Upload
sofia-t-novo
View
224
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 121
Capital Social e Pobreza implicaccedilotildees teoacuterico empiacutericas para estudos de
Programas de Renda Miacutenima
Carmelita Veneroso1 e Ian Prates2
INTRODUCcedilAtildeO
A discussatildeo acerca do conceito de ldquocapital socialrdquo tem ganhado cada vez mais
espaccedilo nos debates que visam apontar causas e soluccedilotildees do fenocircmeno da pobreza Desta
forma pode ser ndash e de fato tem sido ndash utilizado na reflexatildeo sobre poliacuteticas puacuteblicas
Na maioria das vezes o conceito de capital social eacute utilizado como categoria
analiacutetica que busca explicar de que forma indiviacuteduos e coletividades tecircm acesso a
recursos diferenciados na sociedade Mais especificamente busca compreender de que
forma se articulam diferentes redes de relacionamento podendo trazer benefiacuteciosindividuais ou coletivos Adotaremos aqui a perspectiva de James Coleman (1990) que
propotildee o capital social como recurso estrutural proveniente das relaccedilotildees sociais
Neste trabalho analisamos empiricamente a relaccedilatildeo entre capital social e pobreza
em um territoacuterio de alta vulnerabilidade social ndash bairro Jardim Teresoacutepolis (Betim ndash
MG) Com dados de pesquisa de survey realizada no bairro em 2006 buscamos
apreender a partir de anaacutelise estatiacutestica o padratildeo que caracteriza a relaccedilatildeo entre capital
social e pobreza naquele territoacuterio Foi criado um modelo de regressatildeo logiacutestica binaacuteria
pra avaliar o efeito do capital social sobre a possibilidade das famiacutelias superarem a linha
de pobreza A partir dos resultados apontamos algumas consideraccedilotildees acerca de como
o entendimento dessa relaccedilatildeo pode ser uacutetil para o estudo de poliacuteticas de renda miacutenima
CAPITAL SOCIAL - TRADICcedilOtildeES TEOacuteRICAS
Podemos dizer que a ideacuteia de capital social encontra-se presente na teoria
socioloacutegica mesmo antes da formulaccedilatildeo do conceito em especial no pensamento de
Durkheim que salientou o papel da solidariedade na criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da ordem
social Embora com divergecircncias e distinccedilotildees importantes as diferentes concepccedilotildees de
capital social comungam de um pressuposto baacutesico capital social eacute um recurso que
1 Mestranda em Sociologia pela UFMG
2 Cientista social graduado pela UFMG
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 221
deriva das relaccedilotildees sendo algo que decorre da sociabilidade e das interaccedilotildees
estabelecidas entre os indiviacuteduos e a partir do seu pertencimento a grupos sociais As
relaccedilotildees sociais constituem portanto a base de sustentaccedilatildeo do capital social Este eacute
criado e mantido pela existecircncia dessas relaccedilotildees e varia de acordo com seu tipo e
intensidade Eacute ainda notoacuterio observar que a despeito das variantes na formulaccedilatildeo doconceito podemos identificar um aspecto geral comum a todos eles a imersatildeo de
indiviacuteduos em redes sociais pode trazer benefiacutecios de natureza diversa
O conceito no entanto adquiriu formulaccedilatildeo sistemaacutetica pela primeira vez na
sociologia contemporacircnea na obra de Pierre Bourdieu que define o capital social como
ldquoo agregado dos recursos efetivos ou potenciais ligados agrave posse de uma rede duraacutevel de
relaccedilotildees mais ou menos institucionalizadas de conhecimento ou reconhecimento muacutetuordquo
(Bourdieu 1958 p 248 in Portes 1998 p 134) Em Bourdieu a ideacuteia de capital social
surge junto com a de capital cultural e simboacutelico na tentativa de superar o restrito focoda teoria econocircmica ortodoxa que fixa sua atenccedilatildeo apenas no capital econocircmico e
humano desconsiderando outras formas de trocas sociais (Higgins 2005) Como as
outras formas de capital o capital social eacute tratado como recurso individual passiacutevel de
ser utilizado e instrumentalizado por aquele que o deteacutem Ou seja embora se origine a
partir de uma rede relacionamentos eacute um atributo individual que permite o acesso a
recursos diferenciados natildeo apenas de natureza econocircmica mas tambeacutem aqueles
referente a status social ndash capital simboacutelico ndash e bens culturais ndash capital cultural E este
acesso natildeo se daacute pelo simples fato de pertencimento agrave rede mas mais do que isso eacute
necessaacuterio que o indiviacuteduo a mobilize instrumentalmente de forma a atingir objetivos
preacute-definidos Da mesma forma a confianccedila nas relaccedilotildees sociais entre os membros da
rede eacute fundamental na medida em que possibilita sua manutenccedilatildeo e fortalecimento ao
mesmo tempo em que torna possiacutevel o acesso aos recursos nela presentes Portes (1998)
chama atenccedilatildeo para o fato de que o capital social na perspectiva de Bourdieu pode ser
decomposto em dois niacuteveis num primeiro momento a proacutepria relaccedilatildeo social que
permite ao indiviacuteduo ter acesso aos benefiacutecios de natureza distinta que os membros do
grupo satildeo detentores e em segundo a quantidade e a qualidade desses recursos Eacute
importante tambeacutem enfatizar a diferenciaccedilatildeo apontada por Bourdieu no que tange agraves
trocas de natureza econocircmica e aquelas originaacuterias do capital social Estas uacuteltimas se
consolidam em horizontes temporais incertos e requerem a presenccedila de confianccedila muacutetua
e obrigaccedilotildees taacutecitas embora estejam sempre sujeitas agrave quebra da expectativa da
reciprocidade diferentemente daquelas realizadas no acircmbito do mercado Prates et allii
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 321
(2007) criticam o conceito de Bourdieu por entenderem que ele se superpotildee ao conceito
de poder social jaacute bastante difundido na teoria socioloacutegica na medida em que a
participaccedilatildeo em redes se constitui como um recurso potencial de poder ao possibilitar
acesso diferenciado a recursos e realizaccedilatildeo de interesses individuais Na mesma linha a
anaacutelise classista da perspectiva de Bourdieu torna improvaacutevel a constituiccedilatildeo de redesinter-classes ou mesmo relaccedilotildees ldquoduraacuteveis de conhecimento e reconhecimento muacutetuordquo
que realizassem a conexatildeo entre redes constituiacutedas em classes distintas Esta
constataccedilatildeo nos induz a concluir que em Bourdieu o capital social seria um recurso
disponiacutevel apenas agraves classes privilegiadas sendo contraditoacuterio atestar sua
disponibilidade aos indiviacuteduos das classes baixas os quais satildeo desprovidos de poder no
interior da estrutura social Portes por outro lado ressalta que a vantagem do conceito
bourdieusiano em relaccedilatildeo ao de Coleman que veremos logo agrave frente estaacute no fato de que
este permite uma maior diferenciaccedilatildeo entre o conceito em si e os recursos adquiridospelo seu uso
Jaacute mais proacuteximo ao campo da sociologia poliacutetica encontramos em Robert Putnam
uma tradiccedilatildeo que Prates et allii definem como normativo-associativista Devedor em
grande medida do conceito de Coleman Putnam tambeacutem identifica o capital social
como atributo da esfera coletiva
Uma caracteriacutestica especiacutefica do capital social ndash confianccedila normas e cadeiasde relaccedilotildees sociais ndash eacute o fato de que ele normalmente constitui um bem
puacuteblico ao contraacuterio do capital convencional que normalmente eacute um bemprivado (PUTNAM 1996 p 180)
Na obra que acabamos de citar (Comunidade e democracia a experiecircncia da
Itaacutelia moderna) Putnam realiza uma pesquisa de quase vinte anos onde identifica uma
substancial diferenccedila de desempenho das instituiccedilotildees poliacuteticas das trecircs regiotildees da Itaacutelia
(norte centro e sul)3 A ldquochaverdquo para a explicaccedilatildeo desta diferenccedila ndash que natildeo pode ser
buscada na configuraccedilatildeo das instituiccedilotildees dado que eacute a mesma em todo o paiacutes ndash o autor
encontra no conceito de capital social afirmando existir nas proviacutencias do norte um
maior estoque de capital social que nas proviacutencias do sul Sua empresa estaacute em
demonstrar o papel do capital social como facilitador na criaccedilatildeo de uma cultura poliacutetica
centrada no civismo e no associativismo o que o leva a associar o conceito ao de
3 As instituiccedilotildees das proviacutencias do norte da Itaacutelia possuem um desempenho muito superior agraves do sul e asdo centro um desempenho intermediaacuterio Para maiores detalhes ver Putnam (1996)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 421
cultura ciacutevica4 jaacute bastante difundido na teoria poliacutetica ldquoos sistemas de cultura ciacutevica
satildeo uma forma essencial de capital socialrdquo (Putnam 1996 p 183) Para aleacutem disso
percebemos tambeacutem um traccedilo eminentemente normativo na definiccedilatildeo do conceito uma
vez que o autor estabelece uma relaccedilatildeo inevitaacutevel entre a presenccedila de capital social e
praacuteticas culturais orientadas por um ethos ciacutevico na busca pelo ldquobem comumrdquoColeman (1990) aporta uma visatildeo distinta e eacute na teoria das redes que encontramos
os fundamentos que sustentam sua formulaccedilatildeo Nessa em que se destaca o artigo de
Granovetter (2007) Accedilatildeo econocircmica e estrutura social ndash o problema da imersatildeo a accedilatildeo
individual natildeo eacute vista nem como simples fruto do caacutelculo racional auto-interessado
(concepccedilatildeo sub-socializada) tampouco como resultado mecacircnico do constrangimento
estrutural (concepccedilatildeo super-socializada) Ambas segundo Granovetter nos apresentam
uma abordagem atomizada do indiviacuteduo desconsiderando o contexto imediato em que
os atores estatildeo inseridos a saber as relaccedilotildees sociais com seus pares ldquoO argumento daimersatildeo enfatiza por sua vez o papel das relaccedilotildees pessoais concretas e as estruturas (ou
ldquoredesrdquo) dessas relaccedilotildees na origem da confianccedila e no desencorajamento da maacute feacuterdquo
(Granovetter 2007 p 10) A confianccedila portanto enquanto atributo indispensaacutevel agrave
existecircncia de capital social surge como fruto das relaccedilotildees concretas estabelecidas pelos
atores no interior das redes sociais Para Coleman o capital social tambeacutem eacute um recurso
que pode ser utilizado pelo individuo mas que se encontra nas redes de relacionamento
sendo algo inerente a estrutura das relaccedilotildees sociais sustentado por expectativas e
obrigaccedilotildees de reciprocidade Tem assim caracteriacutestica de um bem publico ou seja
todos que compotildeem a rede podem dele utilizar mas natildeo eacute passiacutevel de ser apropriado
individualmente O capital social nesta perspectiva se define pela sua funccedilatildeo sendo
que esta consiste em ldquo facilitar a realizaccedilatildeo de objetivos que natildeo poderiam ser
alcanccedilados em sua ausecircncia ou que poderiam ser alcanccedilados somente sob um alto
custordquo (Coleman 1990 p 304 traduccedilatildeo nossa) Esta definiccedilatildeo permite observar
situaccedilotildees nas quais as accedilotildees dos indiviacuteduos satildeo facilitadas pelo fato destes estarem
imersos em uma rede de relaccedilotildees sociais densa A densidade das redes estaacute relacionada
tanto ao grau de proximidade e contato entre os indiviacuteduos quanto ao grau de
interdependecircncia entre eles Satildeo contextos onde segundo Coleman pode emergir no
interior da estrutura seis diferentes formas de capital social obrigaccedilotildees e expectativas
fontes e canais de informaccedilotildees potenciais normas e sanccedilotildees efetivas relaccedilotildees de
4 Cultura ciacutevica seria a ldquodisposiccedilatildeo dos indiviacuteduos em participar de grupos associaccedilotildees e accedilotildees coletivasque buscam objetivos socialmente positivosrdquo (Almond amp Verba 1963 in Fialho 2004 p 33)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 521
autoridade organizaccedilotildees sociais apropriaacuteveis organizaccedilatildeo intencional Todas essas
formas facilitam a accedilatildeo individual e tornam possiacutevel a mobilizaccedilatildeo da estrutura de
relaccedilotildees pelo indiviacuteduo (Fialho 2004)
Embora seja critico ao conceito de Coleman em grande medida Portes afirma
que um dos meacuteritos dessa perspectiva estaacute no conceito de closure que diz respeito ldquoagraveexistecircncia entre um certo nuacutemero de pessoas de laccedilos suficientes para garantir a
observacircncia de normasrdquo (Portes 2000 p 137) As criacuteticas por outro lado apontam
algumas limitaccedilotildees A primeira diz respeito ao fato de que a forma como o conceito foi
elaborado seria vago abrindo caminho para que processos diferentes ndash e mesmo
contraditoacuterios ndash passassem a ser designados como ldquocapital socialrdquo Para Portes o
proacuteprio Coleman deu iniacutecio a esta proliferaccedilatildeo na medida em que inclui no corpo do
conceito alguns dos mecanismos geradores do capital social (como as expectativas de
reciprocidade e as normas grupais) suas consequumlecircncias (como o acesso a informaccedilotildeesdiferenciadas) e a organizaccedilatildeo social como loacutecus da realizaccedilatildeo de ambos
Prates et allii (2007) apontam que se Putnam pode ser definido como pertencente
a uma tradiccedilatildeo normativo-associativista em Coleman o que percebemos eacute uma
perspectiva interacionista que focaliza as relaccedilotildees sociais como aspecto essencial do
conceito Aleacutem desta vantagem observamos uma neutralidade valorativa na sua
definiccedilatildeo uma vez que Coleman natildeo associa o conceito de capital social com praacuteticas
orientadas por valores ldquosocialmente positivosrdquo A tiacutetulo de ilustraccedilatildeo natildeo seria
contraditoacuterio apontar com base na definiccedilatildeo de Coleman existecircncia de capital social
em grupos os quais as praacuteticas satildeo consideradas como opostas a tais valores (redes de
narcotraacutefico grupos terroristas ou mesmo a maacutefia italiana por exemplo) Fialho (2004)
aponta com clareza a vantagem teoacuterica do conceito de Coleman
Por tratar o capital social como um aspecto das relaccedilotildees sociais e natildeo comoum valor em si (como faz Putnam ao confundir os conceitos de capital sociale civismo) Coleman advoga a neutralidade moral do termo uma vez que ocapital social eacute encarado como um recurso fornecido pela estrutura social enatildeo como uma causa ou motivo para a accedilatildeo individual ou coletiva (Fialho
200433-34)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 621
O BAIRRO JARDIM TERESOacutePOLIS5
O bairro Jardim Teresoacutepolis contava no ano de 2006 com uma populaccedilatildeo
aproximada de 30 mil habitantes e uma densidade populacional de 35631
habitanteskm2 Atualmente constitui uma das aacutereas mais carentes da cidade de Betime a grande maioria das residecircncias ainda se encontra em estado precaacuterio sendo que
871 natildeo tecircm regularizaccedilatildeo junto agrave prefeitura No que se refere agraves condiccedilotildees de
habitaccedilatildeo e de infra-estrutura urbana os dados satildeo relativamente positivos com um
percentual baixo da populaccedilatildeo sem o atendimento de suas necessidades baacutesicas de
moradia
Quanto agrave seguranccedila alimentar 11 dos domiciacutelios jaacute apresentou caso de
desnutriccedilatildeo na famiacutelia Nos relatos sobre o tema um morador disse que natildeo passa fome
porque a galinha bota ovo todo dia Uma moradora disse comer mingau todo dia e
outro alegou que natildeo tem com o que comprar comida mas que diz ldquoter feacute em Deus de
que Ele natildeo permitiria que sua famiacutelia passasse fomerdquo Outros disseram passar fome
algumas vezes e ter o que comer na casa dos vizinhos Embora essa questatildeo natildeo tenha
sido quantificada natildeo satildeo casos isolados e espelham uma vulnerabilidade fundamental
que diz respeito ao acesso ao alimento e a condiccedilotildees baacutesicas de sobrevivecircncia
A percepccedilatildeo da violecircncia tambeacutem eacute alta entre os moradores 735 jaacute
testemunharam crime ou conhecem viacutetimas ou tecircm medo de ir a algum lugar no bairro
Em mais de 62 dos questionaacuterios existiram relatos negativos sobre a violecircncia no
bairro traacutefico de drogas aacutereas de circulaccedilatildeo interditada perigos e ameaccedilas de se morar
na regiatildeo A referecircncia a brigas de gangues em funccedilatildeo do traacutefico de drogas foi
constante Habitantes de uma parte do territoacuterio por exemplo natildeo podem circular
livremente em outra Mais de 5 afirmaram ser proibido circular em determinados
locais e mais de 24 relataram risco de agressatildeo e assalto como motivos para natildeo
circularem em aacutereas especiacuteficas
Com relaccedilatildeo ao vinculo e inserccedilatildeo no trabalho para os chefes de famiacutelia em idade
entre 15 e 65 anos 118 estatildeo desempregados e procuram emprego enquanto que
quase 3 estatildeo desempregados e natildeo procuram mais emprego 641 trabalham sendo
5 Os dados aqui apresentados acerca das caracteriacutesticas soacutecio-demograacuteficas do bairro Jardim Teresoacutepolisforam retirados do Relatoacuterio de Pesquisa ldquoPobreza e Vulnerabilidade no Jardim Teresoacutepolisrdquo FJP2006Neste relatoacuterio tambeacutem eacute possiacutevel encontrar detalhadamente informaccedilotildees sobre a metodologia utilizadana pesquisa
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 721
que desse total 34 trabalham sem viacutenculo ou por conta proacutepria e 66 trabalham com
viacutenculo CLT Quanto agrave renda tem-se que para um total de 409 domiciacutelios 151 (369)
se encontravam abaixo e 258 (431) se encontravam acima da linha de pobreza per
capita6 sendo que a meacutedia da renda per capita eacute de R$24348
O PROGRAMA BOLSA FAMIacuteLIA E O FENOcircMENO DA POBREZA
O Programa Bolsa Famiacutelia foi criado pelo governo federal brasileiro em 2003
com o objetivo de unificar a gestatildeo e a implementaccedilatildeo de quatro (depois cinco) poliacuteticas
de transferecircncia de renda7 agraves famiacutelias mais pobres do paiacutes Uma das mudanccedilas mais
importantes desse processo foi a adoccedilatildeo de um sistema de cadastro nacional das
famiacutelias elegiacuteveis a participarem de programas do governo federal o CadUacutenico que
permite uma melhor focalizaccedilatildeo dos programas Atualmente atende a um nuacutemeroaproximado de 117 milhotildees de famiacutelias como jaacute mencionado
O principal objetivo do programa eacute romper com a reproduccedilatildeo inter-geracional da
pobreza atraveacutes de transferecircncias monetaacuterias de renda agraves famiacutelias que satildeo classificadas
como ldquopobresrdquo ou ldquoextremamente pobresrdquo permitindo assim um aliacutevio imediato da
pobreza bem como o exerciacutecio de direitos sociais baacutesicos nas aacutereas de educaccedilatildeo e
sauacutede As condicionalidades para o recebimento dos benefiacutecios se datildeo atraveacutes da
exigecircncia de uma frequumlecircncia escolar miacutenima dos jovens ndash 85 para os de 6 a 15 anos e
75 para aqueles entre 16 e 17 anos ndash da atualizaccedilatildeo do cartatildeo vacinal do
acompanhamento das gestantes e por fim do acompanhamento de accedilotildees soacutecio-
educativas para crianccedilas em situaccedilatildeo de trabalho infantil
Satildeo trecircs os tipos de benefiacutecio cujos valores variam de R$2200 e R$20000
a) benefiacutecio baacutesico ndash R$ 6800 transferido agraves famiacutelias consideradas como
ldquoextremamente pobresrdquo independente da presenccedila ou natildeo de crianccedilas ou
gestantes no domiciacutelio
b) Benefiacutecio variaacutevel ndash R$2200 transferido agraves famiacutelias ldquopobresrdquo desde quetenham crianccedilas com idade de ateacute 15 anos Cada famiacutelia pode receber no
maacuteximo 3 benefiacutecios deste tipo (maacuteximo de R$ 6600)
6 Para estimar a LP utilizou-se o mesmo criteacuterio utilizado pelo Programa Bolsa Famiacutelia em 2006 Ouseja famiacutelias com renda per capita ateacute R$12000 foram consideradas como ldquopobresrdquo e aquelas com rendaper capita acima desse valor foram consideradas como ldquonatildeo pobresrdquo
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 821
c) Benefiacutecio Variaacutevel vinculado ao adolescente (BVVA) ndash R$ 3300 transferido a
todas as famiacutelias do programa que tenham adolescentes entre 16 e 17 anos
frequumlentando a escola Cada famiacutelia pode receber ateacute dois BVVA (R$ 6600)
Como mencionado a classificaccedilatildeo das famiacutelias como ldquopobresrdquo ou
ldquoextremamente pobresrdquo de modo a tornaacute-las participantes em potencial do programa
segue uacutenica e exclusivamente o criteacuterio da renda familiar per capita No entanto a
literatura que trata do fenocircmeno da pobreza apresenta inuacutemeras abordagens tanto no
que se refere agrave definiccedilatildeo do conceito de ldquopobrezardquo como tambeacutem na sua mensuraccedilatildeo e
nas consequumlentes alternativas para o seu enfrentamento
Rocha (1998) defende que para contextos onde eacute alto o percentual da populaccedilatildeo
urbana e com economia largamente monetizada a variaacutevel renda tendo como referecircncia
uma linha de pobreza deve ser tomada como uma proxy do bem estar dos indiviacuteduos e
famiacutelias Para o Brasil mais especificamente a autora defende que ldquoa abordagem de
renda eacute relevante e adequada para o estabelecimento de um crivo baacutesico entre pobres e
natildeo pobres (ou entre indigentes e natildeo-indigentes)rdquo (ROCHA 1998 p 66) A linha de
pobreza (LP) por sua vez pode ser determinada de maneira arbitraacuteria (1U$ ou 2U$dia
por exemplo) o que permite comparaccedilotildees internacionais ou pode ser estabelecida a
partir da observacircncia das caracteriacutesticas soacutecio-econocircmicas principalmente as
relacionadas ao consumo de indiviacuteduos num dado contexto social Este uacuteltimo
procedimento requer a disponibilidade de dados populacionais para seroperacionalizado o que no caso brasileiro natildeo implica em dificuldade e de fato tem sido
realizado em funccedilatildeo das PNADs (Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar) e das
POFs (Pesquisa Orccedilamentaacuteria Familiar)
A distribuiccedilatildeo de despesas permite melhor captar a condiccedilatildeo de vida dascamadas de mais baixa renda Em consequumlecircncia as melhores estimativas depobreza satildeo aquelas derivadas inteiramente dos dados de pesquisas deorccedilamentos familiares (ROCHA 1998 p 59)
Esta visatildeo embora permita a mensuraccedilatildeo do fenocircmeno da pobreza para grandes
populaccedilotildees foi e continua sendo duramente criticada Uma das primeiras criacuteticas partiudo enfoque das ldquonecessidades baacutesicas insatisfeitasrdquo para quem os ldquopobresrdquo satildeo as
pessoas cujo consumo de bens e serviccedilos natildeo atinge ao miacutenimo necessaacuterio8 Este
7 Programa Bolsa Escola Programa Bolsa Alimentaccedilatildeo Auxiacutelio Gaacutes Programa Nacional de Acesso agraveAlimentaccedilatildeo PETI8 Pode-se dizer que o PBF adota esta perspectiva quando do enfrentamento da pobreza ao adotarcondicionalidades que se datildeo no ambito da educaccedilatildeo e da sauacutede mas natildeo como criteacuterio de elegibilidade
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 921
ldquomiacutenimo necessaacuteriordquo diz respeito aos serviccedilos baacutesicos de sauacutede educaccedilatildeo transporte
habitaccedilatildeo dentre outros mas tambeacutem a processos de natureza psico-social como
participaccedilatildeo auto-estima e autonomia Desta forma o conceito de pobreza eacute relativizado
e a consequumlente condiccedilatildeo de pobreza varia de acordo com o contexto social em que as
pessoas se encontram inseridas No entanto embora tal perspectiva possa sercaracterizada como multidimensional e aponte para a inter-relaccedilatildeo existente entre as
diversas carecircncias ainda acaba por privilegiar os aspectos materiais da vida social
estabelecendo um limite de corte entre ldquopobresrdquo e ldquonatildeo pobresrdquo a partir de miacutenimos
sociais
Bronzo (2005) aponta que o grande divisor de aacuteguas nas perspectivas sobre o
fenocircmeno da pobreza pode ser encontrado no trabalho de Amartya Sen que define a
pobreza como carecircncia ou privaccedilatildeo de capacidades Nesse sentido ldquopobresrdquo seriam
aqueles que ldquocarecem de capacidades baacutesicas para operarem no meio social quecarecem de oportunidades para alcanccedilar niacuteveis minimamente aceitaacuteveis de realizaccedilatildeo o
que pode independer da renda que os indiviacuteduos possuemrdquo (Bronzo p 42) Os recursos
monetaacuterios nesse ponto de vista satildeo um meio para atingir o bem-estar e natildeo o bem-
estar em si dado que a renda pode permitir a realizaccedilatildeo de uma capacidade Ou seja o
ponto central aqui eacute a capacidade e natildeo a renda o que faz com que o eixo do enfoque
seja o de pensar a ampliaccedilatildeo das capacidades baacutesicas para que as pessoas possam levar
uma vida digna Em outras palavras se a perspectiva monetarista prioriza os recursos
privados aos quais os indiviacuteduos tecircm acesso o enfoque das capacidades busca examinar
a vida que os indiviacuteduos podem ter inserindo o aspecto da liberdade no centro da
discussatildeo Esta abordagem no entanto ainda se limita a pensar o fenocircmeno sob a oacutetica
individualista na medida em que trata diretamente das capacidades que os indiviacuteduos
podem ter para o exerciacutecio da liberdade
Um marco no estudo da pobreza surgiu a partir da adoccedilatildeo do conceito de
ldquoexclusatildeordquo em especial a partir dos anos 80 na Europa quando o conceito passa a ser
vinculado a processos de instabilidade das relaccedilotildees sociais mais especificamente dos
viacutenculos entre os indiviacuteduos e a sociedade tomando como referecircncia central a dimensatildeo
do trabalho Fica claro nessa perspectiva a influecircncia do pensamento durkheimiano
em especial a ideacuteia de que a densidade dos laccedilos sociais eacute de fundamental importacircncia
para a manutenccedilatildeo da coesatildeo e da ordem A categoria ldquotrabalhordquo ganha relevacircncia
para o recebimento do benefiacutecio
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1021
central na medida em que passa a ser considerado como o principal mecanismo de
sociabilidade para aleacutem dos grupos primaacuterios ficando evidente que a condiccedilatildeo de
desemprego e de trabalho precaacuterio tecircm consequecircncias para aleacutem da renda
enfraquecendo laccedilos e redes sociais e provocando o isolamento Gomaacute aponta que ldquola
exclusioacuten implica fracturas en el tejido social la ruptura de ciertas coordenadas baacutesicasde integracioacuten Y en consecuencia la aparicioacuten de una nueva forma de escisioacuten social
en teacuterminos de dentrofuerardquo (Gomaacute 2004 p 4)
Um autor central para este debate eacute Robert Castel que concentra a sua anaacutelise na
importacircncia das trajetoacuterias para a compreensatildeo dos processos de exclusatildeo processo este
que o autor define como desfiliaccedilatildeo Os ldquoinuacuteteis para o mundordquo nas palavras do autor
seriam aquelas ldquopessoas e grupos que se tornaram supranumeraacuterios diante da
atualizaccedilatildeo das competecircncias econocircmicas e sociaisrdquo (Castel p 23) Satildeo assim produto
de alteraccedilotildees que se datildeo no plano econocircmico (em especial no mundo do trabalho) masvistos sob a oacutetica da questatildeo social Ou seja a anaacutelise de Castel privilegia justamente as
relaccedilotildees que articulam a situaccedilatildeo de precariedade econocircmica com a instabilidade social
tornando-se central a ideacuteia de vulnerabilidade que seria a ldquouma zona intermediaacuteria
instaacutevel que conjuga a precariedade do trabalho e a fragilidade dos suportes de
proximidade (Castel p 24)
As dimensotildees econocircmica (estabilidade e regularidade no trabalho) e social
(redes de sociabilidade primaacuteria ndash famiacutelia vizinhanccedila e comunidade) configuram
ldquoquatro zonasrdquo i) integraccedilatildeo diz respeito a uma situaccedilatildeo de emprego estaacutevel e relaccedilotildees
sociais densas ii) vulnerabilidade fragilizaccedilatildeo das condiccedilotildees laborais e relacionais iii)
assistecircncia recebimento de benefiacutecios puacuteblicos que evitam um ldquodesligamentordquo
econocircmico e social iv) desfiliaccedilatildeo que se refere a uma situaccedilatildeo de desemprego e perda
dos laccedilos sociais A coesatildeo social se daacute portanto a partir do equiliacutebrio entre essas
quatro zonas
Um outro autor que merece ser destacado eacute Serge Paugam (2003) que analisa o
processo de exclusatildeo social a partir da atuaccedilatildeo do Sistema de Proteccedilatildeo Social francecircs
Pode-se dizer que um dos grandes meacuteritos do seu trabalho estaacute em ultrapassar as
condiccedilotildees objetivas que definem a condiccedilatildeo de pobreza retomando a tradiccedilatildeo
weberiana ao enfatizar o sentido e o significado que as pessoas atribuem agrave situaccedilatildeo
vivida Mais do que isso o autor se deteacutem sobre a construccedilatildeo de identidades status e
resistecircncia ao estigma daqueles que satildeo designados como ldquopobresrdquo dimensotildees estas de
forte potencial analiacutetico na compreensatildeo do fenocircmeno e do processo de
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1121
desqualificaccedilatildeoexclusatildeo social
Paugam diferencia trecircs grupos que vivem este processo O primeiro ndash os
fragilizados ndash satildeo aqueles que vivem recentemente uma situaccedilatildeo de vulnerabilidade
sem emprego e renda e que resistem em ser incorporados aos programas de proteccedilatildeo
social O segundo ndash os assistidos ndash jaacute fazem parte e satildeo ateacute dependentes dos programasse encontrando em uma situaccedilatildeo de resignaccedilatildeo frente agrave sua condiccedilatildeo social E por
uacuteltimo ndash os marginalizados ndash que natildeo se encontram mais sob assistecircncia governamental
constituindo o uacuteltimo escalatildeo da desqualificaccedilatildeo social
Cabe destacar que a desqualificaccedilatildeo social eacute um processo de marginalizaccedilatildeo de
modo que a perspectiva temporal combinada agrave dimensatildeo relacional ganha relevacircncia
na anaacutelise em questatildeo Em outras palavras o processo depende dos padrotildees de
sociabilidade vigentes num dado contexto sendo a situaccedilatildeo de exclusatildeo definida a partir
dos padrotildees de relaccedilatildeo e ao mesmo tempo produto da configuraccedilatildeo destas mesmasinteraccedilotildees de modo que a matriz do conceito se encontra alicerccedilada na natureza e na
qualidade dos laccedilos sociais Retoma-se aqui as dimensotildees mais subjetivas da condiccedilatildeo
de pobreza ndash perda de auto-estima identidades construiacutedas enfraquecimento dos laccedilos
sociais ndash como fatores de acentuada relevacircncia na manutenccedilatildeo da ordem social e das
redes de reciprocidade e solidariedade Aleacutem disso a introduccedilatildeo da dimensatildeo temporal
permite que a ldquoexclusatildeordquo seja ldquovista como uma dinacircmica e natildeo como um estado o que
valoriza uma compreensatildeo mais ampla do problema e envolve expectativas sobre o
futurordquo (Bronzo p 54)
A OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO CAPITAL SOCIAL
Observamos anteriormente que adotamos a perspectiva de que ele se manifesta via
redes de cooperaccedilatildeo e normas de reciprocidade tal como apontado por Coleman (1990)
Desta forma foi criado por meio de anaacutelise fatorial um Iacutendice de Capital Social para
cada famiacutelia9 a partir de trecircs variaacuteveis que indicam a densidade das relaccedilotildees entre seus
vizinhos o niacutevel de confianccedila e de reciprocidade As variaacuteveis utilizadas na construccedilatildeodo iacutendice foram
1) Com que frequumlecircncia vocecirc diria que as pessoas no bairro ajudam umas agraves outras (1 =
9 Eacute importante ressaltar que embora o iacutendice tenha sido mensurado para cada uma das famiacuteliassupocircs-se que aquelas imersas em contextos de alto capital social teriam mais chances de superarcondiccedilotildees de pobreza que as famiacutelias imersas em contextos de baixo capital social
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1221
nunca ajudam 2 = raramente ajudam 3 = as vezes ajudam 4 = quase sempre ajudam 5
= sempre ajudam)
2) Quantos amigos no bairro vocecirc tem atualmente fora a sua famiacutelia (1 = nenhum 2 =
menos de 3 3 = entre 3 e 5 4 = mais de 5 ateacute 10 6 = mais de 10)
3) Se vocecirc precisar de algum dinheiro ndash em torno de R$ 100 ndash com quantas pessoas no
bairro vocecirc pode contar aleacutem dos seus familiares (1 = nenhuma 2 = 1 ou 2 3 = 3 ou 4
4 = 5 ou 6 5 = 7 ou mais)
A tabela a seguir (matriz de componentes) apresenta os coeficientes ou pesos que
correlaciona as variaacuteveis com o fator(es) A anaacutelise fatorial resultou em apenas um
fator
Matriz de Componentes (output SPSS)
O fator apresentou valor miacutenimo de -154 maacuteximo de 239 e meacutedia de -138
Posteriormente foi ajustado para uma escala entre 0 e 100 apresentando meacutedia de
3924 e desvio padratildeo de 2541 Abaixo temos um histograma do Iacutendice
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1321
IndiceCS
100008000600040002000000
F r e q u e n c i a
50
40
30
20
10
0
Histograma
Histograma da distribuiccedilatildeo de frequecircncia do Iacutendice de Capital Social
(output SPSS) Elaboraccedilatildeo Propria
Hipoacutetese de pesquisa Mesmo controlando pela variaacutevel de escolaridade do chefe e
pelo nuacutemero de moradores no domiciacutelio famiacutelias que se encontram em contextos de
alto capital social tecircm maiores chances de superar condiccedilotildees de pobreza do que as
famiacutelias que se encontram em contextos de baixo capital social
Variaacutevel dependente variaacutevel indicadora dummy em que 0 = famiacutelias com renda per capita abaixo ou igual agrave linha de pobreza do PBF (R$
12000)
1 = famiacutelias com renda per capita superior agrave linha de pobreza do PBF
Variaacuteveis independentes
- escolaridade do chefe (em anos)
- gecircnero do chefe indicadora em que 0 = feminino e 1 = masculino
- se o chefe trabalha indicadora em que 0 = natildeo trabalha e 1 = trabalha- idade do chefe (em anos)
- idade do chefe ao quadrado (idade2)
- se algueacutem na famiacutelia recebe algum tipo de aposentadoria ou benefiacutecio do governo
indicadora em que 0 = natildeo e 1 = sim
- Capital Social Iacutendice de Capital social (valores entre 0 e 100)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1421
O modelo ln[ P (acima da LP = 1) (1 ndash P (acima da LP = 1)] = β0 + β1 (Iacutendice CS) +
β2 (idade do chefe) + β3 (idade do chefe2) + β4 (escolaridade do chefe) + β5 (gecircnero do
chefe) + β6 (trabalha) + β7 (aposentadoriabenefiacutecio)
983126983137983154983145983265983158983141983145983155 983106 983123983145983143
983245983150983140983145983139983141 983107983123 0014 000983095 14
983113983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 011983093 000983095 122
9831139831409831379831409831412 9830850001 00983094 98308501
983109983155983139983151983148983137983154983145983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 0124 000983093 132
983111983274983150983141983154983151 983140983151 983139983144983141983142983141 983085010983095 09830949830973 983085101
983124983154983137983138983137983148983144983137 1983097983095983094 0 98309421983094
983105983152983151983155983141983150983156983137983140983151983154983145983137983106983141983150983141983142983277983139983145983151 1233 0001 2431
983107983151983150983155983156983137983150983156983141 9830854983096983096983093 0
983118983137983143983141983148983147983141983154983147983141 9831222 0301
983107983151983160 983141 983123983150983141983148983148 9831222 022
983118 40983097
983122983141983155983157983148983156983137983140983151 983140983151 983149983151983140983141983148983151 983140983141 983154983141983143983154983141983155983155983267983151 983148983151983143983277983155983156983145983139983137 983085 983114983137983154983140983145983149
983124983141983154983141983155983283983152983151983148983145983155 983090983088983088983094
Fonte Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim Teresoacutepolis ndash 2006 Dados trabalhados
pelos autores
Os resultados da regressatildeo logiacutestica nos permitiram afirmar que o fato da famiacutelia
se encontrar imersa em contextos de alto capital social aumenta sua chance de
superaccedilatildeo das condiccedilotildees de pobreza o que confirmou a hipoacutetese a 1 de significacircncia
estatiacutestica (p = 000 lt 001) O aumento de 1 ponto no iacutendice de capital social eleva em
14 as chances de a famiacutelia superar a LP A tiacutetulo de ilustraccedilatildeo temos por exemplo
que uma famiacutelia com Iacutendice = 80 ndash ou seja imersa em contexto de alto capital social ndash
tem 112 a mais de chance de superar a LP que uma famiacutelia com Iacutendice = 0 ndash contexto
de capital social ldquoinexistenterdquo ndash e 84 a mais de chance do que uma famiacutelia com Iacutendice
= 20 ndash imersa em contexto de baixo capital social
Percebemos assim que o capital social tem uma grande influencia sobre as
possibilidades de uma famiacutelia superar a linha de pobreza No entanto acreditamos
tambeacutem que esta superaccedilatildeo se daacute de forma marginal e que o fato de uma famiacutelia se
encontrar em contexto de alto capital social no interior de uma comunidade vulneraacutevel e
estigmatizada como o Jardim Teresoacutepolis pouca influencia tem sobre as possibilidades
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1521
da famiacutelia superar em larga escala a linha de pobreza A tabela abaixo apresenta os
resultados da regressatildeo de MQO para o logaritmo da renda per capita O objetivo era
avaliar o efeito do capital social sobre a renda das famiacutelias diretamente As variaacuteveis
teste e controle satildeo as mesmas utilizadas no modelo de regressatildeo logiacutestica
983126983137983154983145983265983158983141983145983155 983106 983123983145983143
983245983150983140983145983139983141 983107983123 0003 0 03
983113983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 0031 0 31
9831139831409831379831409831412 000 0002 000
983109983155983139983151983148983137983154983145983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 003983097 0 3983097
983111983274983150983141983154983151 983140983151 983139983144983141983142983141 0001 09830979830962 132
983124983154983137983138983137983148983144983137 029830934 0 29830934983105983152983151983155983141983150983156983137983140983151983154983145983137983106983141983150983141983142983277983139983145983151 02983094983093 0 2983094983093
983107983151983150983155983156983137983150983156983141 344983093 0
9831222 033
9831222 983105983146983157983155983156983137983140983151 031983094
983118 40983097
983122983141983155983157983148983156983137983140983151 983140983151 983149983151983140983141983148983151 983140983141 983154983141983143983154983141983155983155983267983151 983140983141 983117983121983119
Fonte Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim Teresoacutepolis ndash 2006 Dados
trabalhados pelos autores
Os resultados da regressatildeo de MQO confirmam a ideacuteia apresentada acima Se porum lado o capital social tem grande influencia na possibilidade da superaccedilatildeo da linha de
pobreza por outro esta superaccedilatildeo se daacute de forma marginal 1 ponto a mais no Iacutendice de
Capital Social aumenta em 03 a renda total da famiacutelia Numa comunidade em que a
meacutedia da renda per capita domiciliar eacute de R$24348 e que 724 das famiacutelias tem renda
per capita de ateacute 2 vezes a linha de pobreza do PBF (R$24000) este aumento embora
muito significativo para as famiacutelias no que se refere ao consumo pode ser considerado
pouco expressivo em termos de mobilidade social
DISCUSSAtildeO
Este trabalho buscou analisar a relaccedilatildeo existente entre capital social e pobreza
num territoacuterio de alta vulnerabilidade social o bairro jardim Teresoacutepolis em Betim
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1621
Regiatildeo Metropolitana de Belo Horizonte - MG a partir de anaacutelise estatiacutestica com dados
de um survey realizado na regiatildeo em 2006 Embora tenha utilizado as famiacutelias como
unidade de analise a perspectiva de capital social de Coleman permitiu observar o
contexto imediato em que se encontravam inseridas sem tratar o capital social como
propriedade individual Em outras palavras mostramos que as relaccedilotildees sociais nessecontexto podem ser identificadas a partir de como os indiviacuteduos as percebem sem
incorrermos em uma anaacutelise demasiado micro dos fenocircmenos sociais em que as accedilotildees
individuais satildeo vistas como fruto de um caacutelculo estrateacutegico visando otimizar meios e
fins Atestamos assim a importacircncia de se abordar os fenocircmenos sociais a partir de
uma perspectiva relacional evitando tratar os indiviacuteduos como seres atomizados como
bem apontou Granovetter
E em que medida os resultados acima podem trazer uma contribuiccedilatildeo para a
reflexatildeo sobre o estudo de poliacuteticas de renda miacutenima e mais especificamente doPrograma Bolsa Famiacutelia Em primeiro lugar a influecircncia das redes sociais na superaccedilatildeo
das condiccedilotildees de pobreza atesta a relevacircncia de se adotar uma perspectiva relacional do
fenocircmeno Em outras palavras a condiccedilatildeo de pobreza tambeacutem deve ser vista sob a oacutetica
das relaccedilotildees sociais e de como estas podem influenciar o acesso a recursos diversos por
um lado e de como famiacutelias que se encontram abaixo da LP tendem a estar imersas em
redes menos densas e por isso se tornam mais propensas a um processo de exclusatildeo
social por outro Como bem aponta Marques (2007)
O acesso dos indiviacuteduos agraves estruturas de oporunidades que conduzem agravescondiccedilotildees sociais em geral e agraves situaccedilotildees de pobreza em particular eacutemediado pelos padrotildees de relaccedilatildeo que esses indiviacuteduos tecircm com outrosindiviacuteduos e com organizaccedilotildees de variados tipos (Marques 2007 p 36)
Os sociogramas abaixo apresentam simulaccedilotildees de uma famiacutelia imersa em
contextos de alto capital social (Sogiograma 1) e de outra imersa em contexto de baixo
capital social (Sogiograma 2)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1721
FIGURA 1 Sociograma de contexto de altocapital social no interior do Jardim
Teresoacutepolis
FIGURA 2 Sociograma de contexto de baixo capital social nointerior do jardim Teresoacutepolis
Podemos dizer que a famiacutelia ldquoGrdquo em funccedilatildeo da disponibilidade de recursos que
fluem ao longo da rede em que se encontra inserida (contexto de alto capital social) tem
acesso a condiccedilotildees de vida menos desfavoraacuteveis estando acima da LP Jaacute a famiacutelia ldquoErdquo
imersa em uma rede com poucos contatos e de baixa densidade (contexto de baixo
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1821
capital social) natildeo tem agrave sua disposiccedilatildeo recursos que poderiam ter as relaccedilotildees sociais
como origem
Outro aspecto que diz respeito ao Programa Bolsa Famiacutelia em si mas que se
encontra diretamente relacionado ao ponto acima eacute o fato de que o programa parece
atender justamente aqueles imersos em contextos de baixo capital social Nesse sentido
como bem apontaram Sachs e Lages (2001) embora devamos tomar cuidado para natildeo
tratar o capital social como uma ldquoquase-ideologia do desenvolvimentordquo sugere-se que o
desenho institucional do programa poderia enfatizar programas complementares de
potencializaccedilatildeo de redes sociais Natildeo estamos adotando aqui uma perspectiva ndash
ingecircnua na nossa opiniatildeo ndash de que eacute como se fosse possiacutevel ldquodar uma injeccedilatildeo de capital
socialrdquo em determinadas comunidades Antes disso pensamos que haacute formas de se
incentivar o desenho de ambientes e situaccedilotildees propiacutecias agrave criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de
solidariedade social no sentido durkheimiano do termo que possibilitaria a formaccedilatildeo
de coletividades mais coesas inibindo as chances de um processo de exclusatildeo social
Outro apontamento se refere agrave natureza dos laccedilos sociais Embora neste trabalho
tenhamos trabalhado as redes sociais do ponto de vista dos ldquolaccedilos fortesrdquo no interior de
uma comunidade ndash mensurados a partir da frequumlecircncia de contato confianccedila muacutetua e
reciprocidade ndash eacute de fundamental importacircncia que se pense tambeacutem de que forma as
redes sociais vista sob a oacutetica dos ldquolaccedilos fracosrdquo (Granovetter 2000) ndash ou pontes ndash se
relaciona com o tema das poliacuteticas de renda miacutenima
Bibliografia
BRONZO C Programas de proteccedilatildeo social e superaccedilatildeo da pobreza concepccedilotildees e
estrateacutegias de intervenccedilatildeo FAFICHUFMG - 2005
CASTEL Robert As metamorfoses da questatildeo social uma crocircnica do salaacuterio 4ordm
ed RJ Editora Vozes 1998
COLEMAN J Foundations of social theory Cambridge Harvard University
Press 1990
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1921
FIALHO F M ldquoCapital Social usos e definiccedilotildees do conceito nas Ciecircncias
Sociaisrdquo Revista Trecircs Pontos 10 p 31-35 Bel Horizonte 2004
FUNDACcedilAtildeO JOAtildeO PINHEIRO ndash Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim
Teresoacutepolis ndash Relatoacuterio de Pesquisa 2006
GOMAacute R Processos de exclusatildeo e poliacuteticas de inclusatildeo social algumas
reflexotildees conceituais In Bronzo Carla Costa Bruno Gestatildeo Social o que haacute de novo
Belo Horizonte 2004
GRANOVETTER M S Accedilatildeo Econocircmica e Estrutura Social o problema da
imersatildeo Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Eletrocircnica Satildeo Paulo v 6 n 1 art 5
janjun 2007
_____________________ La fuerza de los viacutenculos deacutebiles Poliacutetica y sociedad
p 41-56 Traduccedilatildeo de Maria Angeles Verdasco Madrid 2000
HIGGINS S S Fundamentos teoacutericos do capital social Argos Chapecoacute 2005
MARQUES E Redes Sociais segregaccedilatildeo e pobreza em Satildeo Paulo Tese de
Livre Docecircncia USP 2007
PAUGAM S Desqualificaccedilatildeo social Ensaio sobre a nova pobreza SP Cortez
2003
PORTES A Capital Social Origens e aplicaccedilotildees na sociologia contemporacircnea
Sociologia Problemas e Praacuteticas nuacutemero 33 p 133-158 Traduccedilatildeo de Frederico Aacutegoas
Lisboa 2000
PRATES A A P et al Capital Social e Laccedilos Fracos Influencia no acesso a
benefiacutecios em comunidades carentes de Belo Horioznte Relatoacuterio de Pesquisa
UFMGFAFICH Belo Horioznte 2008
PUTNAM R Comunidade e Democracia a experiecircncia da Itaacutelia moderna Rio
de Janeiro FGV 1996
ROCHA S Renda e Pobreza ndash Medidas per capita versus adulto-equivalente Rio
de Janeiro IPEA Nov 1998 (Texto para Discussatildeo 609)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 2021
SACHS I LAGES V N Capital Social e desenvolvimento novidade para
quem IN CONFERENCIA REGIONAL SOBRE CAPITAL SOCIAL E POBREZA
2001 Anais Santiago Chile CEPAL Univeridad del estado de Michigan 2001
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 2121
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 221
deriva das relaccedilotildees sendo algo que decorre da sociabilidade e das interaccedilotildees
estabelecidas entre os indiviacuteduos e a partir do seu pertencimento a grupos sociais As
relaccedilotildees sociais constituem portanto a base de sustentaccedilatildeo do capital social Este eacute
criado e mantido pela existecircncia dessas relaccedilotildees e varia de acordo com seu tipo e
intensidade Eacute ainda notoacuterio observar que a despeito das variantes na formulaccedilatildeo doconceito podemos identificar um aspecto geral comum a todos eles a imersatildeo de
indiviacuteduos em redes sociais pode trazer benefiacutecios de natureza diversa
O conceito no entanto adquiriu formulaccedilatildeo sistemaacutetica pela primeira vez na
sociologia contemporacircnea na obra de Pierre Bourdieu que define o capital social como
ldquoo agregado dos recursos efetivos ou potenciais ligados agrave posse de uma rede duraacutevel de
relaccedilotildees mais ou menos institucionalizadas de conhecimento ou reconhecimento muacutetuordquo
(Bourdieu 1958 p 248 in Portes 1998 p 134) Em Bourdieu a ideacuteia de capital social
surge junto com a de capital cultural e simboacutelico na tentativa de superar o restrito focoda teoria econocircmica ortodoxa que fixa sua atenccedilatildeo apenas no capital econocircmico e
humano desconsiderando outras formas de trocas sociais (Higgins 2005) Como as
outras formas de capital o capital social eacute tratado como recurso individual passiacutevel de
ser utilizado e instrumentalizado por aquele que o deteacutem Ou seja embora se origine a
partir de uma rede relacionamentos eacute um atributo individual que permite o acesso a
recursos diferenciados natildeo apenas de natureza econocircmica mas tambeacutem aqueles
referente a status social ndash capital simboacutelico ndash e bens culturais ndash capital cultural E este
acesso natildeo se daacute pelo simples fato de pertencimento agrave rede mas mais do que isso eacute
necessaacuterio que o indiviacuteduo a mobilize instrumentalmente de forma a atingir objetivos
preacute-definidos Da mesma forma a confianccedila nas relaccedilotildees sociais entre os membros da
rede eacute fundamental na medida em que possibilita sua manutenccedilatildeo e fortalecimento ao
mesmo tempo em que torna possiacutevel o acesso aos recursos nela presentes Portes (1998)
chama atenccedilatildeo para o fato de que o capital social na perspectiva de Bourdieu pode ser
decomposto em dois niacuteveis num primeiro momento a proacutepria relaccedilatildeo social que
permite ao indiviacuteduo ter acesso aos benefiacutecios de natureza distinta que os membros do
grupo satildeo detentores e em segundo a quantidade e a qualidade desses recursos Eacute
importante tambeacutem enfatizar a diferenciaccedilatildeo apontada por Bourdieu no que tange agraves
trocas de natureza econocircmica e aquelas originaacuterias do capital social Estas uacuteltimas se
consolidam em horizontes temporais incertos e requerem a presenccedila de confianccedila muacutetua
e obrigaccedilotildees taacutecitas embora estejam sempre sujeitas agrave quebra da expectativa da
reciprocidade diferentemente daquelas realizadas no acircmbito do mercado Prates et allii
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 321
(2007) criticam o conceito de Bourdieu por entenderem que ele se superpotildee ao conceito
de poder social jaacute bastante difundido na teoria socioloacutegica na medida em que a
participaccedilatildeo em redes se constitui como um recurso potencial de poder ao possibilitar
acesso diferenciado a recursos e realizaccedilatildeo de interesses individuais Na mesma linha a
anaacutelise classista da perspectiva de Bourdieu torna improvaacutevel a constituiccedilatildeo de redesinter-classes ou mesmo relaccedilotildees ldquoduraacuteveis de conhecimento e reconhecimento muacutetuordquo
que realizassem a conexatildeo entre redes constituiacutedas em classes distintas Esta
constataccedilatildeo nos induz a concluir que em Bourdieu o capital social seria um recurso
disponiacutevel apenas agraves classes privilegiadas sendo contraditoacuterio atestar sua
disponibilidade aos indiviacuteduos das classes baixas os quais satildeo desprovidos de poder no
interior da estrutura social Portes por outro lado ressalta que a vantagem do conceito
bourdieusiano em relaccedilatildeo ao de Coleman que veremos logo agrave frente estaacute no fato de que
este permite uma maior diferenciaccedilatildeo entre o conceito em si e os recursos adquiridospelo seu uso
Jaacute mais proacuteximo ao campo da sociologia poliacutetica encontramos em Robert Putnam
uma tradiccedilatildeo que Prates et allii definem como normativo-associativista Devedor em
grande medida do conceito de Coleman Putnam tambeacutem identifica o capital social
como atributo da esfera coletiva
Uma caracteriacutestica especiacutefica do capital social ndash confianccedila normas e cadeiasde relaccedilotildees sociais ndash eacute o fato de que ele normalmente constitui um bem
puacuteblico ao contraacuterio do capital convencional que normalmente eacute um bemprivado (PUTNAM 1996 p 180)
Na obra que acabamos de citar (Comunidade e democracia a experiecircncia da
Itaacutelia moderna) Putnam realiza uma pesquisa de quase vinte anos onde identifica uma
substancial diferenccedila de desempenho das instituiccedilotildees poliacuteticas das trecircs regiotildees da Itaacutelia
(norte centro e sul)3 A ldquochaverdquo para a explicaccedilatildeo desta diferenccedila ndash que natildeo pode ser
buscada na configuraccedilatildeo das instituiccedilotildees dado que eacute a mesma em todo o paiacutes ndash o autor
encontra no conceito de capital social afirmando existir nas proviacutencias do norte um
maior estoque de capital social que nas proviacutencias do sul Sua empresa estaacute em
demonstrar o papel do capital social como facilitador na criaccedilatildeo de uma cultura poliacutetica
centrada no civismo e no associativismo o que o leva a associar o conceito ao de
3 As instituiccedilotildees das proviacutencias do norte da Itaacutelia possuem um desempenho muito superior agraves do sul e asdo centro um desempenho intermediaacuterio Para maiores detalhes ver Putnam (1996)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 421
cultura ciacutevica4 jaacute bastante difundido na teoria poliacutetica ldquoos sistemas de cultura ciacutevica
satildeo uma forma essencial de capital socialrdquo (Putnam 1996 p 183) Para aleacutem disso
percebemos tambeacutem um traccedilo eminentemente normativo na definiccedilatildeo do conceito uma
vez que o autor estabelece uma relaccedilatildeo inevitaacutevel entre a presenccedila de capital social e
