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 e-xacta, Belo Horizonte, v. 6, n. 2, p. 79-92. (2013). Editora UniBH. Disponível em: www.unibh.br/revistas/exacta/ D ISSN:  1984-3151 OTIMIZAÇÃO DE CÉLULAS FOTOVOLTAICAS ORGÂNICAS OPTIMIZATION OF ORGANIC PHOTOVOLTAIC CELLS  Allan Dou gl as Mart ins¹; An a Carolina Silva 1 ; Camila C. S. Braga 1 ; Carolina Cardoso Franco 1 ; Dyeice Amélia Sale s 1 ; Guilherme Cunha Rezende 1 ; Pollyanna Rodrigues Duarte 1 ; Otávio Gomes 2 ; Sinthya Gonçalves Tavares 3  Recebido em: 28/02/2013 - Aprovado em: 20/22/2011 - Disponibilizado em: 30/11/2013 RESUMO: Com a previsível escassez dos recursos energéticos, as preocupações com as questões ambientais se tornam cada vez mais evidentes. Com isso, houve um incremento na busca de recursos alternativos para a produção de energia elétrica, principalmente aqueles baseados em fontes limpas e renováveis, como a energia solar. Para a conversão de energia solar em energia elétrica são utilizadas, na maioria das vezes, células solares fotovoltaicas, que se baseiam na propriedade semicondutora de silício. Como o custo dessa tecnologia ainda é muito alto, são propostos novos materiais para a substituição desse cristal, com destaque para a célula solar nanocristalina de dióxido de titânio (TiO 2 ), acrescida de moléculas orgânicas de corantes. Essa célula apresenta vantagens em relação às células convencionais de silício, pois, na sua fabricação, são utilizados materiais disponíveis no mercado e corantes extraídos de plantas, modelo proposto por Gratzël, além de ser preparada através de processos simples e não poluentes. O objetivo deste trabalho é recriar as células solares nanocristalinas de dióxido de titânio, otimizando-a para a utilização de materiais com baixo custo, de modo que s e obtenha a maior eficiência energética possível. P  ALAVRAS-CHAVE: Energia Solar. Fotovoltaica. Nanocristal ina.  ABSTRACT: With the expected shortage of energy resources, the concerns about environmental issues are becoming increasingly evident. Thus, there was an increase in search for alternative resources for energy production power, especially those based on clean sources and renewable energies such as solar energy. Converting solar energy into electrical energy, in most cases, solar cells photovoltaics, which based on property semiconductor silicon are used. As the cost of this technology is still very high, new materials are proposed for substitution this crystal, with emphasis on the cell nanocrystal line titanium dioxide (TiO 2) solar plus molecules organic dyes. This cell has advantages compared to conventional silicon cells, because in his manufacturing, available materials are used in the market and extracted dyes from plants, the model proposed its by Grätzel, besides being prepared through Simple and clean process. The goal of this essay is to recreate the nanocrystalline solar cells titanium dioxide, optimizing it to the use of materials with low cost, so as to obtain the energy efficient as possible. 1 Graduandos em Engenharia Química. Centro U niversitário de Belo Horizonte - UniBH. Belo Horizonte MG.  [email protected] ; [email protected] ; [email protected] ; [email protected]; [email protected] ; [email protected];  [email protected].   2 Doutor em E ngenharia El étrica, UFMG, Belo Horizonte, Brasil, 2012. Professor do Centro Universitário de Belo Horizonte – UniBH. Belo Horizonte, MG. [email protected].  3 Doutora e m Engenharia Mecânica. UFMG, Belo Horizonte, Brasil - Università Politecnica delle Marche – Ancona – IT. 2006. Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento de Novos Materiais Estruturados e Professora do Centro Universitário de Belo Horizonte - UniBH. Belo Horizonte, MG. [email protected] .

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  • e-xacta, Belo Horizonte, v. 6, n. 2, p. 79-92. (2013). Editora UniBH. Disponvel em: www.unibh.br/revistas/exacta/D

    ISSN: 1984-3151

    OTIMIZAO DE CLULAS FOTOVOLTAICAS ORGNICAS OPTIMIZATION OF ORGANIC PHOTOVOLTAIC CELLS

    Allan Douglas Martins; Ana Carolina Silva1; Camila C. S. Braga1; Carolina Cardoso Franco1; Dyeice Amlia Sales1; Guilherme Cunha Rezende1; Pollyanna Rodrigues

    Duarte1; Otvio Gomes2; Sinthya Gonalves Tavares3

    Recebido em: 28/02/2013 - Aprovado em: 20/22/2011 - Disponibilizado em: 30/11/2013

