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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ UNIVALI PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM SAÚDE E GESTÃO DO TRABALHO FLÁVIO APARECIDO IKUMA BIOSSEGURANÇA NOS CURSOS TÉCNICO EM SAÚDE BUCAL E AUXILIAR EM SAÚDE BUCAL DA ETSUS-ACRE Itajaí / SC - 2009 -

BIOSSEGURANÇA NOS CURSOS TÉCNICO EM SAÚDE …siaibib01.univali.br/pdf/Flavio Aparecido Ikuma.pdf · Drª Yolanda Flores e Silva . 1 FLÁVIO APARECIDO IKUMA BIOSSEGURANÇA NOS CURSOS

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  • UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJA UNIVALI

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO STRICTO SENSU EM SADE E GESTO DO TRABALHO

    FLVIO APARECIDO IKUMA

    BIOSSEGURANA NOS CURSOS TCNICO EM SADE BUCAL E

    AUXILIAR EM SADE BUCAL DA ETSUS-ACRE

    Itaja / SC

    - 2009 -

  • FLVIO APARECIDO IKUMA

    BIOSSEGURANA NOS CURSOS TCNICO EM SADE BUCAL E AUXILIAR EM

    SADE BUCAL DA ETSUS-ACRE

    Itaja / SC - 2009

    Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado em

    Sade e Gesto do Trabalho da Universidade do Vale

    do Itaja como requisito parcial obteno do ttulo de

    Mestre.

    rea de concentrao: Gesto do Trabalho e Educao em Sade.

    Orientadora: Prof. Dr Yolanda Flores e Silva

  • 1

    FLVIO APARECIDO IKUMA

    BIOSSEGURANA NOS CURSOS TCNICO EM SADE BUCAL E AUXILIAR EM

    SADE BUCAL DA ETSUS-ACRE

    Esta Dissertao foi julgada adequada para obteno do ttulo de Mestre e aprovada

    pelo Programa de Mestrado Profissional em Sade e Gesto do Trabalho da

    UNIVALI.

    rea de Concentrao: Gesto do Trabalho e Educao em Sade

    Itaja SC, 02 de dezembro de 2009

    _________________________________________

    Prof. Dr. Yolanda Flores e Silva - Presidente

    UNIVALI

    _________________________________________

    Prof Dr Stella Maris Brum Lopes - Membro

    UNIVALI

    __________________________________________

    Prof. Dr. Mrio Uriarte Neto - Membro

    UNIVALI / Odontologia

    Membro

  • 2

    FICHA CATALOGRFICA

    I26b IKUMA, Flvio Aparecido. Biossegurana nos cursos tcnico

    em sade bucal e auxiliar em sade bucal da ETSUS-Acre,

    Itaja-SC. 2010.117f. Dissertao (Mestrado em Sade e Gesto

    do Trabalho) - Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em

    Sade e Gesto do Trabalho, Itaja SC.

    Orientadora: Prof. Dr. Yolanda Flores e Silva.

    1. 1.Biossegurana em Odontologia, 2.Tcnico em Sade Bucal, 3.Auxiliar em Sade Bucal, I.Ttulo

    1

    CDU: 616.314

    Ficha catalogrfica preparada pela Bibliotecria Irene de Lima Jorge

  • 3

    Dedicatria

    Este trabalho dedicado primeiramente a DEUS, e Vitria Freitas

    Ikuma, minha filha e razo do meu viver.

  • 4

    AGRADECIMENTOS

    Primeiramente a DEUS e aos meus pais, Itsuo Ikuma e Laudicena B.

    Rodrigues Ikuma, responsveis pela minha existncia.

    Vanessa Rose Freitas da Silva pelo apoio, cuidado e dedicao com nossa

    filha, durante minhas ausncias.

    minha Orientadora - Professora Dra. Yolanda Flores e Silva pelo

    acolhimento apoio cientfico, diretrizes e acompanhamento do tratamento em todas

    as fases.deste trabalho.

    Amiga e Professora - MSc. Jacqueline Rodrigues Paiva pelo integral apoio,

    carinho e dedicao na reviso final deste trabalho.

    Aos membros da banca examinadora - Professora Dra. Stella Maris Brum

    Lopes e ao Professor Dr. Mrio Uriarte Neto pela anlise crtica e respeitosa, deste

    trabalho, bem como pelas valiosas sugestes apresentadas.

    Ao Ministrio da Sade atravs da Secretaria de Gesto do Trabalho e

    Educao na Sade (SEGETES) e Departamento de Gesto da Sade (DEGES).

    Organizao das Naes Unidas para Educao, Cincia e Tecnologia -

    UNESCO.

    Universidade do Vale do Itaja UNIVALI, atravs do Programa de

    Mestrado Profissional em Sade e Gesto do Trabalho, que nos acolheu e orientou

    nessa caminhada.

    Ao Governo do Estado do Acre por meio do Instituto Estadual

    Desenvolvimento da Educao Profissional Dom Moacyr Grechi e da Secretaria de

    Estado de Sade do Acre SESACRE.

  • 5

    Ao Diretor-Presidente do Instituto Dom Moacyr - Irailton Lima de Sousa pelo

    apoio na realizao deste mestrado.

    Amiga e Gerente Pedaggica do Instituto Dom Moacyr - Marlia Bezerra de

    Santana Macedo, sempre com uma palavra de incentivo e acessvel quando

    necessitei acessar os documentos que integram este trabalho.

    Ao Servio de Atendimento Especializado do Acre SAE, em nome de todos

    os pacientes, pelo entendimento e apoio na necessidade de meu crescimento

    profissional.

    As Coordenadoras do Mestrado, inicialmente Professora Dra. Agueda Lenita

    Pereira Wenhausen, que com todo carinho nos acolheu e a Professora Dra. Elisete

    Navas Sanches Prspero, que soube com carinho e ateno compreender nossas

    necessidades.

    Professora Dra. Maria Tereza Leopardi, que em um momento muito

    importante em minha vida, esteve presente, com todo carinho e ateno, peculiares

    a sua pessoa to querida.

    As amigas de viagem Andria Vasconcelos Correa da Silva, Elza Fernanda

    Leo de Assis, Mirtes da Silva Andrade Ribeiro, Rosa Maria de Souza Barbosa

    Morais Morais, Thais Silva de Moura Barros e Vnia Maria Lima da Silva, pela

    agradvel companhia nesta inesquecvel trajetria.

    A todos os amigos de mestrado, principalmente aos que dividiram mais de

    perto o caminho percorrido, com incrveis aventuras: Ivana Ribeiro Tavares, Joyce

    Malena Rgis Vieira, Karina Maschietto de Lima Assis, Silvio Darley P. Fernandes,

    Viviane Matos Correia Lima.

    Amiga e tambm representante de turma Ana Maria Bittar, pelo

    companheirismo e inesquecvel gostinho que sempre nos proporcionou com suas

    divinas criaes gastronmicas.

  • 6

    Aos secretrios acadmicos - Juliano Santos e Helenize Heyse Moreira e, no

    incio deste mestrado - Roslia Koerich e Vnia Caroline Martins da Silva, por

    sempre se colocarem disponveis para suprir nossas necessidades, assim como pelo

    carinho e ateno com que sempre me acolheram.

    A todos os amigos e colaboradores da Escola Tcnica em Sade Maria

    Moreira da Rocha ETSUS-ACRE, em nome da Coordenadora Geral Anna Lcia

    Leandro Abreu, pois no me permitiria esquecer o nome de nenhum destas pessoas

    que participaram dessa rdua e deliciosa caminhada.

    Enfim, meu muito obrigado a todos que, direta ou indiretamente, contriburam

    para que fosse possvel a realizao do trabalho de pesquisa, elaborao da

    dissertao e a concluso deste curso.

    Flvio Aparecido Ikuma

  • 7

    O papel dos infinitamente pequenos

    infinitamente grande

    Louis Pasteur

  • 8

    BIOSSEGURANA NOS CURSOS TCNICO EM SADE BUCAL E AUXILIAR EM SADE BUCAL DA ETSUS-ACRE.

    IKUMA, Flvio Aparecido.

    Orientadora: SILVA, Yolanda Flores e.

    Defesa: dezembro de 2009

    Resumo: Neste estudo considerando a biossegurana em odontologia como um tema amplo, complexo e muito discutido, que perpassa por todas as especialidades, o objetivo maior foi o de caracterizar como a biossegurana foi trabalhada nos cursos de Tcnico em Sade Bucal/Tcnico de Higiene Dental (TSB/THD) em 2004 e Auxiliar em Sade Bucal/Auxiliar de Consultrio Dentrio (ASB/ACD) em 2004 e 2007 na Escola Tcnica em Sade do Acre (ETSUS-ACRE). A abordagem qualitativa de natureza documental foi o mtodo de escolha para a realizao deste estudo, que explorou o plano de curso e material didtico (apostilas) seguido de uma comparao dos dados coletados com a prtica cotidiana nos ambientes de atuao dos profissionais auxiliares e tcnicos em sade bucal. Como resultado desta anlise foi possvel constatar que o tema biossegurana nestes documentos prioriza a discusso sobre o controle de infeco, com enfoque nas medidas de precauo-padro ou bsica. Tambm se verificou que alguns subtemas emergem nos documentos, so eles: direito a sade, cdigo de tica odontolgico, lei do exerccio profissional, direitos do cliente hospitalizado, sade do trabalhador, tica e sade, sade do trabalhador, ergonomia em odontologia, riscos ocupacionais em odontologia, primeiros socorros, urgncias odontolgicas, radiologia odontolgica e cuidados ps-cirrgicos. Importante ressaltar que estes subtemas apesar de presentes, encontram-se desarticulados e sem um fio condutor no direcionamento e pontuao de medidas mais claras e de acordo com a realidade local / regional quanto segurana de vida dos trabalhadores auxiliares e tcnicos em sade bucal. Podemos, com este estudo, evidenciar a necessidade de reestruturao do Plano de Cursos de Auxiliar e Tcnico em Sade Bucal, tendo como suporte o sancionamento da Lei n 11.889, de 24 de dezembro de 2008, que regulamenta as atividades dos profissionais Tcnicos em Sade Bucal (TSB/THD) e Auxiliar em Sade Bucal (ASB/ACD).

    Palavras chave: Biossegurana, Tcnico em Sade Bucal, Auxiliar em Sade

    Bucal

  • 9

    BIOSAFETY IN TRAINING COURSES FOR THE ORAL HEALTH TECHNICIAN AND ORAL HEALTH ASSISTANT AT THE ETSUS-ACRE.

    IKUMA, Flvio Aparecido.

    Orientadora: SILVA, Yolanda Flores e.

    Defence: december 2009

    This study focuses on biosafety in dentistry as a broad and complex theme, on which there has been much discussion, and which is of relevance to all specialties. Its main objective is to characterize how biosafety was addressed in training courses for the Oral Health Technician/Dental Hygiene Technician in 2004, and for the Oral Heath Assistant/Dental Surgery Assistant in 2004 and 2007, at the Escola Tcnica em Sade do Acre (Technical Health School of Acre) (ETSUS-ACRE). The study uses a qualitative, documentary approach, to explore the course curriculum and teaching materials (folders), followed by a comparison of the data collected from daily practice in environments where these professionals work. As a result of this analysis, it was observed that the theme of biosafety in these documents gives priority to discussions on the control of infection, focusing on standard or basic measures of prevention-precaution. Some sub-themes also emerged in the documents, namely: the right to health, code of ethics in dentistry, law of professional exercise, rights of the hospitalized client, occupational health, ethics and health, ergonomics in dentistry, occupational risks in dentistry, first aid, dental emergencies, dental radiology, and post-surgical care. It is important to emphasize that these sub-items, although present, lacked articulation or any clear focus or identification of clearer measures, and were out of tune with the local/regional reality in relation to the safety of the Oral Health Assistant and Oral Health Technician. This study identifies a need to restructure the Curriculum of these courses, as approved by Law no. 11,889 of 24 December 2008, which regulates the activities of these professionals

    Key-words: Biosafety, Oral Health Technician, Oral Health Assistant.

