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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANE MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANE Título original: Single in Seattle Carolyn Zane Disponibilização do livro: Artemis Digitalização: Joyce Revisão: Maria Rocha Todos os direitos reservados, inclusive o direito de reprodução total ou parcial, sob qualquer forma. 1

Carolyn Zane - Solteiro Em Seatle

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANE

Título original: Single in SeattleCarolyn Zane

Disponibilização do livro: ArtemisDigitalização: Joyce

Revisão: Maria Rocha

Todos os direitos reservados, inclusive o direito de reprodução total ou parcial, sob qualquer forma.

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANE

Primeiro Encontro: Está chovendo. Ele quer caminhar e você está usando sapato de salto, uma meia-calça que não para de escorregar por suas pernas e seu sutiã tão apertado que não a deixa respirar, Segundo Encontro: Ele é multado por excesso de velocidade e o guarda que aplica a multa é seu ex-namorado!Depois:, ele a leva para conhecer sua família e você percebe que é totalmente diferente deles!O que, acontecerá? O que eles pensarão a seu respeito? E se o encontro der errado? Ora, uma só noite nos braços do homem já terá valido a pena !

Como Mike conheceu Clare:Obrigado a comprar um terno para a festa de aniversário de casamento de seus pais, Mike encontra a vendedora Clare pela primeira vez no provador masculino... onde ela lhe tira as medidas."Por que Mikey não consegue encontrar urna garota boa, simpática?"— Pris, irmã mais velha de Mike.Ao chegar em casa com o terno, Mike encontra um bilhete muito interessante de Clare, no bolso do paletó. A mulher que lhe tirara todas as medidas, do pescoço aos pés, quer que ele a convide para sair!"Então, eu escrevi o bilhete. Fiz isso porque queria que Clare esquecesse aquele canalha do ex-noivo e conhecesse um rapaz bom, decente."— Lucy, suposta amiga de Clare.Embora não tenham nada em comum, Mike está disposto a dar uma "chance" a Clare... E é aí que começam as emoções..."Tudo bem, talvez eu não tenha aconselhado Mike direito, sobre corno impressionar Clare. A culpa é minha se o plano não deu certo!?"Sam, funcionário e amigo de Mike, um celibatário convicto.

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PRÓLOGOAté quando vocês pretendem brincar com a sorte? Até serem despedidos? — Clare censurou.Lucy e Henry dividiam com ela o atendimento à seção de roupas masculinas da Mônaco, uma famosa loja de departamentos, mas naquela manhã, sem terem o que fazer por causa do pouco movimento, os dois haviam resolvido fazer mais uma de suas incursões à seção de roupas de cama, banho e mesa e se encontravam, naquele exato instante, deitados sob o mais novo e caro jogo de lençóis em exposição.A súplica, feita pela terceira vez, tampouco surtiu o efeito desejado. "O que havia com quase todas as pessoas de seu relacionamento?", Clare se perguntou. Seria a única a ter bom senso?Apesar de estar empregada na maior loja de departamentos de Seattle havia apenas um mês, Clare dedicava-se ao trabalho de maneira muito mais completa do que os demais funcionários que já eram antigos na função. Sabia, por exemplo, que Lucy e Henry poderiam estar fazendo uma série de outras coisas quando a falta de clientela os liberava do atendimento.Uma nova remessa de ternos havia chegado no final da tarde do dia anterior e as peças precisavam ser examinadas, etiquetadas e penduradas nos cabides e gôndolas espalhadas pela seção.Clare estava realizando o inventário sozinha quando Lucy poderia estar ajudando-a. E Henry acabaria falhando no prazo de entrega das roupas que haviam sido deixadas pelos clientes para as devidas alterações.— Lucy! — Clare tornou a chamar em voz firme, mas baixa. — Estou falando sério. Vocês acabarão nos colocando em uma encrenca.Risadas abafadas foram a resposta. Era inútil. Quando Lucy e Henry decidiam se divertir, não havia quem os fizesse parar.Incapaz de convencê-los, Clare afastou-se e continuou com seu trabalho. Quando notou a aproximação de uma cliente, prendeu a respiração. Mas Lucy e Henry, com a prática adquirida durante anos de ensaios, fingiram-se de manequins no momento exato.Nos primeiros dias nesse emprego, Clare não conseguia evitar o riso diante dessa representação. Agora, aquela ousadia só conseguia deixá-la irritada.Assim que a cliente se afastou da seção, Henry fez um sinal para Clare.Ela limitou-se a dar-lhes as costas.Henry piscou para Lucy.— Nossa amiga está parecendo uma velha ranzinza hoje, não?— Pobrezinha! — Lucy exclamou ao mesmo tempo em que se levantava e era imitada por Henry. — Esqueceu-se do quanto Clare está sensível nas últimas duas semanas?— E verdade! — Henry concordou. — Clare está assim desde que terminou com Beau.— Detesto quando falam de mim como se eu não estivesse presente — Clare queixou-se quando

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEos colegas se aproximaram. Estava arrependida por ter desabafado com eles. — E parem de me tratar como se estivesse à morte! Já disse um milhão de vezes que estou bem! — Afinal, ela não era a primeira nem seria a última mulher cujo noivo desistia do casamento por descobrir, de repente, que preferia continuar com sua vida de aventuras.Não que ela não fosse favorável à diversão. Ao contrário. Mas, em sua opinião, para tudo havia o momento certo.Como quando estava trabalhando! O que Henry e Lucy faziam não lhe parecia certo e nunca pareceria!Respirou fundo para controlar a irritação e sorriu.— Já pendurei metade dos ternos. Tratem de arrumar o resto.— Acho melhor obedecermos as ordens da chefe — Henry caçoou.— Você parece estar ainda mais deprimida hoje do que nos outros dias — Lucy murmurou. — Gostaria de conversar a respeito?Clare fez um movimento com os ombros. Já havia feito a bobagem de contar aos amigos sobre o rompimento de seu noivado com Beau, não havia?— Minha mãe telefonou esta manhã. Ela gostava de Beau. Achava-o lindo com seu uniforme de guarda rodoviário. Vivia dizendo que eu não devia deixá-lo escapar. Agora está com medo de que eu fique solteira. Talvez ela esteja certa. E também Beau. Talvez todos vocês estejam certos e eu me comporte realmente como uma velha ranzinza.— Oh, não! — Lucy se apressou a negar e a fazer um sinal para que Henry a apoiasse. — Você não é ranzinza. Estávamos apenas brincando.— Lógico! — Henry concordou.— Esqueça Beau. Há muitos peixes no mar. Você apenas precisa dar mais linha a seu anzol. Solte-se, Clare. Não encare a vida com tanta seriedade — Lucy aconselhou.Mais aliviada após a confissão, Clare sorriu.— Está bem, mas não esperem que eu me deite naquela cama para mostrar que sou capaz de me divertir. Não quero perder este emprego.Após a conversa, os três trabalharam em silêncio. Clare pensou que Lucy estava certa. Beau não era o único homem no mundo. Para cada um daqueles ternos que estavam pendurando, por exemplo, haveria um comprador.— Adorei este — Clare murmurou consigo mesma e alisou a lã macia do paletó. — Não seria ótimo se naquele exato momento o homem de sua vida entrasse na loja e caísse aos seus pés?Um sorriso surgiu nos lábios de Clare. Era uma loucura, mas uma idéia estava insistindo em se formar em sua mente. Talvez um pouquinho de aventura fosse exatamente o que estava precisando. Afinal, o homem que comprasse aquele terno certamente teria classe.Tomada a decisão, Clare contou a Lucy e ela a Henry.— Além de ter bom gosto, o sujeito teria altura e músculos — Lucy declarou.— Talvez fosse um executivo importante — Clare deduziu.— Acham que podem descrever alguém com tantos detalhes só por causa de um terno? — Henry

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEzombou.Clare deu uma gargalhada. De repente, estava se sentindo de volta aos tempos de adolescência.— Sabem o que pretendo fazer?— O quê? — Lucy e Henry perguntaram a uma só voz.— Colocarei um pequeno bilhete no bolso interno do paletó. Contarei alguns detalhes sobre minha pessoa e direi que o dono deste terno fabuloso está convidado para tomar um café comigo se estiver interessado em me conhecer melhor.— Quem diria! Encontramos alguém ainda mais maluca do que nós! — Lucy e Henry trocaram um olhar.Clare fez um movimento de descaso com os ombros. Por que, de repente, eles pareciam tão sóbrios? Por que apenas eles se sentiam no direito de fazer brincadeiras?— Não aprova minha idéia, Henry? — Clare questionou. — Pensei que você, em especial, fosse adorá-la.— Sou brincalhão, mas não sou tolo — Henry resmungou.— Bem — Lucy tirou o terno das mãos de Clare e pendurou-o —, talvez o plano tenha alguma possibilidade de sucesso.Um arrepio de excitação percorreu o corpo de Clare.

Não desistiria da idéia, apesar dos protestos de Henry e da insegurança de Lucy. De um minuto para outro, uma pitada de aventura parecia essencial a sua vida.Munida de um bloco de anotações e de um lápis, Clare dirigiu-se ao balcão.— O que devo escrever?— Informe-o sobre suas medidas — sugeriu Henry com olhar apreciativo. — Ele marcará um encontro com você antes mesmo de terminar de ler o bilhete. E não esqueça de mencionar as madeixas longas, loiras e onduladas e os olhos azuis.As faces de Clare cobriram-se de rubor.— Obrigada, Henry, mas eu pretendo apenas tomar um café com o dono do terno, não ter seus filhos. Não quero que forme uma impressão errada a meu respeito.— Oh, não — Lucy concordou. — Ninguém quer que o sujeito pense que você perdeu o juízo.— Silêncio agora! — Clare pediu. — Preciso me concentrar. Com o lápis em punho, escreveu:"A quem possa interessar,Parabéns. Desejo cumprimentá-lo pelo bom gosto que demonstrou com, esta compra. Temos algo em comum obviamente. Se você aprecia música clássica, bons livros, passeios na praia, piqueniques no campo e noites tranqüilas diante de uma lareira, talvez possamos nos encontrar e tomar uma xícara de café. Caso queira me conhecer, venha à seção de roupas masculinas da Loja Mônaco, das nove

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEàs cinco horas, de segunda a sexta, e pergunte por Clare."— O que acham? — Clare perguntou, subitamente insegura.— Não sei — Henry confessou — Mas admito que a idéia começa a me agradar.Clare suspirou. — Esqueçam. O melhor que temos a fazer é voltar ao trabalho. Não quero ser despedida. Está chegando alguém. — Clare se apressou a atender o novo cliente e deixou o bloco de anotações sobre o balcão.Enquanto isso, Lucy e Henry estavam se entreolhando.— A idéia é boa demais para ser descartada — disse Lucy.— Também acho — Henry concordou.— O texto precisa apenas de algumas modificações — Lucy continuou.Um minuto depois, o terno era o mesmo, de lã grafite, mas o bilhete não dizia nada sobre as verdadeiras preferências de Clare. De acordo com Lucy e Henry, bastava de seriedade na vida da colega!

CAPITULO I

Mike Jacoby cruzou os braços sobre o peito e encostou-se contra o capo do carro. Estava impaciente com a demora da irmã que discutia a venda de um imóvel pelo celular.— Não demoro mais de um minuto. — Priscilla havia prometido a mesma coisa quinze minutos antes. E enquanto falava, não parava de olhar ao redor e franzir o cenho. Em determinado momento, tapou o bocal e virou-se para ele.— Não acha que este local está precisando de uma faxina?— Ora, Priscilla, isto é uma oficina, se ainda não percebeu! — Mike indicou o relógio. Não tinha o dia inteiro disponível. Como proprietário da maior oficina de reparos de carros importados de Seattle, trabalho não lhe faltava.Alguns instantes depois, talvez porque o cliente havia lhe pedido para esperar na linha, Priscilla contou que estava planejando darem uma festa surpresa no clube de campo em homenagem ao sexagésimo aniversário de sua mãe.— Falta menos de um mês e quero que seja algo muito especial. — Priscilla olhou para o irmão da cabeça aos pés com seu macacão sujo de graxa. — O traje será formal. Portanto, trate de providenciar um, caso não tenha.— Está me mandando comprar um terno? — Mike esfregou o queixo. Detestava as festas pomposas de sua irmã. Em geral, inventava uma desculpa para não comparecer. Mas como iriam comemorar o aniversário de sua mãe, não teria como fugir.

Sam, Roger e Bart, os três melhores mecânicos da cidade além de amigos, pararam de ajustar o motor de um BMW para rirem de sua situação. Adoravam se divertir à custa das desgraças dele. E ninguém tinha a capacidade de deixá-lo mais irritado do que a irmã mais velha.— Sim, Mike — respondeu Priscilla em tom que não permitia argumentação. — Um terno. Um

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEterno elegante. Não quero que entre no clube usando jeans.Mike suspirou. Por que sua irmã não se contentava com um churrasco para variar? Serviriam cerveja, umas boas costelas e convidariam apenas os amigos íntimos. O tempo estava ótimo em Seattle naquela primavera. Não precisariam nem sequer gastar com o aluguel de um salão. Poderiam dar o churrasco em seu quintal. Tinha certeza de que a mãe se sentiria igualmente feliz. E ele não teria de passar a noite estrangulado pelo colarinho de uma camisa social e pelo nó de uma gravata de seda.— Combinado. Estarei esperando sua ligação a qualquer hora. Até logo.Priscilla guardou o celular na bolsa e virou-se para Mike com total determinação.— Não tente me fazer mudar de idéia, querido. Não irá adiantar. Terá de comprar o terno e está acabado. E aconselho-o a procurar logo uma loja para o caso de a roupa precisar de algum ajuste.Mike afastou-se do carro sob o qual os mecânicos continuavam trabalhando e rindo e tentou uma última cartada.— Não acha que uma festa no clube de campo dará muito trabalho? Por que não fazemos algo mais simples? Como um jantar ao ar livre em minha casa, por exemplo? Seria divertido. Mamãe adoraria.A irmã beliscou-o na face.— Não adianta, maninho. As engrenagens já estão em movimento. — Priscilla abriu a porta de seu carro e jogou a bolsa no banco de trás. — Além disso, será bom para você. Quase não freqüenta a sociedade. Um pouco de cultura não lhe fará mal.A batalha estava perdida. Ele sabia disso. Quando a irmã decidia fazer algo, nada no mundo era capaz de impedi-la.— Está bem — concordou, relutante. — Mas esta será a última vez, entendeu? Detesto suas malditas festas. No ano que vem, comemoraremos o aniversário de mamãe com um churrasco e ponto final.Priscilla balançou a cabeça.— Você é um chato, Mike. Tem apenas trinta anos, mas comporta-se como se tivesse cem. Não é de admirar que não consiga prender nenhuma namorada. Deve entediá-las à morte.Mike resmungou.— Não sou um chato só porque me recusei a participar de passeatas políticas com Shawna ou seguir Joanne pelo interior enquanto ela se apresentava com sua banda. O que acontece é que ainda não encontrei ninguém que tenha os mesmos interesses que eu. Sou um homem pacato, do lar. Não tenho a menor inclinação para viver uma aventura após outra.— Tudo bem, querido. Nesse caso, trate de descobrir quais são esses interesses para que ao menos possa falar deles com a próxima garota que surgir.— Não adianta! — Mike protestou. — Você não me leva a sério. Por que não dá o fora daqui?Priscilla deu um beijo no irmão e ligou o carro.— Tchau, Mike.

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEAdoro você.

Mike entrou na loja de departamentos da rede Mônaco situada no centro de Seattle e procurou a seção de roupas masculinas. Sua cabeça estava prestes a explodir. O barulho era horrível. A música ambiente misturava-se a algazarra das crianças e às conversas das mulheres e dos casais. E a impressão que eles lhe davam era de estarem se divertindo. Como era possível? Aquela gente não tinha nada melhor para fazer?Não sabia por onde começar a procurar. Todas as gôndolas pareciam exibir os mesmos modelos de ternos. Talvez devesse pedir ajuda a um vendedor.Virou-se para todos os lados e encontrou um vendedor, mas ele já estava ocupado. Resolveu, então, tentar o local onde ficavam os provadores. Ali teve mais sorte. Uma jovem muito bonita estava atendendo um casal e parecia conhecer seu ofício. Resolveu esperá-la. Já que Priscilla o obrigara a se submeter à tortura de usar um temo, ao menos tentaria encontrar um pouco de prazer em sua compra.Clare não conseguia entender por que entregara seu terno preferido ao homem cujo reflexo ela estava examinando. As linhas impecáveis do paletó faziam dobras na barriga proeminente. O que aconteceria se e quando ele resolvesse provar a calça?— Você está ótimo, Hary — disse a esposa. — Não concorda, Clare?Mike assistia à cena, fascinado. Nunca vira uma vendedora capaz de usar de tanta diplomacia. Era óbvio que o homem estava horrível, mas ela, sem usar de falsos elogios, disse algo que não a comprometeu.— É um terno elegante — respondeu. — Na verdade, é meu favorito.Havia alguém olhando para ela, Clare pressentiu. Pelo espelho, teve a confirmação. Era um homem alto, muito bonito e estava sorrindo. Sem saber por que o fazia, retribuiu o sorriso.— Ouviu isso, Hary?— Pois eu o detesto.Mike notou o esforço que a vendedora fazia para não perder a serenidade. Era realmente linda. Tinha pernas longas, deslumbrantes e os cabelos loiros estavam presos em um coque solto que deixava à mostra o pescoço alvo e delicado. Os lábios que pareciam ter sido feitos para beijar, no momento estavam apertados. O vestido azul-claro realçava a cor de seus olhos e as curvas do corpo perfeito.Agora ela estava pegando o paletó que o tal Hary lhe entregava e pendurando-o em um cabide ao lado de uma porção de outros ternos que aguardavam para serem devolvidos às gôndolas.— Olá — cumprimentou-o uma voz as suas costas. — Já foi atendido?Mike virou-se e deparou com uma jovem morena e sorridente. Leu o nome que estava escrito em seu cartão de identificação.— Não, Lucy. Estava aguardando minha vez. Preciso de orientação.— Espero poder ajudá-lo. O que procura? Enquanto conversavam, Lucy pegou a pilha de ternos

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEque não haviam servido para o cliente de Clare e devolveu-os a seus devidos lugares.— Para ser franco, não sei — Mike respondeu sem tirar os olhos de Clare. — Minha irmã resolveu oferecer uma festa surpresa a nossa mãe no clube de campo Bay View e insiste que eu use um terno.— Que número usa? Quarenta e dois?— Eu... — A atenção de Mike dirigiu-se novamente a Clare. A jovem parecia exausta ao sair do provador. Hary deveria ser um osso duro de roer.— Não tem importância — disse Lucy e segurou-o pelo braço enquanto indicava a grande quantidade de ternos que ele poderia provar. — Nós descobriremos.Lucy pôs-se a separar alguns modelos. Os olhos de Mike, entretanto, continuavam fixos em Clare. De repente, a história da compra do terno estava adquirindo uma nova conotação.— Comecemos com estes — Lucy sugeriu e levou-o para o provador. Antes de entrar, Mike pegou o terno que o tal Hary havia recusado. A loira havia dito que era seu favorito.Ao se dar conta do gesto, Lucy deu um pequeno sorriso.— Deseja experimentar esse também?— Sim. Por que não? — Mike perguntou, surpreso. Afinal, por que a vendedora estava olhando para ele e sorrindo daquele modo estranho?Após experimentar meia dúzia de ternos, Mike finalmente provou o de lã grafite, que para a satisfação de Lucy, precisaria apenas de uns pequenos ajustes.— O caimento está bom, não acha? — Lucy indagou. — Sua irmã aplaudirá a escolha, tenho certeza. A cor combina exatamente com seus cabelos e com seus olhos escuros. Será o homem mais elegante da festa. Bastará mudarmos os botões.Mike não disse nada, mas estava decidido a comprar aquele terno. A vendedora podia ser exagerada em seus elogios, mas, na medida do possível, ele estava se sentindo bem naquele terno.Subitamente, o primeiro vendedor se despediu do cliente e encaminhou-se para ele e para Lucy. Encarava-o de um jeito esquisito. Em seguida sorriu e piscou para Lucy. O que haveria de errado com ele? Seus dentes estariam sujos, talvez?— A calça também ficou ótima. Será preciso fazer apenas a barra e um pequeno ajuste nos quadris.— Está bem. Ficarei com o terno.— Nesse caso, queira aguardar um instante — disse Lucy. — Vou chamar Clare, a garota encarregada de marcar as alterações.— Você o quê? — Clare protestou. — Eu não entendo nada de costura! Esse serviço é de Henry!— Ele não pode atender meu cliente agora, Clare. Está ocupado. E há outro freguês a minha espera. — Lucy apontou para uma das gôndolas de roupas esportivas. — Por

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEfavor, Clare. O homem está com pressa.Clare contou até vinte. Em dias como aquele, daria tudo para ser uma simples dona de casa.— Estou trabalhando aqui há apenas um mês. Ainda não aprendi a marcar barras e ajustar cinturas — Clare justificou-se.— Eu sei e não estaria lhe pedindo esse favor se não fosse realmente necessário. Não se preocupe. Dará tudo certo. — Lucy colocou um bloco de solicitações de consertos, um giz de costura e uma caneta nas mãos de Clare. — O cliente está aguardando no provador número três.Lucy fez menção de se afastar e Clare segurou-a pela manga.— O que acontecerá se eu marcar errado?— Fique tranqüila. Apenas preste atenção para não ler o lado errado da fita métrica. Boa sorte.Sozinha, Clare examinou a fita. Qual seria o lado certo? O branco ou o verde? Ambos pareciam idênticos. Suspirou e dirigiu-se à seção de provadores.Diante da porta, deteve-se como se tivesse sido atingida por um raio. Na cabine número três, usando o terno de lã grafite, estava o homem que lhe dera o sorriso mais sexy que já vira.E como estava lindo! Correspondia plenamente à imagem que fantasiara sobre o homem de seus sonhos. Bonito, alto, dono de ombros largos e quadris estreitos.— Olá — cumprimentou-o.— Você deve ser Clare, não? Eu me chamo Mike. Como vai?Ele estendeu a mão e ela não soube o que fazer. Como segurava o talão de consertos em uma das mãos e a caneta e o giz na outra, ofereceu o pulso.No mesmo instante, sentiu as faces arderem.— Bem, e você, Mike?— Bem, obrigado. Sua colega disse que seria preciso fazer a barra da calça, apertar a cintura e ajustar os botões do paletó.— Oh, sim.— Devo ficar com o terno ou tirá-lo?Clare entrou em pânico. Nunca vira Henry tirar as medidas dos clientes sem as roupas.— Fique com o terno, por favor. — Ela leu rapidamente os dizeres do talonário. Passou, então, a fita ao redor da cintura e depois sob as axilas.Seus olhos se encontraram em determinado momento e ela sentiu as mãos tremerem. Nunca havia lhe acontecido algo assim antes. Não ficara tão nervosa nem sequer em seu primeiro dia de trabalho.Anotadas as medidas, Clare riscou com um giz especial o local onde deveriam ser colocados os botões. Por fim, ajoelhou-se para marcar a barra da calça.Mike estranhou a atitude hesitante de Clare ao se ajoelhar. Parecia a primeira vez que fazia aquele tipo de serviço, o que não combinava com a informação de Lucy.Sua suspeita tornou-se quase uma certeza quando Clare se levantou com expressão de

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEintenso alívio.— Já terminou? — Mike perguntou, desapontado. Não imaginara que comprar um terno fosse algo tão interessante. Talvez devesse escolher mais um. Só para ter a oportunidade de ficar mais um pouco com Clare.— Sim. Pode se trocar. Enquanto isso, terminarei de preencher o pedido.Mike não conseguiu afastar os olhos da figura de Clare enquanto ela se afastava em direção à porta. Uma vontade incrível de conhecê-la melhor o dominou.— Clare?— Sim? — Ela virou-se, sorridente.Mike não conseguia pensar com clareza quando Clare lhe sorria daquele jeito.— Eu gostaria que minha irmã tivesse uma surpresa quando me visse.Clare fitou-o de modo inquisitivo. Mike explicou:— Ela está planejando uma festa para nossa mãe. Disse que eu teria de comprar um terno.Por alguma razão desconhecida, de repente pareceu importante a Mike que Clare também ficasse satisfeita com sua aparência. Se não fosse muito atrevimento de sua parte, a convidaria para acompanhá-lo à festa de sua mãe. Seria capaz de qualquer coisa para tornar a vê-la.— Antes de mandar o terno para as alterações, posso mostrá-lo a minha irmã? Assim, caso ela encontre algum outro detalhe que necessite de ajuste, será mais fácil providenciá-lo.— Não será preciso — Clare respondeu, categórica. — Eu marcarei todas as medidas na solicitação de conserto e a colocarei no bolso do paletó. Depois que mostrar o terno a sua irmã, bastará trazê-lo à loja que o alfaiate saberá o que fazer.— Está bem — Mike concordou.Enquanto Clare preenchia a solicitação, ele examinou suas mãos. Ela não usava aliança. Fantástico! Ainda não havia saído da loja, mas não via a hora de voltar. Em todo caso, seria melhor se certificar de que a encontraria.— Trabalha aqui o dia inteiro? — Mike engoliu em seco. — Prefiro deixar o terno a seus cuidados.— Não, mas anotarei meu horário e também meu nome na solicitação. Será um prazer atendê-lo quando retornar.— Ótimo — Mike respondeu e foi embora.Jamais imaginara que a compra de um abominável terno pudesse fazê-lo tão feliz. Precisava mudar seu guarda-roupa. Após mais uma ou duas compras, talvez reunisse coragem para convidar Clare para sair com ele.