    RESUMO: Com a previsvel escassez dos recursos energticos, as preocupaes com as questes ambientais se tornam cada vez mais evidentes. Com isso, houve um incremento na busca de recursos alternativos para a produo de energia eltrica, principalmente aqueles baseados em fontes limpas e renovveis, como a energia solar. Para a converso de energia solar em energia eltrica so utilizadas, na maioria das vezes, clulas solares fotovoltaicas, que se baseiam na propriedade semicondutora de silcio. Como o custo dessa tecnologia ainda muito alto, so propostos novos materiais para a substituio desse cristal, com destaque para a clula solar nanocristalina de dixido de titnio (TiO2), acrescida de molculas orgnicas de corantes. Essa clula apresenta vantagens em relao s clulas convencionais de silcio, pois, na sua fabricao, so utilizados materiais disponveis no mercado e corantes extrados de plantas, modelo proposto por Gratzl, alm de ser preparada atravs de processos simples e no poluentes. O objetivo deste trabalho recriar as clulas solares nanocristalinas de dixido de titnio, otimizando-a para a utilizao de materiais com baixo custo, de modo que se obtenha a maior eficincia energtica possvel. PALAVRAS-CHAVE: Energia Solar. Fotovoltaica. Nanocristalina. ABSTRACT: With the expected shortage of energy resources, the concerns about environmental issues are becoming increasingly evident. Thus, there was an increase in search for alternative resources for energy production power, especially those based on clean sources and renewable energies such as solar energy. Converting solar energy into electrical energy, in most cases, solar cells photovoltaics, which based on property semiconductor silicon are used. As the cost of this technology is still very high, new materials are proposed for substitution this crystal, with emphasis on the cell nanocrystalline titanium dioxide (TiO2) solar plus molecules organic dyes. This cell has advantages compared to conventional silicon cells, because in his manufacturing, available materials are used in the market and extracted dyes from plants, the model proposed its by Grtzel, besides being prepared through Simple and clean process. The goal of this essay is to recreate the nanocrystalline solar cells titanium dioxide, optimizing it to the use of materials with low cost, so as to obtain the energy efficient as possible.

    1 Graduandos em Engenharia Qumica. Centro Universitrio de Belo Horizonte - UniBH. Belo Horizonte MG. [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected].

    2 Doutor em Engenharia Eltrica, UFMG, Belo Horizonte, Brasil, 2012. Professor do Centro Universitrio de Belo Horizonte UniBH. Belo Horizonte, MG. [email protected].

    3 Doutora em Engenharia Mecnica. UFMG, Belo Horizonte, Brasil - Universit Politecnica delle Marche Ancona IT. 2006. Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento de Novos Materiais Estruturados e Professora do Centro Universitrio de Belo Horizonte - UniBH. Belo Horizonte, MG. [email protected].

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    e-xacta, Belo Horizonte, v. 6, n. 2, p. 79-92. (2013). Editora UniBH. Disponvel em: www.unibh.br/revistas/exacta/D

    KEYWORDS: Solar Energy. Photovoltaic. Nanocrystalline.

    1 INTRODUO O crescimento exponencial do consumo energtico

    implicou a necessidade de manuteno das reservas

    esgotveis de energia, alm do desenvolvimento

    tecnolgico no setor de aproveitamento de fontes de

    energias alternativas (AZEVEDO; CUNHA, 2002).

    Segundo Ghensev (2006), a converso de energia

    solar em energia eltrica um campo da engenharia

    muito promissor, uma vez que o sol capaz de lanar

    sobre a Terra 1.367 W/m2, valor equivalente a 4000

    vezes mais energia do que se consome. Frente a essa

    realidade, extremamente vivel a explorao de

    novas tecnologias para desenvolver a converso de

    energia solar em energia eltrica, principalmente em

    pases prximos Linha do Equador e em locais como

    o Estado de Minas Gerais, que esto localizados

    sobre a AMAS Anomalia Magntica do Atlntico Sul.

    Segundo Sobral e Paskocimas (2007), essa a regio

    onde os raios solares tm um menor desvio, sendo

    mais aproveitveis para a gerao de energia eltrica.

    Atualmente, para essa transformao utilizam-se

    clulas fotovoltaicas feitas, principalmente, de silcio

    com um alto grau de pureza. Todavia, a purificao da

    matria-prima para a fabricao de tais clulas requer

    uma sofisticada tecnologia, alm de grande

    quantidade de energia. Esses so fatores que

    contribuem para o aumento do valor agregado ao

    produto final, o que influencia o seu alto valor no

    mercado. Ao realizar uma rpida anlise sobre o

    processo de fabricao dessa clula, torna-se

    evidente a necessidade da reduo do custo de

    produo (FREITAS, 2006).

    Estudos como o de Gratzl, em Sobral e Paskocimas

    (2007), indicam como uma possibilidade vivel para a

    resoluo desse impasse a criao de uma clula

    solar nanocristalina de dixido de titnio (TiO2),

    sensibilizada por molculas orgnicas de corantes

    (FIGURA 1). Com esta nova tecnologia espera-se

    superar os problemas experimentais, alm de se

    reduzir custos da tecnologia de clulas solares

    convencionais.

    Segundo Carvalho as clulas solares sensibilizadas

    por corantes (CSSC) apresentam o mesmo papel das

    funes fornecidas pelo silcio numa clula tradicional.

    Assim como o silcio, As CSSCs funcionam tanto

    como fonte de fotoeltrons bem como fornecedor do

    campo eltrico para separar as cargas e criar uma

    corrente. Entretanto nas CSSCs, o semicondutor

    apenas um transportador de cargas e os fotoeltrons

    fornecidos pelo corante fotossensvel. A separao de

    carga ocorre ento na superfcie entre o corante, o

    semicondutor e o eletrlito. Atualmente as mais bem

    sucedidas CSSCs so as conhecidas clulas de

    Graetzel, que utilizam corantes baseados em

    polipiridil-rutenatos, adsorvidos em filmes

    nanocristalinos de dixido de titnio (TiO2).

    Figura 1 - Esquema de uma clula solar nanocristalina

    de dixido de titnio.

    O objetivo deste trabalho recriar as clulas solares

    nanocristalinas de dixido de titnio, propostas por

    Gratzl, otimizando-a para a utilizao de materiais

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    com baixo custo, de modo que se obtenha a maior

    eficincia energtica possvel.

    2 REVISO BIBLIOGRFICA

    2.1 HISTRICO

    O efeito fotovoltaico foi observado pela primeira vez

    em 1839, pelo fsico francs Edmond Becquerel, ao

    descobrir que certos materiais geram corrente eltrica

    ao serem expostos luz (BECQUEREL, 1839).

