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ANUNCIE AQUI! Domingo, 25 de Novembro de 2012. História Geografia Cultura Telefones Úteis Turismo Simbolos Contos Religião Educação Saúde Politica Esporte Como chegar? Onde Ficar Onde Ir Onde Comer Cidade dos deuses Cachoeira Folclóricas Antigas Carnaval Religião Atuais Diversas Agenda Enquete Coberturas Noticias Guia Comercial Charges Videos Valores da terra Kinji Ikegami: a saga de um samurai Fonte: foto: Kinbo Ikegami Kinji Ikegami: a saga de um samurai por Luiz Ismaelino Valente (*) Nos dias 17/18 de setembro de 2009, durante as comemorações dos 80 Anos da Imigração Japonesa na Amazônia, Antão Shinobu Ikegami lançou, no Centro de Convenções Benedicto Monteiro, em Belém, o seu belo livro A Fibra e o Sonho – A saga da colonização japonesa na Amazônia contada através da jornada do pioneiro Kinji Ikegami. Trata-se de um livro extraordinário, muito bem escrito e melhor ainda documentado, fartamente ilustrado, que encanta o leitor sob qualquer aspecto que o encare. O título já é um achado, pois combina fibra, alusiva ao caráter nipônico, com o sonho de produzir a fibra da juta. Nascido em Parintins, em 19 de janeiro de 1939, o engenheiro Antão Ikegami, formado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, descreve, com precisão matemática e riqueza de detalhes, a comovente e meritória jornada de seu pai Kinji Ikegami em solo amazônico, durante mais de seis décadas. Conta-nos Antão Ikegami, em sua obra que, nas primeiras décadas do século XX, após a I Guerra Mundial (1914/1918), o Japão já havia saído do seu antigo sistema feudal e passado para uma sociedade mercantilista. Sua frota de navios a vapor era uma das maiores do mundo. Em que pese essa grande transformação, o país logo se viu às voltas com a explosão demográfica, especialmente na zona rural, e com uma preocupante e crônica escassez de alimentos. Para minimizar os efeitos da crise, o Japão adotou a política de emigração, aliás muito comum, então, a vários países europeus e asiáticos, em razão da qual passou a estimular milhares de famílias japonesas a tentarem a sorte em outros países. De início, a emigração japonesa, por motivos mais do que óbvios (identidade cultural, idioma, etc.), demandava a Manchúria e a China, mas logo também passaram a ser cogitados países da América. No primeiro quartel do século XX a Amazônia vivia a debacle econômica motivada pela queda da produção da borracha, cujo declínio remonta a 1910. Em 1923 o governador Antônio Emiliano de Souza Castro Filho propusera ao governo japonês a vinda de colonos nipônicos ao Pará, proposta reiterada em 1926 ao embaixador do Japão no Brasil, Hichita Tatsuki, pelo governador Dionísio Ausier Bentes, e, nesse mesmo ano, o governador do Amazonas, Ephigênio Salles, também se prontificou a doar terras necessárias para o projeto de colonização japonesa na Amazônia. Mas foi somente três anos depois, em 16 de setembro de 1929, que desembarcou do navio Montevidéu- Maru no porto de Belém o primeiro grupo japonês de 43 famílias e 9 solteiros (total de 189 pessoas), que se estabeleceram, como colonizadores, na região do Acará (Tomé-Açu). Várias outras iniciativas se registraram a seguir. Até que, em 1930, o empresário e político japonês Tsukasa Uyetsuka, fundou, em Tóquio, a Escola Superior de Colonização Kokushikan (mais conhecida como Koutaku), que se tornou uma referência de fundamental importância para a formação de técnicos e colonos japoneses que emigrariam para a Amazônia nos anos seguintes. Uyetsuka convidou seu amigo Kotaro Tuji (ou Tsuji), jovem professor da Faculdade do Comércio de Kobe, onde haviam sido contemporâneos, para, cumulativamente, assumir os cargos de professor e diretor da Koutaku. Kotaro Tuji, que visitara o Brasil durante um ano e meio e voltara ao Japão em 1930, apaixonara-se pelas potencialidades do “grande vale amazônico” e foi o principal entusiasta da aclimatação, nesta região, da juta indiana (Corchorus capsulares L.), que era, por assim dizer, a sua idéia fixa. A Koutaku enviaria, a partir de 1931, em sucessivas levas anuais, até 1937, técnicos e colonos japoneses que se instalaram numa concessão de terras obtida do governo amazonense, na Vila Batista, rebatizada com o nome de Vila Amazônia, em Parintins, e, também, em Maués. Enquete O QUE VOCÊ GOSTARIA QUE O NOVO PREFEITO PRIORIZASSE PARA ALENQUER? - PAVIMENTAÇÃO DE RUAS - RECUPERA O ESTÁDIO MUNICIPAL - CONTRATAR MAIS MÉDICOS - URBANIZAÇÃO CENTRO DA CIDADE - INSTALAR MICRO SISTEMA DE ÁGUA NOS BAIRROS - RETIRAR AS PALAFITAS EMFRENTE A CIDADE - MOSTRAR A TRANSPARÊNCIA DE SEU GOVERNO - NENHUMA DAS OPÇÕES

