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1. INTRODUÇÃO A designação carcinoma ductal in situ (ductal carcinoma in situ [CDIS]) 1-9 engloba um largo espectro de lesões histológicas nas quais é identificada uma proliferação neoplásica ma- ligna de células de fenótipo ductal na parede e/ou no interior dos ductos mamários, sem sinais de invasão da membrana basal e, por- tanto, sem identificação da neoplasia no teci- do conjuntivo que rodeia os ductos mamários (Fig. 1). A maioria dos CDIS tem origem na uni- dade terminal ducto-lobular (TDLU) (Fig. 2). A partir daí, estendem-se, de maneira contínua ou descontínua, ao longo trajecto do ducto, podendo também progredir para as unidades lobulares. Quando a progressão é descontí- nua, há segmentos de ductos normais entre os focos de neoplasia, o que pode traduzir-se por multifocalidade das lesões (Fig. 3). Mais raramente o CDIS tem início nos galac- tóforos de maior dimensão, justamamilares. Nestes casos uma das manifestações pode ser a doença de Paget do mamilo devida à progressão das células neoplásicas para a pele do mamilo e região perimamilar. As designações carcinoma intraductal e car- cinoma ductal não-invasivo são sinónimas de CDIS. Mais recentemente, vários autores, de que se destaca Tavassoli 1,10-12 , propõem para estas lesões a designação ductal intra neopla- sia (DIN), tendo em conta a generalização do conceito de neoplasia intraepitelial, já consa- grado no colo uterino. Dividem-nas também em três categorias (DIN1, DIN2, DIN3) de acordo com o menor ou maior grau de atipia citológica e arquitectural. O DIN3 seria, nesta classificação, correspondente ao CDIS. Embo- ra ainda não haja consenso sobre a universa- lização desta nomenclatura, é de prever a sua generalização num futuro próximo. 221 Carcinoma ductal in situ da mama Carlos A. Silva Lopes 36 Figura 1. CDIS: células neoplásicas no interior do ducto sem invasão da membrana basal (seta). Necrose central (seta fina). Figura 2. Unidade terminal ducto-lobular.

Carcinoma ductal in situda mama 36

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Page 1: Carcinoma ductal in situda mama 36

1. INTRODUÇÃO

A designação carcinoma ductal in situ (ductal

carcinoma in situ [CDIS])1-9 engloba um largo

espectro de lesões histológicas nas quais é

identificada uma proliferação neoplásica ma-

ligna de células de fenótipo ductal na parede

e/ou no interior dos ductos mamários, sem

sinais de invasão da membrana basal e, por-

tanto, sem identificação da neoplasia no teci-

do conjuntivo que rodeia os ductos mamários

(Fig. 1). A maioria dos CDIS tem origem na uni-

dade terminal ducto-lobular (TDLU) (Fig. 2). A

partir daí, estendem-se, de maneira contínua

ou descontínua, ao longo trajecto do ducto,

podendo também progredir para as unidades

lobulares. Quando a progressão é descontí-

nua, há segmentos de ductos normais entre

os focos de neoplasia, o que pode traduzir-se

por multifocalidade das lesões (Fig. 3).

Mais raramente o CDIS tem início nos galac-

tóforos de maior dimensão, justamamilares.

Nestes casos uma das manifestações pode

ser a doença de Paget do mamilo devida à

progressão das células neoplásicas para a

pele do mamilo e região perimamilar.

As designações carcinoma intraductal e car-

cinoma ductal não-invasivo são sinónimas de

CDIS. Mais recentemente, vários autores, de

que se destaca Tavassoli1,10-12, propõem para

estas lesões a designação ductal intra neopla-

sia (DIN), tendo em conta a generalização do

conceito de neoplasia intraepitelial, já consa-

grado no colo uterino. Dividem-nas também

em três categorias (DIN1, DIN2, DIN3) de

acordo com o menor ou maior grau de atipia

citológica e arquitectural. O DIN3 seria, nesta

classificação, correspondente ao CDIS. Embo-

ra ainda não haja consenso sobre a universa-

lização desta nomenclatura, é de prever a sua

generalização num futuro próximo.

221

Carcinoma ductal in situ da mamaCarlos A. Silva Lopes

36

Figura 1. CDIS: células neoplásicas no interior do ducto

sem invasão da membrana basal (seta). Necrose central

(seta fina).

Figura 2. Unidade terminal ducto-lobular.

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222 Capítulo 36

2. UM POUCO DE HISTÓRIA

A história do CDIS começou com a identifi-

cação do CDIS de tipo comedo no princípio

do século passado nos grandes hospitais

americanos e na mão dos cirurgiões, que

os aprenderam a identificar macroscopica-

mente durante as cirurgias que realizavam,

distinguindo-os das lesões benignas. E, de

acordo com essa identificação, realizavam

cirurgias mais ou menos radicais. Nomes

como Cullen (1895) e Bloodgood (1906)

no Johns Hopkins Hospital em Baltimore,

e Wilson (1905) na Clínica Mayo são alguns

dos exemplos mais conhecidos de cirurgi-

ões que olhavam cuidadosamente as peças

cirúrgicas de mama para as interpretar e

diagnosticar, tendo em conta o seu aspecto

macroscópico. Aqui fica a descrição de uma

das observações de Bloodgood: “In 1893 I

assisted Dr. Halstead in exploring a clinically

benign tumor of the breast. The moment we

cut into and pressed on it, there excluded from

the surface many graysh-white granular cylin-

ders, which I called at that time comedos. From

the gross appearance the tumor was diagno-

sed as malignant, and the radical mastectomy

was performed. The nodes were not involved”.

Aqui está uma descrição perfeita, plena de

actualidade, do CDIS de tipo comedo3,5.

A necessidade de recurso à histologia para

complemento das observações macroscópi-

cas foi sentida logo desde o início. O escrito

seguinte, publicado em 1906 por Bloodgood,

é um bom exemplo desta atitude: “… when

it is impossible to make a clinical diagnosis of

a malignant tumour, the diagnosis must be

made from the appearance of the diseased

area or from the microscopic examination of

a frozen section. For these requirements of the

differential diagnosis, the surgeon must have

sufficient training to recognise the gross and

microscopic appearances of the different bre-

ast tumours and inflammations…”.

Anos mais tarde, e sobretudo a partir da dé-

cada de 1940, a anatomia patológica foi-se

individualizando por toda a parte como es-

pecialidade indispensável e complementar

da cirurgia no estudo do carcinoma da mama

e de todo o tipo de neoplasias. Os avanços

progressivos também verificados na imagio-

logia, na radioterapia, na biologia molecular

e na oncologia médica rapidamente evolu-

íram para a criação e aperfeiçoamento de

unidades e clínicas de mama onde, em grupo

multidisciplinar, cada caso é estudado e ana-

lisado, considerando a sua individualidade

e a contribuição avançada e indispensável

de cada especialidade. Assim se foi compre-

endendo melhor a complexidade dos CDIS.

Outros tipos foram sendo identificados para

além do comedocarcinoma, muito deles de

menores dimensões, de menor gravidade,

quase sempre assintomáticos e só detecta-

dos por mamografia e, mais recentemente,

por ressonância magnética. A forma de os

diagnosticar e tratar e o modo como eles con-

tribuem para o conhecimento do processo

de transformação neoplásica na mama, à luz

dos conhecimentos que a biologia molecular

aporta, são desafios que hoje surgem no dia-

-a-dia de quem trabalha em senologia.

3. INCIDÊNCIA E PREVALÊNCIA

DE DUCTAL CARCINOMA IN SITU

A generalização da mamografia como mé-

todo eficaz de rastreio e de diagnóstico

precoce das neoplasias da mama permitiu

identificar lesões em fase não palpável, o

que trouxe um aumento muito elevado da

prevalência e da incidência do CDIS. As taxas

de prevalência subiram de 3,7%, na década

de 1973-1983, para 17,5%, na década de

1983-1993, o que significa um aumento de

557% de casos. No que se refere às taxas de

incidência, elas subiram de 2,4/100.000, em

1973, para 15,8/100.000, em 19921,2,6,13,14.

Os dados disponíveis para Portugal são di-

fíceis de coligir porque só recentemente os

registos oncológicos os passaram a divulgar.