    Em 1877, Adams e Day construram a primeira clula

    solar baseada em dois eletrodos de selnio que

    produziam uma corrente eltrica quando expostos

    radiao. Porm, os resultados indicavam que a

    eficincia destes sistemas criados era to reduzida

    que o desenvolvimento de clulas solares teve que

    esperar por uma compreenso mais completa dos

    semicondutores (FREITAS, 2006). J no ano de 1947

    os fsicos Shockley, Bardeen e Brattain descobriram

    os transistores, substituindo assim os semicondutores

    (SHOCKLEY, 1949).

    Em 1954 Chapin, Furller e Pearson desenvolveram,

    com eficincia de 6%, o dispositivo que permite a

    transformao da luz solar em eletricidade em um

    sistema fotovoltaico que tem como unidade bsica a

    clula solar feita de silcio (FREITAS, 2006).

    Outro agente impulsionador das pesquisas dessa

    tecnologia para aplicaes diversas, inclusive para

    complementao do sistema eltrico existente, foi a

    crise do petrleo em 1973. Nesse ano, a energia solar

    atraiu a ateno de governos internacionais, com a

    possibilidade real do esgotamento das reservas

    petrolferas, como esclarece Nascimento (2004).

    Todavia, o custo de produo das clulas era um fator

    preocupante em relao quantidade de energia

    produzida por ela. Era preciso reduzir o custo

    significativamente para tornar vivel sua utilizao.

    Com o passar dos anos, novos reservatrios de

    petrleo foram revelados por todo o mundo, dilatando

    assim o perodo de abundncia at muitas dezenas de

    anos. Por outro lado, o mesmo autor ainda afirma que,

    a tecnologia solar no apresentava custos e eficincia

    comparveis com as energias fsseis. Como

    alternativa, os governos internacionais comearam a

    financiar a construo de centrais nucleares, o que

    tornou o assunto sobre energia solar mais discreto

    durante a dcada 80.

    Na ltima dcada, conforme conta em (BRITO;

    SERRA, 2004), a necessidade de utilizao da

    energia solar para a obteno de eletricidade se

    intensificou devido ao impacto ambiental causado pela

    utilizao desenfreada do petrleo e, tambm, pelas

    mudanas climticas associadas emisso de gases

    inerentes sua queima.

    Uma das alternativas para a converso da energia

    solar em energia eltrica foi desenvolvida pelo grupo

    de pesquisa do Prof. Michael Gratzl, em 1991, da

    Escola Politcnica Federal em Lauzane (Sua), que

    deu incio ao desenvolvimento de clulas fotovoltaicas

    sensibilizadas a corantes (CFSC) (SANTOS, 2005).

    2.2 COMPONENTES DA CLULA SOLAR DE

    GRATZL

    2.2.1 DIXIDO DE TITNIO

    O processo pelo qual uma impureza introduzida em

    uma rede cristalina com a finalidade de melhorar as

    propriedades fotovoltaicas de semicondutor

    chamado de sensibilizao. Muitos semicondutores,

    como dixido de titnio (TiO2), sulfeto de cdmio

    (CdS), xido de zinco (ZnO), trixido de tungstnio

    (WO3), sulfeto de zinco (ZnS), xido de ferro (III)

    (Fe2O3), podem agir como sensibilizadores em

    processos de oxidao e reduo mediados pela luz

    (devido sua estrutura eletrnica). Entre os

    semicondutores, o TiO2, face s suas propriedades de

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    tenacidade, leveza, resistncia corroso, opacidade,

    inrcia qumica, toxicidade nula, elevado ponto de

    fuso, brancura, alto ndice de refrao, alta

    capacidade de disperso, fotoestabilidade e

    estabilidade qumica em uma ampla faixa de pH, se

    tornou o mais amplamente estudado para os

    processos de sensibilizao (FIGURA 2) (NOGUEIRA;

    JARDIM, 1998).

    Uma aplicao desse material como foto anodo em

    clulas solares nanocristalinas sensibilizadas por

    corante. As partculas de dixido de titnio

    desempenham um papel crucial nas clulas solares

    desse tipo, garantindo o uso efetivo do fluxo de

    eltrons resultante da absoro da luz do Sol pelo

    corante (RUSSEL, 1994).

    Figura 2: Colocao da pasta de TiO2 na lamela de

    vidro da clula de Gratzl.

    Fonte - AZEVEDO; CUNHA, 2002, p.2.

    O semicondutor TiO2 tambm apresenta vantagens

    em relao ao transporte de carga, em virtude da sua

    alta constante dieltrica ( = 80 para anatase). Ele

    fornece uma boa proteo eletrosttica ao eltron

    injetado em relao ao corante adsorvido na superfcie

    do xido, impedindo sua recombinao antes da sua

    reduo pelo mediador e, assim, o eltron injetado se

    difunde rapidamente atravs do filme. Em sntese, a

    funo do TiO2, alm de fornecer suporte para o

    corante, permitindo um maior aproveitamento da luz

    incidente, de coletor e condutor de carga

    (NOGUEIRA, 2011).

    2.2.2 CORANTE

    A caracterstica que define uma molcula corante a

    sua solubilidade no meio em que exposta. Um

    corante verdadeiro solvel no meio, sendo mantido

    disperso em uma soluo homognea com pouca

    tendncia de aglomerao. As partculas de corantes

    podem ser menores que 50 nm. Dentro dessa

    categoria tem-se uma grande variedade de molculas

    corantes para as diversas aplicaes (FREITAS,

    2006).

