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1 COLETA DE PAPANICOLAOU Manual de procedimentos técnicos e administrativos Prof. Me. Leonardo Izidório Cardoso Filho CRBM-3 1112* INTRODUÇÃO O câncer do colo do útero constitui um grave problema de saúde, que atinge mulheres em todo o mundo, sendo os países em desenvolvimento responsáveis por aproximadamente 80% desses casos. Infelizmente, o Brasil muito contribui para esse panorama. Devido a essa alta incidência, o câncer de colo do útero é responsável por 18.430 novos casos diagnosticados e 4.800 vítimas fatais por ano só no Brasil. A incidência para os anos de 2010-11 no país foi de 18,47 casos a cada 100 mil mulheres; em Goiás a taxa foi de 17,52 e em Goiânia, 22,41. Portanto, é uma doença de grande relevância, refletindo a prevalência dos fatores de risco, bem como ausência e/ou ineficiência de programas de prevenção. Estudos epidemiológicos identificaram o perfil da população feminina mais vulnerável a este câncer, cujas características para esse perfil são: baixo nível socioeconômico; multiplicidade de parceiros sexuais; início precoce de atividade sexual; infecção pelo pamilomavírus humano (HPV); tabagismo; uso de contraceptivo oral; baixa ingestão de vitaminas A e C; idade entre 40 e 60 anos. Sabe-se hoje ser o câncer do colo do útero uma doença de evolução lenta, associada à ação do HPV, vírus sexualmente transmissível. As pesquisas a respeito deste vírus foram fundamentais para que o câncer do colo do útero fosse efetivamente prevenido. Esta prevenção é possível uma vez que o HPV, em mais de 90% dos casos, está diretamente envolvido no aparecimento das lesões precursoras e do carcinoma de colo do útero. O vírus irá “agredir” células que constituem esta região anatômica, alterando seu material genético, o que trará como consequência a provável malignização dessas células. São conhecidos hoje cerca de 200 tipos e subtipos de HPV, sendo que somente alguns deles são envolvidos neste processo de transformação. Ao microscópio óptico comum, consegue-se identificar as lesões causadas por estes microorganismos, do que nos valemos para ações terapêuticas precoces, que levam a praticamente 100% de cura. O Teste de Papanicolaou é um método simples e barato, que indica a presença de lesões neoplásicas ou pré-neoplásicas e alguns processos de outra natureza (parasitária, inflamatória etc.). Com o tratamento dessas lesões, consegue-se interromper, em parte, a evolução para lesões mais graves, quebrando a “cadeia evolutiva” da doença, numa ação preventiva. No entanto, a oferta deste

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COLETA DE PAPANICOLAOU

Manual de procedimentos técnicos e administrativos

Prof. Me. Leonardo Izidório Cardoso Filho

CRBM-3 1112*

INTRODUÇÃO

O câncer do colo do útero constitui um grave problema de saúde, que atinge mulheres em

todo o mundo, sendo os países em desenvolvimento responsáveis por aproximadamente 80% desses

casos. Infelizmente, o Brasil muito contribui para esse panorama.

Devido a essa alta incidência, o câncer de colo do útero é responsável por 18.430 novos

casos diagnosticados e 4.800 vítimas fatais por ano só no Brasil. A incidência para os anos de 2010-11

no país foi de 18,47 casos a cada 100 mil mulheres; em Goiás a taxa foi de 17,52 e em Goiânia, 22,41.

Portanto, é uma doença de grande relevância, refletindo a prevalência dos fatores de risco, bem como

ausência e/ou ineficiência de programas de prevenção.

Estudos epidemiológicos identificaram o perfil da população feminina mais vulnerável a

este câncer, cujas características para esse perfil são:

baixo nível socioeconômico;

multiplicidade de parceiros sexuais;

início precoce de atividade sexual;

infecção pelo pamilomavírus humano (HPV);

tabagismo;

uso de contraceptivo oral;

baixa ingestão de vitaminas A e C;

idade entre 40 e 60 anos.