Na nossa experiência pessoal do Instituto

Português de Oncologia (IPO) do Porto, a

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223Carcinoma ductal in situ da mama

percentagem de casos diagnosticados na

totalidade das neoplasias da mama subiu de

0,9%, em 1983, para 13,9%, em 2000, mes-

mo na ausência de qualquer processo de

rastreio organizado.

Os estudos de prevalência são também es-

cassos. A investigação da prevalência realiza-

da em autópsias sequenciais de mulheres fa-

lecidas sem que houvesse suspeita clínica de

CDIS mostra prevalências médias variáveis

entre 8,9-14,7%. Em contrapartida, o achado

de carcinoma ductal invasivo (CDI) variou

entre 0,1-1,8%. Estas variações podem ser

devidas à amplitude da amostra observada.

O número médio de lâminas observadas nos

vários estudos variou entre 9-275, sendo, na-

turalmente, maior a prevalência nos estudos

com maior amostragem de tecido1,2,6,13,14.

Em 1984 foi publicado um dos estudos mais

informativos numa série consecutiva de 83

autópsias de mulheres com mais de 40 anos.

Encontraram-se sete mulheres com CDI, dos

quais seis eram conhecidos em vida das do-

entes. Identificaram-se também 14 mulheres

com CDIS, mas em nenhuma delas o diag-

nóstico havia sido feito em vida14.

Em conclusão: a melhoria significativa dos

métodos de diagnóstico imagiológico, so-

bretudo da mamografia digital, irá aumentar

ainda mais o número de CDIS diagnostica-

dos. É de prever que esse número se venha a

aproximar dos 40% da totalidade de neopla-

sias da mama diagnosticadas na década que

agora se inicia.

4. EPIDEMIOLOGIA

E FACTORES DE RISCO

Os factores de risco conhecidos e identifica-

dos para o carcinoma invasivo da mama são

os mesmos do CDIS. A idade mais avançada;

a existência de lesões proliferativas benig-

nas da mama, nomeadamente hiperplasia

ductal atípica e atipia de células colunares;

a história familiar de cancro da mama, e

factores associados à reprodução como nu-

liparidade, idade avançada da primeira gra-

videz de termo, são factores que aumentam

o risco de CDIS, do mesmo modo que o são

também do CDI1,2,6,13,14.

O risco induzido pelas lesões proliferativas

da mama está melhor estudado para o CDI

que para o CDIS; contudo os dados dispo-

níveis apontam também para um aumen-

to de risco directamente relacionado com

o aumento do grau de atipia, sendo de 1,6

nas lesões de baixo grau e de 2,4 nas de alto

grau. Este é um forte argumento em favor

dos que vêem um contínuo no processo de

cancerização mamária, que começaria nas

lesões proliferativas de baixo grau e pro-

grediria até carcinoma invasivo. Embora as

alterações moleculares identificadas nestas

lesões também favoreçam uma interpreta-

ção progressiva mas com duas vias distintas

de cancerização – a via de baixo grau e a via

de alto grau –, continua a não ser seguro que

essa progressão seja obrigatória, isto é, que

cada lesão intermediária progrida sempre e

necessariamente para a lesão de maior grau

e/ou para carcinoma invasivo15-22.

Alguns estudos de base populacional indicam

que 5% das mulheres com CDIS têm muta-

ções no BRCA1 ou BRCA2. Sugerem também

que o tratamento hormonal de substituição

aumenta o risco de CDIS, reforçando a inter-

venção hormonal na sua génese.

Do mesmo modo que com o CDI, o CDIS é

também muito raro no homem.

5. MULTIFOCALIDADE

E MULTICENTRICIDADE

É cada vez maior a evidência de que existe

uma organização lobar na mama em que o

sistema ductal tem o seu tronco no galactó-

foro da região areolar do mamilo e se ramifica

em ductos segmentares, subsegmentares e

terminais, terminando em milhares de ló-

bulos. O ducto terminal e os lóbulos corres-

pondentes constituem a unidade terminal

ductal-lobular. É também cada vez maior a

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224 Capítulo 36

evidência de que o CDIS é uma doença do

lobo, isto é, tem origem na unidade terminal

ductal-lobular e, a partir daí, se pode estender

no sentido do lóbulo ou no sentido do ducto,

de maneira contínua ou descontínua. Quan-

do o CDIS é contínuo, distorce a arquitectura

local normal, induz a reacção inflamatória do

mesênquima adjacente e forma uma estrutu-

ra nodular ou estrelada cujo tamanho oscila,

em regra, entre 2-20 mm, podendo ser ainda

maior, atingindo os 40 mm1-8 .

Quando o crescimento é descontínuo o CDIS

surge como multifocal (Fig. 3 C), havendo

zonas poupadas de doença entre os vários

focos de CDIS. Nestas circunstâncias a lesão

pode não se organizar em nódulo, mas for-

ma um filamento ao longo da ramificação

ductal, não palpável nem com visibilidade

macroscópica, e só visível na histologia. Os

CDIS de baixo grau são os que mais vezes

adoptam esta organização filiforme e alon-

gada, podendo atingir vários centímetros

de comprimento mas com uma espessura

muito pequena, não superior 2 mm. A mul-

tifocalidade é, contudo, dentro do mesmo

sistema ductal, isto é, do mesmo lobo, sem

envolvimento de outros sistemas ductais

vizinhos. A isto chama-se multifocalidade,

e ocorre em mais de 96% dos casos em que

se encontram focos múltiplos (Fig. 3 C). Na

prática, estes múltiplos focos distam uns dos

outros não mais que 2 cm23,24.

Figura 3. Multifocalidade e multicentricidade no CDIS. A: CDIS unifocal pequeno. B: CDIS unifocal comprido. C: CDIS

mutifocal. D: CDIS multicênctrio (raro)

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225Carcinoma ductal in situ da mama

Diz-se que há multicentricidade (Fig. 3 D)

quando mais que um sistema ductal (isto é,

mais do que um lobo) está envolvido, o que

é extremamente raro, não ocorrendo mais

de 1,5% dos CDIS, como bem o demonstram

os estudos tridimensionais da lesão realiza-

dos por Holland, et al. Deverá pensar-se em

multicentricidade só quando a distância en-

tre dois focos é igual ou superior a 5 cm23,24 .

6. HISTOLOGIA DO

DUCTAL CARCINOMA IN SITU

A classificação histológica do CDIS assenta,

classicamente, em critérios arquitecturais e

no seu grau de malignidade definido segun-

do critérios histológicos. Na classificação ar-

quitectural é clássica a divisão do CDIS nos se-

guintes tipos major (Fig. 4): cribriforme, plano

(clinging CDIS), sólido, micropapilar, papilar,

comedo e tipos mistos nos quais dois ou mais

dos padrões referidos estão presentes1-12.

A estes seis tipos major de CDIS podem

acrescentar-se outros, mais raros (Fig. 5): o

carcinoma papilar intraquístico, o CDIS de

tipo apócrino, o CDIS de células claras, o CDIS

de células em anel, o CDIS hipersecretor cís-

tico, e o CDIS de células fusocelulares. Este

simples enunciar de tipos mostra quão difícil

é a reprodutibilidade e, portanto, a sua apli-

cabilidade25-35. Acresce que é muito comum

haver mais de um padrão, o que acaba por

sobrevalorizar os padrões mistos. Além dis-

so, rapidamente se verificou que tanta sub-

divisão morfológica não tem grande utilida-

de nem se repercute de maneira significativa

na clínica, no prognóstico e no tratamento.

Por outro lado, as alterações moleculares que

vão sendo descritas não sustentam tanta di-

versificação fenotípica. Por isso, faz sentido

procurar formas de agrupamento menos

diversificadas e menos numerosas onde se

incluam, com base em critérios morfológi-

cos mais reprodutíveis os diferentes tipos de

CDIS. A classificação morfológica dos CDIS

assente no grau nuclear, na diferenciação e

polarização celular, e na existência ou não

de necrose tem esse objectivo e vem sendo

globalmente aceite1-8,25-35. Permite classificar

os CDIS em três grandes grupos: baixo grau,

grau intermediário e alto grau (Fig. 6).