  • 10

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1

    Fluxograma da construo de Plano de Curso........................

    45

    Figura 2

    Sumrio do Plano de Curso TSB/THD e ASB/ACD...................

    47

    Figura 3

    Itinerrio de formao do curso Tcnico em Sade Bucal.....

    49

    Figura 4

    Relao entre Of2004, Pl2004 e Mt2005 e Mt2007...................

    61

    Figura 5

    Dimenses do SABER...............................................................

    62

    Figura 6

    Fluxograma de representaao da caracterizaao dos Temas em Biossegurana......................................................................

    64

  • 11

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1

    Definies de biossegurana que envolvem riscos..................................................................................................

    36

    Quadro 2

    Ricos ocupacionais mais freqentes nos ambientes de assistncia odontolgica .......................................................................................

    37

    Quadro 3

    Matriz curricular..................................................................................

    50

    Quadro 4

    Competncia e Habilidades destacadas na Oficina de Ouvidoria.............................................................................................

    54

    Quadro 5

    Perfil de Competncias Profissionais do TSB/THD e ASB/AC ............................................................................................................

    55

    Quadro 6

    Temas do Mdulo I - Mt2005a: Eixos I, II e III; Mt2007a: reas Curriculares I e II ...........................................................

    57

    Quadro 7

    Temas do Mdulo II - Mt2005b: Eixos I, II e III; Mt2007b: reas Curriculares I e II; Mt2007c: rea Curricular III .............

    58

    Quadro 8

    Temas do Mdulo III - Mt2005c: Eixos I; Mt2005c.....................................................................................

    60

    Quadro 9

    Competncias Profissionais do TSB/THD e ASB/ACD...................................................................................

    63

    Quadro 10

    Habilidades propostas para desenvolvimento da Competncia C1 do Pe2004; Pl2004; Mt2005a; Mt2007a........

    76

    Quadro 11

    Habilidades propostas para desenvolvimento da Competncia C2 do Pe2004; Pl2004; Mt2005a; Mt2007a........

    78

    Quadro 12

    Habilidades propostas para desenvolvimento da Competncia C3 do Pe2004; Pl2004; Mt2005a; Mt2007b........

    80

    Quadro 13

    Habilidades propostas para desenvolvimento da Competncia C4 do Pe2004; Pl2004; Mt2005a; Mt2007b........

    81

    Quadro 14

    Habilidades propostas para desenvolvimento da Competncia C5 do Pe2004; Pl2004; Mt2005a; Mt2007b........

    82

    Quadro 15

    Habilidades propostas para desenvolvimento da Competncia C6 do Pe2004; Pl2004; Mt2005b .......................

    83

    Quadro 16

    Habilidades propostas para desenvolvimento da Competncia C7 do Pe2004; Pl2004; Mt2005c........................

    84

    Quadro 17

    Temas Biossegurana Pe2004, Mt2005 e Mt2007 ASB/ACD...................................................................................

    85

    Quadro 18

    Temas Biossegurana Pe2004 e Mt2005TSB/THD...................................................................................

    86

    Quadro 19 Tema das Palestras apresentadas na Oficina de Ouvidoria (Of2004)....................................................................................

    90

    Quadro 20

    Anexos do Plano de Curso de TSB/THD e ASB/ACD, 2004; ETSUS-ACRE...........................................................................

    91

  • 12

    LISTA DE ANEXOS

    Anexo A

    Folder: frente e verso, convite e ficha de inscriao e Ficha de Inscriao para participaao da I Oficina de Ouvidoria (Of2004).............................................................................................

    108

    Anexo B

    Capa do Relatrio Final da I Oficina de Ouvidoria para Formulao do Plano de Curso Tcnico em Higiene Dental e Auxiliar de ConsultrioDentrio(Of2004)..............................................................

    109

    Anexo C

    Capa do Plano de Curso Tcnico em Higiene Dental. rea Profissional: Sade Educao Profissional (Pl2004)..............................................................................................

    110

    Anexo D

    Capa do Perfil de Competncias Profissionais do Tcnico de Higiene Dental e Auxiliar de Consultrio Dentrio (Pe2004).............................................................................................

    111

    Anexo E Capa da Apostila do Mdulo I Mt2005a, utilizada no curso TSB/THD e ASB/ACD, realizado no ano de 2005, pela ETSUS ACRE..................................................................................................

    112

    Anexo F Capa da Apostila do Mdulo I - Mt2005a, utilizada no curso ASB/ACD, realizado no ano de 2005, pela ETSUS ACRE..................................................................................................

    113

    Anexo G Capa da Apostila do Mdulo I Mt2007b, utilizada no curso TSB/THD e ASB/ACD, realizado no ano de 2007, pela ETSUS-ACRE..................................................................................................

    114

    Anexo H

    Capa das Apostilas do Mdulo II - Mt2007b e Mt2007c, utilizada no curso ASB/ACD, realizado no ano de 2007, pela ETSUS-ACRE..................................................................................................

    115

    Anexo I Capa da Apostila do Mdulo III Mt2005c, utilizada no curso TSB/THD e ASB/ACD, realizado no ano de 2005, pela ETSUS-ACRE..................................................................................................

    116

    Anexo J Folder da III Jornada de Odontologia do Acre....................................................................................................

    117

  • 13

    LISTA DE ABREVIATURAS

    C Competncia

    C1Mt2005a Competncia1 Apostila - Mdulo I - ACRE, 2005a

    C1Mt2007a Competncia1 Apostila - Mdulo I - ACRE, 2007a

    C1Pe2004 Competncia1 - Perfil de Competncias - BRASIL, 2004

    C1Pl2004 Competncia1 - Plano de Curso - ACRE, 2004b.

    C2Mt2005a Competncia2 - Apostila - Mdulo I - ACRE, 2005a

    C2Mt2007a Competncia2 - Apostila - Mdulo I - ACRE, 2007a

    C2Pe2004 Competncia2 - BRASIL, 2004.

    C2Pl2004 Competncia2 - Plano de Curso - ACRE, 2004b.

    C3Mt2005a[1] Competncia3[1] - Apostila Mdulo I - ACRE, 2005a

    C3Mt2005b[2] Competncia3[2] - Apostila Mdulo II - ACRE, 2005b

    C3Mt2007b Competncia3 - Apostila Vol.2 - Mdulo II - ACRE, 2007c

    C3Pe2004 Competncia3 - Perfil de Competncias - BRASIL, 2004

    C3Pl2004[1] Competncia3[1] - Plano de Curso - ACRE, 2004b.

    C3Pl2004[2] Competncia3[2] - Plano de Curso - ACRE, 2004b.

    C4Mt2005b Competncia4 - Apostila - Mdulo II - ACRE, 2005b

    C4Mt2007b Competncia4 - Apostila Vol.2 - Mdulo II - ACRE, 2007c

    C4Pe2004 Competncia4 - Perfil de Competncias - BRASIL, 2004

    C4Pl2004 Competncia4 - Plano de Curso - ACRE, 2004b.

    C5Mt2005b Competncia5 - Apostila - Mdulo II - ACRE, 2005b

    C5Mt2007c Competncia5 - Apostila Vol.2 - Mdulo II - ACRE, 2007c

    C5Pe2004 Competncia5 - Perfil de Competncias - BRASIL, 2004

    C5Pl2004 Competncia5 - Plano de Curso - ACRE, 2004b.

    C6Mt2005c Competncia6 - Apostila - Mdulo III - ACRE, 2005c

    C6Pe2004 Competncia6 - Perfil de Competncia - BRASIL, 2004.

    C6Pl2004 Competncia6 - Plano de Curso - ACRE, 2004b.

    C7Mt2005c Competncia7 - Apostila - Mdulo III - ACRE, 2005c

    C7Pe2004 Competncia7-Perfil de Competncias - BRASIL, 2004

    C7Pl2004 Competncia Profissional7-Plano de Curso-ACRE, 2004b.

    CD Cirurgio-Dentista

    GT Grupo de Trabalho

    H Habilidade

    H1C1Mt2005a Habilidade1-Competncia 1 - Apostila - Mdulo I - ACRE, 2005a

    H1C1Mt2007a Habilidade1-Competncia 1 - Apostila - Mdulo I - ACRE, 2007a

    H2C2Mt2005a Habilidade2-Competncia 2-Apostila1 - Mdulo I - ACRE, 2005a

    H2C2Mt2007a Habilidade2-Competncia 2-Apostila1 - Mdulo I - ACRE, 2007a

    H3C3Mt2005a[1] Habilidade3[1]-Competncia3[1]-Apostila1-MduloI-ACRE, 2005a

    H3C3Mt2005b[2] Habilidade3[2]-Competncia3[2]-Apostila2-MduloII-ACRE,2005b

    H3C3Mt2007b Habilidade3-Competncia3-Apostila2-V1-MduloII-ACRE, 2007

    H4C4Mt2005b Habilidade4-Competncia4 - Apostila - MduloII - ACRE, 2005b

    H4C4Mt2007b Habilidade4-Competncia4-Apostila2-V1-MduloII-ACRE,2007b

    H5C5Mt2005b Habilidade5-Competncia5 - Apostila2 - MduloII -ACRE,2005b

    H5C5Mt2007c Habilidade5-Competncia5-Apostila3-V2-Mdulo II-ACRE, 2007c

    H6C6Mt2005c Habilidade6-Competncia6 - Apostila2 - Mdulo II -ACRE,2005c

    H7C7Mt2005b Habilidade7-Competncia7- Apostila2 - Mdulo II - ACRE,2005b

    Mt2005 Material Didtico, 2005 - ETSUS-ACRE

    Mt2005a Apostila - Mdulo I - ACRE, 2005a

    Mt2005b Apostila - Mdulo II - ACRE, 2005b

    Mt2005c Apostila - Mdulo III - ACRE, 2005c

  • 14

    Mt2007 Material Didtico, 2007- ETSUS-ACRE

    Mt2007a Apostila - Mdulo I - ACRE, 2007a

    Mt2007b Apostila Vol. 1- Mdulo II - ACRE, 2007b

    Mt2007c Apostila Vol. 2 - Mdulo II - ACRE, 2007c

    PC Projeto de Curso

    Pe2004 Perfil de Competncias - BRASIL, 2004

    Pl2004 Plano de Curso - ACRE, 2004b

    T Tema

    T1C1Mt2005a Tema1 - Competncia1 - Apostila - Mdulo I - ACRE, 2005a

    T1C1Mt2007a Tema1 - Competncia1 - Apostila - Mdulo I - ACRE, 2007a

    T2C2Mt2005a Tema2 - Competncia2 - Apostila - Mdulo I - ACRE, 2005a

    T2C2Mt2007a Tema2 - Competncia2 - Apostila - Mdulo I - ACRE, 2007a

    T3C3Mt2005a[1] Tema3[1]-Competncia3[1]-Apostila-Mdulo I-ACRE, 2005a

    T3C3Mt2005a[2] Tema3[2]-Competncia3[2]-Apostila-MduloII-ACRE, 2005b

    T3C3Mt2007b Tema3- Competncia3 - Apostila - Mdulo II - ACRE, 2005b

    T4C4Mt2005a Tema4- Competncia4 - Apostila - Mdulo II - ACRE, 2005b

    T4C4Mt2007b Tema5-Competncia4-Apostila2-V1-MduloII-ACRE, 2007b

    T5C5Mt2005a Tema5-Competncia5 - Apostila2- Mdulo II - ACRE, 2005b

    T5C5Mt2007c Tema6-Competncia5-Apostila-V2- MduloII - ACRE, 2007c

    T6C6Mt2005c Tema6-Competncia 6 - Apostila3 - MduloII- ACRE, 2005c

    T7C7Mt2005c Tema7- Competncia7- Apostila do MduloIII- ACRE, 2005c

  • 15

    LISTA DE SIGLAS

    ABENO - Associao Brasileira de Ensino Odontolgico

    ABNT - Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    ABO - Associao Brasileira de Odontologia

