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Anais do V Simpósio Brasileiro de Sistemas Elétricos, Foz do Iguaçu – PR, Brasil. 22-25/04/2014 ISSN 2177-6164 1 Resumo--O objetivo deste artigo é apresentar um estudo preliminar sobre o comportamento de uma rede de distribuição, diante da penetração de sistemas fotovoltaicos conectados à rede elétrica (SFCR). Para este estudo foram considerados os dados provenientes de parte da rede de distribuição da CELTINS, na cidade de Palmas-TO. Por meio de medições reais e simulações no software PSAT foram analisados três casos: comportamento do sistema durante um determinado horário do dia sem SFCR, durante esse mesmo horário com SFCR e em um determinado horário da noite. Em seguida, os resultados obtidos são então avaliados. Palavras-Chave Geração Distribuída, penetração, PSAT, sistema fotovoltaico conectado à rede elétrica (SFCR). I. NOMENCLATURA ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica CELTINS Companhia de Energia Elétrica do Estado do Tocantins FP Fator de Potência GD Geração Distribuída PSAT Power System Analysis Toolbox PV Painel Fotovoltaico SFCR Sistemas Fotovoltaicos Conectados à Rede Elétrica UC Unidades Consumidoras II. INTRODUÇÃO ERAÇÃO distribuída (GD) é, em geral, uma expressão usada para designar a geração de energia elétrica junto ou próximo do consumidor, independente da potência, tecnologia e fonte de energia [1]. A GD é vantajosa frente à geração centralizada, no que diz respeito à possibilidade da economia em investimentos na transmissão e distribuição de energia e na redução das perdas elétricas, melhorando o serviço de fornecimento de energia elétrica [2]. A GD possibilita uma maior diversificação das tecnologias que 1 Mestrando do programa de pós-graduação da FEELT/UFU, professor efetivo do IFTO/Palmas, e-mail: [email protected]. 2 Doutorando do programa de pós-graduação da FEELT/UFU, professor efetivo do IFTO/Palmas, e-mail: [email protected]. 3 Doutorando do programa de pós-graduação da FEELT/UFU, professor efetivo do IFMG/Formiga, e-mail: [email protected]. 4 Professor efetivo da graduação e do programa de pós-graduação da FEELT/UFU, e-mail: [email protected]. 5 Engenheiro de Planejamento do Sistema da CELTINS, e- mail: [email protected]. compõem a matriz energética, o que leva a um uso mais racional das fontes primárias disponíveis para a produção de energia elétrica. As principais tecnologias de GD baseadas na utilização de fontes renováveis são as pequenas centrais hidrelétricas, termelétricas alimentadas por biomassa, geradores eólicos e sistemas fotovoltaicos [2]. Atualmente, 78,4% de toda a energia elétrica produzida no Brasil é de responsabilidade das grandes centrais hidrelétricas [3], que estão muito distantes dos grandes centros consumidores. Entretanto, na ultima década, segundo a outorga e registro de geração [11], de forma similar aos países desenvolvidos, surgiram tendências para o incremento da geração de eletricidade de forma distribuída, decorrentes das seguintes causas: A forte propensão de aumento das tarifas de eletricidade. Reestruturação do setor elétrico com as novas regras estabelecidas pela ANEEL; a legalização da venda de energia elétrica ao mercado por produtores independentes e autoprodutores; a permissão legal de distribuição de eletricidade conjuntamente com frio/calor distrital. Disponibilidade crescente do gás natural para geração, em virtude do aumento da oferta, tanto de origem nacional como externa, da construção de gasodutos e do desenvolvimento das redes de distribuição. A conscientização dos problemas ambientais, promovendo soluções que reduzam os impactos ambientais da geração, dentre as quais, aquelas que permitem um melhor aproveitamento da energia proveniente de combustíveis fósseis ou renováveis. O aperfeiçoamento de tecnologias que tornaram a utilização de novas fontes e novos processos de geração de energia competitivos frente a geração clássica A última ação da ANEEL, destinada a facilitar a geração de energia nas unidades consumidoras, foi a aprovação em abril de 2012, com regras destinadas a reduzir barreiras para a instalação de GD de pequeno porte, incluindo a microgeração, com até 100 kW de potência e a minigeração, de 100 kW a 1 MW. A nova norma cria o Sistema de Compensação de Energia, que permite ao consumidor instalar pequenos geradores em sua unidade consumidora e trocar energia com a distribuidora local, sendo válida para geradores que utilizem fontes incentivadas de energia como hídrica, solar, biomassa, eólica e cogeração qualificada. Por esse sistema, a unidade geradora instalada em uma residência, por exemplo, produzirá energia e o que não for consumido será injetado no sistema da distribuidora, que utilizará o crédito para abater o consumo dos meses subsequentes [3]. Avaliação do Comportamento de uma Rede de Distribuição de Média/Baixa Tensão com a Penetração de Sistemas Fotovoltaicos A. R. Piccini 1 , M. A. Tamashiro 2 , A. R. Rodrigues 3 , G. C. Guimarães 4 e C. S. Barbosa 5 G

