é a consolidação das

porosidades formadas durante o processo de solidificação e a homogeinização do

material. Em seguida o material é forjado para dar forma ao produto. Processos de

forjamento específicos vêm sendo desenvolvidos e aplicados para a otimização dos

efeitos do forjamento.

Geralmente, o processo de forjamento dos rotores consiste em várias etapas. A

temperatura de aquecimento ótima para cada etapa do trabalho a quente é determinada

considerando o comportamento da recristalização dinâmica do material, a sua resistência

ao trabalho a quente, o comportamento de crescimento dos grãos, o efeito de difusão das

heterogeneidades, tais como segregação, e assim por diante. Antes da operação de

forjamento, em geral, as extremidades do lingote são descartadas para remover a parte

que contém as grandes segregações e inclusões não metálicas. Na fase inicial do processo

de forjamento, é executado o recalque a quente. O recalque de um tarugo cilíndrico entre

duas matrizes planas é a operação mais simples do forjamento livre. A altura do lingote é

reduzida pelo recalque a quente e o diâmetro é reforçado para melhorar a

homogeneidade. Matrizes e grau de trabalho a quente são cuidadosamente projetados

para obtenção do maior efeito de forjamento. O nível de desempenho do forjamento que é

conseguido é definido pela obtenção de uma microestrutura fina e uniforme [4, 18].

2.4.3. Tratamentos térmicos

O tratamento térmico tem como principal objetivo o desenvolvimento das

propriedades mecânicas alvo, tais como a resistência, tenacidade e resistência à fluência,

pois permite a formação de uma microestrutura com uma boa estabilidade térmica. O

processo global de tratamento térmico envolve várias etapas de aquecimento e depende

em grande parte da especificação do material. A diferença na velocidade de aquecimento,

na taxa de resfriamento e tempo de retenção a partir da superfície para o centro do grande

diâmetro do forjado têm de ser consideradas a fim de alcançar as propriedades desejadas.

Page 31: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

22

O tratamento térmico de rotores de turbina forjados é constituído por um

tratamento térmico preliminar que é realizado logo após o forjamento, e um tratamento

térmico principal (quality heat treatment) que é realizado posteriormente. Um tratamento

térmico de alívio de tensões também é realizado após o tratamento térmico principal [4].

2.4.3.1. Efeito das condições de tratamento térmico na resistência à fluência do aço

1Cr-Mo-V forjado

A resistência à fluência é a propriedade mais importante para os rotores de

turbina, a tenacidade e resistência à fadiga termomecânica também são de grande

relevância. É importante que essas propriedades sejam mantidas durante a vida útil do

rotor, e a condição de tratamento térmico é um dos tópicos que devem ser observados a

fim de se obter as propriedades mais adequadas. Têmpera em água e revenimento foram

inicialmente utilizados como tratamento térmico de peças forjadas de rotor, e a

normalização foi introduzida mais tarde. Uma alta resistência era facilmente obtida por

têmpera em água, mas esta propiciava trincas de têmpera. Por outro lado, esta elevada

resistência não podia ser obtida por resfriamento ao ar. Por isso, o método de tratamento

térmico usando spray de água foi desenvolvido, e tornou-se possível controlar qualquer

condição de resfriamento entre a têmpera a água e o resfriamento ao ar. O rotor de turbina

é usualmente fabricado utilizando este método [10].

2.4.3.2. Tratamento térmico preliminar

2.4.3.2.1. Normalização

O forjamento de barras para formas complexas é realizado a altas temperaturas

chegando ao campo de fase austenítica. A essas temperaturas o crescimento do grão é

acelerado produzindo como resultado grãos austeníticos grosseiros. Além disso, a

quantidade de deformação imposta durante a forja de peças complexas é variável em cada

região da peça, e consequentemente o tamanho de grão austenítico também irá variar

Page 32: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

23

consideravelmente para cada região. No resfriamento após o processo de forjamento, a

austenita se transforma resultando em microestruturas grosseiras de ferrita e perlita [7].

Após o processo de forjamento, o tratamento térmico preliminar é realizado

visando o relaxamento das tensões introduzidas pelo trabalho a quente e o refino dos

grãos grosseiros formados durante o processo de forjamento. Uma vez que, geralmente, é

difícil desenvolver uma estrutura de grãos pequenos em grandes peças forjadas através de

recristalização dinâmica por trabalho a quente, o tratamento térmico preliminar é

importante no desenvolvimento de uma microestrutura de grãos finos. Um tratamento

térmico típico que tem como objetivo refinar grãos grosseiros é o tratamento de

normalização [4].

No processo de normalização, o material é resfriado ao final do forjamento para

desenvolver a microestrutura ferrítica e, em seguida, é aquecido novamente [4]. O

aquecimento do aço é feito até temperaturas um pouco acima de Ac3 para aços

hipoeutetóides e acima de Acm para hipereutetóides [7]. A Figura 2.13 mostra a faixa de

temperatura utilizada na normalização. Quando a superfície do forjado atinge a

temperatura de austenitização, o material é mantido nesta temperatura por tempo

suficiente para que a temperatura no centro do forjado também atinja a temperatura de

austenitização [4]. Durante o aquecimento, ocorre a nucleação uniforme de novos grãos

de austenita refinando a microestrutura grosseira deixada após o forjamento. O

aquecimento é seguido de resfriamento ao ar [7].

Page 33: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

24

Figura 2.13 – Parte do Diagrama Fe-C com as faixas de temperatura para

os tratamentos térmicos de recozimento e normalização. Adaptado de [7].

As temperaturas usuais do processo de normalização são mantidas abaixo

daquelas que promovem o crescimento de grão, sendo assim os grãos de austenita

permanecem finos, transformando-se em microestruturas ferrítico-perlíticas refinadas e

uniformes durante o resfriamento ao ar. As estruturas normalizadas resultantes facilitam

tratamentos térmicos subsequentes como a esferoidização ou um tratamento final de

endurecimento [7].

O comportamento de refino do grão durante a transformação austenitica pode ser

afetado pela taxa de aquecimento. Taxas de aquecimento mais elevadas tendem a

desenvolver grãos austeníticos mais finos. No entanto, para os grandes forjados, a taxa de

aquecimento que é alcançável no centro é pequena. Daí a importância de perceber que o

resfriamento ao ar produz uma faixa de taxas de resfriamento dependendo do tamanho da

seção da peça. Diâmetros espessos resfriam ao ar a taxas muito menores devido ao maior

tempo necessário para conduzir o calor de regiões no interior da peça para a superfície,

dessa forma, em sessões muito espessas a superfície pode ser resfriada a taxas muito

Page 34: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

25

maiores que no interior, de forma que a expansão volumétrica que acompanha a

transformação da austenita acontece primeiramente na superfície e só em seguida no

núcleo, tendo-se como resultado a introdução de tensões residuais trativas na superfície

do componente. Por isso, para peças forjadas onde há dificuldade no refino do grão,

dependendo da designação do material e das dimensões do forjado, o tratamento térmico

de normalização é repetido, reduzindo os grãos a cada tratamento [4, 7].

A Figura 2.14 mostra um desenho esquemático do ciclo de tratamento térmico de

normalização e revenido.

Figura 2.14 – Ciclo de aquecimento típico para tratamento térmico após o

forjamento. Normalização (T1) e revenido (T2). Adaptado de [4].

2.4.3.3. Tratamento térmico principal

2.4.3.3.1. Têmpera e revenido

No caso de materiais de rotores forjados, as propriedades desejadas são obtidas

através de tratamento térmico de têmpera, seguido de um tratamento térmico de revenido.

