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Microrganismos patogênicos em alimentos: Bacillus cereus – Nutrição / UFRN UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO DISCIPLINA: MICROBIOLOGIA DOS ALIMENTOS Microrganismos patogênicos em alimentos - Bacillus cereus - Alunas: Gabriela Silva da Nóbrega Gelcineide C. Ribeiro dos Santos Professora: Ângela Maria Soares Cardonha 1

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Microrganismos patogênicos em alimentos: Bacillus cereus – Nutrição / UFRN

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTECENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDEDEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO

DISCIPLINA: MICROBIOLOGIA DOS ALIMENTOS

Microrganismos patogênicos em alimentos- Bacillus cereus -

Alunas: Gabriela Silva da Nóbrega

Gelcineide C. Ribeiro dos SantosProfessora:

Ângela Maria Soares Cardonha

AGOSTO/ 2007NATAL

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SUMÁRIO

Introdução ...........................................................................................................

Revisão de Literatura 1 - Características gerais do Bacillus cereus

1.1 - Classificação taxonômica ...................................................................1.2 - Características morfofisiológicas e propriedades...............................1.3 - Identificação Bioquímica ....................................................................1.4 - Reservatório e veículo .......................................................................1.5 - Fatores de Virulência .........................................................................1.5.1 - Toxina diarréica ...............................................................................1.5.2 - Toxina emética ................................................................................

2- Microrganismo no alimento2.1 - Alimentos Usualmente Contaminados ...............................................2.2 - Fatores Intrínsecos ............................................................................2.3 - Fatores extrínsecos ............................................................................2.4 - Mecanismo de contaminação e transmissão ....................................2.5 - Intoxicações2.5.1 – Sindrome Diarréica........................................................................2.5.2 – Sindrome Emética .........................................................................2.6 – Diagnóstico ............................................................................................2.7 – Tratamento ........................................................................................2.8 – Medidas de prevenção ...........................................................................

Conclusão ...........................................................................................................

Anexos Anexo A .....................................................................................................Levantamento bibliográfico sobre o Bacillus cereus em revistas e periódicos de alimentosAnexo B...................................................................................................Legislação brasileira sobre os limites de Bacillus cereus nos alimentos.

Referências .........................................................................................................

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INTRODUÇÃO

O seguinte trabalho tem como objetivo estudar a intoxicação alimentar

causada pelo Bacillus cereus, a fim de conhecer as características gerais desse

agente etiológico, os principais alimentos passíveis de contaminação, os

mecanismos de transmissão das doenças, o tratamento e as medidas preventivas.

Os alimentos são de suma importância para os seres vivos, entretanto, além

de serem fontes nutritivas, podem ter ação patogênica em conseqüência da

presença, em seu meio, de elementos nocivos capazes de desencadear pequenas

ou graves perturbações, intoxicações e infecções.

As intoxicações veiculadas por alimentos ocorrem quando certas

toxinas, elaboradas por microrganismos, são ingeridas juntamente com o

alimento. Nesse caso, não há necessidade de ingestão de células viáveis, pois

a própria toxina é responsável pelo sintoma. Os principais agentes de

intoxicações são. S. aureus, C. botulinum e B.cereus. Já as infecções são

ocasionadas pela ingestão de células viáveis, as quais, uma vez no interior do

microrganismo colonizam órgãos ou tecidos específicos, com a conseqüente

reação dos mesmos a sua presença, desenvolvimento, multiplicação ou

toxinas elaboradas; elas podem ser toxigênicas ou invasivas e seus principais

agentes infecciosos são: E.coli, C. perfringens, V. cholerae, Shigella sp. E

Salmonella sp.

Alimentos preparados em Unidades de Alimentação e Nutrição (UAN) têm

sido freqüentemente envolvidos em surtos de intoxicação e infecção alimentar. O

Bacillus cereus presentemente se inclui entre os germes de intoxicações ali-

mentares, por si só, e, às vezes, associado a outras bactérias. Sua ocorrência é

reconhecida como causa de intoxicações alimentares em todo o mundo. Este bacilo

normalmente encontra-se localizado na água, no solo e no pó, podendo também

ser encontrado em vegetações, matérias-primas e preparações culinárias.