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    Domingo, 25 de Novembro de 2012.

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    Kinji Ikegami: a saga de um samurai

    Fonte: foto: Kinbo Ikegami Kinji Ikegami: a saga de um samurai

    por Luiz Ismaelino Valente (*)

    Nos dias 17/18 de setembro de 2009,durante as comemoraes dos 80Anos da Imigrao Japonesa naAmaznia, Anto Shinobu Ikegamilanou, no Centro de ConvenesBenedicto Monteiro, em Belm, o seubelo livro A Fibra e o Sonho

    A saga da colonizao japonesa naAmaznia contada atravs da jornadado pioneiro Kinji Ikegami.Trata-se de um livro extraordinrio,muito bem escrito e melhor ainda

    documentado, fartamente ilustrado, que encanta o leitor sob qualquer aspecto que o encare. O ttulo j um achado, pois combina fibra, alusiva ao carter nipnico, com o sonho de produzir a fibra da juta.

    Nascido em Parintins, em 19 de janeiro de 1939, o engenheiro Anto Ikegami, formado pela EscolaPolitcnica da Universidade de So Paulo, descreve, com preciso matemtica e riqueza de detalhes, acomovente e meritria jornada de seu pai Kinji Ikegami em solo amaznico, durante mais de seis dcadas.

    Conta-nos Anto Ikegami, em sua obra que, nas primeiras dcadas do sculo XX, aps a I Guerra Mundial(1914/1918), o Japo j havia sado do seu antigo sistema feudal e passado para uma sociedademercantilista. Sua frota de navios a vapor era uma das maiores do mundo.

    Em que pese essa grande transformao, o pas logo se viu s voltas com a exploso demogrfica,especialmente na zona rural, e com uma preocupante e crnica escassez de alimentos.Para minimizar os efeitos da crise, o Japo adotou a poltica de emigrao, alis muito comum, ento, avrios pases europeus e asiticos, em razo da qual passou a estimular milhares de famlias japonesas atentarem a sorte em outros pases.

    De incio, a emigrao japonesa, por motivos mais do que bvios (identidade cultural, idioma, etc.),demandava a Manchria e a China, mas logo tambm passaram a ser cogitados pases da Amrica.No primeiro quartel do sculo XX a Amaznia vivia a debacle econmica motivada pela queda da produoda borracha, cujo declnio remonta a 1910.

    Em 1923 o governador Antnio Emiliano de Souza Castro Filho propusera ao governo japons a vinda decolonos nipnicos ao Par, proposta reiterada em 1926 ao embaixador do Japo no Brasil, Hichita Tatsuki,pelo governador Dionsio Ausier Bentes, e, nesse mesmo ano, o governador do Amazonas, EphignioSalles, tambm se prontificou a doar terras necessrias para o projeto de colonizao japonesa naAmaznia.

    Mas foi somente trs anos depois, em 16 de setembro de 1929, que desembarcou do navio Montevidu-Maru no porto de Belm o primeiro grupo japons de 43 famlias e 9 solteiros (total de 189 pessoas), quese estabeleceram, como colonizadores, na regio do Acar (Tom-Au).

    Vrias outras iniciativas se registraram a seguir. At que, em 1930, o empresrio e poltico japonsTsukasa Uyetsuka, fundou, em Tquio, a Escola Superior de Colonizao Kokushikan (mais conhecidacomo Koutaku), que se tornou uma referncia de fundamental importncia para a formao de tcnicos ecolonos japoneses que emigrariam para a Amaznia nos anos seguintes.

    Uyetsuka convidou seu amigo Kotaro Tuji (ou Tsuji), jovem professor da Faculdade do Comrcio de Kobe,onde haviam sido contemporneos, para, cumulativamente, assumir os cargos de professor e diretor daKoutaku.