Sabe-se hoje ser o câncer do colo do útero uma doença de evolução lenta, associada à ação

do HPV, vírus sexualmente transmissível.

As pesquisas a respeito deste vírus foram fundamentais para que o câncer do colo do útero

fosse efetivamente prevenido. Esta prevenção é possível uma vez que o HPV, em mais de 90% dos

casos, está diretamente envolvido no aparecimento das lesões precursoras e do carcinoma de colo do

útero. O vírus irá “agredir” células que constituem esta região anatômica, alterando seu material

genético, o que trará como consequência a provável malignização dessas células. São conhecidos hoje

cerca de 200 tipos e subtipos de HPV, sendo que somente alguns deles são envolvidos neste processo

de transformação. Ao microscópio óptico comum, consegue-se identificar as lesões causadas por estes

microorganismos, do que nos valemos para ações terapêuticas precoces, que levam a praticamente

100% de cura.

O Teste de Papanicolaou é um método simples e barato, que indica a presença de lesões

neoplásicas ou pré-neoplásicas e alguns processos de outra natureza (parasitária, inflamatória etc.).

Com o tratamento dessas lesões, consegue-se interromper, em parte, a evolução para lesões mais

graves, quebrando a “cadeia evolutiva” da doença, numa ação preventiva. No entanto, a oferta deste

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tipo de exame ainda é bem menor do que o desejável, pois, nos serviços públicos de saúde, apenas

15% da população feminina acima de 20 anos e sexualmente ativa, realiza o teste como preconizado.

Essa cobertura é muito pequena, mesmo levando-se em conta o fato de que um percentual de mulheres

se utiliza de outros serviços que não vinculados ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Aumentar a oferta de exames, realizando periodicamente o Teste de Papanicolaou em

mulheres que nunca ou raramente frequentam os serviços de saúde, é uma conduta eficaz para a

redução da morbi-mortalidade da doença. Talvez este se configure como um dos maiores desafios dos

órgãos gestores da Saúde.

ANATOMIA DO APARELHO GENITAL FEMININO

Fonte: SÃO PAULO, 2004

O aparelho genital feminino é constituído por órgãos internos e externos.

1. Externos

Vulva – constituída por um conjunto cutâneo mucoso que se estende do Monte de Vênus até a

região do períneo. Na vulva identificamos: o clitóris, cuja origem embrionária é semelhante à

do pênis; os pequenos lábios – pregas cutâneas que nascem de ambos os lados do clitóris; os

grandes lábios – constituídos por tecido adiposo, elementos conjuntivo-elásticos, glândulas

sudoríparas e sebáceas, sendo cobertos por pelos.

2. Internos

Vagina – canal cilíndrico, com comprimento entre 8 e 10 centímetros por cerca de 4

centímetros de diâmetro, apresentando grande elasticidade. A parede anterior da vagina

relaciona-se com a bexiga, enquanto que a posterior, maior que a anterior, com o reto. A união

das paredes forma o fundo de saco. No fundo da vagina aparece o colo do útero.

Ovários e tubas – órgãos intra-abdominais, pares e mais diretamente relacionados com a

produção hormonal e produção de óvulos (ovários) e transporte destes (tubas).

Útero – é o órgão do aparelho reprodutor feminino que abriga o feto durante toda a gestação,

tendo a forma de uma pêra. Está situado no abdome inferior, por trás da bexiga e na frente do

reto, sendo dividido em corpo e colo. O colo é a porção inferior do útero, que se localiza

parcialmente dentro da cavidade vaginal e compõe-se de 2 partes:

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a) a parte visível, dentro da vagina, na qual se abre por meio do óstio (orifício cervical

externo).

b) o canal cervical, não visível à coleta do material, que comunica a cavidade uterina com a

vagina.