De acordo com Evangelista (2005), na Europa, em 1947, Plazikowski pela

primeira vez relacionou o envolvimento do Bacillus cereus como responsável por

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novo tipo de intoxicação. Em 1955, Hauge, em suas pesquisas, revelou pormenores

da ação tóxica desta bactéria e de sua conseqüente sintomatologia.

Segundo Mendes, Azeredo e Coelho et al (2004), a grande capacidade de

multiplicação de B. cereus em diferentes substratos tem sido amplamente

constatada e registrada na literatura. A simples presença do patógeno em locais e

condições que possibilitem sua eventual transferência para alimentos prontos é,

reconhecidamente, um fator importante para desencadear episódios de intoxicações

- muitos dos quais sequer vêm a ser diagnosticados.

Levando em conta as características de disseminação do patógeno,

resistência de esporos e patogenicidade, vê-se que o problema assume uma

relevante importância quando os produtos contaminados são destinados a milhares

de pessoas, diariamente, por exemplo, em restaurantes de instituições ou indústrias.

Nesses locais, as grandes quantidades de alimentos produzidas passam,

freqüentemente, por lentas operações de resfriamento ou por períodos de espera,

pós-cozimento, suficientemente longos para permitir que as populações microbianas

alcancem níveis perigosos. Tal consideração ressalta a importância de se identificar

os pontos do ambiente que possam representar fontes de contaminação, de forma a

orientar medidas efetivas de controle do patógeno e em particular possíveis ações

corretivas em processos de higienização.

A intoxicação alimentar por B. cereus é a descrição geral da doença, embora

dois tipos de doença sejam causados por dois distintos metabólitos. Os sintomas

de diarréia do B. cereus devido à intoxicações alimentares mimetizam os de

intoxicações alimentares por Clostridium perfringens. O tipo emético de

intoxicação alimentar pelo B. cereus é caracterizado por náusea e vômito e é

semelhante aos sintomas causados por intoxicações por Staphylococcus

aureus. (CVE, 2007)

Assim, nesse trabalho serão explanados fatores relacionados ao

microrganismo (B. cereus) responsável por esses tipos de intoxicação alimentar.

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1 - CARACTERÍSTICAS GERAIS DO BACILLUS CEREUS

1.1- Classificação Taxonômica

O Bacillus cereus é um microrganismo que pertence ao Reino Monera, família

Bacillaceae, gênero Bacillus e espécie Bacillus cereus.

Segundo Franco (1996), o gênero Bacillus é composto por uma grande

variedade de espécies de bactérias, atualmente são conhecidos 48 espécies

diferentes. As bactérias desse gênero possuem uma intensa atividade metabólica,

sendo capazes de produzir enzimas que degradam diversos tipos de substratos

orgânicos.

1.2 – Características morfofisiológicas e propriedades

Esse microrganismo caracteriza-se como um bacilo

Gram-positivo grande, aérobio, mesófilo, termodúrico,

dotado de flagelos peritríquios e é um formador de

esporos, os quais podem ser centrais ou subterminais.

As cepas desse bacilo possuem as seguintes

propriedades: fermentam vários carboidratos (glicose,

frutose, lactose, sacarose); hidrolisam amido, caseína e

gelatina; produzem hemolisinas como a cereolisina (termoestável) e a

hemolisina termolábil; produzem fosfolipase do tipo C; reduzem nitratos;

1.3 - Identificação Bioquímica

Esse microrganismo caracteriza-se como um

bacilo Gram-positivo grande, ou seja, sua

membrana é capaz de se corar através do método de

coloração de Gram. São catalase positivas, isto é,

quando presente em um meio contendo peróxido de

hidrogênio (H2O2), ele o converte em água (H2O)

e oxigênio (O2). Podem ser também oxidase

variável.