praacuteticas culturais orientadas por um ethos ciacutevico na busca pelo ldquobem comumrdquoColeman (1990) aporta uma visatildeo distinta e eacute na teoria das redes que encontramos
os fundamentos que sustentam sua formulaccedilatildeo Nessa em que se destaca o artigo de
Granovetter (2007) Accedilatildeo econocircmica e estrutura social ndash o problema da imersatildeo a accedilatildeo
individual natildeo eacute vista nem como simples fruto do caacutelculo racional auto-interessado
(concepccedilatildeo sub-socializada) tampouco como resultado mecacircnico do constrangimento
estrutural (concepccedilatildeo super-socializada) Ambas segundo Granovetter nos apresentam
uma abordagem atomizada do indiviacuteduo desconsiderando o contexto imediato em que
os atores estatildeo inseridos a saber as relaccedilotildees sociais com seus pares ldquoO argumento daimersatildeo enfatiza por sua vez o papel das relaccedilotildees pessoais concretas e as estruturas (ou
ldquoredesrdquo) dessas relaccedilotildees na origem da confianccedila e no desencorajamento da maacute feacuterdquo
(Granovetter 2007 p 10) A confianccedila portanto enquanto atributo indispensaacutevel agrave
existecircncia de capital social surge como fruto das relaccedilotildees concretas estabelecidas pelos
atores no interior das redes sociais Para Coleman o capital social tambeacutem eacute um recurso
que pode ser utilizado pelo individuo mas que se encontra nas redes de relacionamento
sendo algo inerente a estrutura das relaccedilotildees sociais sustentado por expectativas e
obrigaccedilotildees de reciprocidade Tem assim caracteriacutestica de um bem publico ou seja
todos que compotildeem a rede podem dele utilizar mas natildeo eacute passiacutevel de ser apropriado
individualmente O capital social nesta perspectiva se define pela sua funccedilatildeo sendo
que esta consiste em ldquo facilitar a realizaccedilatildeo de objetivos que natildeo poderiam ser
alcanccedilados em sua ausecircncia ou que poderiam ser alcanccedilados somente sob um alto
custordquo (Coleman 1990 p 304 traduccedilatildeo nossa) Esta definiccedilatildeo permite observar
situaccedilotildees nas quais as accedilotildees dos indiviacuteduos satildeo facilitadas pelo fato destes estarem
imersos em uma rede de relaccedilotildees sociais densa A densidade das redes estaacute relacionada
tanto ao grau de proximidade e contato entre os indiviacuteduos quanto ao grau de
interdependecircncia entre eles Satildeo contextos onde segundo Coleman pode emergir no
interior da estrutura seis diferentes formas de capital social obrigaccedilotildees e expectativas
fontes e canais de informaccedilotildees potenciais normas e sanccedilotildees efetivas relaccedilotildees de
4 Cultura ciacutevica seria a ldquodisposiccedilatildeo dos indiviacuteduos em participar de grupos associaccedilotildees e accedilotildees coletivasque buscam objetivos socialmente positivosrdquo (Almond amp Verba 1963 in Fialho 2004 p 33)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 521
autoridade organizaccedilotildees sociais apropriaacuteveis organizaccedilatildeo intencional Todas essas
formas facilitam a accedilatildeo individual e tornam possiacutevel a mobilizaccedilatildeo da estrutura de
relaccedilotildees pelo indiviacuteduo (Fialho 2004)
Embora seja critico ao conceito de Coleman em grande medida Portes afirma
que um dos meacuteritos dessa perspectiva estaacute no conceito de closure que diz respeito ldquoagraveexistecircncia entre um certo nuacutemero de pessoas de laccedilos suficientes para garantir a
observacircncia de normasrdquo (Portes 2000 p 137) As criacuteticas por outro lado apontam
algumas limitaccedilotildees A primeira diz respeito ao fato de que a forma como o conceito foi
elaborado seria vago abrindo caminho para que processos diferentes ndash e mesmo
contraditoacuterios ndash passassem a ser designados como ldquocapital socialrdquo Para Portes o
proacuteprio Coleman deu iniacutecio a esta proliferaccedilatildeo na medida em que inclui no corpo do
conceito alguns dos mecanismos geradores do capital social (como as expectativas de
reciprocidade e as normas grupais) suas consequumlecircncias (como o acesso a informaccedilotildeesdiferenciadas) e a organizaccedilatildeo social como loacutecus da realizaccedilatildeo de ambos
Prates et allii (2007) apontam que se Putnam pode ser definido como pertencente
a uma tradiccedilatildeo normativo-associativista em Coleman o que percebemos eacute uma
perspectiva interacionista que focaliza as relaccedilotildees sociais como aspecto essencial do
conceito Aleacutem desta vantagem observamos uma neutralidade valorativa na sua
definiccedilatildeo uma vez que Coleman natildeo associa o conceito de capital social com praacuteticas
orientadas por valores ldquosocialmente positivosrdquo A tiacutetulo de ilustraccedilatildeo natildeo seria
contraditoacuterio apontar com base na definiccedilatildeo de Coleman existecircncia de capital social
em grupos os quais as praacuteticas satildeo consideradas como opostas a tais valores (redes de
narcotraacutefico grupos terroristas ou mesmo a maacutefia italiana por exemplo) Fialho (2004)
aponta com clareza a vantagem teoacuterica do conceito de Coleman
Por tratar o capital social como um aspecto das relaccedilotildees sociais e natildeo comoum valor em si (como faz Putnam ao confundir os conceitos de capital sociale civismo) Coleman advoga a neutralidade moral do termo uma vez que ocapital social eacute encarado como um recurso fornecido pela estrutura social enatildeo como uma causa ou motivo para a accedilatildeo individual ou coletiva (Fialho
200433-34)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 621
O BAIRRO JARDIM TERESOacutePOLIS5
O bairro Jardim Teresoacutepolis contava no ano de 2006 com uma populaccedilatildeo
aproximada de 30 mil habitantes e uma densidade populacional de 35631
habitanteskm2 Atualmente constitui uma das aacutereas mais carentes da cidade de Betime a grande maioria das residecircncias ainda se encontra em estado precaacuterio sendo que
871 natildeo tecircm regularizaccedilatildeo junto agrave prefeitura No que se refere agraves condiccedilotildees de
habitaccedilatildeo e de infra-estrutura urbana os dados satildeo relativamente positivos com um
percentual baixo da populaccedilatildeo sem o atendimento de suas necessidades baacutesicas de
moradia
Quanto agrave seguranccedila alimentar 11 dos domiciacutelios jaacute apresentou caso de
desnutriccedilatildeo na famiacutelia Nos relatos sobre o tema um morador disse que natildeo passa fome
porque a galinha bota ovo todo dia Uma moradora disse comer mingau todo dia e
outro alegou que natildeo tem com o que comprar comida mas que diz ldquoter feacute em Deus de
que Ele natildeo permitiria que sua famiacutelia passasse fomerdquo Outros disseram passar fome
algumas vezes e ter o que comer na casa dos vizinhos Embora essa questatildeo natildeo tenha
sido quantificada natildeo satildeo casos isolados e espelham uma vulnerabilidade fundamental
que diz respeito ao acesso ao alimento e a condiccedilotildees baacutesicas de sobrevivecircncia
A percepccedilatildeo da violecircncia tambeacutem eacute alta entre os moradores 735 jaacute
testemunharam crime ou conhecem viacutetimas ou tecircm medo de ir a algum lugar no bairro
Em mais de 62 dos questionaacuterios existiram relatos negativos sobre a violecircncia no
bairro traacutefico de drogas aacutereas de circulaccedilatildeo interditada perigos e ameaccedilas de se morar
na regiatildeo A referecircncia a brigas de gangues em funccedilatildeo do traacutefico de drogas foi
constante Habitantes de uma parte do territoacuterio por exemplo natildeo podem circular
livremente em outra Mais de 5 afirmaram ser proibido circular em determinados
locais e mais de 24 relataram risco de agressatildeo e assalto como motivos para natildeo
circularem em aacutereas especiacuteficas
Com relaccedilatildeo ao vinculo e inserccedilatildeo no trabalho para os chefes de famiacutelia em idade
entre 15 e 65 anos 118 estatildeo desempregados e procuram emprego enquanto que
quase 3 estatildeo desempregados e natildeo procuram mais emprego 641 trabalham sendo
5 Os dados aqui apresentados acerca das caracteriacutesticas soacutecio-demograacuteficas do bairro Jardim Teresoacutepolisforam retirados do Relatoacuterio de Pesquisa ldquoPobreza e Vulnerabilidade no Jardim Teresoacutepolisrdquo FJP2006Neste relatoacuterio tambeacutem eacute possiacutevel encontrar detalhadamente informaccedilotildees sobre a metodologia utilizadana pesquisa
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 721
que desse total 34 trabalham sem viacutenculo ou por conta proacutepria e 66 trabalham com
viacutenculo CLT Quanto agrave renda tem-se que para um total de 409 domiciacutelios 151 (369)
se encontravam abaixo e 258 (431) se encontravam acima da linha de pobreza per
capita6 sendo que a meacutedia da renda per capita eacute de R$24348
O PROGRAMA BOLSA FAMIacuteLIA E O FENOcircMENO DA POBREZA
O Programa Bolsa Famiacutelia foi criado pelo governo federal brasileiro em 2003
com o objetivo de unificar a gestatildeo e a implementaccedilatildeo de quatro (depois cinco) poliacuteticas
de transferecircncia de renda7 agraves famiacutelias mais pobres do paiacutes Uma das mudanccedilas mais
importantes desse processo foi a adoccedilatildeo de um sistema de cadastro nacional das
famiacutelias elegiacuteveis a participarem de programas do governo federal o CadUacutenico que
permite uma melhor focalizaccedilatildeo dos programas Atualmente atende a um nuacutemeroaproximado de 117 milhotildees de famiacutelias como jaacute mencionado
O principal objetivo do programa eacute romper com a reproduccedilatildeo inter-geracional da
pobreza atraveacutes de transferecircncias monetaacuterias de renda agraves famiacutelias que satildeo classificadas
como ldquopobresrdquo ou ldquoextremamente pobresrdquo permitindo assim um aliacutevio imediato da
pobreza bem como o exerciacutecio de direitos sociais baacutesicos nas aacutereas de educaccedilatildeo e
sauacutede As condicionalidades para o recebimento dos benefiacutecios se datildeo atraveacutes da
exigecircncia de uma frequumlecircncia escolar miacutenima dos jovens ndash 85 para os de 6 a 15 anos e
75 para aqueles entre 16 e 17 anos ndash da atualizaccedilatildeo do cartatildeo vacinal do
acompanhamento das gestantes e por fim do acompanhamento de accedilotildees soacutecio-
educativas para crianccedilas em situaccedilatildeo de trabalho infantil
Satildeo trecircs os tipos de benefiacutecio cujos valores variam de R$2200 e R$20000
a) benefiacutecio baacutesico ndash R$ 6800 transferido agraves famiacutelias consideradas como
ldquoextremamente pobresrdquo independente da presenccedila ou natildeo de crianccedilas ou
gestantes no domiciacutelio
b) Benefiacutecio variaacutevel ndash R$2200 transferido agraves famiacutelias ldquopobresrdquo desde quetenham crianccedilas com idade de ateacute 15 anos Cada famiacutelia pode receber no
maacuteximo 3 benefiacutecios deste tipo (maacuteximo de R$ 6600)
6 Para estimar a LP utilizou-se o mesmo criteacuterio utilizado pelo Programa Bolsa Famiacutelia em 2006 Ouseja famiacutelias com renda per capita ateacute R$12000 foram consideradas como ldquopobresrdquo e aquelas com rendaper capita acima desse valor foram consideradas como ldquonatildeo pobresrdquo
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 821
c) Benefiacutecio Variaacutevel vinculado ao adolescente (BVVA) ndash R$ 3300 transferido a
todas as famiacutelias do programa que tenham adolescentes entre 16 e 17 anos
frequumlentando a escola Cada famiacutelia pode receber ateacute dois BVVA (R$ 6600)
Como mencionado a classificaccedilatildeo das famiacutelias como ldquopobresrdquo ou
ldquoextremamente pobresrdquo de modo a tornaacute-las participantes em potencial do programa
segue uacutenica e exclusivamente o criteacuterio da renda familiar per capita No entanto a
literatura que trata do fenocircmeno da pobreza apresenta inuacutemeras abordagens tanto no
que se refere agrave definiccedilatildeo do conceito de ldquopobrezardquo como tambeacutem na sua mensuraccedilatildeo e
nas consequumlentes alternativas para o seu enfrentamento
Rocha (1998) defende que para contextos onde eacute alto o percentual da populaccedilatildeo
urbana e com economia largamente monetizada a variaacutevel renda tendo como referecircncia
uma linha de pobreza deve ser tomada como uma proxy do bem estar dos indiviacuteduos e
famiacutelias Para o Brasil mais especificamente a autora defende que ldquoa abordagem de
renda eacute relevante e adequada para o estabelecimento de um crivo baacutesico entre pobres e
natildeo pobres (ou entre indigentes e natildeo-indigentes)rdquo (ROCHA 1998 p 66) A linha de
pobreza (LP) por sua vez pode ser determinada de maneira arbitraacuteria (1U$ ou 2U$dia
por exemplo) o que permite comparaccedilotildees internacionais ou pode ser estabelecida a
partir da observacircncia das caracteriacutesticas soacutecio-econocircmicas principalmente as
relacionadas ao consumo de indiviacuteduos num dado contexto social Este uacuteltimo
procedimento requer a disponibilidade de dados populacionais para seroperacionalizado o que no caso brasileiro natildeo implica em dificuldade e de fato tem sido
realizado em funccedilatildeo das PNADs (Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar) e das
POFs (Pesquisa Orccedilamentaacuteria Familiar)
A distribuiccedilatildeo de despesas permite melhor captar a condiccedilatildeo de vida dascamadas de mais baixa renda Em consequumlecircncia as melhores estimativas depobreza satildeo aquelas derivadas inteiramente dos dados de pesquisas deorccedilamentos familiares (ROCHA 1998 p 59)
Esta visatildeo embora permita a mensuraccedilatildeo do fenocircmeno da pobreza para grandes
populaccedilotildees foi e continua sendo duramente criticada Uma das primeiras criacuteticas partiudo enfoque das ldquonecessidades baacutesicas insatisfeitasrdquo para quem os ldquopobresrdquo satildeo as
pessoas cujo consumo de bens e serviccedilos natildeo atinge ao miacutenimo necessaacuterio8 Este
7 Programa Bolsa Escola Programa Bolsa Alimentaccedilatildeo Auxiacutelio Gaacutes Programa Nacional de Acesso agraveAlimentaccedilatildeo PETI8 Pode-se dizer que o PBF adota esta perspectiva quando do enfrentamento da pobreza ao adotarcondicionalidades que se datildeo no ambito da educaccedilatildeo e da sauacutede mas natildeo como criteacuterio de elegibilidade
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 921
ldquomiacutenimo necessaacuteriordquo diz respeito aos serviccedilos baacutesicos de sauacutede educaccedilatildeo transporte
habitaccedilatildeo dentre outros mas tambeacutem a processos de natureza psico-social como
participaccedilatildeo auto-estima e autonomia Desta forma o conceito de pobreza eacute relativizado
e a consequumlente condiccedilatildeo de pobreza varia de acordo com o contexto social em que as
pessoas se encontram inseridas No entanto embora tal perspectiva possa sercaracterizada como multidimensional e aponte para a inter-relaccedilatildeo existente entre as
diversas carecircncias ainda acaba por privilegiar os aspectos materiais da vida social
estabelecendo um limite de corte entre ldquopobresrdquo e ldquonatildeo pobresrdquo a partir de miacutenimos
sociais
Bronzo (2005) aponta que o grande divisor de aacuteguas nas perspectivas sobre o
fenocircmeno da pobreza pode ser encontrado no trabalho de Amartya Sen que define a
pobreza como carecircncia ou privaccedilatildeo de capacidades Nesse sentido ldquopobresrdquo seriam
aqueles que ldquocarecem de capacidades baacutesicas para operarem no meio social quecarecem de oportunidades para alcanccedilar niacuteveis minimamente aceitaacuteveis de realizaccedilatildeo o
que pode independer da renda que os indiviacuteduos possuemrdquo (Bronzo p 42) Os recursos
monetaacuterios nesse ponto de vista satildeo um meio para atingir o bem-estar e natildeo o bem-
estar em si dado que a renda pode permitir a realizaccedilatildeo de uma capacidade Ou seja o
ponto central aqui eacute a capacidade e natildeo a renda o que faz com que o eixo do enfoque
seja o de pensar a ampliaccedilatildeo das capacidades baacutesicas para que as pessoas possam levar
uma vida digna Em outras palavras se a perspectiva monetarista prioriza os recursos
privados aos quais os indiviacuteduos tecircm acesso o enfoque das capacidades busca examinar
a vida que os indiviacuteduos podem ter inserindo o aspecto da liberdade no centro da
discussatildeo Esta abordagem no entanto ainda se limita a pensar o fenocircmeno sob a oacutetica
individualista na medida em que trata diretamente das capacidades que os indiviacuteduos
podem ter para o exerciacutecio da liberdade
Um marco no estudo da pobreza surgiu a partir da adoccedilatildeo do conceito de
ldquoexclusatildeordquo em especial a partir dos anos 80 na Europa quando o conceito passa a ser
vinculado a processos de instabilidade das relaccedilotildees sociais mais especificamente dos
viacutenculos entre os indiviacuteduos e a sociedade tomando como referecircncia central a dimensatildeo
do trabalho Fica claro nessa perspectiva a influecircncia do pensamento durkheimiano
em especial a ideacuteia de que a densidade dos laccedilos sociais eacute de fundamental importacircncia
para a manutenccedilatildeo da coesatildeo e da ordem A categoria ldquotrabalhordquo ganha relevacircncia
para o recebimento do benefiacutecio
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1021
central na medida em que passa a ser considerado como o principal mecanismo de
sociabilidade para aleacutem dos grupos primaacuterios ficando evidente que a condiccedilatildeo de
desemprego e de trabalho precaacuterio tecircm consequecircncias para aleacutem da renda
enfraquecendo laccedilos e redes sociais e provocando o isolamento Gomaacute aponta que ldquola
exclusioacuten implica fracturas en el tejido social la ruptura de ciertas coordenadas baacutesicasde integracioacuten Y en consecuencia la aparicioacuten de una nueva forma de escisioacuten social
en teacuterminos de dentrofuerardquo (Gomaacute 2004 p 4)
Um autor central para este debate eacute Robert Castel que concentra a sua anaacutelise na
importacircncia das trajetoacuterias para a compreensatildeo dos processos de exclusatildeo processo este
que o autor define como desfiliaccedilatildeo Os ldquoinuacuteteis para o mundordquo nas palavras do autor
seriam aquelas ldquopessoas e grupos que se tornaram supranumeraacuterios diante da
atualizaccedilatildeo das competecircncias econocircmicas e sociaisrdquo (Castel p 23) Satildeo assim produto
de alteraccedilotildees que se datildeo no plano econocircmico (em especial no mundo do trabalho) masvistos sob a oacutetica da questatildeo social Ou seja a anaacutelise de Castel privilegia justamente as
relaccedilotildees que articulam a situaccedilatildeo de precariedade econocircmica com a instabilidade social
tornando-se central a ideacuteia de vulnerabilidade que seria a ldquouma zona intermediaacuteria
instaacutevel que conjuga a precariedade do trabalho e a fragilidade dos suportes de
proximidade (Castel p 24)
As dimensotildees econocircmica (estabilidade e regularidade no trabalho) e social
(redes de sociabilidade primaacuteria ndash famiacutelia vizinhanccedila e comunidade) configuram
ldquoquatro zonasrdquo i) integraccedilatildeo diz respeito a uma situaccedilatildeo de emprego estaacutevel e relaccedilotildees
sociais densas ii) vulnerabilidade fragilizaccedilatildeo das condiccedilotildees laborais e relacionais iii)
assistecircncia recebimento de benefiacutecios puacuteblicos que evitam um ldquodesligamentordquo
econocircmico e social iv) desfiliaccedilatildeo que se refere a uma situaccedilatildeo de desemprego e perda
dos laccedilos sociais A coesatildeo social se daacute portanto a partir do equiliacutebrio entre essas
quatro zonas
Um outro autor que merece ser destacado eacute Serge Paugam (2003) que analisa o
processo de exclusatildeo social a partir da atuaccedilatildeo do Sistema de Proteccedilatildeo Social francecircs
Pode-se dizer que um dos grandes meacuteritos do seu trabalho estaacute em ultrapassar as
condiccedilotildees objetivas que definem a condiccedilatildeo de pobreza retomando a tradiccedilatildeo
weberiana ao enfatizar o sentido e o significado que as pessoas atribuem agrave situaccedilatildeo
vivida Mais do que isso o autor se deteacutem sobre a construccedilatildeo de identidades status e
resistecircncia ao estigma daqueles que satildeo designados como ldquopobresrdquo dimensotildees estas de
forte potencial analiacutetico na compreensatildeo do fenocircmeno e do processo de
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1121
desqualificaccedilatildeoexclusatildeo social
Paugam diferencia trecircs grupos que vivem este processo O primeiro ndash os
fragilizados ndash satildeo aqueles que vivem recentemente uma situaccedilatildeo de vulnerabilidade
sem emprego e renda e que resistem em ser incorporados aos programas de proteccedilatildeo
social O segundo ndash os assistidos ndash jaacute fazem parte e satildeo ateacute dependentes dos programasse encontrando em uma situaccedilatildeo de resignaccedilatildeo frente agrave sua condiccedilatildeo social E por
uacuteltimo ndash os marginalizados ndash que natildeo se encontram mais sob assistecircncia governamental
constituindo o uacuteltimo escalatildeo da desqualificaccedilatildeo social
Cabe destacar que a desqualificaccedilatildeo social eacute um processo de marginalizaccedilatildeo de
modo que a perspectiva temporal combinada agrave dimensatildeo relacional ganha relevacircncia
na anaacutelise em questatildeo Em outras palavras o processo depende dos padrotildees de
sociabilidade vigentes num dado contexto sendo a situaccedilatildeo de exclusatildeo definida a partir
dos padrotildees de relaccedilatildeo e ao mesmo tempo produto da configuraccedilatildeo destas mesmasinteraccedilotildees de modo que a matriz do conceito se encontra alicerccedilada na natureza e na
qualidade dos laccedilos sociais Retoma-se aqui as dimensotildees mais subjetivas da condiccedilatildeo
de pobreza ndash perda de auto-estima identidades construiacutedas enfraquecimento dos laccedilos
sociais ndash como fatores de acentuada relevacircncia na manutenccedilatildeo da ordem social e das
redes de reciprocidade e solidariedade Aleacutem disso a introduccedilatildeo da dimensatildeo temporal
permite que a ldquoexclusatildeordquo seja ldquovista como uma dinacircmica e natildeo como um estado o que
valoriza uma compreensatildeo mais ampla do problema e envolve expectativas sobre o
futurordquo (Bronzo p 54)
A OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO CAPITAL SOCIAL
Observamos anteriormente que adotamos a perspectiva de que ele se manifesta via
redes de cooperaccedilatildeo e normas de reciprocidade tal como apontado por Coleman (1990)
Desta forma foi criado por meio de anaacutelise fatorial um Iacutendice de Capital Social para
cada famiacutelia9 a partir de trecircs variaacuteveis que indicam a densidade das relaccedilotildees entre seus
vizinhos o niacutevel de confianccedila e de reciprocidade As variaacuteveis utilizadas na construccedilatildeodo iacutendice foram
1) Com que frequumlecircncia vocecirc diria que as pessoas no bairro ajudam umas agraves outras (1 =
9 Eacute importante ressaltar que embora o iacutendice tenha sido mensurado para cada uma das famiacuteliassupocircs-se que aquelas imersas em contextos de alto capital social teriam mais chances de superarcondiccedilotildees de pobreza que as famiacutelias imersas em contextos de baixo capital social
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1221
nunca ajudam 2 = raramente ajudam 3 = as vezes ajudam 4 = quase sempre ajudam 5
= sempre ajudam)
2) Quantos amigos no bairro vocecirc tem atualmente fora a sua famiacutelia (1 = nenhum 2 =
menos de 3 3 = entre 3 e 5 4 = mais de 5 ateacute 10 6 = mais de 10)
3) Se vocecirc precisar de algum dinheiro ndash em torno de R$ 100 ndash com quantas pessoas no
bairro vocecirc pode contar aleacutem dos seus familiares (1 = nenhuma 2 = 1 ou 2 3 = 3 ou 4
4 = 5 ou 6 5 = 7 ou mais)
A tabela a seguir (matriz de componentes) apresenta os coeficientes ou pesos que
correlaciona as variaacuteveis com o fator(es) A anaacutelise fatorial resultou em apenas um
fator
Matriz de Componentes (output SPSS)
O fator apresentou valor miacutenimo de -154 maacuteximo de 239 e meacutedia de -138
Posteriormente foi ajustado para uma escala entre 0 e 100 apresentando meacutedia de
3924 e desvio padratildeo de 2541 Abaixo temos um histograma do Iacutendice
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1321
IndiceCS
100008000600040002000000
F r e q u e n c i a
50
40
30
20
10
0
Histograma
Histograma da distribuiccedilatildeo de frequecircncia do Iacutendice de Capital Social
(output SPSS) Elaboraccedilatildeo Propria
Hipoacutetese de pesquisa Mesmo controlando pela variaacutevel de escolaridade do chefe e
pelo nuacutemero de moradores no domiciacutelio famiacutelias que se encontram em contextos de
alto capital social tecircm maiores chances de superar condiccedilotildees de pobreza do que as
famiacutelias que se encontram em contextos de baixo capital social
Variaacutevel dependente variaacutevel indicadora dummy em que 0 = famiacutelias com renda per capita abaixo ou igual agrave linha de pobreza do PBF (R$
12000)
1 = famiacutelias com renda per capita superior agrave linha de pobreza do PBF
Variaacuteveis independentes
- escolaridade do chefe (em anos)
- gecircnero do chefe indicadora em que 0 = feminino e 1 = masculino
- se o chefe trabalha indicadora em que 0 = natildeo trabalha e 1 = trabalha- idade do chefe (em anos)
- idade do chefe ao quadrado (idade2)
- se algueacutem na famiacutelia recebe algum tipo de aposentadoria ou benefiacutecio do governo
indicadora em que 0 = natildeo e 1 = sim
- Capital Social Iacutendice de Capital social (valores entre 0 e 100)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1421
O modelo ln[ P (acima da LP = 1) (1 ndash P (acima da LP = 1)] = β0 + β1 (Iacutendice CS) +
β2 (idade do chefe) + β3 (idade do chefe2) + β4 (escolaridade do chefe) + β5 (gecircnero do
chefe) + β6 (trabalha) + β7 (aposentadoriabenefiacutecio)
983126983137983154983145983265983158983141983145983155 983106 983123983145983143
983245983150983140983145983139983141 983107983123 0014 000983095 14
983113983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 011983093 000983095 122
9831139831409831379831409831412 9830850001 00983094 98308501
983109983155983139983151983148983137983154983145983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 0124 000983093 132
983111983274983150983141983154983151 983140983151 983139983144983141983142983141 983085010983095 09830949830973 983085101
983124983154983137983138983137983148983144983137 1983097983095983094 0 98309421983094
983105983152983151983155983141983150983156983137983140983151983154983145983137983106983141983150983141983142983277983139983145983151 1233 0001 2431
983107983151983150983155983156983137983150983156983141 9830854983096983096983093 0
983118983137983143983141983148983147983141983154983147983141 9831222 0301
983107983151983160 983141 983123983150983141983148983148 9831222 022
983118 40983097
983122983141983155983157983148983156983137983140983151 983140983151 983149983151983140983141983148983151 983140983141 983154983141983143983154983141983155983155983267983151 983148983151983143983277983155983156983145983139983137 983085 983114983137983154983140983145983149
983124983141983154983141983155983283983152983151983148983145983155 983090983088983088983094
Fonte Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim Teresoacutepolis ndash 2006 Dados trabalhados
pelos autores
Os resultados da regressatildeo logiacutestica nos permitiram afirmar que o fato da famiacutelia
se encontrar imersa em contextos de alto capital social aumenta sua chance de
superaccedilatildeo das condiccedilotildees de pobreza o que confirmou a hipoacutetese a 1 de significacircncia
estatiacutestica (p = 000 lt 001) O aumento de 1 ponto no iacutendice de capital social eleva em
14 as chances de a famiacutelia superar a LP A tiacutetulo de ilustraccedilatildeo temos por exemplo
que uma famiacutelia com Iacutendice = 80 ndash ou seja imersa em contexto de alto capital social ndash
tem 112 a mais de chance de superar a LP que uma famiacutelia com Iacutendice = 0 ndash contexto
de capital social ldquoinexistenterdquo ndash e 84 a mais de chance do que uma famiacutelia com Iacutendice
= 20 ndash imersa em contexto de baixo capital social
Percebemos assim que o capital social tem uma grande influencia sobre as
possibilidades de uma famiacutelia superar a linha de pobreza No entanto acreditamos
tambeacutem que esta superaccedilatildeo se daacute de forma marginal e que o fato de uma famiacutelia se
encontrar em contexto de alto capital social no interior de uma comunidade vulneraacutevel e
estigmatizada como o Jardim Teresoacutepolis pouca influencia tem sobre as possibilidades
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1521
da famiacutelia superar em larga escala a linha de pobreza A tabela abaixo apresenta os
resultados da regressatildeo de MQO para o logaritmo da renda per capita O objetivo era
avaliar o efeito do capital social sobre a renda das famiacutelias diretamente As variaacuteveis
teste e controle satildeo as mesmas utilizadas no modelo de regressatildeo logiacutestica
983126983137983154983145983265983158983141983145983155 983106 983123983145983143
983245983150983140983145983139983141 983107983123 0003 0 03
983113983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 0031 0 31
9831139831409831379831409831412 000 0002 000
983109983155983139983151983148983137983154983145983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 003983097 0 3983097
983111983274983150983141983154983151 983140983151 983139983144983141983142983141 0001 09830979830962 132
983124983154983137983138983137983148983144983137 029830934 0 29830934983105983152983151983155983141983150983156983137983140983151983154983145983137983106983141983150983141983142983277983139983145983151 02983094983093 0 2983094983093
983107983151983150983155983156983137983150983156983141 344983093 0
9831222 033
9831222 983105983146983157983155983156983137983140983151 031983094
983118 40983097
983122983141983155983157983148983156983137983140983151 983140983151 983149983151983140983141983148983151 983140983141 983154983141983143983154983141983155983155983267983151 983140983141 983117983121983119
Fonte Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim Teresoacutepolis ndash 2006 Dados
trabalhados pelos autores
Os resultados da regressatildeo de MQO confirmam a ideacuteia apresentada acima Se porum lado o capital social tem grande influencia na possibilidade da superaccedilatildeo da linha de
pobreza por outro esta superaccedilatildeo se daacute de forma marginal 1 ponto a mais no Iacutendice de
Capital Social aumenta em 03 a renda total da famiacutelia Numa comunidade em que a
meacutedia da renda per capita domiciliar eacute de R$24348 e que 724 das famiacutelias tem renda
per capita de ateacute 2 vezes a linha de pobreza do PBF (R$24000) este aumento embora
muito significativo para as famiacutelias no que se refere ao consumo pode ser considerado
pouco expressivo em termos de mobilidade social
DISCUSSAtildeO
Este trabalho buscou analisar a relaccedilatildeo existente entre capital social e pobreza
num territoacuterio de alta vulnerabilidade social o bairro jardim Teresoacutepolis em Betim
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1621
Regiatildeo Metropolitana de Belo Horizonte - MG a partir de anaacutelise estatiacutestica com dados
de um survey realizado na regiatildeo em 2006 Embora tenha utilizado as famiacutelias como
unidade de analise a perspectiva de capital social de Coleman permitiu observar o
contexto imediato em que se encontravam inseridas sem tratar o capital social como
propriedade individual Em outras palavras mostramos que as relaccedilotildees sociais nessecontexto podem ser identificadas a partir de como os indiviacuteduos as percebem sem
incorrermos em uma anaacutelise demasiado micro dos fenocircmenos sociais em que as accedilotildees
individuais satildeo vistas como fruto de um caacutelculo estrateacutegico visando otimizar meios e
fins Atestamos assim a importacircncia de se abordar os fenocircmenos sociais a partir de
uma perspectiva relacional evitando tratar os indiviacuteduos como seres atomizados como
bem apontou Granovetter
E em que medida os resultados acima podem trazer uma contribuiccedilatildeo para a
reflexatildeo sobre o estudo de poliacuteticas de renda miacutenima e mais especificamente doPrograma Bolsa Famiacutelia Em primeiro lugar a influecircncia das redes sociais na superaccedilatildeo
das condiccedilotildees de pobreza atesta a relevacircncia de se adotar uma perspectiva relacional do
fenocircmeno Em outras palavras a condiccedilatildeo de pobreza tambeacutem deve ser vista sob a oacutetica
das relaccedilotildees sociais e de como estas podem influenciar o acesso a recursos diversos por
um lado e de como famiacutelias que se encontram abaixo da LP tendem a estar imersas em
redes menos densas e por isso se tornam mais propensas a um processo de exclusatildeo
social por outro Como bem aponta Marques (2007)
O acesso dos indiviacuteduos agraves estruturas de oporunidades que conduzem agravescondiccedilotildees sociais em geral e agraves situaccedilotildees de pobreza em particular eacutemediado pelos padrotildees de relaccedilatildeo que esses indiviacuteduos tecircm com outrosindiviacuteduos e com organizaccedilotildees de variados tipos (Marques 2007 p 36)
Os sociogramas abaixo apresentam simulaccedilotildees de uma famiacutelia imersa em
contextos de alto capital social (Sogiograma 1) e de outra imersa em contexto de baixo
capital social (Sogiograma 2)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1721
FIGURA 1 Sociograma de contexto de altocapital social no interior do Jardim
Teresoacutepolis
FIGURA 2 Sociograma de contexto de baixo capital social nointerior do jardim Teresoacutepolis
Podemos dizer que a famiacutelia ldquoGrdquo em funccedilatildeo da disponibilidade de recursos que
fluem ao longo da rede em que se encontra inserida (contexto de alto capital social) tem
acesso a condiccedilotildees de vida menos desfavoraacuteveis estando acima da LP Jaacute a famiacutelia ldquoErdquo
imersa em uma rede com poucos contatos e de baixa densidade (contexto de baixo
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1821
capital social) natildeo tem agrave sua disposiccedilatildeo recursos que poderiam ter as relaccedilotildees sociais
como origem
Outro aspecto que diz respeito ao Programa Bolsa Famiacutelia em si mas que se
encontra diretamente relacionado ao ponto acima eacute o fato de que o programa parece
atender justamente aqueles imersos em contextos de baixo capital social Nesse sentido
como bem apontaram Sachs e Lages (2001) embora devamos tomar cuidado para natildeo
tratar o capital social como uma ldquoquase-ideologia do desenvolvimentordquo sugere-se que o
desenho institucional do programa poderia enfatizar programas complementares de
potencializaccedilatildeo de redes sociais Natildeo estamos adotando aqui uma perspectiva ndash
ingecircnua na nossa opiniatildeo ndash de que eacute como se fosse possiacutevel ldquodar uma injeccedilatildeo de capital
socialrdquo em determinadas comunidades Antes disso pensamos que haacute formas de se
incentivar o desenho de ambientes e situaccedilotildees propiacutecias agrave criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de
solidariedade social no sentido durkheimiano do termo que possibilitaria a formaccedilatildeo
de coletividades mais coesas inibindo as chances de um processo de exclusatildeo social
Outro apontamento se refere agrave natureza dos laccedilos sociais Embora neste trabalho
tenhamos trabalhado as redes sociais do ponto de vista dos ldquolaccedilos fortesrdquo no interior de
uma comunidade ndash mensurados a partir da frequumlecircncia de contato confianccedila muacutetua e
reciprocidade ndash eacute de fundamental importacircncia que se pense tambeacutem de que forma as
redes sociais vista sob a oacutetica dos ldquolaccedilos fracosrdquo (Granovetter 2000) ndash ou pontes ndash se
relaciona com o tema das poliacuteticas de renda miacutenima
Bibliografia
BRONZO C Programas de proteccedilatildeo social e superaccedilatildeo da pobreza concepccedilotildees e
estrateacutegias de intervenccedilatildeo FAFICHUFMG - 2005
CASTEL Robert As metamorfoses da questatildeo social uma crocircnica do salaacuterio 4ordm
ed RJ Editora Vozes 1998
COLEMAN J Foundations of social theory Cambridge Harvard University
Press 1990
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1921
FIALHO F M ldquoCapital Social usos e definiccedilotildees do conceito nas Ciecircncias
Sociaisrdquo Revista Trecircs Pontos 10 p 31-35 Bel Horizonte 2004
FUNDACcedilAtildeO JOAtildeO PINHEIRO ndash Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim
Teresoacutepolis ndash Relatoacuterio de Pesquisa 2006
GOMAacute R Processos de exclusatildeo e poliacuteticas de inclusatildeo social algumas
reflexotildees conceituais In Bronzo Carla Costa Bruno Gestatildeo Social o que haacute de novo
Belo Horizonte 2004
GRANOVETTER M S Accedilatildeo Econocircmica e Estrutura Social o problema da
imersatildeo Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Eletrocircnica Satildeo Paulo v 6 n 1 art 5
janjun 2007
_____________________ La fuerza de los viacutenculos deacutebiles Poliacutetica y sociedad
p 41-56 Traduccedilatildeo de Maria Angeles Verdasco Madrid 2000
HIGGINS S S Fundamentos teoacutericos do capital social Argos Chapecoacute 2005
MARQUES E Redes Sociais segregaccedilatildeo e pobreza em Satildeo Paulo Tese de
Livre Docecircncia USP 2007
PAUGAM S Desqualificaccedilatildeo social Ensaio sobre a nova pobreza SP Cortez
2003
PORTES A Capital Social Origens e aplicaccedilotildees na sociologia contemporacircnea
Sociologia Problemas e Praacuteticas nuacutemero 33 p 133-158 Traduccedilatildeo de Frederico Aacutegoas
Lisboa 2000
PRATES A A P et al Capital Social e Laccedilos Fracos Influencia no acesso a
benefiacutecios em comunidades carentes de Belo Horioznte Relatoacuterio de Pesquisa
UFMGFAFICH Belo Horioznte 2008
PUTNAM R Comunidade e Democracia a experiecircncia da Itaacutelia moderna Rio
de Janeiro FGV 1996
ROCHA S Renda e Pobreza ndash Medidas per capita versus adulto-equivalente Rio
de Janeiro IPEA Nov 1998 (Texto para Discussatildeo 609)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 2021
SACHS I LAGES V N Capital Social e desenvolvimento novidade para
quem IN CONFERENCIA REGIONAL SOBRE CAPITAL SOCIAL E POBREZA
2001 Anais Santiago Chile CEPAL Univeridad del estado de Michigan 2001
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 2121
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 321
(2007) criticam o conceito de Bourdieu por entenderem que ele se superpotildee ao conceito
de poder social jaacute bastante difundido na teoria socioloacutegica na medida em que a
participaccedilatildeo em redes se constitui como um recurso potencial de poder ao possibilitar
acesso diferenciado a recursos e realizaccedilatildeo de interesses individuais Na mesma linha a
anaacutelise classista da perspectiva de Bourdieu torna improvaacutevel a constituiccedilatildeo de redesinter-classes ou mesmo relaccedilotildees ldquoduraacuteveis de conhecimento e reconhecimento muacutetuordquo
que realizassem a conexatildeo entre redes constituiacutedas em classes distintas Esta
constataccedilatildeo nos induz a concluir que em Bourdieu o capital social seria um recurso
disponiacutevel apenas agraves classes privilegiadas sendo contraditoacuterio atestar sua
disponibilidade aos indiviacuteduos das classes baixas os quais satildeo desprovidos de poder no
interior da estrutura social Portes por outro lado ressalta que a vantagem do conceito
bourdieusiano em relaccedilatildeo ao de Coleman que veremos logo agrave frente estaacute no fato de que
este permite uma maior diferenciaccedilatildeo entre o conceito em si e os recursos adquiridospelo seu uso
Jaacute mais proacuteximo ao campo da sociologia poliacutetica encontramos em Robert Putnam
uma tradiccedilatildeo que Prates et allii definem como normativo-associativista Devedor em
grande medida do conceito de Coleman Putnam tambeacutem identifica o capital social
como atributo da esfera coletiva
Uma caracteriacutestica especiacutefica do capital social ndash confianccedila normas e cadeiasde relaccedilotildees sociais ndash eacute o fato de que ele normalmente constitui um bem
puacuteblico ao contraacuterio do capital convencional que normalmente eacute um bemprivado (PUTNAM 1996 p 180)
Na obra que acabamos de citar (Comunidade e democracia a experiecircncia da
Itaacutelia moderna) Putnam realiza uma pesquisa de quase vinte anos onde identifica uma
substancial diferenccedila de desempenho das instituiccedilotildees poliacuteticas das trecircs regiotildees da Itaacutelia
(norte centro e sul)3 A ldquochaverdquo para a explicaccedilatildeo desta diferenccedila ndash que natildeo pode ser
buscada na configuraccedilatildeo das instituiccedilotildees dado que eacute a mesma em todo o paiacutes ndash o autor
encontra no conceito de capital social afirmando existir nas proviacutencias do norte um
maior estoque de capital social que nas proviacutencias do sul Sua empresa estaacute em
demonstrar o papel do capital social como facilitador na criaccedilatildeo de uma cultura poliacutetica
centrada no civismo e no associativismo o que o leva a associar o conceito ao de
3 As instituiccedilotildees das proviacutencias do norte da Itaacutelia possuem um desempenho muito superior agraves do sul e asdo centro um desempenho intermediaacuterio Para maiores detalhes ver Putnam (1996)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 421
cultura ciacutevica4 jaacute bastante difundido na teoria poliacutetica ldquoos sistemas de cultura ciacutevica
satildeo uma forma essencial de capital socialrdquo (Putnam 1996 p 183) Para aleacutem disso
percebemos tambeacutem um traccedilo eminentemente normativo na definiccedilatildeo do conceito uma
vez que o autor estabelece uma relaccedilatildeo inevitaacutevel entre a presenccedila de capital social e
praacuteticas culturais orientadas por um ethos ciacutevico na busca pelo ldquobem comumrdquoColeman (1990) aporta uma visatildeo distinta e eacute na teoria das redes que encontramos
os fundamentos que sustentam sua formulaccedilatildeo Nessa em que se destaca o artigo de
Granovetter (2007) Accedilatildeo econocircmica e estrutura social ndash o problema da imersatildeo a accedilatildeo
individual natildeo eacute vista nem como simples fruto do caacutelculo racional auto-interessado
(concepccedilatildeo sub-socializada) tampouco como resultado mecacircnico do constrangimento
estrutural (concepccedilatildeo super-socializada) Ambas segundo Granovetter nos apresentam
uma abordagem atomizada do indiviacuteduo desconsiderando o contexto imediato em que
os atores estatildeo inseridos a saber as relaccedilotildees sociais com seus pares ldquoO argumento daimersatildeo enfatiza por sua vez o papel das relaccedilotildees pessoais concretas e as estruturas (ou
ldquoredesrdquo) dessas relaccedilotildees na origem da confianccedila e no desencorajamento da maacute feacuterdquo
(Granovetter 2007 p 10) A confianccedila portanto enquanto atributo indispensaacutevel agrave
existecircncia de capital social surge como fruto das relaccedilotildees concretas estabelecidas pelos
atores no interior das redes sociais Para Coleman o capital social tambeacutem eacute um recurso
que pode ser utilizado pelo individuo mas que se encontra nas redes de relacionamento
sendo algo inerente a estrutura das relaccedilotildees sociais sustentado por expectativas e
obrigaccedilotildees de reciprocidade Tem assim caracteriacutestica de um bem publico ou seja
todos que compotildeem a rede podem dele utilizar mas natildeo eacute passiacutevel de ser apropriado
individualmente O capital social nesta perspectiva se define pela sua funccedilatildeo sendo
que esta consiste em ldquo facilitar a realizaccedilatildeo de objetivos que natildeo poderiam ser
alcanccedilados em sua ausecircncia ou que poderiam ser alcanccedilados somente sob um alto
custordquo (Coleman 1990 p 304 traduccedilatildeo nossa) Esta definiccedilatildeo permite observar
situaccedilotildees nas quais as accedilotildees dos indiviacuteduos satildeo facilitadas pelo fato destes estarem
imersos em uma rede de relaccedilotildees sociais densa A densidade das redes estaacute relacionada
tanto ao grau de proximidade e contato entre os indiviacuteduos quanto ao grau de
interdependecircncia entre eles Satildeo contextos onde segundo Coleman pode emergir no
interior da estrutura seis diferentes formas de capital social obrigaccedilotildees e expectativas
fontes e canais de informaccedilotildees potenciais normas e sanccedilotildees efetivas relaccedilotildees de
4 Cultura ciacutevica seria a ldquodisposiccedilatildeo dos indiviacuteduos em participar de grupos associaccedilotildees e accedilotildees coletivasque buscam objetivos socialmente positivosrdquo (Almond amp Verba 1963 in Fialho 2004 p 33)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 521
autoridade organizaccedilotildees sociais apropriaacuteveis organizaccedilatildeo intencional Todas essas
formas facilitam a accedilatildeo individual e tornam possiacutevel a mobilizaccedilatildeo da estrutura de
relaccedilotildees pelo indiviacuteduo (Fialho 2004)
Embora seja critico ao conceito de Coleman em grande medida Portes afirma
que um dos meacuteritos dessa perspectiva estaacute no conceito de closure que diz respeito ldquoagraveexistecircncia entre um certo nuacutemero de pessoas de laccedilos suficientes para garantir a
observacircncia de normasrdquo (Portes 2000 p 137) As criacuteticas por outro lado apontam
algumas limitaccedilotildees A primeira diz respeito ao fato de que a forma como o conceito foi
elaborado seria vago abrindo caminho para que processos diferentes ndash e mesmo
contraditoacuterios ndash passassem a ser designados como ldquocapital socialrdquo Para Portes o
proacuteprio Coleman deu iniacutecio a esta proliferaccedilatildeo na medida em que inclui no corpo do
conceito alguns dos mecanismos geradores do capital social (como as expectativas de
reciprocidade e as normas grupais) suas consequumlecircncias (como o acesso a informaccedilotildeesdiferenciadas) e a organizaccedilatildeo social como loacutecus da realizaccedilatildeo de ambos
Prates et allii (2007) apontam que se Putnam pode ser definido como pertencente
a uma tradiccedilatildeo normativo-associativista em Coleman o que percebemos eacute uma
perspectiva interacionista que focaliza as relaccedilotildees sociais como aspecto essencial do
conceito Aleacutem desta vantagem observamos uma neutralidade valorativa na sua
definiccedilatildeo uma vez que Coleman natildeo associa o conceito de capital social com praacuteticas
orientadas por valores ldquosocialmente positivosrdquo A tiacutetulo de ilustraccedilatildeo natildeo seria
contraditoacuterio apontar com base na definiccedilatildeo de Coleman existecircncia de capital social
em grupos os quais as praacuteticas satildeo consideradas como opostas a tais valores (redes de
narcotraacutefico grupos terroristas ou mesmo a maacutefia italiana por exemplo) Fialho (2004)
aponta com clareza a vantagem teoacuterica do conceito de Coleman
Por tratar o capital social como um aspecto das relaccedilotildees sociais e natildeo comoum valor em si (como faz Putnam ao confundir os conceitos de capital sociale civismo) Coleman advoga a neutralidade moral do termo uma vez que ocapital social eacute encarado como um recurso fornecido pela estrutura social enatildeo como uma causa ou motivo para a accedilatildeo individual ou coletiva (Fialho
200433-34)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 621
O BAIRRO JARDIM TERESOacutePOLIS5
O bairro Jardim Teresoacutepolis contava no ano de 2006 com uma populaccedilatildeo
aproximada de 30 mil habitantes e uma densidade populacional de 35631
habitanteskm2 Atualmente constitui uma das aacutereas mais carentes da cidade de Betime a grande maioria das residecircncias ainda se encontra em estado precaacuterio sendo que
871 natildeo tecircm regularizaccedilatildeo junto agrave prefeitura No que se refere agraves condiccedilotildees de
habitaccedilatildeo e de infra-estrutura urbana os dados satildeo relativamente positivos com um
percentual baixo da populaccedilatildeo sem o atendimento de suas necessidades baacutesicas de
moradia
Quanto agrave seguranccedila alimentar 11 dos domiciacutelios jaacute apresentou caso de
desnutriccedilatildeo na famiacutelia Nos relatos sobre o tema um morador disse que natildeo passa fome
porque a galinha bota ovo todo dia Uma moradora disse comer mingau todo dia e
outro alegou que natildeo tem com o que comprar comida mas que diz ldquoter feacute em Deus de
que Ele natildeo permitiria que sua famiacutelia passasse fomerdquo Outros disseram passar fome
algumas vezes e ter o que comer na casa dos vizinhos Embora essa questatildeo natildeo tenha
sido quantificada natildeo satildeo casos isolados e espelham uma vulnerabilidade fundamental
que diz respeito ao acesso ao alimento e a condiccedilotildees baacutesicas de sobrevivecircncia
A percepccedilatildeo da violecircncia tambeacutem eacute alta entre os moradores 735 jaacute
testemunharam crime ou conhecem viacutetimas ou tecircm medo de ir a algum lugar no bairro
Em mais de 62 dos questionaacuterios existiram relatos negativos sobre a violecircncia no
bairro traacutefico de drogas aacutereas de circulaccedilatildeo interditada perigos e ameaccedilas de se morar
na regiatildeo A referecircncia a brigas de gangues em funccedilatildeo do traacutefico de drogas foi
constante Habitantes de uma parte do territoacuterio por exemplo natildeo podem circular
livremente em outra Mais de 5 afirmaram ser proibido circular em determinados
locais e mais de 24 relataram risco de agressatildeo e assalto como motivos para natildeo
circularem em aacutereas especiacuteficas
Com relaccedilatildeo ao vinculo e inserccedilatildeo no trabalho para os chefes de famiacutelia em idade
entre 15 e 65 anos 118 estatildeo desempregados e procuram emprego enquanto que
quase 3 estatildeo desempregados e natildeo procuram mais emprego 641 trabalham sendo
5 Os dados aqui apresentados acerca das caracteriacutesticas soacutecio-demograacuteficas do bairro Jardim Teresoacutepolisforam retirados do Relatoacuterio de Pesquisa ldquoPobreza e Vulnerabilidade no Jardim Teresoacutepolisrdquo FJP2006Neste relatoacuterio tambeacutem eacute possiacutevel encontrar detalhadamente informaccedilotildees sobre a metodologia utilizadana pesquisa
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 721
que desse total 34 trabalham sem viacutenculo ou por conta proacutepria e 66 trabalham com
viacutenculo CLT Quanto agrave renda tem-se que para um total de 409 domiciacutelios 151 (369)
se encontravam abaixo e 258 (431) se encontravam acima da linha de pobreza per
capita6 sendo que a meacutedia da renda per capita eacute de R$24348
O PROGRAMA BOLSA FAMIacuteLIA E O FENOcircMENO DA POBREZA
O Programa Bolsa Famiacutelia foi criado pelo governo federal brasileiro em 2003
com o objetivo de unificar a gestatildeo e a implementaccedilatildeo de quatro (depois cinco) poliacuteticas
de transferecircncia de renda7 agraves famiacutelias mais pobres do paiacutes Uma das mudanccedilas mais
importantes desse processo foi a adoccedilatildeo de um sistema de cadastro nacional das
famiacutelias elegiacuteveis a participarem de programas do governo federal o CadUacutenico que
permite uma melhor focalizaccedilatildeo dos programas Atualmente atende a um nuacutemeroaproximado de 117 milhotildees de famiacutelias como jaacute mencionado
O principal objetivo do programa eacute romper com a reproduccedilatildeo inter-geracional da
pobreza atraveacutes de transferecircncias monetaacuterias de renda agraves famiacutelias que satildeo classificadas
como ldquopobresrdquo ou ldquoextremamente pobresrdquo permitindo assim um aliacutevio imediato da
pobreza bem como o exerciacutecio de direitos sociais baacutesicos nas aacutereas de educaccedilatildeo e
sauacutede As condicionalidades para o recebimento dos benefiacutecios se datildeo atraveacutes da
exigecircncia de uma frequumlecircncia escolar miacutenima dos jovens ndash 85 para os de 6 a 15 anos e
75 para aqueles entre 16 e 17 anos ndash da atualizaccedilatildeo do cartatildeo vacinal do
acompanhamento das gestantes e por fim do acompanhamento de accedilotildees soacutecio-
educativas para crianccedilas em situaccedilatildeo de trabalho infantil
Satildeo trecircs os tipos de benefiacutecio cujos valores variam de R$2200 e R$20000
a) benefiacutecio baacutesico ndash R$ 6800 transferido agraves famiacutelias consideradas como
ldquoextremamente pobresrdquo independente da presenccedila ou natildeo de crianccedilas ou
gestantes no domiciacutelio
b) Benefiacutecio variaacutevel ndash R$2200 transferido agraves famiacutelias ldquopobresrdquo desde quetenham crianccedilas com idade de ateacute 15 anos Cada famiacutelia pode receber no
maacuteximo 3 benefiacutecios deste tipo (maacuteximo de R$ 6600)
6 Para estimar a LP utilizou-se o mesmo criteacuterio utilizado pelo Programa Bolsa Famiacutelia em 2006 Ouseja famiacutelias com renda per capita ateacute R$12000 foram consideradas como ldquopobresrdquo e aquelas com rendaper capita acima desse valor foram consideradas como ldquonatildeo pobresrdquo
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 821
c) Benefiacutecio Variaacutevel vinculado ao adolescente (BVVA) ndash R$ 3300 transferido a
todas as famiacutelias do programa que tenham adolescentes entre 16 e 17 anos
frequumlentando a escola Cada famiacutelia pode receber ateacute dois BVVA (R$ 6600)
Como mencionado a classificaccedilatildeo das famiacutelias como ldquopobresrdquo ou
ldquoextremamente pobresrdquo de modo a tornaacute-las participantes em potencial do programa
segue uacutenica e exclusivamente o criteacuterio da renda familiar per capita No entanto a
literatura que trata do fenocircmeno da pobreza apresenta inuacutemeras abordagens tanto no
que se refere agrave definiccedilatildeo do conceito de ldquopobrezardquo como tambeacutem na sua mensuraccedilatildeo e
nas consequumlentes alternativas para o seu enfrentamento
Rocha (1998) defende que para contextos onde eacute alto o percentual da populaccedilatildeo
urbana e com economia largamente monetizada a variaacutevel renda tendo como referecircncia
