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VEGANISMO O veganismo, segundo a “The Vegan So- ciety”, que cunhou o termo em 1944, busca excluir, na medida do praticável, todas as formas de exploração animal, seja na alimentação, no vestuário, nos produtos de maquiagem e higiene ou em qualquer outra fi- nalidade. Pouco popular no Brasil, sexto país que mais consome carne segundo o o relatório “Perspectivas Agrícolas 2015/2024”. A rela- ção do veganismo com o vegetarianismo existe apenas no nome, já que foram consideradas as 3 primeiras letras e as 2 últimas da palavra “vegetarian” para que se originasse “vegan”.

Caderno Especial - Veganismo

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Caderno especial produzido como trabalho de conclusão de semestre na disciplina Jornalismo Especializado, do 7º período da Faculdade de Jornalismo. Responsável: Prof. Dr. Carlos A. Zanotti (MTb - 12.463). Dir. da Faculdade: Prof. Ms. Lindolfo Alexandre de Souza. Integrantes da equipe de produção: Ana Beatriz Martini, Caroline França, Débora Lopes, Maria Clara Lourençon, Mariana Dandara e Vitor Domingues. Pontifícia Universidade Católica de Campinas, junho de 2016.

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1Cadernos Especiais Jornalismo Especializado - Junho / 2016

VEGANISMO

O veganismo, segundo a “The Vegan So-ciety”, que cunhou o termo em 1944, busca excluir, na medida do praticável,

todas as formas de exploração animal, seja na alimentação, no vestuário, nos produtos de maquiagem e higiene ou em qualquer outra fi-nalidade. Pouco popular no Brasil, sexto país que mais consome carne segundo o o relatório “Perspectivas Agrícolas 2015/2024”. A rela-ção do veganismo com o vegetarianismo existe apenas no nome, já que foram consideradas as 3 primeiras letras e as 2 últimas da palavra “vegetarian” para que se originasse “vegan”.

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2 Cadernos EspeciaisJornalismo Especializado - Junho / 2016

Esta edição da série Cadernos espeCiais foi produzida como trabalho de conclusão de semestre na disciplina Jornalismo Especializado, do 7º período da Faculdade de Jornalismo. Responsável: Prof. Dr. Carlos A. Zanotti (MTb - 12.463). Dir. da Faculdade: Prof. Ms. Lindolfo Alexandre de Souza.

Integrantes da equipe de produção: Ana Beatriz Martini, Caroline França, Débora Lopes, Maria Clara Lourençon, Mariana Dandara e Vitor Domingues. Pontifícia Universidade Católica de Campinas, junho de 2016

‘Queremos combater a hipocrisia moral’MARIANA DANDARA

Vegana há 18 anos, a filosofa Sônia Teresi-nha Felipe, 61, afir-

ma que ignorar o sofrimen-to dos animais trata-se de uma hipocrisia moral, que está sendo combatida pe-los veganos, já que eles tem criado condições para que mais pessoas promovam uma mudança e adotem o veganismo. “Essa percep-ção da hipocrisia moral agora pode ser expressa e levada adiante, porque o trabalho dos veganos tam-bém levou à criação de con-dições objetivas para que mais pessoas possam tor-nar-se veganas”, lembra.

Sônia é doutora em filo-sofia moral e teoria política pela Universidade de Kons-tanz, da Alemanha, com pós-doutorado em Bioética - Ética Animal pela Univer-sidade de Lisboa. Foi pro-fessora da graduação e da pós-graduação em filosofia e do doutorado interdisci-plinar em ciências huma-nas da Universidade Fede-ral de Santa Catarina.

A filosofa é pesquisado-ra permanente do Centro de Filosofia da Universi-dade de Lisboa e membro do Bioethics Institute da Fundação Luso-americana para o Desenvolvimento.

Atualmente dedica-se exclusivamente à pesquisa em neurociência e cons-ciência animal, escrita de livros e oferta de palestras, cursos e textos publicados na rede sobre ética e direi-tos animais, abolicionismo animal e veganismo.

Na entrevista a seguir, Sônia conta a história do movimento vegano, que logo se caracterizou como uma filosofia devido à concepção abrangente da discriminação para com os animais.

Quando e onde surgiu o movimento vegano?

Sônia T. Felipe – A pri-meira sociedade vegana foi criada na Inglaterra em 1944, tendo Donald Wat-

son como Presidente, El-sie Shrigley e outros cinco vegetarianos estritos como cofundadores. No Brasil, na última década, diferen-tes grupos veganos foram criados, especialmente nas redes sociais. Hoje, o vega-nismo brasileiro existe por meio de grupos ativistas, que ensinam os conceitos e a prática vegana nas ruas e redes sociais, além da edu-cação abolicionista vegana, que é levada às salas de aula por professores do en-sino secundário e docentes nas universidades.

Por que o veganismo se caracteriza como uma fi-losofia?

