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Aqui se faz ciência Revista de divulgação científica do Ciência para todos INPA Nº 01 - ano 1 (distribuição gratuita) ISSN 19847653 Projetos aprovados pelo CNPq garantem avanço da pesquisa científica Árvores ajudam no estudo da seca Cientistas alertam: floresta emite CO 2 Projeto estuda DNA das espécies

Ciência para todos - Nº. 01

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Aqui se faz ciência

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Aqui se faz ciência

Revista de divulgação científica do

Ciência para todosINPA

Nº 01 - ano 1 (distribuição gratuita) ISSN 19847653

Projetos aprovados pelo CNPq garantem

avanço da pesquisa científica

Árvores ajudam no estudo da seca

Cientistas alertam: floresta emite CO2

Projeto estuda DNA das espécies

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Popularizando a Ciência

O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) dá mais um passo em sua missão de divulgação e populariza-

ção da ciência. A revista que chega agora em suas mãos marca o início de uma nova forma de comunicação para mostrar ao país o empe-nho do instituto em garantir o melhor apro-veitamento da biodiversidade amazônica.

A revista de divulgação científica do Inpa tem como proposta mostrar que a ciên-cia está presente em todo o nosso dia-a- dia e os avanços dos pesquisadores para manter a floresta em pé, apesar de todos os ataques a que a mesma é submetida, por meio de ações impensadas ou que le-vam em conta apenas o retorno do capital.

Nesse primeiro número trouxemos uma re-portagem sobre os institutos criados para incentivar as pesquisas realizadas na região, estudos esses que vão garantir a harmonia entre o meio ambiente e o homem. O leitor também ficará por dentro do que os labora-tórios do Instituto vem fazendo para mini-mizar alguns problemas da sociedade, como é o caso da matéria que trata da identifi-

cação de fungos no tratamento de micoses, ou da guerra contra o mosquito da malária.

Aproveitamos para fazer um alerta a todos, ao abordar o problema da seca na região, enfatizando as pesquisas que vêm sendo realizadas para evitar que a situação fique irreversível. Uma reportagem sobre o uso da palmeira do açaí e da produção de cha-pas e tijolos a partir de folhas secas mostra que é possível a harmonia entre a floresta e o homem, em que todos saem ganhando.

E abram alas para elas, as mulheres, que pegaram a dianteira na pesquisa e mostram que o chamado “sexo frágil” é composto de charme, sim, mas muita competência tam-bém. Para quem ainda não conhece o traba-lho do Inpa de conscientização das crianças para que haja respeito ao meio ambiente, apresentamos o projeto Pequenos Guias.

Esperamos que as próximas páginas sejam uma verdadeira descoberta desse mundo fascinante da Ciência, que não mede esfor-ços para trabalhar em prol da sociedade, oferecendo soluções viáveis para a boa con-vivência entre as comunidades e a floresta.

EDITORIAL

EXPEDIENTELuís Inácio Lula da SilvaPresidência da República

Sérgio Machado RezendeMinistro da Ciência e Tecno-logia

Adalberto Luis ValDiretor do INPA

Wanderli Pedro TadeiVice-diretor do INPA

Sérgio Fonseca GuimarãesChefe de Gabinete

Estevão Monteiro de PaulaCoordenador de Ações Estra-tégicas - COAE

RedaçãoAna Célia OssameHemanuel JhoséJanaína Karla Lisângela Costa Leila RonizeMário BentesRosilene CorrêaTabajara Moreno

Projeto GráficoLeila RonizeRildo Carneiro

DiagramaçãoRildo Carneiro (DRT-004/AM)

DesignEric Rebello

Beatriz Ronchi TelesCoordenadora de Capacitação - COCP

Lucia YuyamaCoordenadora de Pesquisas e Projetos - COPE

Carlos Roberto BuenoCoordenador de Extensão - COXT

Tatiana Lima da Silva (MTB 4214/MG)Coordenação de Comunicação

Leila Ronize (MTB 179/AM)Jornalista Responsável

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Sum

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oMatéria da capa

Conselho Nacional de Desenvolvimento e Pesquisa (CNPq) aprova quatro projetos oriun-dos do órgão no âmbito do programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT): Centro de Estudos de Adaptações da Biota Aquática da Amazônia (ADAPTA), Centro de Estudos Inte-grados da Biodiversidade Amazônica (Cenbam), Instituto Nacional de Serviços Ambientais da Amazônia (Semvab) e Centro Nacional de Pesqui-sas e Inovação de Madeiras da Amazônia (INCT-Madeira). Os novos institutos devem ocupar po-sição estratégica no sistema nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (C&T&I), atuando em áre-as bem definidas, o que permitirá o desenvolvi-mento de pesquisas de vanguarda relacionadas a ambientes aquáticos amazônicos, biodiversidade da região, serviços ambientais para a preservação da floresta e manejo florestal, com destaque para socialização, e transferência de tecnologia para o uso de madeira e seus resíduos.

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34Açaí gera bioenergia

Estudos realizados pelo Laboratório de Estudos em Palmeiras, do Inpa, comprovam a capacidade da palmeira de açaí na produção de bioenergia. Foi constatado que os caroços descartados pelos ribeirinhos podem ser reaproveitados em energia elétrica. Bom para o meio ambiente e ótimo para as famílias que, além de poder utilizar o fruto em forma de vários alimentos, ainda aumenta o valor agregado desse produto.

Alerta da FlorestaPesquisa divulgada na revista Science traz dados

preocupantes quanto à mudança da temperatura nos próximos anos. A floresta que até então era responsável pelo sequestro do carbono, evitando que o meio ambiente ficasse sobrecarregado des-se gás apresentou um comportamento inverso. Após a seca de 2005 as árvores passaram a emitir carbono, deixando o clima muito mais quente. Pesquisadores alertam para a ne-cessidade de ações que mudem o cenário, antes que a situação fique irreversível.

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Metamorfose das espécies aquáticas44

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INPA promove tratamento de referência10

A força das guerreiras pesquisadoras14

34 As folhas que produzem chapa e tijolo

A sabedoria centenária das árvores amazônicas38

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Situado numa área de 13 hectares no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), o Bosque da Ciência é uma fonte inesgotá-

vel de experiências e conhecimento sobre fauna e flora da região amazônica. Esse entendimento, somado à solicitação da comunidade vizinha com-binam para o desenvolvimento de uma atividade destinada a crianças e adolescentes da área, foi a centelha do programa Pequenos Guias (PG) do Bosque da Ciência, instituído em 1994 que, pres-

tes a completar 15 anos, comprova sua eficiência e importância dessa experiência inovadora para a difusão da ciência e educação ambiental, destina-da a crianças e adolescentes que acessaram pela porta da frente os laboratórios de um dos mais importantes institutos de pesquisas da região.

A experiência, que já resultou na edição de um livro, é motivo de orgulho não só para as coorde-nadoras e idealizadoras do projeto, Maria Inês Gas-paretto Higuchi, psicóloga e Ph.D em Antropologia e Maria Solange Moreira de Farias, pedagoga, mas

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Guias Pequenos

Promove difusão da ciência> Por AnA CéliA ossAme

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também para adolescentes como Letícia Duarte Pantona, 16, e Jéferson Cruz, 15, estudantes do ensino médio, entusiastas do projeto que não vêem mais como algo impossível tornar-se pesquisador.

Destinado às crianças na faixa etária a partir de 11 anos, já cursando a 5ª série, o programa, se-gundo Maria Inês Gasparetto Higuchi, desenvolve atividades de educação ambiental, considerando a necessidade dessa formação aos moradores do en-torno do bosque. Diretora do Laboratório de Psico-logia e Educação Ambiental (LAPSEA) do Inpa, que

coordena as atividades, Inês não mede palavras para falar dos PG, cujo mérito principal é a aber-tura do instituto aos estudantes e à sociedade, via Bosque da Ciência. Para ela, a acolhida dada por meninos e meninas aos visitantes faz brilhar os olhos mais atentos aos frutos desse projeto res-ponsável por criar um vínculo deles com o Inpa e, o mais importante, a popularização da ciência. É que a partir do PG, segundo ela, quebra-se a ima-gem de uma instituição fechada em quatro pare-des e inacessível. E o melhor, desperta nos meni-nos e meninas interesse pelo estudo da ciência.

Promove difusão da ciência

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A nomenclatura “Pequenos Guias” não significa que eles executam somente essa tarefa. No total, mais de 860 adolescentes já participaram do pro-jeto nesses 14 anos, com duração total de aproxi-madamente seis meses. Cada turma passa por três fases nas quais tem a oportunidade de aprendi-zado bastante amplo sobre temas sócio-ambien-tais, desenvolvimento social, turismo, cidade, comunicação, trabalho etc. Inicialmente, re-cebem palestras e desenvol-vem atividades relacionadas ao meio-ambiente com o objetivo de estimular a apropriação do espaço do bosque, que não é um território do Inpa, mas de uso de toda a sociedade manauen-se, explica a diretora do Lapsea.

Na primeira fase, são aproxi-madamente 60 horas de aulas distribuídas ao longo de seis meses, cujos professores são pesquisadores e educadores convidados. Após situarem-se na questão ambiental, conhe-cem o Inpa em cada departa-mento para que, quando for necessário, guiarem os visitantes para mostrar o que o Inpa faz. “Por serem crianças e adolescentes, apresentam o que o Inpa faz não de forma profissionalizada, mas com eles, não só abrimos as portas das pesqui-sas, mas proporcionamos momentos de entreteni-mento e de lazer, com destaque ao aspecto mais informativo”, argumenta a pesquisadora, desta-cando a impressão de acolhimento dada pelos jo-vens numa instituição que trabalha com a ciência.

O programa recebe a ajuda de empresas parcei-

ras para se manter. Embora os guias não recebam mais uma espécie de bolsa-auxílio paga no início do projeto, têm cus-tos que precisam ser financiados como fardamento, lanche etc. Este ano, segundo Inês, eles estão com projeto de pesquisa aprovado pela Fapeam para fa-zer a avaliação do programa. O fim do pagamento foi decidido para desvincular a participação ao voluntariado. O projeto re-cebe apoio da Petrobras e Moto Honda, assim como parcerias da Prefeitura de Manaus, da Kodak, Projeto Corredores Eco-lógicos, a Cultura Inglesa e a Vara Especializada em Meio Am-

biente e Questões Agrárias (Vemaqa).

Inês explica que alguns dos ex-pequenos guias têm retornado ao Inpa como estagiários ou parti-cipando de projetos de pesquisa. O reconhecimen-to da sociedade não vem só por meio dos pais e deles próprios. O instituto já recebeu muitas men-ções honrosas de casas legislativas como a Câmara Municipal de Manaus (CMM), parabenizações da Vemaqa. Na terceira fase eles integram-se aos pro-jetos da Semma, IBAMA e chamamos os que estão com mais de 16 anos e atuam como voluntários.

O sucesso do programa Pequenos Guias é uma realidade. Ele já foi copiado por institutos de pesquisas de outras regiões e inspirou dezenas de projetos semelhantes

No detalhe, Maria Inês Gasparetto Higuchi (diretora do laboratório de sociologia e educação ambiental do Inpa)

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MáRIO BENTES

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Ser a sala de entrada do Inpa aos visitantes é apenas uma das tarefas dos integrantes do PG, que hoje reúne 22 estudantes atuando e 35 na formação. Desde outubro do ano passado no Pequenos Guias, Altair Marques Colares Júnior, 13, morador do bairro Coroado 3, afirma ter aprendido muitas coisas importantes sobre o meio ambiente. Aluno da 7ª série, sempre teve curiosidade de conhecer o Inpa, onde surpreendeu-se com a quantidade de assun-tos pesquisados como a vida do peixe-boi, por exemplo. “Hoje, dá uma tristeza quando vejo uma pessoa jogando lixo do carro nas ruas ou mesmo no igarapé, porque sei o que isso rep-resenta para a natureza e para nós seres huma-nos”, conta ele, cujo pai é funcionário tercei-rizado do Inpa e já o havia levado para visitar. “Gostei desde o início quando senti que, ao entrar aqui, temos ar-condicionado natural”, afirmou ele, relatando os efeitos da climatiza-ção natural oferecida pela área de preserva-ção onde fica toda a tarde. Altair quer pro-longar essa relação com o Inpa pensando em seguir carreira como pesquisador dessa área.