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1.4 – Reservatório e veículo

Em razão da existência do Bacillus cereus, principalmente no meio

ambiente (solo, ar, água etc.), sua veiculação para os alimentos pode ocorrer

com certa facilidade; ele é largamente distribuído no solo o qual é o seu

reservatório natural e principal habitat.

Devido à resistência de seus esporos, a bactéria pode ser isolada de uma

grande variedade de pontos e por seu contato com a terra, os vegetais, como

verduras e frutas cultivados rentes ao chão, são passíveis de contaminação. Outros

alimentos com acesso as águas poluídas e expostos ao vento e poeiras, também

podem ser atingidos pelo Bacillus cereus.

Estudos demonstram que o B. cereus faz parte da flora fecal de

indivíduos normais, sua presença é mais evidente nos meses de verão e

depende dos hábitos alimentares. Porém, o B. cereus não coloniza o intestino,

assim não persiste por longos períodos.

1.5 - Fatores de virulência

A maioria das cepas de B. Cereus é capaz de produzir uma série grande de

metabólitos extracelulares, dos quais alguns estão relacionados com seu

mecanismo de virulência. Entre estes metabólitos, destacam-se a toxina diarréica e

a emética que são responsáveis pelas síndrome diarréica e sindrome emética,

respectivamente. Segundo vários pequisadores, essas síndromes só se

manifestam quando o alimento contém o número elevado de células viáveis de

B. Cereus (entre 107 e 109 células) (Franco, 1996).

MIMS, WAKELI, PLAYFAIR , et al (1999) afirmam que algumas cepas

produzem uma toxina termo-resistente (cereolisina) associada à germinação de

esporos, que provoca uma síndrome de vômito dentro de 1-5 horas após a

ingestão. Outras produzem uma enterotoxina termolábil (hemolisina) após a

ingestão que provoca uma diarréia em 10-15 horas.

1.5.1 - Toxina Diarréica

Spira & Goefert (1975) apud Roitmam (1988) relataram que a enterotoxina

causadora da síndrome diarréica era de natureza protéica, antigênica, sensível a

tripsina, termolábil, sendo destruída em cinco minutos a 56°C e sensível em

meio ácido.

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A toxina diarréica é uma enterotoxina protéica, termolábil, a qual é

destruída pelo aquecimento a 55 ºC durante 20 minutos. Essa toxina é

inativada por enzimas, como: a tripsina, a pepsina e pronase; e é instável em

pH inferior a 4,0. Ela atua estimulando a adenilato ciclase da mucosa intestinal,

provocando o acúmulo de sais e eletrólitos (Na+ e Cl-) e interferindo na

absorção de glicose e aminoácidos. Em casos mais graves ocorre a necrose

tecidual. A produção dessa enterotoxina se dá na fase logarítmica do crescimento

bacteriano e possui diversas denominações como enterotoxina diarréica, fator de

permeabilidade vascular, toxina dermonecrótica, toxina intestino necrótica, fator

RLIR (ligated rabbit ileal loop).

1.5.2 - Toxina Emética

Conforme relatado por Gilbert (1979) apud Roitmam (1988), a enterotoxina

responsável pelo processo emético parece ser completamente diversa da anterior,

de baixo peso molecular (< 5000), muito estável, resistente à temperatura e ao

ambiente ácido, bem como à ação de enzima proteolíticas.

A toxina emética é uma proteína pequena, provavelmente um peptídeo,

bastante resistente a pH ácido e a enzimas proteolíticas (pepsina e tripsina), ao

contrário da enterotoxina diarréica. Ela também resiste ao aquecimento a

126ºC, durante 90 minutos. Sua produção ocorre no término da fase logarítmica de

crescimento e ela é liberada em quantidades elevadas durante a lise da célula.