Fonte: SÃO PAULO, 2004

A parede do canal é revestida com epitélio constituído por uma camada única de células

cilíndricas (epitélio colunar) e que em alguns pontos forma as criptas cervicais produtoras de muco. É

denominada endocérvice. Internamente o endocérvice é continuo com o endométrio, que reveste a

cavidade uterina. O tecido que cobre a região do colo, que mantém contato com a vagina, é chamado

de ectocérvice, sendo constituído por várias camadas de células planas, formando um epitélio

escamoso e estratificado.

O limite entre endocérvice e ectocérvice denomina-se:

Junção escamocolunar – JEC, que é uma linha que pode estar tanto dentro do canal

cervical quanto na porção visível do colo, para dentro ou para fora do óstio, dependendo da condição

hormonal da mulher, idade e paridade, entre outros fatores.

Na infância e no período pós-menopausa geralmente a JEC situa-se dentro do canal

cervical. No período fértil, quando ocorre maior produção hormonal, geralmente a JEC situa-se ao

nível do orifício externo (óstio).

SEM PARTOS

Fonte: SÃO PAULO, 2004

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COM UM OU MAIS PARTOS VAGINAIS

Fonte: SÃO PAULO, 2004

COM EVERSÃO E METAPLASIA ESCAMOSA

Fonte: SÃO PAULO, 2004

NA PÓS-MENOPAUSA, SEMELHANTE AO DA

INFÂNCIA

Fonte: SÃO PAULO, 2004

1- Epitélio estratificado escamoso ectocervical

2- Epitélio endocervical

3- Junção dos epitélios endo e ectocervical (área de transição)

4- Área de eversão do epitélio endocervical

5- Área da metaplasia escamosa (zona de transformação)

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Alterações hormonais na puberdade e gravidez podem causar o deslocamento, ou seja, a

eversão do epitélio colunar da parte mais inferior do canal endocervical em direção ao ectocérvice.

Este epitélio endocervical deslocado ou evertido, que invade a ectocérvice, fica exposto a condições

frequentemente adversas existentes na cavidade vaginal podendo sofrer agressão por agentes

biológicos como bactérias, fungos e vírus ou por agentes físicos ou químicos como aplicadores

vaginais, cremes, lavagens esperma e outros. Para se adaptar, transforma-se, geralmente, em epitélio

escamoso. Este processo de transformação chama-se metaplasia e a área que sofreu esse processo

chama-se zona de transformação.

Fonte: SÃO PAULO, 2004

Para desenvolver a metaplasia, o organismo recorre às chamadas células de reserva, que

são células existentes na base do epitélio colunar, que se multiplicam, formando outro tipo de epitélio.

As células de reserva são alvo do HPV, capaz de provocar alterações que podem levar a um câncer.

É na junção dos epitélios escamoso e colunar (JEC), que se localizam mais de 90% dos

cânceres de colo do útero. Podem também se desenvolver neste local estruturas de caráter benigno

com os chamados “cistos” ou Ovos de Naboth – simples consequência da obstrução dos ductos

excretores das glândulas endocervicais.

O que se conhece popularmente por “ferida do colo do útero” é o epitélio endocervical

localizado fora de sua região habitual. Outro achado bastante comum na inspeção do colo é o “pólipo

endocervical”, que é uma projeção do epitélio de revestimento com um eixo central conjuntivo-

vascular. A importância dessas estruturas é que por vezes podem ser causa de sangramento. Não

representam fator de risco para neoplasias malignas e, em geral, podem ser retirados durante uma

colposcopia.

Mais raramente podem ser vistas estruturas sólidas que se exteriorizam pelo óstio externo

do colo. São leiomiomas que se originam na parede do corpo uterino e, possuindo um pedúnculo,

passam através do canal cervical.

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Normal, em idade fértil. Sem partos. Na idade fértil, com partos vaginais.

