Carlos Alberto Murad - No Olhar Da Imagem

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    No olhar da imagem

    Dietter AppeltAuto-retratoF on te d as i ma g en s: C ab in et d ese st am p es - BibliothequeN at io na le d e P ar is

    Carlos A lberto M uradO iscu te a impor isnc is e natu re za d o imagin allum fn ic o, n os p ro ce ss os c ria do re s b as ea -d os n a F oto gra fia . E sp ec ia lm en te n o v alo r d a imagem-fotogenia l igada a t ransmutar ;aofogo-Iuz. 0tema e tra ta do n a p e rs pe ctiv a d a filo so fia d a im ag em d e G as to n B ac he la rd

    E ste a rtig o d is cu te a irn po rta nc ia d o im ag in allum fn ic o n os p ro ce ss os c riad ore s e nv olv en -d o a ap ro priacao d o sistem a F oto grafia I po rfo t6 gra fo s e a rtista s. F ala mo s e sp ec ial m en -te da d inarnizacao na irn agin acao criadorados fenornenos ligados a metamorfosefogo-Iuz substancializando irnpulsoesim agin ais nu ma imegem-Iotogenie? Estaco nstitu iria u m co nju nto in diferen ciad o d eind uto res g erm inais n as estrategias e p ro-cessos criadores da Arte, baseados no fo-to grafico , Partim os da ideia de que a op caocriad ora p ela F oto grafia, en tre o utro s fato -res, vem marcada pel a rnutuacao poeticado instante lum fnico e olhar.N o ss a d isc uss ao d ese nv olv e-se n um c on te x-to artfstico m arcado pela d esvincu lacao daex pe rie nc ia se ns fv el c om 0 p ro cesso cria-d or n a arte e n a criacao cien tffica, co nfo rm eapontado por Dante? e por Bachelard," Ouseja, 0 (d esco ntfn uo ) d ev ir d a arte in serid ona descontinuidade plural que D anto com -p reen de com o p6 s-h ist6rica. A ind a som osfavorecidos por essa abertura intensiva da

    Fo io g rs ii co , Ba che la rd , imag em , App el t, imag in a r; a opo et ic s .

    L'oeil, a lu i s eu l, n 'e st-i/ p as u ne beeute lumineuse?Bachelard

    F o to g ra fi a p ar a a a bs tra ca o, 0 que vem con-t ri bu ir pa ra 0 esfacelam en to d os sen tid os d erealidade e des-objetivacao da sua fluidam em 6ria d ocum en tal, naqu ilo qu e p ropiciau m ap rofun dam ento da sup erffcie, apon ta-d o p or R ou ille.5Os te ma s d o im ag in allum fn ic o, e sp ec ial m en -te a d irn en sa o p oe tica d a im ag em -fo to ge nia ,serao com preendidos e tratados a partir dad in arn izacao d os d ev an eio s p oetico s d o cris-talino e da chama criadora. A abordagemdas poeticas da im agem de B achelard." de-v id o a s eu c arate r tra ns-h ist6 ric o, fu nd am en -ta da n os a trib uto s d e d esc on tin uid ad e, v aria -b ilid ad e e m etam orfo se d a irn ag in acao cria-d ora, co nstitu i in stru men to co nceitu al p aratratar tanto a dirnensao p oetica germ in al daim agem -fotogenia com o as rupturas e per-m ea bilid ad es c ria do ra s en tre d ife re nte s p oe -ticas visuais. Compreender a dinam icam etam 6rfica e inform e da im agem poetican a g en es e d os tra balh os artfstic os c on stitu fao eix o desta reflex ao filos6fica. Seu pensa-mento operava a partir da cogitacao de-