Sônia - O veganismo tem uma concepção abrangente da discriminação sofrida pelos animais, tidos como seres inferiores e indignos do respeito por sua inte-gridade física, emocional e ambiental. Nesse sentido, por defender a redefinição do estatuto dos animais, não apenas dos humanos, na comunidade moral, o veganismo pode ser consi-derado uma concepção filo-sófica, por sua abrangência e radicalidade.

Qual a diferença entre ve-ganismo e vegetarianismo?

Sônia – O vegetarianis-mo leva em consideração a questão da dieta alimentar, enquanto o veganismo não

é apenas uma questão de escolha alimentar, é uma escolha ética de respeito por todos os animais, sem discriminação especista, seja lá qual o argumento usado para justificar o uso, a exploração e a matança de animais para atender a propósitos humanos. Ser vegano não é só parar de consumir derivados de ani-mais; é defender os direi-tos dos animais em todas as áreas, pois não há uma sequer na qual eles não se-jam vilipendiados.

O bem estarismo e o abo-licionismo são considera-dos vertentes veganas? Sônia – Se falamos em “abolição”, estamos falando de veganismo. Se falamos de “bem-estar”, estamos falando de redução no uso e nas práticas de manejo dos animais, sem defender que todas as práticas sejam abolidas. Por isso, as teses bem-estaristas não têm li-gação com o veganismo, elas reforçam a manuten-ção do sistema de criação, uso, exploração e matança dos animais, envernizando essas práticas, exatamente o que os abolicionistas pro-põem que seja extinto.

Então, bem-estarismo não é uma vertente do vega-nismo, aliás, o bem-estaris-mo como movimento existe desde o século XIX e nada foi abolido por conta desse

tipo de movimento. Nunca se manejou e torturou tanto os animais como o fizemos no século XX, com todos os discursos bem-estaristas escamoteando a questão. O que o bem-estarista faz é deixar a própria cons-ciência descansando nos costumes tradicionais. O abolicionismo propõe o fim de tudo isso, para sempre, sem defender exceções.

O veganismo pode ser vis-to como um posiciona-mento político? Por quê?

Sônia – Sim. A filosofia vegana é uma posição po-litica, porque ao defender o respeito à igualdade, a igual consideração de interesses semelhantes, aos direitos fundamentais de todos os animais, sem discriminar gênero, raça ou espécie animal, o veganismo alcan-ça o cerne do conceito de justiça igualitária, algo que a Ética animalista também procura concretizar. É uma concepção politica que veio para ficar. Sem ela não é possível defender os direi-tos animais.

O veganismo tem con-quistado cada vez mais adeptos.Considerando que a filosofia vegana se baseia em uma mudança da moral humana, como se explica essa ascensão?

Sônia – Talvez possamos interpretar esse aumen-

to pelo fato de que muitas pessoas, nos últimos sécu-los, sempre sentiram imen-so desconforto ao ver que estavam ignorando o sofri-mento e a morte dos outros animais. Essa percepção da hipocrisia moral, que exis-tia antes em muitas pesso-as, sem que existissem as condições objetivas para uma virada, agora pode ser expressa e levada adiante, porque o trabalho dos ve-ganos também levou à cria-ção de condições objetivas para que mais pessoas pos-sam tornar-se veganas sem medo de perder a saúde, o lazer, as amizades. Antes, até à década de 1990, no nosso país, havia condições subjetivas para ser vegano, em muitas pessoas.

As primeiras pessoas ve-ganas no Brasil são a pro-va disso. Mas quando nos tornamos veganas, não tí-nhamos condições objeti-vas para isso, porque não havia, por exemplo, um restaurante que servisse comida vegana, e não ha-via produtos de higiene, cosmética e moda veganos. Tudo o que hoje já está aí, embora ainda em quanti-dade e diversidade insufi-cientes para o público.

Então, se queremos mu-danças morais, precisamos levar em conta que somos seres morais. Quando que-remos que alguma mudan-ça seja feita, também é pre-ciso pensar de que modo a pessoa que toma a decisão pela pode manter-se firme no mundo. Os veganos es-tão batalhando pela exis-tência plena, para si e para os animais. Para isso, pre-cisamos viver com saúde e liberdade de expressão, algo que os veganos lutam para que seja garantido. Não ficamos esperando que o governo, o papai, o chefe, o colega, o marido, o filho nos dessem as condições objetivas para nos tornar-mos veganas. Nós as cria-mos e seguiremos manten-do-as e aperfeiçoando-as sempre mais.Isso estimula outras pessoas.

Foto: Reprodução Y

ouTube

Sônia Teresinha Felipe ministrando palestra em Florianópolis (SC)

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3Cadernos Especiais Jornalismo Especializado - Junho / 2016

Indústria tem até hambúrguer e feijoada veganaCAROLINE FRANÇA

Aqueles que ainda acham que pessoas veganas tem uma

uma alimentação redu-zida apenas com soja ou saladas, estão enganados. A indústria vegana atual-mente produz alimentos que antes eram feitos todos a base de carne, derivados ou produtos de origem ani-mal. Por exemplo, hambúr-guer vegano e até feijoada. Além disso, é possível en-contrar queijo, salsicha ou patês pelo mercado. Para a produção desses produtos, a carne é substituída por legumes em geral, grãos como soja, amendoim, cas-tanhas e feijões.

