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Claudinei da Silva Yamada PARVOVIROSE CANINA Monografia apresentada ao Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de Médico Veterinário. Professor orientador: Prof. Uriel Vinicius C. Andrade Orientador Profissional: Dr. Nélio Benedito Borim Curitiba-PR 2007

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Claudinei da Silva Yamada

PARVOVIROSE CANINA

Monografia apresentada ao Curso de Medicina Veterinária da

Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da

Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para

obtenção do título de Médico Veterinário.

Professor orientador: Prof. Uriel Vinicius C. Andrade

Orientador Profissional: Dr. Nélio Benedito Borim

Curitiba-PR

2007

Sumário

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 1

2 TRANSMISSÃO e INCIDÊNCIA......................................................................... 3

2.1 Incidência Etária.............................................................................................. 4

2.2 Incidência Racial.............................................................................................. 4

3 SINAIS CLÍNICOS.............................................................................................. 5

4 DIAGNÒSTICO................................................................................................... 7

5 TRATAMENTO................................................................................................... 9

6 PROGNÓSTICO e COMPLICAÇÕES................................................................ 12

7 PREVENÇÃO e CONTROLE............................................................................. 13

7.1 Vacinação........................................................................................................ 13

8 CONCLUSÃO..................................................................................................... 15

REFERÊNCIAS..................................................................................................... 16

1 INTRODUÇÃO

Os parvovírus junto com outros vírus têm sido estabelecidos como causas de

enterite e diarréia virais em cães e gatos. Existem dois tipos de parvovírus que

acomete os cães. O parvovírus canino 1 (PVC-1), também conhecido como “vírus

diminuto dos cães”, é um vírus relativamente não patogênico que algumas vezes

causa gastroenterite, pneumonite e/ou miocardite em animais jovens. O parvovírus

canino 2 (PVC-2) é responsável pela clássica enterite parvoviral (NELSON et

al.,2001). Segundo Sherding (2003), afirma que o parvovírus canino tipo 2 (CPV-2)

causa uma enterite aguda e altamente contagiosa dos cães, que tem estado

prevalente mundialmente desde o final dos anos 1970. Desde que as variantes dos

anos 1980 designadas CPV-2a e CPV-2b evoluíram, esta última está se tornando a

cepa predominante na América do Norte. Esta doença é caracterizada pela

gravidade dos sinais e elevada mortalidade em filhotes susceptíveis.

Os primeiros surtos da doença foram descritos no Brasil em 1980, e desde

então, muito se progrediu no controle desta afecção, principalmente em se tratando

da imunização dos animais. Onde a doença se originou e por que ela apareceu

subitamente em várias partes do mundo ao mesmo tempo, se desconhece. O vírus é

altamente estável no ambiente, capaz de suportar grandes variações de pH e

temperaturas altas, também são resistentes a vários desinfetantes comuns e pode

sobreviver por vários meses em áreas contaminadas.

Na realidade virtual para Neto (2007) tem sido sugerido que, devido à

semelhança antigênica com o vírus da panleucopenia felina, o vírus da parvovirose

canina seja um mutante de uma linhagem de campo do vírus felino. A enfermidade

manifesta-se de duas formas, que são a forma entérica e a forma miocárdica. A

forma entérica é mais freqüentemente reconhecida, por mostrar sinais evidentes. A

forma miocárdica é geralmente diagnosticada no post-mortem, pois a maioria dos

animais morre subitamente sem mostrar sinais clínicos.

A mortalidade associada com a parvovirose canina é descrita como sendo de

16 a 35% (AIELLO, 2001), e nesta mortalidade os animais jovens estão mais

presentes.

2 TRANSMISSÃO e INCIDÊNCIA

A infecção com CPV ocorre por via fecal-oral. Durante a enfermidade aguda,

aproximadamente 1-2 semanas após isso, elimina-se uma quantidade maciça de

parvovírus (mais de 1 bilhão de virions por grama de fezes) nas fezes de cães

infectados. Como o vírus consegue sobreviver e permanecer infeccioso por muitos

meses no ambiente, fomito e contaminação ambiental exercem um papel importante

na transmissão (SHERDING, 2003).

O vírus também pode ser transmitido de forma direta, ou seja, animais

saudáveis contraem o CPV através de animais contaminados que convivem juntos.

Os cães recuperados podem servir como portadores e eliminar o vírus

periodicamente.

O vírus tem sofrido mutações desde que foi identificado pela primeira vez, e

mais recentemente se soube que o PVC-2b pode ser ainda mais patogênico em

certos cães. A síndrome clinica é semelhante à apresentada na primeira linhagem e

depende da virulência do vírus, do tamanho do inoculo e das defesas do hospedeiro

(NELSON et al, 2001).

Na realidade virtual para Neto (2007), após a exposição oral, o vírus se

localiza e infecta os linfonodos regionais da faringe e tonsilas (amídalas). A partir

desse evento o vírus ganha a corrente circulatória (fase de viremia) e invade vários

tecidos, incluindo o timo, o baço, os linfonodos, a medula óssea, os pulmões, o

miocárdio e finalmente o jejuno distal e o íleo, onde ele continua a se replicar. A

replicação causa a necrose das criptas do epitélio do intestino delgado, com

eventual destruição das vilosidades. O vírus também pode causar lesões em outros

órgãos que invade, contribuindo para múltiplos sintomas como linfopenia (medula

óssea), miocardite (coração) e sinais respiratórios (faringe).

O vírus está enquadrado como pertencendo à família Parvoviridae do gênero

Parvovírus. Possuem capsídeo com estrutura cúbica. Não possue envelope. O

diâmetro do vírus é de 18-26nm. É um ADN-vírus (MAYR, 1988).

2.1 Incidência Etária

Cães de qualquer idade podem se infectar, mas a incidência da doença

clínica ocorre quase completamente em cães entre o desmame e 6 meses de idade.

Os cães com menos de 6 semanas de idade ficam geralmente protegidos por meio

de imunidade materna passiva, enquanto os animais adultos já se imunizou ou se

soroconverteu a partir de uma infecção subclínica.

2.2 Incidência Racial

Determinadas raças parecem ter mais risco de infecção e serem suscetíveis

às formas mais severas da doença.

Cães das raças Rottweiler, Doberman e Pincher reagem mais intensamente à

parvovirose canina que outras raças (Glickman et al,1985 apud Thrusfield,2004). Já

os cães das raças Poodle e Cocker Spaniel Inglês e Americano parecem ter um

risco menor de desenvolver a enteropatia.

3 SINAIS CLÍNICOS

Os cães afetados ficam frequentemente assintomáticos. A doença clínica

pode ser disparada por um estresse (por exemplo, transporte) e os sinais clínicos

podem ser exarcebados por infecção intercorrente com patógenos intestinais

oportunistas (Samonella spp, Clostridium perfringens). A dose do vírus exigida para

causar uma doença clínica também pode ser um fator. O período de incubação é de

3 a 8 dias.

O parvovírus causa anorexia, depressão, febre, vômito, diarréia fluída

intratável (pode ser abundante e hemorrágica) e desidratação rapidamente

progressiva. Já em pacientes com sepse bacteriana ou endotoxemia, podem-se

desenvolver terminalmente hipotermia, icterícia ou diátese hemorrágica (coagulação

intravascular disseminada).

Nos casos severos, pode ocorrer morte, principalmente em cães jovens ou

nas raças suscetíveis e estas são geralmente atribuíveis à desidratação,

desequilíbrios eletrolíticos, choque endotóxico ou sepse bacteriana avassaladora

relacionada com leucopenia. A severidade pode aumentar por meio de fatores tais

como estresse, condições de canil (superlotação e higienização), infecção

bacteriana secundária e doenças intercorrentes (cinomose, coronavírus,

salmonelose e parasitismo intestinal).

Infecções viricas agudas frequentemente resultam em leucopenia, e isso

ocorre em parte devido a necrose nos folículos linfóides. Uma das causas da

necrose podem ser os efeitos citolíticos diretos produzidas pela multiplicação do

vírus ou toxinas (THOMSON, 1983).

Em cães adultos não imunizados aparece infecções leves ou inaparentes que

resultam em soroconversão sem sinais clínicos. No caso de uma infecção intra-

uterina, pode aparecer miocardite neonatal aguda. Como a maior parte das mães

encontra-se imunizadas e transferem essa imunidade passivamente para os seus

filhotes, essa forma de infecção parvoviral tornou-se praticamente inexistente. Os

sinais de miocardite parvoviral consistem em dispnéia devida a insuficiência

cardíaca aguda, morte súbita devida às arritmias e, algumas vezes, insuficiência

cardíaca congestiva crônica de início retardado à fibrose miocárdica crônica.

Outros problemas clínicos, como a infertilidade e defeitos de nascença podem

aparecer associados com a parvovirose, no entanto ainda faltam evidências que

sustentam isso.

4 DIAGNÓSTICO

Suspeita de infecção por parvovírus quando o animal apresenta o início

abrupto de vômito e diarréia, especialmente se estas estiverem associadas com

depressão severa, febre ou leucopenia, ou se esses sinais se seguirem a uma

exposição potencial a cães infectados ou fomitos. O hemograma completo auxilia,

pois a maior parte doa cães com enterite parvoviral, desenvolve-se uma leucopenia

severa devida a linfopenia e granulocitopenia, freqüentemente com total de somente

500-2000 leucócitos/mL e, ocasionalmente, até menos. Podem se observar

hipoalbuminemia, hipocalemia e hipocloremia. Em alguns cães os níveis de ALT

aumentam.

Na radiografia abdominal ocorre uma distensão com gás e fluído do trato

gastrointestinal devida a um íleo paralítico, e deve ser diferenciada de uma

obstrução de intestino delgado (por exemplo, corpos estranhos ou intussuscepção).

Palpar cuidadosamente o abdômen para ajudar a descartar uma obstrução

mecânica. Uma radiografia contrastada com bário revela freqüentemente uma

irregularidade de mucosa (enrugamento ou recortamento) e um tempo de trânsito

prolongado.

No caso da sorologia, a determinação de anticorpos anti-CPV no soro não é

suficiente para o diagnóstico, pois até 95% dos cães na população já se

soroconverteram a partir de uma vacinação ou uma exposição anterior.

A virologia detecta parvovírus nas fezes através de um ensaio

imunoabsorvente ligado à enzima (ELISA). É o método mais prático, resultados

positivos constituem um indicador confiável de excreção fecal ativa de CPV-2.

Ocasionalmente, ocorrem resultados falsos negativos. As vacinas atenuadas podem

causar um resultado falso-positivo por 5 a 12 dias pós-vacinação. Outros métodos

para detectar excreção fecal de parvovírus, tais como hemoaglutinação, aglutinação

em látex, microscopia eletrônica e isolamento viral, são menos prático para uso

clínico rotineiro, pois exigem um laboratório diagnóstico externo.

Na necrópsia o parvovírus se baseia na identificação das lesões intestinais

características: necrose das células criptais em proliferação rápida com colapso

viloso secundário e dilatação das criptas com resíduos necrosados. Também se

observam uma degeneração mielóide e um esgotamento linfóide disseminado. O

parvovírus pode ser demonstrado em amostras teciduais congeladas através de

imunofluorescência ou em amostras fixadas por meio de RCP.

O exame das fezes por microscopia eletrônica detecta a presença do vírus,

entretanto o PVC-1 (que normalmente não é patogênico) é morfologicamente

indistinguível do PVC-2. Se o cão morrer, haverá uma lesão histopatológica típica

(isto é, necrose da cripta) e a técnica do anticorpo fluorescente pode ser usada para

estabelecer diagnóstico definitivo (NELSON et al, 2001).

5 TRATAMENTO

Como o tratamento de parvovírus é predominantemente de suporte e

semelhante ao que seria usado na maior parte dos animais com gastroenterite

severa, institua uma terapia se tiver realizado testes definitivos ou não ou enquanto

se aguarda o retorno dos resultados.

Não existe nenhuma terapia específica para eliminar o vírus. A maioria dos

cães se recupera com uma terapia de suporte apropriada direcionada à restauração

do equilíbrio hídrico. Podem se utilizar soluções eletrolíticas orais nos cães

ligeiramente desidratados sem história de vômito. Os cães mais gravemente

afetados devem receber uma fluidoterapia intravenosa (IV) (solução de Ringer

lactato e dextrose a 5% suplementada com potássio, a 20-40mEq/L). Corrija a

desidratação pelas primeiras 24 horas e continue com fluidos de manutenção mais

reposição das perdas contínuas. Evite uma administração de fluidos pela via

subcutânea em cães com leucopenia severa, pois ocorre uma incidência alta de

infecção secundária, celulite e necrose cutânea nos locais de administração.

Monitore a fluidoterapia através de um rastreio do peso corporal, dos

parâmetros físicos, de perdas hídricas contínuas (vômito, diarréia) e do hematócrito

e da proteína plasmática total. A maioria dos cães que sobrevivem nos primeiros 2 a

3 dias da doença se recupera.