    Kotaro Tuji, que visitara o Brasil durante um ano e meio e voltara ao Japo em 1930, apaixonara-se pelaspotencialidades do grande vale amaznico e foi o principal entusiasta da aclimatao, nesta regio, dajuta indiana (Corchorus capsulares L.), que era, por assim dizer, a sua idia fixa.

    A Koutaku enviaria, a partir de 1931, em sucessivas levas anuais, at 1937, tcnicos e colonos japonesesque se instalaram numa concesso de terras obtida do governo amazonense, na Vila Batista, rebatizadacom o nome de Vila Amaznia, em Parintins, e, tambm, em Maus.

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    O QUE VOCGOSTARIA QUE ONOVO PREFEITO

    PRIORIZASSE PARAALENQUER?

    - PAVIMENTAO DERUAS- RECUPERA OESTDIO MUNICIPAL- CONTRATAR MAISMDICOS- URBANIZAOCENTRO DA CIDADE

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    Os estudantes da Koutaku eram chamados koutakuseis e tiveram um papel extraordinrio namodernizao da agricultura no baixo e mdio Amazonas.Em 1931, Tsukasa Uyetsuka criou o Instituto Amaznia (IA), vinculado Koutaku, que viria a dar onecessrio suporte tcnico ao empreendimento na Vila Amaznia, assim como a Companhia Industrial daAmaznia (CIA), mais tarde, daria o suporte financeiro ao projeto.

    Dois anos depois, em 1933, o prprio diretor da Koutaku, Kotaro Tuji, teve que vir ao Brasil (e aqui seestabeleceu em definitivo), com o escopo de superar as desinteligncias havidas na Vila Amaznia aps opedido de demisso de Kinroku Awazu, o superintendente do Instituto Amaznia que se desencantaracom o insucesso do plantio experimental da juta indiana.

    Ao chegar Vila Amaznia, assinala Anto, Tuji estabeleceu uma colnia modelo na foz do rio Andirtendo a juta como produto principal e outra na comunidade de Maus, onde a prioridade era o cultivo doguaran.

    A aclimatao da juta indiana na Amaznia, entretanto, no foi nada fcil. E nem era de se esperar ocontrrio, pois, como informa o autor do livro A Fibra e o Sonho, os primeiros koutakuseis eram pessoasde formao de nvel superior e pertenciam s famlias de classe mdia alta e nenhum deles haviatrabalhado com enxada, foice ou machado. Em outras palavras: eram todos nefitos em agricultura.

    S no ano de 1934 que o agricultor Ryota Oyama conseguiu obter, em seu stio no Andir, dois ps dejuta com caractersticas alentadoras e que foram realmente o ponto de partida para a subseqente esempre crescente produo da fibra juta na Amaznia, at comear o seu irreversvel declnio a partir doincio da II Guerra Mundial.

    J em 1950, aps o fim da II Guerra Mundial, quando foi retomada a imigrao japonesa na Amaznia poriniciativa de Kotaro Tuji junto a Getlio Vargas, a produo da juta j no era prioritria nem parabrasileiros nem para nipnicos, que passaram a exercer outras atividades agrcolas ou comerciais.

    Foi com a terceira turma de koutakuseis, em 1933, que Kinji Ikegami (foto direita) veio para o Brasil.Nascido em 19 de agosto de 1913, na vila de Kiraiti, provncia de Amori, extremo norte de Honshu, Kinjiera filho de Kojuro e Koyuki Ikegami. Seu pai era um alto funcionrio do Ministrio da Agricultura eFloresta do Japo. Sua famlia era, portanto, de classe mdia alta.

    O jovem Kinji Ikegami podia muito bem ter seguido a carreira militar, como era usual entre os filhos dasfamlias japonesas de classe mdia e do gosto do seu genitor. Mas, em vez disso, convenceu o pai amatricul-lo na Koutaku, em 1932, depois que assistiu, muito animado, a uma palestra de TsukasaUyetsuka.

    Kinji tornou-se, assim, um koutakusei, e, em 21 de junho de 1933, com apenas 20 anos de idade,desembarcou em Parintins. Dois dias depois j iniciava estgio na Vila Amaznia.