A administradora de empresas, Nayara Assun-ção de 27 anos, é vegana há mais de um ano e diz que no começo sentia fal-ta de comer o que gostava, mas hoje a indústria ofe-rece a ela o que ela procu-ra ou ela mesma produz em casa. “Sentia falta de tudo, gostava de chantilly e agora sei fazer com aqua-faba” (água que sobra do cozimento do grão de bico, que pode ser utilizada para formar uma espuma) “Gos-to também da linguiça da Goshen, já que não arrisco fazer em casa porque nun-ca presta” afirma Nayara.

A administradora con-ta que teve que aprender a cozinhar por falta de op-ções “No começo, procu-rava para comprar quase tudo e como não achava, eu tive que começar a fa-zer”, e completa “Hoje eu compro algumas coisas que são melhores do que as feitas em casa”. Nayara diz que os amigos são bem re-ceptivos quando ela oferece algum dos alimentos para que eles experimentem “Eu não insisto, eles até experi-mentam por conta própria, sem pressão”, ela ainda conta que “muitas vezes os amigos aceitam melhor do que os familiares”.

Assim como Nayara, o bancário Israel Barros, de 31 anos, teve que se virar na cozinha “Eu faço tudo em casa. Hambúrgueres, queijos e patês veganos”. Israel mora em Bebedou-ro, cidade com 80 mil ha-

bitantes, relativamente pequena em comparação à Campinas. Ele diz que ainda assim, consegue en-contrar variedade nas mar-cas e produtos que procura “Acho tudo, as únicas coi-sas que preciso sair daqui para comprar são requei-soy, queijo superbom e glutadela” conta Israel.

Em Campinas, a Ro-tisseria VegVida existe há quatro anos e tem a pro-dução artesanal de produ-tos veganos com receitas próprias. Renata Octaviani e a sócia Mariah Burnier produzem opções até de sorvetes veganos, já que em Campinas, apenas um estabelecimento vendia até o momento. São utilizados grãos como base da recei-ta e segundo Renata, seria um destaque entre outros tipos de sorvete “Nosso sor-vete é a base de castanha, de amendoim. Um sorvete mesmo, cremoso e pesa-do” conta. Por questão de preço e para oferecer mais opções, Renata conta que alguns itens são melhores para a revenda, como em-butidos (salsicha, mortade-la, linguiça).

Fotos: Mariana D

andara

Bolo de chocolate com cobertura de chocolate e paçoca: cacau substitui o chocolate ao leite

Quibe de forno vegano atua como opção com legumes no lugar da carne

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4 Cadernos EspeciaisJornalismo Especializado - Junho / 2016

Veganismo não é disciplina em cursos de nutriçãoEscamoteado pelas faculdades, nutricionistas recorrem a livros e artigos para conhecer o assunto

VITOR DOMINGUES

As faculdades de nu-trição pelo país re-jeitam o veganismo

como matéria nas grades curriculares. No Brasil, ne-nhuma universidade tem ao menos um semestre de alguma disciplina dedicado ao veganismo, obrigando os profissionais da área a ad-quirir o conhecimento atra-vés de livros e artigos.

Como é o caso da Nu-tricionista Priscila Mene-zello, que atende na cida-de de Campinas. Devido a essa falta de capacitação das universidades sobre o veganismo, ela precisou estudar em um curso fora do país, conciliando estu-dos por conta própria so-bre o assunto, visto que não existe nenhuma pós-graduação ou especializa-ção sobre o tema no Brasil. “Quando estudei nutrição foi abordado o tema de ve-ganismo apenas uma vez e de maneira muito superfi-cial. Meus conhecimentos na área se devem ao fato de que minha família tem restaurante vegetariano há mais de 30 anos, portan-to cresci neste ambiente. Também estudei em uma clínica nos Estados Uni-dos, chamada Wildwood Lifestyle Center, que trata seus pacientes por meio de medicina natural, den-tre eles a dieta vegana. Fiz o curso de 6 meses- “He-alth Missionary Trainning” onde aprendi mais sobre o veganismo. Fora isso sem-pre procuro artigos, livros e outros meios de informação sobre o assunto. “

Seguindo uma linha pa-recida através dos estudos, a nutricionista Ana Cere-gatti, que tem consultórios em São Paulo e Campinas, e mais de 90% dos seus pacientes vão ao seu con-sultório em busca da nu-trição vegana e vegetaria-na. Formada em 1990 pela Universidade São Camilo, a partir de 2004 se tornou vegetariana e por compai-xão aos animais, em 2006 adotou o veganismo como estilo de vida. Em 2008, começou a atender focada

no veganismo, mas para isso, ela precisou estudar o assunto de forma autô-noma. “Eu como nutricio-nista e vegana, precisava saber mais do assunto que o superficial. Foi ai que co-mecei a ler muito sobre o assunto, principalmente li-vros e artigos de fora, onde o veganismo é mais disse-minado. A partir disso, fui pesquisando e estudando mais a fundo. Hoje, fora a clinica, também dou aulas pontuais em faculdades so-bre o veganismo.” relata a nutricionista Ana.