Letícia Duarte Pantoja, 16, 2º ano do ensino médio, conhecia o PG porque o irmão dela já havia participado e, por meio dele, já havia visitado o Inpa. Ela participou no período

de 2004 e 2005, após a irmã dela, Lícia Du-arte Pantoja, 18, integrante do programa nos anos de 2000 a 2001, ter participado. Letícia tinha curiosidade de entrar no Inpa e quando pôde fazer isso, não se decepcionou. “Fiquei encantada com o que se faz aqui, pesquisas da maior importância para as nossas vidas”, disse ela, citando que a cada vez que chega vê coisas diferentes e recebe informações que podem mudar o seu olhar e o seu jeito de ver.

Isabelle de Souza Alencar, 12, estudante do Centro Educacional Imperial, mora na Cidade Nova, Zona Norte, está há quase um ano no PG. “Gosto muito dos animais, especialmente do peixe elétrico”, disse ela, que aprendeu como evitar o choque. “Esse foi só um dos diversos assuntos que pudemos aprender”, afirmou ela, que convida amigos e parentes a visitar o bosque. Jéferson Cruz de Souza, 15, aluno do 1º ano do ensino médio, é outro que, ao escolher uma profissão, vai procu-rar uma área relacionada ao Inpa. “Desco-bri o quanto é importante ser pesquisador e o que isso representa para a nossa cidade e estado”, disse ele, convicto de que não perd-erá o vínculo com o instituto responsável por despertar nele a consciência ecológica e a responsabilidade nessa área como cidadão.

Prontos para a aula de cidadania

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JORGE SALDANHA

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Em casa, no ônibus, na escola ou no traba-lho, em toda a parte o homem se depara com fungos. Alguns podem ser utilizados na

alimentação; uns podem ser usados na produção de medicamentos; e outros são responsáveis por doenças que atingem homens, animais e plantas. O clima tropical da Amazônia fornece condições privilegiadas para o desenvolvimento dos fungos.

A micose é a principal forma de manifes-tação do fungo nos seres vivos e, no homem, pode ocorrer em diversas partes do corpo. A

ação maléfica do fungo é de difícil tratamen-to médico devido ao seu caráter oportunista.

Com o objetivo de auxiliar o diagnóstico mé-dico das micoses e possibilitar a população um tratamento mais eficaz contra o problema, o Laboratório de Micologia Médica da Coordena-ção de Pesquisa em Ciências da Saúde (CPCS) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazô-nia (Inpa) tem recebido regularmente, há vá-rios anos, pacientes encaminhados por mé-dicos do Sistema Único de Saúde (SUS), de hospitais particulares e de empresas, a fim de esclarecer o tipo do agente causador da mi-cose para que o tratamento seja mais eficaz.

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> Por TAbAjArA moreno

MicosesIdentificação de fungos auxilia tratamento de

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JORGE SALDANHA

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O pesquisador responsável pelo Laboratório de Micologia Médica do Inpa, José Augusto Almen-dros, ressalta a importância social que o trabalho desenvolvido pelo laboratório assume. “As pesso-as quando vêm ao nosso laboratório, geralmente apresentam um histórico de insucessos, em rela-ção aos tratamentos utilizados. Já passaram por diversos médicos, usaram vários remédios que não produziram melhora. Com o diagnóstico cor-reto, podemos então auxiliar o clínico a receitar a medicação mais eficaz”, conta.

Esse é o caso da Corre-tora de Imóveis, Maria

Iraci Borges, 41, que apresenta há cinco anos uma unheira “incurável” no dedão do pé es-querdo. Segundo a corretora, apesar de já ter ido a três dermatologistas diferentes, ainda não conseguiu melhorar sua situação. Como as di-versas medicações que ela usou não surtiram o efeito esperado, Iraci adotou uma medida para não atrapalhar seu trabalho. “Só uso sapato fechado por-que a unheira, além de incomodar, é muito feia, trabalho com atendimen-to ao público e não é bem apresentável”, expõe.

Almendros ressalta que o diagnóstico

correto ajuda no uso da medicação mais

eficaz

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O número de pacientes atendidos pelo la-boratório vem crescendo nos últimos três anos. De acordo com o banco de dados, em 2006 foram feitos 354 exames; em 2007, 401, e em 2008 foram 621 exames de diagnósti-co. Nesse primeiro trimestre de 2009, tem sido atendidos, em média, cinco pacientes por dia. Em muitos casos, o laboratório de micologia do Inpa representa uma boa instância na bus-ca por um trata-mento adequado.

No laboratório do Inpa são fei-tos vários tipos de procedimento para a identifica-ção micológica. Os principais são o exame direto e a técnica de cultivo em meio específico.

O exame direto é o método mais usado atualmente para a identificação da presença do fungo. Além do Inpa, ele também pode ser feito no Hospital de Medicina Tropical de Manaus e na Fundação Alfredo da Mat-ta. O método detecta a presença do fungo a partir de suas estruturas celulares típicas.

Já a técnica de cultivo em meio específico é feita exclusivamente no Inpa. Para cada grupo de fungos, há métodos e meios de cultivo di-ferentes. Durante quinze dias, o material co-letado dos pacientes fica sob cultivo em um tubo de ensaio esperando evolução. Quando o material coletado pode ser visto macrosco-picamente, ou seja, a olho nu, para a iden-

tificação específica do tipo de fungo, porções do cultivo são aplicadas a duas técnicas diferentes, o microcultivo e o cultivo em lâmina.

Depois de emi-tido o laudo, os agentes identifica-dos são conserva-dos por diferentes técnicas de manu-

tenção, na Coleção de Fungos de Interesse Médico do Inpa. O atual acervo conta com mais de seis mil amostras de fungos isola-dos de pacientes, de animais e de alimen-tos. “Mais tarde esses agentes serão usados em pesquisas tanto para a aplicação de no-vas técnicas de identificação, quanto para busca de atividade antifúngica”, ressal-ta o pesquisador José Augusto Almendros.

Em 2006 foram feitos 354 exames no Inpa; em 2007, 401, e em 2008 foram 621 exames de diagnóstico. Em 2009, em média, cinco pacientes por dia são atendidos

Número de atendimentos

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Nesse primeiro trimestre de 2009, têm sido atendidos, em média, cinco pacientes por dia

JORGE SALDANHA

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No laboratório exames diretos e técnica de

cultivo em meio específico são procedimento para a identificação micológica

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CiênciaA História da humanidade é a maior testemu-

nha da luta das mulheres na conquista de uma situação de equilíbrio e justiça social,

em que o sexo não seja parâmetro para definir ní-veis de direitos ou deveres. No entanto, mes-mo com a instituição da Declaração Universal dos Direitos Humanos, no século XVIII, as diversas sociedades – baseadas em princípios culturais notadamente patriarcais – colocam

a mulher como coadjuvante. Na área científica, comumente

frequentada por homens, a academia sempre se mostrou fechada para as mulheres, seja pela própria comunidade científica ou pela socie-dade, que não via com bons olhos a entrada destas em determina-das áreas de atuação.

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Mulheres superam obstáculos na

> Por mário benTes, TAbAjArA moreno e jAnAínA KArlA

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Para Vera Val a mulher é uma guerreira, pois consegue conciliar as obrigações da atividade científica profissional com as imposições sociais

TABAJARA MORENO

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Mulheres lutam dia-a-dia em busca do seu espaço que lhes foi invadido. Mulheres guerreiras aben-çoadas por Deus usam sua força soberana para continuar sempre de olhos abertos diante das dificul-dades. Mulheres que acor-dam cedo para mais um dia de rotina e ainda tem tempo pra falar com Deus

(Fábio FerreirA)

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O caso do Brasil é similar a outros países, em-bora tenha particularidades sociais que agravam ainda mais o quadro de segregação entre homens e mulheres, sobretudo no mercado de trabalho. É o que pensa a pesquisadora do Instituto Na-cional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Vera Val, que enfatiza a capacidade da mulher bra-sileira de conciliar as obrigações da atividade científica profissional com as imposições sociais “tradicionais”, como cuidar do lar e da família.

“Sempre achei a mulher brasileira uma guer-reira, que consegue cuidar da família e tra-balhar mesmo com todas as dificuldades que essas duas tarefas, quando juntas, impõem”,

afirma, citando como argumento a situação sócio-econômica do país: “Se você repa-rar, em qualquer área, a mulher brasileira, de classe média ou com rendimentos infe-riores ao da classe média, tem que tra-balhar para ajudar na renda da família

porque um salário apenas não resolve, par-ticularmente quando se tem muitos filhos”.

Mãe de dois filhos e casada com outro pes-quisador, o doutor Adalberto Luis Val,

atual diretor do Inpa, Vera, que vem se dedicando à academia há mais de 30 anos, acredita que a trabalhadora da área científica tem ainda mais obstá-culos que o normal, já que, segundo ela, “não há hora nem local para a criação, para o pensamento e para o desenvolvimento de idéias e, portan-to, é preciso compatibilizar discipli-na e horário com a casa e os filhos”.

Questionada a respeito da impor-tância da presença da mulher na área científica, Vera Val diz que a alegria de trabalhar na Ciência só pode ser completa quando a mulher é realiza-da profissionalmente, feliz com sua própria escolha e realizada com sua carreira e família. “Os trabalhos são compatíveis, mas somente quando a pessoa é compromissada com ela mesma de forma que a recompensa dos seus objetivos seja dividida entre as pessoas à sua volta e vice-versa”.

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Conhecimento VS. Preconceito

Outra pesquisadora do Inpa, Maria de Jesus Cou-tinho Varejão, 65, acredita que a produção de co-nhecimento deve superar os obstáculos impostos pela sociedade contra as mulheres. “No âmbito da pesquisa, o mérito da produção de conhecimento é maior do que questões de preconceito”, afirma.

A declaração da pesquisadora está fundamen-tada na sua experiência de vida. Mãe de Juliana Coutinho, 35, Engenheira Florestal, e Lívia

Coutinho, 24, estudan-te de Odontologia,

Maria de Jesus sempre teve de dividir o tempo de-dicado à p e s q u i s a com as res-ponsabili-dades da educação das filhas.

P a r a tamanha emprei-tada, ela se orgu-lha de ter con-

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com a parceria do esposo Clóvis Ribeiro. “Meu marido foi um grande companheiro e me ajudou a conciliar o trabalho no Inpa com as minhas responsabilidades em casa, com minhas filhas”, conta a pesquisadora.

Desde o primeiro contato com um laborató-rio de pesquisa científica, ainda no segundo grau, Maria de Jesus decidiu ser química e tra-balhar na área industrial. Ela só mudou de opi-nião depois de uma experiência marcante vivida no fim da década de 60, quando participou do curso de formação de engenheiros da Fundação Ford. Lá, Maria de Jesus sentiu as dificuldades de atuar numa área marcadamente masculina.

Filha de professores, desde cedo Maria de Jesus foi incentivada a ler. Trocou as bone-cas pela leitura. Ela relembra que, aos cinco anos de idade, logo quando começou a ler, pe-gava o jornal que o pai comprava diariamente, sentava-se e começava a se inteirar dos fatos. A atitude levava os mais velhos às gargalhadas. “Sempre fui determinada, estudiosa”, ressalta.

E foi com essa determinação e a dedicação aos estudos que Maria de Jesus cursou Engenharia Quí-mica na Universidade Federal de Pernambuco. Já no primeiro período ela participou de um curso mi-nistrado por aquele que ela considera um dos maio-res químicos do país, Otto Richard Gottlieb. No fim do curso, ela recebeu um convite para ingressar na equipe de pesquisa dele quando se formasse.