Fonte: SÃO PAULO, 2004

TESTE DE PAPANICOLAOU

Fonte: SÃO PAULO, 2004

Teste de Papanicolaou, também conhecido como citologia oncótica, citologia

ginecológica, citologia oncológica, citologia exfoliativa, citologia oncoparasitária, exame de

prevenção etc. é um método desenvolvido pelo médico George Papanicolaou para a identificação, ao

microscópio, de células exfoliativas do colo do útero, atípicas, malignas ou pré-malignas.

As células são colhidas na região do orifício externo do colo e canal endocervical,

colocadas sobre uma lâmina transparente de vidro, coradas e submetidas a exames microscópico, no

qual o citopatologista poderá distinguir entre o que são células normais, as que se apresentam como

evidentemente malignas e as que apresentam alterações indicativas de lesões pré-malignas.

Para que o teste seja efetivo, isto é, permita a identificação de lesões malignas ou pré-

malignas, o esfregaço cérvico-vaginal deve conter células representativas do ectocérvice e

endocérvice, preservadas e em número suficiente para o diagnóstico. As lesões malignas ou pré-

malignas do colo do útero somente poderão ser detectadas se o esfregaço for de boa qualidade,

incluindo elementos representativos de todas as áreas de risco.

A responsabilidade pela coleta de material cervical e confecção do esfregaço em

mulheres sem queixa ou doença ginecológica e pela realização das ações educativas pode ser do

profissional de enfermagem, prévia e adequadamente treinado, além do médico ginecologista e

citopatologista para que se possa atingir um maior número de mulheres.

Todavia, no decorrer de uma consulta ginecológica, toda mulher que não estiver com

controle atualizado, deve ter o exame colhido pelo médico ginecologista.

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As coletas em grávida podem ser feitas em qualquer período da gestação,

preferencialmente até o sétimo mês. A coleta deve ser feita com a espátula de Ayre apenas, sem usar a

escova endocervical. Já em virgens, não se deve fazer coleta de rotina e somente realizada

exclusivamente pelo profissional médico, a seu critério, em casos extremamente específicos.

REQUISITOS PARA A COLETA

Para a realização do Teste de Papanicolaou é necessário que a Unidade de Saúde possua:

- consultório equipado para exame ginecológico com:

mesa ginecológica;

escada de dois degraus;

mesa auxiliar;

foco de luz com cabo flexível;

biombo ou local reservado para troca de roupa;

cesto de lixo;

balde com solução desincrostante em caso de instrumental não descartável.

- material para coleta:

espéculo;

lâmina com uma extremidade fosca;

espátula de Ayre;

escova endocervical;

para de luvas para procedimento;

pinça de Cheron;

fixador apropriado;

gaze;

formulário de requisição do exame;

lápis preto nº. 2;

recipiente para acondicionamento das lâminas, sendo preferível caixas de madeira ou plástico;

lençol ou avental para cobrir a paciente.

FASES QUE ANTECEDEM A COLETA

É necessário entender que para muitas mulheres o exame de prevenção ainda causa

constrangimento e preocupação. Portanto, deve-se criar um ambiente acolhedor, comportar-se com

cortesia e respeitar a privacidade da mulher é postura esperada de todo profissional. Observar as

informações da ficha de requisição e explicar o significado e os procedimentos que serão realizados

ajuda a diminuir a ansiedade.

Muitas mulheres se confundem com o que deve ser feito após o exame. Umas acham que

“basta retirar o material e tudo estará resolvido”, outras associam todo resultado anormal ao

diagnóstico de câncer. É fácil entender: no primeiro caso a paciente não acha que tenha algo a retirar e

no segundo a preocupação é excessiva e infundada, pois a maior parte dos diagnósticos é

oncoticamente negativa. Ambas as situações precisar ser esclarecidas, já que esses conceitos errôneos

comprometem todo o Programa e afastam as pacientes dos benefícios da detecção precoce e cura das

doenças diagnosticadas.