Essa dificuldade está presente em todos os cur-sos de nutrição do país. Em sua última atualização, fei-ta em novembro de 2001, o Ministério da Educação e Cultura (MEC) não é espe-cífico em nenhum momen-to quanto ao veganismo em sua diretriz curricular. Pelo contrário, as informações são vagas e limitadas, fal-tando aprofundamento no tema. Nenhuma dieta está especificada, o que dá mar-gem para interpretações subjetivas. “avaliar, diag-nosticar e acompanhar o estado nutricional; plane-jar, prescrever, analisar, supervisionar e avaliar die-tas e suplementos dietéti-cos para indivíduos sadios e enfermos.”

Os cursos de nutrição não têm aulas somente so-bre o tema, o que existe é o veganismo estar inserido em uma ou outra matéria, como é o caso da gradua-ção da Puc-Campinas, que em quatro aulas o conteú-do é citado. São as disci-plinas de: Técnica Dieté-tica, os alunos precisam desenvolver e/ou adaptar uma receita direcionada para o vegano, justificar com embasamento cientí-fico os ingredientes utili-zados e a técnica dietética aplicada, além de desen-volver na prática a receita com avaliação sensorial, sendo considerado como prova prática; Patologia da Nutrição e Avaliação Nutri-cional, o tema é abordado quando o assunto é ane-mias nutricionais, os casos de pacientes veganos são

trabalhados de forma que o aluno possa perceber que existe maior probabilidade de ter anemia megaloblás-tica, necessitando de uma orientação cuidadosa no planejamento alimentar, visando à adequação nu-tricional da dieta vegana, incluindo suplementação específica e por fim, a Nu-trição e dietética, disciplina que os alunos promovem seminários sobre as dietas não convencionais, como é a dieta vegana.

O assunto é escamo-teado dentro das universi-dades, a diretora do curso de nutrição da Puc-Cam-pinas professora Mara Li-gia Biazotto Bachelli, conta que o assunto é tratado em semanas especiais e que o aprofundamento nesse tema precisa vir do aluno. “Nós temos o assunto tra-tado em quatro disciplinas nos diferentes semestres, se o aluno questiona qual-quer assunto, inclusive o veganismo, ele pode suge-rir que o tema seja refor-çado em nossa semana de estudos ou nas palestras mensais. Uma vez que nos-sa formação é generalista o aluno vê durante os quatro anos da faculdade diversos assuntos, mas ele é orien-tado a manter uma forma-ção continuada, buscando se aprofundar em temas de interesse na sua área de trabalho em cursos de ex-tensão e especialização. ”

Alguns alunos sentem falta de uma disciplina vol-tado ao veganismo, como é o caso do Fábio Andrietta, estudante do 7º semestre de nutrição na Puc- Cam-pinas. Ele conta que virou vegano por amor aos ani-mais e não concorda com a abordagem do curso so-bre o veganismo. “Meu pai sempre teve uma clínica veterinária, cresci em vol-ta dos animais, sou vegano por causa deles. Mas reco-nheço da importância do veganismo para a alimen-tação do ser humano, como estudante de nutrição, sin-to que a faculdade menos-preza o tema, não trata o assunto com a importância necessária.” Finaliza.

Foto: Divulgação

Foto: Arquivo pessoal

Foto: Divulgação

Foto: Divulgação

Quando estudei nutrição foi abordado o tema penas uma vez - Priscila Menezello

Eu como nutricionista e vega-na, precisava saber mais do assunto- Ana Ceregatti

O aluno pode sugerir que o tema seja reforçado - Mara Ligia

Como estudante, sinto que a fa-culdade menospreza o tema - Fábio Andrietta

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5Cadernos Especiais Jornalismo Especializado - Junho / 2016

sichas e almondegas vega-nas, é distribuído em todo o território nacional, atingin-do muitos consumidores.

Segundo a coordenadora de Redes Sociais e Mídia da companhia, Hélida Pires, a principal motivação para aderir ao Selo Vegano par-tiu do conceito de facilida-de. “O selo permite que os clientes identifiquem facil-mente quais alimentos cor-respondem ao seu estilo de vida”, comenta.

Com o resultado po-sitivo, Hélida reafirma a vontade da Superbom de certificar outros produtos embutidos, mas que nada é tão simples assim. O tra-balho realizado pela SVB é pago, apesar de a Socie-dade ser uma organização sem fins lucrativos.