“Até o momento, não existem evidências suficientes sobre a produção

simultânea das toxinas emética e diarréica por uma mesma cepa de B. cereus”.

(FRANCO, 1996)

2 - Microrganismo no alimento

2.1 - Alimentos Usualmente Contaminados

Uma larga variedade de alimentos tem sido implicada em surtos tais como

carnes, leite, vegetais e peixes. Os surtos por vômitos estão mais associados a

produtos à base de arroz; entretanto, outros produtos têm sido implicados em surtos

como batatas, massas e queijos. Misturas com molhos, pudins, sopas, assados e

saladas têm sido implicadas.

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Segundo Mendes, Azeredo, Coelho et al (2004), a contaminação de alimentos

por B. cereus constitui não somente uma importante causa de deterioração, mas

também está associada com a ocorrência de dois tipos de síndrome, devidos à

ingestão de alimentos contaminados com cepas patogênicas produtoras de toxinas,

uma emética, outra diarréica. A toxina do tipo emético é pré-formada no

alimento, enquanto a do tipo diarréico é, muito possivelmente, produzida no

trato intestinal, sendo os fatores de virulência ainda não completamente

caracterizados.

 

2.2 - Fatores Intrínsecos

A atividade de água mínima necessária para o seu crescimento é de 0,95,

sendo o crescimento bastante reduzido quando a concentração de NaCl é 7,5 % e a

faixa de pH em que ocorre essa multiplicação varia de 4,9 a 9,3. A adição de

sais, de açúcar ou de outras substâncias provoca a redução do valor de Atividade

água de um alimento (FRANCO & LANDGRAF, 1996)

2.3 - Fatores Extrínsecos

Segundo Franco (1996), a multiplicação do B. Cereus ocorre 10 e 48 °C,

com temperatura ótima na faixa de 28 a 35°C.

A termorresistência é uma das propriedades que se evidencia no bacilo, pois

os esporos de algumas cepas proteolíticas são resitentes ao calor (os esporos são

destruídos à temperatura de 100 °C / 10 min). Isso permite que ele se mantenha vivo

após o processo da pasteurização ou da aplicação de outros tratamentos térmicos

intensos.

2.4 - Mecanismo de contaminação e transmissão

A contaminação pode ocorrer por meio de: contato entre o solo e os

produtos in natura (verduras, legumes etc) antes de serem completamente

higienizados; mãos mal lavadas que estiveram em contato com terra ou

produtos in natura como os citados anteriormente; superfícies do ambiente de

cozinha que estiveram em contato com produtos contaminados. Dessa forma, a

contaminação ocorre de forma cruzada, ou seja, um elemento contaminado poderá

“transmitir” o patógeno a outro. Por exemplo, a partir do solo os vegetais podem ser

contaminados ou um alimento cru (exemplo: verdura) pode contaminar um alimento

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cozido (exemplo: carne assada) quando colocados em um mesmo recipiente sem

adequada higienização.

Alimentos de origem animal como a carne bovina, suína e de frango,

também são suscetíveis à contaminação por B. cereus, estes se encontram em

sua superfície provavelmente devido à contaminação do solo. Nos laticínios

(queijos e sorvetes), o B. cereus também pode estar presente, sendo seus esporos

comumente encontrados no leite em pó.

A transmissão da intoxicação por B. cereus ocorre de forma indireta (por

veiculação alimentar), sendo adquirida por via oral através da ingestão dos

organismos ou da toxina, presentes nos alimentos contaminados.

No Brasil, vários autores pesquisaram a ocorrência do B. cereus em

alimentos, incluindo produtos de merenda escolar, farinhas e amidos, queijos,

alimentos desidratados e carnes moídas, com índices de positividade oscilando de

18,0 a 97,0% e níveis de contaminação variando, nos vários alimentos, de <10³ a

105 UFC/g (Furlanetto,1982 apud Roitmam,1988).

2.5 - Intoxicações

2.5.1 - Síndrome Diarréica

A síndrome diarréica é caracterizada basicamente por dor abdominal,

diarréia aquosa intensa e tenesmos retais que ocorrem entre 8 e 16 horas após

a ingestão do alimento contaminado (normalmente >105 microorganismos/g).