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    vaneante na repercussao das imagens poeti-cas, compreendidas e tratadas pela conscie-ncia imaginante como "conceitos image-ticos" _ 7 A imagem poetica, de naturezaimemorial, nao se confundiria com instanta-neos visuais ou aparicees figurais em nossainterioridade, ja que nao se origina da per-cepcao ocular ou de nossa iconografiamemorial. Constituindo uma dinarnica de vir-tualidades imaginais e nao a sfntese de atribu-tos visuais, a imagem poetica tem 0 sentidode "elans imageticos"." Estes irrompem comoespontaneas orientacoes germinais, potentesna razao imprevisfvel dos devires e dinami-zadoras de nossa ontologia nesse transitorionao-Iugar de um dinamismo originante.Pensar no interior do devir da imagem poe-tica significa nao pensar com as representa-c;oes racionais e, sim, atuar na instancia daimprevisibilidade de um ante-pensamento epre-percepcao, campo privilegiado dos de-vaneios criadores operantes," E nesse nao-lugar transicional que ocorre a apreensao-cogitacao dos elans i rnageticos, 0 fato denossa consciericia permanecer ativa eativante durante a evasao imaginante dodevaneio nos faz operantes com as ideacoesirnageticas: entramos em estado de conscien-cia estelar e multipolar no devir imagem-pensamento. Numa ontologia direta, ativa-mos uma consciencia indireta, participamosno devir imagem-conceito poetico, alcanca-mos a inteligencia de uma logica imageticao cristal no s o lh ao Olha r, tal 0espe lho que faz Ver,bri lhaBachelardInfinitos mundos dinamizam-se no imensoinstante de um germe de cristal do Alephde Borges." na poetica do cristal deBachelard, II nos "cristais do tempo" deDeleuze." Mesmo por vias e tratamentos

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    distintos, a intuicao poetica, 0 pensamentoda imagem poetica e do plano de irnanencia,aproximam-se na cornpreensao dacoalescencia dos potenciais tempo-espaciaisda luz. Art istas, poetas, f ilosofos sao tocadossilenciosamente pelos rnilenios e rnilenios daluz pulsantes em sua irnaginacao, mais preci-samente aquelas oriundas da fascinacao deuma foto-genese, Em especial , os criadoresvisuais, devido a sua condicao de ativadoresou co-operadores no visfvel - entre eles, osque utilizam a Fotografia em seus projetosartfsticos - sao duplamente permeados pe-las irnpulsoes imemoriais ligadas aontogenese da luz e pela reapresentacao namemoria das luzes cristalizadas nas imagensfotografadas. 13 Eles parecem obedecer auma orientacao comum: vivem a retina e avisao como extensao germinal e originante.Estamos falando de uma arrte-visao, de umaapreensao pela imaginac;ao antes mesmo queo sistema ocular opere e const itua perceptos,mesmo que eles nos criem a ilusao de inau-gurar a representacao da coisa.Escapamos da memoria ocular para falar deum retomo imemorial, desse encontro deBorges, "urn assombro antigo" no contemplaras luzes do fogo, 14 nesta mesma "admiracaoinata" originada alern da consciencia pessoal"no passado dos primeiros fogos do mun-do", essas primeiras chamas que iluminam,confirmam, para Bachelard." a associacaoimaginal da chama com 0 olhar. Um fogolatente perdido no imemorial da irnaginacaoou a imagem flamejante de um lumfnico pri-mordial fundando nosso olhar? Primeiraschamas que abrem os primeiros olhares dasimagens primordiais, testemunhas em nossaimaginacao dos potenciais de transmutacaoda passagem fogo-Iuz no devir da imagem.Uma transrnutacao que Bachelardl6 encon-tra na imagem poetica da fenix, "um arqueti-po da irnaginacao do fogo", esse animal

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    inexistente, pura imagem imaginal que ex-pressa a irnpulsao poetica, a irrupcao instan-tanea da luz criadora na irnaginacao huma-na. Os processos criadores que se desen-volvem a partir do sistema Fotografia pare-cem retomar essafascinacao imemorial pelofogo na imageac;ao da luz.

    Dietter AppeltUnterdemDomenbusch , 1979

    Acreditamos que os processos criadores sedariam na dinarnizacao dessamateria poeti-ca foto-primordial, constitufda do que cha-mamos, por razoes de rnetodo, de imagem-fotogenia. Ela se substancializa como ema-nacoes de uma inconsciencia do luminoso eda tatilidade do olhar, participando na ativa-c;ao dos potenciais poeticos de um tempo-espacializacao do olhar. Constitui uma

    germinal provocacao de natureza olhicriadora,permeada pelos valores imaginais da luz: bri-Ihar, luzir, luminar, iluminar, elucidar, trans-parecer, transluzir, entre outros. Trata-se aquide potenciais poeticos desveladores de umafotofilia farrtasmatica, agenciados e latentesna imagem fotografica, possuidores da con-dicao originante e mediadora tfpica domundus imag ina lis.1 7o que vivenciamos nesse devir do imaginallumfnico em imagens no mundo e resultan-te de uma dinarnizacao primordial da cons-ciencia pelos elens imageticos, umadinarnizacao que nos abre, segundoBachelard, B uma "esfera de sublirnacao pura,de uma sublirnacao que nada sublima, que e