    Uma dessas aplicaes em dispositiva

    optoeletrnica de baixo custo. Dentre esses

    dispositivos destacam-se as clulas solares orgnicas

    (FIGURA 3). A eficincia desses dispositivos ainda

    limitada, principalmente devido baixa absoro de

    luz pela camada ativa e baixa mobilidade dos

    portadores de cargas. Parte desse problema pode ser

    reduzida atravs da insero de um terceiro

    componente na clula, como corantes orgnicos que

    apresentem elevada absoro de luz na faixa

    espectral acima de 400 nm. (FREITAS, 2006)

    Figura 3: Colocao do corante na clula de Gratzl.

    Fonte - AZEVEDO; CUNHA, 2002, p.2.

    O princpio de operao se baseia na excitao do

    corante pela incidncia de ftons de luz. Uma vez

    excitado, fica energeticamente apto a transferir

    eltrons para a superfcie condutora formada pelo TiO2

    e, em seguida, para a parte superior da clula, onde

    ser coletado o fluxo de eltrons na forma de corrente

    eltrica. Os corantes foto-excitveis so os

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    e-xacta, Belo Horizonte, v. 6, n. 2, p. 79-92. (2013). Editora UniBH. Disponvel em: www.unibh.br/revistas/exacta/D

    componentes essenciais das CFSC, atravs dos quais

    se baseiam os princpios destas clulas fotovoltaicas,

    determinam a sua absoro caracterstica e a

    resposta espectral (NOGUEIRA, 1998).

    O corante representa o elemento chave da clula e

    deve ser capaz de: absorver luz numa ampla faixa

    espectral; injetar eltrons na banda de conduo do

    semicondutor a partir do seu estado excitado; mostrar

    excelente estabilidade que permita a realizao de

    vrios ciclos de oxi-reduo, gerando o maior tempo

    de vida operacional possvel.

    No corante da amora, nota-se a existncia de

    antocianinas, um pigmento natural encontrado na

    fruta. As antocianinas apresentam faixas intensas de

    absoro na regio visvel do espectro, atribudas aos

    grupos hidroxila, capazes de se adsorverem

    quimicamente superfcie do filme semicondutor

    (PATROCNIO; MURAKAMI, 2010).

    2.2.3 ELETRLITO

    Segundo Lobo (1996) eletrlito uma substncia que,

    quando dissolvida em um dado solvente, produz uma

    soluo com uma condutividade eltrica maior que a

    condutividade do solvente.

    O eletrlito tem ampla aplicao nos processos de

    eletrodo e, a princpio, deve apresentar como

    propriedades alta solubilidade, alto grau de ionizao,

    estabilidade qumica e eletroqumica. Com relao s

    suas aplicaes, verifica-se que so bastante amplas:

    mantm os coeficientes de atividade praticamente

    constantes, e o nmero de transporte da espcie

    eletroativa praticamente igual a zero; diminui a

    espessura da dupla camada eltrica; mantm a

    viscosidade, o coeficiente de difuso e o nmero

    mdio de ligantes constantes, alm de incrementar a

    condutividade em meios de solventes polares, tanto

    orgnicos quanto inorgnicos (FREITAS, 2006).

    O eletrlito escolhido para a execuo da clula solar

    composto por um par de redox iodo/iodeto (I2/ I)

    (FIGURA 4), dissolvido em gua destilada.

    Figura 4: Colocao do eletrlito na clula de Gratzl.

    Fonte - AZEVEDO; CUNHA, 2002, p.2.

    Neste solvente o iodo prefere existir como on tri-

    iodeto, formando uma soluo de tri-iodeto/iodeto (I3/

    I). Os ons de iodeto reagem com o corante oxidado

    no filme de TiO2, sendo oxidados a tri-iodeto, que por

    sua vez reduzido ao estado original no contra-

    eletrodo (FREITAS, 2006).

    2.2.4 DIXIDO DE ESTANHO

    Na clula solar de Gratzl (FIGURA 5), um dos

    eletrodos estudados para a conduo da corrente

    eltrica e que tem demonstrado um bom potencial

    para esse tipo de anodo o de dixido de estanho

    (IV), SnO2. Ele apresenta alta condutividade,

    razoavelmente estvel em meios de diferentes pHs,

    possui alta transparncia na regio do visvel, alta

    estabilidade trmica, mecnica e qumica (PIMENTEL;

    ABRILLA, 1998).

    Porm, por se tratar de um material caro e de difcil

    obteno, pode-se substitu-lo por pequenas fileiras de

    fios de cobre, colados na placa solar. O cobre um

    dos metais mais usados na fabricao dos fios

    condutores eltricos, devido, principalmente, s suas

    propriedades eltricas e mecnicas. Tal procedimento

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    e-xacta, Belo Horizonte, v. 6, n. 2, p. 79-92. (2013). Editora UniBH. Disponvel em: www.unibh.br/revistas/exacta/D

    foi utilizado neste estudo em alternativa para a

    nanopelcula condutora existente nos vidros especiais

    de clulas fotovoltaicas (FIGURA 6).

    Figura 5: Montagem final da clula de Gratzl.

    Fonte - AZEVEDO; CUNHA, 2002, p.2.

    Figura 6: Placa de vidro com fios de cobre.

    2.3 TRANSFORMAO DE ENERGIA SOLAR EM ENERGIA ELTRICA

    A clula fotovoltaica, proposta por Gratzl,

    constituda principalmente por molculas de um

    corante, um semicondutor nano cristalino (TiO2), um

    eletrlito (soluo de Iodo), dois eletrodos de vidro

    com uma camada condutora e transparente (SnO2 -

    dixido de estanho) ou material similar, e um

    catalisador (grafite ou platina) (FREITAS, 2006).

