Bandas Escolares

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    BANDAS ESCOLARES

    LORENZET, Simone – Secretaria Municipal de Educação de Chapecó – [email protected] 

    TOZZO, Astrit Maria Savaris – Secretaria Municipal de Educação de Chapecó – [email protected] 

    Eixo Temático: Cultura, Currículo e Saberes.Agência Financiadora: Não contou com financiamento

    Resumo

    Este artigo relata o respeito à atividade musical como fator importante para odesenvolvimento social e cultural do ser humano, especialmente das crianças e adolescentes,pois possibilita o desenvolvimento e fortalecimento do raciocínio lógico-matemático, dosenso estético, da percepção sonora e espacial, além da coordenação motora e capacidadeinventiva. Com base nessas considerações, a Secretaria Municipal de Educação de Chapecó-SC planejou e executou o projeto Bandas Escolares, o qual tem o objetivo de promover aaproximação entre os alunos e o ambiente escolar, percebendo-o como espaço de lazer einteração com os colegas e professores. O propósito é também resgatar valores culturais,

    respeito, amor à Pátria, ética, formação moral, entre outros. Além disso, pretende-se realizar ainclusão social no seu verdadeiro sentido, respeitando-se as diferenças e necessidades de cadaaluno, bastando, para isso, que ele esteja matriculado, frequente regularmente as aulascomprometa-se com os ensaios e apresentações. Para a execução do projeto, no ano de 2008,5 Escolas Básicas Municipais – EBMs - receberam instrumentos musicais, uniformes eorientação de dois instrutores (um professor de Educação Física e uma musicista)devidamente habilitados. Os ensaios são ministrados no contra turno das aulas, e cada escola éresponsável pela manutenção dos instrumentos e dos uniformes doados pela Secretaria deEducação. Cada banda é formada por um corpo coreográfico de balizas e porta-bandeiras, umgrupo musical composto por liras e um grupo de percussão. Além de oferecer oportunidade depermanência do aluno em ambiente escolar, fortalecendo, também, a parceria família-aluno-

    escola, o projeto ajuda na construção do caráter cívico. Atualmente, as bandas envolvem umtotal de 560 alunos que se apresentam em diversos eventos, recebendo apoio e incentivo paraa continuação do trabalho.

    Palavras chave:  Crianças. Adolescentes. Bandas escolares. Inclusão. Cidadania.

    1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE CHAPECÓ - SC

    Com aproximadamente 180.000 habitantes, o município de Chapecó está localizado na

    América do Sul, Brasil, Estado de Santa Catarina, na região Oeste, a 630 km de Florianópolis,

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    capital do Estado e possui uma área de 625,60km2. Fundada oficialmente em 25 de agosto de

    1917, a cidade é pólo agroindustrial do Sul do Brasil e centro econômico, político e cultural

    do Oeste do Estado. A colonização é predominantemente italiana, entre outras etnias como

    alemã e polonesa.

    Até 1838, o Oeste catarinense era habitado apenas por índios. Foi quando tropeiros

    paulistas e imigrantes italianos e alemães vindos do Rio Grande do Sul começaram a cruzar a

    região, rumo a São Paulo, para comercializar gado. A partir das paradas de tropeiros e com a

    vinda das companhias colonizadoras, iniciou-se o processo de migração de outros Estados,

    principalmente do Rio Grande do Sul, o que justifica a preservação dos costumes gaúchos em

    vários CTGs (Centros de Tradições Gaúchas).

    O rápido e constante crescimento das agroindústrias ampliou o mercado de trabalho etransformou-se na base da economia da cidade, juntamente com a agricultura. Mais tarde, o

    setor metal-mecânico surgiu como alternativa de desenvolvimento e vem se especializando na

    produção de equipamentos para frigoríficos.