Indicam-se antibióticos para controlar uma sepse bacteriana de risco de vida

potencial. Inicialmente, administre antibióticos parentalmente, tais como a

gentamicina (aminoglicosídeo) que tem como mecanismo de ação bactericida e são

ativos frente a bactérias Gram-positivos e Gram-negativos, principalmente

enterobactérias. É aplicada via intramuscular, com dose para cães de 2 a 4mg/kg

cada 6 ou 8 horas ou 6 a 10 mg/kg a cada 24 horas. Nos casos mais graves (por

exemplo, os com perda sanguínea grave, febre ou perda de integridade intestinal),

compromete-se a integridade intestinal, e esses cães ficam predispostos a

bacteremia e septicemia, é aconselhável a utilização de Ampicilina

(aminopenicilinas) que tem como mecanismo de ação a inibição da síntese da

parede celular bacteriana, e são ativas as bactérias Gram-positivas e diversas

bactérias Gram-negativas. É aplica via intramuscular, com dose para cães de 10 a

20mg/kg a cada 8 ou 12 horas.

Devem se suspender os alimentos e a água até que os vômitos tenham

parado por pelo menos 24 horas e a diarréia tenha diminuído, as exigências hídricas

devem ser cumpridas pela infusão intravenosa, isso pode levar 3-5 dias em casos

severos. Quando se reassume a alimentação, ofereça porções frequentes e

pequenas de uma dieta digerível e branda, tal como um arroz cozido com peito de

frango sem tempero só na água e sal, até que a função gastrointestinal pareça estar

recuperada.

Contra o vômito freqüente ou persistente associado com esvaziamento

gástrico prolongado que ocorre algumas vezes na infecção parvoviral, administre

metoclopramida (Reglan; A.H.Robbins). A metoclopramida é um antiemético que

promove o bloqueio dos receptores dopaminérgicos (D2) na zona quimiorreceptora

do vômito (ZQD), e a dose aplicada em cães é de 1 a 2mg/kg Intravenosa em

infusão de 24/24horas. No caso da diarréia, não se precisa de um tratamento para

controlá-la, contanto que se cumpram às exigências hídricas, a diarréia geralmente é

autolimitante.

Se os sinais de gastroenterite recidivarem depois de uma alimentação, o cão

deverá ficar em jejum por 12 a 24 horas adicionais antes de ser alimentado

novamente. Caso consiga tolerar o alimento, a dieta branda deverá ser continuada

por 7 a 14 dias, podendo depois desse período reintroduzir gradualmente a dieta

regular no cão (AIELLO; 2001).

Ocasionalmente, torna-se necessária uma infusão de sangue ou plasma (5-

10mL/kg, intravenoso) para o tratamento de anemia por perda sanguínea severa ou

da hipoproteinemia (SHERDING; 2003).

Os erros no tratamento incluem terapia hídrica inadequada (erro comum),

excesso na administração de líquidos (especialmente em cães com hipoproteinemia

grave), sepse não diagnosticada e doenças do trato gastrointestinal concomitantes

(por exemplo, parasitas, intussuscepção) (NELSON et al,2001).

6 PROGNÓSTICO e COMPLICAÇÕES

A maior parte dos cães com enterite por CPV se recuperará se for tratada

apropriadamente controlando-se a desidratação e a sepse. Quando um animal

sobrevive pelos primeiros 3-4 dias de enfermidade, a recuperação ocorre

rapidamente. No entanto alguns animais sucumbem a sepse bacteriana e à

endotoxemia devido à leucopenia, da imunossupressão e do rompimento da barreira

da mucosa intestinal. O animal quanto mais jovem mais alta ficará a taxa de

mortalidade.

Outras complicações podem incluir hipoglicemia, hipoproteinemia, anemia,

intussuscepção, hepatopatias, sinais no sistema nervoso central (provavelmente

devido à cinomose intercorrente) e muitas infecções bacterianas secundárias

(endocardite, tromboflebite, pneumonia, infecções no trato urinário e abscessos

locais).

Os cães que se recuperam da enterite por PVC-2 desenvolvem imunidade de

longa duração que pode ser vitalícia (NELSON et al, 2001).

7 PREVENÇÃO e CONTROLE

Os cães com infecção com CPV eliminam uma quantidade maciça de vírus

nas fezes durante sua enfermidade. Esses animais, bem como os fomitos e as

instalações que eles contaminam, tornam-se altamente infectantes para outros cães.

Assim deve fazer o isolamento de cães infectados por pelo menos até uma semana

depois de sua recuperação, e deve fazer a higienização das áreas contaminadas

porque o CPV é muito estável fora do animal e facilmente transmitido.

7.1Vacinação

Constitui o único meio realista e efetivo para prevenção e controle da

enfermidade. Nas primeiras semanas de vida, os anticorpos maternos protegem o

filhote de infecção, mas, ao mesmo tempo também interferem na imunização ativa. À

medida que o nível desses anticorpos maternos diminui, ocorre um período de 2-4

semanas no quais todos os filhotes ficam refratários à vacinação, porém permanece

susceptível à infecção, se ficarem expostos, e nesse período é que ocorrem quase

todas as falhas de vacinação.

Como a idade na quais os filhotes conseguem responder à vacinação é

imprevisível, os protocolos mais efetivos usam uma série e vacinações. As vacinas

vivas atenuadas contra CPV-2 (contem um título alto de uma cepa do vírus

altamente imunogênica) são mais efetivas no rompimento da interferência de

anticorpos maternos em uma idade jovem, tem melhor magnitude, inicio de proteção

mais rápida, duração mais longa. As vacinas de vírus vivo modificado (VVM) ou

atenuado contra CPV-2 comercialmente disponíveis protegem cruzadamente

efetivamente contra todas as cepas de campo conhecidas do CPV.

Recomendam-se três doses de vacinação, onde a primeira se aplica quando

o filhote esta com 6-8 semanas de vida e depois as outras duas doses a cada 30

dias, depois se recomenda uma vacinação anualmente. Não espace as vacinações

em intervalos de menos de 2 semanas , pois a interferência de intervalos mais

curtos pode prejudicar a eficácia da vacina.

Quando se tenta evitar o surto de enterite parvoviral, é importante lembrar que

(1) o parvovírus persiste por longo período de tempo (isto é meses no meio

ambiente), tornando difícil assim evitar a exposição; (2) cães assintomáticos podem

disseminar o PVC-2 virulento nas fezes; (3) a imunidade materna é mais eficaz para

destruir o vírus da vacina do que o de rua, fazendo com que os programas de

vacinação não garantam a prevenção da infecção; (4) a imunidade materna

suficiente para inativar o vírus da vacina pode persistir por mais de 16 a 18 semanas

de idade em alguns filhotes, dependendo do tipo de vacina usada; (5) o cloro diluído

(1:32) é um dos poucos desinfetantes capazes de matar o vírus (NELSON et al,

2001).

8 CONCLUSÃO

A parvovirose canina é uma enfermidade de extrema importância na área de

animais domésticos, por que atingem filhotes (com mais freqüência) e animais

adultos podendo levá-los a desidratação aguda por causa dos vômitos e diarréia, e

até mesmo a morte. É uma doença causada por um vírus, de fácil diagnóstico e o

seu prognostico é reservado. Certas raças têm incidências maiores, porém todos os

cães estão sujeitos a se infectar.

Como a transmissão é direta (contato com animais infectados) e indireta

(contato com fômites infectados), o proprietário deve ter uns cuidados necessários

para que seu animal não se infecta com a enfermidade, e se seu animal estiver

enfermo, para que o vírus não se espalhe para outros cães sadios, como

primeiramente vacinação em todos os animais que possuir, higienização dos canis

(principalmente com as fezes, porque é uma fonte de infecção muito grande) com

uma desinfecção de um diluição de 1:32 de água sanitária de hipoclorito de sódio, se

o animal estiver enfermo isola-lo dos outros.

Com esses cuidados, o animal terá menos risco de contrair o vírus e

consequentemente a enfermidade.

REFERÊNCIAS

AIELLO,S.E.Manual Merck de Veterinária.8ed.São Paulo; Roca,p.235 a 237.2001.

ANDRADE,S.F.Manual de Terapêutica Veterinária.2ed.São Paulo; Roca,p.31-

32;37;225-226.2002.

BIRCHARD,S.J.,SHERDING,R.G.Manual Saunders: clínica de pequenos

animais.2ed.São Paulo; Roca,p.121 a 125.2003

MAYR,A.,GUERREIRO,M.G. Virologia Veterinária. 3ed.Porto Alegre;

Sulina,p.471.1988.

NELSON,R.W.et al.Medicina Interna de Pequenos Animais.2ed.Rio de Janeiro;

Guanabara Koogan,p.345-346.2001.

Neto,J.B. Parvovirose canina.Disponível em:

http://www.saudeanimal.com.br/parvovirose_brites.htm

THOMSON,R.G.Patologia Geral Veterinária.Rio de Janeiro; Guanabara

Koogan,p.376.1983.

THRUSFIELD,M.Epidemiologia Veterinária.2ed.São Paulo; Roca,p.83.2004.

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Faculdade de Ciências Biológicas e de Saúde

Curso de Medicina Veterinária

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO (T.C.C)

Claudinei da Silva Yamada

Curitiba 2007

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Faculdade de Ciências Biológicas e de Saúde

Curso de Medicina Veterinária

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO (T.C.C)

Curitiba 2007

Claudinei da Silva Yamada

RELATORIO DE ESTÁGIO CURRICULAR

Relatório de Estágio Curricular apresentado ao Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de Médico Veterinário.

Professor orientador: Prof. Uriel Vinicius C.Andrade

Orientador Profissional: Dr. Nélio Benedito Borim

Curitiba-PR

2007

Reitor

Prof° Luiz Guilherme Rangel Santos

Pró-Reitor Administrativo

Sr. Carlos Eduardo Rangel Santos

Pró-Reitora Acadêmica

Profa Carmen Luiza da Silva

Pró-Reitor de Planejamento

Sr. Afonso Celso Rangel dos Santos

Pró-Reitora de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão

Profa Elizabeth Tereza Brunini Sbardelini

Secretário Geral

Prof° João Henrique Ribas de Lima

Diretor da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde

Prof° João Henrique Faryniuk

Coordenador do Curso de Medicina Veterinária

Profa Neide Mariko Tanaka

Coordenador de Estágio Curricular do Curso de Medicina Veterinária

Profa Elza Maria Galvão Ciffoni

CAMPUS CHAMPAGNAT

Rua Marcelino Champagnat, 505 - Mercês

CEP 80.215-090 – Curitiba – PR

Fone: (41) 3331-7985

APRESENTAÇÃO

Este Trabalho de Conclusão de Curso (T.C.C.), apresentado ao Curso de

Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e de Saúde da

Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de

Médico Veterinário, é composto de um Relatório de Estágio, no qual são descrita

as atividades realizadas durante o período de 12/02/2007 a 28/04/2007, período este

que estive na Clínica Veterinária São Benedito S/C LTDA localizada na cidade de

Curitiba – PR cumprindo estágio curricular, e também de uma Monografia que versa

sobre o tema: “Parvovirose Canina”.

DEDICO

Aos meus pais ITARU YAMADA e NORANEI DA SILVA

YAMADA, á minha FAMÍLIA, e a minha namorada e amiga

BRUNA DE PAULA HOFFMANN, que estiveram sempre

presentes do meu lado, me orientando e incentivando em todas

as horas dessa caminhada.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por ter me dado a oportunidade de estagiar na área e na

clínica desejada, e por ter me ajudado, me iluminado e me protegido durante esta

caminhada até os dias de hoje.

Aos meus pais, Itaru Yamada e Noranei da Silva Yamada, em quem eu me

espelho, por todo esforço e compreensão para que eu chegasse onde estou, e pelo

carinho e apoio quando decidi atuar nessa área maravilhosa que é a Medicina

Veterinária.

À minha linda namorada, Bruna de Paula Hoffmann, pela paciência,

compreensão, apoio, carinho, amor, por estar do meu lado mesmo nos momentos

difíceis, e por ser uma mulher maravilhosa.

Aos meus irmãos que apesar das diferenças eu os adoro.

Ao Prof. Uriel Vínicius, por ter aceitado a ser meu orientador, pelos seus

ensinamentos e por ser um amigo.

Ao Dr. Nélio Benedito Borim, Medico Veterinário e Proprietário da clínica, pela

oportunidade de estagiar em seu estabelecimento, por sua paciência e pelos seus

ensinamentos que tenho certeza que poderei usar na minha vida profissional e

também em minha vida pessoal.

Aos Drs. Ricardo Grubba e Betina Millani por serem pacientes, e me ajudar

com seus conhecimentos.

Aos funcionários da clínica: Vergílio (Vena), José Mauri (Cérebro), Elizandro

(Chonca), Zenilda, Francisco (Chico), Juliano (Juca) e Diogo (Gnomo) pela ajuda e

conhecimentos.