    O eletrodo negativo com TiO2 sensibilizado com a

    molcula orgnica do corante (organic dye), que, ao

    receber a luz, excita seus eltrons e passa a injet-los

    na banda de conduo do TiO2, deixando com isso,

    em suas molculas, buracos oxidados. Os eltrons

    que vo para a banda de conduo do TiO2 podem

    percorrer um caminho dentro desse semicondutor e

    chegar ao substrato, quando, ento, saem da clula

    solar nanocristalina sensibilizada (FREITAS, 2006).

    O mesmo autor ainda orienta que para facilitar a

    reduo das molculas na superfcie do eltrodo,

    depositada uma fina camada de grafite. Ao percorrer o

    circuito externo, os eltrons chegam ao eletrodo

    positivo com menor energia, onde completam o ciclo.

    Para que haja o fluxo da corrente eltrica necessrio

    ligar os dois eletrodos a uma resistncia de carga.

    Dentro do eletrlito, o processo de oxi-reduco pode

    ser representado pelas reaes entre o corante e as

    diversas partes da clula fotovoltaica, conforme

    Equao 1:

    I5,1)eletrodo(eI5,0

    I5,0)dye(I5,1)dye(

    )dye()TiO(eTiO)dye(

    )dye(hVdye

    _3

    3*

    *2

    _2

    *

    (1)

    3 MATERIAIS E MTODOS

    Para a montagem da clula solar fotovoltaica,

    realizada no Laboratrio de Qumica do Centro

    Universitrio de Belo Horizonte, foi necessria a

    utilizao de lminas de vidro, fio de cobre, solda

    (estanho), dixido de titnio, vinagre branco,

    detergente, vela, lcool 70%, gua destilada, I2 (iodo),

    KI (iodeto de potssio), epxi, ferro de solda, cortador

    de vidro e durex (FIGURA 7).

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    Figura 7: Materiais utilizados para a fabricao da

    clula fotovoltaica orgnica otimizada.

    Para a preparao da soluo de dixido de titnio,

    pesou-se 15 g de TiO2, mediu-se 10 mL de vinagre

    branco e, em um bquer, juntou-se o TiO2, o vinagre

    branco e 3 (trs) gotas de detergente para aumentar a

    viscosidade da mistura.

    Para a soluo do corante de amora, foram colocadas,

    em um bquer, cerca de 50g de amoras, as quais

    foram devidamente esmagadas.

    J na elaborao das lminas (que foram lavadas com

    gua destilada, lcool 70% e em seguida secas),

    foram realizadas linhas verticais, com o cortador de

    vidro e uma lixa, formando fissuras no vidro para que

    os fios de cobre fossem soldados nas extremidades

    de cada linha, substituindo assim o anodo de dixido

    de estanho.

    Em uma dessas lminas foi preparado o eletrodo

    negativo. Em trs extremidades da superfcie da

    lmina foi colocado durex. Em seguida, colocada na

    superfcie descoberta da lmina a soluo de TiO2.

    Com um basto de vidro, distribuiu-se a pasta na

    superfcie de modo a se obter um fino filme

    homogneo. Aps completa evaporao da umidade,

    foi retirado o durex e colocado o filme formado para

    cozer. A temperatura utilizada foi de 450C 550C,

    por 10 minutos.

    Em outra lmina, foi preparado o eletrodo positivo.

    Para isso, sua superfcie foi queimada com vela,

    deixando o vidro escurecido. O eletrodo negativo j

    resfriado foi mergulhado no corante de amora,

    permanecendo por 5 minutos. Ao retir-lo, com

    cuidado, as bordas foram limpas e aguardou-se a

    secagem completa do eletrodo.

    A montagem final da Clula pode ser visualizada a

    seguir nas figuras 8 e 9.

    Figura 8: Clula fotovoltaica orgnica.

    Figura 9: Clula fotovoltaica orgnica ligada em

    paralelo.

    Para a montagem da Clula, os dois eletrodos foram

    colocados juntos, de forma que a camada de TiO2

    ativada com o corante ficasse em contato com a

    superfcie da outra lmina queimada pela vela.

    4 RESULTADOS E DISCUSSO

    Partindo da clula montada, foram definidas as etapas

    de experimentao para a anlise do rendimento da

    energia gerada por esta.

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    e-xacta, Belo Horizonte, v. 6, n. 2, p. 79-92. (2013). Editora UniBH. Disponvel em: www.unibh.br/revistas/exacta/D

    Essas etapas foram divididas em: anlise de qual a

    fonte geradora de energia a ser utilizada; se as clulas

    seriam conectadas durante o experimento; se haveria

    o isolamento do sistema formado entre a fonte de

    energia e as clulas do meio externo; medio da

    tenso gerada por intervalo de tempo.

    Para a fonte, optou-se pelo uso de uma lmpada

    incandescente com uma potncia de 60 W, devido ao

    fato de ser uma fonte de baixa energia e fcil

    aquisio. Com a utilizao desta fonte de energia,

    fornecida ao sistema uma potncia de 60

    Joules/segundo (clula + fonte), sendo determinada

    atravs da equao de potncia.