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    l iberada da carga de paix5es, l iberada dasimpuls5es dos desejos...". 0 que afirma adesvinculacao causal da imagem poetica,seja com a mem6ria do mundo ou mes-mo de um inconsciente pessoal, aquela temseu aparecer, num espaco adimensional,num tempo suspenso, no absoluto da su-b l imacao , Tal uma evasao no infinito azuldo ceu, onde "tocamos essa materia naodimensional"," experimentamos os limitesda tentacao "de viver 0 humano, mais quehumano, dessa irnpulsao na direcao de ummais que Ser".20Experimentamos no movi-mento dessa evasao sublimadora na luz doceu azul a irnersao num "espelho sem esta-nho", na pura materia olhante, aquela quereencontramos na fascinacao poetica do fo-tografico, Na dirnensao imaginal da luz, pelovies do fotografico, a ontologia do olhar cria-dor encontra a germinacao primordial dessasingular "vontade de lucidez" da imagem cris-talina apontada por Bachelard" na reflexaodos devaneios poeticos, nas luzes s61idasdocristalinoe nasluzesfluidasdo estelar.Estamosem presencade uma fascinac;aoumfnicaondedensidade, cristalizacao e lucidez permutamvalores imaginais na busca da criacao,o f il6sofo trata a dinarnica fotogenica pre-sente na perm uta de valores entre as pro-vocacoes substanciais - brilhar-endurecer,condensar-purificar -, nos apontando os va-lores da sfntese irnaginaria da imobilidade eda fluidez. Marca 0 sentido instantaneo darnutuacao entre 0 flamejante e 0 lumfnico,qual a imagem poetica da fenix "fogo voa-dor, flor de fogo, vivendo no clarao da ima-ginac;ao".22A ilurninacao irnagetica em nos-sa consciencia ou a dinarnizacao poetica daluz no fotografico encontram na unidadeprimordial fogo-Iuz asprovocacoes germinaisda imagem-fotogenia.

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    o olhar foto-pr imordial e umdevir- imagemSe me contemplotantas me vejo,q u e nao ente ndoQu em s ou , n o temp odo pensamento .Cecilia MeirellesQuando folheamos fotografias com os olhos,ziguezagueando na extensao luminosa dasimagens, supomos encontrar uma trama demem6rias, fragmentos dissimulados, latentesou visfveis, de coisas e lugares. Devido it 16-gica tecno-representacional do sistema Fo-tografia, pensamos logo em referencias con-cretas do mundo que podemos identif icar -ilusao que se constr6i em nossa conscienciacomo plena de veracidade, nos fazendo as-sociar sernelhancas provis6rias a certezasdefinitivas.Nesse tecido fluido de personagens e apa-rencias memoriais, pensamos encontrar, nf-tida e dominante, a subjetividade do fot6-grafo. Essae uma realidade espectral tantocomo acreditar que a imagem fotograficacorrtern um tempo fixado ou um mundo in-terrompido. Trata-se apenas de mais umamiragem, mas nao seria a criacao de mira-gens luminosas a razao ontol6gica que movea fotografia? A criacao de novas e poeticasrealidades num tempo luminal? Na dimen-sao poetica da imagem fotografica pulsamapenas os traces deste tempo luminal, so-mos partfcipes de uma roto-genese que noscoloca em face do devir imagem do olhar.Nossa apreensao ignora a linearidade da vi-sao, somos um olhar, tal uma envolventecurvilfnea, que adentra a extensao poeticaTocar com os olhos ou perpassar a luz,sen-