O PROCESSOCarol Morua, da SVB,

lembra que todo o proces-so de certificação deman-da tempo e gastos. “Temos uma equipe de voluntários para a realização do tra-balho, que exige equipa-mentos e gastos com des-locamentos e telefonemas”, afirma a coordenadora.

Dividido em etapas, o trabalho começa com a ma-nifestação de interesse da empresa alimentícia. Ela precisa, obrigatoriamente, preencher um formulário com seus dados e informa-

ções do produto que rece-berá o selo vegano.

Feito isso, passa-se para a etapa de análise dos in-gredientes do produto in-dicado. É nessa etapa, por exemplo, que os engenhei-ros químicos da SVB iden-tificam insumo por insumo para destacar os que po-dem ser de origem animal.

A partir daí, a equipe en-tra em contato com os for-necedores dos ingredientes para entender de onde vie-ram e como foram fabri-cados, garantindo, assim, que os de origem animal sejam retirados da receita.

Um exemplo típico, se-gundo a SVB, é o soro de leite, subproduto da fabri-cação de queijo e iogurte. “A maioria dos alimentos possuem o soro apenas para o aumento de gordu-ra, mas a verdade é que o soro pode ser substituído”, explica Carol.

Ao final, a SVB faz su-gestões de ingredientes veganos que possam subs-tituir os de origem animal e, após a realização dos tes-tes, o produto é colocado à venda com o Selo Vegano.

Nesse período, que pode chegar a oito meses, algu-mas fabricantes são obri-gadas a trocar de fornece-dor ou mesmo desenvolver uma nova receita.

De acordo com Carol, esses são os principais fa-

tores para a demora do processo, que exige um in-vestimento mínimo de R$ 100,00. “Existe um custo inicial para a análise de 10 produtos. Daí em diante, o custo adicional varia de acordo com diversos fato-res, como o número de in-gredientes dos alimentos que precisaremos substi-tuir, por exemplo”, conta.

Mesmo com a possibili-dade de ter que esperar um bom tempo para conseguir a certificação, recorrer ao Selo Vegano pode ser uma saída para as fabricantes que querem garantir a pro-cedência de seus alimentos veganos. No Brasil, somen-te a instituição realiza esse tipo de trabalho.

OBRIGATORIEDADEUma das razões para

a falta de certificação é a falta de leis que obriguem a indústria de alimentos a avisar o consumidor da procedência dos ingredien-tes, segundo Carol. “Existe a certificação para cosmé-ticos veganos, garantindo que o produto não foi testa-do em animais, mas somos os únicos a certificar no que tange à alimentação”.

Ela lembra que existem projetos de lei em anda-mento que sugerem ações desse tipo, mas que aca-bam ficando estagnados no legislativo brasileiro na me-

dida em que outras deman-das surgem pelo caminho.

Esse é o caso de um pro-jeto de lei criado por Ricar-do Izar, deputado Federal eleito pelo Estado de São Paulo. Parado na Comissão e Constituição de Justiça (CCJ) desde 2013, o projeto propõe que a indústria ali-mentícia informe ao consu-midor, por meio do rótulo, se há ou não ingredientes de origem animal.

“O fabricante não seria obrigado a informar quais ingredientes de origem ani-mal o produto contém, mas avisar o consumidor de que eles estão ali por meio da seguinte frase: ‘possui in-gredientes de origem ani-mal’”, explica Paula Bastos, assessora de comunicação do deputado. “A sentença ficaria juntamente com as informações nutricionais do produto”, complementa.

Se implantada, a lei não exigiria investimentos por parte do fabricante, já que se trata apenas da incorpo-ração de uma frase no rótu-lo que já seria produzido de qualquer maneira, de acor-do com Paula.

Caso aprovada, a pro-posta de Izar pode benefi-ciar pessoas como o estu-dante do terceiro ano de jornalismo Felipe Bratfisch. Hoje com 23 anos, ele esco-lheu ser vegetariano aos 12 e há cerca de sete aderiu à filosofia vegana.

Desde aquela época, Bratfisch dedica mais tem-po às suas compras no su-permercado. “É complicado porque precisamos ler in-grediente por ingrediente das embalagens dos ali-mentos. Para mim, virou um hábito”, diz.

Para ele, o fato de 115 produtos possuírem o Selo Vegano facilita não só a sua vida, como a vida da-queles que estão iniciando no veganismo. “A vanta-gem está na praticidade e na confiabilidade, já que é difícil saber a procedência dos materiais utilizamos na produção do que consumi-mos”, diz. “Também ajuda as pessoas que estão ade-rindo, facilitando o acesso à informação”.

DÉBORA LOPES

Única responsável pela certificação de alimentos que não

contêm ingredientes de ori-gem animal no país, a So-ciedade Vegetariana Bra-sileira (SVB) concedeu seu selo de aprovação para cer-ca de 15 empresas do ramo nos últimos dois anos.

Apesar de pequeno, o número é positivo: até 2014 nenhuma companhia apresentara interesse pelo selo. “É um bom resulta-do. Tentamos implemen-ta-lo antes, mas o mercado brasileiro não absorveu a ideia, que já era aplicada em países estrangeiros”, conta Carol Morua, gerente de Certificação da SVB.