Depois da experiência no curso da fabricante Ford, Maria de Jesus resolveu procurar Gottlieb no Rio de Janeiro. Ela ainda passou algum tempo na cidade aprendendo as técnicas da química de produtos naturais, antes de vir para Manaus. Quando che-gou à capital amazonense, no início dos anos 70, para trabalhar no Inpa, a pesquisadora não encon-trou muitas outras mulheres. “O mercado era muito masculinizado e restrito para as mulheres em todas as áreas de atuação quando comecei”, relembrou.

Ires Miranda lembra que a mulher sempre

manteve uma trajetória científica

arraigada à sua natureza feminina

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A opinião dessas pesquisadoras é reforçada nas palavras de Ires Paula de Andrade Miranda, co-ordenadora do Laboratório de Pesquisas em Pal-meiras (LABPALM/Inpa). Segundo ela, a mulher vem desenvolvendo “com muita força” sua evolu-ção no que diz respeito à ciência e à tecnologia.

“A mulher foi revelando sua identidade nas relações sociais por meio do discurso e da ação. A partir de uma teia já existente na sociedade, e mesmo sofrendo as conseqüên-cias imediatas de sua ação, ela foi avançan-do em diversos processos a fim de usufruir de sua cidadania como ser humano indepen-dente de sexo, cor ou origem”, argumenta.

Para a pesquisadora, a mulher sempre man-

teve uma trajetória científica arraigada à sua natureza feminina, apesar dos ainda notáveis preconceitos. “Hoje, apesar do preconceito patriarcal que não considera a mulher como auxiliadora e colaboradora na organização so-cial, mulheres empenhadas no rompimento de vários obstáculos tem se revelado líderes na pesquisa científica e tecnológica”, comemora.

Sobre o futuro da comunidade científica com a entrada de mais mulheres, Ires Mi-randa aconselha: “O exercício contínuo da ética, o aprendizado amplo e o entendimen-to real das relações sociais com comparti-lhamento de idéias e ideais, a fim de tornar a sociedade mais justa e em prol da me-lhoria da qualidade do coletivo”, finaliza.

Uma questão de “identidade”

Maria de Jesus, acredita que produção de

conhecimento deve superar os obstáculos

impostos pela sociedade

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ter responsabilidade e dedicação à pesquisa. Isso independe de sexo”, contou a pesquisadora, en-fatizando a importância da formação acadêmi-ca para as mulheres. “As mulheres precisam se formar, fazer mestrado, doutorado, e só depois procurar casamento”, finalizou.

Contudo, Maria de Jesus sentiu que o novo terre-no onde pisava era mais sólido. “Para ser pesqui-sador é preciso estudar,

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Febre alta, dor na cabeça e por todo corpo. Wal-dimar Monteiro define a dor que sentia como algo que não deseja a mais ninguém. “Eu co-

mecei a sentir uma febre alta com tremedeira pelo corpo durante vários dias. Quando o sujeito sente isso, ele não consegue fazer mais nada além de ficar deitado. Aí o pessoal das antigas começou a falar que podia ser malária”, recorda Monteiro.

O mecânico conta que teve malária pela pri-meira vez em 1976, no município de Manaquiri (AM). Naquela época o diagnóstico demorava quatro dias para sair e só era feito no prédio da Fundação Nacional de Saúde (FNS), em Ma-naus. “Enquanto o resultado não saía você ain-da passava esses dias sofrendo, só depois re-cebia o medicamento”, relembra. No mesmo ano ele pegou malária pela segunda vez, po-rém nesta o diagnóstico foi mais rápido, pois já morava no bairro da Glória, em Manaus.

Atualmente os pacientes são diagnosti-cados com mais rapidez, mas a malária ain-da faz parte do cotidiano de muitas pessoas que habitam a região. É difícil imaginar que até a década de 20 o Sudeste era a região com maior número de casos de malária no Brasil, em especial no estado de São Paulo.

Wanderli Pedro Tadei, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), expli-ca que a malária desapareceu junto com o habitat de reprodução do mosquito. “A malária desapare-ceu na região Sudeste e em áreas do Mato Grosso, em função das ações de controle implementadas em associação com as modificações ambientais que a atividade agrícola introduz nas áreas, transformando totalmente a paisagem, com as plantações de café e soja”, afirma o pesquisador.

Para ele, as mudanças ecológicas contri-buem sobremaneira com a redução da densi-dade populacional ou o desaparecimento do Anopheles darlingi, o vetor da doença, alte-

MaláriaFechando o cerco contra a

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> Por HemAnuel jHosé

rando o número de casos em regiões específi-cas da Amazônia. Atualmente, no Brasil, cerca de 99% dos casos de malária acontecem na região Amazônica e a incidência da doença está ligada às enchentes e vazantes da região.

Paulo Afonso Nogueira, pesquisador do Cen-tro de Pesquisas Leônidas e Maria Deane da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), explica que a malária está presente em toda região. “Se você for à zona rural de Manaus ou mesmo em sua periferia você corre risco de pegar malária, por estarmos numa região endêmica. Na periferia, dependendo da distância das casas com a flo-resta você pode ter o vetor ou não”, explica.

A presença da doença na região ocorre de-vido às condições naturais serem favoráveis para o ciclo de vida do mosquito. “Esse foi o grande achado do laboratório de Malária e Dengue do Inpa: estabelecer a conexão en-

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tre o ciclo de vida do Anopheles e o ciclo das águas na região amazônica”, afirma Tadei.

O Anopheles e o Ciclo Amazônico

O Rio Amazonas tem um período de cheia de oito meses, durante os quais em certas áreas a água sobe até 20 metros e, em algumas localidades re-gistra-se até 30 metros. Neste período de alaga-ção, formam-se o igapó no Rio Negro e a várzea no Rio Solimões e em outros rios de águas bran-cas, barrentas e ricas de material em suspensão.

Tadei explica que apesar das águas que inva-dem a região de água preta não serem propí-cias à agricultura, é nelas, chamadas de igapó, em que os raios solares incidem criando algas e microorganismos, forma-se um ambiente propício para a reprodução do mosquito. “Bas-ta uma semana em que a água pare de subir, que é o bastante para as fêmeas dos mosquitos

detectarem o local para colocarem seus ovos e que, em uma única desova, podem colocar de 150 até 250 ao todo”, explica o pesquisador.

Dessa forma, a transmissão da malária na Amazônia é uma equação direta das mudanças ambientais e dos ciclos das enchentes, que ori-ginam os locais para a reprodução dos mosquitos sendo, portanto, um evento anual. Naturalmen-te, o “pico” de malária acontece em julho, agos-to e setembro, pois é nessa época que a água já subiu e as fêmeas colocaram os ovos, origi-nando os mosquitos que transmitem a doença.

Tadei conta que essas informações são imedia-tamente passadas para os técnicos da Fundação de Vigilância em Saúde do Estado do Amazonas (FVS) para que eles possam utilizá-las. “A FVS é órgão no estado do Amazonas que controla as endemias e a parceria entre as duas instituições tem sido muito proveitosa no combate à malária”.

Tadei destaca que aplicações do

fumacê melhoram a qualidade das habitações do

interior

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Em 2007 os níveis da água em janeiro já es-tavam próximos das estimativas para o mês de maio. Como os rios ficaram cheios mais tempo, registrou-se uma grande quantidade de mosqui-tos. “Em nossos pontos sentinelas de controle do mosquito da malária, nos quais se capturava dez ou quinze mosquitos, de repente pegamos cerca 1.500, já em fevereiro. Esta quantidade de mosquito manteve-se alta de fevereiro a junho”, conta Tadei.

Naquele ano praticamente todos os municípios, no tre-cho Manaus/Coari, tiveram o número de casos de malá-ria aumentados neste perío-do. “Isso já é uma evidência de que o aquecimento global pode aumentar a malária na Amazônia, em decorrência do mosquito se reproduzir de maneira mais rápida e perma-necer, em densidade alta, em um tempo maior. A população ficará exposta aos mosquitos em um tempo maior”, afirma Tadei.

A compreensão dessa dinâmica é importan-te para se entender a transmissão da malária na região. Com esses dados, os pesquisado-res, técnicos e profissionais de saúde podem se preparar contra futuros surtos da doença na região. “Infelizmente estamos numa região muito suscetível a surtos de malárias por mais que se trabalhe ou se controle. Estamos no ha-bitat do mosquito”, enfatiza o pesquisador.

Ações Contínuas

Para Tadei é de vital importância o investimento ininterrupto em ações de controle e pesquisa. “Se essas ações forem interrompidas a malária cresce muito. Isto ocorre porque, todo ano, a partir de dezembro ou janeiro surgem as condições de repro-dução do mosquito. Nós precisamos estar atentos

a isso senão em maio e junho teremos muita malária”, alerta.

Nesse sentido, ações como a formação da “Rede Malária”, que está sendo implementada, são de fundamental importân-cia para o combate à doença. Ela surgiu de uma iniciativa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fape-am) que, junto à Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia do Amazonas (Sect) elaborou o programa especificamente para alavancar a pesquisa bá-sica e aplicada sobre Malária.

Afonso Nogueira acredita que a Rede tem que focar em quatro principais fatores na luta contra a malá-ria: controle do vetor, aprimoramento das estraté-gias de diagnóstico, compreensão dos casos gra-ves da doença e o desenvolvimento de uma vacina.

Todos esses fatores são importantes no com-bate à malária. “Combater a malária não é ape-nas chegar e cuidar do homem doente. Hoje, já está estruturado que para combater a malária, precisamos ter ações integradas, envolvendo as-pectos clínicos, entomológicos e ambientais. É importante fazer o monitoramento e dar assis-tência à população, mas sempre focando para di-minuir a circulação do plasmódio”, reitera Tadei.

No que tange às ações de controle do vetor, o pesquisador destaca as aplicações aeroespaciais (fumacê) de produtos que matam mosquitos ins-talados na vegetação, a melhora na qualidade das

habitações do interior com telas e a utilização de novos tipos de mosquiteiros impregnados.

Ressalta-se também o monitoramento dos tanques de piscicultura que, com os

devidos cuidados, são perfeitamente viáveis. Com o controle de nível de água dos tanques é possível im-pedir que a água fique no mesmo nível por mais de uma semana e retirando a vegetação das mar-

gens se desfaz os locais de r ep rodução

mosquito.

99% dos casos de malária acontecem na região Amazônica e a incidência da doença está ligada às enchentes e vazantes da região

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TABAJARA MORENO

Com novos dados, pesquisadores e

profissionais de saúde podem se preparar

contra surtos da malária

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Atualmente os pesquisadores da Fiocruz pro-curam formas de melhorar o diagnóstico da do-ença. “Nós estamos tentando fazer um kit de diagnóstico rápido que seja aplicado pelo Sis-tema Único de Saúde (SUS). Esse kit será feito com matérias-primas locais, porque existem kits rápidos de diagnóstico de malária, mas como todos são importados eles se tornam caros”, afirma o pesquisador Paulo Afonso Nogueira, pesquisador do Centro de Pesquisas Leônidas.

O pesquisador prossegue explicando que o kit vai ser igual ao utilizado em exames de gravidez: um resultado de dois traços indicará positivo para malária. Como existem dois tipos de plasmódio que causam a doença, o vivax e o falcíparum, o teste fará uma pequena diferenciação. “É impor-tante ao diagnosticar distinguir os dois, pois o falcíparum é maligno, ele pode levar o paciente à óbito. Então no resultado do exame nós teremos dois traços para o vivax e três pra o falcí-parum, por exemplo”, esclarece Nogueira.

A Fiocruz tam-bém está de-senvo lvendo um diagnós-tico molecu-lar, chamado de PCR. O processo en-volve a am-plificação de um pedaço de gene através de uma máquina cha-mada termociclado-ra. Com o fim do pro-cesso é possível realizar um diagnóstico mais cuida-doso do que no tradicional exa-me da gota espessa, feito por microscopia.