    Tem prestígio internacional por ser grande exportadora de produtos alimentícios

    industrializados de natureza animal, ocupando lugar de destaque na economia catarinense. É

    também considerada a Capital Latino-Americana de Produção de Aves e Centro Brasileiro de

    Pesquisas Agropecuárias, o que facilita ser a cidade um local apropriado para a realização degrandes eventos de cunho nacional e internacional. Localizada em meio a um entroncamento

    de rodovias federais e estaduais, com acesso fácil aos países do Mercosul, Chapecó é um

    ponto estratégico para negócios transfronteiras no Sul do Brasil.

    Evidentemente, entre as metas prioritárias para a continuação do desenvolvimento do

    município está a educação de qualidade. Por isso, o investimento nesse setor não tem

    precedentes na história da cidade.

    2 PROJETO BANDAS ESCOLARES

    2.1 INTRODUÇÃO

    A receptividade à música é um fenômeno corporal que exerce grande influência na

    sociedade, atuando como instrumento de transformação individual e social. Segundo os

    Parâmetros Curriculares Nacionais Artes - Fundamental (1998, p.78), o ritmo de pulsação

    excitante e envolvente da música é um dos elementos formadores de vários grupos que se

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    distinguem pelas roupas que vestem, pelo comportamento que os identificam e pelos estilos

    musicais de sua preferência.

    Além disso, sabe-se que a atividade musical possibilita o desenvolvimento e

    fortalecimento do raciocínio lógico-matemático, do senso estético, da percepção sonora e

    espacial, assim como a coordenação motora e capacidade inventiva, especialmente entre as

    crianças e adolescentes.

    A música, através de suas especificidades, tem a capacidade de interagir com outras

    linguagens e outras culturas. Comunica-se com a matemática com a literatura, com as ciências

    sociais e humanas, com a arquitetura, com todas as formas de expressão artística e com as

    novas tecnologias. A interdisciplinaridade da música permite vários trabalhos didático-

    pedagógicos. Sua dimensão intercultural é, sem dúvida, fator de comunicação, de ligaçãoentre os povos e mensagem universal, uma vez que, através dela, é possível estabelecer um

    código comum, perceptível em todos os países.

    O poder da música é conhecido desde muito cedo. A magia apoderou-se dela desde os

    primórdios da humanidade. Através dos tempos, com a sua ajuda, tanto se podia (e se pode)

    ninar uma criança como se estimulavam os homens das tribos para o feroz combate; tanto se

    intensificava a nostalgia do amor como se ofertava aos deuses um sacrifício. A música

    acompanha a vida do homem em todas as suas fases, expressando dor, alegria, saudosismo,entre outros sentimentos.

    Com base nessas considerações, a Secretaria Municipal de Educação de Chapecó-SC

    planejou e executou o projeto Bandas Escolares, visando a ampliar o universo cultural das

    crianças e adolescentes por meio da musicalidade, buscando a revitalização das bandas como

    uma prática contemporânea, sem abrir mão de algumas tradições.

    O objetivo é, também, promover a aproximação entre os alunos e o ambiente escolar,

    utilizando-o como espaço de lazer e interação com os colegas e professores, além de propor oresgate dos valores culturais, respeito, amor à Pátria, ética, formação moral, entre outros,

    promovendo a inclusão social no seu verdadeiro sentido, respeitando-se as diferenças e

    necessidades de cada aluno, bastando, para isso, que ele esteja matriculado e frequentando

    regularmente as aulas.

    3 BREVE HISTÓRICO DAS BANDAS E FANFARRAS

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    Segundo os historiadores, desde a Antiguidade Clássica, o conceito de Banda Marcial

     já tinha sido popularizado pelos romanos, com provável influência dos gregos que

    valorizavam a disciplina física na formação militar, assim como a sensibilidade artística,

    especialmente voltada para a música.

    Como havia a especialização de funções dentro das organizações militares, reservava-

    se um lugar para os músicos que, de regra, estavam à frente das paradas militares. Assim, a

    finalidade desses desfiles obrigou a uma seleção de instrumentos musicais com base em sua

    portabilidade, facilidade de manejo e potência sonora.