Ocorrendo raramente, náuseas e vômitos. A doença tem duração de 12 a 24

horas. Os principais alimentos associados aos sintomas de gastroenterite

diarréica por B. cereus, segundo a literatura, são: vegetais crus e cozidos,

produtos cárneos, pescados, massas, leite, sorvete, pudins a base de amido,

entre outros.

2.5.2 - Síndrome Emética

A síndrome emética caracteriza-se por náuseas, vômitos e mal-estar geral

e, em alguns casos, diarréia com 6 a 24 horas de duração. O período de

incubação é curto, iniciando de 1 a 5 horas após a ingestão de alimento que

contenha via de regra, >107 microorganismos/g. Os sintomas dessa síndrome

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associam-se aos alimentos farináceos, contendo cereais, principalmente o

arroz.

Embora nenhuma complicação específica tenha sido associada com as

toxinas do vômito e da diarréia produzidas pelo B. cereus, outras manifestações

clínicas de invasão ou contaminação têm sido relatadas. Elas incluem infecções

sistêmicas e piogênicas graves, gangrena, meningite séptica, celulite, abcessos

pulmonares, endocardite e morte na infância. (CVE, 2002)

2.6 - Diagnóstico

Todas as pessoas parecem ser susceptíveis ao B. cereus e o diagnóstico

clínico das doenças alimentares causadas por esse patógeno é difícil e a pesquisa

deste microrganismo nos alimentos suspeitos pode evidenciar a origem da doença.

A confirmação do B. cereus como o agente etiológico em um surto alimentar requer:

1) isolamento das cepas do mesmo sorotipo do alimento suspeito e das

fezes ou vômitos de pacientes;

2) isolamento de uma grande quantidade do sorotipo do B. cereus no

alimento (geralmente > 105 por grama do alimento incriminado) ou nas fezes ou

vômitos dos pacientes ou;

3) isolamento do B. cereus de alimentos suspeitos e determinação de

sua enterotoxigenicidade por testes sorológicos (toxina diarréica) ou

biológicos (emética e diarréica). O rápido início dos sintomas na forma emética da

doença, acompanhada de alguma evidência de intoxicação por alimento, é muitas

vezes suficiente para diagnosticar esse tipo de intoxicação alimentar. (CVE, 2002)

2.7 - Tratamento

Tanto a forma emética quanto a forma diarréica são doenças auto-

limitadas, isto é, não requerem intervenção medicamentosa, assim a

antibioticoterapia não é indicada. No entanto, a bacteremia em pacientes

imunocomprometidos deve ser tratada imediatamente com penicilina ou

vancomicina. As pessoas com sintomas, devem ingerir líquido constantemente,

isto é, devem fazer a reposição hidro-eletrolítica.

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2.8 - Medidas de Prevenção

O controle de B. cereus em alimentos está fundamentado na prevenção do

seu desenvolvimento, já que é difícil ou até mesmo impossível impedir

completamente sua presença nas matérias-primas.

Como para outras infecções associadas a alimentos, a preparação do

alimento em condições de higiene é fundamental, alem de outras atitudes:

•• educação dos manipuladores de alimentos e das donas de casa e o

emprego de boas práticas de higiene durante a produção de alimentos,

promovendo a manutenção da limpeza adequada do ambiente utilizado para

a sua preparação (cozinhas e todas as superfícies de trabalho);

•• lavar frequentemente as mãos com sabão, sobretudo depois da utilização

de instalações sanitárias, antes da preparação de alimentos e antes das

refeições;

•• somente utilizar água da rede geral de abastecimento público (nunca de outras

origens) nas preparações alimentares;

•• evitar a contaminação cruzada entre alimentos crus e cozinhados;