Avaliação do Comportamento de uma Rede de Distribuição de … · 2014. 5. 8. · A tabela IV apresenta modelos dos cabos e comprimentos, fornecidos pela CELTINS, sendo as resistências

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Anais do V Simpósio Brasileiro de Sistemas Elétricos, Foz do Iguaçu – PR, Brasil. 22-25/04/2014 ISSN 2177-6164

1

Resumo--O objetivo deste artigo é apresentar um estudo

preliminar sobre o comportamento de uma rede de distribuição,

diante da penetração de sistemas fotovoltaicos conectados à rede

elétrica (SFCR). Para este estudo foram considerados os dados

provenientes de parte da rede de distribuição da CELTINS, na

cidade de Palmas-TO. Por meio de medições reais e simulações

no software PSAT foram analisados três casos: comportamento

do sistema durante um determinado horário do dia sem SFCR,

durante esse mesmo horário com SFCR e em um determinado

horário da noite. Em seguida, os resultados obtidos são então

avaliados.

Palavras-Chave — Geração Distribuída, penetração, PSAT,

sistema fotovoltaico conectado à rede elétrica (SFCR).

I. NOMENCLATURA

ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica

CELTINS Companhia de Energia Elétrica do Estado do

Tocantins

FP Fator de Potência

GD Geração Distribuída

PSAT Power System Analysis Toolbox

PV Painel Fotovoltaico

SFCR Sistemas Fotovoltaicos Conectados à Rede

Elétrica

UC Unidades Consumidoras

II. INTRODUÇÃO

ERAÇÃO distribuída (GD) é, em geral, uma expressão

usada para designar a geração de energia elétrica junto

ou próximo do consumidor, independente da potência,

tecnologia e fonte de energia [1]. A GD é vantajosa frente à

geração centralizada, no que diz respeito à possibilidade da

economia em investimentos na transmissão e distribuição de

energia e na redução das perdas elétricas, melhorando o

serviço de fornecimento de energia elétrica [2]. A GD

possibilita uma maior diversificação das tecnologias que

1Mestrando do programa de pós-graduação da FEELT/UFU, professor

efetivo do IFTO/Palmas, e-mail: [email protected]. 2Doutorando do programa de pós-graduação da FEELT/UFU, professor

efetivo do IFTO/Palmas, e-mail: [email protected]. 3Doutorando do programa de pós-graduação da FEELT/UFU, professor

efetivo do IFMG/Formiga, e-mail: [email protected]. 4Professor efetivo da graduação e do programa de pós-graduação da

FEELT/UFU, e-mail: [email protected]. 5Engenheiro de Planejamento do Sistema da CELTINS, e-

mail: [email protected].

compõem a matriz energética, o que leva a um uso mais

racional das fontes primárias disponíveis para a produção de

energia elétrica. As principais tecnologias de GD baseadas na

utilização de fontes renováveis são as pequenas centrais

hidrelétricas, termelétricas alimentadas por biomassa,

geradores eólicos e sistemas fotovoltaicos [2].