Aos meus amigos, que me incentivaram e me ajudaram especialmente à Arno

Walter Hoffmann e Ivonete Pereira de Paula.

A todos os professores e funcionários da Universidade Tuiuti do Paraná, em

especial aos professores e mestres: Pedro Werner, Sergio Bronze, Ricardo Maia,

João Padilha, Neide Tanaka, Elza Maria Galvão, Ambires, Uriel Vinicius, Hartmann,

João Ari, Paulo Roberto Nocera, Antonio Carlos e aos funcionários do financeiro.

A vocês muito Obrigado!

“Não há diferenças fundamentais entre o homem e os animais nas suas faculdades

mentais... os animais como os homens demonstram sentir prazer, dor, felicidade e

sofrimento.” Charles Darwin.

SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS........................................................................................................ v

LISTA DE FIGURAS............................................................................................. vi

RESUMO............................................................................................................... vii

LISTA DE ABREVIATURAS................................................................................. viii 1 INTRODUÇÃO............................................................................................................... 1

2 DESCRIÇÃO DO LOCAL DO ESTÁGIO...................................................................... 2

2.1 RECURSOS HUMANOS............................................................................................. 3

2.2 INFRA-ESTRUTURA...................................................................................................3

3 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS.................................................................................. 4

4 DESCRIÇÃO DOS CASOS CLÍNICOS E CIRÚRGICOS.............................................. 6

4.1 INTOXICAÇÃO POR ORGANOFOSFORADO-REVISÃO BIBLIOGRÁFICA............. 6

4.1.1 Definição.................................................................................................................. 6

4.1.2 Etiologia.................................................................................................................... 7

4.1.3 Fisiopatologia........................................................................................................... 7

4.1.4 Sinais clínicos........................................................................................................... 8

4.1.5 Diagnóstico...............................................................................................................9

4.1.6 Tratamento............................................................................................................... 10

4.1.7 Prognóstico.............................................................................................................. 11

4.2 Caso clínico................................................................................................................. 11

4.2.1 Resenha................................................................................................................... 11

4.2.2 Anamnese................................................................................................................ 12

4.2.3 Exame físico............................................................................................................. 12

4.2.4 Diagnóstico.............................................................................................................. 12

4.2.5 Exames complementares......................................................................................... 12

4.2.6 Tratamento............................................................................................................... 14

4.2.7 Discussão................................................................................................................. 15

4.3 MIÍASE – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA........................................................................ 17

4.3.1 Definição.................................................................................................................. 17

4.3.2 Etiologia.................................................................................................................... 18

4.3.3 Fisiopatologia........................................................................................................... 18

4.3.4 Sinais clínicos........................................................................................................... 18

4.3.5 Diagnóstico............................................................................................................... 19

4.3.6 Tratamento............................................................................................................... 19

4.3.7 Prognóstico.............................................................................................................. 19

4.4 Caso clínico................................................................................................................. 20

4.4.1 Resenha................................................................................................................... 20

4.4.2 Anamnese................................................................................................................ 20

4.4.3 Exame físico............................................................................................................. 20

4.4.4 Diagnóstico............................................................................................................... 20

4.4.5 Tratamento............................................................................................................... 21

4.4.6 Discussão................................................................................................................ 21

4.5 TUMORES MAMÁRIOS REVISÃO BIBLIOGRÁFICA................................................ 22

4.5.1 Introdução................................................................................................................ 22

4.5.2 Etiologia.................................................................................................................... 22

4.5.3 Sinais clínicos........................................................................................................... 24

4.5.4 Diagnóstico............................................................................................................... 25

4.5.5 Tratamento............................................................................................................... 25

4.5.5.1 Tratamento pré-operatório.................................................................................... 26

4.5.5.2 Técnica cirúrgica................................................................................................... 27

4.5.5.3 Cuidados e avaliação pós-operatórios.................................................................. 28

4.6 Caso clínico................................................................................................................. 29

4.6.1 Resenha................................................................................................................... 29

4.6.2 Anamnese................................................................................................................ 29

4.6.3 Exame físico............................................................................................................ 29

4.6.4 Diagnóstico.............................................................................................................. 30

4.6.5 Tratamento............................................................................................................... 30

4.6.6 Discussão................................................................................................................. 31

4.7 HIPERPLASIA ENDOMETRIAL CÍSTICA PIOMETRA–REVISÃO BIBLIOGRÁFICA............. 32

4.7.1 Definição.................................................................................................................. 32

4.7.2 Etiologia................................................................................................................... 32

4.7.3 Fisiopatologia........................................................................................................... 33

4.7.4 Sinais clínicos.......................................................................................................... 34

4.7.5 Diagnóstico.............................................................................................................. 34

4.7.6 Tratamento............................................................................................................... 35

4.7.6.1 Pré-operatório....................................................................................................... 36

4.7.6.2 Procedimento cirúrgico......................................................................................... 36

4.7.6.3 Pós-operatório...................................................................................................... 37

4.8 Caso clínico................................................................................................................ 37

4.8.1 Resenha................................................................................................................... 37

4.8.2 Anamnese................................................................................................................ 38

4.8.3 Exame físico............................................................................................................ 38

4.8.4 Diagnóstico presuntivo............................................................................................ 38

4.8.5 Exames complementares........................................................................................ 38

4.8.6 Tratamento.............................................................................................................. 39

4.8.7 Discussão................................................................................................................ 40

4.9 DISPLASIA COXOFEMORAL – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.................................... 41

4.9.1 Definição.................................................................................................................. 41

4.9.2 Fisiopatologia........................................................................................................... 41

4.9.3 Sinais clínicos.......................................................................................................... 42

4.9.4 Diagnóstico.............................................................................................................. 43

4.9.5 Tratamento............................................................................................................... 44

4.9.5.1 Técnica cirúrgica da excisão da cabeça e do colo femoral................................... 45

4.9.5.2 Pós-operatório....................................................................................................... 46

4.10 Prognóstico............................................................................................................... 46

4.11 Caso clínico............................................................................................................... 46

4.11.1 Resenha................................................................................................................. 46

4.11.2 Anamnese.............................................................................................................. 47

4.11.3 Exame físico........................................................................................................... 47

4.11.4 Diagnóstico............................................................................................................. 47

4.11.5 Exames complementares....................................................................................... 47

4.11.6 Tratamento............................................................................................................. 47

4.11.7 Discussão.............................................................................................................. 48

5 CONCLUSÃO................................................................................................................ 49

REFERÊNCIAS................................................................................................................ 50

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 Casos atendidos durante o estágio................................................................. 4

TABELA 2 Procedimentos cirúrgicos realizados durante o estágio.................................. 5

TABELA 3 Vacinações feitas no período do estágio..........................................................5

TABELA 4 Hemograma completo, método automatizado/ Abacus/ e revisão

microscópica: Resultado. Data :21/03/2007...................................................................... 12

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Vista frontal da Clínica Veterinária São Benedito Curitiba- PR.................... 2

FIGURA 2 – Consultório.................................................................................................... 3

FIGURA 3 – Centro cirúrgico............................................................................................ 3

FIGURA 4 – Sessão de acunputura na paciente Tina...................................................... 15

FIGURA 5 – Paciente Lobinha – Tumor mamário............................................................ 29

FIGURA 6 – Paciente Lobinha – Mastectomia................................................................. 31

FIGURA 7 – Útero a paciente com piometra.................................................................... 40

FIGURA 8 – Cabeça e colo femoral (excisão).................................................................. 48

RESUMO

O trabalho resume as práticas desenvolvidas na clínica veterinária São

Benedito, localizada na cidade de Curitiba, onde nessas praticas se encaixam a

clínica médica, clínica cirúrgica e imunização de pequenos animais, mais

especificamente, cães e gatos, e cinco relatos de casos.

Os casos estão descritos por intoxicação por organofosforado, miíase,

tumores mamários, hiperplasia endometrial cística-piometra e displasia coxofemoral.

Possui também uma monografia sobre parvovirose canina.

Palavras Chaves: Clínica médica, clínica cirúrgica, organofosforado, intoxicação,

miíase, queimadura, tumores mamários, piometra e displasia.

LISTA DE ABREVIATURAS

°C Graus Celsius

CAVO Complexo arteriovenoso ovariano

CHCM Concentração de hemoglobina corpuscular média

cm Centímetro

g/dl Gramas por decilitro

HEC Hiperplasia endometrial cística

IgG Imunoglobulina G

IgM Imunoglobulina M

IM Intramuscular

IV Intravenoso(a)

Mg/kg Miligramas por quilogramas

mm3 Milímetros cúbico

Neut. Neutrófilos

OF Organofosforados

pg Picograma

PGF2ά Prostaglandina F dois alfa

SC Subcutâneo

SNA Sistema nervoso autônomo

SNC Sistema nervoso central

SRD Sem raça definida

TGMs Tumores das glândulas mamárias

U/g Hb Unidade por grama de Hemoglobina

um3 Unidade por metro cúbico

VCM Volume corpuscular médio

VO Via oral

% Por cento

µl Microlitro

1 INTRODUÇÃO

O estágio curricular tem por finalidade proporcionar ao acadêmico,

experiências práticas, habilidade técnicas, conhecimentos específicos,

relacionamento profissional, atividades rotineiras na área e adicionar conhecimentos

gerais que são requisitos necessários para a profissão de Médico Veterinário.

O estágio foi realizado na Clínica Veterinária São Benedito, tendo como

orientador o Médico Veterinário Nélio Benedito Borim, proprietário da clínica, e com

professor orientador o professor Msc. Uriel Vinícius Cotarelli de Andrade. Esta área

foi escolhida devido à afinidade aos pequenos animais e também pelo crescimento

do reconhecimento desses animais pelos seus proprietários, fazendo assim com que

este mercado cresça.

Os animais de estimação, atualmente em muitas famílias são considerados

como um membro e tratados da melhor maneira possível, e com isso a preocupação

em melhorar o bem estar animal esta crescendo cada vez mais.

Este relatório refere-se ao período de estágio, 12 de fevereiro de 2007 a 28

de abril de 2007, e encontram-se descrita as atividades desenvolvidas durante este

tempo. Também foram descritos cinco casos clínicos (intoxicação por

organofosforado, tumores mamários, hiperplasia endometrial cística–piometra,

miíase e displasia coxofemoral) e suas revisões literárias.

2.DESCRIÇÃO DO LOCAL DO ESTÁGIO

Local de estágio: Clínica Veterinária São Benedito – Curitiba – PR.

Carga Horária: 371 horas

Período de realização: 12/02 à 28/04

Orientador supervisor: Prof.Msc. Uriel Vinícius C. Andrade

Orientador profissional: Médico Veterinário Nélio Benedito Borim

A Clínica Veterinária São Benedito (FIGURA1) foi fundada em 1982, sendo a

primeira clínica em Santa Felicidade da cidade de Curitiba. Hoje com 25 anos de

existência, ela possui uma infra-estrutura e recursos humanos que oferecem um

atendimento de ótima qualidade, e conforto aos animais que ficam hospedados ou

internados. Com a política de atender da melhor maneira possível, melhorando o

bem estar do paciente, satisfazendo seus proprietários. A clínica funciona de

segunda a sexta das 08h00min até as 20h00min horas, sábado das 08h00min até as

19h00min horas e domingo das 09h00min até as 13h00min horas.

FIGURA 1-Vista frontal da Clínica Veterinária São Benedito – Curitiba- PR

2.1 RECURSOS HUMANOS

O local possui 5 funcionários na parte clínica, sendo:

• Três médicos veterinários;

• Um secretário;

• Um enfermeiro.

2.2 INFRA-ESTRUTURA

• Recepção e sala de espera – Onde é feito o atendimento ao proprietário,

buscando as primeiras informações sobre o animal;

• Consultório (FIGURA 2) – Onde são realizadas as consultas, vacinações e

medicações;

• Centro cirúrgico (FIGURA 3) – São realizados os procedimentos cirúrgicos

FIGURA 2-Consultório FIGURA 3-Centro cirúrgico

• Sala de radiografia;

• Canil – São no total cinco para cães de grande porte, dois para médio porte e

10 para gatos e cães de pequeno porte. E existem mais 10 na parte do banho

e tosa que também faz parte da estrutura física da clínica;

• Cozinha;

• Dois banheiros;

• Almoxarifado.

3 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

Foram acompanhados os procedimentos cirúrgicos e clínicos, tanto de rotina

como de emergência, além de exames radiográficos.

As tabelas 1, 2 e 3 a seguir, demonstram o levantamento das atividades

acompanhadas durante o período de estagio.

TABELA 1–CASOS ATENDIDOS DURANTE O ESTÁGIO, NO PERÍODO DE 12/02/2007 a 28/04/2007.

