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8/14/2019 Cap-23 Intoxicacoes Exogenas
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Manual do Atendimento Pr-Hospitalar SIATE /CBPR
CAPTULO 23
INTOXICAES EXGENAS, ENVENENAMENTOS E
ACIDENTES COM ANIMAIS PEONENTOS
1. Intoxicaes Exgenas
Venenos so substncias qumicas que podem causar dano ao organismo.
Os envenenamentos so, na sua maioria, acidentais, mas resultam tambm de ten-tativas de suicdio e, mais raramente, de homicdio.
No existem muitos antdotos (antagonistas especficos dos venenos) eficazes,sendo muito importante identificar a substncia responsvel pelo envenenamento o maisbreve possvel. Caso isso no seja possvel no incio, posteriormente devem ser feitastentativas de obter informaes (e/ou amostras) da substncia e das circunstncias emque ocorreu o envenenamento.
Um veneno pode penetrar no organismo por diversos meios ou vias de administra-o, a saber:
Ingerido - Ex.: medicamentos, substncias qumicas industriais, derivados
de petrleo, agrotxicos, raticidas, formicidas, plantas, alimentoscontaminados (toxinas).
Inalado - gases e poeiras txicas. Ex.: monxido de carbono, amnia,agrotxicos, cola base de tolueno (cola de sapateiro), acetona, benzina,ter, GLP (gs de cozinha), fluido de isqueiro e outras substncias volteis,gases liberados durante a queima de diversos materiais (plsticos, tintas,componentes eletrnicos) etc.
Absorvido - inseticidas, agrotxicos e outras substncias qumicas quepenetrem no organismo pela pele ou mucosas.
Injetado - toxinas de diversas fontes, como aranhas, escorpies, ou drogas
injetadas com seringa e agulha.
1.1. Abordagem e Primeiro Atendimento Vtima de Envenenamento
Verifique inicialmente se o local seguro, procure identificar a via de administraoe o veneno em questo. Aborde a vtima como de costume, identifique-se e faa o exameprimrio; esteja preparado para intervir com manobras para liberao das vias areas ede RCP, caso necessrio. Proceda o exame secundrio e remova a vtima do local. H si-tuaes em que a vtima deva ser removida imediatamente, para diminuir a exposio ao
veneno e preservar a segurana da equipe.
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Intoxicaes Exgenas
Se o veneno for ingerido e a vtima estiverconsciente e alerta, d-lhe dois ou trscopos de gua para beber, com a finalidade de diluir o veneno. Se a ingesto ocorreu hmenos de quatro horas, induza o vmito. Cuidado: em alguns casos, isso no deve serfeito, como na ingesto de derivados de petrleo (gasolina, querosene etc.), de corrosi-vos, como soda custica, e quando a vtima est sonolenta ou comatosa.
Nos casos indicados, a mese (vmito) pode ser obtida pela estimulao cuidado-sa da retrofaringe com o dedo ou cabo rombo de colher, aps ingesto de um ou dois co-pos de gua.
Existem medicamentos emetizantes, entre os quais o mais comum o Xarope deIpeca, eficaz e praticamente atxico, embora no deva ser utilizado em crianas menoresde 2 anos, em gestantes e cardiopatas.
Posologia para o Xarope de Ipeca:
Adultos - 30 ml; Crianas de 2 a 12 anos 15 ml.
Caso o vmito no ocorra em 30 minutos, repetir a dose; se em duas horas noacontecer, realizar lavagem gstrica.
Comunique os dados Central.
Administre oxignio e transporte a vtima em decbito lateral, para prevenir a aspi-rao no caso de vmitos. Leve para o hospital qualquer objeto que possa conter amostrado veneno (frasco, roupas, vmito).
Esteja certo de que a vtima que voc est atendendo a nica intoxicada; no casode crianas, verificar se estava s ou brincava com outras, que tambm devem ser avalia-das.