Atualmente, 78,4% de toda a energia elétrica produzida no

Brasil é de responsabilidade das grandes centrais hidrelétricas

[3], que estão muito distantes dos grandes centros

consumidores. Entretanto, na ultima década, segundo a

outorga e registro de geração [11], de forma similar aos países

desenvolvidos, surgiram tendências para o incremento da

geração de eletricidade de forma distribuída, decorrentes das

seguintes causas:

A forte propensão de aumento das tarifas de eletricidade.

Reestruturação do setor elétrico com as novas regras

estabelecidas pela ANEEL; a legalização da venda de

energia elétrica ao mercado por produtores independentes

e autoprodutores; a permissão legal de distribuição de

eletricidade conjuntamente com frio/calor distrital.

Disponibilidade crescente do gás natural para geração, em

virtude do aumento da oferta, tanto de origem nacional

como externa, da construção de gasodutos e do

desenvolvimento das redes de distribuição.

A conscientização dos problemas ambientais, promovendo

soluções que reduzam os impactos ambientais da geração,

dentre as quais, aquelas que permitem um melhor

aproveitamento da energia proveniente de combustíveis

fósseis ou renováveis.

O aperfeiçoamento de tecnologias que tornaram a

utilização de novas fontes e novos processos de geração de

energia competitivos frente a geração clássica

A última ação da ANEEL, destinada a facilitar a geração de

energia nas unidades consumidoras, foi a aprovação em abril

de 2012, com regras destinadas a reduzir barreiras para a

instalação de GD de pequeno porte, incluindo a microgeração,

com até 100 kW de potência e a minigeração, de 100 kW a 1

MW. A nova norma cria o Sistema de Compensação de

Energia, que permite ao consumidor instalar pequenos

geradores em sua unidade consumidora e trocar energia com a

distribuidora local, sendo válida para geradores que utilizem

fontes incentivadas de energia como hídrica, solar, biomassa,

eólica e cogeração qualificada. Por esse sistema, a unidade

geradora instalada em uma residência, por exemplo, produzirá

energia e o que não for consumido será injetado no sistema da

distribuidora, que utilizará o crédito para abater o consumo

dos meses subsequentes [3].

Avaliação do Comportamento de uma Rede

de Distribuição de Média/Baixa Tensão com a

Penetração de Sistemas Fotovoltaicos A. R. Piccini1, M. A. Tamashiro2, A. R. Rodrigues3, G. C. Guimarães4 e C. S. Barbosa5

G

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Anais do V Simpósio Brasileiro de Sistemas Elétricos, Foz do Iguaçu – PR, Brasil. 22-25/04/2014 ISSN 2177-6164

2

Assim, para que os consumidores possam se tornar

produtores de energia, uma das alternativas viáveis atualmente

é a instalação de SFCR. Ainda não se tem a noção exata do

impacto desse tipo de instalação na rede elétrica. Com base

nisso, este trabalho realiza uma avaliação do comportamento

de uma parte da rede de distribuição da CELTINS, quando da

penetração desse tipo de geração de energia elétrica. São

utilizadas medições reais do sistema de distribuição e

simulações computacionais desenvolvidas no software PSAT.

III. CARACTERÍSTICAS DO SISTEMA ELÉTRICO

Para este trabalho foi considerada a Quadra 1106 Sul

localizada na cidade de Palmas-TO. Essa possui

aproximadamente 700 consumidores ligados ao sistema, em

sua maioria residenciais (Fig. 1). Nessa quadra encontra-se

parte da rede de distribuição da CELTINS suprida pelo

alimentador 2 provenientes da subestação denominada de

Palmas III (Fig. 2).

Fig. 1. Mapa da Quadra 1106 Sul [4].

Fig. 2. Foto aérea [4], adaptada pela CELTINS, com o traçado da rede de

alimentação da Quadra 1106 Sul suprida pelo alimentador 2.