uma linha de pobreza deve ser tomada como uma proxy do bem estar dos indiviacuteduos e
famiacutelias Para o Brasil mais especificamente a autora defende que ldquoa abordagem de
renda eacute relevante e adequada para o estabelecimento de um crivo baacutesico entre pobres e
natildeo pobres (ou entre indigentes e natildeo-indigentes)rdquo (ROCHA 1998 p 66) A linha de
pobreza (LP) por sua vez pode ser determinada de maneira arbitraacuteria (1U$ ou 2U$dia
por exemplo) o que permite comparaccedilotildees internacionais ou pode ser estabelecida a
partir da observacircncia das caracteriacutesticas soacutecio-econocircmicas principalmente as
relacionadas ao consumo de indiviacuteduos num dado contexto social Este uacuteltimo
procedimento requer a disponibilidade de dados populacionais para seroperacionalizado o que no caso brasileiro natildeo implica em dificuldade e de fato tem sido
realizado em funccedilatildeo das PNADs (Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar) e das
POFs (Pesquisa Orccedilamentaacuteria Familiar)
A distribuiccedilatildeo de despesas permite melhor captar a condiccedilatildeo de vida dascamadas de mais baixa renda Em consequumlecircncia as melhores estimativas depobreza satildeo aquelas derivadas inteiramente dos dados de pesquisas deorccedilamentos familiares (ROCHA 1998 p 59)
Esta visatildeo embora permita a mensuraccedilatildeo do fenocircmeno da pobreza para grandes
populaccedilotildees foi e continua sendo duramente criticada Uma das primeiras criacuteticas partiudo enfoque das ldquonecessidades baacutesicas insatisfeitasrdquo para quem os ldquopobresrdquo satildeo as
pessoas cujo consumo de bens e serviccedilos natildeo atinge ao miacutenimo necessaacuterio8 Este
7 Programa Bolsa Escola Programa Bolsa Alimentaccedilatildeo Auxiacutelio Gaacutes Programa Nacional de Acesso agraveAlimentaccedilatildeo PETI8 Pode-se dizer que o PBF adota esta perspectiva quando do enfrentamento da pobreza ao adotarcondicionalidades que se datildeo no ambito da educaccedilatildeo e da sauacutede mas natildeo como criteacuterio de elegibilidade
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 921
ldquomiacutenimo necessaacuteriordquo diz respeito aos serviccedilos baacutesicos de sauacutede educaccedilatildeo transporte
habitaccedilatildeo dentre outros mas tambeacutem a processos de natureza psico-social como
participaccedilatildeo auto-estima e autonomia Desta forma o conceito de pobreza eacute relativizado
e a consequumlente condiccedilatildeo de pobreza varia de acordo com o contexto social em que as
pessoas se encontram inseridas No entanto embora tal perspectiva possa sercaracterizada como multidimensional e aponte para a inter-relaccedilatildeo existente entre as
diversas carecircncias ainda acaba por privilegiar os aspectos materiais da vida social
estabelecendo um limite de corte entre ldquopobresrdquo e ldquonatildeo pobresrdquo a partir de miacutenimos
sociais
Bronzo (2005) aponta que o grande divisor de aacuteguas nas perspectivas sobre o
fenocircmeno da pobreza pode ser encontrado no trabalho de Amartya Sen que define a
pobreza como carecircncia ou privaccedilatildeo de capacidades Nesse sentido ldquopobresrdquo seriam
aqueles que ldquocarecem de capacidades baacutesicas para operarem no meio social quecarecem de oportunidades para alcanccedilar niacuteveis minimamente aceitaacuteveis de realizaccedilatildeo o
que pode independer da renda que os indiviacuteduos possuemrdquo (Bronzo p 42) Os recursos
monetaacuterios nesse ponto de vista satildeo um meio para atingir o bem-estar e natildeo o bem-
estar em si dado que a renda pode permitir a realizaccedilatildeo de uma capacidade Ou seja o
ponto central aqui eacute a capacidade e natildeo a renda o que faz com que o eixo do enfoque
seja o de pensar a ampliaccedilatildeo das capacidades baacutesicas para que as pessoas possam levar
uma vida digna Em outras palavras se a perspectiva monetarista prioriza os recursos
privados aos quais os indiviacuteduos tecircm acesso o enfoque das capacidades busca examinar
a vida que os indiviacuteduos podem ter inserindo o aspecto da liberdade no centro da
discussatildeo Esta abordagem no entanto ainda se limita a pensar o fenocircmeno sob a oacutetica
individualista na medida em que trata diretamente das capacidades que os indiviacuteduos
podem ter para o exerciacutecio da liberdade
Um marco no estudo da pobreza surgiu a partir da adoccedilatildeo do conceito de
ldquoexclusatildeordquo em especial a partir dos anos 80 na Europa quando o conceito passa a ser
vinculado a processos de instabilidade das relaccedilotildees sociais mais especificamente dos
viacutenculos entre os indiviacuteduos e a sociedade tomando como referecircncia central a dimensatildeo
do trabalho Fica claro nessa perspectiva a influecircncia do pensamento durkheimiano
em especial a ideacuteia de que a densidade dos laccedilos sociais eacute de fundamental importacircncia
para a manutenccedilatildeo da coesatildeo e da ordem A categoria ldquotrabalhordquo ganha relevacircncia
para o recebimento do benefiacutecio
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1021
central na medida em que passa a ser considerado como o principal mecanismo de
sociabilidade para aleacutem dos grupos primaacuterios ficando evidente que a condiccedilatildeo de
desemprego e de trabalho precaacuterio tecircm consequecircncias para aleacutem da renda
enfraquecendo laccedilos e redes sociais e provocando o isolamento Gomaacute aponta que ldquola
exclusioacuten implica fracturas en el tejido social la ruptura de ciertas coordenadas baacutesicasde integracioacuten Y en consecuencia la aparicioacuten de una nueva forma de escisioacuten social
en teacuterminos de dentrofuerardquo (Gomaacute 2004 p 4)
Um autor central para este debate eacute Robert Castel que concentra a sua anaacutelise na
importacircncia das trajetoacuterias para a compreensatildeo dos processos de exclusatildeo processo este
que o autor define como desfiliaccedilatildeo Os ldquoinuacuteteis para o mundordquo nas palavras do autor
seriam aquelas ldquopessoas e grupos que se tornaram supranumeraacuterios diante da
atualizaccedilatildeo das competecircncias econocircmicas e sociaisrdquo (Castel p 23) Satildeo assim produto
de alteraccedilotildees que se datildeo no plano econocircmico (em especial no mundo do trabalho) masvistos sob a oacutetica da questatildeo social Ou seja a anaacutelise de Castel privilegia justamente as
relaccedilotildees que articulam a situaccedilatildeo de precariedade econocircmica com a instabilidade social
tornando-se central a ideacuteia de vulnerabilidade que seria a ldquouma zona intermediaacuteria
instaacutevel que conjuga a precariedade do trabalho e a fragilidade dos suportes de
proximidade (Castel p 24)
As dimensotildees econocircmica (estabilidade e regularidade no trabalho) e social
(redes de sociabilidade primaacuteria ndash famiacutelia vizinhanccedila e comunidade) configuram
ldquoquatro zonasrdquo i) integraccedilatildeo diz respeito a uma situaccedilatildeo de emprego estaacutevel e relaccedilotildees
sociais densas ii) vulnerabilidade fragilizaccedilatildeo das condiccedilotildees laborais e relacionais iii)
assistecircncia recebimento de benefiacutecios puacuteblicos que evitam um ldquodesligamentordquo
econocircmico e social iv) desfiliaccedilatildeo que se refere a uma situaccedilatildeo de desemprego e perda
dos laccedilos sociais A coesatildeo social se daacute portanto a partir do equiliacutebrio entre essas
quatro zonas
Um outro autor que merece ser destacado eacute Serge Paugam (2003) que analisa o
processo de exclusatildeo social a partir da atuaccedilatildeo do Sistema de Proteccedilatildeo Social francecircs
Pode-se dizer que um dos grandes meacuteritos do seu trabalho estaacute em ultrapassar as
condiccedilotildees objetivas que definem a condiccedilatildeo de pobreza retomando a tradiccedilatildeo
weberiana ao enfatizar o sentido e o significado que as pessoas atribuem agrave situaccedilatildeo
vivida Mais do que isso o autor se deteacutem sobre a construccedilatildeo de identidades status e
resistecircncia ao estigma daqueles que satildeo designados como ldquopobresrdquo dimensotildees estas de
forte potencial analiacutetico na compreensatildeo do fenocircmeno e do processo de
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1121
desqualificaccedilatildeoexclusatildeo social
Paugam diferencia trecircs grupos que vivem este processo O primeiro ndash os
fragilizados ndash satildeo aqueles que vivem recentemente uma situaccedilatildeo de vulnerabilidade
sem emprego e renda e que resistem em ser incorporados aos programas de proteccedilatildeo
social O segundo ndash os assistidos ndash jaacute fazem parte e satildeo ateacute dependentes dos programasse encontrando em uma situaccedilatildeo de resignaccedilatildeo frente agrave sua condiccedilatildeo social E por
uacuteltimo ndash os marginalizados ndash que natildeo se encontram mais sob assistecircncia governamental
constituindo o uacuteltimo escalatildeo da desqualificaccedilatildeo social
Cabe destacar que a desqualificaccedilatildeo social eacute um processo de marginalizaccedilatildeo de
modo que a perspectiva temporal combinada agrave dimensatildeo relacional ganha relevacircncia
na anaacutelise em questatildeo Em outras palavras o processo depende dos padrotildees de
sociabilidade vigentes num dado contexto sendo a situaccedilatildeo de exclusatildeo definida a partir
dos padrotildees de relaccedilatildeo e ao mesmo tempo produto da configuraccedilatildeo destas mesmasinteraccedilotildees de modo que a matriz do conceito se encontra alicerccedilada na natureza e na
qualidade dos laccedilos sociais Retoma-se aqui as dimensotildees mais subjetivas da condiccedilatildeo
de pobreza ndash perda de auto-estima identidades construiacutedas enfraquecimento dos laccedilos
sociais ndash como fatores de acentuada relevacircncia na manutenccedilatildeo da ordem social e das
redes de reciprocidade e solidariedade Aleacutem disso a introduccedilatildeo da dimensatildeo temporal
permite que a ldquoexclusatildeordquo seja ldquovista como uma dinacircmica e natildeo como um estado o que
valoriza uma compreensatildeo mais ampla do problema e envolve expectativas sobre o
futurordquo (Bronzo p 54)
A OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO CAPITAL SOCIAL
Observamos anteriormente que adotamos a perspectiva de que ele se manifesta via
redes de cooperaccedilatildeo e normas de reciprocidade tal como apontado por Coleman (1990)
Desta forma foi criado por meio de anaacutelise fatorial um Iacutendice de Capital Social para
cada famiacutelia9 a partir de trecircs variaacuteveis que indicam a densidade das relaccedilotildees entre seus
vizinhos o niacutevel de confianccedila e de reciprocidade As variaacuteveis utilizadas na construccedilatildeodo iacutendice foram
1) Com que frequumlecircncia vocecirc diria que as pessoas no bairro ajudam umas agraves outras (1 =
9 Eacute importante ressaltar que embora o iacutendice tenha sido mensurado para cada uma das famiacuteliassupocircs-se que aquelas imersas em contextos de alto capital social teriam mais chances de superarcondiccedilotildees de pobreza que as famiacutelias imersas em contextos de baixo capital social
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1221
nunca ajudam 2 = raramente ajudam 3 = as vezes ajudam 4 = quase sempre ajudam 5
= sempre ajudam)
2) Quantos amigos no bairro vocecirc tem atualmente fora a sua famiacutelia (1 = nenhum 2 =
menos de 3 3 = entre 3 e 5 4 = mais de 5 ateacute 10 6 = mais de 10)
3) Se vocecirc precisar de algum dinheiro ndash em torno de R$ 100 ndash com quantas pessoas no
bairro vocecirc pode contar aleacutem dos seus familiares (1 = nenhuma 2 = 1 ou 2 3 = 3 ou 4
4 = 5 ou 6 5 = 7 ou mais)
A tabela a seguir (matriz de componentes) apresenta os coeficientes ou pesos que
correlaciona as variaacuteveis com o fator(es) A anaacutelise fatorial resultou em apenas um
fator
Matriz de Componentes (output SPSS)
O fator apresentou valor miacutenimo de -154 maacuteximo de 239 e meacutedia de -138
Posteriormente foi ajustado para uma escala entre 0 e 100 apresentando meacutedia de
3924 e desvio padratildeo de 2541 Abaixo temos um histograma do Iacutendice
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1321
IndiceCS
100008000600040002000000
F r e q u e n c i a
50
40
30
20
10
0
Histograma
Histograma da distribuiccedilatildeo de frequecircncia do Iacutendice de Capital Social
(output SPSS) Elaboraccedilatildeo Propria
Hipoacutetese de pesquisa Mesmo controlando pela variaacutevel de escolaridade do chefe e
pelo nuacutemero de moradores no domiciacutelio famiacutelias que se encontram em contextos de
alto capital social tecircm maiores chances de superar condiccedilotildees de pobreza do que as
famiacutelias que se encontram em contextos de baixo capital social
Variaacutevel dependente variaacutevel indicadora dummy em que 0 = famiacutelias com renda per capita abaixo ou igual agrave linha de pobreza do PBF (R$
12000)
1 = famiacutelias com renda per capita superior agrave linha de pobreza do PBF
Variaacuteveis independentes
- escolaridade do chefe (em anos)
- gecircnero do chefe indicadora em que 0 = feminino e 1 = masculino
- se o chefe trabalha indicadora em que 0 = natildeo trabalha e 1 = trabalha- idade do chefe (em anos)
- idade do chefe ao quadrado (idade2)
- se algueacutem na famiacutelia recebe algum tipo de aposentadoria ou benefiacutecio do governo
indicadora em que 0 = natildeo e 1 = sim
- Capital Social Iacutendice de Capital social (valores entre 0 e 100)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1421
O modelo ln[ P (acima da LP = 1) (1 ndash P (acima da LP = 1)] = β0 + β1 (Iacutendice CS) +
β2 (idade do chefe) + β3 (idade do chefe2) + β4 (escolaridade do chefe) + β5 (gecircnero do
chefe) + β6 (trabalha) + β7 (aposentadoriabenefiacutecio)
983126983137983154983145983265983158983141983145983155 983106 983123983145983143
983245983150983140983145983139983141 983107983123 0014 000983095 14
983113983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 011983093 000983095 122
9831139831409831379831409831412 9830850001 00983094 98308501
983109983155983139983151983148983137983154983145983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 0124 000983093 132
983111983274983150983141983154983151 983140983151 983139983144983141983142983141 983085010983095 09830949830973 983085101
983124983154983137983138983137983148983144983137 1983097983095983094 0 98309421983094
983105983152983151983155983141983150983156983137983140983151983154983145983137983106983141983150983141983142983277983139983145983151 1233 0001 2431
983107983151983150983155983156983137983150983156983141 9830854983096983096983093 0
983118983137983143983141983148983147983141983154983147983141 9831222 0301
983107983151983160 983141 983123983150983141983148983148 9831222 022
983118 40983097
983122983141983155983157983148983156983137983140983151 983140983151 983149983151983140983141983148983151 983140983141 983154983141983143983154983141983155983155983267983151 983148983151983143983277983155983156983145983139983137 983085 983114983137983154983140983145983149
983124983141983154983141983155983283983152983151983148983145983155 983090983088983088983094
Fonte Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim Teresoacutepolis ndash 2006 Dados trabalhados
pelos autores
Os resultados da regressatildeo logiacutestica nos permitiram afirmar que o fato da famiacutelia
se encontrar imersa em contextos de alto capital social aumenta sua chance de
superaccedilatildeo das condiccedilotildees de pobreza o que confirmou a hipoacutetese a 1 de significacircncia
estatiacutestica (p = 000 lt 001) O aumento de 1 ponto no iacutendice de capital social eleva em
14 as chances de a famiacutelia superar a LP A tiacutetulo de ilustraccedilatildeo temos por exemplo
que uma famiacutelia com Iacutendice = 80 ndash ou seja imersa em contexto de alto capital social ndash
tem 112 a mais de chance de superar a LP que uma famiacutelia com Iacutendice = 0 ndash contexto
de capital social ldquoinexistenterdquo ndash e 84 a mais de chance do que uma famiacutelia com Iacutendice
= 20 ndash imersa em contexto de baixo capital social
Percebemos assim que o capital social tem uma grande influencia sobre as
possibilidades de uma famiacutelia superar a linha de pobreza No entanto acreditamos
tambeacutem que esta superaccedilatildeo se daacute de forma marginal e que o fato de uma famiacutelia se
encontrar em contexto de alto capital social no interior de uma comunidade vulneraacutevel e
estigmatizada como o Jardim Teresoacutepolis pouca influencia tem sobre as possibilidades
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1521
da famiacutelia superar em larga escala a linha de pobreza A tabela abaixo apresenta os
resultados da regressatildeo de MQO para o logaritmo da renda per capita O objetivo era
avaliar o efeito do capital social sobre a renda das famiacutelias diretamente As variaacuteveis
teste e controle satildeo as mesmas utilizadas no modelo de regressatildeo logiacutestica
983126983137983154983145983265983158983141983145983155 983106 983123983145983143
983245983150983140983145983139983141 983107983123 0003 0 03
983113983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 0031 0 31
9831139831409831379831409831412 000 0002 000
983109983155983139983151983148983137983154983145983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 003983097 0 3983097
983111983274983150983141983154983151 983140983151 983139983144983141983142983141 0001 09830979830962 132
983124983154983137983138983137983148983144983137 029830934 0 29830934983105983152983151983155983141983150983156983137983140983151983154983145983137983106983141983150983141983142983277983139983145983151 02983094983093 0 2983094983093
983107983151983150983155983156983137983150983156983141 344983093 0
9831222 033
9831222 983105983146983157983155983156983137983140983151 031983094
983118 40983097
983122983141983155983157983148983156983137983140983151 983140983151 983149983151983140983141983148983151 983140983141 983154983141983143983154983141983155983155983267983151 983140983141 983117983121983119
Fonte Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim Teresoacutepolis ndash 2006 Dados
trabalhados pelos autores
Os resultados da regressatildeo de MQO confirmam a ideacuteia apresentada acima Se porum lado o capital social tem grande influencia na possibilidade da superaccedilatildeo da linha de
pobreza por outro esta superaccedilatildeo se daacute de forma marginal 1 ponto a mais no Iacutendice de
Capital Social aumenta em 03 a renda total da famiacutelia Numa comunidade em que a
meacutedia da renda per capita domiciliar eacute de R$24348 e que 724 das famiacutelias tem renda
per capita de ateacute 2 vezes a linha de pobreza do PBF (R$24000) este aumento embora
muito significativo para as famiacutelias no que se refere ao consumo pode ser considerado
pouco expressivo em termos de mobilidade social
DISCUSSAtildeO
Este trabalho buscou analisar a relaccedilatildeo existente entre capital social e pobreza
num territoacuterio de alta vulnerabilidade social o bairro jardim Teresoacutepolis em Betim
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1621
Regiatildeo Metropolitana de Belo Horizonte - MG a partir de anaacutelise estatiacutestica com dados
de um survey realizado na regiatildeo em 2006 Embora tenha utilizado as famiacutelias como
unidade de analise a perspectiva de capital social de Coleman permitiu observar o
contexto imediato em que se encontravam inseridas sem tratar o capital social como
propriedade individual Em outras palavras mostramos que as relaccedilotildees sociais nessecontexto podem ser identificadas a partir de como os indiviacuteduos as percebem sem
incorrermos em uma anaacutelise demasiado micro dos fenocircmenos sociais em que as accedilotildees
individuais satildeo vistas como fruto de um caacutelculo estrateacutegico visando otimizar meios e
fins Atestamos assim a importacircncia de se abordar os fenocircmenos sociais a partir de
uma perspectiva relacional evitando tratar os indiviacuteduos como seres atomizados como
bem apontou Granovetter
E em que medida os resultados acima podem trazer uma contribuiccedilatildeo para a
reflexatildeo sobre o estudo de poliacuteticas de renda miacutenima e mais especificamente doPrograma Bolsa Famiacutelia Em primeiro lugar a influecircncia das redes sociais na superaccedilatildeo
das condiccedilotildees de pobreza atesta a relevacircncia de se adotar uma perspectiva relacional do
fenocircmeno Em outras palavras a condiccedilatildeo de pobreza tambeacutem deve ser vista sob a oacutetica
das relaccedilotildees sociais e de como estas podem influenciar o acesso a recursos diversos por
um lado e de como famiacutelias que se encontram abaixo da LP tendem a estar imersas em
redes menos densas e por isso se tornam mais propensas a um processo de exclusatildeo
social por outro Como bem aponta Marques (2007)
O acesso dos indiviacuteduos agraves estruturas de oporunidades que conduzem agravescondiccedilotildees sociais em geral e agraves situaccedilotildees de pobreza em particular eacutemediado pelos padrotildees de relaccedilatildeo que esses indiviacuteduos tecircm com outrosindiviacuteduos e com organizaccedilotildees de variados tipos (Marques 2007 p 36)
Os sociogramas abaixo apresentam simulaccedilotildees de uma famiacutelia imersa em
contextos de alto capital social (Sogiograma 1) e de outra imersa em contexto de baixo
capital social (Sogiograma 2)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1721
FIGURA 1 Sociograma de contexto de altocapital social no interior do Jardim
Teresoacutepolis
FIGURA 2 Sociograma de contexto de baixo capital social nointerior do jardim Teresoacutepolis
Podemos dizer que a famiacutelia ldquoGrdquo em funccedilatildeo da disponibilidade de recursos que
fluem ao longo da rede em que se encontra inserida (contexto de alto capital social) tem
acesso a condiccedilotildees de vida menos desfavoraacuteveis estando acima da LP Jaacute a famiacutelia ldquoErdquo
imersa em uma rede com poucos contatos e de baixa densidade (contexto de baixo
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1821
capital social) natildeo tem agrave sua disposiccedilatildeo recursos que poderiam ter as relaccedilotildees sociais
como origem
Outro aspecto que diz respeito ao Programa Bolsa Famiacutelia em si mas que se
encontra diretamente relacionado ao ponto acima eacute o fato de que o programa parece
atender justamente aqueles imersos em contextos de baixo capital social Nesse sentido
como bem apontaram Sachs e Lages (2001) embora devamos tomar cuidado para natildeo
tratar o capital social como uma ldquoquase-ideologia do desenvolvimentordquo sugere-se que o
desenho institucional do programa poderia enfatizar programas complementares de
potencializaccedilatildeo de redes sociais Natildeo estamos adotando aqui uma perspectiva ndash
ingecircnua na nossa opiniatildeo ndash de que eacute como se fosse possiacutevel ldquodar uma injeccedilatildeo de capital
socialrdquo em determinadas comunidades Antes disso pensamos que haacute formas de se
incentivar o desenho de ambientes e situaccedilotildees propiacutecias agrave criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de
solidariedade social no sentido durkheimiano do termo que possibilitaria a formaccedilatildeo
de coletividades mais coesas inibindo as chances de um processo de exclusatildeo social
Outro apontamento se refere agrave natureza dos laccedilos sociais Embora neste trabalho
tenhamos trabalhado as redes sociais do ponto de vista dos ldquolaccedilos fortesrdquo no interior de
uma comunidade ndash mensurados a partir da frequumlecircncia de contato confianccedila muacutetua e
reciprocidade ndash eacute de fundamental importacircncia que se pense tambeacutem de que forma as
redes sociais vista sob a oacutetica dos ldquolaccedilos fracosrdquo (Granovetter 2000) ndash ou pontes ndash se
relaciona com o tema das poliacuteticas de renda miacutenima
Bibliografia
BRONZO C Programas de proteccedilatildeo social e superaccedilatildeo da pobreza concepccedilotildees e
estrateacutegias de intervenccedilatildeo FAFICHUFMG - 2005
CASTEL Robert As metamorfoses da questatildeo social uma crocircnica do salaacuterio 4ordm
ed RJ Editora Vozes 1998
COLEMAN J Foundations of social theory Cambridge Harvard University
Press 1990
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1921
FIALHO F M ldquoCapital Social usos e definiccedilotildees do conceito nas Ciecircncias
Sociaisrdquo Revista Trecircs Pontos 10 p 31-35 Bel Horizonte 2004
FUNDACcedilAtildeO JOAtildeO PINHEIRO ndash Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim
Teresoacutepolis ndash Relatoacuterio de Pesquisa 2006
GOMAacute R Processos de exclusatildeo e poliacuteticas de inclusatildeo social algumas
reflexotildees conceituais In Bronzo Carla Costa Bruno Gestatildeo Social o que haacute de novo
Belo Horizonte 2004
GRANOVETTER M S Accedilatildeo Econocircmica e Estrutura Social o problema da
imersatildeo Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Eletrocircnica Satildeo Paulo v 6 n 1 art 5
janjun 2007
_____________________ La fuerza de los viacutenculos deacutebiles Poliacutetica y sociedad
p 41-56 Traduccedilatildeo de Maria Angeles Verdasco Madrid 2000
HIGGINS S S Fundamentos teoacutericos do capital social Argos Chapecoacute 2005
MARQUES E Redes Sociais segregaccedilatildeo e pobreza em Satildeo Paulo Tese de
Livre Docecircncia USP 2007
PAUGAM S Desqualificaccedilatildeo social Ensaio sobre a nova pobreza SP Cortez
2003
PORTES A Capital Social Origens e aplicaccedilotildees na sociologia contemporacircnea
Sociologia Problemas e Praacuteticas nuacutemero 33 p 133-158 Traduccedilatildeo de Frederico Aacutegoas
Lisboa 2000
PRATES A A P et al Capital Social e Laccedilos Fracos Influencia no acesso a
benefiacutecios em comunidades carentes de Belo Horioznte Relatoacuterio de Pesquisa
UFMGFAFICH Belo Horioznte 2008
PUTNAM R Comunidade e Democracia a experiecircncia da Itaacutelia moderna Rio
de Janeiro FGV 1996
ROCHA S Renda e Pobreza ndash Medidas per capita versus adulto-equivalente Rio
de Janeiro IPEA Nov 1998 (Texto para Discussatildeo 609)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 2021
SACHS I LAGES V N Capital Social e desenvolvimento novidade para
quem IN CONFERENCIA REGIONAL SOBRE CAPITAL SOCIAL E POBREZA
2001 Anais Santiago Chile CEPAL Univeridad del estado de Michigan 2001
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 2121
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 421
cultura ciacutevica4 jaacute bastante difundido na teoria poliacutetica ldquoos sistemas de cultura ciacutevica
satildeo uma forma essencial de capital socialrdquo (Putnam 1996 p 183) Para aleacutem disso
percebemos tambeacutem um traccedilo eminentemente normativo na definiccedilatildeo do conceito uma
vez que o autor estabelece uma relaccedilatildeo inevitaacutevel entre a presenccedila de capital social e
praacuteticas culturais orientadas por um ethos ciacutevico na busca pelo ldquobem comumrdquoColeman (1990) aporta uma visatildeo distinta e eacute na teoria das redes que encontramos
os fundamentos que sustentam sua formulaccedilatildeo Nessa em que se destaca o artigo de
Granovetter (2007) Accedilatildeo econocircmica e estrutura social ndash o problema da imersatildeo a accedilatildeo
individual natildeo eacute vista nem como simples fruto do caacutelculo racional auto-interessado
(concepccedilatildeo sub-socializada) tampouco como resultado mecacircnico do constrangimento
estrutural (concepccedilatildeo super-socializada) Ambas segundo Granovetter nos apresentam
uma abordagem atomizada do indiviacuteduo desconsiderando o contexto imediato em que
os atores estatildeo inseridos a saber as relaccedilotildees sociais com seus pares ldquoO argumento daimersatildeo enfatiza por sua vez o papel das relaccedilotildees pessoais concretas e as estruturas (ou
ldquoredesrdquo) dessas relaccedilotildees na origem da confianccedila e no desencorajamento da maacute feacuterdquo
(Granovetter 2007 p 10) A confianccedila portanto enquanto atributo indispensaacutevel agrave
existecircncia de capital social surge como fruto das relaccedilotildees concretas estabelecidas pelos
atores no interior das redes sociais Para Coleman o capital social tambeacutem eacute um recurso
que pode ser utilizado pelo individuo mas que se encontra nas redes de relacionamento
sendo algo inerente a estrutura das relaccedilotildees sociais sustentado por expectativas e
obrigaccedilotildees de reciprocidade Tem assim caracteriacutestica de um bem publico ou seja
todos que compotildeem a rede podem dele utilizar mas natildeo eacute passiacutevel de ser apropriado
individualmente O capital social nesta perspectiva se define pela sua funccedilatildeo sendo
que esta consiste em ldquo facilitar a realizaccedilatildeo de objetivos que natildeo poderiam ser
alcanccedilados em sua ausecircncia ou que poderiam ser alcanccedilados somente sob um alto
custordquo (Coleman 1990 p 304 traduccedilatildeo nossa) Esta definiccedilatildeo permite observar
situaccedilotildees nas quais as accedilotildees dos indiviacuteduos satildeo facilitadas pelo fato destes estarem
imersos em uma rede de relaccedilotildees sociais densa A densidade das redes estaacute relacionada
tanto ao grau de proximidade e contato entre os indiviacuteduos quanto ao grau de
interdependecircncia entre eles Satildeo contextos onde segundo Coleman pode emergir no
interior da estrutura seis diferentes formas de capital social obrigaccedilotildees e expectativas
fontes e canais de informaccedilotildees potenciais normas e sanccedilotildees efetivas relaccedilotildees de
4 Cultura ciacutevica seria a ldquodisposiccedilatildeo dos indiviacuteduos em participar de grupos associaccedilotildees e accedilotildees coletivasque buscam objetivos socialmente positivosrdquo (Almond amp Verba 1963 in Fialho 2004 p 33)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 521
autoridade organizaccedilotildees sociais apropriaacuteveis organizaccedilatildeo intencional Todas essas
formas facilitam a accedilatildeo individual e tornam possiacutevel a mobilizaccedilatildeo da estrutura de
relaccedilotildees pelo indiviacuteduo (Fialho 2004)
Embora seja critico ao conceito de Coleman em grande medida Portes afirma
que um dos meacuteritos dessa perspectiva estaacute no conceito de closure que diz respeito ldquoagraveexistecircncia entre um certo nuacutemero de pessoas de laccedilos suficientes para garantir a
observacircncia de normasrdquo (Portes 2000 p 137) As criacuteticas por outro lado apontam
algumas limitaccedilotildees A primeira diz respeito ao fato de que a forma como o conceito foi
elaborado seria vago abrindo caminho para que processos diferentes ndash e mesmo
contraditoacuterios ndash passassem a ser designados como ldquocapital socialrdquo Para Portes o
proacuteprio Coleman deu iniacutecio a esta proliferaccedilatildeo na medida em que inclui no corpo do
conceito alguns dos mecanismos geradores do capital social (como as expectativas de
reciprocidade e as normas grupais) suas consequumlecircncias (como o acesso a informaccedilotildeesdiferenciadas) e a organizaccedilatildeo social como loacutecus da realizaccedilatildeo de ambos
Prates et allii (2007) apontam que se Putnam pode ser definido como pertencente
a uma tradiccedilatildeo normativo-associativista em Coleman o que percebemos eacute uma
perspectiva interacionista que focaliza as relaccedilotildees sociais como aspecto essencial do
conceito Aleacutem desta vantagem observamos uma neutralidade valorativa na sua
definiccedilatildeo uma vez que Coleman natildeo associa o conceito de capital social com praacuteticas
orientadas por valores ldquosocialmente positivosrdquo A tiacutetulo de ilustraccedilatildeo natildeo seria
contraditoacuterio apontar com base na definiccedilatildeo de Coleman existecircncia de capital social
em grupos os quais as praacuteticas satildeo consideradas como opostas a tais valores (redes de
narcotraacutefico grupos terroristas ou mesmo a maacutefia italiana por exemplo) Fialho (2004)
aponta com clareza a vantagem teoacuterica do conceito de Coleman
Por tratar o capital social como um aspecto das relaccedilotildees sociais e natildeo comoum valor em si (como faz Putnam ao confundir os conceitos de capital sociale civismo) Coleman advoga a neutralidade moral do termo uma vez que ocapital social eacute encarado como um recurso fornecido pela estrutura social enatildeo como uma causa ou motivo para a accedilatildeo individual ou coletiva (Fialho
200433-34)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 621
O BAIRRO JARDIM TERESOacutePOLIS5
O bairro Jardim Teresoacutepolis contava no ano de 2006 com uma populaccedilatildeo
aproximada de 30 mil habitantes e uma densidade populacional de 35631
habitanteskm2 Atualmente constitui uma das aacutereas mais carentes da cidade de Betime a grande maioria das residecircncias ainda se encontra em estado precaacuterio sendo que
871 natildeo tecircm regularizaccedilatildeo junto agrave prefeitura No que se refere agraves condiccedilotildees de
habitaccedilatildeo e de infra-estrutura urbana os dados satildeo relativamente positivos com um
percentual baixo da populaccedilatildeo sem o atendimento de suas necessidades baacutesicas de
moradia
Quanto agrave seguranccedila alimentar 11 dos domiciacutelios jaacute apresentou caso de
desnutriccedilatildeo na famiacutelia Nos relatos sobre o tema um morador disse que natildeo passa fome
porque a galinha bota ovo todo dia Uma moradora disse comer mingau todo dia e
outro alegou que natildeo tem com o que comprar comida mas que diz ldquoter feacute em Deus de
que Ele natildeo permitiria que sua famiacutelia passasse fomerdquo Outros disseram passar fome
algumas vezes e ter o que comer na casa dos vizinhos Embora essa questatildeo natildeo tenha
sido quantificada natildeo satildeo casos isolados e espelham uma vulnerabilidade fundamental
que diz respeito ao acesso ao alimento e a condiccedilotildees baacutesicas de sobrevivecircncia
A percepccedilatildeo da violecircncia tambeacutem eacute alta entre os moradores 735 jaacute
testemunharam crime ou conhecem viacutetimas ou tecircm medo de ir a algum lugar no bairro
Em mais de 62 dos questionaacuterios existiram relatos negativos sobre a violecircncia no
bairro traacutefico de drogas aacutereas de circulaccedilatildeo interditada perigos e ameaccedilas de se morar
na regiatildeo A referecircncia a brigas de gangues em funccedilatildeo do traacutefico de drogas foi
constante Habitantes de uma parte do territoacuterio por exemplo natildeo podem circular
livremente em outra Mais de 5 afirmaram ser proibido circular em determinados
locais e mais de 24 relataram risco de agressatildeo e assalto como motivos para natildeo
circularem em aacutereas especiacuteficas
Com relaccedilatildeo ao vinculo e inserccedilatildeo no trabalho para os chefes de famiacutelia em idade
entre 15 e 65 anos 118 estatildeo desempregados e procuram emprego enquanto que
quase 3 estatildeo desempregados e natildeo procuram mais emprego 641 trabalham sendo
5 Os dados aqui apresentados acerca das caracteriacutesticas soacutecio-demograacuteficas do bairro Jardim Teresoacutepolisforam retirados do Relatoacuterio de Pesquisa ldquoPobreza e Vulnerabilidade no Jardim Teresoacutepolisrdquo FJP2006Neste relatoacuterio tambeacutem eacute possiacutevel encontrar detalhadamente informaccedilotildees sobre a metodologia utilizadana pesquisa
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 721
que desse total 34 trabalham sem viacutenculo ou por conta proacutepria e 66 trabalham com
viacutenculo CLT Quanto agrave renda tem-se que para um total de 409 domiciacutelios 151 (369)
se encontravam abaixo e 258 (431) se encontravam acima da linha de pobreza per
capita6 sendo que a meacutedia da renda per capita eacute de R$24348
O PROGRAMA BOLSA FAMIacuteLIA E O FENOcircMENO DA POBREZA
O Programa Bolsa Famiacutelia foi criado pelo governo federal brasileiro em 2003
com o objetivo de unificar a gestatildeo e a implementaccedilatildeo de quatro (depois cinco) poliacuteticas
de transferecircncia de renda7 agraves famiacutelias mais pobres do paiacutes Uma das mudanccedilas mais
importantes desse processo foi a adoccedilatildeo de um sistema de cadastro nacional das
famiacutelias elegiacuteveis a participarem de programas do governo federal o CadUacutenico que
permite uma melhor focalizaccedilatildeo dos programas Atualmente atende a um nuacutemeroaproximado de 117 milhotildees de famiacutelias como jaacute mencionado
O principal objetivo do programa eacute romper com a reproduccedilatildeo inter-geracional da
pobreza atraveacutes de transferecircncias monetaacuterias de renda agraves famiacutelias que satildeo classificadas
como ldquopobresrdquo ou ldquoextremamente pobresrdquo permitindo assim um aliacutevio imediato da
pobreza bem como o exerciacutecio de direitos sociais baacutesicos nas aacutereas de educaccedilatildeo e
sauacutede As condicionalidades para o recebimento dos benefiacutecios se datildeo atraveacutes da
exigecircncia de uma frequumlecircncia escolar miacutenima dos jovens ndash 85 para os de 6 a 15 anos e
75 para aqueles entre 16 e 17 anos ndash da atualizaccedilatildeo do cartatildeo vacinal do
acompanhamento das gestantes e por fim do acompanhamento de accedilotildees soacutecio-
educativas para crianccedilas em situaccedilatildeo de trabalho infantil
Satildeo trecircs os tipos de benefiacutecio cujos valores variam de R$2200 e R$20000
a) benefiacutecio baacutesico ndash R$ 6800 transferido agraves famiacutelias consideradas como
ldquoextremamente pobresrdquo independente da presenccedila ou natildeo de crianccedilas ou
gestantes no domiciacutelio
b) Benefiacutecio variaacutevel ndash R$2200 transferido agraves famiacutelias ldquopobresrdquo desde quetenham crianccedilas com idade de ateacute 15 anos Cada famiacutelia pode receber no
maacuteximo 3 benefiacutecios deste tipo (maacuteximo de R$ 6600)
6 Para estimar a LP utilizou-se o mesmo criteacuterio utilizado pelo Programa Bolsa Famiacutelia em 2006 Ouseja famiacutelias com renda per capita ateacute R$12000 foram consideradas como ldquopobresrdquo e aquelas com rendaper capita acima desse valor foram consideradas como ldquonatildeo pobresrdquo
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 821
c) Benefiacutecio Variaacutevel vinculado ao adolescente (BVVA) ndash R$ 3300 transferido a
todas as famiacutelias do programa que tenham adolescentes entre 16 e 17 anos
frequumlentando a escola Cada famiacutelia pode receber ateacute dois BVVA (R$ 6600)
Como mencionado a classificaccedilatildeo das famiacutelias como ldquopobresrdquo ou
ldquoextremamente pobresrdquo de modo a tornaacute-las participantes em potencial do programa
segue uacutenica e exclusivamente o criteacuterio da renda familiar per capita No entanto a
literatura que trata do fenocircmeno da pobreza apresenta inuacutemeras abordagens tanto no
que se refere agrave definiccedilatildeo do conceito de ldquopobrezardquo como tambeacutem na sua mensuraccedilatildeo e
nas consequumlentes alternativas para o seu enfrentamento
Rocha (1998) defende que para contextos onde eacute alto o percentual da populaccedilatildeo
urbana e com economia largamente monetizada a variaacutevel renda tendo como referecircncia
uma linha de pobreza deve ser tomada como uma proxy do bem estar dos indiviacuteduos e
famiacutelias Para o Brasil mais especificamente a autora defende que ldquoa abordagem de
renda eacute relevante e adequada para o estabelecimento de um crivo baacutesico entre pobres e
natildeo pobres (ou entre indigentes e natildeo-indigentes)rdquo (ROCHA 1998 p 66) A linha de
pobreza (LP) por sua vez pode ser determinada de maneira arbitraacuteria (1U$ ou 2U$dia
por exemplo) o que permite comparaccedilotildees internacionais ou pode ser estabelecida a
partir da observacircncia das caracteriacutesticas soacutecio-econocircmicas principalmente as
relacionadas ao consumo de indiviacuteduos num dado contexto social Este uacuteltimo
procedimento requer a disponibilidade de dados populacionais para seroperacionalizado o que no caso brasileiro natildeo implica em dificuldade e de fato tem sido
realizado em funccedilatildeo das PNADs (Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar) e das
POFs (Pesquisa Orccedilamentaacuteria Familiar)
A distribuiccedilatildeo de despesas permite melhor captar a condiccedilatildeo de vida dascamadas de mais baixa renda Em consequumlecircncia as melhores estimativas depobreza satildeo aquelas derivadas inteiramente dos dados de pesquisas deorccedilamentos familiares (ROCHA 1998 p 59)
Esta visatildeo embora permita a mensuraccedilatildeo do fenocircmeno da pobreza para grandes
populaccedilotildees foi e continua sendo duramente criticada Uma das primeiras criacuteticas partiudo enfoque das ldquonecessidades baacutesicas insatisfeitasrdquo para quem os ldquopobresrdquo satildeo as
pessoas cujo consumo de bens e serviccedilos natildeo atinge ao miacutenimo necessaacuterio8 Este
7 Programa Bolsa Escola Programa Bolsa Alimentaccedilatildeo Auxiacutelio Gaacutes Programa Nacional de Acesso agraveAlimentaccedilatildeo PETI8 Pode-se dizer que o PBF adota esta perspectiva quando do enfrentamento da pobreza ao adotarcondicionalidades que se datildeo no ambito da educaccedilatildeo e da sauacutede mas natildeo como criteacuterio de elegibilidade
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 921
ldquomiacutenimo necessaacuteriordquo diz respeito aos serviccedilos baacutesicos de sauacutede educaccedilatildeo transporte
habitaccedilatildeo dentre outros mas tambeacutem a processos de natureza psico-social como
participaccedilatildeo auto-estima e autonomia Desta forma o conceito de pobreza eacute relativizado
e a consequumlente condiccedilatildeo de pobreza varia de acordo com o contexto social em que as
pessoas se encontram inseridas No entanto embora tal perspectiva possa sercaracterizada como multidimensional e aponte para a inter-relaccedilatildeo existente entre as
diversas carecircncias ainda acaba por privilegiar os aspectos materiais da vida social
estabelecendo um limite de corte entre ldquopobresrdquo e ldquonatildeo pobresrdquo a partir de miacutenimos
sociais
Bronzo (2005) aponta que o grande divisor de aacuteguas nas perspectivas sobre o
fenocircmeno da pobreza pode ser encontrado no trabalho de Amartya Sen que define a
pobreza como carecircncia ou privaccedilatildeo de capacidades Nesse sentido ldquopobresrdquo seriam
aqueles que ldquocarecem de capacidades baacutesicas para operarem no meio social quecarecem de oportunidades para alcanccedilar niacuteveis minimamente aceitaacuteveis de realizaccedilatildeo o
que pode independer da renda que os indiviacuteduos possuemrdquo (Bronzo p 42) Os recursos
monetaacuterios nesse ponto de vista satildeo um meio para atingir o bem-estar e natildeo o bem-
estar em si dado que a renda pode permitir a realizaccedilatildeo de uma capacidade Ou seja o
ponto central aqui eacute a capacidade e natildeo a renda o que faz com que o eixo do enfoque
seja o de pensar a ampliaccedilatildeo das capacidades baacutesicas para que as pessoas possam levar
uma vida digna Em outras palavras se a perspectiva monetarista prioriza os recursos
privados aos quais os indiviacuteduos tecircm acesso o enfoque das capacidades busca examinar
a vida que os indiviacuteduos podem ter inserindo o aspecto da liberdade no centro da
discussatildeo Esta abordagem no entanto ainda se limita a pensar o fenocircmeno sob a oacutetica
individualista na medida em que trata diretamente das capacidades que os indiviacuteduos
podem ter para o exerciacutecio da liberdade
Um marco no estudo da pobreza surgiu a partir da adoccedilatildeo do conceito de
ldquoexclusatildeordquo em especial a partir dos anos 80 na Europa quando o conceito passa a ser
vinculado a processos de instabilidade das relaccedilotildees sociais mais especificamente dos
viacutenculos entre os indiviacuteduos e a sociedade tomando como referecircncia central a dimensatildeo
do trabalho Fica claro nessa perspectiva a influecircncia do pensamento durkheimiano
em especial a ideacuteia de que a densidade dos laccedilos sociais eacute de fundamental importacircncia
para a manutenccedilatildeo da coesatildeo e da ordem A categoria ldquotrabalhordquo ganha relevacircncia
para o recebimento do benefiacutecio
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1021
central na medida em que passa a ser considerado como o principal mecanismo de
sociabilidade para aleacutem dos grupos primaacuterios ficando evidente que a condiccedilatildeo de
desemprego e de trabalho precaacuterio tecircm consequecircncias para aleacutem da renda
enfraquecendo laccedilos e redes sociais e provocando o isolamento Gomaacute aponta que ldquola
exclusioacuten implica fracturas en el tejido social la ruptura de ciertas coordenadas baacutesicasde integracioacuten Y en consecuencia la aparicioacuten de una nueva forma de escisioacuten social
en teacuterminos de dentrofuerardquo (Gomaacute 2004 p 4)
Um autor central para este debate eacute Robert Castel que concentra a sua anaacutelise na
importacircncia das trajetoacuterias para a compreensatildeo dos processos de exclusatildeo processo este
que o autor define como desfiliaccedilatildeo Os ldquoinuacuteteis para o mundordquo nas palavras do autor
seriam aquelas ldquopessoas e grupos que se tornaram supranumeraacuterios diante da
atualizaccedilatildeo das competecircncias econocircmicas e sociaisrdquo (Castel p 23) Satildeo assim produto
de alteraccedilotildees que se datildeo no plano econocircmico (em especial no mundo do trabalho) masvistos sob a oacutetica da questatildeo social Ou seja a anaacutelise de Castel privilegia justamente as
relaccedilotildees que articulam a situaccedilatildeo de precariedade econocircmica com a instabilidade social
tornando-se central a ideacuteia de vulnerabilidade que seria a ldquouma zona intermediaacuteria
instaacutevel que conjuga a precariedade do trabalho e a fragilidade dos suportes de
proximidade (Castel p 24)
As dimensotildees econocircmica (estabilidade e regularidade no trabalho) e social
(redes de sociabilidade primaacuteria ndash famiacutelia vizinhanccedila e comunidade) configuram
ldquoquatro zonasrdquo i) integraccedilatildeo diz respeito a uma situaccedilatildeo de emprego estaacutevel e relaccedilotildees
sociais densas ii) vulnerabilidade fragilizaccedilatildeo das condiccedilotildees laborais e relacionais iii)
assistecircncia recebimento de benefiacutecios puacuteblicos que evitam um ldquodesligamentordquo
econocircmico e social iv) desfiliaccedilatildeo que se refere a uma situaccedilatildeo de desemprego e perda
dos laccedilos sociais A coesatildeo social se daacute portanto a partir do equiliacutebrio entre essas
quatro zonas
Um outro autor que merece ser destacado eacute Serge Paugam (2003) que analisa o
processo de exclusatildeo social a partir da atuaccedilatildeo do Sistema de Proteccedilatildeo Social francecircs
Pode-se dizer que um dos grandes meacuteritos do seu trabalho estaacute em ultrapassar as
condiccedilotildees objetivas que definem a condiccedilatildeo de pobreza retomando a tradiccedilatildeo
weberiana ao enfatizar o sentido e o significado que as pessoas atribuem agrave situaccedilatildeo
vivida Mais do que isso o autor se deteacutem sobre a construccedilatildeo de identidades status e
resistecircncia ao estigma daqueles que satildeo designados como ldquopobresrdquo dimensotildees estas de
forte potencial analiacutetico na compreensatildeo do fenocircmeno e do processo de
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1121
desqualificaccedilatildeoexclusatildeo social
Paugam diferencia trecircs grupos que vivem este processo O primeiro ndash os
fragilizados ndash satildeo aqueles que vivem recentemente uma situaccedilatildeo de vulnerabilidade
sem emprego e renda e que resistem em ser incorporados aos programas de proteccedilatildeo
social O segundo ndash os assistidos ndash jaacute fazem parte e satildeo ateacute dependentes dos programasse encontrando em uma situaccedilatildeo de resignaccedilatildeo frente agrave sua condiccedilatildeo social E por
uacuteltimo ndash os marginalizados ndash que natildeo se encontram mais sob assistecircncia governamental
constituindo o uacuteltimo escalatildeo da desqualificaccedilatildeo social
Cabe destacar que a desqualificaccedilatildeo social eacute um processo de marginalizaccedilatildeo de
modo que a perspectiva temporal combinada agrave dimensatildeo relacional ganha relevacircncia
na anaacutelise em questatildeo Em outras palavras o processo depende dos padrotildees de
sociabilidade vigentes num dado contexto sendo a situaccedilatildeo de exclusatildeo definida a partir
dos padrotildees de relaccedilatildeo e ao mesmo tempo produto da configuraccedilatildeo destas mesmasinteraccedilotildees de modo que a matriz do conceito se encontra alicerccedilada na natureza e na
qualidade dos laccedilos sociais Retoma-se aqui as dimensotildees mais subjetivas da condiccedilatildeo
de pobreza ndash perda de auto-estima identidades construiacutedas enfraquecimento dos laccedilos
sociais ndash como fatores de acentuada relevacircncia na manutenccedilatildeo da ordem social e das
redes de reciprocidade e solidariedade Aleacutem disso a introduccedilatildeo da dimensatildeo temporal
permite que a ldquoexclusatildeordquo seja ldquovista como uma dinacircmica e natildeo como um estado o que
valoriza uma compreensatildeo mais ampla do problema e envolve expectativas sobre o
futurordquo (Bronzo p 54)
A OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO CAPITAL SOCIAL
Observamos anteriormente que adotamos a perspectiva de que ele se manifesta via
redes de cooperaccedilatildeo e normas de reciprocidade tal como apontado por Coleman (1990)
Desta forma foi criado por meio de anaacutelise fatorial um Iacutendice de Capital Social para
cada famiacutelia9 a partir de trecircs variaacuteveis que indicam a densidade das relaccedilotildees entre seus
vizinhos o niacutevel de confianccedila e de reciprocidade As variaacuteveis utilizadas na construccedilatildeodo iacutendice foram
1) Com que frequumlecircncia vocecirc diria que as pessoas no bairro ajudam umas agraves outras (1 =
9 Eacute importante ressaltar que embora o iacutendice tenha sido mensurado para cada uma das famiacuteliassupocircs-se que aquelas imersas em contextos de alto capital social teriam mais chances de superarcondiccedilotildees de pobreza que as famiacutelias imersas em contextos de baixo capital social
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1221
nunca ajudam 2 = raramente ajudam 3 = as vezes ajudam 4 = quase sempre ajudam 5
= sempre ajudam)
2) Quantos amigos no bairro vocecirc tem atualmente fora a sua famiacutelia (1 = nenhum 2 =
menos de 3 3 = entre 3 e 5 4 = mais de 5 ateacute 10 6 = mais de 10)
3) Se vocecirc precisar de algum dinheiro ndash em torno de R$ 100 ndash com quantas pessoas no
bairro vocecirc pode contar aleacutem dos seus familiares (1 = nenhuma 2 = 1 ou 2 3 = 3 ou 4
4 = 5 ou 6 5 = 7 ou mais)
A tabela a seguir (matriz de componentes) apresenta os coeficientes ou pesos que
correlaciona as variaacuteveis com o fator(es) A anaacutelise fatorial resultou em apenas um
fator
Matriz de Componentes (output SPSS)
O fator apresentou valor miacutenimo de -154 maacuteximo de 239 e meacutedia de -138
Posteriormente foi ajustado para uma escala entre 0 e 100 apresentando meacutedia de
3924 e desvio padratildeo de 2541 Abaixo temos um histograma do Iacutendice
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1321
IndiceCS
100008000600040002000000
F r e q u e n c i a
50
40
30
20
10
0
Histograma
Histograma da distribuiccedilatildeo de frequecircncia do Iacutendice de Capital Social
(output SPSS) Elaboraccedilatildeo Propria
Hipoacutetese de pesquisa Mesmo controlando pela variaacutevel de escolaridade do chefe e
pelo nuacutemero de moradores no domiciacutelio famiacutelias que se encontram em contextos de
alto capital social tecircm maiores chances de superar condiccedilotildees de pobreza do que as
famiacutelias que se encontram em contextos de baixo capital social
Variaacutevel dependente variaacutevel indicadora dummy em que 0 = famiacutelias com renda per capita abaixo ou igual agrave linha de pobreza do PBF (R$
12000)
1 = famiacutelias com renda per capita superior agrave linha de pobreza do PBF
Variaacuteveis independentes
- escolaridade do chefe (em anos)
- gecircnero do chefe indicadora em que 0 = feminino e 1 = masculino
- se o chefe trabalha indicadora em que 0 = natildeo trabalha e 1 = trabalha- idade do chefe (em anos)
- idade do chefe ao quadrado (idade2)
- se algueacutem na famiacutelia recebe algum tipo de aposentadoria ou benefiacutecio do governo
indicadora em que 0 = natildeo e 1 = sim
- Capital Social Iacutendice de Capital social (valores entre 0 e 100)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1421
O modelo ln[ P (acima da LP = 1) (1 ndash P (acima da LP = 1)] = β0 + β1 (Iacutendice CS) +
β2 (idade do chefe) + β3 (idade do chefe2) + β4 (escolaridade do chefe) + β5 (gecircnero do
chefe) + β6 (trabalha) + β7 (aposentadoriabenefiacutecio)
983126983137983154983145983265983158983141983145983155 983106 983123983145983143
983245983150983140983145983139983141 983107983123 0014 000983095 14
983113983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 011983093 000983095 122
9831139831409831379831409831412 9830850001 00983094 98308501
983109983155983139983151983148983137983154983145983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 0124 000983093 132
983111983274983150983141983154983151 983140983151 983139983144983141983142983141 983085010983095 09830949830973 983085101
983124983154983137983138983137983148983144983137 1983097983095983094 0 98309421983094
983105983152983151983155983141983150983156983137983140983151983154983145983137983106983141983150983141983142983277983139983145983151 1233 0001 2431
983107983151983150983155983156983137983150983156983141 9830854983096983096983093 0
983118983137983143983141983148983147983141983154983147983141 9831222 0301
983107983151983160 983141 983123983150983141983148983148 9831222 022
983118 40983097
983122983141983155983157983148983156983137983140983151 983140983151 983149983151983140983141983148983151 983140983141 983154983141983143983154983141983155983155983267983151 983148983151983143983277983155983156983145983139983137 983085 983114983137983154983140983145983149
983124983141983154983141983155983283983152983151983148983145983155 983090983088983088983094
Fonte Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim Teresoacutepolis ndash 2006 Dados trabalhados
pelos autores
Os resultados da regressatildeo logiacutestica nos permitiram afirmar que o fato da famiacutelia