No exterior, a ideia nas-ceu para identificar alimen-tos industrializados que não possuíam ingredientes de origem animal, como ovos e leite – alimentos não consumidos por veganos.

Quando começou a ser implementado no Brasil, o Selo Vegano, como é co-nhecida a certificação con-cedida pela SVB, passou a acompanhar uma mudan-ça de comportamento da população brasileira. Prova disso, de acordo com Carol, é que o termo “veganismo” tem sido pesquisado com mais frequência nas ferra-mentas de buscas da inter-net, como o Google.

“A procura por essa pala-vra cresceu cerca de 700% de 2012 até agora. É a pro-va que a população tem se interessado, o que estimula a indústria”.

Um exemplo é a fabri-cante de enlatados veganos Superbom. A empresa, se-diada na capital paulista integra o time das 15 com-panhias que investiram na certificação da SVB. No to-tal, todas elas disponibili-zam 115 produtos certifica-dos no mercado.

Desse número, 16 ali-mentos são da Superbom - a que mais certificou en-tre a cartela de clientes da SVB. Esse conjunto, for-mado por alimentos que variam de patê e cevada até queijo, hambúrgueres, sal-

Produto vegano já certificado pela Sociedade Vegetariana Brasileira

Foto: Débora Lopes

Cresce certificação de alimentos veganos no paísApesar da não obrigatoriedade, cerca de 115 alimentos já circulam com certificação no mercado

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6 Cadernos EspeciaisJornalismo Especializado - Junho / 2016

BEATRIZ MATHEUS

Por que algumas pes-soas não comem car-ne? Foi o que pergun-

tou a pequena Naomi com apenas três anos de idade, aos pais. Cynthia Himiko Funada Nakamura, médica intensiva, 39 anos e Gildo Rioji Nakamura, designer de produtos, 42 anos ex-plicaram que se tratava de uma escolha pessoal, e que a prática era chamada de vegetarianismo. Foi o pri-meiro contato que a família teve com o regime alimen-tar, baseado na exclusão de todos os tipos de carne, mas não o último.

O questionamento des-pertou nos pais a vontade de conhecer mais sobre o estilo de vida vegana. Após pesquisas, todos na casa estavam adeptos da prática. Em seguida, veio a alimentação ovolactove-getariana. Pelo Facebook, Cynthia entrou em contato com grupos de pessoas ve-ganas, e gradualmente, a família passou a selecionar ainda mais seus alimentos.

Hoje, todos são veganos, até mesmo a filha mais nova, Ayumi, de dois anos de idade. “Animais são se-res vivos como nós, sentem dor, medo, tristeza. Não queremos que os matem para virarem comida, nem roupas, nem acessórios. Não queremos que passem por sofrimento para tes-tarem produtos, para re-tirarem leite ou ovos”, diz Cynthia. A convivência com os avós, tios, primos e de-mais membros da família é tranquila. Eles respeitam a opção de Cynthia e seus fi-lhos, e cada vez mais tem feito opções de pratos vega-nos nos eventos familiares.

Mas nem sempre o vega-nismo é bem recebido pelos familiares. É o caso da fa-mília da empresária Virgí-nia Moraes, 28 anos, que já teve vários desentendimen-tos com seu pai e familia-res pelo fato de Felipe, seu filho de dois anos, também ter uma alimentação vega-na. “Meu pai se incomoda muito ¬com o Felipe ser ve-gano. Ele sempre dá a des-culpa de que nós estamos colocando a saúde dele em

Alimentação vegana desde a infância

risco”, conta. Virgínia conta também que a única doen-ça o Felipe teve foi um pe-queno resfriado.

VITAMINASUma das grandes preo-

cupações quando se trata de veganismo é com os nu-trientes. A vitamina B12, por exemplo, é encontrada apenas em produtos de ori-gem animal, como peixes, carnes, ovos, queijo e leite, a baixa ingestão dessa vi-tamina traz a dúvida sobre a necessidade ou não do complemento nutricional.

“Os pediatras recomen-dam que qualquer bebê, seja vegano ou não, suple-mente vitamina D e ferro. Além delas, damos vitami-na B12 desde os seis me-ses de vida para o Felipe”, explica Virgínia.

Os filhos adotivos da en-fermeira Denise Cheavegat-ti e do pintor automotivo Francisco de Assis Rodri-gues, Kevin e Ian de sete e três anos de idade, também tomam suplemento, mas não por conta da dieta ve-gana. “Eles tomam vitami-na B12 e, em breve, iremos iniciar vitamina D, por que desde que saíram do abrigo

Como é a adaptação das crianças que desde pequenos já são inseridos no estilo de vida vegana

já estavam com uma defi-ciência severa desses nu-trientes”, conta. Quanto ao filho mais novo, João, de 28 dias, usará o complemento AD-Til, comumente receita-do para crianças, indepen-dente da dieta.