A têmpera é o tratamento térmico onde o material é resfriado a partir da temperatura de

austenitização (que é normalmente selecionada a uma temperatura que dissolve os

carbonetos nos aços) obtendo ao final a microestrutura desejada que garante as

propriedades apetecidas do material, tais como a resistência mecânica, dureza, tenacidade

e resisência a fluência. A microestrutura final obtida é função da temperatura de

austenitização, da composição química do aço (elementos de liga presentes) e da taxa de

resfriamento em que a têmpera é realizada. Um cuidado que deve ser tomado no

tratamento da têmpera é evitar o exagerado crescimento dos grãos durante a

Page 35: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

26

austenitização (aquecimento), pois grãos austeniticos grosseiros darão origem a grãos

grosseiros na microestrutura final após a têmpera [4].

A fim de garantir alta resistência e tenacidade ao rotor forjado são preferíveis

microestruturas transformadas a baixas temperaturas como martensita e bainita. A

formação de ferrita e perlita, portanto, deve ser evitada, a fim de desenvolver uma boa

tenacidade e resistência a fluência. Em grandes peças forjadas, a taxa de resfriamento no

interior da peça é significativamente mais lenta do que a da região de superfície, sendo

assim a atenção deve ser focada no desenvolvimento da microestrutura desejada

principalmente no centro da peça. A microestrutura de uma grande estrutura forjada após

têmpera pode ser estimada através do Diagrama de Resfriamento Contínuo (Diagrama

CCT) que corresponde à taxa de resfriamento durante a têmpera, em cada porção do

forjado. A Figura 2.15 mostra exemplos de diagramas CCT de têmpera para um aço 1Cr-

Mo-V [4].

Figura 2.15 – Exemplos de Diagrama de Resfriamento Contínuo (CCT)

para aços 1Cr-Mo-V austenitizados a 970oC. Adaptado de [4].

Como ja foi mencionado anteriormente a têmpera por aspersão de água é o

método geralmente aplicados a fim de conseguir a taxa de resfriamento suficiente para

desenvolver uma microestrutura bainítica, ao longo de todo o volume de peças com

Page 36: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

27

grandes diâmetros. Um efeito de resfriamento mais suave pode ser obtido por imersão em

um meio oleoso. Têmpera a óleo reduz o risco trincas, mas também pode reduzir a

resistência final obtida [19].

Logo após a têmpera, é realizado o tratamento térmico subcrítico conhecido como

revenido ou revenimento. O revenido tem como maior objetivo reduzir a fragilidade e

aumentar a tenacidade. O tratamento é realizado aquecendo-se o material abaixo da

temperatura de início da transformação austenítica, mantendo-o a esta temperatura

(abaixo de Ac1) durante tempo determinado e então resfriando-o ao ar. As propriedades

são controladas pela temperatura e tempo de revenimento. Temperaturas mais altas e

tempos mais longos geralmente reduzem a resistência e aumentam a tenacidade. Na

verdade, o balanço de propriedades (resistência/dureza e tenacidade) exigida em serviço é

o que determina as condições ideais de revenimento para uma dada aplicação. No caso

dos rotores, a temperatura e tempo ideais de revenido são aqueles que permitem a

precipitação fina e uniforme dos carbonetos que agregam resistência à fluência a peça [7,

20].

A fim de alcançar uma maior uniformidade na microestrutura a partir do melhor

efeito de tratamento térmico nos rotores forjados, o tratamento é geralmente realizado em

um forno vertical, com a peça em rotação. A Figura 2.16 apresenta um rotor forjado

aquecido em forno vertical [4].

Page 37: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

28

Figura 2.16 – Rotor forjado tratado termicamente em forno vertical.

Adaptado de [4].

2.4.4. Usinagem

A usinagem é realizada em várias fases da produção do eixo de rotor forjado.

Após o tratamento térmico prévio, geralmente, é feita uma usinagem para garantir uma

superfície lisa para o exame de ultrassom. A superfície lisa, também contribui para um

aquecimento homogêneo durante o tratamento térmico principal. Carepas de óxidos

formadas durante a operação de forjamento, defeitos de superfície e a superfície

descarbonetada são removidos na usinagem [4].

Após o tratamento térmico principal, são realizadas usinagens de acabamento.

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29

2.4.5. Testes metalúrgicos, mecânicos e análise não destrutiva (END)

Após o tratamento térmico, as amostras são submetidas a ensaios mecânicos e

metalúrgicos. As amostras são tipicamente várias porções tomadas a partir da superfície e

das duas extremidades da peça. Estes testes também são realizados no centro das peças

forjadas quando elas possuem um furo central. Os testes metalúrgicos e mecânicos

listados a seguir são os mais típicamente utilizados, mas não são necessariamente

realizados todos eles nas peças forjadas do rotor. Cada teste é realizado de acordo com

normas como ISO, ASTM, DIN, JIS, e assim por diante [21].

Análise química

Macroestrutura e impressão de Baumann

Microscopia (MO e MEV)

Ensaio de dureza

Ensaios de tração (em temperatura ambiente e temperatura elevada)

Teste de impacto Charpy

Ensaio de fluência

Ensaios de fadiga de baixo ciclo e de alto ciclo

Ensaios de medição da tenacidade à fratura

A fim de garantir a qualidade do forjamento também são realizados Ensaios Não

Destrutivos (END). Análises de superfície incluem o exame visual, teste de líquido

penetrante e de partículas magnéticas. Os testes de ultrassom são realizados como uma

análise volumétrica para detectar defeitos na peça. A fim de ter uma boa deteção dos

defeitos, como já foi mencionado, uma microestrutura fina e homogênea de grãos deve

ser formada, de modo a reduzir o nível de ruído e facilitar a deteção de pequenos defeitos

[21].

2.5. Comportamento do material em uso

2.5.1. Precipitação de fases durante o envelhecimento

Aços baixa liga 1Cr-Mo-V com uma microestrutura bainítica têm sido

amplamente utilizados em centrais de produção de energia a vapor, com uma temperatura

Page 39: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

30

máxima de serviço de 525°C a cerca de 565°C. O uso generalizado deste aço é atribuído

principalmente a uma boa combinação de resistência e ductilidade em temperaturas

elevadas, que é resultado de um cuidadoso equilíbrio de elementos de liga e

microestrutura [23]. Daí a necessidade de se obter a melhor compreensão da

microestrutura destas ligas, e o entendimento das alterações nas propriedades mecânicas.

Além disso, estudo e caracterização da precipitação fornecem informações para a

avaliação da vida remanescente do material. A precipitação em aços 1Cr-Mo-V utilizados

em rotores é função da estrutura cristalina, da composição, do comportamento de

nucleação e da morfologia [20].

A presença de quatro principais elementos metálicos na liga (ferro, cromo,

molibdênio e vanádio) leva a uma química bastante complexa dos carbonetos, com até

seis tipos diferentes de carbonetos possíveis, cada um com uma gama de solubilidade

para os principais elementos constitutivos. Estes podem incluir MC (M4C3), M2C, M3C,

M6C, M7C3 e M23C6. O principal carboneto na peça no início da fabricação é M3C, rico

em ferro, mas com o tempo e temperatura, a população de carbonetos desloca-se para as

espécies mais termodinamicamente favoráveis, com a estabilidade dos carbonetos

formados, a partir de vários elementos, seguindo a sequência: V > Mo > Cr > Fe [24].

