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Revista de divulgação científica do INPA Ciência para todos Outubro de 2011 · nº 08, ano 3 (Distribuição Gratuita) ISSN 19847653 Insetos Detetives ajudam a solucionar crimes MÚSICA Trabalho inédito alia ciência e atividades artísticas URBANIZAçãO Estudos sobre os efeitos da urbanização nas espécies de urubus ESPECIAL Jacaré’s club: conhecendo os descendentes dos dinossauros

Ciência para todos - Nº. 08

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Insetos detetives ajudam a solucionar crimes

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Revista de divulgação científica do

INPACiência para todos Outubro de 2011 · nº 08, ano 3 (Distribuição Gratuita) ISSN 19847653

InsetosDetetives ajudam

a solucionar crimes

MÚSICATrabalho inédito alia ciênciae atividades artísticas

UrbANIzAçãOEstudos sobre os efeitos da urbanização nas espécies de urubus

ESpECIAlJacaré’s club: conhecendo os descendentes dos dinossauros

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Adalberto luis Val Diretor do Inpa

Wanderli pedro TadeiDiretor Substituto do Inpa

Sérgio Fonseca GuimarãesChefe de Gabinete

Estevão Monteiro de paulaCoordenador de Ações Estratégi-cas - COAE

beatriz ronchi TelesCoordenadora de Capacitação - COCP

Antonio Ocimar ManziCoordenador de Pesquisas e Acompanhamento das Ativida-des Finalísticas - COPAF

Carlos roberto buenoCoordenador de Extensão - COXT

Tatiana limaAssessora de ComunicaçãoMTB (4214/MG)

Editora chefeJosiane Santos

redaçãoEduardo PhillipeJosiane SantosClarissa BacellarFernanda Farias

FotografiasAcervo pesquisadoresAcervo UNB/InfraeroFlavio RibeiroEduardo GomesDaniel Jordano

revisão Clarissa Bacellar e Josiane Santos

ColaboradoresAline CardosoJéssica VasconcelosLiliane CostaWallace Abreu

projeto GráficoLeila RonizeRildo Carneiro

Editoração EletrônicaRildo Carneiro TRT-004

Artes e Ilustrações:Daniel Santi e Flávio Ribeiro

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Divulgar e popularizar: agregando a ciência à sociedade

Nossa floresta amazônica é rica e ma-jestosa, e nos permite retirar dela a energia necessária para nosso dia a

dia. No entanto, as ações humanas têm prejudi-cado os ecossistemas do planeta. A cada século, as mudanças climáticas afetam cada vez mais, de maneira negativa, nossa biosfera. Para que essas ações sejam diminuídas e reparadas, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) vem realizando pesquisas e educação ambiental no intuito de conscientizar a sociedade de que o uso desenfreado dos recursos naturais pode afetar, de maneira irreversível, a nossa biodiversidade.

Esse trabalho de conscientização é mais difícil porque a ciência, apesar dos avanços, ainda está muito distante da maioria das escolas brasileiras. Pensando nessa au-sência do conhecimento científico na vida da maioria dos brasileiros, principalmente, das crianças, pesquisadores da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) em parceria com o Inpa desenvolvem um projeto que insere estudantes de ensino básico no conhecimento e prática da ciência. Implementar essa idéia no país, é visar desde cedo, que crianças aprendam o papel fundamental que a floresta exerce em pé.

O que não percebemos e precisamos nos dar conta, é que a ciência se faz presente em nosso cotidiano, e hoje é possível agregá-la nas mais diferentes modalida-des. Nas artes, por exemplo, é possível unir a música com as mais diversas expressões do saber, ajudando a melhorar o cotidiano dos estudantes, sua desenvoltura acadêmica.

Dessa forma, trabalhando com a interdisciplinaridade, o Inpa não visa apenas fazer pesquisas e gerar conheci-mentos sobre ciência e tecnologia, mas também capaci-tar melhores profissionais, transformando-os em propa-gadores de conhecimentos para as próximas gerações.

Em se tratando de conhecimento que vem da biodi-versidade, a Amazônia é cheia de surpresas grandiosas, a cada nova descoberta científica nos deparamos com facetas inacreditáveis da nossa fauna, é isto que Ciência para Todos mostra de maneira surpreendente, com aju-da dos insetos “detetives” e da equipe de Entomologia Forense, como são solucionados crimes, antes indecifrá-veis, com ajuda dos insetos da nossa região.

Mas a ciência também pode surpreender a natureza; com a ajuda de máquinas modernas, pesquisadores proje-tam verdadeiras “armadilhas fotográficas” para observar como as mais variadas espécies de animais se comportam e como as ações humanas afetam cada espécie.

Cada espécie é única, com função e comportamentos próprios para melhor servir a natureza, sejam recém des-cobertas ou pré-históricas, como os jacarés, os primei-ros répteis a habitar o planeta. Você confere todas as curiosidades da família dos Alligatoridae, lendo a editoria especial da revista. Se deixe levar pelo mundo desses pa-rentes dos dinossauros que habitam os rios amazônicos.

EDITOrIAl

EXpEDIENTE

Revista de divulgação científica do

INPACiência para todos

Outubro de 2011 · nº 08, ano 3 (Distribuição Gratuita)

ISSN 19847653

InsetosDetetives ajudam

a solucionar crimes

MÚSICATrabalho inédito alia ciência

e atividades artísticas

URBANIZAÇÃO

Estudos sobre os efeitos da

urbanização nas espécies de urubus

ESPECIAL

Jacaré’s club: conhecendo os

descendentes dos dinossauros

Nossa Capa:Insetos detetivesajudam a solucionar crimes

boa leitura!

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Sum

ári

oEntomologia forense ajuda a polícia científica na solução de crimes

6Uma releitura da música por meio da ciência

Ciência e prática desde a escola básica

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projeto ajuda conservar os quelônios da Amazônia 14

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projeto monitora algumas espécies 24 horas para conhecer os impactos nos ecossistemas

40 pesquisa estuda o efeito da urbanização sobre as espécies de urubus

Estudos tentam reduzir os impactos ambientais da exploração petrolífera 28

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Ciência para todos leva você a conhecer

os parentes dos dinossauros, os jacarés

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para desenvolverMusicalizar> Por Clarissa BaCellar

Quem nunca parou para ouvir determinada música porque simplesmente se identi-ficou com a batida? Quem nunca cantou

junto com a banda ou cantor preferido aquela música que mexe com seus sentidos e sentimen-tos a todo pulmão? O senso comum nos permite acreditar que a música tem o poder de mudar o que sentimos e até mesmo o que acreditamos, por isso existem tantos ritmos, sons, canções. Tem para todos os gostos.

Assim, por mais polêmico que o tema possa ser,

visto a vasta variedade de ritmos, história e o gosto musical, que influenciam na sensação in-dividual, a música gera um prazer inegável aos seres humanos.

Quem trabalha diretamente com música sabe o quanto ela pode ajudar no dia a dia. Não é a toa que hoje existem tantos tratamentos que usam a música como um método de recuperação auxiliar, como a musicoterapia.

Preocupados com a qualidade de vida dos ser-vidores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), o maestro Carlos Freitas e participantes de outros projetos musicais, que serão implementados no Instituto no próximo ano, decidiram formar um grupo de apoio aos in-tegrantes de trabalhos como o coral “Amazônia emcanto”.

É uma verdadeira fusão entre ciência, educação e arte, um processo inédito no país. A partir dos relatórios a serem produzidos pelos profissionais, com levantamentos, avaliações e dados coletados durante ensaios e apresentações, será possível melhorar a rotina de crianças, adolescentes, jo-vens e idosos que usam a música como uma forma de melhorar seu dia a dia.

Freitas, que realizou um levantamento deta-lhado sobre o tema no Brasil, conclui que o trabalho é pioneiro porque não existe biblio-grafia que aborde essa sinergia entre música e ciência. “Nós queremos mostrar que existe sim a possibilidade de fazer um trabalho de inter-

disciplinaridade como este”, afirma.

programa de Educação e Cultura (pEC)O Programa de Educação e Cultura (PEC) é o

conjunto de todos os projetos que se unirão e serão realizados com o apoio e coordenação do Inpa, abrangendo diferentes áreas de ensino. As reuniões para discutir o rumo dos projetos são realizadas todas as quartas-feiras, das 8h às 14h, com apoio dos parceiros Fundação Amazônica de Defesa da Biosfera (FDB) e do Banco Santander.

Além dos músicos e professores que já atuam nos mais de 10 projetos que envolvem o desen-volvimento musical como forma de produção

Quarteto de Cordas, Quarteto de Metais, professores auxiliares e o Maestro Carlos Freitas reunidos em ensaio

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para desenvolverMusicalizar

Ensaio do Coral do Inpa, “Amazônia em Canto”

Apresentação do Coral Infantil, coordenado por Lourival Caldeiras

Apresentação do Coral Infantil no Inpa

Os professores do Projeto Social Rei Davi em visita às famílias dos alunos

científica, serão incluídos outros profissionais, que formarão o Grupo de Apoio ao Profissional (GAP) para músicos, que possam ajudar a criar um ambiente e condições favoráveis para o desenvol-vimento de crianças, jovens e adultos que partici-pem dos projetos.

Serão, então, divididos em dois grupos: o per-manente, com os professores, músicos e profissio-nais que irão ajudar diretamente no trabalho com as crianças e adultos; e o de apoio, formado por psicólogos, fonoaudiólogos, ortodentistas, nutri-cionistas, fisioterapeutas, entre outros que podem ser chamados em casos específicos ou sempre que necessário. Prova de que isso é possível é o traba-

FLAVIO RIBEIRO

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lho desenvolvido com o coral do Inpa.

“Amazônia emcanto”O Coral do Inpa, “Amazônia emcanto”, conduzi-

do pelo maestro Freitas, que trabalha com corais há 20 anos, existe desde 31 de agosto de 2006. A idade média dos participantes do coral é 50 anos, uma idade que a queda muscular é muito comum.

Assim, além da atuação do maestro e de Jean Carlos Barros Vieira, pianista e preparador vocal do coral, faz-se necessária a supervisão de um profissional que cuide das cordas vocais e demais músculos da cavidade oral dos integrantes. Aí

está a prova de que a interdisciplinaridade pro-posta por Freitas é imprescindível.

Entra em cena a fonoaudióloga Daniele Barre-to, convidada pelo maestro a compor o grupo de apoio experimental, que ajudará tanto os idosos do coral do Inpa, quanto as crianças do coral in-fantil - a ser introduzido no PEC a partir de 2012 -, e que assim os integrantes poderão desenvolver suas habilidades sem prejudicarem a si mesmos. “A maioria da população acredita que o fonoau-diólogo só trabalha com criança que fala errado, e não é só isso, tem vários campos que o fono trabalha e as pessoas desconhecem, como a esté-ticatica”, exemplifica a fonoaudióloga.

Quarteto de Violões formado por Ailton de Freitas, Jeferson Silva, Neil Armstrong e que atualmente busca outro violonista para compor o grupo

FLAVIO RIBEIRO

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Os quartetos: a busca por um público ouvinte de peças instrumentais

Esse é objetivo do Quarteto de Metais, formado por Lourival Caldeiras, Marcelo Santos, Everton Scherer e Bruno Leonardo, que também faz parte dos projetos a serem implantados no Instituto e do Quarteto de Violões, formado por Ailton de Freitas, Jeferson Silva, Neil Armstrong e que atualmente busca outro violonista para compor o grupo.