A ESCOLAEm países europeus, e

até nos Estados Unidos, já é possível encontrar esco-las que ofereçam alimenta-ção 100% vegana. A Muse School, em Calabasas, na Califórnia, por exemplo, além de só oferecer refei-ções veganas, possui uma área onde frutas e vegetais são plantados e colhidos pelos próprios estudantes.

O Brasil está na sexta posição dos países que mais consomem carne no mun-do. De acordo com o relató-rio “Perspectivas Agrícolas 2015/2024”, desenvolvido pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvi-mento Econômico (OCDE), em parceria com a Orga-nização das Nações Uni-das para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a cada ano, o brasileiro consome 78 quilos de carne. Diante da dominante cultura de

consumo de carne, ainda é difícil encontrar institui-ções de ensino que adotem a prática.

Os filhos de Cynthia e Denise frequentam escolas com cardápios vegetaria-nos e ovolactovegetarianos. Já o filho da publicitária Graciana Rizzo, Rafael, de quatro anos de idade, não. “A escola do meu filho não é adepta do veganismo, mas estimula hábitos sau-dáveis”, afirma.

OS AMIGOSAlém da escola, é comum

que crianças frequentem outros ambientes onde se deparem com bolos, doces, salgadinhos, alimentos que não estão de acordo com a dieta vegana.

Nessas situações, e prin-cipalmente quando esses alimentos são oferecidos às crianças, o mais comum é que os pais perguntem quais são os ingredientes e, em seguida, neguem o consumo. “É perfeitamente possível comer de tudo sem ingerir crueldade, e o Ra-fael é muito consciente dis-so. Quando vê algum ami-go comendo presunto, por exemplo, vai logo dizendo

que não come porque aqui-lo é ‘um bichinho que so-freu muito para estar ali’”, conta Graciana.

Já Denise afirma que, mesmo procurando alimen-tar Kevin e Ian antes de ir às festas e levando lanches e doces para que possam se alimentar durante as co-memorações, o filho mais novo, Ian, ainda não resiste a algumas guloseimas. “O mais velho entende perfei-tamente. O mais novo, não. Pede bolo e acabamos ex-plicando que faz mal, para que ele não coma”, diz.

Cynthia já passou pela mesma situação com as fi-lhas, Naomi e Ayumi. Ela conta que, durante festas, as duas já sentiram von-tade de comer docinhos e bolo. “Nunca as proibimos de comer algo. Sempre foi mais uma questão de cons-cientização. Então, no co-meço, quando isso acon-tecia, cedemos algumas vezes, com elas conscientes das escolhas. Hoje, elas já pararam de pedir”.

O PEDIATRAGraciana e Cynthia afir-

ma Graciana e Cynthia afirmaram não ter tido difi-culdade para encontrar um pediatra que entendesse a dieta vegana e fosse alinha-do com suas visões.

Denise, por outro lado, conta que já levou os filhos a uma pediatra que não conhecia direito o veganis-mo. “Ela disse que eu esta-va errada, que eles tinham que comer carne”, diz. A pediatra atual dos filhos, que também é nutróloga, e aceita bem o veganismo.

Virgínia também passou por uma situação parecida com Felipe, mas como con-sideravam a pediatra uma boa profissional, preferi-ram evitar conflitos e, após algum tempo de consultas, passaram mentir e a afir-mar que o filho estava in-gerindo carne. “Ela elogiava ele em todas as nossas idas ao consultório. Falava que ele estava crescendo e ga-nhando peso normal, e que era super saudável”, conta. Os pais decidiram não con-tar a atual pediatra do filho sobre o veganismo para evi-tar desentendimentos.

Felipe, filho de Virginia, comendo couve, feijão, batata, cenoura e brocoles

Foto: Virginia M

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Page 7: Caderno Especial - Veganismo

7Cadernos Especiais Jornalismo Especializado - Junho / 2016

CLARA LOURENÇON

A transição da alimen-tação vegetariana a vegana deve ser su-

pervisionada por um espe-cialista da área, no caso um profissional da nutrição. Segundo a nutricionista ve-gana, Cristiana Nogueira, 28, são poucas as pessoas que procuram orientação. “Na transição da dieta, muitos não procuram al-gum profissional da área e sofrem de algumas defi-ciências nutricionais que acarretam no ganho ou perda de peso”, afirma.

Essa alimentação deve ser supervisionada porque quando a pessoa se torna vegana, na dieta deve con-ter opções em que a vitami-na B12 seja absorvida, já que ela só é encontrada em quantidades suficientes em alimentos de origem ani-mal. A sua deficiência cau-sa sérios prejuízos como desordens mentais e cogni-tivas, diz nutricionista es-pecializada em veganismo.