    O uso do circuito em paralelo foi determinado por

    questes de clculo de diferena de potncia, alm de

    apresentar a melhor leitura no equipamento utilizado,

    o multmetro. O experimento proposto por Gratzl

    evidenciou que a tenso gerada pela clula padro

    baixa, portanto seria melhor a escolha de um sistema

    em paralelo, uma vez que, como dito anteriormente,

    apresenta melhor resoluo no equipamento,

    facilitando a medio

    Na primeira etapa de testes, iniciaram-se as medies

    sem o isolamento do sistema, para verificar o

    funcionamento da clula. De incio, no foi visualizada

    nenhuma anomalia na clula, indicando que esta

    obteve um resultado satisfatrio. Entretanto, ao utilizar

    uma fonte luminosa acrescida luminosidade

    ambiente, observou-se que a clula registrava uma

    diferena de potencial, demonstrando que iluminaes

    locais eram capazes de influenciar a tenso gerada e

    registrada pelo multmetro. Com essa interferncia, foi

    sugerido o isolamento do sistema (clula + fonte) para

    medio correta do experimento.

    Realizada a medida de tenso das clulas em um

    ambiente isolado, verificou-se o comportamento at

    ento no identificado em clulas propostas por

    Gratzl. A tenso gerada pelas clulas no caiu

    imediatamente aps o desligamento da fonte de

    energia luminosa. Durante um tempo determinado, as

    clulas em paralelo continuavam a gerar uma

    diferena de potencial pequena, que, no decorrer do

    experimento, diminuiu gradativamente at retornar ao

    valor medido no incio do experimento. Essa

    caracterstica evidenciou que a clula se comporta

    como um capacitor, ou seja, ela capaz de acumular

    carga e tambm de emiti-la to logo a fonte luminosa

    interrompa a emisso de energia.

    Como mencionado por Fragnito (2010), a relao

    entre tenso e corrente real, em um circuito de malha

    contendo resistores, capacitores e indutores, pode ser

    expressa por uma equao integral-diferencial de

    primeira ordem, conforme Equao 2:

    cq

    tiLRi

    (2)

    onde: ][ = Tenso ]V[ , R = Resistncia ][ , i=

    Corrente ][ , L = Indutncia [Henri], i = Derivada da

    corrente ][ , t = Variao do tempo [s], q = Carga

    eltrica [C], c = Capacitncia [F]

    Como a corrente (i) pode ser mensurada atravs do

    tempo, possvel definir conforme Equao 3:

    c tq

    tiL

    tiR

    t 22

    (3)

    onde: d = Derivada da tenso [V], R = Resistncia

    ][ , L = Indutncia [Henri], i = Derivada da corrente

    ][ , t = Variao do tempo [s], i2 = derivada

    segunda da corrente ][ , 2t = Derivada ao tempo ao

    quadrado [s], q = Derivada da Carga eltrica [C], c =

    Capacitncia [F].

    Ainda, considerando que a relao entre a variao de

    cargas em um intervalo de tempo pode determinar a

    relao destas com a corrente eltrica, na Equao 4:

    ci

    tiL

    tiR

    t 22

    (4)

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    e-xacta, Belo Horizonte, v. 6, n. 2, p. 79-92. (2013). Editora UniBH. Disponvel em: www.unibh.br/revistas/exacta/D

    onde: = Derivada da tenso [V], R = Resistncia

    ][ , L = Indutncia [Henri], i = Derivada da corrente

    ][ , t = Derivada do tempo [s], i2 = Derivada

    segunda da corrente ][ , 2t = Derivada ao tempo ao

    quadrado [s], i = Corrente eltrica ][ , c =

    Capacitncia [F].

    Segundo Santos (2005), a clula proposta por Gratzl

    possui internamente uma resistncia que tende a um

    valor nulo, alm de que, por se tratar de um processo

    de reao qumica, possvel que se obtenha uma

    impedncia nula do sistema ideal, visto que no

    gerar uma corrente alternada, e sim corrente

    contnua. Como a quantidade de placas utilizada no

    experimento no seria suficiente para medir a corrente

    em um voltmetro e considerando as alteraes

    propostas por Santos (2005), seria possvel projetar

    uma equao diferencial para descrever os valores de

    tenso tericos e obter a corrente terica gerada pelas

    clulas fotovoltaicas. Para tanto, necessrio o

    clculo da capacitncia das clulas. Segundo Halliday,

    Resnick e Walker (2007), pode-se utilizar como base a

    equao de capacitores de placas, descrita na

    Equao 5:

    dc .0

    (5)

    onde: c = Capacitncia [F], = Permissividade eltrica

    do meio [ ], A = rea da placa [m], d = Distncia

    entre as placas [m].

    Como o principal material nanocondutor na clula

    composto de TiO2, o fator na permissividade eltrica

    do meio [0] 100 vezes o valor deste (8,85 10-12

    F/m), e a rea de cada clula de 0,06 m x 0,04 m, e

    a distncia entre as placas de 0,0004 m. Pode-se,

    assim, calcular a capacitncia unitria, que de C =

    5,31 x 10-9 F por clula.

    Como o sistema de clulas est em paralelo, pode-se

    calcular a capacitncia equivalente diretamente, pela

    quantidade de clulas utilizadas. O valor da

    Capacitncia total de 1,062 x 10-8 F.

    Os valores de medio da tenso no sistema

    inicialmente encontram-se na tabela (Tabela 1), estes

    foram usados para definio de uma equao

    (Equaes 6, 7 e 8) que demonstrasse a tenso

    gerada pelo sistema, com base nos dados fornecidos

    por Fragnito (2010) e Santos (2005).