A proposta é montar um repertório com mú-sicas amazônicas, propor uma nova so-noridade e, para isso, estão sendo feitos levantamentos de compo-sitores amazonenses para que posteriormente sejam realiza-das apresentações de teste. “Seria uma outra forma de ouvir a mesma música, uma releitura”, explica Lourival Caldeiras.

O quarteto de metais, que já conta com dois trombo-nes e dois trompetes, assim como o quarteto de violões, ainda pode aumentar. “A idéia é que nós ampliemos para um quin-teto com a participação de uma tuba ou uma trompa”, informa Caldeiras.

“É preciso entender que também é importante e necessário ter um grupo que ouça, que aprecie isso, não apenas um grupo que toque”, destaca o maes-tro Freitas. Grupos assim, comuns na Europa, já pos-suem um público que os acompanha, logo, como afirma Freitas, a busca por um público que ouça esse tipo de som pode ser fei-ta por meio dos resgates de lendas amazônicas, de composições barés, com as quais certamente o amazonense se identifica.

Freitas explica que também existirá uma par-ceria entre os quartetos e o coral, uma vez que o mesmo repertório será distribuído para todos os grupos, com o intuito de educar não apenas os componentes dos grupos, mas também todos que tenham a oportunidade de assistir as apre-sentações.

rei DaviO Projeto Social Rei Davi, criado em 22 de maio

de 2006, coordenado por Lourival Caldeiras, do Quarteto de Metais, é voltado ao ensino musical para crianças e começou a funcionar na própria casa de Caldeiras.

O Projeto promove e apóia o desenvolvimen-to socioeducativo de crianças e adolescentes de famílias carentes por meio de atividades educa-

tivas e artísticas. O grupo oferece aulas gratuitas de reforço escolar, alfa-

betização e, é claro, música e dança. Em 2009, cerca de 200

alunos estavam “matricula-dos”.

Realizam-se ensaios de violino, viola, flau-ta transversal, saxofo-ne, trompete, trombone, flauta doce, bateria, vio-lão e clarinete com alunos

vindos dos bairros: Centro, São José dos Campos, Casta-

nheira e Mundo Novo.

O Projeto conta hoje com a colaboração dos seguintes voluntários: Patrícia Paulino, Giovân-nia Carvalho, Ana Caroli-na Shuan e Kamila Eliza Carvalho como professo-ras de reforço escolar e alfabetização, além de Edine Hsu, professora de música.

As pessoas acreditam que música não tem nada a ver com ciência, mas os músicos também tra-balham com pesquisas. “O músico pesquisa, ele procura saber sobre tudo que esta acontecendo a

sua volta, na sua região, para que possa realizar um trabalho bem produzido”, afirma Caldeiras.

Para o maestro do coral do Inpa, o universo conspira a favor deste trabalho. “Nós começamos o projeto do coral do Inpa em 31 de agosto de 2006 e eles em 22 de maio. A gente aqui e eles lá, fazendo trabalhos distintos e depois de cinco anos o universo conspira para que nós trabalhe-mos em conjunto”, afirma.

Até porque o Inpa não é só árvore, pesquisas com floresta e animais. Isso tudo é muito importante, mas existe um homem no meio de tudo isso

Carlos Freitas

EDUARDO GOMES

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Um trabalho artístico, social, cultural e ambiental Há três anos o Projeto Bater Lata, que também

fará parceria com o Inpa, mostra para as crianças que é possível fazer música com quase todo tipo de material, reciclando o que aparentemente não tem mais serventia. Garrafas, baldes, latas, pinchas, tudo que faça barulho, que tenha percussão, pode se transformar em um instrumento musical. “Tudo pode ser reaproveitado”, diz o coordenador do pro-jeto, Rômulo Mascarenhas.

Músico há 20 anos, Mascarenhas coordena um grupo com 40 crianças, de oito à 14 anos, que já se apresentaram em diversos lugares e ensina os pequenos a importância de proteger a natureza separando o lixo, se divertindo com

o processo e preservando a saúde.

“O projeto começou com um convite de um amigo de formar um grupo de percussão e como não ti-nha recurso pra comprar os instrumentos a gente foi para percussão alternativa, tirar som de lata, baldes e outros instrumentos reciclados”, conta.

As aulas do Bater Lata acontecem na Igreja Mi-nistério Internacional da Restauração, em Manaus (AM), onde as crianças e adolescentes ensaiam e aprendem a montar os instrumentos. “Elas ficam muito empolgadas e não faltam aos ensaios, com direito até a apresentações fora da igreja, quando são convidadas”, revela Marcarenhas.

A música tem o poder de desenvolver várias inte-ligências, gerar pensamento crítico, uma vez que o indivíduo pesquisa sobre a sociedade em que está inserido e como pode ajudar a melhorá-la, além de auxiliar na saúde porque libera a endorfina ajudan-do a relaxar. “Um trabalho que envolve as ativida-des artísticas e rotineiras de músico com a ciência, a favor do desenvolvimento desse trabalho gerando qualidade de vida, é inédito no Brasil e, com o pro-jeto associado a saúde, nós pretendemos conscien-tizar eles dos benefícios que podem ser obtidos”, justifica o maestro.

Já André Luis Barreiros, que trabalha com odonto-logia, o levantamento de dados sobre a saúde bucal dos músicos é de grande importância, uma vez que reflete o tempo e os cuidados que tomam com os

instrumentos que tocam ou ainda como cantam. Muitos músicos e cantores ensaiam seis, oito

horas por dia, realizando uma atividade que não é fisiológica, logo, precisam de uma avaliação da saú-de bucal para que possam se cuidar de forma apro-priada. “Primeiro a gente tem que obter os dados e quando a gente tiver esses dados na mão podemos ajudar no projeto, então nós vemos como está a cavidade bucal, os músculos, se existe alguma le-são, para que possamos cuidar disso e melhorar o desempenho deles, além de dar credibilidade para o trabalho”, explica Barreiros.

Segundo a fonoaudióloga Barreto, esse projeto interdisciplinar “é oportuno, pois vai trocando co-nhecimento e divulgando todas as áreas de ensino, inclusive a da saúde”.

Coral do Inpa, “Amazônia em Canto”

Saúde e qualidade de vida

EDUARDO GOMES

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Quarteto de Metais, formado por Lourival Caldeiras, Marcelo Santos, Everton Scherer e Bruno LeonardoFOTOS: EDUARDO GOMES

“A música pode mudar o mundo porque pode mudar as pessoas”

Bono Vox

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O pEC não é exclusivo, é inclusivoUma das metas, visando a produção cientí-

fica, é a cada três meses cada grupo do proje-to produzir um artigo, expondo os resultados do que vier a ser desenvolvido. Levantamen-tos, pesquisas bibliográficas, discussões, apresentações, tudo que for produzido, para que se tenha e possa gerar conhecimentos dentro da área de música e de saúde.

“Nós trabalhamos com ciência o tempo todo. Nós trabalhamos com acústica, ma-temática, física, não apenas o processo hu-mano e artístico. Talvez o capitalismo tenha desvencilhado a arte da ciência, mas elas não podem andar separadas”, frisa Freitas.

Em Manaus, a falta de respeito com o mú-sico como cientista é perceptível e igno-rada. “Esse é um projeto para dignificar a profissão, músico não é aquele que tem que tocar enquanto todo mundo esta comendo, ele também é um profissional e precisa ser respeitado, a gente tem que mudar essa re-alidade. Nós queremos mudar paradigmas”, protesta Freitas.

Todos os grupos terão um repertório pró-prio e um comum, assim podem realizar apre-sentações separadamente ou juntos, desen-volvendo a cultura no Amazonas, gerando músicos de alta performance sem perder a qualidade. “O projeto, como é grandioso, sa-bemos que existirá erros, mas porque também é pioneiro, assim, esse processo de erro será fundamental para o nosso desenvolvimento e aprendizagem”, justifica o maestro.

O PEC, segundo Freitas, busca assim valori-

zar o homem amazônico culturalmente. “Até porque o Inpa não é só árvore, pesquisas com floresta e animais. Isso tudo é muito importante, mas existe um homem no meio de tudo isso. Então a gente está tentando trazer dignidade para as pessoas, que através da música podem descobrir uma meta e ir em busca de um futuro melhor”, especifica.

Dessa forma, todo o trabalho que os proje-tos realizarão em conjunto será com o intui-to de compartilhar experiência, informação e conhecimento para melhorar a vida dos envolvidos, tanto da comunidade científi-ca como da sociedade, porque, como diz o doutor Barreiros, “a gente não é ninguém sozinho”.

Essa relação de complementos entre ciên-cia, saúde e a música ainda tem muito o que revelar para e sobre o ser humano. “A música é tão espetacular que ela tem a capa-cidade de diminuir a dor, de ajudar. Ela nos estimula a buscar melhorias para nossa vida, isso é especial”, expõe o violonista Ailton de Freitas.

O principal desafio do PEC é conseguir ofe-recer uma boa oportunidade aos interessa-dos. “Quantos Tom Jobim nós perdemos por ano, não é? E por falta de oportunidade”, questiona o maestro.

Logo, ouvir música, escrever música, fazer música, curtir música. Para viver bem e sau-davelmente, nada melhor que boa música. Aquela favorita, quem sabe, que fica guarda-da na memória e em repetição infinita.

Música para seus ouvidos*Todos os entrevistados afirmaram que a igreja é o ninho de criação de músicos e cantores, que precisam

apenas de uma melhor preparação.

*Para ouvir trecho de ensaio do Quarteto de Metais e do Coral do Inpa acesso o canal no YouTube Asco-mInpa

*Hoje sabemos que basta estarmos no campo audível da música para que sua influência atue sobre nós, acelerando ou retardando as batidas do coração; relaxando ou irritando os nervos; influindo na pressão sanguínea, na digestão, no ritmo da respiração etc.

* Pesquisas recentes realiza pela York University e pelo Royal Conservatory of Music de Toronto e publi-cada pela revista Psychological Science revelam que a música ajuda no desenvolvimento da inteligência, como o conhecimento de vocabulário, tempo de reação e precisão.

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Entre as principais fontes de proteínas con-sumidas na Amazônia, os quelônios foram e continuam sendo muito utilizados na região,

desde a época do império português. Das 16 es-pécies existentes na Amazônia Brasileira, o gênero Podocnemis é o mais ameaçado pelo consumo e in-teresse econômico.

Apesar da existência de inúmeros projetos em conservação, esforços dos órgãos fiscais e imple-mentação de criadouros legalizados de quelônios, os problemas ainda não cessaram.

Há 20 anos, o pesquisador Richard Carl Vogt, mudou-se para o Amazonas com o objetivo de es-tudar os quelônios na região. O zoólogo juntamen-te com outros pesquisadores do Instituto Nacional

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Con

Serv

açã

o

> Por liliane Costa

aliada à educação ambiental para conservação da Amazônia

Ciência

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Ciência

de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) fundou em 2002, a Associação de Ictiólogos e Herpetólogos da Amazônia (AIHA), uma associação civil, sem fins lucrativos, cuja finalidade básica é promover o estudo da ictiologia e herpetologia na Amazô-nia, assim como a interação cultural e científica entre os seus membros em geral, visando à con-servação da natureza.

Após muitos anos de pesquisa, Richard Vogt, com o apoio de estudantes, analisaram que desde 1967, ano em que foi criada pelo Governo Federal a lei 5.197 que protege a fauna brasileira e pro-íbe a caça de espécies silvestres no Brasil, não foi suficiente para extinguir a caça predatória de quelônios. Estratégias vêm sendo adotadas para conservação deste grupo, como a proteção e o manejo nas praias de desova e a implantação de criadouros legalizados para desestimular o co-mércio ilegal nos grandes centros urbanos, mas resultados satisfatórios não foram observados.