Um dos maiores problemas encontrados no dia-a-dia das Unidades de Saúde é a falta de

conscientização da mulher para que venha retirar o resultado de seu exame. Tenha sempre em mente

que um clima descontraído, construído por uma relação de respeito e compreensão, cercado de

informações simples e objetivas, é fundamental para a efetivação do Programa e para que se consiga

uma amostra ideal e o cumprimento de todas as orientações.

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Preenchimento do formulário

É de fundamental importância o correto preenchimento do formulário de requisição de

citologia oncótica, bem como a identificação do exame. Falhas na identificação podem comprometer

por completo o trabalho posterior.

Identificação da lâmina

É obrigatório o uso de lâmina com bordas lapidadas e extremidade fosca. O uso de

lâmina sem extremidade fosca dificulta sua identificação, requerendo lápis-diamente ou marcador de

azulejo, o que torna esta rotina pouco prática. A identificação da lâmina deve ser feita na extremidade

fosca, com lápis preto nº. 2, previamente à coleta, contemplando:

o código do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) da unidade;

o número de registro da mulher na unidade;

as iniciais do nome da paciente.

NÃO USAR: caneta hidrográfica, esferográfica etc., pois leva à perda da identificação do material.

Essas tintas se dissolvem durante o processo da coloração das lâminas.

Condições ideais para uma amostra de qualidade:

não estar menstruada. Preferencialmente aguardar o 5º dias após o término da menstruação;

a presença de pequeno sangramento de origem não menstrual não é impeditivo para a coleta,

principalmente nas mulheres pós-menopausada;

não usar creme vaginal nem submeter-se a exames intravaginais (ultrassonografia) por dois

dias do exame.

É impossível realizar análise de amostra que contenha grande quantidade de sangue ou

esteja contaminada por creme vaginal, vaselina e outras.

COLETA

Fonte: SÃO PAULO, 2004

Antes de iniciar a coleta

1. Verificar se a paciente é virgem. Se for, não colher.

2. Perguntar se já teve filhos por parto normal (via vaginal). Se não, usar espéculo pequeno.

3. Perguntar se está grávida ou suspeita estar. Caso afirmativo não colher material endocervical.

4. Identificar a lâmina, na extremidade fosca, com lápis preto nº. 2, acomodando-a na mesa de

apoio para receber o material colhido.

5. Deixar o fixador próximo à lâmina já identificada.

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Iniciando o procedimento de coleta

1. Oriente a paciente sobre o desenvolvimento do exame, procurando deixá-la menos ansiosa.

2. Solicite à paciente que esvazie a bexiga.

3. Em seguida que ela retire a parte inferior da roupa, dando-lhe o avental ou um lençol par que se

cubra, indicando o biombo para a troca da roupa ou outro local reservado.

4. Solicite que ela deite na maca, auxiliando-a a posicionar-se adequadamente para o exame.

5. Cubra-a com o lençol.

6. Inicie a primeira fase do exame, expondo somente a região a ser examinada.

A vulva e a vagina também desenvolvem câncer e uma forma eficiente de diagnosticá-lo

precocemente é verificar a existência de lesões suspeitas nestas localizações durante a coleta de

Papanicolaou. Ao identificar qualquer alteração, solicitar a presença do médico.

7. Colocação do espéculo:

a) Escolha o espéculo mais adequado ao tamanho da vagina da paciente.

A dificuldade em localizar o colo do útero pode estar na escolha errada do tamanho do

espéculo. O espéculo de tamanho pequeno dever ser utilizado em mulheres que não tiveram parto

normais, muito jovens, menopausadas e em mulheres muito magras.

O espéculo de tamanho grande pode ser indicado para as mulheres multíparas e para as

obesas. Condições intermediárias ou em caso de dúvida, use o de tamanho médio.

b) Introduza o espéculo procedendo da seguinte forma:

Não lubrifique o espéculo com qualquer tipo de óleo, glicerina, creme ou

vaselina.