CAPITULO II

O lançamento está marcado para sexta-feira — Priscilla afirmou ao celular ao mesmo tempo que examinava o terno novo do irmão. — O paletó está um pouco folgado,

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMike.— Eu sei — Mike respondeu. — Os botões serão mudados. Não quis que os ajustes fossem feitos antes que você visse o terno. Se você o aprovar, eu o levarei de volta à loja ainda hoje.Priscilla fez um movimento afirmativo com a cabeça e continuou tratando de seus negócios.— Oh, não. Segunda-feira será tarde demais. Tem de ser na sexta-feira. Não importa como. — Priscilla desligou o celular, guardou-o na bolsa e virou-se novamente para o irmão. — Você está bem.— Bem? — Mike franziu o cenho. — Perdi um dia de trabalho, gastei o salário de uma semana e você diz apenas que eu estou bem?— Eu acho que você está lindo! — caçoou um dos mecânicos e os outros o apoiaram com assobios.Priscilla endereçou-lhes um olhar de censura, mas riu em seguida.— O que quer que eu diga, Mike?— Que estou elegante ou que serei o homem mais charmoso da festa.Risos acompanharam a sugestão. Priscilla ignorou-os.— Preciso ir agora, Mike. Gostei do terno. De verdade. Você está ótimo com ele. — Priscilla tirou um estojo de pó-compacto da bolsa e retocou a maquilagem. — Outro dia você me disse que daria uma olhada em meu carro. Pensei em deixá-lo hoje. Desde, é claro, que me empreste o seu.Mike endireitou, a gravata e apontou para sua picape.— Pode ficar com ela. Seu Mercedes estará pronto às cinco horas.— Eu? Dirigir uma pick-up? Você deve estar brincando! Mike sorriu com malícia. Priscilla queria ficar com seu carro esporte novo, obviamente, mas podia desistir da idéia.— Escolha: a pick-up ou a moto.— Tudo bem. Passe-me as chaves.Priscilla ligou o motor e saiu sem se despedir.— Não sei como duas pessoas tão diferentes podem ser parentes — disse Sam. — Se me permite uma observação, sua irmã está precisando de alguém que lhe ensine algumas lições.— Está se candidatando? — Bart provocou.— Por que não? — Sam fez um movimento com os ombros. Mike balançou a cabeça.— Até que Priscilla tinha uma certa razão. Eu estava realmente precisando de um terno. Há ocasiões em que seu uso é imprescindível.Mike fez uma pausa e sorriu.— Vocês não imaginam a sorte que tive. A garota que marcou as alterações a serem feitas é a mais linda que já vi. Querem ver a letra dela? A solicitação de conserto que preencheu deve estar em um dos bolsos internos. — Mike abriu o paletó e examinou os bolsos. Mas em vez de um pedaço de papel, encontrou dois. Desdobrou-os e leu. Sua expressão tornou-se perplexa.— O que foi? — Bart quis saber. — Você ficou estranho.— Não sei — Mike

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEconfessou. — Ouçam isto."A quem possa interessar.Olá. Adoro esse terno! Se você é solteiro, gosta de pina colada, de passear sob a chuva, se é exótico em matéria de ritmos musicais, se freqüenta as feiras medievais anuais e lê poesia moderna, talvez possamos nos entender. Gosto de homens decididos que não aceitam um não como resposta e que não esperam que as mulheres escolham o local dos encontros. Se está a fim de me conhecer melhor, volte à seção de roupas masculinas, de segunda a sexta, no horário das nove às cinco e procure por mim.Clare."Mike calou-se, estupefato. Os três amigos entreolharam-se.— Não posso acreditar! — Mike exclamou por fim. Clare estava tentando lhe dizer, sem dúvida, que estava disponível. A notícia não poderia ser mais bem-vinda. Mas música exótica? Poesia moderna? Feiras medievais? Céus!

Mike sempre se considerara um homem simples. Detestava sofisticação. Por esse motivo, seu relacionamento com Shawna e também com Joanne não dera certo. E com outras ainda. Afinal, por que as mulheres gostavam dessas boba-gens? Seria possível que não existisse nenhuma mulher no mundo que apreciasse a tranqüilidade de um lar?Clare era igual às outras. Mas a verdade era que nenhuma lhe despertara uma atração tão forte antes. Por mais difícil que fosse para ele, estava disposto a tentar agradá-la. Desde o instante que seus olhos pousaram sobre sua figura, não conseguia tirá-la da cabeça.Quando voltou a si, percebeu que os amigos estavam rindo outra vez.— Parem com isso!— Então conte como ela é — exigiu um dos mecânicos.— Alta, loira e tem pernas longas e bom torneadas. É linda e sexy.— Quer saber minha opinião? — perguntou Bart e respondeu antes que Mike tivesse chance de fazê-lo. — Convide-a para sair.— O mais depressa que puder — Sam concordou. — Desde que você e Shawna se separaram, não houve mais nenhum flerte. Está precisando se divertir, meu caro.— Oh, sim — Mike zombou. — Vocês sabem o quanto adoro música exótica e poesia moderna. Para não falar em feiras medievais!— Talvez ela não seja a mulher com quem você deva se casar, mas pode ser a mulher que o distrairá por algum tempo. O marido de minha irmã, por exemplo, toca gaita de fole. Dá para considerar isso como música exótica, não? Se quiser, posso conseguir dois ingressos para o próximo concerto — Sam declarou.Mike pestanejou. Preferia sentar-se na sala e assistir a um bom programa de televisão. Mas se era para estar com Clare, valeria o sacrifício. Talvez Priscilla também estivesse certa. Estava lhe faltando um pouco de cultura.A decisão estava tomada.— Está bem.

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANELigue para seu cunhado.Dois minutos depois, Sam desligou o telefone.— Consegui. O grupo Filhos do Império Escocês estará se apresentando na sexta-feira à noite. Meu cunhado prometeu conseguir dois ingressos para você.Era quarta-feira. Talvez Clare ainda não tivesse marcado nada para a noite de sexta. Quando voltasse à loja, aquela tarde, lhe faria o convite. Ou não. Clare gostava de homens que não aceitavam um não como resposta. Ele lhe diria simplesmente aonde iriam.— Mamãe, é proibido entrar com animais na loja — Clore protestou.— O que eu deveria fazer? — Eva Allen retrucou. — Deixar meu pobre cachorrinho trancado no carro?Desde que Clare decidira alugar um apartamento e morar sozinha, a mãe, sentindo-se sozinha na casa, comprara um poodle.Clare olhou ao redor para se certificar de que o gerente não estava por perto.— O que está fazendo aqui? Não está precisando de nenhum terno, que eu saiba.A mãe estava divorciada pela terceira vez e Clare ainda não havia sido informada sobre um quarto provável marido.— Oh, não. Apenas estava a caminho do massagista e resolvi parar para ver como você está reagindo. — O rosto da mãe demonstrou uma súbita preocupação. — Não a vejo desde que terminou com Beau.Clare ajoelhou-se atrás do balcão e fingiu que estava colocando em ordem uma pilha de embalagens plásticas. Gostaria que a mãe parasse de lembrá-la a respeito de Beau. Não lamentava o fim do relacionamento. Beau e ela não tinham nada em comum. Por sorte haviam descoberto isso antes de cometerem o erro terrível de se casarem.Na tentativa de mudar de assunto, Clare se levantou e perguntou à mãe por que ela estava indo a um massagista.— Oh, não há nada de errado comigo. Meu Tobby caiu e eu acho que machucou as costas. Clare, querida, não quero me intrometer em sua vida, mas Beau...— Então não se intrometa, mamãe — Clare interrompeu-a. Seu relacionamento com Beau tão teria se estendido tanto não fosse seu medo de desapontar sua mãe. Beau era o tipo dela. Seu último marido, inclusive, também era um policial.A mãe fingiu se ocupar com os lacinhos colocados ao redor das orelhas de Tobby, magoada com a agressividade da resposta.— Desculpe mamãe — Clare murmurou. Ninguém a fazia sentir-se culpada com maior rapidez. Apenas não quero que se preocupe comigo. Sei cuidar de mim mesma. Não preciso ter um homem a meu lado para ser feliz.A mãe se dirigiu ao cachorro.— Bem, se Clare prefere tornar-se uma solteirona, não há nada que possamos fazer, meu querido.Quando sua mãe começava a falar com Tobby daquele jeito, não adiantava tentar prolongar a conversa, Clare pensou, irritada. Por sorte, Henry estava se

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEaproximando para salvá-la.— Clare, há um cliente perguntando por você. — Ele deu um amplo sorriso para Eva. — Posso saber quem é esta jovem senhora segurando este lindo cachorrinho?Eva desfez-se em sorrisos e apresentou Tobby. Henry beijou-lhe galantemente a mão.— Quem é ele? — Eva quis saber, seguindo Henry com os olhos à medida que ele se afastava. — Que encanto!Clare balançou a cabeça.— Não coloque nenhuma idéia na cabeça, mamãe. Henry é apenas um amigo. E agora, preciso que me dêem licença, você e Tobby. Há um cliente a minha espera.— Está bem, querida. Já estamos de saída — Eva despediu-se, resignada. — Telefone-me.Após beijar a mãe em despedida, Clare foi ao encontro do cliente.Era ele. Mike Jacoby. Clare sentiu o coração disparar no peito. Ele estava lindo. Se possível, ainda mais lindo do que no dia anterior. Vestia uma calça jeans desbotada e um suéter com as palavras Oficina de Reparos Seattle. Era tão elegante em roupas casuais quanto em um traje formal.Trazia o terno protegido por um plástico, jogado sobre o ombro. Esperava-a com um sorriso nos lábios.A sensação que teve ao vê-lo foi ainda mais inquietante do que no dia anterior. Aquele homem parecia ter entrado em seu sangue. Não parava de pensar nele desde o instante em que o conhecera.Havia algo de primitivo em Mike Jacoby. Ele parecia exalar autoconfiança e virilidade. Era ainda mais bonito e másculo do que Beau.— Oi ;— cumprimentou-o. — O que sua irmã disse?— Gostou.Clare engoliu em seco. Nenhum homem jamais a afetara assim. Mal conseguia falar.— Então... acho que podemos seguir em frente com as alterações.— Oh, sim — Mike concordou. — Se for possível, as alterações podem ser feitas imediatamente.Clare fez um sinal para que Mike a seguisse até os provadores. Pegou o terno e pendurou-o no armário de roupas que necessitavam de consertos. Mas ao procurar o papel com as alterações, no bolso onde o deixara, não o encontrou.— Trouxe a solicitação de conserto?Os olhos castanhos adquiriram um brilho insinuante.— Não. Deixei-o em casa.Clare sentiu que corava. Henry precisaria das anotações para providenciar o conserto. Mas, talvez, as marcas que ela fizera com o giz fossem suficientes. Henry podia ser brincalhão, mas era um bom profissional.Olhou para Mike e seu modo de fitá-la deixou-a ainda mais perturbada. O que estava acontecendo? Não estava se deixando envolver demais por causa de simples sor- risos? Se

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEcontinuasse se portando daquele jeito, corando como uma adolescente, ele a julgaria uma tola.— A propósito — Mike disse de repente, e passou uma das mãos pelos cabelos — acho que devo informá-la que não sou casado.Clare pestanejou. A notícia era excelente, embora não desse para entender o porquê de ele se sentir no dever de informá-la. Para ser gentil, achou que deveria retribuir a delicadeza.— Também sou solteira.— Foi o que imaginei — Mike respondeu e cruzou os braços. — Ganhei dois ingressos para um concerto. Pensei que poderíamos ir juntos, se você não tiver nada para fazer na sexta-feira à noite.

Feita a proposta, Mike esperou. Não estava acostumado a se comportar assim. Normalmente teria apresentado opções de entretenimento antes de tentar marcar um encontro. Mas Clare gostava de homens decididos.— Poderíamos nos encontrar aqui, na Mônaco, e irmos a pé. — Se chovesse, seria ainda melhor. O bilhete dizia que Clare gostava de caminhar sob a chuva.— Eu... — Tomada de surpresa, Clare não sabia o que responder. Por mais que quisesse aceitar o convite, Mike era, afinal de contas, um estranho.— Depois, eu lhe comprarei uma pina colada — ele decidiu jogar a cartada decisiva.Mike parecia um menino, olhando para ela com tanta esperança, Clare pensou. Embora o bom senso lhe dissesse para recusar o convite, a visita de sua mãe e a afirmação que fizera sobre ela estar prestes a se tornar uma solteirona ajudou-a a decidir.Talvez sua mãe estivesse certa. Não era mais uma menina. Apesar de vinte e oito anos não ser uma idade avançada, o relógio biológico estava avançando rapidamente. E o que ela gostaria, acima de tudo, seria de se casar e ter filhos.Mas para que isso pudesse acontecer, teria de se encontrar com um homem de vez em quando.Olhou para Mike e sentiu-se repentinamente tímida. O que era ridículo. Afinal, era uma mulher adulta e sabia o que queria. Detestava pina colada, mas se ele fazia questão de lhe oferecer uma, estava disposta ao sacrifício.Mike notou que ela estava insegura com seu convite. Sabia que queria sair com ele. Ela mesma lhe escrevera dando sugestões. Por quê, então, hesitava? Teria algum outro compromisso para a sexta-feira?Corno se lesse o pensamento de Mike, Clare disse:— Não, estarei livre na sexta-feira à noite, e adorarei sair com você.A vontade de Mike era de gritar de alegria.— A que horas?— Trabalho todos os dias até às seis e trinta.— O concerto começa às oito. Que acha de eu vir buscá-la entre seis e trinta e sete?— Está bem — Clare concordou. Isso lhe daria alguns minutos para trocar de roupa e retocar a

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEmaquilagem. Cogitou perguntar a que tipo de concerto ele a levaria, mas preferiu calar-se. Como Mike já tinha os ingressos, poderia parecer uma indelicadeza. Não era uma grande amante da música moderna e barulhenta. Mas adorava música clássica e orquestras. Seria maravilhoso se Mike a levasse a uma apresentação da orquestra sinfônica da cidade.— O que deverei usar? — Clare perguntou.Mike não sabia o que responder. Sam não o informara sobre esse detalhe. Aproveitou para olhar para Clare da cabeça aos pés.— Acho que uma roupa como essa seria perfeita — ele indicou o conjunto de saia e blazer que ela vestia.Clare pensou em fazer mais uma pergunta de forma a ter Mike mais alguns minutos a seu lado. Mas sua mente parecia se recusar a funcionar.Sorriu. Ele correspondeu.Mike queria dizer algo inteligente que pudesse prolongar sua pequena visita, mas não conseguiu pensar em nada interessante.— Então... — Clare disse.— Até sexta-feira — Mike despediu-se. — Iremos a pé — repetiu.Clare fez um sinal afirmativo com a cabeça. Esperava sinceramente que o tempo não mudasse. Seria horrível se tivessem de caminhar sob a chuva.— A pintura acabará saindo, Mike — Sam observou ao ver o patrão polindo seu carro esporte.— Eu estava distraído — Mike confessou. Estava pensando em Clare, é claro. — Não sei porque estou me dando a tanto trabalho. Ela não o verá. Iremos a pé ao concerto. O bilhete diz que ela gosta de caminhar. Em especial sob a chuva. Espero que chova, portanto.— Espero que ela goste muito de ambas as coisas — Sam murmurou e cofiou a barba. — O teatro não fica nada perto da Mônaco e o céu está nublado. Se quiserem chegar a tempo para o concerto, terão de andar depressa.Mike aplicou mais cera sobre o capô do carro.— Será bom. Enquanto caminhamos, aproveitaremos para conversar e nos conhecer melhor.Sam pegou uma flanela e começou a ajudar Mike com o polimento.— Ela disse que gostava de gaitas de fole? Mike demorou um instante para responder.— Eu não perguntei. Não sei se gosta ou não. Como o bilhete menciona música exótica, acho que sim.Sam concordou com um gesto de cabeça.— Provavelmente. Meu irmão me contou que também haverá uma apresentação de uma banda australiana que toca um instrumento chamado didgeridoo.— Nunca ouvi falar.— Nem eu. Mas meu irmão garantiu que vocês irão adorar.Mike sorriu, feliz. Mal podia esperar. Se Clare estivesse tão entusiasmada quanto ele com o encontro, a noite seria um sucesso.Vestiria seu melhor

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEcasaco para impressioná-la. Lembrara-se, inclusive, de tirá-lo do armário e pendurá-lo no banheiro para expulsar o cheiro de naftalina. Mas os preparativos não terminavam aí. Cortara os cabelos, passara sua calça preferida e engraxara as botas.Sam deteve-se no meio do polimento e olhou para Mike.— Deixe-me pegar os ingressos, antes que eu esqueça. Mike guardou os ingressos no bolso e piscou para o amigo.— Obrigado. Fico lhe devendo esse favor.— De nada, colega. Espero que se divirta.

— Alô, mamãe — Clare cumprimentou ao telefone, em seu intervalo para o almoço. Estava sozinha na sala dos empregados da loja.— Clare? Onde você está?— No trabalho. Estou ligando para saber se está tudo bem com você e com Tobby. Ele melhorou?— Oh, você se lembrou do meu docinho! — Eva exclamou. — O pobre está com uma hérnia de disco.— Espero que o problema possa ser amenizado.— O massagista disse que sim. Ele afirmou que em poucos dias, Tobby se sentirá melhor. Não se preocupe, querida.— Mamãe, eu liguei também para contar que terei um encontro esta noite. Iremos a um concerto.— Irá a um concerto com Beau? — a mãe indagou, entusiasmada.Clare suspirou.— Não, mamãe, esqueceu-se de que Beau e eu terminamos?— Claro que não. Apenas pensei... Quem é ele? O adorável francês?Henry? Adorável?— Não, mamãe, não se trata de meu colega. O nome dele é Mike Jacoby. Eu o conheci na loja.— Há quanto tempo?— Acabamos de nos conhecer.— Teve coragem de marcar um encontro com alguém que acabou de conhecer? — Eva perguntou, surpresa. — Não é do seu feitio. Ele deve ser especial. O que faz?Clare hesitou. Engraçado, o pensamento nunca lhe ocorrera.— Não sei.— Onde ele mora?— Não sei.— Ao menos sabe onde será o concerto?— Eu...— Ora, Clare!— Você tem razão — Clare concordou e torceu nervosamente o fio do telefone. — Isso é uma loucura. O que deu em mim para aceitar um convite de um completo desconhecido? Vou inventar uma desculpa e dizer que não poderei ir.— Não se atreva!

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANE— Eva ordenou. — Eu disse que você não deveria ir? Só estava curiosa sobre ele. É maravilhoso saber que terá um encontro esta noite. Se gostou dele, tenho certeza de que é um bom rapaz. Vá e divirta-se. A que horas ele irá buscá-la?Enfim uma informação que ela poderia dar!— As seis e trinta, após o expediente. Iremos a pé ao concerto.— No escuro e no frio? — Eva indagou, perplexa.— Ele deve ser um esportista. Eva deu uma risada.— Já estou gostando dele.Aquilo não era um bom sinal, Clare pensou. Absolutamente.