Ainda, para este estudo foram consideradas as seguintes

informações extraídas dos softwares Eletricalc e UE Viewer

da Elucid Solutions S/A que são de propriedade da CELTINS:

dados dos transformadores, das cargas, das linhas de

interligação, potências e tensões da entrada e saída do

sistema, conforme Tabelas I, II, III, IV e V.

TABELA I

Dados dos Transformadores (CELTINS)

Barra Barra Potência

(kVA)

Relação

tensão

Prim./

Secun. (kV)

Resistência

(pu)

Reatância

(pu)

4 5 75 13,8/0,38 0,0160 0,0311

6 7 30 13,8/0,38 0,0190 0,0294

9 10 112,5 13,8/0,38 0,0147 0,0318

11 12 112,5 13,8/0,38 0,0147 0,0318

13 14 112,5 13,8/0,38 0,0147 0,0318

15 16 112,5 13,8/0,38 0,0147 0,0318

19 20 112,5 13,8/0,38 0,0147 0,0318

21 22 112,5 13,8/0,38 0,0147 0,0318

24 25 30 13,8/0,38 0,0190 0,0294

28 29 150 13,8/0,38 0,0137 0,0322

31 32 75 13,8/0,38 0,0160 0,0311

33 34 75 13,8/0,38 0,0160 0,0311

38 39 112,5 13,8/0,38 0,0147 0,0318

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Anais do V Simpósio Brasileiro de Sistemas Elétricos, Foz do Iguaçu – PR, Brasil. 22-25/04/2014 ISSN 2177-6164

3

TABELA II

Cargas Ligadas aos Transformadores às 14h45min do dia 03/10/12

Barra

conectado

Tensão

(kV)

Número de

consumidores

ligados ao

sistema

Max.

Potência

(kVA)

Potência dos

Painéis

Fotovoltaicos

(kW)

5 0,38 13 8,52 16,9

7 0,38 0 0 0

10 0,38 280 15,75 36,4

12 0,38 1 50,23 30

14 0,38 251 15,25 32,5

16 0,38 122 18,55 15,8

20 0,38 171 11,28 22,2

22 0,38 309 15,43 39

25 0,38 0 0 0

29 0,38 265 19,61 34,5

32 0,38 4 15,17 8

34 0,38 11 24,98 22

39 0,38 1 8,34 0

Obs.: Os valores da coluna de “Max. Potência (kVA)” é a

máxima potência das unidades consumidoras ligadas ao

transformador no instante do estudo, e da coluna “Potência

dos Painéis Fotovoltaicos (kW)” foram definidos pelos

autores para a realização da análise do Caso 2, na Seção V –

Estudos de Casos.

TABELA III

Cargas Ligadas aos Transformadores às 21h45min do dia 03/10/12

Barra

conectado

Tensão

(kV)

Número de consumidores

ligados ao sistema

Max.

Potência

(kVA)

5 0,38 13 55,53

7 0,38 0 0,00

10 0,38 280 72,00

12 0,38 1 61,55

14 0,38 251 81,29

16 0,38 122 71,86

20 0,38 171 55,48

22 0,38 309 85,90

25 0,38 0 0,00

29 0,38 265 85,67

32 0,38 4 9,17

34 0,38 11 14,99

39 0,38 1 4,34

A tabela IV apresenta modelos dos cabos e comprimentos,

fornecidos pela CELTINS, sendo as resistências e reatâncias

calculadas com o auxílio de dados disponíveis em [5].