1.2. Sinais e Sintomas mais Comuns
Queimaduras ou manchas ao redor da boca;
Odores caractersticos (respirao, roupa, ambiente);
Respirao anormal ( rpida, lenta ou com dificuldade);
Sudorese, salivao e lacrimejamento;
Alteraes pupilares ( midrase ou miose);
Pulso (lento, rpido ou irregular);
Pele (plida, "vermelha", ou ciantica);
Alteraes da conscincia;
Convulses;
Choque;
Distenso abdominal;
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Vmitos;
Cefalia (dor de cabea);
Dor abdominal;
Queimao nos olhos e mucosas;
Dificuldade para engolir.
Existe em Curitiba o CENTRO DE INFORMAES TOXICOlOGICAS - CIT -, quefornece informaes 24 horas/dia, pelo telefone 148.
2. Monxido de Carbono (CO)
Gs incolor, sem cheiro e potencialmente perigoso. Liga-se fortemente hemoglo-bina,(protena que transporta O2 no sangue para os tecidos), competindo com o oxignio
e provocando HIPOXIA, podendo ocasionar leso cerebral e morte.
O monxido de carbono pode ser emitido por diversas fontes, como escapamentode veculos (perigo em lugares fechados, como garagens), aquecedores a gs, foges,aquecedores e queima de praticamente qualquer substncia em locais fechados.
2.1. Sintomas
Inicialmente, dor de cabea, nusea, vmitos, coriza.
Posteriormente, distrbios visuais, confuso mental, sncope (desmaio), tremores,coma, disfuno cardiopulmonar e morte.
2.2. Tratamento
Medidas de suporte e oxignio a 100%, iniciados mesmo que haja apenas suspeitade intoxicao por CO.
3. Depressores do Sistema Nervoso Central
lcool - o mais comum, freqentemente associado a intoxicaes por outrasdrogas.
Barbitricos - Gardenal, Luminal, Nembutal, etc.
Sedativos - Dormonid, Rohipnol, Halcion, etc.
Tranqilizantes menores - Valium e Diempax (diazepan), Librium, Lorax,Lexotan, etc.
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3.1. Sinais e sintomas
A intoxicao por esse grupo de drogas revela sintomatologia semelhante. A vtimaapresenta-se sonolenta, confusa e desorientada, agressiva ou comatosa; pulso lento,presso arterial baixa, reflexos diminudos ou ausentes, pele em geral plida e seca e pu-
pilas reagindo lentamente luz.
Durante o atendimento, fale com a vtima, procure mant-Ia acordada, reavalie-acom freqncia e esteja atento para a hipoventilao e os vmitos, pois ela, por ter os re-flexos diminudos, est mais propensa a fazer broncoaspirao.
4. Estimulantes do Sistema Nervoso Central
Anfetaminas, cafena e cocana.
Anfetaminas so utilizadas como anorexgenos (para diminuio do apetite). Asmais comuns so: fenfluramina (MINIFAGE AP, MODEREX AP), femproporex (DESOBESIM, LlPOMAX AP), Mazindol (ABSTEN PLUS, DASTEN AFINAN, FAGOLlPO, MODERA-MINA).
4.1. Sinais e sintomas
Distrbios digestivos (nusea, dor abdominal e diarria), sudorese, hipertermia, ru-
bor facial e taquipnia. Seguem-se distrbios cardiovasculares, como palpitaes, taqui-cardia, hipertenso arterial e arritmias.
As manifestaes neurolgicas compreendem cefalia, tontura, nistagmo (movi-mentos oculares anormais), midrase, tremores, rigidez muscular, hiper-reflexia, convul-ses e coma.
5. Acidente com Animais Peonhentos
Animais peonhentos so aqueles que possuem glndula de veneno que se comunicamcom dentes ocos, ferres ou aguilhes, por onde o veneno passa ativamente. Ex.: serpen-tes, aranhas, escorpies e arraias.
Animais venenosos so aqueles que produzem veneno, mas no possuem umaparelho inoculador (dentes, ferres), provocando envenenamento por contato (lagartas),por compresso (sapo) ou por ingesto (peixe-baiacu).