CAPITULO III

Você não acha que os saltos são altos demais? — Clare perguntou a Lucy diante do espelho. Faltavam quinze minutos para as sete horas e Mike deveria chegar a qualquer instante.Clare respirou fundo e tentou se acalmar. Parecia estar andando de elevador de tanto que seu estômago subia e descia. Não deveria ter aceitado o convite de Mike para sair. E após ter aceito, deveria ter se lembrado de que iriam a pé para o concerto e escolhido sapatos mais confortáveis.Lucy olhou com admiração para a amiga.— Você está ótima. Suas pernas parecem ainda mais longas e bonitas quando usa sapatos de salto. Além disso, Mike é muito mais alto do que você.— O único problema é que estes sapatos me machucam. Da última vez que os usei, jurei nunca mais calçá-los.Mas não eram apenas os sapatos que a incomodavam aquela noite. Por distração, havia comprado uma meia-calça pequena demais para seu tamanho e o fundo chegava ao meio de suas coxas. Como faria para cruzar as pernas quando se sentassem? Provavelmente isso não seria possível. Teria de se sentar como uma estatua a noite inteira.— Talvez eu deva tirar esta roupa e tornar a vestir o uniforme.— Está proibida de fazer isso! — Lucy declarou. — Você está linda. Quer ou não causar uma boa impressão no homem?— Quero — Clare murmurou. Precisava dar um jeito de mudar. Se não levasse a vida sempre tão a sério, talvez ainda estivesse com Beau.Decidida a se esforçar para que seu caso com Mike fosse diferente, olhou-se mais uma vez ao espelho e aplicou algumas pinceladas de batom. Nunca se importara muito em imitar as modelos de revistas. Sua maquilagem resumia-se em toques de pó e de batons claros. Aquela noite, contudo, usaria um batom ameixa para combinar com a cor da roupa.Sua idéia de diversão tampouco fora igual às das garotas de sua idade, nos tempos do colégio. Quando ia à praia, por exemplo, não desfilava de biquíni em suas

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEcaminhadas. Preferia sentar-se à sombra do guarda-sol e ler um bom livro.Talvez sua mãe e seus amigos estivessem certos e ela precisasse mudar, tentar algo novo, dar oportunidade para que coisas novas acontecessem em sua vida.— Estou pronta! — Clare virou-se para Lucy e estava se preparando para apanhar a bolsa quando sua mãe surgiu à porta.— Ainda não! — Eva exclamou com Tobby sob o braço. — Oi — ela cumprimentou Lucy. — Sou a mãe de Clare, Eva. E este é Tobby.— Muito prazer.— Mamãe! O que está fazendo aqui?Seria seu primeiro encontro. Não estava preparada para apresentar Mike a sua mãe e muito menos a seu cachorro!— Não se assuste — a mãe disse, calma. — Apenas vim lhe trazer um presente.Boquiaberta, Clare esperou que a mãe abrisse a bolsa e pegasse um pequeno pacote.— Não dava para deixar para amanhã, mamãe?— Não — Eva retrucou. — Abra.Clare apressou-se a abrir o pacote. Não gostava de fazer as pessoas esperarem e Mike certamente já estava aguardando-a na porta principal da loja.— Um sutiã? — Clare indagou, ainda mais boquiaberta.— Não se trata de um sutiã qualquer — Eva explicou. Lucy concordou após um detalhado exame.— Oh, não! Este é fora de série!— Esqueçam — Clare afirmou e devolveu a peça à mãe. — Já bastam os sapatos e as meias. Não quero me sentir ainda mais desconfortável.A expressão de Eva foi de total desapontamento.— Mas...— Não, mamãe.Eva olhou para Lucy e balançou a cabeça.— Como pude ter uma filha tão diferente de mim? Vivo dizendo para aproveitar as coisas boas da vida, mas ela nunca me ouve.— Sei a que se refere — Lucy apoiou. — Faço o mesmo que a senhora sem alcançar nenhum resultado positivo.— Oh, está bem! Dê-me isso! — Clare pegou o sutiã de volta.— Clare? — A voz de Mike soou da porta. — Você está pronta?— Só um minuto, por favor — Clare respondeu e desabotoou rapidamente a blusa ao mesmo tempo que sussurrava. — Fiquem quietas, vocês duas. Não quero assustar Mike em nosso primeiro encontro.— Clare? — Mike tornou a chamar.Quase em pânico, Clare fez um sinal sobre os lábios para que a mãe e a amiga continuassem era silêncio. O fecho do sutiã parecia estar preso à fita com que o pacote fora amarrado.Tobby rosnou.— Você está bem? — Mike perguntou.— Sim. Um pouco resfriada apenas.Aquela

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANErouquidão parecia séria para Mike. Se Clare tornasse a tossir daquele jeito, ele a levaria a um pronto-socorro.— Tem certeza?— Sim. Não se preocupe.Estava chovendo. Se Clare se molhasse, o resfriado poderia piorar.— Ficarei esperando perto do caixa — avisou. Assim que se sentou em um banco, Mike tirou os ingressos do bolso. Sam garantira que seria viável irem a pé até o local do concerto. Mas, de acordo com o endereço, o teatro ficava próximo às docas. Seriam no mínimo vinte quarteirões.Sem problemas para ele. Para satisfazer Clare, seria capaz de qualquer sacrifício. Não repetiria os erros que cometera com Shawna e com Joanne. Com Clare seria diferente. Ela era especial. Mal podia esperar para ver sua reação quando soubesse que o concerto seria de música exótica.Passaram-se vários minutos. A impaciência invadiu-o. Por que Clare estava demorando? Se não se apressassem, não conseguiriam um bom lugar no teatro.A preocupação evaporou quando Clare finalmente veio a seu encontro. Ele se levantou com o coração aos saltos. Clare estava deslumbrante. Suas pernas pareciam ainda mais longas e perfeitas do que no dia que a conhecera. A saia curta deixava-as quase que totalmente à mostra. O decote denunciava o início dos seios magníficos. Os cabelos estavam soltos e esvoaçantes. Se seus amigos a vissem, ficariam malucos por ela. Não que tivesse intenção de apresentá-la a eles. Ele próprio estava com dificuldade para recuperar o fôlego.— Olá. — Mike consultou seu relógio de pulso. — Acho que ainda dará tempo para eu lhe comprar sua pina colada. — A expressão de Clare pareceu-lhe estranha. — Ou, talvez, prefira deixar o drinque para depois do concerto?Clare não respondeu de imediato. Não conseguia entender o motivo pelo qual Mike fazia tanta questão de lhe comprar uma pina colada. Seria mexicano ou o quê? Tentou sorrir. Ele era lindo demais. Talvez fosse melhor fazer um esforço e procurar gostar do que ele gostava. Não havia decidido, afinal de contas, ser mais flexível a partir daquela noite?— Seria ótimo — respondeu e ajeitou os cabelos depois que Mike ajudou-a a vestir o casaco. — Após o concerto.Mike sorriu e segurou-a pelo braço enquanto se dirigiam à saída da loja.— Como você gosta de fazer caminhadas, deixarei meu carro no estacionamento. O concerto será realizado perto de Elliot Bay. Acho que haverá tempo suficiente para chegarmos antes do início da apresentação.Clare mordeu um lábio. De onde Mike tirara a idéia de que ela gostava de caminhar? Seria pelo fato de ela trabalhar praticamente o dia inteiro de pé?— Tudo bem — respondeu com o pensamento voltado para os sapatos de saltos altos. Deus! Ainda não haviam alcançado a rua e seus pés já estavam matando-a. De que jeito conseguiria chegar às docas? Seriam vinte quarteirões de distância. Talvez mais. Além disso, dava para ver pelas portas de vidro que estava ameaçando chover.Assim que saíram,

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMike notou, exultante, que os primeiros pingos não demorariam a cair. Esperava que Clare se alegrasse. Apenas não entendia como as mulheres eram capazes de percorrer quilômetros com saltos tão altos sem sentirem dores. Ele tinha certeza de que seus pés estariam cobertos de bolhas quando tirasse as botas.Por mais que se esforçasse por parecer natural, Clare não conseguia. As ruas estavam inundadas. Havia trechos que precisavam se apoiar um no outro para saltarem. Estavam se formando verdadeiros córregos nas calçadas.Era incrível que Mike tivesse ido buscá-la de carro e deixado o veículo no estacionamento da loja com um tempo daqueles. Qual seria a razão? Imaginara que ela se sentiria mais segura ao ar livre do que trancada em um carro quando ele ainda era apenas um estranho?— Caminhar sob a chuva é, sem duvida, refrescante — Mike disse.— E revigorante — ela concordou.Um ônibus surgiu do nada e deixou-os encharcados até os ossos. Clare tentou demonstrar bom humor com o acontecimento. Aquilo era uma aventura, não? E ela precisava aprender a fazer de sua vida uma sucessão de aventuras. Apesar de saber que seus cabelos deveriam ter ficado horríveis e seus olhos e faces manchados de rímel.Ela era realmente uma esportista, Mike pensou. A maioria das mulheres teria um ataque com o episódio do ônibus.A distância estava parecendo maior do que imaginara. Se não se apressassem, não conseguiriam bons lugares.Mike deveria ter sido escoteiro quando criança, Clare pensou, e tentou ignorar a tortura que acompanhava cada passo. Tinha certeza de que não chegaria viva ao teatro se Mike não resolvesse pegar um táxi ou carregá-la nas costas. Além da dor nos pés, deveria estar acontecendo algo de errado com sua saia. Ela nunca havia sido lavada. Com a chuva, o tecido encolhera e impedia sua movimentação. E a meia-calça estava escorregando cada vez mais.Olhou para Mike e pensou em pedir que ele parasse para que pudesse tirá-la.— Estamos quase chegando — ele disse.Clare sorriu e resolveu continuar calada. Estava prestes a chorar de alívio.Mike parou ao chegarem à First Avenue e olhou para Clare. Seus cabelos estavam colados ao redor do rosto. A roupa também estava molhada. Ela deveria estar com frio. Não queria que seu resfriado piorasse.— Como se sente? — perguntou.— Bem.Mike olhou para as gotas que brilhavam como pequenos cristais nos cabelos e nos cílios de Clare. Não era de admirar que ela gostasse de caminhar sob a chuva. Ficava ainda mais bonita. A vontade que ele tinha era de apertá-la em seus braços e beijá-la muitas vezes.Mas, apesar da beleza e da sensualidade da pequena sereia que o encantara, ele quase não estava mais sentindo as pontas dos dedos dos pés e das mãos. Da próxima vez que a convidasse para sair, portanto, seria em seu carro, por mais que ela

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEgostasse da caminhar.Por fim, alcançaram o Armory, o local onde aconteceria a apresentação.— Deve ser aqui — Mike disse junto ao ouvido de Clare para que ela pudesse escutar devido ao barulho do vento.Uma sensação de horror invadiu-o à medida que avançavam. A pintura verde do prédio estava descascando e as paredes estavam grafitadas de cima a baixo. Grande parte das janelas apresentavam os vidros quebrados. Em suma, o local parecia abandonado.Seria possível que Sam tivesse se enganado? A tensão era tanta que ele sentiu uma veia latejar em sua têmpora. Se o endereço estivesse errado, não daria nem mais um passo com Clare. Chamaria um táxi e pediria que os levasse a um bar. Com o humor que estava, qualquer bebida serviria. Até mesmo uma pina colada. Seus calcanhares doíam tanto que pareciam ter sido mordidos por chacais.— Não vamos entrar? — Clare perguntou, hesitante. Cansada e molhada como estava, não se importaria nem sequer se Mike a estivesse levando para uma prisão de periculosidade máxima. Tudo o que queria era se proteger da chuva e do frio.Mike sorriu, enternecido. Como Clare era diferente de Shawna. Se ele a tivesse convidado para assistir a um concerto em um prédio velho e lúgubre como aquele, ela já teria armado uma tremenda briga.Um pequeno cartaz no pórtico indicava a realização de um concerto de gaitas de fole e de didgeridoo aquela noite. O suspiro de alívio de Mike foi audível. Ao menos isso! Ele não havia se enganado de endereço.Para seu espanto, Clare teve suas piores suspeitas confirmadas. O endereço estava certo. Um cheiro de mofo penetrou em suas narinas quando Mike empurrou a porta. Seria possível que o encontro pelo qual esperara com ansiedade se resumiria naquilo? Mike deveria saber o que estava fazendo. Talvez já tivesse assistido a um concerto de gaitas de fole e considerasse algo especialmente romântico.O barulho dos saltos de seus sapatos e das botas de Mike contra o piso de madeira ecoava de maneira desagradável pelo ambiente. Mas, mais desagradável ainda pareceu a Clare o som das gaitas e dos didgeridoo, fosse isso o que fosse, enquanto os músicos afinavam os instrumentos.A vontade de Clare era pedir a Mike que a levasse para casa. Mike secretamente desejava estar longe dali. No entanto, bastou um olhar para o outro e sorrirem para mudarem de idéia.— Acho que será... interessante — Clare murmurou. — Sim, acho que sim — Mike concordou.Quando chegaram ao porão, onde o concerto seria realizado, Clare notou que Mike precisava abaixar a cabeça para não bater no teto. Ela que sempre se considerara alta, parecia pequena em comparação a ele.A sala estava ocupada por não mais de duas dúzias de pessoas e todas pareciam ter a idade de seus avós, Clare pensou. Colocada a um canto, havia uma pequena

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEmesa com uma garrafa térmica e um prato de bolinhos.Quando entraram, todos os olhares se voltaram para eles.Mike segurou-lhe a mão e conduziu-a à primeira fila. Depois que se acomodaram, ele lhe perguntou se gostaria de um café.— Sim, obrigada.Enquanto esperava, Clare tirou o casaco molhado e ajeitou a blusa. O sutiã estava incomodando, mas como não havia jeito de tirá-lo, limitou-se a tentar moldá-lo contra o corpo. E os pés? Estavam frios e pesados como tijolos.Olhou em direção à mesa e viu que Mike estava se servindo de café. Aproveitou e olhou-se ao espelho de seu pó compacto.Antes não o tivesse feito. Seu reflexo era desanimador.Não havia muito a fazer sem um chuveiro e um secador de cabelos. Mas, na tentativa de melhorar o aspecto, empoou o nariz, limpou o rímel escorrido e retocou o batom.Tornou a procurar Mike com os olhos. Ele estava ao lado de um senhor de kilt e ria, indulgente, de algo que o homem dissera. Nas mãos, equilibrava dois copinhos de café e um guardanapo aberto que ela supunha conter bolinhos.Ao pensamento, sentiu o estômago grunhir. Na expectativa de se preparar para o encontro, esquecera-se de almoçar.Mike ainda estava conversando com o velho escocês. Era espantosa sua capacidade de deixar uma pessoa à vontade mesmo em situações difíceis.Quando percebeu que Mike estava voltando à cadeira, Clare tentou puxar a saia sobre os joelhos.— Foi tudo que consegui pegar. Espero que esteja bom. — Mike entregou-lhe um copinho de café e dois bolinhos.— Obrigada. — Ela indicou o escocês e tentou entabular uma conversa. — O que ele estava lhe dizendo?— Billy Bob? Oh, ele apenas estava curioso em saber se somos fãs de didgeridoo.Mike tirou o casaco encharcado por sua vez e sentou-se. No mesmo instante, tentou movimentar os dedos dos pés entorpecidos.A seu lado, Clare estava franzindo o cenho.— Sente cheiro de naftalina?Ele fungou. De repente lembrou-se. O cheiro vinha de seu casaco. Constrangido, moveu-se na cadeira de forma a se distanciar um pouco.— É um prédio antigo — tentou disfarçar.— Realmente — ela respondeu com um sorriso. — Quase tão antigo quanto a audiência. Sem sombra de dúvida, somos as pessoas mais jovens presentes.— Também notei.Não poderia se esquecer de dizer a Sam, no dia seguinte, que o bilhete falara em música exótica, não pré-histórica. Clare deveria estar julgando-o um lunático, convidando-a para esse tipo de lugar antes de seu septuagésimo aniversário.Contudo, bastou Clare voltar-se para ele e fitá-lo com aqueles deslumbrantes olhos azuis, para

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEesquecer onde estavam.— Poderia me dizer como é essa música didgeridoo?Mike quase engasgou. Como responderia a essa pergunta? Não tinha a menor idéia. A fã de música exótica, afinal, era ela. Por pouco não lhe fizera essa mesma pergunta.Se Clare tivesse lhe perguntado algo sobre os Beatles, o caso teria sido diferente.Talvez uma pitada de mistério o ajudasse a sair dessa enrascada.— Espere e verá. Só posso lhe dizer que valerá a pena. — Pelo menos, era isso que ele esperava. Até aquele momento, a noite estava se revelando um desastre.O casaco estava quase caindo de seu colo. Ajeitou-o. Nesse momento, o cheiro de naftalina tornou a impregnar o ar. Jogou-o no chão e empurrou-o com o pé sob a cadeira. Jurou a si mesmo que iria queimá-lo assim que chegasse em casa.Devagar, colocou o braço sobre o encosto da cadeira de Clare e enrolou uma mecha de seus cabelos ao redor de um dedo.Clare recostou-se na cadeira e sentiu que conseguia relaxar gradativamente. Havia algo de protetor no gesto de Mike. A sensação que lhe dava era de que nada de mal poderia lhe acontecer com ele a seu lado.O velho escocês subiu ao palco e falou ao microfone. O som quase estourou-lhe os tímpanos. Nunca conseguiria entender o porquê de instalarem microfones e caixas acústicas em um local de tamanho comparável a um closet.— Boa noite a todos — cumprimentou Billy Bob. — Temos o prazer de anunciar a presença de nossos amigos, os Filhos do Império Australiano. Juntos faremos um recital especial a vocês. Prometemos que será algo inesquecível, que nunca viram ou verão em qualquer outro lugar.Mike agradeceu mentalmente a Sam. Seria um concerto exclusivo. Nada poderia agradar mais a Clare.Olhou para ela. Ou melhor, para seus lábios. Quem sabe, se ela gostasse, lhe daria um beijo de despedida ao final da noite?Clare percebeu que Mike estava observando-a e tentou não demonstrar seu pouco interesse em ser uma das únicas testemunhas daquele evento no mundo. Era óbvio que sua intenção era agradá-la. A doçura do esforço tocou-a.O grupo aborígene foi chamado ao palco e seu líder forneceu explicações:— Nossa música é nossa tradição. É a forma que encontramos para contar a história de nossas vidas a nossas crianças. — O homem levou o instrumento chamado didgeridoo aos lábios e soprou. O som foi alto. Lembrou Clare o som de água passando por um cano.— Confeccionamos nossos instrumentos — o músico continuou — com ramos de uma árvore nativa de nosso país. Lixamos a madeira, depois a lavamos e pintamos ou de branco ou de vermelho. Toca-se o didgeridoo como um trompete, mas de modo diferente, pois não interrompemos o sopro. Um bom músico consegue armazenar o ar entre as bochechas ao mesmo tempo que respira pelo nariz. O

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEsom é longo e contínuo. O mesmo som chega a durar dez minutos, às vezes.Enquanto era feita a demonstração, Clare tentou entender como Mike conseguia gostar daquele tipo de música. Aliás, como qualquer pessoa podia gostar daquilo. Isso a lembrou de que não sabia praticamente nada a respeito dele.Mike olhou para suas botas e lutou contra a vontade de rir. Estava na iminência de se descontrolar e agir como se tivesse voltado aos bancos de escola quando ele e os colegas riam de qualquer coisa a que não estivessem acostumados.Com a mão livre, beliscou as pernas. Depois mordeu a língua. Tentou pensar em acontecimentos tristes, mas nada funcionava.O aborígene anunciou que imitaria o canto de um cuco e depois o ronco do dingo, uma espécie de cachorro selvagem da Austrália.Mike mordeu o lábio. Esforçara-se tanto para agradar Clare e agora estava prestes a pôr tudo a perder. Não queria arrumar a noite, o que aconteceria fatalmente caso se entregasse a um riso histérico.Foi um alívio ver Billy Bob subindo outra vez ao palco e pedindo uma salva de palmas. Um alívio que não durou muito, pois a seguir eles tocariam algo com ambos os instrumentos.O barulho fez Clare pensar no ataque a Pearl Harbor, com o anúncio de sirenes. O prédio parecia estar chacoalhando. Ou, talvez, fosse sua cabeça. Sua vontade era tapar os ouvidos e gritar. Aquilo seria a idéia de Mike de um concerto?Olhou para ele. Mike parecia estar se divertindo o tanto que ela estava detestando a apresentação. Isso, é claro, até ele começar a tossir.Foi horrível. Não parava. Seu rosto adquirira um tom vermelho assustador.Mike, por sua vez, esperava que a tosse fosse convincente. Era a tosse ou o riso. Tivera de escolher. Ao menos não magoaria Clare.Ela bateu em suas costas e gritou. Aquela seria uma oportunidade esplêndida de escapar do suplício.— Não acha que seria melhor se saíssemos?Mike se levantou no mesmo instante e fez um sinal afirmativo com a cabeça. No minuto seguinte estava praticamente arrastando Clare para fora da sala.

CAPÍTULO IV

A música estridente permaneceu nos ouvidos de Mike durante todo o trajeto até o pequeno restaurante mexicano com vista para a baía, indicado pelo motorista do táxi como o melhor da região.Por sorte, Clare havia concordado com sua idéia quando lhe disse que já era tarde e que seria perigoso caminharem pelas ruas desertas.Clare era um anjo, pensou. Não demonstrara a menor contrariedade por ter perdido mais da metade do concerto.Brincou, distraído, com a sombrinha que enfeitava o drinque, enquanto a observava à

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEpenumbra do ambiente. Os cabelos loiros haviam secado e as mechas haviam encrespado ao redor do rosto delicado. E ela fazia um biquinho adorável com os lábios cada vez que sugava a bebida feita de tequila e suco de abacaxi.— Como está seu drinque? Do jeito que gosta? Clare sorriu e esforçou-se para engolir. O líquido parecia estar traçando um caminho de fogo em seu estômago vazio.— Sim, obrigada — mentiu, apesar da imensa vontade de confessar que além de ser abstêmia, detestava abacaxi. Um dia, talvez, poderia contar a verdade. Mas não naquela noite, em seu primeiro encontro.— Ao didgeridoo — Mike ergueu o copo em um brinde — e às gaitas de fole.Ela tentou imitá-lo, mas o líquido caiu mal em sua garganta e obrigou-a a tossir.— Você está bem?Um sinal afirmativo com a cabeça foi a resposta. Logo ficaria bem. A bebida estava acabando.— Deveria consultar um médico a respeito dessa tosse.Clare corou de vergonha ao lembrar-se de Tobby. O mais provável era que Mike estivesse pensando que ela não viveria por muito tempo neste mundo.— Não será preciso. Não estou tão mal assim. — Deu uma risadinha inesperada e disse algo ainda mais inesperado. — O que está me incomodando é o sutiã. Mal consigo respirar.Mike arregalou os olhos. Não pôde evitar dirigi-los ao local indicado. Clare percebeu. O que estava acontecendo? Como pudera dizer algo tão íntimo a um desconhecido? E por que estava querendo se levantar e se sentar no colo dele?Alguns mariachis com seus sombreros começaram a tocar canções típicas mexicanas de mesa em mesa. Mike sorriu. Mais música exótica para Clare!— Obrigada pelo concerto — ela murmurou na tentativa de mostrar que não ficara decepcionada com o gosto deplorável de Mike. — Aprendi muito. — De repente, ela precisou sufocar o riso. Sim, aprendera muito. Aprendera que nunca mais aceitaria convites para concertos de gaitas de fole e de didgeridoo.Mas também descobrira que Mike Jacoby a atraía mais do que qualquer outro a atraíra antes. E que gostaria de aprender mais sobre ele.— Ainda não sei o que você faz na vida.Naquele momento, com Clare olhando para ele daquele jeito sensual, Mike tampouco sabia. Quase nem se lembrava mais do seu nome.— Tenho uma oficina. Especializei-me em carros importados.— É um negócio de família?— Não. Sou o único dono. Comprei-a alguns anos atrás com as economias que juntei como corretor de imóveis. Minha irmã tem uma imobiliária e ensinou-se o trabalho.— A mesma irmã que o mandou comprar um terno? — Clare indagou. Uma mulher assim, afinal, merecia receber uma cesta de flores por serviços prestados.— Sim, ela é dois anos mais velha do que eu, mas trata-me como se fosse minha mãe.

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANE— Tem outros irmãos?— Três: Ryan, Barry e Landon. São todos casados, com filhos, e moram em Seattle. Priscilla é nossa única irmã. Nós a mimamos muito. Agora ela se acha no direito de nos dar ordens.As palavras se fizeram acompanhar por um sorriso.— Eu gostaria de ter irmãos — Clare murmurou.— É filha única?— Sim. — Em sua opinião. Eva, é claro, incluiria Tobby. — Os casamentos de minha mãe nunca duraram o suficiente para produzir outros filhos. Acho que é por essa razão que eu pretendo ter muitos se um dia me casar.— Famílias grandes são divertidas — Mike concordou. — Mas é duro ser o caçula.O copo de Clare estava vazio. Assim que observou o detalhe, Mike fez um sinal para que o garçom trouxesse outro drinque. Se Clare gostava de pina colada, ela as teria à vontade. Clare era uma criatura doce e solitária. Queria fazer tudo que estivesse a seu alcance para agradá-la, para protegê-la. Talvez não pudesse ajudá-la a superar os problemas do passado, mas certamente tentaria fazê-la feliz enquanto estivesse a seu lado.Queria saber tudo sobre Clare. Do que gostava e do que não gostava. Detalhes que o bilhete não mencionara.Os músicos rodearam a mesa naquele instante e a conversa precisou ser adiada. Ao final da apresentação, Mike deu uma gorjeta de dez dólares ao cantor. A seu ver, seria uma espécie de prova a Clare de sua apreciação pela música exótica.Agradecidos e certos de que a generosidade do cliente significava um pedido para outra canção, os mariachis lhes dedicaram uma segunda música.Mike ouviu-os com um sorriso permanente nos lábios, mas contava os minutos para voltar a ficar sozinho com Clare. Ao final, aplaudiu e agradeceu.Os menestréis se afastaram e iniciaram os acordes de uma terceira canção.Ao final definitivo, Clare aplaudiu entusiasticamente para mostrar a Mike que estava aberta a qualquer tipo de serenata ou concerto a que ele desejasse levá-la.Mike pigarreou, aliviado, quando os músicos se retiraram.— Então, o que houve que ainda não começou a formar uma grande família?O garçom aproximou-se da mesa naquele instante e colocou mais um drinque à frente de Clare. Ela engoliu em seco. Teria de suportar uma segunda dose? Com o estômago vazio?Sorriu com valentia e tomou um gole, esforçando-se por manter a expressão normal.Havia um vaso perto da janela. Seu olhar recaiu sobre a terra. Uma idéia animou-a. Assim que tivesse certeza de que Mike estava olhando para outro lado, despejaria ali o coquetel.Mas, teria coragem para matar uma pobre e indefesa planta? Talvez fosse melhor se descuidar e derramar o líquido sobre a toalha.No minuto

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEseguinte, tirou a sombrinha do copo, brincou um instante com ela e sorriu.— Eu... — Qual fora a pergunta? Não entendia como, mas não se lembrava. — Ah. O homem que deveria ser o pai de meus filhos decidiu que preferia brincar de mocinho e bandido a brincar de casinha. — Suspirou, séria, para rir em seguida. — Beau era mocinho, não bandido. Era um policial.Mike adorava o riso solto de Clare. Como era possível que o tal Beau tivesse deixado escapar uma mulher como ela? A menos que não suportasse pinas coladas, caminhadas sob a chuva e música exótica.— Vocês foram noivos? — Sim. Até três semanas atrás.— Sinto muito.— Não sinta. O pesar de minha mãe basta por todos nós. Ela gostava dele. Beau era seu tipo de homem. — Clare tornou a rir. — Aliás, acho que ela gostava mais de Beau do que eu. — Houve uma pausa. — E você? Por que não se casou?— Nenhuma de minhas namoradas quis fincar raízes. Tudo o que almejavam era percorrer o mundo. Eu gosto de viajar, mas não de viver viajando. Tenho um trabalho e quero construir um lar no futuro.Clare sorriu, enlevada. O principal eles tinham em comum. Ela também queria um lar e filhos e um negócio estável lhe parecia ideal. Tão ideal que estaria disposta a passar por cima do gosto musical questionável de Mike, de sua paixão por abacaxi e por sua obsessão por caminhadas sob a chuva.De repente, precisou cruzar os braços para que eles não se estendessem para Mike sobre a mesa. E apertar os lábios antes que eles se movessem para dizer o quanto ela o achava bonito e sexy e o quanto estava sonhando com seus beijos.Corada devido aos pensamentos que a assaltaram, Clare mudou de assunto.— Onde você mora?— Perto do lago Washington. — É mesmo? Eu também moro naquela região.Pelo resto da noite, conversaram sobre seus locais favoritos no bairro e contaram histórias sobre suas famílias, sobre seus empregos e infâncias. Por incrível que parecesse, tinham muito em comum.Mike parou seu novo carro esporte importado diante da velha casa onde Clare morava, perto da universidade de Washington. Em seu cavalheirismo, desceu e deu a volta para abrir a porta.Clare deu-lhe a mão e juntos caminharam pela calçada. Para seu alívio, Mike chamara um táxi quando saíram do restaurante para levá-los ao estacionamento da Mônaco.Ao chegarem à porta, Clare abriu a bolsa para pegar a chave. Quando finalmente a encontrou, exibiu-a com ar de triunfo.— Gostaria de entrar e tomar uma xícara de café? Esperava que o convite fosse aceito. Embora tivesse conseguido derramar metade dos drinques no vaso, não confiava que suas pernas a levariam em segurança até o interior da casa.