•• não servir nem consumir alimentos crus ou mal cozinhados, pois todos os

alimentos devem ser consumidos quentes e logo após a sua preparação;

•• alimentos cozidos devem ser estocados em refrigerador e reaquecidos

rapidamente (acima de 55ºC) para evitar a multiplicação dos microorganismos

antes de serem servidos, uma vez que os esporos de B. cereus podem

sobreviver à fervura, germinando e multiplicando-se rapidamente em temperatura

ambiente;

•• nenhum produto que oferece condições para a proliferação deste patógeno

deverá ser mantido por períodos superiores a 2-3 horas em temperaturas na

faixa de 15º a 60ºC, que propiciam condições de desenvolvimento. Os alimentos

de baixa acidez, submetidos á esterilização comercial, não oferecem riscos

quanto à presença dessa bactéria, uma vez que a resistência térmica de esporos

é relativamente baixa; (Franco, 1996)

•• servir e consumir de preferência leite pasteurizado; o leite fresco deve ser

sempre fervido antes de ser ingerido;

•• não preparar, servir ou consumir alimentos de proveniência duvidosa.

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O atendimento da Resolução brasileira (RDC 12 de janeiro de 2001) que

discorre a respeito dos limites de B. cereus em diversos grupos de alimentos

também é muito importante para a prevenção das intoxicações alimentares. (ver

grupos de alimentos no Anexo B)

CONCLUSÃO 

Ao término desse trabalho, evidencia-se que os microrganismos que podem

ocasionar doenças através dos alimentos, se encontram distribuídos em todo o meio

ambiente (solo, água e ar) e por isso, os alimentos podem ser facilmente

contaminados. O processo de manipulação desses alimentos (pré-preparo, preparo

e armazenamento) também contribui para sua contaminação.

Observou-se que a grande capacidade de multiplicação de B. cereus em

diferentes substratos tem sido amplamente constatada e registrada na literatura. E

que a simples presença do patógeno em locais e condições que possibilitem sua

eventual transferência para alimentos prontos é um importante fator para

desencadear episódios de intoxicações – os quais muitas vezes não são

diagnosticados, devido ser uma doença autolimitada.

De acordo com as características de disseminação do agente etiológico,

resistência de esporos e patogenicidade, o problema da intoxicação é considerado

de caráter público, pois as UAN são locais, onde ocorre manipulação de grande

quantidade de alimentos para um número elevado de pessoas e caso não hajam os

devidos cuidados nos procedimentos, as populações microbianas, dentre elas o B.

cereus, podem alcançar níveis perigosos de contaminação e, por conseguinte,

causar surtos de intoxicações alimentares.

Assim, o trabalho descrito teve como propósito contribuir para o estudo de um

dos microrganismos patogênicos presentes nos alimentos, a fim de conhecer as

doenças provocadas por suas toxinas e auxiliar a prevenção de surtos das doenças

de origem alimentar a ele atribuídas. Nesse processo, faz-se importante identificar

os pontos do ambiente que possam representar fontes de contaminação, para que

sejam tomadas medidas efetivas de controle do patógeno, em particular possíveis

ações corretivas em processos de higienização.

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ANEXOS

ANEXO A:

Levantamento bibliográfico sobre o Bacillus cereus em revistas e periódicos

de alimentos.

Os principais trabalhos encontrados nos últimos dez anos a cerca do

microrganismo em análise foram os seguintes:

GIL-TURNES, Carlos et al. Properties of the Bacillus Cereus strain used in probiotic CenBiot . Rev. Microbiol., 1999, vol.30, n°.1, p.11-14. Disponível em: www.scielo.br. Acesso em: 19/08/2007

HALFELD-VIEIRA, Bernardo de Almeida et al. Induction of systemic resistance in tomato by the autochthonous phylloplane resident Bacillus cereus. Pesq. agropec. bras., Aug 2006, vol.41, n°.8, p.1247-1252. Disponível em: www.scielo.br. Acesso em: 19/08/2007