    ABO NACIONAL - Associao Brasileira de Odontologia Nacional

    ABSA - Associao Americana de Biossegurana

    ACD - Auxiliar de Consultrio Dentrio

    AIDS - Acquired Immunodeficiency Syndrome

    ANATO - Associao Nacional dos Auxiliares e Tcnicos em Odontologia

    ANBio - Associao Nacional de Biossegurana

    ANVISA - Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria

    ASB - Auxiliar em Sade Bucal

    BEC - Batalho de Engenharia Civil

    BIS - Batalho de Infantaria de Selva

    CDC - Center of Disease Control

    CEB - Cmara de Educao Bsica

    CEE - Conselho Estadual de Educao

    CEP - Centro de Ensino Profissionalizante

    CFO - Conselho Federal de Odontologia

    CNS - Conselho Nacional de Sade

    CNSB - Coordenao Nacional de Sade Bucal

    CNTC - Cadastro Nacional de Cursos de Educao Profissional de Nvel Tcnico

    CONASEMS - Conselho Nacional Secretrios Municipais de Sade

    CONASS - Conselho Nacional de Secretrios de Sade

    COSENS - Colegiado dos Secretrios Municipais de Sade

    CRO - Conselho Regional de Odontologia

    CTNBio - Comisso Tcnica Nacional de Biossegurana

    CVS - Centro de Vigilncia Sanitaria

    D.O.U. - Dirio Oficial da Unio

    DABS - Departamento de Aes Bsicas em Sade

    DDP - Dirio de Dados Prticos

    DST - Doenas Sexualmente Transmissveis

    EBSA - Associao Europia em Biossegurana

    EPI - Equipamentos de Proteo Individual

    ESB - Equipe de Sade Bucal

    ETSUS-ACRE - Escola Tcnica em Sade Maria Moreira da Rocha

    FIO - Federao Interestadual dos Odontologistas

    FNO - Federao Nacional de Odontologia

    GDI - Gerncia de Desenvolvimento Institucional

    GEPRO - Gerncia de Educao Profissional

    GERINES - Gerncia de Registro de Informaes Escolares

    GM - Gabinete do Ministrio

    GPC - Gerencia Pedaggica e Curricular

    HIV - Human Immunodeficiency Vrus

    HUERB - Hospital de Urgncia e Emergncia de Rio Branco

    IDEP-DM - Instituto de Desenvolvimento da Educao Profissional Dom

  • 16

    Moacyr

    MS - Ministrio da Sade

    NR-32 - Norma Regulamentadora-32

    Of2004 - Relatrio Final da Oficina de Ouvidoria; ACRE, 2004a

    OGM - Organismos Geneticamente Modificados

    OMS - Organizao Mundial de Sade

    PSE - Programa Sade na Escola

    PSF - Programa Sade da Famlia

    PT - Projeto de Trabalho

    RDC - Resoluo da Diretoria Colegiada

    RET-SUS - Rede de Escolas Tcnicas do Sistema nico de Sade

    SIDA - Sndrome da Imunodeficincia Humana

    SEE - Secretaria Estadual de Educao

    SEGETS - Servio de Gesto do Trabalho e da Educao na Sade

    SENAC - Servio Nacional de Aprendizagem Comercial

    SENAI - Servio Nacional de Aprendizagem Industrial

    SENAT - Servio Nacional de Aprendizagem do Transporte

    SESACRE - Secretaria Estadual de Sade do Acre

    SESAU - Secretaria Estadual de Sade

    SESI - Servio Social das Indstrias

    SUS - Sistema nico de Sade

    THD - Tcnico em Higiene Dental

    TSB - Tcnico em Sade Bucal

    UFAC - Universidade Federal do Acre

  • 17

    SUMRIO

    1 INTRODUO ...................................................................................................... 19

    1.1 CONSIDERAES GERAIS SOBRE O TEMA ................................................ 19

    1.2 OBJETIVOS ...................................................................................................... 24

    1.3 METODOLOGIA .............................................................................................. 25

    1.4 O UNIVERSO DA PESQUISA: UMA DESCRIO BREVE ............................. 28

    2 A BIOSSEGURANA NO BRASIL ........................................................................31

    2.1. CONSIDERAES GERAIS SOBRE BIOSSEGURANA ............................. 31

    2.2 BIOSSEGURANA E RISCOS OCUPACIONAIS ........................................... 35

    2.3 BIOSSEGURANA EM ODONTOLOGIA ........................................................ 40

    2.4 POLTICAS E LEGISLAO SOBRE BIOSSEGURANA NO BRASIL .......... 42

    3 APRESENTAO DOS DOCUMENTOS ANALISADOS ..................................... 45

    3.1 PLANO DE CURSO DE TCNICO EM SADE BUCAL E AUXILIAR EM

    SADE BUCAL DA ETSUS-ACRE ........................................................................ 45

    3.2 RELATRIO DA I OFICINA PARA A FORMULAO DA PROPOSTA DO

    PLANO DE CURSO TCNICO EM SADE BUCAL E AUXILIAR EM SADE

    BUCAL ................................................................................................................... 52

    3.3 O PERFIL DE COMPETNCIAS PROFISSIONAIS......................................... 55

    3.4 MATERIAL DIDTICO - APOSTILAS .............................................................. 56

    4. ANLISE DOS DOCUMENTOS ........................................................................... 61

    4.1 CONSTRUO DO MATERIAL DIDTICO .................................................... 61

    4.2 ANLISE DAS COMPETNCIAS PROFISSIONAIS ....................................... 62

    4.3 ANLISE DAS HABILIDADES ......................................................................... 76

    4.4 TEMAS E SUBTEMAS EM BIOSSEGURANA .............................................. 84

    5. ALGUMAS CONSIDERAES SOBRE OS RESULTADOS DO ESTUDO ........ 90

    6. SOBRE UM NOVO PLANO DE CURSO E MATERIAL DIDTICO: ALGUMAS

    IDEIAS ...................................................................................................................... 92

    6.1 PROTOCOLO DE BIOSSEGURANA PARA O COTIDIANO DE TRABALHO95

    6.2. CURSO DE FORMAO INICIAL E CONTINUADA EM BIOSSEGURANA

    PARA EGRESSOS DA ETSUS-ACRE .................................................................. 96

    6.3. PALESTRA SOBRE BIOSSEGURANA EM ODONTOLOGIA NA III

    JORNADA DE ODONTOLOGIA DO ACRE A ODONTOLOGIA

    CONQUISTANDO NOVOS ESPAOS .................................................................. 97

    7. CONSIDERAES FINAIS .................................................................................. 98

  • 18

    REFERNCIAS .......................................................................................................100

  • 19

    1 INTRODUO

    1.1 CONSIDERAES GERAIS SOBRE O TEMA

    Com a globalizao e a velocidade dos avanos cientficos e tecnolgicos, a

    educao permanente vista como uma ferramenta na busca do domnio de novas

    tecnologias que surgem em diversos setores, como o da Sade. Dentre as aes

    desenvolvidas na rea, est a criao da Rede de Escolas Tcnicas do SUS (RET-

    SUS), instituda pelo Governo Federal, por meio da Portaria n 1298 de 28/11/2000,

    com a finalidade de fortalecer a formao dos profissionais que atuam no Sistema

    nico de Sade (SUS).

    A instituio da RET-SUS coloca em evidncia a importncia da educao

    permanente para o desenvolvimento e a consolidao do SUS, principalmente, no

    que se refere agregao entre individual e institucional, entre servios e gesto

    setorial, entre ateno e controle social, visando implementao dos princpios e

    diretrizes constitucionais que orientam a poltica de sade brasileira.

    O conceito de educao permanente defendido por essa Rede de Escolas

    que o conhecimento no se transmite, mas construdo a partir das dvidas e dos

    questionamentos das prticas vigentes luz dos problemas contextuais.

    Neste cenrio foi criada no dia 17 dezembro de 2001, a Escola Tcnica em

    Sade Maria Moreira da Rocha, doravante ETSUS-ACRE, integrando a Rede de

    Escolas Tcnicas do SUS, tendo por objetivo institucional:

    Formar profissionais que contribuam com a reorganizao do servio na perspectiva da construo do modelo de ateno sade proposta pelo SUS, tomando a prpria experincia de trabalho como objeto de reflexo para a elaborao do conhecimento, relacionando conhecimento terico e experincia. Tambm seu objetivo incentivar a criatividade, a iniciativa e a tomada de deciso no desenvolver de suas atividades, despertando o interesse pelos estudos lanando-se as bases para um processo de educao continuada e reunindo subsdios para um projeto voltado para a melhoria das condies de sade e de sade bucal da comunidade (ACRE, 2004, p.16).

  • 20

    Na poca de sua criao, a ETSUS-ACRE era vinculada

    administrativamente Secretaria de Estado de Educao (SEE), atravs da

    Gerncia de Educao Profissional (GEPRO), e com gesto compartilhada

    Secretaria de Estado de Sade (SESACRE), sendo respeitada a competncia do

    sistema estadual de ensino.

    Em 2005, a Gerncia de Educao Profissional extinta. A sua equipe e os

    Centros de Educao Profissional (entre eles a ETSUS-ACRE) passam a integrar o

    Instituto Estadual de Desenvolvimento da Educao Profissional Dom Moacyr

    Grechi, o qual ser denominado, daqui por diante, de Instituto Dom Moacyr. O

    Instituto Dom Moacyr uma entidade autrquica com autonomia administrativa,

    financeira e pedaggica vinculada Secretaria de Estado de Educao SEE. a

    instituio, no Acre, responsvel pela implementao, acompanhamento e avaliao

    das polticas pblicas de Educao Profissional.

    Iniciamos nossa trajetria como mediador de aprendizagem1 da ETSUS-

    ACRE, em 2006, atuando nos cursos de Auxiliar em Sade Bucal (ASB) e Tcnico

    em Sade Bucal (TSB). Conforme mencionado no objetivo institucional da ETSUS-

    ACRE, a clientela desses cursos so os trabalhadores da Sade que recebem

    formao profissional, pautada nos princpios da educao permanente, visando o

    fortalecimento das aes previstas pelo SUS. O enfoque dessa formao privilegia a

    transposio das contradies decorrentes de anos de formao centrada na

    doena, para a incluso de temticas que se referem ao contexto social dos

    indivduos (RAMOS, 2002).