Figura 4. Padrões morfológicos major do CDIS. A: cribriforme. B: sólido. C: comedo. D: papilar. E: micropapilar. F:

plano, microquístico secretor.

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226 Capítulo 36

— Os CDIS de baixo grau têm as seguintes

características: tumores bem diferen-

ciados, com polarização celular manti-

da. Grau nuclear baixo ou intermédio

(não-alto), e ausência de necrose. As

células exprimem habitualmente re-

ceptores de estrogénio e de progeste-

rona, são frequentemente diplóides,

não exprimem a proteína HER-2, e a

p53 tende a ser negativa. O índice de

proliferação, avaliado pelo Ki67, pode

ser alto ou baixo.

Figura 6. Classificação dos CDIS por graus de malignidade. A: CDIS grau I. B: CDIS grau II (não comedo com necrose).

C e D: CDIS grau III – Alto grau nuclear de malignidade.

Figura 5. Tipos mais raros de CDIS. A: CDIS de células claras. B: CDIS de células em anel.

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227Carcinoma ductal in situ da mama

— Os CDIS de grau intermédio têm as se-

guintes características: tumores bem

ou moderadamente diferenciados, com

polarização celular variável. Grau nu-

clear baixo ou intermédio (não-alto), e

necrose presente. A expressão de recep-

tores de estrogénio e de progesterona

é frequente; as células são muitas vezes

aneuplóides e a proteína HER-2 é fre-

quentemente negativa. A expressão de

p53 é variável, e o índice de proliferação

avaliado pela positividade ao Ki67 pode

ser alto ou baixo.

— Os CDIS de alto grau têm as seguintes

características: tumores pouco diferen-

ciados, com polarização celular alterada.

Alto grau nuclear e presença de necrose.

A expressão de receptores hormonais

tende a ser negativa; as células são aneu-

plóides e a proteína HER-2 está frequen-

temente expressa. A expressão de p53 é

comum e o índice de proliferação alto.

A necessidade de se definirem critérios ob-

jectivos, universais e reprodutíveis para gra-

duar os CDIS levou a que os anatomopatolo-

gistas da Europa e dos EUA se reunissem em

comissões de consenso para acordo sobre a

nomenclatura25-37. E todos os grupos refor-

çaram as características dos núcleos como

base importante para essa classificação30,31.

A classificação proposta pelo grupo europeu

de patologia mamária, além do grau nuclear,

consagra também a diferenciação e a polari-

zação celular e procura individualizar o CDIS

de padrão plano descrito por Azzopardi com

a designação clinging CDIS. Também consa-

gra os três graus de malignidade1,4-7,19-21.

O quadro 1 mostra a distribuição dos dife-

rentes tipos histológicos major de CDIS pe-

los três graus referidos.

7. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

E IMAGIOLÓGICAS. O DIAGNÓSTICO

Antes do uso generalizado da mamografia, o

diagnóstico de CDIS era clínico, e baseava-se

na identificação de uma lesão grosseiramen-

te nodular, palpável, num dos quadrantes

da mama, ou por um escorrimento mamilar

sanguinolento quando o tumor evoluía com

envolvimento dos galactóforos e doença de

Paget do mamilo. Hoje, pelo contrário, o CDIS

é quase sempre diagnosticado em mulheres

assintomáticas1,4-7. O diagnóstico assenta em

dois pilares fundamentais: a imagiologia e a

histologia. Na mamografia de rastreio as mi-

crocalcificações (Fig. 7 A) são a manifestação

mais frequente, ocorrendo, em média, em

76% dos casos (64-85% dos casos consoan-

te as séries)38-48. Densificações assimétricas

e distorções do estroma mamário (Fig. 7 B)

Quadro 1. Graduação histológica dos CDIS30

Alto grau Grau intermédio Baixo grau

Grau nuclear III I ou II I ou II

Necrose Muito frequente Presente Ausente

Diferenciação Ausente Variável Presente

Tipo histológico major Comedo

Micropapilar

Misto

Sólido

Plano

Cribriforme

Micropapilar

Misto

Sólido

Plano

Papilar

Cribriforme

Micropapilar

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228 Capítulo 36

ocorrem em 11% dos casos (8-12% conso-

ante as séries). A conjugação destas duas

manifestações ocorre nos restantes 13% das

situações. Os padrões anormais de galacto-

grafia são muito mais raros, verificando-se

em 1-3% dos casos38-48.

Nem todas as microcalcificações e densifica-

ções mamárias correspondem a lesão malig-

na, sendo importante a boa acuidade da in-

terpretação imagiológica para o diagnóstico

diferencial38-48.

Perante uma mamografia suspeita, classifi-

cada pelo sistema Breast Imaging Reporting

and Data System (BI-RADS) como igual ou

superior a 3, o passo seguinte para o diag-

nóstico deve consistir na colheita de mate-

rial para estudo morfológico.

A citologia aspirativa por agulha fina per-

mite fazer diagnósticos de malignidade

mas não de carcinoma in situ, pelo que não

é a mais adequada nestas circunstâncias. O

que é cada vez mais preconizado no CDIS

é proceder ou à microbiopsia ou à excisão

da lesão por vácuo. A microbiopsia é obti-

da através de agulhas de 13-15 gauge colo-

cadas numa pistola apropriada. Em lesões

com arranjo nodular, cinco a sete cilindros

são habitualmente suficientes, asseguran-

do uma sensibilidade de 85-97% e uma es-

pecificidade de 100%. Quando a lesão tem

microcalcificações dispersas o número de

cilindros deve ser maior, à roda dos 12-15,

para ser representativo48. A amostragem

obtida com as microbiopsias, apesar de

boa, pode não ser suficiente para carac-

terizar completamente a lesão, nomeada-

mente para afirmar se há ou não invasão,

o que é de grande importância. Por outro

lado, as biopsias podem revelar apenas al-

terações benignas ou lesões de hiperplasia

florida ou atípica, não interessando áreas

de carcinoma in situ. Comparando os diag-

nósticos realizados nas microbiopsias com

os da peça de excisão cirúrgica, o risco de

subdiagnóstico (isto é, de um diagnóstico

menos grave) nas microbiopsias é de consi-

derar, podendo ocorrer em 20-40% dos ca-

sos. A alternativa à microbiopsia é a biopsia

através da utilização de equipamentos de

vácuo48. Possibilitam a exérese de fragmen-

tos muito maiores, com 2 cm de diâmetro,

o que permite a exérese completa da lesão.

Assim, trata-se de um procedimento de

diagnóstico que, em lesões não malignas,

se transforma em tratamento curativo. O te-

cido assim excisado deve ser radiografado

para se saber se a lesão em estudo está ou

não presente na peça retirada. Em microcal-

cificações ou em densificações do estroma

de pequenas dimensões, com diâmetros in-

feriores a 1 cm, a biopsia por vácuo é, para

alguns, o melhor procedimento, sobretu-

do em lesões classificadas pela radiologia

como BI-RADS 448.

Figura 7. Imagens mamográficas de CDIS. A: microcalcificações dispersas numa área de 2,5 cm de eixo maior. B: Área

de densificação do estroma com algumas microcalcificações de pequeno tamanho.

BASe

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010

Page 9: Carcinoma ductal in situda mama 36

229Carcinoma ductal in situ da mama

A biopsia cirúrgica, incisional ou excisio-

nal, é outra forma de diagnosticar o CDIS.

Usa-se quando a microbiopsia não é infor-

mativa e quando os procedimentos que

usam o sistema de extracção por vácuo

não estão disponíveis.

Feito o diagnóstico de CDIS, a cirurgia ainda

é o tratamento mais adequado, conservado-

ra na maioria dos casos. Nos CDIS de maior

dimensão, pode recorrer-se a mastectomia.