    O período militar brasileiro, ao incentivar esses eventos, causou uma falsa impressão

    no país que associa, comumente, as apresentações das bandas ou fanfarras à ditadura. Assim,

    os desfiles cívicos perderam parte da popularidade que tinham há algumas décadas.Durante o Estado Novo (1937-1945), o governo Getúlio Vargas preocupou-se em

    estimular o sentimento patriótico nas escolas e agremiações civis. O que mais se destacou

    nessa prática, na área musical, foi o trabalho do maestro Heitor Villa-Lobos - compositor,

    professor e maior representante da corrente nacionalista na música brasileira - dos Orfeões

    (coral amador). Esse tipo de canto, cujo repertório era baseado em canções que valorizavam a

    cultura nacional e enalteciam os valores patrióticos, introduziu o ensino obrigatório da música

    nas escolas. (PCN Artes, 1998, P.24).Com o fim do Estado Novo e do movimento orfeônico, houve uma lacuna preenchida,

    aos poucos, pelas Bandas, Fanfarras e agremiações musicais, existentes desde o Império, que

    passaram a encabeçar os desfiles cívicos, geralmente no dia da Independência do Brasil, 07 de

    setembro.

    3.1 DIFERENCIANDO BANDAS E FANFARRAS

    O modelo americano das marching bands  influciou as modernas bandas marciais e

    musicais. Já as fanfarras mantiveram características técnicas mais simples, uma vez que os

    recursos instrumentais eram mais limitados. Vale mencionar que as pequenas bandas das

    quais se originaram os grupos que executam o frevo em Pernambuco eram, muitas vezes,

    chamadas de Fanfarras.

    Com o tempo, convencionou-se que as fanfarras são grupos compostos

    exclusivamente por instrumentos de percussão e sopros de metal. As bandas, no entanto, têm

    também instrumentos de sopro de madeira.

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    Quantos aos instrumentos presentes nas Fanfarras e Bandas relacionam-se os

    seguintes:

    •  instrumentos de sopro de metal lisos, que caracterizam a fanfarra simples: Corneta em

    Fá e Si bemol, Clarim em Mi bemol, Cornetão em Fá e Mi bemol;

    •  instrumentos de sopro de metal dotados de válvulas, que caracterizam a fanfarra com

    pisto: Bombardino em Si bemol, Fá e Mi bemol, Baixo Tuba ou Sousafone nas

    mesmas tonalidades e eventualmente Trompete em Si bemol;

    •  instrumentos de percussão: Bombo Fuzileiro, Surdo gigante (90cm), Mor (60cm) e

    Médio (30cm), Atabaque ou Timbale, pares de Pratos de 14 ou 16 polegadas, Caixa

    Clara ou Tarol (rasa e aguda) e Caixa de Guerra (profunda e grave) e eventualmente

    Lira diatônica (metalofones com afinação);

    •  instrumentos de sopro de Madeira: Flauta Transversal, Flautim ou Picollo  (flauta

    extremamente aguda), Clarineta, Requinta (Clarineta reduzida) e Saxofone.

    Além dos instrumentos, saliente-se que as Fanfarras e Bandas Marciais possuem uma

    série de elementos "alegóricos", os quais servem também como parâmetros para julgamento

    em concursos.

    •  Pelotão cívico: grupo de alunos portando a bandeira nacional, estadual, municipal e a

    da escola, ladeado por Guardas de Honra. Não faz evoluções.

    •  Estandarte:  aluno que leva a identificação (estandarte com o nome) da corporação

    musical que se apresenta, juntamente com sua Guarda de Honra. Assim como o

    Pelotão Cívico, esse grupo não faz evoluções e nem coreografias.

    •  Porta cartel: alunos que portam a identificação da categoria da corporação musical e

    que podem fazer evoluções ou coreografias por serem destaques da fanfarra.

    •  Pelotão ou Corpo Coreográfico:  formado geralmente por alunas que fazem

    coreografias durante a execução das peças musicais executadas pela Fanfarra ouBanda.

    •  Baliza: alunos ou alunas que realizam evoluções, malabarismo e coreografias livres ou

    coordenadas à frente da banda ou fanfarra.