Nos aços resistentes a altas temperaturas os carbonetos que são precipitados

através de tratamentos térmicos são os que conferem resistência à fluência, pois

dificultam a movimentação das discordâncias e tem estabilidade térmica. Geralmente

existe um tratamento térmico e um processamento mecânico crítico para que seja atingida

a resistência ótima a alta temperatura, isto porque a maior resistência é obtida com as

partículas mais finas, as quais são mais estáveis. O crescimento do precipitado é

minimizado utilizando-se uma fase dispersa que seja praticamente insolúvel na matriz, de

forma a tornar lenta uma nova dissolução das partículas finas e o crescimento de

precipitados mais grosseiros [22].

Os grandes carbonetos formados durante o revenido são M3C, MC (M4C3) e, em

tempos mais longos de revenimento o M23C6 e M6C, o M2C e M7C3 também podem estar

presentes em pequenas quantidades. A proporção de cada carboneto precipitado varia

com o tempo e a temperatura de revenido. O revenido por tempo prolongado produz uma

redução na fração de volume de carboneto entre ripas e o coalescimento de carbonetos

nos contornos. A Figura 2.17 mostra as alterações na fração de peso de carbonetos

Page 40: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

31

associadas com um revenido do aço 1Cr-Mo-V, em 704°C, após têmpera a partir de

953°C. Os precipitados, que podem estar presentes neste tipo de materiais são discutidos

em detalhe abaixo [20].

Figura 2.17 – Efeito do revenido prolongado a 704oC em aços 1Cr-Mo-V.

Adaptado de [20].

M3C: Em aços de baixa liga é essencialmente Fe3C, no qual molibdênio, cromo e

manganês podem se dissolver. Possui uma estrutura ortorrômbica. O M3C está

geralmente presente no aço 1Cr-Mo-V temperado como hastes ou tiras orientadas com

aproximadamente 1-2 µm de comprimento e até 200nm de espessura. Revenimentos

longos resultam no coalescimento e esferoidização do M3C [20].

M23C6: Ocorre no sistema Cr-C (Cr23C6) e no sistema Fe-Mo-Cr-C, (Fe, Cr,

Mo)23C6. Outros elementos, tais como o tungstênio e o vanádio, também podem estar

presentes em solução. Este carboneto tem uma estrutura cúbica complexa. A composição

exata dos M23C6 em aços 1Cr-Mo-V é dependente da quantidade de molibdênio presente

[20].

A morfologia do M23C6 no aço 1Cr-Mo-V temperado e revenido é irregular e

equiaxial. A nucleação ocorre quase que exclusivamente nos contornos de grão da

Page 41: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

32

austenita prévia e entre as ripas da bainita. Durante o envelhecimento, M23C6 pode se

formar diretamente a partir do M3C. Já foram observados partículas de M23C6 com mais

de 1µm de diâmetro em aços 1Cr-Mo-V [20].

MC (M4C3): Rico em vanádio (frequentemente referido como VC), também é

denotado M4C3 (V4C3) e tem uma estrutura cúbica. A relação de composição deste

carboneto normalmente excede a M4C3, e é geralmente considerado como estando

próximo da composição efetiva de ligas binárias de V-C [20].

A morfologia do M4C3 no aço 1Cr-Mo-V austenitizado e revenido é geralmente

tipo placa, e nucleiam principalmente nas discordâncias dentro das ripas de bainita.

Entretanto, os maiores precipitados de M4C3 geralmente são retangulares. A gama de

tamanhos de partículas encontradas é grande (de menos de 10nm até maiores que 500nm)

e a distribuição é, muitas vezes, bimodal [20].

M2C: É frequentemente referido como Mo2C embora quantidades substanciais de

cromo, ferro, vanádio e tungstênio podem estar presentes neste carboneto. Tem uma

estrutura hexagonal. A morfologia do M2C no aço 1Cr-Mo-V é geralmente acicular na

forma de agulhas paralelas a direção (100). No material como-revenido o eixo maior das

agulhas se estende até 200nm, e o eixo menor até de cerca de 20nm. A nucleação de M2C

durante a têmpera ou envelhecimento ocorre frequentemente entre as ripas de bainita,

próximas às partículas de M3C e nas extremidades dos M4C3, produzindo o característico

carboneto "H" descrito por vários pesquisadores [20].

O M2C nem sempre está presente no aço 1Cr-Mo-V como temperado, e a fração

de volume deste carboneto é geralmente baixa. Revenimentos prolongados podem causar

engrossamento e dissolução do M2C, mas a composição dos carbonetos geralmente não

muda significativamente durante esses revenimentos longos [20].

M6C: É um carboneto rico em molibdênio, em que o ferro, cromo, vanádio e

tungstênio podem existir em solução. Tem uma estrutura CFC (tipo diamante). A

composição exata do M6C no aço 1Cr-Mo-V não é conhecida. A morfologia do M6C é

semelhante a do M23C6. É improvável que o M6C esteja presente no aço 1Cr-Mo-V

revenido, mas pode formar-se durante revenimentos longos. [20].

M7C3: É essencialmente um carboneto rico em cromo nos quais o ferro,

molibdênio, vanádio e tungstênio podem dissolver. Ele tem uma estrutura

Page 42: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

33

pseudohexagonal. A ocorrência de M7C3 no aço 1Cr-Mo-V revenido é rara e sua

composição não é conhecida. Quando formado, as características morfológicas e os locais

de nucleação são semelhantes aos do M23C6 [20].

2.5.2. Fluência

Um dos fatores mais importantes que determinam a integridade de componentes

que funcionam a temperaturas elevadas é o seu comportamento em fluência. Devido a

ativação térmica, os materiais podem se deformar lenta e continuamente mesmo sob

carga (tensão) constante e, como resultado, alterações dimensionais inaceitáveis e a

consequente ruptura do componente podem ocorrer. A fluência é uma deformação

plástica lenta e contínua, termicamente assistida, dos materiais em função do tempo de

carregamento.

Apesar de, teoricamente, este fenômeno ser possível em qualquer temperatura

acima de zero Kelvin e sob carregamento abaixo do limite de escoamento estático, a

fluência é termicamente ativada e, por conseguinte só é considerada em projetos de

engenharia em que o metal estará submetido a temperaturas elevadas, geralmente acima

de 0,5TH, sendo TH a temperatura homóloga, que é a relação entre a temperatura absoluta

de trabalho e a temperatura absoluta de fusão do material [18].

As propriedades mecânicas de um material a altas temperaturas sofrem uma

influência muito grande dos processos controlados por difusão, pois a difusão acelera o

processo de fluência a temperaturas elevadas. Sendo assim, fenômenos como a

movimentação de discordâncias por escalagem, assim como a deformação nos contornos

de grão são facilitados em altas temperaturas. Além disso, a recristalização em metais

trabalhados a frio e o superenvelhecimento de ligas envelhecidas também são outros

fatores importantes a se considerar sobre as estabilidades metalúrgicas de ligas e metais a

altas temperaturas [18].

Entre os principais mecanismos de fluência em materiais cristalinos estão: o

deslizamento cruzado, deslizamento de contornos, movimentação de discordâncias

assistida por difusão (escalagem de discordâncias, por exemplo) e mecanismos de difusão

propriamente ditos (tanto nos contornos quanto no interior dos grãos). A fluência ocorre

Page 43: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

34

normalmente pela combinação de dois ou mais dos mecanismos citados levando a fratura

intergranular [18].

Os ensaios de fluência mais comuns são aqueles realizados sob temperatura e

carga ou tensão uniaxiais constantes, em que é medida a deformação em função do

tempo.