Esse exame deverá ser usado apenas em pes-quisas devido seu alto custo, mas pode vir a ter grande importância para detecção dos pacien-tes assintomáticos, fontes de preocupação no controle da malária. “O assintomático é aquela pessoa que está contaminada pela oitava, déci-ma ou mais vezes e não apresenta mais o qua-dro clínico, não sofre com os sintomas por ter criado imunidade contra eles”, indica Tadei.

O risco é que essas pessoas não se tratem e pos-sam transmitir o plasmódio a novos mosquitos, que por sua vez transmitem para pessoas ao seu redor.

Como a quantidade de plasmódio nesses pacientes é baixa, é difícil diagnosticá-los pelo exame de gota espessa. Assim, o PCR pode vir a ser muito útil.

Já se sabe, por meio da bibliografia, que as for-mas graves de malária ocorrem quando o plasmó-dio falcíparum gruda nos vasos sanguíneos e os obstrui, impedindo a circulação do sangue, po-dendo levar ao coma ou prejudicar uma gravidez.

Entretanto, nos últimos anos estão au-mentando os relatos desses casos por plasmódio vivax. “A maior quantidade desses relatos diz respeito à malária acompa-nhada de comprometimento pulmonar. Quere-mos pesquisar mais sobre isso”, indica Nogueira.

Uma unanimidade entre os pesquisadores é a necessidade de uma vacina para a doença, mas existem dificuldades para sua criação. Os especia-listas explicam que a vacina contra um plasmódio

é mais complicada de se produzir que uma contra um vírus, por exem-

plo, porque o plasmódio é um organismo celular

que tem mecanis-mos de adaptação.

A esperança para a desco-berta de uma vacina au-menta com as possibil ida-des advindas da engenha-ria genética.

Com essas no-vas técnicas os

p e s q u i s a d o r e s estão mais próxi-

mos de uma vacina e também de aprende-

rem mais sobre o seu vetor. Com esse intuito o Inpa vem

trabalhando com outras instituições em uma pesquisa inédita. “Ainda esse ano o Inpa, jun-to com o Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), a Universidade Federal do Amazonas (Ufam), a Universidade de Brasília (UnB) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agro-pecuária (Embrapa), vão terminar de sequenciar o genoma do Anopheles darlingi”, revela Tadei.

O sequenciamento está em fase final e os pes-quisadores ainda se reunirão para discutir os resultados do estudo, que são relevantes para a implementação das ações de controle da malária na Amazônia. Mais uma das várias ações que ob-jetivam fechar o cerco contra a malária na região.

Kit rápido ajuda no diagnóstico

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ACERVO LABORATóRIO DE MALáRIA E DENGUE

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Clima mundial

Seca Amazônica aponta confusão no

> Por leilA ronize22

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Se a cada ano você convive, mais frequente-mente, com uma temperatura de “torrar os miolos”, saiba que essa não é privilégio do

calor amazônico. O clima está muito mais confu-so do que se pode imaginar, tirando do homem a certeza de planejar colheitas ou viagens pelos meses do ano, ação tão praticada por nossos avôs. Uma pesquisa divulgada na Revista Scien-ce traz dados que apontam o que todos sabem, mas ninguém quer enxergar: o aquecimento global é uma realidade. Um dos sinais veio da

floresta mais famosa e cobiçada no mundo – a Amazônica, que foi atingida em 2005 por uma das mais intensas secas dos últimos 100 anos, deixando rastros de peixes mortos sobre ter-ras que antes tinham água em abundância.

A constatação de que o verão está muito mais quente do que anteriormente é uma consequencia direta, segundo a pesquisadora Ieda Leão Amaral, do aumento da temperatura, sentidas principal-mente por pessoas que moram perto de áreas em

Clima mundial

Pesquisadora enfatiza que ações países ricos tem que fazer sua parte para reverter a situação

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que houve mais mortes de árvores do que incre-mento de espécies, que atingem 10 centímetros de diamentro (o que os pesquisadores chamam de taxa de recrutamento). “Em novembro do ano passado apresentei um artigo, na Conferência Internacional do LBA, mostrando que nas áre-as estudadas em 2005 – ano da seca – houve uma redução de biomassa”, conta Ieda Amaral.

Para chegar a este resultado os pesquisado-res fazem, anualmente, a medição de espécies, pintando uma faixa à altura de 1,30 metros do tronco da árvore. Percebeu-se, um ano depois, que as medições foram menores que as dos anos anteriores. ”O recrutamento de 2005 foi pe-queno em comparação com a mortalidade, o dobro precisa-mente”, enfatiza a pesquisadora que contribuiu com dados que subsidiaram o artigo publicado na revista Norte Americana. O pesquisador Niro Higuchi, que também deu contribuição valio-sa para o artigo, explica que a morte dessas árvores reduziu de forma drástica a capacidade da floresta absorver o CO² (gás carbônico), provocan-do uma reação inversa, em que cinco bilhões de toneladas de CO² foram liberadas no ambiente, abalando o equilíbrio do planeta. O gás carbônico é um componente químico indispensável para o

planeta, já que sem ele a Terra seria muito fria para abrigar vida, mas muitos cientistas alertam que a grande quantidade desse gás causará o au-mento da temperatura da Terra, levando ao derre-

timento de geleiras, ao cresci-mento dos níveis dos oceanos e a mudanças no meio ambiente.

“O aquecimento global é um fato comprovado. Cada vez mais a temperatura tem aumentan-do e vai aumentar ainda mais. Realmente é grave. Já está comprovado que há mudança climática e se o homem não tomar cuidado vai ser irrever-sível”, profetiza Ieda Amaral. Higuchi diz que o pior é a in-

certeza sobre o período de ocorrência de outra seca como a de 2005. “Não podemos confirmar se vai acontecer, mas o que nos preocupa é a frequência. Se continuar com um espaço de 40 anos, estamos dentro da normalidade, mas o pro-

O manejo florestal na Amazônia é uma das saídas para garantir que a floresta continue em pé

Higuchi (no detalhe), ressalta que é preciso sair do discurso e partir para a ação

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TABAJARA MORENO

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blema é se ocorrer daqui a três anos”, esclarece.

A velha mensagem de que cada um tem que fa-zer sua parte, precisa ser encarada de forma mais responsável. “Se não houve mudanças sensíveis na preservação da Floresta é por que o homem não está fazendo o que deve fazer”, lamenta o pesqui-sador. “Ainda acredito que se cada um fizer algo podemos sim mudar, o problema é que só existe discurso. É preci-so partir para a ação”, completa.

A puxada de orelha serve tam-bém para os líderes de países ricos, que na prática não se mo-bilizam para reverter a situação. A oposição dos Estados Unidos à assinatura do Protocolo de Kyoto (documento em que os países são obrigados a reduzir, em 5,2%, a emissão de gases poluentes, entre os anos de 2008 e 2012) foi um balde de água fria para os ecolo-gistas mais otimistas. “Estamos em uma época que não basta ape-nas que cada um faça sua parte. As ações devem partir de países, principalmente aqueles conhe-cidos como maiores poluidores, como é o caso dos Estados Uni-dos. E no caso individual de pes-soas que trabalham com queima de pasto achando que a situação está longe do irreversível”, desa-bafa Ieda Amaral. O EUA se des-ligaram em 2001 do protocolo, alegando que a redução iria com-

prometer o desenvolvimento econômico do país.

Uma das saídas para manter a floresta em pé está no Manejo Florestal. Especialista no assunto, Higuchi reconhece que sozinho o manejo não vai mudar o cenário, mas ele é essencial para que se possa continuar desenvolvendo estudos para evi-tar que as profecias mais tenebrosas aconteçam.

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O alerta é preocupante: “secas prolongadas em florestas tropicais podem causar mortalidade de árvores e alguns modelos climáticos predizem que a Amazônia entrará em um processo de mor-talidade contínua nesse século”. O texto em tom de profecia compõe um dos parágrafos do artigo “Sensibilidade da Floresta Amazônica à Seca”, publicado na revista Science, no início deste ano.

O estudo que durou cerca de 30 anos foi rea-lizado graças à Rede Amazônica de Inventários Florestais (RAINFOR) – uma rede de cooperação que monitorou 136 parcelas (espécies) locali-zadas em diferentes áreas de floresta na bacia Amazônica. O objetivo da Rede é avaliar o pro-cesso de troca de carbono e melhor compreen-der o impacto da Amazônia no clima mundial.

E foi justamente a seca de 2005 que ofereceu

aos cientistas uma idéia de futuras ocorrências de mudanças climáticas, nas quais a estação seca na Amazônia se tornará, provavelmente, mais intensa e mais quente. Naquele ano o fenô-meno causou perda de biomassa florestal, inver-tendo o processo de sequestro de carbono que ocorre em grande escala temporal e espacial.

Outro resultado da pesquisa aponta que as árvores que morreram durante o período de 2005 apresentam menor densidade de madei-ra que aquelas que morreram no período ante-rior, ou seja, em 2006 as que foram registra-das como mortas eram 5% mais leves que em censos anteriores. Isso mostra que a seca pode alterar a composição da espécie, traçando um caminho nada animador para aqueles que con-tam com a biodiversidade da região Amazôni-ca, uma vez que esta também pode ser afetada.

Amazônia é sensível à seca

Mapa mostra áreas de estudos que serviram para

embasar dados do artigo da revista Science

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Planta

gera energia elétricaPesquisa avalia potencial produtivo da palmeira açaí para fins bioenergéticos em comunidades ribeirinhas do Lago do Cururu, próximo ao município de Manacapuru

ACERVO LABPALM

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“Minha terra tem palmeiras onde can-ta o sabiá, as aves que aqui gor-jeiam não gorjeiam como lá, no céu

tem mais estrelas, nossas várzeas têm mais flores, nossos bosques têm mais vida, nos-sas vidas mais amores”. Com certeza alguém já ouviu esses versos do famoso poeta Gon-çalves Dias. Mas, será que realmente conhece-mos a verdadeira produtividade da palmeira?

Planta de uma beleza excêntrica e rica fon-te em sustentabilidade econômica, a pal-meira é alvo de vários estudos, que já com-provaram que a planta tem capacidade oleaginosa, de produção de biocombustíveis, além de ser alimento complementar e bara-to na ração de animais e consumo humano.

Desta vez, em recentes estudos realizados pelo Laboratório de Estudos em Palmeiras (LA-BPALM), do Instituto Nacional em Pesquisas da Amazônia (Inpa), em parceria com o projeto Ne-ram (Modelo de Negócio de Energia Elétrica em Comunidades Isoladas na Amazônia), da Univer-sidade Federal do Amazonas (Ufam), foi com-provada a capacidade da palmeira açaí (Euterpe precatória Mart) em produção de Bioenergia.

O estudo possibilitou conhecer o potencial produtivo do açaí amazonense com 1,8 tonela-das de frutos por hectare em comunidades ribei-rinhas do Lago do Cururu, próximo ao município de Manacapuru, no Estado do Amazonas. Na pes-quisa se constatou que a partir daqueles caroços

descartados pelos ribeirinhos, os subprodutos do fruto do açaí, é possível reaproveitá-los em energia elétrica ajudando no aumento da renda dessas famílias. O Laboratório de Estudos em Pal-meiras avaliou o potencial produtivo da matéria-prima e o número de plantas por hectare, sub-sidiando o Neram na busca do aproveitamento de maneira sustentável junto às comunidades.

De acordo com a pesquisadora Ires Paula de A. Miranda , coordenadora do LABPALM, as pesqui-sas desenvolvidas pelo grupo na identificação e produtividade dessas espécies são de suma im-portância para as comunidades isoladas, pois elas são reféns da falta de energia - detectado pelo Coordenador do Neram, Prof.Dr. em Engenharia elétrica, Rubem César Rodrigues, da Ufam - e consequentemente da incapacidade produtiva de subsistência. “Um dos problemas mais graves dessa população ribeirinha é a falta de energia, dificultando a implementação da agroindústria isolada na região amazônica’, afirmou Miranda.