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMike hesitou. Por mais que desejasse prolongar a noite ao lado de Clare, o receio de estragá-la pela falta de controle venceu-o. A noite fora um sucesso. Ao menos depois que chegaram ao restaurante. Se ficassem completamente a sós, poderia perder a cabeça e arruinar suas chances de um próximo encontro. Nunca sentira tanta necessidade de beijar uma mulher antes.— Eu... não, obrigado. Preciso ir — Mike gaguejou. Não gostava de despedidas. Nunca sabia como se comportar.— Está bem — Clare concordou e tentou adivinhar se Mike lhe daria um beijo de boa-noite. Não gostava dessa parte dos encontros. Nunca sabia como se comportar. — Obrigada pelo programa. Foi... interessante. Eu me diverti muito. — O que era verdade, descontando a caminhada sob a chuva, o concerto e as bebidas.— Eu também.— Bem — Clare virou-se e introduziu a chave na fechadura para depois estender a mão. — Mais uma vez, obrigada.Lentamente, Mike tomou a mão de Clare nas dele. A reação foi instantânea. Ele a atraiu de encontro ao peito. Ela se deixou abraçar.Foi um abraço amigável, caloroso. Ela não queria que acabasse. Mas Mike se afastou justamente quando arrepios lhe percorriam o corpo e tiravam as forças de suas pernas.Em vez de deixá-la, contudo, Mike estreitou o abraço e beijou-a.O beijo, suave e gentil no início, terminou em paixão. Compensou-a por tudo. Pela chuva, pelos pés doloridos, pela poluição sonora e até mesmo pelos coquetéis de abacaxi. Subitamente, a noite inteira se transformou em uma série gloriosa de acontecimentos.Ele segurou seu rosto com ambas as mãos e olhou-a intensamente. Depois tornou a procurar-lhe os lábios.Clare moveu-se nos braços dele. Um perfume másculo de loção após barba penetrava em suas narinas e também um cheiro de naftalina que devia ter impregnado suas roupas durante o concerto. Os beijos tinham gosto de abacaxi. Era estranho, mas, de repente, o sabor lhe parecia maravilhoso.Mais estranho ainda era que, apesar de suas diferenças, eles pareciam ter sido feitos um para o outro.— Ah, Clare — Mike sussurrou.Seu nome nunca lhe parecera tão bonito.— Obrigado pela noite maravilhosa.— Obrigada por tudo.— Posso ligar para você?— Sim. Por favor.— Eu ligarei — ele prometeu e foi embora.

Na segunda-feira, pela manhã, enquanto tomava um café com Lucy e Henry, no depósito da seção de roupas masculinas, Clare contou sobre seu encontro com Mike. Eles a ouviram com atenção e muito riso. De vez em quando, porém, Clare

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEinterceptou alguns olhares furtivos que contribuíram para aumentar sua certeza de que Mike não voltaria a procurá-la.— Ele não voltará. Eu estava horrível. Devia estar parecendo uma sobrevivente do Titanic. Ele deve ter me achado uma ignorante porque não sabia o que era didgeridoo. É uma alcoólatra porque não parava de me comprar pinas coladas.

Lucy e Henry riram tanto que seus olhos se encheram de lágrimas.— Ora, não sei por que estou contando isso a vocês. Estão me fazendo sentir ainda pior. — Clare suspirou. — A verdade é que eu gostei dele, apesar de seus gostos estranhos.A essa altura, Lucy e Henry estavam sem fôlego de tanto rir.— Vocês não têm mais nada para fazer? Por que não se deitam naquela cama e fingem de manequins outra vez?— Desculpe, querida disse Henry. — Mas não consigo parar de imaginá-la com a meia escorregando.Um sorriso curvou os lábios de Clare. Agora que estava com roupas secas, com um teto sobre sua cabeça e usando sapatos confortáveis, a cena parecia engraçada. Mas naquela hora...— Como foi o encontro? — Sam perguntou, curioso, enquanto almoçava com Mike e os outros mecânicos.— Você está demitido.— Sério? Por quê? Ela não gostou do concerto?— Seu cunhado tem um gosto musical mais do que duvidoso, eu garanto. O barulho que fazemos aqui com nossas ferramentas é mais musical e agradável do que aquele concerto.— Sinto muito, chefe. Mike suspirou.— Acha que isso encerrou suas chances com a moça?— Não sei. Ela pareceu gostar. Mas eu duvido que conseguirei sobreviver a mais um encontro. Caminhei vinte quarteirões sob uma chuva torrencial. Meus pés desapareceram sob as bolhas. — Mike fez uma pausa e sorriu. — Mas ela beija como ninguém!— Quando irá nos apresentar? — Bart indagou.— Nunca.— Ora — Bart protestou.— Esqueçam. Ela tem classe. Não serve para vocês.Bart olhou para Sam e para Roger.— Acho que o chefe foi fisgado.— Não — Mike negou —, mas confesso que não reclamaria se nos tornássemos mais íntimos, se é que vocês me entendem.— Nesse caso é bom se apressar — Bart aconselhou. — A feira medieval acontecerá no próximo fim de semana. Trate de comprar logo os ingressos. Meus filhos costumam ir a essa feira todos os anos e me disseram que os ingressos estão quase esgotados. Eles costumam acampar lá. A distância de Seattle é grande

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEpara ir e voltar no mesmo dia. Aconselho-o a passar a noite em uma hos-pedaria ou algo assim.A última coisa que Mike queria era passar um fim de semana em uma feira medieval. O programa parecia ser tão duvidoso quanto um concerto de música exótica. Mas a possibilidade de ganhar mais um beijo de Clare e talvez uma noite inteira de amor o fez decidir.— Ok. Ligue para seus filhos e peça que comprem mais dois ingressos para mim, caso ainda não estejam esgotados.Sam esfregou as mãos sujas de graxa no macacão.— Não vai perguntar a ela se quer ir à feira?— Não, meu caro. Esqueceu-se dos dizeres no bilhete? Ela gosta de homens que não aceitam um não como resposta.— Estranho, muito estranho... — Sam murmurou. Enquanto Bart telefonava, Mike contou a Roger e Sam algumas histórias sobre a noite de sexta-feira. Sam lamentou os incidentes, mas Roger quase estourou de tanto rir.Agora que estava em sua oficina, com roupas e, principalmente, sapatos confortáveis, Mike começou a enxergar o acontecimento com outros olhos. Talvez o encontro não tivesse sido tão ruim. Ao menos saíra com uma garota bonita e que queria um lar e filhos tanto quanto ele.Mas uma feira medieval? Como uma mulher podia gostar desse tipo de coisa? Por que não achava mais divertido e romântico sentar em frente a uma lareira, assistir a um filme e comer pipoca?Era sua sina: interessar-se por mulheres que precisavam de aventura em suas vidas. Clare, ao menos, se restringia à área de Seattle.— Você está com sorte — disse Bart. — As crianças conseguiram lhe arranjar os dois ingressos. Duas de suas amigas desistiram do programa. Quanto às acomodações, você mesmo terá de providenciá-las. Não há lugar nas barracas. Elas disseram para você não perder tempo. Todas as hospedarias costumam lotar.— Devo estar maluco — Mike falou consigo mesmo.— Ah, as crianças pediram que eu o avisasse que já está inscrito para o torneio.— Torneio? Que torneio?— Não tenho a menor idéia — Bart respondeu. — Eles também disseram para você passar na Exit Stage Left, uma loja de fantasias no centro da cidade, e pegar a sua ainda hoje, se possível. Parece que as melhores já foram alugadas. Por pouco eles não conseguiam deixar nada reservado.— Uma fantasia? De quê? Não estou gostando nada disso!— Não se preocupe, chefe. Está tudo arranjado. Mike passou as mãos pelos cabelos. Usar um terno na festa de Priscilla era uma coisa, mas vestir uma fantasia em uma feira medieval era outra muito diferente. Mas a lembrança do beijo animou-o. Se Clare queria ir à feira, afinal, por que não lhe faria essa vontade? Um pequeno sacrifício não o mataria.— Seção de roupas masculinas. Clare.— Olá.

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEEra Mike. A voz era inconfundível. Fez o sangue correr mais rápido em suas veias instantaneamente.— Olá.— Está ocupada?— Não. O movimento está fraco hoje.— Eu me diverti muito na sexta à noite.— Eu também. Muito obrigada.Mike hesitou, mas depois resolveu ser direto.— Estou ligando porque consegui dois ingressos para a feira medieval que acontecerá neste fim de semana. Acabei de reservar os últimos dois quartos disponíveis na cidade! Ficaremos no Happy Valley. Seria muito cansativo irmos e voltarmos no mesmo dia porque a feira, como você sabe, não será em Seattle.Era um convite ou uma participação? Parecia ser a segunda opção. Afinal, após os beijos que trocaram, Mike devia saber que ela estava pronta para repetir a experiência. Além disso, depois de todo o trabalho e gastos, não seria justo recusar. E ela não tinha nada para fazer naquele fim de semana.— Está bem.— Não precisa se preocupar com a fantasia. Eu também já providenciei isso.— Fantasia?— Sim. A sua e a minha. Tivemos sorte. A loja quase não dispunha mais de trajes medievais. Infelizmente teremos de usar os que sobraram. Não tive escolha. Espero que não se importe.Lucy e Henry se aproximaram do balcão naquele momento. Pareciam ansiosos por ouvir a conversa. Ela se apressou a responder, antes que eles se intrometessem.— Parece ótimo. Mike respirou, aliviado.— Passo para buscá-la no sábado às oito. Tudo bem? Se fizer o café, eu me encarrego das rosquinhas. Depois, colocaremos nossas fantasias e pegaremos a estrada.— Ok...Era a primeira vez que alguém lhe pedia para se fantasiar para um encontro. Mike não parecia ser do tipo que lhe pediria para fazer algo que não lhe soasse agradável. Tampouco parecia ser do tipo que se fantasiava sem ter um motivo para isso. Talvez festas medievais estivessem em moda. E ela já sabia que ele gostava de diversões diferentes. Pena que não preferisse simplesmente ir a um cinema.Bem, todos diziam que ela precisava de um pouco de aventura em sua vida. Talvez fosse bom conhecer lugares diferentes. E para estar com Mike, seria capaz de fazer qualquer coisa.— Acho que será divertido. Até sábado, então. Quatro olhos estavam pousados sobre ela quando desligou.— Quem era?— Mike.

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANE— Aquele do didgeridoo? — Henry perguntou.— O próprio.— O que ele queria?Clare hesitou. Deveria contar a eles sobre o convite incomum que Mike lhe fizera? E por que não? Afinal, não lhes fizera segredo sobre o fiasco da noite de sexta-feira e aquela seria uma boa chance de provar que era capaz de se aventurar de vez em quando.— Levar-me à feira medieval em uma cidade aqui perto no fim de semana.Lucy arregalou os olhos e deu uma cotovelada em Henry.— Vocês não irão dizer nada? — Clare estranhou.— Oh, sim — Lucy respondeu. — Tenho certeza de que será divertido. Se quiser, posso lhe emprestar uma de minhas fantasias.— Não será necessário, obrigada. Mike se encarregou disso. Lucy e Henry entreolharam-se.— Cada dia estou gostando mais desse Mike — Lucy murmurou.Clare balançou a cabeça. Aquilo lhe parecia outro sinal de mau agouro.

CAPITULO V

Apenas o tique-taque do relógio e o leve ressonar de Clare podiam ser ouvidos no quarto decorado em estilo vitoriano. Os primeiros raios do sol estavam se infiltrando pelas frestas da janela e pela renda das cortinas e acariciavam gentilmente as faces de Clare anunciando o novo dia.O corpo de Clare estava inerte, na mesma posição em que ela finalmente conciliara o sono, uma hora antes.O ruído do despertador irritou-a. Consultou o relógio sobre a mesa-de-cabeceira e franziu o cenho. Sete horas. Por que haveria de se levantar tão cedo se era sábado?Sentou-se imediatamente na cama quando se lembrou. A feira medieval. Como podia tê-la esquecido? Talvez porque passara quase toda a noite acordada tentando decidir que roupas levaria e como faria para impressionar Mike com respeito a seus conhecimentos sobre o evento.Lucy lhe indicara alguns livros sobre a heráldica medieval e ela fizera uma série de leituras. Dessa vez Mike não a pegaria desprevenida como acontecera com o tal didgeridoo. Caso lhe fizesse uma ou outra pergunta sobre os cavaleiros e suas armaduras, ficaria surpreso com seus conhecimentos.Abriu a torneira da banheira e despejou um punhado de sais. Enquanto esperava que enchesse, pensou nas histórias que lera sobre os reis e rainhas, nobres, soldados e camponeses da época medieval. Entrou na banheira e enquanto se deixava envolver pela água perfumada e borbulhante lembrou-se de que Ulrich von Lichtenstein havia morrido em 1275.Mas, afinal, o que lhe interessava quem era o tal Ulrich? Suspirou. Talvez fosse melhor esquecê-lo.Henry também

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANElhe dera uma porção de informações sobre a Guerra dos Cem Anos. Lamentavelmente não se lembrava de mais nada. A não ser que Bertrand du Guesclin morrera em 1380.Oh, céus! Queria impressionar Mike, mas como? Que interesse ele teria em saber o ano da morte daqueles reis?Levantou-se e enrolou-se em uma toalha. Em vez de ficar se preocupando com histórias da Idade Média, seria melhor se vestir e não fazer Mike esperar.A campainha tocou naquele instante.— Oh, não! — Mike não deveria estar lá ainda. Era muito cedo. Apenas sete e meia. Ela estava sem maquilagem e sem roupa. E os cabelos estavam molhados. Ele não podia vê-la daquele jeito.A campainha tornou a tocar.Pelo jeito, não teria escolha. Vestiu um robe e enrolou uma toalha ao redor da cabeça. Olhou-se ao espelho e franziu o cenho. Nunca havia notado antes que seu robe não escondia quase nada. Mas como não tinha outro, dirigiu-se à porta.Mike estava segurando uma caixa de rosquinhas. Ao vê-la, seu sorriso congelou e o coração aumentou de ritmo.— Oi — forçou-se a cumprimentá-la com uma calma que estava longe de sentir. Entregou as rosquinhas e abaixou-se para pegar a caixa com as fantasias. — Desculpe ter chegado cedo. Mas quando vi o quanto sua fantasia deveria ser trabalhosa para vestir, achei que seria bom dar-lhe um tempo extra. Como você sabe, não nos deixarão entrar se não estivermos fantasiados.— Oh, sim — Clare respondeu, sem saber de nada.Mike não cabia em si de surpresa e admiração. Clare era ainda mais linda sem maquilagem. Se dependesse dele, não iriam a lugar algum aquele dia.Levou-o a sua cozinha. Não queria fazer comentários, mas a história sobre a fantasia complicada estava preocupando-a.— Ainda não tive tempo para preparar o café, mas não levará mais de um minuto.Abriu o armário e virou-se para trás. Mike estava tão perto que sentiu o perfume de sua loção após barba. Esqueceu-se do que tinha a dizer. Olhava para aqueles olhos castanhos e só conseguia ver a cena do beijo que haviam trocado uma semana antes.— Com licença. Preciso pegar a cafeteira atrás de você — Clare murmurou.Mike estava muito atraente de calça jeans e camisa de flanela sobre a qual vestira um casaco de couro. Exalava virilidade por todos os poros.Clare engoliu em seco.— Não quer que eu faça o café? — Mike ofereceu. — Assim você aproveita e seca os cabelos.— Se você não se importa... O pó está na geladeira e as xícaras estão no armário.Enquanto esperava que o café ficasse pronto, Mike tentou imaginar os cabelos de Clare esvoaçando sob o jato quente de ar. Sua vontade era ir ao banheiro e beijá-la. Talvez

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEpudesse lhe oferecer ajuda para vestir a fantasia.Para que o café não esfriasse e porque a desculpa lhe parecia ótima para procurá-la, levou-lhe uma xícara.— Trouxe o café e a fantasia. Espero que sirva.Ela estava maravilhosa. Os cabelos ondulados brilhavam como ouro. Os lábios estavam rosados. Sua vontade era arriscar e constatar se estavam tão macios quanto pareciam. Mas não faria isso, claro que não. Estava ali para levá-la à feira.— Oh, obrigada.— Onde devo me trocar? — Mike perguntou. Poderia ser aí dentro com você?Clare pensou em seu quarto desarrumado. Não seria uma boa idéia. Por outro lado, não ficaria bem mandá-lo trocar-se na sala ou na cozinha. E ela estava ocupando o banheiro.— Use meu quarto. Fica depois do hall, à esquerda.Mike seguiu para a direção indicada. O quarto parecia-se com Clare. Aconchegante e convidativo. A cama era de dossel. Precisou afastar os olhos dela para que os pensamentos libidinosos não tornassem a atacá-lo.De costas, desafivelou o cinto. Era estranho trocar de roupa no lugar onde Clare dormia.Sem o jeans e a camisa, inclinou-se sobre a caixa e apanhou sua fantasia: uma meia grossa de helanca amarela que chegava à cintura e uma túnica azul-escura com dragões dourados no peito. Por sorte, o complemento seria uma espada. Algo masculino.A vontade de Mike, contudo, era atirar tudo pela janela. Mas pagara caro pelo aluguel e teria de devolver as roupas intactas. Se não fosse por Clare, desistiria. Tinha certeza de que pareceria um idiota com aquela fantasia.Clare olhou, boquiaberta, para o chapéu comprido e cônico de princesa de cuja ponta saíam tiras coloridas de tule. Tinha certeza de que não caberia dentro do carro de Mike com ele. A menos, é claro, que o modelo dispusesse de um teto solar. Assim, aproveitaria para se bronzear. O decote era tão pronunciado que os seios ficavam quase que inteiros à mostra.Tentou suspirar, mas o som que escapou de seus lábios foi o de um gemido. A roupa era apertada demais. Mal a deixava respirar. Se a tal feira não significasse tanto para Mike, pediria para que ele desistisse da idéia. Mas como já o conhecia e era uma mulher de palavra, passaria o fim de semana com ele, mesmo que isso fosse matá-la.Se sua mãe a visse naquele instante ficaria orgulhosa de sua mudança. Ninguém mais poderia acusá-la de não abraçar uma aventura. Mesmo que o espelho estivesse lhe dizendo que parecia uma idiota. Era difícil crer que havia pessoas que gastavam seu rico dinheiro nesse tipo de diversão. Por quê? Um cinema e um jantar não eram programas muito melhores e confortáveis?Bem, não podia passar o resto do dia trancada no banheiro. Mike parecia impaciente. Estava ouvindo seus passos na sala. Ele deveria estar ansioso para partir.Abriu a porta e

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEassobiou. Deveria estar vermelha como um pimentão. Quando viu Mike, o rubor aumentou. Seus olhos dobraram de tamanho. O que ele estava usando na cabeça?!Mike virou-se devagar. Aqueles sapatos pontiagudos acabariam fazendo-o cair. Se Clare propusesse fazer uma caminhada aquele dia, seria obrigado a recusar.Quase engasgou. Queria olhar para o rosto de Clare, mas seus olhos insistiam em pousar no decote. Ela estava parecendo uma artista de cinema. Uma deusa.Ele em compensação! Aquele capacete com penas era ridículo. E ainda por cima escorregava a todo instante sobre seus olhos.Mas não seria um desmancha-prazeres. Tirou a espada da cintura e apontou para a cozinha.— Aceita uma rosquinha?— Sim, obrigada — ela respondeu, amável, embora não conseguisse imaginar como faria para engolir algo com aquela roupa.Mike seguiu à frente. Ela não pôde evitar observá-lo. Mesmo usando legging, Mike continuava a ser o homem mais viril que conhecera. A malha colante salientava os músculos das pernas a cada movimento. Com aquela roupa, Mike a lembrava Robin Hood.— Simples ou com geléia? — Mike ofereceu.— Com geléia. Foi muito gentil de sua parte trazer o café da manhã.De repente, uma das pontas do capacete de Mike enroscou-se no gancho onde ela pendurava o pano de prato e ele voou pela cozinha.Mike abaixou-se para recolhê-lo. Depois fez uma mesura para devolvê-lo à dona.— Milady.Ela riu da brincadeira. Mas no momento que estendeu a mão para pegá-lo, Mike usou o pano para atraí-la. Seus olhos se encontraram e não conseguiram mais se separar.— Você está linda — ele murmurou. — Parece uma princesa de verdade.Quando recuperou o pano de prato, Clare levou-o ao peito como se isso fosse acalmar as batidas aceleradas de seu coração.— Você também está lindo.— Vou fazer de conta que acredito. Estou me sentindo o bobo da corte com este chapéu.Clare riu com vontade. Mike era ótima companhia. Ele nunca perdia o humor. Talvez por causa de suas preferências exóticas. Tentou lembrar-se de algo interessante que lera sobre a Idade Média. Mas não conseguiu raciocinar. Tinha certeza de que ouvira a voz de sua mãe.— Clare? Você deixou a porta aberta. Qualquer um poderia ter entrado...Clare fechou os olhos. Daquela vez sua mãe estava certa.— Oh, eu não sabia que você estava com visita... — Eva se desculpou, surpresa. — Estou interrompendo algo?— Não, mamãe. Mike acaba de chegar para me buscar. Nós iremos à feira medieval. Deixe-

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEme apresentá-los. Mamãe, este é Mike Jacoby. Mike, esta é minha mãe, Eva Allen.Mike tirou o chapéu, colocou-o sobre a pia, estendeu a mão e sorriu para Eva.— Muito prazer.— Igualmente — Eva respondeu com os olhos passeando sobre o físico másculo. —Você me faz lembrar Kevin Costner, meu rapaz. E você, querida, está linda. Espero que se divirtam muito. A feira medieval costuma ser um sucesso.Clare franziu o cenho.— Você já tinha ouvido falar sobre essa feira?— Claro que sim. Quem não ouviu?Assim que respondeu sua pergunta, Eva concentrou- se em Mike. Clare admirou-o ainda mais. Ele era um homem educado e galante. Respondia às perguntas de sua mãe com calma e fineza. Não seria de admirar que ela desis-tisse de suas esperanças de vê-la reatar com Beau para ficar com Mike.Perdida em pensamentos, Clare só voltou a si quando ouviu-a dizer:— Sim, Clare contou-me sobre o concerto. — Eva piscou. — Sabe, você é o tipo exato de que minha filha precisava. Alguém que gosta de aventuras e de diversões. Eu vivo dizendo a ela para...— Mamãe — Clare interrompeu-a —, o que veio fazer aqui tão cedo?— Queria pedir que cuidasse de Tobby em minha ausência. Fui convidada para uma festa em outra cidade. Minha amiga insiste para que eu passe o fim de semana em sua casa, mas não posso deixar Tobby sozinho. E ele não gosta de pet shops.— Não se preocupe, sra. Allen. Clare e eu o levaremos conosco para a feira — Mike ofereceu. Talvez a mãe também gostasse de homens decididos.— Você faria isso? — Eva sorriu, aliviada e admirada ao mesmo tempo.— O quê? — Clare arregalou os olhos.— Por que não? — Mike perguntou e tentou acariciar a cabeça de Tobby que rosnou e tentou mordê-lo.— Não ligue — Eva procurou tranqüilizá-lo. — Depois que ele se acostumar com você, verá como é dócil.— Mas, mamãe! — Clare protestou. — Ele não está machucado?— Oh, Tobby já melhorou. Você não precisará se preocupar com nada. Eu trouxe a cama dele, a ração, a roupa, a escova e todos seus brinquedos.Transferidos os objetos para o carro de Mike, Tobby já estava pronto para a viagem. Enquanto Mike e sua mãe conversavam, Clare arrumou o quarto e a bagagem. Dobrou a roupa que Mike trocara e colocou-a em sua sacola.Dezenas de emoções diferentes a invadiam. Estava a um passo de sair com Mike e passar o fim de semana inteiro com ele. Mesmo que os quartos fossem separados, a intimidade seria grande. Por último, pegou a jaqueta de couro que ele deixara em uma cadeira e abraçou-a.Foi assim que a mãe a surpreendeu.— Que homem! E com aquelas meias!— Oh, mamãe!