Casos Número de casos %

Virologia 19 11,44

Odontologia 5 3,01

Parasitologia 13 7,83

Cirurgia em geral 48 28,92

Gastroenterologia

Pneumologia

Neurologia

Ortopedia

5

8

13

10

3,01

4,82

7,83

6,02

Toxicologia 12 7,23

Dermatologia/Otopatias 20 12,06

Oftalmologia 10 6,02

Cardiologia 3 1,81

Total 166 100

TABELA 2–PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS REALIZADOS DURANTE O ESTÁGIO, NO PERÍODO DE 12/02/2007 a 28/04/2007.

Casos cirúrgicos Números de casos %

Ovário-salpingo-histerectomia 10 20,83

Amputação da cauda ou membros

torácicos

3 6,25

Retirada do 5°dedo (Ergot) 4 8,33

Otohematoma 2 4,17

Cesariana 3 6,25

Enucleação 1 2,08

Exerese da cabeça do fêmur 1 2,08

Mastectomia 12 25

Piometra 4 8,33

Otoplastia estética 1 2,08

Orquiectomia 7 14,6

Total 48 100

TABELA 3–VACINAÇÕES FEITAS NO PERÍODO DE ESTÁGIO, 12/02/07 a 28/04/2007

Vacinas Número de vacinas %

Dectúpla 323 51,43

Anti-rábica 280 44,59

Quádrupla Felina 25 3,98

Total 628 100

4 DESCRIÇÃO DOS CASOS CLÍNICOS E CIRÚRGICOS 4.1 INTOXICAÇÃO POR ORGANOFOSFORADO - REVISÂO BIBLIOGRÁFICA

4.1.1 Definição

Os organofosforados (OF) substituíram os organoclorados banidos e constituem

causa importante de envenenamento animal. Eles variam muito em toxicidade,

níveis residuais e excreção. Tem sido desenvolvidos muitos OF para a proteção de

plantas e animais e, em geral, eles oferecem uma vantagem distinta mediante

produção de pouco ou nenhum resíduo tecidual e ambiental. (AIELLO, 2001). Os

inseticidas organofosforados geralmente produzem o envenenamento rápido,

podendo ser rapidamente fatais em altas doses. Todavia eles são rapidamente

metabolizados e excretados, assim o envenenamento crônico não é um problema

importante. A interrupção da exposição resulta em recuperação completa

(CHEVILLE, 1994).

Sob a denominação de grupo de fosfato orgânicos, estão incluídos certos “gases

nervosos”, planejados para utilização na guerra, e também diversos inseticidas e

antielmínticos e agentes desfolhantes. Habitualmente, os inseticidas e antielmínticos

são mais bem conhecidos pelos nomes comerciais específicos. (Jones, 2000). Entre

eles podemos citar o Paration (tiofosfato de o, o dietil p nitrofenila), malation

(ditiofosfato de o,o dietila), carbaril (Sevin®), carbofenotion (Trithion®), coumafós (Co-

rad®), clorpirifós, crufomate e fenclorfós.

Clorpirifós, diclorvós, fentiona, carbarila, metonila, aldicarb e carbofurano

constituem somente alguns dos inseticidas que podem ser tóxicos após uma

aplicação dérmica ou uma ingestão oral. Muitos desses inseticidas são encontrados

em banhos de imersão e sprays, coleiras antipulga e vermífugos (BIRCHARD,

2003).

Os organofosforados são lipossolúveis, por isso é bem absorvida pela pele

intacta, sua toxicidade é aditiva.

4.1.2 Etiologia

Tanto os organofosforados quanto os carbamatos inibem a acetilcolinesterase, a

enzima que degrada a acetilcolina em sítios muscarínicos e nicotínicos dos sistemas

nervosos autônomo e somático. Geralmente, predominam sinais de estimulação

parassimpática, mas podem ocorrer sinais de superestimulação somática, simpática

e de SNC. Uma neurointoxicação com organofosforado retardada pode causar

degeneração axonal central-periférica irreversível (BIRCHARD, 2003).

Conhecidos como anticolinesterases, esses fosfatos orgânicos tem efeitos

essencialmente similares, que dependem da capacidade de evitar ou inibir a ação da

colinesterase. Essa ação deixa livre a acetilcolina das terminações nervosas

simpáticas e parassimpáticas para atuar continuamente e sem a liberação dos

efetores ao final de cada estímulo (JONES, 2000).

4.1.3 Fisiopatologia

Os efeitos que contribuem para doença e a morte se originam-se em 3 áreas

nervosas principais: (1) os nervos motores dos músculos esqueléticos (acumulação

de acetilcolina nas junções neuromusculares resultam os sinais nicotínicos), (2)

fibras nervosas parassimpáticas pós-ganglionares (sinais clínicos muscarínicos) e

(3) algumas sinapses do sistema nervoso central (acumulação de acetilcolina no

cérebro).

Comumente os sinais surgem dentro de uma a duas horas depois de um contato

isolado com o produto, que pode ocorrer por inalação ou absorção cutânea (mais

freqüente que a ingestão) (JONES, 2000).

A toxicidade varia largamente. Os compostos organofosforados mais recentes

são bem menos tóxicos que os mais antigos, pois foram sintetizados para serem

altamente tóxicos para os insetos, mas não para os mamíferos (CHANDLER, 1989).

Em geral, os pesticidas organofosforados possuem uma margem de segurança

estreita, e sua curva de resposta de dose é bastante acentuada (AIELLO, 2001)

4.1.4 Sinais clínicos

Os sinais clínicos de intoxicação em cães e gatos são em geral graves, possuem

inicio rápido e pioram progressivamente (RICHARD, 2001).

Sialorréia, lacrimejamento, diarréia, vômito e miose. Fasciculações nos músculos

faciais e da língua, progredindo para depressão intensa e convulsões tônico-

crônicas (RICHARD, 2001).

A saliva é copiosa, mas aquosa. Ocorre dispnéia, acompanhados de movimentos

laboriosos e exagerados. Antes da morte, ficam evidenciados estertores pulmonares

intensos e grunidos graves. Ocorrem contrações e fasciculações musculares e

ataxia, mas a última apenas excepcionalmente sofre convulsões. A principal causa

de morte é a asfixia (JONES, 2000).

Os sinais muscarínicos, que são geralmente os primeiros a aparecer, incluem

hipersalivação, miose, micção freqüente, diarréia, vômitos, cólica e dispnéia devido

ao aumento nas secreções bronquiais e broncoconstrição. Os efeitos nicotínicos

incluem fasciculações musculares e fraqueza. Os efeitos centrais incluem ataxia,

apreensão e atividades de ataque convulsivo (AIELLO, 2001).

Em gatos, uma intoxicação com organofosforados se caracteriza por fraqueza

muscular acentuada, midríase, crispação e anorexia (que pode durar semanas)

(BIRCHARD, 2003).

O contato dérmico com banhos ou nebulizações pode fazer com que o

envenenamento exiba sinais após lapso de tempo mais longo. A exposição recente

a outro organofosforado (OF) pode ter reduzido os níveis de colinesterase, o que

aumentará a suscetibilidade (ETTINGER, 1997).

Os animais com envenenamento agudo por OF apresentam lesões inespecíficas

ou não apresentam lesão. Pode-se encontrar edema e congestão pulmonares,

hemorragias e edema intestinal e em outros órgãos. Os animais que sobrevivem por

mais que 1 dia podem ficar edemaciados e desidratados (AIELLO, 2001).

4.1.5 Diagnóstico

História de exposição, sinais clínicos e atividade de colinesterase baixa em

exame de sangue completo (menos de 25% do normal) sugerem toxicose

(BIRCHARD, 2003).

O valor da confirmação laboratorial é limitada, pois a ligação carbamato-

colinesterase é rapidamente revertida. Colhem conteúdos gástricos, fígado, urina,

pele e pêlos para analise química, dependendo do tipo de exposição.

Berger e Bayliss (1952) descreveram um método histoquímico para a detecção

da colinesterase nas placas terminais motoras em preparações de fibras dissecadas

de músculo esquelético, o que pode ter utilidade na detecção de acúmulos fatais de

anticolinesterase (JONES, 2000).

Os resultados de análises realizadas depois da exposição podem ser negativos,

pois os OF não permanecem muito tempo como o composto original nos tecidos

(AIELLO, 2001).

4.1.6 Tratamento

Induza o vômito se a ingestão já tiver ocorrido dentro de 2 horas após a

apresentação, forneça uma alimentação antes de administrar o emético, prossiga

com carvão ativado e catártico. Se a exposição for por meio de contato cutâneo, lave

o animal com detergente e água.

Se ocorrerem convulsões, comece com anticonvulsivos, como diazepam. O

diazepam é um benzodiazepínicos, que aumentam a eficiência da transmissão

gabaérgica, sendo relaxantes musculares de ação central. Sua dose em cães é de

0,5 a 1mg/kg (estado epilético); 1 a 4mg/kg, VO, dividido em 3 a 4 vezes ao dia em

caso de convulsão. Nos gatos a dose é de 2 a 5mg/kg, VO, IV, 3 vezes ao dia em

caso de convulsão.

Para tratar envenenamento por organofosforados, utilizam-se três categorias de

fármacos: 1. os agentes bloqueadores muscarínicos; 2. os reativadores

colinesterásicos; e 3. os eméticos, os catárticos e os adsorventes (para diminuir a

absorção adicional) (AIELLO, 2001).

O sulfato de atropina deve ser administrado até o efeito, geralmente em uma

dosagem, nos cães e gatos, de 0,2 a 2mg/kg de peso corporal, a cada 3 a 6 horas

ou tão freqüentemente quanto for clinicamente indicado. Deve-se evitar tratamento

exagerado com atropina. A atropina não alivia os efeitos colinérgicos nicotínicos.

Segundo Andrade (2002) a atropina é um alcalóide extraído da Atropa belladona,

que possui ação broncodilatora, mas pode causar taquicardia, midríase e depressão

do SNC. É um anticolinérgicos utilizados com a finalidade de antagonizar o efeito do

SNA parassimpático, produzindo broncodilatação. Os antagonistas muscarínicos são

especialmente eficazes contra a broncoconstrição produzidas pelos fármacos

parassimpatomiméticas.

Use cloreto de pralidoxima (10-15mg/kg, IM ou SC) contra tremores musculares e

sinais nicotínicos (BIRCHARD, 2003). Cloreto de pralidoxima (2-PAM, cloreto de

protopam) um reativador da colinesterase, deve ser administrado como solução a

10%, na base de 10mg/lb (20mg/kg) para gatos, e 20mg/lb (40mg/kg) para cães –

por injeção IV lenta, ou mesclado a líquido apropriado, ao longo de 30 minutos

(ETTINGER, 1997).

4.1.7 Prognóstico

È bom se o tratamento for precoce.

4.2 Caso clínico

4.2.1 Resenha

Nome: Tina

Espécie: canina

Raça: SRD (sem raça definida)

Sexo: Fêmea

Idade: 9 anos, 4 meses

Peso: 8,9 kg

4.2.2 Anamnese

O animal chegou à clínica com histórico de suspeita de intoxicação por

organofosforados, proprietária relata que pode ter sido o caseiro que passou OF nas

plantas, ela não percebeu se o animal apresentava sinais característicos de

intoxicação.

4.2.3 Exame físico

No exame foi constatado, paralisia dos membros pélvicos e torácicos

(tetraplegia), sialorréia excessiva, lacrimejamento e temperatura à 38,6°C. Na

palpação abdominal notou-se que o animal apresentava cólica, porém sem

alterações abdominais característicos.

4.2.4 Diagnóstico:

Animal intoxicado por organofosforado.

4.2.5 Exames complementares

Foi colhido sangue, no mesmo dia da entrada do animal, para efetuar exames

complementares.

TABELA 4 HEMOGRAMA COMPLETO, MÉTODO AUTOMATIZADO/ ABACUS/ e

REVISÃO MICROSCÓPICA: Resultado. Data :21/03/2007

Valor de referência

Eritrócitos 6,92 milhões/mm3 4 a 7

Hematócrito 48% 40 a 56

Hemoglobina 16,1g/dL 14 a 19

VCM 69,4um3 65 a 78

HCM 23,3pg 21 a 26

CHCM 33,5% 31 a 35

Absoluto Relativa Absoluto Relativa

Leucócitos 11400/µL 8000 a 16000 0 a 0

Neut. Bastonetes 570/µL 5% 0 a 160 0 a 1

Neut. Segmentados 9006/µL 79% 4400 a 12800 55 a 80

Linfócitos 1824/µL 16% 1040 a 6400 13 a 40

Monócitos 0 0 80 a 166 1 a 6

Eosinófilos 0 0 80 a 1440 1 a 9

Basófilos 0 0 0 a 160 0 a 1

Mieloblastos 0 0

Promielócitos 0 0

Valor de referência

Contagem de plaquetas...............468000mm3.......................200000 a 500000

Observações: Pecilocitose +( alterações na forma dos eritrócitos).

• Exame de Acetilcolinesterase, método Espectrofotometria, amostra

sangue.Data de entrada:21/03/2007; Data de saída: 04/04/2007.

