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8/12/2019 Bachelard Gaston 3
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Do corpo
no ar ao fogo
do corpo:
Opus Corpus
STPHANE MALYSSE
STPHANE MALYSSE antroplogo visual,artista multimeiose professor de Artese Antropologia na USPLeste.
8/12/2019 Bachelard Gaston 3
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pus: orifcios corporais abertos aos corpos conectados para
que eles penetrem um corpo humano bem vivido. Entrando
no Opus Corpus aparece o Mundus Corpus, o mundo visto
como a multido dos tpicos do corpo, como a proliferao das
representaes antropolgicas do corpo.
Corpus: corpus multimeios de Antropologia das Aparncias
Corporais, Opus Corpus visita, um aps o outro, todas as regies
e pases do corpo. Abrindo novos caminhos, Opus Corpus uma
observao clnica dos estados visuais e culturais do corpo, uma
navegao em textos, sons e imagens, dentro desse misterioso
rgo dos possveis.
Este artigo uma reflexo/apre-sentao sobre o trabalho de ps-doutorado do autor, realizado soba forma do websiteOpus Corpus(http://opuscorpus.incubadora.
fapesp.br), no Departamento deMultimeios do Instituto de Artesda Unicamp.
o
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CORPO NO AR
Meio da luz, do perfume e da cor, o ar sim-
boliza sempre a vida invisvel, chamando
as vozes interiores da espiritualidade.
Ativo e masculino como o fogo, invisvele transitrio como a gua, o ar o elemento
que tempera o fogo interno do corpo e que
provoca, aos indivduos de temperamento
sangneo, sonhos de vo de passarinhos,
de corridas, de festim e de todas as coisas
que temos medo de nomeAr.
As asas so, acima de tudo, smbolos de
vo, de alvio, de desmaterializao e de
liberao seja da alma ou do esprito de
passagem ao corpo sutil, voltil (Gaston
Bachelard).
Anthony Gormley,Feeling
Material, 2005
Charles Estienne,Fogo do Corpo,
Paris, 1546
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FOGO DO CORPO
Da mesma maneira que o mundo tem o
seu fogo central, o corpo humano tem o seu
princpio de calor nas partes genitais, fontes
de vida. O desejo faz parte do corpo quetende a temperar o seu calor interno pelo ar
frio da respirao. Assim. para quem sonha
com fogo, incndios, guerras e destruio,
um corpo humano aparece, quando se
acende a centelha do vivo, quando pega este
fogo interno que nunca parar de queimar
at se consumir.
O amor a primeira hiptese cientfica para
explicar a reproduo objetiva do fogo e,
antes de ser o filho da madeira, o fogo ofilho do homem (Gaston Bachelard).
Louise Bourgeois, sem ttulo, 1999
Louise Bourgeois, sem ttulo, 1986
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Pensando sobre o corpo, pode-se imagi-
nar as roupas que o escondem e o esculpem,
as doenas que o maltratam e o condenam,
as emoes e as sensaes que dele transbor-
dam e o transcendem, as fotografias, as obras
de arte e os filmes que o colocam em cena.
Quem pretende pesquisar as aparncias cor-
porais de maneira sistemtica encontra-se
logo numa situao de grande embarao: a
proliferao dos discursos, das imagens, a
multiplicidade das aparncias, das roupas,
das poses, dos gestos, das tcnicas de tra-
balho braal ou de cuidado com a sade e a
beleza colocam o pesquisador num jogo de
espelhos. Onipresente no campo das artes e
das cincias, o corpo aparece fragmentado
pelo conhecimento. Atualmente, a fronteira
que separa o corpo da sua prpria imagem
prejudica a apreenso das realidades cor-
porais, pois as divises disciplinares no
ajudam a entender a importncia do olhar
na reunificao do saber sobre o corpo.
Reagindo contra essa fragmentao da
noo de corpo, minha pesquisa procura
reunir referncias sobre os enigmas do
corpo ao experimentar os multimeios como
instrumentos de ligao entre as diversas
cincias e artes do corpo, reconstruindo oespelho fragmentado do corpo. Segundo
David Le Breton (1990), a primeira quali-
dade necessria ao pesquisador interessado
nos sentidos do corpo a sua faculdade de
espanto. Portanto, a questo central que
desencadeou a elaborao deste vasto pro-
jeto : em que medida a representao do
corpo em imagens pode suscitar espanto e
proporcionar mais respostas ao pesquisador
do que um ensaio terico? Stela Senra (2000,
p. 6) responde a essa questo de forma indi-
reta ao explicar que a informtica operou
uma mudana de escala que transformou
a imagem em informao, abrindo novas
perspectivas para a cincia e desvendando
uma viso do corpo e da pele que se estendeu
ao campo da arte.
Nesse sentido, os multimeios so uma
possibilidade de quebrar os quadros dis-
ciplinares que limitam tradicionalmente o
pensamento sobre o corpo. Estimulando o
dilogo interdisciplinar e a criao de cin-
cias diagonais e transdisciplinares, os mul-
timeios suscitam curiosidade e exercitam a
faculdade do espanto na interatividade do
navegador com o conhecimento. A escrita
hipertextual constitui-se da relao entre
texto, som e imagem, portanto, na tela do
computador o acesso ao conhecimento
transita pela interpretao do que visto,do que lido e pela forma de navegao
escolhida.