MENDES, Renata Aparecida. AZEREDO, Raquel Monteiro Cordeiro de. COELHO, Ana Íris Mendes. Et al. Contaminação ambiental por Bacillus cereus em unidade de alimentação e nutrição. Rev. Nutr.  vol.17 n°2. Campinas, 2004. Disponível em: www.scielo.br. Acesso em: 14/08/2007

PACHECO-SANCHEZ, Cristiana de Paula and Massaguer, Pilar Rodriguez de Bacillus cereus in Brazilian Ultra High Temperature milk. Sci. agric. (Piracicaba, Braz.), 2007, vol.64, n°.2, p.152-161.

PIZA, F. A. T. et al. Production, characterization and purification of chitosanase from Bacillus cereus. Braz. J. Chem. Eng., June 1999, vol.16, n°.2, p.185-192. Disponível em: www.scielo.br. Acesso em: 19/08/2007

VIDAL-MARTINS, A.M.C., Rossi Jr., O.D. and Rezende-Lago, N.C. Microrganismos heterotróficos mesófilos e bactérias do grupo do Bacillus cereus em leite integral submetido a ultra alta temperatura. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., Jun 2005, vol.57, n°.3, p.396-400. Disponível em: www.scielo.br. Acesso em: 19/08/2007

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ANEXO B:

A legislação brasileira sobre os limites de Bacillus cereus nos alimentos.

A legislação brasileira (RDC 12 de 02 de janeiro de 2001) estabelecelimites para Bacillus cereus nos seguintes grupos de alimentos :

Grupo 3: Raízes, tubérculos e similares

Grupo 8 D: Leite em pó

 Grupo 8 G: Outros produtos lácteos

Grupo 10: Farinhas, massas alimentícias, produtos para/e de panificação,

(industrializados e embalados) e similares

Grupo 12: Produtos a serem consumidos após adição de líquido, com emprego de

calor (min. 75oC durante 20 segundos), excluindo os de base láctea e de chocolate

(cacau e similares)

Grupo 13: Produtos a serem consumidos após adição de líquido, sem emprego de

calor, excluindo os de base Láctea

Grupo 18: Produtos de confeitaria, lanchonete, padarias e similares, doces e

salgados - prontos para consumo

Grupo 20: Alimentos embalados e congelados, exceção de sobremesas

Grupo 22: Pratos prontos para o consumo (alimentos prontos de cozinhas,

restaurantes e similares)

Grupo 24: Produtos a base de soja

Grupo 25: Alimentos infantis

Grupo 26: Alimentos para grupos populacionais específicos, incluindo as dietas

enterais e excluindo os alimentos infantis

Grupo 27: Suplementos vitamínico e minerais e similares, em forma de pó, cápsulas,

drágeas e similares

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REFERÊNCIAS

CVE (Centro de Vigilância Epidemiológica). Intoxicação Alimentar / Bacillus cereus. In____.: Manual das Doenças Transmitidas por Alimentos. São Paulo: Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, 2002. Disponível em: www.cve.saude.sp.gov.br/htm/hidrica/BACILLUS_CEREUS.htm - 11k.

Acesso em: 14/08/2007.

EVANGELISTA, José. Alimentos: um estudo abrangente. São Paulo: Editora Atheneu, 2005.

FRANCO, B.D.G. DE M.,LANDGRAF.M.Microbiologia dos Alimentos. São Paulo, Ed.Atheneu,1996.

MENDES, Renata Aparecida. AZEREDO, Raquel Monteiro Cordeiro de. COELHO, Ana Íris Mendes. Et al. Contaminação ambiental por Bacillus cereus em unidade de alimentação e nutrição. Rev. Nutr.  vol.17 n°2. Campinas, 2004. Disponível em: www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-52732004000200012&script=sci_arttext - 44k. Acesso em: 13/08/2007

ROITMAN J. Tratado de Microbiologia. São Paulo: Ed. Manole, 1988.

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