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No faa cortes, perfuraes, torniquetes, nem coloque outros produtossobre a leso;
Mantenha o acidentado calmo e imvel;
Oferea gua ou ch vtima;
Transporte a vtima levando, se possvel, o animal agressor, mesmomorto, para facilitar o diagnstico e a escolha do soro mais adequado.
O nico tratamento especfico a administrao do soro, o que deve acontecercom a maior brevidade, via endovenosa, em dose nica.
5.1.2. Gnero Crotalus
Refere-se ao grupo das cascavis.
Sua caracterstica mais importante apresena de guizo ou chocalho na ponta dacauda. Possuem fosseta loreal, atingem naidade adulta 1,6 m de comprimento, vivemem lugares secos, regies pedregosas e pas-tos, no sendo encontradas nas regies lito-rneas. Menos agressivas que as jararacas,no responsveis por 11 % dos acidentes of-dicos no Estado, que costumam ser de maior
gravidade.Seu veneno possui ao neurotxica, miotxica (leso da musculatura esqueltica)
e coagulante, causando manifestaes muitas vezes pouco intensas: edema e parestesi-as (formigamentos) discretas, pouca dor.
Manifestaes sistmicas: cefalia, nusea, prostrao, sonolncia; DIPLOPIA (vi-so dupla), viso turva, MIDRASE, PTOSE PALPEBRAL ("queda da plpebra"), dificulda-de para deglutir, MIALGIAS (dores musculares) e urina escura.
O tratamento consiste nas medidas gerais j citadas e na soroterapia especfica
precoce com soro anticrotlico (SAC). Em caso de dvidas quanto ao agente agressor,pode ser utilizado o soro antibotrpico-crotlico (SABC).
5.1.3. Gnero Micrurus
Refere-se ao grupo das corais verdadeiras.
So serpentes peonhentas que no possuem fosseta loreal (isto uma exceo)nem um aparelho inoculador de veneno to eficiente quanto o de jararacas e cascavis. O
veneno inoculado atravs de dentes pequenos e fixos.
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Fig 23.3 Cascavel.
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Padro de cor: vermelho (ou alaranja-do), branco (ou amarelo) e preto.
Habitam preferencialmente buracos,tornando os acidentes raros, mas muito gra-
ves, pela caracterstica de seu veneno deprovocar parada respiratria.
O veneno deste gnero possui eleva-da toxicidade neurotxica e miotxica. Osacidentes com este gnero de ofdios geral-mente no causam manifestaes locais sig-nificativas, porm so graves as sistmicas:vmitos, salivao, ptose palpebral, sonolncia, perda de equilbrio, fraqueza muscular,midrase, paralisia fi cida que pode evoluir, comprometendo a musculatura respiratria,
com apnia e insuficincia respiratria aguda. Todos os casos devem ser consideradosgraves.
O tratamento, alm das medidas gerais j citadas, inclui o soro antielapdeo via en-dovenosa.
6. Aranhas
6.1. Aranha Marrom (Loxosceles)
Pequena (4 cm), pouco agressiva, de
hbitos noturnos; encontrada em pilhas de ti- jolos, telhas e no interior das residncias,atrs de mveis, cortinas e eventualmentenas roupas.
A picada ocorre em geral quando aaranha comprimida contra o corpo (ao ves-tir-se ou ao deitar-se), no produzindo dorimediata. A evoluo mais freqente para aforma "cutnea", evoluindo para eritema (vermelhido), edema duro e dor local (6 a12 h);entre 24 h e 36 h aparece um ponto de necrose central (escuro) circundado por um haloisqumico (claro) Leso em lvo;; at 72 h, febre, mal-estar e ulcerao local.
Na forma "cutneo-visceral" (mais grave), alm do quadro acima, entre 12h e 24haps a picada, surgem febre, cefalia, nuseas, vmitos, urina escura (cor de lavado decarne), anria e isuficincia renal aguda.
O tratamento consiste em anti-sepsia, curativo local, compressas frias; medidas desuporte e soroterapia especfica.
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Fig 23.4 Coral verdadeira.
Fig 23.5 Aranha Marrom.