A pesquisa teve duração de dois anos e foi realizada no período de pico da produção da planta, de março a julho de 2008. No total foram beneficiadas com a pesquisa seis comu-nidades ribeirinhas: Comunidade do Cordei-ro, Terra Preta, Divino Espírito Santo 1 e 2, Bom Jesus do Cururu, Cidade Nova do Cururu.

O projeto Coordenado por Rodrigues teve fi-nanciamento do Neram/CNPq e foi apresenta-do por Miranda no Simpósio Internacional de Especialistas em Palmeiras, realizado em Lima (Peru), no ano de 2008, e publicado em edi-ção especial da revista Peruana de Biologia.

> Por jAnAínA KArlA

ACERVO LABPALM

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Laboratório de Estudos

em Palmeiras é referência

O Laboratório de Estudos em Palmeiras – LABPALM tem como missão estudar o poten-cial das palmeiras da Amazônia, para contri-buir como alternativa de sustentabilidade eco-nômica, proteção e adaptabilidade no desafio das mudanças climáticas e da produção de combustíveis. Foi neste âmbito que em 1980 teve-se a iniciativa da criação de um grupo de pesquisadores, técnicos e especialistas bo-tânicos com interesse em estudos sistemáti-

pesquisa constata que a partir dos

caroços descartados pelos ribeirinhos,

é possível gerar energia elétrica,

ajudando no aumento da renda

dessas famílias

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cos e ecológicos das palmeiras da Amazônia.Em sua atuação estão as funções de subsidiar

a estruturação de cadeias produtivas a partir de palmeiras nativas; incentivar a fixação do homem no campo; mapear as unidades de paisagem e den-sidade de espécies nativas nas áreas alteradas; e, estudar a produtividade das espécies promissoras.

O LABPALM já publicou cinco livros, além de artigos em revistas nacionais e internacionais,

contribuindo para o esclarecimento não só da população leiga, mas principalmente daquelas que vivem e precisam do conhecimento cien-tífico para facilitar sua subsistência. São elas: Palmeiras no Herbário (1994), Frutos de Palmei-ras da Amazônia (2001), Ecossistemas Florestais em áreas Manejadas na Amazônia (2003), Guia de Identificação das Palmeiras de um Fragmento Florestal Urbano (2006) e o Guia de Identificação das Palmeiras de Porto Trombetas (Pará – 2008).

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Novos institutos

Os institutos criados serão fundamentais

para as pesquisas sobre diversidade animal e vegetal,

de adaptação das espécies na biodiversidade amazônica, a

necessidade do manejo florestal,

a água e o carbono 30

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Novos institutos impulsionam pesquisa na região

O Instituto Nacional de Pesquisas da Ama-zônia (Inpa) mostra novamente a sua van-guarda em termos de produção científica na

região. Prova disso, foi a aprovação recentemen-te pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento e Pesquisa (CNPq) de quatro pro-jetos oriundos do órgão no âm-bito do programa Institutos Na-cionais de Ciência e Tecnologia (INCT): Centro de Estudos de Adaptações da Biota Aquática da Amazônia (Adapta), Centro de Estudos Integrados da Biodi-versidade Amazônica (Cenbam), Instituto Nacional de Serviços Ambientais da Amazônia (Se-mvab) e Centro Nacional de Pes-quisas e Inovação de Madeiras da Amazônia (INCT-Madeira).

Esses foram os primeiros pro-jetos do Amazonas aprovados na esfera do INCT, que tem como meta mobilizar e agre-gar, de forma articulada, os melhores grupos de pesquisa em áreas de fronteira da ci-ência e em áreas estratégicas para o desenvolvimento sus-tentável do País; impulsionar a pesquisa científica básica e fundamental com-petitiva internacionalmente; estimular o desen-volvimento de pesquisa científica e tecnológica de ponta associada a aplicações para promover a inovação e o espírito empreendedor, em estreita articulação com empresas inovadoras, nas áreas do Sistema Brasileiro de Tecnologia (Sibratec).

A idéia de lançar os institutos amazonenses

surgiu a partir de demandas de núcleos de estu-do regionais, nacionais e, inclusive, internacio-nais. Os novos institutos devem ocupar posição estratégica no sistema nacional de Ciência, Tec-nologia e Inovação (C&T&I) e atendem ao pre-visto no Plano de Ação em C&T&I (PACT&I 2007-2010), atuando em áreas bem definidas, o que

permitirá o desenvolvimento de pesquisas de vanguarda re-lacionadas a ambientes aquáti-cos amazônicos, biodiversidade da região, serviços ambientais para a preservação da floresta e manejo florestal, com desta-que para socialização, e trans-ferência de tecnologia para o uso de madeira e seus resídu-os. “As informações geradas por esses projetos servirão para subsidiar o processo decisório de questões relacionadas aos temas, bem como propiciarão a geração de novas patentes que devem beneficiar a sociedade de modo geral, a exemplo do que vem ocorrendo no âmbito dos demais projetos desenvol-vidos pelo corpo de pesquisado-res do Inpa”, destaca o diretor do Inpa, Adalberto Luis Val.

No total, serão destinados pelo CNPq e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) em torno de R$ 22 milhões para os projetos. Esses recursos serão usados em diversas ações, entre as quais, capacitação de pessoal, intercâmbio de pesqui-sadores, desenvolvimento de novas tecnologias, além de melhoria de infra-estrutura laboratorial. A execução dos trabalhos será feita mediante uma rede de pesquisa, formada por diferentes grupos,

> Por lisângelA CosTA

O Conselho Nacional de Desenvolvimento e Pesquisa (CNPq) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) disponibilizarão em torno de R$ 22 milhões para os projetos, que serão usados em diversas ações

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que atuarão em diversas frentes, sendo que to-dos os institutos serão sediados no próprio Inpa.

Os projetos aprovados vão receber financia-mento por até cinco anos. Na soma dos recur-sos que serão disponibilizados, também estão incluídos R$ 30 milhões em bolsas, que serão concedidas pela Capes. A criação dos institutos conta com a parceria da Coordenação de Aperfei-çoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes/MEC), e das Fundações de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam), do Pará (Fapespa), de São Paulo (Fapesp), Minas Gerais (Fapemig), Rio de Janeiro (Faperj) e Santa Catarina (Fapesc).

Projetos

O pontapé inicial para a execução das ativida-des previstas nos projetos já foi dado. A primeira parte dos recursos foi repassada recentemente e o otimismo quanto ao sucesso dos projetos prevale-ce entre os pesquisadores envolvidos. Coordena-dor do INCT Madeiras da Amazônia, o pesquisador Niro Higuchi mostra-se bastante motivado. Cria-do com a finalidade de aumentar a produtivida-de da floresta primária e melhorar o rendimento das indústrias de madeira da região, o institu-to surgiu da necessidade de viabilizar o manejo florestal sustentável na Amazônia. “A expectati-va é que dentro de pouco tempo, o Amazonas possa contar com um INCT capaz de centralizar as discussões e ações voltadas ao manejo sus-tentável da floresta amazônica”, afirma Higuchi.

O orçamento aprovado para o projeto foi de R$ 4,8 milhões. Esses recursos serão investidos na construção de um centro de treinamento na estação experimental do Inpa, recuperação da infra-estrutura de laboratórios de tecnologia da madeira, além de permitir o desenvolvimento de experimentos de exploração florestal e tecnologia da madeira, intercâmbio técnico-científico, trei-namento de pessoal e, ainda, favorecer a trans-ferência de tecnologia. Sediado no Inpa, o INCT Madeiras da Amazônia contará com laboratórios associados da Universidade Federal do Amazo-nas (Ufam), Universidade do Estado do Ama-zonas (UEA) e Universidade de Brasília (UnB).

Com a finalidade de criar cadeias de produção de conhecimento efetivas na área da biodiversi-dade Amazônica, o Centro de Estudos Integrados da Biodiversidade Amazônica (Cenbam) tem um grande desafio: unir esforços de diversos cen-tros de pesquisa de todos os Estados da região com foco especificamente nessa temática, a fim de ampliar o conhecimento científico acerca da diversidade animal e vegetal da Amazônia.

Aproximadamente R$ 7,2 milhões serão investi-dos no Cenbam. Os recursos serão usados no inter-

câmbio de pesquisadores, melhoramento de infra-estrutura de laboratórios, capacitação de pessoal em nível de graduação e pós-graduação e desen-volvimento de atividades junto à população assis-tida pelos núcleos regionais vinculados ao projeto e localizados em diferentes Estados. As ações do Centro serão definidas por um conselho diretivo, formado por sete pesquisadores do Inpa e cen-tros regionais do Amapá, Roraima, Rondônia, Acre e Mato Grosso. “Este conselho será o responsável por determinar os objetivos e metas de todas as fases de implantação do projeto”, informa o pes-quisador-chefe do Cenbam, William Magnusson.

À frente do Instituto Nacional de Serviços Ambientais da Amazônia (Semvab), o pesqui-sador Philip Fearnside explica que o Semvab terá a tarefa de atuar no desenvolvimento de serviços ambientais relacionados ao carbono e água, visando única e exclusivamente o mane-jo sustentável da floresta amazônica. “Na ver-dade, ninguém maneja a floresta (amazônica). Ao contrário, estão cortando o máximo possível de árvores porque o manejo florestal não é uma prática atrativa para a economia formal, uma vez que não dá lucro imediato”, alerta o pesquisador.

Segundo Fearnside, o Instituto Nacional de Serviços Ambientais buscará atuar justamen-te na contramão do sistema econômico vigen-te de forma a comprovar que o manejo flores-tal é o caminho mais adequado. “É preciso reverter esses valores e adotar o manejo flo-restal como uma nova página da economia re-gional pela única e simples razão de que, caso contrário, a floresta vai acabar sumindo”, critica.

O coordenador do Semvab diz que, desde 1997, vários estudos foram publicados sobre o assunto em diferentes áreas e que, com o advento do ins-tituto, será possível reunir o conhecimento acu-mulado, o que permitirá vislumbrar novos resulta-dos. Vinculado ao Instituto Nacional de Serviços Ambientais da Amazônia, estão grupos de pes-quisa regionais, nacionais e de países como Peru, Bolívia e Inglaterra. Philip Fearnside diz que, no momento, estão em busca de recursos comple-mentares que possam permitir, principalmente, a contratação de pessoal capacitado para atuar nas diferentes frentes de pesquisa e mostra-se bastante otimista quanto aos rumos do projeto.

Investigar o processo de adaptação de ani-mais e vegetais da biodiversidade aquática amazônica aos diferentes ambientes naturais, assim como, àqueles ambientes que sofrem a ação humana a partir do seqüenciamento ge-nômico é a finalidade do Adapta (Centro e Es-tudo de Adaptações da Biota Aquática da Ama-zônia). O projeto contará com três diferentes linhas de pesquisa: Interações organismo-am-

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biente; Biomarcadores e Programas aplicados. Para alcançar o objetivo proposto, os cientistas

envolvidos no projeto realizarão coletas de mate-rial em diferentes lugares, desde igarapés, rios, matas de igapó até zonas de exploração mineral e igarapés (córregos) contaminados por esgoto a fim de investigar a estratégia de sobrevivência da flora e fauna amazônicas. Conforme o coor-denador do Centro, Adalberto Luis Val, a adap-tação a esses diferentes ambientes depende da expressão de ativação de algumas informações que tem na genética desses animais e vege-tais, o que faz com que eles produzam subs-tâncias capazes de torná-los imunes a certas condições. “Pretendemos identificar o que es-ses animais e vegetais estão expressando em comum, fazer uma seleção das informações

dos hormônios e posteriormente, uma análi-se por bioinformática, a fim de verificar se os genes ativados desses seres vivos são capazes de fabricar produtos que possam ser usados em benefício dos seres humanos, principal-mente, no que se refere ao desenvolvimen-to de medicamentos”, afirma o coordenador.