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEEra para ser o melhor programa de minha vida e você trouxe Tobby para eu cuidar!— A idéia foi dele, querida. Adorei-o. Trate de não deixá-lo escapar como fez com Beau. Aliás, meus parabéns. Se continuar assim, não haverá problemas. Estou orgulhosa de você.— Por favor...— Estou falando sério. Sei o quanto está se esforçando para o sucesso deste fim de semana... por pior que lhe pareça participar de uma feira. Bem, mas agora preciso ir. Virei buscar Tobby na segunda de manhã.Até que conseguissem sair, Clare já estava cansada. O banco de trás do carro de Mike estava repleto de objetos imprescindíveis ao cachorro de sua mãe. Quase não sobrara espaço para acomodarem as sacolas.No momento que Mike ligou o carro, tocou-a de leve na coxa e esse, talvez, foi o motivo do silêncio que os acompanhou durante boa parte da viagem. E também os rosnados ocasionais de Tobby que parecia fazer questão de lembrá-los de que estava ali contra sua vontade.Mike só começou a relaxar quando ganharam a auto-estrada. Em nenhum outro lugar sentia-se tão seguro quanto atrás do volante de um carro. E em uma estrada de maior velocidade, os riscos de encontrar algum conhecido era menor.Constrangido com sua ignorância sobre feiras medievais e certo da necessidade de iniciar uma conversa, Mike resolveu dizer a primeira coisa que lhe passou pela cabeça.— Sua mãe é muito simpática.— Sim, ela é, apesar de que sua dedicação ao cachorro me parece exagerada. — Clare virou-se para o banco de trás. — Sinto muito por ela tê-lo praticamente obrigado a trazer Tobby conosco.— Não tem importância — Mike respondeu, gentil. — Até chegarmos lá, ele já estará familiarizado comigo.— Por falar nisso, de quanto tempo será a viagem? — Mike corria muito. Se continuassem naquela velocidade, talvez chegassem em poucos minutos.— Happy Valley fica a duas horas de Seattle. Foi por isso que resolvi reservar acomodações. Como a feira se estenderá até amanhã, não gostaria que você perdesse nenhuma das atrações.— Obrigada — Clare murmurou. Esperava ter injetado um pouco de entusiasmo à voz. Se Mike não fosse tão charmoso, o sacrifício lhe pareceria demasiado.Chamou-se de exigente. Em vez de se lamentar, deveria estar grata. Ao menos Mike não lhe pedira para saltar de pára-quedas ou para escalar o Rainier como Beau.— Gostei do seu carro.O brilho que viu nos olhos de Mike mostrou-lhe que havia acertado o caminho de seu coração. Nos quilômetros seguintes, não faltou assunto. Mike lhe contou a história daquele carro e de vários outros modelos importados. Era óbvio que adorava o trabalho que fazia. Em meio à conversa, contudo, Mike resmungou.— O que foi?

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANE— Polícia. — Ele indicou o espelho retrovisor e diminuiu a velocidade. — Desculpe. Acho que terei de parar. Estava dirigindo além da velocidade permitida.Clare admirou a honestidade de Mike quando ele levou o carro para o acostamento. A maioria das pessoas estaria tentando escapar de um sermão. Mike, entretanto, abriu a carteira, separou os documentos do carro e a carta de motorista e esperou que o guarda rodoviário se aproximasse.— Bom dia. — O guarda curvou-se e olhou para dentro do carro. Ao notar as fantasias, deu um sorriso. De repente, seus olhos pousaram em Clare. — Você?— Beau?

CAPITULO VI

Policial ou não, a vontade de Mike era descer do carro, desembainhar a espada e fazer aquele sujeito parar de olhar para Clare e para ele com aquele ar de gozação. Mas como seria o maior perdedor caso houvesse um confronto, decidiu manter silêncio enquanto o ex-noivo de Clare examinava seus documentos.Sua antipatia pelo sujeito foi intensa e imediata. Não entendia como Clare pudera se apaixonar por aquele tipo arrogante. Olhou para ela para verificar sua reação. Não conseguiu saber o que ela estava pensando. E se Clare ainda não o tivesse esquecido?O desconforto aumentou. Por outro lado, se Clare ainda estava apaixonada por aquele homem, seria melhor encerrarem os encontros antes que a relação se aprofundasse.Clare mordia o lábio para não falar. Mas, e se Beau resolvesse perguntar o que estava fazendo naquele traje medieval? Beau, mais do que ninguém, sabia que ela preferiria esvaziar uma piscina com uma colher a participar de uma festa a fantasia. Não era de seu feitio.De repente, Clare viu-se agradecendo por não ter se casado com Beau. Quanto mais tentava comparar ambos os homens, mais surpresa ficava por ter pensado, um dia, que Beau seria seu parceiro ideal. Incrível! Como não notara antes o quanto eram incompatíveis?Embora ambos tivessem espíritos aventureiros, Mike era seguro de si enquanto Beau vivia sonhando. Mike era maduro e gentil. Beau era imaturo e egoísta. Para ser perfeito, só faltava Mike gostar de diversões menos exóticas.— Clare?A voz de Mike trouxe-a de volta ao presente.— Sim?— Você viu, por acaso, se deixei minha carteira cair em sua casa? — Ele examinou o porta-luvas e deslizou as mãos pelas pernas à procura de um bolso inexistente. — Não a estou encontrando.Clare procurou falar baixo para que Beau não os ouvisse.— Será que a deixou

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEcair em meu quarto quando trocou de roupa?No mesmo instante, Beau ordenou que Mike descesse do carro.— Maldição! — Mike praguejou quando a espada ficou presa no banco.— O que foi que disse? — Beau franziu o cenho.— Nada, sr. guarda.— É contra a lei dirigir sem documentos. Espero que saiba disso — Beau explicou o óbvio e tornou a olhar com ironia para a fantasia de Mike. — A propósito, onde estavam indo com tanta pressa?— Para a feira medieval — Mike informou, relutante, enquanto saía do carro. O que mais queria, naquele momento, era sumir da face da Terra. As pessoas buzinavam e acenavam para ele. Aquela, sem dúvida, estava sendo a experiência mais humilhante de sua vida. E Clare devia estar pensando que nada daquilo teria acontecido se ela ainda estivesse namorando o guarda. Afinal ele, ao menos, estava usando uma calça.— Feira medieval? — Beau deu a volta e espiou pela janela do passageiro, diretamente para Clare. — Eu não sabia que você gostava desse tipo de coisa.— Claro que não! Você nunca perguntava o que eu gostava de fazer. Beau sorriu e balançou a cabeça.— Você fica ainda mais bonita quando zangada. E aí, seu amante deixou a carteira em seu quarto ou não?Furiosa, Clare ergueu a saia e se inclinou sobre o banco para pegar sua mochila no banco de trás.— Não sei. Talvez esteja no bolso do jeans.— Sua mãe está a par do que você anda fazendo? Clare não respondeu. Não devia satisfações a Beau.— Aqui está. — Ela entregou a carteira. Enquanto Beau se dirigia ao rádio para se informar sobre a identidade do infrator, Clare desceu do carro para fazer companhia a Mike.— Sinto muito.— Espero que seu ex-noivo não resolva citar-me por alguma violação imaginária em seu quarto.Clare sentiu um arrepio lhe percorrer o corpo quando Mike a enlaçou pela cintura ao mesmo tempo que dizia aquelas palavras.— Ele não se atreveria. Não há mais nada entre nós. O que faço de minha vida não lhe diz respeito.Mike sorriu, aliviado. Ainda havia chances, portanto. Não importava que todos que estavam passando por aquela estrada estivessem se divertindo a sua custa. Ele estava com Clare. Fazendo algo que a deixava feliz.— Ainda não consigo acreditar que Beau tenha lhe dado uma multa — Clare resmungou quando se puseram novamente a caminho da feira.Mike apertou-lhe a mão.— Não se preocupe. Nessa história, quem perdeu foi ele, não eu.Clare sorriu à sutileza da mensagem. Mike era maravilhoso. Sua companhia compensava o mau gosto dos programas. E aquele fim de semana prometia grandes

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEsacrifícios, a julgar por seus primórdios.

Por causa do atraso provocado por Beau, decidiriam ir direto à feira e se apresentarem na hospedaria apenas no início da noite.— Veja! — Clare apontou para uma placa. — Feira Medieval, virar a próxima à direita.— Parece que estamos finalmente chegando — Mike concordou.A área reservada para o estacionamento havia sido improvisada. Não havia pavimentação. No banco de trás, Tobby protestou devido aos solavancos.— Conseguimos! — Mike exclamou quando encontraram uma vaga.Clare olhou para sua roupa e depois para a seqüência de barracas que se estendia até o horizonte. Havia cavalos e cavaleiros por toda parte. Em seguida olhou para Mike como se quisesse lhe transmitir suas dúvidas sobre o bom senso de suas presenças naquele local e ao mesmo tempo convencê-lo de que já estava se divertindo.O que não poderia adivinhar era que o mesmo se passava pela cabeça de Mike.— O que faremos com o cachorro? — Mike indagou.— Eu o levarei — Clare ofereceu-se. — Mamãe nunca o deixa trancado no carro.Mike ajudou-a a descer e lhe abriu a porta para que pegasse Tobby. Em seguida, dirigiram-se à bilheteria.A feira apresentava todos os aspectos que representavam a confirmação dos piores receios de Clare e de Mike. Assim que passaram pelos portões de entrada, depararam com um mundo estranho para o qual nenhum dos dois estava preparado.Mal haviam dado alguns passos, foram recepcionados por um grupo de músicos. Mike olhou para Clare e sorriu ao notar a expressão de entusiasmo em seu rosto. Ela realmente gostava de música exótica!Terminada a serenata, Mike puxou Clare ligeiramente pelo braço para seguirem em frente.— Linda música, não? — ele perguntou, sorrindo. Clare sorriu também. Mike realmente adorava música exótica, pensou.— Sim, muito bonita.Uma verdadeira multidão cercou-os. Clare jamais imaginara que tanta gente pudesse gostar daquele tipo de evento. Em seus braços, assustado com a movimentação e com o barulho, Tobby pôs-se a tremer.Ansioso por se afastar daquela agitação, Mike conduziu Clare à área de alimentação. Talvez um cachorro-quente e uma cerveja o fizessem sentir-se melhor.Até que conseguissem encontrar um recanto onde se abrigarem, viram pessoas vestidas com as roupas mais bizarras imagináveis, conversando, bebendo e dançando. Bandeiras de todas as formas e tamanhos tremulavam ao vento sob o céu sem nuvens.Atrás das barracas estendia-se um campo cercado por cordas. Ao redor dessa espécie de arena, fora erguida uma tosca arquibancada. Em frente a ela, erguia-se um

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEcastelo em miniatura de onde emergiam homens em armaduras e cavalos cobertos por mantas extravagantes. Como crianças, corriam de um lado para outro e fingiam atacar-se com lanças.Mike pensou que não participaria de uma brincadeira como aquela nem morto. Depois virou-se para Clare e mudou de idéia quando viu o que pensara ser admiração em seus olhos. Não havia mal nenhum, afinal, em adultos se fantasiarem e brincarem um pouco para variar.— O que acha de comermos algo antes de continuarmos com nossa exploração?— Acho ótimo. Por que não entra na fila enquanto eu tento arrumar uma mesa? — Clare sugeriu, ansiosa por se sentar e descansar os pés.Por sorte não tardou a encontrar uma mesa vaga. Tobby que lhe parecera tão leve ao saírem do carro, agora pesava como chumbo. Assim que se sentou, soltou-o. O cachorro apressou-se a se esconder sob a mesa e ela a tirar os sapatos. O calor era intenso. Ergueu a saia até os joelhos para se refrescar.Ao longe, monitores entretinham um grupo de crianças.Se fosse sincera consigo mesma, admitiria que a feira era muito interessante. O único problema era que sua lista de preferências jamais a colocaria entre os vinte primeiros itens.Mas, talvez, pudesse nutrir a esperança de que, um dia, conseguiria convencer Mike a fazer um simples passeio ao longo de uma praia deserta. Não seria uma grande aventura, mas os pés, ao menos, não sofreriam. E eles poderiam andar de mãos dadas, admirarem as ondas se quebrarem na areia ou nas pedras e procurarem conchas. Talvez pudessem terminar o dia sentados ao redor de uma fogueira, assistindo ao pôr-do-sol, beijando-se e assando marshmallows.Sua boca encheu-se de água. Estava faminta.Em vez de um cachorro-quente ou de um hambúrguer, Mike apareceu com duas imensas coxas de peru e duas grandes fatias de um pão redondo.— Não havia mais nada no cardápio — Mike desculpou-se. Ele se sentou ao lado de Clare e começaram a comer.A carne estava dura e seca. Quando Clare tentou alimentar o cachorro com um pedaço, ele virou a cabeça e voltou a se deitar para dormir.Mike e Clare entreolharam-se e riram.— Tobby está acostumado com bifes suculentos — Clare disse.— E eu com perus recheados e tenros no dia de Ação de Graças.— Adoro recheio de framboesa — Clare contou. Mike fechou os olhos e suspirou. -— Eu também.— E torta de abóbora e de batata-doce.— São as minhas preferidas.Mike mordeu mais um pedaço de carne e tomou um grande gole de cerveja para ajudar a descer. Estava ansioso pelo final do dia e por uma boa refeição na hospedaria.— E de pãezinhos quentes com manteiga? — Mike sugeriu.— Oh, eu adoro! — Clare exclamou. — A propósito, ganhei uma máquina de fazer pão no Natal.

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEEla é ótima. Além de diversos tipos de pães, prepara massas para pizzas.— Você faz pizzas em casa? — Mike perguntou, surpreso.— Com freqüência. Minha especialidade é a pizza Clare.— Como é? — Mike quis saber, interessado.— Depende do que tenho em casa — Clare brincou. — Às vezes queijo com tomate, outras atum com azeitona ou calabresa com cebola. — Clare detestava presunto canadense e abacaxi, mas não disse nada. Não queria que Mike relacionasse o abacaxi com a pina colada.Conversaram sobre suas preferências culinárias por um longo tempo e descobriram que tinham muitos gostos em comum. Inclusive a cozinha italiana e a chinesa.O assunto mudou mais tarde para os restaurantes, boates e filmes preferidos e depois para programas de televisão. Mais tarde, discutiram eventos políticos e religião.Parecia incrível a Clare que fossem tão parecidos em matéria de opiniões e tão diferentes com respeito a passatempos.Ambos desistiram de comer as coxas de peru antes de chegarem à metade;— Que tal explorarmos o espaço atrás do castelo? — Mike propôs.Clare levantou-se de imediato. A roupa estava apertando demais na barriga após a tentativa de almoçar.— Eu levo o cachorro, assim você pode descansar — Mike ofereceu.Clare chamou Tobby, mas ele não atendeu. Ela inclinou-se para olhar sob a mesa. Não estava. Preocupada, Clare ajoelhou-se..— O que foi? — Mike imitou-a.— Tobby desapareceu.— Ele deve estar por perto. Calma.— O que faremos? — Clare perguntou, em pânico. Sua mãe a mataria se algo acontecesse a seu mascote.Procuraram sob as mesas vizinhas, sem parar de chamar Tobby pelo nome. Algumas pessoas olhavam para eles de modo estranho. Isso os fazia sentirem ainda mais ridículos.Tobby insistia em permanecer desaparecido. Clare não o culpava. Ela própria estava pensando em fugir daquele lugar.Mike estava sentindo dificuldades em se controlar. O que dera no maldito cachorro para sumir no meio daquela multidão? Desse jeito, seu tão esperado fim de semana com Clare ficaria arruinado.Depois de percorrerem todas as mesas, voltaram à inicial. Clare desabou sobre o banco.— E agora, Mike? O que faremos?Mike sentou-se ao lado dela e a fez deitar a cabeça em seu peito.— Não se preocupe. Pensarei em algo.Clare suspirou. Acreditava em Mike. Ele tinha o dom de tranqüilizá-la como ninguém. Algo lhe dizia que sempre poderia contar com seu apoio.Um estranho rosnado os fez virarem para trás ao mesmo tempo.Lá estava Tobby

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEmordendo uma caneca.Mike apressou-se a pegá-lo.— Acho que ele está bêbado.— Bêbado? — Clare repetiu, espantada. — Só me faltava essa!Um sorriso curvou os lábios de Mike.— Ainda bem que haverá tempo para ele recuperar a sobriedade até segunda-feira.Clare olhou para o cachorro que já havia adormecido no colo de Mike e pôs-se a rir. Mike não pôde evitar acompanhá-la. Riram até sentirem lágrimas nos olhos.Nenhum dos dois saberia dizer se o riso era de alívio ou de horror à perspectiva de serem obrigados a enfrentar mais uma tarde e o dia seguinte inteiro dentro daquela feira.— Sr. Mike Jacoby, queira, por favor, apresentar-se no castelo — disse uma voz ao alto-falante.Clare, agora com Tobby no colo, olhou, surpresa, para Mike.— Ouviu isso?— Sim. O que será que querem comigo? Estavam caminhando havia horas. Clare mal conseguia se agüentar de pé.— É melhor verificar.Mike ofereceu-se para carregar o cachorro mais um pouco e juntos se dirigiram ao local.— Olá. Sou Mike Jacoby — Mike se apresentou. Uma mulher de cabelos grisalhos, com uma coroa, sorriu.— Dee, ele está aqui — ela disse. — Traga o aparato. Meu jovem, você foi o vencedor.— Vencedor? De quê?— Do sorteio, é claro.Mike olhou para Clare e sorriu. Ao menos haveria alguma recompensa.— O que foi que ganhei?— O privilégio de participar no principal torneio da feira.

Mike estava ouvindo os gritos de Clare sobre os da platéia. Queria que alguém lhe dissesse que iria sobreviver apesar de estar se sentindo como se tivesse sido atropelado por uma locomotiva.Jamais entenderia como fora parar no meio de um torneio.Procurou não se mover quando os paramédicos o ergueram para colocá-lo em uma maca. Sua única certeza era de que o tornozelo estava fazendo-o ver estrelas.Bem feito para ele! Quem mandara exibir-se para Clare, tentando convencê-la de que era seu cavaleiro em uma luzidia armadura? Por que não cedera seu prêmio a outro? Chegara a pensar em fazê-lo, mas Dee o convencera de que era uma honra participar. Poucos conseguiam aquele privilégio. E ele era orgulhoso demais para recusar um desafio.Além disso, o que poderia acontecer de errado? A armadura que teria de usar era forte o bastante

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEpara impedir que se machucasse com a lança do adversário. Não poderia imaginar que o outro não sabia que ele era um iniciante no esporte.Tratado com duas aspirinas e uma compressa gelada no tornozelo, Mike foi dispensado de maiores cuidados.Saiu de campo entre assobios e aplausos.

CAPÍTULO VII

Mike tocou a sineta sobre o balcão pela -terceira vez e olhou, constrangido, para Clare. O tornozelo e a cabeça doíam. Que azar o seu! Como pudera lhe acontecer isso no que deveria ser o melhor fim de semana de sua vida?— Como está se sentindo? — Clare perguntou. Antes que ele respondesse, ela tocou-o no pescoço e massageou-o delicadamente.— Bem — Mike mentiu. Mas a idéia de uma massagem era bem-vinda. Seria ótimo se Clare se oferecesse para fazê-la em seu quarto.Uma mulher, vestida com um robe atoalhado, se apresentou. Não parecia estar de bom humor. Ao vê-los, examinou-os da cabeça aos pés. Clare parou imediatamente com a massagem.— São casados?Eles negaram com um movimento de cabeça.— Temos regras neste estabelecimento. Se não são casados, esqueçam a diversão. Nada de visitas durante a noite. Entenderam?Clare mordeu o lábio e fez um sinal afirmativo com a cabeça.— Fiz reservas — Mike declarou. — Meu nome é Mike Jacoby.A mulher folheou um caderno.— Sim. Está aqui. — Ela entregou duas fichas e pediu que as preenchessem. Ao final, comparou as assinaturas com as constantes nos respectivos cartões de crédito e entregou as chaves. — As regras também proíbem ouvir música em volume alto, cozinhar no quarto e trazer animais de qualquer espécie para dentro do estabelecimento.Mike assentiu. Ainda bem que haviam deixado Tobby adormecido no carro.— Um aviso — a mulher continuou. — Estou à disposição dos hóspedes até às nove horas. Se precisarem de algo, portanto, peçam antes desse horário.Mike apanhou as chaves e cochichou para Clare enquanto se afastavam:— Também é proibido correr pelos corredores e cuspir no chão.Clare deixou escapar uma gargalhada. A mulher chamou-os. Aparentemente, ainda tinha algumas regras para ditar.— Façam silêncio. A hospedaria está lotada. Não quero ser obrigada a chamar a polícia para manter a ordem.__ O que faremos com Tobby? — Mike indagou quando chegaram ao carro. — Como passaremos pela recepção sem que ele seja notado? — Não sei — Clare confessou. — Minha mãe não nos perdoaria se o deixássemos dormindo sozinho no carro.Mike

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEbalançou a cabeça.— Eu teria enorme prazer em levá-la para outro hotel, mas temo que estes sejam os últimos dois quartos disponíveis na cidade.Clare tirou o chapéu e sacudiu os cabelos.— Não se preocupe. Não pretendo ligar nenhum rádio esta noite nem cozinhar no quarto.— Nem fazer visitas noturnas? — Mike brincou.— E correr o risco de ser presa?— Poderia valer a pena — Mike murmurou, convicto.