Concluiu-se que a grande extensão territorial da Amazônia brasileira dificulta a identificação e proteção das áreas críticas à reprodução destas espécies, além disso, o baixo número de técnicos para fiscalizar tamanha região é outro problema, junto a falta de ações e campanhas de ativida-des de educação ambiental, que envolvam tanto as populações tradicionais, quanto a população dos grandes centros urbanos, principais respon-sáveis pelo consumo da carne de tartaruga.

Por isso, a integração de estudos científicos direcionados à educação é imprescindível, já que estas linhas de atuação deveriam ser de-senvolvidas em conjunto para obter resultados mais concretos e efetivos, uma vez que se com-plementam. A partir daí, o pesquisador Vogt e o grupo de pesquisa viram a necessidade de criar um projeto voltado especificamente para a conservação de quelônios de água doce na re-gião, com a missão de despertar a sensibilização frente às comunidades, principalmente quanto ao consumo e comércio ilegal. Estava surgindo então o “Projeto Tartarugas da Amazônia: Conservando para o Futuro”.

projeto Tartarugas da Amazônia: Conservando para o FuturoA AIHA criou o projeto chamado: “Projeto Tar-

tarugas da Amazônia: Conservando para o Futuro” com o objetivo de ampliar ainda mais os estudos científicos desenvolvidos com cinco principais espécies mais ameaçadas: tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa), tracajá (Podocnemis uni-filis), irapuca (Podocnemis erythrocephala), pitiú ou iaçá (Podocnemis sextuberculata) e o cabeçudo (Peltocephalus dumerilianus), criando programas de educação ambiental com abordagens dinâmi-cas para o desenvolvimento do manejo partici-pativo com o compromisso de contribuir para a conservação da Amazônia, principalmente na ci-dade de Manaus e nas comunidades tradicionais da REBio Trombetas, por meio de parcerias estra-tégicas com o Inpa, Ampa, Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Os pesquisadores observaram um alto consumo

da espécie na capital, portanto, tornou-se necessá-rio a criação de Centro de Estudos dos Quelônios da Amazônia (CEQUA) para modificar o comportamen-to, alguns valores e hábitos sociais relacionados ao consumo desenfreado de tartarugas na região, já que em Manaus não existiam programas ambientais voltados para conservação de quelônios.

“Um centro de educação e estudos voltados para a conservação dos quelônios da Amazônia, qualificando jovens para atuarem como moni-tores e multiplicadores do conhecimento nas diferentes instituições de ensino na cidade de Manaus”, explica Vogt.

Duas linhas de ação: pesquisa e educação ambiental O Projeto Tartarugas da Amazônia surgiu com o

objetivo de conservar as tartarugas existentes na região. Porém, percebeu-se que os trabalhos não poderiam ficar restritos somente às tartarugas, pois uma das chaves para o sucesso desta missão seria o apoio ao desenvolvimento de alternativa de ren-da para as comunidades ribeirinhas e quilombolas,

ACERVO PROJETO TARTARUGAS DA AMAzôNIA

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reduzindo assim a caça ilegal de quelônios na Ama-zônia. Para isso, as atividades desenvolvidas no projeto foram organizadas a partir de duas linhas de ação: pesquisa aplicada e educação ambiental.

“As atividades de pesquisa são de extrema impor-tância em trabalhos com conservação, pois é pre-ciso conhecer a história de vida de cada espécie. No momento, vários estudos sobre a ecologia de ninhos, padrão de movimentação, genética popula-cional, bioacústica, dieta, dispersão de sementes e ecologia de população estão sendo desenvolvidos”, destaca Vogt.

Conheça um pouco das cinco espécies atendidas pelo projeto

Irapuca (Podocnemis erythrocephala)

O maior comprimento registrado para a espécie foi de 32,2 cm. Uma característica marcante na irapuca é o padrão de colora-ção vermelha ou alaranjada na cabeça, daí o seu nome específico. Nos machos, o pa-drão avermelhado persiste até a fase adul-ta; as fêmeas têm variação ontogenética, e o colorido avermelhado na cabeça torna-se marrom escuro nos adultos. As fêmeas são maiores do que os machos que possuem caudas mais longas e espessas. A espécie geralmente é encontrada em rios de águas pretas, mas também há registro em alguns rios de águas claras. São primariamen-te herbívoros, alimentando-se de plantas aquáticas e frutos que caem nos igapós, porém peixe também pode fazer parte da sua dieta. Durante o período reprodutivo, as fêmeas se deslocam por grandes distân-cias para desovar nas campinas do rio Ne-gro, mas também desovam nas praias. A desova ocorre geralmente durante a noite, quando cada fêmea deposita de 5 a 14 ovos por postura. A frequência de desovas por fêmea pode ser até quatro vezes duran-te uma estação reprodutiva. Os ovos são alongados, e a casca é rígida. O sexo dos filhotes é determinado pela temperatura de incubação.

Exploração: a exploração de adultos e ovos ocorre principalmente na calha do rio Negro. Porém existem registros que mostram a espécie sendo consumida por jacaré-açu. Seus ovos são predados por moscas, lagartos, macacos, aves, roedores e outros mamíferos como o carnívoro iara e o marsupial mucura–de-orelha-preta.

Conservação: é considerada uma espécie vulnerável. Ainda não existem trabalhos de proteção para as áreas de desova.

Iaçá ou pitiú (Podocnemis sextuberculata)

O maior com-primento da carapaça já re-gistrado foi 34 cm e o peso máximo de 3,5 kg. Umas de suas principais características são os seis tu-bérculos que os filhotes e jovens possuem no plastrão, os quais tendem a desaparecer conforme crescem. As fê-meas são maiores que os machos. O habitat da espécie é em rios de água branca e clara. São herbívoros. Machos e fêmeas possuem a mesma dieta, porém notou-se que a frequência de con-sumo de sementes diminui conforme o tamanho do animal. Costumam construir ninhos nos pon-tos mais altos das praias que surgem na estação seca pondo, em média, 15,8 ovos por ninho. O período médio de incubação, observado para a Praia do Pirapucu (RDS Mamirauá), foi de 64 dias. A determinação sexual também ocorre de acordo com a temperatura de incubação.

Exploração: os adultos são capturados em re-des de pesca, malhadeiras e nas praias de deso-vas, sendo consumidos localmente em grandes números, particularmente durante a estação da seca. A iaçá foi a espécie mais comum de tarta-ruga de água doce usada no tráfico comercial no rio Purus no Brasil, e as fêmeas adultas corres-pondem a uma proporção muito alta de espéci-mes neste tipo de comércio.

Conservação: é considerada uma espécie ame-açada com populações vulneráveis.

ACERVO PROJETO TARTARUGAS DA AMAzôNIA

ACERVO PROJETO TARTARUGAS DA AMAzôNIA

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Tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa)

É a maior tartaruga de água doce da América do Sul, chegando a medir 70 cm de comprimen-to e a pesar aproximadamente 25 kg. A maior fêmea de tartaruga já registrada mediu 109 cm de comprimento e pesou 90 kg. Possuem uma coloração marrom, cinza ou verde oliva e sua carapaça é achatada e mais larga na região posterior. Os machos são menores que as fême-as, possuem a carapaça mais estreita e cauda maior. Os filhotes e jovens apresentam manchas ama-relas na cabeça. Fêmeas adultas têm uma variação ontogenética, no colori-do amarelo da cabeça que torna-se marrom escuro com o avançar da idade. A distribuição da espécie ocorre em toda a Bacia Amazônica. São herbívo-ros, ou seja, se alimentam de plantas (frutos, talos, folhas, sementes e algas). A reprodução ocorre durante a estação de seca, as tartarugas migram à procura das áreas de desova que varia de acor-do com a localidade e o ciclo dos rios. Antes da desova as tartarugas se agrupam em frente aos tabuleiros, como são chamadas as praias de de-sova. Ao sair da água para desovar, as tartarugas andam pela praia atrás de um bom local para postura. Após a postura, continuam agrupadas

em frente às praias por um longo período, que coincide com a subida das águas e com o nasci-mento dos filhotes. São depositados em média cerca de 100 ovos, ocorre apenas uma postura por ano. O período de incubação dos ovos é em média de 45 a 55 dias e o sexo dos filhotes é determinado pela temperatura de incubação.

Exploração: desde a época do império portu-guês, a carne e os ovos de tartaruga-da-amazônia são consumidos pelo homem. O naturalista Henry Bates re-latou que no alto rio Ama-zonas, próximo a cidade de Tefé, cerca de 48 milhões de ovos foram coletados anualmente entre 1848 e 1859. Atualmente a lei per-mite a comercialização da tartaruga-da-amazônia de criadouro comercializado

para desestimular o comercio ilegal.

Conservação: anualmente cerca de 2 a 3 mi-lhões de filhotes de tartaruga-da-amazônia nas-cem nas praias dos rios amazônicos que vem sendo monitoradas e protegidas. Apesar deste número estar muito longe dos 48 milhões de ovos que eram coletados anualmente no século XIX, em apenas quatro praias.

Cabeçudo (Peltocephalus dumerilianus)O comprimento da carapaça do adulto pode medir

até 52 cm nos machos e até 47 cm nas fêmeas, com adultos podendo pesar entre 8 e 15 kg. É uma grande tartaruga e, em contraste com a maioria dos demais gêneros de tartarugas aquáticas e das espé-cies da sua mesma família. Os machos são maiores do que as fêmeas. A mordida desta espécie é muito forte, possuem mui-ta força em seu maxilar. A espécie é amplamente distribuída, na Ba-cia Amazônica, sendo abundantes no rio Negro, e em típicos rios de água preta. Apesar de possuírem um bico (focinho) muito afiado e ma-xilas muito fortes, sugerindo serem predadores, no seu conteúdo estomacal foi encon-trado primariamente sementes e frutos. Constroem ninhos em qualquer lugar de areia seca na floresta de igapó. Seus ninhos são feitos principalmente no interior da floresta alagada, em barrancos de terra junto às raízes de árvores caídas. Contudo, as fême-as também podem construir ninhos na margem da

água. A desova varia de julho a novembro depen-dendo da localidade. As fêmeas desovam entre 10 e 25 ovos por ninho.

Exploração: nesta espécie, os adultos são os mais explorados, pois seus ninhos são tão bem camufla-

dos que dificulta a predação, princi-palmente a humana. O cabeçudo não é consumido por ser a espécie prefe-rida, mas porque populações das ou-tras espécies de tartarugas têm sido dizimadas em larga escala pela coleta de adultos e de ovos.

Conservação: por meio de dados concretos de monitoramento de espécies adultas e praias de desova, o projeto mostra também para as comunidades locais, como o consumo desenfrea-do está afetando o status das populações locais de quelônios, mostrando alternativas de subsistência como forma de expandir o interesse coletivo em res-peito à natureza.

ACERVO PROJETO TARTARUGAS DA AMAzôNIA

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Tracajá (Podocnemis unifílis)

Desde sua criação, a ONG vem atuando na orga-nização de eventos em Manaus como o Joint Mee-ting of Icthyologists and Herpetologists, 6th World Congress of Herpetology e o XIX Encontro Brasileiro de Ictiologia, promovendo campanhas destinadas a conservação e pesquisa de peixes e quelônios na Amazônia.