Resultado: 33U/g Hb Normal

Valor de referência: 20 a 40U/g Hb.

• Cinomose, método imunofluorescência indireta (IFA), amostra soro. Data

16/04/2007

Resultado: IgM< 1:25 IgG< 1:50

IgM<1:25 e IgG<1:50, pesquisa viral negativa e com sinais clínicos, colher nova

amostra após 10 dias.

• Cinomose, método imunofluorescência direta, amostra plasma. Data:

16/04/2007

Resultado: negativo

O exame de imunofluorescência direta das amostras de sangue, não apresentou

presença de vírus da cinomose.

4.2.6 Tratamento1

Depois de colhido o sangue no dia 21/03/2007, foi administrado atropina (0,2 a 2

mg/kg), mais mercepton, mais vitamina B12 (100 a 200 µg/cão), mais dexametazona

(0,1 a 0,2 mg/kg) e fluidoterapia de solução de glicose 5%. O animal ficou internado,

do dia 21/03/2007 até 31/03/2007. O animal teve episódios de vômito nos dia 22 e

23/03/2007, e a partir desta data o tratamento consistia em vitamina B12 (100 a 200

µg/cão), mais mercepton (2 a 10 mL/dia), ranitidina (1 a 2 mg/kg), metoclopramida

(0,2 a 0,5mg/kg VO ou SC ou 1 a 2mg/kg IV em infusão) e fluidoterapia com solução

de Ringer com Lactato, até o dia 27/03/2007 onde a partir desta data era só aplicado

vitamina B12 (100 a 200 µg/cão) e o animal já estava se alimentando de uma dieta a

base de arroz com peito de frango cozido sem tempero. Nos dias 29 e 30/03/2007 o

proprietário fez duas sessões de acunputura, com intenção de estimular diversos

nervos motores, onde começou a reagir com movimentos de retração do músculo

nos membro pélvico e torácico do lado esquerdo. No dia 31/03/2007 o animal foi

liberado, porém sem locomoção, a pedido da proprietária.

Monovin B12-Bravet® (vitamina B12), Mercepton-Bravet® (complexo vitamínico - antitóxico), Cort trat® SM (dexametazona), Cloridrato de Ranitidina-União Química® (Bloqueadores de H2), Metoclosantisa-Santisa® (Metoclopramida – antiemético).

FIGURA 4 Sessão de acunputura na paciente Tina.

Nos dias 03 a 06 a proprietária trouxe a paciente para aplicar vitamina B12

(100 a 200 µg/cão), e relatou que continuaram com sessão de acunputura. No dia

09/04/2007 o animal voltou para reconsulta e já conseguia se locomover

independentemente.

4.2.7 Discussão

O animal apresentava alguns sinais característicos de intoxicação por

organofosforado, porém não se obteve informações suficientes para propor um

diagnóstico significativo. Porém o tratamento proporcionado surtiu efeito benéfico

sobre o paciente, e apesar do tempo de recuperação o animal teve sucesso em sua

melhora.

O exame de cinomose deu negativo, assim descartando a possibilidade de

ser a enfermidade.

A intoxicação por OF, geralmente predominam sinais de estimulação

parassimpático, mas podem ocorrer sinais de superestimulação somática, simpática

e de SNC. Este pode ser o motivo da paralisia dos quatros membros, que pode ser

também uma fraqueza neuromuscular.

Quanto ao tratamento, ele é idêntico para outras enfermidades de

intoxicações, como carbamatos ou metilxantinas, e outras enfermidades

neurológicas, podendo assim ser outra enfermidade.

4.3 MIÍASE – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

4.3.1 Definição

As larvas dos dípteros podem-se desenvolver no tecido subcutâneo ou nos

órgãos de muitos animais domésticos, produzindo uma afecção conhecida como

miíase (AIELLO, 2001).

Miíase é a infestação dos tecidos por larvas de Dípteros (mosca com duas larvas

ou com anexos semelhantes a asas), é uma doença geralmente relacionada ao

manejo negligente dos animais. Ocorrem nas regiões úmidas do corpo que

acumulam sujidades de urina, fezes ou secreções corpóreas. As moscas são

atraídas pelo mau cheiro exalado desses pontos (CARLTON, 1998).

Os locais de invasão dessas larvas proporcionam uma base para sua

classificação clínica:

(1) Cutânea – as larvas vivem na pele ou subcutaneamente (por exemplo,

berne dos bovinos);

(2) Intestinal – no estomago ou intestino (“vermes do cavalo”);

(3) Atrial – nas cavidades oral, nasais, sinusais, vaginal e uretral (Oestrus

ovis);

(4) Que invade ferimentos – (larvas da miíase);

(5) Larvas hematófagas.

Algumas larvas de moscas ocupam mais de um desses locais durante o

transcurso de seu desenvolvimento no hospedeiro. Muitas larvas de moscas são

parasitos específicos de certo hospedeiros; outros são parasitos acidentais ou

inespecíficos.

4.3.2 Etiologia

As moscas fazem ovipostura próxima às lesões, sujidades de urina e secreções

corpóreas, depois elas eclodem e vão se alimentar do tecido muscular.

As moscas primárias são de particular importância, porque iniciam a infestação e

propiciam condições adequadas para a invasão subseqüente por moscas

secundárias (BlOOD, 1991).

As moscas mais importantes na miíase são: Callitroga hominivorax, Callitroga

macellaria, Dermatobia hominis e mosca do gênero Cuterebra.

4.3.3 Fisiopatologia

Os efeitos patogênicos dessa mosca são causados pela larva, que se alimentam

de tecidos vivos e assim acarretam efeitos sérios em seus hospedeiros. Em animais

as larvas se instalam em qualquer ferimento a que tenha acesso (JONES, 2001).

4.3.4 Sinais clínicos

Lesões de tecido muscular de grande tamanho, fétido, tecidos necrosados e de

acordo com a localização da miíase, poderá ocorrer peritonite, claudicação,

cegueira, afecções dentárias entre outras.

Os animais se apresentam-se inquietos, deixam de se alimentar e emagrecem. A

morte pode ocorrer por toxemia, hemorragia ou infecções bacterianas (FORTES,

1997).

Os movimentos da larva causam dor, inquietação e irritação, prejudicando o

descanso do animal parasitado, vindo refletir-se no seu estado geral. Comumente as

invasões bacterianas secundárias vão originar pus e abscessos (FORTES, 1997).

4.3.5 Diagnóstico

Baseia-se nos sinais clínicos e na identificação das larvas (URQUART, 1998).

Macroscopicamente, a pelagem ou velo ficam aglutinados e formam-se vários

orifícios ou úlceras de odor forte (CARLTON, 1998).

4.3.6 Tratamento

Deve se depilar o pelame para determinar a extensão da lesão e remover as

larvas. A remoção das larvas de bolsões teciduais profundos pode ser difícil e pode

exigir sedação, ou mesmo, anestesia do animal para extrair todas as larvas. Deve-se

examinar todos os dias a lesão, as moscas adultas põem ovos no ferimento em

momentos diferentes e a eclosão das larvas pode não estar sincronizada.

Geralmente a cicatrização é rápida e completa, mas deve se também ter

preocupação com a causa original. Incontinência fecal ou urinária, pelagem

continuamente umedecidas, dermatoses de dobras ou salivação ou lacrimejamento

constantes, junto com a má higiene, podem predispor o animal à miíase (SCOTT,

1996).

De acordo com Urquart (1998) é possível aplicar um inseticida adequado depois

de limpar a lesão.

4.3.7 Prognóstico

Bom

4.4 Caso clínico

4.4.1 Resenha:

Nome: Branco

Espécie: canina

Raça: SRD (sem raça definida)

Sexo: Macho

Idade:1 ano e 5 meses

Peso:9 kg

4.4.2 Anamnese

No dia 19/03/2007 o animal chegou à clínica com uma lesão cervical, lado

esquerdo, provocado por miíase, porém o proprietário colocou creolina que provocou

uma dermatite química e queimadura que causou na perda da epiderme.

4.4.3 Exame físico

No exame foi constatada uma úlcera característica de uma miíase com presença

de secreção purulenta e perda da epiderme, causada por queimadura, ao redor da

lesão. Sua temperatura estava normal (38,2°C) e na palpação abdominal não se

notou nada de irregular. Na lesão não se notou presença de larvas.

4.4.4 Diagnóstico

Lesão causada por miíase e queimadura por creolina.

4.4.5 Tratamento

O animal ficou internado do dia 19/03/2007 até o dia 27/03/2007. Neste

período foi feito a limpeza com solução fisiológica 0,9%, PVPI, Furacin e Bactrovet

nas bordas. Aplicado Penjet®PS Penicilina (20000 a 40000 U/kg) por 7 dias e Cort

2Trat® SM dexametazona (0,1 a 0,2 mg/kg) por 3 dias.

4.4.6 Discussão

O paciente teve uma ótima melhora e foi dada alta no dia 27/03/2007, a

queimadura reduziu e a lesão por miíase cicatrizou perfeitamente. Alertamos ao

proprietário que qualquer espécie que tem exposição direta da pele, mucosas ou

membranas a substancia química cáustica, ira causar uma lesão tecidual imediata.

O tratamento com penicilina para pele não é indicada, porque praticamente

100% das linhagens de Staphylococcus aureus e aproximadamente 80% das outras

linhagens de Staphylococcus são produtoras de β-lactamases, que são enzimas que

inativa as penicilinas naturais.

Penjet®PS - Clarion® (Benzilpenicilina+Procaína+Didroestreptomicina), Cort Trat® SM (Dexametazona), Furacin – Schring-Plough® (Nitrofurazona), Bactrovet (Sulfadiazina prata+Alumínio+Cipermetrina) – Repelente, larvicida e cicatrizante.

4.5 TUMORES MAMÁRIOS REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

4.5.1 Introdução

As neoplasias de glândula mamária são doenças de cadelas e gatas idosas. Os

tumores de glândula mamária (TGMs) caninos são os tumores mais comuns nas

cadelas. Nas gatas somente os tumores cutâneos e os linfomas são mais comum

que os TGMs. Os tumores de glândula mamária são muitos raros em cães e gatos

machos (BIRCHARD, 2003).

Existem diferenças tanto no comportamento biológico, quanto na histologia dos

tumores mamários nos cães e gatos. Cerca de 45% dos tumores mamários são

malignos nos cães , e aproximadamente 90% nos gatos, e os cães apresentam um

número muito mais alto de tumores complexos e mistos que gatos (AIELLO, 2001).

Cadelas de varias raças foram consideradas como estando sob maior risco:

Poodle, Spaniel Inglês, Brittany Spaniel, Setter Inglês, Pointer, Fox Terrier, Boston

Terrier, e Cocker Spaniel. Acredita-se que os Chihuahuas e Boxers sejam de raças

de menor risco (ETTINGER, 1997).

4.5.2 Etiologia

Desconhece-se a causa dos tumores mamários em qualquer espécie exceto os

camundongos, nos quais os oncornavírus constitui o agente causador em

determinadas linhagens endogâmicas. Os hormônios exercem papel importante nas

hiperplasias e neoplasias do tecido mamário, mas desconhece-se o seu mecanismo

exato (AIELLO, 2001).

Cerca de 50% dos carcinomas mamários apresentam receptores de estrógeno e

progesterona. Os níveis de receptores são muito menores que os níveis encontrados

em glândulas normais ou TGMs benignos. Somente os adenocarcinomas benignos e

bem diferenciados parecem ser hormonalmente sensíveis nas cadelas (BIRCHARD,

2003).

O alastramento dos carcinomas mamários nos cães e gatos ocorre, a principio,

para os linfonodos regionais e pulmões. Nos cães, 5 a 10% dos carcinomas

mamários podem produzir metástases esqueléticas, de inicio esqueleto axial, mas

também nos ossos longos (AIELLO, 2001).

Os cães com TGMs benignos apresentam um risco de mais de três vezes de

desenvolver subsequentemente uma malignidade mamária de tipo celular diferente

(BIRCHARD, 2003).

Nos cães, os tumores mamários são mais frequentes nas cadelas intactas.

Histologicamente, os tumores nas glândulas mamárias caninas são classificados

pela Organização Mundial da Saúde como carcinomas (com 6 tipos e subtipos

adicionais), sarcomas (com quatro tipos), carcinossarcoma (tumores mamários

mistos) ou adenomas benignos. Esse esquema de classificação se baseia na

extensão do tumor, envolvimento linfonodal e presença de lesões metastáticas

(sistema TNM); ele inclui tumores não classificados e displasia aparentemente

benigna (AIELLO, 2001).

Os progestágenos utilizados para suprimir o estro promovem alterações

hiperplásicas e neoplásicas nas glândulas mamárias de gatas e cadelas. Os tumores

mamários benignos são encontrados em mais de 70% das cadelas tratadas com

progestágenos de ação prolongada (RICHARD, 2001).