Enquanto Mike tirava as sacolas do carro, Clare vestiu um casaco e escondeu Tobby junto ao peito. Subiram para os quartos sem olharem para os lados.Como o quarto de Mike era o primeiro do corredor, ali entraram. Ele colocou as sacolas no chão e Clare deitou Tobby sobre a cama.— Uau! — Clare exclamou. — Não esperava que a decoração fosse tão bonita. Aposto que a mulher da recepção não teve nada a ver com a escolha.Aconchegante e confortável, o quarto apresentava uma cama de dossel coberta por uma linda colcha feita à mão. Havia um pequeno sofá junto à janela coberto por almofadas coloridas e fofas. As janelas exibiam cortinas de renda branca e proporcionavam uma vista espetacular do vale. O papel de parede era delicado e a estampa floral.— Não esperava por isso — Mike admitiu.— A idéia que fazia era de algo medieval como a feira.— Espero que meu quarto seja tão bonito quanto o seu — disse Clare.O sorriso de Clare desapareceu quando viu Mike mancar e se sentar pesadamente no sofá. Pobre querido. Fora um dia difícil. No momento que ele caíra do cavalo, temera por sua vida. Jamais sentira tanto medo de perder alguém. Não sabia se gritava ou se rezava para que ele estivesse bem.Não podia perder Mike. Não quando estava começando a se apaixonar de verdade por alguém. Dera graças a Deus quando Mike fizera menção de se levantar.— Tem certeza de que está bem? — perguntou.— Oh, sim. Nada que um bom banho não resolva. — Ele lhe piscou. — O que me diz de trocarmos de roupa e sairmos para comer algo decente?O sorriso voltou aos lábios de Clare. — Seria maravilhoso. Aonde iremos? Mike tirou o fone do gancho.— Talvez o general lá embaixo possa nos sugerir um restaurante.Clare admirou-o. Mike era um homem corajoso.— Alô? Fala Mike Jacoby, do quarto número cinco. Poderia nos indicar algum bom restaurante, por acaso?Clare notou que Mike afastava o fone do ouvido.— O que pensa que é isto? Uma agência de turismo? Mike olhou, espantado, para o telefone e desligou.— Acho que teremos de descobrir sozinhos. Tobby está dormindo. Não creio que vá fazer

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEalgum barulho enquanto estivermos fora.— Espero que não. Agora irei para meu quarto. Estou ansiosa para trocar de roupa. Aproveite e descanse um pouco.No quarto ao lado, quase idêntico ao de Mike, Clare se despiu em meio a profundos suspiros de alívio. Usaria algo prático para variar. Escolheu uma saia jeans curta e um suéter cor-de-rosa, na esperança de que Mike não fosse levá-la a um restaurante luxuoso. Depois escovou os cabelos e retocou a maquilagem.Não precisou bater à porta. Mike estava esperando-a junto à escada. Ao vê-lo, Clare sentiu o coração bater mais forte. Como era bonito! Os cabelos tímidos pareciam ainda mais escuros em contraste com a camisa pólo branca. E a calça cáqui em estilo casual combinava com a roupa que ela havia escolhido.De mãos dadas, dirigiram-se ao estacionamento.— Dei alguns telefonemas — Mike contou — e descobri um pequeno lugar chamado Old English Pub, não muito longe daqui. A informação que me deram é que fazem um delicioso peixe com batatas. — Ele tornou a piscar. — Pensei em irmos a pé.Clare olhou para o céu sem nuvens e para seus tênis. Dessa vez estava preparada.— Concordo — respondeu e olhou para os pés de Mike, também de tênis. — E seu tornozelo? Mike respirou fundo. — Está em ordem.Clare preferiria mil vezes ir de carro, mas não tiraria o prazer de Mike em caminhar por nada no mundo. Além disso, a noite estava quente e perfumada de flores e de grama recém-cortada e as primeiras estrelas estavam se anunciando.Conversaram sobre tudo e sobre nada em especial, cada um deles intimamente satisfeito por estar em companhia do outro. Sem instrumentos, sem drinques e nem roupas exóticas!Para alegria de Mike, o restaurante ficava mais perto do que calculara e parecia um local saído das páginas de um conto de fadas. As mesas ficavam ao ar livre em meio às árvores em flor. Ao fundo, um quarteto tocava música de câmara.Sentaram-se a uma mesa isolada. Mike não conseguia afastar os olhos de Clare. Ela estava linda à luz das velas, distraída com o cardápio.— O que irá pedir? — ela perguntou a Mike.— Coxas de peru — Mike brincou. — A especialidade da casa — ele disse. — Peixe com batatas. E você?— O mesmo — Clare respondeu e suspirou. — Estou muito feliz por estar aqui com você. Fiquei preocupada quando o vi caído em meio ao torneio.— Para ser franco, eu também fiquei — Mike admitiu.— É bom vê-lo aqui em perfeitas condições e não com o pé engessado em uma cama — Clare continuou.— Estou bem — Mike garantiu. Agora era verdade. Estava se sentindo ótimo. Nunca estivera melhor. — Conte-me — ele pediu, de repente, ansioso por se mostrar

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEinteressado. O bilhete, afinal, mencionara a tal feira medieval. — O que sabe sobre o poeta que é dono do local onde está acontecendo a feira?Clare pestanejou. Teria lido algo a respeito nos livros que Lucy lhe emprestara?— Sinto muito, mas não sei nada sobre ele.Se, ao menos, Mike tivesse lhe perguntado algo sobre os reis! E agora? Como esperava conquistar alguém culto como Mike com essa demonstração de ignorância?— Nem eu. Nunca ouvi falar sobre o sujeito — Mike declarou, feliz por não ser o único ignorante no assunto. — Perguntei porque sei que você gosta desse tipo de coisa.Clare cogitou perguntar de onde Mike tirara a idéia de que ela gostava de feiras medievais e de poetas, mas o garçom se aproximou naquele exato momento com o peixe e as batatas e a curiosidade foi esquecida. Jamais revelaria a Mike, em sã consciência, que não entendia nada de poesia e de poetas.— Adoro peixe com batatas — disse.— Eu também. Em especial com catchup — Mike afirmou ao mesmo tempo que regava o prato com o molho.— E eu com catchup e molho tártaro.Era incrível, Clare pensou. Se não fosse pela inclinação à música e bebidas exóticas e caminhadas sob a chuva, eles tinham quase tudo em comum.A caminho dos quartos, Clare teve certeza de nunca ter se divertido e gostado tanto de uma companhia masculina em sua vida. Não se lembrava de ter rido com tanta vontade e de ter se sentido tão atraída por um homem antes.Ele parou antes de entrar no próprio quarto e olhou-a. Em seguida estendeu a mão e tocou-a no pescoço.— Diverti-me muito esta noite.— Eu também.Dessa vez não houve nada de estranho com o beijo de boa-noite que trocaram. Como se tivessem esperado por aquele momento durante suas vidas inteiras, uniram-se em um abraço e beijaram-se com entrega total.Subitamente, o corpo cansado e o tornozelo machucado de Mike recuperaram o vigor. As sensações que experimentava, tanto físicas quanto emocionais, jamais haviam sido provocadas por outra mulher antes.Ele a amparou nos braços e a acompanhou até seu quarto sem interromper o beijo nem sequer por um segundo.Quando finalmente se separaram, Mike a segurou pelos braços e olhou no fundo dos olhos como se precisasse saber o quanto ela também o desejava.— Estou correndo um sério risco de infringir a lei imposta pelo general da hospedaria — Mike sussurrou e foi obrigado a se calar porque Clare pôs-se a mordiscar o lóbulo de sua orelha. — Você não está me ajudando, Clare. Aliás, está dificultando minha situação... — Ele a prendeu contra a parede do corredor e lhe deu mais um beijo ainda mais longo e ardente.— Desculpe — Clare murmurou, ofegante.Mike sorriu e soltou-

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEa muito devagar. Clare era especial demais para ele para arriscar-se a perdê-la por forçar o relacionamento. Haveria tempo para isso mais tarde, depois que se conhecessem melhor. Por outro lado, do jeito que ele estava se sentindo, uma relação completa não tardaria. Se não fosse um homem seguro de si, aliás, já estaria pensando que havia se apaixonado por Clare. O que seria um absurdo. Como poderia se apaixonar por alguém cujas preferências em matéria de diversão eram um completo desastre?Clare tirou a chave do bolso e introduziu-a na fechadura. Quando virou-se para ele e sorriu, daquele jeito que só ela sabia, Mike suspirou.— Boa noite e obrigada pelo dia. Foi muito interessante e divertido. — Clare deteve-se e franziu o cenho. — Tem certeza de que Tobby deve ficar em seu quarto?— Não haverá problema. Ele está dormindo. Para que acordá-lo?— Bem, então, até amanhã.— Até amanhã.Mike esperou que Clare entrasse no quarto e fechasse a porta. Então procurou a própria chave nos bolsos. Estranho. Ela não estava em parte alguma. Onde poderia tê-la deixado? No restaurante? Não. De repente, lembrou-se. A chave estava dentro do quarto, sobre a mesa-de-cabeceira.Consultou rapidamente seu relógio de pulso. Passava das nove. O que faria? Olhou para um lado e para outro do corredor. Havia uma pequena janela sobre a porta. Se ainda fosse criança, talvez pudesse entrar no quarto através dela. Mas com sua altura e conformação física seria impossível.Precisava se acalmar ou não conseguiria raciocinar.Cinco minutos depois resolveu chamar Clare. Talvez ela tivesse alguma idéia.— Clare? — ele chamou após bater de leve à porta.— Sim?Ela já havia se trocado. Estava usando um lindo baby-doll. Ele engoliu em seco. Daria tudo para esquecer a chave, naquele instante, e comprovar se a pele de Clare era tão macia quanto parecia à luz dourada do abajur.— Eu... estou sem minha chave. A porta foi aberta de par em par.— Perdeu-a?— Não. Deixei-a sobre a mesa-de-cabeceira. São mais de nove horas. Não posso pedir que a recepcionista venha abrir a porta com uma chave extra.Clare sorriu.— Não. A menos que esteja preparado para ser linchado. Mike retribuiu o sorriso.— Não estou. Já caí do cavalo hoje. Tive emoções fortes o suficiente.Subitamente, Clare teve uma idéia.— Você se surpreenderia se visse os truques que minha mãe ensinou Tobby a fazer. Talvez eu pudesse falar com ele pelo vidro sobre sua porta. Pedirei que coloque a chave sobre uma folha de jornal que introduziremos sob a porta.Mike esfregou o queixo.— Não custa tentar — disse, cético.Clare voltou pé ante

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEpé para seu quarto em busca de um jornal. Não encontrou nenhum. Uma folha de papel de carta teria de dar conta do recado. Era pequena, mas melhor do que nada.Antes de voltar ao corredor, cogitou se não deveria colocar uma roupa menos sensual, mas achou melhor não perder tempo.Introduziu o papel de carta sob a porta e olhou para Mike.— Acha que consegue me levantar? — Após a queda que Mike sofrera aquele dia, era de espantar que estivesse de pé. Mas aquela seria a única solução. Por mais que desejasse, ela jamais conseguiria erguê-lo.Mike olhou para Clare e mais uma vez engoliu em seco. Não perderia a chance de colocar as mãos naquele corpo mesmo que fosse parar em um hospital depois.— Claro que sim. — Ele se colocou por trás de Clare, segurou-a pela cintura. — Vou contar até três —. sussurrou.— Ok. Contaremos juntos. Um... dois... trêssss! — Clare sentiu que voava. Seus pés perderam o apoio do chão. Ela precisava apoiá-los em algum lugar. O primeiro que encontrou foram os ombros de Mike. — Oh, desculpe — murmurou quando sentiu que batera nas orelhas. — Não pretendia machucá-lo ainda mais. — Céus! Como Mike era forte. Erguera-a como se fosse uma pena, apesar de ela ser uma mulher alta para a média.— Tudo bem. Você não me machucou — Mike garantiu embora tivesse certeza de que seu tornozelo terminara de se partir de vez. Mas o que isso importava? Ele estava segurando as pernas mais lindas que já vira. Só lamentava não estar em posição de apreciá-las ainda mais.— Tente ficar parado — Clare murmurou. — Está escuro lá dentro. Pena você não ter deixado a luz acesa.— Tentarei me lembrar da próxima vez — Mike resmungou.— Tobby, aqui! Venha, menino. Venha com a tia Clare. O cachorro latiu.— Psiu, Tobby. Silêncio. Os latidos continuaram.— Ele está vindo ou não? — Mike quis saber. Mais um instante e seus músculos cederiam.— Não tenho certeza. Meus olhos ainda não se acostumaram à escuridão. — Clare colou o nariz ao vidro e tapou as laterais dos olhos com as mãos para afastar a luz do corredor. — Oh, não...— O que houve? — Mike perguntou e deslizou as mãos pelas pernas de Clare para equilibrá-la melhor, como medo de deixá-la cair.— Acabo de me lembrar que você prendeu a guia sob o pé da cama.Mike cerrou os olhos e os lábios para não praguejar. Antes que tornasse a abri-los, sentiu as pernas de Clare enrijecerem ao contato de suas mãos.— Oh, não!— O que houve agora?— Alguém está vindo!Os pés de Clare

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEvacilaram sobre seus ombros de uma maneira incrivelmente dolorosa. Por um segundo, ele teve certeza de que ambos cairiam esparramados no corredor.Uma mulher estava caminhando pelo corredor. Deveria estar se dirigindo ao banheiro comunitário, pois levava consigo uma toalha e uma escova de dentes.— Não entre em pânico — Mike ordenou entre os dentes ao mesmo tempo que fazia Clare sentar-se em seus ombros e depois se inclinava para que ela descesse.— Por que deveria? É normal encontrar hóspedes pelo corredor fazendo o que fizemos, não? — Clare retrucou com os nervos em frangalhos. — E agora? Tenho certeza de que ela irá nos denunciar pelos latidos de Tobby. Estamos em uma grande encrenca, Mike.— Boa noite — a mulher cumprimentou e colocou os óculos que estavam presos a seu pescoço por um cordão para examiná-los melhor.— Boa noite — responderam juntos. Clare tentou explicar.— Tobby detesta ficar sozinho.A mulher fez um movimento com a cabeça.— Meu marido também. Com licença.Clare e Mike entreolharam-se e suspiraram de alívio quando a mulher seguiu em frente.— E agora? — Clare perguntou.— Eu poderia dormir na banheira depois que aquela senhora desocupar o banheiro — Mike sugeriu,— Oh, sim. Aposto que os outros hóspedes adorariam ter sua companhia ressonante quando precisassem usar o local. — Clare puxou-o para dentro de seu quarto. Não havia opções. Mike teria de passar a noite ali. Afinal, não teria com o que se preocupar. No estado que ele estava, não correria perigo de infringir as regras da casa. — Fique com a cama. Eu dormirei no sofá.— Não posso concordar — Mike recusou. — Eu dormirei no sofá.— Eu insisto. Você não está em condições de dormir mal acomodado.Mike foi obrigado a desistir de teimosia. Clare estava certa. Ele não estava em condições nem sequer de dormir na cama.— Está bem. Então dormiremos os dois na cama. — Mike sentou-se e examinou o tornozelo que estava inchado e terrivelmente dolorido. — Garanto que estará segura comigo. Esta noite, ao menos.Clare sentiu uma imensa ternura. A dor deveria estar matando-o e ele não se queixava.— Talvez devêssemos procurar um médico.— Amanhã estarei bem. Só preciso descansar por alguns minutos.Um gemido escapou dos lábios de Mike quando ele se deitou.— Acho que tenho uma aspirina em minha bolsa — Clare lembrou.— Aceito de bom grado.Depois de dar a aspirina com água a Mike, Clare cobriu-o com o lençol. Estava pensando em se deitar nos pés da cama quando ouviu um barulho abafado vindo do outro quarto. Era Tobby. Ele estava rosnando e arranhando o chão com as patas.

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANE— Será que ele está bem?— Não sei — Mike respondeu, preocupado.O barulho começou a aumentar. De repente ouviram um baque e fez-se silêncio.Mike se sentou. Os dois se entreolharam e fizeram um movimento com os ombros. Estavam de mãos atadas. Tobby precisaria passar a noite sozinho, custasse o que custasse.— Logo ele voltará a pegar no sono — Mike tentou acalmá-la e tornou a se deitar.Clare acomodou-se ao lado de Mike. Seria difícil conciliar o sono. Não conseguia parar de pensar no dia que tiveram juntos. Era estranho, mas nunca se sentira tão íntima de alguém. Nem sequer de Beau. E Mike e ela ainda mal se conheciam.Por que se sentia assim? Mike era muito diferente dela. Seria uma dessas mulheres que sempre escolhem os homens errados? Como sua mãe?Não queria pensar. Virou-se de bruços e escondeu a cabeça sob o travesseiro.— Clare?— O que foi?— Só queria que você soubesse que não esqueci a chave de propósito.Ela sorriu sob o travesseiro.— Eu sei.Era verdade. Aquela era uma das certezas que tinha a respeito de Mike. Além de bonito e gentil, ele era honesto. Reunia todas as qualidades que mais apreciava.

CAPITULO VIII

__ Bom dia — Clare murmurou ao deparar com Mike, apoiado sobre um cotovelo, olhando para ela. Apressou-se a passar a mão pelos cabelos. Deveria estar horrível. Mas, afinal, Mike estava acostumado a vê-la horrível. Todos seus encontros pareciam ter como objetivo o esquecimento da vaidade.— Bom dia — ele respondeu com um sussurro. — Por que estamos falando assim? Mike sorriu e virou-se de bruços.— O que acha que a sra. Griswold faria conosco se descobrisse que infringimos duas de suas regras?Clare sentou-se sobre as pernas.— Ao menos não cozinhamos no quarto.— Por pura falta de oportunidade.— Bem, como faremos para ir a seu quarto? — Clare quis saber. — Estava pensando nisso. Irei até a recepção e direi que fiquei trancado do lado de fora quando fui ao banheiro. Espero que ela simplesmente me forneça uma cópia da chave e não insista em abrir a porta em pessoa. Se minha sorte continuar, não

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEhaverá nenhum comentário sobre a cena da noite passada no corredor ou re-clamações sobre os latidos de Tobby.— Você está se sentindo com sorte, apesar de tudo? — Clare ironizou.Mike fitou-a por um longo tempo. Havia um sorriso significativo em seus lábios.— Sim. Estou com muita sorte.A sorte realmente parecia estar com eles. A sra. Griswold limitou-se a dar um suspiro de impaciência ao ouvir o relato de Mike e a lhe emprestar uma chave sobressalente. De acordo com as aparências, seu sono havia sido profundo na noite anterior e nenhum ruído chegara a seus ouvidos.E Tobby, apesar dos latidos e barulhos que fizera com as patas, não havia estragado nada no quarto, exceto uma das penas do chapéu medieval que Mike alugara.Apesar dos pesares, tudo correra bem, Mike pensou ao sentar-se à mesa do café em frente a Clare. Até mesmo sua perna estava melhor.Mesmo que não estivesse, o fato de ter acordado ao lado dela já era um prêmio. Compensava todos os sacrifícios que fizera. A queda do cavalo, o tratamento pouco cordial da sra. Griswold, o almoço terrível, chegavam a soar divertidos agora.Clare era adorável até mesmo quando levava a xícara de café aos lábios. Ela estava distraída. A curiosidade o fez acompanhar seu olhar.— Algum problema? — ele quis saber. Clare negou com um movimento de cabeça.— Não. Apenas acabo de ver a senhora que nos surpreendeu no corredor ontem à noite. Ela está com o marido.— E parece que estão vindo em nossa direção. Clare e Mike pararam de falar quando o casal se aproximou.— Vocês estão bem? — a mulher perguntou. — Nós ouvimos uns barulhos estranhos em seu quarto durante a noite.— Sim, obrigada — Clare respondeu. — Isso sempre acontece quando Tobby fica muito tempo amarrado.A mulher arregalou os olhos.— Oh?— Desculpe se ele a perturbou — Clare prosseguiu.— Estava com saudade da mãe. Quando isso acontece, reclama até adormecer.A mulher trocou um olhar com o marido. Ele piscou para Mike.— Eu o vi ontem no torneio. Aceite meu conselho e dê preferência a outro tipo de esporte.Com uma risadinha, o homem se afastou com a mulher e se sentou à mesa ao lado.Clare e Mike se apressaram a terminar o desjejum.

Na segunda-feira, Mike encontrou Sam, Bart e Roger tomando café quando chegou à oficina.— Como foi? — Bart quis saber.Mike puxou uma

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEcadeira e sentou-se ao contrário. Cruzou os braços e apoiou-os sobre o encosto. No mesmo instante, descruzou-os e levou as mãos à nuca e aos om-bros ainda doloridos da queda.— Você está despedido. Bart deu uma gargalhada.— Tão ruim assim?— Pode apostar nisso — Mike confirmou e prosseguiu com a narração de sua breve incursão como cavaleiro armado que provocou ainda mais gargalhadas.— Confesso que já sabia sobre seu feito — disse Bart. — Meus filhos me contaram. Parece que você foi o assunto principal da feira.— Não sabe o quanto fico feliz em saber que fui o palhaço da festa — Mike respondeu, sarcástico. — Por outro lado, Bart, meu amigo, não tenho nada contra seus filhos, mas juro que o pessoal que vi naquela feira é muito estranho.— Essa é a razão principal por eles irem a essa feira todos os anos. Trata-se de uma diversão incomum.— E você, Mike? — Sam indagou. — Pretende voltar todos os anos?— Uma vez foi mais do que o suficiente para mim — Mike declarou e tirou do bolso o bilhete de Clare. Colocou-o sobre a mesa e alisou-o. — Acho que só falta levá-la a um evento sobre poesia moderna.Roger acendeu um charuto e deu uma baforada para o alto.— Minha esposa também é uma aficionada desse gênero de literatura. Freqüenta as reuniões da Sociedade dos Poetas Modernos todas as sextas-feiras. Como pretendemos viajar este fim de semana, os ingressos não serão usados. Por que não leva Clare?Mike levantou-se no mesmo instante e tirou o fone do gancho.— Antes preciso verificar se ela está livre.— Caramba! — Sam exclamou. — Você deve estar realmente apaixonado por essa mulher. Já pensou em pedi-la em casamento?— Para ser franco, sim. Afinal por que deixar que algo tão pequeno quanto "não haver nada em comum" nos impeça?