    Tabela 1

    Tenso x tempo das clulas fotovoltaicas

    Tempo (segundos) Tenso (em mV)

    0 -1,5

    60 -0,3

    Com esses dados, possvel descrever uma equao

    para o comportamento da tenso x tempo de uma

    clula fotovoltaica:

    ci

    tiL

    tiR

    t 22

    (6)

    Como R =L = 0 ento:

    ci

    t

    (7)

    Deduzimos que:

    kct.i (8)

    Substituindo os valores encontrados do sistema de

    clulas fotovoltaicas com tempo inicial igual a 0 e

    tempo aps 60 segundos, ter-se- uma corrente

    de A. O valor de corrente muito baixo,

    prximo a zero, considerando que o sistema no est

    ligado a um circuito eltrico. Ainda para que uma

    corrente eltrica considervel fosse obtida, seria

    necessria a ligao de vrias clulas fotovoltaicas

    orgnicas em srie, o que no foi testado no estudo

    supracitado.

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    e-xacta, Belo Horizonte, v. 6, n. 2, p. 79-92. (2013). Editora UniBH. Disponvel em: www.unibh.br/revistas/exacta/D

    Com os dados obtidos, a equao que descreveria a

    tenso, em funo do tempo, gerada na clula

    proposta, seria conforme Equao 9:

    35 10x5,1t.10x0,2 (9)

    Com esta equao, estimaram-se os valores de

    tenso que seriam medidos em uma clula

    fotovoltaica orgnica, onde possvel a comparao

    destes com os valores reais de medio. Na Tabela 2

    pode-se realizar o comparativo destes valores.

    Entretanto, ao se realizar as medies no conjunto de

    clulas, notou-se valores de tenses diferentes dos

    esperados e determinados pela equao diferencial.

    Estas medies permitem o esboo de uma nova

    avaliao sobre a alterao realizada na clula

    fotovoltaica proposta por Gratzl, comparando-a com

    os dados obtidos pela Equao 9.

    Tabela 2

    Tenso terica em funo do tempo em clulas

    fotovoltaicas

    Tempo (segundos)

    Tenso Terica da Clula (mV)

    Tenso Real da Clula (mV)

    0 -1,5 -1,5 60 -0,3 -0,3

    120 0,9 1,2 180 2,1 3,4 240 3,3 4,9 300 4,5 6,4 360 5,7 7,8 420 6,9 9,2 480 8,1 10,7 540 9,3 12,0 600 10,5 12,9 660 11,7 13,8 720 12,9 14,6 780 14,1 14,9 840 15,3 15,4 900 16,5 15,5 960 17,7 15,7

    Com base na comparao dos valores, esboou-se

    um grfico das curvas do valor de tenso terico e do

    real (GRFICO 1).

    Grfico 1

    Curva da tenso contnua gerada pelas clulas

    fotovoltaicas em paralelo:

    Baseando-se nessa anlise, a alterao no modelo de

    Gratzl, com uso de micro terminais de fios de cobre

    para a conduo das cargas geradas no circuito,

    demonstrou que h um possvel fator de resistividade

    em cada clula. Essa resistividade, cuja caracterstica

    varia em funo da temperatura, ao receber a

    irradiao, tender a perder ainda mais desempenho

    na gerao de uma tenso, com valor mximo previsto

    para clulas de Gratzl de 27% (SANTOS, 2005).

    Ainda sobre a Clula, constatou-se que houve uma

    queda de tenso gerada no instante do desligamento

    da fonte de energia, conforme Tabela 3 e Grfico 2.

    Com este desligamento, houve o fluxo de cargas

    indicando propriedades de um capacitor, conforme

    proposto na elaborao da equao da clula.

    Entretanto, h interferncias para determinao da

    equao que descrever o comportamento dessa

    capacitncia real.

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    e-xacta, Belo Horizonte, v. 6, n. 2, p. 79-92. (2013). Editora UniBH. Disponvel em: www.unibh.br/revistas/exacta/D

    Tabela 3

    Perda de tenso nas clulas x tempo

    Tempo (segundos) Tenso (mV)

    0 15,7 60 8,2

    120 5,2 180 3,8 240 2,5 300 1,9 360 1,5 420 1,2 480 1,0 540 0,9 600 0,8 660 0,7 720 0,6 780 0,5 840 0,5 900 0,5 960 0,5

    Grfico 2

    Queda da tenso x tempo

    Segundo Santos (2005), a eficincia de clulas

    fotovoltaicas obedece aos princpios da

    termodinmica, principalmente pela transformao da

    energia de radiao por efeito fotovoltaico. Para

    qualquer reao, h a perda de energia livre na

    condio de desequilbrio, que ocasiona uma limitada

    potncia na liberao de energia. Considerando que

    em uma clula fotovoltaica no h uma reao

    qumica, e sim uma excitao de reagentes pela

    radiao, tem-se o potencial * potencialhv .

    Considerando a radiao monocromtica com

    comprimento de onda , a energia recebida por mol

    Qr definida por nmero de avogadro x hc / . A

    entropia dada pela Equao 10:

    Hc x Avogadrode NmeroQr (10)

    No espectro do visvel, uma lmpada incandescente

    de 60 W tem uma intensidade (energia por unidade de

    rea a tempo) definida pela constante de Stefan-

    Boltzmann = 5,67 x 10-8 W.m-2.K-4 dentro do

    espectro do visvel para a clula orgnica entre

    850x10-9m, onde, segundo Santos (2005) o

    comprimento de onda em que h a maior absoro de

    energia para plantas, possvel obter o valor de I = 60

    W.m-2.nm-1 emitido pela lmpada incandescente 60 W.

    Ainda para esta lmpada, tendo a resistncia do

    filamento, possvel estimar a temperatura absoluta.

    A resistncia do filamento informada pelo fabricante

    de 0,15 . Para o clculo da temperatura gerada na

    clula tem-se ento a Equao 11.