4.5.3 Sinais clínicos

Desenvolve uma massa ou edema na região torácica ventral ou abdominal, onde

essa massa geralmente faz parte das mamas, porém podem aparecer distante das

glândulas mamárias.

Dependendo do momento do reconhecimento, os tumores podem ser pequenos

e móveis, lobulares e firmes, fixos na parede corporal e ulcerados. Os cães com

carcinoma inflamatório apresentam glândulas difusamente inchadas com

demarcação ruim entre os tecidos normal e anormal, que podem ser confundidas

com mastite. No entanto o caso da mastite o inchaço é mais localizado e ocorre

após o estro, um parto ou pseudociese (BIRCHARD, 2003).

Os tumores mamários ocorrem como nódulos solitários ou múltiplos no interior da

glândula mamária, e podem, ou não, estar associados ao mamilo.. os tumores

podem ocorrer em qualquer das cinco glândulas, e tumores benignos e malignos

podem estar presentes simultaneamente (ETTINGER, 1997).

O tamanho é bastante variável, podendo ter alguns milímetros a vários

centímetros de diâmetro. Em mais de metade dos casos há acometimentos de

múltiplas glândulas. É comum espremer secreção anormal pelos mamilos das

glândulas acometidas. Os linfonodos regionais (axilar ou inguinal) podem estar

aumentados se tiver ocorrido metástase (RICHARD, 2001).

Em gatas intactas jovens, podem confundir uma hipertrofia mamária com TGM.

Pode se diferenciar facilmente uma hipertrofia mamária resultante de estimulação

com progesterona endógena ou exógena por meio da história do caso e, se for

necessário, de um exame histológico (BIRCHARD, 2003).

4.5.4 Diagnóstico

No geral suspeita-se de tumor uma massa detectada no exame físico. Muitas

vezes se desconhece o período de tempo no qual a massa se encontra presente,

mas a taxa de crescimento pode ser útil na determinação do prognóstico. Umas

palpações dos linfonodos regionais podem ajudar a determinar a extensão do

alastramento.

O diagnóstico de neoplasia mamária me mais provável em fêmeas idosas que

apresentam algum nódulo na glândula mamária. Para a confirmação, o método

indicado é a biopsia excisional. Antes da biopsia recomenda-se radiografia torácica

para a pesquisa de metástase pulmonar. Avalia-se o tumor pela imagem e por

palpação cuidadosa (RICHARD, 2001).

Se o animal tiver de sofrer uma cirurgia, realize um hemograma completo, um

perfil bioquímico e uma urinálise. Esses animais são geralmente idosos e podem

apresentar doenças intercorrentes que exigem avaliação adicional (BIRCHARD,

2003).

4.5.5 Tratamento

O tratamento da neoplasia mamária é a excisão cirúrgica de todo o tecido

anormal. Existem controvérsias com relação a técnica cirúrgica preferível

(RICHARD, 2001).

Não existem estudos clínicos controlados avaliando a eficácia da quimioterapia

no tratamento de tumores mamários caninos (Ettinger, 1997).

A excisão cirúrgica constitui o tratamento de escolha para todos os tumores

mamários, exceto carcinomas inflamatórios. Carcinomas inflamatórios são

extremamente agressivos e uma cirurgia não tem nenhum valor no controle ou na

paliação da doença (FOSSUM, 2005).

Lumpectomia é a remoção de uma massa ou de parte das mamas, é usada

quando a massa é pequena, encapsulada, não invasiva e localizada na periferia da

glândula. Mastectomia simples é a excisão de uma glândula inteira, usada quando o

tumor envolve a área central da glândula ou a maior parte da mesma. Mastectomia

regional é a excisão da glândula envolvida e das glândulas adjacentes, essa técnica

deve ser escolhida quando ocorrem tumores múltiplos em glândulas adjacentes na

cadeia ou quando a massa ocorre entre duas glândulas. Mastectomia unilateral é a

remoção de todas as glândulas, do tecido subcutâneo e dos vasos linfáticos

associados em um lado da linha média, usado quando ocorrem tumores numerosos

por toda cadeia. Mastectomia bilateral é a remoção simultânea de ambas as cadeias

mamárias, quando ocorrem massas numerosas em ambas as cadeias; no entanto o

fechamento cutâneo pode ser extremamente difícil ou impossível, portanto ela não é

recomendada.

4.5.5.1 Tratamento pré-operatório

Indica-se um exame minucioso completo. Massas infectadas e ulceradas

devem ser tratadas com compressas mornas e antibióticos por vários dias antes da

cirurgia para reduzir a inflamação e permitir que se avaliem com mais precisão as

massas tumorais macroscópicas (FOSSUM, 2005).

Deve depilar o abdômen ventral e o tórax caudal inteiros, depois palpar com

cuidado cada cadeia mamaria e mapear a localização de cada massa. Na anestesia

pode-se usar vários protocolos anestésicos, porém a anestesia geral costuma ser

menos estressante para o paciente do que uma anestesia local. Posicione o animal

em decúbito dorsal, com os membros torácicos fixados cranialmente e os membros

pélvicos fixados caudalmente em uma posição relaxada. Por fim depilar e preparar

para cirurgia asséptica o abdômen ventral inteiro, o tórax caudal e as áreas inguinais

(FOSSUM, 2005).

4.5.5.2 Técnica cirúrgica

Faça uma incisão elíptica ao redor da(s) glândula(s) mamária(s) envolvida(s),

a um mínimo de 1 cm do tumor. Continue a incisão através dos tecidos subcutâneos,

até a fáscia da parede abdominal externa. A separação na linha média entre as

cadeias mamárias é distinta. Controle a hemorragia superficial usando pinças

hemostáticas e ligaduras. Realize uma excisão em bloco por meio do levantamento

de uma borda de incisão e da dissecação do tecido subcutâneo a partir das fáscias

do músculo peitoral e reto, usando um movimento de deslizamento uniforme da

tesoura. Aplique tração no segmento cutâneo levantado para facilitar na dissecação

(FOSSUM, 2005).

Resseccione o coxim gordurosos e os linfonodos inguinais junto com a

glândula mamária inguinal. O linfonodo axilar não deve ser incluído em uma

ressecção em bloco das glândulas torácicas. Excise a fáscia se o tumor já tiver

invadido o tecido subcutâneo. Algumas lesões neoplásicas invadiram a musculatura

abdominal e sua excisão deverá incluir uma porção na parede abdominal. Continue

a dissecção com tesoura deslizante, até se encontrarem os vasos maiores (ou seja,

epigástricos superficiais craniais e caudais) para a glândula. Ligue o vaso epigástrico

superficial cranial e caudal e os ramos que suprem a primeira e segunda glândula

mamária. Lave o ferimento e avance a pele em direção ao centro do defeito com

suturas móveis. Se o espaço morto for extenso, coloque um Dreno de Penrose para

ajudar a evitar o acúmulo de fluído. Aproxime as bordas cutâneas com um padrão de

sutura subcutâneo ou subcuticular. Use um fio absorvível 3-0 ou 4-0 em uma agulha

de ponta afilada, moldada em padrão interrompido ou contínuo. Use suturas

cutâneas de aproximação (por exemplo, náilon ou polipropileno 3-0 ou 4-0) ou

grampos. Coloque uma atadura circular acolchoada para comprimir o espaço morto,

mobilizar o tecido e sustentar o ferimento (FOSSUM, 2005).

4.5.5.3 Cuidados e avaliação pós-operatórios

Devem-se administrar analgésicos e terapia de suporte conforme o

necessário deve usar uma atadura abdominal para sustentar o ferimento, comprimir

o espaço morto e absorver o fluído. Caso se tenha utilizado um dreno de Penrose,

deve-se remove-lo quando a drenagem diminuir até uma quantidade mínima

(geralmente dentro de 3 a 5 dias). As ataduras e os fios de sutura geralmente são

removidos 5 a 7 dias e 7 a 10 dias após uma cirurgia, respectivamente.

As complicações pós-operatórias associados com a mastectomia incluem a

formação de seroma, a deiscência do ferimento e o edema de um ou de ambos os

membros traseiros. A formação de seroma é mais comum na região da virilha e pode

ser ratada com o uso de compressas úmidas e mornas. É melhor que se deixem as

deiscências de ferimentos, se não forem muito extensas, cicatrizarem por segunda

intenção. As deiscências extensas requerem um debridamento e um fechamento

(BOJRAB, 1996).

4.6 Caso clínico

4.6.1 Resenha:

Nome: Lobinha

Espécie: canina

Raça: Pastor alemão

Sexo: Fêmea

Idade: 7 anos

Peso: 25 kg

4.6.2 Anamnese

No dia 20/03/2007 o animal chegou à clínica com uma massa localizada, de

grande dimensão, lobular e ulcerada, na região mamária.

4.6.3 Exame físico

No exame foi constatado que a massa se tratava possivelmente de uma

neoplasia mamária e de grande dimensão, porém localizada. O animal não

apresentava outras complicações associadas ou não ao tumor.

FIGURA 5 – Paciente Lobinha – Tumor mamário.

4.6.4 Diagnóstico

Neoplasia mamária.

4.6.5 Tratamento

O animal veio para o exame no dia 20/03/2007 de manhã, e a tarde deste

mesmo dia foi realizado mastectomia regional do lado direito, que se define como a

exerese da glândula mamária envolvida e das glândulas adjacentes.

Como medicações pré-anestésicas foram feitas atropina 1% (0,025mg/kg) e

Xilazina que é um relaxante muscular (0,15 mL/kg), e de anestesia usou-se

Zoletil®50 (Cloridrato de tiletamina+Cloridrato de zolazepam) (0,1 a 0,2 mL/kg).

Foi preparado o animal, depilando o animal na glândula onde se localiza o

tumor e glândulas adjacentes, depois passado PVPI para tornar a área mais

asséptica possível, colocado panos de campos. Foi feita uma incisão elíptica ao

redor das glândulas envolvidas. O controle da hemorragia é feito por pinças

hemostáticas e ligaduras. Depois com a tesoura foi feito a dissecção retirando todo

tecido alterado. Foi lavado o ferimento com solução fisiológica, e feito a sutura de

aproximação com fio Catgut cromado 3-0, e suturas de pele com fio de nylon 0,30.

Depois da cirurgia foi aplicado Penjet®PS (20000 a 40000 U/kg), Banamine3

Flunixina-meglumina (1,1mg/kg em dose única IM, IV e SC) e feito curativo com

PVPI e atadura acolchoada com algodão.

O animal teve alta no mesmo dia, e foi receitado: (1) Amoxicilina 250mg; (2)

Benflogin 50mg; fazer o curativo com PVPI mais Furacin e colar de Elisabetano.

Penjet®PS - Clarion® (Benzilpenicilina+Procaína+Didroestreptomicina), Furacin – Schring-Plough® (Nitrofurazona), Banamine – Schring-Plough® (Flunixina+Meglumina), Amoxicilina250mg - União Química (Antibiótico), Benflogin50mg – Ache (Antiinflamatório). Bactrovet (Sulfadiazina prata+Alumínio+Cipermetrina) – Repelente, larvicida e cicatrizante, Anasedan – Vetbrands (Relaxante muscular), Atropina 1%, Zoletil 50 – Virbac (anestésico).

FIGURA 6 – Paciente Lobinha – Mastectomia.

O animal retornou a clínica no dia 23/03/2007, onde no local da cirurgia

estava com seroma, foi feito drenagem e curativo com PVPI e Bactrovet e aplicado

Penjet®PS penicilina (20000 a 40000 U/kg) mais ranitidina (1 a 2 mg/kg) e

metoclopramida (1 a 2 mg/kg em infusão) pois o animal também apresentou

episódios de vômito. Nos dias 24, 28 e 30/03/2007 vieram para fazer drenagem e

curativo e no dia 04/04/2007 veio retirar os pontos, onde já estava cicatrizada a

lesão, menos onde se teve seroma, foi recomendado que continuasse com curativo

nesta área ate se fechar por segunda intenção.

4.6.6 Discussão

De acordo com Richard (2001), o tratamento da neoplasia mamária é a

excisão cirúrgica. E na clínica a resolução do problema foi este, porém teve

complicação pós-operatória (o seroma). Contudo o animal teve uma cicatrização

boa.

Foram indicados os exames pré-cirúrgicos para o proprietário, porém por

questões financeiras ele recusou. O exame bioquímico, a urinálise e um hemograma

completo para averiguar se existam doenças intercorrentes. A radiografia torácica

para conferir se não houve metástases pulmonar.

4.7 HIPERPLASIA ENDOMETRIAL CÍSTICA e PIOMETRA – REVISÃO

BIBLIOGRÁFICA

4.7.1 Definição

O termo piometra descreve o útero repleto de pus, associado as alterações

ovarianas e a distúrbios extragenitais. Piometra é um estagio do complexo da

hiperplasia cística-piometra (SLATTER, 1998).