    Salientamos que em decorrncia das mudanas recentes, sancionadas pela

    Lei n 11.889, de 24 de dezembro de 2008, quanto nomenclatura das profisses

    de Tcnico em Higiene Dental THD e Auxiliar de Consultrio Dentrio ACD, para

    evitar controvrsias no emprego de siglas, estaremos utilizando sempre ambas, da

    seguinte maneira TSB/THD e ASB/ACD.

    Na implantao das turmas de ASB/ACD e TSB/THD, em 2006, durante o

    desenvolvimento do plano de curso percebemos que os temas: cdigo de tica

    odontolgico, sade do trabalhador, tica e sade, ergonomia, riscos ocupacionais

    em odontologia, primeiros socorros e cuidados ps-cirrgicos, foram os que mais

    motivaram e inquietaram os educandos, porm no foram abordados durante as

    1 Mediador da aprendizagem corresponde ao professor. A denominao mediador utilizada pela Rede de

    Centros de Educao Profissional do Instituto Dom Moacyr em decorrncia da concepo filosfica que permeia

    a proposta pedaggica de currculo por competncia adotada pela instituio.

  • 21

    atividades de ensino e aprendizagem como articulados ao conceito de

    biossegurana em odontologia, objeto de estudo dessa pesquisa. O contedo de

    biossegurana abordado, embora estivesse voltado para a rea odontolgica,

    enfocou mais especificamente o controle de infeces, sem contemplar as diversas

    articulaes que guardava com os referidos temas.

    Essa constatao, associada ao interesse e relevncia em torno da

    biossegurana para a odontologia, neste incio de sculo, revela-se desafiadora,

    pois um assunto que se tornou interesse de estudos por volta da dcada de 80,

    em decorrncia do surgimento do HIV e AIDS, sendo o foco de discusso naquele

    perodo o controle de infeces. Sabe-se, porm, que nos dias atuais o conceito de

    biossegurana extrapola as barreiras das doenas infectocontagiosas, associando-

    se s diversas aes que contribuem para a preservao, a segurana e a

    manuteno da vida.

    Assim, nessa etapa de nosso estudo pretendemos discutir a biossegurana a

    partir de conceitos e definies em odontologia e, posteriormente, contextualiz-los

    Sade. Essa abordagem tem por finalidade sistematizar as consideraes sobre a

    abrangncia e as interrelaes do tema que iro subsidiar a anlise das praticas de

    biossegurana nos planos de curso e materiais didticos utilizados nos cursos de

    TSB/THD e ASB/ACD.

    Como j dito, anteriormente, em seu incio a biossegurana em odontologia

    destinava-se, em geral, ao controle de infeco. Defendem esse ponto de vista

    Chinellato e Scheidt (1993), por exemplo, ao realizarem estudo sobre

    biossegurana, alertando os cirurgies-dentistas para os perigos de transmisso de

    doenas infecto-contagiosas no consultrio odontolgico. Carmo e Costa (2001), por

    sua vez, citam que os procedimentos de biossegurana em odontologia esto sob o

    prisma do nvel de conhecimento dos cirurgies-dentistas em controle de infeco.

    Reforam, ainda, esse ponto de vista, Russo e Russo (2001) ao defenderem que a

    adoo de normas de biossegurana nos consultrios odontolgicos, destinada

    preveno de infeco, ressaltando que os profissionais de sade esto expostos a

    uma grande variedade de microrganismos presentes no sangue e na saliva dos

    pacientes.

    Lara (2002) ao propor uma forma de tornar mais eficiente a inspeo das

    luvas a fim de identificar perfuraes com pequenas dimenses, evitando a

    contaminao do profissional durante os procedimentos em odontologia, continua

  • 22

    assumindo a posio do enfoque dado biossegurana como vinculado ao controle

    de infeces, tematizado pelos outros autores.

    As recomendaes de Pinto e Paula (2003) ao estudarem o protocolo de

    biossegurana no consultrio odontolgico, enfatizam o controle de infeco,

    contaminao microbiana e as doenas como AIDS, Hepatite B, herpes, pneumonia,

    tuberculose, entre outras.

    Os estudos e recomendaes mencionados at o momento, corroboram para

    o enfoque dado biossegurana em odontologia como sendo apenas controle de

    infeco, conforme a concepo defendida, tambm, nos cursos de TSB/THD e

    ASB/ACD da ETSUS-ACRE.

    No entanto, sabe-se que a discusso sobre biossegurana em odontologia

    no se encontra restrita somente dimenso apresentada anteriormente. A partir de

    Lima e Ito (2000), a biossegurana concebida como sendo o conjunto de

    procedimentos adaptados ao exerccio da profisso no consultrio, com o objetivo

    de dar proteo e segurana ao paciente, ao profissional e sua equipe.

    Segundo a ANVISA as normas de biossegurana em odontologia visam

    prevenir riscos, que podem ser de caracteres biolgicos, fsicos, qumicos,

    ergonmicos, mecnicos ou de acidentes e, ainda, decorrentes da falta de conforto e

    higiene (BRASIL, 2006). Nessa concepo enfatiza-se a preveno de riscos

    presentes nas atividades odontolgicas, alm dos biolgicos.

    Observamos que as definies de biossegurana abordadas por Lima e Ito

    (2000) e pela ANVISA (BRASIL, 2006) no esto alinhadas restritamente ao controle

    de infeces, pois tematizam a proteo e a segurana das pessoas, assim como os

    riscos mecnicos ou de acidentes e os decorrentes da falta de conforto e higiene,

    ampliando a discusso em torno do tema. Essas contribuies, conforme se

    demonstrar, a seguir, articulam-se s consideraes advindas da abordagem sobre

    biossegurana na rea de Sade.

    Teixeira e Valle (1996, p. 13) definem biossegurana em Sade segundo a

    Comisso de Biossegurana da Fundao Oswaldo Cruz, como sendo:

    O conjunto de aes voltadas para a preveno, minimizao ou eliminao de riscos inerentes s atividades de pesquisa, produo, ensino, desenvolvimento tecnolgico e prestao de servios, riscos que podem comprometer a sade dos homens, dos animais, do meio ambiente ou a qualidade dos trabalhos desenvolvidos.

  • 23

    A concepo de biossegurana proposta pelos autores engloba alm da

    preveno, a minimizao ou eliminao de riscos intrnsecos diversidade de

    aes que permeiam a vida.

    Costa2 (1996 citado por COSTA, 2005, p. 39) define biossegurana como

    sendo o conjunto de medidas tcnicas, administrativas, educacionais, mdicas e

    psicolgicas empregadas para prevenir acidentes em ambientes biotecnolgicos.

    Esta definio inclui as medidas educacionais para a preveno de acidentes em

    ambientes ocupacionais, antes propostas pela Engenharia de Segurana do

    Trabalho, pela Medicina do Trabalho, pela Sade do Trabalhador e at mesmo pela

    Comisso de Controle de Infeco Hospitalar.

    A definio de biossegurana redimensionada em Costa e Costa (2002)

    quando os autores agregam definio discutida no pargrafo anterior, a

    interdisciplinaridade na rea de sade. Nesse sentido a biossegurana pode ser

    considerada, epistemologicamente, como mdulo, ao ser concebida nas matrizes

    curriculares, como estando articulada a outros temas e sub-temas dos cursos e

    programas de Sade.(COSTA, 2000).

    Barbosa e colaboradores (2003, p.59) consideram que as prticas de

    biossegurana, assim como o controle de infeco e diminuio de riscos a sade

    das pessoas individualmente ou coletivamente uma exigncia e direito do cliente e,

    sobretudo, uma declarao de respeito equipe de trabalho.

    Para Cavalcante et al (2003), as normas de biossegurana englobam todas

    as medidas que visam evitar riscos fsicos (radiao ou temperatura), ergonmicos

    (posturais), qumicos (substncias txicas), biolgicos (agentes infecciosos) e

    psicolgicos (como o estresse) (CAVALCANTE et al, 2003, p. 15). No contexto

    dessa definio destaca-se a preveno quando se considera que as normas de

    biossegurana evitam riscos.de diferentes naturezas.

    Segundo Costa (2002) a educao em biossegurana no Brasil, apesar da

    sua importncia estratgica e social, ainda no est inserida nas diretrizes

    curriculares de nvel mdio e profissionalizante da educao pblica e privada.

    Tomando como referncia o rol de recomendaes sobre biossegurana em

    odontologia e na rea de Sade, estaremos assumindo a concepo do termo

    defendida por Costa (2005, p.39), como sendo o conjunto de medidas tcnicas,

    2 COSTA, M. A. F. Construo do conhecimento em sade: o ensino de biossegurana nos cursos de nvel mdio na Fundao Oswaldo Cruz. 2005. 154f. Tese (Ps-Graduao no Ensino de Biocincia e Sade) Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2005.

  • 24

    administrativas, educacionais, mdicas e psicolgicas empregadas para prevenir

    acidentes em ambientes biotecnolgicos. Embora a abordagem feita pelo autor se

    refira rea da Sade, ela se articula a nossa pesquisa, pois ao focalizar aspectos

    como conjunto de medidas e a preveno de acidentes aborda, por um lado,

    dimenses da biossegurana discutida em odontologia, tais como controle de

    infeces, proteo e segurana das pessoas, preveno de riscos mecnicos ou

    de acidentes, entre outros; por outro lado, ressalta-se que essa concepo traz a

    contribuio da dimenso educacional, ampliando a discusso em torno das

    questes que a envolve, principalmente, quando se considera que a biossegurana

    pode ser entendida como se articulando a outras reas do conhecimento, e mais

    particularmente, em nosso caso, subsidiando a anlise que nos propomos a realizar

    sobre o enfoque dado biossegurana nos documentos pedaggicos da ETSUS-

    ACRE.

    Finalmente, baseando-se em Costa (2005) pode-se considerar que um curso

    que trabalhe a biossegurana deva articular contedos dessa rea com os das

    diferentes reas do conhecimento, com objetivo de ampliar a discusso sobre a

    preservao da sade das pessoas, das plantas, dos animais e do meio ambiente.

    1.2 OBJETIVOS

    Nosso objetivo geral nasceu das questes problema abaixo:

    Como foi construdo o Plano de Curso e os Materiais Didticos (apostila)

    em relao ao tema biossegurana nos cursos de TSB/THD e ASB/ACD

    na ETSUS-ACRE?

    Quais os temas sobre biossegurana utilizados na construo das

    apostilas?

    Quais os sub-temas que emergem deste material sobre biossegurana?

    Qual a relao destes com a prtica cotidiana nos consultrios

    odontolgicos?

    O material existente precisa ser reestruturado? Baseando-se no material

    coletado faz-se necessrio a criao de um protocolo para as prticas

    odontolgicas cotidianas?

  • 25

    Objetivo geral: caracterizar a abordagem sobre o tema biossegurana no

    plano de curso e material didtico (apostila) dos cursos de TSB/THD e ASB/ACD da

    ETSUS-ACRE.

    Para que fosse possvel atingir este objetivo, trabalhamos com a perspectiva

    de:

    Verificar no plano de curso e material didtico (apostilas) do TSB/THD e do

    ASB/ ACD os temas utilizados para discusso da Biossegurana;

    Identificar no plano de curso e material didtico (apostilas) as

    competncias e habilidades utilizadas para o desenvolvimento dos temas

    e sub-temas voltados a biossegurana e a sua relao com as prticas

    odontolgicas vivenciadas pelo pesquisador na rede de atuao do

    TSB/THD e ASB/ACD;

    Propor, aos colaboradores da ETSUS-ACRE (caso necessrio), a

    reformulao e/ou reestruturao do plano de curso e material didtico e a

    elaborao de um protocolo de ao na prtica odontolgica cotidiana.