E foi com a união destas parcerias que o “Proje-to Tartarugas da Amazônia: Conservando para o Futuro”, por meio da AIHA, concorreu na quarta edição da Seleção Pública de Projetos oferecida pela Petrobrás através do Programa Petrobras Am-biental, sendo contemplada no ano de 2011 para desenvolver o tão sonhado projeto. Graças às for-tes parcerias e ao patrocínio da Petrobras, até o final de 2012, um Centro de Estudos de Quelônios

da Amazônia (CEQUA) será construído na cidade de Manaus, tornando-se o pioneiro em toda a Amazônia. Ele vai atuar em quatro áreas: Educa-ção Ambiental, Comunicação, Visitação & Aquário e Pesquisa.

Será construído nas dependências do Inpa, um local já consagrado na Amazônia dentro do rotei-ro de turismo científico-ambiental na zona urbana de Manaus, usufruindo de infraestrutura de visi-tação oferecida pelo Bosque da Ciência, com sua sede próxima de um lago artificial que já abriga várias espécies de tartarugas da amazônia. Com um espaço aberto ao público, o Centro vai contar com exposições de tartarugas amazônicas vivas em ambientes de aquário com informações sobre a conservação, ecologia e biologia das espécies.

Chegam a medir 35 cm de comprimento e pesar cerca de 6 kg. Os machos são menores que as fême-as, possuem a carapaça mais estreita e cauda mais longa e espessa. Os filhotes e jovens apresentam manchas amarelas na cabeça. Fêmeas adultas têm uma variação ontogenética, no colorido amarelo da cabeça que torna-se marrom a ferrugem com o avançar da idade. Em alguns machos o padrão de cor da cabeça pode se perder. Vivem em uma varie-dade de habitats como, grandes rios, lagos, lagos de meandro, pântanos, brejos e lagoas. Ocorrem nos três tipos de rios amazônicos: rio de água branca, rio água clara e rio água preta. São predominante-mente herbívoros, ou seja, se alimentam de plantas (frutos, talos, folhas, sementes e algas). As fême-as consomem mais sementes e frutos, enquanto os machos comem mais caules de gramíneas. O perí-odo de desova varia ao longo de sua distribuição

na Amazônia. A desova é dependente do recuo do nível da água, com isso a estação de desova varia de junho até fevereiro dependendo da localidade. As fêmeas desovam de uma a duas vezes por tem-porada cerca de 35 a 40 ovos. O sexo dos filhotes é determinado pela temperatura de incubação.

Exploração: a principal ameaça para a sobrevi-vência desta espécie é a massiva exploração de adultos, jovens e ovos para consumo e venda. Al-gumas populações de tracajás nas bacias dos rios Madeira e Tapajós têm sofrido efeito da poluição por mercurio (Hg) normalmente associada com o garimpo de ouro.

Conservação: na Amazônia existe um programa que monitora e protege as praias de desova para tracajás e tartarugas- da-amazônia.

Apoiadores

ACERVO PROJETO TARTARUGAS DA AMAzôNIA

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Pesquisadores fazem a medição dos quelônios

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Ciência na práticaEducação científica na escola básica:

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É do interior do estado do Pará que vem a iniciati-va de um novo modelo de educação ambiental. A proposta de incluir no ensino fundamental e

médio a metodologia científica de ensino tem mo-vimentado os estudantes do município de Oriximiná (a 823 quilômetros de Belém) que vem buscando se destacar na sala de aula para integrar a equipe do Programa de Ação Interdisciplinar (PAI), coordenado pelo professor Domingos Wanderley Picanço Diniz, da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa).

O objetivo do projeto é tirar os estudantes do en-sino fundamental e médio da sala e promover uma educação ambiental real, na prática e não através das páginas de livros, fotos ou vídeos. “O título

que demos ao projeto já deixa claro exa-tamente a que o programa se propõe: uma ação. Temos que ensinar a educação científica na prática e não ficar só na retórica”, argumenta Diniz.

“O que a gente busca é a efetivação de novas didá-ticas pedagógicas na prática do ensino. Eles entram na mata, eles vão aos igarapés, eles vão, na prática, entender como funciona aquele ecossistema. E não é nada fora da realidade deles, só que eles passam a enxergar esse ambiente em que vivem de outra forma”, disse.

De acordo com o coordenador do programa, trata-se de uma proposta interdisciplinar por se tratar de um projeto que se propõe a fazer perguntas ou solu-cionar problemas já levantados relacionados a dife-

> Por WallaCe aBreu

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Ciência na práticaEducação científica na escola básica:

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Domingos Diniz desenvolve

projetos para estudantes de ensino

fundamento e médio

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rentes áreas e não somente a um tema ou assunto em particular.

Um dos objetivos do programa é resolver o que é visto como um problema por seus coordenadores, que é o distanciamento que existe entre a universi-dade pública e a realização de ações diretas na socie-dade. “A ideia é que esse programa se responsabilize para ajudar a escola básica, entenda escola básica como o ensino fundamental e médio, a incluir no seu conteúdo programático disciplinar a ciência do ponto de vista do pensamento, do teste de hipóte-ses, do método científico, coisas que não aparecem em textos didáticos em qualquer escola básica do país”, destaca o professor.

Domingos fala sobre uma real interação amazô-nica entre aqueles que possuem o conhecimento formal da re-gião e aqueles que possuem um conhecimento informal, aque-les que vivem em meio a esse conhecimento, que o fazem ser verdadeiro, sem ter conheci-mento disso: o caboclo amazô-nico. “Procuramos estabelecer uma parceria com o caboclo, pois é ele quem possui o ver-dadeiro conhecimento, mesmo que informal, sobre esta re-gião. Essas informações devem ser compartilhadas para que não se percam. Essa parceria propicia que possamos siste-matizar este conhecimento do ponto de vista da compreensão formal”, ressalta.

“A proposta é proporcionar aos alunos da escola básica uma melhor compreensão do am-biente em que eles vivem. A ci-ência, antes de qualquer coisa, ela é cidadã, e ela ajuda a mostrar para a criança que tudo aquilo que está ao seu redor, que tudo é muito importante e que a falta de algum ele-mento custará muito caro para a natureza. O ser humano, desde a infância, tem que aprender o valor de cada coisa, estabelecer uma relação de respeito. Tudo isso está dentro dos princípios fi-losóficos do programa”, destaca o professor.

O programa surgiu dentro de um projeto peda-

gógico do curso de graduação em Ciências Bioló-gicas com ênfase em Águas Interiores da Ufopa onde o graduando deve cumprir uma carga horá-ria de prática de ensino e uma carga horária do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), de acordo com a grade curricular do curso. No PAI, essas duas práticas se unem.

“Estas duas experiências não estão dissociadas. O ensino anda de braços dados com a pesquisa. Dentro de uma perspectiva para atender os pa-râmetros curriculares internacionais de nível su-perior, médio e fundamental, o programa atende a lei de diretrizes básicas da educação. O traba-lho que realizamos, não é nada mais do que o orientado pelo Ministério da Educação (MEC) e, ao fazê-lo, nós encontramos as barreiras naturais do ensino clássico, que devem ser rompidas. O que fazemos para galgar estas barreiras? Primei-ro tiramos o estudante da sala de aula”, ressalta Diniz.

“Na Ufopa, orientamos nossos graduandos em li-cenciaturas a evitar qualquer forma que reproduza a forma clássica de ensino. Outro ponto que passa-

mos aos nossos graduandos é que eles tem que entender que esses alunos de ensino fundamental ou médio não estão ou são inferio-res à eles. Eles serão parceiros de pesquisa, e esses estudantes de ensino fundamental ou médio os ajudarão a elaborar o seu traba-lho de conclusão de curso”, disse Diniz.

De acordo com o professor, quando essa parceria se estabele-ce na prática, eles passam a ter uma relação de respeito entre si. A partir do momento que estes estudantes da escola básica per-cebem que o programa permite que eles manifestem suas curio-sidades, que são inerentes a sua idade e que muitas vezes são fantasiosas em sua relação mí-tica com o mundo, quando eles passam a ter essa oportunidade de, no mundo real, fazer essa per-gunta ao mesmo tempo em que

possuem as ferramentas necessárias para chegar até a resposta, eles passam a ter uma relação de curio-sidade com o mundo real e entender que o mundo real pode ser lúdico, pode ser tão prazeroso quanto o mundo da fantasia.

“Quando isso acontece a gente percebe que muda a relação social deste cidadão. Ele passa a ter mais zelo com o ambiente ao seu redor e, é essa experiên-cia que deveria ser exercitada ao máximo no Brasil, pois este é um país que está na fase de experimentar o que pode vir a dar certo para seu desenvolvimen-to. Não quero dizer que estamos com o modelo de ensino correto, que ele é fenomenal. Tudo deve ser experimentado nessa fase. E a experiência te per-mite pensar e testar aquelas coisas que você tem por convicção como funcionais, as coisas que você

“A idéia é que esse programa se res-ponsabilize para ajudar a escola básica, a incluir no seu conteúdo programático dis-ciplinar a ciência do ponto de vista do pensamento, do teste de hipóteses, do método científi-co, coisas que não aparecem em tex-tos didáticos”

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acredita, e principalmente, porque a experiência te permite errar”, argumenta Diniz.

Segundo o professor, este é outro ganho que o programa pode oferecer ao aluno. “Hoje, a criança é o tempo todo bloqueada por causa do erro e, esse exercício tentativa/erro, per-mite um crescimento, um amadurecimento in-telectual que não vem sendo bem trabalhado”,

disse.Outro ponto a ser destacado no projeto é o des-

pertar no jovem esta convivência com o universo acadêmico, o que futuramente, não será mais uma dificuldade para estes quando chegarem de fato ao nível de ensino superior, pois ele já possui contato real com este meio, já estando preparado para este nível de ensino.

1723

parceiros

Na escola

Graduandos

O programa foi concebido em 2005, mas a preparação prática começou a ser feita em 2007 e sua efetivação junto aos alunos foi em 2009.

O programa é realizado em parceria com o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Adaptações da Biota Aquática da Amazônia (INCT-Adapta) coordenado pelo Instituto Na-

cional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI).

“Essa parceria só vem para fortalecer as ações deste Instituto Federal que embora esteja situ-ado em Manaus, deve atender as demandas e anseios em pesquisas de toda essa região que compõe a Amazônia, embora conheçamos as di-ficuldades geográficas que esta região nos im-põe”, argumenta Diniz.

Para o graduando, surge uma responsabilidade social, além da simples entrega e conclusão de sua pesquisa ao final da graduação. “O graduando pas-sa a ver que o trabalho que poderia simplesmente apenas beneficiá-lo com a obtenção do grau, passa a beneficiar outras pessoas que tiveram a oportu-nidade de participar deste processo de pesquisa”, aponta Diniz.

Cada graduando trabalha com seis alunos da rede pública de ensino. Quatro do ensino fundamental e dois do ensino médio. “O aluno do ensino fun-damental é priorizado, pois ele terá mais tempo de experiência dentro do programa, e ele está muito mais livre para pensar de que um aluno do ensino médio, que já está bombardeado por uma mídia que não só é repressora como estabelece dificulda-des de um relacionamento sadio. Um menino entre os oito e 12 anos é, como eu diria, um HD vazio de

informações, mas que está pronto para recebê-las e ser exercitado”, explana o professor.