se encontrar imersa em contextos de alto capital social aumenta sua chance de
superaccedilatildeo das condiccedilotildees de pobreza o que confirmou a hipoacutetese a 1 de significacircncia
estatiacutestica (p = 000 lt 001) O aumento de 1 ponto no iacutendice de capital social eleva em
14 as chances de a famiacutelia superar a LP A tiacutetulo de ilustraccedilatildeo temos por exemplo
que uma famiacutelia com Iacutendice = 80 ndash ou seja imersa em contexto de alto capital social ndash
tem 112 a mais de chance de superar a LP que uma famiacutelia com Iacutendice = 0 ndash contexto
de capital social ldquoinexistenterdquo ndash e 84 a mais de chance do que uma famiacutelia com Iacutendice
= 20 ndash imersa em contexto de baixo capital social
Percebemos assim que o capital social tem uma grande influencia sobre as
possibilidades de uma famiacutelia superar a linha de pobreza No entanto acreditamos
tambeacutem que esta superaccedilatildeo se daacute de forma marginal e que o fato de uma famiacutelia se
encontrar em contexto de alto capital social no interior de uma comunidade vulneraacutevel e
estigmatizada como o Jardim Teresoacutepolis pouca influencia tem sobre as possibilidades
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1521
da famiacutelia superar em larga escala a linha de pobreza A tabela abaixo apresenta os
resultados da regressatildeo de MQO para o logaritmo da renda per capita O objetivo era
avaliar o efeito do capital social sobre a renda das famiacutelias diretamente As variaacuteveis
teste e controle satildeo as mesmas utilizadas no modelo de regressatildeo logiacutestica
983126983137983154983145983265983158983141983145983155 983106 983123983145983143
983245983150983140983145983139983141 983107983123 0003 0 03
983113983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 0031 0 31
9831139831409831379831409831412 000 0002 000
983109983155983139983151983148983137983154983145983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 003983097 0 3983097
983111983274983150983141983154983151 983140983151 983139983144983141983142983141 0001 09830979830962 132
983124983154983137983138983137983148983144983137 029830934 0 29830934983105983152983151983155983141983150983156983137983140983151983154983145983137983106983141983150983141983142983277983139983145983151 02983094983093 0 2983094983093
983107983151983150983155983156983137983150983156983141 344983093 0
9831222 033
9831222 983105983146983157983155983156983137983140983151 031983094
983118 40983097
983122983141983155983157983148983156983137983140983151 983140983151 983149983151983140983141983148983151 983140983141 983154983141983143983154983141983155983155983267983151 983140983141 983117983121983119
Fonte Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim Teresoacutepolis ndash 2006 Dados
trabalhados pelos autores
Os resultados da regressatildeo de MQO confirmam a ideacuteia apresentada acima Se porum lado o capital social tem grande influencia na possibilidade da superaccedilatildeo da linha de
pobreza por outro esta superaccedilatildeo se daacute de forma marginal 1 ponto a mais no Iacutendice de
Capital Social aumenta em 03 a renda total da famiacutelia Numa comunidade em que a
meacutedia da renda per capita domiciliar eacute de R$24348 e que 724 das famiacutelias tem renda
per capita de ateacute 2 vezes a linha de pobreza do PBF (R$24000) este aumento embora
muito significativo para as famiacutelias no que se refere ao consumo pode ser considerado
pouco expressivo em termos de mobilidade social
DISCUSSAtildeO
Este trabalho buscou analisar a relaccedilatildeo existente entre capital social e pobreza
num territoacuterio de alta vulnerabilidade social o bairro jardim Teresoacutepolis em Betim
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1621
Regiatildeo Metropolitana de Belo Horizonte - MG a partir de anaacutelise estatiacutestica com dados
de um survey realizado na regiatildeo em 2006 Embora tenha utilizado as famiacutelias como
unidade de analise a perspectiva de capital social de Coleman permitiu observar o
contexto imediato em que se encontravam inseridas sem tratar o capital social como
propriedade individual Em outras palavras mostramos que as relaccedilotildees sociais nessecontexto podem ser identificadas a partir de como os indiviacuteduos as percebem sem
incorrermos em uma anaacutelise demasiado micro dos fenocircmenos sociais em que as accedilotildees
individuais satildeo vistas como fruto de um caacutelculo estrateacutegico visando otimizar meios e
fins Atestamos assim a importacircncia de se abordar os fenocircmenos sociais a partir de
uma perspectiva relacional evitando tratar os indiviacuteduos como seres atomizados como
bem apontou Granovetter
E em que medida os resultados acima podem trazer uma contribuiccedilatildeo para a
reflexatildeo sobre o estudo de poliacuteticas de renda miacutenima e mais especificamente doPrograma Bolsa Famiacutelia Em primeiro lugar a influecircncia das redes sociais na superaccedilatildeo
das condiccedilotildees de pobreza atesta a relevacircncia de se adotar uma perspectiva relacional do
fenocircmeno Em outras palavras a condiccedilatildeo de pobreza tambeacutem deve ser vista sob a oacutetica
das relaccedilotildees sociais e de como estas podem influenciar o acesso a recursos diversos por
um lado e de como famiacutelias que se encontram abaixo da LP tendem a estar imersas em
redes menos densas e por isso se tornam mais propensas a um processo de exclusatildeo
social por outro Como bem aponta Marques (2007)
O acesso dos indiviacuteduos agraves estruturas de oporunidades que conduzem agravescondiccedilotildees sociais em geral e agraves situaccedilotildees de pobreza em particular eacutemediado pelos padrotildees de relaccedilatildeo que esses indiviacuteduos tecircm com outrosindiviacuteduos e com organizaccedilotildees de variados tipos (Marques 2007 p 36)
Os sociogramas abaixo apresentam simulaccedilotildees de uma famiacutelia imersa em
contextos de alto capital social (Sogiograma 1) e de outra imersa em contexto de baixo
capital social (Sogiograma 2)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1721
FIGURA 1 Sociograma de contexto de altocapital social no interior do Jardim
Teresoacutepolis
FIGURA 2 Sociograma de contexto de baixo capital social nointerior do jardim Teresoacutepolis
Podemos dizer que a famiacutelia ldquoGrdquo em funccedilatildeo da disponibilidade de recursos que
fluem ao longo da rede em que se encontra inserida (contexto de alto capital social) tem
acesso a condiccedilotildees de vida menos desfavoraacuteveis estando acima da LP Jaacute a famiacutelia ldquoErdquo
imersa em uma rede com poucos contatos e de baixa densidade (contexto de baixo
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1821
capital social) natildeo tem agrave sua disposiccedilatildeo recursos que poderiam ter as relaccedilotildees sociais
como origem
Outro aspecto que diz respeito ao Programa Bolsa Famiacutelia em si mas que se
encontra diretamente relacionado ao ponto acima eacute o fato de que o programa parece
atender justamente aqueles imersos em contextos de baixo capital social Nesse sentido
como bem apontaram Sachs e Lages (2001) embora devamos tomar cuidado para natildeo
tratar o capital social como uma ldquoquase-ideologia do desenvolvimentordquo sugere-se que o
desenho institucional do programa poderia enfatizar programas complementares de
potencializaccedilatildeo de redes sociais Natildeo estamos adotando aqui uma perspectiva ndash
ingecircnua na nossa opiniatildeo ndash de que eacute como se fosse possiacutevel ldquodar uma injeccedilatildeo de capital
socialrdquo em determinadas comunidades Antes disso pensamos que haacute formas de se
incentivar o desenho de ambientes e situaccedilotildees propiacutecias agrave criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de
solidariedade social no sentido durkheimiano do termo que possibilitaria a formaccedilatildeo
de coletividades mais coesas inibindo as chances de um processo de exclusatildeo social
Outro apontamento se refere agrave natureza dos laccedilos sociais Embora neste trabalho
tenhamos trabalhado as redes sociais do ponto de vista dos ldquolaccedilos fortesrdquo no interior de
uma comunidade ndash mensurados a partir da frequumlecircncia de contato confianccedila muacutetua e
reciprocidade ndash eacute de fundamental importacircncia que se pense tambeacutem de que forma as
redes sociais vista sob a oacutetica dos ldquolaccedilos fracosrdquo (Granovetter 2000) ndash ou pontes ndash se
relaciona com o tema das poliacuteticas de renda miacutenima
Bibliografia
BRONZO C Programas de proteccedilatildeo social e superaccedilatildeo da pobreza concepccedilotildees e
estrateacutegias de intervenccedilatildeo FAFICHUFMG - 2005
CASTEL Robert As metamorfoses da questatildeo social uma crocircnica do salaacuterio 4ordm
ed RJ Editora Vozes 1998
COLEMAN J Foundations of social theory Cambridge Harvard University
Press 1990
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1921
FIALHO F M ldquoCapital Social usos e definiccedilotildees do conceito nas Ciecircncias
Sociaisrdquo Revista Trecircs Pontos 10 p 31-35 Bel Horizonte 2004
FUNDACcedilAtildeO JOAtildeO PINHEIRO ndash Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim
Teresoacutepolis ndash Relatoacuterio de Pesquisa 2006
GOMAacute R Processos de exclusatildeo e poliacuteticas de inclusatildeo social algumas
reflexotildees conceituais In Bronzo Carla Costa Bruno Gestatildeo Social o que haacute de novo
Belo Horizonte 2004
GRANOVETTER M S Accedilatildeo Econocircmica e Estrutura Social o problema da
imersatildeo Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Eletrocircnica Satildeo Paulo v 6 n 1 art 5
janjun 2007
_____________________ La fuerza de los viacutenculos deacutebiles Poliacutetica y sociedad
p 41-56 Traduccedilatildeo de Maria Angeles Verdasco Madrid 2000
HIGGINS S S Fundamentos teoacutericos do capital social Argos Chapecoacute 2005
MARQUES E Redes Sociais segregaccedilatildeo e pobreza em Satildeo Paulo Tese de
Livre Docecircncia USP 2007
PAUGAM S Desqualificaccedilatildeo social Ensaio sobre a nova pobreza SP Cortez
2003
PORTES A Capital Social Origens e aplicaccedilotildees na sociologia contemporacircnea
Sociologia Problemas e Praacuteticas nuacutemero 33 p 133-158 Traduccedilatildeo de Frederico Aacutegoas
Lisboa 2000
PRATES A A P et al Capital Social e Laccedilos Fracos Influencia no acesso a
benefiacutecios em comunidades carentes de Belo Horioznte Relatoacuterio de Pesquisa
UFMGFAFICH Belo Horioznte 2008
PUTNAM R Comunidade e Democracia a experiecircncia da Itaacutelia moderna Rio
de Janeiro FGV 1996
ROCHA S Renda e Pobreza ndash Medidas per capita versus adulto-equivalente Rio
de Janeiro IPEA Nov 1998 (Texto para Discussatildeo 609)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 2021
SACHS I LAGES V N Capital Social e desenvolvimento novidade para
quem IN CONFERENCIA REGIONAL SOBRE CAPITAL SOCIAL E POBREZA
2001 Anais Santiago Chile CEPAL Univeridad del estado de Michigan 2001
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 2121
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 521
autoridade organizaccedilotildees sociais apropriaacuteveis organizaccedilatildeo intencional Todas essas
formas facilitam a accedilatildeo individual e tornam possiacutevel a mobilizaccedilatildeo da estrutura de
relaccedilotildees pelo indiviacuteduo (Fialho 2004)
Embora seja critico ao conceito de Coleman em grande medida Portes afirma
que um dos meacuteritos dessa perspectiva estaacute no conceito de closure que diz respeito ldquoagraveexistecircncia entre um certo nuacutemero de pessoas de laccedilos suficientes para garantir a
observacircncia de normasrdquo (Portes 2000 p 137) As criacuteticas por outro lado apontam
algumas limitaccedilotildees A primeira diz respeito ao fato de que a forma como o conceito foi
elaborado seria vago abrindo caminho para que processos diferentes ndash e mesmo
contraditoacuterios ndash passassem a ser designados como ldquocapital socialrdquo Para Portes o
proacuteprio Coleman deu iniacutecio a esta proliferaccedilatildeo na medida em que inclui no corpo do
conceito alguns dos mecanismos geradores do capital social (como as expectativas de
reciprocidade e as normas grupais) suas consequumlecircncias (como o acesso a informaccedilotildeesdiferenciadas) e a organizaccedilatildeo social como loacutecus da realizaccedilatildeo de ambos
Prates et allii (2007) apontam que se Putnam pode ser definido como pertencente
a uma tradiccedilatildeo normativo-associativista em Coleman o que percebemos eacute uma
perspectiva interacionista que focaliza as relaccedilotildees sociais como aspecto essencial do
conceito Aleacutem desta vantagem observamos uma neutralidade valorativa na sua
definiccedilatildeo uma vez que Coleman natildeo associa o conceito de capital social com praacuteticas
orientadas por valores ldquosocialmente positivosrdquo A tiacutetulo de ilustraccedilatildeo natildeo seria
contraditoacuterio apontar com base na definiccedilatildeo de Coleman existecircncia de capital social
em grupos os quais as praacuteticas satildeo consideradas como opostas a tais valores (redes de
narcotraacutefico grupos terroristas ou mesmo a maacutefia italiana por exemplo) Fialho (2004)
aponta com clareza a vantagem teoacuterica do conceito de Coleman
Por tratar o capital social como um aspecto das relaccedilotildees sociais e natildeo comoum valor em si (como faz Putnam ao confundir os conceitos de capital sociale civismo) Coleman advoga a neutralidade moral do termo uma vez que ocapital social eacute encarado como um recurso fornecido pela estrutura social enatildeo como uma causa ou motivo para a accedilatildeo individual ou coletiva (Fialho
200433-34)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 621
O BAIRRO JARDIM TERESOacutePOLIS5
O bairro Jardim Teresoacutepolis contava no ano de 2006 com uma populaccedilatildeo
aproximada de 30 mil habitantes e uma densidade populacional de 35631
habitanteskm2 Atualmente constitui uma das aacutereas mais carentes da cidade de Betime a grande maioria das residecircncias ainda se encontra em estado precaacuterio sendo que
871 natildeo tecircm regularizaccedilatildeo junto agrave prefeitura No que se refere agraves condiccedilotildees de
habitaccedilatildeo e de infra-estrutura urbana os dados satildeo relativamente positivos com um
percentual baixo da populaccedilatildeo sem o atendimento de suas necessidades baacutesicas de
moradia
Quanto agrave seguranccedila alimentar 11 dos domiciacutelios jaacute apresentou caso de
desnutriccedilatildeo na famiacutelia Nos relatos sobre o tema um morador disse que natildeo passa fome
porque a galinha bota ovo todo dia Uma moradora disse comer mingau todo dia e
outro alegou que natildeo tem com o que comprar comida mas que diz ldquoter feacute em Deus de
que Ele natildeo permitiria que sua famiacutelia passasse fomerdquo Outros disseram passar fome
algumas vezes e ter o que comer na casa dos vizinhos Embora essa questatildeo natildeo tenha
sido quantificada natildeo satildeo casos isolados e espelham uma vulnerabilidade fundamental
que diz respeito ao acesso ao alimento e a condiccedilotildees baacutesicas de sobrevivecircncia
A percepccedilatildeo da violecircncia tambeacutem eacute alta entre os moradores 735 jaacute
testemunharam crime ou conhecem viacutetimas ou tecircm medo de ir a algum lugar no bairro
Em mais de 62 dos questionaacuterios existiram relatos negativos sobre a violecircncia no
bairro traacutefico de drogas aacutereas de circulaccedilatildeo interditada perigos e ameaccedilas de se morar
na regiatildeo A referecircncia a brigas de gangues em funccedilatildeo do traacutefico de drogas foi
constante Habitantes de uma parte do territoacuterio por exemplo natildeo podem circular
livremente em outra Mais de 5 afirmaram ser proibido circular em determinados
locais e mais de 24 relataram risco de agressatildeo e assalto como motivos para natildeo
circularem em aacutereas especiacuteficas
Com relaccedilatildeo ao vinculo e inserccedilatildeo no trabalho para os chefes de famiacutelia em idade
entre 15 e 65 anos 118 estatildeo desempregados e procuram emprego enquanto que
quase 3 estatildeo desempregados e natildeo procuram mais emprego 641 trabalham sendo
5 Os dados aqui apresentados acerca das caracteriacutesticas soacutecio-demograacuteficas do bairro Jardim Teresoacutepolisforam retirados do Relatoacuterio de Pesquisa ldquoPobreza e Vulnerabilidade no Jardim Teresoacutepolisrdquo FJP2006Neste relatoacuterio tambeacutem eacute possiacutevel encontrar detalhadamente informaccedilotildees sobre a metodologia utilizadana pesquisa
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 721
que desse total 34 trabalham sem viacutenculo ou por conta proacutepria e 66 trabalham com
viacutenculo CLT Quanto agrave renda tem-se que para um total de 409 domiciacutelios 151 (369)
se encontravam abaixo e 258 (431) se encontravam acima da linha de pobreza per
capita6 sendo que a meacutedia da renda per capita eacute de R$24348
O PROGRAMA BOLSA FAMIacuteLIA E O FENOcircMENO DA POBREZA
O Programa Bolsa Famiacutelia foi criado pelo governo federal brasileiro em 2003
com o objetivo de unificar a gestatildeo e a implementaccedilatildeo de quatro (depois cinco) poliacuteticas
de transferecircncia de renda7 agraves famiacutelias mais pobres do paiacutes Uma das mudanccedilas mais
importantes desse processo foi a adoccedilatildeo de um sistema de cadastro nacional das
famiacutelias elegiacuteveis a participarem de programas do governo federal o CadUacutenico que
permite uma melhor focalizaccedilatildeo dos programas Atualmente atende a um nuacutemeroaproximado de 117 milhotildees de famiacutelias como jaacute mencionado
O principal objetivo do programa eacute romper com a reproduccedilatildeo inter-geracional da
pobreza atraveacutes de transferecircncias monetaacuterias de renda agraves famiacutelias que satildeo classificadas
como ldquopobresrdquo ou ldquoextremamente pobresrdquo permitindo assim um aliacutevio imediato da
pobreza bem como o exerciacutecio de direitos sociais baacutesicos nas aacutereas de educaccedilatildeo e
sauacutede As condicionalidades para o recebimento dos benefiacutecios se datildeo atraveacutes da
exigecircncia de uma frequumlecircncia escolar miacutenima dos jovens ndash 85 para os de 6 a 15 anos e
75 para aqueles entre 16 e 17 anos ndash da atualizaccedilatildeo do cartatildeo vacinal do
acompanhamento das gestantes e por fim do acompanhamento de accedilotildees soacutecio-
educativas para crianccedilas em situaccedilatildeo de trabalho infantil
Satildeo trecircs os tipos de benefiacutecio cujos valores variam de R$2200 e R$20000
a) benefiacutecio baacutesico ndash R$ 6800 transferido agraves famiacutelias consideradas como
ldquoextremamente pobresrdquo independente da presenccedila ou natildeo de crianccedilas ou
gestantes no domiciacutelio
b) Benefiacutecio variaacutevel ndash R$2200 transferido agraves famiacutelias ldquopobresrdquo desde quetenham crianccedilas com idade de ateacute 15 anos Cada famiacutelia pode receber no
maacuteximo 3 benefiacutecios deste tipo (maacuteximo de R$ 6600)
6 Para estimar a LP utilizou-se o mesmo criteacuterio utilizado pelo Programa Bolsa Famiacutelia em 2006 Ouseja famiacutelias com renda per capita ateacute R$12000 foram consideradas como ldquopobresrdquo e aquelas com rendaper capita acima desse valor foram consideradas como ldquonatildeo pobresrdquo
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 821
c) Benefiacutecio Variaacutevel vinculado ao adolescente (BVVA) ndash R$ 3300 transferido a
todas as famiacutelias do programa que tenham adolescentes entre 16 e 17 anos
frequumlentando a escola Cada famiacutelia pode receber ateacute dois BVVA (R$ 6600)
Como mencionado a classificaccedilatildeo das famiacutelias como ldquopobresrdquo ou
ldquoextremamente pobresrdquo de modo a tornaacute-las participantes em potencial do programa
segue uacutenica e exclusivamente o criteacuterio da renda familiar per capita No entanto a
literatura que trata do fenocircmeno da pobreza apresenta inuacutemeras abordagens tanto no
que se refere agrave definiccedilatildeo do conceito de ldquopobrezardquo como tambeacutem na sua mensuraccedilatildeo e
nas consequumlentes alternativas para o seu enfrentamento
Rocha (1998) defende que para contextos onde eacute alto o percentual da populaccedilatildeo
urbana e com economia largamente monetizada a variaacutevel renda tendo como referecircncia
uma linha de pobreza deve ser tomada como uma proxy do bem estar dos indiviacuteduos e
famiacutelias Para o Brasil mais especificamente a autora defende que ldquoa abordagem de
renda eacute relevante e adequada para o estabelecimento de um crivo baacutesico entre pobres e
natildeo pobres (ou entre indigentes e natildeo-indigentes)rdquo (ROCHA 1998 p 66) A linha de
pobreza (LP) por sua vez pode ser determinada de maneira arbitraacuteria (1U$ ou 2U$dia
por exemplo) o que permite comparaccedilotildees internacionais ou pode ser estabelecida a
partir da observacircncia das caracteriacutesticas soacutecio-econocircmicas principalmente as
relacionadas ao consumo de indiviacuteduos num dado contexto social Este uacuteltimo
procedimento requer a disponibilidade de dados populacionais para seroperacionalizado o que no caso brasileiro natildeo implica em dificuldade e de fato tem sido
realizado em funccedilatildeo das PNADs (Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar) e das
POFs (Pesquisa Orccedilamentaacuteria Familiar)
A distribuiccedilatildeo de despesas permite melhor captar a condiccedilatildeo de vida dascamadas de mais baixa renda Em consequumlecircncia as melhores estimativas depobreza satildeo aquelas derivadas inteiramente dos dados de pesquisas deorccedilamentos familiares (ROCHA 1998 p 59)
Esta visatildeo embora permita a mensuraccedilatildeo do fenocircmeno da pobreza para grandes
populaccedilotildees foi e continua sendo duramente criticada Uma das primeiras criacuteticas partiudo enfoque das ldquonecessidades baacutesicas insatisfeitasrdquo para quem os ldquopobresrdquo satildeo as
pessoas cujo consumo de bens e serviccedilos natildeo atinge ao miacutenimo necessaacuterio8 Este
7 Programa Bolsa Escola Programa Bolsa Alimentaccedilatildeo Auxiacutelio Gaacutes Programa Nacional de Acesso agraveAlimentaccedilatildeo PETI8 Pode-se dizer que o PBF adota esta perspectiva quando do enfrentamento da pobreza ao adotarcondicionalidades que se datildeo no ambito da educaccedilatildeo e da sauacutede mas natildeo como criteacuterio de elegibilidade
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 921
ldquomiacutenimo necessaacuteriordquo diz respeito aos serviccedilos baacutesicos de sauacutede educaccedilatildeo transporte
habitaccedilatildeo dentre outros mas tambeacutem a processos de natureza psico-social como
participaccedilatildeo auto-estima e autonomia Desta forma o conceito de pobreza eacute relativizado
e a consequumlente condiccedilatildeo de pobreza varia de acordo com o contexto social em que as
pessoas se encontram inseridas No entanto embora tal perspectiva possa sercaracterizada como multidimensional e aponte para a inter-relaccedilatildeo existente entre as
diversas carecircncias ainda acaba por privilegiar os aspectos materiais da vida social
estabelecendo um limite de corte entre ldquopobresrdquo e ldquonatildeo pobresrdquo a partir de miacutenimos
sociais
Bronzo (2005) aponta que o grande divisor de aacuteguas nas perspectivas sobre o
fenocircmeno da pobreza pode ser encontrado no trabalho de Amartya Sen que define a
pobreza como carecircncia ou privaccedilatildeo de capacidades Nesse sentido ldquopobresrdquo seriam
aqueles que ldquocarecem de capacidades baacutesicas para operarem no meio social quecarecem de oportunidades para alcanccedilar niacuteveis minimamente aceitaacuteveis de realizaccedilatildeo o
que pode independer da renda que os indiviacuteduos possuemrdquo (Bronzo p 42) Os recursos
monetaacuterios nesse ponto de vista satildeo um meio para atingir o bem-estar e natildeo o bem-
estar em si dado que a renda pode permitir a realizaccedilatildeo de uma capacidade Ou seja o
ponto central aqui eacute a capacidade e natildeo a renda o que faz com que o eixo do enfoque
seja o de pensar a ampliaccedilatildeo das capacidades baacutesicas para que as pessoas possam levar
uma vida digna Em outras palavras se a perspectiva monetarista prioriza os recursos
privados aos quais os indiviacuteduos tecircm acesso o enfoque das capacidades busca examinar
a vida que os indiviacuteduos podem ter inserindo o aspecto da liberdade no centro da
discussatildeo Esta abordagem no entanto ainda se limita a pensar o fenocircmeno sob a oacutetica
individualista na medida em que trata diretamente das capacidades que os indiviacuteduos
podem ter para o exerciacutecio da liberdade
Um marco no estudo da pobreza surgiu a partir da adoccedilatildeo do conceito de
ldquoexclusatildeordquo em especial a partir dos anos 80 na Europa quando o conceito passa a ser
vinculado a processos de instabilidade das relaccedilotildees sociais mais especificamente dos
viacutenculos entre os indiviacuteduos e a sociedade tomando como referecircncia central a dimensatildeo
do trabalho Fica claro nessa perspectiva a influecircncia do pensamento durkheimiano
em especial a ideacuteia de que a densidade dos laccedilos sociais eacute de fundamental importacircncia
para a manutenccedilatildeo da coesatildeo e da ordem A categoria ldquotrabalhordquo ganha relevacircncia
para o recebimento do benefiacutecio
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1021
central na medida em que passa a ser considerado como o principal mecanismo de
sociabilidade para aleacutem dos grupos primaacuterios ficando evidente que a condiccedilatildeo de
desemprego e de trabalho precaacuterio tecircm consequecircncias para aleacutem da renda
enfraquecendo laccedilos e redes sociais e provocando o isolamento Gomaacute aponta que ldquola
exclusioacuten implica fracturas en el tejido social la ruptura de ciertas coordenadas baacutesicasde integracioacuten Y en consecuencia la aparicioacuten de una nueva forma de escisioacuten social
en teacuterminos de dentrofuerardquo (Gomaacute 2004 p 4)
Um autor central para este debate eacute Robert Castel que concentra a sua anaacutelise na
importacircncia das trajetoacuterias para a compreensatildeo dos processos de exclusatildeo processo este
que o autor define como desfiliaccedilatildeo Os ldquoinuacuteteis para o mundordquo nas palavras do autor
seriam aquelas ldquopessoas e grupos que se tornaram supranumeraacuterios diante da
atualizaccedilatildeo das competecircncias econocircmicas e sociaisrdquo (Castel p 23) Satildeo assim produto
de alteraccedilotildees que se datildeo no plano econocircmico (em especial no mundo do trabalho) masvistos sob a oacutetica da questatildeo social Ou seja a anaacutelise de Castel privilegia justamente as
relaccedilotildees que articulam a situaccedilatildeo de precariedade econocircmica com a instabilidade social
tornando-se central a ideacuteia de vulnerabilidade que seria a ldquouma zona intermediaacuteria
instaacutevel que conjuga a precariedade do trabalho e a fragilidade dos suportes de
proximidade (Castel p 24)
As dimensotildees econocircmica (estabilidade e regularidade no trabalho) e social
(redes de sociabilidade primaacuteria ndash famiacutelia vizinhanccedila e comunidade) configuram
ldquoquatro zonasrdquo i) integraccedilatildeo diz respeito a uma situaccedilatildeo de emprego estaacutevel e relaccedilotildees
sociais densas ii) vulnerabilidade fragilizaccedilatildeo das condiccedilotildees laborais e relacionais iii)
assistecircncia recebimento de benefiacutecios puacuteblicos que evitam um ldquodesligamentordquo
econocircmico e social iv) desfiliaccedilatildeo que se refere a uma situaccedilatildeo de desemprego e perda
dos laccedilos sociais A coesatildeo social se daacute portanto a partir do equiliacutebrio entre essas
quatro zonas
Um outro autor que merece ser destacado eacute Serge Paugam (2003) que analisa o
processo de exclusatildeo social a partir da atuaccedilatildeo do Sistema de Proteccedilatildeo Social francecircs
Pode-se dizer que um dos grandes meacuteritos do seu trabalho estaacute em ultrapassar as
condiccedilotildees objetivas que definem a condiccedilatildeo de pobreza retomando a tradiccedilatildeo
weberiana ao enfatizar o sentido e o significado que as pessoas atribuem agrave situaccedilatildeo
vivida Mais do que isso o autor se deteacutem sobre a construccedilatildeo de identidades status e
resistecircncia ao estigma daqueles que satildeo designados como ldquopobresrdquo dimensotildees estas de
forte potencial analiacutetico na compreensatildeo do fenocircmeno e do processo de
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1121
desqualificaccedilatildeoexclusatildeo social
Paugam diferencia trecircs grupos que vivem este processo O primeiro ndash os
fragilizados ndash satildeo aqueles que vivem recentemente uma situaccedilatildeo de vulnerabilidade
sem emprego e renda e que resistem em ser incorporados aos programas de proteccedilatildeo
social O segundo ndash os assistidos ndash jaacute fazem parte e satildeo ateacute dependentes dos programasse encontrando em uma situaccedilatildeo de resignaccedilatildeo frente agrave sua condiccedilatildeo social E por
uacuteltimo ndash os marginalizados ndash que natildeo se encontram mais sob assistecircncia governamental
constituindo o uacuteltimo escalatildeo da desqualificaccedilatildeo social
Cabe destacar que a desqualificaccedilatildeo social eacute um processo de marginalizaccedilatildeo de
modo que a perspectiva temporal combinada agrave dimensatildeo relacional ganha relevacircncia
na anaacutelise em questatildeo Em outras palavras o processo depende dos padrotildees de
sociabilidade vigentes num dado contexto sendo a situaccedilatildeo de exclusatildeo definida a partir
dos padrotildees de relaccedilatildeo e ao mesmo tempo produto da configuraccedilatildeo destas mesmasinteraccedilotildees de modo que a matriz do conceito se encontra alicerccedilada na natureza e na
qualidade dos laccedilos sociais Retoma-se aqui as dimensotildees mais subjetivas da condiccedilatildeo
de pobreza ndash perda de auto-estima identidades construiacutedas enfraquecimento dos laccedilos
sociais ndash como fatores de acentuada relevacircncia na manutenccedilatildeo da ordem social e das
redes de reciprocidade e solidariedade Aleacutem disso a introduccedilatildeo da dimensatildeo temporal
permite que a ldquoexclusatildeordquo seja ldquovista como uma dinacircmica e natildeo como um estado o que
valoriza uma compreensatildeo mais ampla do problema e envolve expectativas sobre o
futurordquo (Bronzo p 54)
A OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO CAPITAL SOCIAL
Observamos anteriormente que adotamos a perspectiva de que ele se manifesta via
redes de cooperaccedilatildeo e normas de reciprocidade tal como apontado por Coleman (1990)
Desta forma foi criado por meio de anaacutelise fatorial um Iacutendice de Capital Social para
cada famiacutelia9 a partir de trecircs variaacuteveis que indicam a densidade das relaccedilotildees entre seus
vizinhos o niacutevel de confianccedila e de reciprocidade As variaacuteveis utilizadas na construccedilatildeodo iacutendice foram
1) Com que frequumlecircncia vocecirc diria que as pessoas no bairro ajudam umas agraves outras (1 =
9 Eacute importante ressaltar que embora o iacutendice tenha sido mensurado para cada uma das famiacuteliassupocircs-se que aquelas imersas em contextos de alto capital social teriam mais chances de superarcondiccedilotildees de pobreza que as famiacutelias imersas em contextos de baixo capital social
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1221
nunca ajudam 2 = raramente ajudam 3 = as vezes ajudam 4 = quase sempre ajudam 5
= sempre ajudam)
2) Quantos amigos no bairro vocecirc tem atualmente fora a sua famiacutelia (1 = nenhum 2 =
menos de 3 3 = entre 3 e 5 4 = mais de 5 ateacute 10 6 = mais de 10)
3) Se vocecirc precisar de algum dinheiro ndash em torno de R$ 100 ndash com quantas pessoas no
bairro vocecirc pode contar aleacutem dos seus familiares (1 = nenhuma 2 = 1 ou 2 3 = 3 ou 4
4 = 5 ou 6 5 = 7 ou mais)
A tabela a seguir (matriz de componentes) apresenta os coeficientes ou pesos que
correlaciona as variaacuteveis com o fator(es) A anaacutelise fatorial resultou em apenas um
fator
Matriz de Componentes (output SPSS)
O fator apresentou valor miacutenimo de -154 maacuteximo de 239 e meacutedia de -138
Posteriormente foi ajustado para uma escala entre 0 e 100 apresentando meacutedia de
3924 e desvio padratildeo de 2541 Abaixo temos um histograma do Iacutendice
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1321
IndiceCS
100008000600040002000000
F r e q u e n c i a
50
40
30
20
10
0
Histograma
Histograma da distribuiccedilatildeo de frequecircncia do Iacutendice de Capital Social
(output SPSS) Elaboraccedilatildeo Propria
Hipoacutetese de pesquisa Mesmo controlando pela variaacutevel de escolaridade do chefe e
pelo nuacutemero de moradores no domiciacutelio famiacutelias que se encontram em contextos de
alto capital social tecircm maiores chances de superar condiccedilotildees de pobreza do que as
famiacutelias que se encontram em contextos de baixo capital social
Variaacutevel dependente variaacutevel indicadora dummy em que 0 = famiacutelias com renda per capita abaixo ou igual agrave linha de pobreza do PBF (R$
12000)
1 = famiacutelias com renda per capita superior agrave linha de pobreza do PBF
Variaacuteveis independentes
- escolaridade do chefe (em anos)
- gecircnero do chefe indicadora em que 0 = feminino e 1 = masculino
- se o chefe trabalha indicadora em que 0 = natildeo trabalha e 1 = trabalha- idade do chefe (em anos)
- idade do chefe ao quadrado (idade2)
- se algueacutem na famiacutelia recebe algum tipo de aposentadoria ou benefiacutecio do governo
indicadora em que 0 = natildeo e 1 = sim
- Capital Social Iacutendice de Capital social (valores entre 0 e 100)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1421
O modelo ln[ P (acima da LP = 1) (1 ndash P (acima da LP = 1)] = β0 + β1 (Iacutendice CS) +
β2 (idade do chefe) + β3 (idade do chefe2) + β4 (escolaridade do chefe) + β5 (gecircnero do
chefe) + β6 (trabalha) + β7 (aposentadoriabenefiacutecio)
983126983137983154983145983265983158983141983145983155 983106 983123983145983143
983245983150983140983145983139983141 983107983123 0014 000983095 14
983113983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 011983093 000983095 122
9831139831409831379831409831412 9830850001 00983094 98308501
983109983155983139983151983148983137983154983145983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 0124 000983093 132
983111983274983150983141983154983151 983140983151 983139983144983141983142983141 983085010983095 09830949830973 983085101
983124983154983137983138983137983148983144983137 1983097983095983094 0 98309421983094
983105983152983151983155983141983150983156983137983140983151983154983145983137983106983141983150983141983142983277983139983145983151 1233 0001 2431
983107983151983150983155983156983137983150983156983141 9830854983096983096983093 0
983118983137983143983141983148983147983141983154983147983141 9831222 0301
983107983151983160 983141 983123983150983141983148983148 9831222 022
983118 40983097
983122983141983155983157983148983156983137983140983151 983140983151 983149983151983140983141983148983151 983140983141 983154983141983143983154983141983155983155983267983151 983148983151983143983277983155983156983145983139983137 983085 983114983137983154983140983145983149
983124983141983154983141983155983283983152983151983148983145983155 983090983088983088983094
Fonte Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim Teresoacutepolis ndash 2006 Dados trabalhados
pelos autores
Os resultados da regressatildeo logiacutestica nos permitiram afirmar que o fato da famiacutelia
se encontrar imersa em contextos de alto capital social aumenta sua chance de
superaccedilatildeo das condiccedilotildees de pobreza o que confirmou a hipoacutetese a 1 de significacircncia
estatiacutestica (p = 000 lt 001) O aumento de 1 ponto no iacutendice de capital social eleva em
14 as chances de a famiacutelia superar a LP A tiacutetulo de ilustraccedilatildeo temos por exemplo
que uma famiacutelia com Iacutendice = 80 ndash ou seja imersa em contexto de alto capital social ndash
tem 112 a mais de chance de superar a LP que uma famiacutelia com Iacutendice = 0 ndash contexto
de capital social ldquoinexistenterdquo ndash e 84 a mais de chance do que uma famiacutelia com Iacutendice
= 20 ndash imersa em contexto de baixo capital social
Percebemos assim que o capital social tem uma grande influencia sobre as
possibilidades de uma famiacutelia superar a linha de pobreza No entanto acreditamos
tambeacutem que esta superaccedilatildeo se daacute de forma marginal e que o fato de uma famiacutelia se
encontrar em contexto de alto capital social no interior de uma comunidade vulneraacutevel e
estigmatizada como o Jardim Teresoacutepolis pouca influencia tem sobre as possibilidades
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1521
da famiacutelia superar em larga escala a linha de pobreza A tabela abaixo apresenta os
resultados da regressatildeo de MQO para o logaritmo da renda per capita O objetivo era
avaliar o efeito do capital social sobre a renda das famiacutelias diretamente As variaacuteveis
teste e controle satildeo as mesmas utilizadas no modelo de regressatildeo logiacutestica
983126983137983154983145983265983158983141983145983155 983106 983123983145983143
983245983150983140983145983139983141 983107983123 0003 0 03
983113983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 0031 0 31
9831139831409831379831409831412 000 0002 000
983109983155983139983151983148983137983154983145983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 003983097 0 3983097
983111983274983150983141983154983151 983140983151 983139983144983141983142983141 0001 09830979830962 132
983124983154983137983138983137983148983144983137 029830934 0 29830934983105983152983151983155983141983150983156983137983140983151983154983145983137983106983141983150983141983142983277983139983145983151 02983094983093 0 2983094983093
983107983151983150983155983156983137983150983156983141 344983093 0
9831222 033
9831222 983105983146983157983155983156983137983140983151 031983094
983118 40983097
983122983141983155983157983148983156983137983140983151 983140983151 983149983151983140983141983148983151 983140983141 983154983141983143983154983141983155983155983267983151 983140983141 983117983121983119
Fonte Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim Teresoacutepolis ndash 2006 Dados
trabalhados pelos autores
Os resultados da regressatildeo de MQO confirmam a ideacuteia apresentada acima Se porum lado o capital social tem grande influencia na possibilidade da superaccedilatildeo da linha de
pobreza por outro esta superaccedilatildeo se daacute de forma marginal 1 ponto a mais no Iacutendice de
Capital Social aumenta em 03 a renda total da famiacutelia Numa comunidade em que a
meacutedia da renda per capita domiciliar eacute de R$24348 e que 724 das famiacutelias tem renda
per capita de ateacute 2 vezes a linha de pobreza do PBF (R$24000) este aumento embora
muito significativo para as famiacutelias no que se refere ao consumo pode ser considerado
pouco expressivo em termos de mobilidade social
DISCUSSAtildeO
Este trabalho buscou analisar a relaccedilatildeo existente entre capital social e pobreza
num territoacuterio de alta vulnerabilidade social o bairro jardim Teresoacutepolis em Betim
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1621
Regiatildeo Metropolitana de Belo Horizonte - MG a partir de anaacutelise estatiacutestica com dados
de um survey realizado na regiatildeo em 2006 Embora tenha utilizado as famiacutelias como
unidade de analise a perspectiva de capital social de Coleman permitiu observar o
contexto imediato em que se encontravam inseridas sem tratar o capital social como
propriedade individual Em outras palavras mostramos que as relaccedilotildees sociais nessecontexto podem ser identificadas a partir de como os indiviacuteduos as percebem sem
incorrermos em uma anaacutelise demasiado micro dos fenocircmenos sociais em que as accedilotildees
individuais satildeo vistas como fruto de um caacutelculo estrateacutegico visando otimizar meios e
fins Atestamos assim a importacircncia de se abordar os fenocircmenos sociais a partir de
uma perspectiva relacional evitando tratar os indiviacuteduos como seres atomizados como
bem apontou Granovetter
E em que medida os resultados acima podem trazer uma contribuiccedilatildeo para a
reflexatildeo sobre o estudo de poliacuteticas de renda miacutenima e mais especificamente doPrograma Bolsa Famiacutelia Em primeiro lugar a influecircncia das redes sociais na superaccedilatildeo
das condiccedilotildees de pobreza atesta a relevacircncia de se adotar uma perspectiva relacional do
fenocircmeno Em outras palavras a condiccedilatildeo de pobreza tambeacutem deve ser vista sob a oacutetica
das relaccedilotildees sociais e de como estas podem influenciar o acesso a recursos diversos por
um lado e de como famiacutelias que se encontram abaixo da LP tendem a estar imersas em
redes menos densas e por isso se tornam mais propensas a um processo de exclusatildeo
social por outro Como bem aponta Marques (2007)
O acesso dos indiviacuteduos agraves estruturas de oporunidades que conduzem agravescondiccedilotildees sociais em geral e agraves situaccedilotildees de pobreza em particular eacutemediado pelos padrotildees de relaccedilatildeo que esses indiviacuteduos tecircm com outrosindiviacuteduos e com organizaccedilotildees de variados tipos (Marques 2007 p 36)
Os sociogramas abaixo apresentam simulaccedilotildees de uma famiacutelia imersa em
contextos de alto capital social (Sogiograma 1) e de outra imersa em contexto de baixo
capital social (Sogiograma 2)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1721
FIGURA 1 Sociograma de contexto de altocapital social no interior do Jardim
Teresoacutepolis
FIGURA 2 Sociograma de contexto de baixo capital social nointerior do jardim Teresoacutepolis
Podemos dizer que a famiacutelia ldquoGrdquo em funccedilatildeo da disponibilidade de recursos que
fluem ao longo da rede em que se encontra inserida (contexto de alto capital social) tem
acesso a condiccedilotildees de vida menos desfavoraacuteveis estando acima da LP Jaacute a famiacutelia ldquoErdquo
imersa em uma rede com poucos contatos e de baixa densidade (contexto de baixo
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1821
capital social) natildeo tem agrave sua disposiccedilatildeo recursos que poderiam ter as relaccedilotildees sociais
como origem
Outro aspecto que diz respeito ao Programa Bolsa Famiacutelia em si mas que se
encontra diretamente relacionado ao ponto acima eacute o fato de que o programa parece
atender justamente aqueles imersos em contextos de baixo capital social Nesse sentido
como bem apontaram Sachs e Lages (2001) embora devamos tomar cuidado para natildeo
tratar o capital social como uma ldquoquase-ideologia do desenvolvimentordquo sugere-se que o
desenho institucional do programa poderia enfatizar programas complementares de
potencializaccedilatildeo de redes sociais Natildeo estamos adotando aqui uma perspectiva ndash
ingecircnua na nossa opiniatildeo ndash de que eacute como se fosse possiacutevel ldquodar uma injeccedilatildeo de capital
socialrdquo em determinadas comunidades Antes disso pensamos que haacute formas de se
incentivar o desenho de ambientes e situaccedilotildees propiacutecias agrave criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de
solidariedade social no sentido durkheimiano do termo que possibilitaria a formaccedilatildeo
de coletividades mais coesas inibindo as chances de um processo de exclusatildeo social
Outro apontamento se refere agrave natureza dos laccedilos sociais Embora neste trabalho
tenhamos trabalhado as redes sociais do ponto de vista dos ldquolaccedilos fortesrdquo no interior de
uma comunidade ndash mensurados a partir da frequumlecircncia de contato confianccedila muacutetua e
reciprocidade ndash eacute de fundamental importacircncia que se pense tambeacutem de que forma as
redes sociais vista sob a oacutetica dos ldquolaccedilos fracosrdquo (Granovetter 2000) ndash ou pontes ndash se
relaciona com o tema das poliacuteticas de renda miacutenima
Bibliografia
BRONZO C Programas de proteccedilatildeo social e superaccedilatildeo da pobreza concepccedilotildees e
estrateacutegias de intervenccedilatildeo FAFICHUFMG - 2005
CASTEL Robert As metamorfoses da questatildeo social uma crocircnica do salaacuterio 4ordm
ed RJ Editora Vozes 1998
COLEMAN J Foundations of social theory Cambridge Harvard University
Press 1990
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1921
FIALHO F M ldquoCapital Social usos e definiccedilotildees do conceito nas Ciecircncias
Sociaisrdquo Revista Trecircs Pontos 10 p 31-35 Bel Horizonte 2004
FUNDACcedilAtildeO JOAtildeO PINHEIRO ndash Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim
Teresoacutepolis ndash Relatoacuterio de Pesquisa 2006
GOMAacute R Processos de exclusatildeo e poliacuteticas de inclusatildeo social algumas
reflexotildees conceituais In Bronzo Carla Costa Bruno Gestatildeo Social o que haacute de novo
Belo Horizonte 2004
GRANOVETTER M S Accedilatildeo Econocircmica e Estrutura Social o problema da
imersatildeo Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Eletrocircnica Satildeo Paulo v 6 n 1 art 5
janjun 2007
_____________________ La fuerza de los viacutenculos deacutebiles Poliacutetica y sociedad
p 41-56 Traduccedilatildeo de Maria Angeles Verdasco Madrid 2000
HIGGINS S S Fundamentos teoacutericos do capital social Argos Chapecoacute 2005
MARQUES E Redes Sociais segregaccedilatildeo e pobreza em Satildeo Paulo Tese de
Livre Docecircncia USP 2007
PAUGAM S Desqualificaccedilatildeo social Ensaio sobre a nova pobreza SP Cortez
2003
PORTES A Capital Social Origens e aplicaccedilotildees na sociologia contemporacircnea
Sociologia Problemas e Praacuteticas nuacutemero 33 p 133-158 Traduccedilatildeo de Frederico Aacutegoas
Lisboa 2000
PRATES A A P et al Capital Social e Laccedilos Fracos Influencia no acesso a
benefiacutecios em comunidades carentes de Belo Horioznte Relatoacuterio de Pesquisa
UFMGFAFICH Belo Horioznte 2008
PUTNAM R Comunidade e Democracia a experiecircncia da Itaacutelia moderna Rio
de Janeiro FGV 1996
ROCHA S Renda e Pobreza ndash Medidas per capita versus adulto-equivalente Rio
de Janeiro IPEA Nov 1998 (Texto para Discussatildeo 609)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 2021
SACHS I LAGES V N Capital Social e desenvolvimento novidade para
quem IN CONFERENCIA REGIONAL SOBRE CAPITAL SOCIAL E POBREZA
2001 Anais Santiago Chile CEPAL Univeridad del estado de Michigan 2001
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 2121
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 621
O BAIRRO JARDIM TERESOacutePOLIS5
O bairro Jardim Teresoacutepolis contava no ano de 2006 com uma populaccedilatildeo
aproximada de 30 mil habitantes e uma densidade populacional de 35631
habitanteskm2 Atualmente constitui uma das aacutereas mais carentes da cidade de Betime a grande maioria das residecircncias ainda se encontra em estado precaacuterio sendo que
871 natildeo tecircm regularizaccedilatildeo junto agrave prefeitura No que se refere agraves condiccedilotildees de
habitaccedilatildeo e de infra-estrutura urbana os dados satildeo relativamente positivos com um
percentual baixo da populaccedilatildeo sem o atendimento de suas necessidades baacutesicas de
moradia
Quanto agrave seguranccedila alimentar 11 dos domiciacutelios jaacute apresentou caso de
desnutriccedilatildeo na famiacutelia Nos relatos sobre o tema um morador disse que natildeo passa fome
porque a galinha bota ovo todo dia Uma moradora disse comer mingau todo dia e
outro alegou que natildeo tem com o que comprar comida mas que diz ldquoter feacute em Deus de
que Ele natildeo permitiria que sua famiacutelia passasse fomerdquo Outros disseram passar fome
algumas vezes e ter o que comer na casa dos vizinhos Embora essa questatildeo natildeo tenha
sido quantificada natildeo satildeo casos isolados e espelham uma vulnerabilidade fundamental
que diz respeito ao acesso ao alimento e a condiccedilotildees baacutesicas de sobrevivecircncia
A percepccedilatildeo da violecircncia tambeacutem eacute alta entre os moradores 735 jaacute
testemunharam crime ou conhecem viacutetimas ou tecircm medo de ir a algum lugar no bairro
Em mais de 62 dos questionaacuterios existiram relatos negativos sobre a violecircncia no
bairro traacutefico de drogas aacutereas de circulaccedilatildeo interditada perigos e ameaccedilas de se morar
na regiatildeo A referecircncia a brigas de gangues em funccedilatildeo do traacutefico de drogas foi
constante Habitantes de uma parte do territoacuterio por exemplo natildeo podem circular
livremente em outra Mais de 5 afirmaram ser proibido circular em determinados
locais e mais de 24 relataram risco de agressatildeo e assalto como motivos para natildeo
circularem em aacutereas especiacuteficas
Com relaccedilatildeo ao vinculo e inserccedilatildeo no trabalho para os chefes de famiacutelia em idade
entre 15 e 65 anos 118 estatildeo desempregados e procuram emprego enquanto que
quase 3 estatildeo desempregados e natildeo procuram mais emprego 641 trabalham sendo
5 Os dados aqui apresentados acerca das caracteriacutesticas soacutecio-demograacuteficas do bairro Jardim Teresoacutepolisforam retirados do Relatoacuterio de Pesquisa ldquoPobreza e Vulnerabilidade no Jardim Teresoacutepolisrdquo FJP2006Neste relatoacuterio tambeacutem eacute possiacutevel encontrar detalhadamente informaccedilotildees sobre a metodologia utilizadana pesquisa
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 721
que desse total 34 trabalham sem viacutenculo ou por conta proacutepria e 66 trabalham com
viacutenculo CLT Quanto agrave renda tem-se que para um total de 409 domiciacutelios 151 (369)
se encontravam abaixo e 258 (431) se encontravam acima da linha de pobreza per
capita6 sendo que a meacutedia da renda per capita eacute de R$24348
O PROGRAMA BOLSA FAMIacuteLIA E O FENOcircMENO DA POBREZA
O Programa Bolsa Famiacutelia foi criado pelo governo federal brasileiro em 2003
com o objetivo de unificar a gestatildeo e a implementaccedilatildeo de quatro (depois cinco) poliacuteticas
de transferecircncia de renda7 agraves famiacutelias mais pobres do paiacutes Uma das mudanccedilas mais
importantes desse processo foi a adoccedilatildeo de um sistema de cadastro nacional das
famiacutelias elegiacuteveis a participarem de programas do governo federal o CadUacutenico que
permite uma melhor focalizaccedilatildeo dos programas Atualmente atende a um nuacutemeroaproximado de 117 milhotildees de famiacutelias como jaacute mencionado
O principal objetivo do programa eacute romper com a reproduccedilatildeo inter-geracional da
pobreza atraveacutes de transferecircncias monetaacuterias de renda agraves famiacutelias que satildeo classificadas
como ldquopobresrdquo ou ldquoextremamente pobresrdquo permitindo assim um aliacutevio imediato da
pobreza bem como o exerciacutecio de direitos sociais baacutesicos nas aacutereas de educaccedilatildeo e
sauacutede As condicionalidades para o recebimento dos benefiacutecios se datildeo atraveacutes da
exigecircncia de uma frequumlecircncia escolar miacutenima dos jovens ndash 85 para os de 6 a 15 anos e
75 para aqueles entre 16 e 17 anos ndash da atualizaccedilatildeo do cartatildeo vacinal do
acompanhamento das gestantes e por fim do acompanhamento de accedilotildees soacutecio-
educativas para crianccedilas em situaccedilatildeo de trabalho infantil
Satildeo trecircs os tipos de benefiacutecio cujos valores variam de R$2200 e R$20000
a) benefiacutecio baacutesico ndash R$ 6800 transferido agraves famiacutelias consideradas como
ldquoextremamente pobresrdquo independente da presenccedila ou natildeo de crianccedilas ou
gestantes no domiciacutelio
b) Benefiacutecio variaacutevel ndash R$2200 transferido agraves famiacutelias ldquopobresrdquo desde quetenham crianccedilas com idade de ateacute 15 anos Cada famiacutelia pode receber no
maacuteximo 3 benefiacutecios deste tipo (maacuteximo de R$ 6600)
6 Para estimar a LP utilizou-se o mesmo criteacuterio utilizado pelo Programa Bolsa Famiacutelia em 2006 Ouseja famiacutelias com renda per capita ateacute R$12000 foram consideradas como ldquopobresrdquo e aquelas com rendaper capita acima desse valor foram consideradas como ldquonatildeo pobresrdquo
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 821
c) Benefiacutecio Variaacutevel vinculado ao adolescente (BVVA) ndash R$ 3300 transferido a
todas as famiacutelias do programa que tenham adolescentes entre 16 e 17 anos
frequumlentando a escola Cada famiacutelia pode receber ateacute dois BVVA (R$ 6600)
Como mencionado a classificaccedilatildeo das famiacutelias como ldquopobresrdquo ou
ldquoextremamente pobresrdquo de modo a tornaacute-las participantes em potencial do programa
segue uacutenica e exclusivamente o criteacuterio da renda familiar per capita No entanto a
literatura que trata do fenocircmeno da pobreza apresenta inuacutemeras abordagens tanto no
que se refere agrave definiccedilatildeo do conceito de ldquopobrezardquo como tambeacutem na sua mensuraccedilatildeo e
nas consequumlentes alternativas para o seu enfrentamento
Rocha (1998) defende que para contextos onde eacute alto o percentual da populaccedilatildeo
urbana e com economia largamente monetizada a variaacutevel renda tendo como referecircncia
uma linha de pobreza deve ser tomada como uma proxy do bem estar dos indiviacuteduos e
famiacutelias Para o Brasil mais especificamente a autora defende que ldquoa abordagem de
renda eacute relevante e adequada para o estabelecimento de um crivo baacutesico entre pobres e
natildeo pobres (ou entre indigentes e natildeo-indigentes)rdquo (ROCHA 1998 p 66) A linha de
pobreza (LP) por sua vez pode ser determinada de maneira arbitraacuteria (1U$ ou 2U$dia
por exemplo) o que permite comparaccedilotildees internacionais ou pode ser estabelecida a
partir da observacircncia das caracteriacutesticas soacutecio-econocircmicas principalmente as
relacionadas ao consumo de indiviacuteduos num dado contexto social Este uacuteltimo
procedimento requer a disponibilidade de dados populacionais para seroperacionalizado o que no caso brasileiro natildeo implica em dificuldade e de fato tem sido
realizado em funccedilatildeo das PNADs (Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar) e das
POFs (Pesquisa Orccedilamentaacuteria Familiar)