Em cadelas e gatas a piometra resulta de alterações induzidas

hormonalmente no útero, que permitam que ocorram infecções secundárias. A

desobstrução da cérvix (piometra fechada ou aberta) constitui uma influência

importante na intensidade da doença, em seu prognóstico e nas opções de

tratamento que podem ser oferecidas (BIRCHARD, 2003).

4.7.2 Etiologia

Hiperplasia endometrial cística (HEC) – piometra é um distúrbio do útero

potencialmente fatal. A progesterona normalmente estimula o crescimento e

atividade secretora das glândulas endometriais, o que pode resultar no

desenvolvimento de HEC com acúmulo de líquido nas glândulas endometriais e na

luz uterina (RICHARD, 2001).

O mecanismo é o seguinte, na preparação para uma prenhez possível, o

útero responde a aumentos de progesterona com hipertrofia glandular e aumento da

atividade secretora endometrial. A influência prolongada da progesterona faz com

que esse tecido glandular se torne cístico, edematoso e macroscopicamente

espessado. Um excesso de secreção pode-se acumular dentro do útero,

proporcionando um ambiente ideal para o crescimento bacteriano. Isso é complicado

pela redução da contratilidade miometrial pela progesterona que reduz a drenagem

uterina. Bactérias, presumivelmente originarias da vagina, podem colonizar o útero

anormal, provocando assim o aparecimento da piometra. A Escherichia coli é a

bactéria mais freqüente isolada de gatas e cadelas com piometra.

Apesar da infecção bacteriana não iniciar a patogenia de HEC-piometra, ela é

a principal causa da morbidade e mortalidade da piometra (RICHARD, 2001).

O estrogênio aumenta o número de receptores de progesterona no útero, o

que explica o aumento de incidência de piometra em animais que recebem

estrogênios exógenos durante o diestro para impedir a gestação. A progesterona

também diminui a atividade miométrica, que pode promover retenção de líquido

luminal (RICHARD, 2001).

4.7.3 Fisiopatologia

O endométrio e o miométrio possuem característica morfológica e funcional

distintas durante os vários estágios do ciclo reprodutivo, graças a sua sensibilidade

às alterações hormonais.

O estradiol provoca aumento no número de receptores de estrogênio e

progesterona no endométrio. Uma resposta a progesterona que seja exagerada,

prolongada ou inadequada sob qualquer outro aspecto, resultará numa hiperplasia

endometrial cística, com o acúmulo de líquido no interior das glândulas endometriais

e lúmen uterino.

A patologia uterina e a contratilidade miometrial diminuída, induzidas pela

progesterona, favorecem, segundo se acredita, a infecção bacteriana secundária do

útero. Quando a infecção bacteriana é concomitante com a hiperplasia endometrial

cística, o distúrbio passa a ser conhecido como piometra. Piometra é

fisiopatologicamente distinta de outras infecções uterinas, como a metrite pós-parto,

que ocorrem em outros estágios do ciclo estral.

4.7.4 Sinais clínicos

Os sinais de piometra ocorrem geralmente 1-2 meses após o estro ou

administração de progesterona exógena. A piometra é classificada como “aberta” ou

“fechada”, dependendo da presença ou não de corrimento vulvar. Os sinais clínicos

originam-se da infecção uterina e tendem a ser mais graves em cadelas ou gatas

que não apresentam drenagem de secreções.

Letargia, depressão anorexia, vômito e diarréia são comuns. O corrimento

vaginal é tipicamente purulento podendo conter sangue e muco. Poliúria e polídipsia

compensatória devido ao prejuízo na capacidade de concentração tubular renal. O

útero normalmente esta palpável e aumentado principalmente se a piometra for

fechada. Se não tratada, pode ocorrer septicemia e/ou endotoxemia, e os amimais

acometidos podem estar moribundos, hipotérmicos e em choque.

4.7.5 Diagnóstico

A piometra é diagnosticada com base na ocorrência dos sinais clínicos

durante o diestro ou após a administração exógena de progestinas, pela presença

de corrimento vulvar séptico e identificação de aumento de volume uterino por

radiografias e ultra-sonografias (RICHARD, 2001).

Tire radiografias abdominais para confirmar presença de um útero aumentado

de tamanho e avaliar quanto à possibilidade de ruptura uterina e peritonite. Não se

consegue detectar um útero não grávido normal em radiografias normais. Realize

uma ultra-sonografia abdominal para diferenciar piometra de prenhes (BIRCHARD,

2003).

Podem-se fazer outros exames no objetivo de ajudar a concluir o diagnóstico,

como por exemplos à citologia e cultura, a hematologia, urinálise e bioquímico.

4.7.6 Tratamento

A decisão de tratar o animal com piometra cirurgicamente ou clinicamente,

depende da condição do animal no momento da apresentação, sua idade e a

importância, para o proprietário, de preservar a capacidade reprodutiva do animal. A

ovário-histerectomia constitui o tratamento de escolha de piometra.

O tratamento clínico da piometra com prostaglandinas F2α (PGF2α) pode ser

considerado no caso de fêmeas de alto valor reprodutivo ou que não estão

intensamente doentes. As prostaglandinas da serie F, provocam contrações

miométricas que podem evacuar o útero se a cérvix estiver patente. Em geral a

cérvix dilata-se em resposta à pressão exercida contra ela. No entanto existe o risco

da dilatação não ocorrer tão rapidamente quanto necessário para que haja

evacuação do conteúdo pela cérvix da gata ou da cadela com piometra “fechada”.

Assim, pode ocorrer ruptura uterina e extravasamento de seu conteúdo para o

abdômen. As prostaglandinas também provocam luteólise ou suprimem a

esteroidogênese ovariana, removendo a fonte de progesterona responsável pela

doença (RICHARD, 2001).

4.7.6.1 Pré-operatório

Institua fluidoterapia e antibioticoterapia antes de uma cirurgia em todos os

casos. Animais com sinais de sepse ou choque exigem uma fluidoterapia bastante

agressiva. Administre antibiótico de largo espectro intravenosamente.

4.7.6.2 Procedimento cirúrgico

Ovário-histerectomia.

Após anestesiar o animal, comprima manualmente a bexiga, posicione em

decúbito dorsal e prepare a região abdominal ventral inteira para cirurgia asséptica.

Faça uma incisão cutânea na linha média ventral (exija uma incisão mais longa para

remover o útero aumentado). Entre na cavidade abdominal através da linha Alba e

localize o corno uterino esquerdo utilizando o gancho ou o dedo indicador, desloque

o omento e o intestino cranialmente se for necessário para encontrar o útero.

Coloque uma pinça hemostática pequena através do ligamento próprio para auxiliar

na retração caudal do ovário. Segure o ovário entre o polegar e o dedo médio e

coloque o dedo indicador tão longe proximalmente quanto for possível sobre o

ligamento suspensor e depois exerça uma tensão neste ligamento por meio de um

giro do dedo indicador caudalmente, aumente a tensão no ligamento até que se

rompa. Identifique o complexo arteriovenoso ovariano (CAVO), usando uma pinça

hemostática faça uma abertura no mesovário imediatamente caudal ao CAVO, em

uma área sem vasos e gordura, pince triplamente e transeccione o CAVO. Coloque

frouxamente uma ligadura circular ao redor da pinça proximal e aperte a medida que

se afrouxe a pinça, depois coloque uma ligadura transfixante entre a ligadura circular

e a extremidade transeccionada do CAVO. Remova a pinça média e verifique se há

sangramento, se houver faça outra ligadura circular no CAVO. Acompanhe o corno

uterino até achar o CAVO direito, ligue-o transeccione conforme foi descrito

anteriormente. Exteriorize o corpo uterino e localize a cérvix, rompa o corpo uterino

após colocar duas ligaduras, deve-se remover o útero inteiro proximalmente à cérvix.

Feche a incisão abdominal rotineiramente.

4.7.6.3 Pós-operatório

Prossiga com a terapia de suporte com fluidoterapia e antibióticos injetáveis.

No entanto, a maior parte dos animais mostrará grande melhora após a remoção de

útero, se não tiver ocorrido contaminação abdominal. Continue com

antibioticoterapia oral por mais 10 a 14 dias depois da cirurgia. Em animais com

sepse gram-negativa preferem-se antibióticos quinolônicos.

O prognóstico é bom se não ocorrer nenhuma outra ruptura uterina ou outra

causa de contaminação abdominal, com taxas de mortalidade abaixo de 10%.

4.8 Caso clínico

4.8.1 Resenha

Nome: Natali

Espécie: canina

Raça: Poodle

Sexo: Fêmea

Idade: 9 anos

Peso: 14 kg

4.8.2 Anamnese

No dia 05/04/2007 o animal chegou à clínica prostado e proprietária relatou que o

animal não tava comendo e que também vomitou. Perguntado a ela que se tinha

aplicado hormônio no animal para impedir gestação, ela afirmou que sim, duas

vezes.

4.8.3 Exame físico

No exame, abdômen dilatado, temperatura a 39°C, e pouca secreção vulvar.

Pediu-se para fazer uma ultra-sonografia.

4.8.4 Diagnóstico presuntivo:

Piometra.

4.8.5 Exames complementares

Laudo ultra-sonográfico: Região abdominal realizado no dia 05/04/2007

• Fígado: Formato regular, contorno regular, parênquima homogêneo,

normoecóico. Vasos e ductos hepáticos dentro da normalidade.

• Vesícula biliar: Tamanho regular, formato regular, parede interna preservada,

conteúdo anecoico.

• Baço: Formato regular, contorno regular, parênquima homogêneo,

normoecóico. Vasos lineais preservados.

• Rim direito: Simétrico em topografia habitual, formato e contorno regular,

relação corticomedular mantida, córtex hipoecoica em relação ao fígado.

Medula preservada.

• Rim esquerdo: Idem.

• Bexiga: Formato e contorno regular, parede interna preservada e conteúdo

anecoico.

• Útero: Aumento de volume de cornos uterinos de aspecto tubular, medindo

aproximadamente 4,45 cm, parede interna espessa, conteúdo luminal

hipoecogênico. Sugestivo: Piometra

4.8.6 Tratamento

Antes de fazer a ultra-sonografia, foi feito fluidoterapia de solução de glicose a

5% e aplicado Enrofloxacina 10% (2,5 a 5mg/kg).

O animal entrou para fazer cirurgia no dia 06/04/2007, ovário-histerectomia.

Como medicações pré-anestésicas foram feitas atropina 1% (0,025mg/kg) e

Xilazina que é um relaxante muscular (0,15 mL/kg), e de anestesia usou-se

Zoletil®50 (Cloridrato de tiletamina+Cloridrato de zolazepam) (0,1 a 0,2 mL/kg).

Fez-se a depilação, e comprimiu-se a bexiga, passou-se PVPI, e a incisão foi

feita através da linha Alba. Localizou-se os cornos uterinos e feito ligaduras com

Catgut cromado 2-0, no total 3 em cada corno, e retira-os. Localizado a cervix fez

duas ligaduras e retirou-se o corpo uterino. Verificou se que não havia presença de

hemorragia. A sutura de interior foi com pontos invertidos com fio absorvível catgut

cromado 2-0. A sutura de aproximação também foi feita com catgut 2-0 e a sutura de

pele foi feita com fio de nylon 0,30.

Administrado após a cirurgia de Penjet®PS (20000 a 40000 U/kg),

Enrofloxacina 10% (2,5 a 5mg/kg), Banamine4 Flunixina-meglumina (1,1 mg/kg dose

4 Monovin B12-Bravet® (vitamina B12), Mercepton-Bravet® (antitóxico), Cloridrato de Ranitidina-União Química® (protetor de mucosa), Metoclosantisa-Santisa® (Metoclopramida – antiemético). Penjet®PS - Clarion® (Benzilpenicilina+Procaína+Didroestreptomicina),Furacin – Schring-Plough® (Nitrofurazona), Banamine – Schring-Plough® (Flunixina+Meglumina).

única IM, IV e SC), mais de Monovin B12 (100 a 200 µg/cão) e curativo na lesão a

base de PVPI mais Furacin.

No dia 07 e 08/04/2007 o animal voltou prostado e com náuseas, foi colocado

na fluidoterapia de solução de glicose 5% e ringer com lactato, aplicado 0,7ml de

Penjet®PS (20000 a 40000 U/kg), Enrofloxacina 10% (2,5 a 5mg/kg)., Monovin B12

(100 a 200 µg/cão), ranitidina (1 a 2 mg/kg), metoclopramida (1 a 2 mg/kg em

infusão) e Mercepton (2 a 10 mL/dia). No dia 09/04/2007 animal veio à óbito.

FIGURA 7 – Útero a paciente com piometra.

4.8.7 Discussão

O animal chegou muito prostado o que possivelmente já devia estar fazendo

um endotoxemia, depois da cirurgia o animal entrou em choque, com conseqüência

o óbito, e assim não foi conseguido o sucesso no tratamento.

As administrações de hormônios exógenos podem causar diversas

complicações, como a piometra. O paciente já tinha história de duas administrações

destes hormônios, o que pode favorecer a suspeita de um desequilíbrio hormonal.