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    tir 0 toque minimo da imagem espelhar saogestos que se confundem na fascinacao origi-nal das primeiras luzes e olhares no mundo.Trata-se de tatil idade que nega a inc isao di-gital ou a operativa ocularidade dos olhos eque parece privilegiar esse minimal da ima-gem. Essa quase-imagem ausente, reflexosem imagem, que faz 0 rnisterio da decifra-c;:aodo espelho na intuicao de ClariceLispector." "conseguir ve-lo sem sever, ca-minhar dentro de seu espac;:otransparentesem deixar nele vestfgio". Ou dessa"dssolvicao do ser voyant no tempo do olhar"que nos ensina Didi-l-luberman." 0 quepoderia nos ensinar essa irnersao alern dosolhos, esse nao mirar figura, na profundida-de luminosa? Talvez 0 surpreender-se talum cac;:ador de relarnpagos, como CildoMeirelles perseguindo um indefinido nasoscilac;:5esveladoras e desveladoras do apa-recer das coisas.Revivemos, naacao plasmadora do olhar quecriou a imagem fotografica, 0 paradoxo dereconhecer objetos do mundo coexistentescom a irrealidade de sua transrnutacaoimaginal. E sera essa realidade imaginal, per-passando0criador e a obra, ao mesmo tem-po vinda de fora e de dentro, que nos iradesvelar uma antevisao do olhar. Nao maisvemos com os olhos, ja nos perdemos naevasao poetica da imagem fotografica,obli teramos suas luminosidades, as luzesperderam destino e razao. Apenas fluemdominantes as cintilac;:5es de uma cristali-na imagem-olhar, asgerminac;:5es imaginaisda imagem-fotogenia no devir poetico dofotografico,Como pragmaticamente prefere Richter,apreender 0 fotograflco tal uma naturezaimaginal: "fotografias sao quase natureza"."uma cosrnica presenc;:apoetica numa obra

    pictorica cujo "problema central e a IUZ".26Afirma a potencia imaterial da luz mesmopretextando a superacao da i lusor ia trans-parenc ia do fotograf ico: "eu na o estou pro-duzindo pinturas que lembram a voce umafotografia, mas produzindo fotografias"."Em outra estrategia criadora, JeffWal128 res-salta 0 potencial da fotografia como a natu-reza de "urn interespac;:oentre as coisas" , apassagemde um lurnlnico para uma realida-de outra. Especialmente na concepcaoiluminadora de suas imagens,Wall cria pro-jetos fotograflcos seapropriando, "como umaespecie de cristal"," das emanac;:5esumfnicasna pintura de Delacroix (The Oeath ofSardanapalus) reencontrando aqui esse"cris-tal de ternpo'r'?Fiel a uma cosmicidade imemorial das pri-meiras luzes, Hiroshi Sugimoto desenvolveem sua serie Seascapes (1980) estrategiacriadora em que seu pensamento se iluminatendo como pretexto as provocac;:5esimaginais da visao imemorial "da mais antigairnpressao humana"." Busca imagens da li-nha do horizonte separando em partes iguaismar e ceu, a irnensidao do mar sem objetos,um infinito ceu sem figuras, em exacerbadaausencia deste mundo, em que a "Iinha dohorizonte separa 0mundo interior do mun-do exterior"." Luzes de um longinquo tem-po que se imbricam em luzes intimas. Imagi-nar a linha do olhar na infinitude de um mun-do sem formas nos informa sobre umageopoetica de um mundus imag inal is da luz.Pelo olhar criador de Sugimoto, temos a hi-cida suspeita de que a imagem-fotogenia epotencial de uma profundidade buscandodensidade.Outra explicitacao da acao poetica da ima-gem-fotogenia se apresenta nadiscussaodasautofigurac;:5es de alguns fotografos, T rata-

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    se de oportunidade de explicitacao denuancas do pensamento foto-poetico, noproprio interior da acao criadora. 0 auto-retrato fctografico nao mostra apenas osolhos em cena; apresenta urn olhar foto-poetico ativado pelas impuls5es da imagem-fotogenia em sua movirnentacao imaginal deprofundidade espelhar. Funda uma ontologiafoto-poetica e desvela 0 pensamento cria-dor nessaarnbivalencia do "visto e vendo"."No seu auto-retrato," Dieter Appelt utilizasuaface refietida esfumada por suaexpracaono espelho. Appelt esconde a face no em-bacado do espelho e se mostra constituinteem difusao e refiexo. Pensaele que a buscaplena da imagem pode ser uma contingen-cia do indefinido? 0 fot6grafo narra sua es-trategia: "instalei a camera fotografica diantedo espelho. Com minha expiracao, eu tentoernbacar, sutilmente, uma fragil densidade (...a expirar mais forte e ao mesmo tempomanter uma respiracao calma." 35 0 fot6-grafo procura indfcio esfumado tao leve, queIhe permita imprimir sem deixar traces, Aosoprar 0 ar na profundidade luminosa docristalino, deseja ativar as luzes prisioneirasna solidez do espelho. Uma expiracao novidro, gesto ernblernatico, oscilante entre 0velar e 0 desvelar, mas que nao nos fala damorte; ao contrario, nessacondensacao ins-tantanea pulsa vivente 0 poetico cristalinodessa imagem fotografica Ele busca com 0olhar inscrever no mfnimo, akancar 0minimaldo verbo figurar. Procurar e encontrar 0sopro, na justa medida, para inscrever esseselans da imagem-fotogenia que animam suafntima face. Essegesto primeiro de esfumaro mundo visa buscar 0germe lumfnico con-tido nesse sopro vital, nos colocar na buscade um originario, dessavisao primeira da facedo mundo. Para essa ontologia criadora 0devaneio do expirar na luz abre linhas deforca no fluxo imaginal do lumfnico, no rno-vimento originario de um poetico lumfnicose constituindo.