Os ensaios de fluência de carga constante produzem curvas formadas por três

estágios básicos, como pode ser observado na Figura 2.18. O estágio I ou fluência

primária, no início do ensaio, não considera a deformação instantânea que ocorre

quando a carga está sendo aplicada ao corpo de prova. Este estágio é uma região de

inclinação decrescente onde o encruamento diminui a taxa de fluência ( ). No estágio II

(ou fluência secundária) a inclinação se torna aproximadamente constante. Pode-se

admitir que esse fenômeno ocorra por um equilíbrio entre o encruamento que tende a

reduzir a taxa de fluência e o aumento da taxa de recuperação, contribuindo para o

amolecimento, que tende a aumentar a taxa de fluência. Em temperaturas homólogas

elevadas, a fluência envolve principalmente a difusão, e assim, a taxa de recuperação é

elevada o suficiente para equilibrar o encruamento, e como consequência, há o

surgimento do estágio secundário. O valor médio da taxa de fluência durante este estágio

é denominado taxa mínima de fluência ( ) [4, 18].

O estágio III, ou fluência terciária, representa a parte final da curva quando a

inclinação cresce rapidamente até a fratura do corpo de prova. Neste estágio o aumento

da tensão e da evolução microestrutural incluindo a evolução do dano durante a fluência

superam o encruamento acelerando o processo de deformação. A evolução

microestrutural consiste de recuperação dinâmica, recristalização dinâmica,

coalescimento de precipitados e outros fenômenos, os quais causam o amolecimento e

reduzem a resistência à fluência. A evolução do dano inclui o desenvolvimento de vazios

e trincas de fluência, geralmente nos contornos de grão [4].

Nos ensaios feitos sob tensão constante não se observa a região de taxa de

fluência acelerada (região III) e a curva obtida é similar à curva B da Figura 2.18.

Page 44: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

35

Figura 2.18 – Curva Típica de fluência mostrando os três estágios do

processo. Curva A, ensaio de carga constante; curva B, ensaio de tensão

constante. Adaptado de [18].

Os três estágios dependem fortemente da tensão aplicada e da temperatura. Com a

variação da tensão ou da temperatura, há a variação da extensão dos vários estágios,

como pode ser observado na Figura 2.19 [4, 18].

Figura 2.19 – Curvas esquemáticas de fluência variando com tensão e/ou

temperatura. Adaptado de [18].

Page 45: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

36

A dependência da taxa de deformação por fluência no estado de equilíbrio ( )

com a tensão mecânica e a temperatura e é representada por uma equação da forma:

(2.1)

onde A é uma constante do material, σ é a tensão aplicada, n é o expoente de tensão

(parâmetro do material), QC é a energia de ativação para a fluência (parâmetro

característico do material), R é a constante universal dos gases e T é a temperatura [18].

2.5.2.1. Comportamento em fluência dos aços 1Cr-Mo-V – Degradação das

propriedades mecânicas após longo tempo de operação

Como já foi mencionado os rotores têm sido feitos, historicamente, a partir de

aços de baixa liga como o 1Cr-Mo-V, e tratados termicamente para produzir uma fina

dispersão de carbonetos de vanádio principalmente, e, portanto, boas propriedades de

fluência. No entanto, a falta de homogeneidade da composição e da microestrutura em

grandes peças forjadas, combinado com os vários regimes de temperatura e de tensão

associados ao uso do rotor, causa a complexa degradação das propriedades durante o

tempo de serviço.

Os mecanismos de degradação podem envolver fluência, fadiga de baixo ciclo

(termomecânica), interações entre fadiga-fluência em regiões de alta temperatura, assim

como a fragilização ao revenido devido a segregação de elementos deletérios. As áreas de

maior preocupação devido ao acúmulo de danos gerados pelos ciclos térmicos e pela

operação em regime permanente são o furo central (central bore) e regiões de

concentração de tensões [2]. A modificação da microestrutura, devido à utilização em

serviço de longa duração e em temperaturas elevadas pode envolver coalescimento,

transformação e esferoidização dos carbonetos, o que provoca a perda de resistência,

devido à formação de vazios e trincas durante o processo de fluência [10], bem como a

precipitação de novos carbonetos a partir de elementos em solução sólida ou em

detrimento de carbonetos menos estáveis (precipitação secundária). Todas essas

modificações exercem uma influência sobre as propriedades mecânicas resultando em

degradação e fratura dos aços em serviço [23, 24].

Page 46: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

37

As alterações microestruturais estão apresentadas esquematicamente na Figura

2.20. Para este aço, o coalescimento dos carbonetos nos contornos de grão durante a

fluência é notável. A formação de subgrãos devido à migração dos contornos pode ser

observada nas vizinhanças dos contornos de grãos com carbonetos grosseiros. É possível

observar também uma baixa densidade de carbonetos finos nas proximidades dos

contornos [10]. O dano por fluência desse aço parece ser devido a uma combinação ente a

recuperação local perto dos contornos dos grãos e a formação de vazios e trincas.

Figura 2.20 – Representação esquemática da mudança microestrutural

durante a fluência. Adaptado de [10].

Além disso, sabe-se também que muitos componentes que operam em plantas de

geração de energia estão sujeitos, além da fluência, a condições de tensão-deformação

cíclicas complexas em altas temperaturas, ocorrendo fadiga termomecânica de baixo ciclo

que é resultado de variações transitórias de gradientes de temperatura nas condições de

operação. Tais variações são típicas, por exemplo, durante partidas, paradas e variações

de carga, situações sempre presentes durante a vida útil da turbina. Estas tensões térmicas

têm origem na expansão do material devido a variações de temperatura [25]. Para o aço

1Cr-Mo-V, tem sido consistentemente relatado que a degradação do material é resultado

da interação fadiga-fluência. Este fenômeno deve ser levado em conta na concepção do

material, porque mudanças na tensão implicam em perdas graduais na resistência e na

tenacidade a fratura ciclo-a-ciclo [23].

Page 47: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

38

2.5.3. Fragilização ao revenido

A fragilização ao revenido (FR) é uma das principais causas de redução da

tenacidade dos aços. O problema é encontrado como resultado de exposição dos aços em

temperaturas entre 345 e 540oC. Revenidos, tratamentos térmicos pós-soldagem, ou

exposição ao serviço nesta faixa de temperatura devem ser evitados. O problema também

pode ser amenizado através de tratamento térmico acima deste intervalo, seguido de um

resfriamento rápido. Infelizmente, no caso de componentes de massa, tais como os

rotores, as taxas de resfriamento não são suficientemente rápidas e alguma fragilização

residual acaba ocorrendo. Além disso, mesmo após o tratamento térmico, a exposição do

componente durante o serviço no intervalo crítico também pode levar à fragilização. Os

rotores de turbinas AP / MP, invariavelmente, são expostos a temperatura crítica durante

o serviço e, portanto fragilização não pode ser evitada [26].

A FR está relacionada a mudanças nos contornos de grãos, e sempre se manifesta

como uma fratura intergranular. Em geral, a resistência à tração e a ductilidade

permanecem inalteradas, mas sob condições extremamente severas, a FR pode ser

detectada com uma diminuição nessas propriedades [26].

A FR manifesta-se como um deslocamento da curva de transição dútil-frágil para

a direita, de modo que a FATT do aço é aumentada (Figura 2.21). Este fenômeno pode

ser ou não acompanhado por uma redução do patamar superior de energia [7, 26].

Page 48: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

39

Figura 2.21 – Gráfico esquemático do efeito da fragilização ao revenido

na temperatura de transição de aparência de fratura (FATT- Fracture

Appearance Transition Temperature) de um aço hipotético. O gráfico

evidencia o deslocamento da curva de transição dútil-frágil para a direita

aumentando a FATT. Adaptado de [7].