“Nós realizamos um processo seletivo para o ingresso dos estudantes de ensino médio e fun-damental, independente de sexo, idade, cor, ou status social. O que nós consideramos é o rendi-mento escolar do aluno na sala de aula. Trabalha-mos para combater uma prática muito comum em escolas públicas, principalmente nos municípios do interior, onde alunos recebem privilégios no ambiente escolar por conta de sua proximidade com tal professor ou diretor da escola. O programa não surgiu para resolver problemas psicológicos, familiares e educacionais que são de responsabi-lidade da criação familiar, mas pode oferecer re-sultados para o futuro deste ambiente escolar”, argumenta Diniz.

O programa estimula seus participantes a prática da pergunta, e que com eficácia, tem tido um bom retorno dentro das salas de aula. O aluno passa a per-guntar mais e o professor passa a se preparar mais para dar suas aulas.

Todos os projetos desenvolvidos na escola são apresentados em seminários bimestrais e uma feira de ciências é organizada anualmente. “Realizamos mini conferências com a participação de alunos de outras cidades, oficinas de como formatar uma revista em quadrinhos, como produzir um jornal, gincanas científicas, apresentações teatrais, vídeos, fotogra-fias, entre outros materiais, tudo produzido pelos in-tegrantes do programa”, destaca o professor.

FLAVIO RIBEIRO

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A maior parte dos materiais orgânicos na natureza como folhas, frutas e até cadá-veres, é decomposta por insetos princi-

palmente moscas e besouros. para melhor sa-ber sobre os hábitos desses insetos, o grupo de Entomologia Forense do Instituto Nacional de pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) tem trabalhado para entender como as moscas e

besouros podem ajudar a ciência fo-rense a desvendar crimes de origem

misteriosa.

O pesquisador bolsista Alexandre Ururahy rodrigues, um dos responsáveis por uma das pesquisas, em andamento no Inpa, diz que esses animais são de fundamental importân-cia para o ecossistema natural. “As moscas varejeiras e besouros, principalmente, são nossos objetos de estudos, pois colonizam o material orgânico, onde suas crias se desen-volvem”, explica.

O pesquisador vê a Entomologia Forense como uma ferramenta no auxílio aos procedi-mentos periciais em questões legais. “A sua relevância social está intimamente ligada à segurança pública, principalmente”, enfatiza o pesquisador e completa: “A entomologia forense encontra-se em franca expansão no país. Existem núcleos de pesquisa nos esta-dos do rio de Janeiro, São paulo, paraná, rio Grande do Sul, brasília e Amazonas. Os de-mais estão em vias de serem formados”.

A pesquisa conta com estudiosos envolvidos direta e indiretamente nos trabalhos: José Al-bertino rafael, ruth Menezes Kepler e Ale-xandre Ururahy rodrigues, pesquisador com bolsa do programa Nacional de pós-Doutorado (pNpD) e alunos de pós-graduação e bolsistas do Instituto, da Coordenação de biodiversi-dade.

Os detetives“Os insetos são os decompositores naturais

de material orgânico. Com os estudos da bio-logia desses insetos levados em consideração, a ajuda se dá de modo direto em investiga-ções criminais e poderão estimar um dado de extrema importância para o bom andamento do caso: o intervalo pós-morte”, afirma Uru-rahy explicando que este é o tempo decorrido entre a morte e a descoberta do cadáver e que pode ser muito próximo do tempo de coloni-zação pelos insetos.

As moscas varejeiras (da família dos calori-

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Ciên

Cia

Fore

nSe

solucionando crimesInsetos detetives

Por aline Cardoso

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solucionando crimesInsetos detetives

fídeos) e besouros participam efetivamente dos experimentos e, com base na ação desses insetos, é possível calcular o tempo em que o cadáver está em decomposição. para que os experimentos sejam realizados, os pes-quisadores trabalham em uma área afastada na reserva Adolpho Ducke, utilizando porcos domésticos.

Ururahy explica que a legislação brasileira atualmente não permite que experimentos forenses sejam feitos usando cadáveres hu-manos, portanto nesta pesquisa utilizam-se porcos. O pesquisador conta que, segundo pesquisas feitas em outros países do mundo, como Estados Unidos, Inglaterra e França, os porcos domésticos são parecidos com os seres humanos no que diz respeito ao processo de decomposição, além de reproduzir bem as di-mensões de um humano.

CobaiasAs cobaias escolhidas pesam em média 60 kg

para simular o peso médio de um corpo huma-no adulto. Os dias de colonização do cadáver pelos insetos são classificados como etapas, isto é, representam um avanço no processo de decomposição. Ao analisar essas etapas, pode-se determinar, ou estimar pelo menos, o tempo de decomposição do cadáver.

Alguns fatores precisam ser considerados na decomposição de material orgânico, se-jam eles cadáveres humanos ou não, e podem ocorrer de três formas: decomposição bacte-riana (bactérias da flora intestinal), autó-lise (morte das células do corpo) e a ação externa, por meio de animais (insetos e grandes vertebrados). O primeiro citado é res-ponsável pela maior perda de massa corporal do cadáver.

O pesquisador explica ainda que ação dos

insetos pode variar de acordo à localidade em questão, e são influenciadas diretamente pelo clima desse lugar e diz que nem sempre, em todos os casos, são as mesmas espécies de insetos, no entanto esse processo ocorre sempre da mesma forma. “O corpo, depois de morto, logo exala um odor que atrai esses in-setos”, explica.

As moscas varejeiras (observadas nesta pes-quisa), vespas e até abelhas são as primeiras a chegar para se alimentar do material orgânico e colonizar o cadáver. As fêmeas depositam os ovos sobre esse material para que quando eles eclodam, suas crias possam também se

alimentar deste. A massa corpó-rea do ca-d á v e r ajudará as

larvas des-ses insetos a chegar à fase

adulta.

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A próxima fase que se segue, não é tida como regra pelos pesquisadores, mas ge-ralmente, alguns insetos predadores como os besouros – nesta pesquisa o silfídeo Oxelytrumcayenense – chegam ao cadáver com o intuito de se alimentar das larvas de moscas e cartilagens do corpo, limpando os ossos. Outras espécies de besouros, como o Coprophanaeus lancifer, são exclusivamente necrófagos, ou seja, são animais que se ali-mentam de restos orgânicos (plantas e ani-mais mortos). No processo de alimentação, esses insetos provocam injúrias pós-morte, artefatos que podem confundir os peritos na elaboração de laudos periciais. Ainda como fator que pode causar confusão para os le-gistas, esta espécie de besouro altera a po-sição inicial da carcaça, provocando incisões

no corpo morto por inteiro.

“Esse dado é muito importante, pois pode confundir a causa-morte para os peritos. A injúria que esse besou-ro faz no corpo pode ser facilmente confundida

com f e r i -

m e n t o s causados por

o b j e t o s p e r f u -r o c o r -tantes, c o m o

facas, no e n t a n t o , foi feito pelo próprio inseto”, afirma Ururahy e comenta: “Em nossas ob-servações, em dois meses, o que restou do cadáver foi apenas o esqueleto; posso afir-mar que em cinco anos, o corpo terá sido decomposto por completo”, afirma o pes-quisador.

pupasUrurahy trabalhou em alguns casos

reais em parceria com autoridades de outros estados e, em um deles, o trabalho da Entomologia Forense foi crucial para resolver o mistério, tudo baseado no estágio da vida dos insetos encontrados no local do crime.

Depois de passado o período larval do inseto, eles costumam abando-

nar o cadáver e procuram o solo para se en-terrar e se transformarem em pupas – uma espécie de casulo. Depois de um período de tempo, elas emergem já em fase adulta e com asas. As pupas são importantes para a perícia, pois representam uma fase mais madura do inseto e esse dado oferece uma estimativa mais precisa do pós-morte nas investigações. “Se observarmos, os insetos podem contar uma história com muita clare-za”, comenta Ururahy.

Testando: 1, 2, 3...Atualmente, de acor-

do com Ururahy, exis-tem experimentos já em fase final de observação e análise na reserva Adolpho Ducke, sob coorde-nação da pesquisadora do Inpa, ruth leila Mene-zes Keppler. As novas fases de experiências têm planos para iniciar ainda este semestre e serão coordenados por outro pesquisador do Inpa, José Albertino rafael e execu-tados por Ururahy.

Fazendo parte de um plano de ações para difundir a importância desta pesquisa, o grupo coordenado pelo pesquisador José Albertino rafael, manteve contato com o Instituto de Criminalística do Instituto Médi-co-legal de M a -

naus (IMl) e firmou uma parceria para ministrar cursos de capacitação para os

peritos criminais e também para con-sultorias em casos reais.

“Os ganhos para ambas as instituições será de gerar um conhecimento científico de

ponta para o Amazonas nesta área de atuação, formando e com-plementando um banco de dados para a nossa região e contribuir com a polícia científica na missão

de desempenhar seu papel na segurança pública estadual”, conclui Ururahy.

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Ururahy trabalha na área fo-rense desde 2003 por ocasião do projeto da Universidade de Brasília (UnB) intitulado “Cen-tro Nacional de Entomologia Forense”. Este projeto foi de-senvolvido em parceria com o Ministério da Justiça – Secre-taria Nacional de Segurança Pú-

blica (SENASP) e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), com recursos do Con-selho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento (CNPq) e teve por objetivo ministrar cursos de capacitação para peritos da po-lícia, além de prestar consulto-rias em estudos de casos reais.

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Exploração petrolífera

> Por JéssiCa VasConCellos

O petróleo é a principal fonte de energia uti-lizada pela sociedade moderna. A explora-ção deste recurso gera impactos negativos

ao ambiente e exige medidas para minimizar esses impactos.

A Rede CTPetro Amazônia foi criada em 2001 atendendo a um edital da Financiadora de Estu-dos e Projetos (Finep) e tem como objetivo in-tensificar a troca de informações, o intercâmbio de profissionais, avaliar, eliminar ou minimizar os efeitos negativos ao meio ambiente, resul-tante das atividades de prospecção e transporte do gás natural e petróleo na Amazônia brasilei-ra e conhecer melhor o ambiente (flora, fauna, solos, clima etc.) sob influência das atividades petrolíferas, desenvolvendo tecnologias para re-cuperação de áreas desmatadas pelas atividades

petrolíferas em Urucu, no município de Coari, no Amazonas.

Na sua criação, o Fundo Setorial do Petróleo

tinha como meta estimular a inovação na cadeia produtiva do setor de petróleo e gás natural, a formação e a qualificação de recursos humanos.

Única na região Norte aprovada no edital da Finep de 2001, a Rede CTPetro Amazônia teve seu primeiro convênio assinado em 27 de de-zembro de 2002 e iniciou suas atividades em janeiro de 2003, sempre buscando auxiliar a Pe-trobras a desenvolver um modelo de exploração de petróleo e gás natural em plena floresta, onde a preservação do meio ambiente e qualidade de saúde sejam referências mundiais.

As pesquisas, até a quarta fase, vêm sendo re-alizadas às margens do rio Urucu, no município

Biodiversidade de Urucu

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de Coari, na Base de Operações Geólogo Pedro de Moura (BOGPM), distante cerca de 650 km da capital Manaus. Já na quinta fase, que teve início no final de 2010, a Rede também começou a realizar pesquisas em algumas clareiras pro-venientes do gasoduto, entre Manacapuru e Manaus, no es-tado do Amazonas.

A Província de Urucu é a úni-ca a produzir petróleo e gás natural na Amazônia brasileira e o grande desafio da indústria petrolífera é explorar essa ri-queza sem degradar a floresta, preservando e protegendo sua biodiversidade.