A distribuiccedilatildeo de despesas permite melhor captar a condiccedilatildeo de vida dascamadas de mais baixa renda Em consequumlecircncia as melhores estimativas depobreza satildeo aquelas derivadas inteiramente dos dados de pesquisas deorccedilamentos familiares (ROCHA 1998 p 59)
Esta visatildeo embora permita a mensuraccedilatildeo do fenocircmeno da pobreza para grandes
populaccedilotildees foi e continua sendo duramente criticada Uma das primeiras criacuteticas partiudo enfoque das ldquonecessidades baacutesicas insatisfeitasrdquo para quem os ldquopobresrdquo satildeo as
pessoas cujo consumo de bens e serviccedilos natildeo atinge ao miacutenimo necessaacuterio8 Este
7 Programa Bolsa Escola Programa Bolsa Alimentaccedilatildeo Auxiacutelio Gaacutes Programa Nacional de Acesso agraveAlimentaccedilatildeo PETI8 Pode-se dizer que o PBF adota esta perspectiva quando do enfrentamento da pobreza ao adotarcondicionalidades que se datildeo no ambito da educaccedilatildeo e da sauacutede mas natildeo como criteacuterio de elegibilidade
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 921
ldquomiacutenimo necessaacuteriordquo diz respeito aos serviccedilos baacutesicos de sauacutede educaccedilatildeo transporte
habitaccedilatildeo dentre outros mas tambeacutem a processos de natureza psico-social como
participaccedilatildeo auto-estima e autonomia Desta forma o conceito de pobreza eacute relativizado
e a consequumlente condiccedilatildeo de pobreza varia de acordo com o contexto social em que as
pessoas se encontram inseridas No entanto embora tal perspectiva possa sercaracterizada como multidimensional e aponte para a inter-relaccedilatildeo existente entre as
diversas carecircncias ainda acaba por privilegiar os aspectos materiais da vida social
estabelecendo um limite de corte entre ldquopobresrdquo e ldquonatildeo pobresrdquo a partir de miacutenimos
sociais
Bronzo (2005) aponta que o grande divisor de aacuteguas nas perspectivas sobre o
fenocircmeno da pobreza pode ser encontrado no trabalho de Amartya Sen que define a
pobreza como carecircncia ou privaccedilatildeo de capacidades Nesse sentido ldquopobresrdquo seriam
aqueles que ldquocarecem de capacidades baacutesicas para operarem no meio social quecarecem de oportunidades para alcanccedilar niacuteveis minimamente aceitaacuteveis de realizaccedilatildeo o
que pode independer da renda que os indiviacuteduos possuemrdquo (Bronzo p 42) Os recursos
monetaacuterios nesse ponto de vista satildeo um meio para atingir o bem-estar e natildeo o bem-
estar em si dado que a renda pode permitir a realizaccedilatildeo de uma capacidade Ou seja o
ponto central aqui eacute a capacidade e natildeo a renda o que faz com que o eixo do enfoque
seja o de pensar a ampliaccedilatildeo das capacidades baacutesicas para que as pessoas possam levar
uma vida digna Em outras palavras se a perspectiva monetarista prioriza os recursos
privados aos quais os indiviacuteduos tecircm acesso o enfoque das capacidades busca examinar
a vida que os indiviacuteduos podem ter inserindo o aspecto da liberdade no centro da
discussatildeo Esta abordagem no entanto ainda se limita a pensar o fenocircmeno sob a oacutetica
individualista na medida em que trata diretamente das capacidades que os indiviacuteduos
podem ter para o exerciacutecio da liberdade
Um marco no estudo da pobreza surgiu a partir da adoccedilatildeo do conceito de
ldquoexclusatildeordquo em especial a partir dos anos 80 na Europa quando o conceito passa a ser
vinculado a processos de instabilidade das relaccedilotildees sociais mais especificamente dos
viacutenculos entre os indiviacuteduos e a sociedade tomando como referecircncia central a dimensatildeo
do trabalho Fica claro nessa perspectiva a influecircncia do pensamento durkheimiano
em especial a ideacuteia de que a densidade dos laccedilos sociais eacute de fundamental importacircncia
para a manutenccedilatildeo da coesatildeo e da ordem A categoria ldquotrabalhordquo ganha relevacircncia
para o recebimento do benefiacutecio
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1021
central na medida em que passa a ser considerado como o principal mecanismo de
sociabilidade para aleacutem dos grupos primaacuterios ficando evidente que a condiccedilatildeo de
desemprego e de trabalho precaacuterio tecircm consequecircncias para aleacutem da renda
enfraquecendo laccedilos e redes sociais e provocando o isolamento Gomaacute aponta que ldquola
exclusioacuten implica fracturas en el tejido social la ruptura de ciertas coordenadas baacutesicasde integracioacuten Y en consecuencia la aparicioacuten de una nueva forma de escisioacuten social
en teacuterminos de dentrofuerardquo (Gomaacute 2004 p 4)
Um autor central para este debate eacute Robert Castel que concentra a sua anaacutelise na
importacircncia das trajetoacuterias para a compreensatildeo dos processos de exclusatildeo processo este
que o autor define como desfiliaccedilatildeo Os ldquoinuacuteteis para o mundordquo nas palavras do autor
seriam aquelas ldquopessoas e grupos que se tornaram supranumeraacuterios diante da
atualizaccedilatildeo das competecircncias econocircmicas e sociaisrdquo (Castel p 23) Satildeo assim produto
de alteraccedilotildees que se datildeo no plano econocircmico (em especial no mundo do trabalho) masvistos sob a oacutetica da questatildeo social Ou seja a anaacutelise de Castel privilegia justamente as
relaccedilotildees que articulam a situaccedilatildeo de precariedade econocircmica com a instabilidade social
tornando-se central a ideacuteia de vulnerabilidade que seria a ldquouma zona intermediaacuteria
instaacutevel que conjuga a precariedade do trabalho e a fragilidade dos suportes de
proximidade (Castel p 24)
As dimensotildees econocircmica (estabilidade e regularidade no trabalho) e social
(redes de sociabilidade primaacuteria ndash famiacutelia vizinhanccedila e comunidade) configuram
ldquoquatro zonasrdquo i) integraccedilatildeo diz respeito a uma situaccedilatildeo de emprego estaacutevel e relaccedilotildees
sociais densas ii) vulnerabilidade fragilizaccedilatildeo das condiccedilotildees laborais e relacionais iii)
assistecircncia recebimento de benefiacutecios puacuteblicos que evitam um ldquodesligamentordquo
econocircmico e social iv) desfiliaccedilatildeo que se refere a uma situaccedilatildeo de desemprego e perda
dos laccedilos sociais A coesatildeo social se daacute portanto a partir do equiliacutebrio entre essas
quatro zonas
Um outro autor que merece ser destacado eacute Serge Paugam (2003) que analisa o
processo de exclusatildeo social a partir da atuaccedilatildeo do Sistema de Proteccedilatildeo Social francecircs
Pode-se dizer que um dos grandes meacuteritos do seu trabalho estaacute em ultrapassar as
condiccedilotildees objetivas que definem a condiccedilatildeo de pobreza retomando a tradiccedilatildeo
weberiana ao enfatizar o sentido e o significado que as pessoas atribuem agrave situaccedilatildeo
vivida Mais do que isso o autor se deteacutem sobre a construccedilatildeo de identidades status e
resistecircncia ao estigma daqueles que satildeo designados como ldquopobresrdquo dimensotildees estas de
forte potencial analiacutetico na compreensatildeo do fenocircmeno e do processo de
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1121
desqualificaccedilatildeoexclusatildeo social
Paugam diferencia trecircs grupos que vivem este processo O primeiro ndash os
fragilizados ndash satildeo aqueles que vivem recentemente uma situaccedilatildeo de vulnerabilidade
sem emprego e renda e que resistem em ser incorporados aos programas de proteccedilatildeo
social O segundo ndash os assistidos ndash jaacute fazem parte e satildeo ateacute dependentes dos programasse encontrando em uma situaccedilatildeo de resignaccedilatildeo frente agrave sua condiccedilatildeo social E por
uacuteltimo ndash os marginalizados ndash que natildeo se encontram mais sob assistecircncia governamental
constituindo o uacuteltimo escalatildeo da desqualificaccedilatildeo social
Cabe destacar que a desqualificaccedilatildeo social eacute um processo de marginalizaccedilatildeo de
modo que a perspectiva temporal combinada agrave dimensatildeo relacional ganha relevacircncia
na anaacutelise em questatildeo Em outras palavras o processo depende dos padrotildees de
sociabilidade vigentes num dado contexto sendo a situaccedilatildeo de exclusatildeo definida a partir
dos padrotildees de relaccedilatildeo e ao mesmo tempo produto da configuraccedilatildeo destas mesmasinteraccedilotildees de modo que a matriz do conceito se encontra alicerccedilada na natureza e na
qualidade dos laccedilos sociais Retoma-se aqui as dimensotildees mais subjetivas da condiccedilatildeo
de pobreza ndash perda de auto-estima identidades construiacutedas enfraquecimento dos laccedilos
sociais ndash como fatores de acentuada relevacircncia na manutenccedilatildeo da ordem social e das
redes de reciprocidade e solidariedade Aleacutem disso a introduccedilatildeo da dimensatildeo temporal
permite que a ldquoexclusatildeordquo seja ldquovista como uma dinacircmica e natildeo como um estado o que
valoriza uma compreensatildeo mais ampla do problema e envolve expectativas sobre o
futurordquo (Bronzo p 54)
A OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO CAPITAL SOCIAL
Observamos anteriormente que adotamos a perspectiva de que ele se manifesta via
redes de cooperaccedilatildeo e normas de reciprocidade tal como apontado por Coleman (1990)
Desta forma foi criado por meio de anaacutelise fatorial um Iacutendice de Capital Social para
cada famiacutelia9 a partir de trecircs variaacuteveis que indicam a densidade das relaccedilotildees entre seus
vizinhos o niacutevel de confianccedila e de reciprocidade As variaacuteveis utilizadas na construccedilatildeodo iacutendice foram
1) Com que frequumlecircncia vocecirc diria que as pessoas no bairro ajudam umas agraves outras (1 =
9 Eacute importante ressaltar que embora o iacutendice tenha sido mensurado para cada uma das famiacuteliassupocircs-se que aquelas imersas em contextos de alto capital social teriam mais chances de superarcondiccedilotildees de pobreza que as famiacutelias imersas em contextos de baixo capital social
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1221
nunca ajudam 2 = raramente ajudam 3 = as vezes ajudam 4 = quase sempre ajudam 5
= sempre ajudam)
2) Quantos amigos no bairro vocecirc tem atualmente fora a sua famiacutelia (1 = nenhum 2 =
menos de 3 3 = entre 3 e 5 4 = mais de 5 ateacute 10 6 = mais de 10)
3) Se vocecirc precisar de algum dinheiro ndash em torno de R$ 100 ndash com quantas pessoas no
bairro vocecirc pode contar aleacutem dos seus familiares (1 = nenhuma 2 = 1 ou 2 3 = 3 ou 4
4 = 5 ou 6 5 = 7 ou mais)
A tabela a seguir (matriz de componentes) apresenta os coeficientes ou pesos que
correlaciona as variaacuteveis com o fator(es) A anaacutelise fatorial resultou em apenas um
fator
Matriz de Componentes (output SPSS)
O fator apresentou valor miacutenimo de -154 maacuteximo de 239 e meacutedia de -138
Posteriormente foi ajustado para uma escala entre 0 e 100 apresentando meacutedia de
3924 e desvio padratildeo de 2541 Abaixo temos um histograma do Iacutendice
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1321
IndiceCS
100008000600040002000000
F r e q u e n c i a
50
40
30
20
10
0
Histograma
Histograma da distribuiccedilatildeo de frequecircncia do Iacutendice de Capital Social
(output SPSS) Elaboraccedilatildeo Propria
Hipoacutetese de pesquisa Mesmo controlando pela variaacutevel de escolaridade do chefe e
pelo nuacutemero de moradores no domiciacutelio famiacutelias que se encontram em contextos de
alto capital social tecircm maiores chances de superar condiccedilotildees de pobreza do que as
famiacutelias que se encontram em contextos de baixo capital social
Variaacutevel dependente variaacutevel indicadora dummy em que 0 = famiacutelias com renda per capita abaixo ou igual agrave linha de pobreza do PBF (R$
12000)
1 = famiacutelias com renda per capita superior agrave linha de pobreza do PBF
Variaacuteveis independentes
- escolaridade do chefe (em anos)
- gecircnero do chefe indicadora em que 0 = feminino e 1 = masculino
- se o chefe trabalha indicadora em que 0 = natildeo trabalha e 1 = trabalha- idade do chefe (em anos)
- idade do chefe ao quadrado (idade2)
- se algueacutem na famiacutelia recebe algum tipo de aposentadoria ou benefiacutecio do governo
indicadora em que 0 = natildeo e 1 = sim
- Capital Social Iacutendice de Capital social (valores entre 0 e 100)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1421
O modelo ln[ P (acima da LP = 1) (1 ndash P (acima da LP = 1)] = β0 + β1 (Iacutendice CS) +
β2 (idade do chefe) + β3 (idade do chefe2) + β4 (escolaridade do chefe) + β5 (gecircnero do
chefe) + β6 (trabalha) + β7 (aposentadoriabenefiacutecio)
983126983137983154983145983265983158983141983145983155 983106 983123983145983143
983245983150983140983145983139983141 983107983123 0014 000983095 14
983113983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 011983093 000983095 122
9831139831409831379831409831412 9830850001 00983094 98308501
983109983155983139983151983148983137983154983145983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 0124 000983093 132
983111983274983150983141983154983151 983140983151 983139983144983141983142983141 983085010983095 09830949830973 983085101
983124983154983137983138983137983148983144983137 1983097983095983094 0 98309421983094
983105983152983151983155983141983150983156983137983140983151983154983145983137983106983141983150983141983142983277983139983145983151 1233 0001 2431
983107983151983150983155983156983137983150983156983141 9830854983096983096983093 0
983118983137983143983141983148983147983141983154983147983141 9831222 0301
983107983151983160 983141 983123983150983141983148983148 9831222 022
983118 40983097
983122983141983155983157983148983156983137983140983151 983140983151 983149983151983140983141983148983151 983140983141 983154983141983143983154983141983155983155983267983151 983148983151983143983277983155983156983145983139983137 983085 983114983137983154983140983145983149
983124983141983154983141983155983283983152983151983148983145983155 983090983088983088983094
Fonte Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim Teresoacutepolis ndash 2006 Dados trabalhados
pelos autores
Os resultados da regressatildeo logiacutestica nos permitiram afirmar que o fato da famiacutelia
se encontrar imersa em contextos de alto capital social aumenta sua chance de
superaccedilatildeo das condiccedilotildees de pobreza o que confirmou a hipoacutetese a 1 de significacircncia
estatiacutestica (p = 000 lt 001) O aumento de 1 ponto no iacutendice de capital social eleva em
14 as chances de a famiacutelia superar a LP A tiacutetulo de ilustraccedilatildeo temos por exemplo
que uma famiacutelia com Iacutendice = 80 ndash ou seja imersa em contexto de alto capital social ndash
tem 112 a mais de chance de superar a LP que uma famiacutelia com Iacutendice = 0 ndash contexto
de capital social ldquoinexistenterdquo ndash e 84 a mais de chance do que uma famiacutelia com Iacutendice
= 20 ndash imersa em contexto de baixo capital social
Percebemos assim que o capital social tem uma grande influencia sobre as
possibilidades de uma famiacutelia superar a linha de pobreza No entanto acreditamos
tambeacutem que esta superaccedilatildeo se daacute de forma marginal e que o fato de uma famiacutelia se
encontrar em contexto de alto capital social no interior de uma comunidade vulneraacutevel e
estigmatizada como o Jardim Teresoacutepolis pouca influencia tem sobre as possibilidades
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1521
da famiacutelia superar em larga escala a linha de pobreza A tabela abaixo apresenta os
resultados da regressatildeo de MQO para o logaritmo da renda per capita O objetivo era
avaliar o efeito do capital social sobre a renda das famiacutelias diretamente As variaacuteveis
teste e controle satildeo as mesmas utilizadas no modelo de regressatildeo logiacutestica
983126983137983154983145983265983158983141983145983155 983106 983123983145983143
983245983150983140983145983139983141 983107983123 0003 0 03
983113983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 0031 0 31
9831139831409831379831409831412 000 0002 000
983109983155983139983151983148983137983154983145983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 003983097 0 3983097
983111983274983150983141983154983151 983140983151 983139983144983141983142983141 0001 09830979830962 132
983124983154983137983138983137983148983144983137 029830934 0 29830934983105983152983151983155983141983150983156983137983140983151983154983145983137983106983141983150983141983142983277983139983145983151 02983094983093 0 2983094983093
983107983151983150983155983156983137983150983156983141 344983093 0
9831222 033
9831222 983105983146983157983155983156983137983140983151 031983094
983118 40983097
983122983141983155983157983148983156983137983140983151 983140983151 983149983151983140983141983148983151 983140983141 983154983141983143983154983141983155983155983267983151 983140983141 983117983121983119
Fonte Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim Teresoacutepolis ndash 2006 Dados
trabalhados pelos autores
Os resultados da regressatildeo de MQO confirmam a ideacuteia apresentada acima Se porum lado o capital social tem grande influencia na possibilidade da superaccedilatildeo da linha de
pobreza por outro esta superaccedilatildeo se daacute de forma marginal 1 ponto a mais no Iacutendice de
Capital Social aumenta em 03 a renda total da famiacutelia Numa comunidade em que a
meacutedia da renda per capita domiciliar eacute de R$24348 e que 724 das famiacutelias tem renda
per capita de ateacute 2 vezes a linha de pobreza do PBF (R$24000) este aumento embora
muito significativo para as famiacutelias no que se refere ao consumo pode ser considerado
pouco expressivo em termos de mobilidade social
DISCUSSAtildeO
Este trabalho buscou analisar a relaccedilatildeo existente entre capital social e pobreza
num territoacuterio de alta vulnerabilidade social o bairro jardim Teresoacutepolis em Betim
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1621
Regiatildeo Metropolitana de Belo Horizonte - MG a partir de anaacutelise estatiacutestica com dados
de um survey realizado na regiatildeo em 2006 Embora tenha utilizado as famiacutelias como
unidade de analise a perspectiva de capital social de Coleman permitiu observar o
contexto imediato em que se encontravam inseridas sem tratar o capital social como
propriedade individual Em outras palavras mostramos que as relaccedilotildees sociais nessecontexto podem ser identificadas a partir de como os indiviacuteduos as percebem sem
incorrermos em uma anaacutelise demasiado micro dos fenocircmenos sociais em que as accedilotildees
individuais satildeo vistas como fruto de um caacutelculo estrateacutegico visando otimizar meios e
fins Atestamos assim a importacircncia de se abordar os fenocircmenos sociais a partir de
uma perspectiva relacional evitando tratar os indiviacuteduos como seres atomizados como
bem apontou Granovetter
E em que medida os resultados acima podem trazer uma contribuiccedilatildeo para a
reflexatildeo sobre o estudo de poliacuteticas de renda miacutenima e mais especificamente doPrograma Bolsa Famiacutelia Em primeiro lugar a influecircncia das redes sociais na superaccedilatildeo
das condiccedilotildees de pobreza atesta a relevacircncia de se adotar uma perspectiva relacional do
fenocircmeno Em outras palavras a condiccedilatildeo de pobreza tambeacutem deve ser vista sob a oacutetica
das relaccedilotildees sociais e de como estas podem influenciar o acesso a recursos diversos por
um lado e de como famiacutelias que se encontram abaixo da LP tendem a estar imersas em
redes menos densas e por isso se tornam mais propensas a um processo de exclusatildeo
social por outro Como bem aponta Marques (2007)
O acesso dos indiviacuteduos agraves estruturas de oporunidades que conduzem agravescondiccedilotildees sociais em geral e agraves situaccedilotildees de pobreza em particular eacutemediado pelos padrotildees de relaccedilatildeo que esses indiviacuteduos tecircm com outrosindiviacuteduos e com organizaccedilotildees de variados tipos (Marques 2007 p 36)
Os sociogramas abaixo apresentam simulaccedilotildees de uma famiacutelia imersa em
contextos de alto capital social (Sogiograma 1) e de outra imersa em contexto de baixo
capital social (Sogiograma 2)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1721
FIGURA 1 Sociograma de contexto de altocapital social no interior do Jardim
Teresoacutepolis
FIGURA 2 Sociograma de contexto de baixo capital social nointerior do jardim Teresoacutepolis
Podemos dizer que a famiacutelia ldquoGrdquo em funccedilatildeo da disponibilidade de recursos que
fluem ao longo da rede em que se encontra inserida (contexto de alto capital social) tem
acesso a condiccedilotildees de vida menos desfavoraacuteveis estando acima da LP Jaacute a famiacutelia ldquoErdquo
imersa em uma rede com poucos contatos e de baixa densidade (contexto de baixo
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1821
capital social) natildeo tem agrave sua disposiccedilatildeo recursos que poderiam ter as relaccedilotildees sociais
como origem
Outro aspecto que diz respeito ao Programa Bolsa Famiacutelia em si mas que se
encontra diretamente relacionado ao ponto acima eacute o fato de que o programa parece
atender justamente aqueles imersos em contextos de baixo capital social Nesse sentido
como bem apontaram Sachs e Lages (2001) embora devamos tomar cuidado para natildeo
tratar o capital social como uma ldquoquase-ideologia do desenvolvimentordquo sugere-se que o
desenho institucional do programa poderia enfatizar programas complementares de
potencializaccedilatildeo de redes sociais Natildeo estamos adotando aqui uma perspectiva ndash
ingecircnua na nossa opiniatildeo ndash de que eacute como se fosse possiacutevel ldquodar uma injeccedilatildeo de capital
socialrdquo em determinadas comunidades Antes disso pensamos que haacute formas de se
incentivar o desenho de ambientes e situaccedilotildees propiacutecias agrave criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de
solidariedade social no sentido durkheimiano do termo que possibilitaria a formaccedilatildeo
de coletividades mais coesas inibindo as chances de um processo de exclusatildeo social
Outro apontamento se refere agrave natureza dos laccedilos sociais Embora neste trabalho
tenhamos trabalhado as redes sociais do ponto de vista dos ldquolaccedilos fortesrdquo no interior de
uma comunidade ndash mensurados a partir da frequumlecircncia de contato confianccedila muacutetua e
reciprocidade ndash eacute de fundamental importacircncia que se pense tambeacutem de que forma as
redes sociais vista sob a oacutetica dos ldquolaccedilos fracosrdquo (Granovetter 2000) ndash ou pontes ndash se
relaciona com o tema das poliacuteticas de renda miacutenima
Bibliografia
BRONZO C Programas de proteccedilatildeo social e superaccedilatildeo da pobreza concepccedilotildees e
estrateacutegias de intervenccedilatildeo FAFICHUFMG - 2005
CASTEL Robert As metamorfoses da questatildeo social uma crocircnica do salaacuterio 4ordm
ed RJ Editora Vozes 1998
COLEMAN J Foundations of social theory Cambridge Harvard University
Press 1990
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1921
FIALHO F M ldquoCapital Social usos e definiccedilotildees do conceito nas Ciecircncias
Sociaisrdquo Revista Trecircs Pontos 10 p 31-35 Bel Horizonte 2004
FUNDACcedilAtildeO JOAtildeO PINHEIRO ndash Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim
Teresoacutepolis ndash Relatoacuterio de Pesquisa 2006
GOMAacute R Processos de exclusatildeo e poliacuteticas de inclusatildeo social algumas
reflexotildees conceituais In Bronzo Carla Costa Bruno Gestatildeo Social o que haacute de novo
Belo Horizonte 2004
GRANOVETTER M S Accedilatildeo Econocircmica e Estrutura Social o problema da
imersatildeo Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Eletrocircnica Satildeo Paulo v 6 n 1 art 5
janjun 2007
_____________________ La fuerza de los viacutenculos deacutebiles Poliacutetica y sociedad
p 41-56 Traduccedilatildeo de Maria Angeles Verdasco Madrid 2000
HIGGINS S S Fundamentos teoacutericos do capital social Argos Chapecoacute 2005
MARQUES E Redes Sociais segregaccedilatildeo e pobreza em Satildeo Paulo Tese de
Livre Docecircncia USP 2007
PAUGAM S Desqualificaccedilatildeo social Ensaio sobre a nova pobreza SP Cortez
2003
PORTES A Capital Social Origens e aplicaccedilotildees na sociologia contemporacircnea
Sociologia Problemas e Praacuteticas nuacutemero 33 p 133-158 Traduccedilatildeo de Frederico Aacutegoas
Lisboa 2000
PRATES A A P et al Capital Social e Laccedilos Fracos Influencia no acesso a
benefiacutecios em comunidades carentes de Belo Horioznte Relatoacuterio de Pesquisa
UFMGFAFICH Belo Horioznte 2008
PUTNAM R Comunidade e Democracia a experiecircncia da Itaacutelia moderna Rio
de Janeiro FGV 1996
ROCHA S Renda e Pobreza ndash Medidas per capita versus adulto-equivalente Rio
de Janeiro IPEA Nov 1998 (Texto para Discussatildeo 609)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 2021
SACHS I LAGES V N Capital Social e desenvolvimento novidade para
quem IN CONFERENCIA REGIONAL SOBRE CAPITAL SOCIAL E POBREZA
2001 Anais Santiago Chile CEPAL Univeridad del estado de Michigan 2001
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 2121
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 721
que desse total 34 trabalham sem viacutenculo ou por conta proacutepria e 66 trabalham com
viacutenculo CLT Quanto agrave renda tem-se que para um total de 409 domiciacutelios 151 (369)
se encontravam abaixo e 258 (431) se encontravam acima da linha de pobreza per
capita6 sendo que a meacutedia da renda per capita eacute de R$24348
O PROGRAMA BOLSA FAMIacuteLIA E O FENOcircMENO DA POBREZA
O Programa Bolsa Famiacutelia foi criado pelo governo federal brasileiro em 2003
com o objetivo de unificar a gestatildeo e a implementaccedilatildeo de quatro (depois cinco) poliacuteticas
de transferecircncia de renda7 agraves famiacutelias mais pobres do paiacutes Uma das mudanccedilas mais
importantes desse processo foi a adoccedilatildeo de um sistema de cadastro nacional das
famiacutelias elegiacuteveis a participarem de programas do governo federal o CadUacutenico que
permite uma melhor focalizaccedilatildeo dos programas Atualmente atende a um nuacutemeroaproximado de 117 milhotildees de famiacutelias como jaacute mencionado
O principal objetivo do programa eacute romper com a reproduccedilatildeo inter-geracional da
pobreza atraveacutes de transferecircncias monetaacuterias de renda agraves famiacutelias que satildeo classificadas
como ldquopobresrdquo ou ldquoextremamente pobresrdquo permitindo assim um aliacutevio imediato da
pobreza bem como o exerciacutecio de direitos sociais baacutesicos nas aacutereas de educaccedilatildeo e
sauacutede As condicionalidades para o recebimento dos benefiacutecios se datildeo atraveacutes da
exigecircncia de uma frequumlecircncia escolar miacutenima dos jovens ndash 85 para os de 6 a 15 anos e
75 para aqueles entre 16 e 17 anos ndash da atualizaccedilatildeo do cartatildeo vacinal do
acompanhamento das gestantes e por fim do acompanhamento de accedilotildees soacutecio-
educativas para crianccedilas em situaccedilatildeo de trabalho infantil
Satildeo trecircs os tipos de benefiacutecio cujos valores variam de R$2200 e R$20000
a) benefiacutecio baacutesico ndash R$ 6800 transferido agraves famiacutelias consideradas como
ldquoextremamente pobresrdquo independente da presenccedila ou natildeo de crianccedilas ou
gestantes no domiciacutelio
b) Benefiacutecio variaacutevel ndash R$2200 transferido agraves famiacutelias ldquopobresrdquo desde quetenham crianccedilas com idade de ateacute 15 anos Cada famiacutelia pode receber no
maacuteximo 3 benefiacutecios deste tipo (maacuteximo de R$ 6600)
6 Para estimar a LP utilizou-se o mesmo criteacuterio utilizado pelo Programa Bolsa Famiacutelia em 2006 Ouseja famiacutelias com renda per capita ateacute R$12000 foram consideradas como ldquopobresrdquo e aquelas com rendaper capita acima desse valor foram consideradas como ldquonatildeo pobresrdquo
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 821
c) Benefiacutecio Variaacutevel vinculado ao adolescente (BVVA) ndash R$ 3300 transferido a
todas as famiacutelias do programa que tenham adolescentes entre 16 e 17 anos
frequumlentando a escola Cada famiacutelia pode receber ateacute dois BVVA (R$ 6600)
Como mencionado a classificaccedilatildeo das famiacutelias como ldquopobresrdquo ou
ldquoextremamente pobresrdquo de modo a tornaacute-las participantes em potencial do programa
segue uacutenica e exclusivamente o criteacuterio da renda familiar per capita No entanto a
literatura que trata do fenocircmeno da pobreza apresenta inuacutemeras abordagens tanto no
que se refere agrave definiccedilatildeo do conceito de ldquopobrezardquo como tambeacutem na sua mensuraccedilatildeo e
nas consequumlentes alternativas para o seu enfrentamento
Rocha (1998) defende que para contextos onde eacute alto o percentual da populaccedilatildeo
urbana e com economia largamente monetizada a variaacutevel renda tendo como referecircncia
uma linha de pobreza deve ser tomada como uma proxy do bem estar dos indiviacuteduos e
famiacutelias Para o Brasil mais especificamente a autora defende que ldquoa abordagem de
renda eacute relevante e adequada para o estabelecimento de um crivo baacutesico entre pobres e
natildeo pobres (ou entre indigentes e natildeo-indigentes)rdquo (ROCHA 1998 p 66) A linha de
pobreza (LP) por sua vez pode ser determinada de maneira arbitraacuteria (1U$ ou 2U$dia
por exemplo) o que permite comparaccedilotildees internacionais ou pode ser estabelecida a
partir da observacircncia das caracteriacutesticas soacutecio-econocircmicas principalmente as
relacionadas ao consumo de indiviacuteduos num dado contexto social Este uacuteltimo
procedimento requer a disponibilidade de dados populacionais para seroperacionalizado o que no caso brasileiro natildeo implica em dificuldade e de fato tem sido
realizado em funccedilatildeo das PNADs (Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar) e das
POFs (Pesquisa Orccedilamentaacuteria Familiar)
A distribuiccedilatildeo de despesas permite melhor captar a condiccedilatildeo de vida dascamadas de mais baixa renda Em consequumlecircncia as melhores estimativas depobreza satildeo aquelas derivadas inteiramente dos dados de pesquisas deorccedilamentos familiares (ROCHA 1998 p 59)
Esta visatildeo embora permita a mensuraccedilatildeo do fenocircmeno da pobreza para grandes
populaccedilotildees foi e continua sendo duramente criticada Uma das primeiras criacuteticas partiudo enfoque das ldquonecessidades baacutesicas insatisfeitasrdquo para quem os ldquopobresrdquo satildeo as
pessoas cujo consumo de bens e serviccedilos natildeo atinge ao miacutenimo necessaacuterio8 Este
7 Programa Bolsa Escola Programa Bolsa Alimentaccedilatildeo Auxiacutelio Gaacutes Programa Nacional de Acesso agraveAlimentaccedilatildeo PETI8 Pode-se dizer que o PBF adota esta perspectiva quando do enfrentamento da pobreza ao adotarcondicionalidades que se datildeo no ambito da educaccedilatildeo e da sauacutede mas natildeo como criteacuterio de elegibilidade
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 921
ldquomiacutenimo necessaacuteriordquo diz respeito aos serviccedilos baacutesicos de sauacutede educaccedilatildeo transporte
habitaccedilatildeo dentre outros mas tambeacutem a processos de natureza psico-social como
participaccedilatildeo auto-estima e autonomia Desta forma o conceito de pobreza eacute relativizado
e a consequumlente condiccedilatildeo de pobreza varia de acordo com o contexto social em que as
pessoas se encontram inseridas No entanto embora tal perspectiva possa sercaracterizada como multidimensional e aponte para a inter-relaccedilatildeo existente entre as
diversas carecircncias ainda acaba por privilegiar os aspectos materiais da vida social
estabelecendo um limite de corte entre ldquopobresrdquo e ldquonatildeo pobresrdquo a partir de miacutenimos
sociais
Bronzo (2005) aponta que o grande divisor de aacuteguas nas perspectivas sobre o
fenocircmeno da pobreza pode ser encontrado no trabalho de Amartya Sen que define a
pobreza como carecircncia ou privaccedilatildeo de capacidades Nesse sentido ldquopobresrdquo seriam
aqueles que ldquocarecem de capacidades baacutesicas para operarem no meio social quecarecem de oportunidades para alcanccedilar niacuteveis minimamente aceitaacuteveis de realizaccedilatildeo o
que pode independer da renda que os indiviacuteduos possuemrdquo (Bronzo p 42) Os recursos
monetaacuterios nesse ponto de vista satildeo um meio para atingir o bem-estar e natildeo o bem-
estar em si dado que a renda pode permitir a realizaccedilatildeo de uma capacidade Ou seja o
ponto central aqui eacute a capacidade e natildeo a renda o que faz com que o eixo do enfoque
seja o de pensar a ampliaccedilatildeo das capacidades baacutesicas para que as pessoas possam levar
uma vida digna Em outras palavras se a perspectiva monetarista prioriza os recursos
privados aos quais os indiviacuteduos tecircm acesso o enfoque das capacidades busca examinar
a vida que os indiviacuteduos podem ter inserindo o aspecto da liberdade no centro da
discussatildeo Esta abordagem no entanto ainda se limita a pensar o fenocircmeno sob a oacutetica
individualista na medida em que trata diretamente das capacidades que os indiviacuteduos
podem ter para o exerciacutecio da liberdade
Um marco no estudo da pobreza surgiu a partir da adoccedilatildeo do conceito de
ldquoexclusatildeordquo em especial a partir dos anos 80 na Europa quando o conceito passa a ser
vinculado a processos de instabilidade das relaccedilotildees sociais mais especificamente dos
viacutenculos entre os indiviacuteduos e a sociedade tomando como referecircncia central a dimensatildeo
do trabalho Fica claro nessa perspectiva a influecircncia do pensamento durkheimiano
em especial a ideacuteia de que a densidade dos laccedilos sociais eacute de fundamental importacircncia
para a manutenccedilatildeo da coesatildeo e da ordem A categoria ldquotrabalhordquo ganha relevacircncia
para o recebimento do benefiacutecio
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1021
central na medida em que passa a ser considerado como o principal mecanismo de
sociabilidade para aleacutem dos grupos primaacuterios ficando evidente que a condiccedilatildeo de
desemprego e de trabalho precaacuterio tecircm consequecircncias para aleacutem da renda
enfraquecendo laccedilos e redes sociais e provocando o isolamento Gomaacute aponta que ldquola
exclusioacuten implica fracturas en el tejido social la ruptura de ciertas coordenadas baacutesicasde integracioacuten Y en consecuencia la aparicioacuten de una nueva forma de escisioacuten social
en teacuterminos de dentrofuerardquo (Gomaacute 2004 p 4)
Um autor central para este debate eacute Robert Castel que concentra a sua anaacutelise na
importacircncia das trajetoacuterias para a compreensatildeo dos processos de exclusatildeo processo este
que o autor define como desfiliaccedilatildeo Os ldquoinuacuteteis para o mundordquo nas palavras do autor
seriam aquelas ldquopessoas e grupos que se tornaram supranumeraacuterios diante da
atualizaccedilatildeo das competecircncias econocircmicas e sociaisrdquo (Castel p 23) Satildeo assim produto
de alteraccedilotildees que se datildeo no plano econocircmico (em especial no mundo do trabalho) masvistos sob a oacutetica da questatildeo social Ou seja a anaacutelise de Castel privilegia justamente as
relaccedilotildees que articulam a situaccedilatildeo de precariedade econocircmica com a instabilidade social
tornando-se central a ideacuteia de vulnerabilidade que seria a ldquouma zona intermediaacuteria
instaacutevel que conjuga a precariedade do trabalho e a fragilidade dos suportes de
proximidade (Castel p 24)
As dimensotildees econocircmica (estabilidade e regularidade no trabalho) e social
(redes de sociabilidade primaacuteria ndash famiacutelia vizinhanccedila e comunidade) configuram
ldquoquatro zonasrdquo i) integraccedilatildeo diz respeito a uma situaccedilatildeo de emprego estaacutevel e relaccedilotildees
sociais densas ii) vulnerabilidade fragilizaccedilatildeo das condiccedilotildees laborais e relacionais iii)
assistecircncia recebimento de benefiacutecios puacuteblicos que evitam um ldquodesligamentordquo
econocircmico e social iv) desfiliaccedilatildeo que se refere a uma situaccedilatildeo de desemprego e perda
dos laccedilos sociais A coesatildeo social se daacute portanto a partir do equiliacutebrio entre essas
quatro zonas
Um outro autor que merece ser destacado eacute Serge Paugam (2003) que analisa o
processo de exclusatildeo social a partir da atuaccedilatildeo do Sistema de Proteccedilatildeo Social francecircs
Pode-se dizer que um dos grandes meacuteritos do seu trabalho estaacute em ultrapassar as
condiccedilotildees objetivas que definem a condiccedilatildeo de pobreza retomando a tradiccedilatildeo
weberiana ao enfatizar o sentido e o significado que as pessoas atribuem agrave situaccedilatildeo
vivida Mais do que isso o autor se deteacutem sobre a construccedilatildeo de identidades status e
resistecircncia ao estigma daqueles que satildeo designados como ldquopobresrdquo dimensotildees estas de
forte potencial analiacutetico na compreensatildeo do fenocircmeno e do processo de
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1121
desqualificaccedilatildeoexclusatildeo social
Paugam diferencia trecircs grupos que vivem este processo O primeiro ndash os
fragilizados ndash satildeo aqueles que vivem recentemente uma situaccedilatildeo de vulnerabilidade
sem emprego e renda e que resistem em ser incorporados aos programas de proteccedilatildeo
social O segundo ndash os assistidos ndash jaacute fazem parte e satildeo ateacute dependentes dos programasse encontrando em uma situaccedilatildeo de resignaccedilatildeo frente agrave sua condiccedilatildeo social E por
uacuteltimo ndash os marginalizados ndash que natildeo se encontram mais sob assistecircncia governamental
constituindo o uacuteltimo escalatildeo da desqualificaccedilatildeo social
Cabe destacar que a desqualificaccedilatildeo social eacute um processo de marginalizaccedilatildeo de
modo que a perspectiva temporal combinada agrave dimensatildeo relacional ganha relevacircncia
na anaacutelise em questatildeo Em outras palavras o processo depende dos padrotildees de
sociabilidade vigentes num dado contexto sendo a situaccedilatildeo de exclusatildeo definida a partir
dos padrotildees de relaccedilatildeo e ao mesmo tempo produto da configuraccedilatildeo destas mesmasinteraccedilotildees de modo que a matriz do conceito se encontra alicerccedilada na natureza e na
qualidade dos laccedilos sociais Retoma-se aqui as dimensotildees mais subjetivas da condiccedilatildeo
de pobreza ndash perda de auto-estima identidades construiacutedas enfraquecimento dos laccedilos
sociais ndash como fatores de acentuada relevacircncia na manutenccedilatildeo da ordem social e das
redes de reciprocidade e solidariedade Aleacutem disso a introduccedilatildeo da dimensatildeo temporal
permite que a ldquoexclusatildeordquo seja ldquovista como uma dinacircmica e natildeo como um estado o que
valoriza uma compreensatildeo mais ampla do problema e envolve expectativas sobre o
futurordquo (Bronzo p 54)
A OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO CAPITAL SOCIAL
Observamos anteriormente que adotamos a perspectiva de que ele se manifesta via
redes de cooperaccedilatildeo e normas de reciprocidade tal como apontado por Coleman (1990)
Desta forma foi criado por meio de anaacutelise fatorial um Iacutendice de Capital Social para
cada famiacutelia9 a partir de trecircs variaacuteveis que indicam a densidade das relaccedilotildees entre seus
vizinhos o niacutevel de confianccedila e de reciprocidade As variaacuteveis utilizadas na construccedilatildeodo iacutendice foram
1) Com que frequumlecircncia vocecirc diria que as pessoas no bairro ajudam umas agraves outras (1 =
9 Eacute importante ressaltar que embora o iacutendice tenha sido mensurado para cada uma das famiacuteliassupocircs-se que aquelas imersas em contextos de alto capital social teriam mais chances de superarcondiccedilotildees de pobreza que as famiacutelias imersas em contextos de baixo capital social
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1221
nunca ajudam 2 = raramente ajudam 3 = as vezes ajudam 4 = quase sempre ajudam 5
= sempre ajudam)
2) Quantos amigos no bairro vocecirc tem atualmente fora a sua famiacutelia (1 = nenhum 2 =
menos de 3 3 = entre 3 e 5 4 = mais de 5 ateacute 10 6 = mais de 10)
3) Se vocecirc precisar de algum dinheiro ndash em torno de R$ 100 ndash com quantas pessoas no
bairro vocecirc pode contar aleacutem dos seus familiares (1 = nenhuma 2 = 1 ou 2 3 = 3 ou 4
4 = 5 ou 6 5 = 7 ou mais)
A tabela a seguir (matriz de componentes) apresenta os coeficientes ou pesos que
correlaciona as variaacuteveis com o fator(es) A anaacutelise fatorial resultou em apenas um
fator
Matriz de Componentes (output SPSS)
O fator apresentou valor miacutenimo de -154 maacuteximo de 239 e meacutedia de -138
Posteriormente foi ajustado para uma escala entre 0 e 100 apresentando meacutedia de
3924 e desvio padratildeo de 2541 Abaixo temos um histograma do Iacutendice
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1321
IndiceCS
100008000600040002000000
F r e q u e n c i a
50
40
30
20
10
0
Histograma
Histograma da distribuiccedilatildeo de frequecircncia do Iacutendice de Capital Social
(output SPSS) Elaboraccedilatildeo Propria
Hipoacutetese de pesquisa Mesmo controlando pela variaacutevel de escolaridade do chefe e
pelo nuacutemero de moradores no domiciacutelio famiacutelias que se encontram em contextos de
alto capital social tecircm maiores chances de superar condiccedilotildees de pobreza do que as
famiacutelias que se encontram em contextos de baixo capital social
Variaacutevel dependente variaacutevel indicadora dummy em que 0 = famiacutelias com renda per capita abaixo ou igual agrave linha de pobreza do PBF (R$
12000)
1 = famiacutelias com renda per capita superior agrave linha de pobreza do PBF
Variaacuteveis independentes
- escolaridade do chefe (em anos)
- gecircnero do chefe indicadora em que 0 = feminino e 1 = masculino
- se o chefe trabalha indicadora em que 0 = natildeo trabalha e 1 = trabalha- idade do chefe (em anos)
- idade do chefe ao quadrado (idade2)
- se algueacutem na famiacutelia recebe algum tipo de aposentadoria ou benefiacutecio do governo
indicadora em que 0 = natildeo e 1 = sim
- Capital Social Iacutendice de Capital social (valores entre 0 e 100)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1421
O modelo ln[ P (acima da LP = 1) (1 ndash P (acima da LP = 1)] = β0 + β1 (Iacutendice CS) +
β2 (idade do chefe) + β3 (idade do chefe2) + β4 (escolaridade do chefe) + β5 (gecircnero do
chefe) + β6 (trabalha) + β7 (aposentadoriabenefiacutecio)
983126983137983154983145983265983158983141983145983155 983106 983123983145983143
983245983150983140983145983139983141 983107983123 0014 000983095 14
983113983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 011983093 000983095 122
9831139831409831379831409831412 9830850001 00983094 98308501
983109983155983139983151983148983137983154983145983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 0124 000983093 132
983111983274983150983141983154983151 983140983151 983139983144983141983142983141 983085010983095 09830949830973 983085101
983124983154983137983138983137983148983144983137 1983097983095983094 0 98309421983094
983105983152983151983155983141983150983156983137983140983151983154983145983137983106983141983150983141983142983277983139983145983151 1233 0001 2431
983107983151983150983155983156983137983150983156983141 9830854983096983096983093 0
983118983137983143983141983148983147983141983154983147983141 9831222 0301
983107983151983160 983141 983123983150983141983148983148 9831222 022
983118 40983097
983122983141983155983157983148983156983137983140983151 983140983151 983149983151983140983141983148983151 983140983141 983154983141983143983154983141983155983155983267983151 983148983151983143983277983155983156983145983139983137 983085 983114983137983154983140983145983149
983124983141983154983141983155983283983152983151983148983145983155 983090983088983088983094
Fonte Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim Teresoacutepolis ndash 2006 Dados trabalhados
pelos autores
Os resultados da regressatildeo logiacutestica nos permitiram afirmar que o fato da famiacutelia
se encontrar imersa em contextos de alto capital social aumenta sua chance de
superaccedilatildeo das condiccedilotildees de pobreza o que confirmou a hipoacutetese a 1 de significacircncia
estatiacutestica (p = 000 lt 001) O aumento de 1 ponto no iacutendice de capital social eleva em
14 as chances de a famiacutelia superar a LP A tiacutetulo de ilustraccedilatildeo temos por exemplo
que uma famiacutelia com Iacutendice = 80 ndash ou seja imersa em contexto de alto capital social ndash
tem 112 a mais de chance de superar a LP que uma famiacutelia com Iacutendice = 0 ndash contexto
de capital social ldquoinexistenterdquo ndash e 84 a mais de chance do que uma famiacutelia com Iacutendice
= 20 ndash imersa em contexto de baixo capital social
Percebemos assim que o capital social tem uma grande influencia sobre as
possibilidades de uma famiacutelia superar a linha de pobreza No entanto acreditamos
tambeacutem que esta superaccedilatildeo se daacute de forma marginal e que o fato de uma famiacutelia se
encontrar em contexto de alto capital social no interior de uma comunidade vulneraacutevel e
estigmatizada como o Jardim Teresoacutepolis pouca influencia tem sobre as possibilidades
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1521
da famiacutelia superar em larga escala a linha de pobreza A tabela abaixo apresenta os
resultados da regressatildeo de MQO para o logaritmo da renda per capita O objetivo era
avaliar o efeito do capital social sobre a renda das famiacutelias diretamente As variaacuteveis
teste e controle satildeo as mesmas utilizadas no modelo de regressatildeo logiacutestica
983126983137983154983145983265983158983141983145983155 983106 983123983145983143
983245983150983140983145983139983141 983107983123 0003 0 03
983113983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 0031 0 31
9831139831409831379831409831412 000 0002 000
983109983155983139983151983148983137983154983145983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 003983097 0 3983097
983111983274983150983141983154983151 983140983151 983139983144983141983142983141 0001 09830979830962 132
983124983154983137983138983137983148983144983137 029830934 0 29830934983105983152983151983155983141983150983156983137983140983151983154983145983137983106983141983150983141983142983277983139983145983151 02983094983093 0 2983094983093
983107983151983150983155983156983137983150983156983141 344983093 0
9831222 033
9831222 983105983146983157983155983156983137983140983151 031983094
983118 40983097
983122983141983155983157983148983156983137983140983151 983140983151 983149983151983140983141983148983151 983140983141 983154983141983143983154983141983155983155983267983151 983140983141 983117983121983119
Fonte Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim Teresoacutepolis ndash 2006 Dados
trabalhados pelos autores
Os resultados da regressatildeo de MQO confirmam a ideacuteia apresentada acima Se porum lado o capital social tem grande influencia na possibilidade da superaccedilatildeo da linha de
pobreza por outro esta superaccedilatildeo se daacute de forma marginal 1 ponto a mais no Iacutendice de
Capital Social aumenta em 03 a renda total da famiacutelia Numa comunidade em que a
meacutedia da renda per capita domiciliar eacute de R$24348 e que 724 das famiacutelias tem renda
per capita de ateacute 2 vezes a linha de pobreza do PBF (R$24000) este aumento embora
muito significativo para as famiacutelias no que se refere ao consumo pode ser considerado
pouco expressivo em termos de mobilidade social
DISCUSSAtildeO
Este trabalho buscou analisar a relaccedilatildeo existente entre capital social e pobreza
num territoacuterio de alta vulnerabilidade social o bairro jardim Teresoacutepolis em Betim
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1621
Regiatildeo Metropolitana de Belo Horizonte - MG a partir de anaacutelise estatiacutestica com dados
de um survey realizado na regiatildeo em 2006 Embora tenha utilizado as famiacutelias como
unidade de analise a perspectiva de capital social de Coleman permitiu observar o
contexto imediato em que se encontravam inseridas sem tratar o capital social como
propriedade individual Em outras palavras mostramos que as relaccedilotildees sociais nessecontexto podem ser identificadas a partir de como os indiviacuteduos as percebem sem
incorrermos em uma anaacutelise demasiado micro dos fenocircmenos sociais em que as accedilotildees
individuais satildeo vistas como fruto de um caacutelculo estrateacutegico visando otimizar meios e
fins Atestamos assim a importacircncia de se abordar os fenocircmenos sociais a partir de
uma perspectiva relacional evitando tratar os indiviacuteduos como seres atomizados como
bem apontou Granovetter
E em que medida os resultados acima podem trazer uma contribuiccedilatildeo para a
reflexatildeo sobre o estudo de poliacuteticas de renda miacutenima e mais especificamente doPrograma Bolsa Famiacutelia Em primeiro lugar a influecircncia das redes sociais na superaccedilatildeo
das condiccedilotildees de pobreza atesta a relevacircncia de se adotar uma perspectiva relacional do
fenocircmeno Em outras palavras a condiccedilatildeo de pobreza tambeacutem deve ser vista sob a oacutetica
das relaccedilotildees sociais e de como estas podem influenciar o acesso a recursos diversos por
um lado e de como famiacutelias que se encontram abaixo da LP tendem a estar imersas em
redes menos densas e por isso se tornam mais propensas a um processo de exclusatildeo
social por outro Como bem aponta Marques (2007)
O acesso dos indiviacuteduos agraves estruturas de oporunidades que conduzem agravescondiccedilotildees sociais em geral e agraves situaccedilotildees de pobreza em particular eacutemediado pelos padrotildees de relaccedilatildeo que esses indiviacuteduos tecircm com outrosindiviacuteduos e com organizaccedilotildees de variados tipos (Marques 2007 p 36)
Os sociogramas abaixo apresentam simulaccedilotildees de uma famiacutelia imersa em
contextos de alto capital social (Sogiograma 1) e de outra imersa em contexto de baixo
capital social (Sogiograma 2)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1721
FIGURA 1 Sociograma de contexto de altocapital social no interior do Jardim
Teresoacutepolis
FIGURA 2 Sociograma de contexto de baixo capital social nointerior do jardim Teresoacutepolis
Podemos dizer que a famiacutelia ldquoGrdquo em funccedilatildeo da disponibilidade de recursos que
fluem ao longo da rede em que se encontra inserida (contexto de alto capital social) tem
acesso a condiccedilotildees de vida menos desfavoraacuteveis estando acima da LP Jaacute a famiacutelia ldquoErdquo
imersa em uma rede com poucos contatos e de baixa densidade (contexto de baixo
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1821
capital social) natildeo tem agrave sua disposiccedilatildeo recursos que poderiam ter as relaccedilotildees sociais
como origem
Outro aspecto que diz respeito ao Programa Bolsa Famiacutelia em si mas que se
encontra diretamente relacionado ao ponto acima eacute o fato de que o programa parece
atender justamente aqueles imersos em contextos de baixo capital social Nesse sentido
como bem apontaram Sachs e Lages (2001) embora devamos tomar cuidado para natildeo
tratar o capital social como uma ldquoquase-ideologia do desenvolvimentordquo sugere-se que o
desenho institucional do programa poderia enfatizar programas complementares de
potencializaccedilatildeo de redes sociais Natildeo estamos adotando aqui uma perspectiva ndash
ingecircnua na nossa opiniatildeo ndash de que eacute como se fosse possiacutevel ldquodar uma injeccedilatildeo de capital
socialrdquo em determinadas comunidades Antes disso pensamos que haacute formas de se
incentivar o desenho de ambientes e situaccedilotildees propiacutecias agrave criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de
solidariedade social no sentido durkheimiano do termo que possibilitaria a formaccedilatildeo
de coletividades mais coesas inibindo as chances de um processo de exclusatildeo social
Outro apontamento se refere agrave natureza dos laccedilos sociais Embora neste trabalho
tenhamos trabalhado as redes sociais do ponto de vista dos ldquolaccedilos fortesrdquo no interior de
uma comunidade ndash mensurados a partir da frequumlecircncia de contato confianccedila muacutetua e
reciprocidade ndash eacute de fundamental importacircncia que se pense tambeacutem de que forma as
redes sociais vista sob a oacutetica dos ldquolaccedilos fracosrdquo (Granovetter 2000) ndash ou pontes ndash se
relaciona com o tema das poliacuteticas de renda miacutenima
Bibliografia
BRONZO C Programas de proteccedilatildeo social e superaccedilatildeo da pobreza concepccedilotildees e
estrateacutegias de intervenccedilatildeo FAFICHUFMG - 2005
CASTEL Robert As metamorfoses da questatildeo social uma crocircnica do salaacuterio 4ordm
ed RJ Editora Vozes 1998
COLEMAN J Foundations of social theory Cambridge Harvard University
Press 1990
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1921
FIALHO F M ldquoCapital Social usos e definiccedilotildees do conceito nas Ciecircncias
Sociaisrdquo Revista Trecircs Pontos 10 p 31-35 Bel Horizonte 2004
FUNDACcedilAtildeO JOAtildeO PINHEIRO ndash Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim
Teresoacutepolis ndash Relatoacuterio de Pesquisa 2006
GOMAacute R Processos de exclusatildeo e poliacuteticas de inclusatildeo social algumas
reflexotildees conceituais In Bronzo Carla Costa Bruno Gestatildeo Social o que haacute de novo
Belo Horizonte 2004
GRANOVETTER M S Accedilatildeo Econocircmica e Estrutura Social o problema da
imersatildeo Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Eletrocircnica Satildeo Paulo v 6 n 1 art 5
janjun 2007
_____________________ La fuerza de los viacutenculos deacutebiles Poliacutetica y sociedad
p 41-56 Traduccedilatildeo de Maria Angeles Verdasco Madrid 2000
HIGGINS S S Fundamentos teoacutericos do capital social Argos Chapecoacute 2005
MARQUES E Redes Sociais segregaccedilatildeo e pobreza em Satildeo Paulo Tese de
Livre Docecircncia USP 2007