Para além da intervenção no diagnóstico,

os métodos imagiológicos, nomeadamente

a mamografia e, hoje cada vez mais, a res-

sonância magnética, desempenham papel

importante na avaliação pré-operatória das

doentes, nomeadamente na localização

exacta do CDIS, bem como na avaliação do

seu tamanho e na identificação da existên-

cia de vários focos de carcinoma. O tamanho

do CDIS à mamografia é sempre subestima-

do quando se compara com o que ocorre

na peça cirúrgica porquanto algumas das

lesões histológicas que se encontram não

têm tradução imagiológica. Mesmo assim, o

tamanho mamográfico deve ser tomado em

linha de conta, sabendo-se que o «tamanho

real» é sempre, e no mínimo, 2-6 mm supe-

rior38-48. O tamanho médio do CDIS, de acor-

do com a literatura, varia entre 2 mm e vários

centímetros (4 cm em média). Os CDIS de

alto grau tendem a organizar-se em estru-

turas nodulares, arredondadas e ovais, com

limites identificáveis na peça, e o seu tama-

nho máximo médio anda à roda dos 2 cm.

Quando maiores podem ser multicêntricos e

atingir todos os quadrantes da mama, obri-

gando, portanto, a cirurgias mais radicais. Os

CDIS de baixo grau têm um tamanho médio,

que varia entre 2-20 mm. Podem, contudo,

encontrar-se casos de maior dimensão, atin-

gindo os 4 cm ou mesmo mais. Neste grupo

é mais frequente encontrar lesões não orga-

nizadas em nódulos e, portanto, não visíveis

macroscopicamente, mesmo nas peças cirúr-

gicas. Crescem de maneira linear dentro dos

ductos, estendendo-se ao longo de grande

parte do seu comprimento como neopla-

sias filiformes com 4 ou mais centímetros de

comprimento, mas com diâmetro inferior a 1

mm. Estas lesões tendem a ser descontínuas,

sendo, portanto, multifocais. O CDIS de tipo

micropapilar, quase sempre de baixo grau, é

o que é mais vezes multifocal e, portanto, o

que pode atingir comprimento maior, como

ocorreu num caso da nossa série31, em que

se mediu um comprimento de 7,2 cm.

7.1. AS PEÇAS DE CIRURGIA

CONSERVADORA

A cirurgia conservadora é um procedimen-

to comum no tratamento do cancro da

mama1,5,6. Muitas são as razões que o justi-

ficam: o pequeno tamanho de grande nú-

mero das lesões hoje diagnosticadas por

imagiologia; a melhoria das técnicas onco-

plásticas de cirurgia que asseguram bons re-

sultados estéticos às doentes; a diminuição

dos efeitos colaterais que as novas técnicas

de radioterapia proporcionam; a eficácia

dos diferentes tipos de terapêutica adju-

vante e da hormonoterapia; as boas taxas

de sobrevivência global e de sobrevivência

livre de doença, e, sobretudo, a vontade das

mulheres e famílias são as principais razões

que explicam o uso cada vez mais frequente

e generalizado da cirurgia conservadora do

cancro da mama, entre os quais se situa, na-

turalmente, o CDIS.

O estudo anatomopatológico de uma peça

de cirurgia conservadora (Fig. 8) por sus-

peita de CDIS deve tentar responder, entre

outras, às seguintes questões: estado das

margens, cálculo do tamanho da ou das

lesões, multifocalidade e/ou multicentrici-

dade, histologia das lesões, e estudo de re-

ceptores hormonais e de outros parâmetros

moleculares, se necessário.

7.2. MARGENS

O estudo das margens em peças de cirurgia

conservadora reveste-se de grande impor-

tância, dado que é um dos elementos mais

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230 Capítulo 36

informativos sobre a qualidade da exérese

(completa ou não), a necessidade ou não de

alargamento cirúrgico das margens, a ade-

quabilidade da opção por cirurgia conser-

vadora versus cirurgia radical, e ainda sobre

os riscos de recorrência local1,5,6,49-51. O esta-

do das margens cirúrgicas é muito difícil de

determinar e também não existe consenso

sobre o procedimento mais adequado nem

sobre o que se deve entender por margens

seguras. Sabe-se, contudo, que metade das

doentes com margens inferiores, iguais ou

inferiores a 1 mm têm tumor identificável no

tecido de reexcisão; sabe-se também que é

de cerca de 30% a taxa de recidiva local aos

10 anos de CDIS com margens cirúrgicas

inferiores a 2 mm. Não se sabendo ainda o

limite mínimo desejável para as margens ci-

rúrgicas, resta ao patologista medi-las e refe-

renciá-las dizendo se a margem interessa ou

não o CDIS, e se não interessa, a que distân-

cia se situa. A maioria dos trabalhos tende a

afirmar que margens superiores a 3 mm ten-

dem a ser as mais seguras. Indicam também

que a reintervenção com alargamento de

margens está indicada nos casos em que a

margem é inferior a 1 mm.

7.3. TAMANHO DOS

DUCTAL CARCINOMA IN SITU

O tamanho do CDIS é uma das questões mais

difíceis e controversas, não havendo normas

ou guias de actuação consensuais sobre como

se deve fazer. O procedimento seguinte é, nas

suas linhas gerais, um dos mais usados. A pri-

meira avaliação do tamanho é imagiológica

através da mamografia digital com as amplifi-

cações necessárias, a ressonância magnética

e, também, nalguns casos, a ecografia. A ma-

mografia identifica essencialmente microcal-

cificações, permitindo avaliar a sua extensão

e a distância delas às margens de ressecção.

A ressonância magnética é cada vez mais usa-

da, porque identifica as lesões não calcifica-

das através da densificação do estroma, que

ocorre em torno dos CDIS, sobretudo nos de

alto grau. Há casos de CDIS sem microcalcifi-

cações que não são detectados pela mamo-

grafia, mas o são pela ressonância magnéti-

ca. Esta permite ainda identificar as áreas de

CDIS não calcificadas que se encontram para

além das microcalcificações, ajudando assim

a corrigir o seu tamanho1,5,6,49-51.

Recebida e orientada a peça cirúrgica e

guiado pelas imagens radiológicas sobre a

localização e extensão da neoplasia, o pato-

logista começa por pintar as margens cirúr-

gicas, cortando em seguida a peça em fatias

paralelas de 3-5 mm máximos de espessura,

mantendo-as ordenadas. Quando a lesão a

que corresponde o CDIS é identificada, ela

deve ser medida com uma régua nas suas

três dimensões, após o que é totalmente in-

cluída; a inclusão dos tecidos ao redor deve

também ser feita e referenciada em quanti-

Figura 8. Aspectos macroscópicos de CDIS. Superfície de corte de CDIS. A: padrão comedo após expressão. B: mar-

gens pintadas com tinta de China. A superfície de corte é granitada.

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231Carcinoma ductal in situ da mama

dade que dependerá do tamanho da lesão e

do bom senso e experiência do patologista;

na dúvida todo esse tecido deve ser também

referenciado e incluído. Quando a lesão não

é observável macroscopicamente, a solução

é incluir a totalidade do tecido, com maior

rigor para o da área onde a imagiologia iden-

tifica a lesão. A avaliação final do tamanho

faz-se, depois, nos cortes histológicos das

lâminas que contêm tumor e que permitem

medir duas dimensões; a terceira dimensão

é dada pelo número de lâminas em que apa-

rece o tumor, de acordo com a espessura dos

fragmentos incluídos. Assim, por exemplo, se

essa espessura for de 3 mm e se o tumor está

presente em cinco lâminas seguidas, a ter-

ceira dimensão será de 15 mm (5 × 3 mm).

Este, e outros métodos semelhantes, todos

muito trabalhosos, estão longe de ser con-

sensuais e não respondem a muitas das

questões que se levantam, nomeadamente

como interpretar as lâminas em que se não

encontra CDIS (descontinuidade tumoral?),

e como correlacionar a área ocupada por

tumor com as áreas sem tumor. Como quer

que seja, o importante é tentar identificar a

área em que existe tumor e determinar as

suas dimensões máximas.

Algumas tentativas têm sido feitas usando

cortes de parafina espessos e sistemas de

análise de imagem tridimensionais. Eles têm

sido muito úteis para demonstrar a localiza-

ção lobar da maioria dos CDIS bem como a

sua descontinuidade dentro de cada lobo

e, portanto, a sua multifocalidade. Demons-

tram ao mesmo tempo como são muito ra-

ras (< 1,5%) as situações em que as lesões de

CDIS atingem mais que um lobo (em que há,

portanto, multicentricidade) e que elas ocor-

rem, sobretudo, em CDIS de baixo grau, com

ênfase para os de tipo micropapilar.