    A Fibra e o Sonho baseia-se, em grande parte, num conjunto de cartas que Kinji escreveu, de 1 defevereiro de 1945 a 20 de maro de 1947, aos seus familiares residentes em Kumamoto, ao Sul do Japo.Por causa da guerra, que interrompera o correio entre o Brasil e o Japo, e, mais provavelmente, porquesua me falecera em 1942 e seu pai morrera em 1946, essas cartas jamais foram enviadas.

    Escritas em japons antigo, com caneta tinteiro, em 44 folhas de papel almao, em forma de dirio, essasmissivas foram traduzidas por Yuko Takeda Pvoas de Arruda. A ltima delas, foi assim encerrada: beira do Lago Remanso, na Ilha do Carmo, municpio de Alenquer, 20 de maro de 1947. De: KinjiIkegami. Para os membros da famlia Ikegami.

    Os originais dessas cartas, encontrados entre os pertences de Kinji, aps sua morte, ocorrida em Belmem 2 de abril de 1996, aos 83 anos de idade, foram doadas, em 2 de maro de 2003, por sua viva TeruoIkegami, ao Museu Histrico da Imigrao Japonesa no Brasil (em So Paulo), onde hoje se encontram.

    As cartas de Kinji constituem, com efeito, um relato minucioso e interessantssimo das condies de

    trabalho dos japoneses na Amaznia, de sua vida familiar, de seus sucessos e fracassos, bem como desuas preocupaes, expectativas e angstias nos anos sombrios da II Guerra Mundial que enlutava omundo e inquietava centenas de famlia de koutakuseis que viviam na Amaznia (Kinji relembra at ocampo de concentrao criado pelo general Magalhes Barata em Tom-Au, onde muitos alemes,italianos e japoneses foram confinados e suas respectivas famlias os acompanharam, ainda que no nacondio de prisioneiros).

    A leitura das cartas de Kinji estimulou o seu segundo filho, Anto Ikegami, a estudar a fundo a imigraojaponesa no Brasil e, em especial, na Amaznia, bem como a refazer, em frutfera viagem s origens,encetada em 2008, todo o itinerrio percorrido pelo pai.

    Com efeito, Kinji conta detalhadamente, em suas cartas, sua peregrinao em solo amaznico, desde achegada a Parintins, seu posterior estabelecimento em Itaracuera ( beira do rio Uiacapar, ondeconstruiu sua primeira casa, embarreada, feita toda s com minha mo), passando por uma empreitadafrustrante em Breves (onde comearam a conviver com a desgraa da malria) e por sua estadia emSantarm (primeiro como gerente local da Companhia Industrial da Amaznia, depois como juteiro noAritapera), at, finalmente, sua transferncia definitiva, em agosto de 1945, para Alenquer, onde seestabeleceu na Ilha do Carmo, beira do Lago Remanso (primeiro no stio Santa Brbara, depois naGranja Brasil), at mudar-se, com toda a famlia e alguns empregados, para a sede da cidade, em 1954.

    Quando ainda morava em Santarm, na primeira metade da dcada de 1940, e por influncia dos muitosamigos que fizera na cidade, toda a famlia Ikegami foi batizada na religio catlica, ocasio em que Kinjirecebeu o nome brasileiro de Lus, e Teruo o de Ins (que nunca foi do seu agrado, pois era o mesmo deuma mulher muito feia e gorda do Aritapera). Em 1973, ambos naturalizaram-se brasileiros.

    Uma das passagens mais comoventes do livro A Fibra e o Sonho a narrativa do primeiro encontro deKinji e Teruo, que no se conheciam pessoalmente.Teruo nasceu em 16 de maro de 1917, na cidade de Yumaga, filha de Hajime e Hatsume Nakayama, eat ento s vira o noivo Kinji por meio de uma foto para noivado.

    Como era costume no Japo naquela poca, o casamento dos dois fora arranjado pelos seus genitores,em Kumamoto, onde moravam as famlias, e a unio, sacramentada por procurao, no dependia,absolutamente, da vontade dos noivos.

    Em 2 de julho de 1935, Teruo desembarca do navio Santarm, da companhia Loyde Brasileiro, no porto

  • Em 2 de julho de 1935, Teruo desembarca do navio Santarm, da companhia Loyde Brasileiro, no portode Parintins. Ela, de pele branca e toda arrumadinha (descreve Anto); e ele, pardo, de pelecurtida pelo sol equatorial, cabelos despenteados e a roupa encardida, motivo de desencanto, claro,para a noiva Teruo.

    a prpria Teruo, hoje com 92 anos de idade e em plena lucidez, quem narra ao filho engenheiro quevirou excelente escritor: Estava nervosa. Estava com uma foto do Ikegami na mo, mas no conseguia identific-lo entre osnoivos e curiosos parados no trapiche, esperando a nossa chegada () Aquela que tinha nas mos erauma foto retocada do meu jovem marido [ direita] e o que via na realidade, eram jovens enegrecidospelo sol equatorial, cabelo mal penteado, roupa amarrotada e encardida e um ar degradado.