A expectativa é que ao longo do período de vigência do projeto sejam identificados ao me-nos dez produtos - como enzimas, hormônios e antibióticos- e ao menos, cinco deles sejam patenteados. “A intenção é gerar patentes e licenciar esses produtos para que empresas e cidadãos interessados possam utilizá-los e com isso, venham a gerar emprego/renda e inclu-são social na região”, completa o pesquisador.

Marco institucionalA aprovação pelo CNPq dos quatro projetos é

um marco importante na história do Inpa e vem corroborar a vanguarda do Instituto no que se refere ao fazer ciência na Amazônia. “Foi ex-tremamente importante aprovar esses projetos não somente para o Inpa, mas também para a Amazônia e para o próprio País. Pela primeira vez, conseguimos organizar de forma consisten-te redes de pesquisa sobre quatro assuntos ex-tremamente relevantes para a região”, destaca o diretor do Inpa, Adalberto Luis Val. “Nós esta-mos extremamente orgulhosos por termos apro-vado esses projetos, inclusive, porque não há no país outra instituição que possua, proporcional-mente, o mesmo número de pesquisadores que o Inpa e que tenha aprovado projetos com um volume de recursos tão grande”, complementa.

O mesmo pensamento é compartilhado pelo

coordenador de Ações Estratégicas do Inpa, Estevão Monteiro de Paula. Para ele, a aprova-ção das propostas é uma demonstração do alto nível de qualidade das atividades de pesquisa desenvolvidas pela instituição no que tange às questões amazônidas. Além disso, conforme ele, é importante destacar o componente de integração com as demais instituições, o que deve gerar transferência de conhecimentos.

Contudo, o comprometimento com a formação de recursos humanos e a troca de tecnologia são apontados pelo diretor como o grande legado dos projetos. “Sem contar, na própria responsa-bilidade do instituto devido ao fato de que os re-cursos são públicos e que, por isso, é preciso dar respostas que venham contribuir decisivamente para a melhoria da qualidade de vida da popu-lação e do meio ambiente”, finaliza o diretor.

O Adapta, por exemplo, irá investigar o processo de

adaptação de animais e vegetais da biodiversidade

aquática amazônica aos diferentes

ambientes naturais

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Chapa e Tijolo vegetais

são desenvolvidos para uso na construção civil

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A necessidade de preservação das flores-tas e o uso correto dos recursos por ela oferecidos estão sempre no centro das

discussões quando o assunto é a Amazônia. No estado do Amazonas, a exploração dos re-cursos florestais oferece uma gama de produ-tos que vão além dos cosméticos e dos medi-camentos. Agora, a novidade fica por conta

de uma “chapa” de folhas e tijolos vegetais, obtidos a partir do processo de trituração de matérias-primas naturais, oriundas do ouriço da casca da castanha do Brasil, dos caroços do coco e do tucumã – uma palmeira da região.

Os dois foram desenvolvidos por pesquisado-res do Laboratório de Engenharia da Madeira do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), da Coordenação de Pesquisas em Pro-

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> Por rosilene CorrêA

Chapa e Tijolo vegetais Chapa de folhas

e tijolos vejetais são obtidos na

trituração de matérias-primas

naturais

ROSI

LENE

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dutos Florestais (CPPF). Um dos inventores dos produtos é o pesquisador Jadir de Souza Rocha. Segundo ele, os produtos podem ser utilizados na construção civil, em diferentes aplicações. A chapa, em substituição à madeira, na con-fecção de forros, divisórias, móveis e artefa-tos, enquanto o tijolo vegetal, em substituição ao tijolo convencional de argila, nas constru-ções de casas e prédios de até quatro andares.

“O tijolo pode ser utilizado em qualquer tipo de obra ou construções de até quatro andares e, para a nossa região, por ser um material que é naturalmente um isolante tér-mico, ele proporciona um ambiente agradá-vel para as construções feitas em lugares de alta temperatura, como é aqui na Amazônia”, afirmou. Rocha destacou também que para o processo de produção não há necessidade de queima de lenha e nem derrubada de árvores.

“O tijolo é produzido com tecnologia limpa, a matéria-prima é natural, são aproveitadas as sobras florestais que não têm serventia depois do consumo dos frutos. Além disso, na pro-dução não é utilizada lenha, como na produ-ção dos tijolos de argila convencionais. Com

isso, preservamos mais a floresta e não gera-mos gases para o efeito estufa”, acrescentou.

Outra vantagem salientada por Rocha é a rapidez no processo de montagem dos tijolos vegetais, que não precisam de cimento. Se-gundo ele, é possível construir uma casa po-pular de cerca de 40 metros quadrados, por exemplo, com aproximadamente 5 mil tijolos. “Os tijolos possuem um sistema de montagem bem simples, o de encaixe, por isso é possível montar uma casa popular com cinco mil tijo-los em apenas oito horas. É necessário apenas que os pilares e as vigas estejam levantados, só faltando elevar as paredes e divisórias.”

A produção da chapa vegetal também não é diferente, afirma o pesquisador. Ele conta que já havia pensado em fabricar a chapa, mas queria que a tecnologia não fosse aproveitada somente por indústrias de grande porte e com capacidade de investimentos em larga escala. “Busquei en-contrar alternativas que contemplassem também as micros e pequenas empresas”, explica Rocha.

Foi por isso que Jadir Rocha fez experiências e encontrou uma excelente resina. Além de proporcionar o aumento da vida útil das cha-

Os tijolos possuem um sistema de montagem bem simples, permitindo montar uma casa com cinco mil tijolos em oito minutos

ROSILENE CORRêA

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Qualidade e versatilidade A qualidade da chapa depende dos tipos de

folhas utilizadas para a produção. Rocha cita como exemplos, as folhas das palmeiras que são muito resistentes ao rasgo na direção transver-sal às fibras. “Nas outras espécies podem ser en-contradas folhas bem espessas e de superfícies super lisas, cujas características são indicado-ras de grande resistência ao rasgo, folhas sem tais características, não são recomendadas”.

Os resultados dos testes em laboratório feitos com o tijolo vegetal foram bastan-te satisfatórios. “As matérias-primas utili-zadas na sua confecção são de alta dura-bilidade, conferindo resistência mecânica semelhante à dos tijolos convencionais”, finaliza.

pas, o produto possibilitou a “cura” do mate-rial num período curto de tempo. O material foi preparado sem o uso de prensas de sistema a quente, o que barateia os custos de produ-ção. “A resina foi encontrada e o processo de transformar as folhas em chapas foi iniciado”.

Rocha explica que no processo de confec-ção da chapa podem ser aproveitadas folhas de espécies arbóreas, de frutíferas, de palmei-ras, de ervas daninhas e plantas ornamentais. “Primeiramente as folhas passam pela opera-ção de trituração para obtenção de pequenas partículas, podendo ser secas ao ar livre ou em estufas. Posteriormente, é feita a forma-ção de um colchão de partículas com agluti-nação de resina sintética e fibra de vidro”.

Opções de prensagem

O processo de confecção da chapa vegetal oferece duas opções de prensagem, a frio e a seco. No primeiro caso, não necessita de pren-sa com sistema a quente, sendo utilizadas resi-na de laminação, fibra de vidro, com adição de

catalisador e pressão. “Este processo de “cura” da chapa é relativamente lento e a produção se dá em pequena escala”. No segundo, dispen-sa o uso de resina de laminação e catalisador, passando-se a usar resinas sintéticas, fibra de vidro e ação conjunta de temperatura e pressão.

A prensagem do tijolo é feita em alta tempe-ratura. “Os componentes vegetais são triturados e aglutinados com resinas fenólicas, obtidas pela reação de condensação e polimerização entre um fenol e um aldeído (compostos quími-cos orgânicos), para em seguida passar por um processo de prensagem em alta temperatura”.

O projeto de desenvolvimento do tijolo fi-cou com a segunda colocação na categoria “Econômica – Tecnológica” do prêmio Profes-sor Samuel Benchimol 2008, concedido pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior a iniciativas que visam ao desenvolvimento sustentável da Amazônia. Participaram dos trabalhos as pesquisadoras Cynthia Pontes, Tereza Bessa e Vânia Lima, do Laboratório de Engenharia da Madeira do Inpa.

ROSILENE CORRêA

Rocha garante que as matérias-primas usadas na confecção são de alta durabilidade

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Árvores da Amazônia apontam condições

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Jochen Schöngart confirma que anéis das árvores possibilitam reconstruir um longo período histórico de variações hidrológicas na região amazônica

Climáticas

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UUm homem de idade avançada para os pa-drões atuais está concentrado no que parece ser uma grande obra de engenharia, embora

esse termo nem existisse ainda. Já são meses de de-dicação a um único projeto – uma espécie de arca, de grandes proporções – o que fez com que o velho deixasse de lado sua própria aparência; sua barba e cabelos estão longos e desgrenhados e suas mãos estão sempre sujas de pó de madeira. Em alguns momentos, seus dedos sangram pela grande quan-tidade de “farpas” que lhe ferem a cada instante.

Os que habitam aquele vilarejo passam pelo velho e não entendem o que ele faz. A família dele o aju-da. Alguns zombam e riem; acham que o velho Noé e sua família estão loucos. Por várias vezes pergun-tam, inconformados, o porquê de tamanho trabalho.

Noé – nono descendente de Adão, segundo o Anti-go Testamento – explica: “Deus me avisou do gran-de dilúvio; as águas de sua ira cobrirão toda a Terra por quarenta dias e quarenta noites”. E todos riam.

Segundo o livro de Gênesis, o anunciado dilúvio que cobriria toda a superfície do planeta aconteceu de fato, e Noé e sua família – assim como uma grande quantidade de espécies animais, agrupada aos pares – foram salvos da fúria das águas. Mas a questão é: se Deus não tivesse dado o alerta con-creto sobre as precipitações das chuvas, Noé teria construído a arca e se mantido a salvo da enchen-te? Provavelmente não. As outras pessoas, segun-do os mesmos relatos, não tiveram a mesma sorte.

De olho no (mau) tempo

Conhecida pelo público em geral como uma das

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> Por mário benTes

Árvores da Amazônia apontam condições Árvores centenárias da

região Amazônica indicam se a seca devastadora de 2005 e a cheia histórica pre-vista para este ano são conseqüências diretas do aquecimento global

Dendrocronologia permite saber em quais anos a região da árvore passou por períodos de cheia ou de seca

MáRIO BENTES

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Climáticas

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regiões mais úmidas do planeta, a região Ama-zônica pode até não ser o cenário de uma en-chente épica e de proporções semelhantes como a descrita no primeiro dos cinco livros do Pen-tateuco, mas, segundo especialistas, as mudan-ças climáticas atuais podem ser as responsáveis pela “grande cheia” que se aproxima na região e que já está causando enormes prejuízos para co-munidades ribeirinhas no interior do Amazonas.

Informes oficiais apontam que pelo menos 184 mil pessoas vem enfrentando problemas em suas plantações de subsistência. Municípios como Ata-laia do Norte, Benjamin Constant, Tonantins e Ta-batinga – na região do Solimões – são apenas al-gumas das cidades prejudicadas pelas chuvas, que ficaram acima da média para o período, segundo o Serviço Geológico do Brasil (CPRM). A previsão da Defesa Civil do Estado é que 40 dos 62 muni-cípios do Amazonas sejam atingidos, sendo que 19 já tiveram decretada situação de emergência.

Para a capital, as notícias também não são anima-doras. O primeiro balanço do ano do Programa de Alerta de Cheias de Manaus, do CPRM, divulgado no último dia 31 de março, revelou que a enchente que se aproxima e que terá o seu auge em junho deve ser apenas um centímetro menor que a grande inunda-ção de 1953, quando a cota do Rio Negro alcançou nada menos que 29,69 metros. Naquela ocasião, boa parte do centro de Manaus ficou tomada de água.