O projeto, coordenado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA/MCTI), conta com a partici-pação de instituições como Universidade Fede-ral Rural da Amazônia (UFRA), Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Universidade Federal do

Amazonas (Ufam), Universidade Federal do Pará (UFPA), Empresa Brasileira de Pesquisas Agro-pecuárias (Embrapa), Fundação Centro de Aná-lise, Pesquisa e Inovação Tecnológica (Fucapi), Petróleo Brasileiro S/A (Petrobras). Desde sua

criação, o projeto intensifica a troca de conhecimentos entre essas instituições buscando ajudar, por meio das pesquisas científicas, a conservação ama-zônica.

prOJETOSEstruturada por cinco proje-

tos de pesquisas até a quarta fase, executados pelo Inpa, Embrapa e MPEG, a Rede CTPe-tro Amazônia representa um esforço conjunto de diferentes grupos de pesquisas e institui-

ções de C,T&I em atuarem de forma coordenada, integrada e cooperativa, para realizar pesquisas visando auxiliar a resolver e/ou minimizar os impactos das atividades humanas no meio am-biente amazônico.

e de gás natural respeitando de forma consciente

Exploração petrolífera

Rede: o que se es-pera para a quinta fase é um avanço na obtenção de dados científicos em novas áreas de pesquisas

Projeto Caracterização e análise da dinâmica do solo Margem do rio urucu

FOTOS: REDE CTPETRO

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Dinâmica de clareiras sob impacto da exploração petrolífera - coordenado pela pesquisadora Ana Lúcia da Costa Pruden-te, do MPEG, é um projeto que se propõe a prover conhecimento e tecnologia para subsidiar a recuperação de clareiras causa-das pela atividade da indústria petroleira na região do Rio Urucu no Amazonas. Para isso, o projeto, até o final de sua execução pretende ter como resultado um inventário biológico na região do Urucu, disponibili-zando dados para toda a rede. Estes dados darão subsídios para a obtenção de outros resultados como:

* Listas florísticas identificadas taxonomica-mente e localização precisa de todas as espécies e indivíduos arbóreos registrados nas parcelas da floresta primária, possibilitando a marcação de árvores matrizes para coleta de sementes e treinamento de técnicos e para taxonomistas;

* Listas faunísticas com identificação de es-pécies, com a localização precisa dos pontos de amostragem dos animais;

* Incremento das coleções científicas das ins-

tituições participantes do projeto e formação de coleções de referência no local do projeto (Rio Urucu), caso seja de interesse da empresa entre outras metas a serem cumpridas.

Técnica de regeneração artificial em clareiras abertas pela exploração e transporte de petróleo e gás natural - coordenado pelo pesquisador do Inpa, Gil Vieira, promove o desenvolvimento de tecno-logia para a regeneração artificial em clareiras abertas pela exploração e transporte de petró-leo e gás natural visando à recomposição do ecossistema danificado. Para isso tem como algumas metas:

*Definir qual ou quais modelos silviculturais são mais eficientes na recomposição de clarei-ras formada pela prospecção de petróleo e gás natural, e aumento da biodiversidade;

* Promover a recuperação funcional das áreas de clareira;

* Reduzir o processo erosivo do solo; * Formar recursos humanos na recuperação

de áreas degradadas.

Base petrolífera de Urucu em Coari (AM)

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Os projetos que compõem a rede até a quarta fase são:

ACERVO REDE CTPETRO

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Análise de sensibilidade ambiental, modelagem e previsão de impactos Sob a coordenação do pesquisador do

Inpa, Bruce R. Fosberg. O projeto pode ser subdividido em duas partes: uma envolveu o desenvolvimento de um modelo de inunda-ção e deriva de mancha de petróleo para a várzea amazônica acoplado a um banco de dados biológicos e sócio-econômicos, que possa ser utilizado para prever os efeitos de acidentes com petróleo na região. A outra parte envolveu o estudo da dinâmica nas clareiras, abrangendo as alterações microcli-

máticas decorrentes da abertura e os efeitos do transporte de sedimentos sobre o ciclo hidrológico.

A previsão em tempo hábil da trajetória de uma mancha de petróleo após um vazamento é importante para a previsão dos impactos ambientais decorrentes do acidente e para preparar ações eficazes para reduzir estes im-pactos. Esta previsão requer uma modelagem precisa da deriva de manchas e um banco de informações sócio-ambientais detalhado so-bre os ambientes potencialmente atingíveis.

Caracterização e análise da dinâmica do solo Coordenado pelo pesquisador da Embrapa,

Luiz Marcelo Brum, o objetivo maior desse pro-jeto é, através de uma avaliação integrada dos atributos do meio físico da região de Urucu e Coari, caracterizar as potencialidades e as vul-nerabilidades dos solos da região, definindo as estratégias adequadas para conservação e ma-nejo dos mesmos. A integração desses estudos

fornece dados fundamentais para aumentar sig-nificativamente os conhecimentos deste domí-nio da Amazônia Ocidental, contribuindo para entender os processos de intemperismo das ro-chas gerando os solos. Esses dados permitem comparar as modificações sofridas naquelas áreas onde houve retirada do solo. Compreende também, estudos da biologia e fertilidade dos solos, considerados extremamente importantes na restauração ambiental das clareiras.

Projeto Técnica de regeneração artificial em clareiras

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ACERVO REDE CTPETRO

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Sede da Rede CTPetro

Malária: dinâmica de transmissão, vetores e estratégias de controle em áreas de exploração de petróleo

Coordenado pelo pesquisador do Inpa, Wan-derli Pedro Tadei. O projeto está estruturado para estudar os anofelinos e os mecanismos de transmissão e controle da Malária na Pro-víncia Petrolífera de Urucu e áreas de influ-ência – Coari e Carauari, determinando as es-tratégias de controle com base em medidas de rotina e em novos processos biotecnológi-cos, reduzindo os riscos de transmissão dessa doença aos trabalhadores e às comunidades envolvidas. Complementa ações de controle com informações em educação e saúde e as-sistenciais que possibilitem a melhoria das Condições e Qualidade de Vida das Comuni-dades, na área de influência do empreendi-mento.

Na Amazônia, a malária configura-se como a principal endemia e dependente do uso e ocupação da terra. Como nos demais países tropicais, esta doença representa, no Brasil, importante problema de saúde pública, aco-metendo entre 500 a 600 mil pessoas por ano, das quais quase % ou mais estão na Amazô-nia (dados da Funasa). A malária é geralmen-te a primeira doença a surgir em decorrência da ocupação desordenada da terra, com nú-mero crescente de casos nas últimas décadas.

Detecta-se baixa mortalidade entre os indi-víduos adultos, porém a morbidade é eleva-da, constituindo a primeira causa de perdas econômicas entre as doenças parasitárias no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). A introdução de novas estra-tégias de controle possibilita melhor aborda-gem das medidas de combate à malária.

A complexa ecologia da Amazônia resulta em habitats com características especiais. Encontram-se, por exemplo, águas pretas e ácidas, águas brancas ligeiramente básicas, pulso de enchentes e vazantes, que propiciam a existência de uma diversidade e densida-de de anofelinos específicos para cada área. Esses diversos ecossistemas estabelecem di-nâmicas de transmissão distintas nas áreas endêmicas, onde as modificações ambientais alteram o grau de incidência da doença, in-terferindo nas medidas a serem adotadas.

A meta principal a ser atingida é a redução da incidência nos trabalhadores da Petrobras e estabelecer medidas de prevenção, para cada área especificamente. É nesta linha de raciocínio que as atividades deste projeto es-tão centradas para atuar de forma preventiva contra a malária na área da Província Petro-lífera de Urucu e áreas de influência – Coari e Carauari.

ACERVO REDE CTPETRO

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resultados de pesquisa

Inicio da 5° Fase

O coordenador afirma que os resultados das pesquisas da Rede CTPetro tem auxiliado a Pe-trobras em manter um modelo de exploração de gás natural e petróleo na Amazônia com muito pouco impacto ambiental sobre a floresta que circunda a Base de Pedro de Moura, às margens do rio urucu no município de Coari. “O desma-tamento na BOGPM representa menos do que 0,004% de todo o desmatamento ocorrido na Amazônia brasileira, um impacto insignificante e com elevado retorno econômico para a região e país, pois é lá que todo o gás natural e petró-leo usados na Amazônia e parte para o Nordes-te brasileiro é retirado”, explica Oliveira.

Os conhecimentos e tecnologias desenvolvi-dos na BOGPM por integrantes da Rede CTPetro Amazônia servem de suporte para a recupera-ção, restauração dos mais de 70 milhões de hectares desmatados pela agricultura e pecuá-ria em todos os estados da Amazônia brasilei-ra, contribuindo assim, para revertermos esse processo destrutivo que repercute contra nosso

país no mundo globalizado.

A sede administrativa da Rede foi inaugura-da no dia 31 de março de 2006 no Campus II do Inpa. Segundo Oliveira, “A construção da sede surgiu de uma decisão dos coordenadores dos projetos e da coordenação geral da rede em uma reunião no final de 2003, visando pro-porcionar maior eficiência nos trabalhos, bem como mostrar a intenção de consolidarmos a rede na Região Amazônica, a única aprovada na Amazônia pelo Fundo Setorial do Petróleo no Edital Norte/Nordeste de 2001”.

Os trabalhos da administração da Rede CTPe-

tro Amazônia até então eram executados em sua sala na Coordenação de Pesquisas em Ci-ências Agronômicas do Inpa junto com seus orientados de pós-graduação e do Programa Instituicional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), o que causava dificuldades na realiza-ção dos trabalhos pela falta de estrutura, lem-bra o coordenador.

Passados nove anos de sua criação, a Rede CTPe-tro Amazônia se reestrutura para melhor atender às demandas de pesquisas da região Norte.

Nesta nova estrutura, a Rede está desenvol-vendo novas linhas de pesquisas envolvendo áre-as de monitoramento dos impactos no ambiente terrestre e biorremediação, bem como técnicas de bioengenharia e de revegetação das clareiras com sistemas agroflorestais, quando tratar-se de áreas de domínio privado e do perímetro urbano.

Na nova estrutura, a Rede é composta também por cinco projetos, porém sua atuação é mais abrangente com pesquisas em áreas por onde passa o gasoduto.

Os projetos da quinta fase são: · Projeto Gestão – Coordenado pelo Inpa.

· Projeto Homem e Meio Ambiente – Coorde-nado pelo Inpa.

· Projeto de Monitoramento e Recuperação Am-biental na Amazônia – Coordenado pela Ufam.

· Projeto de Tecnologias de Revegetação Flo-restal em Clareiras e Áreas alteradas na Amazônia – Coordenado pela Embrapa.

· Bioengenharia Aplicada a Restauração Eco-lógica em Áreas Alteradas – Coordenado pelo Inpa.

Para o coordenador da Rede, Luiz Antonio de Oliveira, o que se espera para a quinta fase é um avanço na obtenção de dados científicos em no-vas áreas de pesquisas, principalmente em clarei-ras abertas para a construção do gasoduto entre o trecho de Manacapuru e Manaus, aumentando a contribuição para recuperarmos novas áreas des-matadas e degradadas na região.

Projeto Técnica de regeneração artificial em clareiras abertas e o centro do município de Coari

FOTOS: ACERVO REDE CTPETRO

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ajudam nos estudos das mudanças dos ecossistemas

Não são apenas os programas realities shows que utilizam as câmeras para monitorar 24 horas o comportamento de seres vivos. Esse

método de observação por meio de câmeras foto-gráficas tem contribuído com a ciência nos estudos dos ecossistemas e a influência das ações humanas.