    •  Mor: condutor do grupo musical no desfile, que desempenha às vezes as funções de

    diretor musical, ensaiador e regente. Além da condução musical propriamente dita, o

    Mor tem sob sua responsabilidade a manutenção da ordem única e a coordenação das

    coreografias.

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    •  Comissão de frente: grupo de função e número de componentes variável, encarregado

    de encorpar e sofisticar as evoluções e coreografias no desfile.

    4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 

    Todos sabem que a educação é a formação básica do cidadão. A partir dessa premissa,

    os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) foram elaborados para que haja respeito às

    diversidades regionais, culturais e políticas existentes no Brasil e criar condições para que os

    alunos tenham acesso ao conjunto de conhecimentos organizados e reconhecidos como

    indispensáveis ao exercício da cidadania. Pertence a esse conjunto de conhecimentos a noção

    de arte e música.

    Segundo o PCN-Arte/Ensino fundamental e a LDB 9394/96, art.26, parágrafo 2°, o

    ensino das artes visa à formação básica do cidadão. Claro está que a música é uma das

    linguagens artísticas incluídas nesse parâmetro e, sendo assim, ela exerce a sua contribuição

    para a formação básica do ser humano, cidadão e a educação formal do indivíduo.

    Assim sendo, a música na escola não pode ser simplesmente ornamental para animar

    as festas, mas deve ser concebida e praticada á luz da vivência das dimensões estéticas,

    sonoras, visuais, plásticas e gestuais, a fim desenvolver a consciência critica dos valores

    humanos e encontrar meios de levar os alunos a atuarem como cidadãos. (BRESCIA, 2003,

    P.85)

    A implantação das bandas escolares deve ir ao encontro da necessidade de que elas

    devem ser algo significativo para o aluno. “Afinal toda prática musical, seja ela o canto coral,

    a banda de música, o grupo instrumental, é muito bem vinda, desde que tenha sentido para o

    aluno e que o envolva afetiva e cognitivamente.” (BENEDETTI E KERR, 2008, P.42)

    Nos últimos anos, surgiu um manifesto pela implantação da Lei 11.769, de 18 de

    agosto de 2008, que altera a Lei 9.394 de 20 de dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e Bases

    da Educação, para dispor sobre a obrigatoriedade do ensino da música na Educação Básica, a

    qual foi aprovada no senado pelas comissões de Educação, cultura e desportos, constituição

     justiça e cidadania, como projeto de lei. Assim, o ensino da música não será mais constituinte

    e sim obrigatório no currículo escolar, concedendo-se o prazo de três anos para as escolas se

    adaptarem ao novo processo.

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    Segundo Sobreira, “a justificativa para o veto comprova que o ensino de música e a

    Educação Musical no Brasil são vistos por nossos governantes sobre uma ótica estreita e

    desfigurada de seus reais propósitos.” (SOBREIRA, 2008, P.46)

    Cabe a ressalva de que a Educação Musical que se quer nas escolas não deve ser

    desvalorizada em relação às outras disciplinas. A idéia é assegurar um ensino de qualidade,

    garantindo o acesso e permanência dos alunos na escola, a fim de torná-los cidadãos críticos e

    conscientes do seu papel na sociedade, capazes de transformar o seu meio social,

    proporcionando a oportunidade de inclusão social por meio do acesso a informações culturais

    que orientem a aprendizagem artístico-musical.

    Assim, corrobora-se com Bréscia, para quem "a música é tida como um dos melhores

    meios de expressão e socialização do ser humano". Ainda segundo a autora, "em suma, aeducação do individuo estará definitivamente incompleta se a música não constitui uma parte

    dela" (BRECIA, 2003, P.94)

    5.DESENVOLVIMENTO DO PROJETO

    A idéia do projeto surgiu com a necessidade de trazer a música não como um método

    apenas cultural, mas também como uma proposta pedagógica, estimulando a permanência do

    aluno na escola, uma vez que, para participar das Bandas Escolares, é preciso que o aluno

    freqüente as aulas regularmente, tenha disciplina e comprometa-se com os ensaios e

    apresentações. Além disso, é necessário o consentimento dos pais ou responsáveis, o que

    propicia a aproximação também da família em relação ao ambiente escolar.