4.9 DISPLASIA COXOFEMORAL – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

4.9.1 Definição

A displasia coxofemoral é o desenvolvimento ou crescimento anormal da

articulação coxofemoral, em geral bilateralmente. Ela se manifesta por vários graus

de frouxidão dos tecidos moles ao redor, instabilidade, malformação da cabeça

femoral e acetábulo, e ósteo-artrose (PIERMATTEI, 1999).

À medida que a afecção progride, a deformação da arquitetura acetabular e

da cabeça femoral é acompanhada pelo desenvolvimento de uma artropatia

degenerativa (BIRCHARD, 2003).

Uma das afecções mais prevalentes na articulação coxofemoral é a causa

mais importante de ósteo-artrite coxofemoral do cão. Embora quase todas as raças

se encontrem em risco, a displasia coxofemoral afeta mais cães de raças grandes e

gigantes.

4.9.2 Fisiopatologia

Existe predisposição poligênica para a luxação congênita coxofemoral, com

fatores múltiplos que influenciam e modificam a afecção. Fatores ambientais são

superpostos à suscetibilidade genética do individuo. As articulações coxofemorais

são normais ao nascimento. A falha dos músculos em se desenvolverem e atingir a

maturidade conjuntamente com o esqueleto resulta na instabilidade da articulação.

O desenvolvimento anormal é induzido quando o acetábulo e a cabeça femoral se

distanciam e iniciam uma série de alterações que finalmente são reconhecidas como

displasia coxofemoral (PIERMATTEI, 1999).

4.9.3 Sinais clínicos

Os achados clínicos na displasia coxofemoral variam com a idade do animal.

Muito, frequentemente não há sinais percebidos pelo proprietário. Existem dois

grupos reconhecíveis clinicamente dos cães. (1) cães jovens entre 4 e 12 meses de

idade; (2) animais acima de 15 meses de idade com afecção crônica.

Cães jovens geralmente aparecem ocorrência súbita de afecção unilateral

(ocasionalmente bilateral), caracterizada pela redução súbita na atividade associada

com acentuada dor nos membros pélvicos. Eles irão apresentar sinais como

dificuldade de se levantar, diminuição nas vontades de andar, correr, pular e subir

escadas, e os músculos das áreas pélvicas e das coxas são fracamente

desenvolvidos. A maioria terá o sinal de Ortolani positivo, que consiste em um

“estalo” produzido pelo movimento da cabeça femoral a medida que ela deslize para

dentro e para fora do acetábulo. O súbito inicio dos sinais em cães jovens é causado

pela ocorrência de microfraturas nas bordas acetabulares.

Cães mais velhos apresentam quadro clínico diferente por que eles sofrem de

afecção articular degenerativa crônica e sua dor associada. A claudicação pode ser

unilateral, mas geralmente é bilateral, aprece após um exercício vigoroso ou

prolongado. Outros sinais são modos de locomoção bamboleante, e frequentemente

crepitação e movimentação restrita da articulação. O cão geralmente prefere sentar

a permanecer em estação e levanta-se com dificuldades. Os músculos pélvicos e da

coxa atrofiam acentuadamente resultando que os trocanteres maiores se tornam

muito proeminentes.

4.9.4 Diagnóstico

Consiste nos sinais clínicos, em um exame físico e radiográfico. No exame

físico faze-se a palpação para o sinal de Ortolani. Nos filhotes de 6 a 8 semanas de

idade é para identificação de frouxidão articular coxofemoral em raças de risco. Nos

cães mais velhos, escutar a crepitação com o ouvido do examinador ou com

estetoscópio no trocânter maior geralmente ajuda.

A confirmação radiográfica é essencial no estabelecimento do diagnóstico. A

“orthopedic Foundation for Animals” formou um registro de displasia coxofemoral

(University of Missouri, Columbia, MO). Estabeleceu-se sete notas de variação de

congruência, e o cão deve ter mais de dois anos de idade para se aplicar esta

graduação. As três primeiras são consideradas dentro do limite de normalidade:

(1) Excelente: conformação quase perfeita;

(2) Boa: conformação normal para raça e idade;

(3) Razoável: menos que o ideal, mas dentro dos limites radiográficos;

(4) Fronteira: uma categoria no qual anormalidades coxofemorais menos

importantes frequentemente não podem ser claramente acessadas por causa do

posicionamento não ideal durante os procedimentos radiográficos. É recomendado

que outra radiografia seja feita em seis a oito meses.

Os animais displásicos ficam em três categorias:

(1) Leve: desvio mínimo do normal com apenas achatamento leve da cabeça

femoral e pequena subluxação;

(2) Moderada: desvio nítido do normal, com evidência do acetábulo raso, cabeça

femoral achatada, congruência articular pobre, e em alguns casos subluxação com

acentuadas alterações na cabeça e colo femorais.

(3) Grave: Luxação completa da articulação coxofemoral e grave achatamento da

cabeça femoral e acetábulo.

Os pontos mais importantes em uma avaliação radiográfica são: a cabeça

femoral estar congruente à margem acetabular cranial, que deve ser perpendicular à

linha média. E a intersecção da linha epifisária com a borda acetabular dorsal define

a porção da cabeça femoral que está sob a borda acetabular. No mínimo 50% da

cabeça devem estar recoberta pelo acetábulo. A cabeça se torna mais oval no seu

formato a medida que se formam osteofitos no colo femoral e na inserção da

cápsula articular. Em estágios mais avançados, o acetábulo torna-se preenchidos

por tecido ósseo e a parede medial torna-se mais espessada.

4.9.5 Tratamento

Pode ser por terapia conservadora ou terapia cirúrgica. Muitos cães com

displasia coxofemoral não mostram sinais de dor; outros têm apenas sinais leves e

intermitentes. Estes podem ser tratados podem ser tratados por métodos

conservadores que incluem a minimização dos exercícios, a redução de peso em

animais obesos e o uso de analgésicos e antiinflamatórios.

A terapia cirúrgica pode ser dividida em dois grupos:

A preventiva, que tem como exemplos a osteotomia pélvica tripla, que é

indicada para cães jovens com sinais clínicos de displasia coxofemoral e sinais de

instabilidade. O procedimento fornece rotação axial do acetábulo para estabilizar a

cabeça femoral dentro do acetábulo em uma posição funcional. Tem também a

osteotomia intertrocantéricas, que tem como principio o tratamento de luxação

coxofemoral congênita e instabilidade, ela torna o colo femoral mais perpendicular a

borda femoral (varização), reduzindo a anteversão, a cabeça femoral pode ser

colocada mais profundamente dentro do acetábulo e com o propósito de melhorar a

biomecânica da articulação e reduzir a dor coxofemoral.

E alívio à dor, que tem como exemplos a miectomia pectínea, com o objetivo

de aliviar a tensão produzida pelo músculo e transmitida para articulação

coxofemoral, removendo todo músculo pectíneo.

E tem a excisão da cabeça e do colo femoral, para permitir a formação da

pseudo-articulação fibrosa. A dor é aliviada pelo contato ósseo entre o fêmur e a

pelve, à medida que um tecido de cicatrização se interpõe. Esta cirurgia é um

procedimento irreversível e deve ser considerada como operação de recuperação.

4.9.5.1 Técnica cirúrgica da excisão da cabeça e do colo femoral

A abordagem crânio lateral da articulação coxofemoral é preferível porque

não envolve transecção dos músculos glúteos. Na abordagem crânio lateral é

importante incisar e rebater a cápsula articular e origem do músculo vasto lateral

para expor a porção cranial do colo femoral adequadamente. Os músculos glúteos

são afastados dorsalmente com a inserção de afastador de Hohmann dentro da

cápsula articular. Uma pinça óssea fixa à região do trocânter pode ser usada para

subluxar a cabeça do fêmur. Isto facilita a secção do ligamento redondo com tesoura

curva e elevação do resto da cápsula articular da cabeça femoral. O colo é mais

bem seccionado com osteótomo, com o membro rotacionado externamente em 90°.

O colo femoral é palpado para verificar a presença de irregularidades, fragmentos ou

porção remanescente do colo femoral na superfície caudal. O joelho é fixado e

tracionado proximal/distalmente para se descobrir crepitações.

Cada músculo glúteo é reposicionado e as bordas cortadas são coaptadas

com suturas interrompidas usando-se fio de linho. A incisão de pele é fechada de

maneira usual (HICKMAN, 1983).

4.9.5.2 Pós-operatório

O uso ativo e prematuro do membro é necessário. Exercícios de

movimentação passiva, prescritos de 20 a 30 vezes, quatro vezes ao dia, são

indicados imediatamente e continuados até o cão ou gato possam sustentar o peso

durante a corrida, caso em que esta fazendo sua própria fisioterapia. Os animais

comumente estarão tocando o solo com os dedos em dez a 14 dias, sustentando o

peso em três semanas, e usando o membro ativamente em 4 semanas. O pós-

operatório é difícil, já que leva vários dias para que tais animais se movimentem.

4.10 Prognóstico

O retorno ao uso ativo e sem dor no membro depende da habilidade cirúrgica,

tempo total em que afecção coxofemoral esteve presente, e gravidade da afecção.

4.11 Caso clínico

4.11.1 Resenha

Nome: Daira

Espécie: canina

Raça: Boxer

Sexo: Fêmea

Idade: 2 anos

Peso: 20 kg

4.11.2 Anamnese

No dia 23/03/2007 o animal chegou à clínica com histórico de ficar só sentado, e

quando levanta e claudica, mais no membro posterior esquerdo.

4.11.3 Exame físico

Verificou que o animal sentia dor no membro indicado.

4.11.4 Diagnóstico

Displasia coxo femoral

4.11.5 Exames complementares

No exame radiográfico se notou que a cabeça do fêmur tinha um desvio nítido

e tava achatada, típico de displasia moderada.

4.11.6 Tratamento

Excisão da cabeça e colo femoral no dia 23/03/2007.

Como medicações pré-anestésicas foram feitas atropina 1% (0,025mg/kg) e

Xilazina que é um relaxante muscular (0,15 mL/kg), e de anestesia usou-se

Zoletil®505 (Cloridrato de tiletamina+Cloridrato de zolazepam) (0,1 a 0,2 mL/kg).

Feito a depilação e deixado a área asséptica, a incisão foi feito crânio lateral

da articulação coxofemoral. Desprendeu-se a cabeça femoral e depois seccionada

com uma serra de gigle. Verificou se não ficou fragmentos ou irregularidades depois

se suturou os músculos internos com Catgut simples 3-0, e a pele com fios de nylon

0,30.

Zoletil 50 (anestésico), Xilazina relaxante muscular (Anasedan – Vetbrands), Atropina 1%, Penjet®PS - Clarion® (Benzilpenicilina+Procaína+Didroestreptomicina),Enrofloxacina 10% - Tortuga Furacin – Schring-Plough® (Nitrofurazona), Banamine – Schring-Plough® (Flunixina+Meglumina), Benflogin50mg – Aché (Antiinflamatório), Cefalexina 500mg (Antibiótico).

Depois da cirurgia foi aplicado Banamine Flunixina-meglumine (1,1mg/kg em

dose única IM, IV e SC), Penjet®PS (20000 a 40000 U/kg), Enrofloxacina 10% (2,5 a

5mg/kg), e curativo com PVPI.

No dia 24/03/2007 o animal ganhou alta, porem foi aplicado Enrofloxacina10%

(2,5 a 5mg/kg), e foi receitado Cefalexina 500mg (uso humano) e Benflogin 50mg,

na lesão, curativo com água oxigenada, PVPI e Furacin.

FIGURA 8 – Cabeça e colo femoral (excisão).

4.11.7 Discussão

Poderia ser feito uma terapia conservadora como restringir o animal a

movimentos mais bruscos, diminuir o peso corporal do paciente e uso de

analgésicos, porém o animal apresentava sinais contínuos de dor.

No caso de uma terapia cirúrgica, ao invés da excisão da cabeça e colo

femoral, poderia ser feito a osteotomia pélvica tripla, que é indicada para cães

jovens, que faz uma rotação do acetábulo para estabilizar a cabeça femoral. Como o

paciente era jovem, e sua displasia não aparentava acentuada essa opção seria

possível.

5 CONCLUSÃO

Com esses casos descritos anteriormente e outros que aconteceram no

período do estagio, acrescentaram-se diversos conhecimentos para minha vida

profissional e pessoal. Conhecimentos práticos na área de clinica médica e cirúrgica

de pequenos animais.

Observa-se que em algumas patogenias são prevalentes em determinadas

regiões de Curitiba. E que estas enfermidades acometem gravemente os pequenos

animais, e com isso são de extrema importância na área de Medicina Veterinária.

Também se observou que os proprietários possuem um carinho enorme pelos

seus animais de estimação, e que muitos são leigos no assunto bem estar animal.

Porém para estes últimos, estão mudando essa visão, pois o comportamento social

em relação aos animais só tende a crescer.

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