Como é feito em programas de realities shows, o monitoramento também ocorre 24 horas por dia no período de 30 dias. Essa metodologia de mo-nitoramento é utilizada desde 2003 pelo Projeto Tropical, Ecology Assessment and Monitoring Ne-twork (TEAM), que conta com o apoio do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), Conservation Internacional e da Fundação Moore. É um projeto de longa duração e tem como ob-jetivo analisar os efeitos das mudanças climáticas na biodiversidade utilizando protocolos de coleta

padronizados. Por meio de protocolos de monito-ramento como clima, vegetação, vertebrados ter-restres, zona de dinâmica humana e mudanças nos ecossistemas.

Em Manaus, o TEAM possui 60 estações de moni-toramento com armadilhas fotográficas instaladas em duas estações de pesquisas do Inpa, localizadas nas estradas vicinais zF-2 e zF-3, com acesso pela BR-174 (Manaus -

Sobre o projetoO Projeto TEAM está distribuído em 17 países:

Camarões, Costa Rica, Congo, Equador, Índia, In-donésia, Laos, Madasgascar, Malásia, Panamá, Perú – dois sítios -, Suriname, Tanzania, Uganda e no Brasil, com dois sítios também, um em Caxiuanã (PA) e outro em Manaus (AM).

“O TEAM se diferencia dos demais projetos porque

Armadilhas fotográficas que monitoram 24h os animais

> Por Josiane santos

FOTOS: DANIEL JORDANO

mo

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4h

“Armadilhas fotográficas”

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ajudam nos estudos das mudanças dos ecossistemasutiliza protocolos de coletas de dados padronizados em escala global. O que é feito no Amazonas, é feito em outros países onde o projeto atua”, afirma o coordenador do site em Manaus, Wilson Spiro-nello.

Em Manaus, o Inpa é um dos parceiros mais atu-antes dentro desse projeto, visto que apoia com infraestrutura, logística e com recursos humanos qualificados, contribuindo ainda para treinamento de estudantes e profissionais na região.

Para obter uma precisão dos dados são conside-rados fatores como distribuição espacial e esforço de captura das câmeras para maximizar a proba-bilidade de se conseguir um acervo fotográfico de tamanho adequado.

“Esses pontos não são colocados ao acaso na floresta para tornar confiáveis as estimativas populacionais dos animais. Pela quantidade de vezes que o animal é registrado em cada ponto estimamos a proporção de ocupação da área e a probabilidade de detecção, com isso é obtido um

índice de ocorrência, um valor indireto de abun-dância – quantos animais existem naquela área”, explica.

De acordo com Spironello, o objetivo do TEAM é monitorar mudanças em larga escala nas florestas tropicais utilizando variáveis abióticas e bióticas; avaliar em tempo real essas variáveis para o plane-jamento de estratégias de conservação, e discenir efeitos das atividades humanos nos processo na-turais.

Tecnologia não substitui a mão-de-obraSair nas primeiras horas do dia e caminhar pela

floresta amazônica durante quase o dia todo pode ser para muitos uma aventura irresistível, mas para o grupo formado por pesquisadores, estudantes e técnicos, fazer longas caminhadas na floresta faz parte do trabalho durante a instalação das armadi-lhas fotográficas.

As armadilhas são instaladas somente no período de estiagem e ficam no campo durante 30 dias mo-nitorando 24 horas cada ponto. A distância entre

cada câmera é de 2 km, instalada em troncos de árvores entre 30 cm a 50 cm de altura em rela-

ção ao solo. Cada vez que um animal é detec-tado as câmeras registram três fotos.

As máquinas fotográficas usadas nas armadilhas são da marca Reconyx mo-delo RM45 RapidFire, exclusivas para esse tipo de pesquisa, distribuídas em dois blocos – zF2 e zF3 - com 30 câ-meras por bloco. Cada câmera vem acompanhada de um cartão de me-mória com a mesma numeração da câmera e com capacidade de armaze-namento de 2GB e funciona com seis pilhas médias.

“Esse é um método interessante por-que se você fosse andar a noite procu-

rando os animais, você não ia ver quase nada. Assim é uma forma de você ver o

Reconyx modelo RM45 RapidFire, exclusivas para esse tipo de pesquisa

“Armadilhas fotográficas”

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animal usando a área sem se intrometer”, explica Spironello.

As armadilhas são instaladas em diferentes am-bientes, classificados de acordo com a paisagem do seu entorno: contínuo, parcialmente e altamente fragmentado.

“Antes de instalarmos as câmeras, nós anotamos o número da camêra, o local (coordenadas geográ-ficas), o tipo de ambiente (classificados em baixio, vertente ou platô) e se tiver algum distúrbio no local que possa fazer alguma diferença na coleta dos dados como por exemplo uma árvore caída, um rio”, explica a bolsista do projeto Carine Dantas de Oliveira.

AnáliseApós o período de 30 dias de monitoramento, os

equipamentos são levados ao escritório do projeto TEAM, em Manaus, para organização e análise dos dados. Cada armadilha fotográfica é descarregada no sistema, ordenadas sequencialmente com a nú-meração da câmera e das fotos usando o programa DESKTEAM. Cada câmera apresenta em média 300 fotos – data, temperatura e horário são automati-camente registrados no momento em que a câmera aciona a foto.

Ao descarregar as fotos no programa o pesquisa-dor preenche uma a uma as seguintes informações: tipo de animal, gênero, espécie, número de indiví-duos e identificador. As análises são feitas utilizan-do os programas Presence e R. Os animais são clas-sificados como raro, comum ou muito abundante com base na probabilidade de detecção.

“Nossa análise não se preocupa com o reconheci-mento do indivíduo, por isso se fala em ocupação. O que importa é se a espécie está presente, ocorre em todos os pontos, se é o mesmo indivíduo ou não, não há problema”, observa Spironello.

“Se um animal for pego muitas vezes em todos os pontos quase todos os dias, isso é uma informação que o animal é bastante abundante”, explica.

Na análise dos dados, dentre os mais abundantes estão os roedores de pequeno e médio porte como: cutiara, cutia e paca.

De acordo com o Spironello, as ações humanas influenciam na ocupação dos animais. “Quando a área de floresta diminui e a paisagem do entorno é mais fragmentada – áreas agrícolas, cidades – tem maior efeito indireto que passa a alterar o próprio ambiente natural. Com isso você diminui a diversi-dade, as populações – algumas espécies são mais abundantes outras menos - umas estão sofrendo mais que outras, os herbívoros e carnívoros, por exemplo, são mais tolerantes às perturbações hu-manas”, ressalta.

A equipe global é coordenada pelo pesquisador Jorge Ahumada da Conservação Internacional. Em Manaus, além do pesquisador Spironello, o projeto conta com a participação dos bolsistas Carlos Edu-ardo Faresin e Silva, Carine Dantas Oliveira, o estu-dante de pós-graduação do Inpa André Luis Sousa Gonçalves e os técnicos Jonas Ferreira Paz e Jeffer-son Costa Amazonas.

São 60 câmeras instaladas nas reservas do Inpa, zF-2 e zF-3

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DANIEL JORDANO

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As câmeras são instaladas em troncos de árvores entre 30cm e 50cm de altura em relação ao solo

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DANIEL JORDANO

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Nome popular: Onça-pintadaNome científico: Panthera oncaÍndice de ocupação: rara

Nome popular: Onça-pardaNome científico: Puma concolorÍndice de ocupação: rara

Nome popular: PacaNome científico: Cuniculus pacaÍndice de ocupação: comum

Nome popular: Veado-roxoNome científico: Mazama nemorivagaÍndice de ocupação: comum

Nome popular: Tatu-GalinhaNome científico: Dasypus novencinctusÍndice de ocupação: comum

Nome popular: JaguatiricaNome científico: Leopardus pardalisÍndice de ocupação: rara

Nome popular: Cuíca-de-quatro-olhosNome científico: Metachirus nudicau-

datusMucurinha carregando oito filhotes

Nome popular: CutiaNome científico: Dasyprocta leporina Índice de ocupação: comum

Nome popular: CaitituNome científico: Pecari tajacuÍndice de ocupação: comum

FOTOS: PROJETO TEAM, RESERVA zF-2, JULHO DE 2011

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invadem área urbana de Manaus

Urubus

O urubu é uma espécie muito comum nas áreas urbanas de muitas cidades brasilei-ras. É possível ver essas aves em grande

quantidade, seja em lugares que há um grande acúmulo de lixo, ou em partes da cidade que formam ilhas de calor. Mas quais os reais mo-tivos para essa espécie invadir o nosso espaço urbano? O espaço é nosso de fato? Ou será que nós é quem invadimos o espaço desses bichos?

A verdade é que estamos eliminando o ambiente na-tural de muitos animais, com o contínuo processo de urbanização das metró-poles, e com isso alteramos radicalmente o habitat de muitas espécies da nossa fauna, fazendo com que muitos animais percam seu lar para nossas casas, prédios e indústrias. Com isso, agredindo e poluindo o meio ambiente, nós mes-mos acabamos trazendo vários malefícios para toda a sociedade.

Foi o que a pesquisa realizada pelo estudante Weber Galvão Novaes, doutorando em Ecologia, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) revelou por meio de um monitora-mento realizado na cidade de Manaus, o efeito da urbanização sobre as espécies de urubus e o que realmente atrai essas aves para as áreas urbanas da cidade, avaliando seus aspectos ecológicos, biológicos e comportamentais.

Apesar de ser uma ave conhecida popularmen-te, o urubu ainda é uma espécie pouco estudada na área científica. A falta de conhecimento sobre esse animal dificulta ainda mais o entendimento de sérios problemas ocasionados por eles. É o caso de colisões de urubus com algumas aeronaves, que sempre acaba causando grandes prejuízos para to-dos os envolvidos, para os passageiros, para a tri-pulação e para as empresas.

Incidentes envolvendo aves e aviões ocorrem há muito tempo e em todo o mundo. O primeiro registro foi em 1912, e embora as espécies, a situação e a se-veridade das colisões sejam diferentes, é notável que se trata de um grave problema para a sociedade. Até os dias atuais, mundialmente, foram contabilizados milha-res de colisões, resultando em grandes prejuízos finan-ceiros e a morte de cerca de 350 pessoas.

> Por Fernanda Farias

... O voo dos urubus que viajam para o Peru, in-vadindo espaço aéreo da Amazônia ocidental...

Mundo Virado – niColas Jr.

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urb

an

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ção

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Urubus Educação ambiental com a comunidade próxima ao aeroporto de Manaus (AM)

Mas o que atrai essas aves para a cidade?Os motivos para os urubus invadirem o espaço

urbano das cidades são vários, o principal deles é a busca constante dessas aves por alimento, que costumam comer restos de alimentos e carcaças de animais. Infelizmente com a falta de saneamento básico nas ruas e igarapés da cidade, em conjunto com a falta de educação ambiental para as pessoas, para que elas aprendam a eliminar os resíduos de suas residências de forma correta, e ainda o desca-so do poder público na coleta de lixo, acaba acu-mulando uma grande quantidade de lixo em vários pontos da cidade, tornando, literalmente, um prato cheio para os urubus.

O grande problema e que esse acúmulo de lixo nas áreas próximas aos aeroportos também atrai essas aves para as áreas estratégicas de pouso e decola-gem dos aviões, podendo assim os urubus colidirem com partes importantes das aeronaves, como a tur-

bina e o motor. Quando um urubu de 1 kg colide com um avião em voo a 300 km/h ele passa a ter 7 mil kg por causa do choque, conseguindo causar danos irreparáveis à aeronave, pondo em risco a vida de todos a bordo e as dos moradores das proximidades dos aeroportos.