    Para que se conhecessem, de fato, foi preciso que Sachyio, irm de Kinji, que tambm viera no mesmonavio, os apresentasse um ao outro.

    A bem da verdade, esse ar degradado era o retrato fiel, de um modo geral, dos jovens koutakuseisque, em 1935, ainda no haviam tido grande sucesso com o cultivo da juta, do guaran ou da pimenta-do-reino na Amaznia.

    Com Teruo, no mesmo navio, como j dito, tambm vieram a irm de Kinji, Sachyio (que mais tardereceberia o nome de Teresa), noiva de Yoshito Ishihara; e Tatsumi (que depois recebeu o nome deMaria), j casada com Yoshio Ishihara, o irmo gmeo de Yoshito.

    Os Ikegami e os Ishihara tornaram-se, pois, parentes e amigos, e foram todos morar em Itaracuera (que os japoneses chamavamTauaquera) beira do rio Uiacapar, onde j haviam construdo casas bem humildes, reunindo-se, maistarde, todos eles tambm, em Alenquer, depois de vrios encontros e desencontros no perodo da IIGuerra Mundial.

    (Um triste parntesis: os irmos Ishihara tiveram ambos mortes trgicas, ainda relativamente jovens:Yoshito, teve morte instantnea devido a um tiro acidental de espingarda no corao, em 16 dedezembro de 1945, e Yoshio, ao cair acidentalmente de um cavalo, em 21 de abril de 1953. Por essesmotivos, suas vivas e filhos foram morar, por algum tempo, com os Ikegami, da se consideraremverdadeiros irmos).

    A impresso de quem l A Fibra e o Sonho a de que, apesar de todos os percalos, de todos osinsucessos, de todas as incertezas at que chegassem, enfim, os dias de prosperidade e felicidade toalmejadas, j em Alenquer (sua terra prometida?) , a jornada amaznica de Kinji Ikegami constitui, naverdade, a saga de um samurai.

    Todas as caractersticas dos lendrios e hericos guerreiros do pas do Sol Nascente esto presentes e

    bem vivos na epopia do jovem koutakusei que escolheu voluntariamente, para viver, o mundo inspitoda Hilia, em vez do conforto que lhe propiciaria a famlia de classe mdia no Japo: a fora de vontade,a tenacidade, a disposio permanente para a luta, a viso de futuro e a imensa capacidade de, tal comoa Fnix, renascer das cinzas e superar as vicissitudes.

    Em que pese o certo desencanto inicial de Teruo e a confessada relutncia de Kinji em se casar, por seachar ainda muito jovem, a verdade que os dois formaram uma grande famlia, muito unida e feliz, numcasamento que durou, at morte de Kinji, 61 anos, e tiveram sete filhos: Clara Hitomi (professora) eAnto Shinobu (engenheiro), ambos naturais de Parintins; Norma Missa (enfermeira) e Jonas Jiro(fazendeiro e comerciante), que vieram ao mundo em Santarm; La (formada em Cincias Contbeis, aprimeira a nascer em Santa Brbara, na Ilha do Carmo, em Alenquer, aos cuidados da parteira donaChiluca), Ivo (engenheiro, tambm nascido em Santa Brbara assistido pela dona Chiluca, qual deumuito trabalho para nascer, pois tinha a cabea muito grande, como diz o pai em suas cartas) e Rui(mdico veterinrio, nascido em Santarm, num hospital, com todos os recursos da medicina, umanovidade para a poca).

    Mas Anto Ikegami no se limita, em A Fibra e o Sonho, a repetir as informaes histricas que colheusobre a imigrao japonesa no Brasil e na Amaznia ou a reproduzir as bem escritas memrias do pai.

    Ele prprio, Anto, traz baila suas prprias, vivas e eloqentes lembranas da infncia vividaprincipalmente em Santa Brbara, onde aprendeu as primeiras letras com sua me Teruo, que lheensinou, igualmente, o japons que ele lia at muito bem (mas seu pai, conforme diz numa das cartas,desconfiava que o filho no entendia metade do que lia).