Clare olhou ao seu redor. Estavam no hall da biblioteca principal de Seattle e a elegância imperava. Todos estavam vestidos a rigor. As mulheres exibiam peles e diamantes. Os homens estavam de terno e gravata, sem exceção. Isto é, fora ela e Mike. De jeans e jaqueta de náilon, estava se sentindo mais desconfortável do que se estivesse sem roupas. Seu único consolo era olhar para o perfil sisudo de Mike. Era óbvio que ele também estava se sentindo como um peixe fora d'água.As luzes piscaram pela segunda vez anunciando o início da apresentação. A pequena multidão dirigiu-se a seus assentos.Mike e aquelas pessoas não combinavam, Clare pensou. Ele lhe parecia muito mais do tipo que apreciava eventos esportivos do que poesias modernas. Em todo caso, o importante era estar com ele e manter a mente aberta. Como das outras vezes,

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEdaria o melhor de si para descobrir por que Mike considerava a poesia moderna interessante.Assim que se acomodaram, Mike ajudou Clare a tirar a jaqueta. Um casal esnobe ao lado olhou para eles com censura. Mike encarou-os e resolveu ignorá-los em seguida. Para que criar um caso? O importante era Clare não ter pulado em seu pescoço quando descobrira que eram os únicos a não estarem usando trajes a rigor.Naquele instante, Clare estava lendo o programa. Deveria conhecer todas aquelas poesias de cor. Imitou-a. Ao menos precisava se inteirar dos nomes das poesias.Clare mordeu o lábio. Quanto mais queria impressionar Mike com seus conhecimentos, mais perdida ficava. Jamais imaginara que ele fosse intelectual a esse ponto.De repente, Mike colocou a mão em seu joelho e apertou-o. O sorriso que lhe deu e o olhar cúmplice que lhe dirigiu fez com que a impropriedade da vestimenta perdesse toda a importância.— Gosto de poesia — Clare murmurou para iniciar uma conversa.— Eu também — Mike respondeu.— Sempre admirei a obra de Bob Dylan — Clare continuou. Ou seria Dylan Thomas? Sempre confundia o cantor com o poeta.Por sorte, um minuto depois, as luzes foram apagadas para apenas um facho iluminar uma mulher no meio do palco.A multidão aplaudiu com entusiasmo. Mike fez o mesmo. Ela também.Os aplausos cessaram e a mulher não dizia nada. Apenas olhava para a platéia como se ela não existisse. Alguns minutos depois, Clare começou a se preocupar. O que estava acontecendo? A poetisa havia esquecido o texto?Subitamente, ela deu um grito e a platéia tornou a aplaudir. Cada linha que dizia arrancava mais aplausos. Certa de que era essa a atitude esperada, Clare fez o mesmo da vez seguinte que a poetisa se deteve. Se fosse possível, ela gostaria que o mundo acabasse naquele instante. Todas as ca-beças voltaram-se em sua direção. Fora a única a aplaudir.Uma onda de calor subiu por seu corpo. Até quando teria de suportar aquele martírio?Alguns minutos depois, suas preces foram atendidas. A mulher se despediu e outro poeta subiu ao palco. Mas sua alegria durou pouco. Ele parecia dizer coisas ainda mais absurdas. Além disso, a música e as luzes que o acompanhavam estavam deixando-a surda e cega.A beira de uma tontura, Clare fechou os olhos e apoiou a cabeça no ombro de Mike. Que perfume! Seria capaz de ouvir alguém recitar a lista telefônica inteira de Seattle se pudesse continuar assim.Por sua vez, Mike estava quase morrendo de tédio. Se não fosse pelas sensações que Clare lhe provocava, com os cabelos acariciando a pele de seu pescoço, com certeza já teria adormecido. O perfume de Clare o inebriava.Uma explosão de aplausos os trouxe de volta de seus devaneios. E ambos, não querendo que o

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEoutro descobrisse a momentânea ausência, aplaudiram e sorriram um para o outro.Mais tarde, quando se sentaram em um café, Clare sentiu que a parte boa da noite estava finalmente começando.Sempre fora literal em seu conceito de vida. Com relação às artes e diversões, nunca se preocupara em investigar sentidos ocultos. Não era freqüentadora dos teatros experimentais. Preferia os bons textos com mensagens explícitas. Obras abertas, cujos finais ninguém conseguia interpretar, não faziam seu gênero.Os intelectuais podiam chamá-la de simples burguesa. Não se importava. Era a verdade. Mas, e quanto a Mike? Seria possível que duas pessoas que viviam em mundos tão distantes em vista aos princípios básicos fossem compatíveis? Seria verdade que os opostos se atraíam? Ou a verdade era que ambos acabariam se cansando um do outro por causa de suas diferenças?Enquanto Mike pedia duas xícaras de chá, ela tentou visualizá-los casados e com uma grande família como sempre sonhara. Seus filhos seriam lindos, parecidos com Mike. Morariam em uma casa velha, bem grande, com uma cerca branca ao redor e um cachorro. Quando ficassem velhos, se sentariam na varanda com os netos no colo e contariam sobre o dia que o vovô participara de um torneio, vestido com uma armadura, e caíra do cavalo, atingido por uma lança.Clare sorriu às imagens de seu futuro como sra. Mike Jacoby. De alguma maneira, nada lhe parecia mais perfeito.Mas em outros aspectos, a idéia era assustadora. Teria forças para suportar os programas sociais que Mike apreciava pelo resto de sua vida? Se tivesse de ouvir música exótica e poemas modernos cada vez que Mike a convidasse para sair, tinha certeza de que acabaria maluca.Voltou à realidade com o sorriso que Mike lhe dirigiu. Havia covinhas em seu rosto. Ela sentiu a pulsação acelerar em suas veias. Era preciso tomar uma decisão. Seria, talvez, a decisão mais difícil de toda sua vida. Mas, embora a atração que sentia por Mike fosse imensa, o receio da vida em comum era ainda maior.Uma forte angústia apoderou-se de seu coração. Como pudera entregá-lo a alguém que não partilhava de seus interesses? Como pudera deixar o amor acontecer? Como pudera se apaixonar por alguém tão diferente de si?E se permitisse que sua vida se ligasse ainda mais à de Mike, a separação seria cada vez mais dolorosa. Precisava dizer adeus antes que fosse tarde demais.Mike ficaria muito magoado quando soubesse que ela fingira em todos os encontros, que odiara todos os programas a que fora levada. Mas, o que poderia fazer? Continuar fingindo e enganando-o?— O que achou daqueles poetas? — ele perguntou como se lesse seus pensamentos.Clare moveu-se na cadeira e tentou esquecer os pensamentos tenebrosos para se concentrar no momento presente. Talvez não houvesse um futuro para ela e Mike, mas estar

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEcom ele naquele café era algo especial.— Incríveis! — exclamou com vigor.— Sim — Mike respondeu. O que mais poderia dizer? Se Clare soubesse que divagara em plena apresentação, jamais o perdoaria. — O poeta, em especial, foi interessante.— Gostei do tom de azul que ele estava usando — Clare disse, sem pensar. — O azul é minha cor favorita.— É? — Ele não sabia disso, mas fazia sentido. Os olhos de Clare eram azuis como o céu. E a jaqueta azul que estava usando caía-lhe maravilhosamente. Aliás, tudo que Clare usava ficava perfeito em seu corpo. Como princesa medieval, jamais a esqueceria. — Acha que meu terno ficará pronto no dia marcado? Estou pensando em passar na loja e aproveitar para vê-la.— Oh, eu havia me esquecido. O terno está pronto há dois dias. Queria avisá-lo, mas estivemos tão ocupados que...— Ótimo — Mike interrompeu-a. — Minha irmã gostará de saber. A festa surpresa para nossa mãe será na próxima semana. Ela fará sessenta anos. Mal posso acreditar. De vez em quando parece uma menina.— Somos do mesmo signo, então. Meu aniversário será na semana seguinte.— Sério? Que dia?— Dois de abril.— Nesse caso, precisamos planejar uma comemoração — Mike sugeriu.Clare enrijeceu. O sorriso congelou em seus lábios. O que Mike inventaria dessa vez? O que estaria se passando em sua mente? Uma noite de sobrevivência em uma floresta?Mas Mike apertou-lhe a mão e Clare esqueceu mais uma vez as preocupações. O que quer que ele tivesse em mente, ela daria um jeito de resolver o assunto mais tarde. Nesse ínterim, aproveitaria os poucos momentos de normalidade que ele estava lhe proporcionando em um simples e delicioso café.Mike segurou o volante e tentou controlar a respiração antes de ligar o carro e voltar para casa, após deixar Clare. Precisava criar uma regra para si mesmo. Ou melhor, uma lei. Beijar Clare e conduzir um veículo em seguida seria algo terminantemente proibido. Os beijos que ela lhe dava eram embriagadores.Sua cabeça e seu corpo latejavam. Nunca sentira tanto desejo por uma mulher. Desde o primeiro momento, Clare havia penetrado em seu sangue. Quanto mais ficava a seu lado, mais a queria. O perfume de seus cabelos, a maciez de suas mãos, o doce sabor de seus lábios nunca lhe pareciam suficientes.Olhou para a porta que se fechara após sua entrada. Fazia uma eternidade que a trouxera para casa e ainda não havia conseguido se recuperar do efeito dos beijos de boa-noite. A essa altura, Clare já deveria estar na cama em seu minúsculo baby-doll. Como queria estar ao lado dela naquele momento e em todos os momentos de sua vida!Nenhuma outra mulher havia correspondido a seus beijos e abraços com tanta paixão. Clare era inteligente, bem-humorada, sexy e linda. Tinha todas as qualidades que desejava encontrar em alguém.Se não a tivesse,

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEacabaria enlouquecendo. Queria que Clare fosse sua esposa. Queria ser seu marido.Mas como, se não podia tolerar a idéia de acompanhá-la naqueles programas o resto de sua vida? O melhor seria tentar esquecê-la de uma vez.Ou então...E se ele lhe propusesse outros tipos de programas? Aqueles que ele realmente apreciava? Não faria mal tentar, faria?

CAPITULO IX

Um cruzeiro? — Mike parou de escrever, colocou a caneta atrás da orelha e olhou, estarrecido, para a irmã. Priscilla queria dar um cruzeiro à mãe como presente de aniversário? Ele estava pensando em algo muito diferente... como um buquê de flores. Mas, bastava notar o modo impaciente com que ela andava de um lado para o outro da oficina para Mike reconhecer que não seria fácil convencê-la a mudar de idéia. Mais cedo ou mais tarde, Priscilla sempre conseguia o que desejava.— Sim, um cruzeiro — a irmã confirmou. — Ryan, Barry e Landon já me deram seus cheques. Eles adoraram minha sugestão.Claro que sim, Mike pensou, irritado. Os três irmãos mais velhos sabiam que argumentar com a irmã significava tempo perdido. Com um suspiro, tirou o talão de cheques da gaveta da escrivaninha e preencheu uma folha.— Obrigada, Mike. Você é um amor — Priscilla agradeceu e guardou o cheque na bolsa. — Agora preciso ir. Não se preocupe com mais nada. Está tudo providenciado para a festa. Até sábado.— De nada. — Mike se levantou e acompanhou a irmã ao carro.— O terno ficou pronto?Mike fez um movimento afirmativo com a cabeça.— Pretendo apanhá-lo na loja esta tarde. A propósito, isso me fez lembrar. Gostaria de levar alguém ao aniversário de mamãe.Priscilla olhou para trás, interessada.— Eu conheço?— Não. Mas ela é...— O quê?— Especial. Muito especial. Receio apenas que o programa não lhe agrade. Uma festa no campo não está em sua lista de preferências.Priscilla arqueou uma sobrancelha.— Não? E o que, então, faz parte de sua lista de preferências? Por favor, Mike. Não vai me dizer que ela é menor de idade, vai?Mike sorriu. Priscilla não conseguiria arrancar dele nenhuma informação sobre Clare. Se soubesse pelo que seu caro irmão vinha passando nos últimos encontros, riria até se cansar.— É uma longa história. Apenas responda se posso levá-la ou não.Priscilla sentou-

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEse atrás do volante.— Claro que pode. Eu também estarei acompanhada por uma pessoa.Como sempre faziam quando Priscilla aparecia na oficina, Bart, Roger e Sam se protegeram quando a viram ligar o carro.— Muito engraçado — ela também respondeu, como sempre. E se afastou com um aceno para todos.— Desculpe — disse Sam a Mike —, mas não pudemos evitar ouvir. Está realmente pensando em levar Clare à festa de sua mãe?— O caso está ficando sério, hem? Já vai apresentar a moça à família?— Sim. Espero que se divirta, embora o programa não seja dos mais exóticos e movimentados.Mike recostou-se na cadeira e impulsionou-a para trás, ficando apoiado apenas em duas das pernas.— Estive pensando. O aniversário de Clare será na semana seguinte ao de minha mãe. Talvez eu possa lhe oferecer uma festa surpresa. Do jeito que ela gosta. Algo que ficará gravado em sua memória para sempre. Assim, quem sabe, conseguirei conquistar o lugar do homem de sua vida.Bart fez um movimento com os ombros.— Quem sabe. Talvez uma festa em homenagem a ela seja o detalhe decisivo. Se quiser ajuda, posso falar com meus filhos. Eles têm amigos que tocam em uma banda. São do tipo que ela gosta: diferentes, cabeludos, tatuados, o pesadelo de qualquer pai. E cobram barato.Sam concordou.— A festa poderia ser aqui na garagem. O espaço é grande e não temos vizinhos para reclamar do barulho.Fascinado com a idéia, Mike pegou um bloco e tirou a caneta de trás da orelha.— Ok, Bart. Você se encarregará da música — anotou. — Sam. Você cuidará da decoração e me ajudará com os convites. — Por último, Mike dirigiu-se a Roger. — E você, companheiro, o que pode fazer por mim?Roger refletiu por um instante.— Minha esposa e um punhado de senhoras de seu círculo social encarregaram-se de uma festa, há pouco tempo, em homenagem a um dos membros da Sociedade dos Poetas Modernos. Parece que o ponto alto da festa foi a apresentação de um grupo de dançarinos de Chippendale.— Nunca ouvi falar — Mike confessou. Mas, com certeza, o grupo deveria ser exótico e se a festa seria para Clare, ela aplaudiria a idéia. — Ok, Roger. Vá em frente.Enquanto caminhava pela loja de departamentos, Mike assobiava uma canção. Estava alegre. Em poucos minutos encontraria Clare.Viu-a de longe. Ela estava atendendo um cliente. Pareceu-lhe mais bonita do que nunca.Como se tivesse pressentido sua presença, Clare olhou para ele.A pulsação acelerou nas veias de Mike no mesmo instante. Estava perdido. Seria capaz de tudo por aquela mulher. Nenhuma outra conseguira envolvê-lo tão

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEcompletamente.A espera de que Clare ficasse livre, andou à esmo pelas seções. Quando a viu sozinha, sorriu.— Oi.— Oi — Clare respondeu, corada. Detestava isso. Por que se portava como uma adolescente cada vez que Mike olhava para ela? Estaria bem? Oh, por que não adivinhara a hora que Mike viria? Teria penteado os cabelos e retocado o batom, ao menos.— Vim buscar meu terno. Acho que já lhe disse que o aniversário de minha mãe será no sábado.— Sim, é claro — Clare respondeu. Mike já lhe havia falado várias vezes sobre a festa. Mas era como se fosse a primeira. Não conseguia raciocinar quando ele estava perto dela, como naquele momento e a fitava como se quisesse beijá-la.Fez-lhe um sinal para que a seguisse até um canto da seção onde ficavam guardadas as roupas que haviam passado por alterações. O terno estava pendurado em um cabide e coberto por um plástico.— Espero que esteja em ordem. Aconselho-o a prová-lo antes do dia da festa, para ter certeza.Mike estava fitando-a com tanta intensidade que, talvez, não a tivesse ouvido.— Certo?— Oh, sim — ele respondeu e pegou o cabide. Em seguida, apoiou-se contra a parede e preparou-se para dizer algo.Clare sentiu o coração bater mais forte. Mike estava sério. O que estaria pretendendo?— Clare, sei que não faz seu gênero de entretenimento, mas eu gostaria de levá-la à festa de aniversário de minha mãe no clube de campo no próximo sábado. Será uma reunião íntima. Apenas alguns amigos e a família. Se não lhe parecer muito monótono, adoraria que aceitasse.Clare sentiu que seus lábios se distendiam em um sorriso. Um encontro normal? No clube de campo? Uma reunião de amigos e familiares? Teria ouvido bem? Ou aquilo era um sonho?Eufórica com o convite, Clare precisou se controlar para não dar um pulo.— Adorarei ir à festa de sua mãe com você.— Ótimo — Mike respondeu e pareceu-lhe estranhamente aliviado. — Posso buscá-la em sua casa por volta das seis e meia?— Estarei pronta — Clare prometeu.Por fim, o sábado chegou. Clare estava nervosa como uma colegial em seu primeiro encontro. Mudou o penteado meia dúzia de vezes até que um coque no alto da cabeça lhe pareceu suficientemente chique para a ocasião.Estava se examinando ao espelho, com seu melhor vestido de coquetel, um modelo azul tomara-que-caia, quando a campainha tocou.Ao abrir a porta, deparou com um Mike em pânico. O que teria acontecido? Bastou acompanhar-lhe o olhar para descobrir. O terno parecia ter sido retirado da lata de lixo do Exército da Salvação.— O que fizeram

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEcom meu terno? — Mike quase gritou ao entrar na sala.O paletó estava cheio de pontas. Em alguns lugares estava curto. Em outros, comprido. Os botões estavam desalinhados. E o colarinho... O que Henry fizera com o colarinho?Se não fosse piorar a situação, Clare teria se entregado a um ataque de histeria. Mas precisava se controlar. Mike já estava em pânico o suficiente. Se a ouvisse rir às gargalhadas naquele momento, com certeza nunca mais o veria.— O que houve? Por acaso seu alfaiate tem problemas de alcoolismo?— É o que parece — Clare respondeu com um fio de voz. Poderia matar Lucy e Henry! Eles sabiam que ela não tinha nenhuma experiência em costura.— O que faremos? — Mike indagou. — A festa terá início em uma hora.Clare consultou o relógio na parede. Se corressem, talvez chegassem à loja antes do encerramento do expediente. Não havia um segundo a perder.— Venha. — Ela pegou a bolsa e encaminhou-se para a porta. A culpa era dela, afinal. Precisava resolver o problema.Uma calça foi passada pela abertura da porta.— Devo entender que não serviu? — Clare perguntou do lado de fora do provador.— Ficou apertada. Estou experimentando outra agora. Pode entrar.Clare entrou e prendeu o fôlego. Mike estava apenas de camisa, meias e cueca. O provador, de repente, lhe pareceu sufocante e os cabides, que trazia pendurados em seu braço esquerdo, muito pesados.— Acho melhor eu sair.Mike tirou os cabides de seu braço e pendurou-os em um gancho na parede.— Bobagem — Mike respondeu. — Uso menos do que isso quando vou à praia.Precisamos ir a praia, Clare pensou. E não pôde evitar um olhar para as pernas peludas e musculosas, bem másculas. Talvez pudessem comemorar seu aniversário em uma. Ainda estava fazendo frio na costa de Washington para usar um maiô, mas o que isso importava? Nada lhe agradaria mais do que passar um dia a sós com Mike, em uma praia tranqüila, comemorando outro ano de vida. Seu único receio era entediá-lo com um programa tão comum.Mike arrumou a camisa dentro da calça e afivelou o cinto. Por último puxou o zíper. Clare sentiu as faces arderem. Não estava habituada a assistir as provas dos ternos por parte de seus clientes.Mike vestiu o paletó e abotoou-o. Depois recuou um passo para se olhar ao espelho.— O que acha?Que minha pressão está subindo perigosamente, Clare pensou. O que achava? Era uma boa pergunta. Achava que Mike estava magnífico naquele terno preto. O caimento estava perfeito. Muito melhor do que o modelo original. Um nó fechou sua garganta. Tentou engolir. Apesar de serem tão diferentes, ela estava completamente apaixonada por ele.— Acho que este terno ficou perfeito em você. — Incapaz de resistir, Clare ergueu os braços e acariciou os ombros de Mike, com a desculpa de estar alisando o paletó.

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANE— Acho que será o homem mais bonito da festa.Mike virou-se e abraçou-a com um sorriso.— Não está dizendo isso somente para me fazer sentir melhor, está?Ela deslizou as mãos pelas lapelas.— Não. Estou sendo sincera.O desejo surgiu e cresceu no fundo dos olhos de Mike. Sem pensar no que fazia, ele pressionou-a contra a parede do provador e beijou-a. No mesmo instante, Clare esqueceu-se do susto que levara com a alteração do terno. Era incrível como Mike a fazia sentir-se bem no círculo de seus braços. Nesses momentos, ela conseguia esquecer todos os absurdos da vida e abandonar-se aos efeitos hipnóticos de suas carícias.Como alguém podia ser tão perfeito e ao mesmo tempo tão incompatível com seus gostos? Era um paradoxo. Mas um paradoxo que ela julgaria mais tarde.A paixão aumentava a cada beijo trocado. A intimidade das carícias os fizeram esquecer o resto do mundo.Mike respirava como se tivesse corrido muitos quilômetros.— Faz idéia do quanto é difícil para mim? — ele sussurrou.— Acho que sim — Clare murmurou e colou ainda mais seu corpo ao de Mike.Vozes estranhas, contudo, os obrigaram a voltar à realidade.— Não sairemos daqui enquanto você não se decidir por um terno, querido! Já estivemos em todas as lojas da cidade. Você não pode levar sua filha para o altar com aquele seu velho paletó de poliéster xadrez!— Acho que precisamos sair daqui o mais depressa que pudermos — Mike disse com um sorriso e deu um último beijo nos lábios de Clare.

Se perguntassem a Clare sua estimativa do número de pessoas presentes à festa, ela diria cem. O ambiente estava alegre e animado. Ao barulho de vozes e riso, somava-se o tilintar dos copos de cristal e os acordes de uma música suave que vinha da pista de dança.Clare suspirou de alívio e de prazer. Por fim uma festa normal, com gente normal. Uma festa de aniversário em família poderia não ser algo glamouroso, mas com vista às noites exóticas que Mike lhe proporcionara, ela estava se sentindo bem como nunca.— Mike, você está atrasado — reclamou uma mulher sofisticada que Clare suspeitou ser a irmã que organizara a festa.— Tive um assunto inadiável para resolver — Mike respondeu e apertou a mão de Clare.— Bem, ao menos está aqui agora — Priscilla declarou e examinou o irmão da cabeça aos pés. — Outro terno?— É uma longa história. Depois eu conto. — Mike se deteve. — Quero lhe apresentar Clare Banning. — Mike soltou a mão de Clare e tocou-a nas costas. — Esta é minha irmã, Priscilla.Priscilla apertou a mão de Clare e sorriu significativamente para Mike.— Já ouvi falar a seu respeito. — Priscilla fez um gesto indicando o clube. — Seja bem- vinda.