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    Appelt demarca um sopro-espaco, que se-para a face de seu refiexo, afirma um entre-espaco de seu olhar, um entre que propiciaabertura para alern das ernanacoes fugidias,das aparencias volateis do real. Eleevade seuolhar nessa profundidade expirante, buscanesse sopro longfnquo, mais do que sua pre-senca, as vivencias milenares do (seu) olhar.Finalmente, onde vivem as luzes milenaresdo olhar?Numa intuicao primeira arriscamospassar pelos traces desse tempo luminal,realidade fugidia que inaugura continuamen-te nosso olhar, tal personagens de uma toto-genese. Tentei aproximar-me desse sentidoindiferenciado da imagem-fotogenia, todossabemos da dificuldade de detalhar essavi-vida imaterialidade; you interromper esteartigo com uma desconstrucao imprudentea partir do poem a "Os Acrobatas", deVinicius de Moraes?6Subamos! (... Atraves de rnilenios de luz,pelacorda luminosa ( ...) que pende invisfvel ecujos n6s sao astros ( ...) do grande mar deestrelas onde dorme a noite (... L a onde 0inf inito, de tao infinito, nem mais nome tem.C a rlo s A lb er to M u ra d e p ro fe ss or titu la r d a U F R J at ua n al in ha d e p es qu is a P o et ic a s i nt er dis ci pli na re s d o P r og ram ad e P os -G r ad ua ca c e m A rt es V is ua is ( EB N UF R J) . D o uto -r ad o e m E st he tiq ue e t S c ie nc es d e I 'A rt p ela U n iv ers id a-d e d e P aris I e p 6s-d ou tora do c om p esqu isa n o c am po d aF il os ofi a d a ima gem e c ri ac a o fo to gr af ic a p el a U n iv er si da -d e d e P aris S orbo nn e, p es qu isa a im age m fo to po etic a es ua in te rfa ce c om o ut ra s p ce tic as v is ua is .

    NotasI T o do 0conj un to cons ti tu fdo pe lo s is tema te cnk o , imagen se ma ter ia l da Fo to g ra fi a.2 E sta mo s t ra ta nd o a qu i d e p ote nc ia is d e u ma fotogenia

    p rimor d ia l , l ig adaao s f en o rn eno s poet ic o s da g ene s edalu z, e a p al av ra i ma gem t em 0 sen tido nes ta abo rdagemde v ir tu a li d ade imagi na l e n ao uma repr es ent a cao f ig u ra l .V e r D a n to , A r th ur . L'art contemporain et l a c lo tu re deI'histoire. Paris :Seui l ,2000.

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    3 Id " ib id4 Bache la rd , Gas ton , Le nouvel espr i t scienti f ique, Paris :PUF,

    1 9 3 4 ,5 Roui l le , Andre, Laphotographie, Paris :Ed, Gal l imard, 2 0 0 5 ,6 Bachelard,Gaston, Lapoet ique de lareveri e. Paris :PUF,1 9 6 0 ;

    _ _ ' L apoetique de I 'espace, Paris :PUF,1 9 5 7 ; _ _ 'L a f lamm e d e la c ha nd elle , Par is : PUF , 1 9 6 1 ;L e s f ragmen ts d 'u ne poe ti qu e du f eu , Paris :PU~

    7 Bachelard, Gaston, L ' eau et les reves, Paris :jose Cort i , 1 9 4 2 :6 9 ,

    8 M ura d, C arlos A Land sc ape l ight s: t im e and s pace i n t hephotographic crea tion .M and landscape ,Athens: Michel isFondation, 2 0 0 I , D e vid o a e ss a c o nd iC ;a o e a tu an do n oc ampo d as A rte s V is ua is e q ue p re fe ri mo s e ss a e x pr es -sao , para escapar das v incu lac ; oes represen tac iona is quea p al av ra i ma gem t em c om a v is ua li da de , A fo rm ua ca obachel ar di an a da " imagem poe ti ca '' f oi c ri ada n a i nves ti -g aC ;ao da l it er at ur a poe ti ca imune a v in cu la c ;o es d ir et asc om a ima gem v is ua l,