    Levando em consideração os aspectos mencionados, evidentemente aliados a outros

    fatores positivos, entre os quais o desenvolvimento e aperfeiçoamento dos processos de

    alfabetização, de socialização, das capacidades e das percepções e o resgate na construção do

    caráter cívico, o projeto foi prontamente aceito pela Secretaria Municipal de Educação de

    Chapecó-SC.

    Ressalte-se que a proposta em questão pretende afirmar a importância da música na

    cultura e no desenvolvimento do cidadão, permitindo que talentos regionais sejam valorizados

    e reconhecidos, oferecendo a oportunidade para que novos talentos se evidenciem,

    proporcionando maior interação da comunidade com a cultura regional. O resgate familiar

    também é um dos pontos fundamentais do projeto, aproximando pais, professores e alunos,

    pois a presença nos ensaios, reuniões e apresentações das bandas é, sem dúvida, fato

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    significativo que merece ser relevado. Também entre os objetivos do projeto está a certeza de

    assegurar ensino de qualidade, garantindo o acesso e permanência dos alunos na escola.

    Outro ponto a considerar é a disciplina que se faz presente no ambiente de ensaio e

    concentração. Nota-se, também, o fator solidariedade entre os componentes das bandas,

    favorecendo o interrelacionamento pessoal e o convívio social, fornecendo noções de valores

    cívicos e morais, preparando os educandos para se tornarem cidadãos críticos, merecedores

    dos seus direitos e respeitadores dos seus deveres, conscientes do seu papel na sociedade e

    capazes de transformar o seu meio social. 

    Para a execução do projeto, no ano de 2008, cinco Escolas Básicas Municipais, –

    EBMs, a saber - Rui Barbosa, Severiano Rolin de Moura, André Marafon, Jardim do Lago e

    Vila Real- - receberam instrumentos musicais, uniformes e orientação de profissionaisdevidamente habilitados.

    Os uniformes e os instrumentos, evidentemente, não têm custo para aos alunos. A

    Secretaria Municipal de Educação é responsável pela aquisição e reposição de todo o material

    necessário para o bom andamento do projeto. Cada escola, onde há banda, tem a autonomia e

    a responsabilidade pelo cuidado e manutenção dos uniformes e dos instrumentos.

    Os profissionais envolvidos são bacharéis em Educação Física, os quais organizam e

    acompanham o corpo coreográfico das balizas, uma psicopedagoga, que interpreta e apresentaproblemas multidisciplinares relacionados às bandas, uma musicista responsável por ministrar

    as aulas de lira e percussão e estagiários, os quais ajudam na organização das demais tarefas.

    Os ensaios são ministrados no contra turno das aulas, normalmente duas vezes por

    semana. Quando se aproxima alguma apresentação, os ensaios se intensificam, ocupando, por

    vezes, também o horário noturno. Os profissionais responsáveis fazem o horário de acordo

    com sua disponibilidade, pois atendem às cinco bandas, as quais são formadas, cada uma, por

    um corpo coreográfico de balizas e porta-bandeiras, um grupo musical composto por liras eum grupo de percussão. Atualmente, as bandas envolvem um total de 560 alunos, que se

    apresentam em diversos eventos, recebendo apoio e incentivo da comunidade e da Secretaria

    Municipal de Educação para a continuação do trabalho. Vale lembrar que a educação musical,

    assim como as atividades desenvolvidas com as bandas não se fazem presentes no currículo

    escolar.

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    As apresentações consistem em eventos sócio-culturais em vários locais da cidade.

    Nesse momento, os alunos mostram todo o aprendizado conquistado nos ensaios, levando a

    música a todo e qualquer ouvinte, gerando, assim, apreciadores da música instrumental.

    O trabalho com o projeto das bandas é voltado para a educação musical, visando ao

    estudo e à reflexão do ensino da música, de forma eclética, viabilizando a inclusão social dos

    diferentes alunos. Ao se observar o trabalho desenvolvido, várias questões podem ser

    discutidas e aprofundadas, entre as quais, a relação professor e aluno, a inclusão

    socioeconômica dos alunos ante a profissionalização musical e instrumental e a maneira, além

    da socialização dos integrantes das bandas.