    1.3 METODOLOGIA

    O mtodo qualitativo foi a abordagem de pesquisa escolhida, pois segundo

    Minayo (2007) este mtodo pode expressar e/ou incorporar intencionalidade e

    subjetividade inerente a natureza do fenmeno estudado.

    Como o estudo realizado sobre a biossegurana foi de natureza documental,

    em um primeiro momento, se fez a coleta de informaes inseridas nos documentos

    plano de curso / materiais didticos (apostilas) de modo a fazer a reunio de

    diversas evidncias, que possibilitassem a compreenso do fenmeno estudado.

    A coleta e a anlise das informaes contidas nesses documentos foram

    realizadas atravs da leitura sistemtica, com a comparao das informaes

    descritas segundo a dimenso do fenmeno estudado e/ou buscando evidncias do

    universo em questo nos documentos que foram utilizados como base para a

    construo do plano de curso e na vivncia profissional do pesquisador.

    importante ressaltar que o pesquisador, atua como professor nos cursos de

    TSB/THD e ASB/ACD da ETSUS-ACRE e tem sua prtica profissional, h alguns

    anos, no mesmo universo em que atuam ou atuaro os egressos dos dois cursos.

  • 26

    Nesse sentido, os resultados, considerando os objetivos de nossa proposta, sero

    pautados de reflexes relativas aos documentos analisados e o que na prtica

    vivenciamos como biossegurana na atuao odontolgica no Acre.

    Na anlise documental qualquer material escrito pode ser examinado e

    utilizado como fonte de informao. As vantagens dessa prtica ter o material

    disponvel para consulta quantas vezes considerar necessrio, o baixo custo para o

    pesquisador e ser uma fonte passiva de coleta de dados. Possuem algumas

    restries como a procedncia e a veracidade das informaes que produzem, para

    que isso no se torne um problema, recomenda-se obedecer a critrios rigorosos de

    seleo do material a ser analisado (documento pblico ou privado / de carter

    acadmico ou de outra natureza / tipo de utilizao / autoria / divulgao, etc.)

    (GUALDA e HOGA, 1997).

    Em nosso estudo analisamos o contedo dos documentos: Plano de Curso do

    TSB/THD e ASB/ACD e o material didtico (apostilas) utilizados no desenvolvimento

    do curso na ETSUS-ACRE. O Plano de Curso referente aos anos de 2005 e 2007,

    foi elaborado em 2004 e o material didtico utilizado nas respectivas turmas era

    composto por trs apostilas cada um. Estes materiais foram elaborados pelas

    equipes tcnica e pedaggica da ETSUS-ACRE, sob a coordenao da Gerncia

    Pedaggica e Curricular do Instituto Dom Moacyr (ACRE, 2008).

    A elaborao do roteiro para anlise desses documentos foi realizada aps a

    qualificao quando iniciamos a leitura flutuante3dos textos do plano de curso e

    material didtico (apostilas), para posteriormente procedermos a comparao dos

    dados coletados nesses documentos e a prtica cotidiana nos ambientes de

    atuao, dos educandos da ETSUS-ACRE e do pesquisador.

    Foi utilizado tambm anotaes, denominadas neste estudo de Dirio de

    Dados Prticos, sobre a experincia do pesquisador, conforme sugere Minayo

    (2007, p. 63) com o uso de referenciais tericos para comparao com aspectos

    operacionais do cotidiano profissional. O referencial que subsidiou a elaborao

    desse dirio foi o Manual de Servios Odontolgicos editado pela Agncia Nacional

    de Vigilncia Sanitria (ANVISA, 2006) e a Portaria CVS-n 11, de 04 de julho de

    1995, adotada pela Gerncia Municipal de Sade Bucal do municpio de Rio Branco.

    Vale ressaltar que as observaes presentes neste dirio, so parte das

    atividades que o pesquisador desenvolve em sua prtica profissional, como

    cirurgio-dentista, nos Programa Sade na Escola e Servio de Atendimento 3 Ver Minayo (2007;2004) para o conceito de leitura flutuante.

  • 27

    Especializado (SAE)4, e ainda como facilitador, do programa de educao

    permanente voltado para o atendimento de pessoas com DST/HIV/AIDS.

    O mtodo utilizado para descrio dos dados foi a anlise temtica,

    enfocando como contedo central o tema, conforme assume Minayo (1997)

    baseando-se na concepo de tema defendido por Bardin (1979):

    O tema uma unidade de significao que se liberta naturalmente de um texto analisado segundo critrios relativos teoria que serve de guia leitura (...) consiste em descobrir os ncleos de sentido que compem a comunicao e cuja presena, ou freqncia de apario pode significar

    alguma coisa para o objetivo analtico escolhido (Bardin5,1979 citado por

    Minayo, 2007).

    Na anlise temtica podemos optar por diversos tipos de unidades de registro

    (individuais ou combinadas) tais como: palavras, frases, oraes, at mesmo o tema

    pode ser uma unidade de registro, em torno do qual tiramos uma concluso. Alm

    das unidades de registro, necessitamos definir as unidades de contexto, pois a

    compreenso do contedo analisado pressupe o seu contexto (MINAYO, 2007

    p.87).

    Do ponto de vista operacional a anlise realizada compreendeu:

    Pr anlise com: leitura flutuante, constituio do corpus, formulao

    e reformulao de nossos pressupostos e objetivos quando

    necessrios;

    Explorao do material documental: classificao e categorizao de

    expresses e palavras significativas que respondiam aos objetivos

    propostos;

    Tratamento dos resultados obtidos e interpretao: proposio de

    inferncias e interpretaes luz de referencial terico pertinente mais

    a comparao com a experincia do pesquisador.

    4 SAE Servio de Atendimento Especializado em doenas infectocontagiosas, como por exemplo,

    DST/HIV/AIDS, Hepatites Virais, Tuberculose e Hansenase.

    5 BARDIN,L. Anlise de contedo. Lisboa:Edies 70,1979. 105 p.

  • 28

    1.4 O UNIVERSO DA PESQUISA: UMA DESCRIO BREVE

    Para Matta (2007) a Constituio de 1988 legitimou a incorporao de direitos

    e a ampliao do carter redistributivo do Estado para com o cidado, e a

    implantao do Sistema nico de Sade (SUS) representa a materializao do

    processo de democratizao e humanizao da sade no Brasil. A Poltica Nacional

    de Formao de Recursos para Sade apresentou-se como uma estratgia

    necessria viabilizao e a implantao do SUS, diante da necessidade de

    qualificar os profissionais inseridos no servio de sade sem formao necessria a

    natureza de suas atividades (BAPTISTA, 2007).

    A qualificao dos profissionais inseridos no sistema de sade foi pensada

    para proporcionar a transposio de inmeras contradies decorrentes de anos de

    formao centrada na doena sob uma viso fragmentada que desconsiderava o

    contexto no qual o indivduo estava inserido (RAMOS, 2002).

    A partir da Constituio, da Poltica Nacional voltada para a formao de

    recursos humanos na sade, o estado do Acre no poderia ficar fora dos anseios

    nacionais, que a rigor so os mesmos dos demais estados do pas, seja em nvel

    das capitais ou em nvel dos pequenos municpios em que existe a atuao dos

    egressos dos cursos de formao profissional. Nesse contexto, a educao

    profissional em sade se apresenta no cenrio local, como uma estratgia capaz de

    propiciar e fomentar condies para o desenvolvimento e fortalecimento de polticas

    pblicas voltadas para a formao de recursos humanos na rea de sade bucal,

    com o intuito de:

    contribuir para minimizar os diversos problemas odontolgicos atravs

    da preveno e educao em sade bucal; e

    participar do processo de implantao e implementao no SUS, do

    Plano de Curso, na poca, do TSB/THD, com itinerrio de qualificao

    de ASB/ACD6, abrangendo tambm os auxiliares que no possuam o

    curso de auxiliar.

    Em 28 dezembro de 2000, por meio da Portaria Ministerial 1444/GM, o

    Ministrio da Sade estabelece incentivo financeiro para reorganizao da ateno

    6 Segundo o Plano de Curso de TSB/THD, o itinerrio do curso estabelece a terminalidade intermediria no

    percurso formativo, sendo assim, o educando ao concluir os mdulos I e II, recebe o certificado de qualificao

    em ASB/ACD. A certificao de tcnico, porm, atribuda aps a concluso do

  • 29

    Equipe de Sade Bucal (ESB) prestada nos municpio por meio do Programa de

    Sade da Famlia (PSF). O Artigo 3, ao focalizar o incentivo financeiro anual

    destinado aos municpios qualificados s aes de Sade Bucal pelo Fundo

    Nacional de Sade, estabelece, ainda, a composio das equipes de ESB em duas

    modalidades (I e II), definindo, no somente valores diferenciados mas tambm os

    profissionais que as compem.

    Assim, focalizando mais especificamente a composio das equipes de ESB,

    (pois no nossa inteno discutir os incentivos financeiros), integram a Modalidade

    I, os seguintes profissionais: um (01) Cirurgio-Dentista CD e um (01) Auxiliar em

    Sade Bucal ASB/ACD; enquanto a Modalidade II compreende um (01) CD, um

    (01) ASB/ACD e um (01) Tcnico em Sade Bucal TSB/THD (Acre, 2004).

    Com a regulamentao da Portaria 1444/GM por meio da publicao da

    Portaria n 267 de 06/03/2001, foi estabelecido em seu Artigo 1, Anexo 1, o Plano

    de Reorganizao das Aes de Sade Bucal na Ateno Bsica. Dentre as aes

    que integram o plano, est previsto o incremento dos processos de capacitao

    tcnica e de educao permanente para todos os profissionais de sade bucal bem

    como a formao do pessoal auxiliar, a saber, o TSB/THD e o ASB/ACD, sendo

    oferecidas pelas Escolas Tcnicas de Sade do SUS, pelos Centros Formadores de

    Recursos Humanos e/ou por outras instituies formadoras. As aes formativas

    destinadas a esses profissionais, de acordo com a ltima portaria, devem ser

    desenvolvidas por intermdio de parcerias entre as esferas municipal, estadual e

    federal.

    No estado do Acre, a formao dos TSB/THD e ASB/ACD tem sido ofertada

    pela ETSUS-ACRE. O curso direcionado para os servidores do SUS que atuam no

    servio de Sade Bucal e no possuem a certificao profissional para as funes

    que desempenham. Para entendermos essa realidade, iremos contextualizar de

    forma breve o perfil dos profissionais que atuavam nos servios auxiliares de

    Odontologia.

    Anterior insero da Equipe de Sade Bucal no Programa de Sade da

    Famlia, os profissionais TSB/THD eram enquadrados no SUS, geralmente, como

    ASB/ACD, pois no havia a definio da categoria no quadro de ocupaes do

    referido sistema, isto aconteceu somente a partir da regulamentao do Plano de

    Reorganizao das Aes de Sade Bucal na Ateno Bsica. Outro aspecto

    salientado quanto aos TSB/THD o nmero reduzido desses profissionais que no

    supriam a necessidade da rea de Sade Bucal, no Estado. Assim, categoria

  • 30

    vigente na poca, ASB/ACD, eram integrados, dependendo da necessidade,

    profissionais de outras categorias, como por exemplo, servios gerais. Esses

    profissionais recebiam treinamento, em servio, para desempenharem as funes

    auxiliares de Odontologia pelos prprios Cirurgies-Dentistas.