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6.2. Aranha Armadeira (Phoneutria)
Muito agressiva, encontrada em bana-neiras, folhagens, entre madeiras e pedrasempilhadas e no interior das residncias.
Tem colorao marrom escura com manchasclaras e atingem 12 cm de dimetro.
Nos acidentes com as armadeiras,predominam as manifestaes locais. A dor imediata e em geral intensa, podendo irradiarpara a raiz do membro acometido. Ocorremedema, eritema, parestesia e sudorese no lo-cal da picada, onde podem ser encontradas duas marcas em forma de pontos. Especial-mente em crianas, registram-se sudorese, nuseas, vmitos, hipotenso e choque.
Tratamento suportivo e sintomtico; nos casos mais graves, est indicada a sorote-rapia especfica.
6.3. Tarntula (Scaptocosa Iycosa)
Causa acidentes leves sem necessi-dade de tratamento especfico.
Aranha pouco agressiva, com hbitosdiurnos, encontrada beira de barrancos, emgramados Uardins) e residncias. No fazteia.
Sintomas: geralmente semsintomas; pode haver pequenador local, com possibilidade deevoluir para necrose.
Tratamento: analgsico.
Tratamento especfico: nenhum.
6.4. Caranguejeira (Mygalomorphae)
Aranha grande, peluda, agressiva e de hbitos noturnos; encontrada em quintais,terrenos baldios e residncias.
Quando ameaada ou manipulada, esfrega suas patas posteriores no abdmen elana plos com farpas em grande quantidade ao seu redor, provocando irritao da pelee alergia. No h tratamento especfico.
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Fig 23.6 Armadeira..
Fig 23.7 Tarntula.
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Acidentes pouco freqentes.
As aranhas atingem grandes dimen-ses e algumas so muito agressivas; pos-suem ferres grandes, responsveis por fer-
roadas dolorosas.
Tratamento: anti-histamnicovia oral, se necessrio.
Tratamento especfico:nenhum.
7. Escorpies
Pouco agressivos, os escorpies tm hbitos noturnos. Encontram-se em pilhas de
madeira, cercas, sob pedras e nas residncias.
Existem diversas espcies, mas somente ognero Tityus tem interesse mdico. Os es-corpies picam com a cauda, medem de 6 a8 em, tm hbitos noturnos, escondendosedurante o dia sob cascas de rvores, pedras,troncos, dentro de residncias etc. Fig. 9 -Escorpio amarelo (Tityus serrulatus).
A vtima apresenta dor local de intensi-dade varivel (pode chegar a insuportvel),em queimao ou agulhada e com irradiao;pode ocorrer sudorese e piloereo no local.
Manifestaes sistmicas: lacrimejamento, sudorese, tremores, espasmos muscu-lares, priapismo, pulso lento e hipotenso. Podem ocorrer arritmias cardacas, edemaagudo de pulmo e choque.
O tratamento inclui medidas gerais e soroterapia especfica.
8. Insetos
As lagartas (Lonomia), tambm chamadas de taturanas, so larvas de mariposas,medem de 6 a 7 em e possuem o corpo revestido de espinhos urticantes que contm po-derosa toxina. Sua cor marrom-esverdeada ou marrom-amarelada, com listras longitudi-nais castanho-escuras.
Tambm conhecidas como lagartas de fogo e oruga, vivem durante o dia agrupa-das nos troncos de rvores, onde causam acidentes pelo contato com seus espinhos.
A vtima pode apresentar dor local em queimao, seguida de vermelhido e ede-ma.
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Fig 23.8 Caranguejeira.
Fig 23.9 Escorpio Amarelo.
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Intoxicaes Exgenas
A seguir surgem, cefalia, nuseas e vmitos, artralgias. Aps 8 a 72 horas, podemsurgir manifestaes hemorrgicas, como manchas pelo corpo, sangramentos gengivais,pelo nariz, pela urina e por ferimentos recentes; os casos mais graves podem evoluir parainsuficincia renal e morte.
O soro especfico ainda no est disponvel.
Tratamento suportivo e sintomtico; no local, aplique compressas frias de soluofisiolgica.
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Fig 23.10 Taturana.