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O objetivo do websiteOpus Corpus
guiar o usurio por caminhos metodolgi-
cos e epistemolgicos apresentando as
disciplinas e os saberes do corpo de forma
organizada e temtica. Assim, o navegador
alcana as informaes que procura deslizar
por pistas corporais, que lhe proporcio-
nam novas conexes de idias. Para pensar
a arquitetura geral desse site, a influncia
de Gaston Bachelard foi decisiva, pois,
tal como construiu a sua obra filosfica, o
siteest dividido em quatro corpos, dois
homens e duas mulheres, que representamos quatros elementos:
Propomos de marcar os diferentes tipos de
imaginao do corpo humano pelo signo
dos elementos materiais que inspiraram
as filosofias tradicionais e as cosmologias
antigas. Cremos que seja possvel fixar,
no reino dos imaginrios do corpo, uma
lei de quatro elementos que classifica as
diversas imaginaes materiais onde elas
se associam ao fogo, ao ar, gua e terra
(Gaston Bachelard, 1942).
Owebsite de fato, um banco de conhe-
cimentos sobre o corpo humano organizado
em quatro partes, quatro corpos simboli-
zando os quatros elementos. Os bancos de
conhecimentos so um conjunto organizado
de dados informativos cuja codificao
simblica geralmente mais rica do que
os chamados bancos de dados, pois nos
bancos de conhecimentos imagens e textosso interligados pelo sentido. Portanto, a
escrita hipertextual exige uma economia
de signos (escrita, imagem e sons) e uma
reflexo sobre os modos de interpretao,
que organizam sua economia semiolgica.
Essa escrita mascarada um convite feito
ao navegador para desvendar as interfaces
do conhecimento ou as zonas corporais
escondidas.
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No site, o navegador orientado para
atravessar os mltiplos sentidos do corpo,agindo com o seu prprio pensamento,
interagindo com as suas representaes e
seguindo os seus humores do momento.
O site constitudo de quatro corpos hu-
manos, corpos cujos orifcios corporais
ou meios de comunicao com o mundo
foram fechados artificialmente, pois nessa
interao do navegador com esses corpos
fechados que a visita comea. Assim,
cada orifcio corporal leva o navegador a
um tema especfico de antropologia das
aparncias corporais, e, aps ter escolhido
o elemento que quer explorar, o navega-
dor pode penetrar um dos treze orifcios
corporais, fechado hermeticamente, e
digitalmente recoberto de pele.
So 52 temas de antropologia das aparn-
cias corporais, que podem ser visitados,
lendo, vendo, ouvindo as informaes,
consultando a bibliografia e imprimindo
artigos sobre o tema escolhido. A abertura
dos caminhos de navegao ou fluidos
corporais exige do navegador a mesma
cirurgia de textos e imagens que con-sistiu em editar o site. A noo de teoria
dos humores (Vincent, 1986, p. 37) de
Hipcrates foi o ponto de partida da
estrutura embrionria do site, pois essa
proposio orientou as metforas corpo-
rais de navegao e a arquitetura orgnica
das informaes. Como os filsofos da
Antigidade, Bachelard analisou esses
elementos, mostrando que permanecem
profundamente interligados s estruturas
antropolgicas do imaginrio humano,
como hormnios da imaginao.
Para Bachelard (1943), primeiro, o
homem imagina, depois ele v, e s vezes
ele se lembra. Da imaginao lembrana,
tal seria a navegao ideal dentro do site,
pois entre o corpo anatmico e o imaginrio
do corpo, entre a arte e a cincia, entre
imagem-corpo, corpo-objeto e corpo-texto,
o site tenta aproveitar as possibilidades
heursticas da escrita hipertextual, sem se
esquecer de que
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BIBLIOGRAFIA
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MERLEAU-PONTY, M. Phnomnologie de la Perception. Paris, Tel-Gallimard, 1945.
SAMAIN, E. (org.). O Fotogrfico. So Paulo, Hucitec/CNPq, 1998.
SENRA, Stela. A Tela e a Pele, in Folha de S. Paulo (caderno Mais!), So Paulo, 30/4/2000, pp. 5-9.VINCENT, J-D. Biologie des Passions. Paris, Odile Jacon, 1986.
a navegao na rede e o hipertexto
introduzem uma conversao ttil na
qual predomina a mo, e no o olhar,
quando a navegao no funo de uma
busca, mas da resposta a uma imagem
presente. Com o desaparecimento do
sentido orgnico do tato, a continuidade
epidrmica olho/imagem do computador
suprime a distncia esttica do olhar, dis-
seminando na tela nossos olhos que en-
tram numa espcie de coma imaginrio
(Senra, 2000, p. 7).
S falta, agora, convidar o leitor deste
artigo a entrar nesse coma imaginrio, a
acessar o sitee penetrar literalmente nos
corpos entreabertos do ar, do fogo, da gua
e da terra.
http://opuscorpus.incubadora.fapesp.br