A previsão – que calcula os eventos hidrome-tereológicos para a região com precisão de 70%, de acordo com estudos elaborados conjuntamente pelo CPRM e pelo Serviço de Proteção da Amazônia (Sipam) – é que a média de cheia para esse ano fique entre 29,33 e 30,03 metros, com margem de erro de 35 centímetros para mais ou para menos, o que pode marcar a cheia de 2009 como a se-gunda maior dos últimos 100 anos, segundo infor-mou o superintendente regional do CPRM, Marco Antônio Oliveira, durante a divulgação do alerta.

A “culpa” das mudanças climáticas

Apesar da grande repercussão mundial – provo-cada em parte por conta de sensacionalismo da imprensa – e aparente consenso da comunidade científica no que diz respeito à “culpabilidade” das mudanças climáticas como causadoras de eventos como as grandes cheias e secas severas na Amazô-nia, muitos cientistas permanecem na desconfiança. É certo que os desmatamentos, principalmente em regiões tropicais, e a queima de combustíveis fós-seis – que liberam gás carbônico e outros gases de “efeito estufa” na atmosfera – estão entre os prin-cipais fatores para as mudanças globais de tempe-ratura que vem sendo registradas nos últimos anos.

Entretanto, o que parece ser uma verdade in-questionável para muitos, ainda é dúvida para

alguns cientistas: grandes cheias como a previs-ta para este ano no Estado do Amazonas e secas devastadoras como a de 2005 são fenômenos cau-sados exclusivamente pelo aquecimento global ou são partes de um calendário histórico de eventos naturais que se repete ao longo dos anos? Gru-pos ativistas e Organizações Não-governamentais (ONGs) de meio ambiente acreditam que o ho-mem é o único culpado de tudo, mas os cientis-tas preferem cautela para evitar “manchetes”.

Para tentar esclarecer dúvidas como esta, o Ins-tituto Max Planck – que atua no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) por meio de par-ceria de pesquisas científicas firmada em julho de 1969 entre Brasil e Alemanha – tem estudado alter-nativas para compreender os fenômenos e definir se os eventos de cheia e vazante tão significativos e de grandes conseqüências para as populações que habitam essas regiões são ou não resulta-do direto e exclusivo das mudanças climáticas.

Da água para a terra

O pesquisador alemão Jochen Schöngart afir-ma que as mudanças climáticas globais são uma realidade, mas faz questão de ressaltar, no en-tanto, que ainda existe muita confusão com re-lação ao assunto. Um dos primeiros pontos que o pesquisador esclarece é com relação à tempe-ratura. Segundo ele, ao contrário de que muitos acreditam, as mudanças climáticas na região Amazônica acontecem em maior parte pela va-riação de temperatura da superfície dos ocea-nos (Temperaturas das águas Superficiais dos Mares – TSM) que pela variação atmosférica.

“As mudanças de temperatura que realmen-te podem influenciar nos regimes hidrológi-cos (chuva e seca) da Amazônia não são as da atmosfera, as do ar, mas sim as das águas su-perficiais dos oceanos, o que modifica as circu-lações atmosféricas e resulta em situações com mais chuva ou menos chuva. Há ainda regiões que não sofrem alterações”, explica Schöngart.

Portanto, o calor infernal que você sente na sua cidade não pode ser considerado necessaria-mente resultado do aquecimento global. Quanto a isso, o cientista afirma que se trata apenas da “sensação térmica” causado pela alta temperatu-ra do ar e elevada umidade (no caso de Manaus). Já as variações de temperatura dos oceanos – principalmente no Pacífico Tropical e Atlânti-co Tropical Norte – têm mais impacto na região podendo causar secas severas e grandes cheias. Como exemplos, Schöngart cita um casal velho conhecido da ciência climática: El Niño e La Niña.

Enquanto o primeiro é responsável pelo aque-cimento do Pacífico Tropical, o segundo faz

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exatamente o contrário. Esse processo de aque-cimento e resfriamento dos oceanos tem como resultado uma modificação brusca no equilíbrio das correntes marítimas, dos padrões de vento e das circulações atmosféricas, o que interfe-re decisivamente no clima e no regime de chu-

vas de muitas áreas do planeta, principalmente nos trópicos. Esta delicada relação climática entre diferentes e distantes regiões do globo é chamada, segundo ele, de “teleconexões”.

A região amazônica, em razão de suas enormes

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extensões territoriais, sofre impactos simultâne-os de variações das duas regiões oceânicas – Pa-cífico Tropical e Atlântico Tropical Norte – o que resulta em “anomalias” em pontos diferentes de suas terras. Schöngart explica: “O ciclo hidroló-gico de afluentes do Amazonas resulta das varia-ções sazonais de chuvas nas suas enormes cabe-ceiras. O regime pluviométrico integra anomalias de TSMs de ambas as regiões oceanográficas através das circulações atmosféricas”, explica.

O pesquisador diz ainda que a influência das mu-danças das temperaturas oceânicas pode ser dife-rente, de acordo com as características naturais de cada sub-bacia da região amazônica em que esses impactos acontecem. “O impacto de TSMs de am-bas as regiões oceanográficas, na relação com o regime hidrológico de um afluente, depende da sua localização geográfica”, diz, dando como exem-plos os casos dos rios Ma-deira e Purus, afluentes dos rios Amazonas e So-limões, respectivamente.

“Enquanto o regime hi-drológico do Rio Madeira tem associações mais for-tes com TSMs do Atlântico Norte Tropical, o do Rio Purus tem fortes sinais do fenômeno El Niño”. Ques-tionado sobre as influên-cias específicas para Ma-naus, onde as previsões das autoridades apontam que até junho deve acon-tecer uma inundação já classificada como a se-gunda maior dos últimos 100 anos, o pesquisador diz que as duas regiões oceânicas exercem influência no regime hidrológico da cidade. “As duas regiões oceanográficas influen-ciam o regime hidrológico. O período de enchente e cheia são mais controlados pela El Niño-Southern Oscillation (ENSO), enquanto a vazante e seca, du-rante o segundo semestre do ano, são dominados por sinais de TSMs do Atlântico Norte Tropical”, afirma.

Memória de árvore

Mas afinal de contas, quem é o grande respon-sável pela “grande cheia” que se aproxima da ci-dade e que, se confirmada, pode inundar boa par-te de sua área urbana? E a severa seca de 2005, que isolou comunidades inteiras e causou grandes prejuízos para os ribeirinhos? O homem, que segue aquecendo o planeta com a emissão de gases cau-sadores do “efeito estufa”, ou a própria natureza?

Para responder a estas questões, cientistas do Max Planck do Inpa estão recorrendo à sabedoria das ár-vores centenárias da região amazônica. Liderados pelo cientista Jochen Schöngart, a equipe está rea-lizando intensa pesquisa no interior dos troncos de espécies de árvores de até 500 anos de idade, como a arapari (Macrolobium acaciifolium, Fabaceae) e a assacu (Hura creptans). O objetivo é catalogar, por meio das características e variações internas dos “anéis anuais da madeira” o comportamento da ár-vore ao longo do tempo e, saber, com isso, a que con-dições climáticas essas espécie foram submetidas.

Com a metodologia, conhecida como Dendrocro-nologia, é possível saber com certo grau de precisão, além da própria idade da espécie, em quais anos a região da árvore usada no experimento passou por

períodos de cheia ou de seca. Segundo Schöngart, isso se torna possível por meio da análise dos anéis que se formam no interior do tronco de cada espé-cie. Os anéis são como círculos concêntricos (com centro do raio em comum), mas desenha-dos de modo irregular e de acordo as adaptações morfológicas, anatômicas e fisiológicas das espécies.

“Os anéis são camadas de crescimento do tronco e as distâncias entre eles revelam o que aconteceu em um ano específico da vida da árvore. Se a dis-tância entre um anel e outro for curta, significa que naquele ano a árvo-re não teve muito tempo para crescer por causa

de uma grande cheia”, explica. A afirmação de Schöngart é fruto de uma constatação científica conhecida, já que, quando estão debaixo d’água, as árvores vivem num ambiente anaeróbico (com pouco oxigênio). Situação inversa acontece nos períodos não inundados, quando as espécies rece-bem mais luz e se desenvolvem com mais vigor.

Arquivo centenário

A relevância da técnica usada no estudo do Instituto Max Planck, de acordo com o cientista alemão, está na possibilidade de reconstruir um longo período histórico de variações hidrológicas na região amazônica (processo chamado de Den-droclimatologia) e assim identificar um padrão do comportamento do clima. “Mesmo que em Manaus existam dados de flutuações de níveis d’água de

Cientistas recorrem à sabedoria de árvores centenárias para estudar a emissão de gases que causam o efeito estufa

MáRIO BENTES

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mais de 100 anos, esta série temporal não é suficiente para detectar tendências como, por exemplo, aumento de secas seve-ras ou grandes cheias”, diz o cientista.

Ele explica ainda que com a recomposição de informações his-tóricas dos fenômenos como cheias e secas, po-de-se traçar um perfil com-parativo com fenô-menos semelhan-

tes registrados mais recentemente com o intuito de saber se de fato as mudanças climáticas estão atuando em eventos climáticos de grande impac-to. “A reconstrução do regime hidrológico permite uma avaliação mais acurada se secas severas como a de 2005 ou grandes cheias ainda se explicam através das variações naturais do regime hidro-lógico ou já são resultados de mudanças climáti-cas globais causadas pelo ser humano”, adianta.

Outro ponto importante, adianta o cientista, é que o modelo resultante desse processo comparati-vo pode ser capaz de prever, com pelo menos dois ou quatro meses de antecedência, a ocorrências de grandes cheias ou de secas como a de 2005. “O acompanhamento desses eventos vem sendo feito há quatro anos e utiliza como base os dados oceano-gráficos do Pacífico, as temperaturas superficiais da água do mar ou o Índice da Oscilação Sul (SOI), o qual é inserido em um modelo de regressão múltipla”, diz.

Acompanhamento de informações

Jochen Schöngar conta que uma célula piloto de acompanhamento dos níveis dos rios na Amazônia Ocidental está sendo montada na Rede de Meteo-rologia e Hidrologia do Amazonas (REMETHI), do Centro de Estudos Superiores do Trópico Úmido (CESTU) da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Segundo ele, a técnica de previsão base-

ado em TSMs do Pacífico Tropical e Atlântico Norte Tropical pode vir a ser usa-da pela entidade com o ob-jetivo de investigar outros pontos na Bacia Amazônica.

“Os passos no trabalho com a UEA vão no sentido de estender as pesquisas para prever cheias e secas tam-bém em outras sub-bacias na Amazônia, como nos rios Madeira e Negro. O objetivo maior da pesqui-sa é divulgar as informa-ções para o Governo do Estado, Organizações Não Governamentais (ONGs), institutos de pesquisa e entidades da sociedade civil que possam usar as informações para a tomada de decisões”, finaliza o pesquisa-dor, enquanto, do lado de fora de sua sala, no Inpa, inicia uma forte

chuva.

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44Peixes como o tamoatá ou tamboatá (Hoplos-

ternum littorale), espécie típica do Norte do Brasil, têm a capacidade de resistir simulta-

neamente a rios poluídos por coliformes fecais e a baixíssimos níveis de oxigênio e presença eleva-da de fungos, gás metano e até ácido sulfídrico.

Ele não é o único. Outras espécies do meio ambiente aquático, como peixes, invertebrados, mamíferos e microorganismos, são capazes de lidar com ambientes diferentes e hostis, se-jam eles naturais ou modificados pelo homem.

Mas como essa resistência “natural” se dá? Qual o “elemento X” que propicia esse mecanismo

> Por mário benTesad

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O Elemento da evoluçãoX

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biológico de defesa e de adaptação ao ambiente modificado? E mais importante: Esse mesmo ele-mento pode ser usado em benefício do homem?