No caso de mulheres idosas, com vaginas extremamente ressecadas,

recomenda-se molhar o espéculo com soro fisiológico.

Introduza-o em posição vertical e ligeiramente inclinado.

Iniciada a introdução, faça uma rotação de 90°, deixando-o em posição

transversal, de modo que a fenda da abertura do espéculo fique na posição

horizontal.

Durante a introdução do especulo, procede-se a inspeção das paredes vaginais.

Uma vez introduzido totalmente na vagina, abra-o lentamente e com

delicadeza.

Se, ao visualizar o colo, houver grande quantidade de muco ou secreção,

seque-o delicadamente com uma gaze montada em uma pinça, sem esfregar,

para não perder a quantidade do material a se colhido.

Dificuldade para visualizar o colo:

Sugira que a paciente tussa. Não surtindo efeito, solicite que a paciente coloque as mãos sob o

quadril, então tende manobras delicadas com o espéculo.

Se, mesmo após essas manobras, não conseguir visualizar o colo, não insista, peça auxílio ao

médico.

A paciente pode ter sofrido alguma intervenção cirúrgica no colo ou uma histerectomia.

Nos casos de mulheres que tenham sofrido histerectomia com manutenção do colo, a coleta dever ser

realizada como de rotina, inclusive com a escova endocervical.

Nos casos em que houve a retirada total do colo, a coleta pode ser feita no fundo da

vagina (fundo de saco).

8. Coleta das amostras:

A coleta é tripla: vagina, ectocérvice e do canal cervical.

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As amostras são colhidas separadamente, mas disposta na mesma lâmina previamente

identificada.

O colo do útero não é igual em todas as mulheres, seu tamanho, forma e posição podem

variar. Devido à sua localização e função, está sujeito a traumatismos por parto, abortos e curetagens,

assim como a processos inflamatórios e infecciosos diversos.

O orifício externo do colo de mulheres que nunca tiveram parto vaginal é puntiforme e

das que já tiveram, a fenda é transversa.

Proceda à coleta no ectocérvice:

Utilize a espátula de madeira tipo Ayre, do lado que apresenta reentrância. Encaixe a

ponta mais longa da espátula no orifício externo do colo, apoiando-a firmemente, fazendo uma

raspagem na mucosa ectocervical em movimento rotativo de 360º (fig. 1), em torno de todo o orifício,

procurando exercer uma pressão firme, mais delicada, sem agredir o colo, para não prejudicar a

qualidade da amostra.

Fonte: SÃO PAULO, 2004

1- Extremidade fosca. Identificação da lâmina

2- Espaço para esfregaço ectocervical

3- Espaço para esfregaço endocervical

Caso considere que a coleta não tenha sido representativa, faça mais uma vez o

movimento de rotação. Estenda o material ectocervical na lâmina dispondo-o no sentido horizontal,

ocupando 2/3 da parte transparente da lâmina, em movimentos de ida e volta esfregando a espátula

com suave pressão, garantindo uma amostra uniforme (fig. 2)

Proceda à coleta do canal cervical:

Utilize a escova de coleta endocervical. Recolha o material introduzindo delicadamente a

escova no canal endocervical, girando-a 360º (fig.3). Ocupando o 1/3 restante da lâmina, estende o

material rolando a escova de cima para baixo (fig.4).

Fonte: SÃO PAULO, 2004

9. Fixação do material:

A fixação do esfregaço deve ser procedida imediatamente após a coleta, sem nenhuma

espera. Visa conservar o material colhido, mantendo as características originais das células,

preservando-as do dessecamento, que impossibilitará a leitura do exame.

São três as formas usuais de fixação. O uso do Polietilenoglicol é o mais recomendado.