PAUGAM S Desqualificaccedilatildeo social Ensaio sobre a nova pobreza SP Cortez
2003
PORTES A Capital Social Origens e aplicaccedilotildees na sociologia contemporacircnea
Sociologia Problemas e Praacuteticas nuacutemero 33 p 133-158 Traduccedilatildeo de Frederico Aacutegoas
Lisboa 2000
PRATES A A P et al Capital Social e Laccedilos Fracos Influencia no acesso a
benefiacutecios em comunidades carentes de Belo Horioznte Relatoacuterio de Pesquisa
UFMGFAFICH Belo Horioznte 2008
PUTNAM R Comunidade e Democracia a experiecircncia da Itaacutelia moderna Rio
de Janeiro FGV 1996
ROCHA S Renda e Pobreza ndash Medidas per capita versus adulto-equivalente Rio
de Janeiro IPEA Nov 1998 (Texto para Discussatildeo 609)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 2021
SACHS I LAGES V N Capital Social e desenvolvimento novidade para
quem IN CONFERENCIA REGIONAL SOBRE CAPITAL SOCIAL E POBREZA
2001 Anais Santiago Chile CEPAL Univeridad del estado de Michigan 2001
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 2121
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 821
c) Benefiacutecio Variaacutevel vinculado ao adolescente (BVVA) ndash R$ 3300 transferido a
todas as famiacutelias do programa que tenham adolescentes entre 16 e 17 anos
frequumlentando a escola Cada famiacutelia pode receber ateacute dois BVVA (R$ 6600)
Como mencionado a classificaccedilatildeo das famiacutelias como ldquopobresrdquo ou
ldquoextremamente pobresrdquo de modo a tornaacute-las participantes em potencial do programa
segue uacutenica e exclusivamente o criteacuterio da renda familiar per capita No entanto a
literatura que trata do fenocircmeno da pobreza apresenta inuacutemeras abordagens tanto no
que se refere agrave definiccedilatildeo do conceito de ldquopobrezardquo como tambeacutem na sua mensuraccedilatildeo e
nas consequumlentes alternativas para o seu enfrentamento
Rocha (1998) defende que para contextos onde eacute alto o percentual da populaccedilatildeo
urbana e com economia largamente monetizada a variaacutevel renda tendo como referecircncia
uma linha de pobreza deve ser tomada como uma proxy do bem estar dos indiviacuteduos e
famiacutelias Para o Brasil mais especificamente a autora defende que ldquoa abordagem de
renda eacute relevante e adequada para o estabelecimento de um crivo baacutesico entre pobres e
natildeo pobres (ou entre indigentes e natildeo-indigentes)rdquo (ROCHA 1998 p 66) A linha de
pobreza (LP) por sua vez pode ser determinada de maneira arbitraacuteria (1U$ ou 2U$dia
por exemplo) o que permite comparaccedilotildees internacionais ou pode ser estabelecida a
partir da observacircncia das caracteriacutesticas soacutecio-econocircmicas principalmente as
relacionadas ao consumo de indiviacuteduos num dado contexto social Este uacuteltimo
procedimento requer a disponibilidade de dados populacionais para seroperacionalizado o que no caso brasileiro natildeo implica em dificuldade e de fato tem sido
realizado em funccedilatildeo das PNADs (Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar) e das
POFs (Pesquisa Orccedilamentaacuteria Familiar)
A distribuiccedilatildeo de despesas permite melhor captar a condiccedilatildeo de vida dascamadas de mais baixa renda Em consequumlecircncia as melhores estimativas depobreza satildeo aquelas derivadas inteiramente dos dados de pesquisas deorccedilamentos familiares (ROCHA 1998 p 59)
Esta visatildeo embora permita a mensuraccedilatildeo do fenocircmeno da pobreza para grandes
populaccedilotildees foi e continua sendo duramente criticada Uma das primeiras criacuteticas partiudo enfoque das ldquonecessidades baacutesicas insatisfeitasrdquo para quem os ldquopobresrdquo satildeo as
pessoas cujo consumo de bens e serviccedilos natildeo atinge ao miacutenimo necessaacuterio8 Este
7 Programa Bolsa Escola Programa Bolsa Alimentaccedilatildeo Auxiacutelio Gaacutes Programa Nacional de Acesso agraveAlimentaccedilatildeo PETI8 Pode-se dizer que o PBF adota esta perspectiva quando do enfrentamento da pobreza ao adotarcondicionalidades que se datildeo no ambito da educaccedilatildeo e da sauacutede mas natildeo como criteacuterio de elegibilidade
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 921
ldquomiacutenimo necessaacuteriordquo diz respeito aos serviccedilos baacutesicos de sauacutede educaccedilatildeo transporte
habitaccedilatildeo dentre outros mas tambeacutem a processos de natureza psico-social como
participaccedilatildeo auto-estima e autonomia Desta forma o conceito de pobreza eacute relativizado
e a consequumlente condiccedilatildeo de pobreza varia de acordo com o contexto social em que as
pessoas se encontram inseridas No entanto embora tal perspectiva possa sercaracterizada como multidimensional e aponte para a inter-relaccedilatildeo existente entre as
diversas carecircncias ainda acaba por privilegiar os aspectos materiais da vida social
estabelecendo um limite de corte entre ldquopobresrdquo e ldquonatildeo pobresrdquo a partir de miacutenimos
sociais
Bronzo (2005) aponta que o grande divisor de aacuteguas nas perspectivas sobre o
fenocircmeno da pobreza pode ser encontrado no trabalho de Amartya Sen que define a
pobreza como carecircncia ou privaccedilatildeo de capacidades Nesse sentido ldquopobresrdquo seriam
aqueles que ldquocarecem de capacidades baacutesicas para operarem no meio social quecarecem de oportunidades para alcanccedilar niacuteveis minimamente aceitaacuteveis de realizaccedilatildeo o
que pode independer da renda que os indiviacuteduos possuemrdquo (Bronzo p 42) Os recursos
monetaacuterios nesse ponto de vista satildeo um meio para atingir o bem-estar e natildeo o bem-
estar em si dado que a renda pode permitir a realizaccedilatildeo de uma capacidade Ou seja o
ponto central aqui eacute a capacidade e natildeo a renda o que faz com que o eixo do enfoque
seja o de pensar a ampliaccedilatildeo das capacidades baacutesicas para que as pessoas possam levar
uma vida digna Em outras palavras se a perspectiva monetarista prioriza os recursos
privados aos quais os indiviacuteduos tecircm acesso o enfoque das capacidades busca examinar
a vida que os indiviacuteduos podem ter inserindo o aspecto da liberdade no centro da
discussatildeo Esta abordagem no entanto ainda se limita a pensar o fenocircmeno sob a oacutetica
individualista na medida em que trata diretamente das capacidades que os indiviacuteduos
podem ter para o exerciacutecio da liberdade
Um marco no estudo da pobreza surgiu a partir da adoccedilatildeo do conceito de
ldquoexclusatildeordquo em especial a partir dos anos 80 na Europa quando o conceito passa a ser
vinculado a processos de instabilidade das relaccedilotildees sociais mais especificamente dos
viacutenculos entre os indiviacuteduos e a sociedade tomando como referecircncia central a dimensatildeo
do trabalho Fica claro nessa perspectiva a influecircncia do pensamento durkheimiano
em especial a ideacuteia de que a densidade dos laccedilos sociais eacute de fundamental importacircncia
para a manutenccedilatildeo da coesatildeo e da ordem A categoria ldquotrabalhordquo ganha relevacircncia
para o recebimento do benefiacutecio
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1021
central na medida em que passa a ser considerado como o principal mecanismo de
sociabilidade para aleacutem dos grupos primaacuterios ficando evidente que a condiccedilatildeo de
desemprego e de trabalho precaacuterio tecircm consequecircncias para aleacutem da renda
enfraquecendo laccedilos e redes sociais e provocando o isolamento Gomaacute aponta que ldquola
exclusioacuten implica fracturas en el tejido social la ruptura de ciertas coordenadas baacutesicasde integracioacuten Y en consecuencia la aparicioacuten de una nueva forma de escisioacuten social
en teacuterminos de dentrofuerardquo (Gomaacute 2004 p 4)
Um autor central para este debate eacute Robert Castel que concentra a sua anaacutelise na
importacircncia das trajetoacuterias para a compreensatildeo dos processos de exclusatildeo processo este
que o autor define como desfiliaccedilatildeo Os ldquoinuacuteteis para o mundordquo nas palavras do autor
seriam aquelas ldquopessoas e grupos que se tornaram supranumeraacuterios diante da
atualizaccedilatildeo das competecircncias econocircmicas e sociaisrdquo (Castel p 23) Satildeo assim produto
de alteraccedilotildees que se datildeo no plano econocircmico (em especial no mundo do trabalho) masvistos sob a oacutetica da questatildeo social Ou seja a anaacutelise de Castel privilegia justamente as
relaccedilotildees que articulam a situaccedilatildeo de precariedade econocircmica com a instabilidade social
tornando-se central a ideacuteia de vulnerabilidade que seria a ldquouma zona intermediaacuteria
instaacutevel que conjuga a precariedade do trabalho e a fragilidade dos suportes de
proximidade (Castel p 24)
As dimensotildees econocircmica (estabilidade e regularidade no trabalho) e social
(redes de sociabilidade primaacuteria ndash famiacutelia vizinhanccedila e comunidade) configuram
ldquoquatro zonasrdquo i) integraccedilatildeo diz respeito a uma situaccedilatildeo de emprego estaacutevel e relaccedilotildees
sociais densas ii) vulnerabilidade fragilizaccedilatildeo das condiccedilotildees laborais e relacionais iii)
assistecircncia recebimento de benefiacutecios puacuteblicos que evitam um ldquodesligamentordquo
econocircmico e social iv) desfiliaccedilatildeo que se refere a uma situaccedilatildeo de desemprego e perda
dos laccedilos sociais A coesatildeo social se daacute portanto a partir do equiliacutebrio entre essas
quatro zonas
Um outro autor que merece ser destacado eacute Serge Paugam (2003) que analisa o
processo de exclusatildeo social a partir da atuaccedilatildeo do Sistema de Proteccedilatildeo Social francecircs
Pode-se dizer que um dos grandes meacuteritos do seu trabalho estaacute em ultrapassar as
condiccedilotildees objetivas que definem a condiccedilatildeo de pobreza retomando a tradiccedilatildeo
weberiana ao enfatizar o sentido e o significado que as pessoas atribuem agrave situaccedilatildeo
vivida Mais do que isso o autor se deteacutem sobre a construccedilatildeo de identidades status e
resistecircncia ao estigma daqueles que satildeo designados como ldquopobresrdquo dimensotildees estas de
forte potencial analiacutetico na compreensatildeo do fenocircmeno e do processo de
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1121
desqualificaccedilatildeoexclusatildeo social
Paugam diferencia trecircs grupos que vivem este processo O primeiro ndash os
fragilizados ndash satildeo aqueles que vivem recentemente uma situaccedilatildeo de vulnerabilidade
sem emprego e renda e que resistem em ser incorporados aos programas de proteccedilatildeo
social O segundo ndash os assistidos ndash jaacute fazem parte e satildeo ateacute dependentes dos programasse encontrando em uma situaccedilatildeo de resignaccedilatildeo frente agrave sua condiccedilatildeo social E por
uacuteltimo ndash os marginalizados ndash que natildeo se encontram mais sob assistecircncia governamental
constituindo o uacuteltimo escalatildeo da desqualificaccedilatildeo social
Cabe destacar que a desqualificaccedilatildeo social eacute um processo de marginalizaccedilatildeo de
modo que a perspectiva temporal combinada agrave dimensatildeo relacional ganha relevacircncia
na anaacutelise em questatildeo Em outras palavras o processo depende dos padrotildees de
sociabilidade vigentes num dado contexto sendo a situaccedilatildeo de exclusatildeo definida a partir
dos padrotildees de relaccedilatildeo e ao mesmo tempo produto da configuraccedilatildeo destas mesmasinteraccedilotildees de modo que a matriz do conceito se encontra alicerccedilada na natureza e na
qualidade dos laccedilos sociais Retoma-se aqui as dimensotildees mais subjetivas da condiccedilatildeo
de pobreza ndash perda de auto-estima identidades construiacutedas enfraquecimento dos laccedilos
sociais ndash como fatores de acentuada relevacircncia na manutenccedilatildeo da ordem social e das
redes de reciprocidade e solidariedade Aleacutem disso a introduccedilatildeo da dimensatildeo temporal
permite que a ldquoexclusatildeordquo seja ldquovista como uma dinacircmica e natildeo como um estado o que
valoriza uma compreensatildeo mais ampla do problema e envolve expectativas sobre o
futurordquo (Bronzo p 54)
A OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO CAPITAL SOCIAL
Observamos anteriormente que adotamos a perspectiva de que ele se manifesta via
redes de cooperaccedilatildeo e normas de reciprocidade tal como apontado por Coleman (1990)
Desta forma foi criado por meio de anaacutelise fatorial um Iacutendice de Capital Social para
cada famiacutelia9 a partir de trecircs variaacuteveis que indicam a densidade das relaccedilotildees entre seus
vizinhos o niacutevel de confianccedila e de reciprocidade As variaacuteveis utilizadas na construccedilatildeodo iacutendice foram
1) Com que frequumlecircncia vocecirc diria que as pessoas no bairro ajudam umas agraves outras (1 =
9 Eacute importante ressaltar que embora o iacutendice tenha sido mensurado para cada uma das famiacuteliassupocircs-se que aquelas imersas em contextos de alto capital social teriam mais chances de superarcondiccedilotildees de pobreza que as famiacutelias imersas em contextos de baixo capital social
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1221
nunca ajudam 2 = raramente ajudam 3 = as vezes ajudam 4 = quase sempre ajudam 5
= sempre ajudam)
2) Quantos amigos no bairro vocecirc tem atualmente fora a sua famiacutelia (1 = nenhum 2 =
menos de 3 3 = entre 3 e 5 4 = mais de 5 ateacute 10 6 = mais de 10)
3) Se vocecirc precisar de algum dinheiro ndash em torno de R$ 100 ndash com quantas pessoas no
bairro vocecirc pode contar aleacutem dos seus familiares (1 = nenhuma 2 = 1 ou 2 3 = 3 ou 4
4 = 5 ou 6 5 = 7 ou mais)
A tabela a seguir (matriz de componentes) apresenta os coeficientes ou pesos que
correlaciona as variaacuteveis com o fator(es) A anaacutelise fatorial resultou em apenas um
fator
Matriz de Componentes (output SPSS)
O fator apresentou valor miacutenimo de -154 maacuteximo de 239 e meacutedia de -138
Posteriormente foi ajustado para uma escala entre 0 e 100 apresentando meacutedia de
3924 e desvio padratildeo de 2541 Abaixo temos um histograma do Iacutendice
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1321
IndiceCS
100008000600040002000000
F r e q u e n c i a
50
40
30
20
10
0
Histograma
Histograma da distribuiccedilatildeo de frequecircncia do Iacutendice de Capital Social
(output SPSS) Elaboraccedilatildeo Propria
Hipoacutetese de pesquisa Mesmo controlando pela variaacutevel de escolaridade do chefe e
pelo nuacutemero de moradores no domiciacutelio famiacutelias que se encontram em contextos de
alto capital social tecircm maiores chances de superar condiccedilotildees de pobreza do que as
famiacutelias que se encontram em contextos de baixo capital social
Variaacutevel dependente variaacutevel indicadora dummy em que 0 = famiacutelias com renda per capita abaixo ou igual agrave linha de pobreza do PBF (R$
12000)
1 = famiacutelias com renda per capita superior agrave linha de pobreza do PBF
Variaacuteveis independentes
- escolaridade do chefe (em anos)
- gecircnero do chefe indicadora em que 0 = feminino e 1 = masculino
- se o chefe trabalha indicadora em que 0 = natildeo trabalha e 1 = trabalha- idade do chefe (em anos)
- idade do chefe ao quadrado (idade2)
- se algueacutem na famiacutelia recebe algum tipo de aposentadoria ou benefiacutecio do governo
indicadora em que 0 = natildeo e 1 = sim
- Capital Social Iacutendice de Capital social (valores entre 0 e 100)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1421
O modelo ln[ P (acima da LP = 1) (1 ndash P (acima da LP = 1)] = β0 + β1 (Iacutendice CS) +
β2 (idade do chefe) + β3 (idade do chefe2) + β4 (escolaridade do chefe) + β5 (gecircnero do
chefe) + β6 (trabalha) + β7 (aposentadoriabenefiacutecio)
983126983137983154983145983265983158983141983145983155 983106 983123983145983143
983245983150983140983145983139983141 983107983123 0014 000983095 14
983113983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 011983093 000983095 122
9831139831409831379831409831412 9830850001 00983094 98308501
983109983155983139983151983148983137983154983145983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 0124 000983093 132
983111983274983150983141983154983151 983140983151 983139983144983141983142983141 983085010983095 09830949830973 983085101
983124983154983137983138983137983148983144983137 1983097983095983094 0 98309421983094
983105983152983151983155983141983150983156983137983140983151983154983145983137983106983141983150983141983142983277983139983145983151 1233 0001 2431
983107983151983150983155983156983137983150983156983141 9830854983096983096983093 0
983118983137983143983141983148983147983141983154983147983141 9831222 0301
983107983151983160 983141 983123983150983141983148983148 9831222 022
983118 40983097
983122983141983155983157983148983156983137983140983151 983140983151 983149983151983140983141983148983151 983140983141 983154983141983143983154983141983155983155983267983151 983148983151983143983277983155983156983145983139983137 983085 983114983137983154983140983145983149
983124983141983154983141983155983283983152983151983148983145983155 983090983088983088983094
Fonte Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim Teresoacutepolis ndash 2006 Dados trabalhados
pelos autores
Os resultados da regressatildeo logiacutestica nos permitiram afirmar que o fato da famiacutelia
se encontrar imersa em contextos de alto capital social aumenta sua chance de
superaccedilatildeo das condiccedilotildees de pobreza o que confirmou a hipoacutetese a 1 de significacircncia
estatiacutestica (p = 000 lt 001) O aumento de 1 ponto no iacutendice de capital social eleva em
14 as chances de a famiacutelia superar a LP A tiacutetulo de ilustraccedilatildeo temos por exemplo
que uma famiacutelia com Iacutendice = 80 ndash ou seja imersa em contexto de alto capital social ndash
tem 112 a mais de chance de superar a LP que uma famiacutelia com Iacutendice = 0 ndash contexto
de capital social ldquoinexistenterdquo ndash e 84 a mais de chance do que uma famiacutelia com Iacutendice
= 20 ndash imersa em contexto de baixo capital social
Percebemos assim que o capital social tem uma grande influencia sobre as
possibilidades de uma famiacutelia superar a linha de pobreza No entanto acreditamos
tambeacutem que esta superaccedilatildeo se daacute de forma marginal e que o fato de uma famiacutelia se
encontrar em contexto de alto capital social no interior de uma comunidade vulneraacutevel e
estigmatizada como o Jardim Teresoacutepolis pouca influencia tem sobre as possibilidades
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1521
da famiacutelia superar em larga escala a linha de pobreza A tabela abaixo apresenta os
resultados da regressatildeo de MQO para o logaritmo da renda per capita O objetivo era
avaliar o efeito do capital social sobre a renda das famiacutelias diretamente As variaacuteveis
teste e controle satildeo as mesmas utilizadas no modelo de regressatildeo logiacutestica
983126983137983154983145983265983158983141983145983155 983106 983123983145983143
983245983150983140983145983139983141 983107983123 0003 0 03
983113983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 0031 0 31
9831139831409831379831409831412 000 0002 000
983109983155983139983151983148983137983154983145983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 003983097 0 3983097
983111983274983150983141983154983151 983140983151 983139983144983141983142983141 0001 09830979830962 132
983124983154983137983138983137983148983144983137 029830934 0 29830934983105983152983151983155983141983150983156983137983140983151983154983145983137983106983141983150983141983142983277983139983145983151 02983094983093 0 2983094983093
983107983151983150983155983156983137983150983156983141 344983093 0
9831222 033
9831222 983105983146983157983155983156983137983140983151 031983094
983118 40983097
983122983141983155983157983148983156983137983140983151 983140983151 983149983151983140983141983148983151 983140983141 983154983141983143983154983141983155983155983267983151 983140983141 983117983121983119
Fonte Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim Teresoacutepolis ndash 2006 Dados
trabalhados pelos autores
Os resultados da regressatildeo de MQO confirmam a ideacuteia apresentada acima Se porum lado o capital social tem grande influencia na possibilidade da superaccedilatildeo da linha de
pobreza por outro esta superaccedilatildeo se daacute de forma marginal 1 ponto a mais no Iacutendice de
Capital Social aumenta em 03 a renda total da famiacutelia Numa comunidade em que a
meacutedia da renda per capita domiciliar eacute de R$24348 e que 724 das famiacutelias tem renda
per capita de ateacute 2 vezes a linha de pobreza do PBF (R$24000) este aumento embora
muito significativo para as famiacutelias no que se refere ao consumo pode ser considerado
pouco expressivo em termos de mobilidade social
DISCUSSAtildeO
Este trabalho buscou analisar a relaccedilatildeo existente entre capital social e pobreza
num territoacuterio de alta vulnerabilidade social o bairro jardim Teresoacutepolis em Betim
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1621
Regiatildeo Metropolitana de Belo Horizonte - MG a partir de anaacutelise estatiacutestica com dados
de um survey realizado na regiatildeo em 2006 Embora tenha utilizado as famiacutelias como
unidade de analise a perspectiva de capital social de Coleman permitiu observar o
contexto imediato em que se encontravam inseridas sem tratar o capital social como
propriedade individual Em outras palavras mostramos que as relaccedilotildees sociais nessecontexto podem ser identificadas a partir de como os indiviacuteduos as percebem sem
incorrermos em uma anaacutelise demasiado micro dos fenocircmenos sociais em que as accedilotildees
individuais satildeo vistas como fruto de um caacutelculo estrateacutegico visando otimizar meios e
fins Atestamos assim a importacircncia de se abordar os fenocircmenos sociais a partir de
uma perspectiva relacional evitando tratar os indiviacuteduos como seres atomizados como
bem apontou Granovetter
E em que medida os resultados acima podem trazer uma contribuiccedilatildeo para a
reflexatildeo sobre o estudo de poliacuteticas de renda miacutenima e mais especificamente doPrograma Bolsa Famiacutelia Em primeiro lugar a influecircncia das redes sociais na superaccedilatildeo
das condiccedilotildees de pobreza atesta a relevacircncia de se adotar uma perspectiva relacional do
fenocircmeno Em outras palavras a condiccedilatildeo de pobreza tambeacutem deve ser vista sob a oacutetica
das relaccedilotildees sociais e de como estas podem influenciar o acesso a recursos diversos por
um lado e de como famiacutelias que se encontram abaixo da LP tendem a estar imersas em
redes menos densas e por isso se tornam mais propensas a um processo de exclusatildeo
social por outro Como bem aponta Marques (2007)
O acesso dos indiviacuteduos agraves estruturas de oporunidades que conduzem agravescondiccedilotildees sociais em geral e agraves situaccedilotildees de pobreza em particular eacutemediado pelos padrotildees de relaccedilatildeo que esses indiviacuteduos tecircm com outrosindiviacuteduos e com organizaccedilotildees de variados tipos (Marques 2007 p 36)
Os sociogramas abaixo apresentam simulaccedilotildees de uma famiacutelia imersa em
contextos de alto capital social (Sogiograma 1) e de outra imersa em contexto de baixo
capital social (Sogiograma 2)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1721
FIGURA 1 Sociograma de contexto de altocapital social no interior do Jardim
Teresoacutepolis
FIGURA 2 Sociograma de contexto de baixo capital social nointerior do jardim Teresoacutepolis
Podemos dizer que a famiacutelia ldquoGrdquo em funccedilatildeo da disponibilidade de recursos que
fluem ao longo da rede em que se encontra inserida (contexto de alto capital social) tem
acesso a condiccedilotildees de vida menos desfavoraacuteveis estando acima da LP Jaacute a famiacutelia ldquoErdquo
imersa em uma rede com poucos contatos e de baixa densidade (contexto de baixo
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1821
capital social) natildeo tem agrave sua disposiccedilatildeo recursos que poderiam ter as relaccedilotildees sociais
como origem
Outro aspecto que diz respeito ao Programa Bolsa Famiacutelia em si mas que se
encontra diretamente relacionado ao ponto acima eacute o fato de que o programa parece
atender justamente aqueles imersos em contextos de baixo capital social Nesse sentido
como bem apontaram Sachs e Lages (2001) embora devamos tomar cuidado para natildeo
tratar o capital social como uma ldquoquase-ideologia do desenvolvimentordquo sugere-se que o
desenho institucional do programa poderia enfatizar programas complementares de
potencializaccedilatildeo de redes sociais Natildeo estamos adotando aqui uma perspectiva ndash
ingecircnua na nossa opiniatildeo ndash de que eacute como se fosse possiacutevel ldquodar uma injeccedilatildeo de capital
socialrdquo em determinadas comunidades Antes disso pensamos que haacute formas de se
incentivar o desenho de ambientes e situaccedilotildees propiacutecias agrave criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de
solidariedade social no sentido durkheimiano do termo que possibilitaria a formaccedilatildeo
de coletividades mais coesas inibindo as chances de um processo de exclusatildeo social
Outro apontamento se refere agrave natureza dos laccedilos sociais Embora neste trabalho
tenhamos trabalhado as redes sociais do ponto de vista dos ldquolaccedilos fortesrdquo no interior de
uma comunidade ndash mensurados a partir da frequumlecircncia de contato confianccedila muacutetua e
reciprocidade ndash eacute de fundamental importacircncia que se pense tambeacutem de que forma as
redes sociais vista sob a oacutetica dos ldquolaccedilos fracosrdquo (Granovetter 2000) ndash ou pontes ndash se
relaciona com o tema das poliacuteticas de renda miacutenima
Bibliografia
BRONZO C Programas de proteccedilatildeo social e superaccedilatildeo da pobreza concepccedilotildees e
estrateacutegias de intervenccedilatildeo FAFICHUFMG - 2005
CASTEL Robert As metamorfoses da questatildeo social uma crocircnica do salaacuterio 4ordm
ed RJ Editora Vozes 1998
COLEMAN J Foundations of social theory Cambridge Harvard University
Press 1990
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1921
FIALHO F M ldquoCapital Social usos e definiccedilotildees do conceito nas Ciecircncias
Sociaisrdquo Revista Trecircs Pontos 10 p 31-35 Bel Horizonte 2004
FUNDACcedilAtildeO JOAtildeO PINHEIRO ndash Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim
Teresoacutepolis ndash Relatoacuterio de Pesquisa 2006
GOMAacute R Processos de exclusatildeo e poliacuteticas de inclusatildeo social algumas
reflexotildees conceituais In Bronzo Carla Costa Bruno Gestatildeo Social o que haacute de novo
Belo Horizonte 2004
GRANOVETTER M S Accedilatildeo Econocircmica e Estrutura Social o problema da
imersatildeo Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Eletrocircnica Satildeo Paulo v 6 n 1 art 5
janjun 2007
_____________________ La fuerza de los viacutenculos deacutebiles Poliacutetica y sociedad
p 41-56 Traduccedilatildeo de Maria Angeles Verdasco Madrid 2000
HIGGINS S S Fundamentos teoacutericos do capital social Argos Chapecoacute 2005
MARQUES E Redes Sociais segregaccedilatildeo e pobreza em Satildeo Paulo Tese de
Livre Docecircncia USP 2007
PAUGAM S Desqualificaccedilatildeo social Ensaio sobre a nova pobreza SP Cortez
2003
PORTES A Capital Social Origens e aplicaccedilotildees na sociologia contemporacircnea
Sociologia Problemas e Praacuteticas nuacutemero 33 p 133-158 Traduccedilatildeo de Frederico Aacutegoas
Lisboa 2000
PRATES A A P et al Capital Social e Laccedilos Fracos Influencia no acesso a
benefiacutecios em comunidades carentes de Belo Horioznte Relatoacuterio de Pesquisa
UFMGFAFICH Belo Horioznte 2008
PUTNAM R Comunidade e Democracia a experiecircncia da Itaacutelia moderna Rio
de Janeiro FGV 1996
ROCHA S Renda e Pobreza ndash Medidas per capita versus adulto-equivalente Rio
de Janeiro IPEA Nov 1998 (Texto para Discussatildeo 609)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 2021
SACHS I LAGES V N Capital Social e desenvolvimento novidade para
quem IN CONFERENCIA REGIONAL SOBRE CAPITAL SOCIAL E POBREZA
2001 Anais Santiago Chile CEPAL Univeridad del estado de Michigan 2001
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 2121
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 921
ldquomiacutenimo necessaacuteriordquo diz respeito aos serviccedilos baacutesicos de sauacutede educaccedilatildeo transporte
habitaccedilatildeo dentre outros mas tambeacutem a processos de natureza psico-social como
participaccedilatildeo auto-estima e autonomia Desta forma o conceito de pobreza eacute relativizado
e a consequumlente condiccedilatildeo de pobreza varia de acordo com o contexto social em que as
pessoas se encontram inseridas No entanto embora tal perspectiva possa sercaracterizada como multidimensional e aponte para a inter-relaccedilatildeo existente entre as
diversas carecircncias ainda acaba por privilegiar os aspectos materiais da vida social
estabelecendo um limite de corte entre ldquopobresrdquo e ldquonatildeo pobresrdquo a partir de miacutenimos
sociais
Bronzo (2005) aponta que o grande divisor de aacuteguas nas perspectivas sobre o
fenocircmeno da pobreza pode ser encontrado no trabalho de Amartya Sen que define a
pobreza como carecircncia ou privaccedilatildeo de capacidades Nesse sentido ldquopobresrdquo seriam
aqueles que ldquocarecem de capacidades baacutesicas para operarem no meio social quecarecem de oportunidades para alcanccedilar niacuteveis minimamente aceitaacuteveis de realizaccedilatildeo o
que pode independer da renda que os indiviacuteduos possuemrdquo (Bronzo p 42) Os recursos
monetaacuterios nesse ponto de vista satildeo um meio para atingir o bem-estar e natildeo o bem-
estar em si dado que a renda pode permitir a realizaccedilatildeo de uma capacidade Ou seja o
ponto central aqui eacute a capacidade e natildeo a renda o que faz com que o eixo do enfoque
seja o de pensar a ampliaccedilatildeo das capacidades baacutesicas para que as pessoas possam levar
uma vida digna Em outras palavras se a perspectiva monetarista prioriza os recursos
privados aos quais os indiviacuteduos tecircm acesso o enfoque das capacidades busca examinar
a vida que os indiviacuteduos podem ter inserindo o aspecto da liberdade no centro da
discussatildeo Esta abordagem no entanto ainda se limita a pensar o fenocircmeno sob a oacutetica
individualista na medida em que trata diretamente das capacidades que os indiviacuteduos
podem ter para o exerciacutecio da liberdade
Um marco no estudo da pobreza surgiu a partir da adoccedilatildeo do conceito de
ldquoexclusatildeordquo em especial a partir dos anos 80 na Europa quando o conceito passa a ser
vinculado a processos de instabilidade das relaccedilotildees sociais mais especificamente dos
viacutenculos entre os indiviacuteduos e a sociedade tomando como referecircncia central a dimensatildeo
do trabalho Fica claro nessa perspectiva a influecircncia do pensamento durkheimiano
em especial a ideacuteia de que a densidade dos laccedilos sociais eacute de fundamental importacircncia
para a manutenccedilatildeo da coesatildeo e da ordem A categoria ldquotrabalhordquo ganha relevacircncia
para o recebimento do benefiacutecio
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1021
central na medida em que passa a ser considerado como o principal mecanismo de
sociabilidade para aleacutem dos grupos primaacuterios ficando evidente que a condiccedilatildeo de
desemprego e de trabalho precaacuterio tecircm consequecircncias para aleacutem da renda
enfraquecendo laccedilos e redes sociais e provocando o isolamento Gomaacute aponta que ldquola
exclusioacuten implica fracturas en el tejido social la ruptura de ciertas coordenadas baacutesicasde integracioacuten Y en consecuencia la aparicioacuten de una nueva forma de escisioacuten social
en teacuterminos de dentrofuerardquo (Gomaacute 2004 p 4)
Um autor central para este debate eacute Robert Castel que concentra a sua anaacutelise na
importacircncia das trajetoacuterias para a compreensatildeo dos processos de exclusatildeo processo este
que o autor define como desfiliaccedilatildeo Os ldquoinuacuteteis para o mundordquo nas palavras do autor
seriam aquelas ldquopessoas e grupos que se tornaram supranumeraacuterios diante da
atualizaccedilatildeo das competecircncias econocircmicas e sociaisrdquo (Castel p 23) Satildeo assim produto
de alteraccedilotildees que se datildeo no plano econocircmico (em especial no mundo do trabalho) masvistos sob a oacutetica da questatildeo social Ou seja a anaacutelise de Castel privilegia justamente as
relaccedilotildees que articulam a situaccedilatildeo de precariedade econocircmica com a instabilidade social
tornando-se central a ideacuteia de vulnerabilidade que seria a ldquouma zona intermediaacuteria
instaacutevel que conjuga a precariedade do trabalho e a fragilidade dos suportes de
proximidade (Castel p 24)
As dimensotildees econocircmica (estabilidade e regularidade no trabalho) e social
(redes de sociabilidade primaacuteria ndash famiacutelia vizinhanccedila e comunidade) configuram
ldquoquatro zonasrdquo i) integraccedilatildeo diz respeito a uma situaccedilatildeo de emprego estaacutevel e relaccedilotildees
sociais densas ii) vulnerabilidade fragilizaccedilatildeo das condiccedilotildees laborais e relacionais iii)
assistecircncia recebimento de benefiacutecios puacuteblicos que evitam um ldquodesligamentordquo
econocircmico e social iv) desfiliaccedilatildeo que se refere a uma situaccedilatildeo de desemprego e perda
dos laccedilos sociais A coesatildeo social se daacute portanto a partir do equiliacutebrio entre essas
quatro zonas
Um outro autor que merece ser destacado eacute Serge Paugam (2003) que analisa o
processo de exclusatildeo social a partir da atuaccedilatildeo do Sistema de Proteccedilatildeo Social francecircs
Pode-se dizer que um dos grandes meacuteritos do seu trabalho estaacute em ultrapassar as
condiccedilotildees objetivas que definem a condiccedilatildeo de pobreza retomando a tradiccedilatildeo
weberiana ao enfatizar o sentido e o significado que as pessoas atribuem agrave situaccedilatildeo
vivida Mais do que isso o autor se deteacutem sobre a construccedilatildeo de identidades status e
resistecircncia ao estigma daqueles que satildeo designados como ldquopobresrdquo dimensotildees estas de
forte potencial analiacutetico na compreensatildeo do fenocircmeno e do processo de
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1121
desqualificaccedilatildeoexclusatildeo social
Paugam diferencia trecircs grupos que vivem este processo O primeiro ndash os
fragilizados ndash satildeo aqueles que vivem recentemente uma situaccedilatildeo de vulnerabilidade
sem emprego e renda e que resistem em ser incorporados aos programas de proteccedilatildeo
social O segundo ndash os assistidos ndash jaacute fazem parte e satildeo ateacute dependentes dos programasse encontrando em uma situaccedilatildeo de resignaccedilatildeo frente agrave sua condiccedilatildeo social E por
uacuteltimo ndash os marginalizados ndash que natildeo se encontram mais sob assistecircncia governamental
constituindo o uacuteltimo escalatildeo da desqualificaccedilatildeo social
Cabe destacar que a desqualificaccedilatildeo social eacute um processo de marginalizaccedilatildeo de
modo que a perspectiva temporal combinada agrave dimensatildeo relacional ganha relevacircncia
na anaacutelise em questatildeo Em outras palavras o processo depende dos padrotildees de
sociabilidade vigentes num dado contexto sendo a situaccedilatildeo de exclusatildeo definida a partir
dos padrotildees de relaccedilatildeo e ao mesmo tempo produto da configuraccedilatildeo destas mesmasinteraccedilotildees de modo que a matriz do conceito se encontra alicerccedilada na natureza e na
qualidade dos laccedilos sociais Retoma-se aqui as dimensotildees mais subjetivas da condiccedilatildeo
de pobreza ndash perda de auto-estima identidades construiacutedas enfraquecimento dos laccedilos
sociais ndash como fatores de acentuada relevacircncia na manutenccedilatildeo da ordem social e das
redes de reciprocidade e solidariedade Aleacutem disso a introduccedilatildeo da dimensatildeo temporal
permite que a ldquoexclusatildeordquo seja ldquovista como uma dinacircmica e natildeo como um estado o que
valoriza uma compreensatildeo mais ampla do problema e envolve expectativas sobre o
futurordquo (Bronzo p 54)
A OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO CAPITAL SOCIAL
Observamos anteriormente que adotamos a perspectiva de que ele se manifesta via
redes de cooperaccedilatildeo e normas de reciprocidade tal como apontado por Coleman (1990)
Desta forma foi criado por meio de anaacutelise fatorial um Iacutendice de Capital Social para
cada famiacutelia9 a partir de trecircs variaacuteveis que indicam a densidade das relaccedilotildees entre seus
vizinhos o niacutevel de confianccedila e de reciprocidade As variaacuteveis utilizadas na construccedilatildeodo iacutendice foram
1) Com que frequumlecircncia vocecirc diria que as pessoas no bairro ajudam umas agraves outras (1 =
9 Eacute importante ressaltar que embora o iacutendice tenha sido mensurado para cada uma das famiacuteliassupocircs-se que aquelas imersas em contextos de alto capital social teriam mais chances de superarcondiccedilotildees de pobreza que as famiacutelias imersas em contextos de baixo capital social
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1221
nunca ajudam 2 = raramente ajudam 3 = as vezes ajudam 4 = quase sempre ajudam 5
= sempre ajudam)
2) Quantos amigos no bairro vocecirc tem atualmente fora a sua famiacutelia (1 = nenhum 2 =
menos de 3 3 = entre 3 e 5 4 = mais de 5 ateacute 10 6 = mais de 10)
3) Se vocecirc precisar de algum dinheiro ndash em torno de R$ 100 ndash com quantas pessoas no
bairro vocecirc pode contar aleacutem dos seus familiares (1 = nenhuma 2 = 1 ou 2 3 = 3 ou 4
4 = 5 ou 6 5 = 7 ou mais)
A tabela a seguir (matriz de componentes) apresenta os coeficientes ou pesos que
correlaciona as variaacuteveis com o fator(es) A anaacutelise fatorial resultou em apenas um
fator
Matriz de Componentes (output SPSS)
O fator apresentou valor miacutenimo de -154 maacuteximo de 239 e meacutedia de -138
Posteriormente foi ajustado para uma escala entre 0 e 100 apresentando meacutedia de
3924 e desvio padratildeo de 2541 Abaixo temos um histograma do Iacutendice
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1321
IndiceCS
100008000600040002000000
F r e q u e n c i a
50
40
30
20
10
0
Histograma
Histograma da distribuiccedilatildeo de frequecircncia do Iacutendice de Capital Social
(output SPSS) Elaboraccedilatildeo Propria
Hipoacutetese de pesquisa Mesmo controlando pela variaacutevel de escolaridade do chefe e
pelo nuacutemero de moradores no domiciacutelio famiacutelias que se encontram em contextos de
alto capital social tecircm maiores chances de superar condiccedilotildees de pobreza do que as
famiacutelias que se encontram em contextos de baixo capital social
Variaacutevel dependente variaacutevel indicadora dummy em que 0 = famiacutelias com renda per capita abaixo ou igual agrave linha de pobreza do PBF (R$
12000)
1 = famiacutelias com renda per capita superior agrave linha de pobreza do PBF
Variaacuteveis independentes
- escolaridade do chefe (em anos)
- gecircnero do chefe indicadora em que 0 = feminino e 1 = masculino
- se o chefe trabalha indicadora em que 0 = natildeo trabalha e 1 = trabalha- idade do chefe (em anos)
- idade do chefe ao quadrado (idade2)
- se algueacutem na famiacutelia recebe algum tipo de aposentadoria ou benefiacutecio do governo
indicadora em que 0 = natildeo e 1 = sim
- Capital Social Iacutendice de Capital social (valores entre 0 e 100)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1421
O modelo ln[ P (acima da LP = 1) (1 ndash P (acima da LP = 1)] = β0 + β1 (Iacutendice CS) +
β2 (idade do chefe) + β3 (idade do chefe2) + β4 (escolaridade do chefe) + β5 (gecircnero do
chefe) + β6 (trabalha) + β7 (aposentadoriabenefiacutecio)
983126983137983154983145983265983158983141983145983155 983106 983123983145983143
983245983150983140983145983139983141 983107983123 0014 000983095 14
983113983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 011983093 000983095 122
9831139831409831379831409831412 9830850001 00983094 98308501
983109983155983139983151983148983137983154983145983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 0124 000983093 132
983111983274983150983141983154983151 983140983151 983139983144983141983142983141 983085010983095 09830949830973 983085101
983124983154983137983138983137983148983144983137 1983097983095983094 0 98309421983094
983105983152983151983155983141983150983156983137983140983151983154983145983137983106983141983150983141983142983277983139983145983151 1233 0001 2431
983107983151983150983155983156983137983150983156983141 9830854983096983096983093 0
983118983137983143983141983148983147983141983154983147983141 9831222 0301
983107983151983160 983141 983123983150983141983148983148 9831222 022
983118 40983097
983122983141983155983157983148983156983137983140983151 983140983151 983149983151983140983141983148983151 983140983141 983154983141983143983154983141983155983155983267983151 983148983151983143983277983155983156983145983139983137 983085 983114983137983154983140983145983149
983124983141983154983141983155983283983152983151983148983145983155 983090983088983088983094
Fonte Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim Teresoacutepolis ndash 2006 Dados trabalhados
pelos autores
Os resultados da regressatildeo logiacutestica nos permitiram afirmar que o fato da famiacutelia
se encontrar imersa em contextos de alto capital social aumenta sua chance de
superaccedilatildeo das condiccedilotildees de pobreza o que confirmou a hipoacutetese a 1 de significacircncia
estatiacutestica (p = 000 lt 001) O aumento de 1 ponto no iacutendice de capital social eleva em
14 as chances de a famiacutelia superar a LP A tiacutetulo de ilustraccedilatildeo temos por exemplo
que uma famiacutelia com Iacutendice = 80 ndash ou seja imersa em contexto de alto capital social ndash
tem 112 a mais de chance de superar a LP que uma famiacutelia com Iacutendice = 0 ndash contexto
de capital social ldquoinexistenterdquo ndash e 84 a mais de chance do que uma famiacutelia com Iacutendice
= 20 ndash imersa em contexto de baixo capital social
Percebemos assim que o capital social tem uma grande influencia sobre as
possibilidades de uma famiacutelia superar a linha de pobreza No entanto acreditamos
tambeacutem que esta superaccedilatildeo se daacute de forma marginal e que o fato de uma famiacutelia se
encontrar em contexto de alto capital social no interior de uma comunidade vulneraacutevel e
estigmatizada como o Jardim Teresoacutepolis pouca influencia tem sobre as possibilidades
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1521
da famiacutelia superar em larga escala a linha de pobreza A tabela abaixo apresenta os
resultados da regressatildeo de MQO para o logaritmo da renda per capita O objetivo era
avaliar o efeito do capital social sobre a renda das famiacutelias diretamente As variaacuteveis
teste e controle satildeo as mesmas utilizadas no modelo de regressatildeo logiacutestica
983126983137983154983145983265983158983141983145983155 983106 983123983145983143
983245983150983140983145983139983141 983107983123 0003 0 03
983113983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 0031 0 31
9831139831409831379831409831412 000 0002 000
983109983155983139983151983148983137983154983145983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 003983097 0 3983097
983111983274983150983141983154983151 983140983151 983139983144983141983142983141 0001 09830979830962 132
983124983154983137983138983137983148983144983137 029830934 0 29830934983105983152983151983155983141983150983156983137983140983151983154983145983137983106983141983150983141983142983277983139983145983151 02983094983093 0 2983094983093
983107983151983150983155983156983137983150983156983141 344983093 0
9831222 033
9831222 983105983146983157983155983156983137983140983151 031983094
983118 40983097
983122983141983155983157983148983156983137983140983151 983140983151 983149983151983140983141983148983151 983140983141 983154983141983143983154983141983155983155983267983151 983140983141 983117983121983119
Fonte Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim Teresoacutepolis ndash 2006 Dados
trabalhados pelos autores
Os resultados da regressatildeo de MQO confirmam a ideacuteia apresentada acima Se porum lado o capital social tem grande influencia na possibilidade da superaccedilatildeo da linha de
pobreza por outro esta superaccedilatildeo se daacute de forma marginal 1 ponto a mais no Iacutendice de
Capital Social aumenta em 03 a renda total da famiacutelia Numa comunidade em que a
meacutedia da renda per capita domiciliar eacute de R$24348 e que 724 das famiacutelias tem renda
per capita de ateacute 2 vezes a linha de pobreza do PBF (R$24000) este aumento embora
muito significativo para as famiacutelias no que se refere ao consumo pode ser considerado
pouco expressivo em termos de mobilidade social
DISCUSSAtildeO
Este trabalho buscou analisar a relaccedilatildeo existente entre capital social e pobreza
num territoacuterio de alta vulnerabilidade social o bairro jardim Teresoacutepolis em Betim
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1621
Regiatildeo Metropolitana de Belo Horizonte - MG a partir de anaacutelise estatiacutestica com dados
de um survey realizado na regiatildeo em 2006 Embora tenha utilizado as famiacutelias como
unidade de analise a perspectiva de capital social de Coleman permitiu observar o
contexto imediato em que se encontravam inseridas sem tratar o capital social como
propriedade individual Em outras palavras mostramos que as relaccedilotildees sociais nessecontexto podem ser identificadas a partir de como os indiviacuteduos as percebem sem
incorrermos em uma anaacutelise demasiado micro dos fenocircmenos sociais em que as accedilotildees
individuais satildeo vistas como fruto de um caacutelculo estrateacutegico visando otimizar meios e
fins Atestamos assim a importacircncia de se abordar os fenocircmenos sociais a partir de
uma perspectiva relacional evitando tratar os indiviacuteduos como seres atomizados como
bem apontou Granovetter
E em que medida os resultados acima podem trazer uma contribuiccedilatildeo para a
reflexatildeo sobre o estudo de poliacuteticas de renda miacutenima e mais especificamente doPrograma Bolsa Famiacutelia Em primeiro lugar a influecircncia das redes sociais na superaccedilatildeo
das condiccedilotildees de pobreza atesta a relevacircncia de se adotar uma perspectiva relacional do
fenocircmeno Em outras palavras a condiccedilatildeo de pobreza tambeacutem deve ser vista sob a oacutetica
das relaccedilotildees sociais e de como estas podem influenciar o acesso a recursos diversos por
um lado e de como famiacutelias que se encontram abaixo da LP tendem a estar imersas em
redes menos densas e por isso se tornam mais propensas a um processo de exclusatildeo
social por outro Como bem aponta Marques (2007)
O acesso dos indiviacuteduos agraves estruturas de oporunidades que conduzem agravescondiccedilotildees sociais em geral e agraves situaccedilotildees de pobreza em particular eacutemediado pelos padrotildees de relaccedilatildeo que esses indiviacuteduos tecircm com outrosindiviacuteduos e com organizaccedilotildees de variados tipos (Marques 2007 p 36)
Os sociogramas abaixo apresentam simulaccedilotildees de uma famiacutelia imersa em
contextos de alto capital social (Sogiograma 1) e de outra imersa em contexto de baixo
capital social (Sogiograma 2)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1721
FIGURA 1 Sociograma de contexto de altocapital social no interior do Jardim
Teresoacutepolis
FIGURA 2 Sociograma de contexto de baixo capital social nointerior do jardim Teresoacutepolis
Podemos dizer que a famiacutelia ldquoGrdquo em funccedilatildeo da disponibilidade de recursos que
fluem ao longo da rede em que se encontra inserida (contexto de alto capital social) tem
acesso a condiccedilotildees de vida menos desfavoraacuteveis estando acima da LP Jaacute a famiacutelia ldquoErdquo
imersa em uma rede com poucos contatos e de baixa densidade (contexto de baixo
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1821
capital social) natildeo tem agrave sua disposiccedilatildeo recursos que poderiam ter as relaccedilotildees sociais
como origem
Outro aspecto que diz respeito ao Programa Bolsa Famiacutelia em si mas que se
encontra diretamente relacionado ao ponto acima eacute o fato de que o programa parece
atender justamente aqueles imersos em contextos de baixo capital social Nesse sentido
como bem apontaram Sachs e Lages (2001) embora devamos tomar cuidado para natildeo
tratar o capital social como uma ldquoquase-ideologia do desenvolvimentordquo sugere-se que o
desenho institucional do programa poderia enfatizar programas complementares de
potencializaccedilatildeo de redes sociais Natildeo estamos adotando aqui uma perspectiva ndash
ingecircnua na nossa opiniatildeo ndash de que eacute como se fosse possiacutevel ldquodar uma injeccedilatildeo de capital
socialrdquo em determinadas comunidades Antes disso pensamos que haacute formas de se
incentivar o desenho de ambientes e situaccedilotildees propiacutecias agrave criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de
solidariedade social no sentido durkheimiano do termo que possibilitaria a formaccedilatildeo
de coletividades mais coesas inibindo as chances de um processo de exclusatildeo social
Outro apontamento se refere agrave natureza dos laccedilos sociais Embora neste trabalho
tenhamos trabalhado as redes sociais do ponto de vista dos ldquolaccedilos fortesrdquo no interior de
uma comunidade ndash mensurados a partir da frequumlecircncia de contato confianccedila muacutetua e
reciprocidade ndash eacute de fundamental importacircncia que se pense tambeacutem de que forma as
redes sociais vista sob a oacutetica dos ldquolaccedilos fracosrdquo (Granovetter 2000) ndash ou pontes ndash se
relaciona com o tema das poliacuteticas de renda miacutenima
Bibliografia
BRONZO C Programas de proteccedilatildeo social e superaccedilatildeo da pobreza concepccedilotildees e
estrateacutegias de intervenccedilatildeo FAFICHUFMG - 2005
CASTEL Robert As metamorfoses da questatildeo social uma crocircnica do salaacuterio 4ordm
ed RJ Editora Vozes 1998
COLEMAN J Foundations of social theory Cambridge Harvard University
Press 1990
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1921
FIALHO F M ldquoCapital Social usos e definiccedilotildees do conceito nas Ciecircncias
Sociaisrdquo Revista Trecircs Pontos 10 p 31-35 Bel Horizonte 2004
FUNDACcedilAtildeO JOAtildeO PINHEIRO ndash Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim
Teresoacutepolis ndash Relatoacuterio de Pesquisa 2006
GOMAacute R Processos de exclusatildeo e poliacuteticas de inclusatildeo social algumas
reflexotildees conceituais In Bronzo Carla Costa Bruno Gestatildeo Social o que haacute de novo
Belo Horizonte 2004
GRANOVETTER M S Accedilatildeo Econocircmica e Estrutura Social o problema da
imersatildeo Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Eletrocircnica Satildeo Paulo v 6 n 1 art 5
janjun 2007
_____________________ La fuerza de los viacutenculos deacutebiles Poliacutetica y sociedad
p 41-56 Traduccedilatildeo de Maria Angeles Verdasco Madrid 2000
HIGGINS S S Fundamentos teoacutericos do capital social Argos Chapecoacute 2005
MARQUES E Redes Sociais segregaccedilatildeo e pobreza em Satildeo Paulo Tese de
Livre Docecircncia USP 2007
PAUGAM S Desqualificaccedilatildeo social Ensaio sobre a nova pobreza SP Cortez
2003
PORTES A Capital Social Origens e aplicaccedilotildees na sociologia contemporacircnea
Sociologia Problemas e Praacuteticas nuacutemero 33 p 133-158 Traduccedilatildeo de Frederico Aacutegoas
Lisboa 2000
PRATES A A P et al Capital Social e Laccedilos Fracos Influencia no acesso a
benefiacutecios em comunidades carentes de Belo Horioznte Relatoacuterio de Pesquisa
UFMGFAFICH Belo Horioznte 2008
PUTNAM R Comunidade e Democracia a experiecircncia da Itaacutelia moderna Rio
de Janeiro FGV 1996
ROCHA S Renda e Pobreza ndash Medidas per capita versus adulto-equivalente Rio
de Janeiro IPEA Nov 1998 (Texto para Discussatildeo 609)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 2021
SACHS I LAGES V N Capital Social e desenvolvimento novidade para
quem IN CONFERENCIA REGIONAL SOBRE CAPITAL SOCIAL E POBREZA
2001 Anais Santiago Chile CEPAL Univeridad del estado de Michigan 2001
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 2121
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1021
central na medida em que passa a ser considerado como o principal mecanismo de
sociabilidade para aleacutem dos grupos primaacuterios ficando evidente que a condiccedilatildeo de
desemprego e de trabalho precaacuterio tecircm consequecircncias para aleacutem da renda
enfraquecendo laccedilos e redes sociais e provocando o isolamento Gomaacute aponta que ldquola
exclusioacuten implica fracturas en el tejido social la ruptura de ciertas coordenadas baacutesicasde integracioacuten Y en consecuencia la aparicioacuten de una nueva forma de escisioacuten social
en teacuterminos de dentrofuerardquo (Gomaacute 2004 p 4)
Um autor central para este debate eacute Robert Castel que concentra a sua anaacutelise na
importacircncia das trajetoacuterias para a compreensatildeo dos processos de exclusatildeo processo este
que o autor define como desfiliaccedilatildeo Os ldquoinuacuteteis para o mundordquo nas palavras do autor
seriam aquelas ldquopessoas e grupos que se tornaram supranumeraacuterios diante da
atualizaccedilatildeo das competecircncias econocircmicas e sociaisrdquo (Castel p 23) Satildeo assim produto
de alteraccedilotildees que se datildeo no plano econocircmico (em especial no mundo do trabalho) masvistos sob a oacutetica da questatildeo social Ou seja a anaacutelise de Castel privilegia justamente as
relaccedilotildees que articulam a situaccedilatildeo de precariedade econocircmica com a instabilidade social
tornando-se central a ideacuteia de vulnerabilidade que seria a ldquouma zona intermediaacuteria
instaacutevel que conjuga a precariedade do trabalho e a fragilidade dos suportes de
proximidade (Castel p 24)
As dimensotildees econocircmica (estabilidade e regularidade no trabalho) e social