A cinética de fragilização segue uma curva em “C” com o tempo em função da

temperatura de revenido (Figura 2.22). A combinação ótima de fatores termodinâmicos e

cinéticos que favorecem a FR está no chamado cotovelo da curva C, onde está o tempo

mínimo para fragilização, e que ocorre em temperaturas entre 345 e 540oC dependendo

do aço [26].

Page 49: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

40

Figura 2.22 – Curva C típica para um aço 2¼Cr-1Mo. As diferentes

curvas mostradas ocorrem devido a uma dependência de composição

química, tamanho de grão e microestrutura do aço. Adaptado de [26].

No caso de componentes que estão sujeitos a FR como rotores AP / MP e vasos de

pressão, as restrições atribuídas a FR são impostas sobre os procedimentos de partidas,

paradas e variações de carga. Para evitar o risco de fratura frágil durante essas transições,

o carregamento é evitado até que uma certa temperatura seja atingida. Por exemplo, os

rotores são pré-aquecidos até uma temperatura determinada antes do carregamento. Estes

requisitos resultam em custos adicionais de operação e de manutenção e perda de

produção. A FR, portanto, afeta negativamente a longevidade, a confiabilidade, a

eficiência e os custos operacionais de equipamentos de alta temperatura [26].

Atualmente, já está bem estabelecido que a segregação de elementos de impureza

como, por exemplo, o antimônio (Sb), o fósforo (P), o estanho (Sn) e o arsênio (As) para

os contornos de grão da austenita prévia é a principal causa da FR nos aços [7, 26].

Técnicas modernas de análise de superfície, como a espectroscopia por elétrons

Auger, permitiram investigações mais precisas das causas da FR. As análises mostram

não somente altas concentrações de átomos de impureza segregados para as superfícies

de fratura, mas também gradientes de concentração de elementos de liga. Estes

gradientes, de fato, estimulam a segregação de átomos de impureza para os contornos de

Page 50: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

41

grão da austenita prévia que acabam por causar a decoesão dos contornos de grão dos

aços fragilizados no revenido [26].

Conforme descrito anteriormente, os elementos de impureza Sb, P, Sn e As

(listados em ordem decrescente de eficácia) são as principais causas que contribuem para

a FR. O antimônio geralmente não está presente em grandes quantidades nos aços

comerciais e, portanto, não é levado em consideração. O arsênico não é um potente

fragilizante e, portanto, também não é muito importante. Já o fósforo e o estanho são os

principais elementos residuais de maior preocupação [26].

Entre os elementos de liga, silício, manganês, níquel e cromo são conhecidos por

agravar os efeitos das impurezas. Quando estes elementos estão presentes combinados, o

efeito é aumentado ainda mais. É bem conhecido que o níquel e cromo combinados

aumentam a fragilização significativamente, mais do que qualquer elemento sozinho. Por

esta razão, os rotores de aço Ni-Cr-Mo-V são considerados muito mais susceptíveis à

fragilização do que rotores de aço 1Cr-Mo-Vconforme mostrado na Figura 2.23. No aço

1Cr-Mo-V os elementos que mais influênciam, além do fósforo, são o manganês e o

silício [26].

A combinação dos mecanismos de fluência, de fadiga termomecânica e do

fenômeno de fragilização ao revenido leva a degradação intensa dos rotores forjados. Isso

mostra a importância do controle de segregações e inclusões de elementos deletérios à

vida útil do componente em serviço, pois com o esse controle é possível reduzir os efeitos

não só da fluência, mas, principalmente, da fragilização.

Page 51: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

42

Figura 2.23 – Efeito do teor de fósforo na fragilização ao revenido

(FATT) de três aços forjados. Adaptado de [26].

Page 52: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

43

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1. Material

O material utilizado para realização deste trabalho consiste em um aço 1Cr-1Mo-

0,25V (1Cr-Mo-V) para fabricação de rotores forjados de turbinas a vapor. As

especificações de fabricação do material seguiram a norma ASTM A470/A470M Grau D

Classe 8 [5].

3.2. Fabricação dos eletrodos

A primeira etapa consistiu na fabricação de oito eletrodos do aço especificado

com 60mm de diâmetro e 910mm de comprimento. Os eletrodos (Figura 3.1) foram

obtidos através de fusão em forno elétrico aberto por indução eletromagnética e foram

previamente preparados para o processo de refusão.

Figura 3.1 – Eletrodos fabricados para o processo de refusão.

Page 53: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

44

3.3. Refusão dos eletrodos no VAR-COPPE (COPPE/UFRJ)

A Refusão foi realizada nas instalações do Laboratório Multiusuário de Fusão a

Arco da COPPE/UFRJ, no forno de refusão a arco em vácuo, modelo L200 da empresa

ALD Vacuum Technologies (Figura 3.2). Tais instalações e equipamentos são parte do

projeto de pesquisa identificado como FUJB-CDTN-EC-01 e coordenado pelos

professores Luiz Henrique de Almeida e Dilson Silva dos Santos.

Figura 3.2 - VAR-COPPE.

Essa refusão no forno VAR-COPPE foi realizada, dada a possibilidade de fusão

com menores pressões na câmara do forno, quando comparado aos fornos VAR

industriais normalmente utilizados, permitindo assim melhor controle de impurezas. A

Figura 3.3 mostra o eletrodo devidamente preparado para o processo de refusão.

Na refusão apenas a ¾ de cada eletrodo foi refundida (Figura 3.4), sendo assim

ficaram disponíveis oito eletrodos (fundidos) e oito lingotes correspondentes (refundidos)

denominados segundo a Tabela 3.1. Dessa forma foi possível observar a importância

desta etapa no processo de obtenção dos rotores, avaliando o material antes e após a

refusão.

Page 54: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

45

Figura 3.3 – Dois dos eletrodos preparados para serem colocados no

VAR-COPPE.

Figura 3.4 – Eletrodos após a Refusão. Podem ser observados os lingotes

(refundidos) que foram retirados do cadinho do forno e as respectivas

sobras (eletrodos) que não passaram pela refusão.

Page 55: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

46

Tabela 3.1 – Nomenclatura das peças obtidas após a fusão e a refusão

ELETRODOS – Não passaram pelo

processo de refusão no VAR/COPPE

LINGOTES – Passaram pelo processo

de refusão no VAR/COPPE

E1 L1

E2 L2

E3 L3

E4 L4

E5 L5

E6 L6

E7 L7

E8 L8

A Figura 3.5 apresenta os valores de corrente de fusão, voltagem e pressão na

câmara de fusão do forno. Nota-se no início e fim do processo a ocorrência de curtos

circuitos, evidenciados pelas quedas bruscas de voltagem. A corrente não apresentou

variações significativas dos valores definidos durante o processo. Com relação a pressão

na câmara, durante quase todo o processo de fusão se manteve em torno de 2 x 10-2

mbar,

com alguns picos próximo ao fim do processo.

Page 56: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

47

Figura 3.5 – Gráfico mostrando as variações de corrente, voltagem e

pressão durante o processo de refusão do eletrodo E4.

Os lingotes refundidos e a sobra do eletrodo E4 que não passou pela refusão

foram forjados a quente em barras de perfil quadrado com aproximadamente 35mm de

lado. Após o forjamento, as barras passaram por tratamento térmico duplo de

normalização e por revenido, como indicado na norma ASTM A470/A470M [5].

O processo de têmpera que faz parte do método de fabricação de rotores forjados

como está descrito na seção 2.4.3.3 não foi necessário neste projeto, pois a espessura das

barras forjadas permitiu taxas de resfriamento aceleradas mesmo com resfriamento ao ar.

Já na fabricação de grandes rotores forjados, a taxa de resfriamento que é alcançável no

centro é pequena, sendo assim a têmpera é essencial para que se alcance a microestrutura

bainítica no centro do forjado.