7.4. MICROINVASÃO

A invasão do estroma que rodeia o CDIS é uma

das mais temíveis manifestações de agressi-

vidade da neoplasia que, assim, tem acesso

a vasos previamente existentes e a neovasos

que ela própria ajuda a formar1,5,6,49-52. As cé-

lulas tumorais que conseguiram romper e

atravessar a membrana basal iniciam então

a viagem que as levará para novos locais e

órgãos, onde poderão originar novos focos

de neoplasia, isto é, metástases (Fig. 9).

No CDIS, por definição, não existe invasão

do estroma e, portanto, não deverá haver

metástases. Por isso é importante estudar

exaustiva e pormenorizadamente a lesão

com dois objectivos principais: ver se há

ou não invasão; se houver invasão, verifi-

car se ela é grande e, portanto, se trata de

uma carcinoma invasivo com componente

intraductal extenso, ou se, pelo contrário, a

invasão é pequena.

Figura 9. CDIS com microinvasão. A: foco de microinvasão com rotura e invasão da membrana basal, mas ainda

unido ao CDIS. B: carcinoma microinvasivo. Foco de invasão (seta) já separado do CDIS.

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232 Capítulo 36

Diz-se que um carcinoma é microinvasivo

(Fig. 9) quando o foco de invasão é igual ou

inferior a 1 mm de diâmetro maior, sendo, na

classificação TNM, classificado como pT1mic.

Fala-se em carcinoma minimamente invasi-

vo (Fig. 11) quando o diâmetro maior da área

de invasão é igual ou inferior a 1 cm.

A pequena invasão pode ser muito difícil

de identificar. As zonas de ultrapassagem

da membrana basal podem não ser visí-

veis, e o recurso a meios de coloração que

a mostrem, como por exemplo, o colagénio

de tipo IV ou a laminina, nem sempre são

conclusivos. A identificação por imunocito-

química da camada de células basais e de

células mioepiteliais é a metodologia mais

comummente utilizada para se ver se as

células neoplásicas crescem para dentro

ou para fora delas. No primeiro caso é sinal

de que o carcinoma é in situ; no segundo é

porque houve invasão. Os anticorpos con-

tra a actina do músculo liso, o caldesmon e

a p63 são os mais utilizados (Fig. 10). O uso

simultâneo de marcadores para as células

epiteliais como a citoqueratina e para as cé-

lulas mioepiteliais, como a actina ou o cal-

desmon, é uma boa maneira de identificar

áreas de microinvasão. A eles associa-se a

apreciação da reacção do estroma adjacen-

te, nomeadamente a infiltração linfocitária

e a proliferação local de fibroblastos e con-

sequente fibrose6,49-51.

A microinvasão ocorre sobretudo em CDIS

de alto grau e de maiores dimensões, com

diâmetros iguais ou superiores a 3 cm. Con-

tudo, também já foi identificada em CDIS

de baixo grau e com pequenos tamanhos,

inferiores a 2 cm.

Qual o significado clínico da microinvasão?

Porquê 1 mm de diâmetro máximo e não 2

ou 3 mm? Não existem muitos dados que

permitam responder claramente a estas

interrogações. Quando nasceu o conceito

de microinvasão, os primeiros autores pro-

puseram 3 mm, baixando depois para 2 e

agora para 1 mm. A percentagem em que

surgem metástases locais e a distância é o

principal critério para se avaliar o significa-

do da microinvasão.

Nos escassos estudos publicados sobre car-

cinoma microinvasivo a percentagem de ca-

sos com metástases ganglionares axilares foi

de 7%, que ocorreram sobretudo em carci-

nomas de alto grau e nos de maiores dimen-

sões. Em resumo, apesar das dificuldades

na detecção da microinvasão, deve fazer-se

todo o esforço para que ela seja identificada

quando presente, porquanto se repercute

no tratamento e no prognóstico.

Figura 10. CDIS. Actina do músculo liso nas células

mioepiteliais.

Figura 11. CDIS associado a CDI minimamente in-

vasivo.

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233Carcinoma ductal in situ da mama

7.5. TIPOS ESPECIAIS DE

DUCTAL CARCINOMA IN SITU

Há tipos especiais de CDIS que, pela sua in-

dividualidade clínica ou morfológica, justifi-

cam a sua individualização. É o que acontece

com o carcinoma papilar intraquístico53,54 e

com o CDIS apócrino55.

7.5.1. CARCINOMA PAPILAR INTRAQUÍSTICO

As lesões papilares da mama são múltiplas

e relativamente heterogéneas, por vezes de

diagnóstico e classificação difícil, sobretudo

quando muito celulares e com padrão sóli-

do. Situam-se frequentemente nos ductos

de maiores dimensões e próximo do mami-

lo, embora possam estar localizadas mais

próximo da unidade terminal ductal/lobular.

Quando se situam próximo do mamilo e dos

galactóforos manifestam-se por corrimento

mamilar sanguinolento.

Na abordagem das lesões papilares da

mama, devem considerar-se as situações

de papiloma intraductal com atipia; de pa-

piloma associado a CDIS; e de CDIS de tipo

papilar. O diagnóstico diferencial entre estas

três situações nem sempre é fácil, pelo que o

recurso à imunoexpressão de citoqueratinas

de alto peso molecular (citoqueratina 5/6) é

muitas vezes necessário, sobretudo nas áreas

mais sólidas quando se quer distinguir, com

segurança, se a atipia ou o CDIS ocorre em

células de diferenciação ductal e com carac-

terísticas de CDIS de baixo grau, ou em célu-

las do papiloma. Neste último caso teremos o

papiloma com atipia ou o carcinoma papilar

in situ. Como com os demais tipos, as lesões

papilares raramente surgem isoladamente

na sua forma pura. Pelo contrário, aparecem

integradas em lesões mais complexas, escle-

rosantes e/ou associadas a hiperplasia ductal

atípica, atipia de células colunares ou CDIS,

sobretudo os de baixo grau54.

O carcinoma papilar intraquístico ou carci-

noma papilar capsulado53,54 é uma entidade

anatomoclínica relativamente bem individu-

alizada. Ocorre essencialmente em mulhe-

res com mais de 60 anos e manifesta-se por

nódulo volumoso (3 a 4 cm de diâmetro), ar-

redondado e de crescimento relativamente

rápido, o que pode dever-se a hemorragias

intraquísticas (Fig. 12).

A mamografia mostra uma lesão arredon-

dada, nodular, sólida e com áreas quísticas.

A punção aspirativa mostra muito sangue

no seio do qual se encontram papilas rela-

tivamente bem desenvolvidas e complexas,

com atipia citológica mais ou menos acentu-

ada. O carcinoma papilar intraquístico pode

encontrar-se na sua forma pura sem invasão

da parede, associado a CDIS de baixo grau

na parede ou em seu redor, ou associado a

CDI, quase sempre de baixo grau.

O carcinoma papilar intraquístico é habitu-

almente de baixo grau nuclear, positivo para

os receptores de estrogénio e progesterona,

HER-2 negativo, e com baixo índice prolifera-

tivo (KI67 muito baixo).

O prognóstico é muito favorável, sobretudo

quando não está associado a carcinoma inva-

sivo. A tumorectomia que assegure margens

livres de lesão é o tratamento preconizado.

7.5.2. CARCINOMA DUCTAL

IN SITU APÓCRINO

O CDIS apócrino55 é uma variante constituída

essencialmente por células apócrinas, com o

seu fenótipo próprio e bem conhecido: ci-

toplasma abundante, eosinófilo e granular;

núcleo grande e globoso com cromatina ir-

regular e nucléolo muito grande e eosinófilo

(Fig. 13). Como os demais, pode ocorrer na

sua forma pura ou associar-se a carcinoma

invasivo, apócrino ou não.

A individualização deste tipo de CDIS justi-

fica-se, não tanto por razões de ordem clíni-

ca ou imagiológica, que não diferem muito

do que acontece noutros tipos, mas essen-

cialmente por razões de ordem biológica.