    Em Santa Brbara, diz Anto, a vida era borbulhante: viam-se aves e animais nadando, peixes quemovimentavam a gua e o pirarucu, maior peixe de escama do rio Amazonas costumava boiar.Anto descreve: A pesca do pirarucu muito movimentada. No momento em que ele vem tona pararespirar quando se arpoa.

    Inicia-se, nesse instante, a luta pela sobrevivncia. O pirarucu consegue arrastar a canoa, por algumtempo, at se cansar. Para sinalizar a direo que o pirarucu nadava, soltava-se a bia de madeira leve(feita de boieira rvore da Amaznia chamada de Mongol em Maus) amarrada quase no fim da linha.Para garantir que o peixe no escapasse, o pescador confirma lanando outro arpo; a, sim, dificilmenteo pirarucu deixa de ser embarcado na pequena canoa.No vero, tinha a batio um modo de pescar que se vai batendo na gua com varas para empurr-los[os peixes] para determinado local. Essa caada acontecia em um lago chamado Ressaca, na prpria Ilhado Carmo, em um lago central.

    O moleque Anto Shinobu tornou-se craque em pescaria: No captulo de iscas, aprendi a utilizar vriostipos, at vivas. A pesca com frutas acontece nas cheias, quando a mata fica alagada (chamada deigap) e os frutos caem na gua. Para imitar a queda da fruta usa-se o gapunga peso feito de chumbofixado na linha amarrado na ponta do canio, que se bate na gua. Para os peixes, que so atrados pelobarulho na gua, bate-se o cob com a ponta do canio.

    E mais: Com a fruta socor pescava-se tambaqui e pirapitinga; com o loiro (que uma fruta preta),pacu, pirapitinga e tambaqui; com catauari, o tambaqui e com o fruto da embauba, o pacu. Com isca deuru (caramujo) se pescava pacu, aracu e caraau. Tucunar pescado com uauaca dois anzisamarrados em panos, preto, branco e vermelho numa linha curta em um canio, com o qual se risca asuperfcie da gua, na beira do capim, nos lagos e por a segue o que poderamos muito bem chamar demanual de pescaria do Shinobu.Sem nunca se desfazer de Santa Brbara (tambm conhecida como Poo ou Socor), a famlia Ikegamicomprou a Granja Brasil, na mesma regio, e, durante 34 anos (de 1954 a 1988), fixou residncia na

  • comprou a Granja Brasil, na mesma regio, e, durante 34 anos (de 1954 a 1988), fixou residncia nasede da cidade de Alenquer, onde Kinji virou comerciante, tornando-se scio do empresrio Raul dosSantos Amaral e ocupando uma confortvel casa por este construda na travessa Lauro Sodr, no bairrodo Aningal, onde instalaram o armazm, o comrcio e a moradia da famlia.

    A casa dos Ikegami era uma das melhores da cidade naquela poca, a nica com gua encanada (captadade um poo por um engenhoso sistema concebido por Kinji) e a nica com telefone.Alenquer foi a cidade que acolheu nossa famlia escreve Anto Ikegami e passamos a integrar asociedade Ximanga.

    Fizemos muitas amizades, no s na cidade como na Colnia e Vrzea. Somos lembrados como filhosdessa cidade.O livro de Anto Ikegami resgata, assim, com minudncias e muita verve, os usos e os costumes doscaboclos ribeirinhos, bem como as lembranas inapagveis da histria das cidades em que viveram, emespecial as de Alenquer.

    Os sessentes, como eu, tero, com certeza, um grande prazer em rever, em foto no livro, a engraadae barulhenta fubica ( esquerda) o veculo de trs rodas que Kinji Ikegami comprou do seu amigoTamotsu Iwasaka, que o trouxera do Japo. Na poca, a fubica dos Ikegami era o mximo em tecnologiaautomotiva, contrastando diametralmente com a carroa de boi (acima, direita), principal meio detransporte urbano e o encanto da garotada alenquerense nos idos de 1950/1960.

    Mas bom ficar por aqui. Seno, acabarei transcrevendo o livro inteiro. Que o leitor saboreiepessoalmente as delcias de A Fibra e o Sonho. Elas nos do gua na boca e deixam os olhos marejados

    de saudade.

    * advogado, nascido em Alenquer e residente em Belm.

    Notcia Postada em 09/06/2010 por: Fbio Monteiro

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