As condições dos tratamentos térmicos estão expostas na Tabela 3.2. As barras

obtidas após forjamento e tratamento térmico podem ser observadas na Figura 3.6.

Page 57: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

48

Tabela 3.2 – Condições dos tratamentos térmicos realizados no Eletrodo

E4 e nos Lingotes.

Primeira Normalização 980oC / 3 horas de patamar / resfriamento ao ar calmo

Segunda Normalização 920oC / 3 horas de patamar / resfriamento ao ar calmo

Revenimento 700oC / 4 horas de patamar / resfriamento no interior do forno

Figura 3.6 – Barras refundidas e Eletrodo E4 (não refundido), forjados e

tratados termicamente em mesmas condições.

As peças utilizadas para a realização do presente trabalho foram as identificadas

como E4 e L4.

3.4. Análise química

A análise química foi realizada pelo Laboratório de Análises Químicas do Centro

de Pesquisas de Energia Elétrica (CEPEL).

Page 58: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

49

Os ensaios para determinação do teor de carbono (C), enxofre (S), silício (Si),

fósforo (P), molibdênio (Mo), manganês (Mn), alumínio (Al), cromo (Cr), níquel (Ni) e

vanádio (V) nas amostras E4 e L4 foram efetuados conforme metodologia implantada no

Laboratório de Análises Químicas utilizando-se os seguintes métodos analíticos:

Carbono e enxofre - Combustão direta (infravermelho)

Silício - Gravimetria e absorção atômica

Fósforo - Volumetria (hidróxido de sódio-acidemetria)

Manganês, molibdênio, alumínio, cromo, níquel e vanádio -

Espectrofotometria de absorção atômica

Os Equipamentos utilizados no ensaio foram um Analisador de carbono e enxofre

LECO CS300/HF300, um Espectrofotômetro de absorção atômica VARIAN AAS 220, e

uma Balança Analítica METTLER AE 240.

3.5. Preparação das amostras para metalografia

Toda a preparação metalográfica foi realizada no Laboratório de Metalografia do

CEPEL. Foram cortadas 2 amostras do Eletrodo E4 e 2 amostras do Lingote L4. As

amostras foram embutidas a quente no equipamento BUEHLER modelo SimpliMet®

3000 Automatic Mounting Press, sendo uma mostrando a face longitudinal da barra e

outra mostrando a face transversal. As amostras foram identificadas segundo a Tabela

3.3.

Tabela 3.3 – Nomenclatura das amostras

Eletrodo E4 Lingote L4

Face Longitudinal E4-L L4-L

Face Transversal E4-T L4-T

Após o embutimento as quatro amostras (E4-L, E4-T, L4-L, L4-T) foram lixadas

com lixas de granulometria 120, 220, 320, 400 e 600 mesh, respectivamente. O lixamento

Page 59: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

50

foi feito durante 10 minutos em cada lixa no equipamento BUEHLER modelo EcoMet®

3000 Variable Seed Grinder-Polisher que trata-se de uma lixatriz/politriz automática

(Figura 3.7).

Figura 3.7 – Lixatriz/politriz automática localizada no Laboratório de

Metalografia do CEPEL.

Depois de lixadas as amostras foram polidas no mesmo equipamento em que

foram lixadas. Foram utilizados três diferentes panos com soluções de diamante de 9µm,

3µm e 1µm, respectivamente. As amostras foram polidas durante 10 minutos em cada

pano. As amostras já embutidas, lixadas e polidas podem ser observadas na Figura 3.8.

Figura 3.8 – Amostras embutidas a quente, lixadas e polidas.

Page 60: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

51

3.6. Microscopia ótica

Após o preparo das superfícies, as amostras (sem ataque químico) foram

observadas e fotografadas no microscópio Olympus GX 71 disponível também no

Laboratório de Metalografia do CEPEL (Figura 3.9), a fim de analisar e comparar a

distribuição das inclusões nas amostras E4 e L4. Após obter as imagens necessárias as

amostras foram atacadas utilizando o reagente Vilela, cuja composição é na proporção de

100ml de etanol para 5ml de HCl e 1g de ácido pícrico. O ataque foi feito por imersão

durante 15 segundos.

Após revelar a microestrutura pelo ataque químico as amostras foram fotografadas

no microscópico em diferentes aumentos no software Olimpus Stream Motion.

Figura 3.9 – Microscópio Ótico Olympus GX 71, o qual se encontra no

Laboratório de Metalografia do CEPEL.

3.7. Microscópio eletrônico de varredura (MEV)

Para a observação da microestrutura e para avaliação da distribuição das inclusões

presentes por Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV), foi utilizado o equipamento

ZEISS modelo EVO40, também disponível no Laboratório de Metalografia do CEPEL

Page 61: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

52

(Figura 3.10). As observações e o registro de imagens foram realizadas com voltagem de

aceleração de 20kV, permitindo o MEV a visualização em modo de elétrons secundários

ou retroespalhados.

Para identificação da composição química das inclusões presentes nas amostras,

foi possível utilizar outro recurso para análise, a técnica semi-quantitativa de análise de

espectrometria de dispersão de raios-X (Energy Dispersive Spectroscopy – EDS) da

marca IXRF Systems, acoplado ao MEV.

Figura 3.10 – MEV localizado no Laboratório de Metalografia do CEPEL.

Os procedimentos de preparação das superfícies das amostras para MEV foram os

mesmos utilizados para microscopia ótica, assim como a solução de ataque. No caso de

amostras embutidas, entretanto, houve a necessidade de utilização de fita de carbono,

condutora.

Page 62: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

53

3.8. Ensaio de dureza

Para obter resultados de dureza das amostras foram realizados ensaios de dureza e

microdureza Vickers. Os equipamentos utilizados para o ensaio de dureza e microdureza

foram, respectivamente, emco.TEST modelo M4C 750 G3 e BUEHLER modelo

Micromet 5103, os quais podem ser observados na Figura 3.11. Os ensaios foram

realizados segundo as normas ASTM E 92-82 (2003) [27] e ASTM E 384-05 [28].

No caso da dureza, a carga utilizada foi de 10Kgf em tempos de ensaio de 15

segundos. Já no ensaio de microdureza foram utilizadas cargas de 200gf em tempos de 10

segundos.

Tanto na dureza quanto na microdureza foram realizadas 10 identações em cada

amostra (E4 e L4) e então foi calculada a média dos resultados para cada ensaio.

(a) (b)

Figura 3.11 – Equipamentos para ensaio de (a) Dureza e (b) Microdureza

localizados no Laboratório de Metalografia do CEPEL.

Page 63: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

54

3.9. Ensaio de tração

Para a realização dos ensaios de Tração foram confeccionados seis corpos de

prova, dos quais três foram retirados do Eletrodo E4 e os outros três foram retirados do

Lingote L4. Os corpos de prova foram usinados na Oficina Mecânica do CEPEL e todos

foram tomados na direção longitudinal das barras.

A Figura 3.12 mostra o desenho do corpo de prova de tração. As dimensões foram

baseadas na norma DIN EN 10002-1 [29].

O ensaio foi realizado a temperatura ambiente com o objetivo de obter dados da

diferença na resistência mecânica entre as amostras E4 e L4.

(a)

(b)

Figura 3.12 – (a) Dimensões do corpo de prova de tração e (b) foto de um

dos corpos de prova utilizados no trabalho. Norma DIN EM 10002-1 [29].

Page 64: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

55

Os ensaios de Tração foram realizados em máquina de tração EMIC, modelo DL

30000N, com célula de carga de 10.000kgf e extensômetro de 25mm. O equipamento está

localizado no Laboratório de Ensaios Mecânicos do CEPEL (Figura 3.13).