Estes CDIS, que apresentam na maioria dos

casos grau nuclear intermédio ou alto, têm

elevadas taxas de positividade para a p53

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234 Capítulo 36

(> 60% dos casos), alta percentagem de ca-

sos (> 95%) positivos para receptores de an-

drogénios, e muitos poucos casos positivos

para receptores de estrogénio e de proges-

terona (< 5% dos casos), e positividade para

HER-2 variável.

O comportamento clínico do CDIS apócrino

parece não ser muito diferente do dos res-

tantes CDIS.

7.6. DUCTAL CARCINOMA IN SITU

E EXAME EXTEMPORÂNEO

Ainda continua a ser uma pergunta frequente

em senologia: o exame extemporâneo conti-

nua a justificar-se? Se sim, com que objectivos?

As respostas que antigamente eram pedidas

ao anatomopatologista durante o exame

extemporâneo podem e devem ser hoje

conhecidas antes da cirurgia. Em grupo

multidisciplinar com a intervenção activa

do imagiologista, do anatomopatologista,

do cirurgião, do radioterapeuta e do onco-

logista médico, é possível saber-se antes da

cirurgia, de que tumor se trata; que tamanho

Figura 12. Carcinoma papilar intraquístico. A: carcinoma papilar intraquístico: ecografia. Formação sólida intraquísti-

ca. B: imagem mamográfica. Lesão nodular sólida. C: peça cirúrgica: cavidade cística com proliferação papilar intra-

cavitária. D: histologia: CDIS.

Figura 13. CDIS apócrino.

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235Carcinoma ductal in situ da mama

aproximado tem, quais os seus limites; qual

o tipo histológico e o grau de malignidade; o

estado dos receptores, do HER-2 e de outros

marcadores moleculares. É possível decidir,

com a mulher e a família, qual a cirurgia a

fazer, conservadora ou radical. O anatomo-

patologista deve estar numa sala apropriada

no bloco cirúrgico e pode participar na ci-

rurgia dando informações complementares,

juntamente com o imagiologista, sobre se a

lesão que justificou a cirurgia foi totalmente

retirada ou não e, ainda, sobre o estado das

margens38. Ao mesmo tempo, e com tecido

fresco, se a lesão é visível e bem identificável,

manuseia a peça para que dela possa obter

todas as informações que ela lhe pode dar,

identifica e retira material adequado para

estudos complementares, nomeadamente

para genética e para armazenamento a frio

em banco de órgãos. Isto é, o que se pede ao

patologista hoje é uma colaboração de ou-

tro tipo, mais exigente e mais integrada na

equipa cirúrgica para realizar, durante o acto

cirúrgico, uma consulta intra-operatória que

exija ou não cortes de congelação, mas onde

raramente se tem que pronunciar sobre a

natureza benigna ou maligna da lesão31.

Nos casos em que a lesão não é observável

macroscopicamente, deverão evitar-se cor-

tes e manuseamentos que prejudiquem a

qualidade dos cortes histológicos definiti-

vos. Em tais casos todas as eventuais dúvidas

e decisões deverão ser diferidas para serem

tomadas após a observação das lâminas que

contenham cortes incluídos em parafina.

Há uma área em que o exame extemporâneo

poderá ter justificação: a pesquisa do gânglio

sentinela. No CDIS e por definição, não há in-

vasão do estroma e, portanto, não poderá ha-

ver metástases14,31. A literatura, contudo, refe-

re casos esporádicos em que se encontraram

gânglios metastizados, o que só pode ser jus-

tificado pela presença de áreas de invasão ou

de microinvasão, mesmo pequenas, que não

foram identificadas no estudo da peça. Tais

situações ocorrem essencialmente em CDIS

grandes, com tamanho igual ou superior a 4

cm e, sobretudo, quando de alto grau. Nes-

tas circunstâncias é consensual que se faça a

pesquisa do gânglio sentinela durante o acto

cirúrgico e que o mesmo seja estudado pelo

anatomopatologista que, por citologia e/ou

por cortes de congelação, deve informar do

achado ou não de metástases. Obviamente o

número de cortes, o recurso ou não a estudos

de imunocitoquímica e a realização de estu-

dos mais sofisticados para encontrar células

neoplásicas metastizadas ou em circulação

devem ser normalizados em função da expe-

riência e dos meios e equipamento disponí-

vel. Não deverá esquecer-se que, mesmo nos

melhores centros com os melhores meios, a

taxa de alterações da informação após a ob-

servação de cortes definitivos oscila entre 10-

25% dos casos.

8. FACTORES DE PROGNÓSTICO

Os principais factores de prognóstico do CDIS

são: tamanho, grau, estado das margens, e

microinvasão5-7,40-42,50-52,56-60. Eles influenciam

o tratamento (cirurgia conservadora ou mas-

tectomia, radioterapia ou não), a taxa de re-

cidiva local e a taxa de metastização regional

e a distância, acabando por ter repercussão

sobre as taxas globais de sobrevivência e,

sobretudo, sobre as taxas de sobrevivência

livre de doença. Os estudos de biologia mo-

lecular ajudam também a identificar os CDIS

mais agressivos, nomeadamente os triplos

negativos e os de células basais.

De todos os factores referidos, o estado das

margens parece ser o de maior importância

pois quando a exérese da neoplasia é com-

pleta, a probabilidade de cura aumenta,

sobretudo quando a radioterapia intervém

como adjuvante5-7,50-52,56-60. Naturalmente,

o estado das margens, quando a cirurgia é

conservadora, depende do tamanho da ne-

oplasia e este tende a ser maior nos CDIS de

alto grau. Silverstein propôs a introdução

do índice de prognóstico de Van Nuys que,

através de medidas rigorosas do tamanho,

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236 Capítulo 36

do estado das margens e do grau permite

o cálculo de um índice de prognóstico que

é, ao mesmo tempo, um indicador do trata-

mento. Embora o cálculo deste índice, como

tal, não seja hoje muito praticado dadas as

dificuldades de obtenção dos seus compo-

nentes, as bases em que assenta mantêm

a sua total vitalidade e devem ser cada vez

melhor calculados, ao lado da pesquisa de

novos marcadores moleculares, que venham

a ser preditivos da resposta à terapêutica ou

mesmo novos alvos de novos fármacos bio-

lógicos56-60.

Quando o tamanho do CDIS é grande (≥ 4 cm)

e de alto grau, a cirurgia conservadora pode

não assegurar margens livres de lesão. Nestes

casos a mastectomia radical deve ser conside-

rada como o tratamento de escolha, de ma-

neira a evitar taxas elevadas de recidiva local,

muitas vezes já sob a forma de carcinomas in-

vasivos e com metástases ganglionares.

9. BIOLOGIA MOLECULAR, DUCTAL

CARCINOMA IN SITU E PROCESSO DE

CANCERIZAÇÃO

O processo de transformação neoplásica

que ocorre na mama está representado, de

maneira simplificada, na figura 14. Aí se re-

presentam as duas vias clássicas de diferen-

ciação, a ductal e a lobular61.

A primeira é muito mais frequente que a se-

gunda. Sabe-se hoje que esta separação nem

sempre ocorre, havendo situações em que as

duas vias acontecem ao mesmo tempo dando

a origem a neoplasias mistas, com componen-

te ductal e componente lobular. Na imagem

documenta-se um modelo que se inicia por le-

sões proliferativas iniciais – as hiperplasias duc-

tais ou lobulares –, se continua por lesões com

displasia designadas por hiperplasias atípicas

(ductais ou lobulares) e culmina nas lesões mais

agressivas de carcinoma in situ, precursoras do

Figura 14. Fases do processo de transformação neoplásica na mama (adaptado de Reis Filho, 200961). HDF: hiperplasia

ductal florida; ADH: hiperplasia ductal atípica; CDIS: carcinoma ductal in situ; CDI: carcinoma ductal invasivo; ALH:

hiperplasia lobular atípica; CLIS: carcinoma lobular in situ; CLI: carcinoma lobular invasivo.

Progressão

HDF ADH CDIS CDI

ALH CLIS CLI

O processo de cancerização da mama

Ductos

Lóbulos

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237Carcinoma ductal in situ da mama

carcinoma invasor. Embora aparentemente

lógico e muito tentador, este paradigma deve

ser olhado apenas como esquema de pensa-

mento a que importa dar mais consistência e

rigor substancial, dada a multiplicidade de fe-

nómenos moleculares que hoje se conhecem,

a grande diversidade de padrões morfológicos

lesionais que existem em cada momento e a

evolução que ocorre em cada um.