O pesquisador Weber lembra o caso da aerona-ve da TAM que colidiu com um urubu, alguns anos atrás. Além do susto que os passageiros e toda tripulação tiveram, a companhia aérea teve preju-ízos absurdos com os danos causados pela colisão na aeronave e os passageiros tiveram de ser trans-feridos. “Os passageiros têm de ser transferidos para outro avião, ou vão para um hotel, isso aca-ba diminuindo a credibilidade da empresa aérea, pois as pessoas ficam com medo de viajar pela companhia. Somando todos esses inconvenientes, o prejuízo é muito grande para ambos os lados”,

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FOTOS: ACERVO UNB/INFRAEROAC

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Ar quente facilita voo dos urubus

Nem de todo mal vive o urubu

Uma característica das espécies da ordem Ca-thartiformes, é que elas gastam pouca energia para voar, os urubus por serem excelentes pla-nadores, são capazes de passar o dia inteiro pla-nando atrás de alimento, gastando pouquíssima energia pra isso. Para ganharem altitude voam em círculos, com o auxílio de correntes ascen-dentes de ar quente.

Quando o sol incide no solo gera calor, como ar quente é menos denso que o ar frio, ele sempre ten-de a subir e o ar frio a descer, assim os urubus uti-lizam a massa de ar quente que está subindo para ganhar altitude no voo. Por isso, muitos urubus se agrupam em termelétricas e aeroportos, que são lu-gares que formam ilhas de calor, favorecendo ainda mais o voo dessas aves.

Apesar de oferecerem extremo perigo para a avia-ção, os urubus são animais com um papel funda-mental para o meio ambiente. Por eles serem ne-crófagos, isto é, comem animais mortos, graças ao seu sistema imunológico e ao potente suco gástrico secretado por seu estômago, eles fazem uma espé-cie de limpeza nos locais aonde vão, comendo os restos de carniças. Os urubus são responsáveis por grande parte da eliminação de carcaças de animais mortos, eliminando a matéria orgânica em decom-posição da natureza.

Na área urbana e proximidades de Manaus, podemos encontrar cinco das seis espécies da Família Cathartidae o urubu-de-cabeça-verme-lha (Cathartes aura); o urubu-de-cabeça-ama-rela (Cathartes burrovianus); o urubu-da-mata (Cathartes melambrotus); o urubu-de-cabeça-preta (Coragyps atratus); e o urubu-rei (Sarco-ramphus papa). Os urubus são também conhe-cidos como condores, abutres do novo mundo e cegonhas carniceiras.

O principal motivo para os urubus invadirem o espaço urbano é a busca constante por alimento

Os urubus se agrupam em termelétricas e aeroportos, que são lugares que formam ilhas de calor

Os urubus defecam nos próprios pés! Dessa forma evitam que sua temperatura corporal suba demais

Os urubus são também conhecidos como condores, abutres do novo mundo e cegonhas carniceiras

FOTOS: ACERVO UNB/INFRAERO

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Ações preventivas

Educação Ambiental

Curiosidades

A colisão de aves com os aviões são, infelizmen-te, cada dia mais freqüentes devido ao crescimento das cidades e ao descarte indevido do lixo urbano. Para que acidentes como o da TAM sejam evitados, o Programa Fauna, firmado entre a Empresa Brasi-leira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero) e a Fundação Universidade de Brasília (UNB), iniciou uma campanha de conscientização sobre os riscos da proliferação de aves em espaços de trafego aéreo no aeroporto internacional de Manaus.

As principais ações da equipe Fauna são: ações de monitoramento da fauna no sítio ae-roportuário, por meio de censos e vistorias de focos atrativos e pontos de acesso à fauna; vistorias nas áreas de segurança aeroportuá-ria, visando identificar os focos atrativos de aves; o acompanhamento dos incidentes en-volvendo fauna no aeroporto; e ações de edu-cação ambiental com a comunidade nas proxi-midades do aeroporto.

A equipe fauna, em conjunto com o Grupo de Trabalho em Educação Ambiental (GTEA) da Comissão de Prevenção do Perigo da Fauna (CPPF), realiza palestras nas escolas para es-tudantes e professores que residem nas áreas próximas do aeroporto de Manaus.

Nas palestras são abordados os problemas que os urubus podem causar como as colisões e ain-

da como o lixo mal depositado e acumulado em locais inadequados, pode atrair esses animais.

Serão realizadas pela equipe visitas as fei-ras livres de Manaus para informar aos comer-ciantes e frequentadores sobre hábitos sadios que podem melhorar a qualidade da feira e, assim minimizar a existência de urubus nessa região.

Quando se sentem ameaçados, os urubus regurgi-tam a comida! Assim conseguem alçar voo depressa e escapar!

Para perder calor os urubus defecam nos próprios pés! Dessa forma evitam que sua temperatura cor-poral suba demais!

Não tem penas no pescoço! Como se alimentam de carne em putrefação, cheias de bactérias, esse contato poderia contaminá-los!

Os urubus têm a visão e o olfato apurados! São capazes de ver um animal pequeno a três mil metros de altura!

Urubu, Mestre do Vôo Simone Almeida

perdoa a mão que te apedrejaperdoa quem não te perdoaperdoa a pedra que te alvejaperdoa o preconceito e voa

Quem come o podre que ele deixaNão pode ser inútil à toaGari de terno preto e asasperdoa o preconceito e voa

Mestre do vôo, divino réuAnjo de cor, gari do céu

No imenso azul e branco véuCumpre, urubu, o teu papel

perdoa a voz que te praguejaQuem simplesmente te caçoaperdoa o chute que te aleija

perdoa a estupidez e voa

para que todo homem vejaQue o teu agouro é coisa boaQue todo azar é uma trapaçaDo próprio ego das pessoasGari de terno preto e asasperdoa a estupidez e voa.

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Oi, Eu sou o Jacarezito, tudo bem? Você com certeza já deve ter me visto na TV, num zoo-lógico ou até mesmo num igarapé próximo de

sua casa. E, certamente, teve um pouco de medo de mim. Até porque possuo algumas características que assustam demais quem não me conhece. Meus amigos da floresta sabem muito bem como é essa situação. Mas vamos mudar essa imagem? Vou mos-trar que sou legal e interessante com a ajuda do pesquisador do Inpa William Magnussum, e o mes-tre em biotecnologia André Luiz Ferreira da Silva.

Vamos nos conhecer?Bom, vou me apresentar para vocês. Eu e meus

amigos somos répteis, pertencemos à ordem Cro-codylia, da família dos Alligatoridae. Descen-demos dos primeiros répteis que habitavam o planeta, e isso há 230 milhões de anos. E os nossos parentes, adivinhem, são os dinossau-ros. Desde então, não mudamos muito em re-lação a nossa aparência, somos muito es-pertos, inteligentes e adaptáveis ao meio ambiente.

o nosso país podem ser encontradas qua-tro espécies, vamos conhecê-las?

O jacaretinga pode chegar a 2,5m ou 3m, a sua cor pode ser cinza escuro ou ama-relado. Possui uma saliência entre os olhos que lembra um “óculos” e, por esse motivo, também são chamados de jacaré-de-óculos. No vale do rio Paraná, a espé-cie é conhecida como Jacaré-do-pantanal.

O jacaré-açú é a maior es-pécie do país, pode che-gar a 5m, a sua cor é

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> Por eduardo PhilliPe

A turma do Jacarezito

Nomes Científicos dos JacarésJacaretinga (Caiman crocodylus)Jacará-açu (Melanosuchus niger)Jacaré-coroa (paleosuchus trigonatus)Jacaré –paguá ou anão (palaeosuchus palpebrosus)

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Jacarezito

Nomes Científicos dos JacarésJacaretinga (Caiman crocodylus)Jacará-açu (Melanosuchus niger)Jacaré-coroa (paleosuchus trigonatus)Jacaré –paguá ou anão (palaeosuchus palpebrosus)

Classificação científicareino:

AnimaliaFilo:

ChordataClasse:

reptiliaOrdem:

CrocodyliaFamília:

Alligatoridae

preta com manchas brancas na parte dorsal e, igual ao jacaretinga, possui a mesma saliência que lembra um “ ó c u -

los”. O jacaré-paguá ou anão é

uma espécie peque-na, raramente

chega a 2m, sua cor pode ser cin-za escura, mas a tonalidade pode variar e são co-nhecidos também como jacaré-pedra. E o jacaré-coroa é uma espécie pequena, difi-cilmente chega a 2m, vive em florestas e em peque-nos igarapés. Poucas pessoas sabem encontrá-lo es-condido na floresta, por isso que é pouco avistado, mas é um dos jacarés mais abundantes no mundo.

E na Amazônia?Na nossa casa, a Amazônia, a espécie mais encon-

trada é o jacaretinga. Por ser bastante adaptável, podem ser encontrados em áreas inundáveis, pró-ximo a grandes rios, estradas e igarapés urbanos. Acredita-se que pode suportar a poluição dos gran-des centros urbanos, mas não sabemos por quanto tempo.

Você sabe como nos alimentamos?Nós somos predadores carnívoros e a nossa ali-

mentação é bastante rica. Quando acabamos de sair dos ovinhos e começamos a crescer, comemos pequenos insetos, crustáceos, pequenos lagartos, sapos ou rãs. Depois, quando crescemos mais um pouco, a nossa alimentação muda e passamos a co-mer peixes e animais de médio porte. Na fase adul-ta, comemos mamíferos, aves, quelônios e outros répteis.

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O jacaré-açú também pode alcançar 5,5m. E pesar quase uma tonelada.

A fêmea é muito protetora, principalmen-te no primeiro ano de vida dos filhotes. Ela os defende até de outros jacarés. Essa é a fase mais difícil dos jacarezinhos, pois podem tornar-se a alimentação de muitos outros pre-dadores.

O nosso metabolismo é muito eficien-te e podemos passar muito tempo sem nos alimentar.

Somos animais de sangue frio e du-rante o dia ficamos a maior parte do tempo descansando. Podemos usar o sol para manter a nossa tempe-ratura alta, regular o nosso me-

tabolismo e ajudar na digestão dos alimentos. Com certeza você já nos viu sossegados nas margens dos rios, lagos ou igarapés. Certo?

Gostamos de caçar durante a noite e é nes-se momento que os pesquisadores aproveitam para nos estudar. Nossos olhos refletem a luz das lanternas no escuro e, curiosamente, lembram uma “cidadezinha” no outro lado do

rio.

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Curiosidades da Turminha

No aconchego do bosque da Ciência – InpaE aí? Que tal fazer uma visitinha e conhecer toda

a minha turma? Não perca tempo! Venha para o Bosque da Ciência, no Inpa. Aqui você encontrará todas as espécies de jacarés da Amazônia. Dias e horários são esses, anotem: terça à sexta, das 9h as 12h e das 14h as 17h. Sábados, domingos e feriados das 9h as 16.

Até breve!!!

A nossa reproduçãoOs jacarés são ovíparos (colocam ovos) e o

período de procriação começa na seca e vai até o seu final. É a melhor fase, pois é quan-do os rios estão baixos. Somos bastante ter-ritorialistas, protegemos muito bem os nossos ninhos. Os jacarezinhos nos ovos podem levar

de 90 a 100 dias para nascerem. As espécies menores, como o jacaré-coroa e o paguá, bo-tam em média de 12 ovos por vez. O jacaretin-ga coloca aproximadamente 30 ovos no ninho e o açú, por ser a maior espécie, em torno de 60 ovos.

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