    Nesse cenrio, a formao dos auxiliares em Odontologia concebida pela

    ETSUS-ACRE enfoca a importncia do profissional reconhecer em seu trabalho um

    meio de satisfao e de crescimento individual e coletivo, bem como, oportunizar a

    reviso de sua prpria prtica a partir da reflexo sobre o contexto social, a

    conscincia crtica de seus direitos e deveres enquanto cidado comprometido com

    a sua profisso, com a sua equipe de trabalho e com a populao. Essa concepo

    do exerccio profissional defendido pela ETSUS-ACRE, pressupe o

    desenvolvimento da competncia humana nas dimenses comunicativa, tica e

    poltica (ACRE, 2004).

  • 31

    2 A BIOSSEGURANA NO BRASIL

    2.1CONSIDERAES GERAIS SOBRE A REGULAMENTAO DA BIOSSEGURANA

    As discusses sobre a regulamentao de biossegurana teve incio, na

    segunda metade do sculo passado, na dcada de 70, com a Conferncia de

    Asilomar na Califrnia, onde uma comisso de cientistas iniciou a discusso sobre o

    impacto da engenharia gentica na sociedade (Costa e Costa, 2002). Para Goldim

    (1997) esta conferncia considerada um marco na histria da tica aplicada

    pesquisa por ter sido palco das discusses sobre a segurana voltadas no somente

    para a engenharia gentica, mas tambm para o desenvolvimento de projetos de

    pesquisas.

    A partir desta Conferncia, o foco de ateno biossegurana vem sofrendo

    diversas alteraes. Inicialmente a biossegurana voltava-se para os riscos

    biolgicos no ambiente ocupacional. Na dcada de 80, ocorreu a incorporao dos

    riscos perifricos (qumicos, fsicos, radiolgicos e ergonmicos) e na dcada de 90

    houve a incluso de temas como tica em pesquisa, meio ambiente, animais e

    processos envolvendo Organismos Geneticamente Modificados OGM (COSTA e

    COSTA, 2002).

    Silva (2004, p. 31) cita em seu estudo que os primeiros manuais aparecendo

    o termo biossegurana, foram organizados pela Organizao Mundial de Sade

    OMS, na dcada de 80. E, que segundo a Fiocruz (1997) a definio de

    biossegurana, como sendo o conjunto de medidas a serem adotadas visando

    preservao das espcies do planeta, surge a partir da conveno da Diversidade

    Biolgica de1992.

    Teixeira e Valle (1996, p. 27),destacam o atraso de quase vinte (20) anos

    para a regulamentao das normas brasileiras de biossegurana em relao

    comunidade internacional, cujas diretrizes laboratoriais de segurana voltadas para

    os projetos desenvolvidos com verbas federais foram divulgadas em 1976, por meio

    do National Institute of Health - NIH.

    Para Brando Jr. (2000, p.6) imprescindvel a adoo de medidas de

    biossegurana na criao de ambientes seguros para pacientes e profissionais,

  • 32

    visando a melhoria da qualidade dos servios prestados. Essa precauo em

    relao a adoo de normas de biossegurana j era divulgada na dcada de 90

    aos Cirurgies-Dentistas, com base em estudos cientficos, quando foram alertados

    para os perigos de transmisso de doenas infecto-contagiosas no consultrio

    odontolgico (CHINELLATO e SCHEIDT, 1993). Nessa mesma poca iniciaram-se,

    tambm, as discusses sobre o desenvolvimento de uma conscincia de adoo de

    procedimentos de segurana, atravs da formao de recursos humanos, sendo

    sugerida a articulao da educao com polticas de excelncia (TEIXEIRA e

    VALLE, 1996, p.41).

    A II Conferncia Nacional de Sade Bucal, em 1993, alertou os gestores de

    servios de Sade sobre a importncia da estrutura de servios em sade bucal, de

    iniciativa pblica e privada, em cumprirem normas de biossegurana e controle de

    infeco, a obrigatoriedade da coleta seletiva de lixo odontolgico e a integrao das

    atividades odontolgicas aos programas de sade do trabalhador e de segurana do

    trabalho (PERNAMBUCO, 2001, p. 2).

    Retomando Teixeira e Valle (1998), destacamos que as normas e orientaes

    sobre biossegurana, segundo os autores, no se restringem apenas a OGMs, mas

    referem-se, tambm, ao estado, qualidade ou segurana de vida e de sade do

    ser humano, animais, plantas e meio ambiente.

    Para Varella et.al. (1998, p.101) o tema biossegurana est previsto pela

    Constituio Federal de 1988, Cap. VI, Ttulo VIII, Artigo 225, ao garantir que:

    Todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder pblico e a coletividade o dever de defend-lo e preserv-lo, para as presentes e futuras geraes.

    Empregar medidas tcnicas, administrativas, educacionais, mdicas e

    psicolgicas, voltadas para preveno de acidentes em ambientes biotecnolgicos,

    so aes de biossegurana que podemos encontrar em ambientes de assistncia

    sade, como nos consultrios e clnicas odontolgicas, hospitais, consultrios

    mdicos, laboratrios de anlises clnica, radiologia e nutrio (COSTA, 2000).

    A adaptao de medidas para proteger e assegurar a sade do paciente e

    equipe de profissionais (LIMA & ITO, 2000), assim como, o conhecimento dos

  • 33

    Cirurgies-Dentistas direcionados ao controle de infeco so considerados

    procedimentos de biossegurana em odontologia (CARMO e COSTA, 2001).

    A adoo de normas de biossegurana nos consultrios odontolgicos

    previne infeco, pois os profissionais da sade esto expostos a uma grande

    variedade de microrganismos presentes no sangue e na saliva dos pacientes (Russo

    e Russo, 2001).

    Telles e Valle (2003, p. 213) afirmam que os procedimentos de biossegurana

    consiste em um conjunto de normas e procedimentos de segurana que visam

    minimizar os acidentes e aumentar o nvel de conscincia dos profissionais [...].

    O Ministrio da Sade, atravs da Portaria n 1683/GM, de 28 de agosto de

    2003, no uso de suas atribuies, define estratgias de atuao, avaliao e

    acompanhamento das atividades relacionadas biossegurana no Pas, e institui

    pelo Art. 1, no mbito do Ministrio da Sade, a Comisso de Biossegurana em

    Sade, para entre algumas aes:

    [...] participar, nos mbitos nacional e internacional, da elaborao e reformulao de normas no mbito da biossegurana; proceder ao levantamento e anlise das questes referentes a biossegurana, visando identificar seus impactos e suas correlaes com a sade humana; propor estudos para subsidiar o posicionamento do Ministrio da Sade na tomada de decises sobre temas relativos biossegurana; propiciar debates pblicos sobre biossegurana, por intermdio de reunies e eventos abertos comunidade (Brasil, 2003 p. 1).

    Para Binsfeld (2004, p. 3) o conceito de biossegurana transcende o campo

    jurdico da Lei de Biossegurana Brasileira n 8.974/95, pois envolve como objeto

    desta nova Cincia, o risco, ou probabilidade de um determinado dano ocorrer [...],

    como os riscos biolgicos a que esto sujeitos pesquisadores e profissionais que

    atuam em ambientes onde esto presentes micoorganismos patognicos.

    Quanto ao desenvolvimento das atividades de biossegurana, faz-se

    necessrio o uso de medidas educacionais para a preveno de acidentes em

    ambientes ocupacionais antes ocupados pela Engenharia de Segurana do

    Trabalho, Medicina do Trabalho, Sade do Trabalhador e at mesmo nas aes de

    controle de infeco (COSTA, 2000).

    Biossegurana uma cincia multidisciplinar que enfatiza a preveno de

    acidentes frente aos riscos prprios das diversas atividades (ACRE, 2005b; ACRE,

  • 34

    2007b), por meio da adoo de procedimentos como a esterilizao de instrumentais

    e vestimentas, bem como, pela implantao de sistemas modernos de esterilizao

    do ar de laboratrios e/ou hospitais (ANVISA, 2005, p. 990).

    Novas formas de abordar e estudar a biossegurana devem ser pensadas,

    como considerar no momento da avaliao de riscos, o fator psicolgico dos

    trabalhadores (BRASIL, 2005a). Segundo a ANVISA as normas de biossegurana

    em odontologia so mais abrangentes, pois visam prevenir riscos que podem ser

    biolgicos, fsicos, qumicos, ergonmicos, mecnicos ou de acidentes e os

    decorrentes da falta de conforto e higiene (BRASIL, 2006, p. 41).

    Em 2005, a discusso sobre a necessidade de criar uma cultura em

    biossegurana debatida no Seminrio Internacional de Biossegurana em Sade.

    Em informe tcnico institucional a ANVISA diz que para a Organizao Mundial de

    Sade OMS, a responsabilidade pelo controle dos agentes perigosos do

    profissional, pois este conhece os riscos e mecanismos de controle e para o Center

    for Diseases Control and Prevention - CDC, rgo norte-americano pelo controle de

    epidemias, medidas simples podem evitar acidentes (BRASIL, 2005b, p. 7).

    Pelo exposto, podemos notar que a regulamentao da biossegurana est

    voltada para os organismos geneticamente modificados (OGMs). Para a rea da

    Sade no h regulamentao especfica para os procedimentos de biossegurana,

    utilizando-se de legislaes de Segurana e Sade do Trabalhador, como a NR32.

    A Norma Regulamentadora de Segurana e Sade no Trabalho em

    Estabelecimentos de Sade NR32 aprovada atravs da Portaria 485, de 11 de

    novembro de 2005, estabelece as diretrizes bsicas para a implementao de

    medidas de proteo segurana e sade dos trabalhadores dos servios de

    sade, bem como daqueles que exercem atividades de promoo e assistncia

    sade em geral.

    Pela NR32 todos trabalhadores com possibilidade de exposio a agentes

    biolgicos devem utilizar vestimentas de trabalho adequadas e em condies de

    conforto, estas por sua vez, devem ser fornecidas sem nus, assim como serem

    higienizadas pelo empregador. Em contrapartida, os trabalhadores no devem

    deixar o local de trabalho com as vestimentas utilizadas em suas atividades laborais.

    Temos, ainda, que os trabalhadores que realizam atividades em reas onde

    existam fontes de radiao ionizante, estes devem permanecer no local o menor

    tempo possvel durante a realizao do procedimento; assim como, conhecer os

    riscos a que esto sujeitos; serem capacitados inicial e continuamente em proteo

  • 35

    radiolgica; usarem Equipamentos de Proteo Individual (EPI) adequados para a

    minimizao dos riscos a que esto sujeitos e estar, em caso de exposio

    ocupacional, em monitorao individual de dose de radiao ionizante.

    Os produtos qumicos que impliquem riscos segurana e sade do

    trabalhador, segundo a NR32, devem ter fichas descritivas contendo orientaes

    como caractersticas e formas de utilizao do produto; identificao dos riscos

    segurana e sade do trabalhador e ao meio ambiente; medidas de proteo

    coletiva, individual e controle mdico da sade dos trabalhadores e procedimentos

    em situaes de emergncia.

    Ao empregador, por esta norma, cumpre capacitar inicial e continuamente, os

    trabalhadores dos servios de sade, para que estes tenham conhecimento na

    realizao da correta segregao, acondicionamento e transporte de resduos,

    saibam as responsabilidades e forma de utilizao dos Equipamentos de Proteo

    Individual EPIs.