As lesões que acompanham e precedem,

no tempo, o CDI são várias, de que se desta-

cam as seguintes: hiperplasia ductal simples,

Figura 15. Lesões pré-malignas associadas a CDIS na mama. A: hiperplasia florida. B: hiperplasia atípica. C: atipia

plana de células colunares de baixo grau nuclear. D: atipia plana de células colunares de alto grau nuclear. E: Atipia

de células colunares. Início de proliferação intraductal. F: pormenor de E.

A B

C D

E FSe

m o

co

nse

nti

men

to p

révi

o p

or

escr

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do

ed

ito

r, n

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od

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du

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nem

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Per

man

yer

Port

ug

al 2

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238 Capítulo 36

hiperplasia ductal florida, hiperplasia ductal

atípica, atipia de células colunares (Fig. 15)

e CDIS, de baixo, intermédio ou alto grau

de malignidade. Na via de diferenciação

lobular estão individualizados a hiperplasia

lobular atípica e o carcinoma lobular in situ

de tipo comum. A variante pleomórfica do

carcinoma lobular in situ parece estar numa

via diferente, mais agressiva61.

Cerca de 10 anos atrás as lesões pré-invasi-

vas associadas aos carcinomas ductais in situ

da mama eram objecto de grande discussão

entre os patologistas, o que contribuiu para

uma nomenclatura confusa e, sobretudo, não

reprodutível, mais vezes fonte de confusão e

incompreensão do que de clareza de concei-

tos. Hoje, com o conhecimento trazido pela

patologia genética e molecular, muitas das

dúvidas e discussões de então perderam o

sentido57-67. A hiperplasia simples e hiperpla-

sia florida são as que apresentam menos alte-

rações moleculares e genéticas e, portanto, as

que tendem a perder a categoria de lesão ma-

ligna pré-invasiva, a despeito de continuarem

a ser um importante indicador de risco. Isto é,

comportam-se como precursores temporais

mas não lesionais de neoplasia.

Em relação à hiperplasia atípica, asseme-

lha-se mais, em termos genéticos e mole-

culares, aos CDIS de baixo grau, parecendo

ter, portanto, capacidade de ser o grande

precursor lesional das neoplasias ductais

de baixo grau, e não das de alto grau61,66-71.

Pode, aliás, ser muito difícil e de reprodu-

tibilidade não representativa o diagnóstico

diferencial entre hiperplasia ductal atípica

e CDIS de baixo grau cribriforme. Nestas

circunstâncias as designações DIN1, DIN2 e

DIN3 podem ser mais facilmente reprodutí-

veis entre os anatomopatologistas1,4,10,11.

A atipia plana de células colunares é, em ter-

mos genéticos e moleculares, uma das mais

importantes lesões pré-invasivas e evolui

mais frequentemente para CDIS de baixo

grau. Muito valorizada por Azzopardi e Eu-

sebi na Europa19,20, esta lesão tem vindo a ser

Figura 16. Adaptado de Reis-Filho, 200961.

Alterações moleculares e diferenciação

ERPgRHER-2/ Nºp53Cyclin D1E-cadherinNº de alteraçõesPloidiaAlt recorrentesAmplificaçõesSubtipo

++--++

BaixoDiplóide/Quase diplóide

1q+, 16q-Não; 8p11.2-p12 (raro)

Luminal A > B

CDIS bem diferenciado Hiperplasia ductal

++--++

BaixoQuase diplóide

1q+, 16q-Não; 8p11.2-p12 (raro)

Luminal A > B

++--+-

BaixoDiplóide/Quase diplóide

1q+, 16q-Não; 8p11.2-p12 (raro)

Luminal A > B

Sem

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239Carcinoma ductal in situ da mama

Figura 17. Adaptado de Reis-Filho, 200974.

cada vez mais valorizada e classificada como

neoplásica em pré-invasiva21,72-74. Foi nela

que Tavassoli se inspirou para a defesa da

designação DIN a estas lesões1,4,10,11.

Na figura 16 é estabelecida a correlação

entre a diferenciação61. Aí se vê não haver

diferenças significativas entre as lesões de

hiperplasia ductal, sobretudo atípica e o

CDIS de baixo grau, que apresentam tam-

bém uma diferenciação luminal, A ou B, de

acordo com o seu índice proliferativo.

A correlação entre grau de malignidade e

alterações moleculares está representada

na figura 17. Nela se demonstra como a

complexidade das alterações moleculares

se vai tornando maior à medida que o grau

avança61.

As principais alterações cromossómicas, ge-

néticas e moleculares que ocorrem no can-

cro da mama têm sido estudadas nos car-

cinomas invasivos, e também nos diferen-

tes tipos de carcinoma in situ e nas lesões

ductais e lobulares que se associam ou que

precedem o CDIS e o carcinoma invasivo61-64

(Figs. 16-18). Através delas foi possível veri-

ficar que existem dois caminhos de cance-

rização ductal: a via dos CDIS de baixo grau

e a via dos CDIS de alto grau, e que entre

elas não há muitas pontes de comunicação.

Isto é, logo à partida e de acordo com os

mecanismos genéticos envolvidos, o CDIS

e o CDI que dele se originará vão ser ou de

baixo grau ou de alto grau. Os carcinomas

de baixo grau serão, predominantemente,

de tipo molecular luminal A ou luminal B.

Os carcinomas de alto grau englobam um

grupo complexo de neoplasias em que se

incluem as HER-2 positivas, as de células

basais, muitas das neoplasias associadas a

mutação do BRCA1 e a maioria das outras

neoplasias triplo negativas (Fig. 19). O car-

cinoma adenóide quístico e os carcinomas

com diferenciação apócrina, embora tam-

bém triplos negativos, devem ainda ser

agrupados à parte dada a sua individuali-

dade clínica e morfológica.

Visão do cancro da mama centrada no grau

ERPgRHER-2/ Nºp53Ciclina D1Nº de alteraçõesPloidiaAlt. recurrentes

AmplificaçõesSubtipe molecular

CDIS: I II III

++--+

BaixoQuase diplóide

1q+, 16q-

Não; 8p11.2-p12 (rara)Luminal A > B

-/+-/+±±

-/+Alto

Frequentemente aneuplóide1q+, 3q+, 17q+, 8q+, 5q-, 11q-,

14q-, 8p-, 13q-17q12, 6q22, 8q22, 11q13, 20q13

Luminal B, HER2, Basal

±±

-/+-/+±

IntermédioAneuplóide (~40-50%)1q+, 8p-, 11q-, 16q-,

8p11.2-p12, 11q13Luminal A, B

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Page 20: Carcinoma ductal in situda mama 36

240 Capítulo 36

Na via de diferenciação lobular também se

identificam dois caminhos independentes: o

que dá origem ao carcinoma lobular in situ

e invasivo, clássicos; e o que dá origem ao

carcinoma lobular in situ pleomórfico, que

se comporta como lesão pré-maligna e não

apenas como indicador de risco e que evo-

lui, naturalmente, para carcinoma lobular

invasivo pleomórfico.

A classificação molecular dos carcinomas

ductais invasivos começou por ter como

base o estudo de alterações genéticas em

dezenas e centenas de genes envolvidos

na cancerização da mama, através de técni-

cas de microarray65. A análise posterior dos

tipos de carcinoma incluídos em cada um

dos tipos moleculares identificados (lumi-

nal A, luminal B, HER-2 positivos, triplo ne-

gativos) permitiu identificar um conjunto

de parâmetros de histologia convencional e

de imunocitoquímica que, se devidamente

aplicados, levam a conclusões semelhantes

às obtidas por microarray. A histologia con-

vencional e a imunoexpressão de recepto-

res hormonais, HER-2, Ki-67, citoqueratinas

5 e 6, receptor do factor de crescimento

Figura 18. Alterações morfológicas e moleculares nos CDIS de alto grau e de baixo grau. CDI: carcinoma ductal in-

vasivo; LOH: perda de heterozigotia; COX-2: ciclooxigenase-2; PAI tipo 1: inibidor do activador do plasminogénio de

tipo 1; MMP: metaloproteinases; hMSH2: homólogo 2 humano do mutL (adaptado de Wiechmann & Kuerer64).