    )I

    Hc21ln(

    1xKbHcTr

    5

    2

    (11)

    onde Tr = Temperatura de qualquer comprimento de

    onda [k], H = Constante de Planck [j.s], Kb =

    Constante de Boltzmann [J/K], = Comprimento de

    onda, = Resistividade da fonte geradora de energia

    [m], c = Velocidade da luz no vcuo [m/s2], I =

    Intensidade de luminosidade [cd].

    Dessa forma possvel obter a temperatura Tr

    aproximada de 2599 K. Conforme a eficincia de

    Carnot, ter-se- o potencial qumico mximo gerado

    pela radiao, que determinado pela Equao 12:

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    e-xacta, Belo Horizonte, v. 6, n. 2, p. 79-92. (2013). Editora UniBH. Disponvel em: www.unibh.br/revistas/exacta/D

    Tr)TambienteTr(QrRm (12)

    onde: Rm = Potencial qumico mximo da radiao

    [J/mol] Tr = Temperatura em qualquer comprimento de

    onda no espectro do visvel [k], T ambiente =

    Temperatura ambiente [k].

    Como Qr = 140725,62 J/mol, pode-se ento deduzir

    que Rm = 124.483,04 J/mol, pelo qual possvel

    definir, atravs da Equao 13, o valor da entropia do

    sistema:

    Tr3)T(4S

    4 (13)

    S = Entropia do sistema [j], = Constante de Stefan-

    Boltzmann [W/m.K4], Tr = Temperatura de qualquer

    comprimento de onda [k].

    Obteve-se a variao de entropia gerada em uma

    clula de 1327,51 j/s.k. Esta seria a entropia prevista

    para uma clula de Gratzl, caso esta fosse utilizada

    no experimento citado. Com as alteraes na clula,

    necessrio o clculo dos valores de temperatura. Para

    essa medida, ser necessria a medio via

    termmetro digital do calor absorvido pela clula para,

    assim, mensurar o rendimento da clula.

    Segundo Patrcio (2006), possvel realizar um

    clculo estimado de uma mquina trmica baseado no

    ciclo de Carnot, levando em conta a temperatura que

    a clula atingir durante o experimento. Com base na

    temperatura calculada para o filamento da fonte e o

    valor de temperatura, aps o tempo de 15 minutos na

    clula, foi possvel obter o valor de 53C. Usando a

    equao abaixo, considerando a emisso de energia

    advindo de uma fonte de 60W, e considerado que a

    fonte geradora emitiria todos os feixes teis em

    direo ao conjunto de clulas, possvel estimar o

    clculo global de rendimento da clula fotovoltaica

    conforme Equao 14:

    4)TfTc(

    31

    3TF4TC1 (14)

    onde: TC = Temperatura da clula [k], TF =

    Temperatura da fonte [k].

    Fazendo as devidas substituies, possvel estimar

    um valor de um rendimento de aproximadamente

    16%. Segundo Santos (2005), considerando que o

    rendimento proposto em uma clula tipo Gratzl para

    luz difusa de aproximados 27%, nota-se que a

    alterao gerou um valor de 62% do valor de energia

    gerada pela Clula de Gratzl. No possvel

    determinar com exatido o rendimento devido a

    inmeras transformaes e ajustes em equaes

    utilizadas para tais fins. Estes valores so apenas

    estimados para um comparativo em vista de

    resultados obtidos em outras metodologias de

    rendimento de clulas fotovoltaicas.

    5 CONSIDERAES FINAIS

    Com os problemas que se enfrentam nos dias de hoje

    em relao ao gasto energtico, muitas solues so

    criadas e discutidas para combat-los. A utilizao de

    energias renovveis est sempre presente nas

    solues encontradas. Dentre elas, a energia solar

    ganha grande destaque devido localizao

    privilegiada da maioria dos pases do mundo,

    principalmente na regio de Minas Gerais, no Brasil,

    que possui um excelente potencial para utilizao

    dessa energia.

    Com o objetivo de propor uma soluo mais

    econmica para esse problema que enfrentado em

    todo o mundo, no presente trabalho efetuou-se a

    otimizao de uma clula fotovoltaica orgnica de

    Gratzl, visando reduzir os seus custos em relao

    aos atuais painis solares j utilizados. O maior

    desafio encontrado no projeto foi a substituio do

    vidro de borosilicato com uma camada condutora de

    SnO2 por fios de cobre, formando uma rede condutora

    sobre a placa de vidro.

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    e-xacta, Belo Horizonte, v. 6, n. 2, p. 79-92. (2013). Editora UniBH. Disponvel em: www.unibh.br/revistas/exacta/D

    Aps a concluso do prottipo da clula em escala

    reduzida, pode se observar um comportamento

    caracterizado pela capacidade de produzir energia

    eltrica a partir do fornecimento de energia solar, alm

    de armazenar essa energia produzida por um intervalo

    de tempo. Ainda necessrio notar que a clula ter

    um rendimento menor ao proposto por clulas tipo

    Gratzl (SANTOS, 2005), devido ao fator de

    resistividade interna do sistema, que impactou

    diretamente nos valores de rendimento dessa clula.

    Entretanto, o fator de perda calculado no tempo

    mensurado no experimento apresentou uma variao

    pequena, considerando a modificao feita na clula e

    a energia provida de tal alterao.

    Ao trmino deste projeto obteve-se resultados

    satisfatrios em relao alterao no modelo

    proposto por Gratzl, mostrando a viabilidade em sua

    elaborao e um possvel desenvolvimento de

    tecnologia para conduo da energia produzida pela

    clula.

    REFERNCIAS

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