(a) (b)

Figura 3.13 – Fotos tiradas durante a realização do ensaio de tração do

presente trabalho: (a) Vista geral; (b) Detalhe do corpo de prova com

extensômetro fixado.

Os ensaios de tração foram realizados com taxa de deformação convencional de

5,55x10-4

s-1

(velocidade do ensaio de 1mm/min). As dimensões da região útil dos corpos

de provas foram medidas com medidor de altura e paquímetro.

Page 65: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

56

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. Composição química

A Tabela 4.1 mostra as composições químicas obtidas das amostras E4 e L4, e a

composição requerida pela norma ASTM A470/A 470M Grau D Classe 8 [5].

Tabela 4.1 – Resultados da Análise Química. (Dados em % em peso)

Norma ASTM A470/A 470M

Gr.D Classe 8

E4 L4

C 0,25 - 0,35 0,36 0,25

S 0,015 máx 0,011 0,009

Si 0,10 máx 0,03 0,04

P 0,012 máx 0,026 0,020

Mn 1,00 máx 0,75 0,50

Al - <0,01 <0,01

Mo 1,00 - 1,50 1,39 1,3

V 0,20-0,30 0,14 0,15

Ni 0,75 máx 0,08 0,09

Cr 1,05 -1,50 0,88 0,89

Foi verificado que o teor de cromo e de vanádio ficaram abaixo da especificação

requerida pela norma ASTM A470/A 470M Classe 8 [5] nas duas amostras e que o teor

de carbono ficou acima do requerido pela norma apenas na amostra não refundida.

O teor de fósforo foi reduzido após a refusão, mas ainda permaneceu acima da

especificação requerida pela norma.

Pode-se observar também que após a refusão além de uma redução no teor de

carbono, também houve redução nos teores de enxofre, fósforo e manganês. A redução

Page 66: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

57

desses elementos era esperada e contribuiu de forma muito efetiva para a redução do

número de inclusões na estrutura do material.

4.2. Caracterização microestrutural

As Figuras 4.1 e 4.2 apresentam a observação por microscopia ótica que mostram

uma microestrutura composta de bainita. A Figura 4.1(a), amostra E4-L, mostra a

microestrutura recristalizada e alinhada no sentido de deformação do processo de

forjamento a quente. A microestrutura mostra-se heterogênea. Já na Figura 4.1(b),

amostra L4-L, é possível verificar uma microestrutura mais uniforme e homogênea.

Nas Figuras 4.1(a) e 4.2(a) pode-se observar as inclusões também alinhadas no

sentido da forja.

(a) (b)

(c) (d)

Figura 4.1 – Microscopia ótica feita com aumento de 200x; (a)E4-L

(b)L4-L (c)E4-T (d)L4-T

200 µm 200 µm

200 µm 200 µm

Page 67: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

58

(a) (b)

(c) (d)

Figura 4.2 – Microscopia ótica feita com aumento de 500x; (a)E4-L

(b)L4-L (c)E4-T (d)L4-T

4.3. Análise das inclusões

4.3.1. Distribuição das inclusões

Analisando a distribuição das inclusões das amostras, verifica-se uma grande

diferença na quantidade e no tamanho das inclusões entre as amostras E4 e L4. As

amostras sem refusão (E4) apresentam inclusões maiores e em maior número quando

comparadas as amostras refundidas (L4).

É possível verificar também que as inclusões são alongadas e estão alinhadas no

sentido longitudinal da barra, de acordo com a solidificação e forjamento. Nas amostras

40 µm 40 µm

40 µm 40 µm

Page 68: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

59

da seção transversal da barra (E4-T e L4-T) as inclusões mostram-se circulares e

menores, pois foram “cortadas”.

Para classificar as inclusões quanto a quantidade segundo a Norma ASTM E45

[1], foi feita a análise visual das imagens de microscopia ótica das amostras longitudinais,

com aumento de 100x e sem ataque químico (Figura 4.3(a) e (b)), a partir dessa análise

constatou-se que devido a refusão as inclusões passaram de uma classificação Tipo A e

Tipo C - Espessura fina - Severidade 2 pelo Método D, para uma classificação Tipo A e

Tipo C, - Espessura fina – Severidade pelo Método D. Além da análise visual, foi

feita uma análise quantitativa de imagem no software Olimpus Stream Motion medindo o

percentual de área ocupada pelas inclusões nas duas amostras para constatar

numericamente o que pode ser observado visualmente nas Figuras 4.3, 4.4 e 4.5.

Os valores estão expostos na Tabela 4.2 e foram obtidos a partir da análise de dez

imagens da amostra E4-L e dez imagens da amostra L4-L. Foi calculada então a média e

o desvio padrão desses valores.

Tabela 4.2 – Percentual de área ocupada pelas inclusões nas amostras E4-

L e L4-L obtidas a partir da análise quantitativa das imagens obtidas com

100x de aumento no microscópio ótico.

Amostra E4-L Amostra L4-L

Média 0,28% 0,06%

Desvio Padrão 0,08% 0,04%

A amostra E4-L possui 78,57% a mais de área ocupada pelas inclusões nas

imagens comparada a amostra L4-L.

Page 69: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

60

(a) (b)

(c) (d)

Figura 4.3 - Microscopia ótica feita com aumento de 100x nas amostras

sem ataque químico; (a)E4-L (b)L4-L (c)E4-T (d)L4-T

200 µm 200 µm

200 µm 200 µm

Page 70: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

61

(a) (b)

(c) (d)

Figura 4.4 - Microscopia ótica feita com aumento de 500x nas amostras

sem ataque químico; (a)E4-L (b)L4-L (c)E4-T (d)L4-T

40 µm 40 µm

40 µm 40 µm

Page 71: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

62

(a) (b)

(c) (d)

Figura 4.5 – MEV com aumento de 1000x das amostras atacadas; (a)E4-L

(b)L4-L (c)E4-T (d)L4-T

4.3.2. Análise química das inclusões por EDS

As Figuras 4.6 a 4.14 mostram as análises feitas por EDS nas inclusões

encontradas nas amostras. Pôde-se observar que as inclusões são sulfetos de manganês e

silicatos de manganês em sua maioria, dessa forma, praticamente todas as inclusões estão

enquadradas no tipo A (Sulfetos) e tipo C (Silicatos) da Norma ASTM E45 [1]. Foi

possível verificar também que essas inclusões podem conter traços de elementos como

cromo, vanádio e alumínio, como pode ser observado nas Figuras 4.7, 4.9, 4.11, 4.12,

4.13 e 4.14. A presença do cromo e do vanádio nessas inclusões demonstra mais um

Page 72: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

63

motivo do quão prejudicial elas são para as propriedades do aço, pois há a segregação

desses elementos para essas regiões.

Elementos Concentração [% em peso]

S 40.556

Mn 59.444

100.00

Figura 4.6 – MEV e EDS da amostra E4-L com aumento de 6770x

mostrando um sulfeto de manganês.

Page 73: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

64

Elementos Concentração [% em peso]

Si 21.110

V 0.857

Mn 78.033

100.00

Figura 4.7 – MEV e EDS da amostra E4-T com aumento de 8000x

mostrando um silicato de manganês.

Page 74: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

65

Elementos Concentração [%em peso]

S 38.177

Mn 61.823

100.00

Figura 4.8 – MEV e EDS da amostra E4-T com aumento de 8000x

mostrando um sulfeto de manganês.