TABELA IV

Dados de Linhas de Interligação (CELTINS)

Modelo

do

Cabo

AWG/

MCM

Barra

Saída

Barra

Chegada

Comprimento

(km)

Resistência

(pu)

Reatância

(pu)

2 2 3 0,201 0,010166 0,003610

2/0 2 4 0,237 0,005962 0,003926

2/0 6 23 0,319 0,008025 0,005285

2 23 24 0,075 0,003793 0,001347

2 3 8 0,046 0,002327 0,000826

2 8 9 0,063 0,003186 0,001131

2 17 8 0,237 0,011987 0,004256

2 3 11 0,078 0,003945 0,001401

2 11 13 0,064 0,003237 0,001149

2 13 15 0,16 0,008092 0,002873

2/0 30 31 0,158 0,003975 0,002618

2/0 31 33 0,285 0,007170 0,004722

2/0 37 30 0,05 0,001258 0,000828

2 37 38 0,044 0,002225 0,000790

2/0 30 26 0,175 0,004403 0,002899

2 26 27 0,246 0,012442 0,004418

2 27 28 0,134 0,006777 0,002406

2 27 17 0,096 0,004855 0,001724

2 17 18 0,085 0,004299 0,001526

2 18 19 0,122 0,006170 0,002191

2 18 21 0,055 0,002782 0,000988

2/0 26 1 0,175 0,004403 0,002899

2/0 23 1 0,05 0,001258 0,000828

TABELA V

Dados de Potências Ativas, Reativa e Tensões (CELTINS)

Entrada do sistema Barra 37

14h45min 21h45min

P (kW) 2683,95 2311,71

Q (kVAr) 1598,16 1412,61

V (kV) 13,62 14,08

Saída para outras quadras do sistema Barra 1 P (kW) 2292,26 1701,48 Q (kVAr) 1374,58 966,26 V (kV) 13,58 14,03

IV. MODELAGEM DO SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO

Com base nos dados da rede, apresentados nas Tabelas I,

II, III, IV e V, foi realizada a modelagem completa da rede

elétrica de distribuição de média/baixa tensão do sistema no

software PSAT (Fig. 3).

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4

Fig. 3. Modelo da rede gerado no PSAT.

Os parâmetros para a realização das simulações foram

configurados segundo as Tabelas I, II, IV e V para o horário

de 14h45min do dia 03/10/12 sem e com Geração Distribuída,

e com os dados das cargas na Tabela III para o horário das

21h45min sem a presença de Geração Distribuída.

V. ESTUDOS DE CASOS

Os estudos de casos foram feitos após os modelos

implementados e alimentados com as informações fornecidas

pela concessionária para o dia 03/10/12, às 14h45min. e

21h45min.

A. Caso 1

Segundo a concessionária, a data escolhida foi a de maior

consumo de energia registrado durante o dia ocorrido naquele

ano, sem o sistema de Geração Distribuída. Na primeira

simulação verificou-se que o fluxo de carga, tensões e

potências estavam de acordo com as informações da

CELTINS e semelhantes ao sistema real no horário de

14h45min. Um arquivo com esses dados foi gerado pelo

programa utilizando a função Power Flow. As potências das

unidades consumidoras naquele instante estão descritas na

coluna de máxima potência da Tabela II.

B. Caso 2

No mesmo horário do anterior, foi feita a inserção dos

SFCR conforme as potências descritas na Tabela II, na coluna

Potência dos Painéis Fotovoltaicos. Para analisar a operação

dos SFCR, foi usado um modelo baseado nas hipóteses e

características do trabalho apresentado por Albuquerque,

2012 [6].

Foi adotado o seguinte critério para unidades consumidoras

(UC) residenciais: 10% de todas as UC ligadas ao

transformador com instalação de painéis fotovoltaicos (PV)

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5

com potência equivalentes a 1,3kWh, ocupando cerca de

12m² de telhado de cada uma dessas residências. Esses dados

foram coletados de uma ferramenta chamada Simulador Solar,

desenvolvido através de parceria entre o Instituto Ideal e a

Cooperação Alemã, por meio da Deutsche Gesellschaft für

Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH e Kreditanstalt

für Wiederaufbau (KfW) [7] [8]. Para as UC comerciais um

valor mais próximo e compatível com suas necessidades foi

adotado. Foi executado o Power Flow e um novo arquivo de

dados foi gerado com as informações de fluxo de carga,

tensões e potências.