Em muitos casos a su-plementação é receitada aos pacientes para que a vitamina B12 seja ingerida e permaneça no organismo. Além dos suplementos, al-guns alimentos devem ser evitados ou preparados de outra maneira para que ajudem na ingestão de ou-tras proteínas. Segundo Cristiane, algumas legumi-nosas, como feijão e ervilha devem ser sempre deixadas de molho na geladeira por 12 horas antes de cozinhar para que os fitatos que atrapalham a absorção se-jam anulados.

Não existe uma subs-tituição da carne. A espe-cialista afirma que muitas pessoas recorrem à carne de soja para substituir a carne animal, o que é um equívoco. “A soja tem mui-tos compostos antinutricio-nais e proteínas texturiza-das. É muito inflamatória para o organismo e como consequência, ocorre ga-nho de peso, acne e disten-são abdominal. Outro fator é que mais de 90% da nos-sa soja é transgênica”.

Não há necessidade de uma substituição, mas de uma alimentação vegana

Dieta vegana precisa de acompanhamentocompleta de micronutrien-tes (proteínas, carboidra-tos e lipídeos) e macro nu-trientes em quantidades e proporções adequadas para cada pessoa, por isso a supervisão nutricional é extremamente importante, afirma nutricionista.

Na transição das dietas o acompanhamento deve ser mensal e depois de acordo com cada cardápio, a visi-ta pode ser com intervalos maiores. Cristina afirma que as faculdades não tra-zem instrução sobre dietas veganas o que acarreta no erro de muitos profissio-nais. “Existem poucos pro-fissionais habilitados, uma vez que as maiorias dos nu-tricionistas são contra o ve-ganismo e não estudam so-bre o tema. Atendo muitos pacientes que já passaram por vários nutricionistas e eles falaram que não era possível a pessoa ser vege-tariana ou vegana e deveria voltar a comer carne, um grande erro” comenta.

O Conselho de Nutrição (CRN 3) que reúne pro-fissionais dos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, um dos principais do país, admitiu, por meio de comunicado digital a seus afiliados (newsletter), que todos os tipos de die-tas vegetarianas, incluindo a dieta vegetariana estrita, utilizada por veganos e que exclui todos os produtos e ingredientes de origem ani-mal, são viáveis sob o pon-to de vista nutricional.

Segundo o comunicado a dieta vegetariana estrita (vegana) não apresenta fon-tes nutricionais de vitamina B12, que deve ser fornecida por meio de alimentos for-tificados ou suplementos. Os elementos que exigem maior atenção na alimenta-ção do ovolactovegetariano são: ferro, zinco e ômega-3. Na dieta vegana deve haver atenção, além de vitamina B12, para cálcio e proteína.

A esteticista Joyce Fo-gassi, 34, vegana há oito meses faz acompanhamen-to nutricional de dois em dois meses. “Queria man-ter meu desempenho no esporte, já que pratico boxe e muay thai e preciso man-ter meu corpo bem nutrido

Deficiência nutricional é comum em quem não faz acompanhamento de acordo com nutricionistae com pouco percentual de gordura”, afirma. Quando era vegetariana passou por vários nutricionistas que disseram que a dieta sem carne não era possível.

Ao encontrar uma nu-tricionista vegana, a die-ta começou a funcionar. “Com uma dieta bem rica em proteínas e flexível pude manter todas as minhas atividades diárias, como o esporte. Faço exames de sangue duas vezes por ano, que mostram os níveis nor-mais do meu organismo” conta a esteticista.

Antes do acompanha-mento, quando era ainda vegetariana, Joyce ganhou alguns quilos. “Como não tinha uma supervisão pro-fissional passei a comer muito queijo e muitos ali-mentos com farinha o que acarretou no acumulo de gordura corporal” afirma.

Ler rótulos e embala-gens é cotidiano na vida de um vegano. Amanda Rezek, 23, já faz parte desta die-ta há seis anos e não faz acompanhamento nutricio-nal. “Eu acordei e disse que seria vegana, foi muito na-tural para mim então não procurei acompanhamento nutricional. Por ter expe-riência na cozinha não tive dificuldades com a alimen-tação, sempre surgia coisa nova no meu prato” conta.

“Assim que entrei na dieta vegana fiz exame de sangue para conferir as ta-xas de B12, ferro e proteí-nas. Mas creio que todas as pessoas que são adeptas a todo tipo de dieta devam fa-zer esse tipo de exame uma vez ao ano” diz a chefe de cozinha de um restaurante vegano em Campinas.

A nutricionista Cristiane tem pós-graduação em nu-trição clínica, funcional e oncológica. “Trabalhei dois anos em hospital de onco-logia e o consumo excessivo de carne vermelho e embu-tido está totalmente ligada à prevalência de câncer de intestino” afirma. Por isso todo tipo de dieta deve ser acompanhado por um es-pecialista em nutrição, principalmente a vegana em que as opções de cardá-pios devem ser bem amplas e variadas, afirma.

Amanda Rezek, chefe de cozinha vegano em Campinas

Joyce Fogassi, faz acompanhamento nutricional

Nutricionista, Cristiane Nogueira no consultorio

Fotos: Maria C

lara