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a) Polietilenoglicol. Pingar 3 ou 4 gotas da solução fixadora sobre o material, que deverá ser

completamente coberto pelo líquido. Deixar secar ao ar livre, em posição horizontal, até a

formação de uma película leitosa e opaca na sua superfície.

b) Álcool a 95%. O material deve ser submerso no álcool a 95% em vidros de boca larga, lá

permanecendo até a chegada ao laboratório.

c) Propiniglicol. Borrifar a lâmina com o spray fixador à uma distância de 20 cm.

10. Conclusão do procedimento:

feche o espéculo;

retire-o delicadamente;

inspecione a vulva e períneo;

retire as luvas;

auxilie a paciente a descer da mesa;

solicite que ela se troque;

avise a paciente que um pequeno sangramento poderá ocorrer após a coleta;

oriente a paciente para que venha retirar o exame conforme a rotina da unidade de saúde.

11. Envio das lâminas ao laboratório de Citopatologia:

preencha a relação de remessa na mesma sequência das lâminas e das requisições;

as lâminas deverão ser acondicionadas em caixas específicas para transportá-las.

A unidade de saúde deve manter uma estreita relação com o laboratório, a fim de garantir

rápidas soluções para problemas diários, constante avaliação da qualidade do material coletado, bem

como estabelecer prazos adequados para o retorno dos resultados.

Indicadores da qualidade da coleta

1) A identificação clara das lâminas (aconselha-se a lâmina seja identificada antes de se iniciar os

procedimentos da coleta).

2) O esfregaço colocado na face da lâmina que corresponde a da extremidade fosca (rugosa).

3) O esfregaço ocupando toda a superfície transparente da lâmina, sendo 2/3 da lâmina ocupado com

material do ectocérvice e 1/3 da lâmina ocupado com material do canal endocervical.

4) O acondicionamento apropriado das lâminas.

5) Tipos de células presentes no esfregaço (ecto e endocervicais).

6) Quantidade de células no esfregaço.

7) Espessura e homogeneidade do esfregaço.

8) Preservação das estruturas celulares (boa fixação).

Orientações frente aos possíveis resultados

O exame citológico, quando se apresenta com resultado indicativo de alguma alteração

maligna ou pré-maligna, sugere que essa mulher pode ter uma lesão no colo uterino. Portanto, às

vezes, é necessário submetê-la à colposcopia, biópsia e até a outros procedimentos, para que se tenha

um diagnóstico definitivo. Assim, quando a paciente vier retirar o exame, atente para o resultado e

esteja capacitado para orientá-la e dar respostas adequadas a suas dúvidas.

Amostra rejeitada ou material insatisfatório:

Explique à paciente que será necessária uma nova coleta, se possível no mesmo dia. É

sempre conveniente explicar o que aconteceu com a primeira lâmina. Sabedora dos motivos que

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provocaram a repetição do exame, a mulher irá provavelmente colaborar, concordando com a nova

coleta. Motivos para a amostra ser rejeitada:

problemas na identificação: falhas no preenchimento do formulário ou na

identificação da lâmina, caligrafia ilegível comprometem a legitimidade do

exame;

lâminas quebradas ou extraviadas.

Motivos para que a amostra seja considerada insatisfatória – na coleta:

escassez de células na amostra;

excesso de material, o que leva o esfregaço a ser espesso, dificultando a

observação ao microscópio; em geral está associado à presença de leucorréia e/ou

grande quantidade de muco;

presença de número excessivo de hemácias ou leucócitos encobrindo as células

epiteliais;

presença de material de contaminação como vaselina, pomadas etc.;

má fixação: erro no procedimento após a coleta, geralmente por demora na

fixação, excesso ou escassez de fixador colocado à uma distância inadequada da

lâmina, no caso do spray, ou número de gotas, no caso de gotejamento, ou ainda

prazo de validade vencido.

Motivos para que a amostra seja considerada insatisfatória – no laboratório:

problemas na coloração: corantes de má qualidade, mal preparados etc. A fixação

inadequada também prejudica a coloração, dificultando a observação

microscópica.