C. Caso 3

O maior consumo do horário noturno foi identificado pela

concessionária às 21h45min. Neste período, nova simulação

foi executada agora utilizando os dados da tabela III para a

máxima potência das cargas e sem atuação dos SFCR e um

novo arquivo de foi gerado com as mesmas informações

anteriores para análises.

VI. ANÁLISE DOS RESULTADOS

Um dos primeiros resultados que são possíveis de se

observar é o comportamento do alimentador, ou seja, a

energia fornecida pela concessionária observada na tabela VI.

Com a presença dos SFCR todas as potências sofrem redução

e o fator de potencia (FP) melhorou consideravelmente para

todo o sistema com um acréscimo de 5% para o instante do

estudo apresentado neste trabalho.

TABELA VI

Potência fornecida pelo alimentador 2 de Palmas III

Alimentador 2

Palmas III Dia sem SFCR

Dia com

SFCR Noite

P [MW] 2,4896 2,2334 2,2688

Q [MVar] 1,4536 0,9688 1,2014

S [MVA] 2,8829 2,4345 2,5673

FP 0,8636 0,9174 0,8837

Pode-se verificar também que o fluxo de potências Ativa e

Reativa nas linhas de interligação (Fig. 4 e 5) diminuem e em

alguns deles chegam a inverter com a conexão dos sistemas

fotovoltaicos. Tal fato esta destacado na linha de interligação

entre as barras 30 e 26. Sendo a barra 26 a entrada da quadra

tem-se uma diminuição de mais de 2,2MW de potência ativa e

0,4MVar de potência reativa.

A energia que vem do alimentador 2 de Palmas III, na barra

37 em direção a barra 30, tem-se uma redução de potência

ativa superior a 0,2MW e de potência reativa também superior

0,4MVar. Com essas informações pode-se confirmar o

aumento no FP do sistema, reduzindo perdas e aproveitando

melhor a energia que esta sendo produzida.

Na Fig. 6 é possível verificar que em todos os secundários

dos transformadores, onde os SFCR estão ligados, as tensões

se estabilizaram em 380V garantindo o fornecimento de

energia elétrica para as cargas com uma tensão estável e sem

variação evidenciando melhoria da qualidade da energia

elétrica, mantendo assim um melhor aproveitamento do que

esta sendo produzido e fornecido a todo o sistema.

Devido a essas condições os valores das tensões dos

primários também resultam num pequeno aumento,

evidenciando a melhoria na regulação de tensão dos

transformadores do sistema elétrico estudado.

-0,10000

0,10000

0,30000

0,50000

0,70000

0,90000

1,10000

1,30000

1,50000

1,70000

1,90000

2,10000

2,30000

2,50000

Barr

a 3

7 →

Barr

a 3

0

Barr

a 3

0 →

Barr

a 3

1

Barr

a 3

0 →

Barr

a 2

6

Barr

a 2

6 →

Barr

a 1

Barr

a 2

6 →

Barr

a 2

7

Barr

a 2

7 →

Barr

a 1

7

Barr

a 1

7 →

Barr

a 1

8

Barr

a 1

7 →

Barr

a 8

Barr

a 8

→ B

arr

a 3

Barr

a 3

→ B

arr

a 1

1

Barr

a 3

→ B

arr

a 2

Fluxo P [MW] Dia sem SFCR

Fluxo P [MW] Dia com SFCR

Fluxo P [MW] Noite

Fig. 4. Gráfico das Potências Ativas de algumas barras de interligação do

sistema.

-0,40000

-0,20000

0,00000

0,20000

0,40000

0,60000

0,80000

1,00000

1,20000

1,40000

1,60000

Bar

ra 3

7 →

Bar

ra 3

0

Bar

ra 3

0 →

Bar

ra 3

1

Bar

ra 3

0 →

Bar

ra 2

6

Bar

ra 2

6 →

Bar

ra 1

Bar

ra 2

6 →

Bar

ra 2

7

Bar

ra 2

7 →

Bar

ra 1

7

Bar

ra 1

7 →

Bar

ra 1

8

Bar

ra 1

7 →

Bar

ra 8

Bar

ra 8

→ B

arra

3

Bar

ra 3

→ B

arra

11

Bar

ra 3

→ B

arra

2

Fluxo Q [MVar] Dia sem SFCR

Fluxo Q [MVar] Dia com SFCR

Fluxo Q [MVar] Noite

Fig. 5. Gráfico das Potências Reativas de algumas barras de interligação do

sistema.