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEEspero que nossa pequena reunião não lhe pareça monótona.Monótona? O que o clã Jacoby esperava de uma festa de aniversário?— Tenho certeza de que me divertirei muito. Agradeço pelo convite.— Foi um prazer. — Priscilla notou a chegada de alguém e se desculpou. Antes de se afastar, porém, apontou para uma mesa. — Ryan, Barry e Landon estão ali com as esposas, filhos e com mamãe e papai, Mike. Deve ir até eles e apresentar Clare. Logo mais daremos início ao baile. Até daqui a pouco. Meu amigo parece perdido lá na porta.Mike olhou para o homem alto e loiro, de smoking e balançou a cabeça.— Farei tudo que puder para não apresentá-la ao amigo de minha irmã.— Por quê? — Clare estranhou.— Porque Gregory Throckmorton Trowbridge III é um sujeito que entedia qualquer mortal. Não sei o que Priscilla viu nele.As palavras ecoaram nos ouvidos de Clare como uma ameaça. Ela olhou em direção ao pobre Gregory e sentiu pena. O que a família de Mike diria sobre ela se tivessem a oportunidade de conhecê-la melhor?Priscilla arrastou-o para a pista de dança. Não conseguia parar de observá-los. O homem não fazia seu tipo, mas certamente não merecia ser acusado de despertar o tédio nas pessoas. A verdade era que a família de Mike exigia demais dos outros. Afinal, nem todos gostavam de aventuras como eles.Mike seguiu o olhar de Clare.— Um de meus mecânicos está apaixonado por minha irmã. Ele é um sujeito formidável. Chama-se Sam. Mas ela nunca lhe dará uma chance. Vive dizendo que ele é monótono. Bem, vamos conhecer minha família?Clare fez um movimento afirmativo com a cabeça. Sentia-se como um animal sendo levado ao matadouro. Antes do final da festa, os parentes de Mike provavelmente a estariam chamando de monótona também.Mike seguiu o conselho da irmã e levou Clare direto à mesa onde estavam seus familiares. Ela apertou as mãos de todos, um a um, com um sorriso trêmulo e forçado. Pouco a pouco, contudo, começou a relaxar. A família era como Mike. Simpática e adorável.Não foi difícil descobrir por que todos eram tão bonitos. Era herança dos pais. Ninguém diria que a mãe de Mike estava fazendo sessenta anos. Alegres e felizes, John e Olívia continuavam apaixonados um pelo outro após quase quarenta anos de união.No decorrer da noite, Clare teve a oportunidade de observar os pais de Mike e de conhecê-los melhor. A camaradagem entre eles era invejável. Os interesses pareciam ser todos comuns. Como gostaria que entre ela e Mike acontecesse da mesma maneira. Mas sabia que estava sonhando com o impossível.Por outro lado, parecia incrível que Mike fosse tão diferente dela, quando o via brincando com os sobrinhos. Deveriam ser os olhos da paixão que a levavam a nutrir esperanças de um futuro juntos. Precisava parar de sonhar. No dia que a atração física acabasse, suas diferenças se tornariam insuportáveis.Até aquela noite, tentara fingir que os interesses excêntricos de Mike eram divertidos. Sabia

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEque era uma mentira. Mais cedo ou mais tarde, quando Mike descobrisse o quanto ela era comum, o relacionamento chegaria ao fim.Talvez tivesse sido um erro acompanhá-lo à festa e deixá-lo apresentá-la à família. Gostava demais dele para continuar enganando-o. Não era justo.Seus olhos se encontraram e mais uma vez ela sentiu o coração bater mais depressa. Não fora exagero de sua parte. Mike era o homem mais lindo da festa. Onde encontraria forças para desistir de sua companhia?De repente, Clare sentiu que iria chorar. Não podia. Piscou várias vezes para impedir que as lágrimas fossem derramadas. Aquilo era uma festa. Não seria direito estragá-la. E naquele exato instante, duas das cunhadas de Mike estavam se encaminhando para ela.Mike viu Clare conversando e rindo com as esposas de seus irmãos e sorriu. Agia de maneira natural. Era como se já estivessem casados.Conhecia os pais. Sabia que eles haviam gostado de Clare à primeira vista. E a julgar pelas expressões de suas cunhadas, Clare também havia feito sucesso. Os irmãos, por sua vez, deram-lhe tapinhas nas costas e perguntaram sobre a data do casamento. Era óbvio que todos pensavam que Clare seria a esposa ideal.Ele concordava. Seu único receio, embora grande, era a idéia de Clare sobre diversão.Lembrou-se da festa surpresa que estava planejando para comemorar seu aniversário e suspirou. Ficava cansado só em pensar no que seria preciso fazer para agradá-la. E não seria a última vez. Se continuassem juntos, seria obri-gado a suportar as excentricidades de Clare para sempre.Estava errado. Não seria justo continuar enganando-a daquela maneira. Deixá-la pensar que era o homem com quem ela sonhara. Nada poderia estar mais distante da verdade.Adorava estar ao lado dela como naquela noite. Sua família inteira ficara fascinada por Clare. Inclusive a exigente Priscilla. Mas ele tinha certeza de que a mentira não resistiria a uma vida de casados. Mais cedo ou mais tarde, Clare descobriria a verdade. Que ele era um homem comum e caseiro e quando não mais se sentisse à vontade para levá-lo a seus programas exóticos, se cansaria dele e tudo estaria acabado.O sorriso de Clare era radiante. Ela era, sem dúvida, a mulher mais bonita e de mais classe da festa. Com o vestido de coquetel azul sem alças e os cabelos presos, Clare parecia uma rainha. Ela lhe acenou e ele respondeu. Interessante. Clare parecia estar se divertindo. Mas, talvez, estivesse representando para agradá-lo. Seria pedir demais, se fosse sempre assim?Ele se colocaria de joelhos e a pediria em casamento diante de Deus e de todos os presentes se tivesse certeza de que seria capaz de fazer Clare feliz, do jeito que era. Com seu estilo de vida monótono e tudo. O problema era que sabia que apenas seu amor não seria garantia suficiente para uma vida em comum.Devagar, Mike se dirigiu a Clare para levá-la à pista de dança. Se não havia possibilidade de um futuro para eles, ao menos queria tê-la em seus braços aquela noite e

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEesquecer que não haviam sido feitos um para o outro.No momento que a atraiu de encontro ao peito, Mike fechou os olhos e aspirou o perfume de seus cabelos. Estava completamente apaixonado por Clare.

CAPITULO X

Clare arrumou o bule de chá com as xícaras e um prato de biscoitos em uma bandeja e levou-a para o terraço, onde sua mãe a esperava.— O que houve, querida? — Eva perguntou após soprar o chá de hortelã e tomar um pequeno gole. — Está com cara de quem perdeu o melhor amigo.Uma revoada de gaivotas distraiu-a. Clare mordeu o lábio. Sua vontade era partir com as aves. Não estava com disposição para conversar. Sua vontade era chorar até cansar. Havia chegado o momento de contar a Mike quem ela realmente era. E nesse instante, tudo estaria acabado entre eles. Mike não suportaria a idéia de ter uma namorada que preferia ficar em casa e ler um bom livro a sair com ele para concertos de gaitas de fole, feiras medievais e leituras de poesia moderna.— Conte-me, filha. Deixe-me tentar ajudá-la. E não adianta dizer que não aconteceu nada. Não sairei daqui enquanto não me explicar o que está havendo com você.Irritada, Clare se levantou. O que faria? Teimosa como sua mãe era, tinha certeza de que se mudaria para sua casa, se fosse preciso, para lhe arrancar a confissão.Tornou a sentar-se. Não adiantaria mentir. Seria pura perda de tempo.— Oh, mamãe. Você e Beau estavam certos. Eu sou monótona. — Clare cruzou os braços sobre a mesa e apoiou a cabeça sobre eles para chorar. — Não nasci para aventuras. Tentei e não consegui mudar. Foi uma farsa! Mike acabaria me odiando. Ele merece alguém melhor do que eu. Amo-o demais para obrigá-lo a se acomodar a uma criatura sem graça como eu. Eva serviu mais uma xícara de chá e empurrou-a em direção à filha.— Oh, Clare. Beba mais um pouco. Chá de hortelã é bom para acalmar. Não acha que está sendo dura demais consigo mesma? Não é uma jovem sem graça. E se está se julgando assim, por que não tenta melhorar?— Eu tentei mamãe. Mais do que você imagina. Não posso continuar mentindo. Estou cansada. Sabia que Mike ligou e me convidou para uma corrida de MotoCross no sábado à noite, para comemorarmos meu aniversário? Deus do céu, será meu aniversário! Eu detesto MotoCross!— Minha querida... — Eva murmurou e afagou os cabelos da filha que voltara a chorar. Pela primeira vez em sua vida, não sabia como consolá-la.— Estou apaixonada por Mike, mamãe. Não é horrível? Por mais que o ame, nunca seria capaz de fazê-lo feliz.Eva suspirou.— Você está certa.— Estou? — Clare

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEindagou, perplexa.— Sim. O amor apenas não é garantia de felicidade. Sei o que estou falando. Jamais deveria ter me casado com meus dois últimos maridos. Se pudesse voltar no tempo, não teria me separado de seu pai. Cometi muitos erros. Não gostaria que acontecesse o mesmo com você.— Você não pode fazer nada, mamãe!— Infelizmente não, mas posso dizer que acho Mike um homem maravilhoso apesar de suas excentricidades. Ele é jovem. Dê-lhe tempo para amadurecer. Algo me diz que ele é o homem certo para você.Clare balançou a cabeça.— Você disse o mesmo sobre Beau.O sabor daquele aniversário seria doce e amargo para Clare. Doce porque ela estaria compartilhando mais alguns momentos com Mike, amargo porque seriam os últimos. Por mais difícil que fosse, ela lhe diria adeus aquela noite. Não suportaria prolongar a farsa nem sequer por mais um dia.Seu coração estava oprimido. Não sentia vontade de conversar no carro enquanto percorriam as ruas de Seattle. Não haveria realmente nenhuma maneira de fazer aquele relacionamento dar certo?Não. Ela precisava ser forte. Precisava libertar Mike. Não por si própria, mas por ele. Mike era um homem vigoroso demais para passar o resto de sua vida amarrado a uma corrente simbólica. Precisava de uma mulher que compreen-desse suas necessidades e o acompanhasse em suas aventuras. Alguém que partilhasse de seus muitos e variados interesses. Alguém com o mesmo espírito e a mesma energia.A mera idéia de Mike ter outra mulher nos braços a enlouquecia de ciúme. A vida, de vez em quando, não era nada justa.Um dia, talvez, quando ele estivesse nadando em alto-mar com baleias e golfinhos, pensaria nela com ternura. E ela ainda estaria sozinha. Talvez lendo um livro diante da lareira ou, então, assistindo a um filme na televisão. Ou caminhando pela praia, pensando nele e sentindo saudade.Clare suspirou e cogitou quando seria o momento certo para dizer a verdade sobre si mesma. O quanto antes melhor, decidiu. Antes que a noite terminasse, ao menos.Mike apoiou a mão em seu joelho e apertou-o.— Está muito calada esta noite. Espero que não esteja aborrecida. Prometo não demorar. Pegarei minha moto na oficina e em seguida a levarei para uma nova aventura.Clare forçou um sorriso e voltou a olhar pela janela para que Mike não notasse sua tristeza. Não adiantava continuar a fingir entusiasmo. A decisão estava tomada. Não mentiria mais. Aliás, não entendia como pudera permitir que a relação tivesse chegado a esse ponto. Ela detestava qualquer tipo de traição. E não deixava de ser uma traição o que fizera com Mike.A placa luminosa da oficina de carros importados brilhava contra o céu. Era a primeira vez que Mike a levava ao seu local de trabalho. Interessante. Ela se sentia como se

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEestivesse em casa. A oficina lembrava Mike. Grande, máscula e acolhedora. Um porto seguro. Uma onda de emoção inundou-a quando Mike desceu do carro e lhe abriu a porta.— Venha comigo. Quero que conheça minha oficina.— Gostaria muito — Clare respondeu e aceitou a mão que Mike lhe estendia. Era verdade. Conhecer a oficina de Mike seria a melhor parte daquela noite.Ele tirou uma chave do bolso da jaqueta e destrancou a porta.—Acho que Sam esqueceu de deixar uma lâmpada acesa. — Ele a conduziu para dentro do recinto escuro e afastou-se apenas no momento de pressionar o interruptor.Clare piscou devido ao brilho da luz e também para se refazer da surpresa ao deparar com muitos olhos voltados para ela.— Surpresa! — As pessoas gritaram em uníssono. Em seguida, uma banda ruidosa os acompanhou no Parabéns a Você. As notas estridentes e os alto-falantes ajustados para um volume total provocaram-lhe uma imediata dor de cabeça.— Você esperava? — Mike perguntou com um sorriso tão genuíno que ela não teve coragem de desapontá-lo.— Absolutamente. Você me enganou direitinho! — respondeu aos berros para se fazer ouvir sobre a estridente banda de rock. Ao mesmo tempo em que falava, examinava a decoração do local. Horrível. Seu pior pesadelo parecia ter se transformado em realidade.As pessoas que Mike convidara para a festa pareciam malucas. Para seu espanto, Lucy e Henry estavam presentes e já haviam se dirigido à pista de dança. Tinha certeza de que uma das senhoras era sua mãe. Sim, era ela! E trouxera Tobby também! E a irmã elegante de Mike, Priscilla, estava de mãos dadas com um homem de macacão com uma identificação no peito. Sam era seu nome.Clare sorriu heroicamente, pois sua vontade era chorar. Estava agradecida a Mike pelo trabalho que tivera e pelo dinheiro que gastara para lhe proporcionar aquela surpresa. O problema era que detestava festas surpresa ainda mais do que feiras medievais e poesia moderna.Havia balões coloridos por toda a garagem e faixas de papel crepom. Com peças não mais aproveitáveis de carros, Mike fizera uma espécie de chafariz. No centro do teto havia uma bola de espelho que girava ao som da música e refletia as luzes. Um aparato típico dos anos setenta. O piso havia sido meticulosamente lavado. Não havia nem sequer um sinal de óleo ou de graxa. Mike realmente não medira esforços.— A corrida de MotoCross está fora de cogitação, eu imagino — Clare gritou para Mike. O que era uma pena. De repente, qualquer tipo de corrida soaria tranqüila em comparação com aquele caos.Mike sorriu.— Era apenas uma desculpa para trazê-la para cá.— Entendo.O que ela faria

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEagora? Estava desesperada demais para prosseguir com a farsa mesmo que fosse por mais alguns minutos apenas. Partia-lhe o coração ser a causa de uma desilusão para Mike, mas não podia continuar fingindo ser quem jamais conseguiria tornar-se. Por mais que o amasse.Mike fez-lhe um sinal para que o seguisse. Era impossível conversar com aquele tumulto.Ele a levou para uma outra parte da oficina, onde havia um bolo em forma de castelo com as palavras Feliz Aniversário, Clare. Que todos seus sonhos se tornem realidade. Ao lado, havia um banco de carro repleto de presentes.Mike olhou para ela e apertou-lhe a mão.— Feliz, querida?Clare desejou morrer. Seus olhos se encheram de lagrimas.— Oh, Mike. Não. Não estou feliz.Nunca se sentira mais infeliz em sua vida. Incapaz de continuar falando, Clare pôs-se a correr por entre os convidados e para fora da oficina.

CAPITULO XI

Clare não parou de correr até chegar ao estacionamento. O ar frio da noite penetrava em seus pulmões causando dor devido ao esforço. Mas ela precisava sair do meio daquela algazarra. Precisava pensar. Esperou até recuperar o fôlego e começou a caminhar pela rua à procura de uma placa que lhe indicasse seu paradeiro.Por mais perigoso que fosse caminhar sozinha pelas ruas da cidade à noite, mais perigoso seria voltar à festa. Voltar para Mike. Porque naquele momento nada a atrairia mais do que o ombro amigo e protetor e a voz carinhosa que lhe diria que tudo ficaria bem. Que ele não se importava com suas diferenças. Que queria ficar com ela embora não tivessem nada em comum.Mas ela sabia que as diferenças acabariam matando o amor. Se a festa surpresa que Mike organizara era uma amostra dos eventos sociais que ela teria de suportar pela vida afora, não adiantaria nem sequer tentar.Os passos a levavam para a direção que supunha ser de sua casa. Precisava chegar logo e ficar sozinha para tentar ordenar seus pensamentos.Sentia-se culpada. Como pudera magoar Mike de uma forma tão cruel? Mentira por omissão. Permitira que ele gastasse uma pequena fortuna durante vários fins de semana, fingindo que apreciava seu estilo de lazer. Era uma egoísta. Enganara-o porque gostava de sua companhia apesar das diferenças. E adorava seu sorriso, seu bom-humor e seus beijos.Como sua mãe, seguira a tradição da família e apaixonara-se pelo homem errado. Mas, ao contrário de sua mãe, não levaria o erro adiante. Aprendera isso desde tenra idade. Se um dia se casasse, precisaria ter certeza de que daria certo. Seria para sempre. Mike não a pedira em casamento e nem sequer lhe declarara amor, mas algo lhe dizia que isso não tardaria a acontecer. Lera isso em seus

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEolhares possessivos, em seus sorrisos e em seus beijos.Ao chegar a um cruzamento, Clare parou e esperou que o sinal abrisse para continuar. Nesse momento decidiu que jamais se casaria. Se não pudesse ter Mike, não queria mais ninguém.Mike lutou para abrir caminho em meio à multidão que convidara para destruir sua oficina, em seu inútil afã de conquistar Clare. Quando conseguiu alcançar o estacionamento, procurou Clare por toda parte o não a encontrou.Clare havia desaparecido. Mas, por quê? Por que Clare resolvera ir embora sem se despedir? Aquela era sua festa de aniversário. De mais ninguém! Todos seus amigos estavam lá. Ele fizera tudo o que mais detestava para agradá-la.Preocupado, Mike foi até a calçada e olhou para a direita e para a esquerda. Era perigoso andar pela cidade a pé à noite. Clare não tinha como voltar para casa. Precisava encontrá-la imediatamente. Algo estava errado. Muito errado. Aquela não era a Clare que ele conhecia. Ela poderia estar em dificuldade. Não havia tempo a perder. Seria inútil correr atrás dela. Dessa vez ele pegaria o carro.

Clare deteve-se e olhou para os lados e para trás. Podia jurar que estava sendo seguida. Teria ouvido alguém chamar seu nome?De repente viu Mike do outro lado da rua, fazendo uma conversão proibida. Dois segundos depois ele estava parando seu carro esporte junto à calçada. — Clare! Por favor, Clare, espere.Ela não respondeu. Ele desceu do carro. Ela voltou a andar. Mike seguiu-a e a fez parar.— O que aconteceu? Não gostou da festa?O tom gentil e preocupado foi a gota que faltava. Um choro convulsivo a sacudiu. Ele abraçou-a.— Oh, Mike...— O que foi, querida? Por que está assim?O momento temido havia chegado. O momento da verdade.— Porque está tudo errado. Perdoe-me. Detesto-me pelo que fiz. Sinto muito.— É claro que te perdôo. Não há o que perdoar, afinal. O culpado sou eu. Tudo que fiz foi para tentar agradá-la porque acreditava que era o que você queria.Clare enrijeceu. Um minuto depois, ergueu o rosto banhado em lágrimas para olhar para Mike.— De onde tirou a idéia de que eu queria uma festa como aquela?Mike franziu o cenho.— De seu bilhete. De onde mais?— Meu bilhete? Que bilhete? — De que bilhete ele estava falando? Nunca lhe enviara nenhum bilhete. Muito menos um sugerindo uma festa horrível e barulhenta.Mike olhou para ela em silêncio. Depois tirou um pedaço de papel de dentro da carteira. Entregou-o.— Este bilhete. Eu o encontrei no bolso do paletó que comprei na loja onde você trabalha.

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEO bilhete que escrevera na presença de Lucy e de Henry! Como pudera esquecer? Só que ela havia desistido da brincadeira!Leu o bilhete à luz da rua. Seu estômago deu uma reviravolta. Ela os mataria. — Não fui eu quem escreveu isto — Clare explicou e devolveu o bilhete.— Não? — Mike pareceu perplexo. Em seguida radiante. — Não?— Não — ela confirmou, mais calma. Ao menos Mike não estava furioso. — Foram meus colegas da loja. Eu não suspeitava.— Mas por que eles fizeram uma coisa dessas?— Porque a vida deles é uma brincadeira. Não levam nada a sério. Mas não costumam magoar as pessoas. Com certeza não imaginavam que a história acabaria mal. — Sinto muito, Mike. De certa forma, a culpa foi minha.Mike negou com um movimento de cabeça.— Claro que não. Como essa brincadeira tola pode ter sido sua culpa?— Porque a idéia foi minha no início — Clare confessou. Mike sorriu e afastou uma mecha de cabelos que havia caído sobre o rosto dela, provocando-lhe um arrepio.— Venha. Você está tremendo. — Ele a segurou pelo braço e a levou para o carro. — Vou levá-la para casa. Se quiser, poderá me contar tudo no caminho.Durante o trajeto, Clare resolver contar o que acontecera desde sua separação de Beau. Estava se sentindo sozinha e resolvera escrever um bilhete. Algo muito diferente do que ele recebera. Contou também o que havia escrito no bilhete. A essa altura, Mike estava parando o carro diante de sua casa e acompanhando-a até a porta.— Poderia ficar mais um pouco e entrar para uma xícara de café? — Clare pediu antes de introduzir a chave na fechadura. — Sei que precisa voltar para a festa, mas eu tenho algo para lhe dizer.Mike tirou a chave da mão de Clare e abriu a porta. Esperou que ela entrasse e seguiu-a em direção à cozinha.Enquanto Clare pegava o pó de café, Mike apoiou-se contra a mesa.— Por acaso está se preparando para me dizer que não gosta de pina colada?Clare respirou fundo. Não tinha coragem de encará-lo.— Detesto. As covinhas no rosto de Mike tornaram-se mais acentuadas.— Nem de caminhar na chuva?— Não.— Nem de música exótica? Nem de feiras medievais? Nem de poesia moderna?— Não gosto de nada disso — Clare confessou, cabisbaixa. — Sinto muito, Mike. Meu bilhete dizia que eu gostava de piqueniques no campo, caminhar na praia, ficar em casa e assistir a um bom filme ou ler um livro. Não gosto de aventuras. Sou do tipo caseiro. Não posso evitar. Tentei, mas não consegui mudar. Sou terrivelmente monótona. Perdoe-me.— Perdoá-la?Clare ouviu um barulho esquisito. Vinha de Mike. Ele parecia estar roncando. De repente, explodiu em risadas. Encarou-o,

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEperplexa. Mike estava rindo depois do que ela fizera?— Oh, Clare. Eu te amo — ele disse, sem parar de rir. Clare pestanejou. — Está dizendo que me ama?— Estou querida. — Mike estendeu os braços e atraiu-a de encontro ao peito. — Agora mais ainda.Seria verdade? Clare não se atrevia a acreditar. Mike a amava apesar de sua pouca ou nenhuma inclinação para aventuras?— Por quê?Mike não parava de rir. Clare não se importou. Tinha todo o tempo do mundo para esperar que ele lhe respondesse. Adorava a sensação de ter acordado do pior pesadelo de sua vida. Mike dissera que a amava e estava com os braços ao redor de sua cintura.— Clare — ele disse por fim após enxugar os olhos com o dorso da mão. — Acreditou realmente que eu gostei de passar o fim de semana vestido com aquela roupa?— Acreditei — Clare confessou.— Deve ter me adiado ridículo com aquele chapéu. — Mike tornou a rir. — Olhe bem para mim. Pareço do tipo que gosta de concertos de gaitas de fole e sei lá mais o quê?— Bem... — Clare hesitou. — E eu?— Por que eu vestiria roupas ridículas e freqüentaria lugares detestáveis a menos que estivesse perdidamente apaixonado por você e determinado a satisfazer todas suas vontades?— E eu? — Clare repetiu.Mike encostou a fronte à de Clare e balançou a cabeça.— Que dupla formamos!— Você deve ter pensado que eu era uma completa maluca — Clare murmurou. — E assim mesmo saiu comigo. Por quê?— Porque você é a mulher mais doce, mais linda e mais adorável que já conheci. Porque desde o primeiro instante, quis ser o homem de seus sonhos. E desde nosso primeiro encontro, apaixonei-me por você. — Mike olhou para Clare e acariciou-lhe sensualmente os lábios. — Se tivesse me pedido a lua, eu teria encontrado um jeito de buscá-la para você. Mas não sabe como estou feliz em descobrir que você é igual a mim. Meu passatempo favorito é sentar diante da lareira e ler um bom livro.— Mike... — Você ainda não me disse por que continuou a aceitar meus convites quando eles a faziam sentir-se tão mal.— Porque não suportava a idéia de perder a oportunidade de vê-lo. Mas quando percebi que o amava, decidi me afastar. Não seria justo prendê-lo quando poderia encontrar alguém que partilhasse de seus interesses. Alguém mais excitante do que eu.— Você é excitante. — Mike pousou os lábios sobre os dela com um toque suave e delicado.

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MI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEMI 43 – SOLTEIRO EM SEATTLE – CAROLYN ZANEPouco a pouco, obrigou-a a entreabri-los. — Você é deliciosa. — Em seguida, deslizou as mãos pelas costas até mergulhá-las nos cabelos perfumados pelos quais sentia uma incrível atração. — Quer saber a verdade? No fundo, sou um sujeito dos mais monótonos.Foi a vez de Clare dar uma risada.— Sinto muito, mas não concordo.— É verdade. Mas se você tem certeza de que não ficará entediada comigo nos próximos sessenta ou setenta anos, case-se comigo.Clare deu um gemido e pressionou seu corpo contra o de Mike.— Como pode dizer que não é excitante? — Mike caçoou. — Esse gemido enlouquece qualquer homem. Mas, o que devo entender através dele? Que você aceita ser minha esposa?— Sim. É claro que sim. É o que mais desejo na vida — Clare respondeu e correspondeu ao beijo de Mike com todo seu amor e com toda sua paixão.Os dizeres em seu bolo de aniversário estavam se realizando. E por falar em aniversário...— Mike, você pode me desculpar? Estraguei completamente sua festa surpresa. Acha que ainda há tempo para eu consertar meu erro? Os convidados devem estar preocupados. Afinal, nós dois desaparecemos.Mike não conseguia parar de beijar Clare. Agora estava percorrendo cada centímetro de seu pescoço.— A festa já deve ter terminado. Quando subi em meu carro para ir atrás de você, vi uma viatura se aproximar. A essa altura, o silêncio voltou a reinar em minha oficina e nossos ruidosos convidados já devem estar de volta a suas casas.— Espero que não tenha sido multado mais uma vez por minha causa — Clare murmurou. — A propósito, ainda falta eu lhe pedir desculpas por ter estragado seu terno. Foi o primeiro que marquei em minha vida...— Está desculpada, minha querida. Mais do que desculpada!

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