    Dentre as atividades desenvolvidas nessa proposta, estão as aulas de linguagem musical, em

    que os alunos ganham noções de ritmo e história da música. Nesse aspecto, percebe-se que osensaios não se limitam ao aprendizado, mas a outros elementos que estão presentes na música,

    como cultura e reflexão.

    Os professores aplicam uma forma de ensinar em que há oportunidade de analisar e

    refletir sobre a música ensaiada, vivenciando-a música e fazendo com que os educandos

    busquem maneiras de se comportar musicalmente. Assim, os alunos ficam bem mais à

    vontade, ampliando seu universo musical, viabilizando diferentes performances, explorando

    as habilidades dos alunos para diversificação da profissionalização. Também não se consideraperda tempo interromper o ensaio por alguns instantes, antes de se executar uma determinada

    música e contar a sua história ou o que ela representa. É comum o professor cobrar mais

    estudo individual de quem tem dificuldade, principalmente quanto à questão de divisão

    musical e afinação, nas quais a maioria dos alunos apresenta dificuldade, especialmente os

    iniciantes.

    Para a organização do trabalho, segue-se uma ordem de passos no ensaio: distribuição

    de partituras, divisão por naipes ou grau de dificuldade que alguns apresentam em algumasmúsicas. Observa-se que a forma tradicional se faz necessária, pois se garante mais ordem

    durante os ensaios.

    O repertório das bandas, selecionado pelos professores, envolve formas e estilos

    variados, que vão desde o clássico até a MPB, visando a uma melhor profissionalização

    musical e, ao mesmo tempo, preparando os alunos para tocarem e se familiarizarem com

    diversos estilos.

    6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

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    Por muito tempo, não só em Chapecó – SC, a instituição Banda de Música foi

    considerada tradicionalmente como “coisa de velho”. Uma das conquistas do projeto foi ter

    colocado em evidência essa instituição, fazendo surgir um significativo número de jovens

    musicistas mostrando uma imagem construtiva e renovada.

    Não só ministrar música nas escolas, o projeto é um grande trabalho de inclusão, um

    vínculo a ser criado entre pais, alunos e escola, tendo o regate da importância do cumprimento

    com os deveres cívicos e a amplitude da palavra cidadão. Tem também a finalidade de

    descobrir e apoiar grandes talentos musicais que poderão dar continuidade a esse trabalho

    agora iniciado, fazendo com que cada vez mais um número maior de crianças tenha a mesma

    oportunidade que lhes foi dada.

    Nesse sentido considera-se que as bandas têm dado sua contribuição na formaçãobásica do cidadão, mesmo sendo uma atividade extracurricular. Salienta-se a preocupação das

    coordenações e da Secretaria da Educação em manter suas bandas em atividade para que os

     jovens das comunidades em que elas estão presentes tenham a possibilidade de enriquecer

    suas formações e possam perceber que são capazes. Isso faz com que eles tenham motivos

    para se orgulhar. Percebe-se nos componentes a vontade de aprender, de fazer música, de

    fazer parte do grupo e mostrar o trabalho desenvolvido.

    Cumpre ressaltar que, entre os objetivos deste projeto, está inclusão social dos alunosque delas participam. É fato que a música tem poder de humanização e que a sociedade tem

    passado por várias transformações de caráter social, em que a violência e a criminalidade vêm

    arrebatando jovens de todas as camadas da população, especialmente as mais carentes. Nesse

    sentido, os ensaios e o empenho para as apresentações têm realizado um papel relevante para

    a inserção social e econômica. Alguns alunos, sabendo de sua potencialidade, da importância

    e do encantamento do trabalho que desenvolvem, adquiriram senso crítico quanto à

    valorização das bandas e do próprio talento e responsabilidade que eles sabem que estãodesenvolvendo, o que os motiva para a continuidade bem sucedida do trabalho.

    REFERÊNCIAS

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