O mapa da mina

Segundo o biólogo Adalberto Luis Val, pes-quisador-chefe do recém aprovado Centro de

Estudos da Adaptação da Biota Aquática da Amazônia (ADAPTA), do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), a resposta para tudo isso pode estar no DNA dessas espécies.

“Todos os indivíduos têm um vasto con-junto de informações genéticas em seu DNA, mas não são todas as informações genéticas

O projeto vai detectar o que as

diferentes espécies têm em comum em

nível genético

O Elemento da evoluçãoX

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contidas no DNA que se expressam de for-ma evidente ao longo de suas vidas”, afirma.

Dessa forma, ao contrário das informações responsáveis pelos traços quantitativos dos indivíduos (cor dos olhos, pele e tipo de ca-belo, no caso do homem), esse segundo gru-po ainda não identificado de informações pode ser aque-le usado apenas “em casos de emergências ambientais”.

“A produção de caracterís-ticas, novas ou não, nos in-divíduos é resultado das ex-pressões do genoma em dado momento de suas vidas”, ex-plica Val, referindo-se ao fato de que a resistência de alguns exemplares do meio ambiente aquático a condições extremas do ambiente pode estar justa-mente associada a uma mani-festação ainda oculta do DNA.

Essa “manifestação”, segundo ele, pode acontecer com a produção de uma proteí-na, uma enzima, um muco ou qualquer ou-tra nova substância resultante de uma reação química no organismo dessas espécies. E foi com o objetivo de identificar o ponto de par-tida dessas “alterações” – e suas possíveis po-tencialidades – que surgiu o projeto ADAPTA.

O projeto

Com recursos na ordem de R$ 9 milhões, obti-dos do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado do Amazonas (Fapeam), com a participação de mais de 100 doutores da comunidade científica

nacional e internacional, e com a recomendação de avaliadores do exterior, o ADAPTA vai per-mitir que os cientistas possam iniciar uma longa busca por in-formações no DNA de espécies aquáticas da região amazônica.

De acordo com Val, que tam-bém ocupa o cargo de diretor geral do Inpa, a pesquisa tem duração de cinco anos e vai atuar em três frentes. A pri-meira delas consiste na iden-tificação de todas as diferentes espécies capazes de enfrentar uma mesma situação adversa

e, em seguida, detectar o que essas diferen-tes espécies têm em comum em nível genético.

“Na represa da hidrelétrica de Balbina, por exemplo, existe uma infinidade de espécies de peixes, plantas e microorganismos capazes de resistir à presença do metano (gás altamente in-flamável) e do ácido sulfídrico (composto corro-sivo, venenoso e de odor desagradável) na água,

A pesquisa vai identificar todas as diferentes espécies capazes de enfrentar situação adversa e detectar o que essas têm em comum

Espécies aquáticas da região amazôni-ca são capazes de fazer mutações em seus próprios códi-gos genéticos para se adaptarem às mudanças de ambi-ente

ANSELMO D´AFFONSECA

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assim como o baixo nível de oxigênio”, informa.

Outros exemplos dados pelo cientista são as áreas de mineração, que contam com a presen-ça de metais pesados, como mercúrio (usado na purificação do ouro), de exploração de pe-tróleo, e o entorno das cidades, que também impõe sérias dificuldades de sobrevivência à fauna aquática em virtude da ausência, em mui-tos casos, de tratamento adequado de esgoto.

Da mesma forma, a pesquisa vai mapear os locais tidos como “hostis” à sobrevivên-cia aquática e identificar as espécies capa-zes de resistir a todas elas ao mesmo tempo.

Cerco ao problema

Como segunda frente de atuação, o ADAP-TA também vai levar em consideração as di-ficuldades impostas naturalmente aos in-divíduos. Como exemplo, o biólogo cita o caso do jaraqui (Semaprochilodus taeniu-rus e S. insignis), outro peixe comum da re-gião, que costuma transitar periodicamen-te nas águas dos rios Solimões e Negro.

“O Solimões tem pH próximo à neutralidade, alta quantidade de material orgânico em sus-pensão e boas quantidades de sais, enquanto o Negro tem pH ácido e baixas quantidades de sais, a ponto de sua composição ser similar a da água destilada (água “pura”)”, explica o cientista.

Microcosmos

A terceira e última frente de atuação são os “ambientes experimentais” (cria-dos em laboratório), ou, como prefe-re dizer Val, os chamados “microcosmos”.

“Nós vamos submeter diferentes espécies a determinadas condições de ambiente e ana-lisar sua constituição genética. Após um ano, vamos alterar essas condições, princi-palmente a temperatura e os níveis de CO2, e avaliar quais espécies resistirão”, explica.

Para ele, esse cenário poderá detectar precisa-mente as informações do DNA que se manifestaram e quais as novas substâncias produzidas para que as espécies pudessem ser capazes de se adaptar e, consequentemente, sobreviver à nova situação.

Banco de dados genético

Todas as informações coletadas serão registra-das em um banco de dados, que será dividido segundo o nível de refinamento das informa-ções. A primeira parte vai guardar os dados re-ferentes às adaptações biológicas e às intera-ções dos organismos com seus ambientes, assim como as etapas de sequenciamento dos genes.

“O primeiro banco de dados vai me dizer quem são os organismos comuns que conseguiram so-breviver ao microcosmos (aumento de temperatu-ra e CO2) e os que conseguem sobreviver simulta-

Segundo Adalberto Val (detalhe), o ADAPTA vai permitir que os cientistas possam iniciar uma longa busca por informações no DNA de espécies aquáticas da região amazônica

ANSELMO D´AFFONSECA

TABAJARA MORENO

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neamente às áreas de mineração, po-luição urbana e usinas hidrelétri-cas”, detalha Val.

Já a segunda parte do banco vai guardar os resulta-dos do trabalho de cruzamento entre os dados armaze-nados no primeiro banco e os dados existentes na li-teratura universal sobre sequenciamento genético de espécies e as atribuições catalogadas de cada trecho do DNA.

Bioinformática

O cruzamento de informações será realizado com o uso de um laboratório de bioinformáti-ca que deve ser instalado no Inpa já para este projeto. Ele vai usar informações de sequen-ciamento genético obtidas com uma inovação na região Norte do país: o sistema Solid, que segundo Val, é capaz de mapear e sequen-ciar uma cadeia de DNA dez vezes mais rápi-do que os sistemas atuais existentes no Inpa.

A última parte do banco, também capi-taneada pelo laboratório de bioinformáti-ca, será responsável pelo armazenamento de informações sobre as funcionalidades de cada novo gene mapeado que se manifes-tou de acordo com as mudanças de ambiente.

“Nessa etapa, o banco vai nos dizer quais as funções de uma enzima, de uma proteína ou de qualquer outra substância. Isso vai otimizar a pes-quisa, já que não necess i ta remos pesquisar sobre o que já foi pesqui-sado”, esclarece.

A etapa fi-nal do projeto é a chamada “linha de pro-dução”, onde as novas substâncias detec-tadas serão trabalhadas em laboratório de modo a serem produzidas em larga escala.

Fé na possibilidade do progresso

O ADAPTA, um dos quatro projetos do Inpa aprovados pelo Governo Federal, tem dura-ção inicial prevista em cinco anos, mas seus resultados serão avaliados após três anos. Caso o MCT veja relevância nos resulta-dos, o projeto prossegue por mais dois anos.

Com o projeto, Val espera que o Inpa des-cubra novos produtos úteis ao homem, como medicamentos. Sobre a possibilida-de de êxito, o pesquisador sorri e cita o tre-cho de um dos muitos livros da biblioteca de sua sala no Inpa: “Pesquisa é uma expres-são de fé na possibilidade do progresso”.

Com capacidade de processamento simul-tâneo de informações em aproximadamente 10 Terabytes (10,2 mil Gigabytes), o sistema Solid será um dos grandes aliados do proje-to Adapta. Com o supercomputador, o Inpa vai poder analisar com rapidez e segurança um grande volume de informações referen-tes ao cruzamento dos três bancos de dados do laboratório de Bioinformática. Segun-do Adalberto Luis Val, o sistema Solid pode efetuar o sequenciamento do Genoma huma-no dez vezes em apenas uma única semana.

Outro ponto previsto no Adapta, além das inovações científicas a que se propõe, é a capa-citação de pessoal para atuar em outras frentes e outros projetos do Inpa ou de instituições privadas. Segundo Val, estão previstas a for-mação de pelo menos 200 novos especialistas.

De forma complementar, o projeto pre-vê ainda o envolvimento de outras áreas de atuação, como os profissionais de imprensa. Segundo o diretor do Inpa, a participação de jornalistas será fundamental para o que ele chama de “socialização” de conhecimentos.

Fique por dentro do AdaptaBioinformática – o sistema Solid

Capacitação de pessoal

Socializaçãodas informações

As espécies do meio ambiente aquático são capazes de lidar com ambientes diferentes e hostis, sejam eles naturais ou modificados

MáRIO BENTES

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O conhecimento científico é parte do coti-diano e desperta fascínio nas pessoas. Mas sua linguagem repleta de termos técni-

cos associada a uma visão, ainda predominante, de que a ciência é algo restrito a laboratórios de pesquisa acaba estabelecendo uma barreira in-visível entre esse conhecimento e a sociedade. É com a proposta de romper esse paradigma que pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa ) tem conversado, sempre às quartas-feiras, às 14hs, com internautas no Chat do site Portal Amazônia (www.portalamazonia.com).

O bate-papo permite uma proximidade maior entre os pesquisadores do Instituto e a comunidade. Através desse diálogo virtual tem sido possí-vel apresentar, de maneira simples, os resultados das pesquisas desen-volvidas nos laboratórios do Inpa.

A primeira edição do Chat aconte-ceu em março deste ano. Ao todo, dez pesquisadores do Inpa já apre-sentaram seus estudos e responde-

ram às indaga-

ções dos internautas. Para a pesquisadora do Laboratório de Celu-lose e Papel/carvão Vegetal, Marcela Amazonas, o Chat assume uma função muito importante,

pois à medida que o contato permite uma aproximação de públicos, de diferentes ida-

des, com a pesquisa, novas pessoas são atraídas para o campo da ciência. “Essa interação com internautas de diversas idades é extremamente importante. É uma via de mão dupla. O pesquisador se inteira mais da reali-dade das pessoas, despertando assim sua sensibilida-de para outros campos de estudo, e crianças, jovens e adultos são atraídos para a atuação científica”, expõe.

O interesse pelo Chat tem crescido a cada edi-ção. É o que afirma a gerente de conteúdo do Por-tal Amazônia, Gláucia Chair. “Sempre recebemos muitos e-mails de internautas interessados em saber qual será o assunto abordado no próximo bate-papo. Além disso, eles também enviam te-mas que gostariam de conhecer mais”, conta Chair.

Já participaram do Chat os pesquisadores Iêda Ama-ral, da Coordenação de Pesquisas em Botânica (CPBO); Pierre Alexandre dos Santos, da Coordenação de Pes-quisas em Produtos Naturais (CPPN); Helyde Albuquerque Marinho, Coor-denação de Pesquisas em Ciências da Saúde (CPCS); Hillândia Brandão da Cunha e e Sérgio Bringel, da Co-ordenação de Pesquisas em Clima e Recursos Hídricos (CPCRH); Ires Mi-randa, do Laboratório de Estudos e

Palmeiras (LABPALM); Hiroshi Noda, da Coordenação de Pesquisas em Ciências Agronômicas (CPCA); Jochen Schongart, que atua no Inpa através da parceria com o Instituto Max Planck, além do veterinário do Laboratório de Mamíferos Aquáticos (LMA), Anselmo D´Affonseca.

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Do laboratório para a web

Toda semana pesquisas desenvolvidas no Inpa são tema de Chat na internet

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> Por TAbAjArA moreno

Marcela Amazonas acredita que a participação no Chat permite ao pesquisador se inteirar da realidade das pessoas, despertando sua sensibilidade para outros campos de estudo

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