0,3600

0,3650

0,3700

0,3750

0,3800

0,3850

0,3900

Barr

a 1

0

Barr

a 1

2

Barr

a 1

4

Barr

a 1

6

Barr

a 2

0

Barr

a 2

2

Barr

a 2

5

Barr

a 2

9

Barr

a 3

2

Barr

a 3

4

Barr

a 3

9

Barr

a 5

Barr

a 7

Dia sem SFCR V [kV]

Dia com SFCR V [kV]

Noite V [kV]

Fig. 6. Gráfico das Tensões das barras dos secundários dos transformadores.

VII. CONCLUSÕES

Este trabalho analisou os resultados de simulações de um

sistema elétrico real, instalado na cidade de Palmas-TO na

quadra 1106 Sul, na qual foi simulada a inserção do SFCR em

Page 6: Avaliação do Comportamento de uma Rede de Distribuição de … · 2014. 5. 8. · A tabela IV apresenta modelos dos cabos e comprimentos, fornecidos pela CELTINS, sendo as resistências

Anais do V Simpósio Brasileiro de Sistemas Elétricos, Foz do Iguaçu – PR, Brasil. 22-25/04/2014 ISSN 2177-6164

6

10% do número de unidades consumidoras ligadas a alguns

transformadores.

Com relação à aplicação dos SFCR em uma quadra da

cidade de Palmas verificou-se uma redução na energia

entregue pela concessionária e um aumento no fator de

potencia do sistema. Registra-se que a quadra possui um

consumo de energia 24 horas ao dia, porém, a análise feita

considerou somente dois momentos específicos, os de maior

consumo.

Ressalta-se que, a partir do momento em que os SFCR se

tornarem mais populares, poderá existir um número bem

maior de residências, comércios e instalações públicas com

esse tipo de sistema de GD, permitindo o aproveitamento

desta fonte de energia limpa e renovável que é abundante

nessa cidade e em boa parte do Brasil.

Dessa forma, os SFCR permitem que os usuários consigam

uma redução significativa no consumo de energia elétrica da

concessionária e possam compensar em suas contas o

equivalente produzido, respeitando a resolução normativa n°

482 da ANEEL [3]. Isto resulta num efeito benéfico para a

rede de distribuição de energia proveniente do decréscimo no

carregamento dos transformadores e cabos, com a

consequente redução das perdas elétricas e aumento do fator

de potência do sistema [9]. E também poderá ser uma nova

fonte de renda e emprego para a população [10].

VIII. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o suporte dos órgãos brasileiros de

fomento a pesquisa (CAPES, CNPq e FAPEMIG), a

CELTINS e também o apoio fornecido pelas instituições de

ensino envolvidas neste trabalho (IFTO, IFMG e UFU).

IX. REFERÊNCIAS

[1] INEE. Sobre GD e Cogeração. Instituto Nacional de Eficiência

Energética - INEE. Disponível em: <http://www.inee.org.br/>. Acesso

em: 17 maio 2013.

[2] LORA, E. E. S.; ADDAD, J. “Geração Distribuída Aspectos

Tecnológicos, Ambientais e Institucionais”. Rio de Janeiro: Editora

Interciência, 2006.

[3] ANEEL. Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema

Elétrico Nacional – PRODIST Modulo 3., 2012.

[4] Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação – Prefeitura

Municipal de Palmas-To. Disponível em: <http://srvsefin.palmas.to.

gov.br/portalprefeitura/servicos/seduh/>. Acesso em: 01 outubro 2013.

[5] Tabela de Cabos e Fios. Disponivel em: <http://www.dicelrs.

com.br/index.php?pagina=produto&id=42&chamada=TABELAS>.