    Apesar de no possuirmos uma Lei de Biossegurana em Sade, podemos

    afirmar que devido aos riscos biolgicos, fsicos, qumicos, ergonmicos,

    biopsicossociais e aqueles advindos da falta de conforto, presentes na assistncia

    Sade, temos uma biossegurana praticada7, representada pelas aes realizadas

    na tentativa de prevenir, minimizar e evitar, que esses riscos interfiram na sade e

    segurana dos profissionais que atuam nesse segmento. Podemos ainda, como

    profissionais da Sade contar com uma biossegurana legal8, apoiada em

    legislaes de Segurana do Trabalho e Sade do Trabalhador, como a NR32.

    2.2 BIOSSEGURANA E RISCOS OCUPACIONAIS

    O conceito de risco deriva da palavra inglesa hazard, que em portugus pode

    ser traduzida como perigo ou fator de risco. Reconhecer ou identificar fatores ou

    situaes com potencial de dano no ambiente de trabalho uma etapa fundamental

    do processo (BRASIL, 2001, p. 37).

    7 COSTA, M. A. F. da; COSTA, M. F. da Biossegurana: elo estratgico de SST. Disponvel em:

    . Acesso em 25 jul. 2009.

    8 SOUSA, R. C. P.; Embrapa Roraima. Roraima: 2004; Disponvel em: Acesso em: 20 mar. 2009.

    http://www.fiocruz.br/biossegurancahospitalar/dados/%20material10.%20htm
  • 36

    Eliminar ou reduzir exposio s condies de riscos um desafio que

    ultrapassa o mbito dos servios de sade, exigindo solues tcnicas, complexas e

    de alto custo. Controlar os riscos e melhorar o ambiente de trabalho envolve

    diferentes etapas, tais como: identificar condies de risco para sade presentes no

    trabalho, caracterizar as exposies e quantificar as condies de riscos, discutir e

    definir alternativas de eliminao e controle das condies de risco, implementar e

    avaliar as medidas adotadas (BRASIL, 2001).

    O Quadro 1 abaixo, elaborado por Costa (2005, p. 38) apresenta algumas

    definies de biossegurana que envolvem riscos.

    QUADRO 1 Definies de biossegurana que envolvem riscos

    Definio Fonte

    o conjunto de aes voltadas para a preveno, minimizao ou eliminao de riscos inerentes s atividades de pesquisa, produo, ensino, desenvolvimento tecnolgico e prestao de servios, visando sade do homem, dos animais, a preservao do meio ambiente e a qualidade dos resultados.

    Teixeira e Valle,1996

    Segurana no manejo de produtos e tcnicas biolgicas. Brener, 1996

    Conjunto de medidas tcnicas, administrativas, educacionais, mdicas e psicolgicas, empregadas para prevenir acidentes em ambientes biotecnolgicos.

    Costa, 1996

    Procedimentos adotados para evitar os riscos das atividades biolgicas.

    Fontes et al., 1998

    O fundamento bsico da biossegurana assegurar o avano dos processos tecnolgicos e proteger a sade humana, animal e o meio ambiente.

    Unicamp, 2003

    a cincia voltada para o controle e a neutralizao de riscos advindos das prticas de diferentes tecnologias em laboratrios ou no meio ambiente.

    Monsanto, 2003

    uma doutrina de comportamento que visa o alcance de atitudes e condutas que diminuam os riscos do trabalhador de locais de sade (hospitais, clnicas, hemocentros, etc.), de adquirir infeces ocupacionais.

    Moreira, 1997

    Fonte: COSTA, 2005

    Segundo Trivelato (1998 apud BRASIL, 2001. p. 37) situao ou fator de risco

    uma condio ou conjunto de circunstncias que tem o potencial de causar efeito

    adverso, que pode ser: morte, leses, doenas ou danos sade, propriedade ou

    ao meio ambiente.

    Para a ANVISA (BRASIL, 2006, p. 41) so considerados riscos ocupacionais

    a possibilidade de perda ou dano e a probabilidade de que tal perda ou dano

    ocorra. Implica, pois, a probabilidade de ocorrncia de um evento adverso. Os

  • 37

    riscos mais freqentes nos ambientes de assistncia odontolgica, segundo a

    ANVISA, podem ser visualizados no Quadro 2.

    QUADRO 2 Riscos ocupacionais mais freqentes nos ambientes de assistncia odontolgica

    Fsicos Rudos, vibrao, radiao ionizante e no-ionizante, temperaturas extremas, iluminao deficiente ou excessiva, umidade e outros.

    Qumicos Poeiras, nvoas, vapores, gases, mercrio, produtos qumicos em geral e outros.

    Ergonmicos Postura incorreta, ausncia de profissional auxiliar e/ou tcnico, falta de capacitao do pessoal auxiliar, ausncia de planejamento, ritmo excessivo, atos repetitivos, entre outros.

    Mecnicos ou de Acidentes

    Espao fsico subdimensionado, arranjo fsico inadequado, instrumental com defeito ou imprprio para o procedimento, edificao com defeitos e improvisaes nas instalaes da rede hidrulica e eltrica, ausncia de EPI e outros.

    Advindos da falta de Conforto e Higiene

    Falta de produtos como sabonete lquido e toalha descartvel nos lavatrios, ausncia de gua potvel para consumo, no oferecimento de uniformes, ausncia de vestirios, falta de local apropriado para refeies, entre outros.

    Biolgicos Gotculas e aerossis contaminados por vrus, bactrias e fungos, gerados durante espirro, a fala, o uso de instrumentos rotatrios, seringas trplices, entre outros

    Fonte: BRASIL, 2006

    A definio da existncia ou no de riscos para sade depende do

    reconhecimento nas condies de trabalho, da extenso e identificao de

    exposio a potenciais agentes de riscos (BRASIL, 2001, p.37). Como os riscos de

    natureza fsica, com exceo das radiaes ionizantes, que so de fcil

    identificao, pois atuam diretamente nos sentidos (BRASIL, 2001. p.40). Temos,

    tambm, as turbinas de alta e baixa rotao, sugadores de alta e baixa potncia,

    compressores de ar, entre outros equipamentos dentro dos consultrios

    odontolgicos que produzem rudos, considerados sensaes sonoras indesejveis

    para o organismo humano (LACERDA et al., 2002. p.19). As substncias qumicas

    possuem fator importante nos riscos de toxicidade devido suas propriedades fsicas,

    pois as principais vias de entrada no organismo deste tipo de substncia a via

    respiratria. A forma de respirar do trabalhador (nariz ou boca) influencia essa

    entrada, como no caso de trabalhos que requerem maior ventilao pulmonar

    (BRASIL, 2001, p.42).

  • 38

    Os riscos ergonmicos esto relacionados organizao do trabalho, e

    podem ser identificados em diversas atividades, desde a agricultura tradicional at

    aos processos de trabalhos modernos [como nos servios odontolgicos] que

    incorporam alta tecnologia e estratgias de gesto (BRASIL, 2001, p. 40.).

    Com os novos contornos no estudo da biossegurana, os riscos psicolgicos

    decorrentes das condies adequadas de trabalho e presses por produtividade

    comearam a ser considerados, na medida em que influenciam negativamente na

    realizao das atividades profissionais. Outro fator considerado como risco

    psicolgico, trata-se do estresse psicossocial, pois confirmadamente gera

    sofrimento, levando a diminuio da ateno e capacidade de trabalho, assim como,

    gera desmotivao no emprego de todas as normas de procedimentos adequados

    (ANVISA, 2005, p. 991).

    Os riscos biolgicos esto geralmente associados ao trabalho em hospitais,

    laboratrios de anlises clnicas e atividades agropecurias, mas tambm pode

    ocorrer em situaes no ocupacionais, tornando complicado o nexo causal

    (BRASIL, 2001, p. 40). Embora as consideraes anteriores no faam meno ao

    ambiente odontolgico, defendemos que podem ser tambm aplicadas rea de

    Odontologia, uma vez que no consultrio pacientes e profissionais esto tambm

    sujeitos aos riscos biolgicos. Para NR-32, so considerados riscos biolgicos, as

    probabilidades de exposies ocupacionais a agentes, tais como: microrganismos,

    geneticamente modificados ou no; as culturas de clulas; os parasitas; as toxinas e

    os prons.

    Para o Ministrio da Sade (BRASIL, 2001, p. 44):

    A cadeia de transmisso de riscos deve ser quebrada o mais precocemente possvel. [...] A informao e o treinamento dos trabalhadores so componentes importantes das medidas preventivas relativa aos ambientes de trabalho, particularmente se o modo de executar as tarefas propicia a formao ou disperso de agentes nocivos para a sade [...] As estratgias para o controle dos riscos devem visar principalmente, preveno [...].

    Os artigos esterilizados, com o intuito de evitar riscos de contaminao,

    devem seguir as orientaes da ANVISA (2006, p.82), quando preconiza que o

    armazenamento deve ser

  • 39

    [...] em local exclusivo e separado dos demais, em armrios fechados, protegidos de poeira, umidade e insetos, e a uma distncia mnima de 20 cm do cho, 50 cm do teto e 5 cm da parede [...], em local limpo e organizado periodicamente [...] e, em caso de serem verificados sinais de infiltrao [nos artigos esterilizados], presena de insetos, [...] os pacotes danificados, com sinais de umidade, prazo de validade de esterilizao vencido, etc. [...] devem ser reprocessados novamente.

    O lixo hospitalar ou de servios de sade so considerados riscos

    ocupacionais, ambientais e de sade pblica. Por se serem de natureza

    heterognea so passveis de classificao para segregao, levando-se em

    considerao no somente os grandes geradores como hospitais e clnicas mdicas,

    mas tambm os pequenos geradores, como por exemplo, farmcias, clnicas

    odontolgicas e veterinrias, assistncia domiciliar, necrotrios, instituies de

    cuidado para idosos, hemocentros, laboratrios clnicos e de pesquisa, instituies

    de ensino na rea da sade, entre outros. Os grandes geradores, muitas vezes,

    possuem conscincia, estrutura e conhecimento necessrios para os cuidados,

    enquanto aos pequenos geradores, quase sempre, falta estrutura para o

    gerenciamento dos resduos de sade, caracterizando-se como o maior entrave

    (GARCIA; ZANETTI-RAMOS, 2004, p. 745).

    Os resduos produzidos durante os servios de assistncia odontolgica

    devem ser gerenciados corretamente, por meio da implantao de um plano de

    gerenciamento de acordo com a RDC/ANVISA n 306/2004 (BRASIL, 2006, p. 113).

    Ampliando o contexto e a interdisciplinaridade da biossegurana, temos

    dentro do paradigma da sustentabilidade, o conceito de produo sustentvel, que

    emerge da Conferncia das Naes Unidas sobre o Meio Ambiente e

    Desenvolvimento em 1992, no Rio de Janeiro, como sendo:

    Produo e servios usando processos e sistemas que no poluam, conservando energia e recursos naturais, sejam economicamente viveis, seguros e saudveis para os empregados, comunidades e consumidores, recompense socialmente os trabalhadores e estimule a sua criatividade (MARINHO, 2002 apud KLIGERMAN, 2007, p. 200).

    Para Minayo et al (1997, p. 152) a diminuio de riscos ambientais na

    realizao de projetos de pesquisa, ensino e desenvolvimento tecnolgico,

  • 40

    necessitam de planos de saneamento, controle de microrganismos, adequao do

    espao fsico, aes de biossegurana e vigilncia em sade do trabalhador.