(redes de sociabilidade primaacuteria ndash famiacutelia vizinhanccedila e comunidade) configuram
ldquoquatro zonasrdquo i) integraccedilatildeo diz respeito a uma situaccedilatildeo de emprego estaacutevel e relaccedilotildees
sociais densas ii) vulnerabilidade fragilizaccedilatildeo das condiccedilotildees laborais e relacionais iii)
assistecircncia recebimento de benefiacutecios puacuteblicos que evitam um ldquodesligamentordquo
econocircmico e social iv) desfiliaccedilatildeo que se refere a uma situaccedilatildeo de desemprego e perda
dos laccedilos sociais A coesatildeo social se daacute portanto a partir do equiliacutebrio entre essas
quatro zonas
Um outro autor que merece ser destacado eacute Serge Paugam (2003) que analisa o
processo de exclusatildeo social a partir da atuaccedilatildeo do Sistema de Proteccedilatildeo Social francecircs
Pode-se dizer que um dos grandes meacuteritos do seu trabalho estaacute em ultrapassar as
condiccedilotildees objetivas que definem a condiccedilatildeo de pobreza retomando a tradiccedilatildeo
weberiana ao enfatizar o sentido e o significado que as pessoas atribuem agrave situaccedilatildeo
vivida Mais do que isso o autor se deteacutem sobre a construccedilatildeo de identidades status e
resistecircncia ao estigma daqueles que satildeo designados como ldquopobresrdquo dimensotildees estas de
forte potencial analiacutetico na compreensatildeo do fenocircmeno e do processo de
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1121
desqualificaccedilatildeoexclusatildeo social
Paugam diferencia trecircs grupos que vivem este processo O primeiro ndash os
fragilizados ndash satildeo aqueles que vivem recentemente uma situaccedilatildeo de vulnerabilidade
sem emprego e renda e que resistem em ser incorporados aos programas de proteccedilatildeo
social O segundo ndash os assistidos ndash jaacute fazem parte e satildeo ateacute dependentes dos programasse encontrando em uma situaccedilatildeo de resignaccedilatildeo frente agrave sua condiccedilatildeo social E por
uacuteltimo ndash os marginalizados ndash que natildeo se encontram mais sob assistecircncia governamental
constituindo o uacuteltimo escalatildeo da desqualificaccedilatildeo social
Cabe destacar que a desqualificaccedilatildeo social eacute um processo de marginalizaccedilatildeo de
modo que a perspectiva temporal combinada agrave dimensatildeo relacional ganha relevacircncia
na anaacutelise em questatildeo Em outras palavras o processo depende dos padrotildees de
sociabilidade vigentes num dado contexto sendo a situaccedilatildeo de exclusatildeo definida a partir
dos padrotildees de relaccedilatildeo e ao mesmo tempo produto da configuraccedilatildeo destas mesmasinteraccedilotildees de modo que a matriz do conceito se encontra alicerccedilada na natureza e na
qualidade dos laccedilos sociais Retoma-se aqui as dimensotildees mais subjetivas da condiccedilatildeo
de pobreza ndash perda de auto-estima identidades construiacutedas enfraquecimento dos laccedilos
sociais ndash como fatores de acentuada relevacircncia na manutenccedilatildeo da ordem social e das
redes de reciprocidade e solidariedade Aleacutem disso a introduccedilatildeo da dimensatildeo temporal
permite que a ldquoexclusatildeordquo seja ldquovista como uma dinacircmica e natildeo como um estado o que
valoriza uma compreensatildeo mais ampla do problema e envolve expectativas sobre o
futurordquo (Bronzo p 54)
A OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO CAPITAL SOCIAL
Observamos anteriormente que adotamos a perspectiva de que ele se manifesta via
redes de cooperaccedilatildeo e normas de reciprocidade tal como apontado por Coleman (1990)
Desta forma foi criado por meio de anaacutelise fatorial um Iacutendice de Capital Social para
cada famiacutelia9 a partir de trecircs variaacuteveis que indicam a densidade das relaccedilotildees entre seus
vizinhos o niacutevel de confianccedila e de reciprocidade As variaacuteveis utilizadas na construccedilatildeodo iacutendice foram
1) Com que frequumlecircncia vocecirc diria que as pessoas no bairro ajudam umas agraves outras (1 =
9 Eacute importante ressaltar que embora o iacutendice tenha sido mensurado para cada uma das famiacuteliassupocircs-se que aquelas imersas em contextos de alto capital social teriam mais chances de superarcondiccedilotildees de pobreza que as famiacutelias imersas em contextos de baixo capital social
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1221
nunca ajudam 2 = raramente ajudam 3 = as vezes ajudam 4 = quase sempre ajudam 5
= sempre ajudam)
2) Quantos amigos no bairro vocecirc tem atualmente fora a sua famiacutelia (1 = nenhum 2 =
menos de 3 3 = entre 3 e 5 4 = mais de 5 ateacute 10 6 = mais de 10)
3) Se vocecirc precisar de algum dinheiro ndash em torno de R$ 100 ndash com quantas pessoas no
bairro vocecirc pode contar aleacutem dos seus familiares (1 = nenhuma 2 = 1 ou 2 3 = 3 ou 4
4 = 5 ou 6 5 = 7 ou mais)
A tabela a seguir (matriz de componentes) apresenta os coeficientes ou pesos que
correlaciona as variaacuteveis com o fator(es) A anaacutelise fatorial resultou em apenas um
fator
Matriz de Componentes (output SPSS)
O fator apresentou valor miacutenimo de -154 maacuteximo de 239 e meacutedia de -138
Posteriormente foi ajustado para uma escala entre 0 e 100 apresentando meacutedia de
3924 e desvio padratildeo de 2541 Abaixo temos um histograma do Iacutendice
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1321
IndiceCS
100008000600040002000000
F r e q u e n c i a
50
40
30
20
10
0
Histograma
Histograma da distribuiccedilatildeo de frequecircncia do Iacutendice de Capital Social
(output SPSS) Elaboraccedilatildeo Propria
Hipoacutetese de pesquisa Mesmo controlando pela variaacutevel de escolaridade do chefe e
pelo nuacutemero de moradores no domiciacutelio famiacutelias que se encontram em contextos de
alto capital social tecircm maiores chances de superar condiccedilotildees de pobreza do que as
famiacutelias que se encontram em contextos de baixo capital social
Variaacutevel dependente variaacutevel indicadora dummy em que 0 = famiacutelias com renda per capita abaixo ou igual agrave linha de pobreza do PBF (R$
12000)
1 = famiacutelias com renda per capita superior agrave linha de pobreza do PBF
Variaacuteveis independentes
- escolaridade do chefe (em anos)
- gecircnero do chefe indicadora em que 0 = feminino e 1 = masculino
- se o chefe trabalha indicadora em que 0 = natildeo trabalha e 1 = trabalha- idade do chefe (em anos)
- idade do chefe ao quadrado (idade2)
- se algueacutem na famiacutelia recebe algum tipo de aposentadoria ou benefiacutecio do governo
indicadora em que 0 = natildeo e 1 = sim
- Capital Social Iacutendice de Capital social (valores entre 0 e 100)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1421
O modelo ln[ P (acima da LP = 1) (1 ndash P (acima da LP = 1)] = β0 + β1 (Iacutendice CS) +
β2 (idade do chefe) + β3 (idade do chefe2) + β4 (escolaridade do chefe) + β5 (gecircnero do
chefe) + β6 (trabalha) + β7 (aposentadoriabenefiacutecio)
983126983137983154983145983265983158983141983145983155 983106 983123983145983143
983245983150983140983145983139983141 983107983123 0014 000983095 14
983113983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 011983093 000983095 122
9831139831409831379831409831412 9830850001 00983094 98308501
983109983155983139983151983148983137983154983145983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 0124 000983093 132
983111983274983150983141983154983151 983140983151 983139983144983141983142983141 983085010983095 09830949830973 983085101
983124983154983137983138983137983148983144983137 1983097983095983094 0 98309421983094
983105983152983151983155983141983150983156983137983140983151983154983145983137983106983141983150983141983142983277983139983145983151 1233 0001 2431
983107983151983150983155983156983137983150983156983141 9830854983096983096983093 0
983118983137983143983141983148983147983141983154983147983141 9831222 0301
983107983151983160 983141 983123983150983141983148983148 9831222 022
983118 40983097
983122983141983155983157983148983156983137983140983151 983140983151 983149983151983140983141983148983151 983140983141 983154983141983143983154983141983155983155983267983151 983148983151983143983277983155983156983145983139983137 983085 983114983137983154983140983145983149
983124983141983154983141983155983283983152983151983148983145983155 983090983088983088983094
Fonte Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim Teresoacutepolis ndash 2006 Dados trabalhados
pelos autores
Os resultados da regressatildeo logiacutestica nos permitiram afirmar que o fato da famiacutelia
se encontrar imersa em contextos de alto capital social aumenta sua chance de
superaccedilatildeo das condiccedilotildees de pobreza o que confirmou a hipoacutetese a 1 de significacircncia
estatiacutestica (p = 000 lt 001) O aumento de 1 ponto no iacutendice de capital social eleva em
14 as chances de a famiacutelia superar a LP A tiacutetulo de ilustraccedilatildeo temos por exemplo
que uma famiacutelia com Iacutendice = 80 ndash ou seja imersa em contexto de alto capital social ndash
tem 112 a mais de chance de superar a LP que uma famiacutelia com Iacutendice = 0 ndash contexto
de capital social ldquoinexistenterdquo ndash e 84 a mais de chance do que uma famiacutelia com Iacutendice
= 20 ndash imersa em contexto de baixo capital social
Percebemos assim que o capital social tem uma grande influencia sobre as
possibilidades de uma famiacutelia superar a linha de pobreza No entanto acreditamos
tambeacutem que esta superaccedilatildeo se daacute de forma marginal e que o fato de uma famiacutelia se
encontrar em contexto de alto capital social no interior de uma comunidade vulneraacutevel e
estigmatizada como o Jardim Teresoacutepolis pouca influencia tem sobre as possibilidades
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1521
da famiacutelia superar em larga escala a linha de pobreza A tabela abaixo apresenta os
resultados da regressatildeo de MQO para o logaritmo da renda per capita O objetivo era
avaliar o efeito do capital social sobre a renda das famiacutelias diretamente As variaacuteveis
teste e controle satildeo as mesmas utilizadas no modelo de regressatildeo logiacutestica
983126983137983154983145983265983158983141983145983155 983106 983123983145983143
983245983150983140983145983139983141 983107983123 0003 0 03
983113983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 0031 0 31
9831139831409831379831409831412 000 0002 000
983109983155983139983151983148983137983154983145983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 003983097 0 3983097
983111983274983150983141983154983151 983140983151 983139983144983141983142983141 0001 09830979830962 132
983124983154983137983138983137983148983144983137 029830934 0 29830934983105983152983151983155983141983150983156983137983140983151983154983145983137983106983141983150983141983142983277983139983145983151 02983094983093 0 2983094983093
983107983151983150983155983156983137983150983156983141 344983093 0
9831222 033
9831222 983105983146983157983155983156983137983140983151 031983094
983118 40983097
983122983141983155983157983148983156983137983140983151 983140983151 983149983151983140983141983148983151 983140983141 983154983141983143983154983141983155983155983267983151 983140983141 983117983121983119
Fonte Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim Teresoacutepolis ndash 2006 Dados
trabalhados pelos autores
Os resultados da regressatildeo de MQO confirmam a ideacuteia apresentada acima Se porum lado o capital social tem grande influencia na possibilidade da superaccedilatildeo da linha de
pobreza por outro esta superaccedilatildeo se daacute de forma marginal 1 ponto a mais no Iacutendice de
Capital Social aumenta em 03 a renda total da famiacutelia Numa comunidade em que a
meacutedia da renda per capita domiciliar eacute de R$24348 e que 724 das famiacutelias tem renda
per capita de ateacute 2 vezes a linha de pobreza do PBF (R$24000) este aumento embora
muito significativo para as famiacutelias no que se refere ao consumo pode ser considerado
pouco expressivo em termos de mobilidade social
DISCUSSAtildeO
Este trabalho buscou analisar a relaccedilatildeo existente entre capital social e pobreza
num territoacuterio de alta vulnerabilidade social o bairro jardim Teresoacutepolis em Betim
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1621
Regiatildeo Metropolitana de Belo Horizonte - MG a partir de anaacutelise estatiacutestica com dados
de um survey realizado na regiatildeo em 2006 Embora tenha utilizado as famiacutelias como
unidade de analise a perspectiva de capital social de Coleman permitiu observar o
contexto imediato em que se encontravam inseridas sem tratar o capital social como
propriedade individual Em outras palavras mostramos que as relaccedilotildees sociais nessecontexto podem ser identificadas a partir de como os indiviacuteduos as percebem sem
incorrermos em uma anaacutelise demasiado micro dos fenocircmenos sociais em que as accedilotildees
individuais satildeo vistas como fruto de um caacutelculo estrateacutegico visando otimizar meios e
fins Atestamos assim a importacircncia de se abordar os fenocircmenos sociais a partir de
uma perspectiva relacional evitando tratar os indiviacuteduos como seres atomizados como
bem apontou Granovetter
E em que medida os resultados acima podem trazer uma contribuiccedilatildeo para a
reflexatildeo sobre o estudo de poliacuteticas de renda miacutenima e mais especificamente doPrograma Bolsa Famiacutelia Em primeiro lugar a influecircncia das redes sociais na superaccedilatildeo
das condiccedilotildees de pobreza atesta a relevacircncia de se adotar uma perspectiva relacional do
fenocircmeno Em outras palavras a condiccedilatildeo de pobreza tambeacutem deve ser vista sob a oacutetica
das relaccedilotildees sociais e de como estas podem influenciar o acesso a recursos diversos por
um lado e de como famiacutelias que se encontram abaixo da LP tendem a estar imersas em
redes menos densas e por isso se tornam mais propensas a um processo de exclusatildeo
social por outro Como bem aponta Marques (2007)
O acesso dos indiviacuteduos agraves estruturas de oporunidades que conduzem agravescondiccedilotildees sociais em geral e agraves situaccedilotildees de pobreza em particular eacutemediado pelos padrotildees de relaccedilatildeo que esses indiviacuteduos tecircm com outrosindiviacuteduos e com organizaccedilotildees de variados tipos (Marques 2007 p 36)
Os sociogramas abaixo apresentam simulaccedilotildees de uma famiacutelia imersa em
contextos de alto capital social (Sogiograma 1) e de outra imersa em contexto de baixo
capital social (Sogiograma 2)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1721
FIGURA 1 Sociograma de contexto de altocapital social no interior do Jardim
Teresoacutepolis
FIGURA 2 Sociograma de contexto de baixo capital social nointerior do jardim Teresoacutepolis
Podemos dizer que a famiacutelia ldquoGrdquo em funccedilatildeo da disponibilidade de recursos que
fluem ao longo da rede em que se encontra inserida (contexto de alto capital social) tem
acesso a condiccedilotildees de vida menos desfavoraacuteveis estando acima da LP Jaacute a famiacutelia ldquoErdquo
imersa em uma rede com poucos contatos e de baixa densidade (contexto de baixo
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1821
capital social) natildeo tem agrave sua disposiccedilatildeo recursos que poderiam ter as relaccedilotildees sociais
como origem
Outro aspecto que diz respeito ao Programa Bolsa Famiacutelia em si mas que se
encontra diretamente relacionado ao ponto acima eacute o fato de que o programa parece
atender justamente aqueles imersos em contextos de baixo capital social Nesse sentido
como bem apontaram Sachs e Lages (2001) embora devamos tomar cuidado para natildeo
tratar o capital social como uma ldquoquase-ideologia do desenvolvimentordquo sugere-se que o
desenho institucional do programa poderia enfatizar programas complementares de
potencializaccedilatildeo de redes sociais Natildeo estamos adotando aqui uma perspectiva ndash
ingecircnua na nossa opiniatildeo ndash de que eacute como se fosse possiacutevel ldquodar uma injeccedilatildeo de capital
socialrdquo em determinadas comunidades Antes disso pensamos que haacute formas de se
incentivar o desenho de ambientes e situaccedilotildees propiacutecias agrave criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de
solidariedade social no sentido durkheimiano do termo que possibilitaria a formaccedilatildeo
de coletividades mais coesas inibindo as chances de um processo de exclusatildeo social
Outro apontamento se refere agrave natureza dos laccedilos sociais Embora neste trabalho
tenhamos trabalhado as redes sociais do ponto de vista dos ldquolaccedilos fortesrdquo no interior de
uma comunidade ndash mensurados a partir da frequumlecircncia de contato confianccedila muacutetua e
reciprocidade ndash eacute de fundamental importacircncia que se pense tambeacutem de que forma as
redes sociais vista sob a oacutetica dos ldquolaccedilos fracosrdquo (Granovetter 2000) ndash ou pontes ndash se
relaciona com o tema das poliacuteticas de renda miacutenima
Bibliografia
BRONZO C Programas de proteccedilatildeo social e superaccedilatildeo da pobreza concepccedilotildees e
estrateacutegias de intervenccedilatildeo FAFICHUFMG - 2005
CASTEL Robert As metamorfoses da questatildeo social uma crocircnica do salaacuterio 4ordm
ed RJ Editora Vozes 1998
COLEMAN J Foundations of social theory Cambridge Harvard University
Press 1990
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1921
FIALHO F M ldquoCapital Social usos e definiccedilotildees do conceito nas Ciecircncias
Sociaisrdquo Revista Trecircs Pontos 10 p 31-35 Bel Horizonte 2004
FUNDACcedilAtildeO JOAtildeO PINHEIRO ndash Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim
Teresoacutepolis ndash Relatoacuterio de Pesquisa 2006
GOMAacute R Processos de exclusatildeo e poliacuteticas de inclusatildeo social algumas
reflexotildees conceituais In Bronzo Carla Costa Bruno Gestatildeo Social o que haacute de novo
Belo Horizonte 2004
GRANOVETTER M S Accedilatildeo Econocircmica e Estrutura Social o problema da
imersatildeo Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Eletrocircnica Satildeo Paulo v 6 n 1 art 5
janjun 2007
_____________________ La fuerza de los viacutenculos deacutebiles Poliacutetica y sociedad
p 41-56 Traduccedilatildeo de Maria Angeles Verdasco Madrid 2000
HIGGINS S S Fundamentos teoacutericos do capital social Argos Chapecoacute 2005
MARQUES E Redes Sociais segregaccedilatildeo e pobreza em Satildeo Paulo Tese de
Livre Docecircncia USP 2007
PAUGAM S Desqualificaccedilatildeo social Ensaio sobre a nova pobreza SP Cortez
2003
PORTES A Capital Social Origens e aplicaccedilotildees na sociologia contemporacircnea
Sociologia Problemas e Praacuteticas nuacutemero 33 p 133-158 Traduccedilatildeo de Frederico Aacutegoas
Lisboa 2000
PRATES A A P et al Capital Social e Laccedilos Fracos Influencia no acesso a
benefiacutecios em comunidades carentes de Belo Horioznte Relatoacuterio de Pesquisa
UFMGFAFICH Belo Horioznte 2008
PUTNAM R Comunidade e Democracia a experiecircncia da Itaacutelia moderna Rio
de Janeiro FGV 1996
ROCHA S Renda e Pobreza ndash Medidas per capita versus adulto-equivalente Rio
de Janeiro IPEA Nov 1998 (Texto para Discussatildeo 609)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 2021
SACHS I LAGES V N Capital Social e desenvolvimento novidade para
quem IN CONFERENCIA REGIONAL SOBRE CAPITAL SOCIAL E POBREZA
2001 Anais Santiago Chile CEPAL Univeridad del estado de Michigan 2001
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 2121
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1121
desqualificaccedilatildeoexclusatildeo social
Paugam diferencia trecircs grupos que vivem este processo O primeiro ndash os
fragilizados ndash satildeo aqueles que vivem recentemente uma situaccedilatildeo de vulnerabilidade
sem emprego e renda e que resistem em ser incorporados aos programas de proteccedilatildeo
social O segundo ndash os assistidos ndash jaacute fazem parte e satildeo ateacute dependentes dos programasse encontrando em uma situaccedilatildeo de resignaccedilatildeo frente agrave sua condiccedilatildeo social E por
uacuteltimo ndash os marginalizados ndash que natildeo se encontram mais sob assistecircncia governamental
constituindo o uacuteltimo escalatildeo da desqualificaccedilatildeo social
Cabe destacar que a desqualificaccedilatildeo social eacute um processo de marginalizaccedilatildeo de
modo que a perspectiva temporal combinada agrave dimensatildeo relacional ganha relevacircncia
na anaacutelise em questatildeo Em outras palavras o processo depende dos padrotildees de
sociabilidade vigentes num dado contexto sendo a situaccedilatildeo de exclusatildeo definida a partir
dos padrotildees de relaccedilatildeo e ao mesmo tempo produto da configuraccedilatildeo destas mesmasinteraccedilotildees de modo que a matriz do conceito se encontra alicerccedilada na natureza e na
qualidade dos laccedilos sociais Retoma-se aqui as dimensotildees mais subjetivas da condiccedilatildeo
de pobreza ndash perda de auto-estima identidades construiacutedas enfraquecimento dos laccedilos
sociais ndash como fatores de acentuada relevacircncia na manutenccedilatildeo da ordem social e das
redes de reciprocidade e solidariedade Aleacutem disso a introduccedilatildeo da dimensatildeo temporal
permite que a ldquoexclusatildeordquo seja ldquovista como uma dinacircmica e natildeo como um estado o que
valoriza uma compreensatildeo mais ampla do problema e envolve expectativas sobre o
futurordquo (Bronzo p 54)
A OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO CAPITAL SOCIAL
Observamos anteriormente que adotamos a perspectiva de que ele se manifesta via
redes de cooperaccedilatildeo e normas de reciprocidade tal como apontado por Coleman (1990)
Desta forma foi criado por meio de anaacutelise fatorial um Iacutendice de Capital Social para
cada famiacutelia9 a partir de trecircs variaacuteveis que indicam a densidade das relaccedilotildees entre seus
vizinhos o niacutevel de confianccedila e de reciprocidade As variaacuteveis utilizadas na construccedilatildeodo iacutendice foram
1) Com que frequumlecircncia vocecirc diria que as pessoas no bairro ajudam umas agraves outras (1 =
9 Eacute importante ressaltar que embora o iacutendice tenha sido mensurado para cada uma das famiacuteliassupocircs-se que aquelas imersas em contextos de alto capital social teriam mais chances de superarcondiccedilotildees de pobreza que as famiacutelias imersas em contextos de baixo capital social
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1221
nunca ajudam 2 = raramente ajudam 3 = as vezes ajudam 4 = quase sempre ajudam 5
= sempre ajudam)
2) Quantos amigos no bairro vocecirc tem atualmente fora a sua famiacutelia (1 = nenhum 2 =
menos de 3 3 = entre 3 e 5 4 = mais de 5 ateacute 10 6 = mais de 10)
3) Se vocecirc precisar de algum dinheiro ndash em torno de R$ 100 ndash com quantas pessoas no
bairro vocecirc pode contar aleacutem dos seus familiares (1 = nenhuma 2 = 1 ou 2 3 = 3 ou 4
4 = 5 ou 6 5 = 7 ou mais)
A tabela a seguir (matriz de componentes) apresenta os coeficientes ou pesos que
correlaciona as variaacuteveis com o fator(es) A anaacutelise fatorial resultou em apenas um
fator
Matriz de Componentes (output SPSS)
O fator apresentou valor miacutenimo de -154 maacuteximo de 239 e meacutedia de -138
Posteriormente foi ajustado para uma escala entre 0 e 100 apresentando meacutedia de
3924 e desvio padratildeo de 2541 Abaixo temos um histograma do Iacutendice
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1321
IndiceCS
100008000600040002000000
F r e q u e n c i a
50
40
30
20
10
0
Histograma
Histograma da distribuiccedilatildeo de frequecircncia do Iacutendice de Capital Social
(output SPSS) Elaboraccedilatildeo Propria
Hipoacutetese de pesquisa Mesmo controlando pela variaacutevel de escolaridade do chefe e
pelo nuacutemero de moradores no domiciacutelio famiacutelias que se encontram em contextos de
alto capital social tecircm maiores chances de superar condiccedilotildees de pobreza do que as
famiacutelias que se encontram em contextos de baixo capital social
Variaacutevel dependente variaacutevel indicadora dummy em que 0 = famiacutelias com renda per capita abaixo ou igual agrave linha de pobreza do PBF (R$
12000)
1 = famiacutelias com renda per capita superior agrave linha de pobreza do PBF
Variaacuteveis independentes
- escolaridade do chefe (em anos)
- gecircnero do chefe indicadora em que 0 = feminino e 1 = masculino
- se o chefe trabalha indicadora em que 0 = natildeo trabalha e 1 = trabalha- idade do chefe (em anos)
- idade do chefe ao quadrado (idade2)
- se algueacutem na famiacutelia recebe algum tipo de aposentadoria ou benefiacutecio do governo
indicadora em que 0 = natildeo e 1 = sim
- Capital Social Iacutendice de Capital social (valores entre 0 e 100)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1421
O modelo ln[ P (acima da LP = 1) (1 ndash P (acima da LP = 1)] = β0 + β1 (Iacutendice CS) +
β2 (idade do chefe) + β3 (idade do chefe2) + β4 (escolaridade do chefe) + β5 (gecircnero do
chefe) + β6 (trabalha) + β7 (aposentadoriabenefiacutecio)
983126983137983154983145983265983158983141983145983155 983106 983123983145983143
983245983150983140983145983139983141 983107983123 0014 000983095 14
983113983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 011983093 000983095 122
9831139831409831379831409831412 9830850001 00983094 98308501
983109983155983139983151983148983137983154983145983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 0124 000983093 132
983111983274983150983141983154983151 983140983151 983139983144983141983142983141 983085010983095 09830949830973 983085101
983124983154983137983138983137983148983144983137 1983097983095983094 0 98309421983094
983105983152983151983155983141983150983156983137983140983151983154983145983137983106983141983150983141983142983277983139983145983151 1233 0001 2431
983107983151983150983155983156983137983150983156983141 9830854983096983096983093 0
983118983137983143983141983148983147983141983154983147983141 9831222 0301
983107983151983160 983141 983123983150983141983148983148 9831222 022
983118 40983097
983122983141983155983157983148983156983137983140983151 983140983151 983149983151983140983141983148983151 983140983141 983154983141983143983154983141983155983155983267983151 983148983151983143983277983155983156983145983139983137 983085 983114983137983154983140983145983149
983124983141983154983141983155983283983152983151983148983145983155 983090983088983088983094
Fonte Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim Teresoacutepolis ndash 2006 Dados trabalhados
pelos autores
Os resultados da regressatildeo logiacutestica nos permitiram afirmar que o fato da famiacutelia
se encontrar imersa em contextos de alto capital social aumenta sua chance de
superaccedilatildeo das condiccedilotildees de pobreza o que confirmou a hipoacutetese a 1 de significacircncia
estatiacutestica (p = 000 lt 001) O aumento de 1 ponto no iacutendice de capital social eleva em
14 as chances de a famiacutelia superar a LP A tiacutetulo de ilustraccedilatildeo temos por exemplo
que uma famiacutelia com Iacutendice = 80 ndash ou seja imersa em contexto de alto capital social ndash
tem 112 a mais de chance de superar a LP que uma famiacutelia com Iacutendice = 0 ndash contexto
de capital social ldquoinexistenterdquo ndash e 84 a mais de chance do que uma famiacutelia com Iacutendice
= 20 ndash imersa em contexto de baixo capital social
Percebemos assim que o capital social tem uma grande influencia sobre as
possibilidades de uma famiacutelia superar a linha de pobreza No entanto acreditamos
tambeacutem que esta superaccedilatildeo se daacute de forma marginal e que o fato de uma famiacutelia se
encontrar em contexto de alto capital social no interior de uma comunidade vulneraacutevel e
estigmatizada como o Jardim Teresoacutepolis pouca influencia tem sobre as possibilidades
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1521
da famiacutelia superar em larga escala a linha de pobreza A tabela abaixo apresenta os
resultados da regressatildeo de MQO para o logaritmo da renda per capita O objetivo era
avaliar o efeito do capital social sobre a renda das famiacutelias diretamente As variaacuteveis
teste e controle satildeo as mesmas utilizadas no modelo de regressatildeo logiacutestica
983126983137983154983145983265983158983141983145983155 983106 983123983145983143
983245983150983140983145983139983141 983107983123 0003 0 03
983113983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 0031 0 31
9831139831409831379831409831412 000 0002 000
983109983155983139983151983148983137983154983145983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 003983097 0 3983097
983111983274983150983141983154983151 983140983151 983139983144983141983142983141 0001 09830979830962 132
983124983154983137983138983137983148983144983137 029830934 0 29830934983105983152983151983155983141983150983156983137983140983151983154983145983137983106983141983150983141983142983277983139983145983151 02983094983093 0 2983094983093
983107983151983150983155983156983137983150983156983141 344983093 0
9831222 033
9831222 983105983146983157983155983156983137983140983151 031983094
983118 40983097
983122983141983155983157983148983156983137983140983151 983140983151 983149983151983140983141983148983151 983140983141 983154983141983143983154983141983155983155983267983151 983140983141 983117983121983119
Fonte Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim Teresoacutepolis ndash 2006 Dados
trabalhados pelos autores
Os resultados da regressatildeo de MQO confirmam a ideacuteia apresentada acima Se porum lado o capital social tem grande influencia na possibilidade da superaccedilatildeo da linha de
pobreza por outro esta superaccedilatildeo se daacute de forma marginal 1 ponto a mais no Iacutendice de
Capital Social aumenta em 03 a renda total da famiacutelia Numa comunidade em que a
meacutedia da renda per capita domiciliar eacute de R$24348 e que 724 das famiacutelias tem renda
per capita de ateacute 2 vezes a linha de pobreza do PBF (R$24000) este aumento embora
muito significativo para as famiacutelias no que se refere ao consumo pode ser considerado
pouco expressivo em termos de mobilidade social
DISCUSSAtildeO
Este trabalho buscou analisar a relaccedilatildeo existente entre capital social e pobreza
num territoacuterio de alta vulnerabilidade social o bairro jardim Teresoacutepolis em Betim
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1621
Regiatildeo Metropolitana de Belo Horizonte - MG a partir de anaacutelise estatiacutestica com dados
de um survey realizado na regiatildeo em 2006 Embora tenha utilizado as famiacutelias como
unidade de analise a perspectiva de capital social de Coleman permitiu observar o
contexto imediato em que se encontravam inseridas sem tratar o capital social como
propriedade individual Em outras palavras mostramos que as relaccedilotildees sociais nessecontexto podem ser identificadas a partir de como os indiviacuteduos as percebem sem
incorrermos em uma anaacutelise demasiado micro dos fenocircmenos sociais em que as accedilotildees
individuais satildeo vistas como fruto de um caacutelculo estrateacutegico visando otimizar meios e
fins Atestamos assim a importacircncia de se abordar os fenocircmenos sociais a partir de
uma perspectiva relacional evitando tratar os indiviacuteduos como seres atomizados como
bem apontou Granovetter
E em que medida os resultados acima podem trazer uma contribuiccedilatildeo para a
reflexatildeo sobre o estudo de poliacuteticas de renda miacutenima e mais especificamente doPrograma Bolsa Famiacutelia Em primeiro lugar a influecircncia das redes sociais na superaccedilatildeo
das condiccedilotildees de pobreza atesta a relevacircncia de se adotar uma perspectiva relacional do
fenocircmeno Em outras palavras a condiccedilatildeo de pobreza tambeacutem deve ser vista sob a oacutetica
das relaccedilotildees sociais e de como estas podem influenciar o acesso a recursos diversos por
um lado e de como famiacutelias que se encontram abaixo da LP tendem a estar imersas em
redes menos densas e por isso se tornam mais propensas a um processo de exclusatildeo
social por outro Como bem aponta Marques (2007)
O acesso dos indiviacuteduos agraves estruturas de oporunidades que conduzem agravescondiccedilotildees sociais em geral e agraves situaccedilotildees de pobreza em particular eacutemediado pelos padrotildees de relaccedilatildeo que esses indiviacuteduos tecircm com outrosindiviacuteduos e com organizaccedilotildees de variados tipos (Marques 2007 p 36)
Os sociogramas abaixo apresentam simulaccedilotildees de uma famiacutelia imersa em
contextos de alto capital social (Sogiograma 1) e de outra imersa em contexto de baixo
capital social (Sogiograma 2)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1721
FIGURA 1 Sociograma de contexto de altocapital social no interior do Jardim
Teresoacutepolis
FIGURA 2 Sociograma de contexto de baixo capital social nointerior do jardim Teresoacutepolis
Podemos dizer que a famiacutelia ldquoGrdquo em funccedilatildeo da disponibilidade de recursos que
fluem ao longo da rede em que se encontra inserida (contexto de alto capital social) tem
acesso a condiccedilotildees de vida menos desfavoraacuteveis estando acima da LP Jaacute a famiacutelia ldquoErdquo
imersa em uma rede com poucos contatos e de baixa densidade (contexto de baixo
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1821
capital social) natildeo tem agrave sua disposiccedilatildeo recursos que poderiam ter as relaccedilotildees sociais
como origem
Outro aspecto que diz respeito ao Programa Bolsa Famiacutelia em si mas que se
encontra diretamente relacionado ao ponto acima eacute o fato de que o programa parece
atender justamente aqueles imersos em contextos de baixo capital social Nesse sentido
como bem apontaram Sachs e Lages (2001) embora devamos tomar cuidado para natildeo
tratar o capital social como uma ldquoquase-ideologia do desenvolvimentordquo sugere-se que o
desenho institucional do programa poderia enfatizar programas complementares de
potencializaccedilatildeo de redes sociais Natildeo estamos adotando aqui uma perspectiva ndash
ingecircnua na nossa opiniatildeo ndash de que eacute como se fosse possiacutevel ldquodar uma injeccedilatildeo de capital
socialrdquo em determinadas comunidades Antes disso pensamos que haacute formas de se
incentivar o desenho de ambientes e situaccedilotildees propiacutecias agrave criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de
solidariedade social no sentido durkheimiano do termo que possibilitaria a formaccedilatildeo
de coletividades mais coesas inibindo as chances de um processo de exclusatildeo social
Outro apontamento se refere agrave natureza dos laccedilos sociais Embora neste trabalho
tenhamos trabalhado as redes sociais do ponto de vista dos ldquolaccedilos fortesrdquo no interior de
uma comunidade ndash mensurados a partir da frequumlecircncia de contato confianccedila muacutetua e
reciprocidade ndash eacute de fundamental importacircncia que se pense tambeacutem de que forma as
redes sociais vista sob a oacutetica dos ldquolaccedilos fracosrdquo (Granovetter 2000) ndash ou pontes ndash se
relaciona com o tema das poliacuteticas de renda miacutenima
Bibliografia
BRONZO C Programas de proteccedilatildeo social e superaccedilatildeo da pobreza concepccedilotildees e
estrateacutegias de intervenccedilatildeo FAFICHUFMG - 2005
CASTEL Robert As metamorfoses da questatildeo social uma crocircnica do salaacuterio 4ordm
ed RJ Editora Vozes 1998
COLEMAN J Foundations of social theory Cambridge Harvard University
Press 1990
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1921
FIALHO F M ldquoCapital Social usos e definiccedilotildees do conceito nas Ciecircncias
Sociaisrdquo Revista Trecircs Pontos 10 p 31-35 Bel Horizonte 2004
FUNDACcedilAtildeO JOAtildeO PINHEIRO ndash Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim
Teresoacutepolis ndash Relatoacuterio de Pesquisa 2006
GOMAacute R Processos de exclusatildeo e poliacuteticas de inclusatildeo social algumas
reflexotildees conceituais In Bronzo Carla Costa Bruno Gestatildeo Social o que haacute de novo
Belo Horizonte 2004
GRANOVETTER M S Accedilatildeo Econocircmica e Estrutura Social o problema da
imersatildeo Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Eletrocircnica Satildeo Paulo v 6 n 1 art 5
janjun 2007
_____________________ La fuerza de los viacutenculos deacutebiles Poliacutetica y sociedad
p 41-56 Traduccedilatildeo de Maria Angeles Verdasco Madrid 2000
HIGGINS S S Fundamentos teoacutericos do capital social Argos Chapecoacute 2005
MARQUES E Redes Sociais segregaccedilatildeo e pobreza em Satildeo Paulo Tese de
Livre Docecircncia USP 2007
PAUGAM S Desqualificaccedilatildeo social Ensaio sobre a nova pobreza SP Cortez
2003
PORTES A Capital Social Origens e aplicaccedilotildees na sociologia contemporacircnea
Sociologia Problemas e Praacuteticas nuacutemero 33 p 133-158 Traduccedilatildeo de Frederico Aacutegoas
Lisboa 2000
PRATES A A P et al Capital Social e Laccedilos Fracos Influencia no acesso a
benefiacutecios em comunidades carentes de Belo Horioznte Relatoacuterio de Pesquisa
UFMGFAFICH Belo Horioznte 2008
PUTNAM R Comunidade e Democracia a experiecircncia da Itaacutelia moderna Rio
de Janeiro FGV 1996
ROCHA S Renda e Pobreza ndash Medidas per capita versus adulto-equivalente Rio
de Janeiro IPEA Nov 1998 (Texto para Discussatildeo 609)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 2021
SACHS I LAGES V N Capital Social e desenvolvimento novidade para
quem IN CONFERENCIA REGIONAL SOBRE CAPITAL SOCIAL E POBREZA
2001 Anais Santiago Chile CEPAL Univeridad del estado de Michigan 2001
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 2121
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1221
nunca ajudam 2 = raramente ajudam 3 = as vezes ajudam 4 = quase sempre ajudam 5
= sempre ajudam)
2) Quantos amigos no bairro vocecirc tem atualmente fora a sua famiacutelia (1 = nenhum 2 =
menos de 3 3 = entre 3 e 5 4 = mais de 5 ateacute 10 6 = mais de 10)
3) Se vocecirc precisar de algum dinheiro ndash em torno de R$ 100 ndash com quantas pessoas no
bairro vocecirc pode contar aleacutem dos seus familiares (1 = nenhuma 2 = 1 ou 2 3 = 3 ou 4
4 = 5 ou 6 5 = 7 ou mais)
A tabela a seguir (matriz de componentes) apresenta os coeficientes ou pesos que
correlaciona as variaacuteveis com o fator(es) A anaacutelise fatorial resultou em apenas um
fator
Matriz de Componentes (output SPSS)
O fator apresentou valor miacutenimo de -154 maacuteximo de 239 e meacutedia de -138
Posteriormente foi ajustado para uma escala entre 0 e 100 apresentando meacutedia de
3924 e desvio padratildeo de 2541 Abaixo temos um histograma do Iacutendice
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1321
IndiceCS
100008000600040002000000
F r e q u e n c i a
50
40
30
20
10
0
Histograma
Histograma da distribuiccedilatildeo de frequecircncia do Iacutendice de Capital Social
(output SPSS) Elaboraccedilatildeo Propria
Hipoacutetese de pesquisa Mesmo controlando pela variaacutevel de escolaridade do chefe e
pelo nuacutemero de moradores no domiciacutelio famiacutelias que se encontram em contextos de
alto capital social tecircm maiores chances de superar condiccedilotildees de pobreza do que as
famiacutelias que se encontram em contextos de baixo capital social
Variaacutevel dependente variaacutevel indicadora dummy em que 0 = famiacutelias com renda per capita abaixo ou igual agrave linha de pobreza do PBF (R$
12000)
1 = famiacutelias com renda per capita superior agrave linha de pobreza do PBF
Variaacuteveis independentes
- escolaridade do chefe (em anos)
- gecircnero do chefe indicadora em que 0 = feminino e 1 = masculino
- se o chefe trabalha indicadora em que 0 = natildeo trabalha e 1 = trabalha- idade do chefe (em anos)
- idade do chefe ao quadrado (idade2)
- se algueacutem na famiacutelia recebe algum tipo de aposentadoria ou benefiacutecio do governo
indicadora em que 0 = natildeo e 1 = sim
- Capital Social Iacutendice de Capital social (valores entre 0 e 100)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1421
O modelo ln[ P (acima da LP = 1) (1 ndash P (acima da LP = 1)] = β0 + β1 (Iacutendice CS) +
β2 (idade do chefe) + β3 (idade do chefe2) + β4 (escolaridade do chefe) + β5 (gecircnero do
chefe) + β6 (trabalha) + β7 (aposentadoriabenefiacutecio)
983126983137983154983145983265983158983141983145983155 983106 983123983145983143
983245983150983140983145983139983141 983107983123 0014 000983095 14
983113983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 011983093 000983095 122
9831139831409831379831409831412 9830850001 00983094 98308501
983109983155983139983151983148983137983154983145983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 0124 000983093 132
983111983274983150983141983154983151 983140983151 983139983144983141983142983141 983085010983095 09830949830973 983085101
983124983154983137983138983137983148983144983137 1983097983095983094 0 98309421983094
983105983152983151983155983141983150983156983137983140983151983154983145983137983106983141983150983141983142983277983139983145983151 1233 0001 2431
983107983151983150983155983156983137983150983156983141 9830854983096983096983093 0
983118983137983143983141983148983147983141983154983147983141 9831222 0301
983107983151983160 983141 983123983150983141983148983148 9831222 022
983118 40983097
983122983141983155983157983148983156983137983140983151 983140983151 983149983151983140983141983148983151 983140983141 983154983141983143983154983141983155983155983267983151 983148983151983143983277983155983156983145983139983137 983085 983114983137983154983140983145983149
983124983141983154983141983155983283983152983151983148983145983155 983090983088983088983094
Fonte Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim Teresoacutepolis ndash 2006 Dados trabalhados
pelos autores
Os resultados da regressatildeo logiacutestica nos permitiram afirmar que o fato da famiacutelia
se encontrar imersa em contextos de alto capital social aumenta sua chance de
superaccedilatildeo das condiccedilotildees de pobreza o que confirmou a hipoacutetese a 1 de significacircncia
estatiacutestica (p = 000 lt 001) O aumento de 1 ponto no iacutendice de capital social eleva em
14 as chances de a famiacutelia superar a LP A tiacutetulo de ilustraccedilatildeo temos por exemplo
que uma famiacutelia com Iacutendice = 80 ndash ou seja imersa em contexto de alto capital social ndash
tem 112 a mais de chance de superar a LP que uma famiacutelia com Iacutendice = 0 ndash contexto
de capital social ldquoinexistenterdquo ndash e 84 a mais de chance do que uma famiacutelia com Iacutendice
= 20 ndash imersa em contexto de baixo capital social
Percebemos assim que o capital social tem uma grande influencia sobre as
possibilidades de uma famiacutelia superar a linha de pobreza No entanto acreditamos
tambeacutem que esta superaccedilatildeo se daacute de forma marginal e que o fato de uma famiacutelia se
encontrar em contexto de alto capital social no interior de uma comunidade vulneraacutevel e
estigmatizada como o Jardim Teresoacutepolis pouca influencia tem sobre as possibilidades
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1521
da famiacutelia superar em larga escala a linha de pobreza A tabela abaixo apresenta os
resultados da regressatildeo de MQO para o logaritmo da renda per capita O objetivo era
avaliar o efeito do capital social sobre a renda das famiacutelias diretamente As variaacuteveis
teste e controle satildeo as mesmas utilizadas no modelo de regressatildeo logiacutestica
983126983137983154983145983265983158983141983145983155 983106 983123983145983143
983245983150983140983145983139983141 983107983123 0003 0 03
983113983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 0031 0 31
9831139831409831379831409831412 000 0002 000
983109983155983139983151983148983137983154983145983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 003983097 0 3983097
983111983274983150983141983154983151 983140983151 983139983144983141983142983141 0001 09830979830962 132
983124983154983137983138983137983148983144983137 029830934 0 29830934983105983152983151983155983141983150983156983137983140983151983154983145983137983106983141983150983141983142983277983139983145983151 02983094983093 0 2983094983093
983107983151983150983155983156983137983150983156983141 344983093 0
9831222 033
9831222 983105983146983157983155983156983137983140983151 031983094
983118 40983097
983122983141983155983157983148983156983137983140983151 983140983151 983149983151983140983141983148983151 983140983141 983154983141983143983154983141983155983155983267983151 983140983141 983117983121983119
Fonte Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim Teresoacutepolis ndash 2006 Dados
trabalhados pelos autores
Os resultados da regressatildeo de MQO confirmam a ideacuteia apresentada acima Se porum lado o capital social tem grande influencia na possibilidade da superaccedilatildeo da linha de
pobreza por outro esta superaccedilatildeo se daacute de forma marginal 1 ponto a mais no Iacutendice de
Capital Social aumenta em 03 a renda total da famiacutelia Numa comunidade em que a
meacutedia da renda per capita domiciliar eacute de R$24348 e que 724 das famiacutelias tem renda
per capita de ateacute 2 vezes a linha de pobreza do PBF (R$24000) este aumento embora
muito significativo para as famiacutelias no que se refere ao consumo pode ser considerado
pouco expressivo em termos de mobilidade social
DISCUSSAtildeO
Este trabalho buscou analisar a relaccedilatildeo existente entre capital social e pobreza
num territoacuterio de alta vulnerabilidade social o bairro jardim Teresoacutepolis em Betim
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1621
Regiatildeo Metropolitana de Belo Horizonte - MG a partir de anaacutelise estatiacutestica com dados
de um survey realizado na regiatildeo em 2006 Embora tenha utilizado as famiacutelias como
unidade de analise a perspectiva de capital social de Coleman permitiu observar o
contexto imediato em que se encontravam inseridas sem tratar o capital social como
propriedade individual Em outras palavras mostramos que as relaccedilotildees sociais nessecontexto podem ser identificadas a partir de como os indiviacuteduos as percebem sem
incorrermos em uma anaacutelise demasiado micro dos fenocircmenos sociais em que as accedilotildees
individuais satildeo vistas como fruto de um caacutelculo estrateacutegico visando otimizar meios e
fins Atestamos assim a importacircncia de se abordar os fenocircmenos sociais a partir de
uma perspectiva relacional evitando tratar os indiviacuteduos como seres atomizados como
bem apontou Granovetter
E em que medida os resultados acima podem trazer uma contribuiccedilatildeo para a
reflexatildeo sobre o estudo de poliacuteticas de renda miacutenima e mais especificamente doPrograma Bolsa Famiacutelia Em primeiro lugar a influecircncia das redes sociais na superaccedilatildeo
das condiccedilotildees de pobreza atesta a relevacircncia de se adotar uma perspectiva relacional do
fenocircmeno Em outras palavras a condiccedilatildeo de pobreza tambeacutem deve ser vista sob a oacutetica
das relaccedilotildees sociais e de como estas podem influenciar o acesso a recursos diversos por
um lado e de como famiacutelias que se encontram abaixo da LP tendem a estar imersas em
redes menos densas e por isso se tornam mais propensas a um processo de exclusatildeo
social por outro Como bem aponta Marques (2007)
O acesso dos indiviacuteduos agraves estruturas de oporunidades que conduzem agravescondiccedilotildees sociais em geral e agraves situaccedilotildees de pobreza em particular eacutemediado pelos padrotildees de relaccedilatildeo que esses indiviacuteduos tecircm com outrosindiviacuteduos e com organizaccedilotildees de variados tipos (Marques 2007 p 36)
Os sociogramas abaixo apresentam simulaccedilotildees de uma famiacutelia imersa em
contextos de alto capital social (Sogiograma 1) e de outra imersa em contexto de baixo
capital social (Sogiograma 2)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1721
FIGURA 1 Sociograma de contexto de altocapital social no interior do Jardim
Teresoacutepolis
FIGURA 2 Sociograma de contexto de baixo capital social nointerior do jardim Teresoacutepolis
Podemos dizer que a famiacutelia ldquoGrdquo em funccedilatildeo da disponibilidade de recursos que
fluem ao longo da rede em que se encontra inserida (contexto de alto capital social) tem
acesso a condiccedilotildees de vida menos desfavoraacuteveis estando acima da LP Jaacute a famiacutelia ldquoErdquo
imersa em uma rede com poucos contatos e de baixa densidade (contexto de baixo
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1821
capital social) natildeo tem agrave sua disposiccedilatildeo recursos que poderiam ter as relaccedilotildees sociais
como origem
Outro aspecto que diz respeito ao Programa Bolsa Famiacutelia em si mas que se
encontra diretamente relacionado ao ponto acima eacute o fato de que o programa parece
atender justamente aqueles imersos em contextos de baixo capital social Nesse sentido
como bem apontaram Sachs e Lages (2001) embora devamos tomar cuidado para natildeo
tratar o capital social como uma ldquoquase-ideologia do desenvolvimentordquo sugere-se que o
desenho institucional do programa poderia enfatizar programas complementares de
potencializaccedilatildeo de redes sociais Natildeo estamos adotando aqui uma perspectiva ndash
ingecircnua na nossa opiniatildeo ndash de que eacute como se fosse possiacutevel ldquodar uma injeccedilatildeo de capital
socialrdquo em determinadas comunidades Antes disso pensamos que haacute formas de se
incentivar o desenho de ambientes e situaccedilotildees propiacutecias agrave criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de
solidariedade social no sentido durkheimiano do termo que possibilitaria a formaccedilatildeo
de coletividades mais coesas inibindo as chances de um processo de exclusatildeo social
Outro apontamento se refere agrave natureza dos laccedilos sociais Embora neste trabalho
tenhamos trabalhado as redes sociais do ponto de vista dos ldquolaccedilos fortesrdquo no interior de
uma comunidade ndash mensurados a partir da frequumlecircncia de contato confianccedila muacutetua e
reciprocidade ndash eacute de fundamental importacircncia que se pense tambeacutem de que forma as
redes sociais vista sob a oacutetica dos ldquolaccedilos fracosrdquo (Granovetter 2000) ndash ou pontes ndash se
relaciona com o tema das poliacuteticas de renda miacutenima
Bibliografia
BRONZO C Programas de proteccedilatildeo social e superaccedilatildeo da pobreza concepccedilotildees e
estrateacutegias de intervenccedilatildeo FAFICHUFMG - 2005
CASTEL Robert As metamorfoses da questatildeo social uma crocircnica do salaacuterio 4ordm
ed RJ Editora Vozes 1998
COLEMAN J Foundations of social theory Cambridge Harvard University
Press 1990
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1921
FIALHO F M ldquoCapital Social usos e definiccedilotildees do conceito nas Ciecircncias
Sociaisrdquo Revista Trecircs Pontos 10 p 31-35 Bel Horizonte 2004
FUNDACcedilAtildeO JOAtildeO PINHEIRO ndash Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim
Teresoacutepolis ndash Relatoacuterio de Pesquisa 2006
GOMAacute R Processos de exclusatildeo e poliacuteticas de inclusatildeo social algumas
reflexotildees conceituais In Bronzo Carla Costa Bruno Gestatildeo Social o que haacute de novo
Belo Horizonte 2004
GRANOVETTER M S Accedilatildeo Econocircmica e Estrutura Social o problema da
imersatildeo Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Eletrocircnica Satildeo Paulo v 6 n 1 art 5
janjun 2007
_____________________ La fuerza de los viacutenculos deacutebiles Poliacutetica y sociedad
p 41-56 Traduccedilatildeo de Maria Angeles Verdasco Madrid 2000
HIGGINS S S Fundamentos teoacutericos do capital social Argos Chapecoacute 2005
MARQUES E Redes Sociais segregaccedilatildeo e pobreza em Satildeo Paulo Tese de
Livre Docecircncia USP 2007
PAUGAM S Desqualificaccedilatildeo social Ensaio sobre a nova pobreza SP Cortez
2003
PORTES A Capital Social Origens e aplicaccedilotildees na sociologia contemporacircnea
Sociologia Problemas e Praacuteticas nuacutemero 33 p 133-158 Traduccedilatildeo de Frederico Aacutegoas
Lisboa 2000
PRATES A A P et al Capital Social e Laccedilos Fracos Influencia no acesso a
benefiacutecios em comunidades carentes de Belo Horioznte Relatoacuterio de Pesquisa
UFMGFAFICH Belo Horioznte 2008
PUTNAM R Comunidade e Democracia a experiecircncia da Itaacutelia moderna Rio
de Janeiro FGV 1996
ROCHA S Renda e Pobreza ndash Medidas per capita versus adulto-equivalente Rio
de Janeiro IPEA Nov 1998 (Texto para Discussatildeo 609)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 2021
SACHS I LAGES V N Capital Social e desenvolvimento novidade para
quem IN CONFERENCIA REGIONAL SOBRE CAPITAL SOCIAL E POBREZA
2001 Anais Santiago Chile CEPAL Univeridad del estado de Michigan 2001
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 2121
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1321
IndiceCS
100008000600040002000000
F r e q u e n c i a
50
40
30
20
10
0
Histograma
Histograma da distribuiccedilatildeo de frequecircncia do Iacutendice de Capital Social
(output SPSS) Elaboraccedilatildeo Propria
Hipoacutetese de pesquisa Mesmo controlando pela variaacutevel de escolaridade do chefe e
pelo nuacutemero de moradores no domiciacutelio famiacutelias que se encontram em contextos de
alto capital social tecircm maiores chances de superar condiccedilotildees de pobreza do que as
famiacutelias que se encontram em contextos de baixo capital social
Variaacutevel dependente variaacutevel indicadora dummy em que 0 = famiacutelias com renda per capita abaixo ou igual agrave linha de pobreza do PBF (R$
12000)
1 = famiacutelias com renda per capita superior agrave linha de pobreza do PBF
Variaacuteveis independentes
- escolaridade do chefe (em anos)
- gecircnero do chefe indicadora em que 0 = feminino e 1 = masculino
- se o chefe trabalha indicadora em que 0 = natildeo trabalha e 1 = trabalha- idade do chefe (em anos)
- idade do chefe ao quadrado (idade2)
- se algueacutem na famiacutelia recebe algum tipo de aposentadoria ou benefiacutecio do governo
indicadora em que 0 = natildeo e 1 = sim
- Capital Social Iacutendice de Capital social (valores entre 0 e 100)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1421
O modelo ln[ P (acima da LP = 1) (1 ndash P (acima da LP = 1)] = β0 + β1 (Iacutendice CS) +
β2 (idade do chefe) + β3 (idade do chefe2) + β4 (escolaridade do chefe) + β5 (gecircnero do