Dentro dos limites da normalidade ou alterações celulares benignas, reativas ou reparativas:

Estes resultados são considerados normais. Portanto, orientar a paciente no sentido de

repetir este exame em 1 ano. Após dois resultados normais consecutivos, o controle deverá ser a cada

3 anos.

Frente a resultados negativos, mas nos quais sejam identificados agentes potencialmente

patogênicos, as seguintes condutas são indicadas:

Chamydia sp, Actinomices sp ou Herpes – agendar consulta ginecológica;

Trichomonas vaginalis – deverá sempre ser tratada;

Achados de Gardnerella, Mobiluncus e Candida sp – deverão ser valorizados e

tratados, sempre que houver queixa clínica compatível.

Células atípicas de significado indeterminado:

Escamosas – possivelmente não neoplásicas

Paciente no menacme: repetir nova citologia em 6 meses.

Se o novo resultado for “dentro dos limites da normalidade” ou “alterações benignas

reativas ou reparativas”, colher nova citologia em 6 meses e mediante resultado normal, inserir a

paciente em controles de rotina.

Caso alguma das citologias de repetição apresentar diagnóstico de “atipia celular”, seja

em células escamosas, glandulares ou de origem indefinida, seja lesão de baixo ou alto grau,

encaminhar a paciente para colposcopia.

Paciente na pós-menopausa: repetir a citologia após uso de hormônio oral por 7 dias, o qual deverá

ser prescrito pelo ginecologista. A repetição da coleta acontecerá em até 7 dias após o término da

medicação.

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Se o resultado da citologia de repetição apresentar diagnóstico de “atipia celular”, seja em

células escamosas, glandulares ou de origem indefinida, lesão de alto ou baixo grau, encaminhar a

paciente para colposcopia.

Se o resultado for negativo, repetir novamente em 6 meses e, mediante resultado normal,

inserir a paciente em controles de rotina.

Encaminhar para a colposcopia:

Escamosas – não se pode afastar lesão de alto grau

Glandulares – possivelmente não neoplásicas ou não se pode afastar lesão de alto

grau

De origem indefinida – possivelmente não neoplásicas ou não se pode afastar

lesão de alto grau

Lesão intraepitelial de baixo grau: (compreendendo efeito citopático pelo HPV e NIC I)

Repetir nova citologia em 6 meses.

Se o resultado se confirmar ou apresentar diagnóstico de “atipia celular”, seja em células

escamosas, glandulares ou de origem indefinida ou lesão de alto grau, encaminhar para colposcopia.

Se o novo resultado for “dentro dos limites da normalidade” ou “alterações benignas

reativas ou reparativas”, colher nova citologia em 6 meses e, mediante mais um resultado normal,

inserir a paciente em controles de rotina, caso contrário, encaminhar para colposcopia.

Lesão intraepitelial de alto grau: (compreendendo NIC II e III)

Encaminhar para a colposcopia:

Carcinoma micro-invasor;

Carcinoma edpidermóide invasor;

Adenocarcinoma in situ;

Adenocarcinoma invasor;

outras neoplasias malignas.

Presença de células endometriais: (na pós-menopausa ou acima de 40 anos, fora do período

menstrual)

Pode significar indício de tumor endometrial, principalmente quando houver sangramento

concomitante. Agendar consulta ginecológica para que a paciente seja submetida à investigação do

endométrio (ultrassonografia, curetagem, histerectomia etc.).

REFERÊNCIAS

BRASIL, Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer José Alencar Gomes da Silva – INCA –

Controle do Câncer Cérvico-Uterino e de Mama. Rio de Janeiro. 2014.

SÃO PAULO, Secretaria de Estado da Saúde. Coleta do Papanicolaou e Ensino do Autoexame da

Mama – Manual de procedimentos técnicos e administrativos. 2ª Edição. 2004.

* Referência: CARDOSO FILHO, LI.