CélulasMioepiteliais

MatrizExtracelular

Membranabasal

Células ductaisde carcinoma

CDIS poucodiferenciado

CDIS bemdiferenciado

CDI bemdiferenciado

CDI poucodiferenciado

Céluladisplásica

Célulaductais

Fibroblasto

Classificação do CDISbaseada na biopatologia

Progressãolenta

Necrosecomedo

Progressão rápida

HISTOLOGIABx grau nuclearER/PR +Sem necroseHER-2 neg

MARC MOLECULARES

Ki67 p53 normal delecção p16 bcl2 sobre-regulado

HISTOLOGIAAlto grau nuclearER/PR -NecroseHER-2 + ou -CK anómalas

MARC MOLECULARES Ki67 LOH 11q3 Mutações de p53 COX-2 Psoriasina (S100A7) + PAI tipo 1 MMP hMSH2

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241Carcinoma ductal in situ da mama

epidérmico (EGFR) e P-caderina permitem

identificar, na grande maioria dos casos, os

tipos moleculares referidos68-77.

No processo de cancerização da mama são

comuns mutações cromossómicas e gené-

ticas nos cromossomas 1, 8, 16, 13, 17 e 20

que se relacionam com actividade prolifera-

tiva, com a capacidade de invasão local, com

a capacidade de metastização, com o desen-

volvimento da angiogénese, com a diferen-

ciação, com a apoptose e, ainda, com outros

comportamentos, mais ou menos agressivos

das neoplasias (Figs. 18 e 19). Tais alterações

são, contudo, diferentes de caso para caso, e

a sua intensidade e número vai aumentan-

do com a progressão da doença, sendo mais

marcadas nos carcinomas invasores do que

nas lesões de hiperplasia ductal ou lobular.

Sabe-se assim que a expressão de 35 genes

difere entre o CDIS e o carcinoma invasivo; e

que 43 genes diferem na sua expressão en-

tre os CDI de baixo grau e alto grau62-71.

As técnicas de proteómica, que estudam o

perfil de expressão proteica nos tecidos neo-

plásicos e normais, permitiram compreender

alguns dos mecanismos que intervêm na

Carcinoma tubular/cribriforme

Carcinoma tubulo-lobular

Carcinoma tubulo comum

Carcinoma ductal, grau I

Carcinoma lobular pleomórfico

Baixo grau

Alto grau

CDISgrau I

CDIS grau II(luminal)

CDI grau II(luminal)

CDIS grau III(luminal)

CDIS grau III(HER-2)

CDIS grau III(basal)

ICG grau III(luminal)

CDI grau III(HER-2)

CDI grau III(basal)

ADH

CCL

ALH/CLIS

E-cad

16q- (> 85%)1q+16p+

8q+1q+17q+20q+13q-

16q- (< 30%)

Normal

Figura 19. As diferentes vias de cancerização da mama, associadas às respectivas alterações cromossómicas (adap-

tado de Reis-Filho, 200961).

Uma visão actual do processo de cancerização61

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Page 22: Carcinoma ductal in situda mama 36

242 Capítulo 36

progressão tumoral, nomeadamente da capa-

cidade de invasão e de metastização dos di-

ferentes tipos de CDIS. A expressão da synde-

can-1, E-caderina a c-met está associada com

factores que regulam a angiogénese e linfan-

giogénese, como a os receptores da endoteli-

na A e B, o factor de crescimento do endotélio

vascular (VEGF) A/C, e o receptor do factor de

crescimento fibroblástico (FGFR)-164.

As duas vias de cancerização estão tam-

bém bem esquematizadas nas figuras 18,

19 e 21, onde se admite que alguns CDIS de

baixo grau bem como alguns CDI de bai-

xo grau, se positivos para os receptores de

estrogénio, possam evoluir para CDI de alto

grau caso outros eventos adicionais ocorre-

rem, nomeadamente mutações do gene MYC.

Esta possibilidade, documentada nalguns ca-

sos, parece, contudo, ser pouco comum e não

põe em causa o princípio da relativa indepen-

dência das duas vias de cancerização61.

Para além das alterações genéticas e cro-

mossómicas, também se têm identificado

alterações epigenéticas no CDIS78, onde a

metilação de promotores de genes supres-

sores leva à sua inactivação.

Figura 20. A imunocitoquímica e a histologia convencional na classificação molecular do CDIS. A: CDIS de baixo

grau, ER+, luminal A B: CDIS de alto grau, RH negativos; HER-2 positivo (3+). C: CDIS de células basais, com alto grau

citológico, identifica-se área de microinvasão (seta) D: imunorreactividade para CK 5. Neste caso os RH e o HER-2

são negativos.

A B

C D

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Page 23: Carcinoma ductal in situda mama 36

243Carcinoma ductal in situ da mama

Os CDIS de baixo grau equiparam-se aos bem

diferenciados, enquanto os CDIS de alto grau

constituem, de facto, uma realidade diferen-

te: são aneuplóides, receptores de estrogénio

e progesterona negativos, raramente são lu-

minal A ou B, podem ser HER-2 positivo ou

negativo. Neste último caso são triplos nega-

tivos, frequentemente de células basais75-77.

Em resumo, os ensinamentos obtidos a par-

tir da patologia molecular dos CDIS podem

resumir-se do modo seguinte (Quadro 2):

— A cancerização na mama é um processo

complexo que começa em lesões prolife-

rativas intraductais sem grande atipia e

termina em CDI. Entre estes dois extre-

mos há lesões de grau intermediário de

malignidade, que têm sido designadas

de várias maneiras, com uma linguagem

confusa e nem sempre objectiva: atipia

de células colunares, hiperplasia ductal

atípica, CDI.

— A via de cancerização descrita não é única,

isto é, não é a mesma para a multiplicida-

de das neoplasias da mama. Os estudos

moleculares identificam, pelo menos,

duas vias de cancerização: a dos carcino-

mas de baixo grau e a dos carcinomas de

alto grau. Estas duas vias parecem relati-

vamente independentes, isto é, os CDIS

de baixo grau raramente evoluem para

CDI de alto grau. Estes surgem de CDIS

de alto grau que, por sua vez, não evo-

luem para carcinoma de baixo grau.

— A evolução das lesões não-malignas para

carcinoma invasivo não é obrigatória.

Quer isto dizer que determinada lesão

pode terminar na fase de hiperplasia atí-

pica ou CDIS, sem aquisição do fenótipo

invasivo. Esta «paragem» em fases inter-

mediárias é mais frequente nas lesões de

baixo grau.

— As lesões intermediárias, ainda não-in-

vasivas, apresentam algumas alterações

moleculares e morfológicas, citológicas

e arquitecturais, que persistem nos car-

cinomas invasivos. Por isso, faz sentido

considerá-las DIN. Assim, a designação

genérica DIN1, DIN2 e DIN3 para este

grupo de lesões é justificada. DIN1 en-

globa todas lesões intraepiteliais ductais

de baixo grau; DIN2, as de grau interme-

diário; DIN3, as de alto grau ou CDIS.

Figura 21. Adaptado de Reis Filho61.

+17q12+8q+20q-13q-8p

Normal

CDIS de baixo grau CDI de baixo grau

ER positive tumours

CDI de alto grauCDIS de alto grau

-16q+1q

MYC +

Carcinomas ductais de baixo e alto grau:

entidades distintas

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244 Capítulo 36

Quadro 2. O processo de cancerização da mama

EVENTOS

MORFOLÓGICOS

EVENTOS

FUNCIONAIS

Quadro resumo das vias de cancerização mamária. As setas a tracejado indicam momentos em que o processo

pode parar e assim se apresente, sem que ocorra progressão posterior.

CDIS: carcinoma ductal in situ; CDI: carcinoma ductal invasor; CLIS: carcinoma lobular in situ; CLI: carcinoma lobular

invasivo.

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Page 25: Carcinoma ductal in situda mama 36

245Carcinoma ductal in situ da mama

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