chefe) + β6 (trabalha) + β7 (aposentadoriabenefiacutecio)
983126983137983154983145983265983158983141983145983155 983106 983123983145983143
983245983150983140983145983139983141 983107983123 0014 000983095 14
983113983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 011983093 000983095 122
9831139831409831379831409831412 9830850001 00983094 98308501
983109983155983139983151983148983137983154983145983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 0124 000983093 132
983111983274983150983141983154983151 983140983151 983139983144983141983142983141 983085010983095 09830949830973 983085101
983124983154983137983138983137983148983144983137 1983097983095983094 0 98309421983094
983105983152983151983155983141983150983156983137983140983151983154983145983137983106983141983150983141983142983277983139983145983151 1233 0001 2431
983107983151983150983155983156983137983150983156983141 9830854983096983096983093 0
983118983137983143983141983148983147983141983154983147983141 9831222 0301
983107983151983160 983141 983123983150983141983148983148 9831222 022
983118 40983097
983122983141983155983157983148983156983137983140983151 983140983151 983149983151983140983141983148983151 983140983141 983154983141983143983154983141983155983155983267983151 983148983151983143983277983155983156983145983139983137 983085 983114983137983154983140983145983149
983124983141983154983141983155983283983152983151983148983145983155 983090983088983088983094
Fonte Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim Teresoacutepolis ndash 2006 Dados trabalhados
pelos autores
Os resultados da regressatildeo logiacutestica nos permitiram afirmar que o fato da famiacutelia
se encontrar imersa em contextos de alto capital social aumenta sua chance de
superaccedilatildeo das condiccedilotildees de pobreza o que confirmou a hipoacutetese a 1 de significacircncia
estatiacutestica (p = 000 lt 001) O aumento de 1 ponto no iacutendice de capital social eleva em
14 as chances de a famiacutelia superar a LP A tiacutetulo de ilustraccedilatildeo temos por exemplo
que uma famiacutelia com Iacutendice = 80 ndash ou seja imersa em contexto de alto capital social ndash
tem 112 a mais de chance de superar a LP que uma famiacutelia com Iacutendice = 0 ndash contexto
de capital social ldquoinexistenterdquo ndash e 84 a mais de chance do que uma famiacutelia com Iacutendice
= 20 ndash imersa em contexto de baixo capital social
Percebemos assim que o capital social tem uma grande influencia sobre as
possibilidades de uma famiacutelia superar a linha de pobreza No entanto acreditamos
tambeacutem que esta superaccedilatildeo se daacute de forma marginal e que o fato de uma famiacutelia se
encontrar em contexto de alto capital social no interior de uma comunidade vulneraacutevel e
estigmatizada como o Jardim Teresoacutepolis pouca influencia tem sobre as possibilidades
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1521
da famiacutelia superar em larga escala a linha de pobreza A tabela abaixo apresenta os
resultados da regressatildeo de MQO para o logaritmo da renda per capita O objetivo era
avaliar o efeito do capital social sobre a renda das famiacutelias diretamente As variaacuteveis
teste e controle satildeo as mesmas utilizadas no modelo de regressatildeo logiacutestica
983126983137983154983145983265983158983141983145983155 983106 983123983145983143
983245983150983140983145983139983141 983107983123 0003 0 03
983113983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 0031 0 31
9831139831409831379831409831412 000 0002 000
983109983155983139983151983148983137983154983145983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 003983097 0 3983097
983111983274983150983141983154983151 983140983151 983139983144983141983142983141 0001 09830979830962 132
983124983154983137983138983137983148983144983137 029830934 0 29830934983105983152983151983155983141983150983156983137983140983151983154983145983137983106983141983150983141983142983277983139983145983151 02983094983093 0 2983094983093
983107983151983150983155983156983137983150983156983141 344983093 0
9831222 033
9831222 983105983146983157983155983156983137983140983151 031983094
983118 40983097
983122983141983155983157983148983156983137983140983151 983140983151 983149983151983140983141983148983151 983140983141 983154983141983143983154983141983155983155983267983151 983140983141 983117983121983119
Fonte Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim Teresoacutepolis ndash 2006 Dados
trabalhados pelos autores
Os resultados da regressatildeo de MQO confirmam a ideacuteia apresentada acima Se porum lado o capital social tem grande influencia na possibilidade da superaccedilatildeo da linha de
pobreza por outro esta superaccedilatildeo se daacute de forma marginal 1 ponto a mais no Iacutendice de
Capital Social aumenta em 03 a renda total da famiacutelia Numa comunidade em que a
meacutedia da renda per capita domiciliar eacute de R$24348 e que 724 das famiacutelias tem renda
per capita de ateacute 2 vezes a linha de pobreza do PBF (R$24000) este aumento embora
muito significativo para as famiacutelias no que se refere ao consumo pode ser considerado
pouco expressivo em termos de mobilidade social
DISCUSSAtildeO
Este trabalho buscou analisar a relaccedilatildeo existente entre capital social e pobreza
num territoacuterio de alta vulnerabilidade social o bairro jardim Teresoacutepolis em Betim
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1621
Regiatildeo Metropolitana de Belo Horizonte - MG a partir de anaacutelise estatiacutestica com dados
de um survey realizado na regiatildeo em 2006 Embora tenha utilizado as famiacutelias como
unidade de analise a perspectiva de capital social de Coleman permitiu observar o
contexto imediato em que se encontravam inseridas sem tratar o capital social como
propriedade individual Em outras palavras mostramos que as relaccedilotildees sociais nessecontexto podem ser identificadas a partir de como os indiviacuteduos as percebem sem
incorrermos em uma anaacutelise demasiado micro dos fenocircmenos sociais em que as accedilotildees
individuais satildeo vistas como fruto de um caacutelculo estrateacutegico visando otimizar meios e
fins Atestamos assim a importacircncia de se abordar os fenocircmenos sociais a partir de
uma perspectiva relacional evitando tratar os indiviacuteduos como seres atomizados como
bem apontou Granovetter
E em que medida os resultados acima podem trazer uma contribuiccedilatildeo para a
reflexatildeo sobre o estudo de poliacuteticas de renda miacutenima e mais especificamente doPrograma Bolsa Famiacutelia Em primeiro lugar a influecircncia das redes sociais na superaccedilatildeo
das condiccedilotildees de pobreza atesta a relevacircncia de se adotar uma perspectiva relacional do
fenocircmeno Em outras palavras a condiccedilatildeo de pobreza tambeacutem deve ser vista sob a oacutetica
das relaccedilotildees sociais e de como estas podem influenciar o acesso a recursos diversos por
um lado e de como famiacutelias que se encontram abaixo da LP tendem a estar imersas em
redes menos densas e por isso se tornam mais propensas a um processo de exclusatildeo
social por outro Como bem aponta Marques (2007)
O acesso dos indiviacuteduos agraves estruturas de oporunidades que conduzem agravescondiccedilotildees sociais em geral e agraves situaccedilotildees de pobreza em particular eacutemediado pelos padrotildees de relaccedilatildeo que esses indiviacuteduos tecircm com outrosindiviacuteduos e com organizaccedilotildees de variados tipos (Marques 2007 p 36)
Os sociogramas abaixo apresentam simulaccedilotildees de uma famiacutelia imersa em
contextos de alto capital social (Sogiograma 1) e de outra imersa em contexto de baixo
capital social (Sogiograma 2)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1721
FIGURA 1 Sociograma de contexto de altocapital social no interior do Jardim
Teresoacutepolis
FIGURA 2 Sociograma de contexto de baixo capital social nointerior do jardim Teresoacutepolis
Podemos dizer que a famiacutelia ldquoGrdquo em funccedilatildeo da disponibilidade de recursos que
fluem ao longo da rede em que se encontra inserida (contexto de alto capital social) tem
acesso a condiccedilotildees de vida menos desfavoraacuteveis estando acima da LP Jaacute a famiacutelia ldquoErdquo
imersa em uma rede com poucos contatos e de baixa densidade (contexto de baixo
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1821
capital social) natildeo tem agrave sua disposiccedilatildeo recursos que poderiam ter as relaccedilotildees sociais
como origem
Outro aspecto que diz respeito ao Programa Bolsa Famiacutelia em si mas que se
encontra diretamente relacionado ao ponto acima eacute o fato de que o programa parece
atender justamente aqueles imersos em contextos de baixo capital social Nesse sentido
como bem apontaram Sachs e Lages (2001) embora devamos tomar cuidado para natildeo
tratar o capital social como uma ldquoquase-ideologia do desenvolvimentordquo sugere-se que o
desenho institucional do programa poderia enfatizar programas complementares de
potencializaccedilatildeo de redes sociais Natildeo estamos adotando aqui uma perspectiva ndash
ingecircnua na nossa opiniatildeo ndash de que eacute como se fosse possiacutevel ldquodar uma injeccedilatildeo de capital
socialrdquo em determinadas comunidades Antes disso pensamos que haacute formas de se
incentivar o desenho de ambientes e situaccedilotildees propiacutecias agrave criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de
solidariedade social no sentido durkheimiano do termo que possibilitaria a formaccedilatildeo
de coletividades mais coesas inibindo as chances de um processo de exclusatildeo social
Outro apontamento se refere agrave natureza dos laccedilos sociais Embora neste trabalho
tenhamos trabalhado as redes sociais do ponto de vista dos ldquolaccedilos fortesrdquo no interior de
uma comunidade ndash mensurados a partir da frequumlecircncia de contato confianccedila muacutetua e
reciprocidade ndash eacute de fundamental importacircncia que se pense tambeacutem de que forma as
redes sociais vista sob a oacutetica dos ldquolaccedilos fracosrdquo (Granovetter 2000) ndash ou pontes ndash se
relaciona com o tema das poliacuteticas de renda miacutenima
Bibliografia
BRONZO C Programas de proteccedilatildeo social e superaccedilatildeo da pobreza concepccedilotildees e
estrateacutegias de intervenccedilatildeo FAFICHUFMG - 2005
CASTEL Robert As metamorfoses da questatildeo social uma crocircnica do salaacuterio 4ordm
ed RJ Editora Vozes 1998
COLEMAN J Foundations of social theory Cambridge Harvard University
Press 1990
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1921
FIALHO F M ldquoCapital Social usos e definiccedilotildees do conceito nas Ciecircncias
Sociaisrdquo Revista Trecircs Pontos 10 p 31-35 Bel Horizonte 2004
FUNDACcedilAtildeO JOAtildeO PINHEIRO ndash Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim
Teresoacutepolis ndash Relatoacuterio de Pesquisa 2006
GOMAacute R Processos de exclusatildeo e poliacuteticas de inclusatildeo social algumas
reflexotildees conceituais In Bronzo Carla Costa Bruno Gestatildeo Social o que haacute de novo
Belo Horizonte 2004
GRANOVETTER M S Accedilatildeo Econocircmica e Estrutura Social o problema da
imersatildeo Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Eletrocircnica Satildeo Paulo v 6 n 1 art 5
janjun 2007
_____________________ La fuerza de los viacutenculos deacutebiles Poliacutetica y sociedad
p 41-56 Traduccedilatildeo de Maria Angeles Verdasco Madrid 2000
HIGGINS S S Fundamentos teoacutericos do capital social Argos Chapecoacute 2005
MARQUES E Redes Sociais segregaccedilatildeo e pobreza em Satildeo Paulo Tese de
Livre Docecircncia USP 2007
PAUGAM S Desqualificaccedilatildeo social Ensaio sobre a nova pobreza SP Cortez
2003
PORTES A Capital Social Origens e aplicaccedilotildees na sociologia contemporacircnea
Sociologia Problemas e Praacuteticas nuacutemero 33 p 133-158 Traduccedilatildeo de Frederico Aacutegoas
Lisboa 2000
PRATES A A P et al Capital Social e Laccedilos Fracos Influencia no acesso a
benefiacutecios em comunidades carentes de Belo Horioznte Relatoacuterio de Pesquisa
UFMGFAFICH Belo Horioznte 2008
PUTNAM R Comunidade e Democracia a experiecircncia da Itaacutelia moderna Rio
de Janeiro FGV 1996
ROCHA S Renda e Pobreza ndash Medidas per capita versus adulto-equivalente Rio
de Janeiro IPEA Nov 1998 (Texto para Discussatildeo 609)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 2021
SACHS I LAGES V N Capital Social e desenvolvimento novidade para
quem IN CONFERENCIA REGIONAL SOBRE CAPITAL SOCIAL E POBREZA
2001 Anais Santiago Chile CEPAL Univeridad del estado de Michigan 2001
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 2121
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1421
O modelo ln[ P (acima da LP = 1) (1 ndash P (acima da LP = 1)] = β0 + β1 (Iacutendice CS) +
β2 (idade do chefe) + β3 (idade do chefe2) + β4 (escolaridade do chefe) + β5 (gecircnero do
chefe) + β6 (trabalha) + β7 (aposentadoriabenefiacutecio)
983126983137983154983145983265983158983141983145983155 983106 983123983145983143
983245983150983140983145983139983141 983107983123 0014 000983095 14
983113983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 011983093 000983095 122
9831139831409831379831409831412 9830850001 00983094 98308501
983109983155983139983151983148983137983154983145983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 0124 000983093 132
983111983274983150983141983154983151 983140983151 983139983144983141983142983141 983085010983095 09830949830973 983085101
983124983154983137983138983137983148983144983137 1983097983095983094 0 98309421983094
983105983152983151983155983141983150983156983137983140983151983154983145983137983106983141983150983141983142983277983139983145983151 1233 0001 2431
983107983151983150983155983156983137983150983156983141 9830854983096983096983093 0
983118983137983143983141983148983147983141983154983147983141 9831222 0301
983107983151983160 983141 983123983150983141983148983148 9831222 022
983118 40983097
983122983141983155983157983148983156983137983140983151 983140983151 983149983151983140983141983148983151 983140983141 983154983141983143983154983141983155983155983267983151 983148983151983143983277983155983156983145983139983137 983085 983114983137983154983140983145983149
983124983141983154983141983155983283983152983151983148983145983155 983090983088983088983094
Fonte Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim Teresoacutepolis ndash 2006 Dados trabalhados
pelos autores
Os resultados da regressatildeo logiacutestica nos permitiram afirmar que o fato da famiacutelia
se encontrar imersa em contextos de alto capital social aumenta sua chance de
superaccedilatildeo das condiccedilotildees de pobreza o que confirmou a hipoacutetese a 1 de significacircncia
estatiacutestica (p = 000 lt 001) O aumento de 1 ponto no iacutendice de capital social eleva em
14 as chances de a famiacutelia superar a LP A tiacutetulo de ilustraccedilatildeo temos por exemplo
que uma famiacutelia com Iacutendice = 80 ndash ou seja imersa em contexto de alto capital social ndash
tem 112 a mais de chance de superar a LP que uma famiacutelia com Iacutendice = 0 ndash contexto
de capital social ldquoinexistenterdquo ndash e 84 a mais de chance do que uma famiacutelia com Iacutendice
= 20 ndash imersa em contexto de baixo capital social
Percebemos assim que o capital social tem uma grande influencia sobre as
possibilidades de uma famiacutelia superar a linha de pobreza No entanto acreditamos
tambeacutem que esta superaccedilatildeo se daacute de forma marginal e que o fato de uma famiacutelia se
encontrar em contexto de alto capital social no interior de uma comunidade vulneraacutevel e
estigmatizada como o Jardim Teresoacutepolis pouca influencia tem sobre as possibilidades
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1521
da famiacutelia superar em larga escala a linha de pobreza A tabela abaixo apresenta os
resultados da regressatildeo de MQO para o logaritmo da renda per capita O objetivo era
avaliar o efeito do capital social sobre a renda das famiacutelias diretamente As variaacuteveis
teste e controle satildeo as mesmas utilizadas no modelo de regressatildeo logiacutestica
983126983137983154983145983265983158983141983145983155 983106 983123983145983143
983245983150983140983145983139983141 983107983123 0003 0 03
983113983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 0031 0 31
9831139831409831379831409831412 000 0002 000
983109983155983139983151983148983137983154983145983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 003983097 0 3983097
983111983274983150983141983154983151 983140983151 983139983144983141983142983141 0001 09830979830962 132
983124983154983137983138983137983148983144983137 029830934 0 29830934983105983152983151983155983141983150983156983137983140983151983154983145983137983106983141983150983141983142983277983139983145983151 02983094983093 0 2983094983093
983107983151983150983155983156983137983150983156983141 344983093 0
9831222 033
9831222 983105983146983157983155983156983137983140983151 031983094
983118 40983097
983122983141983155983157983148983156983137983140983151 983140983151 983149983151983140983141983148983151 983140983141 983154983141983143983154983141983155983155983267983151 983140983141 983117983121983119
Fonte Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim Teresoacutepolis ndash 2006 Dados
trabalhados pelos autores
Os resultados da regressatildeo de MQO confirmam a ideacuteia apresentada acima Se porum lado o capital social tem grande influencia na possibilidade da superaccedilatildeo da linha de
pobreza por outro esta superaccedilatildeo se daacute de forma marginal 1 ponto a mais no Iacutendice de
Capital Social aumenta em 03 a renda total da famiacutelia Numa comunidade em que a
meacutedia da renda per capita domiciliar eacute de R$24348 e que 724 das famiacutelias tem renda
per capita de ateacute 2 vezes a linha de pobreza do PBF (R$24000) este aumento embora
muito significativo para as famiacutelias no que se refere ao consumo pode ser considerado
pouco expressivo em termos de mobilidade social
DISCUSSAtildeO
Este trabalho buscou analisar a relaccedilatildeo existente entre capital social e pobreza
num territoacuterio de alta vulnerabilidade social o bairro jardim Teresoacutepolis em Betim
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1621
Regiatildeo Metropolitana de Belo Horizonte - MG a partir de anaacutelise estatiacutestica com dados
de um survey realizado na regiatildeo em 2006 Embora tenha utilizado as famiacutelias como
unidade de analise a perspectiva de capital social de Coleman permitiu observar o
contexto imediato em que se encontravam inseridas sem tratar o capital social como
propriedade individual Em outras palavras mostramos que as relaccedilotildees sociais nessecontexto podem ser identificadas a partir de como os indiviacuteduos as percebem sem
incorrermos em uma anaacutelise demasiado micro dos fenocircmenos sociais em que as accedilotildees
individuais satildeo vistas como fruto de um caacutelculo estrateacutegico visando otimizar meios e
fins Atestamos assim a importacircncia de se abordar os fenocircmenos sociais a partir de
uma perspectiva relacional evitando tratar os indiviacuteduos como seres atomizados como
bem apontou Granovetter
E em que medida os resultados acima podem trazer uma contribuiccedilatildeo para a
reflexatildeo sobre o estudo de poliacuteticas de renda miacutenima e mais especificamente doPrograma Bolsa Famiacutelia Em primeiro lugar a influecircncia das redes sociais na superaccedilatildeo
das condiccedilotildees de pobreza atesta a relevacircncia de se adotar uma perspectiva relacional do
fenocircmeno Em outras palavras a condiccedilatildeo de pobreza tambeacutem deve ser vista sob a oacutetica
das relaccedilotildees sociais e de como estas podem influenciar o acesso a recursos diversos por
um lado e de como famiacutelias que se encontram abaixo da LP tendem a estar imersas em
redes menos densas e por isso se tornam mais propensas a um processo de exclusatildeo
social por outro Como bem aponta Marques (2007)
O acesso dos indiviacuteduos agraves estruturas de oporunidades que conduzem agravescondiccedilotildees sociais em geral e agraves situaccedilotildees de pobreza em particular eacutemediado pelos padrotildees de relaccedilatildeo que esses indiviacuteduos tecircm com outrosindiviacuteduos e com organizaccedilotildees de variados tipos (Marques 2007 p 36)
Os sociogramas abaixo apresentam simulaccedilotildees de uma famiacutelia imersa em
contextos de alto capital social (Sogiograma 1) e de outra imersa em contexto de baixo
capital social (Sogiograma 2)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1721
FIGURA 1 Sociograma de contexto de altocapital social no interior do Jardim
Teresoacutepolis
FIGURA 2 Sociograma de contexto de baixo capital social nointerior do jardim Teresoacutepolis
Podemos dizer que a famiacutelia ldquoGrdquo em funccedilatildeo da disponibilidade de recursos que
fluem ao longo da rede em que se encontra inserida (contexto de alto capital social) tem
acesso a condiccedilotildees de vida menos desfavoraacuteveis estando acima da LP Jaacute a famiacutelia ldquoErdquo
imersa em uma rede com poucos contatos e de baixa densidade (contexto de baixo
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1821
capital social) natildeo tem agrave sua disposiccedilatildeo recursos que poderiam ter as relaccedilotildees sociais
como origem
Outro aspecto que diz respeito ao Programa Bolsa Famiacutelia em si mas que se
encontra diretamente relacionado ao ponto acima eacute o fato de que o programa parece
atender justamente aqueles imersos em contextos de baixo capital social Nesse sentido
como bem apontaram Sachs e Lages (2001) embora devamos tomar cuidado para natildeo
tratar o capital social como uma ldquoquase-ideologia do desenvolvimentordquo sugere-se que o
desenho institucional do programa poderia enfatizar programas complementares de
potencializaccedilatildeo de redes sociais Natildeo estamos adotando aqui uma perspectiva ndash
ingecircnua na nossa opiniatildeo ndash de que eacute como se fosse possiacutevel ldquodar uma injeccedilatildeo de capital
socialrdquo em determinadas comunidades Antes disso pensamos que haacute formas de se
incentivar o desenho de ambientes e situaccedilotildees propiacutecias agrave criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de
solidariedade social no sentido durkheimiano do termo que possibilitaria a formaccedilatildeo
de coletividades mais coesas inibindo as chances de um processo de exclusatildeo social
Outro apontamento se refere agrave natureza dos laccedilos sociais Embora neste trabalho
tenhamos trabalhado as redes sociais do ponto de vista dos ldquolaccedilos fortesrdquo no interior de
uma comunidade ndash mensurados a partir da frequumlecircncia de contato confianccedila muacutetua e
reciprocidade ndash eacute de fundamental importacircncia que se pense tambeacutem de que forma as
redes sociais vista sob a oacutetica dos ldquolaccedilos fracosrdquo (Granovetter 2000) ndash ou pontes ndash se
relaciona com o tema das poliacuteticas de renda miacutenima
Bibliografia
BRONZO C Programas de proteccedilatildeo social e superaccedilatildeo da pobreza concepccedilotildees e
estrateacutegias de intervenccedilatildeo FAFICHUFMG - 2005
CASTEL Robert As metamorfoses da questatildeo social uma crocircnica do salaacuterio 4ordm
ed RJ Editora Vozes 1998
COLEMAN J Foundations of social theory Cambridge Harvard University
Press 1990
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1921
FIALHO F M ldquoCapital Social usos e definiccedilotildees do conceito nas Ciecircncias
Sociaisrdquo Revista Trecircs Pontos 10 p 31-35 Bel Horizonte 2004
FUNDACcedilAtildeO JOAtildeO PINHEIRO ndash Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim
Teresoacutepolis ndash Relatoacuterio de Pesquisa 2006
GOMAacute R Processos de exclusatildeo e poliacuteticas de inclusatildeo social algumas
reflexotildees conceituais In Bronzo Carla Costa Bruno Gestatildeo Social o que haacute de novo
Belo Horizonte 2004
GRANOVETTER M S Accedilatildeo Econocircmica e Estrutura Social o problema da
imersatildeo Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Eletrocircnica Satildeo Paulo v 6 n 1 art 5
janjun 2007
_____________________ La fuerza de los viacutenculos deacutebiles Poliacutetica y sociedad
p 41-56 Traduccedilatildeo de Maria Angeles Verdasco Madrid 2000
HIGGINS S S Fundamentos teoacutericos do capital social Argos Chapecoacute 2005
MARQUES E Redes Sociais segregaccedilatildeo e pobreza em Satildeo Paulo Tese de
Livre Docecircncia USP 2007
PAUGAM S Desqualificaccedilatildeo social Ensaio sobre a nova pobreza SP Cortez
2003
PORTES A Capital Social Origens e aplicaccedilotildees na sociologia contemporacircnea
Sociologia Problemas e Praacuteticas nuacutemero 33 p 133-158 Traduccedilatildeo de Frederico Aacutegoas
Lisboa 2000
PRATES A A P et al Capital Social e Laccedilos Fracos Influencia no acesso a
benefiacutecios em comunidades carentes de Belo Horioznte Relatoacuterio de Pesquisa
UFMGFAFICH Belo Horioznte 2008
PUTNAM R Comunidade e Democracia a experiecircncia da Itaacutelia moderna Rio
de Janeiro FGV 1996
ROCHA S Renda e Pobreza ndash Medidas per capita versus adulto-equivalente Rio
de Janeiro IPEA Nov 1998 (Texto para Discussatildeo 609)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 2021
SACHS I LAGES V N Capital Social e desenvolvimento novidade para
quem IN CONFERENCIA REGIONAL SOBRE CAPITAL SOCIAL E POBREZA
2001 Anais Santiago Chile CEPAL Univeridad del estado de Michigan 2001
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 2121
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1521
da famiacutelia superar em larga escala a linha de pobreza A tabela abaixo apresenta os
resultados da regressatildeo de MQO para o logaritmo da renda per capita O objetivo era
avaliar o efeito do capital social sobre a renda das famiacutelias diretamente As variaacuteveis
teste e controle satildeo as mesmas utilizadas no modelo de regressatildeo logiacutestica
983126983137983154983145983265983158983141983145983155 983106 983123983145983143
983245983150983140983145983139983141 983107983123 0003 0 03
983113983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 0031 0 31
9831139831409831379831409831412 000 0002 000
983109983155983139983151983148983137983154983145983140983137983140983141 983140983151 983139983144983141983142983141 003983097 0 3983097
983111983274983150983141983154983151 983140983151 983139983144983141983142983141 0001 09830979830962 132
983124983154983137983138983137983148983144983137 029830934 0 29830934983105983152983151983155983141983150983156983137983140983151983154983145983137983106983141983150983141983142983277983139983145983151 02983094983093 0 2983094983093
983107983151983150983155983156983137983150983156983141 344983093 0
9831222 033
9831222 983105983146983157983155983156983137983140983151 031983094
983118 40983097
983122983141983155983157983148983156983137983140983151 983140983151 983149983151983140983141983148983151 983140983141 983154983141983143983154983141983155983155983267983151 983140983141 983117983121983119
Fonte Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim Teresoacutepolis ndash 2006 Dados
trabalhados pelos autores
Os resultados da regressatildeo de MQO confirmam a ideacuteia apresentada acima Se porum lado o capital social tem grande influencia na possibilidade da superaccedilatildeo da linha de
pobreza por outro esta superaccedilatildeo se daacute de forma marginal 1 ponto a mais no Iacutendice de
Capital Social aumenta em 03 a renda total da famiacutelia Numa comunidade em que a
meacutedia da renda per capita domiciliar eacute de R$24348 e que 724 das famiacutelias tem renda
per capita de ateacute 2 vezes a linha de pobreza do PBF (R$24000) este aumento embora
muito significativo para as famiacutelias no que se refere ao consumo pode ser considerado
pouco expressivo em termos de mobilidade social
DISCUSSAtildeO
Este trabalho buscou analisar a relaccedilatildeo existente entre capital social e pobreza
num territoacuterio de alta vulnerabilidade social o bairro jardim Teresoacutepolis em Betim
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1621
Regiatildeo Metropolitana de Belo Horizonte - MG a partir de anaacutelise estatiacutestica com dados
de um survey realizado na regiatildeo em 2006 Embora tenha utilizado as famiacutelias como
unidade de analise a perspectiva de capital social de Coleman permitiu observar o
contexto imediato em que se encontravam inseridas sem tratar o capital social como
propriedade individual Em outras palavras mostramos que as relaccedilotildees sociais nessecontexto podem ser identificadas a partir de como os indiviacuteduos as percebem sem
incorrermos em uma anaacutelise demasiado micro dos fenocircmenos sociais em que as accedilotildees
individuais satildeo vistas como fruto de um caacutelculo estrateacutegico visando otimizar meios e
fins Atestamos assim a importacircncia de se abordar os fenocircmenos sociais a partir de
uma perspectiva relacional evitando tratar os indiviacuteduos como seres atomizados como
bem apontou Granovetter
E em que medida os resultados acima podem trazer uma contribuiccedilatildeo para a
reflexatildeo sobre o estudo de poliacuteticas de renda miacutenima e mais especificamente doPrograma Bolsa Famiacutelia Em primeiro lugar a influecircncia das redes sociais na superaccedilatildeo
das condiccedilotildees de pobreza atesta a relevacircncia de se adotar uma perspectiva relacional do
fenocircmeno Em outras palavras a condiccedilatildeo de pobreza tambeacutem deve ser vista sob a oacutetica
das relaccedilotildees sociais e de como estas podem influenciar o acesso a recursos diversos por
um lado e de como famiacutelias que se encontram abaixo da LP tendem a estar imersas em
redes menos densas e por isso se tornam mais propensas a um processo de exclusatildeo
social por outro Como bem aponta Marques (2007)
O acesso dos indiviacuteduos agraves estruturas de oporunidades que conduzem agravescondiccedilotildees sociais em geral e agraves situaccedilotildees de pobreza em particular eacutemediado pelos padrotildees de relaccedilatildeo que esses indiviacuteduos tecircm com outrosindiviacuteduos e com organizaccedilotildees de variados tipos (Marques 2007 p 36)
Os sociogramas abaixo apresentam simulaccedilotildees de uma famiacutelia imersa em
contextos de alto capital social (Sogiograma 1) e de outra imersa em contexto de baixo
capital social (Sogiograma 2)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1721
FIGURA 1 Sociograma de contexto de altocapital social no interior do Jardim
Teresoacutepolis
FIGURA 2 Sociograma de contexto de baixo capital social nointerior do jardim Teresoacutepolis
Podemos dizer que a famiacutelia ldquoGrdquo em funccedilatildeo da disponibilidade de recursos que
fluem ao longo da rede em que se encontra inserida (contexto de alto capital social) tem
acesso a condiccedilotildees de vida menos desfavoraacuteveis estando acima da LP Jaacute a famiacutelia ldquoErdquo
imersa em uma rede com poucos contatos e de baixa densidade (contexto de baixo
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1821
capital social) natildeo tem agrave sua disposiccedilatildeo recursos que poderiam ter as relaccedilotildees sociais
como origem
Outro aspecto que diz respeito ao Programa Bolsa Famiacutelia em si mas que se
encontra diretamente relacionado ao ponto acima eacute o fato de que o programa parece
atender justamente aqueles imersos em contextos de baixo capital social Nesse sentido
como bem apontaram Sachs e Lages (2001) embora devamos tomar cuidado para natildeo
tratar o capital social como uma ldquoquase-ideologia do desenvolvimentordquo sugere-se que o
desenho institucional do programa poderia enfatizar programas complementares de
potencializaccedilatildeo de redes sociais Natildeo estamos adotando aqui uma perspectiva ndash
ingecircnua na nossa opiniatildeo ndash de que eacute como se fosse possiacutevel ldquodar uma injeccedilatildeo de capital
socialrdquo em determinadas comunidades Antes disso pensamos que haacute formas de se
incentivar o desenho de ambientes e situaccedilotildees propiacutecias agrave criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de
solidariedade social no sentido durkheimiano do termo que possibilitaria a formaccedilatildeo
de coletividades mais coesas inibindo as chances de um processo de exclusatildeo social
Outro apontamento se refere agrave natureza dos laccedilos sociais Embora neste trabalho
tenhamos trabalhado as redes sociais do ponto de vista dos ldquolaccedilos fortesrdquo no interior de
uma comunidade ndash mensurados a partir da frequumlecircncia de contato confianccedila muacutetua e
reciprocidade ndash eacute de fundamental importacircncia que se pense tambeacutem de que forma as
redes sociais vista sob a oacutetica dos ldquolaccedilos fracosrdquo (Granovetter 2000) ndash ou pontes ndash se
relaciona com o tema das poliacuteticas de renda miacutenima
Bibliografia
BRONZO C Programas de proteccedilatildeo social e superaccedilatildeo da pobreza concepccedilotildees e
estrateacutegias de intervenccedilatildeo FAFICHUFMG - 2005
CASTEL Robert As metamorfoses da questatildeo social uma crocircnica do salaacuterio 4ordm
ed RJ Editora Vozes 1998
COLEMAN J Foundations of social theory Cambridge Harvard University
Press 1990
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1921
FIALHO F M ldquoCapital Social usos e definiccedilotildees do conceito nas Ciecircncias
Sociaisrdquo Revista Trecircs Pontos 10 p 31-35 Bel Horizonte 2004
FUNDACcedilAtildeO JOAtildeO PINHEIRO ndash Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim
Teresoacutepolis ndash Relatoacuterio de Pesquisa 2006
GOMAacute R Processos de exclusatildeo e poliacuteticas de inclusatildeo social algumas
reflexotildees conceituais In Bronzo Carla Costa Bruno Gestatildeo Social o que haacute de novo
Belo Horizonte 2004
GRANOVETTER M S Accedilatildeo Econocircmica e Estrutura Social o problema da
imersatildeo Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Eletrocircnica Satildeo Paulo v 6 n 1 art 5
janjun 2007
_____________________ La fuerza de los viacutenculos deacutebiles Poliacutetica y sociedad
p 41-56 Traduccedilatildeo de Maria Angeles Verdasco Madrid 2000
HIGGINS S S Fundamentos teoacutericos do capital social Argos Chapecoacute 2005
MARQUES E Redes Sociais segregaccedilatildeo e pobreza em Satildeo Paulo Tese de
Livre Docecircncia USP 2007
PAUGAM S Desqualificaccedilatildeo social Ensaio sobre a nova pobreza SP Cortez
2003
PORTES A Capital Social Origens e aplicaccedilotildees na sociologia contemporacircnea
Sociologia Problemas e Praacuteticas nuacutemero 33 p 133-158 Traduccedilatildeo de Frederico Aacutegoas
Lisboa 2000
PRATES A A P et al Capital Social e Laccedilos Fracos Influencia no acesso a
benefiacutecios em comunidades carentes de Belo Horioznte Relatoacuterio de Pesquisa
UFMGFAFICH Belo Horioznte 2008
PUTNAM R Comunidade e Democracia a experiecircncia da Itaacutelia moderna Rio
de Janeiro FGV 1996
ROCHA S Renda e Pobreza ndash Medidas per capita versus adulto-equivalente Rio
de Janeiro IPEA Nov 1998 (Texto para Discussatildeo 609)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 2021
SACHS I LAGES V N Capital Social e desenvolvimento novidade para
quem IN CONFERENCIA REGIONAL SOBRE CAPITAL SOCIAL E POBREZA
2001 Anais Santiago Chile CEPAL Univeridad del estado de Michigan 2001
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 2121
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1621
Regiatildeo Metropolitana de Belo Horizonte - MG a partir de anaacutelise estatiacutestica com dados
de um survey realizado na regiatildeo em 2006 Embora tenha utilizado as famiacutelias como
unidade de analise a perspectiva de capital social de Coleman permitiu observar o
contexto imediato em que se encontravam inseridas sem tratar o capital social como
propriedade individual Em outras palavras mostramos que as relaccedilotildees sociais nessecontexto podem ser identificadas a partir de como os indiviacuteduos as percebem sem
incorrermos em uma anaacutelise demasiado micro dos fenocircmenos sociais em que as accedilotildees
individuais satildeo vistas como fruto de um caacutelculo estrateacutegico visando otimizar meios e
fins Atestamos assim a importacircncia de se abordar os fenocircmenos sociais a partir de
uma perspectiva relacional evitando tratar os indiviacuteduos como seres atomizados como
bem apontou Granovetter
E em que medida os resultados acima podem trazer uma contribuiccedilatildeo para a
reflexatildeo sobre o estudo de poliacuteticas de renda miacutenima e mais especificamente doPrograma Bolsa Famiacutelia Em primeiro lugar a influecircncia das redes sociais na superaccedilatildeo
das condiccedilotildees de pobreza atesta a relevacircncia de se adotar uma perspectiva relacional do
fenocircmeno Em outras palavras a condiccedilatildeo de pobreza tambeacutem deve ser vista sob a oacutetica
das relaccedilotildees sociais e de como estas podem influenciar o acesso a recursos diversos por
um lado e de como famiacutelias que se encontram abaixo da LP tendem a estar imersas em
redes menos densas e por isso se tornam mais propensas a um processo de exclusatildeo
social por outro Como bem aponta Marques (2007)
O acesso dos indiviacuteduos agraves estruturas de oporunidades que conduzem agravescondiccedilotildees sociais em geral e agraves situaccedilotildees de pobreza em particular eacutemediado pelos padrotildees de relaccedilatildeo que esses indiviacuteduos tecircm com outrosindiviacuteduos e com organizaccedilotildees de variados tipos (Marques 2007 p 36)
Os sociogramas abaixo apresentam simulaccedilotildees de uma famiacutelia imersa em
contextos de alto capital social (Sogiograma 1) e de outra imersa em contexto de baixo
capital social (Sogiograma 2)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1721
FIGURA 1 Sociograma de contexto de altocapital social no interior do Jardim
Teresoacutepolis
FIGURA 2 Sociograma de contexto de baixo capital social nointerior do jardim Teresoacutepolis
Podemos dizer que a famiacutelia ldquoGrdquo em funccedilatildeo da disponibilidade de recursos que
fluem ao longo da rede em que se encontra inserida (contexto de alto capital social) tem
acesso a condiccedilotildees de vida menos desfavoraacuteveis estando acima da LP Jaacute a famiacutelia ldquoErdquo
imersa em uma rede com poucos contatos e de baixa densidade (contexto de baixo
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1821
capital social) natildeo tem agrave sua disposiccedilatildeo recursos que poderiam ter as relaccedilotildees sociais
como origem
Outro aspecto que diz respeito ao Programa Bolsa Famiacutelia em si mas que se
encontra diretamente relacionado ao ponto acima eacute o fato de que o programa parece
atender justamente aqueles imersos em contextos de baixo capital social Nesse sentido
como bem apontaram Sachs e Lages (2001) embora devamos tomar cuidado para natildeo
tratar o capital social como uma ldquoquase-ideologia do desenvolvimentordquo sugere-se que o
desenho institucional do programa poderia enfatizar programas complementares de
potencializaccedilatildeo de redes sociais Natildeo estamos adotando aqui uma perspectiva ndash
ingecircnua na nossa opiniatildeo ndash de que eacute como se fosse possiacutevel ldquodar uma injeccedilatildeo de capital
socialrdquo em determinadas comunidades Antes disso pensamos que haacute formas de se
incentivar o desenho de ambientes e situaccedilotildees propiacutecias agrave criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de
solidariedade social no sentido durkheimiano do termo que possibilitaria a formaccedilatildeo
de coletividades mais coesas inibindo as chances de um processo de exclusatildeo social
Outro apontamento se refere agrave natureza dos laccedilos sociais Embora neste trabalho
tenhamos trabalhado as redes sociais do ponto de vista dos ldquolaccedilos fortesrdquo no interior de
uma comunidade ndash mensurados a partir da frequumlecircncia de contato confianccedila muacutetua e
reciprocidade ndash eacute de fundamental importacircncia que se pense tambeacutem de que forma as
redes sociais vista sob a oacutetica dos ldquolaccedilos fracosrdquo (Granovetter 2000) ndash ou pontes ndash se
relaciona com o tema das poliacuteticas de renda miacutenima
Bibliografia
BRONZO C Programas de proteccedilatildeo social e superaccedilatildeo da pobreza concepccedilotildees e
estrateacutegias de intervenccedilatildeo FAFICHUFMG - 2005
CASTEL Robert As metamorfoses da questatildeo social uma crocircnica do salaacuterio 4ordm
ed RJ Editora Vozes 1998
COLEMAN J Foundations of social theory Cambridge Harvard University
Press 1990
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1921
FIALHO F M ldquoCapital Social usos e definiccedilotildees do conceito nas Ciecircncias
Sociaisrdquo Revista Trecircs Pontos 10 p 31-35 Bel Horizonte 2004
FUNDACcedilAtildeO JOAtildeO PINHEIRO ndash Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim
Teresoacutepolis ndash Relatoacuterio de Pesquisa 2006
GOMAacute R Processos de exclusatildeo e poliacuteticas de inclusatildeo social algumas
reflexotildees conceituais In Bronzo Carla Costa Bruno Gestatildeo Social o que haacute de novo
Belo Horizonte 2004
GRANOVETTER M S Accedilatildeo Econocircmica e Estrutura Social o problema da
imersatildeo Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Eletrocircnica Satildeo Paulo v 6 n 1 art 5
janjun 2007
_____________________ La fuerza de los viacutenculos deacutebiles Poliacutetica y sociedad
p 41-56 Traduccedilatildeo de Maria Angeles Verdasco Madrid 2000
HIGGINS S S Fundamentos teoacutericos do capital social Argos Chapecoacute 2005
MARQUES E Redes Sociais segregaccedilatildeo e pobreza em Satildeo Paulo Tese de
Livre Docecircncia USP 2007
PAUGAM S Desqualificaccedilatildeo social Ensaio sobre a nova pobreza SP Cortez
2003
PORTES A Capital Social Origens e aplicaccedilotildees na sociologia contemporacircnea
Sociologia Problemas e Praacuteticas nuacutemero 33 p 133-158 Traduccedilatildeo de Frederico Aacutegoas
Lisboa 2000
PRATES A A P et al Capital Social e Laccedilos Fracos Influencia no acesso a
benefiacutecios em comunidades carentes de Belo Horioznte Relatoacuterio de Pesquisa
UFMGFAFICH Belo Horioznte 2008
PUTNAM R Comunidade e Democracia a experiecircncia da Itaacutelia moderna Rio
de Janeiro FGV 1996
ROCHA S Renda e Pobreza ndash Medidas per capita versus adulto-equivalente Rio
de Janeiro IPEA Nov 1998 (Texto para Discussatildeo 609)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 2021
SACHS I LAGES V N Capital Social e desenvolvimento novidade para
quem IN CONFERENCIA REGIONAL SOBRE CAPITAL SOCIAL E POBREZA
2001 Anais Santiago Chile CEPAL Univeridad del estado de Michigan 2001
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 2121
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1721
FIGURA 1 Sociograma de contexto de altocapital social no interior do Jardim
Teresoacutepolis
FIGURA 2 Sociograma de contexto de baixo capital social nointerior do jardim Teresoacutepolis
Podemos dizer que a famiacutelia ldquoGrdquo em funccedilatildeo da disponibilidade de recursos que
fluem ao longo da rede em que se encontra inserida (contexto de alto capital social) tem
acesso a condiccedilotildees de vida menos desfavoraacuteveis estando acima da LP Jaacute a famiacutelia ldquoErdquo
imersa em uma rede com poucos contatos e de baixa densidade (contexto de baixo
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1821
capital social) natildeo tem agrave sua disposiccedilatildeo recursos que poderiam ter as relaccedilotildees sociais
como origem
Outro aspecto que diz respeito ao Programa Bolsa Famiacutelia em si mas que se
encontra diretamente relacionado ao ponto acima eacute o fato de que o programa parece
atender justamente aqueles imersos em contextos de baixo capital social Nesse sentido
como bem apontaram Sachs e Lages (2001) embora devamos tomar cuidado para natildeo
tratar o capital social como uma ldquoquase-ideologia do desenvolvimentordquo sugere-se que o
desenho institucional do programa poderia enfatizar programas complementares de
potencializaccedilatildeo de redes sociais Natildeo estamos adotando aqui uma perspectiva ndash
ingecircnua na nossa opiniatildeo ndash de que eacute como se fosse possiacutevel ldquodar uma injeccedilatildeo de capital
socialrdquo em determinadas comunidades Antes disso pensamos que haacute formas de se
incentivar o desenho de ambientes e situaccedilotildees propiacutecias agrave criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de
solidariedade social no sentido durkheimiano do termo que possibilitaria a formaccedilatildeo
de coletividades mais coesas inibindo as chances de um processo de exclusatildeo social
Outro apontamento se refere agrave natureza dos laccedilos sociais Embora neste trabalho
tenhamos trabalhado as redes sociais do ponto de vista dos ldquolaccedilos fortesrdquo no interior de
uma comunidade ndash mensurados a partir da frequumlecircncia de contato confianccedila muacutetua e
reciprocidade ndash eacute de fundamental importacircncia que se pense tambeacutem de que forma as
redes sociais vista sob a oacutetica dos ldquolaccedilos fracosrdquo (Granovetter 2000) ndash ou pontes ndash se
relaciona com o tema das poliacuteticas de renda miacutenima
Bibliografia
BRONZO C Programas de proteccedilatildeo social e superaccedilatildeo da pobreza concepccedilotildees e
estrateacutegias de intervenccedilatildeo FAFICHUFMG - 2005
CASTEL Robert As metamorfoses da questatildeo social uma crocircnica do salaacuterio 4ordm
ed RJ Editora Vozes 1998
COLEMAN J Foundations of social theory Cambridge Harvard University
Press 1990
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1921
FIALHO F M ldquoCapital Social usos e definiccedilotildees do conceito nas Ciecircncias
Sociaisrdquo Revista Trecircs Pontos 10 p 31-35 Bel Horizonte 2004
FUNDACcedilAtildeO JOAtildeO PINHEIRO ndash Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim
Teresoacutepolis ndash Relatoacuterio de Pesquisa 2006
GOMAacute R Processos de exclusatildeo e poliacuteticas de inclusatildeo social algumas
reflexotildees conceituais In Bronzo Carla Costa Bruno Gestatildeo Social o que haacute de novo
Belo Horizonte 2004
GRANOVETTER M S Accedilatildeo Econocircmica e Estrutura Social o problema da
imersatildeo Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Eletrocircnica Satildeo Paulo v 6 n 1 art 5
janjun 2007
_____________________ La fuerza de los viacutenculos deacutebiles Poliacutetica y sociedad
p 41-56 Traduccedilatildeo de Maria Angeles Verdasco Madrid 2000
HIGGINS S S Fundamentos teoacutericos do capital social Argos Chapecoacute 2005
MARQUES E Redes Sociais segregaccedilatildeo e pobreza em Satildeo Paulo Tese de
Livre Docecircncia USP 2007
PAUGAM S Desqualificaccedilatildeo social Ensaio sobre a nova pobreza SP Cortez
2003
PORTES A Capital Social Origens e aplicaccedilotildees na sociologia contemporacircnea
Sociologia Problemas e Praacuteticas nuacutemero 33 p 133-158 Traduccedilatildeo de Frederico Aacutegoas
Lisboa 2000
PRATES A A P et al Capital Social e Laccedilos Fracos Influencia no acesso a
benefiacutecios em comunidades carentes de Belo Horioznte Relatoacuterio de Pesquisa
UFMGFAFICH Belo Horioznte 2008
PUTNAM R Comunidade e Democracia a experiecircncia da Itaacutelia moderna Rio
de Janeiro FGV 1996
ROCHA S Renda e Pobreza ndash Medidas per capita versus adulto-equivalente Rio
de Janeiro IPEA Nov 1998 (Texto para Discussatildeo 609)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 2021
SACHS I LAGES V N Capital Social e desenvolvimento novidade para
quem IN CONFERENCIA REGIONAL SOBRE CAPITAL SOCIAL E POBREZA
2001 Anais Santiago Chile CEPAL Univeridad del estado de Michigan 2001
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 2121
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1821
capital social) natildeo tem agrave sua disposiccedilatildeo recursos que poderiam ter as relaccedilotildees sociais
como origem
Outro aspecto que diz respeito ao Programa Bolsa Famiacutelia em si mas que se
encontra diretamente relacionado ao ponto acima eacute o fato de que o programa parece
atender justamente aqueles imersos em contextos de baixo capital social Nesse sentido
como bem apontaram Sachs e Lages (2001) embora devamos tomar cuidado para natildeo
tratar o capital social como uma ldquoquase-ideologia do desenvolvimentordquo sugere-se que o
desenho institucional do programa poderia enfatizar programas complementares de
potencializaccedilatildeo de redes sociais Natildeo estamos adotando aqui uma perspectiva ndash
ingecircnua na nossa opiniatildeo ndash de que eacute como se fosse possiacutevel ldquodar uma injeccedilatildeo de capital
socialrdquo em determinadas comunidades Antes disso pensamos que haacute formas de se
incentivar o desenho de ambientes e situaccedilotildees propiacutecias agrave criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de
solidariedade social no sentido durkheimiano do termo que possibilitaria a formaccedilatildeo
de coletividades mais coesas inibindo as chances de um processo de exclusatildeo social
Outro apontamento se refere agrave natureza dos laccedilos sociais Embora neste trabalho
tenhamos trabalhado as redes sociais do ponto de vista dos ldquolaccedilos fortesrdquo no interior de
uma comunidade ndash mensurados a partir da frequumlecircncia de contato confianccedila muacutetua e
reciprocidade ndash eacute de fundamental importacircncia que se pense tambeacutem de que forma as
redes sociais vista sob a oacutetica dos ldquolaccedilos fracosrdquo (Granovetter 2000) ndash ou pontes ndash se
relaciona com o tema das poliacuteticas de renda miacutenima
Bibliografia
BRONZO C Programas de proteccedilatildeo social e superaccedilatildeo da pobreza concepccedilotildees e
estrateacutegias de intervenccedilatildeo FAFICHUFMG - 2005
CASTEL Robert As metamorfoses da questatildeo social uma crocircnica do salaacuterio 4ordm
ed RJ Editora Vozes 1998
COLEMAN J Foundations of social theory Cambridge Harvard University
Press 1990
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1921
FIALHO F M ldquoCapital Social usos e definiccedilotildees do conceito nas Ciecircncias
Sociaisrdquo Revista Trecircs Pontos 10 p 31-35 Bel Horizonte 2004
FUNDACcedilAtildeO JOAtildeO PINHEIRO ndash Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim
Teresoacutepolis ndash Relatoacuterio de Pesquisa 2006
GOMAacute R Processos de exclusatildeo e poliacuteticas de inclusatildeo social algumas
reflexotildees conceituais In Bronzo Carla Costa Bruno Gestatildeo Social o que haacute de novo
Belo Horizonte 2004
GRANOVETTER M S Accedilatildeo Econocircmica e Estrutura Social o problema da
imersatildeo Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Eletrocircnica Satildeo Paulo v 6 n 1 art 5
janjun 2007
_____________________ La fuerza de los viacutenculos deacutebiles Poliacutetica y sociedad
p 41-56 Traduccedilatildeo de Maria Angeles Verdasco Madrid 2000
HIGGINS S S Fundamentos teoacutericos do capital social Argos Chapecoacute 2005
MARQUES E Redes Sociais segregaccedilatildeo e pobreza em Satildeo Paulo Tese de
Livre Docecircncia USP 2007
PAUGAM S Desqualificaccedilatildeo social Ensaio sobre a nova pobreza SP Cortez
2003
PORTES A Capital Social Origens e aplicaccedilotildees na sociologia contemporacircnea
Sociologia Problemas e Praacuteticas nuacutemero 33 p 133-158 Traduccedilatildeo de Frederico Aacutegoas
Lisboa 2000
PRATES A A P et al Capital Social e Laccedilos Fracos Influencia no acesso a
benefiacutecios em comunidades carentes de Belo Horioznte Relatoacuterio de Pesquisa
UFMGFAFICH Belo Horioznte 2008
PUTNAM R Comunidade e Democracia a experiecircncia da Itaacutelia moderna Rio
de Janeiro FGV 1996
ROCHA S Renda e Pobreza ndash Medidas per capita versus adulto-equivalente Rio
de Janeiro IPEA Nov 1998 (Texto para Discussatildeo 609)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 2021
SACHS I LAGES V N Capital Social e desenvolvimento novidade para
quem IN CONFERENCIA REGIONAL SOBRE CAPITAL SOCIAL E POBREZA
2001 Anais Santiago Chile CEPAL Univeridad del estado de Michigan 2001
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 2121
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 1921
FIALHO F M ldquoCapital Social usos e definiccedilotildees do conceito nas Ciecircncias
Sociaisrdquo Revista Trecircs Pontos 10 p 31-35 Bel Horizonte 2004
FUNDACcedilAtildeO JOAtildeO PINHEIRO ndash Pesquisa Pobreza e Desigualdade no Jardim
Teresoacutepolis ndash Relatoacuterio de Pesquisa 2006
GOMAacute R Processos de exclusatildeo e poliacuteticas de inclusatildeo social algumas
reflexotildees conceituais In Bronzo Carla Costa Bruno Gestatildeo Social o que haacute de novo
Belo Horizonte 2004
GRANOVETTER M S Accedilatildeo Econocircmica e Estrutura Social o problema da
imersatildeo Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Eletrocircnica Satildeo Paulo v 6 n 1 art 5
janjun 2007
_____________________ La fuerza de los viacutenculos deacutebiles Poliacutetica y sociedad
p 41-56 Traduccedilatildeo de Maria Angeles Verdasco Madrid 2000
HIGGINS S S Fundamentos teoacutericos do capital social Argos Chapecoacute 2005
MARQUES E Redes Sociais segregaccedilatildeo e pobreza em Satildeo Paulo Tese de
Livre Docecircncia USP 2007
PAUGAM S Desqualificaccedilatildeo social Ensaio sobre a nova pobreza SP Cortez
2003
PORTES A Capital Social Origens e aplicaccedilotildees na sociologia contemporacircnea
Sociologia Problemas e Praacuteticas nuacutemero 33 p 133-158 Traduccedilatildeo de Frederico Aacutegoas
Lisboa 2000
PRATES A A P et al Capital Social e Laccedilos Fracos Influencia no acesso a
benefiacutecios em comunidades carentes de Belo Horioznte Relatoacuterio de Pesquisa
UFMGFAFICH Belo Horioznte 2008
PUTNAM R Comunidade e Democracia a experiecircncia da Itaacutelia moderna Rio
de Janeiro FGV 1996
ROCHA S Renda e Pobreza ndash Medidas per capita versus adulto-equivalente Rio
de Janeiro IPEA Nov 1998 (Texto para Discussatildeo 609)
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 2021
SACHS I LAGES V N Capital Social e desenvolvimento novidade para
quem IN CONFERENCIA REGIONAL SOBRE CAPITAL SOCIAL E POBREZA
2001 Anais Santiago Chile CEPAL Univeridad del estado de Michigan 2001
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 2121
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 2021
SACHS I LAGES V N Capital Social e desenvolvimento novidade para
quem IN CONFERENCIA REGIONAL SOBRE CAPITAL SOCIAL E POBREZA
2001 Anais Santiago Chile CEPAL Univeridad del estado de Michigan 2001
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 2121
7232019 Capital Social Bourdieu
httpslidepdfcomreaderfullcapital-social-bourdieu 2121