    9 Oe !Man te ; t ra ta -s e da d is ti nc ;ao de um devane io que par ti -c ip a /e ng a ja -s e n a c ri acao, d is ti nt o do devane io " pe rd i-do ", " sem ob je t ivo " (revasserie),

    1 0 Borges, j o rge Lu is ( 1 9 4 9 ) , 0 Aleph , Obras Comple tas, vo lI , S ao Paul o: Ed , G l obo, 1 9 9 8 ,

    I I B achel ar d , Gas to n, La te rr e e t l es r ev er ie s d e l a v ol on te ,Par is : j ose Cor ti , 1 9 4 7 ,

    1 2 D eleuze, G iles, A imegem-tempo. S ao P aulo:Brasiliense, 1 9 9 0 ,

    1 3 0 c on ju nto d e im ag en s foto gr afk as, vid eog ra fic as o ufi lm ic as g er ad as a p ar tir d a i nt erme di ac ao 6 pti ca d a r e-f ie x ao ou e rn is sao l um i no sa ,

    1 4 Borges, j o rge Lu is [ 1 9 6 4 ] . Ooutro, 0 rnesro. Ob r as c om -pletas, v . 2 , S a o P a ulo : E d G lo bo , 2 00 4 : 3 37 ,

    1 5 Bachelard, 1 9 6 1 , op, c it : 3 .1 6 Bachelard, Gaston, F ragmen tos d e u ma p oetk d o f ogo ,

    Sao Pau lo : B ras il iense ,1 9 90 : 7 8 ,1 7 Corbin , Hen ry , L' imaginationcreatr icedans Iesoufisme d 1bn

    Arabi, Paris:Aubier, 2 0 0 0 ,1 8 Bachelard, 1 9 5 7 , op, c i t. : 1 2 ,1 9 Bache lard , Gas ton , L'air et les songes , Par is : j ose Cor ti ,

    1 94 3: 1 5,2 0 Bachelard, 1 9 8 8 , op, cit: I 1 6 ,2 1 Bachelard, 1 9 4 3 , op, c it : 1 9 5 e __ , 1 9 4 7 , op, c it ,2 2 Bachelard, 1 9 9 0 , op, c i t. : 5 7 ,2 3 Uspec tor , C la ri ce, Paraniio esquece~ Riode jane iro : Rocco,

    1 99 9: 1 3.2 4 Did i-Hube rman , Geo rges , Phasmes ,Par is :Ed i t ions M inu it ,

    1 9 98 : 5 4 ,2 5 Richter , Ge rhard , Writings 1 9 6 2 - 1 9 9 3 , Cambr idg e: M I T

    Press, 2 00 2: 1 87 ,2 6 ld ibid : 3 9 ,2 7 I d " ibid : 7 3 .2 8 Tum l ir , j an , j ef f Wa l l: I nt er vi ew , ArtForum: 3 , 2 0 0 I: 2 4 9 ,2 9 Wall , je ff : Selected essaysand interviews , N ov a Y ork M oM a,

    2 00 7: 1 8 7,3 0 De le uz e , o p, c it : 1 0 3 .3 1 Campany , Dav id , Art and photography . London : Pha idon ,

    2 00 4 : 2 85 ,3 2 S ug im oto in G a rre l, T hie rry (e d), C on ta cts , I, 2 , 3 Th e

    wor ld ' s grea te st photograph&s reveal the s ecre ts behindtheir images , P ar is : A rt e F ra nc e- CNP , D VD 2 0 0 0 ,

    3 3 Bachelard, 1 9 4 2 , op, c it : 4 2 ,3 4 Autoportrait, 1 9 7 8 i n Cab ine t des Es tampes, B ibl io theque

    N a ti on al e d e P ar is E P 1 3 0 6 fo l, n I ,3 5 D iet er Appe lt , o p. ci t: 1 3 .3 6 Moraes, Vin icus , Poesia completa e prosa, Rio de jane iro :

    E d it or a N ov a A gu ila r, 1 9 9 8 ,

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