Acesso em: 06 de setembro 2013.

[6] ALBUQUERQUE, F. L. et al. “Análise da Curva de Carga em Prédios

Públicos com Sistemas Fotovoltaicos Conectados à Rede Dotados de

Compensação de Potência Reativa”. IV Simpósio Brasileiro de

Sistemas Elétricos (SBSE 2012). Goiânia, Goiás: [s.n.]. 2012.

[7] Instituto Ideal lança Simulador Solar. Disponível em: < http://www.

jornaldaenergia.com.br/ler_noticia.php?id_noticia=12973&id_tipo=3&

id_secao=8&id_pai=2&titulo_info=Instituto%20Ideal%20lan%26ccedi

l%3Ba%20Simulador%20Solar>. Acesso em: 16 abril 2013.

[8] Simulador Solar. Disponível em:<http://www.americadosol.org/

simulador/>. Acesso em: 16 abril 2013.

[9] VILLALVA, M. G.; GAZOLI, J. R. “Energia Solar Fotovoltaica”. 1.

ed. São Paulo: Editora Érica Ltda, 2012.

[10] Microgeração solar chega a mil residências na Bahia. Disponível em: <

http://www.jornaldaenergia.com.br/ler_noticia.php?id_noticia=12977&

id_tipo=3&id_secao=8 >. Acesso em: 16 abril 2013.

[11] ANEEL. Informações Gerais 1° Trimestre de 2013. Agencia Nacional

de Energia Elétrica - ANEEL. Disponivel em: <http://www.aneel.gov.

br/arquivos/PDF/Z_IG_Mar_2013.pdf>. Acesso em: 17 maio 2013.

X. BIOGRAFIAS

Anderson Rodrigo Piccini é graduado em Tecnologia em Mecatrônica Industrial pela Universidade Federal Tecnológica do Paraná (UTFPR), Curitiba, Paraná, Brasil, em 2004. Atualmente é professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Tocantins (IFTO). Suas pesquisas se concentram na área de dinâmica de sistemas elétricos e geração distribuída. Márcio Augusto Tamashiro é graduado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) em 1998. Obteve o título de mestre em Engenharia Elétrica pela UFU em 2004. Atualmente é professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Tocantins (IFTO). Suas pesquisas se concentram na área de dinâmica de sistemas elétricos e geração distribuída.

André Roger Rodrigues é graduado em Engenharia

Elétrica pela Universidade Federal de Uberlândia

(UFU) em 2004. Obteve o título de mestre em

Engenharia Elétrica pela UFU em 2007. Desde 2008

é professor do Instituto Federal de Educação,

Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG).

Atualmente é aluno do Programa de Pós-graduação

em Engenharia Elétrica da UFU atuando no núcleo

de Dinâmica de Sistemas Elétricos. Suas áreas de

interesse são: Transitórios Eletromagnéticos, Conversão de Energia Elétrica,

Dinâmica de Sistemas Elétricos e Geração Distribuída.

Geraldo Caixeta Guimarães é graduado em

Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de

Uberlândia (UFU) em 1977. Obteve o título de

mestre em Engenharia Elétrica pela Universidade

Federal de Santa Catarina (UFSC) em 1984 e de

Doutor (PhD), em Engenharia Elétrica pela

Electrical Engineering pela University of Aberdeen,

Aberdeen, Reino Unido, em 1990. Atualmente é

professor da Faculdade de Engenharia Elétrica da

UFU. Suas pesquisas se concentram na área de energia eólica, geração

distribuída, dinâmica e controle de sistemas elétricos, fluxo de carga,

estabilidades transitória e de tensão.

Cristiano Saraiva Barbosa é graduado em

Engenharia Elétrica, ênfase em Sistemas de Energia

pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) em

2011. Atualmente é Engenheiro de Planejamento da

Coordenação de Planejamento de Sistema na

Companhia de Energia Elétrica do Estado do

Tocantins (CELTINS).