Page 75: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

66

Elementos Concentração[% em peso]

Al 10.066

Si 10.555

V 13.277

Cr 20.496

Mn 45.606

100.000

Figura 4.9 – MEV e EDS da amostra E4-T (sem ataque) com aumento de

10000x mostrando a segregação de elementos de liga como V e Cr para a

inclusão.

Page 76: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

67

Elementos Concentração [% em peso]

Si 36.146

Mn 63.854

100.000

Figura 4.10 – MEV e EDS da amostra E4-T (sem ataque) com aumento de

10000x mostrando a segregação de elementos de liga como V e Cr para a

inclusão.

Page 77: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

68

Elementos Concentração [% em peso]

S 24.678

V 0.943

Cr 2.291

Mn 34.646

Fe 37.442

100.000

Figura 4.11 – MEV e EDS da amostra L4-L com aumento de 12500x

mostrando a segregação de elementos de liga como V e Cr para a inclusão.

Page 78: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

69

Elementos Concentração [% em peso]

S 30.198

Cr 0.842

Mn 44.961

Fe 23.999

100.000

Figura 4.12 – MEV e EDS da amostra L4-L com aumento de 12500x

mostrando um sulfeto de manganês.

Page 79: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

70

Elementos Concentração [% em peso]

Al 2.610

Si 14.471

S 5.155

V 1.087

Cr 1.676

Mn 40.347

Fe 34.653

100.000

Figura 4.13 – MEV e EDS da amostra L4-T com aumento de 12300x

mostrando a segregação de elementos de liga como V e Cr para a inclusão.

Page 80: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

71

Elementos Concentração[% em peso]

S 25.061

V 0.900

Cr 1.142

Mn 42.335

Fe 30.561

100.000

Figura 4.14 – MEV e EDS da amostra L4-T com aumento de 12300x

mostrando um sulfeto de manganês.

Page 81: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

72

4.4. Dureza e microdureza

Os resultados obtidos para os ensaios de dureza e microdureza Vickers são

apresentados nas Tabelas 4.3 e 4.5. A Tabela 4.4 mostra o resultado de dureza Rockwell

C que foi obtido através da conversão da medida feita em Vickers.

Tabela 4.3 – Resultados de Dureza Vickers

Dureza [HV]

E4 L4

Média 247,5 252,8

Desvio Padrão 3,8 5,2

Tabela 4.4 – Resultados de Dureza Rockwell C

Dureza [HRC]

E4 L4

Média 21,7 22,7

Desvio Padrão 0,7 0,9

Tabela 4.5 – Resultados de Microdureza Vickers.

Microdureza [HV]

E4 L4

Média 243,9 244,8

Desvio Padrão 5,0 4,7

Não foram constatadas diferenças expressivas nos resultados de dureza entre as

amostras E4 e L4. Levando-se em consideração os desvios padrão calculados pode-se

considerar que os valores são equivalentes.

Page 82: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

73

Na norma ASTM A470 [5] não há padrões de valores de dureza mínima para este

aço, pois os valores de dureza estão diretamente ligados às condições de tratamento

térmico do material. Quanto maior a temperatura e/ou tempo de revenido menor será a

dureza final do material. Sendo assim, é compreensível que as duas amostras tenham

apresentado valores parecidos já que, a pesar de uma ter passado pela refusão e a outra

não, elas sofreram forjamento e tratamento térmico nas mesmas condições.

4.5. Ensaio de tração

Os dados obtidos pelo ensaio de tração estão expostos na Tabela 4.6 e na Figura

4.15.

Tabela 4.6 – Dados obtidos através do ensaio de tração.

Norma ASTM

A470/A 470M

Classe 8

E4 L4

Resistência a Tração - Tensão

Máxima [MPa]

725-860 816,69 ± 3,45 815,51 ± 5,76

Limite de Escoamento [MPa] 585 661,28 ± 5,15 667,29 ± 8,14

Alongamento [%] 17 18,44 ± 1,05 17,64 ± 0,66

Redução de Área [%] 43 60,62 ± 0,20 62,81 ± 0,70

Page 83: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

74

Figura 4.15 – Gráficos Tensão x Deformação de E4 e L4 obtidos através

do ensaio de tração.

Os resultados do ensaio de tração ficaram dentro da especificação requerida pela

norma ASTM A470 [5] para as duas amostras.

Quando se compara os valores obtidos da amostra E4 com os da amostra L4 não

se verifica uma diferença significativa. A amostra refundida teve um limite de resistência

0,14% menor, um limite de escoamento 0,9% maior e um alongamento 4,34% menor em

comparação a amostra não refundida.

Quanto a redução de área houve alguma melhora. A amostra refundida teve uma

redução de área 3,49% maior que a amostra não refundida.

Sendo assim, não pôde ser observada uma variação significativa nos resultados

dos ensaios de tração realizados a temperatura ambiente em função da refusão no VAR.

0,00

100,00

200,00

300,00

400,00

500,00

600,00

700,00

800,00

900,00

0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00%

Ten

são

[M

Pa]

Deformação [%]

E4

L4

Page 84: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

75

5. CONCLUSÕES

No presente trabalho foram analisadas amostras do aço 1Cr-Mo-V refundidos e

não refundidos no VAR-COPPE em alto vácuo a fim de investigar se houve ganho de

propriedades atribuídos a refusão do aço. Foram estudadas as diferenças microestruturais

e de propriedades mecânicas através da análise das inclusões e dos ensaios de dureza e de

tração.

Com relação às análises realizadas no material nas duas diferentes condições,

pode-se concluir que:

Foi constatado através da análise química que a refusão se mostrou efetiva na

redução de elementos deletérios como o enxofre, fósforo e manganês. A

redução desses elementos contribuiu de forma muito efetiva para a redução

do tamanho de inclusões do Tipo A e do Tipo C [1] na estrutura do material.

Este fato pôde ser verificado através da microscopia ótica e do MEV.

Através da refusão, as inclusões não-metálicas não só foram reduzidas em

tamanho mas também em número, elas se apresentaram em quantidades bem

menores e mais uniformemente distribuídas nas amostras que passaram pela

refusão, passando de um nível de Severidade 2 para no método D de

classificação de inclusões da Norma ASTM E45 [1]. A microestrutura

bainítica também se apresentou mais uniforme nas amostras refundidas.

Como os resultados do ensaio de tração não mostraram ganhos nem perdas

relevantes, conclui-se que a refusão não influencia de forma significativa a

resistência à tração a temperatura ambiente, e que para avaliar de forma

definitiva o ganho de resistência do aço atribuída a refusão é necessária a

realização de ensaios de fluência, uma vez que o material trabalha nessas

condições. É esperado que sob condições de fluência encontre-se diferença

entre as resistências das duas amostras, não só devido aos mecanismos de

fluência, mas também pelo efeito da fragilização ao revenido.

Page 85: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

76

6. TRABALHOS FUTUROS

Para garantir a efetividade da refusão a arco em vácuo em aços 1Cr-Mo-V para

aplicação a rotores de turbina à vapor forjados podem ser sugeridas as seguintes linhas de

pesquisa como oportunidades para trabalhos futuros:

Realização de ensaios de fluência e de fratura por fluência, uma vez que a

aplicação dos rotores forjados de turbina a vapor está intensamente sujeita a

degradação pelos mecanismos de fluência, sendo este o principal fenômeno

que limita a vida útil de utilização do componente.

Realização de ensaios de fadiga de baixo ciclo e de alto ciclo (em especial as

influências de fadiga termomecânica) aos quais o componente também é

submetido durante a utilização.

Realização de ensaios de Charpy a fim de conferir o ganho de tenacidade

atribuído à redução de impurezas conseguida no processo de refusão.

Page 86: avaliação da refusão de aços 1cr-mo-v forjados para rotores de

77

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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