    Com a preocupao voltada para o meio ambiente e seus efeitos para sade,

    torna-se necessria a discusso, pela sociedade, sobre a adoo e a

    implementao de aes corretivas (principalmente as preventivas), visando a

    minimizao e/ou controle de riscos, por meio de aes que diminuam ou eliminem

    as foras motrizes (KLINGERMAN, 2007, p. 203).

    Ao tomarmos a definio de biossegurana apresentada por Costa9 (1996

    citado por COSTA, 2005, p. 39) como sendo o conjunto de medidas tcnicas,

    administrativas, educacionais, mdicas e psicolgicas empregadas para prevenir

    acidentes em ambientes biotecnolgicos, e aps discutirmos as definies e

    conceitos de riscos, visualizamos a diversidade de medidas necessrias para

    prevenir acidentes nos ambientes de assistncia Sade.

    2.3 BIOSSEGURANA EM ODONTOLOGIA

    Para RAZABONI (2006, p. 1) a Biossegurana em Odontologia tem sido

    definida e estabelecida como sendo o:

    Conjunto dos mecanismos preventivos referentes a desinfeco do ambiente de trabalho (Consultrio Odontolgico), a esterilizao do instrumental e o uso de equipamentos de proteo individual (EPI), pelo profissional (Cirurgio-Dentista) e sua equipe (Auxiliar) objetivando o controle efetivo da Contaminao Cruzada.

    Noro & Ribeiro (2005) alertam que os consultrios odontolgicos so locais

    onde o controle de riscos biolgicos deve ser permanente, a fim de preservar a

    sade dos profissionais, pacientes e circunstantes, pois so locais onde h riscos de

    contrair infeces, principalmente, pela no observncia de precaues padro ou

    bsica em biossegurana.

    Precaues padro ou bsica em biossegurana so medidas de preveno

    utilizadas na ateno a todos os pacientes independente de confirmao diagnstica

    9 Ver 1 INTRODUO, p. 21.

  • 41

    ou presumida de doenas infecciosas e/ou transmissveis, que visa proteo

    sade do profissional e da sua equipe, atravs de medidas que evitem o contato

    direto com matria orgnica, que limitem a propagao de microrganismos, tornando

    seguros o uso de artigos, peas anatmicas e superfcies (BRASIL, 2000, p.67).

    Na odontologia o controle de infeces torna-se tema de extrema importncia

    aps a dcada de 80 com o surgimento da AIDS, principalmente pela cobrana dos

    pacientes em relao a sua segurana durante os atendimentos (GUANDALINI,

    1999).

    Com a Lei n 8080 de 19 de setembro de 1990, a promoo, preveno e

    recuperao da sade so aes estabelecidas no mbito do Sistema nico de

    Sade (SUS), focalizando a responsabilidade de o Estado zelar pelos interesses

    coletivos ou pblicos (BRASIL, 1988).

    Percebemos que os estudos de biossegurana em odontologia so

    direcionados para o controle de infeco, quando Lara (2002) prope uma forma de

    tornar mais eficiente a inspeo das luvas a fim de identificar perfuraes com

    pequenas dimenses, evitando a contaminao do profissional durante os

    procedimentos em odontologia.

    Pinto e Paula (2003) ao estudarem o protocolo de biossegurana no

    consultrio odontolgico, enfatizam o controle de infeco, contaminao microbiana

    e as doenas como AIDS, Hepatite B, herpes, pneumonia, tuberculose, entre outras.

    Pelo que foi abordado acima, percebemos que as consideraes sobre

    biossegurana em odontologia enfocam o controle de infeces. No entanto, as

    medidas tcnicas e administrativas preconizam outras orientaes sobre cuidados

    com a sade e a segurana dos profissionais que atuam na Odontologia,

    articulando-se concepo de biossegurana assumida para a rea, conforme j

    mencionado no item 1.1 desse trabalho. As discusses a seguir, enfocaro

    diferentes orientaes, evidenciando os aspectos tais como ergonomia,

    administrao e organizao do ambiente de trabalho.

    Os nveis de rudos encontrados nos consultrios odontolgicos so

    considerados como danosos sade e respondem por nveis de desconforto

    sonoro. Para uma melhoria ergonmica do ambiente de trabalho, so sugeridas

    alteraes, como por exemplo, substituir as turbinas de alta e baixa rotao com

    nvel de rudos elevados, por equipamentos que produzam um nvel de rudo menor;

    controlar o rudo do aparelho de autoclave por meio de revises peridicas;

  • 42

    disciplinar o uso dos sugadores; estabelecer intervalos entre atendimentos com

    desligamento dos equipamentos, etc. (LACERDA et al., 2002, p. 23).

    Os profissionais de odontologia devem acrescentar como equipamento de

    proteo individual o protetor auditivo, devido possibilidade de perda auditiva, por

    rudos ocupacionais (SILVEIRA et al., 2009, p. 57).

    O planejamento da iluminao em um consultrio odontolgico deve permitir

    que o Cirurgio-Dentista, em posio ergonmica, visualize o campo operatrio,

    focalizando corretamente a regio do dente a ser trabalhado. Esta medida de

    segurana diminui a fadiga visual, evitando danos ao mecanismo fisiolgico da viso

    e musculatura de comando dos olhos (SOUZA, 2006, p. 67).

    A posio sentada de trabalho do Cirurgio-Dentista um fator biomecnico

    que gera desconforto corporal, pois leva o profissional a adotar postura sem apoio

    para a coluna lombar, associada flexo excessiva de tronco, pescoo e ausncia

    de apoio para os braos (RASIA, 2004, p. 94).

    Segundo a mesma autora, o trabalho odontolgico empregando o uso de

    auxiliares e pausas, entre atendimentos, deve fazer parte da rotina de um consultrio

    odontolgico, na medida em que diminui o desgaste fsico, cognitivo e afetivo, do

    Cirurgio-Dentista.

    Das discusses preconizadas pelas medidas tcnicas e administrativas sobre

    os cuidados com a sade e a segurana dos profissionais em Odontologia, ao

    enfocarem a ergonomia, administrao e a organizao do ambiente de trabalho,

    podemos depreender que tais aes, na medida em que visam a promoo, a

    preveno, a minimizao e/ou eliminao de riscos sade, reafirmam a dimenso

    que o termo guarda com a proteo e a segurana das pessoas, conforme,

    concepo de biossegurana assumida por ns.

    2.4 POLTICAS E LEGISLAO SOBRE BIOSSEGURANA NO BRASIL

    Temos no Brasil a Constituio Federal de 1988, na qual se encontra

    assegurada a impossibilidade de seus princpios serem contrariados ou diminudos

    por quaisquer outros documentos que a suceder na hierarquia legal (BRASIL, 2001

    p. 15). Alm disso, integram a Constituio Brasileira as Leis Orgnicas em Sade

    que regulam, fiscalizam e controlam as aes e os servios de sade, a saber, as

  • 43

    Leis Federais n 8.080, de 19 de novembro de 1990 e n 8.142, de 28 de dezembro

    de 1990 (Brasil, 1988, p. ). A primeira lei, no Art. 4 define o Sistema nico de Sade

    (SUS) como conjunto de aes e servios de sade, prestados por rgos e

    instituies pblicas federais, estaduais, municipais, da administrao direta e

    indireta e das fundaes mantidas pelo Poder Pblico, enquanto a segunda, dispe

    sobre a participao social, distribuio de recursos e da outras providencias na

    gesto do SUS (BRASIL, 2001, p. 17).

    Compete a direo estadual do Sistema nico de Sade SUS, estabelecer

    normas para o controle das aes e servios de sade, conforme lei n 8.080 e Lei

    Complementar 791, de 9 de maro de 1995 (SO PAULO, 2009)10.

    A determinao das condies ideais de trabalhos relacionados ao controle

    de doenas transmissveis em estabelecimentos de assistncia odontolgica, est

    disposta na Portaria CVS n 11, de 4 de julho de 1995, que faz parte de um

    conjunto de aes desenvolvidas em 1992 pela Coordenao de Controle de

    Infeco Hospitalar, Secretaria de Assistncia Sade, pela Diviso de Servios,

    Qualidade Tcnica e Produtos e pela Secretaria de Vigilncia Sanitria.

    Os mtodos e produtos qumicos utilizados para limpeza, desinfeco e

    esterilizao de artigos e reas em estabelecimentos de sade no Brasil, tm sua

    normatizao regulamentada pela Portaria 2.616, de 12 de maio de 1999 que

    substitui a Portaria n 930 (D.O.U. de 27 de agosto de 1992).

    A Portaria N 485, de 11 de novembro de 2005, aprova a Norma

    Regulamentadora de Segurana e Sade. Doravante denominada de NR-32, esta

    norma tem por objetivo estabelecer as diretrizes bsicas para a implementao de

    medidas de proteo segurana e sade dos trabalhadores dos servios de

    sade, bem como daqueles que exercem atividades de promoo e assistncia

    sade em geral.

    A palavra Biossegurana, foi introduzida oficialmente em nosso vocabulrio a

    partir da Lei 8.974, 1995 a chamada Lei de Biossegurana. Para Binsfeld (2004)

    essa lei transcende o campo de abrangncia jurdico da Lei Brasileira atual, dentro

    da esfera do conhecimento cientfico mundial. Segundo Binsfeld (2004) a Lei de

    Biossegurana Brasileira uma Lei especfica para um segmento tecnolgico, no

    abrangendo, entretanto, todas as atividades que envolvam risco per se (BINSFELD,

    10

    A Lei Complementar 791/95 e a Portaria Portaria CVS n 11/95, so citadas no estudo devido a adoo, de

    ambas, pela Secretaria Municipal de Sade de Rio Branco, na orientao das condies ideais de trabalho no

    setor de assistncia odontolgica.

  • 44

    2004 p. 12). A Lei de Biossegurana vem regulamentar o artigo 225, da Constituio

    Federal, que objetiva a produo do meio ambiente e a preservao da diversidade

    biolgica e da sade da populao. (BINSFELD, 2004 p.16-7).

    Em 1995, O Ministrio da Sade inclui como meta prioritria a capacitao em

    Biossegurana das instituies de sade no Projeto de Capacitao Cientfica e

    Tecnolgica para Doenas Emergentes e Reemergentes. O Programa de

    Capacitao no campo da Biossegurana desenvolvido ento a partir de 1996 pelo

    Ministrio da Sade e pelo Ncleo de Biossegurana da Fiocruz teve dois enfoques:

    o desenvolvimento de um plano de identificao de riscos e o treinamento de

    profissionais em reas estratgicas identificadas (Oda et alii, apud Binsfeld, 2004 p.

    17 18).

    O estabelecimento da Lei de Biossegurana no pas em 1996 e a

    necessidade de consolidar uma instncia cientfica que permitisse a disseminao

    da informao em Biossegurana, semelhana do papel da Associao Americana

    de Biossegurana ABSA e da Associao Europia em Biossegurana EBSA,

    levou a fundao no Brasil da Associao Nacional de Biossegurana ANBio

    (BINSFELD, 2004 p. 18).

    Para ANBio (2003), segundo Binsfeld (2004), a implementao efetiva da Lei

    de Biossegurana Brasileira depende fundamentalmente de um entendimento

    pblico e jurdico sobre o papel da CTNBio (Comisso Tcnica Nacional de

    Biossegurana) e da aceitao por parte da sociedade brasileira e do Governo deste

    modelo regulatrio institudo pelo Congresso Nacional para o Brasil. O atraso

    evidenciado nos ltimos quatro anos na implementao da Poltica Nacional de

    Biossegurana se verifica sobretudo pela falta de um consenso pol